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Módulo III

CÁLCULO I - M
João Xavier da Cruz Neto
PRESIDENTE DA REPÚBLIC A
Luiz Inácio Lula da Silva

MINISTRO DA EDUC AÇÃO


Fernando Haddad

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ


REITOR
Lui z de Sousa Santos Júnior

SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DO MEC


Carlos Eduardo Bielschowsky

DIRETOR DE POLITICAS PUBLIC AS P AR A EAD


Hélio Chaves

UNIVERSIDADE ABERTA DO BR ASIL


COORDENADOR GERAL
Celso Costa

CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERT A A DISTÂNCI A DA UFPI


Coordenador Geral de EaD na UFPI
Gildásio Guedes Fernandes

CENTRO DE CIENCIAS DA N ATUREZ A


DIRETOR
Helder Nunes da Cunha

COORDEN ADOR DO CURSO de Licenciatura em Matemática na Modalidade EaD


João Benício de Melo Neto

DEP ART AMENTO DE MATEMÁTIC A


CHEFE DO DEPARTAMENTO
Jurandir de Oliveira Lopes

EQUIPE DE APOIO
Paulo Sérgio Marques dos Santos
Renan de Oliveira

Copyright © 2007. Todos os direitos desta edição estão reservados à Universidade Federal do Piauí (UFPI). Nenhuma parte deste material poderá ser
reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, do autor.

BXXXx DA CRUZ NETO, João


Cálculo I / João Xavier da Cruz Neto – Teresina: UFPI/UAPI
2007.
?p.

Inclui bibliografia

1 – Funções e Gráficos. 2 – Limites e Continuidades. 3 – A Derivada e


suas Aplicações. 4 – A Integral. 5- Conjuntos. I. Universidade Federal do
Piauí/Universidade Aberta do Piauí. II. Título.

CDU: 32
APRESENTAÇÃO

Este texto é destinado aos estudantes aprendizes que participam do


programa de Educação a Distância da Universidade Aberta do Piauí
(UAPI) vinculada ao consórcio formado pela Universidade Federal do
Piauí (UFPI) Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Centro Federal
de Ensino Tecnológico do Piauí (CEFET-PI), com apoio do Governo do
estado do Piauí, através da Secretaria de Educação.

O texto é composto de cinco unidades, contendo itens e subitens, que


discorrem sobre: Números reais, Funções e gráficos, Limites e
Continuidades, A Derivada e suas aplicações e A Integral.

Na Unidade 1, Apresentamos uma breve revisão sobre conjuntos, com


ênfase no corpo dos números reais e suas propriedades.

Na Unidade 2, introduzimos o estudo de funções, mostrando a


importância deste conceito, os exemplos mais importantes, conhecendo
suas características e suas particularidades. Apresentamos as
operações de adição, multiplicação e divisão de funções, com as suas
principais propriedades.

Na Unidade 3, Apresentamos a noção de limite, limites laterais e


limites no infinito. Definimos função contínua e mostramos várias de
suas propriedades. Estabelecemos o Teorema do Valor Intermediário e
algumas de suas aplicações.

Na Unidade 4, Nesta unidade, introduzimos um conceito muito


importante no Cálculo: a derivada. Apresentamos aplicações na Física
para motivar o nosso estudo.
Enunciamos o Teorema do Valor Médio e fazemos várias aplicações,
dentre elas, o esboço de gráficos de funções.

Na Unidade 5, introduzimos a integral indefinida usando o conceito de


antiderivada de uma função. Construímos uma tabela com as integrais
mais conhecidas e apresentamos técnicas para resolver as mais
elaboradas. Na parte final da unidade, desenvolvemos a integral
definida como o limite de somas de Riemann e apresentamos o
Teorema Fundamental do Cálculo, com o qual, determinamos a área de
regiões delimitadas por curvas planas.

Em todas as unidades, Indicamos alguns livros mais avançados e links

para o aprofundamento de conteúdo.


SUMÁRIO

UNIDADE 1. Números reais


1.1 Conjuntos 11
1.2 Números reais 18
1.3 Saiba mais 25
1.4. Exercícios 27
Referências bibliográficas 29

UNIDADE 2. Funções e Gráficos


2.1 Introdução 32
2.2 Conceito de função 33
2.3 Algumas funções importantes 41
2.4 Operações com funções 54
2.5 Saiba mais 57
2.6 Exercícios 59
Referências Bibliográficas 63

UNIDADE 3. Limites e Continuidade


3.1 Noção de limite 67
3.2 Funções contínuas 77
3.3 Limites laterais 82
3.4 Limites no infinito 85
3.5 Teorema do Valor Intermediário 91
3.6 Saiba mais 93
3.7 Exercícios 95
Referências Bibliográficas 99

UNIDADE 4. A Derivada e suas Aplicações


4.1 Definição de derivada de uma função 103
4.2 Taxa de variação 116
4.3 Variação das funções e esboço de gráfico 120
4.4 Saiba mais 130
4.5 Exercícios 132
Referências bibliográficas 139

UNIDADE 5. A Integral
5.1. Primitivas 143
5.2 Técnicas de Integração 145
5.3 Integral definida 150
5.4 Saiba mais 157
5.5 Exercícios 158
Referências Bibliográficas 165
U ni da
Unidade 1de 1
AA soc
sociolo
iologia
gia ee a
a
Soc Números
Sociolo
iolo gia da
gia da Edureais
Edu cação
caç ão

Resumo
Apresentamos uma breve revisão sobre conjuntos, com
ênfase no corpo dos números reais e suas
propriedades.
SUMÁRIO DA UNIDADE

UNIDADE 1. Números reais


1.1 Conjuntos 11
1.2 Números reais 18
1.3 Saiba mais 25
1.4. Exercícios 27
Referências bibliográficas 29
1. NÚMEROS REAIS

1.1 CONJUNTOS

A tı́tulo de revisão, faremos uma breve apresentação da teoria dos


conjuntos. Não é nosso escopo escrever um texto que sirva de re-
ferência na teoria dos conjuntos, pois o que mostraremos aqui já é
de conhecimento de muitos e encontra-se em obras mais completas,
com uma apresentação mais bela e digna de apreciação. Convidamos
Veja mais sobre
o leitor a consultar algumas obras que indicaremos na bibliografia re-
a Teoria de Con-
comendada. Omitiremos a construção dos conjuntos dos números
juntos no sı́tio da
naturais N = {1, 2, 3, . . .}, inteiros Z = {. . . , −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, . . .} ,
UFSCAR.
racionais Q = {x = p/q; p ∈ N e q ∈ Z∗ } e reais. Admitiremos con-
hecidas as propriedades destes conjuntos. O leitor menos experiente
pode buscar um tratamento rigoroso destes conjuntos em um bom
livro de Álgebra, ou mesmo de Análise Matemática. Estudaremos,
com um pouco de rigor, o conjunto dos números reais, que formam a
base de todo o livro. É obrigação do leitor sair do curso de Cálculo
com um conhecimento sólido das propriedades dos números reais.
Ao contrário do que muitos imaginam, não existe uma definição
para conjunto. Qualquer tentativa de se atribuir uma definição aceitável
será refutada rapidamente através de exemplos. Assim, um aviso que
damos para nossos leitores é que jamais tentem dar uma definição
para conjunto.
Costumamos dizer que um conjunto é formado por objetos, coisas,

11
12

que são seus elementos, componentes. Atentemo-nos para a ex-


istência do conjunto vazio, que é aquele que não possui elemento
algum. Assim, o conjunto vazio não satisfaz à possı́vel definição de
que um conjunto é uma coleção de elementos. (Quais são os elemen-
tos do conjunto vazio?) Costumamos designar o conjunto vazio por
∅.
Tratando de conjuntos não-vazios, geralmente designamos um con-
junto da seguinte maneira: A = {a, b, c}, onde A é o conjunto e a, b, c
são seus elementos. Também temos representações gráficas, estas
já conhecidas pelo leitor. Muitas vezes, para uma melhor visualização
de certas propriedades de conjuntos, esboçamos figuras. Mas o leitor
deve entender que a intuição geométrica é importante e faz parte do
aprendizado, mas nem sempre é a sua parte principal.
Podemos relacionar um conjunto com seus elementos através da
relação de pertinência. Dado um conjunto B qualquer, dizemos que
um elemento x pertence a B, e escrevemos x ∈ B, ou B ∋ x, se x
está em B. Caso um elemento y não esteja em B, dizemos que ele
não pertence a B e escrevemos y ∈
/ B, ou B 6∋ y.
Dados os conjuntos A e B, dizemos que A está contido em B, ou A
é um subconjunto de B, e escreveremos A ⊂ B quando todo elemento
de A for um elemento de B. Ou seja, se para todo x ∈ A tivermos
x ∈ B, então A ⊂ B.

Figura 1.1: A ⊂ B

Exemplo 1.1.1. A = {1, 2, 3, 7, 9}, B = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10}. Clara-


mente, todo elemento de A é elemento de B. Note também que nem
13

todo elemento de B é elemento de A. Quando isso acontece, escreve-


mos B 6⊂ A ou A 6⊃ B para dizermos que B não está contido em A, A
não contém B, respectivamente.

No exemplo anterior, temos A ⊂ B mas não temos A ⊃ B. Quando


isso acontece, dizemos que A é um subconjunto prório de B. Geral-
mente, encontramos em alguns livros as notações A ⊆ B, quando o
autor quer dizer que A está contido ou é igual a B. Claro que não
podemos usar esta notação para o caso de subconjuntos próprios.
Nesse caso, usamos a notação : A $ B para dizermos que A está
contido em mas não é igual a B.
Quando tivermos A ⊂ B e A ⊃ B, então dizemos que os conjuntos
A e B são iguais e escreveremos A = B. Assim, quando o leitor dese-
jar mostrar que dois conjuntos quaisquer são iguais, ele deve mostrar
que um contém o outro, isto é, que todo elemento de um é elemento
do outro e vice-versa.

Exemplo 1.1.2. C = {1, 2, 3}, B = {1, 2, 3}. Neste exemplo bem trivial,
o leitor facilmente vê que os conjuntos C e D são iguais.

Costumamos designar um conjunto pela propriedade da qual seus


elemento gozam. Isto é, designamos um conjunto da seguinte maneira:

A = {x : x goza da proriedade P } ou A = {x : P (x)},

sendo a primeira a mais encontrada nos livros atuais.

Exemplo 1.1.3. O conjunto C do exemplo anterior pode ser escrito


como C = {x ∈ N : 1 ≤ x ≤ 3}.

Exemplo 1.1.4. O conjunto E = {x ∈ Q; x2 = −3} é vazio. (Por quê?)

Dado um conjunto qualquer A, dizemos que o conjunto potência


de A, ou o conjunto das partes de A, é o conjunto formado de todos
os subconjuntos possı́veis de A. Denotamos tal conjunto por ℘(A),
onde
℘(A) = {X ; X ⊂ A}.
14

Exemplo 1.1.5. Dado o conjunto C = {1, 2, 3}, determinar o seu con-


junto potência. Solução: O conjunto potência de C é dado por
℘(C) = {∅, {1}, {2}, {3}, {1, 2}, {1, 3}, {2, 3}, C}. Note que o conjunto
vazio sempre faz parte do conjunto potência de qualquer conjunto.
Uma verificação trivial deste fato é a seguinte: Se o conjunto vazio
não faz parte do conjunto potência de algum conjunto X, então ele
não está contido neste conjunto X. Mas isso significa que existe um
elemento em ∅ que não está em X. O conjunto vazio não possui ele-
mentos.

Agora abordaremos rapidamente as operações elementares entre


conjuntos. O estudo delas certamente já foi abordado várias vezes
nos ensino fundamental e médio, assim como também no começo
do curso, em disciplinas mais elementares. Apesar de elementares,
elas são imprescindı́veis nos estudos posteriores, principalmente em
disciplinas mais avançadas que fazem uso de tais operações constan-
temente.

Definição 1.1.1 (Forma simples). Dados os conjuntos A e B, a união,


ou reunião, entre eles é dada pelo conjunto formado pelos elementos
de A e de B. A notação usada para tal conjunto é: A ∪ B.

A ∪ B = {x ; x ∈ A ou x ∈ B}.

Exemplo 1.1.6. Dados os conjuntos X = {−23, 1, 4} e Y = {21, 132, 400},


a união de X e de Y é dada por X ∪ Y = {−23, 1, 4, 21, 132, 400}. Note
que X ⊂ X ∪ Y . O que você pode afirmar para o conjunto Y ? Por
quê?

Exemplo 1.1.7. Dados os conjuntos A = {a, b, c} e B = {a, c, d}, o


conjunto união de A e B é dado por A ∪ B = {a, b, c, d}. Ou seja, não é
certo o raciocı́cio de que o número de elementos do conjunto união é
sempre igual a soma dos números de elementos dos seus conjuntos
compositores.

É claro que não trabalhamos apenas com união de dois conjuntos


ou um número finito de conjuntos. Apesar de quase sempre ser algo
15

abstrato e de difı́cil aprendizado para o calouro, daremos a definição


geral de conjunto união, isto é, a que compreende todos os exemp-
los existentes. Não se preocupe caso não entenda rapidamente tal
definção. O importante é o entendimento, e não a velocidade com a
qual você aprende o assunto. Tome seu tempo.
Um conjunto de ı́ndices é um conjunto de elementos com os quais
podemos designar elementos de outros conjuntos. Por exemplo, se
tomarmos o conjunto de ı́ndices L = {1, 2, 3} e o conjunto

A = {{a, b}, {c, f }, {x, z}},

podemos fazer a associação A = A1 ∪ A2 ∪ A3 , onde A1 = {a, b}, A2 =


{c, f }, A3 = {x, z}. De uma forma mais rebuscada, poderı́amos escr-
ever A = 3i=1 Ai , ou melhor, A = λ∈L Aλ .
S S

Definição 1.1.2. Sejam Γ um conjunto de ı́ndices e {Aλ }λ∈Γ uma


famı́lia de conjuntos. A união desta famı́lia é dada por:
[
Aλ = {x ; x ∈ Aλ , para algum λ ∈ Γ}.
λ∈Γ

Exemplo 1.1.8. Seja An = {n}, n ∈ N. O que você pode afirmar sobre


S
a união i∈N Ai ? Por quê?
Sk
Exemplo 1.1.9. No exemplo anterior, se nos fosse pedido i=1 Ai ,
com k ∈ N, terı́amos como resposta o conjunto {1, . . . , k}.

Outra operação elementar e conhecida pelo leitor é a intersecção


de conjuntos. Ela também é de natureza bem simples, assim como
tudo neste livro, e será vista rapidamente.

Definição 1.1.3 (Forma simples). Dados os conjuntos A e B, a intersecção


entre eles é o conjunto formado por todos os elementos que per-
tencem a A e a B concomitantemente. A notação usada para tal
conjunto é A ∩ B. Isto é, o conjunto intersecção é dado por:

A ∩ B = {x ; x ∈ A e x ∈ B}.
16

Figura 1.2: Interseção entre A e B

Exemplo 1.1.10. Dados os conjuntos M = {1, 3, 5} e N = {2, 3, 8},


temos que M ∩ N = {3}.

Exemplo 1.1.11. A intersecção entre ∅ e um conjunto D qualquer é


sempre vazia. Por quê?

Assim como no caso da união de conjuntos, temos a intersecção


definida para um número qualquer de conjuntos. Passemos para a
definição do caso geral.

Definição 1.1.4. Sejam Γ um conjunto de ı́ndices e {Aλ }λ∈Γ uma


famı́lia de conjuntos. A intersecção desta famı́lia é dada por:
\
Aλ = {x ; x ∈ Aλ , para todo λ ∈ Γ}.
λ∈Γ

Exemplo 1.1.12. Seja An = {n}, n ∈ N. Neste caso, a intersecção


destes conjuntos, ao contrário da sua união, é composta de um ele-
mento. Qual?

Exemplo 1.1.13. A tı́tulo de curiosidade, reflitamos sobre a intersecção


dos seguintes conjuntos: Dk = {x ∈ Q; −1/k ≤ x ≤ 1/k, k ∈ N}. O
que você pode afirmar sobre a intersecção desses conjuntos, i.e. ,
T
sobre k∈N Dk ?

Vimos que a intersecção de dois ou mais conjuntos nem sempre é


não-vazia. Quando ela é vazia, dizemos que os conjuntos em questão
são disjuntos, i.e. , não possuem elemento em comum.
17

Outra operação bastante importante é a diferença de conjuntos.


Ao contrário do que muitos imaginam, não se trata de subtrair os el-
ementos de um conjunto pelo outro. Vejamos mais detalhadamente
esta operação.

Definição 1.1.5. Dados os conjuntos A e B, a diferença entre A e B


é dada pelo conjunto formado pelos elementos pertencentes a A e
não-pertencentes a B. Denotamos tal diferença por A − B, ou A \ B.

A \ B = {x; x ∈ A e x ∈
/ B}.

Figura 1.3: A \ B

Exemplo 1.1.14. Dados os conjuntos E = {4, 5, 6} e F = {3, 4, 7},


temos que E \ F = {5, 6}, enquanto que F \ E = {3, 7}.

Exemplo 1.1.15. Z\N = {. . . , −3, −2, −1, 0}. O que você pode afirmar
de N \ Z?

Uma definição bastante usada é a de complementar, e ela está


intimamente associada à operação de diferença de conjuntos. O con-
junto complementar de A em B é dado por A\B. Uma notação usada,
mas pouco vista é CA B. Assim, CA B = A \ B, CB A = B \ A, etc.

Exemplo 1.1.16. Dados os conjutos A = {0, 1, 2} e B = {0, 3, 5},


encontre CA B, CB A, A \ A ∩ B e B \ A ∩ B. Algo interessante?
18

1.2 NÚMEROS REAIS

A idéia de número é algo que intriga várias pessoas há séculos. Ob-
jeto de muita controvérsia entre os filósofos, os números já fazem
parte da nossa vida e às vezes nós trabalhamos com eles sem mesmo
atentarmo-nos para a sua existência. Antigamente, a palavra número
era apenas associada ao que hoje nós conhecemos serem os números
naturais. Afinal, antigamente estes eram os únicos conhecidos. E até
mesmo estes tiveram sua existência bastante questionada naquela
época. Somente com a atribuição e sı́mbolos a eles é que o homem
passou a aceitar satisfatoriamente a idéia de número.

Com o passar do tempo, vários problemas surgiram, como era de


se esperar. Não apenas contar era suficiente, mas sim resolver prob-
lemas financeiros, geométricos, etc. Assim surgiram os números in-
teiros e racionais. Após isso, houve um longo tempo em que o homem
acreditou poder resolver qualquer problema existente com as ferra-
mentas de que dispunha. Na verdade, vários problemas eram facil-
mente resolvidos e isto até que animava os pensadores da época
procurarem novos problemas.

Acreditava-se na Grécia Antiga que o conjunto dos números racionais


era suficiente para a solução de quaisquer problemas na face da Terra.
A idéia de densidade se não era conhecida ainda, pelo menos já fazia
parte do pensamento corrente. Sabia-se que entre dois racionais
sempre existia outro racional, e que isso implicava que existiam in-
finitos racionais entre dois racionais. Isso levou os gregos a crerem
que se dispuséssemos dos racionais em uma reta, então todos os
pontos da reta teriam um correspondente racional. Assim, qualquer
segmento de reta poderia ser medido com ”réguas”graduadas apenas
com números racionais, segmentos lineares de comprimento unitário,
isto é, que toda medida poderia ser expressa através de números
racionais.

Os pitagóricos então descobriram que a total suficiência dos racionais


19

não era válida. E descobriram isto com um exemplo bem simples.


Basta tomarmos um triângulo retângulo isósceles de lado unitário. A

medida da hipotenusa, a saber 2, é incomensurável com a mesma
unidade de medida dos catetos. Existe uma prova bastante conhecida

de que 2 não é racional e convidamos o leitor a procurá-la em outras
obras.

Com a descoberta de que 2 é não-racional, vários outros ex-
emplos foram obtidos. Para se ter uma idéia, toda raiz quadrada de
número primo é não-racional. Como o conjunto de números primos
é infinito, i.e., existem infinitos números primos, já conseguimos que
existem infinitos números não-racionais. Podemos então considerar o
conjunto de todos os números não-racionais, e chamá-lo de conjunto
dos números irracionais, representado por I. Ao conjunto união dos
números racionais com os irracionais, damos o nome de Conjunto
dos números Reais, e o denotamos por R. Assim, R = Q ∪ I.

A associação geométrica é inevitável. Estamos sempre procu-


rando imaginar geométricamente as coisas vistas em Matemática. Com
os números reais não poderia ser diferente. É de costume associar-
mos os números reais aos ponto aos pontos de uma reta, associaçao
esta que tem um embasamento matemático que o leitor não encon-
trará aqui. Esteja livre para procurar tal embasamento em livros de
Álgebra, Análise real, etc. Assim, grosseiramente falando, uma reta
associada ao conjunto dos números reais é uma reta ”sem buracos”,
enquanto que apenas com os números racionais ou apenas com os
irracionais ela possui descontinuidades.

Um problema que surge é como se deve proceder para trabalhar-


mos com os números irracionais, já que os racionais não oferecem
obstáculos. Sabemos facilmente operar com números racionais. Por
2 1
exemplo, sabemos como calcular a soma + , por se tratar de uma
5 3
soma de números racionais. Mas como o leitor acha que devemos
√ √
somar os números 2 e 5? Ambos são números irracionais. Encon-
traremos a resposta para esse problema na próxima seção.
20

1.2.1 OS NÚMEROS REAIS E AS DECIMAIS INFINI-


TAS

Não deve ser nenhum desafio para o leitor dizer quando determi-
nado número fracionário representa uma decimal finita ou uma dı́zima
1
periódica. Por exemplo, o número representa uma decimal finita, a
4
1
saber, 0, 25. Também sabemos que o número racional representa
9
uma dı́zima periódica, a saber, 0, 111...
Sabemos que toda decimal finita e toda dı́zima periódica repre-
sentam números racionais. Não abordaremos com profundidade tal
assunto, pe dimos que o leitor procure em outras obras ou verifique
tais afirmações, como exercı́cio. Raciocinando desta maneira, alguém
poderia deduzir então que os irracionais são os números reais que não
podem ser representados por decimais finitas ou dı́zimas periódicas,
i. e., os irracionais são representados por decimais infinitas não-
periódicas. Ou seja, os números irracionais são aqueles que não con-
seguimos representar através de números decimais finitos ou através

de dı́zimas periódicas. Por exemplo, a representação de 2 com al-
gumas casas decimais é

1, 4142135623730950488016887242097...

(Consegue achar alguma periodicidade no número anterior?)


Suponha que disporemos os números reais sobre uma reta. Imag-
ine que os números inteiros estejam representados por pontos igual-
mente espaçados por uma medida padrão, a unidade, de acordo com
a figura:

Figura 1.4: Reta real

Como utilizamos o sistema decimal, por razões históricas, proced-


eremos nosso estudo de acordo com esse sistema. Mas o leitor pode
21

(e deve) raciocinar analogamente para a representação de números


reais em qualquer base. Assim, suponhamos que representaremos
um número real da forma ξ = y, x1x2 x3 x4 ... Como sabemos, o algar-
ismo y representa a parte inteira deste número. Suponhamos, por
comodidade, que y > 0. O caso y < 0 é análogo e fica como exercı́cio
para o leitor.

Como a parte inteira do nosso número é y, localizemos na reta a


sua posição e olhemos detalhadamente para o segmento da reta que
liga y a y + 1. Dividamo-lo em dez partes, i.e., dividamo-lo nas partes
1 2 9
y + , y + , . . . , y + . Faça uma figura para melhor entendimento,
10 10 10
se necessário. Agora, façamos um raciocı́nio análogo ao que fizemos
no começo. Localizaremos o ponto correspondente ao número y, x1 =
x1 x1 x1 + 1
y+ . Olhemos para o segmento que liga os pontos y+ e y+ .
10 10 10
Novamente, dividiremos tal segmento em dez partes, olharemos para
x1 x2 x1 x2 1
o segmento que liga os pontos y + + 2 ey+ + 2 + 2, o
10 10 10 10 10
dividiremos em dez partes e assim sucessivamente. (Qual a medida
deste último segmento de reta?)

Com esse raciocı́nio, após n iterações, estaremos num segmento


x1 x2 xn x1 x2
de extremidades iguais a y + + 2 + ... + n e y + + 2+
10 10 10 10 10
xn 1 x1 x2 xn
. . . + n + n . Dizemos que o número y + + 2 + . . . + n é uma
10 10 10 10 10
aproximação com n casas decimais do número real ξ.

Se iterássemos indefinidamente, terı́amos a representação da dec-


imal infinita para ξ. Com esta explicação simples, já podemos ver que
sempre podemos aproximar qualquer número real (e de preferência ir-
racional, para haver sentido) por números racionais. Em outras palavras,
x1 x2 xn
o número racional y + + 2 + . . . + n está bem próximo de ξ, e
10 10 10
podemos encontrar mais números racionais ainda mais próximos de
ξ, bastando, para isso, aumentarmos o número de iterações.

As operações com os números reais em geral (irracionais e racionais)


procedem da maneira com a qual já estamos habituados. Ou seja,
somamos dois números reais α = a, α1 α2 α3 ... e β = b, β1 β2 β3 ... da
22

seguinte forma, fazendo as altereções necessárias:

α1 + β1 α2 + β2 α3 + β3
α+β =a+b+ + + + ....
10 102 103

Claro que não é tão simples assim somarmos dois números reais.
Na prática, é muito trabalhoso somarmos dois irracionais com aproximações
razoáveis. A multiplicação entre números reais é de explicação mais
complexa para o caso de números irracionais, mas lembramos que
podemos operar igualmente ao caso de números racionais. Pense
no fato de que sempre temos racionais próximos de qualquer irra-
cional desejado. Deixamos para o leitor os exercı́cios de formular
um raciocı́nio análogo ao que fizemos para o caso de bases difer-
entes da decimal e e explicar corretamente por que podemos dizer
que os números 1, 0 e 0, 999... representam o natural 1. Pense nisso
e raciocine também em casos como 0, 23 = 0, 22999.... Não nos apro-
fundaremos mais por acharmos que esta obra é apenas introdutória.
Terminaremos este apêndice com a seguinte seção:

1.2.2 AXIOMAS DE R

Citaremos aqui alguns axiomas do conjunto dos números reais e


enunciaremos algumas de suas propriedades. Utilizamos a palavra
axioma aqui apenas pelo fato de que não explicaremos detalhada-
mente a teoria necessária para chegarmos a tais resultados.
Os axiomas são simples na sua maioria e provavelmente do con-
hecimento do leitor. Lembremos que são dadas duas operações em
R: a adição e a multiplicação. A adição faz corresponder a cada par de
números reais α, β em R a sua soma α + β. A multiplicação, faz corre-
sponder a sua multiplicação α · β. Passaremos então, a apresentá-los:
(a, b, c ∈ R)

• Axiomas da adição

– Associatividade: a + (b + c) = (a + b) + c;
23

– Comutatividade: a + b = b + a;

– Elemento neutro: existe 0 ∈ R tal que x+0 = 0+x = x, ∀x ∈


R;

– Elemento oposto ou simétrico: para todo x ∈ R existe um


y ∈ R tal que x + y = y + x = 0.

• Axiomas da multiplicação

– Associatividade: a · (b · c) = (a · b) · c;

– Comutatividade: a · b = b · a;

– Elemento neutro: existe 1 ∈ R tal que x · 1 = 1 · x = x, para


todo ∈ R e 1 6= 0;

– Elemento inverso: para todo x 6= 0 ∈ R, existe um y (também


não-nulo) tal que x · y = y · x = 1.

• Axioma da distributividade: a · (b + c) = a · b + a · c.

ORDEM EM R

Introduzindo os sinais já conhecidos < e >, utilizados da seguinte


maneira: x > y ⇔ x + (−y) > 0, podemos dizer que existe uma ordem
em R de tal forma que: (x, y, z ∈ R)

a) x < y, y < z ⇒ x < z;

b) ou x = y, ou x < y, ou x > y, para quaisquer x, y ∈ R;

c) x < y ⇒ x + z < y + z, para todo z ∈ R;

d) x < y, ⇒ x · z < y · z, para todo z > 0 ∈ R.

As propriedades acima chamam-se, respectivamente, de transi-


tiva, tricotomia, monotonicidade da adição e monotonicidade da multiplicação.
Deixamos a demonstração delas para o leitor.
24

Conhecida a ordem em R, podemos introduzir os intervalos, que


são usados com freqüência nesta obra. Dados x, y ∈ R, x < y, temos
que:

1. (x, y) = {z ∈ R; x < z < y};

2. (x, y] = {z ∈ R; x < z ≤ y};

3. [x, y) = {z ∈ R; x ≤ z < y};

4. [x, y] = {z ∈ R; x ≤ z ≤ y};

5. (−∞, +∞) = R;

6. (x, +∞) = {z ∈ R; x < z};

7. (−∞, y) = {z ∈ R; z < y};

8. [x, +∞) = {z ∈ R; x ≤ z};

9. (−∞, y] = {z ∈ R; z ≤ y}.

Exemplo 1.2.1. Dizer que x ∈ [0, 1] é o mesmo que dizer que x ∈ R e


0 ≤ x ≤ 1. (Simples, não é mesmo?)
25

1.3 Saiba mais

Segundo [1], as médias aritmética, geométrica e harmônica já eram


conhecidas pelos babilônios. Também há referências do uso de tais
médias pelos mesopotâmios há, aproximadamente, 3.500 anos a.C.

Qual tal relembrar a definição de cada uma dessas médias?

Definição 1.3.1. Dados dois números reais positivos a, b ∈ R deno-


minamos:

1. A média aritmética
a+b
A(a, b) = ,
2

2. A média geométrica

G(a, b) = ab,

3. A média harmônica

2 2ab
H(a, b) = 1 1 = ,
a
+ b
a+b

Observação 1.3.1. É fácil ver que:

• A média harmônica de dois números coincide com o inverso da


média aritmética dos inversos dos mesmos números.

• Existe uma relação de ordem entre as médias aritmética, geométrica


e harmônica. De fato, dados a, b ∈ R++ temos
√ √ √ √ a+b
0 ≤ ( a − b)2 = a + b − 2 ab ⇒ ab ≤ .
2

Analogamente,

 2
1 1 1 1 2 2ab
0≤ √ −√ = + −√ ⇒ ≤ ab
a b a b ab a+b

Portanto,

H(a, b) ≤ G(a, b) ≤ A(a, b) ∀ a, b ∈ R++ . (1.1)


26

• Além disso, após obtermos as médias harmônica e aritmética


de dois números a, b ∈ R++ , o produto de tais médias é igual ao
produto ab, isto é,

2ab a+b
H(a, b) × A(a, b) = × = ab. (1.2)
a+b 2

A relação (1.1) estabelecida na Observação 1.3.1 pode ser apli-


cada no cálculo de aproximações da raiz quadrada de um número
real positivo, como veremos no exemplo a seguir.

Exemplo 1.3.1. Para calcularmos 3 fatoramos 3 = 1 × 3 e obtemos
das desigualdades (1.1)

3 2×1×3 √ 1+3
a = 1, b = 3, = < 1×3 < = 2,
2 1+3 2
3 √
isto é, ≤ 3 ≤ 2.
2
3
Usando a relação (1.2), temos 3 = × 2 com
2
r
3 12 2 × 32 × 2 3 3
2
+2 7
a = , b = 2, = 3 < ×2< =
2 7 2
+2 2 2 4

12 √ 7
logo, ≤ 3≤ .
7 4
12 7
Repetindo mais uma vez o procedimento para 3 = × , e lem-
√ 7 4
brando que 3 ≈ 1.732050808, temos

168 √ 97
1, 731958763 ≈ ≤ 3≤ ≈ 1.732142857.
97 56

Após repetir esse processo poucas vezes verificamos que as médias



harmônicas obtidas representam aproximações por falta de 3, en-
quanto as médias aritméticas são aproximaões por excesso. Que tal
tentar com outro número?

O processo de aproximar uma raiz quadrada por médias já era


conhecido por Herão de Alexandria (100 d.C.), e é atribuı́do por al-
guns a Arquitas de Taranto (428-365 a.C.).
27

1.4 EXERCÍCIOS

1. Sejam A, B, C conjuntos. Mostre que:

a) A ⊂ A, para todo conjunto A;

b) A ⊂ B e B ⊂ C =⇒ A ⊂ C;

c) A ∪ A = A;

d) A ∪ B = A ⇔ B ⊂ A;

2. Idem para:

a) A ∩ A = A;

b) A ∩ B = A ⇔ A ⊂ B;

3. Mostre que:

a) A ∪ (B ∩ C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪ C);

b) A ∩ (B ∪ C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩ C).

4. Os conjuntos A e B estão contidos num conjunto fundamental


X. Ao invés de usarmos as expressões CX A, CX B, usaremos
uma notação conhecida, Ac e B c , respectivamente. Ou seja,
Ac = X \ A, B c = X \ B. Assim, mostre que:

a) (Ac )c = A, para todo conjunto A;

b) A ⊂ B ⇔ B c ⊂ Ac ;

c) (A ∪ B)c = Ac ∩ B c .

Sabendo disso, facilmente vemos que (A ∩ B)c = Ac ∪ B c . Pro-


cedamos assim: fazendo E = Ac , F = B c , sabemos que (E ∪
F )c = E c ∩ F c , ou seja, (Ac ∪ B c )c = (Ac )c ∩ (B c )c . Logo,
(Ac ∪ B c )c = (A) ∩ (B) e então (A ∩ B)c = Ac ∪ B c .

5. Mostre que os seguintes números são irracionais:



a) 5;
28
√ √
3
b) 3+ 3;

c) 7.

6. Verifique as desigualdades:
1
a) x + ≤ 2, x < 0;
x
b) x2 + xy + y 2 ≥ 0. Sugestão: Verifique que, para todos x, y ∈
R∗ , temos que x < y ⇒ x3 < y 3 e analise o quociente
x3 − y 3
. O caso x = y é trivial, como também o caso de
x−y
termos variáveis nulas.

7. Desigualdade de Schwarz. Verifique a seguinte desigualdade:

(x1 y1 + . . . + xn yn ) ≤ (x21 + . . . + x2n )(y12 + . . . + yn2 ),

(x1 , . . . , xn , y1 , . . . , yn ∈ R). Sugestão: Analise a expressão (x1 z+


y1 )2 + (x2 z + y2 )2 + . . . + (xn z + yn )2 + e aplique o que você sabe
sobre equações do segundo grau.

8. Usando as desigualdades de médias, obtenha uma aproximação



de 5 com três casas decimais.
Referências Bibliográficas

[1] BOYER, C. B., História da Matemática, Editora Edgard Blucher,


1974.

[2] GUIDORIZZI, H.L. Um curso de Cálculo, vols. 1, 2. Livros


Técnicos e Cientı́ficos. 2001.

[3] LANG, S. Cálculo, vol. 1, Ed. Livros Técnicos e Cientı́ficos, 1977.

[4] LIMA, E. L. Curso de Análise, vol. 1, 8a. Edição, Instituto de


Matemática Pura e Aplicada, CNPq, Rio de Janeiro, 2004.

[5] FIGUEIREDO, D. G. Análise I, 2a edição, Ed. Livros Técnicos e


Cientı́ficos, 1996.

[6] http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/superior/.
Acesso em 26/06/2008 às 09h40min.

[7] CARNEIRO, J. P. Q. Raiz quadrada utilizando médias. Revista do


Professor de Matemática. São Paulo: SBM, No. 45, pp. 21-28,
2001.

29
U ni da
Unidade 2de 1
AA soc
sociolo
iologia
gia ee a
a
Funções
Soc
Soc iologia
iolo e Gráficos
gia da
da Educaç
Edu cação
ão

Resumo
Nesta unidade, introduzimos o estudo de funções,
mostrando a importância deste conceito, os exemplos
mais importantes, conhecendo suas características e
suas particularidades. Apresentamos as operações de
adição, multiplicação e divisão de funções, com as suas
principais propriedades.
Indicamos alguns livros mais avançados e links para o
aprofundamento de conteúdo.
SUMÁRIO DA UNIDADE

UNIDADE 2. Funções e Gráficos


2.1 Introdução 32
2.2 Conceito de função 33
2.3 Algumas funções importantes 41
2.4 Operações com funções 54
2.5 Saiba mais 57
2.6 Exercícios 59
Referências Bibliográficas 63
2. FUNÇÕES E GRÁFICOS

2.1 INTRODUÇÃO

Em todas as áreas da ciência, temos diversos problemas que ne-


cessitam de uma ferramenta cujo conceito apresentaremos neste capı́tulo.
Procuraremos dar uma explicação bem simples e sucinta para que
o leitor realmente entenda o seu conceito e esqueça certos erros
adquiridos no seu Ensino Médio.
As funções estão presentes no nosso cotidiano, embora não perce-
bamos. Vários problemas rotineiros são solucionados através do es-
tudo de funções que simulam aproximadamente ou perfeitamente os
fenômenos que ocorrem na nossa vida. Vejamos dois problemas já
conhecidos do Ensino Médio.

Problema 2.1.1. Deseja-se saber a variação máxima entre os taman-


hos alcançados por uma barra de latão de 50m de comprimento a
10◦ C. Suponha que a temperatura mı́nima alcançada seja de 10◦ C
e a máxima de 42◦ C. O coeficiente de dilatação linear do latão é
ξ = 1, 9 · 10−5◦ C −1 .

Problema 2.1.2. Uma partı́cula P movimenta-se segundo um movi-


mento uniformemente variado com aceleração igual a 2m/s2 e veloci-
dade inicial igual a 10m/s. Sabendo-se que ela parte da origem do
sistema cartesiano de coordenadas, diga qual a sua posição após
56s.

32
33

2.2 CONCEITO DE FUNÇÃO

Após termos uma pequena e motivadora introdução, vejamos a


definição de função mais usual. Chamamos usual porque é, a nosso
ver, a de mais fácil entendimento.

Definição 2.2.1. Dados dois conjuntos A e B, uma função f : A −→ B


é uma relação que faz corresponder cada elemento de A a um único
elemento de B.

Figura 2.1: Função f : A → B

Na definição acima, o conjunto A é o domı́nio de f e B o seu con-


tradomı́nio. O conjunto contido em B determinado pelos elementos
associados por f aos de A chama-se conjunto imagem de f sobre A.
O estudo de
Note que não exigimos que A, B sejam não-vazios. O caso elementar
funções e de outros
de A = ∅ será citado mais à frente e não deve ser tratado como o
conteúdos do en-
mais importante. Está bem claro na definição 1.2.1. que não pode-
sino médio pode ser
mos ter um elemento de A relacionado com dois ou mais elementos
incrementado no
de B. Quando dizemos que a função relaciona cada elemento de A
sı́tio somatematica.
com um único de B, queremos dizer que a função deve estar definida
para todo elemento de A, o mesmo não precisa acontecer para o caso
de B.
A notação mais utilizada para nos referirmos à função f associada
a um elemento a ∈ A é f (a). Gostarı́amos que ficasse bem claro para
o leitor o fato de que não está correto falarmos a função f (x). O termo
f (x) nos diz apenas que é o valor assumido por f no ponto x. Quer
34

dizer, f (x) não é uma relação, e sim um valor, uma imagem. Alguns
autores o fazem por comodidade, mas de maneira incorreta.

Exemplo 2.2.1. Dados os conjuntos N, A = {1, 2, 3, 4} e a função


f : A → N com lei de formação f (n) = n2 , determine seus conjun-
tos imagem, domı́nio, contradomı́nio.
Solução: É um exemplo bem trivial. Como o leitor pode ver facil-
mente, as imagens obtidas ao associarmos f aos elementos de A
são: f (1) = 1, f (2) = 4, f (3) = 9, f (4) = 16. Assim, o domı́nio é A, o
contradomı́nio é N e o conjunto imagem é Im(f ) = {1, 4, 9, 16}. (Note
que o contradomı́nio de f é diferente do seu conjunto imagem.)

 1, se x ∈ Q
Exemplo 2.2.2. Seja f : R → R dada por: f (x) = .
 0, se x ∈ R \ Q
Vemos facilmente que f é realmente uma função: cada elemento está
associado somente a uma imagem. (Por quê?) A relação é bem sim-
ples. Notemos também que o domı́nio de f é R, como também seu
contradomı́nio, mas o seu conjunto imagem é apenas o conjuto {0, 1}.

Exemplo 2.2.3. Função caracterı́stica. Dado um conjunto qualquer E


em um conjunto fundamental X, temos associada a eles uma simples
função, bastante utilizada em Medida, a função caracterı́stica. Ela é
dada por:

 1, se x ∈ E
χ : E ⊂ X → {0, 1}, χE (x) =
 0, se x ∈ X \ E

Definição 2.2.2. Dada uma função f : A → B, o seu gráfico é o


conjunto Gf ⊂ A × B dado por : Gf = {(x, f (x)) : x ∈ A}.

Abordaremos o tópico de gráficos mais adiante. Continuemos com


o estudo introdutório das funções. Vimos, nos exemplos anteriores,
que nem sempre o contradomı́nio da função é igual ao seu conjunto
imagem. Vimos também que nem sempre as imagens de elementos
distintos são distintas. Com isso, acabamos com alguns mitos adquiri-
dos no Ensino Médio. Ainda neste sentido, falaremos dos tipos de
funções quanto à injeção:
35

Figura 2.2: Gráfico de f

Definição 2.2.3. Uma função f : A → B é injetiva quando as imagens


de elementos distintos de A por f forem distintas. Ou seja, x, y ∈
A, x 6= y ⇒ f (x) 6= f (y). De outra maneira, f é injetiva se f (x) =
f (y) ⇒ x = y, para quaisquer x, y em A.

Exemplo 2.2.4. A função identidade IA : A → A, IA (x) = x é um


exemplo trivial de função injetiva. (Verifique!) A função identidade IA :
A → A, IA (x) = x é um exemplo trivial de função injetiva. (Verifique!)

Exemplo 2.2.5. A função g : R → R dada por g(x) = x + k, k ∈ R é


também injetiva. Basta notarmos que g(x) = g(y) ⇒ x + k = y + k ⇒
x = y.

Exemplo 2.2.6. A função Q : R → R dada por Q(x) = x2 não é injetiva.


Note que Q(−1) = Q(1).

Definição 2.2.4. Uma função f : A → B é sobrejetiva quando o seu


conjunto imagem for igual ao seu contradomı́nio, isto é, quando todo
elemento do contradomı́nio for elemento da imagem e vice-versa.

Exemplo 2.2.7. A função caracterı́stica descrita acima é sobrejetiva?


(Por quê?)

Exemplo 2.2.8. A função identidade também descrita acima é sobre-


jetiva. (Por quê?)

Exemplo 2.2.9. A função h : N → N dada por f (n) = n2 é não-


sobrejetiva. (Existe natural m tal que m2 = 2? E m2 = 3?)

Como o leitor esperto pode ter deduzido.


36

Definição 2.2.5. Uma função é dita bijetiva quando é injetiva e sobre-


jetiva.

Exemplo 2.2.10. A função identidade é um exemplo simples de função


bijetiva. (Por quê?)

Exemplo 2.2.11. A função g : R → R dada por g(x) = x + k, k ∈ R é


bijetiva. (Verifique!)

Exemplo 2.2.12. A função caracterı́stica não é bijetiva.

Daremos agora algumas notações bastante utilizadas no estudo


de funções.
Dada uma função f : A → B, seu domı́nio é denotado por Dom(f ) =
A, ou Df = A. O seu conjunto imagem é denotado por Im(f ) = f (A)
ou If = f (A).

Exemplo 2.2.13. f (∅) = ∅. É um exemplo bastante trivial, que deve


ser entendido pelo leitor. (Poderı́amos ter f (∅) 6= ∅?)

Exemplo 2.2.14. A função F é tal que F : [0, 1] → [2, 3], F (x) = x + 2.


Aqui, temos que Dom(F ) = [0, 1], Im(F ) = [2, 3]. Notemos que o
contradomı́nio é igual ao conjunto imagem. Essa função é injetiva? E
sobrejetiva?

Em muitos casos, não se está interessado em trabalhar com um


conjunto domı́nio muito grande, mas, apenas com subconjunto deste,
nesse caso usamos as restrições de conjunto. Por exemplo, se temos
uma função f : R → R e queremos estudar seu comportamento ape-
nas num conjunto A ⊂ R, podemos restringir f a este conjunto. A
notação mais utilizada é f |A : A → R.

Exemplo 2.2.15. Dada a função H : {1, 2, 3, 4, 5} → N, f (n) = n + 1,


temos que Im(H |{1,2,4} ) = {2, 3, 5}.

Exemplo 2.2.16. A função Q : R → R dada por Q(x) = x2 , não é


injetiva. O que você pode dizer sobre Q |R+ , onde R+ é o conjunto dos
números reais não-negativos? Ela é sobrejetiva?
37

y 24
22

20

18

16

14

12

10

-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5
x

Figura 2.3: Gráfico de Q

Observação: O leitor deve observar que as retas representadas


por x e y estão em escalas diferentes.

Existe também a idéia de imagem inversa associada a uma função


e conjunto. Vejamos mais detalhadamente tal conceito. Ao contrário
do que muitos pensam, a imagem inversa não é necessariamente a
função inversa. Lembre-se que no inı́cio do texto observamos que não
é certo falar em função f (x), mas sim função f e valor f (x), da função
f no ponto x. Aqui também teremos um raciocı́nio parecido. A menos
que a função seja bijetiva, ela não possui uma inversa bem definida.
Dada uma função f : A → B, a imagem inversa de X ⊂ B por
f é o conjunto dos pontos x em A tais que f (x) ∈ X. Ou seja,
f −1 (X ⊂ B) = {x ∈ A; f (x) ∈ X}.

Exemplo 2.2.17. Seja a função Q dada anteriormente e o conjunto


√ √
X = [1, 3]. Temos que Q−1 (X) = [− 3, −1] ∪ [1, 3]. (Concorda?)

Exemplo 2.2.18. Seja a função g : R × R → R, g(x, y) = (x − 1)2 +


(y + 1)2 − 9. Descreva o conjunto g −1 (0). Solução: O conjunto g −1 (0)
é nada mais nada menos do que a circunferência em R × R centrada
em (1, −1) e de raio igual a 3. (Concorda?)

Exemplo 2.2.19. Analogamente ao exemplo anterior, descreva o con-


junto φ−1 (0), onde φ : R × R × R → R, φ(x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 − 4.
Solução: O problema é análogo ao anterior, com exceção da quanti-
dade de dimensões. O conjunto φ−1 (0) é na verdade a esfera contida
em R × R × R centrada em (0, 0, 0) e de raio 2.
38

5
y
4

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
-1 x
-2

-3

-4

-5

Figura 2.4: Circunferência centrada em (1, −1) e de raio igual a 3

2
-4
-4
-2
-2
z 0
0 0
2
y 2-2 x 4
4
-4

Figura 2.5: Esfera centrada em (0, 0, 0) e de raio igual a 2

Os exemplos acima serviram apenas para reforçar a idéia de que


nem sempre estamos falando de função inversa ao tratarmos de im-
agem inversa. O conceito de função inversa será apresentado a seguir,
após a introdução do conceito de função composta:

Definição 2.2.6. Seja f : A → B uma função definida em A e de


contradomı́nio B. Seja g : C ⊂ B → D tal que C ⊃ Im(f ). A composta
g ◦ f : A → D é dada por (g ◦ f )(x) = g(f (x)).

Façamos uma comparação grosseira de função composta com um


exemplo grotesco. Imagine que existam duas torneiras, t1 e t2 , tais
que t1 joga água de um ponto P1 para um tanque T1 e t2 joga água do
tanque T1 para um tanque T2 . Agora, a composta será uma torneira t3
39

Figura 2.6: Função composta

que joga água diretamente de um ponto P1 para o tanque T2 .

Exemplo 2.2.20. Sejam as funções f : {1, 2, 3} → {1, 4, 9}, f (n) = n2 ,


e g : {1, 4, 9} → {2, 3, 4}, g(m) = m + 1. Caracterize a composta
g ◦ f . Solução: Olhando atentamente para as definições de f e de g,
concluı́mos que podemos sim falar em composta g ◦ f . (E em f ◦ g?
Por quê?) Assim, a composta g ◦ f é dada por: (g ◦ f )(n) = g(f (n)) =
g(n2 ) = n2 + 1.

Exemplo 2.2.21. Seja ξ : R → R, ξ(x) = x2 − 1. Agora considere a


x
função η : R → R, η(x) = + 5. Existem as compostas η ◦ ξ e ξ ◦ η?
2
Solução: Trata-se de um exemplo simples e deixamos como exercı́cio
para o leitor.

Exemplo 2.2.22. Analise a possibilidade de existir a composta entre


as funções f : R+ −→ R+ , f (x) = x + 4 e g : R \ {2} → R, g(x) =
2
.
2−x
Definição 2.2.7. Dada uma função f : A → B, uma inversa à es-
querda para f é uma função g : B → A tal que g◦f : A → A, g(f (x)) =
x, ∀x ∈ A. Uma inversa à direita para f é uma função h : B → A tal
que f ◦ h : B → B, f (h(x)) = x, ∀x ∈ B. Quando f possuir inversa à
direita e à esquerda, dizemos que ela é invertı́vel e a sua inversa (que
é inversa à direita e à esquerda) é representada por f −1 , f −1 : B → A.

Deve fica claro para o leitor que nem sempre uma função admite
inversa, seja à direita ou à esquerda. Os detalhes necessários para
uma explicação suficiente serão omitidos aqui. Também uma função
pode possuir inversa à esquerda e não possuir inversa à direita, e
40

vice-versa. Como já foi dito, uma função é invertı́vel quando possui
inversas à esquerda e à direita. Quando estas existem simultanea-
mente, elas são iguais e recebem o nome de inversa da função em
questão. Uma função só é invertı́vel se ela for bijetiva.

Exemplo 2.2.23. Seja a função Q já referenciada, sabemos que não


é nem injetiva nem sobrejetiva, donde não é bijetiva. (Por quê?) Mas
a restrição Q |R++ : R++ → R++ o é. (Lembre-se : R++ = {x ∈ R; x >
0}.) Assim, existe uma inversa para Q̃ = Q |R++ , a saber, S : R++ →

R++ , S(x) = x. Como estamos trabalhando no conjunto dos reais
estritamente posistivos, não há problema com algumas manipulações
algébricas que faremos a seguir. Vejamos o que acontece com a com-
√ √
posta Q̃◦S : R++ → R++ : (Q̃◦S)(x) = Q̃(S(x)) = Q̃( x) = ( x)2 = x.
Analise a composta S ◦ Q̃ : R++ → R++ .

y
2.0

1.5

1.0

0.5

0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5


x

Figura 2.7: Gráfico de S

Exemplo 2.2.24. Seja a função f dada por f : R\{0} → R\{0}, f (x) =


1
. Tal função é bijetiva. (Verifique!) Assim, podemos encontrar a sua
x
inversa. Agora, note que uma função g candidata a ser a sua inversa
deve satisfazer g(f (x)) = x, ∀x ∈ R \ {0}. Assim, devemos ter g tal que
g(1/x) = x. Ora, mas essa é a própria f que enunciamos. Assim, a
1
inversa de f é ela mesma nesse caso, i.e., f (f (x)) = f (1/x) = 1 = x.
x
41

4
y

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-1

-2

-3

-4

1
Figura 2.8: Gráfico de f (x) =
x

Pode parecer estranho à primeira vista, mas as funções possuem


uma classificação quanto à paridade. Só que diferentemente dos
números naturais, nem todas as funções que podem ser entituladas
como “par” ou “ı́mpar”. Dizemos que uma função f qualquer é par
quando f (x) = f (−x), ∀x ∈ Dom(f ). Ou seja, as imagens de elemen-
tos opostos são iguais. Dizemos que uma função g é ı́mpar quando
g(x) = −g(−x), ∀x ∈ Dom(g). Isto é, as imagens de elementos opos-
tos são opostas. A função Q é par e a identidade é ı́mpar.

2.3 ALGUMAS FUNÇÕES IMPORTANTES

Após vermos várias caracterı́sticas gerais das funções, veremos


agora algumas caracterı́sticas particulares de algumas delas. É necessário
o estudo de tais caracterı́sticas, pois as funções apresentadas aqui
são freqüentes nos estudos posteriores e na nossa vida mesmo. Procu-
raremos não nos delongarmos nessa seção, apesar dela ser de suma
importância. Seria talvez um escopo inalcançável estudar as carac-
terı́sticas particulares de todos os tipos de funções existentes e con-
hecidas. Na verdade, estudamos apenas as que nos convêm e que
são necessárias para a perfeita conclusão dos nossos estudos. Não
faz sentido um Matemático (ou Quı́mico, Fı́sico, Engenheiro, etc) es-
tudar bem séries de Fourier se ele não utilizar em algum lugar este
42

estudo. No estágio atual da Ciência, não podemos mais tentar apren-


der tudo, mas sim aprender bem determinado assunto.
Começaremos com o estudo das funções polinomiais elementares.
Faremos um estudo rápido sobre as funções polinomiais de 1o e 2o
grau. Não explicaremos aqui o porquê do gráfico de uma função poli-
nomial do segundo grau ser uma parábola e coisas do tipo. Deixamos
esta parte para um estudo independente. O importante é mesmo co-
nhecer as propriedades da função e o comportamento do gráfico.
Função polinomial do primeiro grau. Uma função polinomial do
primeiro grau caracteriza-se principalmente por ter a estrutura de um
polinômio de grau 1, i.e., a função tem a cara f : A ⊂ R → B ⊂
R, f (x) = ax + b. O gráfico de tal função é uma reta, que corta o eixo
das ordenadas no ponto (0, b) e possui inclinação α tal que tg (α) = a.
Vejamos a figura abaixo: Os casos particulares em que a = 0 e b = 0

Figura 2.9: Gráfico de função polinomial de 1o Grau

são bem simples, pois quando a = 0, a tangente de α é nula e então


a inclinação é nula também, ou seja, temos uma reta paralela ao eixo
das abscissas, cuja distância a ele é dada por b. Este é o caso das
funções constantes.
Já para o caso em que b = 0, a reta corta o eixo das ordenadas
no ponto (0, 0), ou seja, temos uma reta que passa pela origem, com
inclinação conhecida. No Problema 2.1.1 dado no inı́cio do capı́tulo
temos uma função polinomial do primeiro grau. A equação de dilatação
linear é dada por L = L0 + ξL0 ∆θ, onde L é o comprimento final
da barra após a variação de temperatura, L0 é o comprimento inicial
43

Figura 2.10: Caso em que b = 0

da barra, ξ é o coeficiente de dilatação linear da barra (de acordo


com o material da qual ela é feita) e ∆θ = θ − θ0 é a variação de
temperatura. Uma análise rápida nos diz que temos o comprimento
em função da temperatura. Assim, podemos considerar a equação
L(θ) = L0 + ξL0 ∆θ. Compare com f (x) = ax + b. Substituindo os
dados do problema, obtemos que a variação máxima no tamanho da
barra foi de 0, 0304m.
Função polinomial do segundo grau. Uma função deste tipo
caracteriza-se por ter estrutura do tipo g : A ⊂ R → B ⊂ R, g(x) =
ax2 +bx+c; a, b, c ∈ R, a 6= 0. O gráfico de uma função deste tipo é uma
parábola, que tem o comportamento ditado pelos parâmetros a, b, c. O
leitor deve já estar bem familiarizado com o estudo do gráfico de tais
funções. Através de um raciocı́nio rápido, vê-se que o gráfico de g

Figura 2.11: Gráfico de uma função quadrática

toca o eixo das ordenadas no ponto (0, c). A concavidade da parábola


é determinada pelo parâmetro a. Se a < 0, então a concavidade é
voltada para baixo. Vejamos a figura:
44

Figura 2.12: Caso em que a < 0

Caso tenhamos a > 0, a concavidade da parábola ficará voltada


para cima.
Analisando o discriminante ∆ = b2 − 4ac, temos que:

• ∆ > 0. A parábola corta o eixo das abscissas em dois pontos


distintos. Neste caso, afirmamos que a função g possui duas
raı́zes. Vejamos as figuras:

Figura 2.13: ∆ > 0 e a > 0

Figura 2.14: ∆ > 0 e a < 0

• ∆ = 0. A parábola toca, tangencia, o eixo das abscissas em um


45

único ponto. Neste caso, dizemos que g possui uma única raiz
real. Vejamos as figuras:

Figura 2.15: ∆ = 0 e a > 0

Figura 2.16: ∆ = 0 e a < 0

• ∆ < 0. A parábola não corta o eixo das abscissas. Assim, a


função g não possui raı́zes reais. Vejamos as figuras:

Figura 2.17: ∆ < 0 e a > 0


46

Figura 2.18: ∆ < 0 e a > 0

No Problema 2.1.2 dado no inı́cio deste capı́tulo, temos um prob-


lema que pode ser resolvido apenas com conhecimentos de função
polinomial de segundo grau. A tı́tulo de revisão, a equação posicional
de uma partı́cula em movimento uniformemente variado é dada por
at2
S = S0 + v0 t + , onde S é a posição da partı́cula em determinado
2
instante, S0 é a posição inicial de tal partı́cula, v0 a sua velocidade
inicial, t o tempo e a a sua aceleração. Novamente, um raciocı́nio
rápido nos faz deduzir que temos uma função polinomial do segundo
at2
grau, e que S está em função de t: S(t) = S0 + v0 t + . Com-
2
pare com g(x) = ax2 + bx + c. Substituindo os valores, obtemos que
S(56) = 3696, ou seja, ela se encontra no ponto (56, 3696) do plano
cartesiano de coordenadas. Trace o gráfico da trajetória da partı́cula.
Função polinomial de grau qualquer. Uma função do tipo h :
R → R, h(x) = a0 + a1 x + . . . + an xn , com algum dos ak ’s não-nulo,
é uma função polinomial de grau arbitrário. O estudo de seu gráfico
não é tão simples e veremos isso mais detalhadamente nos capı́tulos
posteriores.
Funções modulares. Dada uma função qualquer f : A ⊂ R →
B ⊂ R, uma função modular pode ser obtida de f através de:
 f (x), se f (x) ≥ 0
g =| · |: D ⊂ R → E ⊂ R, g(f (x)) =| f (x) |= .
 −f (x), se f (x) < 0
Aqui, D ⊃ Im(f ).

Exemplo 2.3.1. Seja f : R → R, f (x) =| x |. O seu gráfico é dado


por:
47

5
y

-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5
x

Figura 2.19: Gráfico da função f (x) =| x |

Poderı́amos escrever
 a lei de formação da nossa função da seguinte
 x, se x ≥ 0
maneira: f (x) = . Para a construção do seu gráfico,
 −x, se x < 0
então, basta construir os gráficos das funções
f˜ : R−− → R, f˜(x) = −x e f¯ : R+ → R, f¯(x) = x.

Exemplo 2.3.2. Construa o gráfico da função h, dada por


h : R → R, h(x) =| x2 − 5x + 6 | .
Solução: Após uma análise rápida do comportamento de x2 − 5x +
6, concluı́mos que ela possui duas raı́zes reais distintas, 2 e 3. A
concavidade da parábola é voltada para cima. Entre as suas raı́zes,
a parábola assume valores negativos. Assim, como estamos trabal-
hando com uma função modular, teremos:

y
4

0
0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2 2.4 2.6 2.8 3.0 3.2 3.4 3.6 3.8 4.0 4.2 4.4 4.6
x

Figura 2.20: Gráfico de h


48

Função racional. Dadas duas funções polinomiais f e g, temos a


f (x)
função racional h tal que h(x) = , onde o domı́nio de h é conjunto
g(x)
dos números reais que não anulam a função g. Este tipo de função
ocorre com bastante freqüência em alguns problemas rotineiros. O
leitor deve reter bastante atenção neste tipo de função, já que ele será
abordado no capı́tulo de integrais. Por enquanto, fiquemos com alguns
exemplo:
y 3

-3 -2 -1 1 2 3 4 5 6
x

-1

-2

1
Figura 2.21: Gráfico de h(x) =
2−x

y 10

-10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
x

-2

-4

-6

-8

3+x
Figura 2.22: Gráfico de h(x) =
x−5
49

50
y
40

30

20

10

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-10

-20

-30

-40

12 + x
Figura 2.23: Gráfico de h(x) =
x+1

y
10

-4 -2 2 4 6 8 10
x
-2

-4

-6

-8

-10

−1 − x
Figura 2.24: Gráfico de h(x) =
4−x

Funções exponencial e logarı́tmica. Tais funções não serão


abordadas aqui da maneira que achamos ser mais correta. Ao invés
disso, definiremos tais funções de uma maneira que achamos ser mel-
hor pra o entendimento.
A função exponencial, como o nome já diz, é uma função do tipo
f : R → R++ , f (x) = ax . Aqui, a ∈ (0, +∞) \ {1}. As propriedades op-
eratórias já devem ser conhecidas do leitor, e passaremos a enunciá-
las:

• f (x1 + x2 ) = ax1 +x2 = ax1 ax2 = f (x1 )f (x2 )

• [f (x1 )]x2 = (ax1 )x2 = ax1 x2 = f (x1 x2 )

• ax1 ax2 = (a1 a2 )x


50

Existem mais propriedades, mas achamos estas as mais “essenci-


ais” no momento. Vejamos os gráficos de duas funções exponenciais,
abordando duas situações diferentes para o nosso a:
y 3.0
2.8

2.6

2.4

2.2

2.0

1.8

1.6

1.4

1.2

1.0

0.8

0.6

0.4

-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8
x

Figura 2.25: Gráfico de f (x) = ax , 0 < a < 1

y
10

-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5
x

Figura 2.26: Gráfico de f (x) = ax , 1 < a

Podemos ter infinitos valores para o a, mas um outro desempenha


um papel muito importante em Matemática, o número e. O seu valor
aproximado é e ∼
= 2, 7183. Vejamos o gráfico da exponencial f (x) = ex :
51

Figura 2.27: Gráfico de f (x) = ex

Note que tais funções têm um comportamento bastante interes-


sante. Afirmamos que dado qualquer real b > 0 existe um único xb ∈ R
tal que axb = b, onde esse a é o mesmo dado anteriormente. Assim,
podemos considerar a inversa da função exponencial, denominada de
logaritmo, dada por: g : R++ → R, g(x) = loga x. Deixamos a cargo
do leitor a dedução das propriedade da função logarı́tmica. No caso
em que a = e, temos o logaritmo natural, e o denotaremos por ln.
y
1

0
0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2 2.4 2.6 2.8 3.0 3.2 3.4 3.6 3.8 4.0 4.2 4.4 4.6 4.8 5.0
x
-1

-2

-3

-4

-5

-6

-7

-8

-9

Figura 2.28: Gráfico de f (x) = ln x


52

Funções trigonométricas. As funções trigonométricas são estu-


dadas em vários ramos da Matemática, da Fı́sica, Engenharia, etc. Al-
gumas teorias Matemáticas baseiam-se no estudo de funções trigonométricas,
muitos problemas importantes são solucionados através de combinações
de funções trigonométricas, que têm seu comportamento estudado e
já renderam vários artigos cientı́ficos. A área de Equações Diferen-
ciais faz um uso excessivo de funções trigonométricas para o per-
feito estudo e solução de seus problemas. Para se ter uma idéia,
alguns (para não se dizer muitos) problemas de equações diferenciais
têm soluções satisfatórias apenas com o uso de séries deste tipo de
funções.
Aqui também seremos breves. As funções seno e cosseno devem
ser bem conhecidas pelo leitor, e passaremos a enunciar algumas
caracterı́sticas das mesmas.

 
 sen : R → R  cos : R → R
seno cosseno
 x 7→ sen x,  x 7→ cos x

a) sen 0 = 0, cos 0 = 1;



 sen (a + b) = sen a cos b + sen b cos a


 cos (a + b) = cos a cos b − sen a sen b

b) ∀a, b ∈ R : ;


 sen (a − b) = sen a cos b − sen b cos a


 cos (a − b) = cos a cos b + sen a sen b

c) ∀x ∈ R : cos2 x + sen2 x = 1;

d) A função seno é ı́mpar e a cosseno é par;

A partir das funções seno e cosseno, obtemos as demais, já que O leitor poderá
sen x 1 1 1 acessar, no sı́tio
tg x = , sec x = , cossec x = , cotg x = .
cos x cos x sen x tg x IMPA, perı́odo julho
de 2004 e janeiro
Fica como exercı́cio para o leitor a caracterização de tais funções. de 2005, vı́deos
Para completar, vejamos os gráficos dessas funções: sobre o ensino de
funções.
53

1.0
y
0.8

0.6

0.4

0.2

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-0.2

-0.4

-0.6

-0.8

-1.0

Figura 2.29: Gráfico da função seno

1.0
y
0.8

0.6

0.4

0.2

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-0.2

-0.4

-0.6

-0.8

-1.0

Figura 2.30: Gráfico da função cosseno

y
2.0

1.5

1.0

0.5

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-0.5

-1.0

-1.5

-2.0

Figura 2.31: Gráfico da função tangente

y
2.5

2.0

1.5

1.0

0.5

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-0.5

-1.0

-1.5

-2.0

-2.5

Figura 2.32: Gráfico da função secante

Nesta unidade, deixamos de ressaltar algumas funções importantes.


A apresentação delas ocorrerá em capı́tulos posteriores.
54

y 2.5

2.0

1.5

1.0

0.5

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-0.5

-1.0

-1.5

-2.0

-2.5

Figura 2.33: Gráfico da função cossecante

y 2.0

1.5

1.0

0.5

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-0.5

-1.0

-1.5

-2.0

Figura 2.34: Gráfico da função cotangente

2.4 OPERAÇÕES COM FUNÇÕES

Para o encerramento deste capı́tulo, apenas definiremos algumas operações


com funções. Na maioria das vezes, encontramos em problemas não
somente uma simples função, mas sim somas de funções, combinações
de funções, etc. Mas o mais importante é sabermos analisar e com-
preender cada função em si.

• Adição de funções

Primeiramente, para operarmos duas ou mais funções, é necessário


que os seus domı́nios sejam iguais ou possuam intersecção não
vazia. Neste caso, definimos a função resultante na interseção
dada. Cremos não ser importante operar duas funções definidas
em conjuntos disjuntos.
55

Desta maneira, dadas duas funções F e G tais que

Dom(F ) ∩ Dom(G) 6= ∅,

definimos a sua soma assim:

(F + G) : Dom(F ) ∩ Dom(G) → X, (F + G)(x) = F (x) + G(x),

onde X é o contradomı́nio a ser analisado e dado.

Exemplo 2.4.1. Sejam Q̃ e f : R++ → R, f (x) = −x2 + x. Como


os seus domı́nios são iguais, podemos somá-las. A soma será
dada por (Q̃ + f ) : R++ → R, tal que (Q̃ + f )(x) = x.

• Multiplicação por escalar

É talvez a mais simples das operações com funções. Seja F :


A → B uma função. Dado o escalar (número real) α, o produto
αF é definido por αF : A → B, (αF )(x) = α · F (x).

Exemplo 2.4.2. A função G : R → R, G(x) = 2x2 pode ser vista


como G = 2Q. (Concorda?)

• Multiplicação de funções

Sejam as funções F e G tais que Dom(F ) ∩ Dom(G) 6= ∅. Defin-


imos a sua multiplicação F · G por: F · G : Dom(F ) ∩ Dom(G) →
X, (F · G)(x) = F (x)G(x), onde X é um contradomı́nio a ser
obtido e analisado.

Exemplo 2.4.3. A função cos2 : R → R é o produto da função


cosseno por ela mesma. (Nunca confunda cos2 x com cos x2 !)
56

y
0.9

0.8

0.7

0.6

0.5

0.4

0.3

0.2

0.1

-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5
x

Figura 2.35: Gráfico de cos2 x

1.0
y
0.8

0.6

0.4

0.2

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-0.2

-0.4

-0.6

-0.8

-1.0

Figura 2.36: Gráfico de cos x2

• Divisão de funções

É um caso particular do anterior. Aqui também devemos nos pre-


ocupar com o domı́nio da função resultante da divisão. Suponha
que queiramos dividir as funções F e G. O domı́nio dessa di-
visão deve ser, então, dado por: {x ∈ Dom(F )∩Dom(G); G(x) 6=
0}, já que não é possı́vel a divisão por zero.
1
Exemplo 2.4.4. A função h : R \ {0} → R \ {0}, h(x) = pode
x
ser vista como a divisão da função constante C : R → R, C(x) =
1 pela função u : R → R, u(x) = x. (Concorda?)
57

2.5 SAIBA MAIS

A construção do gráfico de uma função nem sempre é uma tarefa


simples. Para algumas funções, onde conhecemos a curva a ser
traçada (reta, parábola, etc) só precisamos marcar alguns pontos no
plano cartesiano e usando a rigidez da curva, traçamos o gráfico.
Porém, quando a curva não está catalogada no texto didático (é o
que acontece na maioria dos casos) nossa tarefa se torna muito mais
difı́cil. Ainda em nosso texto, forneceremos ferramentas de cálculo
como os limites e as derivadas para esboçar gráficos de funções.
Mesmo assim, em geral, há carência de exemplos e o aluno encontra
muitos obstáculos para compreender e, conseqüêntemente, sente-se
inseguro para traçar o esboço gráfico de uma função arbitrária. Daı́
surge a necessidade do uso de softwares (programas de computador)
matemáticos que complementam o texto didático e a atuação dos tu-
tores. A seguir, apresentamos alguns exemplos clássicos de gráficos
de funções obtidos com o uso do software WINPLOT que é um pro-
grama livre e, como pode ser visto no link acima, pode ser executando
no ambiente LINUX EDUCACIONAL.

1

Exemplo 2.5.1. A função f : R \ {0} → R, f (x) = sen x
.

1

Figura 2.37: Gráfico de sen x
58

 x2 sen 1

x
, se x 6= 0
Exemplo 2.5.2. O gráfico da função f (x) = ,
 0, se x = 0.
está em vermelho e, para maior compreensão, compreendido entre os
gráficos de y = x2 e y = −x2 que correspondem aos valores assumi-
dos por f quando o seno vale ±1, respectivamente.

1
Figura 2.38: Gráfico de x2 sen

x

log(x)
Exemplo 2.5.3. A função f : R \ {0} → R, f (x) = x
.

log(x)
Figura 2.39: Gráfico de f (x) = x
59

2.6 EXERCÍCIOS

1. Sabendo que f (x) = x2 − 2x, determine:

(a) O domı́nio de f ;

(b) O seu conjunto imagem;



(c) f (0) e f ( 2).

2. Especifique o domı́nio, o conjunto imagem e esboce o gráfico


das seguintes funções:

(a) f (x) = x

(b) f (x) = x − 3

(c) f (x) = x(x + 8)

(d) f (x) = x2 + 3x − 8

(e) f (x) = −8x + 54

(f) f (x) = −3x2 − 4x + 9

3. Ache os domı́nios para as funções a seguir:


1
(a) g(x) =
1−x
1
(b) g(x) =
1 − x2
2
(c) g(x) = √
x−5
r
x+2
(d) g(x) =
x2 − 9

(e) g(x) = x2 − 9x + 11

(f) g(x) = x2 − 5x + 6
r
1
(g) g(x) =
x + x2 − x
3

4. Dizer que p ∈ R é perı́odo de uma função f é dizer que f (x) =


f (x + p), para todo x ∈ Dom(f ) tal que x + p ∈ Dom(f ). Daı́
dizemos que f é p-periódica. Responda:

(a) Toda função constante possui perı́odo?


60

(b) A composição de uma função qualquer com uma periódica


é periódica?

(c) Dê exemplos de funções periódicas.

5. Dê exemplos de funções pares e ı́mpares. Faça vários produ-


tos entre funções pares, entre funções ı́mpares e entre pares e
ı́mpares. Notou algo interessante?

6. Encontre o conjunto imagem para as seguintes funções e es-


boce o gráfico quando puder:

(a) f (x) = x + 1

(b) f (x) = x2 + 3
3
(c) f (x) =
x+4
x+1
(d) f (x) =
x

(e) f (x) = x

(f) f (x) = cos x

(g) f (x) =| x |

7. Esboce os gráficos das seguintes funções:

(a) h(x) =| x + 1 |

(b) h(x) =| x + 1 || x − 2 |

(c) h(x) =|| x | −4 |

(d) h(x) =| x2 + 3x − 9 |

(e) h(x) =| −2x2 + 3x + 2 |

(f) h(x) =|| x |2 −2 | x | +1 |

8. Determine as raı́zes das seguintes funções polinomiais:

(a) f (x) = 5 − 8x

(b) f (x) = 12 x + 32

(c) f (x) = x2 − 5x + 6
61

(d) f (x) = x2 + 3x − 3

(e) f (x) = x2 − 6x + 9



 x2 − 3x, se x < 0


 x − 1,

se x ∈ [0, 3]
9. Esboce o gráfico da função f (x) = .


 4, se x ∈ (3, 4]


 −x2 + 9x,

se x > 4

 | x |, se x < 0
10. Idem para f (x) = . A função em questão é
 x2 , se x ≥ 0
injetiva? E sobrejetiva?

11. Numa fábrica são produzidas caixas de papelão em formato de


cubo. Sabendo que uma empresa fez uma encomenda de 1000
caixas deste tipo com volume de 0, 125m3, determine o custo
de produção para essa encomenda, sabendo que o material do
qual são feitas as paredes das caixas custa R$ 1,50 o metro
quadrado e o material do fundo e da tampa custa R$ 3,75 o
metro quadrado. Qual seria a função que descreve o custo para
uma encomenda qualquer de caixas de volume arbitrário pré-
estabelecido?

12. Uma corda de 100 metros será cortada em dois pedaços. Um


pedaço formará um quadrado e o outro formará um triângulo
eqüilátero. Como devemos cortar a corda de modo que a área
total das figuras seja máxima?

13. A velocidade aproximada de queda de um corpo na Terra é de


4, 93t2 metros em t segundos. Suponha que um corpo de di-
mensões desprezı́veis caia de um prédio de altura igual a 24
metros. Esboce o gráfico da altura em função do tempo para
esta queda, nos primeiros três segundos.

14. Classifique as seguintes funções quanto à paridade:

(a) sen 2x
62

(b) sen (x − π)

(c) sen x cos x

(d) x4

(e) x − cossec x

15. Duas cidades A e B devem receber suprimento de água de um


reservatório a ser localizado às margens de um rio em linha reta
que está a 16 km de A e a 9 km de B.Se os pontos mais próximos
de A e B guardam entre si uma distância de 20 km e A e B estão
do mesmo lado do rio, encontre a função que define o compri-
mento da tubulação em função da posição do reservatório.
Referências Bibliográficas

[1] ANTON, H. Cálculo, um novo horizonte, vol. 1., Editora Bookman,


Porto Alegre.

[2] GUIDORIZZI, H.L. Um curso de Cálculo, vols. 1, 2, 3, 4. Livros


Técnicos e Cientı́ficos. 2001.

[3] LANG, S. Cálculo, vol. 1, Ed. Livros Técnicos e Cientı́ficos, 1977.

[4] LIMA, E. L. Curso de Análise, vol. 1, 8a. Edição, Instituto de


Matemática Pura e Aplicada, CNPq, Rio de Janeiro, 2004.

[5] http://www.brasilescola.com/matematica/funcoes.htm.
Acesso em 26/06/2008 às 12h08min.

[6] http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/superior/.
Acesso em 26/06/2008 às 09h40min.

63
U ni da
Unidade 3de 1
AA soc
sociolo
iologia
gia ee a
a
Sociolo
Soc Limite
iologia
gia da Edu
da e caç
Edu cação
ão
Continuidade

Resumo
Apresentamos a noção de limite, limites laterais e
limites no infinito. Definimos função contínua e
mostramos várias de suas propriedades.
Estabelecemos o Teorema do Valor Intermediário e
algumas de suas aplicações.
Indicamos alguns livros mais avançados e links para o
aprofundamento de conteúdo.
SUMÁRIO DA UNIDADE

UNIDADE 3. Limites e Continuidade


3.1 Noção de limite 67
3.2 Funções contínuas 77
3.3 Limites laterais 82
3.4 Limites no infinito 85
3.5 Teorema do Valor Intermediário 91
3.6 Saiba mais 93
3.7 Exercícios 95
Referências Bibliográficas 99
3. LIMITE E CONTINUIDADE

Após uma breve revisão sobre funções, estamos aptos a começar


os nossos estudos efetivamente. Aqui abordaremos o estudo dos lim-
ites e das funções contı́nuas. Claro que não veremos todos os tipos
de limite, já que existem alguns especiais que só serão vistos nos
capı́tulos seguintes. Apesar de termos dito apenas funções contı́nuas,
também veremos um pouco de funções não-contı́nuas, pois a ex-
istência destas é de grande importância e talvez elas ocorram em
número maior do que aquelas.

Aqui começamos a diferenciar os estudos vistos no Ensino Médio


dos estudos do Ensino Superior. Lá, os problemas eram mais simples
porque não tı́nhamos ferramentas mais avançadas para a solução
dos mais complexos. Até a forma de pensar muda um pouco. Dig-
amos que no Ensino Médio aprendemos a pensar ”discretamente”, já
na Universidade aprendemos (pelo menos em tese) ”continuamente”.
Uma diferença importante é que lá os problemas eram adequados à
teoria explicada, e nunca poderiam ser muito diferentes do que os
apresentados nos textos. Aqui, não negamos a existência dos proble-
mas e procuramos as ferramentas para a solução dos mesmos. Com
um pouco mais de experiência, o estudante universitário novato verá
que agora não é mais importante saber várias fórmulas e técnicas
para resolver determinados exercı́cios, mas sim aprender a teoria de-
senvolvida e pensar, refletir para a solução de diversos problemas,
desafios.

66
67

Começaremos este capı́tulo com a exposição de um problema el-


ementar.
Problema. Suponha que um corpo no universo se comporte de tal
maneira que sua massa decresça de acordo com o passar do tempo,
1
segundo a função m(t) = , o tempo sendo dado em anos. O que
t
podemos deduzir da sua massa após passada uma quantidade incriv-
elmente grande de anos? O que acontecerá com a sua massa quando
t tender ao infinito?

3.1 A NOÇÃO DE LIMITE

O conceito de limite é um conceito muito importante em Matemática.


O tópico Limites,
Utilizamos limites em todas as áreas. Para o leitor ter uma idéia da
a nı́vel de en-
importância do limite para a Matemática, saiba que a derivada e a in-
sino médio, pode
tegral são exemplos de limites. Então, aprendendo bem o conceito de
ser visto com
limite, o leitor não deverá encontrar muitas dificuldades nos próximos
mais detalhes no
capı́tulos. Abordaremos aqui o conceito de limite para funções de
sı́tio da Revista
variáveis contı́nuas. As funções de variáveis discretas possuem um
do Professor de
lugar reservado no estudo do Cálculo, mas não serão abordadas aqui.
Matemática da So-
Dizer que o limite de uma função f quando x ”tende” a um valor a
ciedade Brasileira
é L significa dizer que quanto mais próximos os pontos, números, es-
de Matemática.
tiverem de a, mais próximos as suas imagens por f estarão próximas
de L. Utilizamos as seguintes notações para resumir o que foi dito:

x→a
lim f (x) = L, f (x) −→ L.
x→a

Note que não dissemos que o limite L está no conjunto imagem da


função f . Em suma, L não precisa pertencer a Im(f ) para termos
limx→a f (x) = L. Vejamos com um exemplo simples o afirmado:

 x, se x ∈ R \ 2
Exemplo 3.1.1. Seja a função f dada por: f (x) = .
 3, se x = 2
Calcule limx→2 f (x). Solução: À medida em que nos aproximamos
68

Figura 3.1: Limite de função

Figura 3.2: Limite de função

do ponto P = 2, as imagens de f se aproximam do valor 2. (Vere-


mos mais na frente como calculamos em tais situações.) Neste caso,
limx→2 f (x) = 2 6= 3, mesmo que f (2) = 3 e o valor 2 não pertença ao
conjunto imagem de f .

Quando falamos que as imagens de f se tornam muito próximas


de uma valor L quando os valores do domı́nio de f se aproximam de
um valor a, que o limite de f quando x se aproxima de a é L, queremos
dizer que podemos ter valores tão próximos quanto se queira de L,
bastando para isso que nos aproximemos adequadamente do valor a.
Em linguagem matemática, escrevemos assim:
69

lim f (x) = L ⇔ ∀ 0 < ǫ ∈ R, ∃ 0 < δ ∈ R; | x − a |< δ ⇒| f (x) − L |< ǫ.


x→a

Ou seja, escolhido arbitrariamente o 0 < ǫ ∈ R, podemos encontrar


um 0 < δ ∈ R tais que se a distância de qualquer ponto no domı́nio de
f para o ponto a for menor que δ (que depende de ǫ), então a distância
da sua imagem para o ponto L será menor que ǫ.
Façamos uma comparação grosseira para que o entendimento seja
o melhor possı́vel. Suponha que você trabalhe numa empresa em que
funcione o sistema de recompensa, i.e., quanto maior a produtividade,
maior o salário. Isto é ficção, mas imaginemos mesmo assim. Admita
que um determinado valor L é o seu objetivo para salário. Para que
seu salário se aproxime do valor sonhado, é preciso que sua produção
cresça. Então você estipula taxas, ou metas. Num primeiro mês,
quer que seu salário esteja apenas a 100 reais do desejado. Para
isso, você deve aumentar em 10% sua produção, ou seja, aproximar
sua produção da produção sonhada. Num segundo mês, você deseja
diminuir a diferença salarial para apenas 50 reais. Para isso, deve au-
mentar a produção mais ainda, para aproximá-la da objetivo. E assim
sucessivamente.
Pode ser que você nunca chegue a conseguir uma diferença salar-
ial nula, mas a certeza é que você pode chegar tão próximo dela
quanto queira, mesmo que para isso pague algum preço.
Então, em limite, primeiro estipulamos o quanto queremos aproxi-
mar as imagens de uma função de uma valor dado, para depois saber-
mos o quanto devemos aproximar valores do domı́nio da função de
um certo ponto. Leia várias vezes as explicações dadas acima até
que você entenda bem o conceito de limite.

Exemplo 3.1.2. Seja a função dada no exemplo anterior. Vejamos


realmente o que acontece. Como a nossa função é bem simples, e
devemos até questionar o porquê de tanta simplicidade, vejamos que
os valores das imagens realmente se aproximam de 2, quando nos
aproximamos do ponto 2 no domı́nio:
70

x f (x)
0 0
1 1
.
1,5 1,5
1,89 1,89
1,99995 1,99995

Isto para uma aproximação de 2 através de valores menores. Ve-


jamos para valores maiores:

x f (x)
5 5
3,9 3,9
.
3,15 3,15
2,19 2,19
2,00008 2,00008

As tabelas nos dizem que nos aproximamos do valor L = 2 seja


nos aproximando ”pela esquerda”seja ”pela direita”de a = 2. Mas
tabelas como essas não são suficientes para que afirmemos com
certeza que tal limite foi encontrado. Para efeito de cálculos computa-
cionais e empı́ricos, os procedimentos acima são aceitáveis. Mas em
Matemática devemos provar que tal raciocı́nio está correto. Vejamos
uma demonstração simples para o nosso limite:
Seja 0 < ǫ ∈ R dado. Para a nossa função, tomemos δ = ǫ. Assim,
0 < δ ∈ R e : 0 <| x − 2 |< δ ⇒| x − 2 |< ǫ. Quer dizer, dado ǫ > 0
tomamos δ = ǫ e conseguimos que 0 <| x − 2 |< δ ⇒| f (x) − 2 |< ǫ,
i.e., limx→2 f (x) = 2.
Note que não consideramos o valor x = 2, por se tratar de uma
descontinuidade. Este termo será explicado melhor adiante.

 x2 , se x ∈ R \ {3}
Exemplo 3.1.3. Seja a função g : R −→ R, g(x) = .
 −1, se x = 3
Calcule lim g(x).
x→3
Solução: Primeiramente, façamos uma tabela para vermos o com-
portamento dos valores de g nas proximidades de 3:
71

x g(x)
3,5 12,25
3,11 9,6721
.
3,03 9,1809
3,0008 9,00480064
3,0000002 9,00000120000004

x g(x)
2,5 6,25
2,88 8,2944
.
2,99 8,9401
2,99994 8,9996400036
2,999999999998 8,999999999988000000000004

Notamos que os valores tendem para 9. Podemos então imaginar


que o limite de g quando x se aproxima de 3 é igual a 9, e não −1,
como alguém poderia imaginar.
A Demonstração de que lim g(x) = 9 é um pouco mais complexa.
x→3

Começaremos agora a mostrar certas propriedades de limites. Elas


servem principalmente para calcularmos limites de forma mais rápida
e segura. De posse de tais propriedades, o estudante pode deduzir
os valores de vários limites.
Comecemos vendo a unicidade do limite. Suponha que determi-
nada função f tal que limx→a f (x) = L1 , limx→a f (x) = L2 . Uma boa
pergunta seria sobre a relação entre L1 e L2 . Vejamos mais detal-
hadamente o que acontece:

• Caso em que limx→a f (x) = L1 .

Pela definição de limite, sabemos que dado 0 < ǫ ∈ R , existe


0 < δ1 ∈ R (aqui o subı́ndice servirá apenas para destacá-lo e
diferenciá-lo dos demais) tais que | x − a |< δ1 ⇒| f (x) − L1 |< 2ǫ .

• Caso em que limx→a f (x) = L2 .


72

Novamente, pela definição de limite, temos que dado 0 < ǫ, ex-


iste 0 < δ2 tais que | x − a |< δ2 ⇒| f (x) − L2 |< 2ǫ .

Tomando δ igual ao menor entre δ1 e δ2 (escrevemos δ = min{δ1 , δ2 }),


temos que:
ǫ
| x − a |< δ ⇒| f (x) − L1 |< 2
.
ǫ
| x − a |< δ ⇒| f (x) − L2 |< 2

Percebendo que ǫ >| f (x) − L1 | + | f (x) − L2 |≥| f (x) − L1 + L2 −


f (x) |=| L1 − L2 − 2 |, obtemos que para algum x̃ ∈ (a − δ, a + δ), temos
que | L1 − L2 |< ǫ. O fato de ǫ ser arbitrário nos diz que L1 = L2 . (Por
quê?)
Este fato nos garante que o limite quando existe é único. Outra pro-
priedade simples porém importante é a que nos garante que nas prox-
imidades do limite, a função não ”explode”. Usamos esta expressão
vulgar e corriqueira no caso em que a função cresce ou decresce de-
masiadamente quando se aproxima de um ponto p tal que dado qual-
quer α ∈ R existe x ∈ Domf com | f (x) |> α. Procure entender tal
idéia. Utilize como exemplos as funções tangente e cotangente. Em
que pontos elas ”explodem”?
Suponha que exista limx→a f (x) e que seja igual a L. Para uma
vizinhança de a, temos que existe K > 0 tal que | f (x) |< K, para
todo x pertencente a esta vizinhança.
Deixamos tal demonstração como exercı́cio para o leitor. Apenas
damos a sugestão de considerar ǫ = 1 e K = L + ǫ. Tenha em mente
que esta propriedade nos garante apenas um fato local, i.e., podemos
ter uma função ilimitada mas que seja limitada em vizinhanças dos
pontos nos quais existe lim f .
Agora veremos mais uma propriedade simples porém importante.
A experiência nos diz que vários são os alunos iniciantes que descon-
hecem tal propriedade ou mesmo a esquecem rapidamente. Dizer
que uma função é limitada superiormente (ou inferiormente) por outra
função em determinado conjunto é dizer que as imagens da primeira
função são maiores (ou menores) do que as imagens da outra no con-
73

junto em questão, nos mesmos pontos.

Exemplo 3.1.4. Sejam f : (2, 4) → (4, 16), f (x) = x2 e g : (2, 4) →


(28, 16), g(x) = −x2 + 32. Temos que f (x) < g(x), ∀x ∈ (2, 4), mas
limx→4 f (x) = limx→4 g(x). Concorda?

Assim, com o exemplo dado, vemos que não é verdade que f (x) <
g(x), ∀x ∈ A ⊂ Dom(f, g) ⇒ limx→a f (x) < limx→a g(x). A pro-
priedade em questão nos diz que f (x) < g(x), ∀x ∈ A ⊂ Dom(f, g) ⇒
limx→a f (x) ≤ limx→a g(x), sendo trivial o caso em que a desigualdade
não é estrita.
Só precisamos mostrar que não pode acontecer lim f (x) > lim g(x).
x→a x→a
(Por quê?)
Nesse raciocı́nio, suponha que limx→a f (x) = L1 > L2 = limx→a g(x).
Existe L ∈ R tal que L2 < L < L1 . (Por quê?) Assim, pela definição
de limite, dado 0 < ǫ < min{| L1 − L |, | L − L2 |}, existe δ > 0 tais que

 | f (x) − L |< ǫ
1
| x − a |< δ ⇒ .
 | g(x) − L |< ǫ
2

Pela escolha do ǫ, obtemos que existe x̃ ∈ (a − δ, a + δ) tal que


f (x̃) > L > g(x̃). Daı́, temos que f (x̃) > g(x̃), mas por hipótese temos
que f (x̃) < g(x̃). Isto completa a demonstração.
O leitor deve se acostumar com raciocı́nios do tipo acima. Evi-
tamos em toda esta obra tecer raciocı́nios mais abstratos. Contin-
uaremos vendo algumas propriedades de limite. As seguintes são
de naturaleza operacional. Elas nos dizem como devemos proceder
quando nos deparamos com limites com somas, multiplicações, etc de
funções. Para as situações a seguir, suponhamos que as operações
são tomadas num domı́nio válido.

• lim [(f ± g)(x)] = lim f (x) ± lim g(x);


x→a x→a x→a

• lim [(f · g)(x)] = lim f (x) · lim g(x);


x→a x→a x→a

 
f lim f (x)
• lim (x) = x→a , desde que lim g(x) 6= 0.
x→a g lim g(x) x→a
x→a
74

Não demonstraremos tais casos. O importante é aprender a cal-


cular os limites. Após uma aquisição de mais experiência, o leitor
deve aprender as demonstrações exibidas neste livro, como também
as omitidas.

Exemplo 3.1.5. Sabendo que limx→−1 x2 = 1, limx→−1 2x = −2, re-


solva:

a) limx→−1 3x2 − 2x;

−x2
b) limx→−1 + 9x;
5
x2
c) limx→−1 ;
2x

d) limx→−1 x3 .

Faremos alguns casos. Para o item a), notemos que 3x2 − 2x =


3 · x2 + (−1) · (2x). Aplique um resultado visto acima. Para o item b),
−x2  2 
perceba que + 9x = −15
x + 92 (2x). Os outros são análogos.
5

Na verdade, os exemplos acima são solucionados de maneira mais


simples. Mas preferimos expor um pouco mais de teoria para depois
aplicarmos.
Uma outra propriedade importante de limites é o teorema do con-
fronto. Vejamos seu enunciado:

Teorema 3.1.1 (Teorema do confronto). Sejam f1 , f2 , f3 funções bem


definidas e tais que, para todo x em uma vizinhança Va de a, acontece
f1 (x) ≤ f2 (x) ≤ f3 (x). Se limx→a f1 (x) = L = limx→a f3 (x), então
limx→a f2 (x) = L.

Demonstração. Trata-se também de uma demonstração bem simples.


Pela definição de limite e pela hipótese obtemos que dado ǫ > 0, existe
δ > 0 tais que

 | f (x) − L |< ǫ
1
| x − a |< δ ⇒ .
 | f (x) − L |< ǫ
3
75

Note que a arbitrariedade de ǫ > 0 nos deixa livres para o escolher-


mos pequeno suficiente de tal maneira que tenhamos (a−δ, a+δ) ⊂ Va .
Sabemos que | L | −ǫ < f1 (x) <| L | +ǫ, | L | −ǫ < f3 (x) <| L | +ǫ.
Mas lembremos que na vizinhança Va ocorre f1 (x) ≤ f2 (x) ≤ f3 (x).
Assim, obtemos que | L | −ǫ < f1 (x) ≤ f2 (x) ≤ f3 (x) <| L | +ǫ ⇒|
f2 (x) − L |< ǫ.
Logo, lim f2 (x) = L, como querı́amos.
x→a

De posse do conhecimento do teorema do confronto, podemos de-


duzir um resultado bastante útil. Passemos a enunciá-la.
Sejam f, g funções dadas tais que limx→a f (x) = 0 e g é limitada
em uma vizinhança V de a, ou seja, existe K > 0 tal que | g(x) |≤
K, ∀ x ∈ V . Então limx→a (f · g)(x) = 0.
A sua prova é bem simples e deixamos como exercı́cio para o leitor.
Damos apenas a sugestão de analisar as desigualdades −Kf (x) ≤
f (x)g(x) ≤ Kf (x), na vizinhança V .
A propriedade anterior é bastante importante porque nos garante
a existência do limite do produto das duas funções sem que saibamos
ao menos se uma possui limite ou não no ponto indicado. Na ver-
dade, ela pode não possuir limite em nenhum ponto da reta. Mas o
fato dela ser ilimitada é imprescindı́vel, como também a nulidade do
limite da outra. Vejamos mais detalhadamente isso com os seguintes
exemplos.

Exemplo 3.1.6. Sejam as funções f : R → R, f (x) = −x e g : R →


R, g(x) = χQ (x). Veremos na próxima seção que limx→0 f (x) = 0.
Sabemos do capı́tulo 1 que a função g é limitada em toda a reta real.
Assim, podemos afirmar que limx→0 f (x)g(x) = 0. Você saberia dizer
quanto vale limx→0 g(x)?

Exemplo 3.1.7. Neste simples exemplo, veremos que é imprescindı́vel


o fato de g ser limitada nas vizinhanças do ponto em questão. Seja a
1
função f do exemplo anterior e g : R \ {0} → R \ {0}, g(x) = . Temos
x
que a função g é ilimitada próxima do ponto zero, pois dado qualquer
76

1
número real positivo α, existe um β ∈ R \ {0} tal que β < . Assim,
α
g(β) > α. Para o caso negativo o raciocı́nio é análogo e deixamos
como exercı́cio para o leitor.
Analisando agora o limite limx→0 f (x)g(x), teremos:
 
1
lim f (x)g(x) = lim (−x) = lim −1 = −1
x→0 x→0 x x→0

Antes de começarmos nossos estudos sobre funções contı́nuas,


vejamos uma última propriedade. Ela nos diz o que devemos fazer
quando nos depararmos com limites de funções compostas. Pedimos
ao leitor que relembre o que foi visto sobre funções compostas, para
que o entendimento de tal propriedade fique bem claro.
Sejam f e g duas funções dadas e suponhamos que as condições
necessárias para que exista a composta g ◦ f estejam satisfeitas.
Suponhamos também que limx→a f (x) = L1 e que limy→L1 g(y) = L2 .
Assim, limx→a g(f (x)) = L2 , desde que g(L1 ) = L2 .
Omitiremos a demonstração de tal prorpiedade. Caso queira, o
leitor pode fazê-la e conferir o porquê da última afirmação. Vejamos o
seguinte exemplo.

Exemplo 3.1.8.
 Sejam f : R → R, f (x) = 3, ∀ x ∈ R e g : R →
 x2 , se x 6= 3
R, g(x) = duas funções dadas.
 −1, se x = 3
Sabemos que limy→3 g(y) = 9 e que limx→3 f (x) = 3, mas ao anal-
isarmos a composta g ◦ f , teremos: g(f (x)) = −1, ∀ x ∈ R, donde
limx→3 g(f (x)) = −1.

No exemplo anterior mais uma vez o leitor constatou a importância


das hipóteses para um teorema, corolário, lema, proposição, etc. Só
podemos utilizar os resultados obtidos em teoremas caso nosso prob-
lema se encaixe completamente neles, senão estaremos fadados ao
fracasso.
77

3.2 FUNÇÕES CONTÍNUAS

Após uma breve passagem nas propriedades dos limites, vere-


mos agora uma classe muito importante de funções, a das funções
contı́nuas. Afirmamos que para o cálculo de muitos limites sem pre-
cisarmos de demonstrações através de ǫ e δ só são necessários con-
hecimentos sobre funções contı́nuas e um pouco de maturidade em
manipulações algébricas.
Para uma visualização do gráfico de função contı́nua, usaremos
os mesmos argumentos de vários outros autores que dizem que o
gráfico de uma função contı́nua é um gráfico sem ”buracos”, i.e., ao
desenharmos tal gráfico, não precisamos tirar a ponta do lápis em
momento algum do papel. ”É um traço contı́nuo”.
26
y
24

22

20

18

16

14

12

10

-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5
x

Figura 3.3: Gráfico de uma função contı́nua

Definição 3.2.1. Uma função f : A → B é dita contı́nua num ponto a ∈


A se existirem o limite limx→a f (x) e f (a), e além disso, limx→a f (x) =
f (a). Quando f não é contı́nua em um ponto b, ela é dita descontı́nua
em b.

Em outras palavras, dizemos que uma função f é contı́nua num


ponto a ∈ Dom(f ) quando podemos ter imagens bem próximas de
f (a), desde que tomemos estas imagens de pontos bem próximos de
a. Uma outra maneira é dizer que uma função f é contı́nua num ponto
a ∈ Dom(f ) quando dado qualquer ǫ > 0, encontramos um δ > 0 tais
que f (a − δ, a + δ) ⊂ (f (a) − ǫ, f (a) + ǫ).
78

Exemplo 3.2.1. A função g : R → R, g(x) = x é contı́nua no ponto


x = 3. Checamos isto da maneira usual com que checamos os out-
ros limites, ou seja, estabelecemos um ǫ positivo, encontramos um δ
(também positivo e dependente de ǫ, como o leitor esperto deve ter
já percebido) tais que | x − a |< 0 ⇒| f (x) − L |< ǫ, só que com a
diferença que f (a) = L, obrigatoriamente.
Vejamos. Seja ǫ > 0 dado. Queremos que aconteça | f (x) −
f (a) |=| x − a |< ǫ. Se tomarmos para este caso δ = ǫ, obtemos que:
| x − a |< δ ⇒| f (x) − f (a) |=| x − a |< ǫ.

O exemplo acima serve apenas como ilustração. Vejamos outro


exemplo:

Exemplo 3.2.2. Seja a função real f tal que f (x) = ax + b, com a 6= 0.


Mostre que f é contı́nua em toda a reta real.
Solução: Devemos ter em mente sempre que o objetivo é mostrar
que dado ǫ > 0 existe um δ > 0 tais que | x − P |⇒| f (x) − f (P ) |< ǫ.
Assim, queremos chegar a uma desigualdade do tipo | ax + b − (aP +
b) |< ǫ. Agora vejamos que ax + b − (aP + b) = a(x − P ). Assim,
obtemos que | ax + b − (aP + b) |=| a(x − P ) |=| a || x − P | . Se
ǫ ǫ
tomarmos neste caso δ = , obteremos que | x − P |< δ = ⇒|
|a| |a|
a || x − P |< ǫ, i.e., que dado ǫ positivo, existe um δ também positivo
tais que | x − P |< δ ⇒| f (x) − f (P ) |< ǫ, onde P é um ponto arbitrário
ǫ
da reta real. (Por que pudemos tomar δ = ?)
|a|

Quando a função é contı́nua em todos os pontos do seu domı́nio,


dizemos simplismente que ela é contı́nua.
As funções contı́nuas são ”bem-comportadas”quanto às operações
entre elas. Quer dizer, a soma, subtração, multiplicação e divisão de
funções contı́nuas estão bem definidas e, além disso, temos que:

Proposição 3.2.2. Sejam f e g funções contı́nuas. Também são


contı́nuas as funções:

• f ± g;
79

• f · g;

f
• .
g
Desde que tomadas em domı́nios válidos.

A prova de tal proposição não será mostrada aqui. Não é um ex-


ercı́cio deveras difı́cil, devendo ser feito pelo leitor.
Algumas conseqüências importantes podem ser deduzidas facil-
mente da proposição acima. Uma delas é que toda função polino-
mial é contı́nua. Podemos pensar da seguinte maneira. Sabemos
que f (x) = x é contı́nua. Através de um pensamento indutivo, con-
cluirı́amos que fn (x) = xn é contı́nua, qualquer que seja n ∈ N. (Qual
propriedade utilizamos neste raciocı́nio?) Obtemos mais ainda, que
qualquer função polinomial do tipo g(x) = an xn + . . . + a1 x + a0 é
contı́nua.

2
Para saber mais Exemplo 3.2.3. Calcule limx→−1 x − 8x + 9.
sobre funções Solução: Como a função f (x) = x2 − 8x + 9 é polinomial, ela

contı́nuas podemos é contı́nua. Então, limx→−1 f (x) = f (−1). Substituindo os valores,


2 2
acessar os sı́tios da temos que limx→−1 x − 8x + 9 = (−1) − 8(−1) + 9 = 2.
Olimpı́ada Brasileira
5 2
de Matemática Exemplo 3.2.4. Calcule o seguinte limite: limx→2(x − 4)(x − 3x − 7).
(OBM) e o sı́tio Mais rapidamente, sabemos que as duas funções dadas são contı́nuas.

INTERAULA. De posse de uma certa propriedade de limites que já conhecemos e


do fato das funções serem contı́nuas, calculamos rapidamente o limite
acima: limx→2 (x5 − 4)(x2 − 3x − 7) = (25 − 4)(22 − 3 · 2 − 7) = −252.

x2 − 4
Exemplo 3.2.5. Calcule limx→2 .
x−2
Aqui temos um problema. Apesar de se tratar de um quociente
de duas funções contı́nuas, não podemos tomar diretamente o limite
0
porque terı́amos uma indeterminaç ão do tipo ! Mas, com uma pe-
0
x2 − 4 (x + 2)(x − 2)
quena manipulação algébrica, temos que: = =
x−2 x−2
x + 2. Daı́,
x2 − 4
limx→2 = limx→2 x + 2 = 4.
x−2
80

O exemplo acima foi novamente um tipo de ilustração. Mais geral-


mente, temos o seguinte:

xn − an
Exemplo 3.2.6. Calcule o seguinte limite: limx→a .
x−a
A solução é bem simples e se baseia em divisão de polinômios. O
xn − an
leitor deve saber que = xn−1 + xn−2 a + xn−3 a2 + . . . + xan−2 +
x−a
an−1 . Após isso, aplique o limite e o que você sabe sobre funções
xn − an
contı́nuas para concluir que limx→a = nan−1 .
x−a

Vejamos mais um exemplo da importância da proposição anterior.


Como já deve ter percebido, os limites mais ”problemáticos”são aque-
les que envolvem frações, divisões de funções, principalmente quando
não podemos calcular o limite diretamente.

x2 − 5x + 6
Exemplo 3.2.7. Resolva o seguinte limite: limx→3 .
x3 − 2x2 − x − 6
O leitordeve perceber que a substituição direta causa problemas.
Mas, notando que x2 − 5x + 6 = (x − 3)(x − 2) e x3 − 2x2 − x − 6 =
(x − 3)(x2 + x + 2), obtemos que:
x2 − 5x + 6 (x − 3)(x − 2) x−2
limx→3 3 = limx→3 = limx→3 2 =
x − 2x − x − 6
2 (x − 3)(x + x + 2)
2 x +x+2
1
.
14

Achamos que com os limites acima o leitor resolverá vários outros


idênticos. Basta usar o mesmo raciocı́nio. Vários exemplos serão
abordados nos exercı́cios no final deste capı́tulo.
Agora veremos a continuidade das funções trigonométricas. Voltando
ao primeiro capı́tulo, o leitor poderá constatar que os gráficos das
funções trigonométricas se comportam como gráficos de funções contı́nuas.
Apesar disso não ser motivo para que afirmemos a continuidade de
tais funções, serve como motivação. Não podemos achar que é contı́nua
em toda a reta real uma função com gráfico do tipo:
Mas nem toda função pode ter seu limite calculado com as poucas
técnicas dadas até aqui. Algumas necessitam de ferramentas mais
avançadas e de conceitos ainda não vistos. Mais adiante falaremos
de limites laterais e de limites no infinito, mas antes gostarı́amos de
81

y 24
22

20

18

16

14

12

10

-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5
x

mostrar um resultado bastante conhecido, que não pode faltar em um


livro de Cálculo.

sen x
• O limite fundamental na Trigonometria: lim =1
x→0 x
Este limite é simples mas ajuda na solução de vários outros lim-
ites em Matemática. Aqui mostraremos uma demonstração bas-
tante conhecida. Mas existem inúmeras formas de se mostrar
este resultado. Mais à frente, no próximo capı́tulo, veremos uma
outra forma de demonstrá-lo.

Antes de começarmos a demonstração, daremos o seguinte ex-


ercı́cio para o leitor. Mostre que, para todos os pontos positivos
em alguma vizinhança do ponto x = 0, vale:

0 < sen x < x < tg x.

sen x
Sabendo disso, obtemos facilmente que cos x < < 1. (Por
x
que podemos dividir a expressão acima por sen x?)

Agora podemos aplicar o Teorema do Confronto. Por tal teo-


sen x
rema, podemos afirmar que lim+ cos x ≤ lim+ ≤ 1. Daı́
x→0 x→0 x
sen x
concluı́mos que lim+ = 1, como querı́amos.
x→0 x
Analizemos o caso dos pontos negativos em uma vizinhança do
ponto x = 0.

Fazendo a mudança de variável y = −x > 0, temos que

sen(x) sen(−y) sen(y)


= = ,
x −y y
82

onde na última equação usamos que a função seno é ı́mpar, isto


é, sen(−x) = −sen(x). Dessa forma, temos que
sen(x) sen(y)
lim− = lim+ = 1.
x→0 x x→0 y
onde a última igualdade é obtida do resultado acima.
1 − cos x
Exemplo 3.2.8. Calcule o limite: limx→0 .
x
Com manipulações matemáticas simples, chegamos à seguinte
1 − cos x sen2 x 1 − cos x
igualdade: = . Ou seja, limx→0 =
x x(1+ cos x) x
 sen x  sen x
limx→0 .
x x(1 + cos x)
sen x
Como nas proximidades de zero a função f (x) = é limitada
x
sen x 1 − cos x
e limx→0 = 0, obtemos que limx→0 = 0.
x(1 + cos x) x

3.3 LIMITES LATERAIS

A definição de limites laterais vale somente para o caso da reta


real. Não faz sentido falar em limite lateral para funções de várias
variáveis. Como o leitor já deve ter deduzido, os limites laterais são
aqueles obtidos ao analisarmos o limite apenas tomando valores ”de
um lado”do ponto em questão, ou seja, analisando o limite apenas
para valores maiores ou menores do que o ponto.
Ao contrário do que muitos imaginam, nem sempre os limites lat-
erais são iguais. Quando eles são iguais, dizemos que existe o limite
da função no ponto analisado. Quando são diferentes, dizemos que a
função não possui limite no ponto em questão.
Reforçando o que já foi dito, dizemos que nos aproximamos de um
ponto a ∈ R pela direita quando nos aproximamos de a, mas apenas
com valores maiores que a. Analogamente, dizemos que nos aprox-
imamos pela esquerda de a quando tomamos valores próximos de
a, mas apenas valores menores que ele. Para dizer que nos aprox-
imamos pela direita de a, escrevemos x → a+ , enquanto que pela
esquerda escrevemos x → a− .
83

Assim, quando dizemos que estamos tomando o limite de f em


a pela direita, queremos dizer que estamos analisando o comporta-
mento de f tomando valores próximos a e maiores que a. De modo
análogo, falamos que tomamos o limite de f em a pela esquerda
quando analisamos o comportamento de f tomando valores próximos
a e menores que a. Escrevemos limx→a+ f (x) e limx→a− f (x), respec-
tivamente.

 x2 , se x < 1
Exemplo 3.3.1. Seja a função real f tal que f (x) =
 −x + 2, se x ≥ 1
Calcule limx→1+ f (x) e limx→1− f (x).
Solução: Primeiro vejamos o gráfico de f :
y 24

22

20

18

16

14

12

10

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-2

Figura 3.4: Função f

Assim, ao analisarmos tal limite pela esquerda, estaremos anal-


isando o limite para f (x) = x2 . (Por quê?) Daı́:
limx→1− f (x) = limx→1− x2 = (1)2 = 1. (Concorda?)
Já o limite pela direita é dado por

lim f (x) = lim+ −x + 2 = −1 + 2 = 1.


x→1+ x→1

Como os limites laterais são iguais, dizemos então que limx→1 f (x) =
1.

O mesmo não ocorre para o exemplo a seguir:



 sen x, se x < 0
Exemplo 3.3.2. Seja a função real f tal que f (x) =
 −x2 + 5, se x ≥ 0
Calcule seus limites laterais no ponto x = 0.
Solução: Novamente, comecemos analisando o gráfico de f :
84

5
y

-5.0 -4.5 -4.0 -3.5 -3.0 -2.5 -2.0 -1.5 -1.0 -0.5 0.5 1.0 1.5 2.0
x

-1

Figura 3.5: Gráfico de f

Analogamente ao exemplo anterior, teremos que:

lim f (x) = lim− sen x = 0,


x→0− x→0

enquanto que

lim f (x) = lim+ −x2 + 5 = 5.


x→0+ x→0

Assim, dizemos que f não possui limite no ponto x = 0.

Vejamos mais um exemplo. Ele nos diz que a existência e a igual-


dade dos limites laterais de uma função não implicam na continuidade
desta função.

 x sen x, se x 6= 0
Exemplo 3.3.3. Seja a função g dada por g(x) = .
 3, se x = 0
Analisando o seu gráfico, teremos:
8
y
7

-10 -8 -6 -4 -2 2 4 6 8 10
x
-1

-2

-3

-4

-5

Figura 3.6: Gráfico de g


85

Quase não se nota que g(0) = 3, por se tratar apenas de um ponto.


Os limites laterais são dados por

lim g(x) = lim+ x sen x = 0,


x→0+ x→0

lim g(x) = lim− x sen x = 0,


x→0− x→0

donde limx→0 g(x) = 0, mas g não é contı́nua, pois g(0) = 3.

Com isso, abordamos mais um tipo de limite. Quando os limites


laterais forem iguais, o limite existirá e será igual a eles. Vários prob-
lemas são solucionados com apenas essas ferramentas.

3.4 LIMITES NO INFINITO

Até agora não respondemos o problema introduzido no inı́cio deste


capı́tulo. Para resolvê-lo, necessitamos de um conceito bastante deli-
cado em Matemática, o de infinito. Ele vem há décadas gerando con-
trovérsias entre os matemáticos. Alguns não o aceitam diretamente.
Eles acham que a Matemática só deveria trabalhar com dados não-
abstratos. O que sabemos é que este conceito está cada vez mais
presente em estudos e não há motivos para não vê-lo.
Dizer que algo tende para o infinito é dizer que ele toma valores
maiores que qualquer real dado, em módulo, a princı́pio. Então, dizer
que uma função tem limite igual a L quando x tende para o infinito é o
mesmo que dizer que f (x) tende a L, quando tomamos valores absur-
damente grandes. O sı́mbolo matemático utilizado para designarmos
o infinito é ∞. De modo correto, vejamos:
lim f (x) = L ⇔ ∀ ǫ > 0, ∃α ∈ R; | x |>| α |⇒| f (x) − L |< ǫ.
x→∞
Ou seja, dada a estimativa ǫ, encontramos α ∈ R tais que as im-
agens de f se tornam muito próximas de L sempre que tomamos
pontos tais que | x |>| α |.
86

Usamos os valores em módulo porque não especificamos a ”espécie”de


infinito. Assim, nossa definição vale tanto para valores muito pe-
quenos como para valores muito grandes.
Mas quando queremos especificar que ”tipo”de infinito ao qual nos
referimos, usamos as notações +∞ ou −∞, quando queremos nos
referir a números deveras grandes ou deveras pequenos. Mas que
fique bem claro, o infinito não é um número, é apenas um meio de
exprimirmos a idéia do muito grande, ou muito pequeno, inalcançável.
Tomar valores de x tendendo a −∞ significa dizer que dado qual-
quer real α, encontramos x (também real) tal que x < α. Analoga-
mente, temos o raciocı́nio de tomarmos valores de x tendendo a +∞.
Vejamos com exemplos os conceitos vistos, para que o assunto
fique bem fixado.

Exemplo 3.4.1. Para toda constante real k, temos que limx→∞ k = k.


Isto é, para quaisquer valores, sejam eles pequenos ou grandes, a
função pemanece constante. Assim, o limite é invariante e igual a k.

O exemplo acima é talvez o mais simples para o caso de limites


no infinito. Responderemos agora o problema apresentado no inı́cio
desta unidade.

Exemplo 3.4.2. Suponha que um corpo no universo se comporte de


tal maneira que sua massa decresça de acordo com o passar do
1
tempo, segundo a função m(t) = , o tempo sendo dado em anos.
t
O que podemos deduzir da sua massa após passada uma quantidade
incrivelmente grande de anos? O que acontecerá com a sua massa
quando t tender ao infinito?
Solução. Sabemos que a função que rege o comportamento da
1
massa em função do tempo é dada por m(t) = . Assim, analisar o
t
comportamento da massa corresponde a analisar o comportamento
da função m. Fazendo uma tabela para compararmos a quantidade
de massa do corpo existente em relação ao tempo, teremos:
87

t m(t)
5 0, 2
500 0, 002
.
100000 0, 00001
108 10−8
1010000 10−10000

A quantidade de anos 1010000 é muito grande. Já com ela pode-


mos ver o que acontece com a massa do corpo. Então, passada uma
quantidade muito grande de anos, a massa do corpo decrescerá uma
quantidade incrivelmente grande. Agora, nosso interesse é quando
t → +∞, isto é, quando cresce indefinidamente. Para isso, devemos
calcular o limite lim m(t). Antes disso, relembremos o gráfico da
t→+∞
função m:

10
m
9

0 1 2 3 4 5
t

Figura 3.7: Gráfico de m

Claro que não trabalhamos com um corpo de massa infinita. Ape-


1
nas aproximamos o comportamento da massa com a função f (x) = .
x
Assim resolvemos vários problemas. O leitor pode ver que o gráfico
tem um comportamento interessante para valores grandes de t. A
intuição nos diz que ela tenderá para zero, ou seja, que lim m(t) = 0.
t→+∞
Mas vejamos matematicamente o resultado. Dado qualquer α > 0
real, temos que existe um (na verdade infinitos) real t̃ > 0 tal que t̃ >
1 1
> 0. Mas isso implica que 0 < < α. Agora o leitor deve raciocinar
α t̃
88

1
que quanto maior for o número α, menor será e vice-versa. Assim,
α
1
da arbitrariedade de α e de t̃, resulta que limx→+∞ = 0.
t
Ou seja, o corpo tende a desaparecer no universo, a perder total-
mente a sua massa.

Problemas simples como esse aparecem constantemente. Mas


nem todos possuem uma solução tão trivial. Vejamos a seguir uma
propriedade que nos ajudará a calcular alguns tipos de limites.

Proposição 3.4.1. Sejam f e g funções tais que a composta g ◦ f


está bem definida, lim f (x) = L e existe o limite lim g(y). Então
x→+∞ y→L
lim g(f (x)) = lim g(y).
x→+∞ y→L

Não demonstraremos tal proposição. Apenas mostraremos alguns


exemplos que a utilizam. Veremos como ela nos ajuda a resolver
vários limites que não são solucionados com as técnicas aprendidas
até então.

8x3 − 5x2 + x
Exemplo 3.4.3. Resolva o seguinte limite: limx→+∞ .
9x3 − 4x2 + 32x
Solução: Tente resolver diretamente tal limite. Não é possı́vel, n
ão
5 1 1
3 2 x3 8 − + 2 − 3
8x − 5x + x − 1 x x x
é mesmo? Notemos que =   .
9x − 4x + 32x
3 2 4 32
x3 9 − + 3
x x
(Concorda?)
1
Agora, utilizando a propriedade dada acima para o caso de limx→+∞ n ,
x
1 n
onde n é um natural qualquer, vemos que f (x) = , g(y) = y . Apli-
x
1
cando o que sabemos então, obtemos que limx→+∞ n = 0, ∀ n ∈ N.
x
Deixamos como exercı́cio para o leitor mostrar que o limite anterior
também é nulo, mas com x tendendo a −∞.
 
3 5 1 1
x 8− + 2 − 3
x x x
Substituindo este resultado no limite limx→+∞   ,
4 32
x3 9 − + 3
x x
8x3 − 5x2 + x 8
teremos que limx→+∞ = .
9x3 − 4x2 + 32x 9
89

x6 − 32x5 + 4x3 − 2
Exemplo 3.4.4. Calcule o seguinte limite: limx→−∞ .
6x6 − 3x2 + 2x − 1
Novamente, procedamos conforme o exemplo anterior. Direta-
mente, vemos que
 
6 32 4 2
x 1− + 3−
x6 − 32x5 + 4x3 − 2 x x x6
limx→−∞ = limx→−∞  
6x6 − 3x2 + 2x − 1 3 2 1
x6 6 − 4 + 5 −
x x x6
1
= limx→−∞
6
1
= .
6

Agora falaremos de limites infinitos. A idéia é análoga à que intro-


duzimos no inı́cio desta seção. Sempre tenha em mente o que é o
infinito. Com a parte principal desta idéia, certamente não ocorrerão
problemas nesse tipo de limites.
Dizemos que lim f (x) = +∞ (ou lim f (x) = −∞) quando dado
x→a x→a
qualquer α real dado, temos que existe x̃ próximo de a tal que f (x) > α
(ou f (x) < α). Ou seja, a função cresce demais (ou decresce demais)
nas proximidades de a.
Podemos ter também isto para o caso de limites no infinito, isto é,
pode existir uma função f tal que lim f (x) = ±∞, ou lim f (x) =
x→+∞ x→−∞
±∞, dependendo do comportamento da função. Claro que usamos
aexpressão ±∞ apenas para abordar todos os casos possı́veis.

Exemplo 3.4.5. limx→+∞ x2 = +∞.


Para casos simples como este, fazemos demonstrações simples,
chamadas por alguns de ”demonstrações caseiras”. Dado qualquer

ǫ > 0, existe um real x̃ (também positivo) tal que x̃ > ǫ. Daı́, x̃2 >
ǫ. Da arbitrariedade de ǫ e x̃ garantimos que limx→+∞ x2 = +∞. É
um exercı́cio para o leitor verificar que o limite permanece igual caso
tomemos x tendendo a −∞.

Vejamos o próximo exemplo. Ele nos diz como devemos proceder


em casos bem mais gerais. Ele será bem aproveitado em limites de
polinômios.
90

n
 limx→+∞ x = +∞, ∀ n ∈ N. Por outro lado,
Exemplo 3.4.6.
 −∞, se n ∈ N for impar
n
limx→+∞ x = .
 +∞, se n ∈ N for par

Não mostraremos os detalhes do exemplo acima. Ele seguirá rap-


idamente após a próxima explicação. Quando lidamos com limites
infinitos, apenas não operamos diretamente limites que possuam ao
mesmo tempo termos que tendem para +∞ e para −∞. Não faz sen-
tido tentar somar +∞ com −∞, grosseiramente falando. Mas pode-
mos dizer que tende para +∞ a soma ou a multiplicação de duas
funções que tendem para +∞ quando estes limites tomados são no
mesmo ponto ou tomados em uma direção.
Podemos dizer que limx→a f (x)+g(x) = +∞ (ou−∞) se acontecer
limx→a f (x) = limx→a g(x) = +∞ (ou − ∞). O mesmo vale para o caso
da multiplicação.
1
Exemplo 3.4.7. Calcule limx→0+ .
x2
1
Deixamos para o leitor a verificação de que limx→0+ = +∞. Ape-
x
1
nas use argumentos já vistos aqui. Olhemos o gráfico de f (x) = 2 :
x
Pelo gráfico, vemos que nas proximidades de zero a função cresce
1
rapidamente. Assim, deduzimos intuitivamente que limx→0+ 2 = +∞.
   x
1 1 1
Matematicamente, notamos que 2 = . Como sabemos
x x x   
1 1 1 1
que limx→0+ = +∞ (Mostre!), obtemos que limx→0+ 2 = limx→0+ =
x x x x
+∞.

Deixamos como exercı́cio para o leitor a verificação dos seguintes


exemplos.

Exemplo 3.4.8. limx→+∞ x5 − 4x2 + 3x3 − x2 + 1 = +∞.


Dica: Coloque em evidência o fator x5 e proceda como foi mostrado.
x2 − 3x + 4
Exemplo 3.4.9. limx→−∞ = −∞.
x+3
Dica: Análogo ao anterior.
91

2.8
y
2.6

2.4

2.2

2.0

1.8

1.6

1.4

1.2

1.0

0.8

0.6

0.4

0.2

-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5
x

1
Figura 3.8: Gráfico de
x2

3.5 TEOREMA DO VALOR INTERMEDIÁRIO

Terminaremos este capı́tulo falando de um importante teorema de


funções contı́nuas. Tal teorema tem grande importância quando o
interesse é mostrar a existência de raı́zes de certas equações. Muitas
das vezes precisamos garantir que existe uma solução para só depois
buscá-la. Geralmente, utilizamos o Teorema do Valor Intermediário
nestes casos.

Teorema 3.5.1. Seja f : [a, b] → R uma função contı́nua. f assume to-


dos os valores existentes em [f (a), f (b)] (ou [f (b), f (a)]), dependendo
de quem seja menor, f (a) ou f (b)).

Ou seja, dado qualquer β ∈ [f (a), f (b)], existe x ∈ [a, b] tal que


f (x) = β. Análogo para o caso f (a) > f (b). Podemos também dizer
que a imagem de um intervalo fechado por uma função contı́nua é um
intervalo fechado.

Exemplo 3.5.1. Pelo Teorema do Valor Intermediário, todo polinômio


92

Y
y = f (x) Y
y = g(x)
f (b)
Não existe c Î ] a , b [
(c, f (c))
d g (b) tal que g (c) = d

f (a ) d

g(a)

0 a c b X 0 a b X

Figura 3.9: O Teorema do Valor Intermediário

p de grau ı́mpar e coeficientes reais tem raı́z real. De fato, lem-


brando que o limite depende do termo de maior expoente an xn , uma
das duas situações se verifica: se an > 0 temos limx→−∞ p(x) =
−∞ e limx→+∞ p(x) = +∞, caso contrário, limx→−∞ p(x) = +∞ e
limx→+∞ p(x) = −∞.

Exemplo 3.5.2. Vejamos o teorema do ponto fixo de Brouwer. Ele


nos diz que se f : [a, b] → [a, b] então f tem um ponto fixo, i.e., existe
γ ∈ [a, b] tal que f (γ) = γ.

Exemplo 3.5.3. A função f tal que f (x) = 1 − x2 tem um ponto fixo no


intervalo [0, 1].
Notemos que a função f é contı́nua e f (0) = 1, f (1) = 0. Pelo Teo-
rema do Valor Intermediário, f assume todos os valores compreendi-
dos entre [f (1), f (0)] = [0, 1]. Pelo Teorema do ponto Fixo de Brouwer,
ela possui um ponto fixo em [0, 1]. Você seria capaz de dizer qual o
ponto fixo de f ?

Às vezes precisamos tomar restrições de funções para mostrar que


elas possuem ponto fixo. Procure resolver vários exercı́cios análogos
ao exemplo anterior.
93

3.6 SAIBA MAIS

Como já foi observado, a resolução de equações é uma das grandes


aplicações da Matemática, uma vez que vários problemas práticos
são modelados dessa forma. Sabemos como resolver equações poli-
nomiais do primeiro e segundo graus, existem algumas fórmulas para
resolver equações polinomiais do terceiro e quarto graus, mas foi
mostrado pelo matemático Abel que não existem fórmulas simples
para encontrar raı́zes de polinômios do quinto grau em diante. Também,
sabe-se que não há fórmulas para resolver equações que envolvem
funções transcendentes, com polinômios e outras funções algébricas.
Daı́ surge a necessidade da utilização de métodos numéricos para
encontrar aproximações de soluções de equações algébricas e tran-
scendentes. O Teorema do Valor Intermediário (visto na seção ante-
rior) é uma ferramenta muito útil quando consideramos equações com
uma variável, a seguir apresentamos uma versão do teorema que é
mais adequada a estas aplicações:

Teorema 3.6.1. Se f é uma função contı́nua em [a, b] com f (a).f (b) <
0 então, existe c ∈ (a, b) tal que f (c) = 0.

Vejamos como exemplo, o cálculo da taxa (λ) de crescimento po-


pulacional de uma cidade que possuia no ano passado 1.000.000 de
habitantes, com uma imigração de 435.000 habitantes no ano e que
no presente tenha uma população de 1.564.000 habitantes. Usando a
teoria de equações diferenciais (tópico que será abordado em outra
disciplina do curso de Matemática) obtemos que para encontrar o
valor λ desejado, é suficiente encontrar um zero da função f (λ) :=
1000000eλ + 435000
λ
(eλ −1)−1564000, isto é, devemos resolver o seguinte
problema:
f (λ) = 0 (3.1)

Pelo Teorema do Valor Intermediário (TVI), temos que existe um zero


da equação (3.1) no intervalo (0, 1; 0, 3) uma vez que f (0, 1) = −1335, 588295
e f (0, 3) = 2, 931540786 × 105 . A escolha do próximo ponto para testar
94

o valor da função, será feita tomando-se o ponto médio do intervalo


(0, 1; 0, 3) e testando o sinal de f nesse novo ponto. Como f (0, 2) =
1, 389537572×105 então, o TVI indica que o novo intervalo de pesquisa
será (0, 1; 0, 2) (as imagens dos extremos têm sinais contrários). Apli-
cando o mesmo procedimento (basicamente, o Método da Bissecção)
sucessivas vezes, podemos com o auxı́lio de um computador ou uma
calculadora cientı́fica obter as seguintes aproximações:

x f (x)

0, 1 −1335, 588295
0, 3 2, 931540786 × 105
0, 2 1, 389537572 × 105
0, 15 67153, 54664
0, 125 32505, 06974
0, 1125 15484, 98364
0, 10625 7049, 909307
0, 103125 2850, 982176
0, 1015625 756, 1546967

Tabela 3.1: Aproximações usando bissecções

A Tabela 3.1 mostra que existe uma raiz da equação (3.1) no inter-
valo (0, 1; 0, 1015625). Que tal continuar o procedimento?

Na próxima unidade, apresentaremos o Método de Newton que, na


resolução de equações não-lineares, é mais eficiente e, portanto, mais
utilizado em situações práticas.
95

3.7 EXERCÍCIOS

1. Resolva os seguintes limites:

(a) lim x2
x→−2

(b) lim x2 + 2
x→−3

(c) lim x5 − 4x
x→0

(d) lim cos x


x→π

(e) limπ sen 3x


x→ 2

x2 − 9
(f) lim
x→3 x − 3
√ √
3
x− 32
(g) lim
x→2 x−2

x−2
(h) lim √ √
x→4 x+3− 7
2x5 + 2
(i) lim
x→−1 1 − x2
√ √
n
x− na
(j) lim
x→a x−a
2. Mostre que lim f (x) = L ⇔ lim | f (x) − L |= 0. (Esta é uma
x→a x→a
outra maneira de encontrarmos limites.)

3. Continue calculando:

(a) lim 2y − 3z
x→1

(b) lim 8
x→2

(c) lim 2xyz


x→3
−5h
(d) lim
8xz
x→4
5
(e) lim
x→0 3x

4. Calcule os seguintes limites laterais:

x
(a) lim +
x→−1 | x |

|x|
(b) lim−
x→0 x
96

|x−3 |
(c) lim+
x→3 x−3

 x2 − 2x, se x < 2
(d) lim− f (x), onde f (x) = .
x→2  3x−4 , se x ≥ 2

(e) lim+ cos x


x→π

5. Dê exemplo de funções que possuem limites laterais em um


ponto iguais, mas que não sejam contı́nuas neste ponto.

6. Dê exemplo de funções que não possuam limites laterais iguais


em um ponto.

7. Dê exemplo de funções descontı́nuas.

8. Dê exemplo de funções contı́nuas.

9. Calcule os seguintes limites quando existirem.

sen x
(a) lim
x→+∞ x5 + 3x2
(b) lim+ xcotg x
x→0

(c) lim− x
x→0

(d) lim− 3 x
x→0

x2 − x + 9
(e) lim
x→−∞ x7 − 8x2 − 3x − 2

10. Verifique se as funções a seguir são contı́nuas nos pontos da-


dos:

(a) f (x) = 18x − 6, no ponto x = 2


3
(b) f (x) = x2 + − 2, no ponto x = 0
x3
1
(c) f (x) = , no ponto x = π
cos x
(d) f (x) = x sen x, ponto x = 0

sen x
11. Utilizando o limite fundamental lim = 1, calcule os seguintes
x→0 x
limites:

sen (8x)
(a) lim
x→0 8x
97

sen (3x)
(b) lim
x→0 2x
4x
(c) lim
x→0 sen (5x)

x
(d) lim
x→0 tg x

sen (x2 − 9)
12. O que você pode dizer sobre lim ?
x→3 x−3

13. Mostre que lim f (x) = L ⇔ lim | f (x) |=| L |. Vale a recı́proca?
x→a x→a
Em caso negativo, dê exemplos.

14. Dê exemplos de funções tais que lim | f (x) | existe mas não
x→a
existe lim f (x).
x→a

15. Calcule os seguintes limites:


(a) lim (x − x2 + 1)
x→+∞
√ √
(b) lim ( x − 1 − x − 2)
x→+∞
√ √
(c) lim ( x2 + x + 1 − x2 + x − 1)
x→+∞
x
(d) lim √
x→+∞ x2 − 2x

16. Mostre que todo polinômio de grau ı́mpar possui pelo menos
uma raiz real.

17. Dizemos que uma função f : [a, b] → R é Lipschitziana se ex-


iste K > 0 tal que | f (x) − f (y) |≤ K | x − y |. Mostre que
toda função Lipschitziana é contı́nua. Dê exemplos de funções
Lipschitzianas.

18. As laranjeiras no Paraná produzem 60 laranjas por ano se não


for ultrapassado o limite de 20 árvores por acre. Para cada
árvore plantada a mais por acre o rendimento baixa em 15 laran-
jas. Denote por x o número de árvores plantadas por acre. Ex-
presse o número de laranjas produzidas por ano em função de
x e mostre que ela é uma função contı́nua.
98

19. Sabendo que se f (x) = x2 − 2, temos f (1).f (2) < 0, use o pro-
cedimento do Método da Bissecção para encontrar uma solução
x da equação f (x) = 0, de modo que 1 < x < 2.
Referências Bibliográficas

[1] COURANT, R. Cálculo Diferencial e Integral, vol. 1., Ed. Globo,


1965.

[2] FIGUEIREDO, D. G. Análise I, 2a. edição, Ed. Livros Técnicos e


Cientı́ficos, 1996.

[3] GUIDORIZZI, H.L. Um curso de Cálculo, vols. 1, 2, 3, 4. Livros


Técnicos e Cientı́ficos, 2001.

[4] LIMA, E. L. Curso de Análise, vol. 1, 8a. Edição, Instituto de


Matemática Pura e Aplicada, CNPq, Rio de Janeiro, 2004.

[5] http://www.rpm.org.br/novo/conheca/60/limites.pdf.
Acesso em 08/03/2008 às 10h10min.

[6] http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/superior/.
Acesso em 26/06/2008 às 09h40min.

[7] http://a1.analisematematica.vilabol.uol.com.br/pag013.html.
Acesso em 25/06/2008 às 09h30min.

99
U ni da
Unidade 4de 1
AA soc
sociolo
iologia
gia ee a
a
SocAiolo
Soc Derivada
iolo gia da
gia da Edue caç
Edusuas
cação
ão
aplicações

Resumo
Nesta unidade, introduzimos um conceito muito
importante no Cálculo: a derivada. Apresentamos
aplicações na Física para motivar o nosso estudo.
Enunciamos o Teorema do Valor Médio e fazemos
várias aplicações, dentre elas, o esboço de gráficos de
funções.
Indicamos alguns livros mais avançados e links para o
aprofundamento de conteúdo.
SUMÁRIO DA UNIDADE

UNIDADE 4. A Derivada e suas Aplicações


4.1 Definição de derivada de uma função 103
4.2 Taxa de variação 116
4.3 Variação das funções e esboço de gráfico 120
4.4 Saiba mais 130
4.5 Exercícios 132
Referências bibliográficas 139
4. A DERIVADA E SUAS
APLICAÇÕES

Após uma rápida excursão ao mundo das funções contı́nuas e dos


limites em geral estamos aptos a estudar um conceito importantı́ssimo
em Matemática: a derivada. Ela possui inúmeras aplicações, dentre
as quais estão as mais conhecidas, como encontrar a reta tangente a
uma curva qualquer em um ponto dado, calcular taxas de crescimento
e de decrescimento, esboço de gráficos de funções, aproximação de
funções arbitrárias por funções lineares.
Apenas com essas aplicações sentimos a importância da derivada
para nossos estudos. Como já vimos o conceito de limite de funções
e a derivada é um tipo de limite, seremos mais breves nas nossas Um leitor mais cu-
explicações, dando mais ênfase nos exemplos e exercı́cios. Evitare- rioso pode visitar o
mos dar demonstrações, já que elas na sua maioria tratam-se de site do projeto da
cálculos de limites. Deixaremos tais demonstrações como exercı́cio Universidade Es-
para o leitor. tadual de Maringá
Continuamos nosso estilo e apresentaremos os seguintes proble- que produziu um
mas, que tentaremos resolver com as ferramentas a serem adquiridas interessante kit de
nesta unidade. sobrevivência em
Cálculo.
Problema 4.0.1. Um corpo movimenta-se no espaço. Sua velocidade
pode ser expressa como função do tempo, de acordo com a equação
v(t) = t3 − t2 + 1, dada em m/s. Qual a aceleração deste corpo no
instante t = 5s? E no instante t = 90s? Trace o gráfico da função v.

102
103

Problema 4.0.2. Uma partı́cula movimenta-se ao longo de uma reta


”metrada” segundo a equação de posição S(t) = e−2t cos 3t, sendo t
o tempo dado em segundos.

a) Encontre as funções da velocidade e da aceleração da partı́cula;

b) Calcule a velocidade e a aceleração no instante t = 0, 5s;

c) Esboce o gráfico da função S;

d) Calcule lim S(t);


t→+∞

e) O que está acontecendo com a partı́cula? Está parando?

Problema 4.0.3. Suponha que o custo seja de

c(x) = 8x3 − 24x2 + 30x

reais para produzir x aparelhos de ar condicionado quando são pro-


duzidos de 8 a 30 e que

r(x) = 8x3 − 12x2 + 24x

represente o rendimento da venda de x aparelhos de ar condicionado.


Uma determinada empresa produz 10 aparelhos por dia. Qual será o
custo adicional aproximado para produzir um aquecedor a mais por dia
e qual o aumento estimado no rendimento na venda de 11 aparelhos
por dia?

4.1 DEFINIÇÃO DE DERIVADA DE UMA FUNÇÃO

A equação de uma reta é dada por r : y − y0 = mr (x − x0 ), onde


mr é o coeficiente angular da reta r e (x0 , y0 ) ∈ r. Vejamos a figura da
reta s : y − 4 = 3x − 2:
Já sabemos do Ensino Médio como encontrar retas tangentes a
circunferências em um ponto dado. Por exemplo, vejamos o caso da
104

y 16
14
12
10
8
6
4
2

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
-2 x
-4
-6
-8
-10
-12

Figura 4.1: Reta s

5
y
4

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-1

-2

-3

-4

-5

√ !
− 2 √ √
circunferência Γ : x2 + y 2 = 9 e a reta r : y = √ (x − 2) + 7,
7
√ √
tangente a Γ no ponto ( 2, 7):
Mas nós não estamos interessados apenas em calcular, encontrar
retas tangentes a circunferências. Pretendemos encontrar, quando
possı́vel, retas tangentes a quaisquer curvas. Para isso, teremos que
raciocinar da seguinte maneira:

• Traçamos as retas secantes a f passando pelo ponto (x0 , f (x0 )).


As equações destas retas são do tipo
 
f (xn ) − f (x0 )
rn : y − f (x0 ) = (x − x0 ).
yn − y0

(Concorda?)

• Tomando pontos cada vez mais próximos de x0 , as retas se-


cantes tendem à reta tangente a f no ponto (x0 , f (x0 ))
105

Figura 4.2: Retas secantes e tangente a f

• O coeficiente angular da reta tangente é, então, obtido pelo limite

f (x) − f (x0 )
lim .
x→x0 x − x0

• Chamando tal limite de f ′ (x0 ), a equação da reta tangente a f


no ponto em questão é dada por:

Tf : y − f (x0 ) = f ′ (x0 )(x − x0 ).

f (x) − f (x0 )
Evitamos uma notação mais ”carregada”. O limite lim
x→x0 x − x0
é a derivada de f no ponto x = x0 . Com isso, já aprendemos um sig-
nificado para a derivada de uma função. Ela mede, no ponto x0 dado,
o coeficiente angular da reta tangente à função em questão no ponto
(x0 , f (x0 )).

f (x) − f (x0 )
Definição 4.1.1. Sejam f e x0 ∈ Dom(f ) dados. O limite lim
x→x0 x − x0
é dito a derivada de f no ponto x0 quando existe e é finito. Denotare-
df
mos tal limite por f ′ (x0 ) ou por (x0 ).
dx
106

É comum nos referimos à derivada de f (sem especificarmos o


df
ponto) apenas por f ′ ou .
dx

Exemplo 4.1.1. Talvez a derivada mais simples que conhecemos seja


a de uma função constante. Seja g uma função constante, i.e., g(x) =
k, para algum k real e para todo x no domı́nio de g. Vejamos quem é
g ′ (x0 ):
g(x) − g(x0 ) k−k
g ′(x0 ) = lim = lim = 0.
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0
Assim, a derivada de qualquer função constante é nula em todos
os seus pontos. Interprete isto geometricamente.

Exemplo 4.1.2. Seja a função real f tal que f (x) = ax + b. Vejamos


quem é f ′ (x0 ):
f (x) − f (x0 ) ax + b − (ax0 + b)) a(x − x0 )
f ′ (x0 ) = lim = lim = lim =
x→x0 x − x0 x→x 0 x − x0 x→x 0 x − x0
a.
Portanto, a derivada de f (x) = ax + b é igual a a. (Quem é o
coeficiente angular da reta y = ax + b?)

Se chamarmos a diferença x − x0 de h, obtemos que quando faze-


mos x → x0 estamos também fazendo h → 0. Podemos então definir
a derivada da função f num ponto x0 qualquer por:

f (x0 + h) − f (x0 )
f ′ (x0 ) = lim .
h→0 h
Deixamos como exercı́cio para o leitor a verificação dos exemplos
a seguir.

Exemplo 4.1.3. Dada Q : R \ R, Q(x) = x2 , temos que Q′ (x0 ) = 2x0 .

Exemplo 4.1.4. Seja f uma função real tal que f (x) = x3 . Então
df
(x0 ) = 3x20 .
dx

Um caso mais geral é dado pelo exemplo a seguir. A sua verificação


também é um exercı́cio para o leitor.

Exemplo 4.1.5. Seja f uma função real dada por f (x) = αxn , onde
n ∈ N e α ∈ R. Então f ′ (x0 ) = nαxn−1
0 .
107

Com estes exemplos podemos resolver vários exercı́cios. Passe-


mos então a ver alguns deles.

Exemplo 4.1.6. Encontre a reta tangente à função f dada por f (x) =



4x2 no ponto de abscissa x = 3.
Solução: Sabemos que a derivada no ponto x0 de f é dada por
√ √
f ′ (x0 ) = 8x0 . Assim, f ′ ( 3) = 8 3. A equação da reta tangente a f
√ √ √
no ponto de abscissa 3 é dada por: y−12 = 8 3(x− 3). (Verifique!)
Vejamos o gráfico:

100
y
90

80

70

60

50

40

30

20

10

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
-10 x
-20

-30

-40

-50

-60

-70

-80

Vejamos mais um exemplo que envolva retas tangentes:

Exemplo 4.1.7. Trace a reta tangente ao gráfico da função real f (x) =


3x2 passando pelo ponto (−1, 3).
Solução: Outro exercı́cio bastante simples, pois já sabemos que
f ′ (x) = 6x. Assim, f ′ (−1) = −6 e a reta rangente tem a equação dada
por y − 3 = −6(x + 1). (Verifique!)

y 70

60

50

40

30

20

10

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-10

-20

-30
108

Até agora todas as funções apresentadas eram deriváveis nos


pontos indicados. Mas isso nem sempre acontece. Para se ter uma
idéia, existem funções que possuem derivadas em poucos pontos, se
comparados com o domı́nio da função. Na verdade, existem funções
que não são deriváveis em nenhum ponto. Entenderemos melhor isto
após vermos uma proposição que afirma que toda função derivável
é contı́nua. Com ela podemos garantir que se uma função não é
contı́nua, então ela é não-derivável. Passemos para dois exemplos
de funções não-deriváveis em algum ponto dos seus domı́nios.

Exemplo 4.1.8. A função modular f (x) =| x | é não-derivável no ponto


x = 0. Vejamos o motivo:
|x|−|0|
A derivada no ponto x = 0 é dada por f ′ (0) = limx→0 =
x−0
|x| |x|
limx→0 . Mas este limite não existe, já que os limites laterais limx→0+ =
x x
|x|
1 e limx→0− = −1 são diferentes.
x

 x2 , se x < 1
Exemplo 4.1.9. Seja a função g dada por g(x) = .
 −x2 + 2, se x ≥ 1
Calcule g ′ (1).
Solução: Claro que é de fácil constatação que o ”problema” está
no ponto x = 1. Vejamos seu gráfico:
y 24
22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
-2 x
-4
-6
-8
-10
-12
-14
-16
-18
-20
-22

Como se tratam de comportamentos diferentes, analisemos os lim-


ites laterais para a derivada de g no ponto x = 1. Preste atenção na
notação que usaremos para falarmos das ”derivadas laterais”.
109

′ g(x) − g(1) x2 − 1
g− (1) = lim− = lim− = lim− x + 1 = 2.
x→1 x−1 x→1 x − 1 x→1

′ g(x) − g(1) −x2 + 2 − 1


g+ (1) = lim+ = lim+ = lim+ −(1 + x) = −2.
x→1 x−1 x→1 x−1 x→1

Ou seja, os limites laterais são diferentes e não existe o limite de-


sejado. Quer dizer, não existe g ′(1).

Proposição 4.1.2. Seja f uma função real. Se f é derivável em um


ponto a, então ela é contı́nua em a.

Demonstração. Uma demonstraç


 ão bem
 simples é a seguinte. Note-
f (x) − f (a)
mos que f (x) − f (a) = (x − a), para x 6= a, é claro. O
x−a
interesse é estudar o comportamentonas proximidades de a, não em
a especificamente.  
f (x) − f (a)
Assim, lim (f (x) − f (a)) = lim (x − a) =
 x→a
 x→a x−a
f (x) − f (a)
lim (lim x − a) = f ′ (a) · 0 = 0 e f é contı́nua em a.
x→a x−a x→a

Antes de vermos mais derivadas de outras funções veremos as


regras de derivação. Com elas podemos derivar somas, subtrações,
multiplicações e divizões de funções, apenas conhecendo as derivadas
das funções envolvidas nas operações.

• Regras de derivação. Sejam as funções f e g deriváveis em a.


f
As funções f + g, f − g, f · g, são deriváveis em a e vale:
g

d(f + g) df dg
a) (a) = (a) + (a)
dx dx dx

d(f − g) df dg
b) (a) = (a) − (a)
dx dx dx

   
d(f · g) df dg
c) (a) = g(a) (a) + f (a) (a)
dx dx dx
110
     
f df dg
d g(a) (a) − f (a) (a)
g dx dx
d) (a) =
dx [g(a)]2

Demonstração. As demonstrações são muito simples. Mostremos duas


delas. No item (a), temos que:

d(f + g) (f + g)(x) − (f + g)(a) f (x) − f (a) + g(x) − g(a)


(a) = limx→a = limx→a =
dx x−a x−a

f (x) − f (a) g(x) − g(a) d d


limx→a + limx→a = f (a) + g(a).
x−a x−a dx dx

Para o item (c), notemos que

(f · g)(x) − (f · g)(a) f (x)g(x) − g(x)f (a) + g(x)f (a) − f (a)g(a)


= .
x−a x−a
Ajuste esta expressão, tome o limite em questão, utilize o fato da con-
tinuidade de g em a e conclua o desejado.
As outras são deixadas como exercı́cio.

Exemplo 4.1.10. Calcule a derivada da função f (x) = x3 + 2x2 − x + 1.


Solução: Pelas regras de derivação, temos que f ′ (x) = 3x2 +4x−1,
já que apenas somamos ou subtraı́mos as derivadas separadamente.
x2 − 3x + 5
Exemplo 4.1.11. Encontre a derivada para a função f (x) = .
x−2
Solução: Primeiramente, vejamos o gráfico de f :
y 9

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5 6 7
-1 x
-2

-3

-4

-5

-6

-7

Aqui temos um quociente de duas funções polinomiais. Para derivar-


mos tal função, deveremos usar as regras de derivação do quociente,
111

da soma e da subtração. Façamos por partes. Chamemos o numer-


ador de u e o denominador de v, isto é, u(x) = x2 −3x+5, v(x) = x−2.
Sabemos

u′ (x)v(x) − v ′ (x)u(x)
que f ′ (x) = . Daı́, fazendo as contas, teremos:
v 2 (x)

(2x − 3)(x − 2) − 1(x2 − 3x + 5)


u′ (x) = 2x−3, v ′ (x) = 1 ⇒ f ′ (x) = ⇒
(x − 2)2

x2 − 4x + 1
f ′ (x) = .
(x − 2)2
Falaremos agora das derivadas das funções trigonométricas. Seguindo
nossa linha de raciocı́nio, mostraremos apenas alguns resultados e
deixaremos o resto como exercı́cio.

Proposição 4.1.3. Sejam as funções trigonométricas sen , cos, tg, sec, cossec, cotg
As suas derivadas são dadas por:

dsen
• (x) = cos x
dx
d cos
• (x) = −sen x
dx
dtg
• (x) = sec2 x
dx
d sec
• (x) = sec x tg x
dx
dcotg
• (x) = −cossec2 x
dx
dcossec
• (x) = −cossec x cotg x
dx
dsen sen (x + h) − sen x 2sen (h/2) cos [(2x + h)/2
Demonstração. (x) = lim = lim
 dx h→0
 h h→0 h
sen (h/2)
lim cos [(2x + h)/2] = cos x.
h→0 h/2
Verifique com cuidado todas as passagens acima. Admitindo que
d cos
(x) = −sen x (Verifique!) e utilizando a regra da derivação do
dx
quociente, obtemos que:

d cos x cos x + sen x sen x 1


tg (x) = 2
= = sec2 x.
dx cos x cos2 x
112

Analogamente, vejamos:

d − cos x
• cossec (x) = = −cossec x cotg x.
dx sen2 x
Exemplo 4.1.12. Calcule a derivada da seguinte função: h : R →
R, h(x) = x2 + sen x. Encontre a equação da reta tangente ao gráfico
de h no ponto (0, 0).
dh
Solução: A derivada de h é dada por (x) = 2x + cos x. O co-
dx
eficiente da reta tangente ao gráfico de h no ponto (0, 0) é dado por
dh
(0) = 1. Assim, a equação de tal reta é dada por Th : y = x.
dx
Vejamos a figura:
26
y
24

22

20

18

16

14

12

10

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-2

-4
113

Exemplo 4.1.13. Encontre a reta tangente ao gráfico da função f (x) =


π π
xsen x no ponto ( , ).
2 2
Solução: Novamente, sigamos nossa ”receita de bolo”. A derivada
π
de f é dada por f ′ (x) = sen x+x cos x. (Concorda?) Assim, f ′ ( ) = 1.
2
A equação da reta tangente será, então, dada por:

Tf : y = x. Vejamos o gráfico:

5
y
4

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-1

-2

-3

-4

-5

Note que a reta também tangencia o gráfico em outro ponto. Você


seria capaz de dizer qual é este ponto?

Vejamos agora as derivadas das funções exponencial e logarı́tmica.


Não faremos os cálculos, mas convidamos o leitor a procurá-los em
outras obras.
Sejam as funções f : R → R++ , f (x) = ex e g : R++ → R, g(x) =
ln x exponencial e logarı́tmica natural, respectivamente. As suas derivadas
são dadas por:

df
• (x) = ex ;
dx
dg 1
• (x) = .
dx x
1
esse x é tomado em R++ , o domı́nio
Claro que na função g ′ (x) =
x
de g. Podemos ver que a derivada da função exponencial é ela mesma,
ou seja, (ex )′ = ex .

Exemplo 4.1.14. Calcule a derivada da função h(x) = ex sen x.


114

Solução: Utilizando as regras de derivação e o que já conhecemos,


resulta que h′ (x) = ex sen x + ex cos x = ex (sen x + cos x). (Concorda?)

Exemplo 4.1.15. Derive a função u(x) = x(ln x − 1).


1
Solução: u′(x) = ln x − 1 + x( ) = ln x. (Interessante?)
x
Veremos agora a derivação de funções compostas. Aprendendo
a derivar funções compostas o leitor estará apto a derivar a maioria
das funções existentes. Poderá derivar, por exemplo, funções como
ln 2x
f (x) = sen (3x2 ) + 5 . Pedimos novamente que o leitor
x − x4 + 4e3x
relembre o conceito de função composta.

Proposição 4.1.4. Sejam f e g duas funções tais que exista a com-


posta g ◦ f . Admitamos que elas sejam deriváveis. Então a composta
g ◦ f é derivável e vale a seguinte regra, conhecida como regra da
cadeia:

d(g ◦ f ) dg df
(x) = (f (x)) (x).
dx dx dx
Em outra notação, temos que (g ◦ f )′ (x) = g ′ (f (x))f ′ (x).

Omitiremos também a sua demonstração. Vejamos alguns exem-


plos que mostram a importância de tal proposição.

Exemplo 4.1.16. Derive a função f (x) = tg (8x).


Solução: Primeiro elejamos nossas funções componentes da com-
posta, afim de que seja mais fácil aplicar a proposição. Notemos que
g(x) = 8x e h(y) = tg y são tais que h(g(x)) = tg (8x). Assim, a nossa
derivada será dada por:

f ′ (x) = (h ◦ g)′ (x) = h′ (g(x))g ′(x) = 8 sec2 (8x). (Verifique!)

Exemplo 4.1.17. Encontre a derivada da função f (x) = sen (3x2 ) +


ln 2x
x − x4 + 4e3x
5

Solução: É um exercı́cio mais trabalhoso. Mas vejamos que pode-


mos encarar nossa função como soma e divisão de outras funções.
Assim, olhemos para as seguintes funções:
115

• f1 (x) = sen (3x2 );

• f2 (x) = ln 2x;

• f3 (x) = 4e3x ;
f2 (x)
• f4 (x) = .
x5 − x4 + f3 (x)
As suas derivadas são iguais a:

1 ′
f1′ (x) = 6x cos 3x2 ; f2′ (x) = ; f (x) = 12e3x e, finalmente,
x 3

 
1
(x5 − x4 + 4e3x ) − [ln(2x)](5x4 − 4x3 + 12e3x )
x
f4′ (x) = . (Con
(x5 − x4 + 4e3x )2

corda?)
Logo,
 
1
(x5 − x4 + 4e3x ) − [ln(2x)](5x4 − 4x3 + 12e3x )
x
f ′ (x) = 6x cos 3x2 + .
(x5 − x4 + 4e3x )2

Uma importante conseqüência da regra da cadeia para funções


compostas é derivada para funções inversas. Como já sabemos, duas
funções f e g são ditas inversas entre si se acontece f (g(y)) = y,
g(f (x)) = x, para quaisquer x, y pertencentes aos seus respectivos
domı́nios.
Assim, assumindo que f e g são deriváveis, temos que:

(f ◦ g)′ (x) = x ⇒ f ′ (g(x))g ′(x) = 1 ⇒

1
g ′ (x) = .
f ′ (g(x))
Ou seja, temos a expressão para a derivada da inversa de f , sem
precisarmos conhecer g. Vejamos um exemplo bem conhecido:

Exemplo 4.1.18. A inversa da função trigonométrica tg(x) é a função


arco-tangente. Denotamo-la por arc tg(x). Para entendermos bem tal
116

função, saiba que arc tg(x) = y ⇔ arc tg(y) = x. Dizemos que y é o


arco cuja tangente é igual a x.
Calculemos a derivada da função arco tangente. Sabemos que
(tg ◦ arc tg )(x) = x. Reproduzindo o raciocı́nio visto acima, teremos
que:

d arc tg 1 1 1
(x) = 2
= 2 = .
dx sec (arc tg x) 1 + tg (arc tg x) 1 + x2
Veremos mais exemplos de derivadas de funções inversas nos ex-
ercı́cios.

4.2 TAXA DE VARIAÇÃO

Resolvemos abordar esta aplicação da derivada devido à sua im-


portância para a Engenharia e para as outras ciências, como a Fı́sica,
Quı́mica, Economia, etc. Um pensamento importante que devemos
ter em mente é que devemos aprender a teoria, mas também saber
aplicá-la. É interessante o fato de a maioria dos estudantes univer-
sitários atuais saı́rem dos seus cursos sem saberem aplicar os seus
conhecimentos. A Ciência existe para melhorar a nossa vida.
A idéia de taxa de variação está intimamente ligada à Fı́sica. Um
dos motivos dessa forte ligação é que, em geral, se pensa em variação
ao longo do tempo, mas outras variáveis podem ser tratadas do mesmo
modo. Por exemplo, um farmacêutico pode querer saber como alterações
na dosagem influem na resposta de um indivı́duo a uma droga. Um
economista pode querer saber como o custo da produção de uma liga
metálica varia de acordo com o número de toneladas produzido.
No exemplo a seguir, usamos o Problema 4.0.3 para apresentar
uma aplicação de taxas de variação em Economia.

Exemplo 4.2.1. Em uma operação de fabricação, o custo da produção


c(x) é uma função de x, o número de unidades produzidas. O custo
marginal da produção é a taxa de variação do custo em relação ao
117

dc
nı́vel de produção, isto é,. Dessa forma, se c(x) = 8x3 − 24x2 +
dx
30x então, o custo para produzir um aquecedor a mais, quando são
produzidos 10 por dia, é de aproximadamente c′ (10):

c′ (10) = 24x2 − 48x + 30, c′ (10) = 1950

O custo adicional será de 1.950 reais. O rendimento marginal é dado


por:
r ′ (x) = 24y 2 − 24y + 24

A função rendimento marginal estima o aumento no rendimento como


resultado da venda de uma unidade adicional. Ao vender 10 aparel-
hos de ar condicionado por dia, podemos esperar que o rendimento
aumente em torno de:

r ′ (10) = 2184 reais

se a venda aumentar para 11 aparelhos por dia.

Agora, vejamos o significado das taxas de variação em Fı́sica.


Geralmente aplicada a soluções de movimentos de partı́culas, a taxa
de variação nos diz o quanto o corpo está acelerando, como a sua
velocidade está variando, etc.
Suponha que um corpo esteja se movimentando ao longo de uma
direção, com sua posição dependendo do tempo. Costumamos as-
sociar a direção ao eixo das abscissas e interpretar o movimento ao
longo do plano cartesiano. Claro que para estudarmos movimentos
mais complexos necessitamos de ferramentas, teoria mais avançadas.
Digamos a função de posição do corpo seja S. A velocidade média
entre os instantes t1 e t2 é dada por:

S(t2 ) − S(t1 ))
vm = .
t2 − t1

Este quociente já deve ter se tornado familiar para o leitor. Caso
fôssemos calculando as velocidades médias entre instantes cada vez
mais próximos, terı́amos a velocidade instantânea do corpo num ponto
118

dado. Ou seja, a função velocidade é dada por:

S(t + h) − S(t)
v(t) = lim .
h→0 h

No mesmo raciocı́nio, temos que a aceleração do corpo é a variação


da velocidade. Raciocinando analogamente, teremos que:

v(t + h) − v(t)
a(t) = lim .
h→0 h

Podemos agora resolver, pelo menos em parte, os problemas in-


troduzidos no inı́cio desta unidade.

Exemplo 4.2.2. Lembrando o Problema 4.0.1: Um corpo movimenta-


se no espaço. Sua velocidade pode ser expressa como função do
tempo, de acordo com a equação v(t) = t3 − t2 + 1, dada em m/s.
Qual a aceleração deste corpo no instante t = 5s? E no instante
t = 90s? Trace o gráfico da função v.
v(t + h) − v(t)
Solução: A aceleração é dada por: a(t) = lim . Ora,
h→0 h
mas isso é a derivada da função velocidade. Assim, derivando a ex-
pressão v(t) = t3 − t2 + 1, obtemos que a(t) = 3t2 − 2t. Logo, a
aceleração nos instantes t = 5s e t = 90s são, respectivamente, iguais
a a(5) = 65m/s2 e a(90) = 24120m/s2 .
Apenas explicaremos a esboçar gráficos na próxima seção, mas já
adiantamos o gráfico da função v:

Exemplo 4.2.3. Lembrando o Problema 4.0.2: Uma partı́cula movimenta-


se ao longo de uma reta ”metrada” segundo a equação de posição
S(t) = e−2t cos 3t, sendo t o tempo dado em segundos.

a) Encontre as funções da velocidade e da aceleração da partı́cula;

b) Calcule a velocidade e a aceleração no instante t = 0, 5s;

c) Esboce o gráfico da função S;

d) Calcule lim S(t);


t→+∞

e) O que está acontecendo com a partı́cula? Está parando?


119

100
y
80

60

40

20

-5.0 -4.5 -4.0 -3.5 -3.0 -2.5 -2.0 -1.5 -1.0 -0.5 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0
x
-20

-40

-60

-80

-100

-120

-140

Figura 4.3: Gráfico de v

Solução: Sabemos que as equações da velocidade e da aceleração


são iguais a v(t) = S ′ (t), a(t) = v ′ (t) = S (2) (t). (Aqui usamos a
notação f (n) , n ∈ N, que significa a n-ésima derivada da função f ,
i.e., tomamos derivadas sucessivas de f . Por exemplo, a segunda
derivada de uma função é a obtida após derivarmo-la duas vezes.)

Logo, v(t) = (−2)e−2t cos (3t) − 3e−2t sen (3t), a(t) = 12e−2t sen (3t) −
5e−2t cos (3t).

Substituindo os valores dados, conseguimos que v(0, 5) ∼


= −1, 1529m/s
e a(0, 5) = 4, 2733m/s2. Como já dissemos, na próxima seção en-
sinaremos a esboçar gráficos. Mas vejamos o gráfico de S:

1.0
y
0.9

0.8

0.7

0.6

0.5

0.4

0.3

0.2

0.1

0.0
0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2 2.4 2.6 2.8 3.0 3.2 3.4 3.6 3.8 4.0 4.2 4.4 4.6 4.8 5.0
x
-0.1

Figura 4.4: Gráfico de S


120

Agora calculemos o limite lim S(t). Como podemos ver facil-


t→+∞
mente, a função f (x) = cos (3x) é limitada. (Por quê?)
Como lim e−2x = 0 (Verifique!), podemos concluir por uma propriedade
x→+∞
vista na segunda unidade deste livro que lim S(t) = 0. (Qual pro-
t→+∞
priedade?)
Deixamos o item (e) para o leitor refletir. O que você consegue
deduzir?

4.3 VARIAÇÃO DAS FUNÇÕES E ESBOÇO


DE GRÁFICOS

Agora encerraremos esta unidade estudando o esboço de gráficos.


Para isso, teremos que aprender alguns conceitos que serão utiliza-
dos adiante. Basicamente, para esboçarmos o gráfico de uma função,
temos que entender as suas concavidades, o seu crescimento, os
pontos onde ela não se define, etc.
Aproveitaremos a oportunidade e veremos os teoremas de Rolle e
do Valor Médio.

Definição 4.3.1. Seja f uma função definida num intervalo I. Consid-


eremos um ponto γ ∈ I. Dizemos que γ é um ponto de mı́nimo local de
f se, para uma vizinhança V de γ se acontecer f (γ) ≤ f (x), ∀x ∈ V .
Dizemos que ele é ponto de máximo se ocorrer f (γ) ≥ f (x), ∀x ∈ V .

π
Exemplo 4.3.1. O ponto γ = é um ponto de máximo local para a
2
função sen |[0,π] . (Verifique!)

Exemplo 4.3.2. O ponto γ = 0 é um ponto de mı́nimo local para a


função f (x) = x2 . (Por quê?)

Definição 4.3.2. Dada uma função f definida num intervalo I, dize-


mos que f assume um máximo global em I se existir x̄ ∈ I tal que
f (x̄) ≥ f (x), ∀x ∈ I. Análogo para ponto de mı́nimo global.
121

Note que nem sempre a existência de pontos de mı́nimo ou máximo


locais implica a existência de pontos de mı́nimo ou máximos globais.
Vejamos isto no próximo exemplo.
1
Exemplo 4.3.3. Seja a função f : [−1, 1] \ {0} → R \ {0}, f (x) =
.
x
Deixamos a cargo do leitor a verificação de que lim− f (x) = −∞,
x→0
como também lim+ f (x) = +∞. Assim, f não assume nem pontos
x→0
de máximo nem de mı́nimo globais. Mas perceba que nos intervalos
[1/2, 1] e [−1, −1/2] ela assume os valores mı́nimo e máximo local
iguais a 1 e −1 respectivamente. (Concorda?)

Dizemos que uma função f é não-crescente num intervalo J ⊂


Dom(f ) se x1 < x2 ⇒ f (x1 ) ≥ f (x2 ). E dizemos que ela é não-
decrescente nas mesmas condições se x1 < x2 ⇒ f (x1 ) ≤ f (x2 ).
Dizemos que é decrescente ou crescente se as desigualdades anteri-
ores na mesma ordem forem estritas.

Exemplo 4.3.4. A função real f tal que f (x) = x2 é crescente no


intervalo [0, +∞) e decrescente em (−∞, 0]. Repare o comportamento
do gráfico nas duas situações.

24y

22

20

18

16

14

12

10

0
-5.0 -4.5 -4.0 -3.5 -3.0 -2.5 -2.0 -1.5 -1.0 -0.5 0.0
x

Figura 4.5: Gráfico de f |(−∞,0]


122

y
24

22

20

18

16

14

12

10

0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0
x

Figura 4.6: Gráfico de f |[0,+∞)

Teorema 4.3.3 (Rolle). Se f é uma função contı́nua em [a, b] e de-


rivável em (a, b), com f (a) = f (b), então existe γ ∈ (a, b) tal que
f ′ (γ) = 0.

Podemos concluir do teorema de Rolle que dada f nas condições


acima, existe γ ∈ (a, b) tal que a reta tangente ao gráfico de f no
ponto (γ, f (γ)) é paralela ao eixo das abscissas. Vejamos uma figura
ilustrativa:

Teorema 4.3.4 (Teorema do Valor Médio). Seja f uma função contı́nua


em [a, b] e derivável em (a, b). Existe γ ∈ (a, b) tal que

f (a) − f (b)
f ′ (γ) = .
a−b

f (a) − f (b)
Perceba que o quociente é o coeficiente angular da
a−b
reta que passa por (a, f (a)) e (b, f (b)). Já sabemos também que a
derivada num ponto representa o coeficiente angular da reta que tan-
gencia o gráfico da função no ponto dado. Logo, uma interpretação
geométrica do teorema o valor médio é que dados dois pontos a, b
123

quaisquer no domı́nio de uma função f , existe um ponto γ entre eles


tal que a reta tangente ao gráfico de f no ponto (γ, f (γ)) é paralela à
reta que passa por (a, f (a)) e (b, f (b)).
Uma conseqüência imediata do teorema do valor médio é a seguinte:

Proposição 4.3.5. Se f é uma função contı́nua num intervalo fechado


[a, b] e contı́nua em (a, b) então:

• se f ′ (x) = 0 para todo x ∈ (a, b) então f é constante em [a, b];

• se f ′ (x) > 0 para todo x ∈ (a, b) então f é crescente em [a, b];

• se f ′ (x) < 0 para todo x ∈ (a, b) então f é decrescente em [a, b].

Demonstração. Esboçaremos uma demonstração para esta proposição.


f (a) − f (b)
Pelo teorema do valor médio, existe γ ∈ (a, b) tal que f ′ (γ) = .
a−b
f (a) − f (b)
Mas no primeiro caso, isso acarreta f ′ (γ) = 0, ou seja, =
a−b
0 ⇒ f (a) = f (b). Raciocinando indutivamente, conclui-se que f é
constante em [a, b]. (Por quê?)
f (a) − f (b)
No segundo caso, teremos > 0 ⇒ f (a) < f (b). (Lembre-
a−b
se que a < b!) Daı́, raciocinando novamente indutivamente, temos
que a função é crescente em [a, b]. Raciocı́nio análogo para o terceiro
caso.

A proposição acima já nos ensina como estudar o comportamento


de uma função quanto ao seu crescimento. Para sabermos se uma
função é crescente em um intervalo, basta derivarmo-la e vermos que
tal derivada é positiva para todos os pontos do tal intervalo. Para saber
se é decrescente, basta ver se sua derivada é negativa, e constante
se é nula.
A próxima proposição nos dirá como encontrarmos os pontos de
mı́nimo e de máximo de uma função.

Proposição 4.3.6. Seja f uma função derivável numa vizinhança Vc =


(c − δ, c + δ), δ > 0 do ponto c tal que f ′ (c) = 0.

• Se f ′ é crescente em Vc , então c é um mı́nimo local de f ;


124

• Se f ′ é decrescente em Vc , então c é um máximo local de f

Para demonstrar tal fato, o leitor deve verificar que no primeiro caso
teremos f ′ (x) < 0, ∀x ∈ (c − δ, c] e f ′ (x) > 0, ∀x ∈ [c, c + δ). Ou seja,
f é decrescente em (c − δ, c) e crescente em (c, c + δ). Raciocine
analogamente para o segundo caso. (O fato de f ′ (c) = 0 é crucial!)

Exemplo 4.3.5. Vejamos uma aplicação das proposições anteriores


num exemplo bem simples. Seja f uma função real tal que f (x) = x2 .
Já é sabido do leitor que f é decrescente em (−∞, 0] e crescente
em [0, +∞). Vejamos se conseguimos isto com a ajuda das nossas
proposições anteriores.
A derivada de f é dada por f ′ (x) = 2x. Assim, para x ∈ (−∞, 0)
temos que f ′ (x) < 0. Para x ∈ (0, +∞) temos que f ′ (x) > 0. E, além
disso, f ′ (0) = 0 e este é o único ponto onde f ′ ”zera”. Logo, pela
proposição acima, obtemos que f é decrescente em (−∞, 0) e cres-
cente em (0, +∞). O fato de x = 0 ser o único ponto de mı́nimo da
função nos garante que podemos tomar os intervalos acima da forma
com que os tomamos. Se analisarmos o seguinte limite lim x2 , obte-
x→∞
mos que lim x2 = +∞ = lim x2 . (O que você consegue concluir
x→−∞ x→+∞
disso?)

Exemplo 4.3.6. Seja a função seno tomada no intervalo fechado [−π, π].
Vejamos um estudo na variação de tal função.
A sua derivada é dada por sen′ x = cos x. No intervalo em questão,
−π π
a função cosseno assume valor zero nos pontos x1 = e x2 = .
2 2
No intervalo [−π, 0] ela é crescente e em [0, π] é decrescente. Pela
−π π
proposição anterior, concluı́mos que os pontos x1 = e x2 = são
2 2
de mı́nimo e máximo locais da função seno, respectivamente. (Con-
corda?)

Raciocinando analogamente para a função f ′ , se existir a derivada


de f ′ , i.e., se existir f ′′ obtemos que:

• Quando f ′′ (x) > 0 para todo x no intervalo de definição da


função, então f ′ é crescente;
125

• Quando f ′′ (x) < 0 para todo x no intervalo de definição da


função, então f ′ é decrescente;

Com isso podemos estudar o comportamento da função auxiliados


pelas informações obtidas da sua derivada segunda. Nem sempre
é simples analisar os intervalos de crescimento e decrescimento de
f ′ apenas pela sua definição. Logo, é melhor estudar o sinal de f ′′ ,
quando esta existir.
Agora qualifiquemos uma função num determinado conjunto quanto
à concavidade. Para entendermos a importância disto, vejamos as fig-
uras:
y 120

110

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0
x

Figura 4.7: Função crescente com concavidade para baixo

1.6
y
1.4

1.2

1.0

0.8

0.6

0.4

0.2

0.0
0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0
x
-0.2

-0.4

-0.6

-0.8

Figura 4.8: Função crescente com concavidade para cima


126

y
0.8

0.6

0.4

0.2

0.0
0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0
x
-0.2

-0.4

-0.6

-0.8

-1.0

-1.2

-1.4

-1.6

Figura 4.9: Função decrescente com concavidade para cima


x
0 1 2 3 4 5
0
y
-10

-20

-30

-40

-50

-60

-70

-80

-90

-100

-110

-120

Figura 4.10: Função decrescente com concavidade para baixo

Ou seja, não basta dizer que a função é crescente num intervalo.


Devemos dizer como ela cresce. Uma definição grosseira para os
tipos de concavidade é a seguinte:

• A função tem concavidade para baixo num intervalo quando as


retas tangentes a ela ficam acima do seu gráfico. Chamamos de
côncava no intervalo tal função;

• Ela tem concavidade para cima num intervalo quando as tan-


gentes a ela ficam abaixo do seu gráfico. Chamamos de convexa
no intervalo tal função.

Exemplo 4.3.7. A função real tal que f (x) = x2 é convexa em toda a


reta.

Exemplo 4.3.8. A função seno no intervalo [0, π] é côncava.

Proposição 4.3.7. Seja f uma função até duas vezes derivávelnum


intervalo I. Se f ′′ (x) > 0 para todo x ∈ I, então f é convexa em I. Se
f ′′ (x) < 0 para todo x ∈ I, então ela será côncava em I.
127

Exemplo 4.3.9. Para a função f (x) = x2 , temos que f ′ (x) = 2x ⇒


f ′′ (x) = 2 > 0, ∀x ∈ R. Logo, f é convexa em toda a reta real.

Exemplo 4.3.10. A função seno no intervalo [0, π] é tal que: sen′ x =


cos x ⇒ sen′′ x = −sen x < 0, ∀x ∈ [0, π]. Logo, a função seno é
côncava em [0, π].

Por último, falemos nos pontos de inflexão. Dizemos que um ponto


c ∈ (a, b) é um ponto de inflexão para f se ela possuir concavidades
de tipos diferentes em [a, c] e [c, b].
Uma regra prática para sabermos se um ponto é de inflexão é a
seguinte:

Proposição 4.3.8. Seja f uma função contı́nua definida num intervalo


[a, b] e derivável em (a, b). Dizemos que c ∈ (a, b) é um ponto de
inflexão se tivermos f ′ (c) = f ′′ (c) = . . . = f (n−1) (c) = 0, mas f (n) (c) 6=
0, com n ∈ N e n ı́mpar.

Geralmente, só precisamos calcular até a terceira derivada de uma


função. Nas duas primeiras derivadas, temos f ′ (c) = 0, mas f ′′′ (c) 6=
0.

Exemplo 4.3.11. Mostremos tal fato com um exemplo simples. Seja


f tal que f (x) = x3 . Notemos que:

• f ′ (0) = 0;

• f ′′ (0) = 0;

• f ′′′ (0) = 6.

Logo, o ponto x = 0 é um ponto de inflexão. Deixamos como


exercı́cio para o leitor a verificação de que x = 0 é ponto de inflexão
através de outro método, o da análise das concavidades. Vejamos o
gráfico de f :
128

y 120

100

80

60

40

20

-5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5
x
-20

-40

-60

-80

-100

-120

Figura 4.11: Gráfico de f

Estamos agora aptos a esboçar gráficos de funções.

x3
Exemplo 4.3.12. Esboce o gráfico de f tal que f (x) = .
x−8
Primeiramente, notemos que a função não está definida no ponto
x = 8. Calculemos as suas derivadas:

3x2 x3
f ′ (x) = − . (Concorda?)
x − 8 (x − 8)2

2x3 6x2 6x
f ′′ (x) = 3
− 2
+
(x − 8) (x − 8) x−8

18x2 6x3 6 18x


f ′′′ (x) = 3
− 4
+ − .
(x − 8) (x − 8) x − 8 (x − 8)2

Notemos que f ′ (x) = 0 ⇒ x = 0 ou x = 12. (Verifique!) Notemos


também que f ′′ (x) = 0 ⇒ x = 0. (Só estamos trabalhando com
números reais!)
3
Agora, vejamos que f ′′′ (0) = − =6 0.
4
Estudemos os limites:

x3
(i) lim+ ;
x→8 x−8
x3
(ii) lim− ;
x→8 x−8
x3
(iii) lim ;
x→+∞ x − 8

x3
(iv) lim .
x→−∞ x − 8
129

O leitor deve verificar que eles são iguais a +∞, −∞, +∞, +∞, re-
spectivamente. Sabendo que x = 0 é ponto de inflexão, deixamos
como exercı́cio para o leitor a análise de crescimento e decrescimento
da função, assim como as concavidades. Vejamos o gráfico de f :
600
y

500

400

300

200

100

-18 -16 -14 -12 -10 -8 -6 -4 -2 2 4 6 8 10 12 14 16 18


x
-100

-200

-300

-400

Figura 4.12: Gráfico de f

No final do livro daremos uma tabela com as derivadas das funções


mais conhecidas.
130

4.4 SAIBA MAIS

Como já foi mencionado na unidade anterior, a resolução de equações


é uma das grandes aplicações da Matemática. O método de Newton
ou Newton-Raphson, consiste em uma técnica de aproximação da
solução de uma equação f (x) = 0. Essencialmente, no método en-
contramos o zero de retas tangentes ao gráfico de f em pontos cada
vez mais próximos da solução desejada, graficamente, temos:

Figura 4.13: O Método de Newton começando em x0

Perceba que começando com um ponto x0 arbitrário, determinamos


o ponto x1 ao resolvermos a equação linear (isto é, encontrando um
zero da reta tangente ao gráfico de f em (x0 , f (x0 ))):

f (x0 ) + f ′ (x0 )(x − x0 ) = 0

isto é, x1 = x0 − f (x0 )/f ′ (x0 ).


Procedendo da mesma forma, obtemos uma fórmula de aproximações
sucessivas:

Passo inicial: Escolha uma primeira aproximação x0 ∈ R

Passo Iterativo: Dado xn , encontre xn+1 com

xn+1 = xn − f (xn )/f ′ (xn ).


131

Observação 4.4.1. É importante enfatizar que para a aplicação do


método, a derivada de f , função f ′ , deve ser não nula nos pontos
considerados (x0 , x1 , x2 , ...).

Agora, apresentamos um exemplo numérico.

435000 x
Exemplo 4.4.1. Considerando f (x) := 1000000ex + x
(e − 1) −
1564000, vamos resolver o problema f (x) = 0. Para isso, vamos con-
siderar como aproximação inicial x0 = 0, 3 (compare esse exemplo
com aquele apresentado na seção Saiba Mais da Unidade 3, Tabela
3.1.).

x f (x)

0, 3 2, 931540786 × 105
0, 1186118371 23781, 82588
0, 1011434562 194, 8717684
0, 1009979397 0, 0134089706
0, 1009979297 1, 908087536 × 10−5
0, 1009979296 1, 282087068 × 10−16

Tabela 4.1: Aproximações usando Método de Newton

Lembre-se que procurando x ∈ R tal que f (x) = 0, encontramos:

x = 0, 1009979296, |f (x)| < 10−15 ,

que é uma boa aproximação da solução do problema original.

Tente aplicar o Método de Newton para resolver f (x) = 0, onde


f (x) = x2 − 3.
132

4.5 EXERCÍCIOS

1. Calcule as derivadas das seguintes funções:

(a) f (x) = 3x2 − 5x + 2

(b) f (x) = 9x3 − 14x2 − 9

(c) f (x) = 100x + 1


x+1
(d) f (x) =
2x + 3
(e) f (x) = (4x2 + 13x)(tg (x) − 4x)
8x
(f) f (x) = (ex + sen x)(3x2 − 3) +
cos x + ln x
2
(cossec (x) − 6x2 ln x) sen x 1
(g) f (x) = 3x − +
2
(x − 9) 2 2
π(x + 2 cos x) x
(h) f (x) = tg x + 2x2 + 3

(i) f (x) = ln x − 2 sec x

(j) f (x) = 2x + 4

(k) f (x) = 0

2. Para cada função no exercı́cio acima, calcule f ′ (7), f ′(11) e f ′ (13).

3. Ache as equações das retas tangentes aos gráficos das funções


dadas no primeiro exercı́cio nos pontos x = 7, x = −13.

4. Calcule as derivadas das seguintes funções, quando existirem:

(a) f (x) = sen (8x3 + 12x)

(b) f (x) = cos (12x + 3 ln 2x)


2x + 3
(c) f (x) = x tg ( )
(4x − 1)2
(d) f (x) = ln 5x
2 2x
(e) f (x) = sec (2x2 + 2) − cotg [ (e + 4 ln 3x)]
5x
(f) f (x) = cos (x ln 5x3 )
1
15x6 − 3x sen (2x3 + ) 
2x5 ) ln( 5x + 1 ) + (8√3x)

(g) f (x) = (
(x − 4)2 2x − 4
133

(h) f (x) = 2x + 8 cos (2 + x ln 5x6 )

(i) f (x) = x2 + sen2 (2πe2x+4 )


1
(j) f (x) =
2x ln 9x
x4 − x3
(k) f (x) =
x−9
x5 + cossec (2x + ln2 3x)
(l) f (x) =
(x2 − 12e2x7 )
5. Encontre as retas tangentes às funções dadas no ponto de ab-
scissa x = 1:

(a) f (x) = x2 (ln 2x)


2x2
(b) f (x) = sen (3x − 5) + cos
4 + x5
(c) f (x) = sen x + cos x
 3 
2x + 4x
(d) f (x) = ln
2sen 2x
2
(e) f (x) = e 3x

6. Mostre que a derivada de f (x) = ax , a > 1 é f ′ (x) = ax ln x.

1 1 1 −1
7. Mostre que a derivada de f (x) = x n é f ′ (x) = x n , onde
n
n ∈ N.

8. Mostre que a derivada de g(x) = xr é g ′ (x) = rxr−1 , onde r ∈ Q.


O que você pode deduzir para a função h(x) = xα , onde α ∈ R?

9. Encontre, se possı́vel, as retas tangentes às funções dadas que


são paralelas à reta r : y = 3x − 5:

(a) f (x) = 2 cos 3x

(b) f (x) = 3x(ln 2x)

(c) f (x) = 4sen x

(d) f (x) = 18 − 2xtg 3x2

(e) f (x) = cos x

10. Calcule f ′ , f ′′ , f ′′′ para as funções dadas, se possı́vel:


134

(a) f (x) = 2x + 3

(b) f (x) = 8x4 − cos (3x + 9)

(c) f (x) = cos x

(d) f (x) = sen (2x)

(e) f (x) = e5x

(f) f (x) = 2

11. Encontre as derivadas das seguintes funções:

(a) f (x) = arc sen x

(b) f (x) = arc cos x

(c) f (x) = arc sen (2x + 4)

(d) f (x) = arc cos (5x3 − 2x)

12. Uma partı́cula movimenta-se sobre o eixo das abscissas e a sua


equação posicional é dada por S(t) = t5 − 2sen t, t ≥ 0. Re-
sponda:

(a) Qual a equação da velocidade?

(b) Qual a equação da aceleração?

(c) Diga, caso exista, o intervalo no qual a aceleração é nega-


tiva.

(d) Calcule a velocidade no instante t = 10s.

(e) Esboce o gráfico de S, da função velocidade e da aceleração.

13. Idem para uma partı́cula cuja equação posicional é dada por
S(t) = e2t cos (5t).

14. Uma partı́cula movimenta-se ao longo do gráfico da função seno.


Considerando apenas valores para t ≥ 0, responda:

(a) Qual a sua equação posicional?

(b) Quais as equações da velocidade e aceleração?


135

(c) O movimento é acelerado? Por quê?

(d) Esboce os gráficos das funções posicional, velocidade e


acele ração.

(e) Há algum momento em que a velocidade da partı́cula com


res peito ao eixo das ordenadas é o quádruplo da sua ve-
locidade com respeito ao das abscissas? Caso exista, en-
contre o valor de t.

15. Considere um carro que move-se numa avenida congestionada


entre x1 = 5m no instante t1 = 3s e xf = 95m no instante tf =
48s, com velocidade constante. Para desenhar o gráfico de x
versus t num papel quadriculado de 10cm por 10cm, escolhemos
uma escala em x tal que 100m são representados em 10cm de
papel e uma escala de tempo em que 50s são representados em
10cm de papel. Portanto, os fatores de escala são:

10cm cm 10cm cm
fx = = 0, 1 e ft = = 0, 2
100m m 50s s

(a) Qual é a inclinação da reta no intervalo [3s, 4s]

(b) Calcule a tangente do ângulo no papel quadriculado (de


10cm por 10cm)

(c) Os valores encontrados nos itens (a) e (b) são diferentes


devido às escalas que não poderiam ser iguais uma vez
que as dimensões fı́sicas envolvidas nos eixos serem difer-
entes. Mas, mostre que

∆x fx
tg(θ) = = 1.
∆t ft

O que significa dizer que a tangente de um ângulo está rela-


cionada com a inclinação por um fator que só depende das
escolas usadas.

16. Estude o comportamento das seguintes funções:

(a) f (x) = 2x + 3
136

(b) f (x) = 8x4 − cos (3x + 9)

(c) f (x) = cos x

(d) f (x) = sen (2x)

(e) f (x) = e5x

(f) f (x) = 2

(g) f (x) = x2 (ln 2x)


2x2
(h) f (x) = sen (3x − 5) + cos
4 + x5
(i) f (x) = sen x + cos x
 3 
2x + 4x
(j) f (x) = ln
2sen 2x
2
(k) f (x) = e 3x

17. Esboce o gráfico das seguintes funções:

(a) f (x) = 3x2 − 5x + 2

(b) f (x) = 9x3 − 14x2 − 9

(c) f (x) = 100x + 1


x+1
(d) f (x) =
2x + 3
(e) f (x) = (4x2 + 13x)(tg (x) − 4x)

(f) f (x) = 2x + 8 cos (2 + x ln 5x6 )

(g) f (x) = x2 + sen2 (2πe2x+4 )


1
(h) f (x) =
2x ln 9x
x4 − x3
(i) f (x) =
x−9
x−3
(j) f (x) =
(x + 8)3
x4 − 3x
(k) f (x) =
x−2
18. Classifique as seguintes funções quanto a concavidade:

(a) f (x) = x4 + 9

(b) f (x) = − ln x
137

(c) f (x) = e2 x

(d) f (x) = −(x + 5)2 + 7

(e) f (x) = x ln x
1
(f) f (x) = − , x > 0.
x

19. Uma partı́cula move-se ao longo do eixo x de acordo com a


equação x(t) = at3 + bt2 , sendo x em metros e t em segundos.

(a) Em quais unidades do Sistema Internacional de Unidades


(SI) devem estar as constantes a e b?

(b) Obtenha a expressão da velocidade instantânea da partı́cula


em função do tempo.

(c) Obtenha a expressão da aceleração instantânea da partı́cula


em função do tempo.

20. O gráfico ao abaixo representa a posição de uma partı́cula em


função do tempo.

x(m)

12

10

t (s )
0 2 4 6 8 10 12
-2

-4

(a) Em que intervalos a velocidade da partı́cula é positiva?

(b) Em que intervalos a velocidade da partı́cula é negativa?


138

(c) Em que instantes de tempo a velocidade da partı́cula é


nula?

21. Use o Método de Newton para encontrar aproximações de 2.
Compare com o obtido por cálculo direto na calculadora.
Referências Bibliográficas

[1] COURANT, R. Cálculo Diferencial e Integral, vol. 1., Ed. Globo,


1965.

[2] FIGUEIREDO, D. G. Análise I, 2a. edição, Ed. Livros Técnicos e


Cientı́ficos, 1996.

[3] GUIDORIZZI, H.L. Um curso de Cálculo, vols. 1, 2, 3, 4. Livros


Técnicos e Cientı́ficos.

[4] LANG, S. Cálculo, vol. 1, Ed. Livros Técnicos e Cientı́ficos, 1977.

[5] LIMA, E. L. Curso de Análise, vol. 1, 8a. Edição, Instituto de


Matemática Pura e Aplicada, CNPq, Rio de Janeiro, 2004.

[6] http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/superior/.
Acesso em 26/06/2008 às 09h40min.

[7] http://www.somatematica.com.br/historia/derivadas.php.
Acesso em 25/06/2008 às 19h00min.

[8] http://www.ufes.br/circe/artigos/artigo51.doc. Acesso em


24/06/2008 às 09h43min.

[9] http://www.pucrs.br/famat/marcia/matqui2/aplicacoes_de_derivadas.
Acesso em 26/06/2008 às 11h43min.

[10] http://www.interaula.com/matweb/superior/derivada/derivada2.htm.
Acesso em 26/06/2008 às 11h43min.

[11] http://pt.wikipedia.org/wiki/Derivada. Acesso em


26/06/2008 às 11h47min.

139
U ni da
Unidade 5de 1
AA soc
sociolo
iologia
gia ee a
a
Soc ioloA
Sociolo Integral
gia
gia da Edu
da Educaç
cação
ão

Resumo
Nesta unidade, introduzimos a integral indefinida
usando o conceito de antiderivada de uma função.
Construímos uma tabela com as integrais mais
conhecidas e apresentamos técnicas para resolver as
mais elaboradas. Na parte final da unidade,
desenvolvemos a integral definida como o limite de
somas de Riemann e apresentamos o Teorema
Fundamental do Cálculo, com o qual, determinamos a
área de regiões delimitadas por curvas planas.
Indicamos alguns livros mais avançados e links para o
aprofundamento de conteúdo.
SUMÁRIO DA UNIDADE

UNIDADE 5. A Integral
5.1. Primitivas 143
5.2 Técnicas de Integração 145
5.3 Integral definida 150
5.4 Saiba mais 157
5.5 Exercícios 158
Referências Bibliográficas 165
5. A INTEGRAL

A presente unidade está intimamente relacionada com a anterior. Há


quem estude primeiro as integrais para depois o estudo das derivadas,
como também há quem faça o oposto. Seguimos aqui uma tendência
que é a de apresentar primeiramente as derivadas, para depois mostrar
a integral, ou antiderivada, como alguns costumam chamá-la. É ape-
nas uma escolha didática.
Sendo assim, assumimos que o leitor deve ter estudado primeiro
o capı́tulo anterior. Ou também pode acontecer que o leitor já possua
conhecimentos bem sólidos em derivadas. Nesse caso, não encon-
trará problemas neste capı́tulo.
Assim como a derivada está relacionada com cálculo de taxas de
variações, esboço de gráficos de funções, retas tangentes a curvas
diversas, etc, a integral também possui várias aplicações. As mais
famosas são cálculos de áreas, encontrar uma função quando sua
derivada é conhecida, cálculo do trabalho realizado por uma força,
etc.
Veremos, primeiramente, como calcular vários tipos de integrais.
Depois, veremos rapidamente como a integral (no caso a de Riemann)
é obtida e algumas de suas aplicações.
De praxe, comecemos com a exposição de um problema para mo-
tivar esta unidade:

Problema 5.0.1. Uma partı́cula desloca-se sobre o eixo das abscissas


com velocidade dada por v(t) = 2e2t sen (3t) + 3e2t cos (3t). Calcule o
deslocamento desta partı́cula entre os instantes t1 = 5s e t2 = 8s.

142
143

5.1 PRIMITIVAS

Comecemos nosso estudo sobre integrais através das primitivas.

Definição 5.1.1. Seja f uma função real definida num intervalo I.


Chamamos de primitiva para f qualquer função F , também definida
em I, tal que F ′ (x) = f (x), ∀x ∈ I.

Para entendermos bem o significado de primitiva, vejamos o seguinte


exemplo.

Exemplo 5.1.1. Seja a função f : R → R, f (x) = 3x2 . Então uma


primitiva para f é a função F tal que F (x) = x3 .

Perceba no exemplo anterior que F ′ (x) = f (x). Mas também a


função dada por G(x) = x3 + 12. (Concorda?) Na verdade, qualquer
função do tipo H(x) = F (x)+k, onde k ∈ R é uma constante qualquer,
é uma primitiva para f .
Veremos a explicação matemática para este fato com a seguinte
proposição:
Para uma boa
complementação Proposição 5.1.2. Seja f uma função contı́nua num intervalo I ⊂ R.
do estudo dos prin- Se f ′ (x) = 0, ∀x ∈ I, então f (x) = k, onde k ∈ R é uma constante
cipais resultados qualquer.
do Cálculo, veja o
Já havı́amos visto no capı́tulo anterior que se uma função é con-
site de um projeto
stante, então a sua derivada é nula em todos os pontos onde ela é
da Universidade de
definida. Esta proposição diz que também vale a volta. A dica para a
São Paulo.
demonstração da proposição anterior é apenas o uso do teorema do
valor médio.
Uma conseqüência direta da proposição anterior é que se duas
funções forem contı́nuas e as suas derivadas forem iguais em todos os
pontos onde elas estão definidas, então essas funções diferem entre
si por apenas uma constante real.
Então, tenha em mente o seguinte raciocı́nio. Se dada uma função
f derivável num intervalo J ⊂ R temos a sua derivada dada por f ′ ,
144

então a primitiva para f ′ é qualquer função do tipo F tal que F =


f (x) + k, k ∈ R é uma constante real qualquer.

Exemplo 5.1.2. Seja f uma função real dada por f (x) = 2x. A ex-
periência com as derivadas nos diz que g(x) = x2 é tal que g ′ (x) =
f (x). Assim, qualquer função do tipo x2 + k será uma primitiva para a
nossa função f .

Claro que nosso estudo não será tão amador. Imagine ter que
saber de cabeça quem é a primitiva da função

 
x ln 5x
f (x) = 2 + sec (3x) .
x −6 2x4

Veremos mais adiante algumas regras para encontrarmos primitivas


de algumas funções.

Vimos que dada uma função f definida num intervalo as suas prim-
itivas são todas do tipo F (x) + k, onde F é tal que F ′ (x) = f (x), k é
uma constante real qualquer. A partir de agora, representaremos to-
R R
das as primitivas de f por f (x) dx. O sı́mbolo quer dizer ”soma”
em um sentido que explicaremos depois.

R d x2
Exemplo 5.1.3. 2xdx = x2 + k, já que = 2x.
dx

cos xdx = sen x + k, pois sen′ x = cos x.


R
Exemplo 5.1.4.

A seguir apresentamos uma tabela com as primitivas mais con-


hecidas.
145

R
f (x) f (x)dx
c cx + k
β+1
x
xβ + k, β 6= −1
β+1
x−1 ln | x | +k
sen x − cos (x) + k
cos x sen (x) + k
x
a
ax + k, 0 < a 6= 1
ln a
tg x − ln | cos x | +k
sec x ln | sec x + tg x | +k
sec2 x tg (x) + k
ex ex + k
1
arc tg (x) + k
1 + x2
ln x x(−1 + ln x) + k

Aprenderemos mais primitivas ao decorrer do texto. É interessante


que o leitor não tente ”decorar” a tabela de integrais imediatas. Achamos
que ela passará a ser familiar com os exercı́cios e seu uso.

5.2 TÉCNICAS DE INTEGRAÇÃO

Como dissemos anteriormente, o conhecimento das integrais imedi-


atas não é suficiente para o cálculo de integrais indefinidas. Apre-
sentamos a seguir, algumas técnicas necessárias ao desenvolvimento
das próximas seções.

Integração por substituição

Na integração, existe uma formulação similar à Regra da Cadeia. A


Integração por substituição é muito útil no cálculo de integrais do tipo:

dg(x)
Z
f (g(x)) dx, (5.1)
dx
146

onde f ◦ g e g são funções definidas em intervalos convenientes.


Considerando que F é uma primitiva para f ,
Z
f (u)du = F (u),

dg
então, (F ◦ g) é uma primitiva para (f ◦ g) , isto é,
dx

dg
Z Z
f (g(x)) dx = f (u)du.
dx

A formulação acima, resulta da Regra da Cadeia, uma vez que

d(F ◦ g) dF du du dg
= . = f (u) = (f ◦ g) .
dx du dx dx dx

A seguir, alguns exemplos de utilização desta técnica.

R
Exemplo 5.2.1. Para determinar (x2 +1)3 2xdx, seja u = x2 +1, então
du/dx = 2x e a integral pode ser reescrita como:

du
Z
f (u) dx,
dx

a função f sendo f (u) = u3 .


Desse modo, obtemos

u4 (x2 + 1)4
Z Z
f (u)du = u3 du = = .
4 4

(x2 + 1)4
O resultado pode ser verificado derivando com o uso da Re-
4
gra da Cadeia.

R
Exemplo 5.2.2. Para determinar cos(5x)dx, seja u = 5x, então du/dx =
5 e a integral pode ser reescrita como:

1 1
Z Z
5cos(5x)dx, que está da forma f (u)du.
5 5

Desse modo, obtemos

1 1 1 1
Z Z
f (u)du = cos(u)du = sen(u) = sen(5x).
5 5 5 5
147

Integração por partes

Se f, g são duas funções deriváveis, então da derivada do produto de


f por g temos:
d(f g) dg df
=f +g
dx dx dx
Logo
dg d(f g) df
f = −g
dx dx dx
Usando que a integral da soma é a soma das integrais, obtemos:
dg d(f g) df
Z Z Z
f = − g
dx dx dx
que é conhecida como a Fórmula da Integração por Partes e pode ser
abreviada por: Z Z
f dg = f g − gdf.
R
Exemplo 5.2.3. Para determinar a integral ln(x)dx, dado x, seja
f (x) = ln(x) e g(x) = x,Z então df (x) = (1/x)dx e dg = dx. Logo,
a integral está na forma f dg. Portanto,
Z Z Z Z
ln(x)dx = f dg = f g − gdf = xln(x) − 1dx = xln(x) − x.

xex dx, dado x, seja f (x) =


R
Exemplo 5.2.4. Para determinar a integral
x e g(x) =Z ex , então df (x) = 1.dx e dg(x) = ex dx. Logo, a integral está
na forma f dg. Portanto,
Z Z Z Z
x x
xe dx = f dg = f g − gdf = xe − ex dx = xex − ex .

Integração de funções racionais

A seguir, apresentaremos alguns exemplos de integração de funções


racionais, isto é, funções do tipo:
p(x)
f (x) = , q(x) 6= 0
q(x)
onde p, q são polinômios com coeficientes reais. Mostraremos como
expressar uma função racional como soma de funções mais simples
e, denominadas frações parciais, mais fáceis de integrar.
148

12x − 8
Z
Exemplo 5.2.5. Para calcular dx, devemos encontrar as
x2 − 2x − 3
frações parciais do integrando, isto é, devemos reescrever
12x − 8 5 7
= +
x2 − 2x − 3 x+1 x−3
e substituindo no integrando,
12x − 8
Z
R 5 R 7
= x+1
+ x−3
x2 − 2x − 3
= 5ln|x + 1| + 7ln|x − 3|

É importante ressaltar que não precisamos nos preocupar com os


casos em que o grau do polinômio no numerador é maior ou igual que
o grau do polinômio do denominador, pois pelo algoritmo da divisão,
podemos escrever:
p(x) m(x).q(x) r(x)
p(x) = m(x).q(x) + r(x) =⇒ = +
q(x) q(x) q(x)

Z ômio r(x) é
onde oZgrau do polin Z menor que o grau de q(x). Dessa
p(x) r(x)
forma, dx = m(x)dx + dx.
q(x) q(x)
12x3 − 8
Z
Exemplo 5.2.6. Vamos calcular dx.
x2 − 2x − 3
12x − 8 5 79
= 12x + 24 + +
x2 − 2x − 3 x+1 x−3
Portanto, temos
12x3 − 8
Z
R R 5 R 79
dx = (12x + 24)dx + x+1 dx + x−3 dx
x − 2x − 3
2

= 6x2 + 24x + 5ln|x + 1| + 79ln|x − 3|

12x − 8 5 7
No exemplo acima, para encontrarmos = + ,
x2 − 2x − 3 x+1 x−3
reescrevemos
12x − 8 A B
= +
x2 − 2x − 3 x+1 x−3
e igualando numerador e denominador obtemos
12x − 8 Ax − 3A + Bx + B (A + B)x − 3A + B
= = ,
x2 − 2x − 3 (x + 1)(x − 3) (x + 1)(x − 3)
que resulta em um sistema:

 A+B = 12
 −3A + B = −8,
149

cuja solução é dada por A = 5, B = 7.


Assumindo que o polinômio do numerador tem grau menor que
o do polinômio do denominador, o método usado para reescrever
funções racionais como uma soma de frações parciais (Método das
frações parciais), quando conhecemos os fatores de q.

1. Se (x − a) é um fator de q de multiplicidade m, isto é, (x − a)m é a


maior potência de (x − a) que divide q, então devemos associar
a esse fator a soma:
A1 A2 Am
+ + ... +
(x − a) (x − a) 2 (x − a)m
Tal procedimento deve ser feito para cada fator linear de q.

2. Seja x2 + sx + t um fator quadrático de q(x). Suponha que (x2 +


sx + t)n seja a maior potência de x2 + sx + t que divide q. Então,
associe a esse fator a soma:
B1 x + C1 B2 x + C2 Bn x + Cn
+ 2 + ... + 2
(x + sx + t) (x + sx + t)
2 2 (x + sx + t)n
Tal procedimento deve ser feito para cada fator quadrático (irre-
dutı́vel) de q.
p(x)
3. Iguale à soma das frações parciais obtidas nos procedimentos
q(x)
acima e resolva o sistema obtido a partir da comparação dos
coeficientes indeterminados.

Exemplo 5.2.7. Calcular


x2 + 3
Z
dx.
(x − 1)2 (x2 + 1)
Seguindo o procedimento anterior temos:
x2 + 3 A1 A2 B1 x + C1
= + +
(x − 1) (x + 1)
2 2 x − 1 (x − 1) 2 x2 + 1

A1 (x − 1)(x2 + 1) + A2 (x2 + 1) + B1 x(x − 1)2 + C1 (x2 + 1)


=
(x − 1)2 (x2 + 1)

(A1 + B1 )x3 + (−A1 + A2 − 2B1 + C1 )x2 + (A1 + B1 − 2C1 )


=
(x − 1)2 (x2 + 1)
150

que resulta no sistema:





 A1 + B1 = 0


 −A + A − 2B + C

= 1
1 2 1 1


 A1 + B1 − 2C1 = 0


−A1 + A2 + C1 = 3,

que tem a solução A1 = −1, A2 = 2, B1 = 1 e C1 = 0. Portanto,

x2 + 3 −1 2 x
Z Z Z Z
dx = dx + dx + dx
(x − 1) (x + 1)
2 2 x−1 (x − 1) 2 x +1
2

2 1
= −ln|x − 1| − + ln(x2 + 1).
x−1 2

5.3 INTEGRAL DEFINIDA

Existe uma conexão muito forte entre áreas de figuras planas e a


integração. De fato, para determinar a área da região A delimitada
pela curva y = f (x) de a até b, isto é, a área limitada pelo gráfico da
função f (onde f (x) ≥ 0), as linhas verticais x = a e x = b, e o eixo x,
como na figura abaixo, definimos uma aproximação da seguinte forma:

y = f (x )

0 a X
b

Figura 5.1: Área do plano delimitada por desigualdades

iniciamos subdividindo o intervalo [a, b] em n pequenos subintervalos


através da escolha de pontos x0 , x1 , ..., xn tais que

a = x0 < x1 < x2 < · · · < xn−1 < xn = b

Desse modo, os n subintervalos são

[x0 , x1 ] , [x1 , x2 ] , [x2 , x3 ] , ..., [xn−1 , xn ]


151

Esta subdivisão é denominada partição do intervalo [a, b] e denotada


por P . Usando a notação ∆xi para a amplitude do i-ésimo subintervalo
[xi−1 , xi ],
∆xi = xi − xi−1 ,

a norma ou comprimento da partição P é definida pelo comprimento


do maior subintervalo, isto é,

||P || = max {∆x1 , ∆x2 , ..., ∆xn } .

Ao escolhermos um número x∗i em cada subintervalo [xi−1 , xi ] e con-


struı́rmos um retângulo Ai de base ∆xi e altura f (x∗i ), obtemos a área
de Ai
Ai = f (x∗i ) ∆xi .

A soma das áreas desses retângulos é denominada Soma de Rie-


mann da função f relativa a partição P (denotada S(P, f )) e esse é
o valor que consideramos para aproximação da área da região A, isto
é,
n
X n
X
A ≈ S(P, f ) := Ai = f (x∗i ) ∆xi = f (x∗1 ) ∆x1 + ... + f (x∗n ) ∆xn .
i=1 i=1

A escolha do ponto x∗i , nos fornece ainda dois casos particulares


dessas somas (denominadas Somas de Darboux):

• S(P, f ) a soma inferior, quando f (x∗i ) é o valor mı́nimo da função


f no subintervalo [xi−1 , xi ];

• S(P, f ) a soma superior, quando f (x∗i ) é o valor máximo da


função f no subintervalo [xi−1 , xi ].

Podemos observar na Figura 5.3 que, se P é a partição trivial, isto é,


P0 = {a, b}, então vale a desigualdade

S(P0 , f ) ≤ A ≤ S(P0 , f ),

refinando P , com a inserção do ponto médio de [a, b], vide Figura 4.4,
a+b
isto é, P1 = {a, , b}, obtemos a seguinte desigualdade
2
S(P0 , f ) ≤ S(P1 , f ) ≤ A ≤ S(P1 , f ) ≤ S(P0 , f ),
152

Y
Y
f (x)
f (x)

S ( P0 , f )

S ( P0 , f )

0 a b X 0 a b X

Figura 5.2: Somas com P = {a, b}

Y Y
f (x)
f (x)

S(P0 , f )

S ( P0 , f )

0 a a + b b X 0 a a + b X
b
2 2

Figura 5.3: Somas com P = {a, a+b


2
, b}

refinando sucessivamente P , de modo análogo, obtemos uma seqüência


de somas inferiores e uma seqüência de somas superiores, que sat-
isfazem as seguintes desigualdades

S(P0 , f ) ≤ S(P1 , f ) ≤ ... ≤ S(Pn , f ) ≤ ... ≤ A

A ≤ ... ≤ S(Pn , f ) ≤ .... ≤ S(P1 , f ) ≤ S(P0 , f ),

Assumindo a continuidade de f , os limites com kP k → 0 (ou n → +∞)


das seqüências {S(Pn , f )} e {S(Pn , f )} construı́das acima, existem
e são iguais a A. Além disso, esse limite é denominado a integral
definida de f entre os limites de integração x = a e x = b, ou seja,
Z b
lim S(P, f ) = A =: f (x)dx.
kP k→0 a

Observação 5.3.1.

• Pelo Teorema de Weierstrass [6], toda função contı́nua em [a, b],


assume um valor mı́nimo e um valor máximo.
153

• Quando o limite das somas de Riemann de uma função f existe,


dizemos que f é integrável. Desse modo, as funções contı́nuas
são integráveis.

Além disso, vale o seguinte resultado.

Teorema 5.3.1. Sejam f, g : [a, b] → R integráveis. Então:

1. A soma f + g é integrável e
Z b Z b Z b
[f (x) + g(x)]dx = f (x)dx + g(x)dx;
a a a

Rb Rb
2. O produto f.g é integrável. Se c ∈ R, a
c.f (x)dx = c a
f (x)dx;
Rb Rb
3. Se f (x) ≤ g(x) para todo x ∈ [a, b] então a
f (x)dx ≤ a
g(x)dx;
Rb Rb
4. |f (x)| é integrável e | a
f (x)dx| ≤ a
|f (x)|dx.

A seguir, apresentamos a ferramenta mais utilizada para resolver


integrais definidas.

Teorema 5.3.2. (Teorema Fundamental do Cálculo) Se f é uma


função contı́nua de [a, b] em R, então existe uma primitiva
F : [a, b] → R, tal que:
Z b
f (x)dx = F (b) − F (a).
a

Do resultado acima, obtemos como conseqüência direta o seguinte.

Corolário 5.3.1. Seja A a área da região delimitada pelo gráfico de


uma função contı́nua não-negativa f : [a, b] → R, as retas verticais
x = a e x = b e o eixo das abcissas. Então,

A = F (b) − F (a),

onde F é uma primitiva de f .

Exemplo 5.3.1. Para calcular a área da região delimitada pelas retas


y = 4, x = 3 e o eixo x, consideremos a função constante f (x) = 4 e
os limites de integração x = 0 e x = 3, portanto
Z 3
4dx = 4x|30 = 4 × 3 = 12.
0
154

É fácil verificar que a região A coincide com um retângulo de base 3


e altura 4.

Em alguns problemas práticos, é necessário calcular a área entre


duas curvas. Suponha que f e g são duas funções não-negativas
satisfazendo f (x) ≥ g(x) para todo x ∈ [a, b], como mostra a Figura
4.5. Para determinar a área da região A, é suficiente subtrair a área

Figura 5.4: Área do região do plano entre duas curvas

sob a curva inferior da área sob a curva superior, isto é,


Z b Z b Z b
Área de A = f (x)dx − g(x)dx = [f (x) − g(x)]dx.
a a a

Na verdade, é possı́vel mostrar que a condição de não-negatividade


das funções f e g pode ser retirada e a fórmula acima ainda per-
manece válida.

Exemplo 5.3.2. Para calcular a área da região limitada pelas curvas


f (x) = x2 + 1, g(x) = 2x − 2 entre x = 0 e x = 2, é suficiente avaliar a
integral
Z 2 Z 2
2 x3 14
[(x + 1) − (2x − 2)]dx = [x2 − 2x + 3]dx = [ − x2 + 3x]|20 = .
0 −1 3 3

Exemplo 5.3.3. Agora vamos usar o Teorema Fundamental do Cálculo


para resolver o Problema 5.0.1 que foi colocado no inı́cio da unidade
como motivação para o nosso estudo. No problema, queremos de-
terminar o deslocamento de uma partı́cula entre dois instantes, con-
hecendo a função velocidade v da partı́cula, isto é, conhecendo a
taxa de variação da posição s. Neste caso, s é a primitiva da função
v do problema, e para determinar a variação de s entre dois instantes
155

a e b, conhecendo sua taxa de variação v, é suficiente obter s por


andiferenciaç ão e em seguida calcular a diferença entre s(b) e s(a),
isto é,

variação de s entre t = a e t = b vale s(b) − s(a).

Logo,
R t2 R8
t1
v(t)dt = 5
2e2t sen (3t) + 3e2t cos (3t)dt
= e2t sen(3t)|85
= e16 sen(24) − e10 sen(15)
= −8, 0614 × 106 .

Exemplo 5.3.4. Para determinar o valor da área A limitada pela parábola


f (x) = x2 , pelas retas x = 1 e x = 3 e pelo eixo das abscissas, deve-
mos considerar que:
3
3
x3 33 13 1 26
Z
2
A= x dx = = − =9− = .
1 3 1 3 3 3 3

26
Logo, a área solicitada é igual a: A = .
3

Exemplo 5.3.5. Para calcular a área A da figura limitada pela curva


x = 2 − y − y 2 e pelo eixo das ordenadas, devemos considerar que os
eixos coordenados estão invertidos e devido a isso a área procurada
é dada pela expressão integral:
1  1
y 2 y 3

9
Z
2
A= (2 − y − y )dy = 2y − − =
−2 2 3 −2 2

Exemplo 5.3.6. Calcular a área da figura plana compreendida entre


as curvas y = x e y = x2 .
Inicialmente observemos que as intersecções dessas duas curvas ocor-
rem nos pontos de abscissas x = 0 e x = 1. Ademais, no segmento
0 ≤ x ≤ 1 temos que 0 ≤ x2 ≤ x. Portanto segue-se que:
1  1
x2 x3

= 1 − 1 = 1.
Z

A= (x − x2 )dx = −
0 2 3
0 2 3 6

Exemplo 5.3.7. Calcular a área da figura plana compreendida entre



as curvas y = x2 e y = x.
156

Da mesma forma que no exemplo anterior, as intersecções entre es-


sas duas curvas ocorrem nos pontos de abscissas x = 0 e x = 1. Além

disso, nesse segmento, temos que 0 ≤ x2 ≤ x. Assim sendo, temos:
Z 1 Z 1
√ 2 1
A= ( x − x )dx = (x 2 − x2 )dx,
0 0

logo,
 1
2 3 x3

= 2 − 1 = 1.

A= x2 −
3 3
0 3 3 3
Vejamos um problema que nos motiva a apresentar uma impor-
tante propriedade das integrais.

Problema 5.3.1. Estima-se que t horas após meia-noite, a temper-


atura em Timon-Ma seja de f (t) = −0, 3t2 + 4t + 10 graus centı́grados.
Qual era a temperatura média no local entre 9 horas da manhã e meio-
dia?

Proposição 5.3.3. Seja f uma função contı́nua em [a, b]. Então, existe
c ∈ [a, b] tal que
b
1
Z
f (c) = f (x)dx
b−a a

O resultado acima estabelece, em particular, que a área da região


limitada pela curva y = f (x) sobre o intervalo [a, b] limitada pelo eixo
das abcissas é igual a área de um retângulo de base igual ao intervalo
[a, b] e altura igual a f (c) para algum c ∈ (a, b). Neste caso, o valor
f (c) é denominado média da função. Desse modo, para resolver o
Problema 5.3.1, é suficiente calcular
Z b Z 12
1 1
f (t)dt = (−0, 3t2 + 4t + 10)dt = 18, 7,
b−a a 12 − 9 9

isto é, a temperatura média é de 18, 7◦ C.


157

Figura 5.5: Propriedade do Valor Médio para Integrais

5.4 SAIBA MAIS

O leitor poderá acessar, os sı́tios:

• http: // pt. wikipedia. org/ wiki/ Gaston_ Darboux

• http: // pt. wikipedia. org/ wiki/ Riemann

para saber mais sobre as realizações de Gaston Darboux, Bernhard


Riemann e sobre a definição de Integral.
158

5.5 EXERCÍCIOS

1. Determinar as primitivas das funções indicadas em cada item


abaixo:

Z
(a) (x3 − 4x2 + x − 1)dx

dx
Z
(b)
2x − 1

2x + 3
Z
(c) dx
2x + 1

2. Determinar a primitiva da função f : R → R definida pela lei


f (x) = sen(2x) que passa pelo ponto ( π4 ; 2).

3. Determinar as seguintes integrais usando Integração por Substituição


x3
Z
(a) dx
x4 + 2
Z
(b) sen(3x)dx

Z
(c) 7x + 1dx
Z
(d) ex sen(ex )dx
Z 2
x +1
(e) √ dx
3
x+3
Z
(f) sec(x)dx

4. Determinar as seguintes integrais usando Integração por partes


Z
(a) xex dx
159
Z
(b) x3 e2x dx

Z
(c) xln(x)dx
Z
(d) xarctg(x)dx
xex
Z
(e)
(1 + x)2
Z
(f) (x − 1)e−x dx

e1/x
Z
(g) dx
(x)2
Z √
(h) x3 1 − x2 dx

5. Determinar as seguintes integrais usando Integração por frações


parciais
5x + 7
Z
(a) dx
x − 2x − 3
2

6x + 7
Z
(b) dx
(x + 2)2
2x3 − 4x2 − x − 3
Z
(c) dx
x2 − 2x − 3
x2 + 4x + 1
Z
(d) dx
(x − 1)(x + 1)(x + 3)
2x − 3
Z
(e) dx
x + x − 20
2

3
Z
(f) dx
x(x + 1)2
2

6. Calcular a área da figura compreendida entre as curvas y = x+1


e y = x2 .

7. Calcular a área da figura compreendida entre as curvas y =


x2 − 1 e y = x2 − x4 .

8. Calcular a área da figura plana limitada pela curva y = ln(x − 1),


pelas retas x = 2 e x = 9 e pelo eixo das abscissas.
160

9. Determinar a área da figura limitada pela parábola y = 2x − x2 e


pela reta y = −x.

10. Calcular a área sob a parábola: y(x) = 3x2 − 30x + 90, entre os
valores de x = 0 e x = 10.

11. Calcular a área do segmento da parábola y = x2 , que corta a


reta y = 3 − 2x.

12. Calcular a área da figura compreendida entre as parábolas y =


x2
3
e y = 4 − 32 x2 .

13. Calcular a área da figura compreendida entre as curvas y = senx


e y = x, no intervalo 0 ≤ x ≤ π2 .

14. Calcular a área da figura compreendida entre as curvas y = senx


e y = cos x, no intervalo 0 ≤ x ≤ π2 .

15. Calcular o valor médio das funções nos intervalos indicados:

(a) f (x) = x3 − 102 + x − 2, x ∈ [0, 1]


161

(b) f (x) = cos(x), x ∈ [0, π]

(c) f (x) = sen(x), x ∈ [0, π/2]

(d) f (x) = xex , x ∈ [1, 2]

(e) f (x) = x3 e2x , x ∈ [2, 3]


(f) f (x) = xln(x), x ∈ [2, 5]

(g) f (x) = (x − 1)e−x , x ∈ [0, 1]

e1/x
(h) f (x) = , x ∈ [2, 3].
(x)2

16. Considere o sistema massa-mola que modela o movimento harmônico


simples de uma partı́cula sob a ação de uma força que é válida
apenas para pequenos deslocamentos da partı́cula a partir de
sua posição de equilı́brio estável - isto é, para a qual a força
sobre ela é nula F = 0. Neste caso, a força é definida, aproxi-
madamente pela lei de Hooke: F (x) = −kx, onde k é chamada
de constante elástica da mola e x é o deslocamento da partı́cula
a partir de sua posição de equilı́brio estável. Sabendo-se que a
energia potencial elástica é definida por
Z x
U(x) = − F (x)dx.
0

Calcule esta integral e mostre que a expressão para a energia


1
potencial elástica é dada por U(x) = kx2 . Neste caso, a ener-
2
gia potencial é parabólica.
162

17. Considere o movimento unidimensional de um automóvel em


que a aceleração é a constante a - este é o nosso familiar movi-
mento retilı́neo uniformemente variado - MRUV. Obtenha:

(a) a expressão da velocidade da partı́cula em função do tempo.


Suponha que em t = 0, a velocidade da partı́cula seja igual
a v0 . A aceleração de uma partı́cula é definida pela relação:
dv
a = , onde a é a aceleração e v sua velocidade.
dt
(b) a expressão da posição da partı́cula em função do tempo.
Suponha que em t = 0, a posição da partı́cula seja igual a
x0 . A velocidade de uma partı́cula é definida pela relação:
dx
v= , onde v é a velocidade da partı́cula e x sua posição.
dt

18. Uma partı́cula em movimento unidimensional, de massa m, em


repouso (v = 0) na origem (x = 0) no instante t = 0, está sub-
metida à força F (t) = F0 sen(ωt). Encontrar:

(a) A expressão da velocidade da partı́cula em função do tempo


- isto é, obter v(t).

(b) A expressão da posição da partı́cula em função do tempo -


isto é, obter x(t).

(c) Esboçar os gráficos da velocidade e da posição da partı́cula.

19. No trajeto Teresina-Parnaı́ba, seja v(t) Km/h a velocidade de


um carro após t horas de percurso.

(a) Escreva a integral definida que determina a velocidade média


do carro durante as 2 primeiras horas.

(b) Escreva a integral definida que determina a distância total


percorrida pelo carro durante as 2 primeiras horas.
163

(c) Qual a relação entre os dois ı́tens anteriores?

20. Encontre uma expressão para a taxa (cm3 /s) segundo a qual um
lı́quido percorre um cano cilı́ndrico de raio R, sendo a velocidade
do lı́quido a r cm do eixo central do cano igual a v(r) cm/s.

21. A figura abaixo representa, aproximadamente, a velocidade de


um automóvel, deslocando-se ao longo de uma avenida em função
do tempo.

s (t )

20

t
0 20 40 60 80 100

-20

a) Como você interpreta a mudança de sinal de velocidade em


t=50s?

b) Em t = 70s, o automóvel encontra-se a que distância do ponto


em que estava em t=20s?

c) Em que instante o automóvel está de volta ao mesmo ponto por


que passou em t = 20s?
164

d) Sabendo que em t = 0s a posição do automóvel era x = 300m,


qual a posição do automóvel em t = 100s?
Referências Bibliográficas

[1] BRADLEY, G.L. e HOFFMAN, L. D. Cálculo:Um Curso Moderno


e suas Aplicações, Ed. Ed. Livros Técnicos e Cientı́ficos, 9a.
edição, 2008.

[2] COURANT, R. Cálculo Diferencial e Integral, vol. 1., Ed. Globo,


1965.

[3] FIGUEIREDO, D. G. Análise I, 2a. edição, Ed. Livros Técnicos e


Cientı́ficos, 1996.

[4] GUIDORIZZI, H.L. Um curso de Cálculo, vols. 1, 2, 3, 4. Ed.


Livros Técnicos e Cientı́ficos, 2001.

[5] LANG, S. Cálculo, vol. 1, Ed. Livros Técnicos e Cientı́ficos, 1977.

[6] LIMA, E. L. Curso de Análise, vol. 1, 8a. Edição, Instituto de


Matemática Pura e Aplicada, CNPq, Rio de Janeiro, 2004.

[7] MUÑOZ RIVERA, J. E. Cálculo Diferencial & Integral, vol. 1, Tex-


tos de Graduação, Petropólis, RJ, 2006.

[8] WEIR, M. D. Cálculo (George B. Thomas Jr.), vol.I. São Paulo.


Addison Wesley, 2009.

[9] http: // www. isa. utl. pt/ dm/ mat2_ bio/ licao1v2. pdf .
Acesso em 26/06/2008 às 09h30min.

[10] http: // pessoal. sercomtel. com. br/ matematica/ superior/ .


Acesso em 26/06/2008 às 09h40min.

165

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