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“Toda dor pode ser melhor suportada

se sobre ela puder ser


contada uma história”
Hannah Arendt

Esboço sobre a clínica psicanalítica no universo do paciente oncológico


“O ego é antes de tudo um ego corporal” (Freud, 1923)

Médico Neurologista, Dr. Freud em seu texto de 1923 – O ego e o id – já reservava um


lugar especial para o corpo na constituição do psiquismo, postulava a existência de um
ego corporal anterior a tudo, acrescentando que “o ego deriva em última instância das
sensações corporais”.
Daí podemos depreender e considerar a expressão invertida em sua ordem à
comumente conhecida psicossomática, a somatopsíquica.
Enquanto a somatização é um modo do não-dizer, a análise, em contrapartida, é um
lugar particularmente adequado para tratar a dor colocando-a em palavras.

Historicamente conhecida “Talking Cure - cura pela fala” a psicanálise considera


igualmente a fala, o ato falho, a interpretação do silêncio, pois é a escuta que capta o
dito, e o não dito, ademais a fala corporal.

“O inconsciente é estruturado como uma linguagem” frase célebre do mais renomado


psicanalista da era pós freudiana até os dias de hoje, Dr. Jacques Lacan, médico
psiquiatra.

No incurso do câncer o aparelho psíquico é abalado e construções imaginárias


desabam, como a noção que por vezes alicerça a vida ― a crença de que o ser humano
é imortal.

A primeira preocupação que absorveu a psiconcologia, portanto, teve seu foco nas
origens e causas da doença. Numerosos trabalhos exploraram fatores genéticos,
ambientais, sociais e psíquicos que poderiam ser associados à eclosão do câncer, na
busca de uma relação de causa e efeito. E o resultado de consenso, fruto dessas
investigações, aponta para a multifatoriedade, entendida esta como o conjunto dos
fatores biopsicosociais presentes, em maior ou menor grau, na instalação das
neoplasias malignas. Hoje, a esse tripé agregou-se uma gama de aspectos chamados
de espirituais (ou sua ausência), que se referem ao significado – ou à sua perda –
atribuído às experiências vividas.

A prática clínica psicanalítica se dá no encontro com “pessoas vivas”, possuidoras


também de uma mente, para além de um corpo adoecido, o que possibilita acesso ao
sujeito do inconsciente, via pela qual a psicanálise pode ser operada fazendo com que
sentimentos ganhassem voz, indicando outro caminho de comunicação e descarga que
não somente o corpo, mudando a rota de movimentos de destrutividade, fazendo com
que a pulsão de morte impulsione o sujeito ao seu outro polo, a pulsão de vida.

Em minha experiência com pacientes psiconcológicos, comumente expressavam


dificuldades em nomear sentimentos, não encontravam palavras tornando o discurso
obstaculizado por longas pausas, dai a figura do analista estar preparado para a ênfase
no manejo da transferência.

Almeja-se um trabalho em equipe que atue como uma construção coletiva de um


saber que não é sobre o paciente, mas que se constrói a partir de uma fala que ele
próprio nos endereça. Para a psicanálise, a realidade abordada é a realidade psíquica,
diferentemente da equipe de saúde que trabalha com dados factuais, diagnósticos por
imagens, questionários objetivos, dentre outros dados verificáveis. É na produção de
giros nos discursos, pela consideração de cada caso singular, que algo do discurso do
psicanalista pode operar pela manifestação do inconsciente através da fala.

Tão importante quanto o tratamento do câncer é a atenção dispensada à subjetividade


do sujeito e aos aspectos emocionais que envolvem aqueles que enfrentam a doença.
O que difere o psicanalista de outros profissionais da área da saúde é a “escuta
profundamente treinada” oferecida àquele que padece.
Psicanálise é, acima de tudo, a arte do saber escutar.
Prioriza-se o estilo e o traço singular do psicanalista ao lidar com a imprevisibilidade do
inconsciente, sem a exigência da completa sistematização do trabalho.

“Aquele que não fala com os lábios, fala com as pontas dos dedos: nós nos traímos por
todos os poros”. Freud

Faz-se psicanálise e vivencia-se a rara experiência de falar a alguém que


verdadeiramente está interessado em escutar, e não tão somente enquadrar o
paciente no último manual diagnóstico psiquiátrico.

O psicanalista entende o sujeito em sua totalidade, qual muito antes de um corpo


possuído por uma doença, um alguém detentor de desejos, onde pulsão de vida e
morte, conceitos tão caros à teoria psicanalítica gritantemente evidenciam-se no
processo, do começo ao fim da enfermidade, objetivando-se no tratamento
psicanalítico a integralidade do sujeito tão lancinantemente fragmentado, dando
espaço a expressão da angústia.

A “associação livre” como pilar da fala e a “atenção flutuante” no processo de escuta,


balizadas pela relação transferencial são condições sine qua non para o normal
andamento do processo.
É preciso que o sujeito fale indiscriminadamente tudo que vier à sua mente e o
analista, em contrapartida, exerça a escuta atenta a tudo que é dito, contendo a
influência consciente e inconsciente da sua capacidade de atenção.

A manifestação da pulsão de morte, que expõe o funcionamento psíquico do paciente


oncológico traz consigo o cultivar de um sofrimento, movimento anunciado pela
presença de ações destrutivas e autodestrutivas, que precisaram ser suportadas no
vínculo, em transferência com o analista.

Em minha experiência com esse tipo de paciente, por vezes se tornava impeditivo
manter a atenção flutuante, sendo preciso passar a atenção mais objetivizada visando
não sair do “setting” e conseguir acompanhá-lo no seu movimento narcísico de morte,
sem me mortificar, para só então poder ofertar possibilidades de ampliação para o
ressurgir da pulsão de vida.

Arteterapia

"Toda arte se caracteriza por um certo modo de organização em torno do vazio. Não
creio que seja uma fórmula vã, malgrado sua generalidade, para orientar aqueles que
se interessam pela elucidação das vicissitudes da vida, e penso dispor de meios para
ilustrá-lo de maneira múltipla e muito sensível." Lacan

O terapeuta oferece a possibilidade para o sujeito encontrar saídas criativas e


singulares para o seu sofrimento, qualquer que seja o diagnóstico e o prognóstico.

O uso das metáforas foi um caminho encontrado, bem como dosagens de humor,
estando sempre presente a dimensão criativa, assim como lançar mão da técnica de
storytelling foi-me extremamente útil em muitos momentos.

Houve resgate da parte do ego que não foi soterrada pelo trauma, considerando que o
psiquismo não se estagnou, sendo, assim, possível continuar no percurso das
elaborações conscientes.

A musicoterapia atua em cuidados paliativos tem como metas facilitar a expressão


emocional dos pacientes, promover o alívio das ansiedades e da depressão e diminuir
a sensação de isolamento e de dor. A música, no processo terapêutico, tem um
potencial transformador, visto que, sendo uma linguagem acessível à maioria das
pessoas, pode ser facilmente compartilhada. Por meio dela resgata-se lembranças,
fortalece-se vínculos familiares e é oferecido um espaço seguro de escuta e
acolhimento.

A música estimula o corpo de forma prazerosa e atua saudavelmente, de forma


inseparável, na psique. No momento em que a música atua, o estar doente se torna
secundário e a sensação de potência pode ressurgir. O trabalho clínico do
musicoterapeuta possibilita a construção de uma narrativa, na qual o paciente pode
compartilhar a sua história, oferecendo-lhe um novo significado por meio do discurso
musical, o que facilita a aderência ao tratamento.
“Os poetas e os romancistas são aliados preciosos, e o seu testemunho merece a mais alta
consideração, porque eles conhecem, entre o céu e a terra, muitas coisas que a nossa
sabedoria escolar nem sequer sonha ainda. São, no conhecimento da alma, nossos mestres,
que somos homens vulgares, pois bebem de fontes que não se tornaram ainda acessíveis à
ciência. Os poetas e filósofos descobriram antes de mim o inconsciente; o que eu descobri foi
o método científico pelo qual o inconsciente pode ser estudado.
Aonde quer que eu vá, eu descubro que um poeta esteve lá antes de mim.”. Sigmund Freud, in
'As Palavras de Freud'

Comunicação
Muitos estudos têm discutido o tema da comunicação no sentido de oferecer subsídios
para um cuidado de qualidade que abarque as reais necessidades do paciente
oncológico. A comunicação efetiva associa-se à maior qualidade na provisão do
cuidado e a maiores índices de satisfação, bem-estar e de qualidade de vida desse
paciente.
A busca pela maior compreensão do fenômeno da comunicação entre profissional e
paciente em oncologia também pode ser aprofundada pela perspectiva
psicanalítica12,13, pois pode oportunizar uma entrega de cuidados que abarca
também o manejo das consequências psíquicas e traumatizantes ocasionadas pela
enfermidade.

Alguns autores psicanalíticos trabalharam com o tema da comunicação nas relações e


as consequências, positivas ou negativas, para o desenvolvimento humano. Seus
estudos chamaram a atenção para formas de comunicação efetivas, verbais e/ou não
verbais, que possibilitam um encontro genuíno entre um indivíduo que cuida frente
àquele que sofre e/ou precisa ser cuidado. Como exemplo, o médico Dr. Wilfred Bion,
psicanalista britânico atuante no cuidado do exército de seu país durante a segunda
guerra, propôs o conceito de "rêverie" comparando à receptividade emocional
necessária à mãe para que ela decifre os medos e receios de seu bebê. A alusão entre
mãe e o profissional de saúde que provê o cuidado e o bebê e o paciente que o recebe,
é justificada pela ciência de que todo ser humano frágil frente à iminência de morte
precisará de outro que lhe ofereça a capacidade de cuidado semelhante ao que ocorre
na maternagem.

Ele afirmou ser preciso que não nos deixemos ser aturdidos, no nosso trabalho
analítico, pelas denominações que são dadas aos pacientes pela medicina. Frisou que o
que vai nos interessar são as pessoas vivas, no considerar de suas mentes, e o que
podemos oferecer no encontro com elas, a saber, o eco reelaborado de uma escuta
diferencialmente treinada.

Assim, também o Dr. Donald Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, desenvolveu o


famoso conceito de "mãe suficientemente boa" em que creditou à figura daquele que
pode cumprir o papel psicológico materno a capacidade e possibilidade de abarcar as
necessidades de seu bebê, nomeando seus medos e inseguranças de forma que este se
sinta amparado diante das experiências impostas pelas privações e frustrações.
Aquele que sofre sente-se compreendido e capaz de aprender com as experiências
dolorosas quando encontra um outro que, naquele momento, possui recursos
psíquicos mais elaborados do que os seus e que deseje legitimamente estabelecer uma
comunicação efetiva com ele.

A empatia aparece como outro conceito relacionado à comunicação entre profissional


da saúde e paciente e que é amplamente utilizado pela Psicanálise.

Empatia (EN-, “em”+ Pathós, “emoção, sentimento, sofrimento”- daí patologia). A ideia
é estar “dentro” do sentimento alheio. é a capacidade de ser sensível às
comunicações/ demandas do outro, podendo colocar-se em seu lugar, mas sem perder
os referenciais próprios. A partir dessa possibilidade, o cuidador permite sentir e
pensar como se fosse o paciente, alcançando de forma mais fidedigna a compreensão
de suas necessidades. Para a Psicanálise, a empatia relaciona-se ao modo de
intercomunicabilidade mais profunda de suas subjetividades inconscientes
oportunizando a amenização do esmorecimento psíquico.

Em suma, conceitos psicanalíticos como “rêverie”, “mãe suficientemente boa” e


“empatia” podem auxiliar na compreensão do significado da comunicação efetiva
profissional-paciente e possibilitar o oferecimento de um cuidado mais holístico no
universo oncológico.

Ao longo dos anos, as “áreas psi” vem aumentando sua representatividade e


importância nos ambientes hospitalares compreendendo os fenômenos de saúde e
doença, propondo intervenções que possam manter e melhorar o bem-estar humano.

Concluo dizendo que, a psicanálise não tem o poder de mudar os fatos de uma vida,
mas oportuniza uma nova narrativa dos fatos, e isso pode fazer grande diferença.

Att,
Carlos Lima.

Psicanalista membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise Clínica – Campinas/Sp


Especialização em Clínica Psicanalítica Avançada
Curso preparatório CVV – SP
Palestrante profissional formado pela Escola de Oratória Vox2You
Bacharel em Filosofia/Teologia com especialização em Aconselhamento
Músico membro da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) e da Associação Brasileira de
Música e Artes (ABRAMUS).
Jornalista membro da Associação Brasileira de Jornalistas
*Último trabalho: coordenador de ação social da associação AMPARA
*Este escrito tratando-se de um esboço informal, furtei-me

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