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Marisa Elizabete C.

'Godoy
íPsíCÕloga
CRPQ8/01852

Mônica Medeiros Kother Macedo


Leanira Kesseli Carrasco
(ORGS.)

(CON)TEXTOS DE ENTREVISTA
Olhares diversos sobre a interação humana

Autores:
Adriana Ampessan
Ãngela Cristina Barrios Pratini Seger
Blanca Susana Guevara Werlang ,-
Carolina Neumann de Barros Falcão
Denise da Costa Hausen
Dulce Helena Aguilar Baldo
Fabrícia Ramos
Irani de Lima Argimon
Jacqueline Poersch Moreira
Janice de Oliveira Castilhos Vitola
Juliana Rausch Potter
Kelly Cardoso Paim
Leanira Kesseli Carrasco (org.)
Maria Lúcia Tiellet Nunes
Marta Cemin
Mônica Medeiros Kother Macedo (org.)
Nádia Maria Marques
Nadir Helena Sanchotene de Souza
Nelson Asnis
Neri Maurício Piccoloto
Ricardo Wainer
Sissi Vigil Castiel
Terezinha Rech

~~~
~
~
Casa do Psicéloqo"
© 2005 Casapsi Livraria Editora e Gráfica Ltda
(, proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, para qualquer
finalidade, sem autorização por escrito dos editores.

1" edição APRESENTAÇÃO


2005

Editores
lngo Bernd Güntert e Silésia Delphino Tosi
"Imagine-se que um explorador chega a uma região pouco
Produção Gráfica e Editoração Eletrônica conhecida onde seu interesse é despertado por extensa área
André Cipriano
de ruínas com restos de paredes, fragmentos de colunas e
Revisão Ortográfica lápides com inscrições meio apagadas e ilegíveis. Pode
Suzana Rehmenklau & Adriane Schirmer contentar-se em inspecionar o que está visível, em interrogar
Capa
os habitantes que vivam nas vizinhanças - talvez uma
(1
população semibárbara - sobre o que a tradição lhes fala da
André Petry
l- história e do significado desses resíduos argueológicos,
r'anotando o que lhe foi dito - e então seguir viagem. Mas
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
l p_odeagir diferentemente. Pode levar consigo picaretas, Qás
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) e enxad~s e colocar o~~bit~.!!tes p'~ra trª-Q.ªJharcom esses
t~
in~~~!!lentos. Junto com eles, pode atacar as ruínas, remover
(Con)textos de enrrevisra: olhares diversos sobre a interação
humana / Mônica Medeitos Kother Macedo, Leanira Kesseli Carrasco,
00 lixo e, começando dos resíduos visíveis, descobrir o que
,
~C )
está enterrado. Se seu trabalho for coroado de sucesso as
(organizadoras). - - São Paulo: Casa do Psicologo®, 2005.

Vários autores.
Bibliografia.
(e descobertas são "auto-explicativas": as paredes arruinadas
são parte das muralhas de um palácio. ou de uma tesouraria;
ISBN 85-7396-381-6
os fragmentos de colunas podem reconstituir um templo;
as numerosas inscrições, que por um lance de sorte podem
l. Entrevista 2. Interação Social 3. Psicanálise
ser bilíngües, revelam um alfabeto e uma linguagem que,
I. Macedo, Mônica Medeiros Korher. 11. Carrasco, Leanira
Kesseli. lII. Título: Olhares diversos sobre a interação humana. uma vez decifrados e traduzidos, fornecem informação nem
05-4072
sonhada sobre eventos do mais remoto passado, para cuja
COO-158.3 comemoração os monumentos foram construídos. ~axa
índices para catálogo sistemático: l2.9uuntur!"*! e 2 ~v . cJ
I. Entrevista: Psicologia aplicada 158.3 Consiideran dO a P'Slcanáli se~ como ô" ~~
teona que sustenta a com-
preensão do Homem em um espaço de investigação, vitalizado~
Impresso no Brasil
Printed in Brazil pela curíOs1dade entre o~onhecido e o conhecido, e o trân-
sito entre o sinistro e o familiar, é possível acompanhar os fei-
Reservados todos os direitos de publicação em língua portuguesa à
tos dessas dualidades na via da repetição. Por meio da psicaná-
~:::1~
~~?
© 2005 Casapsi Livraria Editora e Gráfica Ltda lise podemos adentraium labirinto caracterizando um caminho
~~ É proibida a reprodução total ou parcial desra obra para
qualquer finalidade. Todos direitos reservados.
Rua Santo Antônio, 1010 - Jd. México - Itariba/SP _ Brasil
I + [As pedras falam!]

CEP 13253-400 - Te!.: (I 1) 4524.6997 - www.casadopsicologo.com.br , FREUD, Sigmund - Eriologia da Histeria [1896]. AE. Vol m. Pl92
~
o--r>'
6 (Con)textos de entrevista: olhares diversoy~e a interação humana
11111111' M~dciros Kother Macedo & Leanira Kesseli Carrasco (Orgs.) 7

a ser descoberto, um enigma a ser decifradL um espaço nO_9llil1


t.uuhérn servir à pluralização de vozes e à distribuição demo~
v a hospitalidade se faz necess~ia. O€~g~dentro de cada
. nuica da informação". Marcam com a flexibilidade do pensa-
um não deve inviaQiliz.fIJ_o_sdifexelltesediversos_senticlQs da
urcnto acadêmico voltado para a investigação um espaço para
-palavra hospitalida-de. Hospitalidade remete a uma atitude in-
t"---- _ _ ~
que outros colegas se pronunciem também o que pensam sobre
trínseca ao processo de desvendar o sinistro de nossos
I) que fazem.
analisandos na clínica psicanalítica, mas também faz alusão à
- capacidade de escuta entre os pares. Passo a apresentação de cada capítulo, antecipo minhas des-
culpas aos próximos leitores deste livro, por cometer o deslize
A leitura de (Con)textos de Entrevista é uma oportunLqade
(IL' permanecer, por mais tempo, nas páginas, com aqueles au-
privil~g~~~te~tar a capacidade .de conviver ~o~ as-illfe-
rores com quem tenho "comemorado" as descobertas valiosas
renças, nos refere~iais teóricos, que sustentam a escuta dos
IIl1 construção legada por Sigmund Fr~d.
, ãutores que se apresentam nestas páginas. O território comum
Y entre eles são as ~n~uietaç~~s que provocam encoJ1tro~~m o ? Per via de porre, uma intervenção psicanalítica? Capítulo
}t~í ou~o: como ouvI-IQ, pensa-Io, responder a ISSO?A partir de escrito por Denise Hausen evidencia o lugar de compromisso

, ~v), I ~~ntes concepçQes teóricas de como responder à _dymj,md,a que ocupa em relação à psicanálise. Leva-nos a pensar sobre as

. ,b ',I que ooutro formula, os autores deste livro construíram diver- li i lerenças das produções psíquicas e as conseqüências nas inter-
à~'>c II sas posições de escuta, vcnções do analista. Recupera a Q!Q12osta ftepdiana, na pedra bruta
,f .
-scultura-se o conflito, e ~er
- --- - via de levare encontra
-
a teraJ2êuti-
--
v [ Penso que é necessário situar-se em uma certa posição em '

*'\ relação à descoberta na arqueologia do outro, pp~ç_~o_gue,


independe das diferenças, porque é ética,
.a de acesso ao conteúdo r~calc~d~~aqui, propõe 'lli~pens~s
.m intervenções per yia de eO!'Ie considerando suas inquieta-
ções com as patologias 9!:!.e_
•••• o - - ._ -

c~acteriza~línicª atual .
(Con)textos de Entrevista é um livro escrito a partir de ex-
A escuta na Psicanálise e a Psicanálise da escuta, assina-
periências em diversos campos profissionais, mas o que chama
do por Mônica Medeiros Kother Macedo e Carolina Neumann
a atenção, porque não é comum em nosso meio, é que os auto-
de Barros Falcão, é uma reflexão. Os questionamentos, entre
res não trataram a teoria como dogma e se colocaram distantes
linhas, sobre: Em que consistem a originalidade e a singulari-
da prática viabilizada como receita. TOdQ.s1cad'!.J:!.~m sua
dade da experiência analítica? O que se transmite na Psicanáli-
ers~tiva,_propõem que pensemos_~ntre..vista_coII1.QQ recur-
se?, Como se transmite? levam-n~s ~pensar que a experiência
so de "escutar'~Q.ºutIQ, tanio na especifiçLdade cQl1lQna filljili-
em psicanálise não tem outro sentido: é a experiência que cada
dade de cada.~RcoIJ!t:o.A complexidade de um sistema aberto
prevê a fecundidade no intercâmbio. um retira d§ sua p.rópria análise. Uma escolha que não pode ser
por fidelidade, nem por prescrição, nem por reprodução; "o que
As organizadoras deste livro, Leanira Kesseli Carrasco e visa ser escutado na psicanálise resulta em uma psicanálise da
Mônica Medeiros Kother Macedo, no capítulo de abertura, sus- escuta".
tentam que "a entrevista, nas suas diferentes aplicações, é uma

U técnica de interação social, de interpenetração informativa que-


brando, assim, isolamento grupais, individuais, sociais; pode
Sissi Vigil Castiel e Carolina N. de Barros Falcão escre-
vem A implicação do lugar do analista no destino do processo
analítico. Como as autoras, também penso que o campo
H
(Con)rextos de entrevista: olhares diversos sobre a interação humana
111,,1111 I'vh·dviros Kother Macedo & Leanira Kesseli Carrasco (Orgs.) 9

transferencial é, por excelência, o campo de ação da Psicanáli- di/,l'1l1respeito à totalidade, à organização e à padronização. Os
se. Assim, analista e analisando, no jogo de dupla escuta, po- I'Vl'lllos são examinados dentro do contexto no qual ocorrem,
dem construir destinos "para as forças pulsionais e inscrevê-Ias 1111~l·.iU, na fanulia, e a atenção do terapeuta é centrada nas co-
no universo da simbolização. Dentro desse contexto, a subli- III'XIlt:S e nas relações entre os membros, mais do que nas ca-
mação seria o destino pulsional que se relacionaria a formas IIll'ln(slicas individuais".
alternativas de satisfação de desejo". É um desafio à capacida-
I~mA circularidade sistêmica na escuta clínica, Terezinha
de do analista de colocar-se como objeto da pulsão e sujeito da
ação transformadora. I{l'l'h afirma "a entrevista, primordialmente as primeiras, con-
"Il" em lidar com situações complexas e ansiogênicas pela
Adriana Ampessan _.....
historiza um percurso teórico-çlínico
mui!ºJ2.eculi~r p_aradefinir-se _na_eS~'-..l~'!..g9
JJ-ª.decer inf-ªntil. A
-- 1IIIIurezada tarefa. Por um lado, exige do profissional um gran-
dl' esforço interpretativo e, por outro, de seus integrantes um
-singularidade da psicanálise infantil leva o leitor a aproxi- 1~1'1()I"(';o para estabelecer a comunicação. Ambas as partes man-
mar-se de aportes que sustentam a escuta no processo de aná-
- -
-

lise da criança. As entrevistas iniciais, as hipóteses, a inclu-


-, - 1Í'lll-sesob o efeito de uma forte carga emocional, dificultando
\) seguimento de um padrão determinado".
são dos pais fazem parte de um circuito dinâmico que funda-
menta a terapêutica. entrevista de Triagem:. espaço de acolhimento, escuta e
ujuda terapêutica, de Nádia Marques, autora com longa expe-
Irani de Lima Argimon e Kelly Cardoso Paim relatam, em riência em atendimento institucional que contribui com_suas
A entrevista motivacional, a experiência com pacientes em uma observações __,!cerca do yalor das entreyistas de tria~m. Neste
unidade de dependência química para apresentarem as inter- uuxlclo, o enJrevisJador e o entrevistado têm objetivos esp_eç.í-
venções que consideram terapêuticas.
I'k:os e papéis diferenciados. Escreve a autora que as entrevis-
Em Entrevista em psicoterapia cognitiva, Ricardo Wainer
-----'-
Itls de triagem ~o real~..?..?ldas
--",
.dentro do enfoque Qsi~odinâmic~
e Néri Maurício Piccoloto apresentam os aspectos que conside- . 113mcomo objetivos elaborar uma história clínica, definirJ)Í-
ram importantes no desenvolvimento das entrevistas nesta mo- IH)leSeSde diagnóstico _e_fl.jpdicaçãoterapêutica.
dalidade terapêutica.
Psicodiagnôstico: recurso de compreensão, no trabalho do
Janice Castilhos Vitola e Marta Regina Cemin movimen- psicólogo de Leanira Kesseli Carrasco e Juliana Rausch Põtter,
tam-se no contexto de entrevista a partir da afirmação de que '111um momento de discussão em torno da utilização dos testes
"o psicoterapeuta é uma caixa de ressonância e um amplifica- nu psicologia, as autoras procuram contextualizar a aplicação
dor da experiência do cliente. Percebe-se como um todo, não 110processo de psicodiagnóstico e, fazem, inclusive, uma rela-
julga, não interroga, não tranqüiliza nem interpreta. Seuobjerí- çilo interessante com a identidade do psicólogo.
vo é acompanhar as descobertas do cliente na forma como ele Entrevistas retrospectivas: autópsia psicológica de Blanca
as vai experienciando."
Suzana Guevara Werlang, Mônica Medeiros Kother Macedo e
Nadir Helena Sanchotene de Souza apresenta o eixo que Nelson Asnis. Por meio deste capítulo os autores entram no
sustenta a modalidade de sua escuta na Terapia Familiar ao campo do inédito: a entrevista em que o outro efetivamente
escrever que "os conceitos-chave do pensamento sistêmico 'slÚ ausente, não do lugar, mas, sim, da vida. Na seriedade que
11
1"1\1\ " Medciros Kother Macedo & Leanira Kesseli Carrasco (Orgs.)
10 (Con) textos de entrevista: olhares diversos sobre a interação humana

Ângela C. B. Pratini Seger, em Entrevista clínica no con-


norteia Otrabalho destes autores, encontramos na pesquisa que
I,' \ to hospitalar: revisões e reflexões, afirma que a interven-
r' realizam a maneira científica deste procedimento - as entre-
"no lerapêutica, baseada na psicoterapia breve focal, atende o
,C'/ vistas retrospectivas. Tal instrumento yiabiliza a comQreensão
pllcicnte, ~sid~rando seu IJlom~nto atual de çrise, seu funcio-
(}}, ~ m~rte por suicídio, no qual, segundo os autores, o "interesse
)J é de organizar ~quilo que. é lembrado quanto à. vida do ..,oo..ieto 1IIIIl1cntoegóico e, em especial, os recursos defensivos que pos-
~i ~sle estudo". A complexidade desta "entrevista" exige do I1i para enfrentar este momento.
e\', entrevistador um treinamento e uma formação especial, além A entrevista na empresa visa obter informações a respeito
!
sP' =de indispensável qualificação e experiência clínica . .$ escutar \IlIs pessoas que ~dida}apdo JL um'L.9I2-OI!unidadede
()6 "sobre" quem escolheu sair da vida; são hipóteses atravessadas uuhalho. Para conduzi-Ia de forma estruturada, é preciso conhe-
l"" - - ---- - - -- -~
- ,Lr-pelos efeitos assustadores do ato. \'l'l" os requisitos da função e da organização da empresa e, tam-
-- - ,-
. Entrevista como instrumento de pesquisa, capítulo assi- hérn, avaliar as condições do candidato escreve Fabrícia Ra-
nado por Maria Lúcia Tiellet Nunes leva-nos a refletir sobre mos, em Entrevista na empresa: _entre1!.~tade sel§fãQ,
a entrevista como método atrativo ao pesquisador no qual a Assim fui percorrendo cada capítulo de (Con)textos de
habilidade de conduzir uma conversação se faz necessária. I':/I/revista. Penso que os diversos leitores desde alunos de
A autora aborda de forma clara e didática a entrevista semi- Waduação, que podem encontrar em suas páginas subsídios
estruturada como procedimento de cQ.1etasl~9QS assim p,1 ra pensar as intervenções que cada entrevista potencializa,
como, discorre _sobre a análise de cO!'!te!.tdocom<?mé~QQJle uI6 os profissionais, na especificidade de suas práticas, en-
análise das entrevistas. O capítulo encerra com considera- ,'ontrarão sintonia nas reflexões dos autores. iLleituril do
ções éticasem rêlação à entrevista no contexto da pesquisa. livro é um encontro_com~kutor-e$ que fazem da_escuta
Jacqueline Poersch Moreira, respaldada na sua experiên- li m exercício@Ç9:
cia em Psicologia Escolar apresenta, de forma cuidadosa, um Eurema Gallo de Moraes'
roteiro relevante para a enttevista realizada na esc~la. O psi-
cólogo, no contexto da escola, circula nos diversos lugares e
nas inúmeras situações, em que encontra, interagindo, seus
possíveis entrevistados. Neste intercâmbio de atitudes reti-
ram a temática das entrevistas: a "queixa". A intervenção é
transformar a "queixa" em uma intenção de trabalho.
A entrevista institucional, pensada por Dulce Helena Aguilar
Baldo, sugere que há peculiaridades neste contexto - a obser-
vação da instituição, o diagnóstico institucional e a assessoria
individual e/ou em grupos - e, portanto, exigem que o psicólogo
estabeleça um contrato explícito e claro. A ação do profissional , Psicóloga. Psicanalista. Doutoranda em Psicanálise da U.Jliylli.idade.-Autônoma de.Madrid.
Membro Pleno do Núcleo de Estudos Sigmund Freud (Porto Alegre) e da Sociedad
deve facilitar que os impedimentos, as demandas e as expecta-
PsicQ'l.llillítica,dei Sur dU3u..rnoU\ires.
tivas apareçam e mobilizem mudança.
Maí'1sà Elí~abete C. Godoy
~icóloga
CRP081C1852

SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 5
PREFÁCIO •••••••••••••••••••••••••••• ; •••••••••••••••••••••••••••••••••••• 15
PARTE 1 17
A Entrevista Clínica: um espaço de intersubjetividade 19
MÔNICA MEDEIROS KOTHER MACEDO
LEANlRA KEsSELI CARRASCO

PARTE 2- (CON)TEXTO PSICANALÍTICO •••••••••••••••••••••• 33


Per via de porre, uma intervenção psicanalítica? 35
DENISE HAUSEN
A escuta na Psicanálise e a Psicanálise da escuta 49
MÔNICA MEDElROS KOTHER MACEDO
CAROLINA NEUMANN DE BARROS FALCÃo
A implicação do lugar do analista no destino do processo
analítico 63
SISSI VIGIL CASTIEL
CAROLINA NEUMANN DE BARROS FALcÃo
A Singularidade da Psicanálise Infantil 73
AoRIANA AMpESSAN

PARTE 3- (CON)TEXTO COGNITIVO-


COMPORTAMENTAL ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 85
A entrevista motivacional: importância do acolhimento
a dependentes químicos 87
IRANI DE LIMA ARGIMON
KELLYCARDOSO P AlM
Entrevista em Psicoterapia Cognitiva 99
RICARDO WAINER
NERl MAuRÍcIo PICCOLOTO

PARTE 4- (CON)TEXTO HUMANISTA-


FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL •••••••••••••••••••••••••••• 113
A Entrevista Humanista-fenomenológico-existencial 115
)ANICE CASTILHOS VnOLA
MARTA REGINA CEMIN
PARTE 5- (CON)TEXTO FAMILIAR SISTÊMICO ••••••••••• 127
A Família em terapia 129 PREFÁCIO
NADIR HELENA SANCHOTENE DE SOUZA

A circularidade sistêmica na escuta clínica 145


TEREZINHA RECH Nosso ponto de partida para elaborar (Con)textos de Entre-
vista - olhares diversos sobre a interação humana foram as
PARTE 6- (CON)TEXTOS DE AVALIAçÃo •••••••••••••••••••• 159 vivências de compartilhar, como professoras, uma disciplina
Entrevista de Triagem: espaço de acolhimento, escuta ministrada no curso de ggduação da Faculdade de Psicologia
e ajuda terapêutica 161
NÁDIA MARQUES da PlJCRS. A disciplina de Fundamentos de Técnica de Entre-
vista permitiu-nos criar, em um espaço de sala de aula, a possi-
Psicodiagnóstico: recurso de compreensão 181
LEANlRA KEsSELI CARRASCO hilidade de elaborar um programa dinâmico e atual para tratar
] ULIANARAUSCH PÓTTER do tema Entrevista.
Éramos duas professoras, cada uma com sua turma de alunos,
PARTE 7- (CON)TEXTOS ESPECWS ••••••••••••••••••••••••••• 193 mas com um desejo comum: o de promover trocas entre a Univer-
Entrevistas Retrospectivas: Autópsia Psicológica 195 sidade e os contextos extramuros nos quais o psicólogo está inse-
BLANCA SUSANA GUEVARAWERLANG
MÔNICA MEDEIROS KOTHER MACEDO
rido. Este desejo foi ampliando-se e passou a contemplar, tam-
NELSON ASNIS bém, a vontade de reproduzir em forma de textos as ricas situações
que vivenciamos durante os semestres, com os alunos e outros
Entrevista como Instrumento de Pesquisa 207
MARIA LUCIA TIELLET NUNES ·olegas, de modo que estas igualmente pudessem alcançar espa-
ços mais amplos do que o da sala de aula.
PARTE 8- (CON)TEXTOS DE INSTITUIÇÕES •••••••••••••••• 223 Acreditamos ser a ~siçlade, por excelência, um lugar de
'>< Entrevista na Escola 225 produção e ~9.!&§içãode conheci~ento. É fundamental que esse
]ACQUELINE POERSCH MOREIRA
conhecimento produzido estabeleça sempre pontos de conexão com
A Entrevista Institucional 237 ti realidade social na qual a Universidade se insere. Tal conexão
DULCE HELENA AGUlLAR BALDO
traduz sua fecundidade não apenas quando os conhecimentos cir-
Entrevista clínica no contexto hospitalar: revisões culam de forma a transformarem a realidade, mas também de s~
e reflexões 247 transformarem e criarem novas sínteses. O processo de aprendiza-
ÂNGELA c. B. PRATINI SEGER
;cm está intimamente vinculado a essa idéia de movimento e trans-
Entrevista na empresa: Entrevista de seleção 261 formação. Na sala de aula, os papéis de mestre e aprendiz não são
FABRÍclA RAMos
rigidamente determinados. Acreditamos que, nas trocas
i ntersubjetivas inerentes à relação de ensino-aprendizagem, os pa-
SOBRE OS(AS) AUTORES(AS) ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 281 péis podem se alternar e promover ganhos em ambos os partici-
pantes do processo. Uma das dimensões do percorrido de forma-
ção de psicólogos diz respeito às reflexões sobre o exercício da
16 (Con) textos de entrevista: olhares diversos sobre a interaçâo humana

profissão. O contato com o profissional possibilita ao aluno a pro-


ximidade com situações para as quais ainda não está habilitado,
mas que estão no cerne de seu projeto de vida acadêmica. Escutar
relatos de vivências, nas quais se evidencia a importância de um
embasamento teórico e técnico qualificado, promove ainda maior
conscientização de nossa responsabilidade diante da profissão que
escolhemos.
Dessa forma, durante o decorrer dos semestres tivemos o Qra-
~r de," juntamente corri os alu~o~, -partilhar de ricos depõi~e..m.os
Erofissionais sobre dif~ren_tespossibilidades de intervenção dopsi-
cólogo. Percorremos os contextos da clínica privada nos enfoques
psicanalítico, humanista-existencial, cognitivo-comportamental
sistêmico. Adentramos instituições como hospitais, escolas e em-
e
PARTE 1
presas. No aceite de nossos convites, psicólogos e psiquiatras,
pertencentes ou não ao corpo docente da Faculdade, dispuseram-
se a estabelecer intercâmbios e contar suas experiências profissio-
nais relativas à temática da referida disciplina. Nosso critério de
escolha dos nomes dos profissionais convidados para a disciplina
e, agora também como autores desse livro, sempre foi o da com-
petência e do domínio em sua área de conhecimento e atuação. Te-
mos muita gratidão a esses profissionais pelas parcerias estabelecidas
e pela possibilidade em compartilhar suas experiências.
Foram, então, criando-se ricas e criativas situações de inter-
câmbios que tiveram como palco as salas de aula em nossa Facul-
dade. Através de olhares diversos sobre a utilização da entrevista
como instrumento imprescindível da prática do psicólogo, surgiu
[
a idéia de um registro em forma de livro.
Aqui está, então, (Con)textos de Entrevista: olhares diver-
sos sobre a interação humana, um convite a percorrer os fecun-
dos caminhos da diversidade presente nas possibilidades de nos-
sa atuação profissional.

MÔNICA MEDEIROS KOTHER MACEDO


LEANIRA KESSELI CARRASCO
A ENTREVISTA CLÍNICA:
UM ESPAÇO DE INTERSUBjETIVIDADE

MÔNICA MEDEIROS KOTHER MACEDO


LEANIRA KESSELI CARRASCO

A entrevista é um importante e fundamental recurso ~ o


psicólogo utiliza em seu trabalho. É muito comum associarmos
- --
1\ entrevista à clínica psicológica, porém, do mesmo modo que

não é um instrumento exclusivo do trabalho do psicólogo, a


entrevista também não limita sua aplicabilidade a uma área de
utuação deste 2~ofiss~0n.al. Ela se faz presente como recurso na
escola, no hospital, nas empresas, no campo jurídico, no cam-
po esportivo, além da própria clínica, onde também poderá ser
usada de diferentes formas.
Assim, consideramos importante e fecundo abrir um espa-
,'O de reflexão sobre a entrevista como "técnica de conversa-
ção" que tem como objetivo fundamental possibilitar ao psicó-
logo buscar informações ou dados a respeito de seu cliente,
paciente, aluno, candidato, instituição, etc. Pensamos que, de
modo geral, é necessário enfatizar a adequação de estudar a
.ntrevista e não somente priorizar sua aplicabilidade nos diver-
sos campos da Psicologia.
A amplitude da definição e da aplicabilidade da entrevista
l: evidenciada também fora do âmbito da Psicologia. Por exem-

plo, no campo da comunicação, Medina (1995) considera que ã


-ntrevista é uma forma de se alcançar o inter-relacionamento
humano, uma vez que é uma técnica de interação. Na comuni-
cação tem uma interpenetração informativa que rompe com iso-
lamentos individuais, grupais e sociais, pois distribui democra-
Iicamente a informação.
21
zu (Con) textos de entrevista: olhares diversos sobre a interação humana ~li II ,1":1 Mcdciros Kothet Macedo & Leanira Kesseli Carrasco (Orgs.)

Na proposta de explicitar a ampliação do âmbito da entre- " lima teoria que lhe dê sustentação, administrar tais situações.
vista como uma prática humana, Garrett (1981) destaca que lilcgcr (1976) já referia a entrevista como u.m....campÜ,JHLq.u.al
todas as pessoas, de uma maneira ou outra, são envolvidas na muitos . .•- - .-- ..--...•
fenômenos acontecem. ,

entrevista na medida em que ora entrevistam, ora são entrevis- A própria dinamicidade que caracteriza as relações huma-
tados. Em qualquer uma destas situações estarão presentes as- IIIIS se faz presente na relação estabelecida entre entrevistador-
pectos objetivos e subjetivos. A autora..tellLcomo_p.o.n.trLhásico ,'ntrcvistado. A partir disso, abre-se um espaço para que muitos
~d'ysua teorizª-ção a ênfase no us.o da técnica Pil@J!. arte deen- lcnômenos relacionais aconteçam. Tavares (2000) destaca que
treyi§.tªr, sendo essa a arte de ouvir, perguntar e conversar, Con-
. a entrevista clínica é um procedimento poderoso e pelas
-sidera que Arte requer habiliélãdêe aptidão d.o-e~stador,
suas características é o único capaz de adaptar-se à
sendo o treinamento uma parte essencial que não dispensa, con- diversidade de situações clínicas relevantes e de fazer
tudo o cuidado que ele precisa ter com sua qualificação e sensi- explicitar particularidades que escapam a outros
bilidade no us.o do recurso técnico. procedimentos, principalmente aos padronizados (p. 46).
Uma característica enfatizada por autores corno Basicamente a entrevista é um procedimento utilizado pelo psi-
Bohoslavsky (1977), Ribeiro (1986), Bleger (1976) e Vallej.o- '()Iogocom o objetivo de conhecer, de buscar dados para intervir em
Nágera (2001) é que em qualquer tipo de entrevista haverá uma III na dada situação, entendendo-se esta intervenção sempre determi-
demanda de algo a quem se supõe que possa corresponder a
nada pela especificidade de cada situação. A entrevista tem por fi-
í ela. Esta demanda pode ser por uma informação sobre algo ocor- nulidade fazer um levantamento de informações que possibilite

l
rid.o,
uma simples opinião sobre uma situação qualquer ou a
relacionar eventos e experiências, fazer inferências, estabelecer con-
solicitação de uma ajuda especializada diante da constatação
.lusões e tomar decisões (TAVARES,2000 & CRAIo, 1991).
de um sofrimento físico ou psíquico.
A entrevista é uma situ~ção de encontro entre duas ou mais
Para fins deste capítulo pensamos trazer à discussão os as-
pessoas. ~ela não haverá ]2artici12an~ede maior ou menor im-
pectos relativos à entrevista clínica, uma vez que, neste campo,
portãncia. Os espaços e funções de cada um são diferenciados
entendemos ser a entrevista uma condição sine qua non para a
!, ao mesmo tempo, interdependel'JJ.§s. Esta situação de interação
compreensão do sofrimento daquele que busca ajuda. No que
humana que ocorre na entrevista psicológica é assinalada por
diz respeito, portanto, à dimensão psíquica, pensamos que a
130hoslavsky (1977, p. 120) ao defini-Ia como uma situação
entrevista clínica sempre contempla dificuldades e complexi-
dades pelo fato de que o ser humano é surpreendente e incapaz inlerhumana.
de ser contido ou avaliado dentro de um sistema predetermina- Muito se tem escrito sobre a entrevista clínica dentro de
do, Dificilmente poderá o profissional prever o que se sucederá diferentes abordagens teóricas. Nosso objetivo neste capítulo
em uma entrevista em ação, mesmo em referenciais que pres- não é enfocar a entrevista a partir de um determinado referencial
supõem uma certa padronização de etapas. Até mesmo nestas teórico, mas, sim, refletir sobre aspectos que se fazem presen-
situações "previstas e planejadas" o entrevistador poderá se tes em situações da clínica nas quais a entrevista parece-nos ser
deparar com o inesperado: um questionamento, uma desistên- o principal instrumento de trabalho do psicólogo. Entretanto,
cia, uma nova descoberta, cabendo a ele, munido de uma técnica tomaremos algumas considerações do referencial psicanalítico
22
(Con)rextos de entrevista: olhares diversos sobre a interação humana I~
I,'"i." Mcdeiros Kother Macedo & Leanira Kesseli Carrasco (Orgs.) 23

que nos parecem pertinentes quando enfocamos a entrevista na As afirmativas da autora permitem-nos reafirmar a impor-
clínica. Tais contribuições nos permitem ilustrar situações que Iflllciada teoria como uma forma de "mediação" entre o que é
aprofundam os tópicos abordados. dito pelo entrevistado e o efeito que gera a partir da escuta por
Acreditamos que na medida em que a entrevista configura parte do entrevistador.
~ uma situação de diálogo pode ser pensada como um meio pri- Cada corpo conceitual encontra na entrevista uma rica for-
,I lI" vilegiado de acesso ao outro, um instrumento que nos permite, 11Hl de expressão de seus recursos técnicos. Nesse sentido, inde-
, por meio da palavra, estabelecer as condições necessárias para pendente do referencial teórico que a sustente, torna-se impor-
que se constitua uma relação de ajuda. Nessa situação, a entre- 1I1I1IÇ mencionar e salientar a necessidade de que a entrevista clí-
vista, ao outorgar diferentes papéis ao entrevistado e ao nica esteja de acordo com o objetivo específico a que se propõe e
entrevistador, cria condições para que, mediante a criação de 11 orientação teórico-técnica do entrevistador. Tal idéia é corro-
um espaço de diálogo, se tenha acesso à subjetividade em for- horada por Hornstein (1989) ao afirmar que
ma de discurso, seja ele verbal ou não-verbal.
uma técnica não pode ser compreendida nem, portanto,
Entendemos por discurso algo que vai além das palavras, aplicada se se desconhecerem os conceitos que a
refere-se a uma situação de comunicação de algo, modos pelos fundamentam. Toda a prática tem um efeito que lhe é
quais a pessoa comunica algo a alguém. Atrasos, esquecimen- específico. (...) Uma técnica que não esteja baseada em um
tos, mudanças bruscas de assunto, posições do corpo, gestos e conhecimento teórico daquilo que pretende transformar gera
até mesmo silêncios fazem parte deste rol de inúmeras possibi- uma prática cega que se esteriliza (p.23).
lidades de comunicação. Nesse sentido cabe ressaltar a dife- A prática da clínica possibilita a experiência de confronta-
rença existente entre a entrevista tal qual descrevemos e uma ,';\0 da teoria viabilizando reformulações, transformações que con-
conversa social também sustentada no diálogo. A segunda não figuram uma situação de interdependência e retroalimentação
tem compromisso algum com técnica ou teoria. Já no que se -ntre elas. Esse movimento caracteriza a dinamicidade existente
refere à entrevista clínica, consideramos que é fundamental a -ntre teoria, método e técnica.
interdependência e a articulação existentes entre a teoria e a
prática clínica. Acreditamos que a toda prática deve
CAMPO DA CLÍNICA
corresponder uma teoria que a sustente e que lhe indique
parâmetros de aplicabilidade. Em seu livro sobre epistemologia PRÁTICA

c metodologia de pesquisa, Minayo (2002) afirma que


Ciência se faz com teoria e método. Teoria é uma espécie
de grade ou janela através da qual o cientista olha para a TÉCNICA
realidade que investiga. Isto quer dizer quê ninguém
consegue investigar um problema olhando-o diretamente,
como se houvesse possibilidade de compreendê-Io e explicá-
CORPO TEÓRICO
10 em si mesmo. A compreensão da realidade é sempre
mediada: por teorias, por crenças, por representações (p.l?). EPISTEMOLOGIA
24 (Con) textos de entrevista: olhares diversos sobre a interação humana 111111< " Medeiros Kother Macedo & Leanira Kesseli Carrasco (Orgs.)
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Ao referir o termo epistemologia na figura I, procuramos Evidenciar o aspecto de singularidade permite a interroga-
caracterizar os construtos teóricos como evidencia a origem do lI) sobre o complexo processo de constituição da subjetivida-

termo episteme: colocar-se em boa posição. Colocar-se em boa dI' no mesmo tempo em que se resgata a importância das trocas
posição para apropriar-se de um saber, que, mediado pelos re- utcrsubjetivas na construção do ser humano. Ao optarmos por
cursos da técnica, resulta em uma prática clínica. III!lU concepção de sujeito próxima à idéia de um sistema aber-

Tavares (2000) ressalta que as técnicas de entrevista devem lI) que recebe e sofre influência do que está fora dele, a dimen-

potencializar o aparecimento das particularidades de uma pessoa e \) social deixa de se referir apenas à noção de sociedade ou de
constituem-se em um meio de acesso amplo e profundo ao outro. nutras pessoas para incluir "relações situadas no tempo históri-
Contextualiza-se nas situações de entrevista o que refere Homstein 1'0,em condições determinantes de vida, permeadas de signifi-
(1989) sobre a relação entre o objeto teórico e sua objetivação como 1'II~õese linguagens específicas ..." (BOCK, 1997, p.39). Res-
método e determinação como técnica, permitindo transformações /-tolarou abrir espaço para a singularidade do entrevistado em
e articulações sobre a realidade. No caso da entrevista clínica, o n-lação à sua história é também abrir espaço para a singularida-
paciente e sua realidade são o que precisam ser conhecidos. A Ill' que marcará a situação de encontro entre aquele entrevistador
teoria é mediada pela técnica na intervenção clínica. I' nquele entrevistado.

Pelo fato de a entrevista clínica não ser uma técnica única, A noção de investigação intrínseca ao conceito de entre-
ela estará sempre intimamente relacionada com a forma do vista levará sempre em consideração a capacitação e a qualifi-
entrevistador compreender os fenômenos humanos, além do que rução de quem a conduz. A existência de dogmas por parte do
os diferentes objetivos de cada tipo de entrevista serão r-ntrevistador exclui a existência de uma efetiva e qualificada
determinantes em suas estratégias, possibilidades e limites. Pen- .-xcuta do outro. A existência de um pré-saber inviabiliza o ver-
samos que teoria e prática devem estar sempre inter-relaciona- dadeiro processo de investigação e transforma a situação de
das. É necessária uma constante vigilância para que não se crie t-utrevista em um estéril espaço de confirmação que empobrece
uma dissociação entre o ser clínico e o ser teórico. O risco de 1Irelação e a própria entrevista como instrumento técnico.
privilegiar a teoria resulta em um distanciamento da relação com 'luvares (2000), buscando uma definição de entrevista clínica,
a clínica e, da mesma maneira, privilegiar a clínica faz com que a propõe o seguinte:
prática se converta em um fazer sem saber.
a entrevista clínica é um conjunto de técnicas de
Homstein (1990) destaca que estas situações de distorção investigação, de tempo delimitado, dirigido por um
trazem o risco de que toda a teoria se formalize como "dogma e entrevistador treinado, que utiliza conhecimentos
toda a prática ritualize-se como receita" (p.106). Dessa forma psicológicos, em uma relação profissional com o objetivo
pensamos que a interdependência entre teoria e prática é o que de descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou
viubiliza a manutenção da característica investigativa que deve sistêrnicos (indivíduo, casal, família, rede social), em um
predominar na situação de entrevista. Preserva-se assim a pos- processo que visa a fazer recomendações, encaminhamentos
sihilidadc de nunca perder de vista a singularidade dos encon- ou propor algum tipo de intervenção em benefício das
IroN humanos. pessoas entrevistadas (p. 45).
27
26 (Con) textos de entrevista: olhares diversos sobre a interação humana 1111111 1\ Ivkdeiros Kother Macedo & Leanira Kesseli Carrasco (Orgs.)

A qualidade da relação que se estabelecerá entre o paciente lI'conhecimento desta assimetria deve servir de reforço à res-
e o terapeuta dará à entrevista, seja no início, no desenvolvi- pllllS:lbilidade ética e técnica que cabe ao terapeuta, uma vez
mento ou na conclusão do processo, uma determinada configu- '111(' de seu lado os saberes vão, como bem assinala Bueno
ração. É a entrevista um instrumento fundamental para o esta- ( '()()2), "desde o que pode estar sob seu domínio - técnica, ob-
belecimento, desenvolvimento e manutenção de uma relação I"(IVOS, fins, conhecimentos teóricos - até o que lhe é atribuído
de ajuda. Cabe ressaltar a importância que terá o terapeuta, con- 111'10contexto ou pelo interlocutor" (p.13).
siderando não apenas seu conhecimento teórico e suas habili- t\ observação dos aspectos éticos será fundamental na de-
dades profissionais, mas também tendo presente sua responsa- 11I1i\lio dessas responsabilidades para com o paciente, assim
bilidade na condução do processo. I nllio os aspectos relativos à sua competência profissional.
As funções e os papéis desempenhados por paciente e ('nllIO observado na figura 2, os aspectos éticos, responsabili-
terapeuta são diferenciados. O paciente busca uma ajuda e atri- d"tll' do terapeuta, perpassam sua teoria, técnica e prática em
bui ao terapeuta a capacidade de auxiliá-lo em suas dificulda- IH'lll'rr<.:io
do outro e de si mesmo.
des. No que se refere ao terapeuta cabe-lhe situar a entrevista
clínica no domínio de uma relação profissional. Se por um lado
ao assumir as responsabilidades profissionais que têm com o
paciente implica reconhecer a as simetria presente na relação
ÉTICA
terapêutica, por outro essa constatação confere ao terapeuta a
responsabilidade sobre a condução do processo.
Tanto o entrevistado quanto o entrevistador são portadores
de determinados conhecimentos que os caracterizam em suas
diferenças. Por um lado, o entrevistado possui os dados de sua
história, suas lamentações, seus sintomas, seus motivos e, por
outro, o entrevistador é detentor de subsídios teóricos e técni-
cos que o habilitam na ajuda ao primeiro. Bueno (2002) desta-
ca o quanto esta assimetria é uma regularidade que faz parte de
entrevistas, independente de serem entrevistas clínicas. Para a
autora, a função de entrevistador e entrevistado no campo da
entrevista são diferentes e vão ser definidos de acordo com a
função e o lugar de cada um. Em relação à entrevista clínica,
nem sempre a explicitação dessa condição inerente d~ assimetria
é bem entendida. Por vezes é tomada desde um ponto de vista t\ observância aos aspectos éticos, somada à experiência,
que nos parece equivocado, uma vez que não faz alusão nem 111) l'onhecimento e à competência do terapeuta, contribuirá de
justifica, portanto, uma leitura que atribua ao terapeuta uma lunuu significativa para a adequação na condução do proces-
espécie de poder em relação ao paciente. Ao contrário, o li 110 qual ambos estão inseridos. A interdependência existente
2H (Conltextos de entrevista: olhares diversos sobre a interação humana 111111 _I ~ I." h'llI" KolheI" Macec\o & Leanira Kesseli Carrasco (Orgs.) 29

entre as habilidades interpessoais e o uso da técnica exige algu- !1~ll dl'slc termo transcende uma relação específica com a
mas características específicas do terapeuta. Para Tavares (2000), p~IUlIlI\lisc,podendo ser aplicado às outras modalidades de in-
é necessário que o entrevistador tenha a capacidade de estar Irl \'I'II,'lio terapêutica. O que se escuta (inconsciente,
realmente disponível para o outro de forma a escutá-lo sem a 1IIIII'IIvilllidadeou crenças cognitivas) pode ser o elemento mais
interferência de questões pessoais. Isso possibilita facilitar a 1lI'ltlllllcnle vinculado a um campo teórico, mas a condição
construção de uma adequada aliança de trabalho, assim como o 111 1''1l'IIIH é fundamental ao terapeuta. Ela nos convoca a utili-
conhecimento dos motivos que o levaram a buscar ajuda. 11IIOSSOS conhecimentos e habilidades profissionais e pes-
O terapeuta deve estar capacitado a buscar esclarecimen- IIIII.~1\ serviço de uma demanda de ajuda. Escutar é buscar nas
tos, perceber contradições, tolerar situações de ansiedade rela- l'ilIIIVI'IIS de quem sofre um significado próprio e singular. A
cionada a temas presentes na entrevista e também estar habili- \', uhulcira escuta precisa estar desprovida de preconceitos
tado a reconhecer as defesas e os modos de estruturação do f' Pllllcipalmente, excluir qualquer possibilidade de um pré-
paciente. A compreensão de seus próprios processos psíquicos I 111I1H'l'i mente a respeito daquele que chega e, agora, fala. O
facilitará a comunicação e a relação terapeuta-paciente. O do- I, "'1'1'11111, para realmente poder escutar, precisa reconhecer que
mínio das técnicas utilizadas, baseadas em uma teoria que as 111111~Hlhl:a respeito do paciente. Será na relação, a partir de um
sustente, possibilitará ao terapeuta mobilizar recursos adequa- 1IIIIl'l'SSOde construção, que o enigmático será desvelado, o
dos frente a situações difíceis e inesperadas. 111rlmvnto será nomeado e a ajuda se concretizará.
Os aspectos mencionados referentes à capacitação do No .irca clínica, quanto mais qualificado for o terapeuta,
terapeuta são igualmente destacados por outros autores, que se 1IIIIIs1\ entrevista psicológica- como instrumento - atenderá a
preocupam com a existência de uma sólida fundamentação teó-
111M objetivos e demonstrará sua eficácia. Por exemplo, caberá
rica e técnica que resulte em uma eficaz utilização da entrevista
111pncicnte contar a sua história, falar do que lhe aflige, mas,
como instrumento de trabalho na clínica. Ribeiro (1986) e
IIItIlIIISvezes, acredita não saber o que se passa com ele. Será
Zimerman (1999) destacam a importância de que haja respeito
1111 1\'111(,:110
com o terapeuta que este desconhecido conhecido
pelo sofrimento do paciente; que, além da técnica, o terapeuta
1'11111'1'11ser cada vez mais explorado, que serão abertas novas
possa ser pessoa e assuma com senso de responsabilidade o
pllMsihilidades de atribuição de sentidos, desde que o paciente
processo terapêutico. Na condução da relação com o paciente é
imprescindível que o terapeuta possa efetivamente não apenas 1I1IIse acolhido e à vontade na relação com o terapeuta. Com
I I, queremos demonstrar que, se a entrevista for pensada como
ouvir, mas saber escutar.
11111 instrumento impessoal e de distanciamento, ficará restrita
Entendemos que ouvir corresponde muito mais a uma con-
, . IItl-1l1CSmO, prejudicada na sua aplicabilidade. A necessidade
dição fisiológica relacionada aos órgãos sensoriais. Já a capaci-
,h, 11111 treinamento na utilização da entrevista visando a uma
dndc de escuta coloca-nos em uma outra', posição em relação
1llllÍoi'competência técnica nunca poderá estar dissociada do
àquele que fala. O termo escuta é muito utilizado na psicanáli-
1uiilndo com os aspectos afetivos e subjetivos que se fazem
St" mas, se o pensarmos relacionando-o à exigência de uma
gl~llllfnaatenção àquele que fala de sua dor, acreditamos que o pu-sentes. Conforme afirma Tavares (2000):
31
30 (Con)textos de entrevista: olhares diversos sobre a interação humana '\1111":1 Medeiros Kother Macedo & Leanira Kesseli Carrasco (Orgs.)

Com a prática e a experiência, os aspectos mecânicos d Um instrumento técnico seja ele qual for, por si só, não dá
técnica tornam-se secundários, e o sujeito e a relação pass \ unta da prática profissional. A entrevista é um instrumento
a se destacar. Torna-se evidente uma integração natural do u-cnico, a competência na adequação de seu uso está direta-
aspectos técnicos e a valorização da relação com o sujeito mente ligada às condições do terapeuta. Tal afirmativa por um
Assim, a entrevista flui e a atuação refinada do profissiona lndo reforça o aspecto de autonomia da prática clínica, mas,
transforma a técnica em arte (p.55). IH)routro lado, evidencia a responsabilidade que o terapeuta
11'1\1 na condução ética do processo terapêutico.
Diante da complexidade de uma situação de entrevista
Acreditamos que a entrevista põe em questão a necessida-
cria-se geralmente a expectativa de encontrar um model
de da pessoa do terapeuta estar sempre à frente da técnica utili-
pronto e aparentemente correto a ser seguido, como um ma /nda, ou seja, acima da técnica está a pessoa que a utiliza. Esta
nual de instruções que desconsidera as especificidades e sub I)l'SSOacom sua escuta qualificada e sustentada em um saber
jetividades tanto do paciente como do terapeuta. Tal expecta Il'()rico-técnico, sua atenção aos cuidados éticos e seu senso de
tiva por si só cria um paradoxo: como pensar em uma situa nnplicação e responsabilidade assume efetivamente uma con-
ção especialmente dinâmica como a entrevista clínica, d dição de ajudar quem sofre.
uma forma rígida, estereotipada, inflexível? Acreditamos qu
a entrevista ocorre na sua própria dinâmica e, nesse sentido]
Referências bibliográficas
será sempre única e irrepetível. Tomemos como exemplo um
situação de supervisão. Caso o supervisionando fique com
uma idéia de que deve apenas repetir as orientações e/ou IIOCK, A. M. B. Formação do Psicólogo: um debate a partir do
significado do fenômeno psicológico. Psicologia, Ciência e
palavras do supervisor com seu paciente, perde-se a verda-
deira possibilidade de aprendizagem. Limitar-se-ia, assim, a. Profissão. V 17, n. 2, 37-42,1997.
supervisão, a uma mera repetição e não a um verdadeiro HOHOSLAVSKY, R. Orientação vocacional: a estratégia cli-
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seqüência, prejudicaria também a construção de uma identi- I~LEGER, J. Temas de psicología- entrevista y grupos. Buenos
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Evidencia-se que a dinâmica da entrevista aporta sempre nUENO, c. M. O. Entrevista espaço de construção subjetiva.
complexidades e dificuldades ao trabalho clínico, porém será
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.
com o reconhecimento, o enfrentamento e a busca de alternati-
vas para essas que se dará a verdadeira qualificação profissio- CRAIG, R. Entrevista clínica e diagnóstica. Porto Alegre: Ar-
nal. Diante da imposição da complexidade da entrevista como tcs Médicas, 1991.
um importante instrumento utilizado na clínica.vé necessário CARRET, A. A entrevista, seus princípios e métodos. Rio de
produzir reflexões que a problematizem com o objetivo de Janeiro: Agir, 1981.
uprimorá-!a como recurso de mediação terapêutica no encontro IIORNSTEIN, L. Introdução à Psicanálise. São Paulo: Editora
'0111 () outro.
Escuta, 1989.
32 (Con) textos de entrevista: olhares diversos sobre a interação human

______ Cura psicanalítica e sublimação. Porto Ale


gre: Artes Médicas, 1990.
MED1NA, C. A. Entrevista - o diálogo possível. São Paulo
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M1NAYO, M. C. S. (org) Caminhos do pensamento."
epistemologia e método. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2002
RIBEIRO, 1. Teorias e técnicas psicoterâpicas. Rio de Janeiro:
Vozes, 1986.
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Psicodiagnôstico- V Porto Alegre: Artmed, 2000.

VALLEJO-NÁGERA, J. A. Guía práctica de psicología.


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ZIMERMAN, D. Fundamentos psicanalíticos. Porto Alegre:
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