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O Mez da Grippe: um perfil de Curitiba

Guilherme Stromberg Guinski


Janina Rodas

Muito se fala sobre O Mez da Grippe como inovação formal1, espaço hipertextual2,
paródia jornalística3 ou labirinto de leitura4. Inovação formal por se tratar de um livro
confeccionado por meio de colagens de notícias e propagandas fac-similares mescladas
com textos poéticos, ilustrações, fotografias antigas, depoimentos e textos ficcionais
formando assim uma narrativa linear no tempo e espaço. Seria um espaço hipertextual
por cada pedaço independente levar a outro aparentemente distante no tempo, mídia e
espaço não fosse pelo detalhe de que há apenas um caminho de leitura a ser percorrido,
pois este é construido pelo autor e não pelo leitor, de modo que elementos diferentes e
independentes entre si quando justapostos em uma ordem lógica adquirem um sentido
diferente, a partir da experiência de montagem do cineasta russo Lev Kuleshov. Quanto
à paródia jornalística, esta se torna evidente ao comparar um jornal diário com a
disposição dos elementos no livro, onde reportagens, notas oficiais, fotografias,
ilustrações e peças publicitárias dividem e competem por espaço dentro da narrativa
como um almanaque diário sob censura. Ainda dizem se tratar de um labirinto de leitura
por não haver linearidade na história ou personagem aparente em uma narrativa
quebrada por fragmentos sem ligação a não ser o tema, o espaço ou a época. Apesar da
narrativa seguir uma trilha esburacada de chão batido a beira de uma encosta em dia
chuvoso, é um caminho com enorme pesquisa de campo, muito bem engenhado e com
destino certo, sem o risco do viajante se encontrar diante de uma bifurcação não
sinalizada durante o trajeto, o qual se define como um perfil da cidade de Curitiba no
início do século XX.
Sim, Curitiba. Não a Dona Lúcia, o estuprador, os descendentes de alemães, os
jornalistas doentes, a população da cidade ou o Sr. Dr. Trajano Reis. Assim como Fama
e Anonimato, perfil da cidade de Nova Iorque feito a partir da construção da ponte
Verrazano Narrows, escrito por Gay Talese nos anos 1960, como os livros de James
1 FERREIRA, Marta da Piedade. Espaços de Hipertexto, Mídia e Cultura em O Mez da Grippe e Outros Livros, De Valêncio Xavier. Revista Em Tese, Belo

Horizonte, v. 9, dez. 2005.


2 Idem.

3 BARREIROS, Tomás Eon. Jornalismo e Construção da Realidade – Análise de O Mez da Grippe como paródia crítica do jornalismo. Curitiba, Pós-Escrito. 2006.

4 PAVLOSKI, Evanir. Linguagem, História, Ficção e Outros Labirintos em O Mez da Grippe de Valêncio Xavier. Revista Letras , Curitiba, n. 66, maio/ago. 2005.
Editora UFPR.
Joyce, o qual dizia que, se algum dia a Dublin de seu tempo fosse destruida, poderia ser
refeita a partir de seus textos, e da mesma forma fazia Honoré de Balzac com os
costumes de sua época, Valêncio Xavier faz com a capital paranaense. O autor inverte
papéis: faz de Curitiba personagem, pessoas como fatos, dos jornais o espaço e da
grippe e da I Grande Guerra as motivações. Daí a escolha por matérias jornalísticas,
peças publicitárias, fotografias e o depoimento de Dona Lúcia (mãe de Poty Lazarotto,
que na verdade não se chama Lúcia) para dar veracidade, credibilidade e
verossimilhança à narrativa. Deste modo, o jornalismo se encaixa, de modo geral, como
a parte informativa do espaço, da protagonista, apresenta suas opiniões, características
morais e intelectuais, falhas de caráter e a inalterada mentalidade provinciana. Já a
publicidade e os depoimentos de Dona Lúcia mostram de maneira mais próxima o
comportamento, os costumes, as crenças religiosas e a precariedade da saúde e
medicina, enquanto as fotografias e ilustrações apresentam as características físicas da
cidade. A tudo isso ainda se somam signos e textos poéticos que complementam e
introduzem o caráter artístico e ficcional dessa novela gráfica onde imagem e palavra
tem a mesma importância.
O hibridismo, contudo, não se limita a linguagem jornalística, publicitária e literária.
Valêncio se mostra mais uma vez um artista multifacetado ao inserir elementos
tipográficos, fazer uma releitura da diagramação pré década de 1950 e construir a
narrativa a partir da teoria de Lev Kuleshov sobre a montagem cinematográfica, na qual
duas imagens separadas e autônomas, ao se justaporem, adquirem um terceiro
significado independente. Ainda, com influência direta de artes plásticas como as
colagens da arte pop de Robert Rauschenberg e a transmutação de objetos cotidianos em
peças artísticas de Marcel Duchamp. Assim, o escritor superdimensiona e transgride os
principais meios de comunicação do mundo moderno formando um simulacro, um falso
livro documentário, um perfil real e atual de Curitiba no final de 1918. Mais que isso, a
inovação formal não se caracteriza exatamente pelo hibridismo narrativo, mas em sua
consequência. Isto é, O Mez da Grippe, então, se torna uma narrativa de arte sequencial
literária, como uma história em quadrinhos, porém não como as adaptações das obras de
Franz Kafka por Peter Kuper ou Robert Crumb, ou como os desenhos sombrios feitos
em cima de fotografias por Bill Sinkiewicz, mas uma novela gráfica estritamente
literária escrita por imagens, onde a elipse se torna calha e as imagens e textos não
ficcionais dão suporte para uma nova estética literária.
Portanto, O Mez da Grippe contém o gérmen que estabelece todas as obras
universais da literatura: além de ser um livro inovador, é também atemporal, pois
conecta o passado com o presente e sendo capaz até de prever um futuro não muito
distante. Ou seja, a Curitiba do início do século XX ainda é muito parecida com a
Capital paranaense do início do terceiro milênio, reafirmando-se atualmente como uma
cidade conservadora, com o controle de canais de televisão pelo governo do estado, com
o projeto de controle social da imprensa em votação no senado federal, bem como a
nova gripe que assola o mundo – fato não muito divulgado de que se trata do mesmo
vírus da qrippe espanhola, porém um pouco evoluído e com outra denominação.

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