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O Poço: o comunismo de Goreng não “salvou” a mensagem

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Por Jocinei Godoy, publicado pelo Instituto Liberal

O badalado filme espanhol “El Hoyo”, traduzido no Brasil como ”O Poço”, cuja estreia se deu
no mês passado na Netflix, tem dividido a opinião dos brasileiros acerca dos seus
desdobramentos finais, uma vez que o filme termina de forma súbita, abrindo margem
para as mais variadas interpretações. Entretanto, este texto não visa tratar sobre possíveis
interpretações da mensagem conclusiva do filme. Antes, objetiva descrever minimamente e

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refletir sobre a ideia que alguns têm tido de que a trama só teve um desfecho
relativamente positivo pelo fato de haver ideais comunistas defendidos pelo ator principal.
Se você não assistiu ao filme ainda, sugiro não continuar a leitura [alerta de spoilers].

Perguntado por Goreng (personagem principal) sobre a finalidade do poço, Trimagasi


responde que o poço consiste em comer. De fato, esta é uma resposta plausível. O poço é
chamado de Centro Vertical de Autogestão, uma espécie de prisão vertical, onde cada
andar abriga duas pessoas. Uma plataforma desce parando em cada andar, a começar do
primeiro, contendo uma espécie de banquete preparado impecavelmente contendo vários
pratos, do mais simples ao mais sofisticado, a fim de que todos os integrantes dessa prisão
possam fazer a sua refeição. A lógica transmitida pelo filme é a seguinte: se cada um pegar
apenas a sua porção sem exageros e sem bagunçar o restante do banquete, todos
comerão adequadamente. Porém, o que vimos é que cada um come o máximo que pode e,
além disso, cada um ao seu modo pisoteia, cospe e ridiculariza as sobras que irão
alimentar aqueles que estão nos andares inferiores.

Logo no inicio do filme há a menção por Trimagasi de que há três tipos de pessoas no
poço: os de cima, os de baixo e os que caem . Cada dupla permanece no andar por um mês,
sendo que a troca para andares superiores e inferiores ocorre de modo aleatório. Quem
acorda em andares superiores recebe mais comida. Quem acorda em andares inferiores
recebe menos comida e o que ainda resta, em geral, vem acompanhado de escarros,
urinas e fezes. Por essa razão, muitos se jogam do poço, preferindo cometer suicídio a ter
que morrer de fome. Outros que se encontram próximos ao fundo do poço praticam
canibalismo, matando uns aos outros, para sobreviver. Grosso modo, o poço possui esta
configuração.

Diante disso, Goreng entra no poço de forma voluntária com a finalidade de parar de fumar
e para ler o livro Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, ícone da literatura
espanhola. Ao compartilhar o andar do poço com Trimagasi, Goreng observa a lógica do
poço e diz que as pessoas dos andares superiores e inferiores devem ser avisadas para
racionar a comida. Trimagasi logo o repreende perguntando se ele é comunista, ao que
Goreng responde que isso é razoável. A trama se desenrola com ações sombrias e mortes
violentas. Passado um mês, quando Goreng e Trimagasi vão para o andar 171, Trimagasi
amarra seu companheiro de prisão explicando a ele que aquilo era necessário para evitar
que, diante da loucura da fome, Goreng não o matasse para sobreviver. Assim, quando
alguns dias passam, Trimagasi, tomado de uma fome insuportável, decide cortar pedaços
do Goreng com a sua faca, a Samurai Plus, para saciar sua fome. Nesse momento, desce na
plataforma uma mulher chamada Miharu que golpeia Trimagasi na cabeça e solta Goreng
de suas amarras. Ela entrega a faca a Goreng que, instintivamente e quase sem forças,
mata Trimagasi em um ato de vingança.

O mês chega ao fim e Goreng acorda em um andar superior com comida “à vontade”, ao
lado de sua nova companheira Imoguiri. Ela come minimamente e prepara dois pratos com
comida suficiente para que as duas pessoas do andar de baixo comam. Com isso, Imoguiri
tenta incansavelmente, todos os dias, convencê-los de que devem comer e fazer o mesmo
e, assim, a comida chegará a todos até ao final do poço. Obviamente, as pessoas do andar
de baixo zombam de Imoguiri toda vez que ela tenta persuadi-los daquilo que ela chama
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de solidariedade espontânea. Porém, passados alguns dias, Goreng se cansa da ladainha
diária de Imoguiri e esbraveja com o pessoal do andar de baixo, dizendo que, se não
acatassem a recomendação de racionamento, ele sujaria de fezes até o último grão de
arroz presente na plataforma. Eles se calam e, aparentemente, acatam a recomendação de
Imoguiri.

No outro mês, ambos vão para o andar 202 do poço. Quando Goreng acorda, vê Imoguiri
morta. Ela se suicidou, facilitando, em certo sentido, a sobrevivência de Goreng no andar, a
que não chegava nem o cheiro da comida. O mês se passa e Goreng acorda em um andar
superior com um rapaz que cria que Deus o tiraria dali. A esta altura do filme, Goreng tinha
sonhos e alucinações com Trimagasi e Imoguiri. Em um desses sonhos, Imoguiri diz que
Goreng estava ali para forçar mudanças espontâneas. Ele decide descer o poço pela
plataforma e convence o seu novo companheiro, Baharat, a descer com ele, a fim de
persuadir as pessoas a fazer com que volte alguma parte da refeição do banquete,
quebrando o que ele chama de “a dinâmica do poço”.

É nesse contexto que se tem um retrato implacável da lógica interna do comunismo. É


inegável que, para os comunistas bem intencionados, a ideia de igualdade se constitui como
o mote principal de suas ações. Quem não quer viver em um mundo com redução das
desigualdades, tendo o suficiente para viver uma vida digna? Este parece ser um motivo
bastante plausível para aderir ao movimento comunista. Os que assim fazem sonham com
o dia em que o mundo acordará num passe de mágica, com seus trabalhos, esforços,
ganhos e perdas, todos à luz da igualdade, sem faltas ou sobras, isto é, com todos tendo o
suficiente para viver dignamente.

A ideia de Goreng era nobre. Ele queria que as desigualdades fossem cessadas, que a
dinâmica do poço fosse quebrada e que o experimento do Centro Vertical de Autogestão
chegasse ao fim. Porém, Goreng viu o seu ideal perverter o seu próprio senso de realidade.
A exemplo de vários ditadores comunistas, vivos e mortos, Goreng teve sua cognição e
empatia sequestradas por um ideal futuro de igualdade e justiça. Nesse ínterim, conforme
Goreng e Baharat iam descendo, ameaçavam matar as pessoas que chegassem perto da
plataforma para pegar a comida. Em não poucos casos, mataram os que tentaram obter
comida para sobreviver. A igualdade e justiça futuras buscadas por Goreng deram lugar a
desigualdade e injustiça cometidas por ele mesmo ao matar aqueles que já estavam quase
morrendo de fome.

Por fim, Goreng e Baharat chegam ao fundo do poço quase mortos. Misteriosa e
milagrosamente eles encontram uma garotinha. Em uma mistura de sonho com
alucinação, ambos entendem que a garotinha era a mensagem que deveria voltar pela
plataforma até chegar aos administradores. Goreng coloca a garotinha na plataforma que
sobe rumo à Administração. O filme acaba neste ponto.

A impressão que se tem é a de que, conforme retratado no próprio enredo do filme,


Goreng é uma espécie de Messias. Ledo engano. Por mais que a ação de Goreng remeta à
quebra da lógica do poço, a reflexão que realmente deve ser feita pelo telespectador é:

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qual o preço da quebra desta lógica? Dito de outro modo e trazendo à realidade de
tentativas comunistas frustradas: qual o preço da tentativa de implementação de regimes
igualitários? A resposta é a mesma de sempre: perda de liberdades e morticínios sem fim.

Este é o cerne do problema da imposição de igualdades. Goreng não conseguiu enxergar


isso e, mesmo assim, perseguiu um ideal nobre, porém, sendo um canalha no presente.
Não é somente a nobreza de um objetivo que deve definir alguém ou alguma ideologia,
mas os meios utilizados para se lograr êxito também importam. Enquanto não houver o
aprendizado de que o comunismo foi tanto ou mais mortífero do que o nazismo, muitos
continuarão enganosamente relacionando a “atitude heroica” de Goreng a algum tipo de
ideal comunista. O ideal até parece ser bom, contudo, na vida real, demonstrou ser um
inferno na vida de milhões de pessoas em toda a história. Com o poço, não foi diferente.

Antes que me esqueça, o poço não é sobre luta de classes. A fome e a violência que
envolvem a trama possuem, pelo menos, dois problemas fundamentais. O primeiro reside
na própria Administração, que estabeleceu termos desumanos para sobrevivência,
escolhendo quem sobe ou desce no poço. Isso remete à ideia de Estado iluminado
totalitário que decide quem deve viver ou morrer pela causa do regime. O segundo refere-
se à velha e indissociável natureza humana, sempre voltada às praticas egoístas para fins
interesseiros, principalmente quando exposta a situações degradantes. Portanto, não, o
comunismo de Goreng não salvou a mensagem. Ela apenas foi entregue a preço de sangue.
Um “pequeno detalhe” que passa despercebido aos amantes do comunismo.

Rodrigo Constantino
Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no
mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a
coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O
Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal. **Os textos
do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

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