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Um dos marcos distintivos de Israel era a sua filiação divina: Deus é pai de
Israel. No Novo Testamento Jesus nos ensina a orar dizendo: “.... Pai nosso que es-
tás nos céus, santificado seja o teu nome” (Mt 6.9). Neste ensinamento há um ponto
que desejo realçar: Quando oramos, estamos falando com o nosso Pai. Todavia, de-
vemos ter em mente também que Deus é um Pai Santo, que deve ser reverenciado
e adorado. Jesus Cristo, na oração sacerdotal, assim se refere ao Pai: “Pai Santo”
(Jo 17.11). “Este Deus, a quem chamamos Pai, é o Deus de quem devemos
nos aproximar com reverência e adoração, com temor e maravilha. Deus é
nosso Pai que está nos céus, e nEle se combinam o amor e a santidade,” in-
2
terpreta corretamente Barclay.
O alto privilégio que temos de nos relacionar com Deus por intermédio de Jesus
Cristo deve estar sempre associado à visão da grandeza de Deus, que nos conduz
ao Seu serviço com santo temor. “.... Por isso, recebendo nós um reino inabalável,
retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência
e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hb 12.28-29).
3
Davi inicia o Salmo 25 – que é uma mescla de meditação e oração –, dizendo: “A
ti, Senhor, elevo a minha alma” (Sl 25.1). O salmista sabe a Quem se dirige, daí ele
falar de elevar a sua alma: Deus é santo e soberano; a oração tem sempre o sentido
1
A.W. Pink, Deus é Soberano, São Paulo: Editora Fiel, 1977, p. 140.
2
William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1973, (Mateo I), Vol. I,
p. 217.
3
Cf. João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 1, p. 537.
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de enlevo espiritual ainda que esta possa ter a conotação de confissão de pecados.
Falar com Deus sempre é um ato de elevar a nossa alma.
Algumas pessoas, com uma idéia equivocada de “intimidade com Deus”, pensam
que podem se aproximar dEle de qualquer maneira, tratá-Lo como a um igual ou, em
muitos casos, até mesmo como a um ser inferior a quem fazem verdadeiras imposi-
ções em suas “orações”. Ao contrário disso, a Palavra de Deus nos ensina que a
nossa proximidade de Deus, antes de nos conduzir a uma suposta intimidade equi-
vocada com Ele, dá-nos a perfeita dimensão da Sua gloriosa santidade e que, por-
4
tanto, devemos nos aproximar dEle em adoração e respeito. Davi é enfático: “A in-
timidade do Senhor é para os que o temem, aos quais Ele dará a conhecer a sua a-
liança” (Sl 25.14). Os “íntimos” de Deus são aqueles que O temem e Lhe obedecem!
Portanto, a nossa intimidade com Deus revela-se em nosso apego à Sua Palavra, à
Sua aliança.
Nesse texto, Calvino faz uma aplicação bastante contextualizada: “.... É uma ím-
pia e danosa invenção tentar privar o povo comum das Santas Escrituras,
sob o pretexto de serem elas um mistério oculto, como se todos os que o te-
mem de coração, seja qual for seu estado e condição em outros aspectos,
não fossem expressamente chamados ao conhecimento da aliança de
5
Deus”.
4
Vd. Charles Hodge, Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1976 (Reprinted),
Vol. III, p. 702.
5
João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 25.14), p. 558.
6
João Calvino, As Institutas, I.2.1.
7
João Calvino, Instrução na Fé, Goiânia, GO: Logos Editora, 2003, Cap. 2, p. 12.
8
João Calvino, As Institutas, I.2.2.
9
João Calvino, As Institutas, I.2.2.
10
João Calvino, As Institutas, I.12.1.
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infernos nenhuns houvesse, ainda assim Lhe treme à só ofensa”. Resume: “O
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conhecimento de Deus é a genuína vida da alma....”.
2) APRENDER É OBEDECER:
Aprender a lei de Deus é o mesmo que obedecer a Sua vontade (Dt 4.10; 14.23;
16
17.19; 31.12,13). A obediência não era algo simplesmente intuitivo, antes, ampa-
11
João Calvino, As Institutas, I.2.2.
12
João Calvino, Efésios, (Ef 4.18), p. 136-137.
13 9
“ Esta lei, escreveu-a Moisés e a deu aos sacerdotes, filhos de Levi, que levavam a arca da Alian-
10
ça do SENHOR, e a todos os anciãos de Israel. Ordenou-lhes Moisés, dizendo: Ao fim de cada se-
11
te anos, precisamente no ano da remissão, na Festa dos Tabernáculos, quando todo o Israel vier a
comparecer perante o SENHOR, teu Deus, no lugar que este escolher, lerás esta lei diante de todo o
12
Israel. Ajuntai o povo, os homens, as mulheres, os meninos e o estrangeiro que está dentro da
vossa cidade, para que ouçam, e aprendam, e temam o SENHOR, vosso Deus, e cuidem de cumprir
13
todas as palavras desta lei; para que seus filhos que não a souberem ouçam e aprendam a temer
o SENHOR, vosso Deus, todos os dias que viverdes sobre a terra à qual ides, passando o Jordão,
para a possuir” (Dt 31.9-13).
14
D.F. Payne, Educação: In: J.D. Douglas, ed. org., O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo: Junta E-
ditorial Cristã, 1966, Vol. 1, p. 457.
15
Ver: Perry G. Downs, Introdução à Educação Cristã: Ensino e Crescimento, São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 2001, p. 26-27.
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“Não te esqueças do dia em que estiveste perante o SENHOR, teu Deus, em Horebe, quando o
SENHOR me disse: Reúne este povo, e os farei ouvir as minhas palavras, a fim de que aprenda a
temer-me todos os dias que na terra viver e as ensinará a seus filhos” (Dt 4.10). “E, perante o SE-
NHOR, teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu
cereal, do teu vinho, do teu azeite e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que a-
prendas a temer o SENHOR, teu Deus, todos os dias” (Dt 14.23). “Também, quando se assentar no
trono do seu reino, escreverá para si um traslado desta lei num livro, do que está diante dos levitas
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sacerdotes. E o terá consigo e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer o
SENHOR, seu Deus, a fim de guardar todas as palavras desta lei e estes estatutos, para os cumprir”
(Dt 17.18-19). “Esta lei, escreveu-a Moisés e a deu aos sacerdotes, filhos de Levi, que levavam a arca
da Aliança do SENHOR, e a todos os anciãos de Israel. Ordenou-lhes Moisés, dizendo: Ao fim de ca-
da sete anos, precisamente no ano da remissão, na Festa dos Tabernáculos, quando todo o Israel vi-
er a comparecer perante o SENHOR, teu Deus, no lugar que este escolher, lerás esta lei diante de
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rava-se explicitamente na Lei do Senhor, a qual deve ser lida, ouvida, conhecida e
praticada. Descrevendo a função dos mestres do Antigo Testamento, Downs comen-
ta: “O professor ensinava o povo a obedecer aos mandamentos de Deus,
não simplesmente a conhecê-los. De fato, o conhecimento era tão ligado
com a ação na mente hebraica que as pessoas não podiam afirmar saber o
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que elas não praticavam”.
Para tanto, no Antigo Testamento como em nossos dias, a Palavra de Deus deve
ser guardada em nosso coração – o centro de nosso pensamento, emoções e deci-
sões – a fim de que todo o nosso procedimento seja conforme os preceitos de Deus.
todo o Israel. Ajuntai o povo, os homens, as mulheres, os meninos e o estrangeiro que está dentro da
vossa cidade, para que ouçam, e aprendam, e temam o SENHOR, vosso Deus, e cuidem de cumprir
todas as palavras desta lei; para que seus filhos que não a souberem ouçam e aprendam a temer o
SENHOR, vosso Deus, todos os dias que viverdes sobre a terra à qual ides, passando o Jordão, para
a possuir” (Dt 31.9-13).
17
Perry G. Downs, Introdução à Educação Cristã: Ensino e Crescimento, São Paulo: Editora Cultura
Cristã, 2001, p. 26.
18
Perry G. Downs, Introdução à Educação Cristã: Ensino e Crescimento, p. 27.
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A tônica aqui é de receber e guardar toda a Palavra, visto ser toda ela inspirada
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por Deus (2Tm 3.16); não apenas partículas que circunstancialmente podem me
ser úteis para os meus interesses duvidosos. Portanto, toda a Palavra de Deus é um
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tesouro precioso para o servo de Deus.
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O coração denota a personalidade integral do homem – envolvendo geralmente a emoção, o pen-
samento e a vontade –; qualquer tentativa de se estabelecer uma distinção entre o "coração" e a "ra-
zão" do homem, na psicologia do Antigo Testamento, é destituída de fundamentação bíblica.
O coração, que na linguagem veterotestamentária é usado de forma efetiva referindo-se ao ho-
mem todo, traz consigo o sentido de responsabilidade, visto que somente o homem age consciente-
mente. Por isso, Deus exige de Seus servos integridade de coração, sendo, portanto, responsável di-
ante de Deus por suas palavras e atos.
As palavras hebraicas [bÒl (lêbh) e bfbÒl (lêbhãbh)] apontam mais propriamente para “o homem es-
sencial”; o homem todo, em contraste com a sua aparência exterior, que é alvo dos juízos mais asso-
dados (1Sm 16.7). (Para um estudo mais detalhado da palavra e seu emprego no Antigo Testamento,
veja-se: Hermisten Maia Pereira da Costa, O Pai Nosso, São Paulo: Cultura Cristã, 2001).
20
“A mente que entesoura as Escrituras tem seu gosto e juízo educados por Deus” [Derek Kidner,
Salmos 73-150: introdução e comentário, São Paulo: Vida Nova/Mundo Cristão, 1981, (Sl 119.11), p.
437].
21
A palavra é usada uma vez, em Ez 7.22, referindo-se, ao que parece, à cidade de Jerusalém, (Cal-
vino) ao templo (J.B. Taylor), ao “Santo dos Santos” (Jerônimo) ou aos tesouros do templo (Keil, De-
litzsch). ARA traduz: “recesso”; BJ: “tesouro”; ARC e ACR: “lugar oculto”. (Vejam-se também Jó
20.26; Ob 6).
22
Cf. C.F. Keil & F. Delitzsch, Commentary on the Old Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerd-
mans, (s.d.), Vol. 5, (Sl 119.11), p. 246. Veja-se também, Albert Barnes, Notes on the Old Testament
Explanatory and Practical, 10ª ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1973, (Psalms, Vol.
III), (Sl 119.11), p. 181b.
23
Vd. J.I. Packer, O que é santidade e por que ela é importante?: In: Bruce H. Wilkinson, ed. ger., Vi-
tória sobre a Tentação, 2ª ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1999, p. 31-32.
24
Vd. Hermisten M.P. Costa, A Inspiração e Inerrância das Escrituras: Uma Perspectiva Reformada,
2ª ed., São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2008.
25
Vd. C.H. Spurgeon, The Treasury of David, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers,
(s.d), Vol. III, (Sl 119.11), p. 159.
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Deus mesmo manda que guardemos a Sua Palavra dentro de nós [Pv 2.1; 7.1
(}apfc)] (Vd: Dt 8.11; Sl 119.16; Pv 3.1). Os sábios “entesouram (}apfc) conhecimento”
(Pv 10.14), enquanto que o tesouro dos ímpios limita-se a esta vida (Sl 17.14/1Co
15.19), que é breve (Jó 15.20).
O salmista Davi, ora então a Deus: “Ensina-me (( )ירהyarah), SENHOR, o teu ca-
minho, e andarei na tua verdade; dispõe-me o coração (( )לבבlêbâb) para só temer o
teu nome” (Sl 86.11). Aquele que entrega o seu coração a Deus (Pv 4.23; 23.26),
entregou na realidade não apenas um “órgão” ou parte do seu ser, mas toda a sua
vida; quem assim procede, é continuamente ensinado por Deus, Aquele que é o seu
senhor; senhor do seu coração.
Deus quer nos educar para que sejamos sábios, conforme a Sua sabedoria. A
sabedoria consiste na obediência a Deus; é loucura a desobediência. A educação,
segundo a perspectiva bíblica, visa formar homens obedientes à Palavra de Deus,
que vivam em santidade. “Portanto, em nosso curso de ação, deve-se-nos ter
em mira esta vontade de Deus que Ele declara em Sua Palavra. Deus requer
de nós unicamente isto: o que Ele preceitua. Se intentamos algo contra o
Seu preceito, obediência não é; pelo contrário, contumácia e transgres-
26
são”.
É neste sentido que Salomão diz: "O temor do Senhor é o princípio do saber, mas
os loucos desprezam a sabedoria e o ensino (LXX: paidei/a)” (Pv 1.7; Ver: Pv. 9.10;
15.33; Sl 111.10). "Ouvi o ensino (LXX: paidei/a), sêde sábios, e não o rejeites” (Pv
8.33).
Por meio deste princípio orientador temos os nossos olhos abertos para as mara-
vilhas de Deus. Longe de ser algo inibidor, é libertador de uma visão míope e cativa
de sua percepção enferma. “Temer a Deus não é o fim da sabedoria, mas o
começo. Uma pessoa que teme a Deus pode se abrir para as alturas vastas
e vertiginosas do conhecimento. Aqueles que ‘praticam’ esse temor de Deus
26
João Calvino, As Institutas, I.17.5.
27
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 2, (Sl 36.1), p. 122-123.
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podem ter um ‘bom entendimento’ de tudo”.
Downs enfatiza corretamente: “O amor por Deus deve estar enraizado apro-
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priadamente no solo de nosso temor de Deus”.
28
Gene Edward Veith, Jr., De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 135.
29
Perry G. Downs, Introdução à Educação Cristã: Ensino e Crescimento, p. 180.