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RESENHAS BOOK REVIEWS 1339

HANDBOOK OF AUTOETHNOGRAPHY. Jones grupo, o que conduz a uma introspecção guiada pelo
SH, Adams TE, Ellis C, editors. Walnut Creek: Left desejo de entender ambos; (3) engajamento: em con-
Coast Press; 2013. 736 p. (Coleção Queer). traste com a pesquisa positivista que assume a neces-
ISBN: 978-15-98746-00-6 sidade de separação e objetividade, a autoetnografia
clama pelo engajamento pessoal como meio para en-
http://dx.doi.org/10.1590/0102-311XRE020615 tender e comunicar uma visão crítica da realidade, de
forma que engajamento, negociação e hibridez emer-
Autoetnografia gem como temas comuns de uma variedade de textos
autoetnográficos; (4) vulnerabilidade: a autoetnografia
Editado por Stacy Holman Jones, Tony E. Adams e Ca- é mais bem-sucedida quando é evocativa, emocional-
rolyn Ellis, Handbook of Autoehnography é um livro in- mente tocante e quando os leitores são tocados pelas
trigante, fascinante e revolucionário, no sentido cientí- histórias que estão lendo, certamente isto traz algumas
fico, político e sociológico. O livro organizado em qua- vulnerabilidades ao explorar a fraqueza, força, e ambi-
tro seções é composto por 736 páginas distribuídas em valências do pesquisador, evocando a abertura de seu
34 capítulos escritos por diferentes autores e apresenta coração e mente; (5) rejeição de conclusões: a autoet-
uma nova abordagem metodológica: a autoetnografia, nografia resiste à finalidade e fechamento das concep-
que em linhas gerais tem como objetivo requalificar a ções de si e da sociedade, pois é concebida como algo
relação entre objeto e observador, ressaltando a impor- relacional, processual e mutável.
tância desta interação e da experiência pessoal do pes- Além disso, para Jones, Adams e Ellis é possível
quisador como forma de construção do conhecimento. escrever autoetnografia com diferentes característi-
Segundo Jones, Adams e Ellis, o termo “auto-et- cas: (1) imaginativo-criativa: representa o tipo mais
nografia” foi utilizado inicialmente pelo antropólogo inovador e experimental, publicações neste estilo têm
Hayano em 1979, depois, no início dos anos de 1980, incorporado poesia e diálogos performativos baseados
esta abordagem metodológica começou a ser desen- na autobiografia dos pesquisadores; (2) confessional-
volvida e definida como um método de pesquisa, emotiva: diferente da escrita convencional e científica,
quando compreensões mais sofisticadas e complexas esta abordagem busca expor detalhes que provocam
do campo de pesquisa emergiram e sua conexão com reações emocionais nos leitores; (3) realista-descritiva:
a experiência pessoal começou a ser desenvolvida no este estilo busca descrever a experiência do pesquisa-
Departamento de Fenomenologia, Etnometodologia e dor por meio de uma narrativa, integrando detalhes
Sociologia Existencial na pós-graduação da Universi- que auxiliam o leitor a reconstruir em suas mentes a
dade de Chicago. realidade descrita; (4) analítico-interpretativa: é uma
A pesquisa social na maior parte das Ciências So- abordagem acadêmica típica comum na pesquisa em
ciais busca a impessoalidade, já a autoetnografia emer- ciências sociais, que tende a suportar a análise e a in-
ge para estudar a experiência pessoal, para ilustrar terpretação sociocultural.
como esta experiência é importante no estudo da vida A autoetnografia tem sido utilizada, dessa forma,
cultural, não clamando a produzir um método melhor para criticar discursos dominantes e hegemônicos,
ou mais válido do que outros, mas provendo outra pautados no poder da colonização ocidental, como,
abordagem nos estudos socioculturais. Autoetnografia por exemplo, o discurso biomédico, no qual narrati-
representa a experiência pessoal no contexto das rela- vas autoetnográficas de pacientes desafiam o discurso
ções, categorias sociais e práticas culturais, de forma médico que exclui a experiência de seus corpos. O cor-
que o método procura revelar o conhecimento de den- po oferece o nexo epistemológico e ontológico, para a
tro do fenômeno, demonstrando, assim, aspectos da emersão de novos insights, é o ponto zero da percep-
vida cultural que não podem ser acessados na pesquisa ção, o centro onde se define o horizonte do eu. Afir-
convencional. ma Pelias, no capítulo Writing Autoethnography, que:
O método da autoetnografia propõe a pesquisa “escrevendo sobre mim eu falo a partir do corpo, é uma
social numa prática ainda menos alienadora, em que escola sintonizada no visceral e somático, meu corpo e
o pesquisador não precisa suprimir sua subjetividade, minha mente trabalham como numa orquestra, como
pois pode “refletir nas consequências do [seu] trabalho, o lugar onde a história é gerada internamente, somati-
não só para os outros, mas para [si] mesmo também, e camente, para se manifestar externamente, semantica-
onde todas as partes – emocional, espiritual, intelectual, mente; eu sou meu corpo falando” (p. 388).
corporal, e moral – podem ter voz e serem integradas” A perspectiva epistêmica da autoetnografia não vai
(p. 53). contra a objetividade de outros métodos de pesquisa,
Existem cinco chaves para a construção da autoe- uma vez que pode ser mais bem compreendida como
tnografia: (1) visibilidade para o si: é o eu do pesquisa- uma postura perante um texto, na qual “não existe neu-
dor se tornando visível no processo, este eu não é sepa- tralidade quando escrevemos algo, assim como quando
rado do ambiente, ele só existe na relação com o outro, lemos nós trazemos todas as nossas relações para as pá-
é, portanto, o eu conectado com o seu entorno; (2) for- ginas” (p. 229). Na autoetnografia escreve-se pessoal-
te reflexividade: representa a consciência de si e a reci- mente oferecendo emoção, abertura à vulnerabilidade
procidade entre o pesquisador e os outros membros do e desafio ao texto ortodoxo que pretende ser objetivo,

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 31(6):1337-1340, jun, 2015


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super-racional e textualmente distanciado. Abrir a vul- iniquidade em tempos e espaços sociais particulares.
nerabilidade implica visibilizar o “irracional, particular, De forma que na autoetnografia o autor é instigado a
privado, e subjetivo”, em contraponto com o racional, ser “a mudança que quer ver no mundo” (Gandhi), ou
universal, público e objetivo. seja, é um crítico social produtor de atos microssociais
A pesquisa convencional, mesmo no campo das que explicita injustiças e produz ambiguamente justiça
Ciências Sociais, ditada pela cultura ocidental, dos pa- social.
íses industrializados, ricos e colonizadores, constrói Assim, conclusivamente, o texto autoetnográfico
com a perspectiva positivista um conjunto de “normas” pretende abrir a perspectiva científica para além da ra-
a serviço do projeto da Modernidade. A etnografia or- cionalidade objetiva, integrando os aspectos negligen-
todoxa, por exemplo, busca uma descrição objetiva e ciados pela cultura científica ocidental na produção do
em terceira pessoa, normalmente construída por um conhecimento. Além disso, a autoetnografia busca al-
pesquisador branco (homem ou mulher), ocidental cançar dimensões maiores que a de um método cientí-
e de classe média. A autoetnografia, todavia, parte do fico, propondo, por meio do engajamento e reflexivida-
pressuposto que o conhecimento não tem como ser de, que cada autor viva e escreva sobre a vida de forma
neutro nas instituições educacionais e nem fora delas. honesta, complexa e apaixonada.
A persistente valorização da objetividade cria um viés,
que é mascarado pela própria objetividade, distorcen- Pedro Mourão Roxo da Motta
Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de
do o conhecimento em caminhos opressivos e refletin-
Campinas, Campinas, Brasil.
do a perspectiva conservadora da maioria dos traba- terapeutapedromotta@hotmail.com
lhos acadêmicos. Por isso, uma das propostas da auto-
etnografia é servir à justiça social, como componente Nelson Filice de Barros
Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de
político que visa a explorar e explicitar elementos da
Campinas, Campinas, Brasil.
nelfel@uol.com.br

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 31(6):1337-1340, jun, 2015

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