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A Epistemologia Tomista

por Paulo Faitanin - UFF

1. Origem: O vocábulo epistemologia foi utilizado,


sobretudo, a partir do século XX, para
designar originariamente, na filosofia inglesa,
a teoria do conhecimento ou a gnosiologia. Aqui
tomamos este vocábulo para significar o estudo
crítico dos princípios científicos. Palavra de origem
Epis grega composta de dois
temologia termos: ™pist»mh + logi/a [episteme+logia]
= epistemologia, com o sentido de Filosofia da
Ciência. Em língua portuguesa o uso do
termoepistemologia cumpre satisfatoriamente os critérios semânticos
exigidos para significar a Filosofia da Ciência. Em Tomás de Aquino
encontramos uma análise e crítica dos princípios da ciência, mesmo
porque são os mesmos da filosofia, pois no Medievo não havia estrita
distinção entre Filosofia e Ciência. É justamente por causa disso que,
aqui, denominamos Epistemologia Tomista a filosofia dos primeiros
princípios comuns a toda ciência.

2. A Epistemologia Tomista: (a) Onde? Tomás de Aquino [1225-1274]


não escreveu sistematicamente algum tratado onde expusesse os
princípios de toda demonstração científica. Não obstante, em diversas
obras de sua Opera Omnia, discute os princípios do conhecimento e de
toda e qualquer ciência. Destacamos, aqui, especialmente, as doutrinas
encontradas nas principais obras: Summa Theologiae; Contra Gentiles;
De veritate; De anima; Sententia Libri De anima; Sententiam super
Metaphysicam etc. (b) Método: O método para a demonstração de
qualquer conhecimento é próprio da lógica. Ora, o científico é
conhecimento que supõe os princípios indemonstráveis da razão.
Portanto, a exposição e a análise destes princípios, em parte, é
estudado pela gnosiologia e, em parte, pela lógica. Tais princípios têm
lugar de destaque na Metafísica, quando identificados como os
primeiros princípios do conhecimento. [STh I,q14,a11]. (c) Intenção:
Como já advertimos, o vocábulo epistemologianão é utilizado no
contexto da filosofia tomista. Tal doutrina estuda, em nossos dias, as
diversas teorias científicas, mas a tomamos, aqui, para designar o
estudo dos princípios comuns de qualquer ciência, o que já era
amplamente considerado no contexto da Opera Omnia do Aquinate.

2.1. A potência cognitiva: Não há ciência sem o conhecimento, como


não há conhecimento sem capacidade de conhecer. Abordar, portanto, a
questão do conhecimento exige a análise prévia da potência cognitiva e
de sua máxima expressão, que é o intelecto.

(a) o intelecto: a palavra intelecto provém de intus legere, 'ler por


dentro'; trata-se de uma potência cognitiva da alma humana, por meio
da qual a alma conhece algo de si, algo do que lhe rodeia e algo do que
lhe transcende. O intelecto é a mais nobre potência da alma, mas não a
própria natureza da alma [STh I,q79,a1,c]. Difere dos sentidos [In I
Met.lec2,n45; In II Met.lec1,n282-286] por ser uma potência espiritual
e a dos sentidos, carnal. O seu objeto é a verdade [In VI
Met.lec4,n.1230-1240], ou seja, a adequação do pensamento com a
coisa. O intelecto possui duas operações, uma indivisível - a simples
apreensão - e outra de composição - o juízo - [In VI Met.lec4,n.1232].
Por ambas as operações o intelecto orienta-se ao que é inteligível [In
XII Met.lec8,n.2540], ou seja, ao que se lhe assemelha por natureza. O
intelecto pode ser dito analogamente de Deus, dos Anjos e do ser
humano e em todos os casos diz-se que o intelecto é imaterial [In IX
Met.lec11,n2624]. A diferença é que o intelecto divino inteligi-se a si
mesmo diretamente e o humano por reflexão [In XII Met.lec11,n2611-
2626]. A ciência só é possível por causa do intelecto que, abstraindo a
forma inteligível do sensível, concebe um verbo mental que é universal
e verdadeiro, como o conceito de homem, capaz de ser predicado de
muitas realidades individuais: Pedro é homem; João é homem etc. Feito
isso, a ciência tem o seu ponto de partida na atividade intelectiva. Cabe,
agora, verificar qual é o objeto próprio do intelecto.

(b) objeto próprio do intelecto: o ente é o que primeiro considera e


conhece o intelecto [In I Met. lec.2, n.46]. Por isso, o intelecto ordena-
se ou orienta-se primeira e naturalmente à consideração do ente. Mas o
que é ente? Originário do latim ens, entis ente significa literalmente o
que é ou mais especificamente o que tem ser. Portanto, tudo o que é e
tem ser é ente. O ente é estudado pela Metafísicae, por isso, diz-se que
ele é o sujeito de tal ciência [In IV Met. lec.1, n.529-531]. A noção de
ente não é uma noção genérica da qual se depreende outras noções
específicas. E isso porque ente não é um gênero que se divide em
espécie ou subespécies de entes, já que ente não possui diferença no
que é, com relação a outro ente [In I Met. lec.9, n.139]. Quando se diz
que ente é o que tem ser [In XII Met. lec.1, n.2419] isso quer significar
que a noção de ente é tomada do ato de ser [In IV Met. lec.2, n.556-
558]. O ato de ser é a perfeição que se afirma de todo ente, seja ele
qual for. O máximo ente é o que possui mais intenso ato de ser. Ora, dá-
se o nome de substância ao ente que existe por si. Por isso,
propriamente diz-se que ente é a substância [In III Met. lec.12, n.488-
493]. Mas a parte de ser substância, o ente pode ser ainda considerado:
do acidente (a cor é ente na substância), da verdade daproposição (a
verdade afirma o ente na proposição), dos predicamentos (a substância
é ente e cada um dos nove predicamentos, categorias ou acidentes são,
também, entes) e se divide em ente em ato (este abacateiro) e ente em
potência (o abacateiro existe em potência na semente do abacate) [In VI
Met. lec.2, n.1171]. Em resumidas contas, o ente que é a substância é
dito ente essencial e o que é dito dos acidentes é ente acidental, que
não é propriamente ser [In XI Met. lec.8, n.2272]. O ente pode ser
concebido só na razão e, por isso, é dito ente de razão, objeto de estudo
próprio da Lógica [In IV Met. lec.4, n.574]. Por outro lado, o ente que
existe no real, em sua individualidade e singularidade é o ente real. O
ente dito dos predicamentos é ente predicamental e o ente dito em ato
é ente em ato e o ente dito em potência éente em potência [In V Met.
lec.9, n.885]. Ora, se o ente é o objeto próprio do intelecto, não haverá
ciência senão do ente. Mas porque não há ciência acerca do ente em
potência e do ente por acidente [In VI Met. lec.2, n.1172-1176], segue-
se que a ciência é sempre acerca do ente em ato e do ente essencial,
que é a substância, pois de fato, a substância de algo é o que primeiro
capta o intelecto [In I Met. lec.2, n.46]. Portanto, só há ciência do ser,
seja ele de que grau de perfeição for: ciência do ser de Deus (Teologia)
e ciência do ser das demais realidades (Ciências naturais) e a ciência do
ser enquanto ser (Metafísica).

(c) ação própria do intelecto: o próprio do intelecto é conhecer a


realidade e dela apreender a verdade. A verdade é o que visa o
intelecto, quando ele considera o ente; por isso, a verdade é a
adequação do intelecto com a coisa, que é um ente. O conhecimento da
verdade é por dupla via: por resolução ouindução, quando se vai do
particular ao universal e por composição ou dedução, quando se vai do
universal ao particular [In II Met. lect. 1, n.278]. Contudo, o
conhecimento da verdade implica dupla dificuldade ao intelecto: uma
proveniente da parte das coisas, seja pela diversidade e complexidade
dos objetos e outra da parte do próprio intelecto, seja pela dificuldade
que lhe pode gerar a opinião, a dúvida e o erro [In II Met. lect. 1, n.279-
286]. A verdade gerada pelo intelecto pode ser comunicada. Neste
sentido, para o conhecimento da verdade, os homens se ajudam
duplamente: de um modo direto, quando ao apreenderem-na a
transmitem e, de um modo indireto, quando parcialmente a transmitem
[In II Met.lect. 1, n.287-288; lect. 5, n.334]. Em todo caso é conveniente
buscá-la [In II Met. lect. 5, n.335-336], ainda que a verdade dos
primeiros princípios seja previamente determinada no intelecto e
ajudem-no a resolver muitas dificuldades em sua aplicação [In III Met.
lect. 1, n.338]. Quando, pois, o intelecto apreende a verdade de algo o
afirma como verdadeiro, ao mesmo tempo que nega o que não é este
algo. Por isso, o verdadeiro e o falso nas coisas não são senão, afirmar e
negar [In IX Met. lect. 11, n.1896-1901;In VI, lect. 4, n.1230-1240]. O
intelecto quando conhece a verdade de algo, a conhece em ato. Ora, o
intelecto não poderia conhecer algo em ato se não estivesse em ato e se
não conhecesse em ato. Portanto, o intelecto está mais no ato que na
potência quando conhece algo e, do mesmo modo, pode-se dizer que o
intelecto está mais nas realidades simples que nas compostas [In IX
Met. lect. 11, n.1910-1913].

(d) o processo de conhecimento pelo intelecto: a abstração é o


processo próprio do modo como o intelecto conhece o ente; o intelecto
não conhece as coisas nele mesmo, senão, pela abstração, depois da
recepção das formas sensíveis impressas que, impregnadas de
materialidade e individualidade, são depositadas, pela potência
sensitiva, nos sentidos internos, cuja separação da materialidade e
individualidade é feita pelo processo de abstração. A abstração designa,
em Tomás, uma atividade do intelecto pela qual considera a forma
abstraída, comum de um objeto separada de sua matéria e de suas
condições individuais. A abstração é tríplice: da matéria, dos inferiores
e dos sentidos [In I Met. lec. 10, n. 158; In III Met. lec. 7, n. 404-405; In
VIII Met. lec. 1, n. 1683 e In XII Met. lec. 2, n. 2426]. A abstração da
matéria é de quatro modos: matéria sensível (quantidade), inteligível
(qualidade), comum (gênero) e individual (número) [In VI Met. lec. 1; In
XI Met. lec. 7, n. 2259-2264]. Todo conhecimento científico é abstrativo
e gerador de um conceito universal, predicado de muitos.

(e) a passividade do intelecto: no primeiro momento do ato do


conhecimento, o intelecto é passivo, porque recebe as informações que
as potências sensitivas, tanto internas, quanto externas, fornecem para
a alma; por isso, conhecer é padecer, enquanto isso significa receber
aquilo para o qual estava em potência, sem que nada lhe fosse tirado
[STh I,q79,a2,c]. No caminho que leva o intelecto para a geração do
conceito universal e abstrato, o primeiro passo é a da relação do
intelecto com as potências sensitivas, das quais herda as formas
sensíveis, que abstraídas de suas materialidades, são concebidas como
formas inteligíveis.

(f) a atividade do intelecto: por isso, num segundo momento do ato


de conhecer, o intelecto é agente, pois é necessário que o próprio
intelecto, depois de recebidas as formas sensíveis, - as espécies
impressasou imagens - opere e as coloque em ato, pela abstração das
formas inteligíveis, formando novas espécies - as espécies
expressas ou conceitos -, na medida em que as conhece em ato e as
torna semelhantes a ele mesmo e subsistentes nele mesmo [STh
I,q79,a3,c]. Portanto, não haveria um mundo das formas inteligíveis,
para além da existência destas formas no próprio intelecto, já que foi o
próprio intelecto que as concebeu, ele mesmo é o guardião destes
conceitos. Os conceitos estão no intelecto, assim como o intelecto está
na alma. Ora, o intelecto agente é potência intelectiva, ou seja, existe
na alma humana como sua potência de entender as coisas em ato.
Portanto, cada homem possui o seu intelecto individualmente; e este se
assemelha, por natureza e perfeição, aos dos demais homens. Logo, ele
não existe separado da alma, embora não dependa de algum órgão do
corpo para operar no que lhe é próprio [STh I,q79,a4,c], nem é único ou
um só para todos os homens [STh I,q79,a5,c]. Não seria possível a
ciência se o intelecto não gerasse conceitos ou se já tivesse apriori os
mesmos. A ciência é o resultado de uma atividade intelectual, que
concebe idéias verdadeiras e abstratas das coisas que ele considera na
realidade do mundo concreto. Cabe saber como o intelecto guarda,
conserva, averigua, analisa o que produz, quando conhece a realidade e
dela faz ciência. Por isso, é importante conhecer quais são as partes da
potência intelectiva que concorrem na formação do conhecimento
científico.

(g) partes da potência intelectiva: O intelecto é um só, mas múltiplas


são as suas funções, quando concebe um conceito verdadeiro e
universal. Por isso, seis são as partes ou funções da potência
intelectiva, com as quais o intelecto concebe um conceito verdadeiro,
certo, abstrato, universal ou comum de muitos: a memória, a razão, a
razão superior e inferior, a inteligência, o intelecto especulativo e
prático, a sindérese, a consciência: a memória - é parte ou função da
potência intelectiva da alma humana responsável
por reter, conservar e recordar as imagens inteligíveis das coisas que
são apreendidas [STh I,q79,a6,c]. Como tal, a memória não é uma outra
potência distinta da potência intelectiva, senão que é da mesma
potência intelectiva, pela qual além de ser potência passiva é
conservativa [STh I,q79,a7,c]; a razão - é parte ou função da potência
intelectiva da alma humana responsável pelo raciocinar, ou seja, ir de
um objeto conhecido a outro; e é isso que difere a razão do intelecto, ou
seja, as funções, já que por natureza razão e intelecto não diferem:
pode-se demarcar a distinção entre as funções dizendo que a função do
intelecto é conhecer, simplesmente apreender a verdade inteligível, e
função da razão é raciocinar, como foi dito acima [STh I,q79,a8,c];
a razãosuperior e a razão inferior - não são, também, duas potências
distintas da potência intelectiva, senão que são dois nomes distintos
dados a duas funções distintas de uma mesma natureza: a razão
superior é asabedoria, que é o conhecimento conseqüente dos hábitos
dos primeiros princípios indemonstráveis e a razão inferior é a ciência,
que é o conhecimento conseqüente da aplicação dos hábitos dos
primeiros princípios na demonstração das coisas temporais [STh
I,q79,a9,c]; a inteligência - é propriamente o ato mesmo do intelecto,
que é o inteligir e não é uma outra potência, senão o ato da potência
intelectiva [STh I,q79,a10,c]; o intelecto especulativo e o prático -
não são mais duas potências além da intelectiva, senão a consideração
da mesma potência intelectiva, segundo os seus fins: especulativo, que
ordena o que apreende para o pensamento, especulação e o prático,
que ordena o que apreende e aprende para a ação [STh I,q79,a11,c];
a sindérese - não é parte da potência intelectiva, nem mesmo é uma
outra potência do intelecto, não é senão um hábito natural do intelecto
que entende e concebe os princípios da ordem da ação que incitam ao
bem e condenam o mal, na medida em que julga o que encontramos,
mediante os primeiros princípios [STh I,q79,a12,c]; a consciência -
significa aquilo que implica a relação do conhecimento com alguma
coisa, não é uma potência, mas um ato que atesta,obriga ou incita ou
ainda acusa, reprova ou repreende algum ato ou conhecimento, mas
tudo isso resulta da aplicação de algum conhecimento ou ciência que
temos do que fazemos, por isso, consciência é conhecimento com um
outro. Neste sentido, a consciência forma parte da potência intelectiva,
não como uma outra potência, senão como um ato pelo qual se aplica o
conhecimento de alguma coisa [STh I,q79,a13,c]. Estas funções do
intelecto são importantes para a formação do conhecimento científico,
pois é impossível que se dê a ciência sem qualquer uma destas funções
intelectivas, como por exemplo, é inadmissível ciência sem consciência
ou sem memória. Mas o intelecto jamais poderia alcançar a verdade
científica sem o hábito dos primeiros princípios, ou seja, sem cultivar
aqueles princípios dos quais toda verdade deriva e pelos quais todo
conhecimento certo é verificado.

2.2. Os primeiros princípios de demonstração: Mas o que é


princípio? Para o Aquinate princípiosignifica aquilo de que algo procede
e que contribui para a produção e demonstração de qualquer coisa
[STh.I q33 a1, c]. Segundo o Aquinate, está inscrito na natureza
intelectiva do homem o hábito dos primeiros princípios
teóricos, também, conhecidos como hábitos dos primeiros princípios do
conhecimento. É a partir do uso e do hábito dos primeiros princípios
que se intuem os primeiros princípios da demonstração do
conhecimento. Em outras palavras, nós só conhecemos e utilizamos os
primeiros princípios do conhecimento, quando conhecemos o que
procuramos conhecer. Por tal intuição não somente se aperfeiçoa a
inteligência como, também, a inclina para o conhecimento da verdade
universal. Tal exercício dispõe a virtude intelectual especulativa dos
hábitos dos primeiros princípios [STh. I-II,q57,a1]. A tal intuição do
primeiro princípio de demonstração, segue-se a concepção do ente,
como aquilo que é, e do não-ente, como aquilo que não é. Tal concepção
é necessária e a constatação do princípio é evidente para o intelecto,
quando concebe o ente. Esta evidência conclama o estabelecimento da
existência do primeiro princípio do conhecimento,
denominado princípio de contradição, ou princípio da não-contradição,
este que não precisa ser demonstrado, porque é antes o que demonstra
tudo mais que o intelecto concebe e que marca a oposição por
contradição entre as coisas que são e as que não-são [STh.I-II,q35,a4,c],
entre o universal e o particular [STh.I-II,q.77,a2,ob3] e entre a
afirmação e a negação [In I Peri. c.16], de cuja oposição se segue o
corolário de que é impossível afirmar e negar ao mesmo tempo [STh.I-
II,q94,a2] e que o ente é e o não-ente não é, simultaneamente, uma
mesma realidade [In IV Met. lec.6]. Do primeiro princípio da não-
contradição, sobre o qual todos os demais princípios se fundamentam
[STh.I-II,q94,a2;De ver.q5,a2,ad7], seguem-se o princípio de
identidade, que afirma que o ente é o que é [STh.I,q13,a7], oprincípio
do terceiro excluído, que sustenta não haver um meio termo entre ente
e não-ente [STh.I-II,q94,a2;De ver.q5,a2,ad7], o princípio de
causalidade, que afirma toda causa produzir um efeito proporcional [In
IV Sent.d1,q1,a4;STh.I,q79,a13] e o princípio de finalidade, que
sustenta que todo agente opera por causa de um fim [In I
Sent.d35,q1,a1]. O intelecto, em toda sua operação, sobretudo para a
demonstração de algo, aplica o princípio da não-contradição. Não há
conhecimento ou ação da potência cognitiva em que não se suponha a
utilização dos primeiros princípios do conhecimento. Ciência sem
princípio é impossível.

2.3. Do conhecimento: Tendo visto anteriormente a natureza da


potência cognitiva do homem, cabe agora responder a questão: o que é
o conhecimento?

(a) Etimologia: deriva de cognitio que significa, em seu sentido amplo,


sem distinguir as diferentes faculdades das quais deriva, seja ela
intelectiva ou sensitiva, excetuando os vegetais, o produto de um
processo em que a faculdade do conhecimento recebe a forma do
objeto, sem que com isso o cognoscente perca a sua forma e sua
identidade ou que o objeto conhecido, fique sem a sua forma.

(b) Definição: Em seu sentido estrito, conhecimento significa o ato


pelo qual o objeto conhecido se encontra no sujeito que conhece
[STh.I,q79,a2,c; I,q12,a4,c]. De que maneira se dá isso? Dá-se
porassimilação, pois todo conhecimento faz-se por assimilação do
conhecido no cognoscente [CG.I,65,n537], formando no cognoscente
uma imagem do objeto conhecido [CG.II,77,n1581]. Esta imagem é
a espécie sensível ou inteligível, de tal maneira que todo conhecimento
se dá pela informação de alguma espécie da coisa conhecida,
assimilada pelo cognoscente [In I Sent.d3,q1,a1,obj3].

(c) Adâmico: Como estamos falando especialmente do conhecimento


que é próprio do homem, convém falar do conhecimento conveniente ao
primeiro homem, Adão, para considerar o conhecimento de todos os
demais homens, depois de Adão, traçando aproximações e
distanciamentos entre um e outro. Em Adão há que se distinguir o modo
de conhecimento antes da queda e depois da queda. Antes da queda, o
conhecimento adâmico era reto, certo e verdadeiro, porque ele estava
perfeitamente ordenado, em todo o seu ser, para conhecer a verdade,
além de ter o conhecimento de todas as coisas [STh.I,q94,a3,c; In II
Sent.d23,q2,a3,c; De ver.q18,a6,c]. Depois da queda, o conhecimento
adâmico foi encalçado no erro, na malícia e no engano, sendo
necessário o reto uso dos primeiros princípios do conhecimento para
evitar o erro e conhecer a verdade [STh.I,q94,4,c; In II
Sent.d23,q2,a3,c; De ver.q18,a6,c]. Mas onde se encontravam tais
princípios? Encontravam-se inscritos na natureza do homem: a lei
natural inscrita no coração e na mente dos homens. Quis Deus, por sua
providência, dar-nos a conhecer, em nossa mente, por participação, a
sua lei eterna. Esta é a lei natural inscrita na mente humana e que é a
participação da lei eterna de Deus. É da lei natural, na mente humana,
que procede a ciência e a lei civil, na qual deve manifestar uma
inclinação natural à lei eterna [STh. I-II,q91,a2,c;CG.III,129;In V Eth.
lec12]. Visto isso, cabe frisar onde começa o conhecimento científico,
ou seja, qual é o princípio da ciência: o conhecimento intelectivo ou o
sensível?

(d) Origem: por princípio entende-se, aqui, aquilo de que algo procede


e que contribui para a produção e demonstração de qualquer coisa
[STh.I q33 a1, c]. O princípio de todo e qualquer conhecimento humano
natural começa pelo conhecimento sensível e termina no conhecimento
inteligível. O princípio do conhecimento humano, neste sentido, pode
ser considerado de dois modos: por parte da alma intelectiva e por
parte do corpo. Por parte da alma intelectiva, o princípio do
conhecimento humano são as próprias potências intelectivas - intelecto
e vontade - e, por parte do corpo, o princípio do conhecimento humano
são as próprias potências sensitivas - os sentidos externo e internos.
Como se origina o conhecimento sensível? O conhecimento sensível tem
a sua origem na relação entre os órgãos dos sentidos e os objetos
sensíveis externos [STh.III,q30,a3,ad2]. Por isso, diz-se que o princípio
do conhecimento está nos sentidos, pois neles se encontram a máxima
certeza [STh.III,q30,a3,ad2]. Nesta circunstância, todo o conhecimento
humano depende do que lhe fornece os sentidos e deles o intelecto
abstrai as suas formas inteligíveis, por meio das quais conhece a
natureza daquilo que concebe [STh I,q84,a1,c]. Se os sentidos
conhecem as coisa pela sensação, o intelecto as conhece por abstração,
a partir da experiência sensível e da separação das formas abstratas e
inteligíveis que delas ele obtem [STh I,q86,a1,c].

(e) Sujeito: por sujeito entende-se, aqui, o que subjaz ou subsiste como


substância [STh.I,q29,a2,c]. O sujeito do conhecimento pode ser tanto
a alma intelectiva, quanto o corpo. Mas como todo conhecimento
humano tem seu sujeito a alma intelectiva, é ela propriamente o sujeito
do conhecimento. A alma intelectiva conhece por meio do intelecto os
corpos dos seres, mas os conhece de maneira imaterial, universal. Mas
ao intelecto convém, maximamente, a capacidade de conhecer tudo o
que é imaterial [STh.I,q84,a1,c; III,q11,a1]. Por isso, o conhecimento da
alma em parte é intelectivo e em outra parte, sensitivo
[STh.I,q54,a3,ad1].

(f) Objeto: por objeto entende-se, aqui, aquilo a que se refere a


potência ou o hábito do conhecimento [STh.I,q1,a7,c]. Aquilo a que se
refere a potência intelectiva e o conhecimento é o ente. O ente é, como
dissemos, o que primeiro capta o intelecto [In I Met. lec.2, n.46]. Por
isso, o ente é o objeto próprio do conhecimento da alma intelectiva. São
duas as categorias de objeto: o ente sensível e o ente imaterial
[STh.I,q12,a4,c]. O ente sensível, que é a realidade singular, seu
conhecimento antecede, é anterior ao conhecimento do ente universal
como, também, é anterior o conhecimento sensível com relação ao
inteligível [STh.I,q85,a3,c;I,q6,a1,ad2;I,q59,a1,c]. A alma pode, ainda,
conhecer as realidades que lhes são superiores, como as verdades mais
universais ou as substâncias angélicas ou o que de Deus se pode
conhecer, por analogia, a partir do que o intelecto apreende e entende
do que considera pelos sentidos [STh I,q88,a1,c].

(g) Causas: qual é a causa do conhecimento? há duas ordens de


causas: uma sensível e outra imaterial. A causalidade da ordem
sensível: a causa eficiente do conhecimento é o próprio ente; a causa
formal é a verdade do ente; a causa material são a materialidade e a
individualidade do ente e a causa final é a adequação do intelecto com a
coisa e o seu conceito. A causalidade da ordem imaterial: visto que o
intelecto é mais apto a conhecer as realidades imateriais do que as
materiais, seria errôneo não haver, também, uma causalidade da ordem
do conhecimento imaterial: a causa eficiente é o ente imaterial; a causa
formal é a verdade e a final é o conceito, sendo excetuada a causa
material, por não ter a matéria o ente imaterial. E porque tudo se
converge para Deus, Ele é a causa última do conhecimento da alma
intelectiva. Cabe frisar que a causa próxima do conhecimento
intelectivo é o conhecimento sensível. Mas este não é a causa de todo
conhecimento intelectivo, já que o intelectivo vai além do conhecimento
sensível [STh.I,q84,a6,c].

(h) Tipos: quais os tipos de conhecimento? há dois tipos de


conhecimento: um natural e outro sobrenatural. A potência intelectiva
ordena-se, primeiramente, para o conhecimento natural. O
conhecimento natural, por sua vez, é de dois tipos: o conhecimento
sensível que conhece material e concretamente e o conhecimento
inteligível, que conhece imaterial, abstrata e universalmente
[STh.I,q86,a1,ad4]. O conhecimento inteligível é pelo modo
da abstração e segue a ordem que vai do sensível ao inteligível, ou do
particular ao universal [STh I,q85,a1,c]. Mas a alma conhece também
as coisas imateriais, pois ela se conhece a si mesma e neste caso ela
supõe a abstração, mas não conhece exclusivamente por abstração,
senão, também, por reflexão. A alma se conhece a si mesma
porreflexão, por comparação do que não existe em si, com o que existe
em si, bem como do que lhe é revelado e não contraria os seus
princípios [STh I,q87,a1,c]. Sobre o conhecimento sobrenatural vale
destacar o conhecimento da alma separada do corpo. A alma separada
do corpo não conhece senão por infusão, que é o conhecimento
por iluminação, ou mesmo por reflexão, por recordar em si o que dela já
conheceu. No caso do conhecimento sobrenatural Deus o permite, em
vista de um bem comum ou mesmo de um bem individual maior [STh
I,q89,a1,c;De ver. q19]. A alma separada não abstrai, porque não utiliza
as faculdades sensíveis para conhecer. A abstração supõe o
conhecimento sensível. Toda ciência que a alma intelectiva pode
adquirir enquanto separada do corpo é dito ciência infusa.

(i) Modos: Quais os modos de conhecer? Temos visto que por


conhecimento compreendemos o ato de entender algo por meio de
alguma faculdade cognitiva: conhecimento sensível é o que resulta
imediatamente da ação dos objetos sensíveis externos sobre os
sentidos; conhecimento inteligível é o que resulta da abstração do
conhecimento sensível. Assim, dois são os modos do conhecimento: um
por parte do corpo, a sensação e outro por parte da alma, a abstração.
Da abstração, falaremos mais abaixo. Por sensação entende-se, aqui, o
que se produz por parte dos sentidos externos. O modo como os
sentidos apreendem a forma sensível do objeto sensível externo é
a sensação. Neste modo, os órgãos dos sentidos retêm, juntamente com
a forma sensível, as impressões sensíveis acidentais próprias, como a
cor no sentido da visão e os sensíveis acidentais comuns, como a
extensão, a altura e a profundidade, que são comuns aos objetos
sensíveis de qualquer sentido, pois há também na audição a extensão, a
altura e a profundidade. Sensível é qualquer apreensão pelos sentidos,
de qualquer coisa material, em que se requer um sentido e um órgão do
sentido e algo - o intelecto - que os relacione [STh.I,q12,a2,c]. O objeto
próprio do conhecimento sensível são os objetos sensíveis externos,
cuja finalidade é apreender a forma sensível do objeto sensível externo.
Por abstraçãodesigna-se aqui, uma atividade do intelecto pela qual se
considera a forma comum de um objeto separada (abstraída) de sua
matéria e de suas condições individuais. Ela é, como já aludimos,
tríplice: da matéria, dos inferiores e dos sentidos [In I Met. lec. 10, n.
158; In III Met. lec. 7, n. 404-405; In VIII Met. lec. 1, n. 1683 e In XII
Met. lec. 2, n. 2426] e a abstração da matéria pode ser de quatro
modos: sensível, inteligível, comum e individual [In VI Met. lec. 1; In XI
Met. lec. 7, n. 2259-2264].
(j) Valor: Tem valor o conhecimento? O que é valor? Por valor entende-
se, aqui, o que deve ser objeto de preferência ou escolha. Designa,
também, a qualidade inerente ou a qualidade exterior de algo. O
conhecimento tem valor, porque produz uma representação verdadeira
da coisa conhecida [In IV Met.lec14-15]. E esta representação é certa
porque se pauta nos primeiros princípios do conhecimento, que são
verdadeiros e evidentes em si mesmos, cujo máximo princípio é o da
não contradição [In IV Met.lec6]. Embora o intelecto se direcione
retamente ao conhecimento da verdade, ele pode incidir no erro e isso
por tais razões: por causa da complexidade do objeto e, neste caso, o
intelecto pode errar quando julga [In II Sent.d5,q1,a1,ad4]; por causa
do grau de participação, por ser o objeto conhecido maximamente
dessemelhante da natureza do cognoscente e não participar dos seus
princípios [STh.II-II,q53,a3-4] e por causa da paixão, pois esta pode
induzir o intelecto ao erro no juízo [In II Sent.d5,q1,a1]. Para que o
conhecimento seja científico é necessário que seja verdadeiro. Mas o
que é a verdade?

2.4. Da Verdade: A verdade é a máxima expressão do ser de alguma


coisa que é conhecida. A verdade é, naquele que conhece, a ponte entre
o ser da coisa em si mesma e o pensamento de quem a conhece. Do
binômio potência cognitiva-conhecimento emerge a verdade como o seu
fundamento.

(a) Definição: A verdade é a máxima expressão do conhecimento. É a


adequação entre o que o intelecto concebe do real e o que é o real em si
mesmo. A verdade consiste, pois, nalguma adequação entre o intelecto
e a coisa e é uma exigência fundamental do intelecto [In III
Sent.d33,q1,a3,sol3]. Poradequação entende-se, aqui, a igualdade.
Por igualdade entende-se, aqui, certa proporção ou similitude que se
afirma entre duas coisas que se relacionam entre si [De
malo,q16,a3,c;STh.I,q42,a1,ad2].

(b) Existência: A verdade existe? E se existe, onde está? Ora, sendo


uma exigência fundamental do intelecto, a verdade é uma noção só
perceptível pela mente [In I Sent.d19,q5,a1,c], mas que manifesta e
declara o ser da coisa [De Ver., q.1,a.1,c]; por isso, a verdade existe
principalmente no intelecto e só, secundariamente, nas coisas, na
medida em que são comparadas com o intelecto, como a um princípio
[STh.I,q16,a1,c]. Existe primeira e propriamente no intelecto divino
[STh.I,q16,a5,ad2] e só própria e secundariamente no intelecto dos
homens [De ver.q1,a4,c;STh.I,q16,a1,c]. Pode-se dizer que a verdade
encontra-se nos sentidos, mas não do mesmo modo como se encontra
no intelecto, pois no intelecto ela está por reflexão e nos sentidos como
resultado dos seus atos, sem conhecer a verdade em si [De ver.q1,a9,c].
A verdade pode encontrar-se na mente: em potência - quando o
intelecto não a possui ainda em ato, seja por mera negação, na medida
em que o intelecto não pode conhecer a verdade [De princ.nat.c2], ou
por privação, na medida em que pode e deve conhecer a verdade, mas
dela ainda se encontra privado [In I De caelo,lec6;In I
Sent.d13,q1,a4,c]; o erro é o juízo falso ou inadequado que ocorre no
estado em que a verdade encontra-se em potência no intelecto, ou seja,
é aprovar o falso por verdadeiro [De malo,q3,a7,c]; em ato imperfeito -
quando o intelecto ainda não a possui em perfeição, por algum
impedimento, seja a dúvida, quando o intelecto versa sobre a verdade
sem o assentimento ou juízo, por encontrar-se entre duas teses opostas
[In III Sent.d17,q1,a4,c;De ver.q14,a1,c], seja a opinião, quando o
intelecto versa sobre a verdade com o assentimento ou juízo, que aceita
uma proposição, com o temor que seja verdadeira a sua contraditória
[STh.I,q79,a9,ad4;In III Sent.d23,q2,a2,c1;De ver.q14,a1,c]; em ato
perfeito: quando o intelecto a possui perfeitamente, com certeza, ou
seja, com a firme adesão da faculdade cognitiva ao objeto conhecido [In
III Sent.d26,q2,a4;d23,q2,a2,c3], pelos princípios universais
indemonstráveis [STh.I-II,q112,a5,c]. A verdade que é a máxima
expressão do intelecto é o fundamento do conhecimento científico.

(c) Fonte:  Deus é a única e absoluta verdade incriada, enquanto tudo


demais criado são verdades. Portanto, há uma única verdade incriada e
diversas criadas. Por isso, a fonte de toda verdade é Deus, a primeira
verdade, a verdade eterna [STh.Iq16,a7,ad4 e c;De ver.q1,a4,ad3] a
que, por meio das Sagradas Escrituras, derivaram as muitas outras
verdades nas mentes dos homens [De ver.q1,a8,c;De
div.nom.I,lec1;CG.III,47] e tem o seu fim na verdade de fé que é o
próprio Cristo [STh.III,q96,a6,ad10]. Por isso, a verdade existe de modo
próprio e primeiro no intelecto divino e se identifica com Ele próprio
[STh.I,q16,a5,ad2] mas secundariamente, no intelecto humano, na
medida em que imita a verdade da mente divina [CG.I,60] e impróprio e
secundariamente nas coisas [De ver.q1,a4,c;STh.I,q16,a1,c]. Deus é a
verdade incriada e tudo demais criado é fonte de verdade para o
intelecto, na medida em que se tratam de verdades criadas e
apreendidas pelo próprio intelecto [STh.I,q16,a6,ad1;In I
Sent.d19,q5,a2,obj2;De ver.q1,a4,ad7], posto que estas verdades têm
fundamento nas coisas [In I Sent.d19,q5,a1,c].

(d) Natureza: ora, se a verdade existe principalmente na mente,


assemelha-se a ela por natureza; mas a natureza do intelecto é imortal
e incorruptível, portanto, a natureza da verdade é a de um conceito
incorruptível [STh.I,q61,a2,ob23;De ver.q1,a5,obj13-15;CG.II,83],
embora só em Deus seja imutável e no intelecto mutável, já que no
intelecto pode-se mudar de verdade para falsidade
[STh.I,q16,a8,c;CG.III,47].
(e)  Modos de conhecer: de três modos o intelecto conhece a verdade:
de um modo natural, quando conhece a sua própria natureza, a verdade
inerente [De ver.q1,a5,c] e seus verdadeiros princípios e isso, mediante
a reflexão, adquirida, quando conhece a verdade das coisas, mediante
os seus primeiros princípios verdadeiros, por abstração e, por infusão,
quando a conhece por revelação divina, direta ou indiretamente
[STh.I,q60,a1,ad3]. A verdade que o intelecto adquire, ele apreende da
realidade e na medida em que se confirma o ser da realidade no
intelecto [STh.I,q16,a5,c].

(f)Tipos: segundo os modos de conhecer a verdade, estabelece-se três


tipos de verdade: a verdadelógica, a verdade ontológica e a
verdade eterna. A verdade lógica é a que se refere ao que resulta do
juízo que o intelecto faz sobre alguma realidade, ao afirmar ou negar se
ela é ou não verdadeira [De ver.q1,a3,c;In III Sent.d23,q2,a2,c1;In VI
Met.lec4]. A verdade lógica não existe formalmente na simples
apreensão, mas só no juízo. E ela existe no intelecto enquanto término
do conhecimento, ou como o que é conhecido pelo intelecto [In VI
Met.lec4,n.1233-1236;In III De anima, lec11,n746;De ver.q1,a3 e
9;CG.I,59;STh.I,q16,a2,c]. Por isso, o Aquinate afirma que a verdade
tem o seu fundamento na coisa, mas ela se realiza formalmente na
mente, quando ela apreende a coisa como ela é [In I Sent.d19,q5,a1].
Neste caso, o que mede é a mente e o medido é a coisa [In I
Perrih.lec3,n29-30]. A verdade ontológica é a da coisa, enquanto ela
existe em si mesma. A verdade ontológica ésubstancial ou acidental. A
verdade ontológica substancial é a que é causa da realidade do ser
[STh.I,q16,a1,c;De ver.q1,a2e4] e a verdade ontológica acidental é o
efeito produzido pelo ente no intelecto, e é denominada
de inteligibilidade, que é o manifestar da coisa à mente
[STh.I,q16,a3,ad3]. A verdade eterna é a verdade divina que ilumina a
mente humana pela revelação, ela é única e imutável [In I
Sent.d19,q5,a3,ad4;STh.I,q16,a7,c].

(g) Valor: A verdade é um valor? Sim! A verdade é como dissemos uma


valor objetivo, porque é expressão intelectiva do ser da coisa. O que é
valor? Vejamos: Cada coisa e cada ação estão dotadas de uma
intrínseca nobreza e grandeza, mediante as quais são dignas de estima,
próprio por aquilo que são e não pelo interesse que por ela tenhamos,
pelo sentimento que nos inspira, pela utilidade que nos propõe, pelo
bem ou prazer que possam nos causar. Há valor na rosa e no cravo, na
água e no fogo, na águia como no leão, no automóvel como no livro, na
verdade como na beleza. O valor, portanto, não é o interesse, o preço
que o homem manifesta por uma coisa, o apreço por uma pessoa ou por
uma ação, senão aquela grandeza, nobreza, dignidade que pertencem à
coisa, à pessoa e à ação e que estão na origem do interesse e do preço.
Neste sentido, valor é de certo modo um valor transcendental, porque
segue o ser da coisa e o valora pelo que ela é. Não é tautológico dizer
que o bem é um valor, que a verdade é um valor, pois valor se diz de um
e de outro, mas não se identifica nem com um nem com outro. Há
hierarquia de valores? Sim! Como vimos acima, nem todos os valores
são iguais: não possuem um mesmo valor um automóvel e um copo com
água no deserto, uma vida de santidade e uma vida de perversidade. A
hierarquia dos valores se dá pela hierarquia dos graus de perfeição das
coisas e pela nobreza, dignidade e importância de cada ser: há graus de
perfeição do ser – o vegetal tem mais ser do que o mineral, porque
possui a perfeição do ser mineral e mais a vida vegetativa; o animal tem
mais ser do que o vegetal, porque possui a perfeição vegetal mais a vida
sensitiva e o homem tem mais ser do que o animal, porque possui a vida
sensitiva e mais a intelectiva. Deste modo, há hierarquia segundo o ser,
a dignidade, a importância, o interesse e a estima: um graveto não vale
o mesmo que uma casa; e um livro não vale mais que o seu autor.
Portanto existem coisas e ações mais nobres e mais importantes e
outras menos nobres e importantes. Na escala de valores o máximo ser,
digno, importante, interessante e estimado é o máximo valor: Deus,
porque é o princípio de todo ser, dignidade, importância e estima [STh.
I, q.2, a.3,c]. A hierarquia de valores expressa uma hierarquia de
verdades? Sim! Ora, se a verdade é expressão do ser, havendo
multiplicidade de seres haverá multiplicidade de verdades e havendo
graus de perfeição do ser haverá igualmente graus de valor de verdade.
Quanto mais digno, nobre, estimado e perfeito o ser, mais digna, nobre,
estimada e perfeita a sua verdade. Há graus de ser pela perfeição de
cada ser; graus de verdade segundo tais perfeições e graus de valor
segundo tais verdades. O sumo ser será a suma verdade e o sumo valor:
Deus. E como em Deus ser e verdade se identificam, em seu intelecto só
há um ser e uma só verdade primeira e eterna [De Ver., q.1,a.5,c], mas
no intelecto humano haverá muitas verdades temporárias e mutáveis
[De Ver., q.1,a.4,c], que não são eternas, nem subsistentes por si
mesmas. Sendo, pois, Deus a única verdade eterna a que tende o
intelecto [De Ver.,q.1,a.6,c].

(h) Contrário: O contrário da verdade é a falsidade. O que é a


falsidade? Do mesmo modo, a falsidade que é a expressão intelectiva de
inconveniência, inconformidade e inadequação do intelecto e da coisa,
pela dessemelhança da coisa existente fora da alma, ela só existe na
mente [STh I,q17,a4/De ver.q1,a10-11]. A falsidade pode ser: lógica, ou
a inadequação do intelecto com a coisa ou ontológica, a inadequação da
coisa com o intelecto [STh.I,q17,a1,c;a3,c;De ver.q1,a9,c].

2.5. Da certeza: Não há verdade incerta, mas incerteza sobre a


verdade. A firme adesão da potência cognitiva ao objeto conhecido é a
certeza.
(a) Definição: Como vimos, a certeza é a firme adesão da faculdade
cognitiva ao objeto conhecido [In III Sent.d26,q2,a4;d23,q2,a2,c3],
pelos princípios universais indemonstráveis [STh.I-II,q112,a5,c]. Duas
coisas importam para a certeza: a adesão firme e a evidência [De
ver.q14,a1,ad7;CG.III,47STh.I,q85,a6].

(b) Tipos: a certeza primeiramente, por ser um estado da mente, uma


propriedade da verdade, ela ésubjetiva, posto que a verdade existe na
mente [In I Sent.d19,q5,a1,c], mas secundariamente, por analogia de
atribuição da certeza, é objetiva, pois o nome é indicado para, também,
significar o objeto. A certeza é meramente subjetiva se não se funda na
certeza objetiva. A certeza verdadeiramente subjetiva, que se funda na
objetiva, é certeza formal e possui dois fundamentos:
a evidência objetiva ou evidência da verdade e a autoridade, manifesta
pela evidência de credibilidade. A certeza formal distingue-se
em: certezade evidência, fundada na certeza da verdade e certeza de fé,
fundada no testemunho de autoridade, manifesto pela evidência de
credibilidade. A certeza de evidência distingue-se em: certeza
absoluta ou metafísica e certeza condicionada. A certeza condicionada
é certeza física e certeza moral. A certeza metafísica é absoluta porque
se funda na própria essência da coisa. A certeza física é condicionada
porque, se por um lado se funda nas leis naturais, por outro lado, sob
certa condição, o milagre não descarta agir para além destes princípio.
A certeza moral é condicionada porque, se por um lado o homem é
regido por suas leis morais, ordenando suas inclinações e ações para o
bem da natureza, por outro lado, sob certa condição, como pelas
circunstâncias dos atos e das inclinações, pode-se limitar sua
orientação moral. A certeza de fé distingue-se em: natural, ou certeza
de fé humana e sobrenatural, certeza de fé divina [STh.II-II,q1,a4,c;De
ver.q14,a1,c;In III Sent.d23,q2,a2,c3]. Prova-se a evidência ser o
fundamento da certeza por sua infalibilidade, porque a verdade lógica é
inseparável da verdade ontológica do objeto.

(c) Evidência: por evidência entende-se, aqui, a clareza de um conceito


ou proposição à mente, fundamentado em princípios universais; a
evidência é propriedade da verdade, e esta, por sua vez, propriedade do
intelecto, na medida em que há adequação do intelecto com a coisa
[STh.I,q17,a4,c].

(d) Causa: por causa entende-se, aqui, aquilo de que algo procede


como efeito ou aquilo de que, por necessidade, segue uma outra coisa
[In V Met. lec.7, n.749] e influi naquilo de que é causa [In V Met. lec.1,
n.751]. A causa da certeza subjetiva é a veracidade das potências
cognitivas, que atestam sua reta ordenação ao conhecimento da
verdade da realidade
[CG.III,107;Quodl.V,a9,ad2;VIII,a3;STh.I,q78,a4,ad2;I,q85,a2,ad3],
embora os sentidos externos possam errar, por acidente, na busca de
tal verdade [STh.I,q17,a2,c;I,q85,a6,c;De ver.q1,a11,c]. A causa da
certeza objetiva não é nem o instinto nem as paixões, a afetividade
propensa à utilidade da vida, mas a evidência objetiva [In III
Sent.d23,q2,a2,c3].

(e) Ceticismo: o ceticismo é a doutrina que coloca em dúvida os


princípios de conhecimento. O ceticismo, enquanto tal, é fisicamente
impossível e formalmente contraditório. O ceticismo é universal,
quando se estende a tudo e pode ser considerado: de fato, enquanto
resume-se na atitude individual de agir pondo tudo em dúvida e
de doutrina, enquanto resume-se na atitude de propalar, por doutrina, a
todos, os princípios da dúvida universal. O ceticismo universal factual é
fisicamente impossível, pois é impossível suspender o assentimento de
tudo e não aceitar ao mesmo tempo alguns princípios necessários para
a própria suspensão do assentimento [In IV Met.lec9,n661]. O ceticismo
universal doutrinal é formalmente contraditório, porque afirma e nega
ao mesmo tempo tudo que duvida, violando o primeiro princípio da não
contradição [In IV Met.lec9,n661,lec7,n611]. O ceticismo éparticular,
quando se estende a alguns princípios. Pode ser acerca da existência do
próprio sujeito,ceticismo subjetivo ou acerca da verdade do objeto,
ceticismo objetivo ou subjetivismo.

(f) Idealismo: por idealismo entende-se, aqui, a doutrina que considera


o pensamento como o fundamento do ser. É o outro nome para
o subjetivismo. O intelecto não conhece somente os atos de sua
operação ou o que destes atos se podem conhecer, dele mesmo, por
reflexão. Nem mesmo o conhecimento destes atos impede ou exclui a
possibilidade de o intelecto conhecer a realidade sensível, pela
ordenação dos sentidos externos, abstraindo das impressões sensíveis
as espécies inteligíveis. Erram, pois, os que assim entendem [In IV
Met.lec9,n661], por sustentarem possuir algum conhecimento inato, a
priori do real [STh.I,q84,a3,c].

(g) Relativismo: Quantas forem as coisas consideradas pelo intelecto


humano, tantas serão as expressões intelectivas da adequação do
intelecto e das coisas. Assim, uma é a verdade da cadeira e outra a da
água, pois a cadeira não pode ser cadeira e água, sob um mesmo
aspecto e ao mesmo tempo, nem pode ser cadeira e não-cadeira, ao
mesmo tempo. Mas afirmar que a verdade não é única para o intelecto
humano não significa dizer que cada intelecto tem a sua verdade? Não!
Porque a verdade é valor objetivo e que todo e qualquer intelecto,
diante de um mesmo objeto, concebe uma mesma verdade. Uma
diversidade de intelectos, que não se distinguem essencialmente, entre
si, e que não constituem diversidade de naturezas, diante de um mesmo
objeto, conceberá uma mesma verdade, diante de diversos objetos,
conceberão diversas verdades. Vejamos, por exemplo: a bola é uma
mesma verdade para todos os sujeitos que compõem os dois times de
futebol que disputam uma partida final; o campo e a bola são verdades
diversas para todos os sujeitos que assistem a esta partida de futebol,
ainda que tal jogo fosse assistido por um único torcedor. Por isso, nos
mesmos termos, o relativismo é fisicamente impossível e formalmente
contraditório.

2.6. Da ciência: A ciência é o conhecimento verdadeiro e certo,


demonstrável e fundamentado nos princípios invioláveis da razão.

(a) Definição: Para São Tomás ciência, em sentido lato, significa


qualquer tipo de conhecimento intelectivo, qualquer representação da
coisa ou operação intelectiva. Daí que ciência não é outra coisa senão a
descrição das coisas na alma, na medida em que ciência diz-se a
assimilação do que é conhecido [De ver.q11,a1,ob11]. Em sentido
estrito, ciência é um hábito do intelecto, mais especificamente a
segunda virtude intelectual [In III Sent.d34,q1,a2,c]. Comumente o
Aquinate define ciência como aquele tipo de conhecimento de alguma
coisa, mediante as suas causas [CG.I,94]. Em sentido ainda mais estrito,
o Aquinate a define é um tipo de conhecimento de um dado específico:
o homem, o mundo, Deus etc. [CG.I,56]. A ciência é a reta razão das
especulações [STh.I-II,q56,a3,c] ou o conhecimento certo e verdadeiro
de algo, por sua causa [CG.I,94]. Ciência é o conhecimento certo pelas
causas, ou seja, segundo a demonstração propter quid. A ciência resulta
da demonstração de algum conhecimento por suas causas, oriunda da
aplicação certa e eficiente dos hábitos dos primeiros princípios [In I
Anal. post.lec36]. Neste sentido a ciência é um hábito [STh.I,q14,a1]. É
o intelecto que demonstra, portanto a ciência está no intelecto [In I
Phys.lec1]. Se a ciência é o que resulta de uma demonstração, ela
mesma é uma conclusão de algum conhecimento pela causa
[STh.I,q14,a1,c; STh.I-II,q53,a1,c]. Em última instância, a ciência não é
outra coisa senão a descrição inteligível na alma, das coisas sensíveis
[De ver.q2,a1;q11,a1]. Não há ciência do singular, senão só do
universal [In I Anal. post.lec42 e 44].

(b) Elementos: a ciência exige três elementos: um objeto, uma série


de princípios e a sua demonstração [In I Anal,lec15,n3;In III
Met.lec15,n390]. É o objeto que confere unidade à ciência. O que é
objeto próprio de uma ciência? Designa-se propriamente como objeto
de uma potência ou de um hábito de conhecimento aquilo sob cuja
razão todas as coisas se referem a esta potência ou a este hábito, por
exemplo, o homem e a pedra se referem à vista como coisas coloridas,
uma vez que a cor é o objeto próprio da vista [STh.I,q1,a7,c]. O objeto
pode ser material, uma realidade singular ou formal, um conceito, um
princípio. A diversidade dos objetos materiais não diversifica os hábitos,
a não ser a dos objetos formais, pois as ciências se diversificam
segundo a diversidade formal dos objetos [In I Anal,lec41,n11]. A
demonstração é um silogismo categórico, por meio do qual se conhece
certo e verdadeiramente, pela causa [De demonstratione, n1; In I Anal.
post.lec4,n9]. Os princípios de demonstração são comuns a todas as
concepções [In III Met. lec.5, n.387]. O princípio de demonstração não
pode ser demonstrado [In IV Met. lec.15, n.710]. A demonstração pode
ser da natureza - quia - ou da causa - propter quid. A demonstração que
diz a natureza de algo, demonstra o seu ser e a sua verdade. A
demonstração que diz a causa de algo, demonstra a causa próxima ou
remota de algo, seja ela física ou metafísica. [In I Anal. post.lec23,n1; In
II De anima, lec3,n253; De anima, a17; In VIII Phys. lec21,n8]. A
conclusão é deduzida das verdades pré-concebidas, em cujos princípios
a sua veracidade se encontra virtualmente. Trata-se de uma nova
verdade extraída das verdades das premissas precedentes, de cujas
emana a verdade da premissa conclusiva [In I Anal. post. lec2, n1]. A
demonstração se fundamenta na evidência dos primeiros
princípios. Para o Aquinate princípio significa aquilo de que algo
procede e que contribui para a produção e demonstração de qualquer
coisa [STh.I q33 a1, c]. Segundo o Aquinate, está inscrito na natureza
intelectiva do homem o hábito dos primeiros princípios
teóricos, também conhecidos como hábitos dos primeiros princípios do
conhecimento. É a partir do uso do hábito dos primeiros princípios que
se intui o hábito dos primeiros princípios da demonstração do
conhecimento. Por tal intuição não somente se aperfeiçoa a inteligência
como, também, a inclina para o conhecimento da verdade universal. Tal
exercício dispõe a virtude intelectual especulativa dos hábitos dos
primeiros princípios [STh. I-II,q57,a1]. A tal intuição do primeiro
princípio de demonstração, segue-se a concepção do ente, como aquilo
que é, e do não-ente, como aquilo que não é. Tal concepção é
necessária e a constatação do princípio é evidente para o intelecto,
quando concebe o ente. Esta evidência conclama o estabelecimento da
existência do primeiro princípio do conhecimento,
denominado princípio de contradição, ou princípio da não-contradição,
este que não precisa ser demonstrado, porque é antes o que demonstra
tudo mais que o intelecto concebe e que marca a oposição por
contradição entre coisas que são e as que não-são [STh.I-II,q35,a4,c],
entre o universal e o particular [STh.I-II,q.77,a2,ob3] e entre a
afirmação e a negação [In I Peri. c.16], de cuja oposição se segue o
corolário de que é impossível afirmar e negar ao mesmo tempo [STh.I-
II,q94,a2] e que o ente é e não é, simultaneamente, uma mesma
realidade [In IV Met. lec.6]. Do primeiro princípio da contradição, no
qual todos os demais princípios se fundamentam [STh.I-II,q94,a2;De
ver.q5,a2,ad7], seguem-se oprincípio de identidade, que afirma que o
ente é o que é [STh.I,q13,a7], o princípio do terceiro excluído, que
sustenta não haver um meio termo entre ente e não-ente [STh.I-
II,q94,a2;De ver.q5,a2,ad7], o princípio de causalidade, que afirma toda
causa produzir um efeito proporcional [In IV
Sent.d1,q1,a4;STh.I,q79,a13] e o princípio de finalidade, que sustenta
que todo agente opera por causa de um fim [In I Sent.d35,q1,a1]. Como
conseqüência da reta e verdadeira demonstração emerge a ciência.

(c) Propriedades: Segundo o Aquinate três são as propriedades:


a certeza, a universalidade e a necessidade. Para a ciência requer-se a
certeza do conhecimento para a demonstração [De ver.q11,a1,ob13; In
I Anal,lec4,n5;lec44,n3]. Como vimos, a certeza é a firme adesão da
faculdade cognitiva ao objeto conhecido [In III
Sent.d26,q2,a4;d23,q2,a2,c3], pelos princípios universais
indemonstráveis [STh.I-II,q112,a5,c]. Duas coisas importam para a
certeza: a adesão firme e a evidência [De
ver.q14,a1,ad7;CG.III,47STh.I,q85,a6]. Do ponto de vista objetivo a
ciência trata do universal e não do particular [In II De anima,lec12;In I
Anal.lec44,n2]. Etimologicamente, universal significa unum versus alia,
um que se verte em muitos. Em seu significado real, universal é o que
por natureza é apto a predicar-se de muitos [In I Perih. lec10]. Ora, se o
universal é o que é apto de predicar-se de muitos, isso significa que o
que é universal é comum de muitos. Do que se segue, que universal e
comum de muitos são sinônimos [In I De trin. lec.1; In VII Met. lec 13].
Cabe frisar que o intelecto somente produz o universal por abstração
[STH.I-II,q29,a6,c], pois o intelecto, pela abstração, ao produzir o
universal, concebe o conceito, a partir do qual se expressa a essência
universal da coisa particular, que ele considerou. Assim, pois, algo é
considerado universal não somente quando o nome predica-se de
muitos, mas, também, quando o que é significado pelo nome, pode dar-
se em muitos [In I Perih. lec.10]. Cabe, ainda, distinguir o universal
lógico do universal metafísico: o universal considerado em si mesmo,
em seu conteúdo real e metafísico, é o universal metafísico; o universal
enquanto conceito universal, desde um ponto de vista de sua
predicação, é o universal lógico [In VII Met. lec13]. O universal lógico é
real, porém abstrato [De ente et ess. c3]. Por necessidade diz-se do que
é necessário.Trata do necessário e não do contingente [In I
Anal.lec4,n7], dado que contingente é o que ocorre por acaso e por isso
se exclui a universalidade, a certeza e a causalidade [STh.II-
II,q1,a5,ad4]. Pornecessário entendem-se, aqui duas coisas: o que não
pode ser de outro modo ou que não pode faltar, porque é condição para
que algo se realize [STh.II-II,q32,a6,c]. Diz-se que algo é necessário
quando é impossível não ser [In III Sent.d16,q1,a2,c], o que segundo a
ordem da sua natureza está determinada somente a ser [In I
Peri.lec14,n6].

(d) Divisão: A ciência é essencialmente especulativa, mas as artes,


habilidades que são essencialmente práticas, são denominadas
analogicamente, ciências. A reta razão de fazer - arte - e a reta razão do
agir - moral - não deixam de ser conhecimento certo pelas causas e, por
isso, são analogicamente denominadas ciências [In III De anima,
lec15,n820; In II Met.lec2,n290; In VI Etica,lec2,n1129;De ver.q3,a3,c;
STh.I,q14,a16;q79,a11;I-II,q57,a3-5]. A ciência especulativa divide-se
em três categorias ou sub-espécies: a física, que trata do ente móvel
abstraído de suas condições individuais [dela derivam: cosmologia,
antropologia, psicologia, ética, química, mineralogia, botânica,
zoologia]; amatemática, que trata do ente estático abstraído não só da
matéria singular, senão, também, da matéria sensível [dela derivam: a
geometria e a aritmética] e, por fim, a teologia, que considera o ente
abstraído absolutamente da matéria, ou do ente absolutamente
imaterial [dela derivam: lógica, metafísica e a teologia da fé] [In VI
Met.lec1,n1166; In I Phys.lec1,n1]

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