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Adriano Vizoni/Folhapress
REFORMA
DA NATUREZA
Dependente das commodities agrícolas, que geram o
maior superavit comercial do mundo no setor e um enorme
impacto ambiental, o Brasil tem como desafio criar um novo
mercado verde e fazer a transição para a economia limpa,
aproveitando o vasto potencial de seus recursos naturais
A partir da esq., Celina Carpi, José Augusto Coelho Fernandes, Shigueo Watanabe, José Roberto Mendonça de Barros e Luiz Barroso, no Fórum Desenvolvimento e Baixo Carbono, em SP
Pequenas empresas
Fotos reinaldo canato/Folhapress
Brasil ignora possibilidades
da economia de baixo
ganham ao inovar
carbono. O país tem muitas
vantagens naturais
aNa toNI,
As chances de diretora do Instituto Clima e Sociedade
em produtos verdes
aplicar conhecimento
à nossa biodiversidade
são promissoras
RIcaRdo abRaMoVay,
professor titular da FEA-USP Reduzir impostos
nem sempre é o melhor Centros de pesquisa criam programas para aumentar
meio para estimular o
desenvolvimento sustentável
a competitividade de fabricantes com foco sustentável
beRNaRd appy,
Em algum momento no fim do diretor do Centro de Cidadania Fiscal
aNdRea VIallI do pinhão orgânico para dez sificar as exportações brasi-
próximo ano o Brasil pode colaboração para a folha toneladas até 2018. leiras e incluir os pequenos.
voltar a crescer e esse Os produtores inscritos no “A pauta brasileira de ex-
crescimento ser sustentável A paisagem de araucárias programa Araucária+ se portações está centrada 70%
inspirou Pedro Reis, dono da comprometem a utilizar téc- em commodities e em 200
José RobeRto MeNdoNça de baRRos,
fundador da consultoria MB Associados O financiamento para uma cervejaria Insana, do Para- nicas extrativistas responsá- grandes empresas. É preci-
economia de baixo carbono ná, a criar uma cerveja que veis e recebem até 30% a so aumentar a participação
leva pinhão na receita. mais em relação ao pinhão das pequenas”, diz Paulo
virá quando houver risco Com a inovação, o empre- comercializado na região. Durval Branco, coordenador
e retorno adequados sário fortaleceu uma inicia- “As cadeias produtivas do do ICV Global. O programa
hectoR goMez, tiva de valorização do pi- pinhão e da erva-mate têm não aporta recursos nas em-
Parte da indústria hoje, de gerente da International Finance Corporation nhão orgânico produzido em baixo valor agregado. Que- presas, mas oferece consul-
baixa capacidade áreas de preservação da ma- remos trazer a lógica dos toria e capacitação.
tecnológica e altamente ta de araucárias. ecossistemas de inovação Uma das participantes é a
poluente, é inviável Batizado de Araucária+, o para esses negócios”, diz Atina, de Pouso Alegre (MG),
projeto da Fundação Certi, Marcos Da-Ré, diretor do que produz óleos e ingredi-
RIcaRdo seNNes,
A ineficiência das políticas ligada à Universidade Fede- Centro de Economia Verde entes para a indústria de cos-
economista da Consultoria Prospectiva
ral de Santa Catarina, incen- da Fundação Certi. méticos. É a única produto-
industriais brasileiras tiva cadeias de negócios sus- O programa, que reúne 20 ra, no Brasil, do bisabolol
encarece a transição para tentáveis baseados em dois empresas e start-ups, 83 pro- natural (fármaco anti-infla-
a economia verde produtos típicos dessa flo- dutores e 33 instituições, aju- matório e cicatrizante), a
resta: pinhão e erva-mate. da a preservar, por meio de partir da extração certifica-
José augusto coelho feRNaNdes,
Agronegócio pode ter três diretor da Confederação Nacional da Indústria A cerveja de pinhão, sazo- novos negócios, 500 hecta- da da candeia, árvore nativa
papéis na mudança nal, foi um sucesso. O pri- res de matas de araucária. A da Mata Atlântica.
meiro lote , lançado em 2015, meta é chegar a 5.000 hecta- A participação no ICV Glo-
do clima: ser vítima, teve 15 mil unidades vendi- res até 2020. bal ajudou a empresa, antes
vilão ou solução das. O bom resultado levou dependente das vendas in-
a Insana a triplicar a produ- EXPORTAÇÃO ternas, a reverter esse cená-
MaRcos JaNk,
diretor global da BRF Precisamos descobrir como ção neste ano. Em São Paulo, o GVCes rio. Participou de duas feiras
transformar os ativos Uma tonelada de pinhão, (Centro de Estudos em Sus- importantes do setor, em No-
ambientais em um mercado comprada diretamente de tentabilidade da Fundação va York e Paris, e hoje expor-
seguro para o investidor quatro produtores, foi utili- Getúlio Vargas) prepara pe- ta 67% da produção
zada na fabricação da cerve- quenas empresas com pro- Agora, o desafio da Atina
Brasil não tem regulação seRgIo leItão, ja —o que permitiu a preser- dutos sustentáveis para o é atrair novos clientes inter-
diretor do Instituto Escolhas
vação de 70 hectares de ma- mercado externo. nacionais para o ativo de ori-
para implementar ações ta nativa em Santa Catarina. O programa ICV Global gem sustentável. “Grande
de desenvolvimento “A cerveja de pinhão sur- (Inovação e Sustentabilida- parte do bisabolol usado na
sustentável giu como um projeto ambi- de nas Cadeias de Valor Glo- indústria ou é de origem sin-
ental, mas acabou se tornan- bais) foi criado em parceria tética ou é extraído sem con-
luIz baRRoso,
presidente da Empresa de Pesquisa Energética País precisa de estrutura de do um produto rentável”, diz com a Apex-Brasil (Agência trole. Queremos mudar esse
uso da terra sustentável. Reis. A cervejaria fixou me- de Promoção de Exportações cenário”, diz Eduardo Roxo,
tas para aumentar a compra e Investimentos) para diver- fundador da empresa.
O Código Florestal é o
instrumento para isso
celINa caRpI,
Brasil tem dificuldade para presidente do conselho do Instituto Ethos
traduzir conhecimento
científico em tecnologia.
É urgente mudar
Divulgação
JoRge aRbache,
secretário do Ministério do Planejamento Escolhemos o oportunismo Obra da capa é feita de ferro-velho
das medidas de resultados
rápidos em vez de optar por de são paulo - As grades usa- sas obras. “A Ferro e Fogo
ações sustentáveis das para proteger e isolar ca- (Desdobramentos)” foi feita
sas adquirem a forma de flor a partir de material achado
É preciso envolver a MaRcos lIsboa, nos trabalhos do artista pau- em ferros-velhos. “É preciso
presidente do Insper
lista Rodrigo Bueno (foto), 49, perceber que a natureza es-
capacidade de inovação do do ateliê Mata Adentro, que se tá aqui, entre nós. Não só na
setor privado na construção define como um “ativista pe- Amazônia, mas nas rachadu-
de uma economia verde la sensibilização”. ras das cidades e nas praças”,
A imagem que ilustra a ca- diz Bueno. “E, para aflorar,
caRlos NobRe,
membro da Academia Brasileira de Ciências pa deste caderno é uma des- a natureza precisa de fogo.”
#Quantoé?plantarfloresta é uma
plataforma digital que ajuda o
proprietário rural a calcular o valor
nossas florestas
no mapa a macrorregião onde está
a área a ser recuperada, inserir o
tamanho, e a plataforma apresenta
oito modelos de recuperação
florestal. Disponível em escolhas.org.
WWW.QUANTOEFLORESTA.ESCOLHAS.ORG
4 semináriosfolha ┆ ┆ ┆ Segunda-Feir a, 28 de novembro de 2016 ef
análise
O passado
e o futuro da
produção na
América Latina
É preciso deixar de ver os recursos
naturais como uma ‘maldição’ e achar
maneiras de aproveitá-los à luz da
tecnologia desenvolvida no continente
inércia
forma a deixar para trás ma- pesquisa, vemos um aumen-
térias-primas e agricultura to na inovação local de técni-
era válida nos anos 1960 e cas especializadas de extra-
1970, quando, para lucrar ção e processamento, e de
com as tecnologias de então, equipamentoparaexploração
imitar os países já industria- florestal, agricultura e pesca.
industrial
lizados era essencial. Um exemplo é o processo
Hoje, o contexto mundial agrícola de plantio direto
está mudando da produção (sem lavoura) desenvolvido
em massa para a especializa- no Brasil e na Argentina, cu-
ção, com o crescimento de jas máquinas agora são ex-
produtos agrícolas para ni- portadas para todo o mundo.
chos de mercado feitos sob Abiotecnologiaéoutraárea
medida e com biomateriais, madura para inovação. Estão Falta planejamento para que o Brasil invista num modelo
nanotecnologia ou biotecno-
logia. Ao mesmo tempo, o
sendo identificadas e desen-
volvidas bactérias para servir
de baixas emissões e alta produtividade, afirma estudo
consumo se volta para o “na- a muitos propósitos, de mine-
tural”: rumo à agricultura or- ração ou digestão de petróleo DHIEGO MAIA A atual indústria de base Para Marisa Grossi, presi-
gânica e biotecnológica, e a derramado a aplicações de sa- DE SÃO PAULO do país, que fabrica insumos dente do CEBDS (Conselho
outros recursos naturais com úde como o “microbioma”, para setores fundamentais da Empresarial Brasileiro para o
características únicas. que atende à cada vez maior Enquanto parte do mundo economia, como a constru- Desenvolvimento Sustentá-
O que está por trás dessa demanda por cuidados médi- investe em uma nova indús- ção civil, é dependente de vel), a transição só ocorrerá
transformação tão profunda? cos individualizados. tria que produza mais, pou- muita energia para operar. se for diversificada. “O Brasil
A transição de uma era enra- Todas essas mudanças es- pe energia e, assim, suje me- Seis setores (siderurgia, pa- sempre apostou em nichos e
izada nas tecnologias de pro- tão acontecendo em meio a nos o ambiente com gases de pel e celulose, cimento, ca- não pensou no todo. Ficamos
dução em massa (incluindo uma crise ambiental. Apren- efeito estufa, o Brasil segue deia do alumínio, químico e estacionados no etanol, mas
o petróleo e seus derivados) der a administrar recursos parado nessa transição. petróleo e gás) analisados pe- temos que fazer do carro elé-
para uma era de informação naturais —e a usá-los para É o que concluiu um estu- lo Instituto Escolhas respon- trico uma alternativa viável.”
“inteligente” e tecnologias de criar riqueza, reduzir a pobre- do sobre o setor feito pelo Ins- dem por 40% do consumo to- Segundo Tasso Azevedo,
comunicação que estão trans- za e promover uma economia tituto Escolhas, organização tal de energia gasto pela in- do Seeg, a saída para finan-
formando todos os aspectos sustentável— é a tarefa mais que pesquisa áreas como dústria, diz a EPE (Empresa ciar a indústria “verde” é ta-
da sociedade, na direção de urgente desta geração. energia e sustentabilidade. de Pesquisa Energética). xar a emissão de carbono.
serviços e ativos intangíveis. Tecnologia ecológica “in- Tudo rema contra. O par- Todos eles também têm si- “Sujou, pagou. Quem polui
Não é que a produção em teligente” já está sendo de- que fabril nacional é antigo, do responsáveis por cerca de menos seria mais competiti-
larga escala tenha deixado de senvolvida em todo o conti- com estruturas ainda da dé- 15% das emissões de gás car- vo e teria mais dinheiro para
ser realizada. Pelo contrário: nente, de novas fontes reno- cada de 1970. A carga tributá- bônico do país —o índice vem investir nessa transição.”
a escala hoje precisa acomo- váveis de energia à criação de ria torna a produção nacional se mantendo estável nesta dé- E incorporar no chão de fá-
dar a classe média mundial materiais renováveis. menos competitiva no exteri- cada, segundo o Seeg (siste- brica processos da internet
emergente. Mas com a revo- Mas priorizar soluções sus- or e a crise freia os investi- ma que mede as emissões de das coisas, com toda a produ-
lução da informação e da tec- tentáveis como parte de uma mentos em inovação. gases do efeito estufa). ção interconectada em uma
nologia “inteligente”, duas nova economia “verde inteli- “O grosso da indústria na- Com uma vantagem, diz base gigantesca de dados, diz
coisas cruciais mudaram: gente” requererá um amplo cional é de baixa e média tec- Tasso Azevedo, coordenador o economista Rafael Cagnin,
A linha de montagem pode consenso, com políticas pú- nologias. É também bastante do Seeg. “O aço produzido no do Iedi (entidade que estuda
produzir modelos diferentes blicas audazes e imaginativas poluente e ineficiente, com Brasil emite menos gás car- a indústria). “A Europa tem
e responder rapidamente a quefacilitematransformação. uma aposta em commodities bônico por tonelada que na feito isso para diminuir seu
mudanças de demanda, sen- O que precisamos é aban- sem valor agregado”, afirma China. Isso porque a nossa custo fabril e reduzir a depen-
do que a porção de produção donar o complexo de inferio- Ricardo Sennes, diretor da eletricidade é mais limpa. Te- dência do gás russo.”
em massa do mercado tem as ridade sobre a inovação, ad- consultoria Prospectiva. mos que aproveitar isso.” Já no Brasil, a estratégia do
mais baixas margens de lucro. quirido na era da produção Essa inércia, diz o físico governo foi investir R$ 500 bi-
Ao mesmo tempo, a capa- em massa, e encarar as novas Shigueo Watanabe, um dos ESTACIONADO lhões do BNDES em uma in-
cidade de atender a nichos de oportunidades de maneira autores da pesquisa, é acen- Mas é preciso investir. dústria sem conexão com a
mercado e de produzir bens positiva e determinada. tuada pelo fato de o país não O Banco Mundial estima sustentabilidade, diz Wata-
para esses nichos sem um in- CARLOTA PEREZ é pesquisadora, autora de
ter clareza de como será sua ser necessário adicionar mais nabe, do Instituto Escolhas.
vestimento inicial proibitivo “Technological Revolutions and Financial base industrial. “Sobram US$ 5,7 trilhões na economia “Foi como olhar para o retro-
levou ao surgimento de seg- Capital” (ed. Edward Elgar) e professora da ações para apagar incêndios até 2030 para tornar os pro- visor.” Procurado, o BNDES
London School of Economics
mentos menores mas mais lu- pontuais, mas falta planeja- cessos produtivos mais sus- não se manifestou até o fe-
crativos em todas as áreas. Tradução de PAULO MIGLIACCI mento de longo prazo.” tentáveis em todo o mundo. chamento da reportagem.
ef Segunda-Feir a, 28 de novembro de 2016 ┆ ┆ ┆ semináriosfolha 5
Fotos Eduardo Knapp/Folhapress
Crédito
análise
Para chegar à
agroindústria
4.0, é preciso
explorar dados
Fabricação de papel e celulose mostra
alguns dos caminhos em que o Brasil
pode dar novos saltos com utilização
da abundante informação digital
FONTE DE GASES DE EFEITO ESTUFA, CARVÃO MINERAL BRIGA pOR ESpAçO NO MERCADO
Setor é responsável por 4,5% da matriz elétrica no Brasil; país não deve aumentar sua capacidade nos próximos 15 anos
NÁDIA PONTES Segundo o Ministério de entrada de potência a carvão Atualmente, o carvão, fon- o governo faria leilão para de abrir mão do carvão. “É
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Minas e Energia, a potência aumentam, mas de forma mo- te mais potente de emissão de comprar a energia. A iniciati- precisoplanejamentointegra-
instalada a carvão mineral derada e com controle de gases de efeito estufa, produz va privada bancaria o valor do, com uso de tecnologia.”
Nobastidordodebatesobre não terá acréscimos no Siste- emissões de dióxido de carbo- 41% da eletricidade no globo, estimado da troca, US$ 5 bi. “O lobby é muito forte”, diz
mudança climática, uma dis- ma Interligado Nacional e de- no”, explica o ministério. segundo dados da Agência In- “É um investimento muito Teresinha Maria Gonçalves,
puta pelo mercado de energia ve ficar assim por 15 anos. A Associação Brasileira do ternacional de Energia (IEA). alto, que pode ser feito em ou- da Universidade do Extremo
seacirra.Aomesmotempoem Mastudopodemudarapar- Carvão Mineral se prepara pa- No Brasil, é responsável por tras fontes”, rebate Márcio Sul Catarinense. “Essa indús-
que países assumem compro- tir de 2045. “Quando o plane- ra o embate. “Não é uma bri- 4,5% da matriz elétrica. Astrini, do Greenpeace. tria já tinha que ter acabado
misso de limpar a matriz ener- jamento energético amplia o ga pelo clima, é uma briga de Zancan diz que o setor que- Para José Luz Silveira, da há tempos. Os danos ambien-
gética, a indústria do carvão horizonte de estudos para 30, mercado”, afirma Fernando ria trocar 1.400 megawatts de Unesp, que estuda novas fon- tais foram muito grandes pa-
tenta não perder seu espaço. 40 anos, as possibilidades de Zancan, presidente do órgão. usinas velhas por novas e que tes renováveis, o país não po- ra poucos ganhos coletivos.”
6 semináriosfolha ┆ ┆ ┆ Segunda-Feir a, 28 de novembro de 2016 ef
Economia de
baixo carbono
É voltada para a
diminuição das emissões
de carbono sem prejudicar
o desenvolvimento
econômico. Inclui ações
Inovação e
como o fomento das
energias renováveis, as
melhorias na mobilidade
urbana e a construção de
prédios energicamente
justiça social
Economia circular autossuficientes
a produção de bens
é planejada para
manter produtos,
componentes e
definem o
materiais em
circulação, criando
novos ciclos
produtivos em vez de
produzir lixo
novo verde
teorias sobre economia limpa evoluem
ÁrVore
com as novas tecnologias e demandas
por uma sociedade mais igualitária
everton lopes
de são paulo
iara biderman
tas da tecnologia”, diminuiu
bastante, de acordo com Pris-
cila Claro, coordenadora do
GeNeaLÓGica
colaboração para a folha Núcleo de Estudos em Meio Quais são os integrantes da família
No fim do ano passado, 150
Ambiente e Centros Urbanos
do Insper.
do desenvolvimento sustentável
líderes mundiais se reuniram
na ONU para adotar uma no- oportunidades
va agenda para o desenvolvi- O cenário se alterou devi-
mento global. do à rapidez dos avanços tec-
Os objetivos do milênio es- nológicos e às mudanças nos
tabelecidos em 2000 foram modelos de negócios, impul-
então substituídos pelos 17 sionadas por vários fatores,
ODS (objetivos de desenvol- como crises econômicas e po-
vimento sustentável). líticas ou o crescimento da
“O conceito corrente de de- economia digital.
senvolvimento é promover a “Hoje, temos muito mais
melhoria de vida das pesso- dados, ferramentas e vonta-
as sem destruir as bases da de de fazer a transição para a
própria vida. É um programa economia verde, seja por
de trabalho para construir o oportunidade de negócio ou
futuro”, diz Ricardo Abramo- por ameaças à saúde finan-
vay, professor da FEA (Facul- ceira da própria empresa”,
dade de Economia e Adminis- explica Claro. Energia
tração) da USP. Do ponto de vista das em- distribuída
Um dos pilares do desen- presas, a economia verde po- a geração elétrica
volvimento sustentável é a de reduzir tanto os riscos am- é feita junto ou
economia verde, conceito bientais quanto os custos de próxima do
“guarda-chuva” que abriga produção, afirma ela. Em al- Ecoeficiência consumidor, a partir
diferentes correntes teóricas guns casos,como quando há propõe o menor de fontes renováveis
e pode ter várias definições. incentivos tributários, a ten- Economia verde uso possível de ou da cogeração
“É um conceito que depen- dência é o aumento da mar- conjunto de processos recursos naturais como (produção combinada
de de problemas e interesses gem de lucro. produtivos que reduz insumos no setor de calor e
políticos e econômicos que “Antes, queriam provar os riscos ambientais e a produtivo. Inclui eletricidade)
podem variar muito”, diz Lay- aos executivos das grandes escassez de recursos também a
la Saad, diretora do Centro empresas que investir em naturais e resulta em racionalização
Mundial para o Desenvolvi- economia verde não teria im- melhoria do bem-estar do consumo
mento Sustentável (Centro pacto negativo nos custos. humano e igualdade
RIO+), da ONU. Agora já estão mostrando que social, na definição do
De acordo com ela, foi só a há impacto positivo”, diz ela. pnuma (programa das
partir de 2008, com o lança- É também uma oportuni- Nações unidas para o
mento da Iniciativa Verde do dade de reposicionar empre- Meio ambiente)
Pnuma (Programa das Na- sas por meio da produção de
ções Unidas para o Meio am- novos produtos e serviços.
biente), que a ideia ganhou “Tecnologia e química ver-
mais força. de podem ser novas fontes de
“A definição do programa
ficou mais abrangente, acres-
centou o bem-estar humano
renda”, diz a coordenadora
do Insper. oNde estão • Inovação
tecnológica
e a igualdade social como
partes importantes da econo-
transiÇÃo
Para Annelise Vendrami- as oNdas Verdes • Soluções para
produção mais
mia verde”, afirma Saad. ni, especialista em finanças limpa
Em ALTA
pergunta é como vamos fi- gerar”, diz Vendramini. dinamarca foi gerada por turbinas eólicas, um consumo dos
nanciar e investir em tecno- Nem tudo pode ser negoci- recorde mundial no uso desta fonte renovável países
logia para contornar os pro- ado. As empresas precisam de energia; o país conseguiu até a exportar
blemas decorrentes disso”, reavaliar suas cadeias produ- 40% de sua produção excedente • Estado
diz Abramovay tivas e colocar os critérios am- estacionário
Ele cita como exemplo o bientais no centro do proces- Biomassa
compromisso da Índia de in- so para evitar perdas de re- a biomassa da cana de açúcar é a segunda • Estabilização da
vestir, até 2022, na produção cursos, avalia Saad, da ONU. principal fonte de energia elétrica no brasil, produção e da
do equivalente a seis usinas “Elas não podem acabar atrás apenas da gerada nas hidrelétricas. o população, com
de Itaipu em energia solar e com os insumos naturais dos derivado da cana tem potencial para variação do PIB
quatro em energia eólica. Itai- quais dependem para sobre- responder por cerca de 20% da matriz próxima a zero
pu é a segunda maior produ- viver”, afirma. energética brasileira até 2030
tora de energia limpa e reno- “Impactos que resultam de
vável do mundo. um mau gerenciamento dos
A polarização entre os que recursos, como mudanças no
defendiam o estado estacio- clima e tragédias naturais, Fontes: annelise Vendramini, da FGV (Fundação Getúlio Vargas); layla saad, da oNu (organização das Nações unidas); ricardo abramovay, da usp (universidade de são paulo)
nário (PIB próximo a zero) ou não são negociáveis”, resu-
decrescimento e os “otimis- me Vendramini.