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A EDUCAÇÃO NA JUSTIÇA1

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

Texto Básico:

“14 Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo
de quem o aprendeste 15 e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem
tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. 16 Toda a Escritura é inspirada
por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na
justiça, 17 a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para
toda boa obra” (2Tm 3.14-17).

1. O Sentido de Educar:

Paulo diz que "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para (...) a educação
(paidei/a) na justiça" (2Tm 3.16).

A palavra paidei/a (de onde vem a nossa “pedagogia”), significa "educação das
crianças", e tem o sentido de treinamento, instrução, disciplina, ensino, exercício,
2
castigo.

Cada cultura tem o seu modelo de homem ideal e, portanto, a educação visa for-
mar esse homem, a fim de atender às expectativas sociais. Paulo sabia muito bem
disso; ele mesmo declarara durante a sua defesa em Jerusalém que fora instruído
por Gamaliel, o grande mestre da Lei. "Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas
criei-me nesta cidade e aqui fui instruído (paideu/w) aos pés de Gamaliel, segundo a
exatidão da lei de nossos antepassados....” (At 22.3).

De igual modo, Estevão, descrevendo a vida de Moisés, fala de sua formação,


declarando: "E Moisés foi educado (paideu/w) em toda a ciência dos egípcios, e era
poderoso em palavras e obras” (At 7.22).

Cito um fato elucidativo. Quando Virgínia e Maryland assinaram um tratado de


paz com os Índios das Seis Nações, como demonstração da generosidade do ho-
mem branco, seus governantes mandaram cartas aos índios solicitando que envias-
sem alguns de seus jovens para estudarem em seus colégios. Seguem abaixo extra-
tos da resposta dos chefes indígenas:
1
Homilia feita em reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da Universidade
Presbiteriana Mackenzie no dia 19/09/2007.
2
A nossa palavra “pedagogo” é transliterada do grego, paidagwgo/j e, “pedagogia”, igualmente, de
paidagwgi/a. Na Grécia antiga, o pedagogo, (literalmente: "encarregado de meninos", "curador", "tu-
tor") era o preceptor de criança; o escravo responsável por conduzir as crianças à escola; a idéia da
palavra é de “estar junto com a criança”. Posteriormente a palavra também passou a se referir à
educação de adultos e ao treinamento em geral. Estes termos gregos tinham uma conotação moral.
Veja-se: Platão, A República, 7ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, (1993), Livro VI. 491e. p.
280-281. Sócrates (469-399) negava-se a ser reconhecido como “mestre” já que para ele, a virtude
não poderia ser ensinada. (Ver: Platão, Defesa de Sócrates, São Paulo: Abril Cultural (Os Pensado-
res, Vol. II), 1972, 33a-b. p. 24).
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“.... Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o


bem para nós e agradecemos de todo o coração.
“Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm
concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão
ofendidos ao saber que a vossa idéia de educação não é a mesma que a
nossa.
“.... Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do
Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltavam pa-
ra nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e inca-
pazes de suportarem o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado,
matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam nossa língua muito
mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros,
como caçadores ou como conselheiros.
“Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não
possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres
senhores de Virgínia que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensi-
3
naremos tudo o que sabemos e faremos, deles, homens”.

Se olharmos ainda que de relance o tipo de formação desde a Antigüidade, pode-


remos constatar que o seu ideal variava de povo para povo e, até mesmo, de cidade
para cidade, daí a diferença entre os "currículos", visto que este é o caminho, a "cor-
4
rida" para se atingir o objetivo proposto. Assim, temos, ainda que, grosso modo, di-
5
versas perspectivas educacionais:

 CHINA: A educação visava conservar intactas as tradições. Portanto o currículo


está voltado apenas para o conhecimento e preservação das tradições, seguindo
sempre o seu modelo. A originalidade era proibida.

 EGITO: Preparar o educando para uma vida essencialmente prática, que o levas-
se ao sucesso neste mundo e, através de determinados ritos, alcançasse o favor
dos deuses, e a felicidade no além.

 ESPARTA: Homens guerreiros, mas que fossem totalmente submissos ao Esta-


do. Neste processo estimula-se até mesmo a delação como modo de evidenciar a
6
sua lealdade ao Estado. “Certamente, essa Esparta dos séculos VIII-VI é, an-
tes de tudo, um Estado guerreiro (...). O lugar dominante ocupado em sua

3
Apud Carlos R. Brandão, O Que é Educação, 6ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1982, p. 8-9.
4
Currículo" é uma transliteração do latim "curriculum" que é empregado tardiamente, sendo derivado
do verbo "currere", "correr". "Curriculum" tem o sentido próprio de "corrida", "carreira"; um sentido par-
ticular de "luta de carros", "corrida de carros", "lugar onde se corre", "hipódromo" e um sentido figura-
do de "campo", "atalho", "pequena carreira", "corte", "curso".
A palavra currículo denota a compreensão que ele não é um fim em si mesmo; é apenas um meio
para atingir determinado fim. [Veja-se: Hermisten M.P. Costa, A Propósito da Alteração do Currículo
dos Seminários Presbiterianos, São Paulo: 1997, p. 8ss. (Trabalho não publicado)].
5
Veja-se um bom sumário disso em Thomas Ransom Giles, Filosofia da Educação, São Paulo: EPU.,
1983, p. 60-92.
6
Thomas Ransom Giles, Filosofia da Educação, p. 64.
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cultura pelo ideal militar é atestado pelas elegias guerreiras de Tirteu, que
ilustram belas obras plásticas contemporâneas, consagradas, como elas, à
7
glorificação do herói combatente”. “Ao atingir sete anos, o jovem espar-
tano é requisitado pelo Estado: até à morte, pertence-lhe inteiramente. A
educação propriamente dita vai dos sete aos vinte anos; ela é disposta
sob a autoridade direta de um magistrado especial, verdadeiro comissário
da Educação nacional, o paidono/moj”.
8

 ATENAS: Treinamento competitivo entre os homens a fim de formar cidadãos


maduros física e espiritualmente com capacidade de exercitarem a sua liberdade.

 SÓCRATES (469-399 a.C.)/PLATÃO (427-347 a.C.): Formar basicamente atra-


9
vés da música e da ginástica, homens capazes de vencer a injustiça reinante. A
educação tinha um forte apelo moral através do conhecimento e prática das virtu-
des. A sabedoria está associada à vida virtuosa.
10 11
 OS SOFISTAS: Pedagogia elitizada, propícia e adequada apenas a quem pu-
12
desse pagá-los. Partindo do relativismo e subjetivismo, tinha como objetivo con-

7
Henri-Irénée Marrou, História da Educação na Antigüidade, São Paulo: E.P.U. (5ª reimpr), 1990, p.
35.
8
Henri-Irénée Marrou, História da Educação na Antigüidade, p. 42.
9
Platão, A República, 376e ss. p. 86ss.
10
A palavra "sofista" provém do grego Sofisth/j, que é derivada de Sofo/j (= “sábio”). Originaria-
mente, ambas as palavras eram empregadas com uma conotação positiva. É importante lembrar que
foram os próprios sofistas que se designaram assim.
11
"Já desde o começo a finalidade do movimento educacional comandado pelos sofistas
não era a educação do povo, mas a dos chefes. No fundo não era senão uma nova forma
da educação dos nobres (...). Os sofistas dirigiam-se antes de mais nada a um escol, e só a
ele. Era a eles que acorriam os que desejavam formar-se para a política e tornar-se um dia
dirigentes do Estado" (Werner Jaeger, Paidéia: A Formação do Homem Grego, 2ª ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1989, p. 236).
12
A Retórica Sofística, inventada por Górgias (c.483-c.375 a.C.), era famosa. Górgias dizia:
"A palavra é uma grande dominadora que, com pequeníssimo e sumamente invisível
corpo, realiza obras diviníssimas, pois pode fazer cessar o medo e tirar as dores, infundir a a-
legria e inspirar a piedade (...) O discurso, persuadindo a alma, obriga-a, convencida, a ter
fé nas palavras e a consentir nos fatos (...) A persuasão, unida à palavra, impressiona a alma
como quer (...) O poder do discurso com respeito à disposição da alma é idêntico ao dos
remédios em relação à natureza do corpo. Com efeito, assim como os diferentes remédios
expelem do corpo de cada um diferentes humores, e alguns fazem cessar o mal, outros a
vida, assim também entre os discursos alguns afligem e outros deleitam, outros espantam,
outros excitam até o ardor os seus ouvintes, outros envenenam e fascinam a alma com per-
suasões malvadas." (Górgias, Elogio de Helena, 8, 14).
"Quanto à sabedoria e ao sábio, eu dou o nome de sábio ao indivíduo capaz de mudar
o aspecto das coisas, fazendo ser e parecer bom para esta ou aquela pessoa o que era ou
lhe parecia mau" (Palavras de Protágoras, conforme, Platão, Teeteto, 166d).
"Mas deixaremos de lado Tísias e Górgias? Esses descobriram que o provável deve ser mais
respeitado que o verdadeiro; chegariam até a provar, pela força da palavra, que as cousas
miúdas são grandes e que as grandes são pequenas, que o novo é antigo e que o velho é
novo" (Platão, Fedro, 267).
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vencer, persuadir o seu oponente independentemente da veracidade do argu-
14
mento.

 ARISTÓTELES (384-322 a.C.): Formar homens moderados, que tivessem zelo


15
pela ética e estética.

 RENASCENÇA: Formar homens cultos que soubessem ler e escrever em grego,


16
latim e, em alguns lugares ,o hebraico, tendo um estilo erudito, que pudessem
contribuir para a criação do novo, tendo o homem como "medida de todas as coi-
sas".

 ATUALIDADE: Formar homens competitivos, que alcancem o sucesso a qualquer


preço. É claro que isto sofrerá alterações em cada área de estudo e, também, se-
rá diferente entre os países, contudo, esta visão geral nos parece pertinente.

Retornando ao ensino bíblico, perguntamos: E nós, que tipo de homens e mulhe-


res somos?; que tipo de formação temos dado aos nossos filhos?; que padrão de
formação podemos proporcionar à infância e à juventude? Que modelo temos apre-

13
"A sofística, que caracteriza os últimos cinqüenta anos do século V, não designa uma dou-
trina, mas uma maneira de ensinar. Os sofistas são professores que vão de cidade em cida-
de em busca de auditores e que, por preço convencionado, ensinam os alunos, seja por li-
ções pomposas, seja por uma série de cursos, os métodos adequados a fazer triunfar uma
tese qualquer. À pesquisa e à manifestação da verdade substitui-se a preocupação do êxi-
to, baseado na arte de convencer, de persuadir, de seduzir" (Émile Bréhier, História da Filosofi-
a, São Paulo: Mestre Jou, 1977, I/1 p. 69-70).
14
Vd. Platão, Teeteto, 166c-167d; Sofista, 231d; Mênon, 91c-92b; Fedro, 267; Protágoras, 313c;
312a; Crátilo, 384b; Górgias, 337d; A República, 336b; 338c.
15
Aristóteles, Ética a Nicômaco, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. IV), 1973, V.2,
1130b 26-27. p. 324
16
O hebraico, que era então ainda mais ignorado do que o grego e o latim, foi também redescoberto.
Surgindo, então, as famosas escolas que ensinavam os três idiomas – em Lovaina (1517), Oxford
(1517 e 1525), Paris (1530) –, visando formar o “homo trilinguis”. (Vejam-se:. Jacob Burckhardt, A
Cultura do Renascimento na Itália: Um Ensaio, São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 154; Jean
Delumeau, A Civilização do Renascimento, Lisboa: Editorial Estampa, 1984, Vol. I, p. 97). Foi assim
que foi elaborada a primeira gramática hebraica, escrita por um cristão, Reuchlin (1455-1522) em
1506. Não devemos nos esquecer também, que é deste período a publicação da “Bíblia Poliglota
Complutense” – recebendo este nome por ter sido impressa em Complutum, forma latina da atual Al-
calá, Espanha, onde Ximenes fundou uma Universidade –, que continha o Antigo Testamento em 3
idiomas, formatado em três colunas paralelas: Hebraico, latim (da vulgata) e grego (da LXX), tendo,
também, uma tradução latina interlinear. Na parte inferior da página, constava do Novo Testamento
em grego e latim. Esta obra sendo promovida pelo Cardeal Francisco Ximenes de Cisneros (1437-
1517), foi iniciada em 1502 sendo concluída em 1517 (O NT estava concluído desde 1514), sendo
constituída por seis volumes. Todavia, o papa Leão X só deu permissão para a sua circulação em
22/03/1520. Ao que parece, esta obra não chegou a Alemanha antes de 1522 e, Lutero não se utili-
zou dela para a sua tradução do Novo Testamento (Vejam-se mais detalhes em: W.G. Kümmel, In-
trodução ao Novo Testamento, São Paulo: Paulinas, 1982, p. 713-714; Wilson Paroschi, Crítica
Textual do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1993, p. 107-108; E. Lohse, Introdução ao No-
vo Testamento, São Leopoldo, RS.: Sinodal, © 1972, p. 261; Hipólito Escolar, Historia del Libro, 2ª
ed. corregida y ampliada, Salamanca/Madrid: Fundación Germán Sánchez Ruipérez/Pirámide, 1988,
p. 416ss.). Quanto à disposição das três colunas da obra: Hebraico, Latim e Grego, “Cisneros dizia
que adotara esta disposição para recordar o lugar que a Igreja romana ocupava entre a si-
nagoga e a Igreja grega: posição análoga à do Cristo entre os dois ladrões!” (Jean Delume-
au, A Civilização do Renascimento, Vol. I, p. 98).
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sentado? Notemos que Paulo nos diz: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil pa-
ra o ensino (didaskali/a), para a repreensão, para a correção, para a educação
(paidei/a) na justiça” (2Tm 3.16).

É neste sentido que Salomão diz: "O temor do Senhor é o princípio do saber, mas
os loucos desprezam a sabedoria e o ensino (LXX: paidei/a)” (Pv 1.7; Vd. Pv. 9.10;
15.33; Sl 111.10). "Ouvi o ensino (LXX: paidei/a), sêde sábios, e não o rejeites” (Pv
8.33).

2) O Sentido de Justiça:

“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para (...) a educação (paidei/a) na
justiça (dikaiosu/nh)" (2Tm 3.16).

Temos visto que a palavra "Educação" (paide/ia) significa "educação das crian-
ças", e tem o sentido de treinamento, instrução, disciplina, ensino, exercício. O ideal
de Deus para a nossa formação é nos fazer "sábios". Ser sábio conforme a sabedo-
ria de Deus é o mesmo que ser educado na justiça (2Tm 3.16). Ou, como disse Cal-
vino (1509-1564): "instrução na justiça significa instrução numa vida piedosa e
17
santa". Paulo está nos dizendo que a Escritura é útil para o nosso treinamento na
justiça. Aqui algumas perguntas se configuram como de suma importância para a
continuação de nossa meditação: O que significa justiça? Qual o sentido da palavra
empregada por Paulo? E, qual o sentido bíblico desta justiça?

A palavra "justiça" adquire na Bíblia o sentido de "retidão". Proceder justamente


significa agir conforme o caráter de Deus, Aquele que é justo absolutamente:
"....Deus é fidelidade, e não há nEle injustiça: é reto e justo (LXX: di/kaioj)” (Dt
32.4).

O Antigo Testamento, indicando a justiça de Deus manifesta em Seu Reino, de-


clara, numa linguagem figurada, que: "Justiça (LXX: dikaiosu/nh) e direito são o
fundamento do teu trono; graça e verdade te precedem” (Sl 89.14). A justiça é o fun-
damento do Seu governo: ".... Justiça (dikaiosu/nh) e juízo são a base do seu trono"
(Sl 97.2).

Deste modo, o nosso "treinamento na justiça" indica a nossa busca por um com-
portamento semelhante ao modelo de Deus. A educação que Deus nos dá por meio
da Sua Palavra visa o nosso envolvimento, o nosso compromisso com os Seus pre-
ceitos.

A justiça operada por Deus é sempre decorrente da Sua Palavra; portanto, “Ne-
nhum outro jamais se apropriará corretamente da justiça divina senão aque-
18
le que a abraça como ela lhe é oferecida e apresentada na Palavra”. De-
sejar a justiça de Deus significa desejar o cumprimento da promessa de Deus.

17
J. Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (2Tm 3.16), p. 264.
18
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 2, (Sl 40.10), p. 233.
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A educação na justiça não consiste apenas na tentativa de um melhoramento mo-


ral, antes é o estabelecimento de um novo modelo, resultante da nova natureza que
foi implantada em nosso coração pelo Espírito, como fruto da obra sacrificial e vitori-
osa de Cristo. "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para
que nele fossemos feitos justiça (dikaiosu/nh) de Deus” (2Co 5.21).

Por meio do sacrifício vicário de Cristo fomos declarados justos diante de Deus;
por isso é que a Escritura afirma que Cristo é a nossa justiça: "....Vós sois dele [de
Deus], em Cristo Jesus, o qual se tornou da parte de Deus sabedoria, e justiça (di-
kaiosu/nh), e santificação e redenção” (1Co 1.30). Na justificação Deus nos declara
justos, perdoando todos os nossos pecados, os quais foram pagos definitivamente
por Cristo; por isso, já não há nenhuma condenação sobre nós; estamos em paz
com Deus amparados pela justiça de Cristo (Vd. Rm 5.1; 8.1,31-33). Na justificação
Deus declara que já não há mais culpa em nós.

Deus nos gerou em Cristo para a prática da justiça de Cristo. "Carregando ele
mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos
aos pecados, vivamos para a justiça (dikaiosu/nh); por suas chagas fostes sarados”
(1Pe 2.24). A prática do "caminho da justiça" (2Pe 2.21) tornou-se o sinal inconfun-
dível de todos os que pertencem a Cristo: "Se sabeis que ele [Jesus] é justo
(di/kaioj), reconhecei também que todo aquele que pratica a justiça (dikaiosu/nh) é
nascido dele (...). Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que prati-
ca a justiça (dikaiosu/nh) é justo (di/kaioj), assim como ele é justo (di/kaioj) (...).
Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não
pratica justiça (dikaiosu/nh) não procede de Deus, também aquele que não ama a
seu irmão" (1Jo 2.29; 3.7,10).

Os critérios de justiça variam de povo para povo e até mesmo conforme os nos-
sos interesses pecaminosos. A nossa mente tem a capacidade de usar um recurso
chamado de "mecanismo de defesa", que consiste na racionalização, que nada mais
é do que a tentativa de justificar as nossas crenças já dogmatizadas pelos nossos
desejos. Por isso é que a justiça que devemos seguir não é a de homens, conforme
os seus pecados e/ou nossos interesses, mas, sim, a justiça de Deus. É neste senti-
do que Jesus nos adverte quanto à "justiça" dos escribas e fariseus. “.... Se a vossa
justiça (dikaiosu/nh) não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entra-
reis no reino dos céus” (Mt 5.20).

A justiça destes homens visava a tão somente satisfazer os seus próprios desejos
de serem vistos e admirados como homens "piedosos" e geniais "intérpretes da lei".
Jesus novamente nos adverte: "Guardai-vos de exercer a vossa justiça (dikaio-
su/nh) diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte não te-
reis galardão junto de vosso Pai celeste” (Mt 6.1-2).

Por isso a Bíblia nos ensina enfaticamente, que a justiça que devemos seguir é a
de Deus, conforme é-nos ensinada por Jesus Cristo; e "a justiça exigida por Cristo
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é nada menos que uma completa conformidade com a santa lei de Deus".
Lembremo-nos de que o Senhor conhece os nossos corações, sabendo de nossas
intenções e motivações (Jo 2.25). E é Ele mesmo Quem nos julgará com justiça.

Paulo insiste com o jovem Timóteo neste ponto: ".... Segue a justiça (dikaio-
su/nh), a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão” (1Tm 6.11). "Foge
20 21
(feu/gw), outrossim, das paixões da mocidade. Segue (diw/kw) a justiça (dikaio-
su/nh), a fé, o amor e a paz com os que de coração puro, invocam o Senhor” (2Tm
2.22).

A Palavra de Deus nos instrui na justiça, a fim de que o nosso viver seja caracte-
rizado pelos frutos da justiça. Isto equivale a dizer que a justiça de Cristo em nós se
revela no agir; ela frutifica em nosso comportamento. A vontade de Deus é que reve-
lemos a Sua justiça em nós através de nossa fé e de nossas atitudes, devendo ser
estas, evidências daquela. Paulo escreve aos efésios: "....Quanto ao trato passado,
vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do
engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo
homem, criado segundo Deus, em justiça (dikaiosu/nh) e retidão procedentes da
verdade. Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo
(...). Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe (...). Não saia da vossa boca
nenhuma palavra torpe, e, sim, unicamente a que for boa para a edificação (...). Não
entristeçais o Espírito de Deus (...). Longe de vós toda a amargura, e cólera, e ira, e
gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda a malícia. Antes sede uns para com os ou-
tros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em
Cristo vos perdoou....” (Ef 4.22-31).

Neste texto, Paulo apresenta diversos frutos da justiça que consistem basicamen-
te no abandono do pecado e na prática da justiça. A justiça de Cristo frutifica em nós
através da mudança de paradigma, que consiste numa mudança de valores e com-
portamento. Aos mesmos efésios Paulo diz: "....Outrora éreis trevas, porém agora
sois luz no Senhor; andai como filhos da luz, porque o fruto da luz consiste em toda
a bondade, e justiça (dikaiosu/nh), e verdade, provando sempre o que é agradável
ao Senhor" (Ef 5.8-10).

19
G. Hendriksen, El Evangelio Segun San Mateo, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura
Cristiana, 1986, p. 307.
20
O verbo, no presente imperativo, indica uma ação que deve se tornar um hábito de vida.
21
O verbo está no presente imperativo ativo. Associando-se o fugir ao seguir, temos um comporta-
mento constante e complementar que deve fazer parte da conduta cristã. Diw/kw é utilizado
sistematicamente para aqueles que perseguiam a Jesus, os discípulos e a Igreja (Mt 5.10-12; Lc
21.12; Jo 5.16; 15.20). Lucas emprega este mesmo verbo para descrever a perseguição que Paulo
efetuou contra a Igreja (At 22.4; 26.11; 1Co 15.9; Gl 1.13,23; Fp 3.6), sendo também a palavra
utilizada por Jesus Cristo quando pergunta a Saulo do porquê de sua perseguição (At 9.4-5/At 22.7-
8/At 26.14-15). Paulo diz que prosseguia para o alvo (Fp 3.12,14). O escritor de Hebreus diz que
devemos perseguir a paz e a santificação (Hb 12.14). Pedro ensina o mesmo a respeito da paz (1Pe
3.11).
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Considerações Finais:

O cristão é responsável por descobrir diariamente – orientado pela Palavra –, a a-


titude ética correta condizente com a sua nova natureza que reflita a justiça de Cris-
to, sendo agradável a Deus. Deus se agrada com a nossa integridade em servi-Lo;
com a nossa busca por fazer a Sua vontade, mesmo nas mínimas coisas. O desafio
de todo aquele que deseja fazer a vontade de Deus é aplicar a Sua Palavra à sua
realidade diária, aos desafios de nossa vida social, profissional, familiar, estudantil e
afetiva.

Jesus Cristo nos diz que pelos frutos nós conhecemos a qualidade de uma árvo-
re; e aplica este exemplo à vida espiritual. Deste modo, o nosso desejo de agradar a
Deus será demonstrado em nossa prática, condizente com a Sua justiça. "Pelos
seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos
dos abrolhos? Assim toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz
frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir
frutos bons (...). Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me
diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de
meu Pai que está nos céus” (Mt 7.16-18,20,21).

O apóstolo Paulo nos fala do fruto do Espírito como uma característica dos filhos
de Deus; daqueles que andam no Espírito: "O fruto do Espírito é: amor, alegria, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio...” (Gl
5.22-23).

Paulo ora a Deus pelos filipenses, para que eles se apresentassem diante de
Cristo "sinceros e inculpáveis", tendo a responsabilidade de viverem hoje, "cheios do
fruto de justiça". "E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e
mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as cousas exce-
lentes e serdes sinceros e inculpáveis para o dia de Cristo, cheios do fruto de justiça
(dikaiosu/nh), o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus” (Fp
1.9-11).

Portanto, nós como justificados em Cristo, devemos frutificar em toda boa obra de
justiça, evidenciando a habitação do Espírito em nós em todas as áreas de nosso vi-
ver. Amém.

São Paulo, 19 de setembro de 2007.


Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

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