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MICROFÍSICA DO PODER
ILHÉUS
DEZEMBRO 2010
GLEIDSON ARAÚJO DOS ANJOS
MICROFÍSICA DO PODER
ILHÉUS
DEZEMBRO 2010
Introdução
A questão do poder não é o mais velho desabafo formulado pelas análises de Foucault.
Surgiu em determinado momento de suas pesquisas, assinalando uma reformulação de
objetivos teóricos e políticos que, se não estavam ausentes dos primeiros livros, ao menos
não eram explicitamente colocados, completando o exercício de uma arqueologia do
saber pelo projeto de uma genealogia do poder. (PAG 7)
[...] Outra novidade metodológica foi não se limitar ao nível do discurso para dar conta da
questão da formação histórica da psiquiatria. Neste sentido, a análise procurou centrar-se
nos espaços institucionais de controle do louco, descobrindo, desde a época clássica, uma
heterogeneidade entre os discursos teóricos- sobretudo médicos sobre a loucura e as
relações que se estabelecem com o louco nesses lugares de reclusão. Articulando o saber
médico com as práticas de internamento e estas com instâncias sociais como a política, a
família, a igreja, a justiça, generalizando a análise até as causas sociais das modificações
institucionais, foi possível mostrar como a psiquiatria, em vez de ser quem descobriu a
essência da loucura e a libertou, é a radicalização de um processo de dominação do louco
que começou muito antes dele e tem condições de possibilidade tanto teóricas quanto
práticas. (PAG 8)
Uma coisa não se pode negar às análises genealógicas do poder: elas produziram um
importante deslocamento com relação à ciência política, que limita ao Estado o
fundamental de sua investigação sobre o poder. (pag 11)
Genealogia e Poder
Portanto, assistimos há dez ou quinze nos a uma imensa e proliferante criticabilidade das
coisas, das instituições, das práticas, dos discursos; uma espécie de friabilidade geral dos
solos, mesmo dos mais familiares, dos mais sólidos, dos mais próximos de nós, de nosso
corpo, de nossos gestos cotidianos. Mas junto com esta friabilidade e esta surpreendente
eficácia das críticas descontinuas, particulares e locais, e mesmo devido a elas, se
descobre nos fatos algo que de inicio não estava previsto,aquilo que se poderia chamar de
efeito inibidor próprio as teorias totalitárias, globais forneçam constantemente
instrumentos utilizáveis localmente: o marxismo e a psicanálise estão aí para prová-lo.
Mas creio que ela só forneceram estes instrumentos à condição de que a unidade teórica
do discurso fosse como que suspensa ou, em todo caso, recortada, despedaçada,
deslocada, invertida, caricaturada, teatralizada. Em todo caso, toda volta, nos próprios
termos, à totalidade conduziu de fato a um efeito de refreamento. (pag 169)
A genealogia seria portanto, com relação ao projeto de uma inscrição dos saberes na
hierarquia de poderes próprios à ciência, um empreendimento para libertar da sujeição
históricos, isto é, torná-los capazes de oposição e de luta contra a coerção de um discurso
teórico, unitário, formal e cientifico. (pag 172)
O silêncio, ou melhor, a prudência com que as teorias unitárias cercam a genealogia dos
saberes seria talvez uma razão para continuar. Poderíamos multiplicar os fragmentos
genealógicos. Mas seria otimista, tratando-se de um batalha-batalha dos saberes contra os
efeitos de poder do discurso cientifico-tomar o silêncio do adversário como a prova de
que lhe metemos medo (pag 173)
O poder é o que reprime a natureza, os indivíduos, os instintos, uma classe. (pag 175)