Sei sulla pagina 1di 5

Biografia

Radamés Gnattali (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 1906 - Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 1988). Compositor, arranjador, maestro, pianista, violista. Sua proximidade
com a música tem origem no ambiente doméstico. Filho mais velho de um casal de
melômanos, seu nome incomum é inspirado em personagem da ópera Aída, de
Giuseppe Verdi. Na infância vê o pai, o imigrante italiano Alessandro Gnattali, trocar a
profissão de operário pela de músico. Da mãe, Adélia Fossati, recebe as primeiras lições
de piano, aos 6 anos de idade, e tem aulas de violino com sua prima Olga Fossati.

Aos 14, ingressa no Instituto de Belas Artes de Porto Alegre, e se forma pianista em
1924, com a orientação de Guilherme Fontainha. Adolescente, ganha a vida tocando
piano em cinemas e bailes da capital gaúcha. Participa de serestas e blocos
carnavalescos, empunhando cavaquinho e violão. Dedica-se ainda ao violino, que troca
pela viola em 1925 para integrar o quarteto de cordas Henrique Oswald (1918-1965),
em que atua durante quatro anos.
No fim da década de 1920, decide tentar a sorte no Rio de Janeiro, onde é conhecido
como virtuose do teclado. Sem recursos para dedicar-se exclusivamente à carreira de
concertista, toca viola e piano em orquestras de teatro e da Rádio Clube do Brasil, além
de integrar o quarteto do Hotel Central. Em 1929, executa o Concerto nº 1 de
Tchaikovsky no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a regência de Arnold
Glüchman, e no ano seguinte apresenta ao público carioca suas primeiras composições,
todas do repertório erudito.
A partir de 1932, recém-casado e procurando meios de subsistência, aproxima-se da
música popular. Começa a trabalhar como arranjador, transportando para o pentagrama
o jeito de tocar dos pianeiros da editora musical Casa Vieira Machado. Nessa época,
passa a reger e compor para o teatro musicado e grava seus primeiros choros, com o
pseudônimo Vero (uma homenagem a Vera, sua esposa, e uma forma de ocultar sua
relação com a música popular). Atua nas recém-criadas rádios comerciais e na indústria
fonográfica, inicialmente como pianista e depois como orquestrador e regente. Seus
arranjos são cobiçados pelos principais cantores da época. Por causa das novas
demandas profissionais, desiste da carreira de concertista. Mas segue compondo música
erudita nas horas vagas e a dar concertos de suas próprias obras.

Em 1936, torna-se maestro e arranjador na Rádio Nacional, onde permanece por cerca
de 30 anos. Ali cria a Orquestra Carioca, a primeira rádio a dedicar-se exclusivamente à
música brasileira. Acrescida de dois violões, cavaquinho e vasta percussão, dá origem
em 1943 à Orquestra Brasileira de Radamés Gnattali, do programa Um Milhão de
Melodias. Sua proposta é dar um ar mais "brasileiro" às orquestrações, embora a base
do conjunto permaneça de big band. Na década de 1950, no programa Quando os
Maestros se Encontram, dirige uma orquestra sinfônica completa, que executa músicas
do repertório nacional e internacional. Compõe a trilha sonora de mais de 35 filmes,
como Eles Não Usam Black-Tie (1981), de Leon Hirszman (1937-1987), Perdoa-Me
por Me Traíres (1983), de Braz Chediack, O Homem do Sputnik (1959), de Carlos
Manga (1928-2015), Rio 40 Graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos (1928).
Em 1949, ao lado de Zé Menezes [(1921-2014) guitarra], Pedro Vidal Ramos
(contrabaixo) e Luciano Perrone (bateria), forma o Quarteto Continental, ampliado para
sexteto em 1960, com a inclusão de sua irmã Aída Gnattali (piano) e Chiquinho do
Acordeon. O conjunto viaja pela Europa e tem grande importância na divulgação da
música popular brasileira. Como pianista solo, destaca-se como intérprete de Ernesto
Nazareth (1863-1934), de quem grava em disco uma série de oito obras, em 1953.
Nas décadas de 1960 e 1970, com a substituição do rádio pela televisão como principal
meio de comunicação de massa, as orquestras radiofônicas desaparecem, e Gnattali
passa a se dedicar mais à música erudita. Trabalha na TV Excelsior e TV Globo, como
maestro e arranjador, entre 1968 e 1979. Ainda na década de 1970, com o renascimento
do choro, suas obras são executadas pelos jovens músicos da Camerata Carioca e volta a
se apresentar em público.

Análise
Chama atenção na trajetória de Radamés Gnattali sua desenvoltura para transitar entre a
chamada música ligeira e o repertório de concerto (música erudita). Na era Vargas
(1930-1945), o rádio e a música popular tornam-se os principais sustentáculos
ideológicos do governo, e Gnattali sabe aproveitar o espaço aberto aos novos maestros e
arranjadores. Por um longo período atua na Rádio Nacional, não exatamente como
propagandista, mas sempre em consonância com os projetos do governo. De um lado,
divulga para o grande público melodias tradicionais brasileiras - uma das plataformas da
Divisão de Radiodifusão do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Mais do
que simples arranjos, suas orquestrações de motivos folclóricos para programas
como Instantâneos Sonoros do Brasil¹ são verdadeiras composições e ajudam a
construir um "imaginário sonoro" do país. São também uma realização do projeto
musical nacionalista idealizado por Mário de Andrade e posto em prática por Villa-
Lobos, que defende o resgate do folclore e sua disseminação para o povo. Por outro
lado, ao dar uma roupagem moderna e sinfonizada à música popular urbana, o maestro
ajuda a educar a audição das massas (outra bandeira do DIP), com a divulgação de um
repertório a um só tempo "nacional" e "elevado".
É difícil avaliar se a escrita singular do compositor lhe abre as portas para a carreira de
arranjador, ou se o trabalho cotidiano de escrever para orquestra é que inspira sua obra
autoral. O fato é que as duas principais áreas de atuação se confundem, influenciando-se
mutuamente. Também sua experiência como violista lhe é valiosa. Segundo o próprio
Gnattali, "o quarteto de cordas é a base da sinfônica; quem sabe trabalhar com ele, sabe
usar a orquestra". Em 1931, comentando a estreia de uma de suas primeiras obras,
a Rapsódia Brasileira para Piano, Léo Lanner, do Correio do Povo, afirma: "Não é
rapsódia, mas ensaio, embora tímido, de poderosa obra sinfônica". O crítico antevê em
sua escrita pianística o germe do domínio orquestral, futuramente exercitado no disco e
na rádio. A previsão é confirmada oito anos mais tarde por Mário de Andrade.
Comentando a participação de Gnattali, ao lado de outros compositores eruditos
brasileiros, na Feira Mundial de Nova York, afirma o musicólogo paulista: "Tem uma
habilidade extraordinária para manejar o conjunto orquestral, que faz soar com riqueza e
estranho brilho". Só lamenta que o jovem gaúcho "jazzifique" demais, embora veja nele
"a nossa maior promessa".² Aqui, é a atuação como arranjador de disco e rádio, em que
emprega os recursos das big bands norte-americanas, que parece transparecer na obra do
compositor.
A influência do jazz na música de Gnattali, tanto erudita quanto popular, é tema
recorrente entre críticos e biógrafos do compositor. De fato, o uso da orquestra completa
de metais (quatro trompetes, quatro trombones e cinco saxofones) gera um timbre
jazzificado nos arranjos. Também o emprego sistemático de acordes de nona o
aproxima da música popular norte-americana. Tais recursos são empregados a partir de
1932, quando Mr. Evans (diretor da RCA Victor brasileira) pede a Gnattali que
mimetize a orquestração de Paul Whiteman, Glenn Miller e Benny Goodman. Vale
lembrar que a entrada maciça da música norte-americana no Brasil faz parte da política
da boa vizinhança estabelecida entre os presidentes Getúlio Vargas, do Brasil, e
Franklin Roosevelt, dos Estados Unidos. Mas não só transpõe para seus arranjos aquilo
que ouve como cria estilo próprio, sobretudo no tocante aos ritmos característicos da
música brasileira. Nesse sentido, sistematiza uma nova forma de orquestrar o samba, ao
transferir a cadência rítmica, inicialmente executada pela percussão, para o naipe dos
metais. O riff³ da Aquarela do Brasil - o famoso "tantantã" executado pelos saxofones -
é um marco nesse processo. O recurso já havia sido utilizado por outro arranjador,
Pixinguinha (também acusado de "jazzificado" pelos nacionalistas modernistas no início
da carreira). Mas ele só é explorado a fundo por Gnattali. Na música erudita, sua
capacidade de transferir para a orquestra os ritmos brasileiros reflete-se em
sua Brasiliana nº 1, gravada em 1946 pela BBC de Londres, que tem grande dificuldade
em executar as síncopas - aquele "pequeno nada", uma das características da chamada
música brasileira.
Outro reflexo da vivência radiofônica na obra de Gnattali é a inusitada instrumentação
de suas peças. Cercado de bons solistas na Rádio Nacional, o compositor procura
escrever para eles. É assim que surgem seu Concerto para Harmônica de Boca e
Orquestra (1958), escrito para Edu da Gaita; Concerto para Acordeão e
Orquestra (1958), para Chiquinho do Acordeão; Retratos, concerto para bandolim e
orquestra, para Jacob Bittencourt; Suíte Popular Brasileira para Violão e Piano (1956),
com Laurindo de Almeida. Sua Brasiliana nº 2 é escrita para piano, orquestra de cordas
e bateria de escola de samba; já a nº 9 exige violoncelo, pequena orquestra e dois
atabaques. Também é famoso seu arranjo para dez caixas de fósforos e orquestra,
inspirado no desempenho do compositor Elton Medeiros no "instrumento", que tem o
cantor Jorge Goulart como solista. O manejo com diversos timbres revela a audição
aberta do compositor, bem como seu constante experimentalismo em um universo
musical ainda fortemente marcado pelo ranço escolástico.
O fim do governo Vargas, em 1945, coincide com uma mudança no estilo de Gnattali.
A primeira fase de sua obra, entre 1930 e 1941, é marcada pelo aproveitamento de
temas folclóricos e a influência do estilo de Grieg e do jazz. Em meados da década de
1940, liberta-se do nacionalismo neoclássico e se aproxima das grandes formas, em
obras como o Trio Miniatura, a já citada Brasiliana nº 1 e o Concerto Romântico. Essa
mudança também transparece em suas composições populares. Os arranjos para os
"quatro grandes", como são conhecidos os quatro principais cantores do disco e do
rádio - Orlando Silva, Francisco Alves (1898-1952), Carlos Galhardo e Silvio Caldas
(1908-1998) −, cedem espaço a uma orquestração mais intimista, em que utiliza
instrumentos como marimba, guitarra e acordeom, produzindo um timbre hi-fi
considerado precursor da bossa nova. O arranjo de Copacabana, gravado em 1946 por
Dick Farney, é considerado por alguns críticos um marco nesse processo, antecipando,
com seu ambiente camerístico, as sonoridades bossa-novistas.
Radamés Gnattali deixa uma extensa obra de concerto, cerca de 400 títulos, além de
inúmeras composições populares. Estima-se que, só na Rádio Nacional, tenha escrito
mais de 10 mil arranjos. Essa vasta produção não recebe ainda a devida atenção de
músicos, musicólogos e historiadores.
Notas
1 O programa, uma espécie de "documentário musicado dos costumes brasileiros",
descreve a música popular e os costumes típicos do país por meio da narrativa de José
Mauro, idealizada por Almirante, e da música de Radamés Gnattali.

2 Artigo publicado em O Estado de S. Paulo, São Paulo, em 12 de fevereiro de 1939, e


editado no livro Música, doce música. São Paulo: Martins; Brasília: INL, 1976, p. 286.
3 Riff (refrão, em inglês): pequeno fragmento rítmico-harmônico, em geral sincopado,
executado na forma de ostinato (figura repetida obstinadamente).

Potrebbero piacerti anche