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CURADORIA DIGITAL SOB A

PERSPECTIVA DO ACESSO E
COMPARTILHAMENTO DA
INFORMAÇÃO E DO
CONHECIMENTO
CURADORIA DIGITAL SOB A
PERSPECTIVA DO ACESSO E
COMPARTILHAMENTO DA
INFORMAÇÃO E DO
CONHECIMENTO

Maria José Vicentini Jorente (Org.)


SUMÁRIO

Autores 06

Apresentação 14

1 Curadoria Digital nas bases Web of Science e Scopus 23


João Augusto Dias Barreira e Oliveira
Maria José Vicentini Jorente

2 O Design da Informação e a experiência do usuário como estratégias para


a Curadoria Digital sob a égide da Ciência da Informação 36
Natalia Nakano
Mariana Cantisani Padua
Laís Alpi Landim
Maria José Vicentini Jorente

3 Design Thinking na Curadoria Digital de dados de pesquisa 52


Anahi Rocha Silva
Laís Alpi Landim
Maria José Vicentini Jorente

5 Qualidade de dados e avaliação no ciclo de vida da Curadoria Digital da


informação produzida em ambientes Web colaborativos 87
Laís Alpi Landim
Maria José Vicentini Jorente

9 Design da Informação e Curadoria Digital no Museu da Pessoa 165


Karen Kahn
Maria José Vicentini Jorente

10 Plataformas Web de temática afro: a aplicação do Design da


Informação e Web 2.0 no resgate e compartilhamento de informação e
memória 179
Nandia Leticia Freitas Rodrigues
Maria José Vicentini Jorente

11 A folksonomia na Curadoria Digital: percepções de novas aplicações a


partir da experiência da British Library na plataforma Flickr 191
Gabriela de Oliveira Souza
Maria José Vicentini Jorente

12 Curadoria Digital e Design da Informação nos Websites de bibliotecas


públicas: uma análise no estado de São Paulo 203
Stephanie Cerqueira Silva
Maria José Vicentini Jorente

13 Curadoria Digital em repositórios institucionais: contribuições para a


visibilidade das temáticas LGBT, diversidade de gênero e sexualidade 217
Simão Marcos Apocalypse
Maria José Vicentini Jorente

14 A utilização do AtoM na representação da informação na Web: uma


análise dos princípios e normas de dados abertos 230
Nandia Leticia Freitas Rodrigues
Lucineia Da Silva Batista
Maria José Vicentini Jorente
AUTORES

Anahi Rocha Silva


Doutoranda pelo Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Mestre em Ciência
da Informação pelo PPGCI/UNESP (2016). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Novas
Tecnologias da Informação (GPNTI/UNESP), integrante do Laboratório de Pesquisa em
Design e Recuperação da Informação (LADRI). Bacharel em Direito pelo Centro
Universitário Euripedes de Marília (2001). Especialista na área de Direito Tributário
(2002). Bacharel em Arquivologia pela UNESP (2017).

Gabriela de Oliveira Souza


Graduanda em Biblioteconomia na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (UNESP) - Campus de Marília. Possui ensino médio pela FIEB- E.E.F.M.T. Profª
Dagmar Ribas Trindade (2016). Tem experiência na área de Ciência de Informação,
com ênfase em Biblioteconomia e é membro do Laboratório de Design e Recuperação
da Informação (LADRI). Atualmente (2018) é bolsista de Iniciação Científica na CNPq.

João Augusto Dias Barreira e Oliveira


Doutorando em Ciência da Informação, da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) -
UNESP, Marília, São Paulo, Brasil. Linha de Pesquisa - Informação e Tecnologia. Atua
como membro do Grupo de Pesquisa Novas Tecnologias em Informação - GPNTI
(UNESP/Marília). Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação,
Linha de Pesquisa - Informação e Tecnologia, da Faculdade de Filosofia e Ciências
(FFC) - UNESP, Marília, São Paulo, Brasil. Possui graduação em Biblioteconomia e
Ciência de Informação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) concluída
em 2012. Graduado em Tecnologia em Hotelaria pelo Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial de São Paulo (SENAC-SP) concluída em 2006. Possui
interesse científico em soluções que envolvam interdisciplinaridade e as intersecções
existentes entre os temas de Ciência da Informação, Design Gráfico, Design de
Informação, Arquitetura da Informação, Representação e Visualização da Informação.

Karen Kahn
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Graduada em Letras - Português/Hebraico na FFLCH da Universidade de São Paulo
(USP); licenciada pela Faculdade de Educação - FE, da Universidade de São Paulo
(USP); e pós-graduada em Jornalismo Literário pela ABJL (Lato Sensu). Coordenou
Núcleos de Ação Educativa de museus - casas geridos pela Secretaria do Estado da
Cultura (SEC), como o a Casa das Rosas e o museu Casa Guilherme de Almeida, e
coordena o Projeto Escrevivendo - oficinas de escrita e leitura com interface para
blogagem, em museus e bibliotecas como a Biblioteca de São Paulo (Carandiru), a
Biblioteca Temática de Poesia Alceu Amoroso Lima e o Museu da Língua Portuguesa,
entre outras unidades de informação e memoria na cidade de São Paulo. Em 2016,
realizou a curadoria do Projeto de oficinas de leitura e escrita Nossas Letras no SESC
Belenzinho. Atualmente é mestranda em Ciência da Informação (CAPES 6) na
Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (Unesp- Campus de Marília) e
desenvolve projeto de pesquisa sobre Curadoria Digital de Sistemas Memoriais e
Design da Informação em ambiências digitais no âmbito da Ciência da Informação,
como o Museu da Pessoa. Desde 2015 pertence ao Grupo de Pesquisa Novas
Tecnologias em Informação (GPNTI) do Laboratório de Design e Recuperação da
Informação (LADRI).

Laís Alpi Landim


Mestranda pelo Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da
Unesp, campus de Marilia. Possui graduação em Ciências Sociais pela mesma
universidade e Técnico em Informática pelo Centro Paula Souza. Integrante do Grupo
de Pesquisa "Novas Tecnologias da Informação" (GPNTI). Atua no projeto de
Descrição e Digitalização do acervo do paleontólogo mariliense William Nava e do
Museu de Paleontologia de Marília, pelo Laboratório de Pesquisa em Design e
Recuperação da Informação (LADRI). Realiza pesquisa na área de Ciência da
Informação, Informação e Tecnologia, com ênfase em Curadoria Digital, Design da
Informação e Web Colaborativa.

Lucineia Da Silva Batista


Mestranda do programa de Pós- Graduação em Ciência da Informação, na linha de
Informação e Tecnologia da faculdade de Filosofia e Ciência de Marília- Unesp e
Graduanda do curso de Biblioteconomia da faculdade de Filosofia e Ciência de Marília-
Unesp. Graduada em Arquivologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho em 2012, com o trabalho de conclusão de curso intitulado "Um estudo
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sobre o Twitter em Arquivos Permanentes" na linha de informação e Tecnologia. Possui
curso de informática básica. Realizou estágio de arquivo corrente e intermediário na
Seção de Comunicação e Departamento de Ciências Sociais da Unesp de Marília, e,
estágio de Arquivos permanentes no CEDHUM (Centro de Documentação de Marília).
realizou atividades de organização, higienização e identificação de peças no Museu
Histórico de Marília. Foi responsável pelo grupo de descrição da hemeroteca do
William Nava (paleontólogo). Foi Bolsista BAAE em 2009, 2010 e 2011 e Bolsista Pro
Jovem em 2013.

Maria José Vicentini Jorente


Livre Docente em Cultura Digital e Informação Pós Custodiada em Redes de
Colaboração. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Especialista em
Design de Produto. Licenciada em Artes pela Fundação Armando Álvares Penteado
(FAAP) e em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Professora Adjunta em
Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa da Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Filosofia e Ciências - FFC - Campus de
Marília, Departamento de Ciência da Informação. Docente dos cursos de graduação em
Arquivologia e Biblioteconomia e dos cursos de mestrado acadêmico e doutorado em
Ciência da Informação da Unesp. Investigadora nas áreas de Informação e Tecnologia,
Curadoria Digital, Mídias, Intersemiótica, Design de Informação. Coordenadora do
LADRI – Laboratório de Pesquisa em Design e Recuperação da Informação e membro
de comissão científica de agências de fomento e periódicos na área da Ciencia da
Informação.

Mariana Cantisani Padua


Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação na UNESP,
campus Marília. Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal da
Paraíba. Graduada em Design com habilitação em Comunicação Visual pela Pontifícia
Universidade Católica de Goiás /PUC-GO. Possui interesse de pesquisa nas seguintes
áreas: Design da Informação, Design de Interação, Experiência do Usuário (User
eXperience - UX), Museologia, Ciência da Informação e arquitetura da informação
pervasiva, pesquisando as práticas que viabilizam o acesso à informação
(acessibilidade) e seu uso (usabilidade). Lecionou no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia da Paraíba/ Cabedelo, entre 2010 e 2015, ministrando as
7
disciplinas: Ergonomia Informacional, Gestão de Projetos, Computação Aplicada ao
Design I e II, Planejamento Visual IV e Análise Gráfica no Curso Superior Tecnológico
em Design Gráfico.

Nandia Leticia Freitas Rodrigues


Graduanda do curso de Arquivologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (UNESP). Possui graduação em Biblioteconomia pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Tem experiência na área de
Ciência da Informação, com ênfase em Biblioteconomia e Arquivologia, atuando
principalmente nos seguintes temas: Web 2.0, Ambientes Digitais, Websites,
Informação e Tecnologia, Curadoria Digital e Cultura Afro. Realizou estagio
obrigatório na Biblioteca Universitária da UNESP e na Biblioteca Municipal de Marília
"João Mesquita Valença". Realizou estágio extracurricular referente a atividades de
Higienização e Conservação no acervo museológico do Museu Histórico e Pedagógico
"Embaixador Helio Antônio Scarabôloto". Teve Bolsa de Apoio Acadêmico e de
Extensão (BAAE) 2013/2014, foi bolsista de Iniciação Cientifica FAPESP 2015/2016,
foi bolsista Proex (Extensão) 2017, e atualmente (2018) é bolsista de Iniciação
Científica da FAPESP. É membro do "Laboratório de Pesquisa em Design e
Recuperação da Informação (LADRI), membro do projeto de descrição e digitalização
dos acervos documentais do pesquisador William Nava, coordenador do Museu de
Paleontologia de Marília.

Natalia Nakano
Doutoranda pelo Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da
Unesp, campus de Marilia. Mestre pelo mesmo programa, integrante do Grupo de
Pesquisa "Novas Tecnologias da Informação"(GPNTI) e coordenadora discente do
Laboratório de Pesquisa em Design e Recuperação da Informação (LADRI), líder do
grupo Oficina do Texto Científico sob supervisão da Prof. Dra. Maria José Vicentini
Jorente. Representante discente eleita do Programa de Pós Graduação em Ciência da
Informação. Participa atualmente dos Projetos de Pesquisa, Descrição e Digitalização
dos Acervos Documentais do Pesquisador William Nava. Trabalha com foco nas
questões de acesso a informação, inclusão digital, serviços de informação na era digital,
bem como plataformas de Serviço de Referência Virtual em bibliotecas universitárias.
Estuda o papel das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) nas mudanças
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relacionadas à transformação do paradigma custodial e sua ampliação nas sociedades
pós modernas e como essas tecnologias têm influenciado o mundo das bibliotecas,
arquivos e museus na atualidade. Recentemente o foco de estudo se expande e inclui as
plataformas digitais de disseminação da informaçao e formação, as plataformas EaD, e
como a Ciência da Informação, e nela o Design da Informação podem contribuir para
que o acesso nessas plataformas seja eficiente no contexto da complexidade brasileira.
Além dos estudos e pesquisas em Ciência da Informação, possui larga experiência em
ensino de Língua Inglesa e tradução de textos científicos.

Simão Marcos Apocalypse


Atualmente cursando Biblioteconomia na Faculdade de Filosofia e Ciências -
Universidade Estadual Paulista - Júlio de Mesquita Filho - Campus Marília. Participante
do Laboratório de Pesquisa em Design e Recuperação da Informação (LADRI).
Desenvolve pesquisa nas áreas de Ambientes Digitais, comunidade LGBT, diversidade
de gênero e sexualidade e Informação e Tecnologia. Tem experiência em Ciência da
Informação, com ênfase em Biblioteconomia. Atualmente (2018) é bolsista de Iniciação
Científica da FAPESP.

Stephanie Cerqueira Silva


Graduanda de Biblioteconomia na Universidade Estadual Paulista - UNESP. Possui
Bacharel em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda pela Universidade
Paulista - UNIP (2015). Participa do Laboratório de Pesquisa em Design e Recuperação
da Informação (LADRI). Atualmente (2018) é bolsista do Programa de Extensão
(PROEX) no Museu da Unesp.

9
APRESENTAÇÃO

Nascida das necessidades de criação de estratégias para solucionar problemas

decorrentes das inter-relações sociais com a informação no cenário delineado pelos

momentos finais da Segunda Guerra Mundial e, principalmente, a partir da década de

1950 - diante da complexidade crescente do contexto das trocas informacionais - a

Ciência da Informação (CI) desenvolveu-se com os focos paralelos da preservação

documental e do acesso à informação, calcada nos princípios do moderno tardio.

Tendo, a partir de então, se tornado essencial como área do conhecimento na

pós-modernidade, inserida em novos parâmetros tecno-sociais, de características dígito-

virtuais e, impregnada do pragmatismo herdado de suas subáreas, a Biblioteconomia e a

Arquivologia, a CI tem buscado identificar-se nos seus exercícios interdisciplinares,

com a constituição de uma nova epistemologia. De um lado, a eficiência do

compartilhamento de informações depende sempre e, especialmente, na

contemporaneidade, de formatação de linguagens de representação que tem sintaxe e

semântica complexas. De outro, a passagem do estudo do documento, superadas as

atividades documentais clássicas, para o estudo da informação, provoca que a CI se

desenvolva em uma rede pós-moderna centrada no conhecimento e, portanto, da mesma

maneira, enfrente a necessidade da recuperação da informação em sistemas

colaborativos convergentes.

Objeto de estudos da CI, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC),

entendidas como resultantes de transformações nas tecnologias de maneira genérica,

contribuíram para o desenvolvimento de formatos híbridos, de natureza gráfica, que no

suporte eletrônico puderam migrar das interfaces abstratas e simbólicas da página

escrita, para as interfaces icônicas da tela, constituídas por simulação e por elementos de

10
linguagem imagética.

A Internet e nela a Web 2.0, especialmente, apresentou-se, desde inícios do

século XXI, como plataforma, com um desenho de novos recursos Web 2.0 dispostos

rizomaticamente de maneira aglutinada, ao redor do um centro gravitacional ao qual

variados ambientes se ligam, caracterizando a plataforma como sistema dinâmico,

fluído e aberto. Foi nessa conformação que as transformações tecnológicas

multiplicaram o emprego de diversas linguagens inter-relacionadas e, posteriormente,

convergiram como criadoras de novas semioticidades entre conteúdos e formatos

textuais, imagéticos, sonoros, animações, etc.

Assim, as configurações dinâmicas e fluidas da Web 2.0 provocaram uma

mudança radical não somente na natureza da criação de mensagens e de novas formas

de conhecimento e de cultura, mas também nos ambientes de cura e de custódia da

produção cultural: os ambientes tradicionais de cura, de guarda e de preservação –

arquivos, Bibliotecas e Museus, consequentemente, necessitam ampliar a sua atuação

para os ambientes digitais da Web 2.0, proporcionando acesso à informação a distância

e estendendo as formas tradicionais de compartilhamento e de comunicação

relacionadas aos seus acervos.

Surgiu, dessa maneira, no campo da CI, a percepção da necessidade de ações

específicas para a preservação e acesso à informação nas plataformas digitais Web 2.0, e

o conceito de Curadoria Digital (CD), um amplo campo de investigações no porvir dos

estudos da informação, em vias de consolidação paradigmática na CI. A definição da

CD reclama uma abordagem holística de criação e de gerenciamento sistematizado e

interdisciplinar da informação digital, durante todo o ciclo de vida dos objetos digitais,

de maneira ainda anterior à sua produção, pois compreende fases de conceituação,

avaliação, organização e preservação para a disponibilização, acesso e

compartilhamento, de maneira continuada. A CD apresenta-se, assim, como um

11
conceito e como um conjunto de processos para além da preservação digital, ao

considerar todas as etapas de tratamento dos objetos digitais com o fim de preservá-los

de maneira sustentável e propor um planejamento integrado, desde as fases iniciais de

produção dos objetos digitais, para evitar a fragmentação das etapas envolvidas no

tratamento de documentos.

Na produção de informação em formato digital nos variados ambientes da

Internet e nela da Web 2.0, os objetos digitais gerados deverão, como os documentos em

papel, passar por ações que visem a preservação e o acesso à informação em todo o seu

ciclo de vida. Isso significa prover para que, antes mesmo de sua criação, desenvolvam-

se ações de planejamento e concepção de sistemas de gerenciamento eletrônico dotados

de controle de riscos e danos à informação.

Por outro lado, dado o caráter da rápida obsolescência das tecnologias

eletrônicas de informação, os conceitos de preservação e de acesso adquirem novos

contornos no meio digital. Desvia-se neles o foco da integridade do documento como

suporte, para a integridade intelectual da informação, contida em suporte construído por

meio de simulação numérica: no que diz respeito à preservação, processos de emulação

e migração criam acervos de aparatos tecnológicos visando a recuperação de formatos

em desuso ou criam cópias e transferências de informação para patamares tecnológicos

atualizados; processos de encapsulamento criam estruturas físicas ou lógicas de

interpretação de objetos digitais e seus metadados.

O Digital Curation Center (DCC) define a CD como o gerenciamento e

preservação dos dados digitais a longo prazo. Isso envolve o planejamento da sua

produção e boas práticas na digitalização, criação de metadados e de repositórios da

documentação primária e derivada para compartilhamento e sustentabilidade futuros,

bem como o gerenciamento de dados para uso diário, com a segurança de que eles

possam continuar legíveis no tempo. Maureen Pennok (2007) inclui nas preconizações

12
do DCC os conceitos da manutenção e agregamento de valor a um conjunto confiável

de informação digital curado, ou cuidado, para uso atual e futuro. Destaca-se, assim, o

princípio do ciclo de vida da Curadoria Digital, que facilita a continuidade dos serviços

de informação e a verificação da proveniência dos dados digitais, a despeito das

mudanças tecnológicas e organizacionais em seu contexto. Por outro lado, a CD é um

conceito regulador de práticas que exige políticas de informação e participação de

equipes multidisciplinares para a sua concretização, que muitas vezes estão ausentes nos

ambientes de informação institucionalizada, tais como Arquivos, Bibliotecas e Museus.

Higgins (2008) propôs que as ações envolvidas na abordagem de ciclo de vida

do DCC, sejam divididas em ações permanentes, sequenciais e ocasionais no ciclo de

vida dos objetos digitais. Para a autora, entre essas primeiras ações localizam-se a

necessidade de descrição e de representação da informação (designação de metadados);

o planejamento da preservação, em todas as etapas do ciclo de vida; o acompanhamento

e participação da comunidade no desenvolvimento de padrões e instrumentos

apropriados; o planejamento de ações para curadoria e preservação durante o ciclo de

vida. Nas ações sequenciais, Higgins incluiu a conceitualização no momento de

planejamento e a criação do objeto; o recebimento do objeto no momento de criação e

recepção de metadados administrativos, descritivos, estruturais, técnicos e,

ocasionalmente, de preservação; a avaliação e a seleção quando os objetos são avaliados

e selecionados para a curadoria e a preservação em longo prazo; o arquivamento,

quando os dados são transferidos a um arquivo, repositório ou outro custodiador, com

aderência às políticas estabelecidas; as ações de preservação, para que o objeto

mantenha a sua autenticidade, a confiabilidade, a acessibilidade e a integridade; o

armazenamento, em local seguro com adesão a políticas relevantes; o acesso, o uso e o

reuso, necessários para assegurar o acesso à informação; a transformação, quando da

criação de objetos derivados do original, como os resultantes das migrações de

13
formatos. Entre as ações ocasionais situaram-se a eliminação ou descarte, executados de

acordo com as políticas da instituição; a reavaliação, realizada para retornar aos dados

que necessitem nova avaliação; e a migração, transferir os objetos para formatos

distintos.

Portanto, a Curadoria Digital, está relacionada, em sua vertente mais tradicional,

à preservação, e de maneira colateral ao acesso, que aparece no esquema de Higgins nas

ações mais externas, não sendo central. O esquema é claro quanto à sequência das ações

quando se trata de um sistema já estabilizado. No entanto, a CD caracteriza-se como um

conceito que envolve maior complexidade diante dos novos formatos e da

impermanência, inerentes a alguns recursos tecnológicos e suportes de informação

digital móveis, como o ambiente do WhatsApp, por exemplo.

Com foco atual na mobilidade, a Internet e suas variadas subestruturas se

reconsolida como sistema dinâmico e fluido ao transformar-se em mediadora

privilegiada da informação para a construção de novos sistemas de conhecimento.

Assim, cria-se a cultura de protagonismo em relação aos objetos digitais coletivizados,

comportamento que interfere e reorganiza contínua e persistentemente o próprio sistema

computacional, uma estrutura de funcionalidade, mas também meio potencializador de

aprendizado e conhecimento.

Novos sujeitos da informação, atores protagonistas, emergem dessas interações,

hibridizados também pelas linguagens e glocalizados pelos conteúdos. Nesse contexto,

como em qualquer ciência aplicada, é ainda essencial na CI a capacitação de

profissionais da informação tramitada por meio de variadas modalidades de suportes

informacionais de maneira multimodal e hibridizada, que fogem às categorias

tradicionais de documento, e que necessitam ser percebidos na complexidade de sua

estrutura, em que o profissional da informação atue como agente no processo

infocomunicacional, amparado em competências adquiridas transversalmente.

14
Para dar conta da complexidade emergente dos processos infocomunicacionais,

o profissional da área da CI deve combinar em sua formação, um conjunto tradicional

de habilidades em hardware e software dos profissionais de tecnologia da informação e

a capacidade do designer, visando aplicar a tecnologia de forma apropriada nos

processos de acesso à informação e construção do conhecimento, relacionando-se aos

estoques de informação construída e à sua transferência à sociedade, nos contextos

específicos em que atuará. Esse livro trata da Curadoria digital (CD) com ênfase no

acesso e compartilhamento da Informação, dando atenção à esse aspecto secundário até

o momento, o acesso e compartilhamento da informação, dito reuso.

No primeiro capítulo, Oliveira e Jorente fazem um levantamento bibliográfico

do termo curadoria digital e digital curation nas bases de dados Web of Science e

Scopus. O objetivo é traçar um panorama do cenário que envolve o termo, visualizar e

perceber o foco das pesquisas em curadoria digital e delinear tendências sobre o

assunto.

No segundo capítulo, de autoria de Nakano, Padua, Landim e Jorente, as autoras

objetivam apresentar o Design da Informação e a Experiência do Usuário (UX) como

estratégias convergentes para melhorar a curadoria de objetos digitais na sua fase de

acesso, uso e reuso da informação. Espera-se que o Design da Informação incorporado

ao planejamento de curadoria de ambientes digitais favoreça convergências para

alcançar esferas da cultura e do cotidiano de indivíduos, tornando-se recurso comum da

sociedade.

No terceiro capítulo, as autoras apresentam a complexidade que envolve a

curadoria digital de dados de pesquisa, devido, principalmente, à diversidade dos dados

gerados e armazenados. Propõe-se, então, a aplicação da metodologia do Design

Thinking no processo de planejamento e elaboração de projetos de curadoria de dados

de pesquisa, o que favorece o acesso, uso e reuso desses dados.

15
Marín-Arraiza, no capítulo quatro, discorre sobre multimodalidade na pesquisa

científica, o que se justifica diante da presença de objetos de pesquisa de natureza

heterogênea e requer uma atenção diferente nos processos de curadoria. Discute-se, por

meio de pesquisa bibliográfica, publicação científica ampliada e as abordagens da

Curadoria Digital (CD) para entender a multimodalidade na pesquisa científica e os

desafios da CD, ao tratar com esse tipo de publicações.

O quinto capítulo expõe a necessidade de que os dados disponibilizados na Web

atendam a determinados requisitos de qualidade, para que seja possível a

interoperabilidade e a automatização do acesso e do compartilhamento, no contexto da

Web Semântica. Para isso, apresentam-se as dimensões da avaliação da qualidade de

dados como metodologias que auxiliam no processo de avaliação dos dados no ciclo de

vida de sua Curadoria Digital.

No sexto capítulo, Triques e Simionato traçam as relações que se podem

estabelecer entre a Curadoria Digital e os princípios do Linked Data, com o intuito de

fomentar a disponibilização e o acesso a dados em instituições de herança cultural,

como Arquivos, Bibliotecas e Museus. As autoras apresentam como exemplo de

aplicação de dados ligados e disponibilizados a iniciativa Linked Logainm, da

Europeana.

O sétimo capítulo, de Berrío-Zapata, Martins e Pinheiro, trata do projeto de

organização e preservação, sob técnicas arquivísticas, dos registros físicos do Arquivo

do Observatório Geomagnético de Tatuoca, em Belém do Pará, referentes ao período de

1957 a 2007, para sua posterior digitalização. Apresentam-se no capítulo os desafios da

Curadoria Digital desse acervo, pela sua complexidade e necessidade de atendimento

aos requerimentos técnicos indicados para esse tipo de registro.

No capítulo A cultura digital como campo de reflexão para a ciência da

informação: foco em torno dos efeitos das redes sociais a memória coletiva, Sundström

16
e Apocalypse propõem um diálogo entre os autores que refletem sobre os novos

paradigmas sociais nas redes sociais e as possíveis contribuições da Curadoria Digital

para a preservação de dados em ambientes digitais, de modo que seja possível a

evocação da memória coletiva.

Ainda sobre o contexto da memória, Kahn e Jorente, autoras do capítulo Design

da informação, interoperabilidade e curadoria digital no museu da pessoa,

empregaram a observação participativa direta e etnografia virtual, metodologias

acessórias do Design Thinking para imersão e verificação do princípio de mutualidade

sujeito-ambiente nas emergências bottom-up de internautas. O objetivo do estudo foi

descrever como o Design da Informação, definido em e para sua Curadoria Digital

colaborativa, estrutura e organiza a interface interativa Conte sua História do portal do

Museu.

No décimo capítulo, Rodrigues e Jorente discutem como a Web contribui para o

resgate, o compartilhamento e a preservação da história e da memória afro-brasileira, e

quais aspectos de Design da Informação são necessários na Curadoria Digital dos

ambientes digitais sobre a temática para a sua atuação com eficiência e eficácia nos

processos de acesso e compartilhamento da informação disponibilizada.

No capítulo A Folksonomia na curadoria digital: percepções de novas

aplicações a partir da experiência da British Library na plataforma Flickr, Souza e

Jorente empregam metodologia teórica-exploratória para apresentar a Folksonomia

como um recurso da Curadoria Digital com ênfase no acesso e compartilhamento (uso e

reuso) como forma de aprimorar o tratamento e recuperação de dados na Web, além de

representar uma forma de participação ativa dos internautas nos processos de

classificação e indexação.

O capítulo Curadoria Digital e Design da Informação nos websites de

bibliotecas públicas: uma análise no estado de São Paulo aplica metodologia teórica-

17
exploratória e os conceitos da Curadoria Digital e do Design da Informação para fazer

um diagnóstico dos Websites das BP das mesorregiões do Estado de São Paulo e discute

a importância dos ambientes digitais para as bibliotecas públicas a fim de ampliar o

relacionamento com a comunidade.

O décimo terceiro capítulo, de Apocalypse e Jorente, aborda a maneira como a

Curadoria Digital pode contribuir para a visibilidade de produções científicas

relacionadas à comunidade LGBT, diversidade de gênero e sexualidade, armazenadas e

preservadas em Repositórios Institucionais.

Por fim, Rodrigues, Batista e Jorente verificam, no último capítulo, as

características do software de descrição AtoM que permitem representar a informação e

publicar conjuntos de dados, atendendo aos princípios de dados abertos na Web.

O livro Curadoria Digital sob a perspectiva do acesso e compartilhamento

da informação e do conhecimento é um convite aos que desejam refletir sobre o tema

da Curadoria Digital nas novas perspectivas de compartilhamento e horizontalização,

não somente dos conteúdos, mas também das ações de criação de dados e metadados, o

que permitirá uma revolução no tratamento da informação mediante a contribuição de

comunidades de interesse.

18
1
CURADORIA DIGITAL NAS BASES WEB OF
SCIENCE E SCOPUS
João Augusto Dias Barreira e Oliveira
Maria José Vicentini Jorente

Resumo: A tecnologia digital contribuiu imensamente para o desenvolvimento de


iniciativas que envolvem o planejamento, gestão e armazenamento de informações em
suportes digitais. O termo curadoria digital emerge com o intuito de lidar com a
preservação e o acesso às informações em suporte digital. Soma-se a isso, a necessidade
da gestão e da agregação de valor às informações por meio do processo de curadoria, de
dados, conteúdos e artefatos digitais. Por tratar de questões relevantes para a gestão
científica de dados e informações, o termo vêm sendo utilizado por diversas áreas do
conhecimento. Nesse sentido, busca-se com esse artigo realizar um levantamento
bibliográfico referente ao termo curadoria digital nas bases de dados Web of Science e
Scopus para que seja possível traçar um panorama do cenário que envolve o termo ao
relacionar as áreas e disciplinas do conhecimento que discutem a temática, analisar a
sazonalidade das publicações visando obter uma melhor visualização e do foco das
pesquisas em curadoria digital e traçar um possível cenário de tendências futuras do
assunto. Por meio do levantamento bibliográfico do termo, pode-se concluir que este
estudo foi capaz de produzir dados bibliométricos capazes de nos mostrar uma visão
mais apurada da realidade com a verificação da crescente produção bibliográfica
internacional sobre a temática, a preponderância da Ciência da Informação e da Ciência
da Computação como principais áreas do conhecimento que publicam sobre o assunto,
principalmente na forma de artigos científicos e artigos em anais de conferências.

Palavras-chave: Curadoria Digital. Análise bibliométrica. Web of Science. Scopus.

1 INTRODUÇÃO

A tecnologia digital contribuiu imensamente para o desenvolvimento de

iniciativas que envolvem o planejamento, gestão e armazenamento de informações em

suportes digitais. O termo curadoria digital emerge com o intuito de lidar com a

preservação e o acesso às informações em suporte digital. Soma-se a isso, a necessidade

da gestão e da agregação de valor às informações por meio do processo de curadoria, de

dados, conteúdos e artefatos digitais. Por tratar de questões relevantes para a gestão
19
científica de dados e informações, o termo vêm sendo utilizado por diversas áreas do

conhecimento.

O substantivo curadoria possui como significado o ato, processo ou efeito de

curar, de se ter cuidado. No âmbito das artes, o termo curador refere-se à função de

conservar e preservar obras de arte. O termo surge em meados do século XX e mais do

que apenas preservar as obras, o curador atua com a seleção dos trabalhos artísticos,

articulando as obras com o espaço e a proposta. Para Obrist (2010) o papel do curador

passou a reunir as funções de preservação, seleção de novas obras, contribuição para a

história da arte e ao exibir e organizar a arte nas paredes e galeras.

Para o Digital Curation Centre (2018), a curadoria digital consiste na

manutenção, preservação e agregar valor para os dados de pesquisa digitais. Além de

reduzir duplicidade ou retrabalho na criação de dados, a curadoria pode otimizar o valor

a longo prazo dos dados ao torná-los disponíveis para futuras pesquisas. A curadoria

digital exprime a ideia de manter e agregar valor à informação digital, tanto para uso

atual quanto futuro e envolve a gestão ativa e a preservação de recursos digitais durante

todo o ciclo de vida do dado digital, enquanto houver interesse do mundo acadêmico e

científico.

Além da informação que já nasce digital, o aumento do fluxo de informação se

deve às iniciativas e processos de conversão de registros e objetos analógicos em

digitais. Por exemplo, documentos em papel, gravações de áudio em diversos suportes

como fitas cassete e CDs, fotografias e outros. Desse modo, a gestão desse material e

conteúdo impacta de maneira direta os cidadãos e principalmente as Instituições como

as bibliotecas, arquivos e museus que agora passam a atuar com a conservação e

disseminação de artefatos digitais.

A curadoria engloba as ações necessárias para manter os dados de pesquisa e

outros materiais digitais em todo seu ciclo de vida. O ciclo de vida de curadoria digital

20
compreende as seguintes etapas: A Conceitualização concebe e planeja a criação de

objetos digitais, incluindo métodos de captura de dados e opções de armazenamento. A

Criação produz objetos digitais e atribui metadados de armazenamento administrativos,

descritivos, estruturais e técnicos. O Acesso e uso garante que os internautas designados

possam acessar facilmente os objetos digitais no dia-a-dia. Avaliação e seleção são

ações sobre objetos digitais que requerem curadoria e preservação de longo prazo.

Disposição: visa livrar os sistemas de objetos digitais não selecionados para curadoria e

preservação a longo prazo. Ingerir é transferir objetos digitais para um arquivo,

repositório digital confiável, data center ou similar. Ação de preservação empreende

ações para garantir a preservação e retenção a longo prazo da natureza autoritativa dos

objetos digitais. Reavaliar objetos digitais de retorno que falham nos procedimentos de

validação para avaliação e resseleção adicionais. Armazenar para manter os dados de

maneira segura, conforme descrito pelos padrões relevantes. Acesso e reutilização

garantem que os dados sejam acessíveis aos internautas designados para uso e

reutilização pela primeira vez. Alguns materiais podem estar disponíveis publicamente,

enquanto outros dados podem ser protegidos por senha. Transformar e criar novos

objetos digitais a partir do original, por exemplo, migrando para uma forma diferente.

O conceito de curadoria para a Ciência da Informação tem estado fortemente

ligado à preocupação relativa à preservação de artefatos digitais como em práticas de

criação e desenvolvimento de Repositórios digitais, preservação digital, curadoria de

conteúdo e dados de pesquisa.

Ciclo completo de atividades relativas aos acervos, compreendendo a


execução ou a orientação da formação e desenvolvimento de coleções,
implicando em eventuais medidas de manutenção e restauro; o estudo e a
documentação, além da comunicação e informação, que devem abranger
todos os tipos de acesso, divulgação e circulação do patrimônio constituído e
dos conhecimentos produzidos, para fins científicos, educacionais e de
formação profissional (mostras de longa duração e temporárias, publicações,
reproduções, experiências pedagógicas etc.) (SANJAD; BRANDÃO, 2008,
p. 25).

Nesse sentido, buscamos realizar um levantamento bibliográfico referente ao

21
termo “curadoria digital” para que seja possível traçar um panorama do cenário que

envolve o termo ao relacionar as áreas e disciplinas do conhecimento que discutem a

temática, analisar a sazonalidade histórica das publicações visando obter uma melhor

visualização e do foco das pesquisas em curadoria digital e traçar um possível cenário

de tendências futuras do assunto.

2 A CURADORIA DIGITAL NA CI

Atualmente, com a diversidade de suportes informacionais e com a quantidade

de informações registradas, ainda segundo os autores Bufrem e Prates (2005), o termo

bibliometria relaciona-se ao estudo quantitativo da produção, disseminação e uso da

informação, bem como, aos mecanismos de buscas na recuperação online da

informação. Um dos mecanismos mais utilizados pela comunidade científica para a

disseminação dos resultados das pesquisas é a publicação de artigos científicos em

revistas, os chamados periódicos científicos e, para avaliar a produção científica de um

determinado grupo de pesquisa foram elaborados indicadores para medir a sua

visibilidade científica.

Neste contexto, a cienciometria possui recursos que auxiliam na mensuração da

produção científica, organização e uso da informação, tais recursos geram os chamados

índices bibliométricos. A visibilidade científica é observada a partir de indicadores

bibliométricos, no qual os dados que são coletados são agrupados, organizados e

tratados com o objetivo de avaliar e descrever estudos em campos específicos do

conhecimento científico.

Diante da explosão informacional e dos avanços das tecnologias da informação

criadas para controlar, gerenciar e filtrar parte da informação produzida e registrada

tornou-se essencial para o profissional que almeja mensurar a informação bibliográfica,

22
conhecer as técnicas da bibliometria, assim como compreender basicamente o

funcionamento das bases de dados. Os indicadores bibliométricos, como já visto, são

resultados de um estudo quantitativo que podem oferecer retratos parciais da realidade

analisada.

Desse modo, o método de pesquisa que se seguirá é exploratório, bibliográfico e

essencialmente quantitativo. Sobre o método, é preciso ter em mente que a pesquisa

exploratória é útil quando o tema estudado é pouco conhecido do pesquisador. Ela tem

por objetivo: conhecer os fatos e fenômenos relacionados ao tema, recuperar as

informações disponíveis, descobrir os pesquisadores do tema. Ela pode ser realizada por

meio de levantamentos bibliográficos, entrevistas com profissionais da área, visitas à

instituições, empresas, etc. Por meio da pesquisa quantitativa não há a interferência do

pesquisador, ou seja, ele não manipula o objeto de pesquisa, apenas observa, registra,

analisa, caracteriza e correlaciona os fatos ou fenômenos, a partir de índices numéricos

encontrados na situação problema.

Para desdobramento da pesquisa e coleta dos resultados, utilizamos de

estratégias de busca previamente estabelecidas e que dizem respeito ao assunto do

documento encontrado na base de dados. A primeira etapa consistiu na realização de

buscas em duas bases de dados de informações científicas multidisciplinares (Web of

Science e Scopus) que indexam conteúdo de diversos periódicos científicos em cada

área do conhecimento. A expressão de busca utilizada consistiu nos seguintes termos:

curadoria digital e digital curation. O período pesquisado tem início em 2001 e termina

no ano de 2017. A busca englobou diversos tipos de fontes de informação, sendo

destacadas as principais em cada base de dados.

23
3 ANÁLISE DO TERMO CURADORIA DIGITAL NA BASE WEB OF

SCIENCE: uma metodologia da bibliometria

Os dados para realização desta pesquisa foram coletados por meio da base de

dados Web of Science do Institute for Scientific Information (ISI). O ISI foi fundado por

Eugene Garfield em 1960 e adquirido pela Thomson (hoje Thompson-Reuters) em 1992

e consiste em uma das maiores companhias do mundo da informação científica. A Web

of Science consiste em uma base de dados de conhecimento multidisciplinar que indexa

somente os periódicos mais citados em suas respectivas áreas. É também um índice de

citações, informando, para cada artigo, os documentos por ele citados e os documentos

que o citaram. Possui atualmente mais de 9.000 periódicos indexados.

Uma busca na Web of Science resultou em um total de 387 resultados

recuperados que continham no título, resumos ou palavra-chave a expressão “digital

curation”.  O período da consulta iniciou-se em 2001 até 2017. Na Figura 1, é possível

visualizar o crescimento de publicações contendo o termo com o passar dos anos.

Figura 1 – Publicações sobre curadoria digital na Web of Science de 2001 a


2017

Fonte: AUTOR, 2018

Nesse caso é possível notar um crescimento contínuo a cada ano após a primeira
24
utilização do termo, esse indicador também aponta para um futuro em que as questões

que envolvem a curadoria digital ganham cada vez mais importância quanto à gestão,

preservação e acesso da informação digital.

Em relação ao tipo de publicação em que foi recuperado o termo, temos que em

sua maior parte são artigos de periódicos (238) e artigos de anais de conferências (130).

Outras publicações que tratam sobre o tema, são resenhas de livro (19), review (8),

material editorial (2) e artigo de dados (1). A divisão dos formatos de publicações está

na Figura 2 abaixo. Não foram recuperados livros que tratam sobre o assunto nessa base

de dados.

Figura 2 – Formato de publicações sobre curadoria digital na Web of Science

Fonte: AUTOR, 2018

As áreas do conhecimento que publicaram sobre curadoria digital no período

analisado são divididas pela base de dados nas seguintes áreas: Biblioteconomia e

Ciência da Informação (140), Ciência da Computação e Sistemas de Informação (88),

Métodos e Teorias de Ciência da Computação, Aplicações Interdisciplinares em Ciência

da Computação (33), Pesquisa educacional (22), Tecnologia Fotográfica e de Imagens

(22), Comunicação (18), Inteligência Artificial (15), Antropologia (11), Arqueologia

(11), Cibernética (10). Se somados os campos da Ciência da Computação temos um

total de 224 registros frente aos 140 registros da Ciência da Informação. A divisão pode
25
ser visualizada na figura 3 abaixo.

Figura 3 – Divisão de publicações por áreas de conhecimento na Web of Science

Fonte: AUTOR, 2018

Os países que mais publicaram artigos que tratam, de aspectos da curadoria

digital, no período de 2001 a 2017 foram: estados Unidos (165), Inglaterra (58),

Australia (30), Escócia (26), Alemanha (17), Espanha, (17), Canada (16), Italia (13),

Africa do Sul (12), Suica (11), Dinamarca (9), Holanda (8), Austria (7), Brasil (7),

Grecia (7).

Em outro refinamento, buscamos pelo termo no campo Título do documento, o

que resultou na recuperação de 85 resultados que utilizam o termo curadoria digital.

Desse total são 39 artigos de periódicos, 16 resenhas de livros, 1 material editorial, 1

correção e 28 artigos de anais de conferências.

4 ANÁLISE DO TERMO CURADORIA DIGITAL NA BASE SCOPUS

A Scopus é uma base de dados multidisciplinar, lançada pela editora Elsevier,

em 2004.  É um dos maiores bases de dados de resumos, citações e textos completos da

literatura científica mundial revisada, com cobertura desde 1960, com mais de 18.500
26
títulos de aproximadamente 5.000 editoras internacionais e conta com atualizações

diárias.

Na base Scopus uma busca pelo termo "digital curation", nos campos de título,

assunto ou resumo resultou em um total de 310 documentos. Na Figura 4 abaixo

podemos visualizar o crescimento da utilização do termo durante os anos.

Figura 4 – Publicações sobre curadoria digital na Scopus de 2001 a 2017

Fonte: AUTOR, 2018

O gráfico apresenta seu início em 2004, pois não houveram trabalhos

recuperados por essa base nos anos anteriores e é possível verificar o desenvolvimento

da temática, especialmente de 2008 até 2013 e atingindo o seu ápice no ano de 2015.

27
Figura 5 – Formato de publicações sobre curadoria digital na Scopus

Fonte: AUTOR, 2018

Nessa base de dados recuperamos dois livros publicados no período que tratam

diretamente com curadoria digital como pode ser visto nos títulos das obras. São duas

obras publicadas no ano de 2015 sendo “Digital Curation in the Digital Humanities:

Preserving and Promoting Archival and Special Collections” de Arjun Sabharwal e

“Preparing the Workforce for Digital Curation” do Committee on Future Career

Opportunities and Educational Requirements for Digital Curation, Board on Research

Data and Information, Policy and Global Affairs, National Research Council.

Uma busca pelo termo no campo título retornou um total de 109 publicações.

Destes 109, foram publicados nos Estados Unidos (50), no reino Unido (24), Itália (6),

Grecia (5), Austrália (4), Canadá (4), Alemanha (4), Portugal (3). São 49 artigos em

anais de conferências, 42 artigos indexados em periódicos, 7 resenhas, 6 capítulos de

livro e 2 livros sobre a temática.

Em relação às áreas do conhecimento das publicações, a base de dados considera

a soma e união de uma ou mais de áreas em uma mesma publicação. Do total de

publicações 169 publicações são da área de Ciência da Computação, 163 da área das

Ciências Sociais, 45 de Artes e Humanidades, 24 publicações da área de Engenharia e


28
21 publicações da área de Matemática. O gráfico com essa divisão pode ser visto na

Figura 6 abaixo.

Figura 6 – Divisão de publicações por áreas de conhecimento na Scopus

Fonte: AUTOR, 2018

Tal divisão denota uma preponderância de resultados de busca que apontam para

duas áreas do conhecimento que predominam as publicações sobre o assunto. Em

seguida, discutimos os resultados encontrados e apontamos considerações acerca desse

estudo, limitações e caminhos futuros.

5 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS

Verifica-se que a avaliação da produção científica por meio da utilização de

indicadores bibliométricos extraídos diretamente das bases de dados está se tornando

cada vez mais necessária para evidenciar pesquisas das diversas áreas do conhecimento.

Por meio do levantamento bibliográfico do histórico da utilização do termo foi possível

perceber que por tratar-se de um campo com outras preocupações que vão além da

29
preservação digital o termo apresenta crescimento de uso em diferentes áreas do

conhecimento desde sua primeira aparição.

Outros fatores que apontam para uma maior preocupação com as questões que

envolvem a curadoria digital se dá na criação de periódicos que tratam diretamente do

tema como o “International Digital Curation Journal” em 2008 e o periódico criado

em 2015 “Database: the journal of biological databases and curation”. Este último,

das Ciências Naturais, aponta para uma crescente necessidade dessas áreas em

aprimorar e otimizar as formas de planejamento, gestão, uso e re-uso da informação

digital por meio de técnicas e procedimentos de curadoria digital.

Por fim, pode-se concluir que este estudo foi capaz de produzir dados

bibliométricos capazes de nos mostrar uma visão mais apurada da realidade com a

crescente produção bibliográfica internacional sobre a temática, a preponderância da

Ciência da Informação e da Ciência da Computação como principais áreas do

conhecimento que publicam sobre o assunto, principalmente na forma de artigos

científicos e artigos em anais de conferências.

Para estudos futuros pretendemos analisar outras facetas dos indicadores

bibliométricos como relação de autoria, redes de citação, tendências da área por meio de

análise documentária visando oferecer um panorama mais preciso sobre a realidade

observada. Outro possível caminho reside em incentivar a discussão sobre o tema no

Brasil visando implementar políticas eficazes para se preservar a informação digital.

Interessante notar que a Ciência da Informação é a principal área das Ciências

Humanas que tem publicado sobre o assunto e que denota maior aproximação, pela sua

natureza, com outros campos do conhecimento, em especial com a Ciência da

Computação, responsável pelo oferecimento de tecnologias que farão parte essencial do

processo de curadoria digital.

30
REFERÊNCIAS

BUFREM, L.; PRATES, Y. O saber científico registrado e as práticas de mensuração da


informação. Ciência da Informação, v. 34, n. 2, p. 9-25, 2005. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ci/v34n2/28551.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2010.

DIGITAL CURATION CENTRE. What is digital curation? Edinburgh: DCC, 2018.


Disponível em: <http://www.dcc.ac.uk/digital-curation/what-digital-curation>. Acesso
em: 30 mar. 2018.
McVEIGH, M. E. Open Access Journals in the ISI citation databases: analysis of impact
factors and itation Patterns. Thomson Corporation, oct. 2004.

OBRIST, H. U. Uma breve história da curadoria. São Paulo: BEI, 2010.

SANJAD, N.; BRANDÃO, C. R. F. A exposição como processo de comunicação. In:


JULIÃO, L. (Coord.).; BITTENCOURT, J. N. (Org.). Cadernos de diretrizes
museológicas 2: mediação em museus: curadorias, exposições, ação educativa. Belo
Horizonte: Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, Superintendência de
Museus, 2008.

SCOPUS. 2018. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com>. Acesso em: 30 mar.


2018.

WEB OF SCIENCE. 2018. Disponível em: <https://isiwebofknowledge.com>. Acesso


em: 30 mar. 2018.

31
2
O DESIGN DA INFORMAÇÃO E A
EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO COMO
ESTRATÉGIAS PARA A CURADORIA
DIGITAL SOB A ÉGIDE DA CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO
Natalia Nakano
Mariana Cantisani Padua
Laís Alpi Landim
Maria José Vicentini Jorente

Resumo: Um dos objetivos da Ciência da Informação é organizar recursos de informação para


que os indivíduos possam acessar as informações relevantes convenientemente, satisfazer suas
necessidades e utilizar adequadamente a informação. O Design, e especialmente o Design da
Informação tem, na atualidade, um importante papel no desenvolvimento de projetos e ações
que lidam com desafios relacionados à disponibilização e disseminação de conteúdos
informacionais para acesso e socialização da informação e do conhecimento objetivado em
ambientes físicos, digitais e híbridos. Nesse contexto, o objetivo deste estudo é apresentar o
Design da Informação e a Experiência do Usuário como estratégias de curadoria digital para o
acesso e uso. A metodologia utilizada é a teórico-exploratória, baseada em um recorte do ciclo
de Curadoria Digital proposto por Higgins.  No presente estudo, o foco se dá no acesso, uso e
re-uso dos objetos digitais e das informações disponibilizadas m ambientes informacionais por
meio de estratégias de Design da Informação, Design de Experiência e Experiência do Usuário.
Uma vez que o Design da Informação esteja incorporado ao planejamento de curadoria de
ambientes digitais, o que se espera é que o sistema interopere e favoreça convergências, a fim
de alcançar esferas da cultura e do cotidiano de indivíduos, tornando-se recurso cotidiano e
comum da sociedade.

1 INTRODUÇÃO

A Sociedade da Informação tem sido moldada por uma série de novos fatores:

redes sociais, novas tecnologias móveis e a possibilidade de acessar a Internet a custos

baixos têm impactado o acesso, a produção, a disseminação e o compartilhamento da

informação e, consequentemente, tem construído conhecimento de forma nunca antes

testemunhada pela humanidade.

32
A Ciência da Informação (CI), área que se preocupa com os processos e

configurações pelos quais passa a informação a partir do momento em que ela é criada

até o momento em que é utilizada para a construção do conhecimento, era entendida, no

passado, como exclusiva dos estudos em documentação, biblioteconomia e

arquivologia. A partir da Segunda Guerra Mundial, e posteriormente com o volume

crescente de informação digital produzida na Internet, a CI passa a incorporar estudos

inter e transdisciplinares, uma vez que o objeto informação não é exclusivo somente

dessa ciência.

Do ponto de vista de Saracevic (1996, p. 42) a CI volta-se aos problemas

humanos de efetiva comunicação do conhecimento em um contexto social, podendo

suas características fundamentais serem expressas como: 1) interdisciplinar por natureza

e em constante movimento agregador; 2) ligada inexoravelmente à tecnologia da

informação; 3) participante ativa da evolução da sociedade da informação, de maneira

convergente a outros campos de pesquisa e aplicação. Portanto, a CI como disciplina

social deve abarcar também as associações relativas à informação, e deve permear os

aspectos físicos, cognitivos, contextuais e sociais da informação.

Um dos objetivos da CI é organizar recursos de informação para que os

indivíduos possam acessar as informações relevantes convenientemente, satisfazer suas

necessidades e utilizar adequadamente a informação. No mesmo sentido, de acordo com

Orna e Stevens (1991, p. 197, tradução nossa), o Design da Informação (DI) pode ser

amplamente entendido como "tudo o que fazemos para tornar as ideias visíveis para que

outras possam torná-las próprias e usá-las para seus próprios propósitos". Essa forma de

pensar a informação tanto na CI quanto no Design da Informação significa, de fato,

instituir um processo de operação sobre o conhecimento representado por sinais.

Capurro (1992) sugere, no seu artigo What is Information Science for? A

philosophical reflection, que o foco dos estudos da CI, a partir de estudos de tecnologia
33
da informação, está intimamente relacionado às possibilidades que essas tecnologias

têm em relação às capacidades corporais dos sujeitos, o que não implica em avaliar

apenas a facilidade de uso e o design ergonômico (questões estruturais) de sistemas de

informação. Assim, Capurro (1992) destaca a observação de Orna e Stevens (1991) em

que os autores descrevem uma relação/aliança entre CI e DI, e consideram todas as

dimensões da existência humana, que vão além das questões estéticas e corporais,

incluindo a percepção e o comportamento do indivíduo como um todo. O DI surge

como uma disciplina que aborda questões projetuais anteriores aos problemas

estruturais: ao destacar a organização da informação em espaços físicos e digitais, ao

lidar com a representação de maneira tridimensional, ao produzir significado e

compreensão por meio da linguagem, dos sinais, das palavras e formas – o DI busca

abordar grande volume informacional, especialmente em ambientes digitais.

Com relação à Curadoria Digital, diferentes áreas definem e trabalham com

Curadoria Digital de maneiras diferentes. Uma bibliotecária escolar trabalha com

curadoria digital no sentido de realizar a análise, seleção e o compartilhamento de

material com os alunos da sua escola (KELLY, 2014). Para esse grupo de estudiosos a

curadoria digital busca primordialmente agregar valor, pois se trata de uma necessidade

face ao grande volume informacional e emergência do que foi conceituado pós-verdade

circulante para confundir as pessoas.

Para o Digital Curation Center (DCC) (2018), a curadoria digital é um processo

complexo que envolve a manutenção, preservação, avaliação, reavaliação, uso e reuso

bem como agregação de valores aos dados digitais de pesquisas científicas por todo seu

ciclo de vida, uma vez que o gerenciamento ativo de dados de pesquisa reduz as

ameaças a longo prazo ao valor da pesquisa e diminui o risco de obsolescência digital.

Além disso, o dado curado em repositórios digitais confiáveis pode ser compartilhado

entre a ampla comunidade de pesquisa. "Assim como reduzir os esforços de duplicação


34
na criação de dados de pesquisa, a curadoria aumenta o valor a longo prazo de dados

existentes, tornando-os disponíveis para posterior pesquisa de alta qualidade."

(DIGITAL CURATION CENTER, 2018, tradução nossa).

Trazendo a definição para o contexto deste estudo, ou seja, o Design da

Informação e a Experiência do Usuário (UX) como estratégia para a Curadoria Digital,

tem-se a possibilidade de aplicar a sistematização da Curadoria Digital para o

gerenciamento desses sistemas como um todo, enquanto os conhecimentos do Design da

Informação, nesse estudo, focam-se na fase de acesso e uso da curadoria.

O modelo de ciclo de vida proposto pelo DCC prevê ações de curadoria digital

genéricas que podem ser aplicadas em diferentes contextos, com o foco em ações de

preservação. De acordo com Siebra et al. (2013, p. 2, tradução nossa), a Curadoria

Digital emerge "como uma área de pesquisa e prática interdisciplinar que reflete uma

abordagem holística para o gerenciamento do objeto digital e inclui atividades que

abrangem todo o ciclo de vida desse objeto".

O ciclo de vida da Curadoria Digital está ilustrado por Higgins (2008) e adotado

pelo DCC. De acordo com o Digital Curation Center (DCC), o ciclo de vida da

curadoria digital envolve processos contínuos e iterativos que incluem: 1) conceituar, ou

seja, conceber e planejar a criação de objetos digitais, incluindo métodos de capturar

dados e opções de armazenamento; 2) criar, ou seja, produzir objetos digitais e designar

metadados arquivísticos administrativos, descritivos, estruturais e técnicos; 3) acessar e

usar, que assegura, aos indivíduos, fácil acesso a objetos digitais rotineiramente; 4)

avaliar e selecionar, que envolve avaliação de objetos digitais e seleção daqueles que

requerem preservação e curadoria a longo prazo; 5) descartar os objetos digitais não

selecionados para curadoria e preservação a longo prazo; 6) ingerir, ou seja, a transferir

os objetos para um ambiente confiável; 7) preservar, envolvendo ações para preservação

e retenção dos objetos digitais a longo prazo; 8) re-avaliar, ou seja, re-avaliar objetos
35
digitais que falharam no procedimento de validação; 9) armazenar, que envolve manter

os dados de maneira segura; 10) acessar e re-usar, de maneira a assegurar que os objetos

digitais sejam acessíveis para os sujeitos uma primeira vez e também quando retornarem

ao ambiente digital; 11) transformar, que significa criar novos objetos digitais a partir

do original, tal como pela migração em um formato diferente.

O modelo apresentado sistematiza as ações de curadoria que podem ou não ser

aplicadas em sua totalidade na curadoria dos objetos digitais de sistemas

informacionais, no entanto, depreende-se do modelo que uma equipe multidisciplinar

deve se envolver no processo de curadoria ao de vida da Curadoria Digital. A Figura 1

apresenta os processos e agentes do ciclo de vida da Curadoria Digital.

Figura 1 – Ciclo de vida da curadoria digital proposto por Higgins (2008)

Fonte: Higgins (2008). Traduzida pelas autoras com permissão da criadora.

36
Os estágios do ciclo de vida da Curadoria Digital proposto pelo DCC não são

exaustivos, embora não significam que o processo de curadoria de um ambiente

informacional deva compreender todas as fases.

Na análise do modelo proposto pelo DCC, observa-se a necessidade de duas

equipes interdisciplinares envolvidas no processo: uma equipe focada no núcleo da

curadoria, marcada em laranja e azul, ou seja, na descrição e representação da

informação, e na definição dos dados e metadados nos repositórios digitais,

relacionados com a preservação e planejamento. Nessa fase da curadoria dos objetos

digitais é inegável a contribuição que os saberes da biblioteconomia podem trazer.

A segunda equipe está direcionada aos passos de preservação (ingestão,

preservação e armazenamento) e curadoria (acesso, uso, reuso, transformação, criação e

recepção, avaliação e seleção). Embora a literatura em Curadoria Digital no Brasil tem

focado em questões de preservação (SAYÃO, 2010; SAYÃO; SALES, 2012; SAYÃO;

SALES, 2013), nós optamos, neste estudo, por um recorte que enfatize a necessidade da

Curadoria Digital especialmente voltada para o acesso e compartilhamento de

informação.

Nesse contexto das fases de curadoria digital, a proposta desse estudo é sugerir

que os saberes do Design da Informação e da UX sejam aplicados nas fases de acesso,

uso e re-uso do ciclo (em vermelho).

2 O DESIGN, O DESIGN DA INFORMAÇÃO E A EXPERIÊNCIA DO

USUÁRIO

O Design, e especialmente o Design da Informação tem, na atualidade, um

importante papel no desenvolvimento de projetos e ações que lidam com desafios

relacionados à disponibilização e disseminação de conteúdos informacionais para

37
acesso e socialização da informação e do conhecimento objetivado em ambientes

físicos, digitais e híbridos.

O Design, entendido como grande área, traz em seu bojo diversas disciplinas

especializadas, tal como Design de Interfaces, Infografia, Comunicação Visual,

Visualização da Informação, Design da Informação e Experiência do Usuário, entre

outras. Vale notar que no centro do Design e convergente a todas as suas disciplinas e

metodologias está o humano. Vale notar que não são apenas centradas no humano, elas

são o humano, contam com nossa habilidade de sermos intuitivos, nossa habilidade

natural de reconhecer padrões, construir ideias que tenham significado emocional, de

nos expressarmos. Obviamente contar apenas com o lado emocional não é o ideal, mas

considerar apenas o lado racional e analítico dos problemas pode ser ineficiente

(BROWN, 2009).

Com relação às emoções sentidas pelo internauta quando interagindo em

ambientes digitais, elas podem ser positivas ou negativas de acordo com as experiências

que esses ambientes proporcionam, pois, ambientes digitais são capazes de suscitar as

mesmas emoções que os ambientes físicos. São agradáveis, aconchegantes ou

convidativos, gerando sensações de bem-estar e consequentemente uma boa

experiência; ou são desagradáveis, frios e repulsivos, produzindo mal-estar, e como

consequência as pessoas não permanecem naquele ambiente, ou seja, a primeira

experiência com aquele determinado ambiente foi negativa. Destaca-se que esse

processo é anterior à consciência.

As emoções, assim, trazem uma avaliação inerente: positiva ou negativa, boa ou

ruim, que se torna imprescindível para determinar as ações futuras. Por exemplo, se as

emoções ou experiências sentidas em um ambiente digital foram positivas, o indivíduo

certamente voltará àquele ambiente, porém se as emoções ou experiências foram ruins,

38
ele não voltará àquele ambiente. De acordo com Hassenzahl (2010, p. 8) as experiências

estão intimamente ligadas com as ações,

Uma experiência é um episódio, um momento pelo qual passamos -


com visões e sons, sentimentos e pensamentos, motivos e ações; eles
estão intimamente ligados, armazenados na memória, rotulados,
revividos e comunicados a outros. Uma experiência é uma história que
emerge do diálogo de uma pessoa com ela mesma ou com seu mundo
através da ação. Uma experiência é subjetiva, holística, situada,
dinâmica e valiosa.

Ainda de acordo com Hassenzahl (2013), na contemporaneidade, no ocidente,

nossas ações têm se transformado em razão das nossas experiências. Nós estamos

experimentando uma mudança do material para o experimental. O autor menciona que

estudos comprovam que as pessoas ficam mais felizes e valorizam situações que possam

proporcionar experiências, e então preferem investir seu dinheiro em shows, peças de

teatro e viagens do que investir seu dinheiro em aquisição de coisas materiais com valor

similar, como roupas ou joias. Por outro lado, os artefatos, as coisas não são opostas às

experiências: viajar pressupõe transporte, um show musical pressupõe instrumentos e

um local – esses artefatos tecnológicos por sua vez dão forma, mediam e garantem uma

boa experiência.

A partir desse novo comportamento reconhecido por designers, surge a

disciplina User Experience (UX), que centraliza seu foco em produtos (digitais)

interativos que funcionarão como criadores, facilitadores ou mediadores da experiência.

Esses produtos (ou ambientes digitais) configuram a maneira como as pessoas se

sentem, pensam, agem e inevitavelmente influenciam a experiência de maneira positiva

ou negativa (HASSENZAHL, 2010, p. 8). Certamente uma boa experiência em um

ambiente digital não pode ser garantida, mas a aplicação de conhecimentos e princípios

de Design, e nele o Design da Informação e Experiência do Usuário podem aumentar a

chance de provocar uma boa experiência.

39
Hassenzahl (2010) criou um modelo conceitual de três níveis com o objetivo de

nortear o design de uma experiência por meio de um objeto de interação: os níveis do

Por quê?, O quê?, e Como? o por quê? compreendem as ações que as pessoas realizam

por meio de um produto interativo, por exemplo, comprar um livro. O o que? está

relacionado à tecnologia ou produto, e o como? compreende a ação realizada por meio

do objeto e seu contexto de uso, por exemplo, menus navegados, botões clicados, etc.

Assim, no Design de Experiência, o autor afirma que os três níveis devem estar

em harmonia. No nível por quê?, o designer deve tentar descobrir as necessidades e

emoções envolvidas na atividade, o significado, a experiência. Depois disso, determinar

a funcionalidade que vai fornecer a experiência, ou seja, o nível o que?, e a forma

apropriada de colocar a funcionalidade para agir configura o Como? Esse modelo de

desenho proposto por Hassenzahl (2010) objetiva criar produtos, no caso ambientes

digitais, que levem em consideração as peculiaridades da experiência humana.

A proposta desta seção é levantar questões e refletir sobre a complexidade das

metodologias que envolvem o Design de Experiência, pois o seu caráter transdisciplinar

ultrapassa e permeia aspectos de diferentes áreas do conhecimento. Para se projetar

experiências de uso que envolvam interações em ambientes informacionais digitais,

deve-se considerar a ocorrência de vários eventos que nem sempre apresentam

simplicidade. A Figura 1 ilustra os elementos da experiência do usuário em sua

complexidade.

Figura 1 – Elementos da UX

40
Fonte: (PADUA, 2014)

O Design de Experiência é uma disciplina voltada para a concepção de produtos,

processos, serviços, eventos e ambientes físicos ou digitais com foco na qualidade da

experiência que será proporcionada. Trata-se de uma disciplina emergente de caráter

interdisciplinar que inclui, entre outras disciplinas, a psicologia cognitiva, a linguística,

a arquitetura e os designs ambientais e de produtos, a ciência da informação, a

arquitetura da informação, a etnografia, a estratégia de marca e o Design Thinking.

Nesse contexto, a Experiência do Usuário (UX) corresponde à consideração da

satisfação de um indivíduo em utilizar determinado produto, serviço ou sistema. Para

isso, é necessário conhecer cada um dos elementos e o contexto que compõem as

experiências do usuário, tornando viável a produção de resultados desejados.

Em Os Elementos da Experiência do Usuário, (Garrett, 2002) apresentou o seu

modelo de design centrado nos sujeitos da interação, como apresentado na Figura 2.

Figura 2 – Diagrama original de Garrett, documentando a Web como hiperlink e a Web como

software

41
Fonte: (GARRETT, 2002; traduzido por LABATE, 2000).

Garrett, neste diagrama, identificou duas forças paralelas que acompanham

verticalmente as camadas descritas por ele para a realização de um projeto

compreensivo, de áreas do Design de Experiência do Usuário, que ele classificou como:

1. Web de interface de software orientado à tarefa;

2. a Web como sistema de hipertexto, orientado à informação.

Estas áreas se aproximam e coincidem com os saberes e fazeres tecnológicos,

com as disciplinas envolvidas na elaboração de projetos, com os relacionamentos

interdisciplinares, e os vários atores envolvidos com cada uma das etapas relacionadas.

Na base da figura, encontram-se, em um primeiro nível, as necessidades do

usuário (sic) e os objetivos do ambiente digital; as especificações funcionais como

software e as exigências de conteúdo estão em um segundo patamar. Na sequência,

situa-se o Design de Interação e a Arquitetura da Informação. Completa-se o diagrama

com o Design Visual no topo, que pode ser também entendido como a interface gráfica

(GUI), por meio da qual ocorre a interação dos sujeitos com o sistema. Destaca-se que

as paralelas referentes à Web como software colocada à esquerda do diagrama e à da

42
Web como hipertexto, colocada à sua direita, permeiam e atravessam todos os patamares

de descrição das fases do modelo de Garrett.

Neste ponto encontra-se um nó da complexidade do objeto estudado, pois há que

se considerar que a concepção de experiência descrita pelos próprios sujeitos tem

potencial para alterar o conceito da própria categoria experiência, e a forma de se

projetar o Design da Informação de todo o processo como uma totalidade. Já a criação

de experiências consideradas inspiradoras e significativas por meio da apropriação da

tecnologia, segundo Hassenzahl, é uma responsabilidade dos atores que interagem com

o sistema (Hassenzahl, 2013).

Segundo Norman (2011, sem paginação),

nós sabemos como projetar ‘coisas’ que realizam ações concretas e

particulares. Mas como devemos projetar estas experiências? Através

dos pontos apontados por Hassenzahl, elas não podem ser projetadas,

elas podem ser suportadas, ou seja, pode-se projetar focando nas

affordances de experiências, porém, no final cabe ao usuário que

utiliza o produto construir seu caminho para a experiência.

Percebe-se que avaliar a experiência a partir da dimensão do uso (ou a dimensão

da experiência) é um processo que envolve fenômenos dinâmicos. O designer do espaço

informacional deve definir um conceito de navegação no qual ocorra a fusão de vários

elementos e várias fases a serem consideradas. Entre essas definições encontram-se: os

objetivos do ambiente digital, deve-se fazer uma análise dos concorrentes do mercado

(benchmarking), os tipos de sujeitos que o ambiente pretende alcançar (personas), os

objetivos dos indivíduos que irão interagir com o ele e os cenários em que as interações

ocorrerão.

3 CONCLUSÕES PARCIAIS
43
Considerando o ciclo de vida da Curadoria Digital, o Design da Informação e os

saberes da Experiência do Usuário aplicado à fase de Acesso, Uso e Re-Uso, de um

sistema informacional, tem-se que a comunidade pode se tornar participativa, observar

os objetos digitais ingeridos no ambiente confiável, e acessar o conteúdo curado que é

disponibilizado.

Para que a comunicação nas interfaces dos ambientes digitais seja transparente,

ou seja, não cause uma sobrecarga cognitiva ao visitante, os recursos de  DI (planejados

na Curadoria Digital), devem orquestrar os aspectos materiais, informacionais do

ambiente digital, bem como os aspectos sensoriais, cognitivos e humanísticos dos

sujeitos que interagem com o ambiente, considerando que o aprimoramento da eficácia

de ambientes digitais não é de ordem meramente técnica, resolvida unicamente pela

Ciência da Computação.

Uma vez que o DI esteja incorporado ao planejamento de curadoria de

ambientes digitais, o que se espera é que o sistema interopere e favoreça convergências,

a fim de alcançar esferas da cultura e do cotidiano de indivíduos, tornando-se recurso

cotidiano e comum da sociedade.

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46
3
DESIGN THINKING NA CURADORIA
DIGITAL DE DADOS DE PESQUISA
Anahi Rocha Silva
Laís Alpi Landim
Maria José Vicentini Jorente

Resumo: A dinamização dos fluxos informacionais, na chamada Era da Informação, fez


com que os dados fossem considerados o petróleo da era digital, tornando-se um fator
de exploração econômica tão importante quanto o trabalho, o capital e a terra já
representaram um dia. A curadoria de dados de pesquisa é reconhecida como uma nova
área emergente de especialização, um novo domínio que exige abordagens e atuações
interdisciplinares. Os profissionais da informação, que já estão lidando com os desafios
práticos da curadoria digital, têm uma perspectiva e um conjunto de habilidades
importantes para auxiliar as organizações e os pesquisadores na curadoria de dados de
pesquisa. A proposta deste trabalho é apresentar o pensamento do design thinking e
como aplicá-lo a projetos de curadoria de dados de pesquisa. A convergência dessas
áreas resulta em uma sinergia com a finalidade de auxiliar pesquisadores e curadores de
dados a pensarem no gerenciamento de dados e planejar sua curadoria digital,
favorecendo o acesso, uso e reuso posteriores. Os resultados do estudo fornecem
insights para um processo de planejamento da curadoria de dados de pesquisa a partir
dos processos do design thinking.

Palavras-chave: Curadoria Digital. Curadoria de Dados de Pesquisa. Design Thinking.

1 INTRODUÇÃO

Explosão, dilúvio, avalanche, oceano, tsunami de dados, ou simplesmente Big

Data, são algumas metáforas utilizadas para explicar a quantidade massiva de dados que

são produzidos para além da capacidade tecnológica de armazenamento, gerenciamento

e processamento de dados (MANYIKA et al., 2011) e o fenômeno desafiador que isso

representa.

Desde que, em 1997, Michael Lesk levantou a possibilidade de quantificar a

capacidade da humanidade de armazenar informações, e que Martin Hilbert e Priscila


47
López publicaram o primeiro estudo de séries temporais Quanta informação existe no

mundo? (HILBERT; LOPEZ, 1997), pesquisadores fazem cálculos, projeções e

estimativas da quantidade de informação produzida e armazenada. Para termos uma

ideia, estima-se que até 2020 serão produzidos e acumulados mais de 16 zetabytes (16

trilhões de GB) de dados úteis (TURNER et al., 2014).

A dinamização dos fluxos informacionais na chamada Era da Informação fez

com que os dados fossem considerados o petróleo da era digital, tornando-se um fator

de exploração econômica tão importante quanto o trabalho, o capital e a terra já

representaram um dia.

Esse fenômeno de valorização dos dados digitais ocorre pelo fato de permitirem

a realização de análises (descritiva, de diagnóstico, preditiva e prescritiva), em níveis

sem precedentes de precisão e sofisticação, capazes de fornecer informações para novos

insights.

Por isso que, nos vários setores da economia, investir em infraestrutura

tecnológica, e possuir uma estrutura organizacional correta são fatores essenciais para

obter vantagem competitiva e até questões de sobrevivência.

Este contexto, marcado pela produção massiva de dados e seu potencial para

inovação, também afetou a comunidade científica e trouxe a Ciência ao patamar em que

está: a eScience e eResearch, ambas baseadas em instrumentos e recursos tecnológicos e

computacionais, dinamizando a produção, armazenamento e o acesso centrados nos

dados de pesquisa (HEY; TANSLEY; TOLLE, 2009), permitindo uma nova ordem de

pesquisa colaborativa, mais interdisciplinar, baseada em experiência e em pesquisa

compartilhada (LORD; MACDONALD, 2003).

Gordon Bell afirma que, até o século XX, os dados em que as teorias científicas

estavam embasadas eram registrados em cadernos científicos individuais ou

48
armazenados em meios magnéticos que eventualmente se tornam ilegíveis. Essa

condição limitava o acesso e sua preservação para outros pesquisadores (BELL, 2009).

Em The Fourth Paradigm: Data-Intensive Scientific Discovery, constam os

relatos de que Jim Gray descrevia o cenário da pesquisa científica do século XXI como

“o quarto paradigma” (os três primeiros foram o experimental, o teórico e o da ciência

computacional). Para esse pesquisador, esse novo modelo está baseado nas novas

tecnologias, capazes de gerar grandes quantidades de dados, em formatos e padrões

diversos, e nas diferentes etapas de pesquisa, trazendo questões sérias e complexas e um

maior desafio técnico para desenvolver estratégias de coleta, manipulação, análise,

exibição e armazenamento desses dados (HEY; TANSLEY; TOLLE, 2009).

A complexidade das tecnologias baseadas em dados congrega um verdadeiro

ecossistema que envolve aspectos da dinâmica social, retórica política e escolhas

tecnológicas (SHIN; CHOI, 2015). E para beneficiar-se plenamente desse importante

investimento, são necessárias medidas efetivas tanto de curadoria digital, quanto de

curadoria de dados, visando seu gerenciamento e preservação em plano macro e micro,

tendo em vista a heterogeneidade de formas e formatos em relação a dados de pesquisa.

O foco desta pesquisa é explorar a curadoria digital e a curadoria de dados de

pesquisa, com enfoque na literatura sobre seus conceitos e distinções. Em seguida,

apresenta-se a metodologia do Design Thinking como uma nova abordagem para

tratamento e planejamento do uso e reuso de dados de pesquisa.

Nas discussões que abordam questões relativas a tratamento e gestão de objetos

digitais, encontra-se a ideia de que os métodos convencionais e abordagens clássicas

têm dificuldade em tratar dados digitais, devido a sua complexidade.

Além disso, tão importante quanto produzir, ter e manter os dados, é o que fazer

com eles, quais as possibilidades e potencialidades de uso. O conhecimento entre

cientistas da computação sobre como pensar e abordar a análise de dados, assim como o

49
conhecimento de ambientes de computação por estatísticos, são limitados, e é aí que

entra o profissional da informação, como veremos a seguir.

2 CURADORIA DIGITAL

Nesse contexto de produção massiva de dados digitais, emergem novos

problemas relacionados à coleta, preservação, recuperação, representação, apresentação

e acesso à informação, devidos à atribuição inadequada de metadados e aos riscos

impostos pela fragilidade dos suportes digitais e pela obsolescência tecnológica.

Questões acerca das formas adequadas de armazenar, organizar, preservar e disseminar

satisfatoriamente os dados produzidos nessa perspectiva são constantemente levantadas,

e as discussões em torno da curadoria digital podem trazer contribuições esclarecedoras

e esse debate.

O conceito de Curadoria Digital encontra-se em construção na literatura

científica. Os conceitos de curadoria e curadoria digital vêm sendo utilizados para

descrever diversos processos na área da Ciência da Informação. A princípio, em língua

portuguesa, curadoria remete ao processo de curar e cuidar. Como define o dicionário

Houaiss (2009), é o “ato, processo ou efeito de curar; cuidado”. Suas origens remetem

ao latim “curator”, “aquele que administra”, “aquele que tem cuidado e apreço”

(SIGNIFICADOS, 2017).

A curadoria sempre foi uma atividade comum realizada no ambiente do museu,

e, portanto, muito presente na literatura da Museologia. Porém, outros usos começaram

a ser observados após as mudanças nos processos que envolvem a informação ao longo

de seu ciclo de vida. De acordo com Santos (2014), “o termo ‘curadoria’ foi transposto

de museus e bibliotecas às mídias interativas (a Web e seus novos canais de

comunicação)”, e a emergência do conceito de curadoria digital é recente e encontra-se

em desenvolvimento, bem como os termos preservação digital e arquivamento digital.

50
No contexto da Ciência da Informação, observa-se que curadoria digital

representa um termo guarda-chuva que se desdobra nos termos “curadoria de

informação”, “curadoria de conteúdo” e “curadoria de dados” (JORENTE; SILVA;

PIMENTA, 2015).

Daisy Abott, do Digital Curation Center (DCC), refere-se à Curadoria Digital

como as formasde “gerenciamento e preservação dos dados digitais em longo prazo”,

em que estão envolvidas todas as atividades de gerenciamento de dados, isto é, “o

planejamento de sua produção e boas práticas na digitalização e documentação,

assegurando sua disponibilidade e sustentabilidade para descoberta e reuso futuro”,

além de incluir o “gerenciamento de vastos conjuntos de dados para uso diário,

assegurando, por exemplo, que eles possam ser buscados e continuar legíveis”

(ABOTT, 2008, p. 01, tradução nossa). Para a autora, a curadoria digital é aplicada a

contextos variados em que a informação necessita ser tratada do início ao fim de seu

ciclo de vida, como a digitalização, a criação de metadados e a criação de repositórios,

por exemplo.

Maureen Pennok, também ligada ao DCC, afirma que a Curadoria Digital é o

“gerenciamento ativo e a avaliação da informação digital durante todo seu ciclo de

vida” e consiste em “manter e agregar valor a um conjunto confiável de informação

digital para uso atual e futuro” (PENNOK, 2007, p. 01, tradução nossa). Pennok ressalta

que a abordagem de ciclo de vida da Curadoria Digital é necessária por fatores como: a

fragilidade e a suscetibilidade dos materiais digitais às mudanças advindas dos avanços

tecnológicos durante seu ciclo de vida; o impacto da presença ou ausência de atividades

em cada etapa do ciclo de vida na capacidade de gerenciar e preservar materiais digitais

em etapas subsequentes; e o fato de que só é possível o reuso confiável de materiais

digitais se eles forem curados de forma a manter sua autenticidade e integridade.

Apesar de existir um núcleo comum com a curadoria de dados, a curadoria de

51
dados de pesquisa carece de recomendações específicas diferentes que exigem os dados

operacionais em setores corporativos para melhorar os serviços ou informar a tomada de

decisões.

Para Sayão e Sales (2013), o trabalho de pesquisa científica é uma das

atividades humanas em que mais são gerados e manipulados materiais digitais, o que

gera grande fluxo de dados. Assim, surge também a necessidade de práticas que

possibilitem tornar esses dados mais visíveis e acessíveis, sem prejudicar sua

integridade, fidedignidade e característica de evidência. Nessa perspectiva encontram-se

as discussões em torno da chamada Curadoria de Dados.

A Curadoria de Dados, de acordo com Santos (2014), necessita envolver

atividades de gestão necessárias para manter dados de pesquisa disponíveis em longo

prazo, de forma a favorecer seu reuso, a colaboração entre pesquisadores, o avanço da

ciência e a preservação do conhecimento científico. Essas atividades demandam dos

profissionais da informação a criação de estratégias de curadoria desde o momento de

recebimento até as etapas de uso e preservação.

3 CURADORIA DE DADOS DE PESQUISA

Dados de pesquisa são considerados os elementos primários, a fonte a partir da

qual o conhecimento científico e tecnológico se baseia e é desenvolvido, e

correspondem aos materiais registrados e aceitos na comunidade científica como

necessários para validar os resultados de pesquisa.

Segundo Grahan Pryor, os dados de pesquisa são os resultados de qualquer

investigação envolvendo um processo de observação, experimentação ou teste de

hipótese que, quando reunidos em contexto e interpretados habilmente, produzirão

novos conhecimentos (PRYOR, 2012).

52
Dessa forma, os dados de pesquisa podem ser representados por meio de

quaisquer caracteres, como números, letras e símbolos; podem ser a coleção de objetos

digitais adquiridos e gerados durante o processo de pesquisa, conteúdos de banco de

dados, o próprio objeto, uma ideia, condição, ou situação, como fotografia, vídeos,

áudio, software, algoritmos, equações, animações, modelos, cadernos de campo, diários,

questionários, transcrições, fitas de áudio, fitas de vídeo, sequências de proteínas ou

genéticos (SAYÃO; SALES, 2012).

Portanto, qualquer campo do conhecimento, humanista, naturalista ou das

ciências sociais, produz dados e recursos digitais em toda sua pesquisa acadêmica,

qualquer que seja a disciplina. O que ocorre é que a natureza, o formato, a forma e o

volume dos dados experimentais e evidenciais gerados e coletados dentro de um

programa de pesquisa variam, conforme a área e a disciplina. Nas Ciências Biológicas,

por exemplo, o Projeto Genoma Humano (PGH) foi uma pesquisa científica que contou

com a participação de cientistas de 18 países, cujos arquivos de imagem para um único

genoma humano foram estimados em 28,8 terabytes, o que está se aproximando 30.000

gigabytes. Um projeto de tamanha dimensão e importância precisou de grandes

investimentos econômicos, que se caracterizou como um consórcio público

internacional.

O pesquisador e ex-diretor do DCC, Grahan Pryor, ao perguntar-se: “Por que

gerenciar dados de pesquisa?”, encontra vários argumentos de caráter econômico, social

e científico que cercam a preocupação e a responsabilidade de manter os dados

primários obtidos durante as pesquisas científicas, que correspondem a benefícios em

curto e longo prazo: alguns dados coletados são únicos e não reprodutíveis; o volume do

investimento de recursos financeiros (geralmente públicos) para serem produzidos é

grande; a manutenção do acesso dos cientistas para aumentar a capacidade de pesquisa

amplia e melhora a base de conhecimento, é vital para a validação da pesquisa, e

53
possibilita a reutilização de dados confiáveis em outras pesquisas (PRYOR, 2012;

PENNOCK, 2006).  

Os pesquisadores, as instituições acadêmicas e as agências de fomento à

pesquisa começaram a compreender que estes dados, se devidamente tratados,

preservados e gerenciados, podem constituir uma fonte inestimável de recursos

informacionais.

No Brasil, as agências de fomento à pesquisa científica em universidades e

instituições (a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes,

o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, e as

Fundações de Amparo à Pesquisa - FAPs), passaram a exigir que os pesquisadores

apresentem seu  Plano de Gestão de Dados, como componente obrigatório na fase de

submissão de um projeto, descrevendo seus planos de acesso, gerenciamento e a

duração dos resultados da pesquisa. Prática essa que já vinha acontecendo há mais de

uma década nas principais agências governamentais ou privadas de fomento à pesquisa

na América do Norte, Europa e Austrália (FAPESP, 2017).

Além dessa exigência, organismos financiadores também passaram a fornecer

serviços de infraestrutura para depósito e arquivamento dos dados de pesquisa,

responsáveis por programas de gerenciamento e curadoria (FAPESP, 2017).

A responsabilidade do pesquisador por seus próprios dados de pesquisa não

termina com a publicação dos trabalhos, artigos e ensaios. Mesmo após a publicação

dos resultados das pesquisas, por exigência de editores e revisores dos periódicos, os

autores devem disponibilizar seus dados quando solicitados.

Depois que os pesquisadores depositam seus dados de pesquisas em

repositórios das agências de fomento, bibliotecas, centros de pesquisa e universidades,

cabe a essas instituições promover a retenção, o acesso e a preservação, ou seja,

desempenhar o seu papel na curadoria. E nesse sentido, o profissional da informação, o

54
arquivista e o bibliotecário, principalmente, ganham papel de destaque na gestão do

ciclo de vida dos dados, atuando na estruturação, organização, descrição e

disponibilização, para que esses dados sejam compreensíveis agora e no futuro.

A curadoria de dados científicos é o gerenciamento ativo e contínuo de dados

de pesquisa, em que permanecem detectáveis, acessíveis e inteligíveis a longo prazo,

um processo que investe em dados e conjuntos de dados com o potencial de agregar

valor como ativos que desfrutam de um uso muito mais amplo do que seus criadores

esperavam (PRYOR, 2012).

As definições de curadoria de dados eram muito similares às de curadoria

digital, por conterem pontos de intersecção em temas e abordagens (ciclo de vida,

acesso, uso, reuso, arquivamento, preservação, gerenciamento). No entanto, o foco da

curadoria de dados é mais específico e direcionado aos dados, como o próprio nome

sugere, e se concentram em atividades preocupadas em manter sua precisão,

simultaneidade, integridade e consistência. Em razão disso, aborda questões específicas

em torno da segurança, qualidade, confidencialidade, propriedade, proveniência,

autenticidade e metadados, tudo isso para garantir que os dados armazenados no banco

de dados sejam um reflexo preciso da realidade (ALQASAB; EMBURY; SAMPAIO, p.

2, 2017). Além disso, muitas outras questões também estão envolvidas nesse processo,

como aspectos relacionados à data de validade, interação, linkagem, métodos de análise,

visualização, automação, e interoperabilidade dos dados de pesquisa.

O termo curadoria de dados passou a ser usado a partir da década de 1990,

quando a noção de curadoria em relação aos dados digitais de pesquisa emergiu como

uma nova área de atividade para bibliotecários, arquivistas, cientistas de computação e

informação. No entanto, o campo de curadoria de dados ainda é bastante novo, além das

técnicas e aplicações relacionadas à captura, gerenciamento e manutenção, e algumas

ferramentas de curadoria não são totalmente automáticas e exigem que os seres

55
humanos atuem ativamente nesse processo.

Curadores, ou cientistas de dados, devem atuar de forma interdisciplinar, e a

soma de suas contribuições técnicas, intelectuais e criativas devem ser plenamente

reconhecidas para o gerenciamento e tratamento bem-sucedidos de dados digitais. Com

base no estudo do Observatório de Ciência da Informação da Universidade do Porto,

sobre Perfis dos Profissionais da Informação (BUSCHBECK; SOUSA, 2013), tem-se

que o termo cientista de dados reúne diversos perfis de profissionais em diferentes

domínios especializados. Uns tendem a se concentrar mais na ciência da computação,

familiarizados mais com linguagens de programação do que na análise de dados; outros

trabalham com matemática e estatística, e compreendem os cientistas da computação,

engenheiros e programadores de bases de dados e software, estatísticos e matemáticos.

O curador de dados tem o papel de administrar o fluxo de conteúdo digital,

redes sociais ou outros sistemas de informação, e é responsável: pela preservação; por

apoiar a investigação e por promover o acesso; por organizar os dados de acordo com o

perfil de sua comunidade de interesse; por fazer a gestão dos conteúdos e

conhecimentos, a identificação e validação das fontes de informação, a análise e

representação da informação; e pela gestão das coleções e fundos. Essas funções podem

ser desempenhadas pelos bibliotecários, arquivistas, documentalistas e cientistas da

informação.

Dentre tais atividades desempenhadas pelos profissionais da informação, a

promoção do acesso para uso e reutilização dos dados, para que outros pesquisadores

possam encontrá-los e integrá-los com outros dados, revela-se um grande desafio, em

face não apenas do volume, mas também pela heterogeneidade de dados de pesquisa em

diversos campos do conhecimento, que pode ser subsidiado pela abordagem do Design

Thinking.

56
4 METODOLOGIA DO DESIGN THINKING

O Design Thinking é uma metodologia que fornece uma abordagem baseada

em soluções para problemas complexos e não estruturados, onde anuncia e consagra a

integração entre a observação, a colaboração e a prototipagem, centradas em humanos

(BROWN, 2010; HOLLOWAY, 2009).

Embora o Design Thinking tenha suas origens no treinamento e na prática

profissional de designers, seus conceitos, princípios e práticas podem ser praticados por

todos e estendidos a todos os campos de  atividade, isto é, essa abordagem não está

limitada aos designers (BROWN, 2010).

Visto que os desafios postos pelos problemas complexos não podem ser

solucionados com procedimentos conservadores - baseados no pensamento sob uma

racionalidade ordenada, previsível, quantificável e testável, que não consideram fatores

como a desordem, processos cíclicos e relacionais, nem a possibilidade de interligação

de todos os conhecimentos - o Design Thinking (DT) enquadra-se como metodologia

que responde tais emergências. O DT consiste numa metodologia não linear, com

abordagem focada no ser humano, que vê na multidisciplinaridade, colaboração e

processos, caminhos que levam a soluções inovadoras, referindo-se não apenas ao

resultado final.

Apesar da relevância do Design Thinking nos projetos de ambientes digitais,

atualmente encontramos poucas pesquisas na literatura técnico-científica que explorem

novas abordagens e que explicitem a interseção entre a Curadoria Digital e o Design

Thinking nos ambientes digitais informacionais e, de modo mais específico, em

centros/repositórios de dados de pesquisa.

57
Portanto, uma das intersecções possíveis está em auxiliar os curadores a avaliar

a estrutura de projetos em ambientes digitais e preparar a documentação

adequadamente, visando acesso tanto a curto, como a longo prazo, a importantes fontes

de conhecimento. Existem muitas variantes do processo de Design Thinking em uso

hoje, mas para a finalidade de reutilização dos dados de pesquisa, optamos pelo modelo

proposto pelo Hasso-Plattner Institute of Design em Stanford. Este modelo procura

envolver equipes de pesquisa multidisciplinares nas cinco etapas (Empatia, Definição

do problema, Ideação, Protótipo e Teste), para investigar cientificamente os fenômenos

da inovação em suas muitas dimensões holísticas, com a possibilidade de revisitar as

etapas já concluídas:

1. Na primeira etapa, Empatia, as palavras chaves são entendimento,

observação do contexto e inclusão de novos pontos de vista. Deve-se

buscar o entendimento das necessidades do sujeito para o qual estamos

buscando a solução (experiência do usuário);

2.  No módulo de Definição do problema, ocorre a síntese das descobertas e

percepções do trabalho de empatia, e define-se o que se aprendeu sobre seu

usuário e sobre o contexto, o que vai orientar todo o trabalho;

3.  Na etapa de Idealização, busca-se a concentração em gerar soluções para

resolver esse problema/desafio encontrado, e a exploração de uma ampla

variedade de possíveis soluções,

4.  A Prototipagem é a fase de experimentar e testar a solução dada ao

problema, e verificar se, de fato, correspondeu às expectativas, e observar

os feedbacks dos envolvidos para refinar, ajustar e melhorar o protótipo

para sua implementação final;

58
5. Nesta etapa final de Implementação, temos a efetiva implementação dos

requisitos, elaboração do plano piloto e criação do modelo a ser aplicado ao

produto ou serviço.

5 DESIGN THINKING NA CURADORIA DE DADOS DE PESQUISA

Por meio da aplicação adequada da metodologia Design Thinking, os projetos

de curadoria de dados digitais de pesquisa poderão ser desenvolvidos por profissionais

com uma visão que lhes assegurará seu papel como gestor de dados, com o objetivo de

atender diretamente às expectativas e necessidades de quem precise buscar pelos dados,

por vários motivos:

 Considera o contexto em que os dados foram criados, suas características,

formato, padrões, a existência de restrições legais, éticas e comerciais à

liberação de dados de pesquisa;

 Possibilita o contato entre pesquisadores produtores de dados e a instituição que

detém sua custódia,

 Fornece uma maneira de diagnosticar as necessidades de outros pesquisadores, e

perceber o que é necessário para que outros pesquisadores possam usar melhor

os dados;

 Permite que as instituições avaliem as políticas de acesso a dados e planejem as

próximas etapas de sua evolução, como, por exemplo, disponibilizando os dados

com o menor número de restrições possível, mas que atendam a um alto padrão

ético e não violem a privacidade ou prejudiquem a propriedade intelectual;

 Conscientiza sobre os fatores fundamentais para a maturidade dos dados e cria

um framework e linguagem compartilhados para falar sobre isso.

59
Os processos de curadoria de dados de pesquisa são heterogêneos devido à

diversidade de formatos, linguagem e especificidades dos dados coletados em diferentes

áreas de pesquisa. Dessa forma, a metodologia do Design Thinking fornece

instrumentos que podem contribuir com o profissional da informação/cientista de

dados/curador de dados no momento de elaboração do plano de curadoria, para que as

ações previstas ao longo do ciclo de vida dos dados digitais sejam realizadas

adequadamente.

Portanto, sugere-se que pesquisadores e profissionais que se encontrem na

posição de elaborar um planejamento de curadoria de dados de pesquisa se beneficiem

das etapas propostas pelo Design Thinking para favorecer a elaboração desse plano e,

consequentemente, o posterior acesso, uso e reuso desses dados.

6 CONCLUSÕES

Neste trabalho, foi possível constatar que a produção massiva de dados digitais

no contexto das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) trazem novos

problemas para as mais diversas áreas do conhecimento. Para a área da Ciência da

Informação (CI), esses problemas referem-se às formas de coleta, organização,

preservação e disponibilização dos dados de pesquisa, ou seja, de sua Curadoria Digital.

Constatou-se que a Curadoria Digital diz respeito a um conceito amplo

referente aos processos de tratamento da informação ao longo de seu ciclo de vida,

desde a sua concepção, passando pela avaliação, organização e descrição, até a

disponibilização e preservação. Nesse contexto, emergem especificidades dentre as

quais se encontra a curadoria de dados de pesquisa, que envolve o estudo de soluções

para problemas intrínsecos aos dados gerados durante as atividades de pesquisa

60
científica. Trata-se de dados registrados em diferentes caracteres, formatos e linguagens

que exigem soluções de curadoria digital próprios a cada um.

O Design Thinking, enquanto metodologia para problemas complexos e não

estruturados, a partir de processos de integração entre a observação, a colaboração e a

prototipagem, demonstrou ser uma abordagem apropriada aos processos de

planejamento do plano de curadoria de dados de pesquisa por parte de pesquisadores e

profissionais da informação/gestores de dados. Isso porque torna possível a adequação

dos processos de curadoria de acordo com as especificidades dos dados de pesquisa que

necessitam de tratamento.

Portanto, o raciocínio de atuação proativa do profissional da informação e do uso do

Design Thinking instrumental, para curadoria de dados, visando sua reutilização, resulta

em um melhor gerenciamento, disponibilização e acesso aos dados de pesquisa,

promovendo benefícios como a economia de recursos e a reutilização de dados de

pesquisa por outros pesquisadores, e evitando problemas como a duplicidade de dados,

sua perda e sua inutilização após a publicação dos resultados da pesquisa.

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63
5
QUALIDADE DE DADOS E AVALIAÇÃO NO
CICLO DE VIDA DA CURADORIA DIGITAL
DA INFORMAÇÃO PRODUZIDA EM
AMBIENTES WEB COLABORATIVOS
Laís Alpi Landim
Maria José Vicentini Jorente

Resumo: Problemas que envolvem objetos informacionais em suportes digitais, como


textos, imagens e vídeos, que representam muito do que temos produzido em termos de
conhecimento, ciência, memória e cultura, incluem a avaliação do que deve ser
preservado para as gerações futuras, a organização para uma recuperação e preservação
eficientes, e ações de prevenção para proteger esses materiais da fragilidade dos meios
digitais e da obsolescência tecnológica. Neste contexto encontra-se a abordagem de
ciclo de vida da Curadoria Digital, uma proposta de visão holística e sistematizada, em
longo prazo, dos processos que envolvem todo o ciclo de vida dos artefatos digitais, que
vão desde o momento anterior à sua criação, passam pela organização e planejamento
de ações de preservação e migração, até o momento de disseminação, acesso e interação
com aqueles que os buscam. Este artigo busca estabelecer relações entre as dimensões
de avaliação da qualidade de dados e a Curadoria Digital de conteúdos produzidos em
ambientes Web colaborativos, em torno da seguinte questão de pesquisa: Como as
dimensões de avaliação da qualidade de dados podem contribuir com os processos de
avaliação na curadoria digital de informações produzidas em ambientes digitais
colaborativos? Para tanto, foi realizada uma pesquisa de natureza qualitativa, do tipo
exploratória, visto que buscou-se encontrar na literatura da Ciência da Informação e
áreas afins publicações relacionadas ao objeto e às questões de pesquisa, no intuito de
refletir teoricamente sobre seus conceitos e estabelecer relações entre eles.

Palavras-chave: Curadoria Digital. Avaliação de Dados. Qualidade de Dados.

1 INTRODUÇÃO

Diante da intensa produção de dados e informações em meios digitais (como

expresso na Figura 1), que presenciamos ao longo do final do século XX e início do

XXI, diversos problemas e questões emergem para praticamente todas as áreas do

64
conhecimento. Para a Ciência da Informação, área cujo foco gira em torno dos diversos

processos que perpassam a informação, como a produção, a organização, a

disseminação, o acesso e o uso, por exemplo, tais questões são especialmente caras.

Pergunta-se simplesmente o que fazer com tamanho volume de dados. Como selecionar

o que é importante e que deve ser organizado, preservado e disponibilizado de forma

organizada e separar do que pode ser descartado? Como tornar mais eficientes os

processos de busca e recuperação de conteúdos em meio a tanta informação criada e

disponibilizada? Como conectar dados de forma a otimizar sistemas de informação e

automatizar processos?

Figura 1- O Universo Digital: Crescimento de 50 vezes do início de 2010 ao


final de 2020

Fonte: ISOTANI, 2015

Problemas que envolvem objetos informacionais em suportes digitais, como

textos, imagens e vídeos, que representam muito do que temos produzido em termos de

conhecimento, ciência, memória e cultura, incluem a avaliação do que deve ser

preservado para as gerações futuras, a organização para uma recuperação e preservação

65
eficientes, e ações de prevenção para proteger esses materiais da fragilidade dos meios

digitais e da obsolescência tecnológica.

A emergência da chamada Web 2.0, também conhecida como Web social ou

Web colaborativa, traz ainda novos problemas. A Web 2.0 caracteriza-se por seu

dinamismo e, principalmente, pela possibilidade de interação por parte dos internautas

(produção bottom-up, colaborativa de conteúdos), em detrimento da chamada Web 1.0,

estática, sem possibilidades de interação dos internautas e com produção unilateral de

conteúdos (produção top-down, institucional). Nela, há a possibilidade de que qualquer

pessoa, dentro ou fora dos espaços tradicionais de produção de conhecimento, possa

construir, editar e publicar seus próprios conteúdos. Em ambientes digitais

colaborativos, como a Wikipedia, o Wordpress e o Museu da Pessoa, podem-se

produzir, organizar e publicar conteúdos de forma bottom-up, ou seja, de forma

horizontal, isto é, coletiva e colaborativamente. No entanto, diante dos grandes volumes

de informação gerados nesses ambientes, surge a necessidade de questionar como

avaliar o que deve ser preservado, organizado e disseminado, e como adotar os

procedimentos adequados para os passos seguintes à avaliação.

Nesse contexto encontra-se a abordagem de ciclo de vida da Curadoria Digital,

uma proposta de visão holística e sistematizada, em longo prazo, dos processos que

envolvem todo o ciclo de vida dos artefatos digitais, que vão desde o momento anterior

à sua criação, passam pela organização e planejamento de ações de preservação e

migração, até o momento de disseminação, acesso e interação com aqueles que os

buscam.

Grande parte das pesquisas e práticas em Curadoria Digital vem sendo

desenvolvida pelo Digital Curation Center (DCC)1, uma instituição britânica

especializada na construção de saberes e habilidades para a pesquisa em gerenciamento

de dados. Para Daisy Abbot (2008), uma de suas pesquisadoras, a Curadoria Digital traz
1
Digital Curation Center (DCC). Disponível em: <http://www.dcc.ac.uk/>. Acesso em: 14 abr. 2018.
66
benefícios de curto e longo prazo aos dados digitais. Em curto prazo, ela facilita o

acesso a dados digitais confiáveis e o uso de padrões comuns em diferentes conjuntos de

dados, favorecendo oportunidades de buscas cruzadas e colaboração; contribui para a

melhora dos dados em si e seu contexto de pesquisa; facilita a verificação de

autenticidade, entre outros. E em longo prazo, ela assegura o valor dos dados,

favorecendo sua preservação e protegendo-os da perda e da obsolescência; permite o

acesso contínuo, mesmo em meio a mudanças institucionais; incentiva o acesso aos

dados; e fornece informações de proveniência e contexto.

Tendo em vista tais características da Curadoria Digital, pode-se afirmar que ela

deve contribuir para uma Web tal como pensada por seu criador, Tim Berners-Lee.

Desde o início, Berners-Lee advoga por uma Web livre, gratuita e utilizável por

qualquer um, permeada pelos ideais de descentralização, igualdade (não-discriminação),

colaboratividade (bottom-up design), universalidade e consenso. Tais valores deram

lugar a novas abordagens, com um fim de mudar a sociedade e a política para melhor,

como os movimentos pelos dados abertos (Open Data), ciência aberta (Open Science) e

governo aberto (Open Government) (WEB FOUNDATION, 2017).

Na primeira conferência internacional sobre a World Wide Web (WWW),

Berners-Lee expressou, numa palestra, a necessidade de que houvesse semântica na

Web, ou seja, que os documentos na web não estivessem estruturados de forma que

apenas humanos pudessem compreender o significado neles contido. Para ele, os

documentos devem ser estruturados de forma que também as máquinas possam

compreender o significado de seus conteúdos, o que não é possível na chamada web de

hipertexto, em que links são relações entre documentos escritos em HTML (BERNERS-

LEE, 2006). Uma abordagem de Curadoria Digital ao longo do ciclo de vida dos dados

digitais pode contribuir para a atribuição adequada das estruturas recomendadas por

Berners-Lee, a fim de favorecer a construção de uma Web Semântica.

67
A primeira publicação em que o termo Web Semântica apareceu foi o livro

Weaving the Web, publicado em 1999 por Berners-Lee. Porém, a pesquisa em Web

Semântica considera-se iniciada em seu artigo, Web Semântica: Um novo formato de

conteúdo para a Web que tem significado para computadores vai iniciar uma revolução

de novas oportunidades, de 2001, em conjunto com Hendler e Lassila, no qual os

autores tratam das características e camadas da Web Semântica, bem como sua forma de

funcionamento (ISOTANI; BITTENCOURT, 2015). De acordo com Isotani e

Bittencourt (2015), a Web Semântica procura automatizar atividades na Web por meio

de soluções advindas da Inteligência Artificial, da Engenharia de Software e da

Computação Distribuída. Ela seria uma extensão da Web clássica, em que seria possível

que tanto agentes humanos quanto de software compreendessem os conteúdos contidos

nas páginas Web. Nela, é possível que agentes de software naveguem pelas páginas e

executem tarefas complexas, e que informações sejam expressas precisamente e

interpretadas por máquinas, de forma a possibilitar que esses agentes processem, reusem

e compreendam termos descritos por dados.

No contexto das discussões sobre Web Semântica, surge o conceito de dados

conectados (Linked Data), uma de suas aplicações mais conhecidas e que, para Bizer,

Heath e Lee (2009), refere-se a um conjunto de boas práticas que devem ser adotadas

para a publicação e conexão dos dados na Web, a fim de torná-la um espaço global de

dados conectados advindos de diversos domínios, como pessoas, livros, empresas,

filmes, comunidades online, etc. Essas práticas tornariam possível o avanço rumo à

chamada Web de Dados, ou Semântica, que possibilita a execução de novas tarefas de

forma automatizada, como iniciar a navegação em uma fonte de dados e navegar por

outras relacionadas por meio de links, além da recuperação de respostas mais completas

ao passo que novas fontes são adicionadas à Web.

A partir dessas discussões, é criado também o projeto Linked Open Data (LOD),

68
cujo objetivo é alimentar a Web com conjuntos de dados estruturados por meio de

padrões como o RDF (Resource Description Framework), e estabelecer links entre itens

de diferentes fontes de dados (W3C, 2017). No entanto, para que esses processos sejam

possíveis num contexto de Web semântica, é necessário que seja assegurada a qualidade

dos dados que estão disponibilizados nos conjuntos de dados, visto que problemas de

qualidade nos conjuntos publicados podem resultar em obstáculos para sua utilização

por humanos e agentes de software que deles necessitam, bem como para a conexão

entre dados de diferentes fontes, que é o principal objetivo da publicação de dados

abertos conectados (ACOSTA et al, 2012).

A questão da importância da qualidade de dados fez surgir diversos estudos que

apontam para dimensões e metodologias de avaliação da qualidade dos dados, que são

requisitos que devem ser avaliados para se determinar a qualidade de dados publicados

quanto à sua adequação aos princípios do Linked Data e da Web Semântica.

Este artigo busca estabelecer relações entre as dimensões de avaliação da

qualidade de dados e a Curadoria Digital de conteúdos produzidos em ambientes Web

colaborativos, em torno da seguinte questão de pesquisa: Como as dimensões de

avaliação da qualidade de dados podem contribuir com os processos de avaliação na

curadoria digital de informações produzidas em ambientes digitais colaborativos?

Para tanto, foi realizada uma pesquisa de natureza qualitativa, do tipo exploratória, visto

que buscou-se encontrar na literatura da Ciência da Informação e áreas afins

publicações relacionadas ao objeto e às questões de pesquisa, no intuito de refletir

teoricamente sobre seus conceitos e estabelecer relações entre eles. Foram realizadas

buscas bibliográficas nas principais bases de dados da Ciência da Informação e áreas

afins, como a Brapci, o Google Scholar, a Proquest e o Portal de Periódicos CAPES, em

torno dos termos “curadoria digital”, “digital curation”, “web colaborativa” “web

semântica”, “linked data”, “data quality”, “information quality” e “qualidade de dados”.

69
2 CURADORIA DIGITAL NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

Os termos curadoria e curadoria digital vêm sendo utilizados para descrever

diversos processos na área da Ciência da Informação. A princípio, em língua

portuguesa, curadoria remete ao processo de curar e cuidar. Como define o dicionário

Houaiss (2009), é o “ato, processo ou efeito de curar; cuidado”. No dicionário online

Dicio (2018), encontramos que curadoria refere-se ao “cargo ou função do curador, da

pessoa responsável pela manutenção das obras de artes em museus, galerias etc.:

curadoria de artes”.

O conceito de curadoria relacionava-se, inicialmente, aos campos do Direito e

das ordens monásticas. No entanto, com o tempo passou a ser usado em relação aos

cuidados dos acervos museológicos e das galerias de artes, para designar o trabalho de

administrar os acervos e preparar e conceber exposições artísticas, estabelecendo uma

relação entre as obras e o público (WEBER, 2015). Por esse motivo, trata-se de um

termo muito presente na literatura científica do campo da Museologia.

No entanto, diante das mudanças observadas nos processos que envolvem a

informação ao longo de seu ciclo de vida, novas concepções têm sido observadas na

área da Ciência da Informação. Para Santos (2014), “o termo ‘curadoria’ foi transposto

de museus e bibliotecas às mídias interativas (a Web e seus novos canais de

comunicação)”, e a emergência do conceito de curadoria digital é recente e encontra-se

em desenvolvimento, bem como os termos preservação digital e arquivamento digital.

De acordo com o Digital Curation Center (DCC, 2017), a Curadoria Digital

envolve a manutenção, preservação e adição de valor aos dados de pesquisa digitais ao

longo de seu ciclo de vida, o que reduz os riscos ao seu valor em longo prazo e os

protege da obsolescência tecnológica. São processos progressivos que exigem atenção e

70
investimentos de tempo e recursos adequados para realizá-los em todo o ciclo de vida

do objeto digital. A abordagem de ciclo de vida da Curadoria Digital do DCC envolve

as seguintes etapas:

 Concepção: em que é planejada a criação dos objetos digitais, incluindo métodos

de captura e opções de arquivamento;

 Criação: produção de objetos digitais e atribuição de metadados de

arquivamento administrativos, descritivos, estruturais e técnicos;

 Acesso e uso: em que se deve assegurar que os usuários podem acessar

facilmente os objetos digitais diariamente, sendo que alguns podem ser de

acesso público e outros protegidos;

 Avaliação e seleção: os objetos digitais são avaliados e aqueles que necessitam

curadoria e preservação a longo prazo são selecionados. Devem ser anexadas

instruções documentadas, políticas e requisitos legais;

 Descarte: eliminação dos objetos não selecionados para preservação em longo

prazo, de acordo com as políticas e requisitos legais;

 Admissão: transferência de objetos digitais para um arquivo ou repositório

digital confiável, anexando instruções, políticas e requisitos legais;

 Ações de preservação: realização de ações para preservação em longo prazo e

manutenção da autenticidade dos objetos digitais;

 Reavaliação: devolução dos objetos digitais que não tenham atendido aos

processos de validação para reavaliação e nova seleção;

 Armazenamento: manter os dados de forma segura, conforme padrões

relevantes;

 Acesso e reuso: assegurar a acessibilidade aos usuários para uso e reuso,

considerando que alguns estarão públicos e outros protegidos;


71
 Transformação: criação de novos objetos digitais a partir dos originais, como

ocorre na migração para diferentes formatos, por exemplo (DCC, 2017).

Os processos listados podem ser melhor visualizados no diagrama elaborado

pelo DCC, traduzido por Yamaoka (2012):

Figura 2 - Modelo de ciclo de vida de Curadoria Digital

Fonte: YAMAOKA, 2012

Esses processos devem ser realizados ativamente por pessoas qualificadas e por

meio de softwares de preservação, descrição e recuperação, com atenção especial à

manutenção da integridade e autenticidade da informação, visto que a informação

digital é frágil, facilmente modificável e sujeita a exclusão acidental. Para isso, deve

haver meios de acesso seguro e restrito aos sistemas e aos originais.

A Curadoria Digital de conteúdos produzidos em ambientes digitais

colaborativos deve abarcar todas as etapas de seu ciclo de vida, a fim de evitar

problemas de preservação, mas, também, favorecer uma disseminação e

disponibilização adequadas, para que haja interação e aproveitamento dos materiais

informacionais. Além disso, deve haver uma avaliação e reavaliação apropriadas para

72
que conteúdos de qualidade estejam disponíveis, e conteúdos que não atendam aos

requisitos sejam descartados.

Como visto, uma das etapas da Curadoria Digital da informação, independente

do domínio ou tipo de informação a ser curada, é a avaliação. Nesta etapa, devem ser

selecionados os objetos digitais que estão condizentes com os requisitos estabelecidos

para preservação em longo prazo, para armazenamento e cuidados de preservação. A

etapa de avaliação poderia incluir, também, processos de avaliação da qualidade das

informações, baseados nas diretrizes de avaliação da qualidade de dados. Assim, os

estudos produzidos acerca das metodologias de avaliação de dados no contexto do

Linked Data podem contribuir para essa etapa da Curadoria Digital, especialmente para

conteúdos produzidos em ambientes digitais colaborativos.

3 DIMENSÕES DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE DADOS NA

CURADORIA DIGITAL DA INFORMAÇÃO PRODUZIDA EM SITES

COLABORATIVOS

Ao passo que foram se desenvolvendo as discussões em torno do Linked Data e

sua necessidade de avançar em direção a uma Web Semântica, em que dados sejam

compartilhados, estruturados e interconectados, surgiram preocupações também em

relação à qualidade dos dados disponibilizados.

Qualidade dos dados foi definida por Richard Y. Wang (1998), um dos

principais pesquisadores do assunto, como fitness for use, ou seja, adequação para o uso

pelos sujeitos que buscam um produto informacional. Porém, de acordo com

Scannapieco e Missier (2005), para compreender melhor o conceito, pesquisadores têm

realizado estudos e estabelecido dimensões de qualidade dos dados. A importância da

qualidade dos dados tem sido reconhecida porque sua ausência pode acarretar

73
consequências diversas.

De acordo com Bobrowski, Marré e Yankelevich (1999), a falta de qualidade de

dados está por trás de problemas cotidianos, como atrasos em entregas pelos correios e

correspondências automáticas enviadas duplamente, além da demora ou mesmo a

impossibilidade de interconexão de dados governamentais ou de pesquisa em diferentes

bases de dados. Para os autores, muitas vezes a qualidade de dados é vista apenas como

referente à precisão (accuracy), ou seja, quando há erros de digitação ou de atribuição

de valores, como a data de nascimento ou idade de uma pessoa. Entretanto, há outras

questões envolvidas além da precisão, como a completude (completeness), a

consistência (consistency), e a atualidade (currency). Essas quatro são apenas algumas

das dimensões presentes na literatura. Elas variam de acordo com a metodologia e

domínio.

Outros estudos abordaram as principais dimensões da qualidade de dados, sendo

que muitas delas coincidem ou apresentam algumas similaridades, com nomes

ligeiramente diferentes. Wang (1998), por exemplo, considera que as dimensões de

qualidade de dados se dividem em quatro categorias:

Tabela 1- Categorias da qualidade de dados e dimensões


Categoria Dimensões
Intrínseca Precisão, Objetividade, Credibilidade, Reputação
Acessibilidade Acesso, Segurança
Contextual Relevância, Valor, Temporalidade, Completude, Quantidade de dados
Representaciona Interpretabilidade, Facilidade de compreensão, Representação concisa,
l Representação Consistente
Fonte: WANG, 1998, tradução nossa

No entanto, todos os estudos incluem problemas parecidos relacionados à

qualidade, como a completude e a precisão, que são duas das mais presentes nos estudos

sobre o tema.

74
A completude diz respeito a quanto um dado encontra-se completo em relação

ao esperado. Isso pode significar a presença de valores nulos, por exemplo, que seriam

informações presentes no mundo real, porém ausentes no conjunto de dados, o que

demanda o questionamento sobre o porquê dessa ausência. Caso seja constatado que a

informação não existe no mundo real, a presença de valores nulos não é considerada um

problema de qualidade (BOBROWSKI, MARRÉ e YANKELEVICH, 1999). No

entanto, cada universo deve estabelecer os requisitos de completude necessários para a

avaliação de qualidade de seus dados.

A completude, portanto, apesar das peculiaridades de cada definição e aplicação

a cada domínio, segundo Bobrowski, Marré e Yankelevich (1999, p. 117, tradução

nossa), refere-se a:

Todo fato do mundo real que é representado. É possível considerar dois


aspectos diferentes da completude: primeiro, certos valores podem não estar
representados em tal momento; segundo, certos atributos podem não ser
armazenados.

Num ambiente colaborativo em que usuários publicam informações nos

formatos de texto e imagem, por exemplo, podem-se avaliar o preenchimento de

metadados de descrição e autoria, como título, descrição, autor, data, etc., para avaliar o

nível de qualidade da publicação.

Outra dimensão presente em diversos estudos sobre a qualidade de dados é a

precisão. Diversos autores tratam da precisão de forma ligeiramente diferente. Wand e

Wang (1996) não definem a precisão, mas afirmam que a imprecisão ocorre quando um

sistema de informação não representa algo do mundo real da forma como deveria.

As dimensões de completude e precisão, portanto, podem constituir aspectos

relevantes para a avaliação dos dados no contexto do Linked Data, mas também na

Curadoria Digital de informações produzidas em ambientes Web colaborativos,

especialmente nas etapas de avaliação e reavaliação da informação.

75
Para a informação produzida no âmbito de projetos colaborativos em ambientes Web, a

inclusão de dimensões de avaliação da qualidade de dados seria de grande contribuição

para a sua Curadoria Digital. A verificação de metadados, por exemplo, essenciais para

que os dados sejam organizados, encontrados e autênticos, quanto à dimensão

completude em relação ao mundo real; a dimensão precisão, e seus mecanismos de

avaliação da adequação da linguagem nas publicações, também poderiam ser aplicados,

de forma a indicar as correções necessárias no intuito de melhorar a qualidade dos dados

inseridos e recuperados; entre outras dimensões de qualidade de dados que forneceriam

elementos para a avaliação da qualidade desses dados.

4 CONSIDERAÇÕES

No âmbito das discussões sobre as Tecnologias de Informação e Comunicação,

especialmente a Web, surgem cada vez mais estudos, em diversas áreas do

conhecimento, que visam encontrar soluções para problemas relacionados ao grande

volume de informação e dados produzidos em suportes digitais.

Na Ciência da Informação e áreas relacionadas, investiga-se como tornar a Web

mais semântica, de forma que agentes de software possam realizar, de forma

automática, processos sofisticados de recuperação e relacionamento de dados entre si.

Investigam-se também quais processos são necessários e quais abordagens são

adequadas para o gerenciamento da informação digital, por meio da abordagem de ciclo

de vida da Curadoria Digital, por exemplo.

Neste contexto encontram-se as discussões sobre a avaliação da qualidade de

dados, isto é, aspectos que os dados digitais devem ter para que realizem

adequadamente o que se espera deles, em seu domínio específico. A qualidade dos

76
dados é um atributo essencial para que os ideais da Web semântica se concretizem da

forma como idealizada por seu criador, Tim Berners-Lee.

Neste artigo, buscou-se elencar as relações que podem ser estabelecidas entre as

dimensões da qualidade dos dados e a Curadoria Digital para informações produzidas

em ambientes digitais colaborativos. Pôde-se concluir que os estudos sobre as

dimensões da qualidade de dados podem ser de grande contribuição para a etapa da

avaliação na Curadoria Digital das informações produzidas em ambientes digitais

colaborativos, especialmente as dimensões completude e precisão. A completude refere-

se à quantidade de informação que acompanha um conjunto de dados, sendo que a

presença de um grande volume de valores nulos indica menor qualidade. A precisão,

por sua vez, indica a avaliação de quanto um dado está representado corretamente e

livre de erros, de acordo com o padrão estabelecido no domínio a que se aplica.

Demonstrou-se, a título de exemplo, como as dimensões da completude e da

precisão podem ser aplicadas à fase de avaliação na Curadoria Digital das informações

produzidas em projetos no domínio da web. Neste caso, a completude dos dados poderia

ser avaliada por meio da verificação da quantidade de metadados de cada publicação

que se encontra preenchida. A precisão poderia ser aplicada para avaliar a adequação da

língua e da linguagem utilizada nas informações, a fim de fornecer respostas mais

adequadas às buscas realizadas no banco de dados do projeto.

Dessa forma, é desejável que profissionais e pesquisadores envolvidos em

processos de Curadoria Digital de conteúdos na Web se inspirem pelas discussões em

torno da Web semântica e da avaliação da qualidade de dados, a fim de enriquecer seus

processos de trabalho e contribuir ativamente para a publicação de dados de qualidade

na Web.

Não se esgotam aqui as discussões sobre as relações entre dimensões da

qualidade de dados e a Curadoria Digital no contexto da Web Semântica, mas abrem-se

77
caminhos para outras pesquisas, que envolvam as demais dimensões de avaliação da

qualidade de dados, possivelmente também em outras etapas da Curadoria Digital da

informação em diferentes domínios.

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79
80
81
9
DESIGN DA INFORMAÇÃO E CURADORIA
DIGITAL NO MUSEU DA PESSOA
Karen Kahn
Maria José Vicentini Jorente

Resumo: Contemporaneamente, tradicionais Instituições da Informação, como


arquivos, bibliotecas e museus, atuam em ambiências digitais que exigem novos
saberes, novas apresentações e novas representações padronizadas de dados
convergentes com linguagens computacionais que os traduzam para efetivas
interoperabilidades entre sistemas. No âmbito da Ciência da Informação, observa
recursos do Design da Informação na criação, no armazenamento, na preservação, no
acesso e compartilhamento da informação no processo de Curadoria Digital do Museu
da Pessoa. O objetivo do estudo foi descrever como o Design da Informação, definido
em e para sua Curadoria Digital colaborativa, estrutura e organiza a interface interativa
Conte sua História do portal do Museu. A metodologia descritiva parte de exploração
por observação participativa indireta em livros, dissertações, artigos acadêmicos e sites;
e observação participativa direta, etnografia virtual para imersão e verificação do
princípio de mutualidade sujeito-ambiente para emergências bottom-up de internautas.
Justifica-se por dar um passo em direção à compreensão técnico-científica sobre como o
Design da Informação prevê convergências de linguagens e interoperabilidades entre
sistemas. Observa que o acervo do Museu resulta de emergências participativas
facilitadas por simulacro top-down; e que memórias, patrimônio intangível da
humanidade, apresentam-se e representam-se pelo Design da Informação em camadas
visíveis e invisíveis do sistema digital. Considera a importância da formação de
profissionais híbridos da informação para constantes atualizações na Curadoria Digital
do Museu, objetivando o acesso e o compartilhamento da informação como garantia de
sua preservação a futuras gerações.

Palavras-chave: Design da Informação. Curadoria Digital. Web 2.0. Museu da Pessoa.


Informação e Tecnologia.

1 INTRODUÇÃO

No paradigma da pós-custodialidade, segundo Ribeiro (2010),

contemporaneamente, ambiências digitais de museus, bibliotecas e arquivos,

tradicionais Instituições da Informação, oportunizam a interatividade e a colaboração,

modelo que resulta em novos atores informacionais, institucionais e visitantes, a serem

82
capacitados aos desafios propiciados pela Web Social ou Web 2.0 (FUMERO, 2007).

Ainda que haja polêmica em torno do conceito Web 2.0, O’Reilly (2005) aponta

diferenças entre a Web 1.0 e a Web 2.0, esta última vertida em plataforma para serviços

que preveem, de modo top-down, emergências colaborativas bottom-up de agentes -

profissionais ou não - que nela adentram e interagem, como ocorre em blogs e sites

(JOHNSON, 2003).

O estudo observa a importância do Design da Informação (DI), uma subárea do

Design, para a criação, o registro, o armazenamento e a preservação da informação na

ambiência digital do Museu da Pessoa, um museu híbrido, tendo em vista seu acesso e

compartilhamento; ou seja, a importância do DI para convergências e

interoperabilidades de sistemas em sua Curadoria Digital (SAYÃO; SALES, 2012).

Segundo o Digital Curation Centre (DCC)2, Curadoria Digital é um processo voltado à

manutenção e à preservação de dados digitais durante o seu ciclo de vida, objetivando

maior acesso, por um longo prazo.

Compreendendo-se o DI como a arte e a ciência de preparar informação a ser

utilizada por pessoas de modo eficaz, tendo em vista uma comunicação eficiente por

meio de palavras e imagens, entre outros meios convencionais ou digitais (JACOBSON,

1999), verifica-se o seu papel organizacional na Curadoria Digital do Museu da Pessoa.

Nota-se que, além de organizar e estruturar a apresentação visual, ele atua também em

camadas menos aparentes do sistema: a do nível estratégico da representação da

informação.

No âmbito da Ciência da Informação (CI), verifica-se que os fazeres pós-

custodiais em ambiência digital exigem dos novos agentes informacionais que atuem

como blended librarian e possuam conhecimentos híbridos. Conforme Oliveira e

Jorente (2015), entre tais saberes estão os recursos do Design da Informação, tanto para

2
Link para Digital Curation Centre. Disponível em: <http://www.dcc.ac.uk/digital-curation/what-digital-
curation>. Acesso em: 20 mar. 2018.
83
a organização da apresentação da informação em interfaces do sistema quanto para a

organização da representação da informação por meio de metadados padronizados e

convergentes - visando à interoperabilidade entre sistemas.

Padrón e Jorente (2017) observam que objetivo da representação da informação

seria o desenvolvimento de um sistema informacional arquivístico capaz de ser adotado

em diversos formatos e suportes para a integração de dados de diferentes Instituições de

Informação, objetivando “[...] o acesso simultâneo a partir de múltiplas perspectivas

(tempo, espaço, matéria e procedência), bem como permitir a reutilização de dados da

Web” (PADRÓN; JORENTE, 2017, p. 109, tradução da autora).

Verifica-se que a desejável integração de dados pressupõe uma Curadoria

Digital, para a valorização das informações, idealmente armazenadas em repositórios

digitais confiáveis para o acesso e compartilhamento; e para a minimização de risco de

obsolescência digital. Tais ações, concebidas e desenvolvidas em equipe

multidisciplinar, necessitam do DI desde a criação de objetos digitais até seu

armazenamento e preservação.

Na Figura 1, observa-se o modelo de Curadoria Digital de Higgins (2008)

adotado pelo DCC. Trata-se de um gráfico que indica as etapas das boas práticas de

gestão da informação em ambiência digital, a saber: conceitualização, criação e/ou

recebimento, avaliação e seleção, ações de preservação, armazenamento, acesso, uso e

reuso3 e transformação.

3
Observa-se que, no paradigma da pós-custodialidade (RIBEIRO, 2010), reflete-se sobre conceitos tais
como usuário, uso e reuso no que concerne à informação. Verifica-se que, em ambiências digitais, o
termo internauta tem sido uma alternativa ao termo usuário; e, compartilhamento, uma alternativa a uso e
reuso da informação.
84
Figura 1 - DCC Curation Lifecycle Model

Fonte: Digital Curation Centre, 2008.

Verifica-se, no modelo apresentado na Figura 1, um diálogo transdisciplinar

entre a Curadoria Digital, a CI, a Museologia, a Arquivologia, a Biblioteconomia

(ARAÚJO, 2014); e o Design e suas subáreas, como o DI.  

Segundo Garrett (2003), as interações entre subáreas do Design na concepção de

ambiências digitais desenvolvem-se do nível mais abstrato ao mais concreto. Neste

sentido, conforme o autor, o Design Visual (nível concreto) apresenta o Design de

Interação concebido a partir de necessidades do internauta; dos objetivos do site; das

especificações funcionais e dos conteúdos informacionais (nível abstrato).

Destaca-se o DI top-down e bottom-up para Curadoria Digital colaborativa da

Apache Shiro 1.0, plataforma Open Source que suporta o Museu da Pessoa, processo

desenvolvido por agentes customizadores da informação institucionais ou visitantes,

ambos praticantes do DI (HORN, 1999). Nota-se que tal DI facilita o acesso e o

compartilhamento de informações como modo de preservação de seu acervo de histórias

de vida ao ressignificar sentidos estritos (ARAÚJO, 2014) e convergir linguagens e

85
padrões.

O estudo descreve como histórias de vida, patrimônio cultural entendido como o

fato museal (RÚSSIO, 2010) intangível do Museu da Pessoa, verte-se em objetos

digitais tangíveis em Curadoria Digital planejada por equipe multidisciplinar

(BICALHO; OLIVEIRA, 2011), a partir do Design de Convergências (JORENTE,

2014).

2 CONTE SUA HISTÓRIA NO MUSEU DA PESSOA

No âmbito da CI, a pesquisa verifica como pessoas comuns podem, na

ambiência digital do Museu da Pessoa, musearlizarem-se e serem curadores de

memórias vertidas, sistematicamente, em dados e metadados tangíveis.

A pesquisa delineia-se como descritiva a partir de observação participativa

indireta em sites, artigos acadêmicos, livros e dissertações; e observação participativa

direta ou etnografia digital (HINE, 2000), aporte metodológico imersivo, adaptável a

culturas digitais, para interação em ambiência digital como resposta ao DI para a

inserção de conteúdos informacionais pessoais em resposta às affordances previstas no

sistema. Meta pesquisa na dissertação de Henriques (2004) - Memória, museologia e

virtualidade: um estudo sobre o Museu da Pessoa; e na dissertação de Herzog (2014) -

Sistema para indexação e visualização de depoimentos de história oral – O caso do

Museu da Pessoa; bem como observação no Manual da Base de Dados do Museu da

Pessoa (MUSEU DA PESSOA, 2017) complementaram as informações observadas no

portal do Museu.

Partindo-se de navegação na homepage, porta de entrada para a observação

participativa direta por imersão na interface Conte sua História (CSH), verificam-se

86
estratégias ou recursos de DI para emergências online de novos acervos, frutos da

interação entre sujeitos e ambiente digital.

Para Jorente (2017), da propriedade emergência – affordance deriva o princípio

da mutualidade sujeito-ambiente (JORENTE, 2017, p. 186). Nesta direção, segundo a

autora, ambiências digitais propiciam, aos internautas, o desenvolvimento de hábitos

que podem moldar e serem moldados no e pelo simulacro que entrelaça homem e

mundo.

O estudo se justifica por buscar o entendimento acadêmico do Museu híbrido em

sua ambiência digital e a compreensão técnico-científica sobre a importância do DI para

a interoperabilidade entre sistemas dinâmicos. A verificação do processo de Curadoria

Digital do Museu da Pessoa poderá, ainda, ser modelar para Instituições de Informação

que busquem a socialização da informação.

2.1 Uma história pode mudar seu jeito de ver o mundo

Verifica-se no portal do Museu da Pessoa que a instituição se apoia, política e

eticamente, na crença de que todo ser humano, anônimo ou célebre, tem o direito de

eternizar e integrar sua história à memória social. Para Thompson (2005), editor-

fundador de Oral History; fundador da National Life Story Collection na British

Library e membro do Conselho Consultivo do Museu da Pessoa.

A história oral é considerada atualmente parte essencial de nosso patrimônio


cultural. Essa é uma situação muito nova e, olhando para o futuro, acho que
há possibilidades imensas, por exemplo, para criar novas conexões entre as
pessoas em mundos sociais e geográficos diferentes; através do oral, criando
novas solidariedades e novos entendimentos (THOMPSON, 2005, p. 19).

A partir da homepage do portal do Museu da Pessoa, adentra-se, por meio de

hiperlink Conte sua História, a página em que a seção é apresentada. Observa-se um

texto motivacional para que internautas postem textos, imagens e vídeos com suas
87
histórias de vida a serem musealizadas e compartilhadas.  

Acoplados ao sistema, e de modo aperceptivo, os visitantes imersos, ao criarem

e indexarem suas histórias, geram metadados, informações estas que poderão ser

recuperadas, acessadas e idealmente preservadas a longo prazo pela Curadoria Digital

do sistema. Neste sentido, verifica-se que o Museu favorece a atualização de identidades

descentradas no processo de entrelaçamento de homens e máquinas, ultrapassando

fronteiras étnicas, raciais, religiosas e nacionais, entre outras (HALL, 2006).

Na interface CSH, destaca-se a necessidade de cadastro e log-in no portal como

condição para adentrar o sistema para interações na Web 2.0. Observa-se que uma

história ou objeto digital pode ser composta por textos, imagens e vídeos; bastando, para

o uso deste último, um upload no site <www.youtube.com>. Esta é uma operação em

que se verifica como o DI previsto em e para Curadoria Digital do sistema verte

informação intangível em tangível.

Na Figura 2, observa-se a página CSH e as orientações para a participação de

internautas visitantes do Museu da Pessoa.

Figura 2 – Captura de tela da seção Conte sua História

Fonte: MUSEU DA PESSOA, 2018.


88
Depois do texto introdutório, observam-se noções sobre o gênero textual em

Como contar uma história; e destaque para a importância da etiquetagem das histórias

com palavras-chave. Nota-se que a utilização de etiquetas é modo de indexação por

folksonomia para inserção dos objetos ou arquivos digitais na base de dados do sistema,

interface invisível ao visitante, mas com informações traduzidas e apresentadas pelo

Design Visual no portal (QUINTARELLI, 2005). Como a indexação de histórias de

vida pode ser realizada tanto no portal em CSH (front-end) quanto institucionalmente na

base de dados (back-end)4, verifica-se uma Curadoria Digital compartilhada ou

colaborativa.

Uma vez realizado o cadastro e o log-in, adentra-se a Área Pessoal e observa-se

a primeira de cinco etapas do processo apresentado na interface para efetivas criações e

publicações de acervo no Museu.

Verifica-se que a página em que se encontra a primeira etapa do processo, além

de novamente oferecer as instruções de Como contar uma história, informa que a

história poderá ser, ainda, sobre a vida de um terceiro. Por motivos legais, antes da

finalização do registro, solicita-se um atestado (um click) de que o visitante é maior de

idade.

Abaixo, a Figura 3 apresenta os campos definidos para o registro de histórias no

portal que convergirá na base de dados da plataforma: Título, História, Sinopse,

Imagem de capa e Tags. Ao término, observa-se o hiperlink Prosseguir.

4
Observa-se que, em sistemas de gerenciamento de conteúdo (CMS), os termos front-end e back-end
referem-se às interfaces visualizadas por internautas visitantes no portal do ambiente digital (frente) e por
internautas administrativos na base de dados do ambiente digital (fundo), respectivamente. Para mais
informações: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Front-end_e_back-end>. Acesso em: 20 mar. 2018.
89
Figura 3 - Captura de tela da seção de cadastro de história no Museu da Pessoa

Fonte: MUSEU DA PESSOA, 2018.

Na segunda etapa do processo, o autor da história poderá relacioná-la a vídeos e

imagens, sendo que o vídeo deverá, primeiramente, ser postado no YouTube. Observa-se

que, posteriormente, apenas a URL gerada naquela plataforma será indexada na base de

dados do Museu, uma vez que os sistemas interoperam. Verifica-se que o vídeo

completo será assistido apenas no canal do Museu da Pessoa no YouTube; não em seu

portal.

Uma vez anexados os conteúdos referentes aos campos História, Vídeo e

Imagem, a terceira etapa destina-se à obtenção de informações pessoais do autor para

complementação de metadados.

Verifica-se que a quarta etapa de CSH destina-se a um preview da história a ser

publicada. Para correções, observa-se o botão Editar; e para finalizar, o botão

Prosseguir. Destaca-se que o processo não avança para a quinta e última etapa sem o

consentimento do internauta sobre a Cessão de Direitos.

Destaca-se que na quinta e última etapa, após cessão de direitos, recebe-se a

confirmação de que a história já é parte do acervo do Museu da Pessoa, quando o

90
sistema questiona: o que você deseja fazer agora? Publicar a História ou não publicar

ainda? Observa-se que, ainda que não se publique, a história permanece gravada no

sistema. Para a posterior publicação da história em questão, deve-se novamente adentrar

a Área Pessoal e alterar o seu status.

Ao final do processo, publicada ou não, observa-se o registro da história

cadastrada na Área Pessoal do internauta. Nesta área, histórias e coleções podem ser

editadas ou excluídas pelo internauta, em processo de Curadoria Digital compartilhada.

Deste modo, a experiência oferecida pelo Museu, por meio do DI de sua Curadoria

Digital, é uma oportunidade, aos sujeitos que em sua ambiência digital adentram, para a

expressão de posicionamentos pessoais, conforme o desígnio institucional do Museu.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se que, ainda que a Curadoria Digital seja um conceito em evolução,

define-se o processo como um modo ativo de gestão e preservação de objetos digitais

para melhor atender as necessidades informacionais contemporâneas e também de

gerações futuras. Tais processos desenvolvem-se no Museu da Pessoa para o

arquivamento, o acesso, o compartilhamento e a preservação de informações.  

A plataforma Apache Shiro 1.0 que suporta o Museu, flexível para cadastro,

etiquetagem e relacionamento de acervo é customizável e se adapta às necessidades de

atores institucionais e do visitante internauta em diferentes níveis hierárquicos.

Observa-se um DI hierárquico para o controle das inserções de diversos conteúdos

informacionais na base de dados do sistema: administradores, pesquisadores, museólogo

e internautas, entre outros.

Neste sentido, observa-se que, por meio do DI previsto em e para sua Curadoria

Digital, internautas visitantes do Museu passaram a ter a oportunidade de,

91
interativamente, atuarem como criadores e colecionadores de memórias próprias e,

ainda, como curadores de coleções de histórias de vida do acervo maior do Museu.

Assim, entende-se o Museu da Pessoa como modelo da custódia ampliada, uma mescla

entre museu, biblioteca e arquivo, subáreas da CI que, contemporaneamente, deixam de

ser apenas ambientes físicos destinados à seleção, à salvaguarda, à organização, à

classificação e à catalogação de documentos.

No quadro descrito, compreende-se que, no ambiente digital do Museu da

Pessoa, a preservação de dados se realiza em Curadoria Digital para acesso e

compartilhamento de informações entre internautas.  Considera-se o DI como recurso

mediador que oportuniza a colaboração de pessoas que no Museu adentram em busca de

troca de informação e conhecimento.

Observa-se possíveis atualizações na Curadoria Digital do sistema memorial

para que o acesso e o compartilhamento da informação possam garantir sua preservação

a longo prazo, a serem investigadas em trabalhos futuros nos âmbitos do DI, da

Curadoria Digital e da CI. Por exemplo, um plano institucional que contemple parcerias

com outras Instituições de Informação, visando o desenvolvimento de suas ações em

plataformas livres e interoperantes para que seu acervo seja acessado e compartilhado

amplamente, poderá ser delineado.

Nesta direção, entende-se, ainda, que o diálogo entre o Museu da Pessoa e

ambientes acadêmicos que desenvolvam pesquisas nas áreas de CI, DI e Curadoria

Digital possa resultar na capacitação de agentes informacionais técnico-administrativos

para auto suficiência e troca de conhecimentos entre ambos.

REFERÊNCIAS

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95
10
PLATAFORMAS WEB DE TEMÁTICA
AFRO: A APLICAÇÃO DO DESIGN DA
INFORMAÇÃO E WEB 2.0 NO RESGATE E
COMPARTILHAMENTO DE INFORMAÇÃO
E MEMÓRIA
Nandia Leticia Freitas Rodrigues
Maria José Vicentini Jorente

Resumo: A memória é um elemento fundamental para a formação da identidade dos


grupos sociais, no entanto, observa-se que, historicamente, a memória de eventos
envolvendo o protagonismo da população negra na construção da sociedade brasileira
vem sendo silenciada. Acredita-se que a Internet e a Web têm se constituído como
importantes ferramentas de auxílio no processo de transformação dessa realidade. Nesse
sentido, a presente pesquisa objetiva analisar e compreender como o ambiente Web
pode contribuir para o resgate, compartilhamento, e preservação da história e memória
afro-brasileira, e assim propor a criação de uma plataforma Web de temática afro
convergente, colaborativa e nacional, privilegiando o acesso na Curadoria Digital
formal e de conteúdos. A problemática de pesquisa se constrói a partir das seguintes
indagações: como o ambiente Web pode contribuir para o não apagamento da história e
memória do povo negro? E quais os requisitos ideais e desejáveis de ambiência virtual
de uma plataforma Web de temática afro para que  atue com eficiência e eficácia no
processo de disseminação de informação? A metodologia aplicada concentra-se na
execução de estudo teórico exploratório da literatura do tema proposto e na análise das
propriedades que o Design da Informação pode potencializar para a curadoria dos
conteúdos informacionais contidos em alguns ambientes Web que abordam o tema da
afro-brasilidade. Por se tratar de um estudo ainda em desenvolvimento, tem-se, como
resultados, breve construção de conhecimento teórico acerca do tema.

Palavras-chave: Design da Informação. Informação e Tecnologia. Web Colaborativa.


Plataforma Web. Cultura Afro.

1 INTRODUÇÃO

As memórias são indícios do passado, guiados no presente. São fragmentos

representativos importantes sobre a ocorrência de um determinado acontecimento,

geralmente glorificando ou demonizando parte de eventos do passado que se quer

96
lembrar, e escondendo elementos do passado que não são tão interessantes à narrativa

que se deseja defender.

Historicamente, as memórias que evidenciam o protagonismo da população

negra na construção da sociedade brasileira vêm sendo silenciadas, deturpadas e até

mesmo negadas. A ausência de referências positivas da história do povo negro e afro-

brasileiro nos livros didáticos de História do Brasil, nas revistas, na televisão, na Web e

em demais mídias e espaços comunicacionais, contribui para um significativo processo

de apagamento da história e da memória desse povo.

Acredita-se que, na contemporaneidade, com os avanços tecnológicos

científicos, e o desenvolvimento constante das Tecnologias de Informação e

Comunicação (TIC), as plataformas Web têm se constituído como importantes

mecanismos de produção e compartilhamento de conteúdos informacionais no ambiente

digital, atuando de forma significativa nos processos comunicacionais dos indivíduos

em sociedade, dando voz às chamadas minorias e modificando certas realidades,

especialmente no que tange à população negra e afrodescendente no Brasil.

No intuito de compreender e melhor atender às demandas e necessidades

informacionais da população negra e afro-brasileira no ambiente Web, o problema dessa

pesquisa engloba questões referentes ao Design da Informação e o papel da Web 2.0 no

resgate e compartilhamento da história e memória dessa população.

Assim, tendo em vista o significativo papel comunicacional e empoderador das

plataformas Web nos dias atuais e a necessidade de se construir uma contra narrativa à

negação histórica do protagonismo e das contribuições do povo negro na história do

Brasil, a problemática de pesquisa se constrói a partir das seguintes indagações: como o

ambiente Web pode contribuir para o não apagamento da história e memória do povo

negro? E quais os requisitos ideais e desejáveis de ambiência virtual de uma plataforma

Web de temática afro para que atue com eficiência e eficácia no processo de

97
disseminação de informação?

Nos dias atuais, o ambiente Web tem se tornado um terreno fértil para a

produção de conhecimento, cultura, e amplos debates sobre diversos temas. Devido à

grande potencialidade desse ambiente, vê-se como alternativa pontual – ainda que de

forma paliativa - sanar a trágica carência de registros informacionais referentes às várias

experiências do povo negro na história do Brasil. A adoção da Web como mecanismo de

suporte para a ampla disseminação e apropriação de discursos e estudos históricos livres

de estereótipos é uma ação necessária e de extrema importância para o resgate,

preservação e reescritura da história dos negros e afro-brasileiros no país.

Sabe-se que os registros referentes à história e memória dos negros e

afrodescendentes - principalmente no que tange ao período escravista e pós-escravista

no Brasil - que se tem conhecimentos atualmente foram criados e repassados

majoritariamente a partir da oralidade, enquanto as informações registradas no período

colonial e até pouco tempo atrás eram escritas sobre, por, e para o colonizador. Além

disso, a história oral é deveras vulnerável ao tempo e espaço, podendo se deturpada,

apagada e até mesmo esquecida. Isso explica, em parte, a quantidade irrisória de

referências históricas positivas difundidas na sociedade sobre o povo negro e

afrodescendente no Brasil. Por conseguinte, transformar em informação registrada as

narrativas orais é fundamental para a ressignificação e preservação da história e

memória.

A presente pesquisa, embasada pela Ciência da Informação e disciplinas

correlatas, propõe a criação de uma plataforma Web especifica de temática afro,

convergente, colaborativa e nacional, que contemple e reúna, em um único ambiente,

informações diversas, tais como produções científicas, artísticas, literárias e

cinematográficas, eventos culturais, mapeamento de iniciativas e coletivos negros

espalhados pelo Brasil, privilegiando o acesso na curadoria digital formal e de

98
conteúdos. A ideia central é que se crie um espaço no meio digital em que as pessoas,

grupos e coletivos negros de todo o Brasil possam se encontrar, armazenar e

disponibilizar o acesso às suas produções. Um espaço de resistência negra em meio

digital onde a história possa ser contada, recontada e disseminada sob a ótica dos

próprios negros e não sob o olhar do colonizador.

2 A CULTURA: MULTICULTURALIDADE E CONVIVÊNCIA ENTRE OS

DIFERENTES

Conforme expresso nos registros históricos, acredita-se que, desde o surgimento

das mais remotas civilizações, a cultura se constitui como um mecanismo de

interligação entre os indivíduos e seus grupos e comunidades. No entanto, segundo

Daniel Bell (1993), dependendo de suas especificidades e do momento histórico, a

cultura pode se configurar tanto como um mecanismo integrador quanto separador. Na

contemporaneidade, a afirmação de Bell fica ainda mais evidente no tocante à

complexidade das questões e do dilema da multiculturalidade e convivência entre os

povos.

A cultura, dentre as muitas definições possíveis e existentes na antropologia, de

maneira geral, segundo o antropólogo Roque de Barros Laraia (1988), pode ser

entendida como uma rede de ações cotidianas, composta por hábitos, costumes, valores,

crenças, linguagens, morais, leis e normas que regulam as ações humanas e determinam

a forma como o ser humano percebe e compreende o mundo ao seu redor. Ainda

segundo Laraia (1988, p. 8), “a cultura influencia o comportamento social e diversifica

enormemente a humanidade, apesar da sua comprovada unidade biológica”.

O conceito de cultura é um conceito muito amplo e vem se desenvolvendo e

passando por consideráveis ressignificações ao longo do tempo. Segundo Abraham

99
Moles, em sua abra clássica intitulada Sociodinâmica da Cultura (1974, p. 19), a cultura

é um “tecido fibroso composto por fragmentos de conhecimentos desordenados ligados

por relação de proximidade, de época de aquisição, de assonância, de associação de

ideias”. A partir de uma análise sóciodinâmica referente às transformações ocorridas na

cultura e na comunicação, Moles (1974) redefine o conceito de cultura como cultura

mosaico, enfatizando a ideia de uma cultura construída a partir da junção e inter-relação

dos diversos saberes da coletividade, resultado da vivência cotidiana, comunicação e o

compartilhamento desses saberes por intermédio de uma diversidade de meios e

suportes.

Ainda nessa perspectiva, segundo Jorente (2012), o conceito de cultura mosaico

cunhado por Abraham Moles diz respeito a uma complexa junção de fragmentos de

fluxos de informação e conhecimentos, criados e transmitidos pelos indivíduos

cotidianamente, em sociedade, por múltiplas vias comunicacionais. Assim, a totalidade

da junção dos diversos fragmentos de informações e conhecimentos produzidos ao

longo do tempo, fruto das experiências individuais e coletivas dos cidadãos em

sociedade, é o que produz e constitui as variações culturais de um povo. A sociedade é

composta por uma diversidade infinita de povos e culturas que se inter-relacionam

cotidianamente nos meios em que vivem, compondo, dessa maneira, o fenômeno social

do multiculturalismo. Trata-se, para Gonçalves e Silva (2003), do jogo das diferenças.

Por outro lado, segundo Macagno (2014), o fluxo exacerbado de diversas

culturas coexistindo em um determinado espaço – para além da ideia positiva do

multiculturalismo em se celebrar a diversidade e os particularismos culturais - pode

gerar problemas sociais graves, principalmente relacionados à xenofobia, racismo,

exclusão, ideia de soberania de uma cultura sobre outra, dilemas identitários, entre

outros. Nesse sentido, no tocante ao dilema multicultural, é oportuno repensarmos o

questionamento feito por Alain Touraine (1999): podemos viver juntos?

100
O multiculturalismo não é apenas uma ideia vaga de que a convivência
pacifica entre distintos modos de vida num determinado estado/nação é um
objetivo, em si, positivo, mas uma política governamental distintiva, através
da qual diferenças culturais muitas vezes reificadas são celebradas através de
políticas de representação e distribuição de recursos materiais e simbólicos
(MACAGNO, 2014, p. 15).

A mistura das identidades plurais e o respeito às diferenças é o que atribui à

cultura de um povo, cidade ou nação, o seu caráter singular. Nesse sentido, salientamos

que não há hierarquias entre as culturas, isto é, em linhas gerais, nenhuma cultura é

superior ou inferior à outra, cada uma possui sua historicidade, singularidade, e suas

características específicas. Assim, compreender e respeitar a diversidade e a

complexidade cultural que compõem a sociedade é fundamental para minimizar e/ou até

mesmo solucionar os conflitos cotidianos e otimizar a vivência e a integração do

indivíduo em meio social.

O Brasil é um país multicultural, construído a partir da junção de vários povos,

advindos das mais variadas localidades do mundo, sobretudo, imigrantes oriundos de

Portugal, Itália, Japão, China e de vários países do Continente Africano, entre outros.

Somados aos povos originários, que essa terra já habitavam antes da colonização

portuguesa, o Brasil, hoje é característico por sua multiculturalidade.

No entanto, o caráter plural da sociedade brasileira, corriqueiramente tão

aclamado na historiografia do país, é resultado de processos questionáveis, violentos e

que, por vezes, violaram os princípios de direitos humanos. A exemplo disso, citemos o

tráfico negreiro, um dos episódios mais sórdidos e obscuros da história do Brasil,

ocorrido entre os séculos XVI e XIX, em que, segundo informações disponibilizadas no

site Slave Voyages5, estima-se que aproximadamente 6 milhões de mulheres e homens

negros, nativos das mais diferentes regiões do Continente Africano, foram retirados

forçosamente de suas terras e trazidos de forma arbitrária para serem submetidos à

5
Slave Voyages (viagens escravas). O Banco de Dados do Tráfico Transatlântico de Escravos reúne
informações sobre quase 36.000 viagens negreiras. Disponível em:
<http://slavevoyages.org/assessment/estimates>. Acesso em: 10 mar. 2018
101
condição da escravidão em terras brasileiras. Em decorrência da diáspora, sobrevivendo

em solo brasileiro, devido à grande diversidade de culturas desses povos -

principalmente pelo fato de serem originários de diversos países da África, dotados de

linguagens, costumes e valores múltiplos – os negros africanos contribuíram

consideravelmente para a construção da pluralidade cultural do Brasil. Suas

contribuições são facilmente notadas na música, dança, culinária, literatura, dentre

outros.

Nesse sentido, realizar uma revisão crítica do quadro histórico em que se deu o

desenvolvimento do multiculturalismo no Brasil é fundamental para compreendermos a

história do país, e, principalmente, para entender a ocorrência de alguns fenômenos

sociais pontuais da contemporaneidade.

O aumento desordenado dos fluxos migratórios dos mais diferentes povos para o

Brasil desencadeou na construção de um cenário multicultural no país. Tal fenômeno,

segundo apontam alguns autores como Macagno (2014), Adesky (2005) e Gonçalves e

Silva (2003), por vezes fragmentou, massacrou e até mesmo apagou algumas

identidades culturais – majoritariamente as culturas de matrizes africanas e originárias –

e, em contrapartida, supervalorizou outras – as culturas eurocêntricas. Segundo

Gonçalves e Silva (2003), as relações entre as culturas no Brasil, de maneira geral, ao

longo do tempo, vêm sendo marcadas por significativos conflitos, sobretudo motivados

pelo signo da dominação hegemônica e da intolerância de algumas culturas pelas outras.

Trata-se da inegável imposição histórica do universalismo europeu sobre as demais

culturas no Brasil.

De maneira convergente, há um desconhecimento significativo por grande parcela dos

cidadãos brasileiros sobre a construção da própria história do país. O não entendimento

de certos fatos históricos imbrica em possíveis julgamentos errôneos, deturpações da

história e memória, e até mesmo no esquecimento de alguns fatos históricos. No

102
entanto, na contemporaneidade, com o desenvolvimento e aprimoramento das TIC e,

sobretudo, a alta adesão da Internet e dos ambientes Web 2.0 pelos cidadãos, observa-se

que essa realidade passa por mudanças, ainda que sutis, em direção à desmistificação de

algumas verdades e a construção de conhecimento crítico e coletivo.

3 A WEB NO ESTREITAMENTO DAS RELAÇOES CULTURAIS E SOCIAS

O acesso aos meios digitais, principalmente à Internet e às mídias sociais nas

últimas duas décadas, tem se mostrado crescente, e tem impactado de forma direta e/ou

indiretamente as relações culturais e sociais entre indivíduos, inclusive na forma com

que se comunicam e compreendem o mundo a sua volta. A Galáxia Internet se

apresenta como um mecanismo de comunicação indispensável, que envolve grande

parte das ações cotidianas dos indivíduos sociais, atuando principalmente na

distribuição da informação e dos saberes contemporâneos na rede (CASTELLS, 2003).

[...] a nova mídia eletrônica não apenas possibilita a expansão das relações
sociais pelo tempo e espaço, como também aprofunda a interconexão global,
anulando a distância entre as pessoas e os lugares, lançando-as em um
contato intenso e imediato entre si, em um "presente" perpétuo, onde o que
ocorre em um lugar pode estar ocorrendo em qualquer parte [...] Isto não
significa que as pessoas não tenham mais uma vida local - que não mais
estejam situadas contextualmente no tempo e espaço. Significa apenas que a
vida local é inerentemente deslocada - que o local não tem mais uma
identidade "objetiva" fora de sua relação com o global (du Gay, 1994).

Na contemporaneidade, observa-se o surgimento e a utilização crescente das

plataformas Web como um novo local de fala dos indivíduos, principalmente pelas

chamadas minorias, no intuito de sensibilizar a sociedade e criar contra narrativas

plurais, visando resgatar a sua história, pois foram silenciados pela história oficial. No

tocante às comunidades negras no Brasil, as plataformas Web 2.0 se constituem como

ambientes fecundos, entre outras possibilidades, para a construção do conhecimento,

cultura, empoderamento e reconhecimento.

103
Entretanto, salientamos que a produção e disponibilização de informação massiva e

desordenada no ambiente Web pode ser, e muitas vezes é, ineficiente, e até mesmo

prejudicial ao internauta. Nesse sentido, de maneira estratégica, para que se gere

conhecimento e empoderamento a posteriori, muito além da necessidade da existência

de ambientes Web compostos por emaranhados de fluxos informacionais e disponíveis

ao acesso, é de estrema importância que estes ambientes possuam Design da Informação

funcional, interativo e agradável.

3.1 O Design da Informação e a Web 2.0

Segundo Jorente, Nakano e Pádua (2015), o Design da Informação tem na

contemporaneidade desempenhado um importante papel no que tange ao planejamento e

desenvolvimento de projetos e ações relacionados à disponibilização e

compartilhamento de conteúdos informacionais em plataformas digitais na Web 2.0,

visando que, por meio de uma série de elementos e mecanismos, a informação

complexa torne-se mais facilmente acessada e assimilada pelas pessoas que a procuram

nesses ambientes. As autoras enfatizam, ainda, que o Design não trata somente do

desenho - representação estética - destes ambientes, mas que sua aplicabilidade está

diretamente relacionada à funcionalidade e à interação entre o ser humano e a máquina,

isto é, às tarefas.

O surgimento do Design da Informação, segundo Quintão e Triska (2013), está

atrelado a dois grandes marcos da década de 1930: o primeiro é o desenvolvimento do

mapa das linhas de metrô de Londres, criado por Harry C. Beck, e o outro é o trabalho

desenvolvido por Otto Neurath, que introduziu o método Isotype.

Segundo Quintão e Triska (2013), desde o seu surgimento o conceito de Design

vem passando por muitas transformações e ressignificações, sobretudo a partir do século

104
XX, impulsionado pelos acentuados avanços tecnológicos e científicos. Para os autores,

“nos dias atuais, o design envolve a produção não só de objetos materiais, mas também

de interfaces gráfico-digitais, com as quais o usuário interage no ciberespaço”

(QUINTÃO E TRISKA, 2013, p. 105).

Para Bonsiepe (1997), o papel do Design da Informação está diretamente

voltado a estruturar e orientar a interação do internauta com as interfaces gráficas do

artefato e do sistema. Segundo o autor, o Design da Informação refere-se à interação

entre os elementos gráficos e aos aspectos cognitivos do usuário, enfatizando, assim,

que, o primeiro não se restringe somente à arquitetura e engenharia de usabilidade do

sistema. Trata-se da experiência do usuário no contato com as representações visuais.

Nesse sentido, segundo Frascara (2004), com o aumento massivo da produção de

informação, a complexidade dos fluxos informacionais e o uso da Internet e dos

ambientes digitais, a atuação dos designers tem se mostrado ainda mais crescente nos

últimos anos, uma vez que sanar as necessidades informacionais do indivíduo de forma

simples, rápida, dinâmica e eficiente faz-se prioritário.

Assim, com a avalanche de dados diários sendo produzidos e disponibilizado na

Web, pensar uma Curadoria Digital atrelada ao Design da Informação é fundamental

para o sucesso dos processos de produção, compartilhamento e acesso aos conteúdos

informacionais. Salientamos aqui que a potencial experiência do usuário é a peça

fundamental a se considerar na elaboração desses processos.

4 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS

Com base no grande objetivo desse trabalho, que é compreender e melhor

atender às demandas e necessidades informacionais da população negra e afro-brasileira

no ambiente Web, e visando futuramente a construção de uma plataforma Web

105
específica de temática afro, e considerando que este trata-se de um estudo ainda em

andamento, a partir dos estudos dos textos da literatura da área disponíveis e nos

resultados parciais levantados até o presente momento, tem-se uma breve construção de

conteúdo teórico acerca da temática de pesquisa.

Nesse sentido, pode-se concluir que, embora observe-se que há na literatura da

área considerável número de pesquisas sendo desenvolvidas em torno da temática do

Design da Informação e ambientes Web, pouco se tem produzido no que tange à

problemática da interligação entre o Design e a Curadoria de Informação de ambientes

Web voltados à temática afro.  Ainda há muito que ser estudado e debatido.

Destaca-se, a partir do exposto, que o crescente desenvolvimento das

Tecnologias de Informação e Comunicação na contemporaneidade, atrelada ao

surgimento constante das novas necessidades informacionais dos internautas no

ambiente Web, e as possíveis linhas de trabalhos e soluções propiciadas, por meio da

aplicação do Design e da Curadoria de Informação, aos problemas informacionais

encontrados nestes ambientes, motivam o surgimento de novos estudos a fim de propor

soluções plausíveis aos problemas apresentados.

Por fim, sugere-se a realização de estudos mais aprofundados acerca da

temática, a fim de contribuir com a ampliação dos debates em torno das questões aqui

levantadas.

REFERÊNCIAS

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TOURAINE, A. Podemos vivir juntos? Iguales y diferentes. Mexico e Buenos Aires:


fondo de Cultura Económica.

107
11
A FOLKSONOMIA NA CURADORIA
DIGITAL: PERCEPÇÕES DE NOVAS
APLICAÇÕES A PARTIR DA EXPERIÊNCIA
DA BRITISH LIBRARY NA PLATAFORMA
FLICKR
Gabriela de Oliveira Souza
Maria José Vicentini Jorente

Resumo: O presente artigo questiona quais as relações entre Curadoria Digital e


Folksonomia, e como ela pode melhorar os sistemas de recuperação da informação,
baseando-se em como ela ocorre na plataforma Flickr. O objetivo deste trabalho é
apresentar a Folksonomia como um recurso da Curadoria Digital, uma vez que ela
apresenta uma nova possiblidade de tratamento e recuperação de dados na Web, além de
representar uma forma de participação ativa dos indivíduos nos processos de
classificação e indexação. Este artigo também busca demonstrar o funcionamento da
Folksonomia por meio da plataforma Flickr, apresentando como resultados parciais a
facilidade na recuperação de objetos informacionais, além de discutir a possibilidade de
aplicação da Folksonomia em sistemas de bibliotecas. A metodologia utilizada é teórica
exploratória, com base na revisão de literatura sobre Curadoria Digital e Folksonomia e
na análise da plataforma Flickr.

Palavras-chave: Curadoria Digital. Folksonomia. Flickr. Recuperação da Informação.

1 INTRODUÇÃO

Com o surgimento da Internet, houve um aumento exponencial da quantidade

de informações registradas, o chamado boom informacional (SILVA; SAMPAIO,

2017). Dessa forma, a quantidade de objetos digitais aumenta a cada dia (SANTOS,

2016), e esse crescimento traz consigo a necessidade da Curadoria Digital, ou seja,

“preservar e agregar valor aos dados de pesquisa digital ao longo de seu ciclo de vida”

(DIGITAL CURATION CENTRE, 2004, documento não paginado).

108
O termo Curadoria, de acordo com Longair (2015), refere-se ao termo Curare,

do latim, que significa “cuidado para”, e o termo Curador vem de Curator Bonorum,

uma figura de relativa importância no Direito Romano, que em 435 a.C. denominava o

indivíduo que cuidava do patrimônio de um devedor enquanto seu caso passava por

análise no tribunal (RAMOS, 2012). No século XVII, o termo Curadoria era utilizado

para designar a organização de mostras, espetáculos e museus, tratando da seleção e

preservação de acervos físicos. Nos séculos XVIII e XIX passa a ser utilizado na área

jurídica, relacionado à proteção e guarda de indivíduos (LEE; TIBBO, 2011), além de

ser utilizado no comércio para nomear o indivíduo que cuidava dos direitos dos

comerciantes em caso de falência (CASTILHO, 2015).

Já no século XX, o termo é relacionado à seleção de obras de arte para

exposição, sendo utilizado também para o tratamento de coleções de espécimes

científicos entre 1960 e 1970. Entre os anos de 1980 e 1990 o termo “Curadoria de

Dados” passa a ser utilizado para o tratamento de dados científicos (LEE; TIBO, 2011),

e a partir de 2003 a curadoria passa a ser estudada na Ciência da Informação e na

Ciência da Computação, e com o aumento no volume de dados digitais, passa a ser

utilizado o termo Curadoria Digital, entretanto, ocorreu maior disseminação do termo

apenas em 2010.

A Curadoria Digital compreende os processos necessários para a preservação de

dados digitais ao longo de todo seu ciclo de vida, garantindo uma boa gestão desses

dados e proporcionando o acesso (DIGITAL CURATION CENTRE, 2004, documento

não paginado).  Santos (2014) ainda apresenta a Curadoria Digital como um “conceito

guarda-chuva”, ou seja, um conceito amplo que compreende diversos pesquisadores,

profissionais, instituições e situações. Nesse sentido, o termo Curadoria Digital,

segundo Santos (2014), está em constante desenvolvimento e sua aplicabilidade se

estende a diversos contextos de preservação e tratamento da informação, sendo uma

109
atividade contínua que visa assegurar a sustentabilidade dos dados digitais ao longo do

tempo. Segundo Brayner (2016), o curador digital é responsável pelo desenvolvimento

de metodologias que possam facilitar o tratamento e a preservação de dados.

2 FOLKSONOMIA E CURADORIA DIGITAL NO CONTEXTO DA WEB 2.0

Folksonomia é o termo criado por Thomas Vander Wal em 24 de julho de 2004

para designar o resultado da classificação ou da categorização de objetos informacionais

de forma colaborativa na Web. O termo é a junção das palavras folk (povo, pessoas) e

taxonomy (taxonomia). Nesse processo, o internauta classifica o objeto por meio de uma

tag, ou etiqueta, e por meio dessa tag é possível recuperar esse objeto informacional

posteriormente. E segundo o autor,

A folksonomia é o resultado da marcação livre e pessoal de informações e


objetos (qualquer coisa com uma URL) para a própria recuperação. A
marcação é feita em um ambiente social (geralmente compartilhado e aberto
a outras pessoas). A folksonomia é criada a partir do ato de marcar pela
pessoa que consome as informações. (WAL, 2007, documento eletrônico não
paginado, tradução nossa)

A Folksonomia, segundo Wal (2007), seria um tipo de classificação bottom-up,

ou seja, de baixo para cima, dos internautas para os profissionais da informação, o que

facilita a recuperação da informação, pois dessa forma pode-se saber como as pessoas

classificariam determinado objeto informacional e, consequentemente, como o

procurariam. Pode-se dizer que a Folksonomia é uma forma de indexação realizada em

linguagem natural e de forma livre pelos internautas: é um processo em que um

indivíduo classifica um objeto informacional, por meio de uma tag, ou etiqueta, e

posteriormente esse objeto pode ser recuperado com maior facilidade pelo indivíduo,

trata-se também uma forma de classificação colaborativa na Web realizada em

linguagem natural.  Ela ocorre no contexto da Web 2.0, tendo a colaboração e o

compartilhamento de informações como algumas de suas características. Para Wal

(2007), uma Folksonomia possui três princípios: a tag, um objeto marcado por uma tag

110
e a identidade, e segundo ele folksonomy is tagging that works, ou seja, segundo

Thomas Vander Wal, a Folksonomia é a etiquetagem que funciona. O’Reilly define

Folksonomia como:

um estilo de categorização colaborativa de sites usando palavras-chave


escolhidas livremente, geralmente chamadas de tags. A marcação permite o
tipo de associações múltiplas e sobrepostas que o próprio cérebro usa, em vez
de categorias rígidas. No exemplo canônico, uma foto do Flickr de um filhote
pode ser marcada tanto "filhote" quanto "bonitinha" - permitindo a
recuperação ao longo dos eixos naturais gerados pela atividade do internauta.
(O’REILLY, 2005, p.2, tradução nossa)

O autor apresenta a Folksonomia como uma categorização colaborativa de sites

na Web feita por meio das tags, que ele define como palavras chaves escolhidas

livremente pelos internautas. Nesse contexto, a Folksonomia permite associações

múltiplas em um mesmo objeto, tal como ocorre no cérebro humano, ao invés de utilizar

categorizações rígidas, resultando em um processo de recuperação natural proveniente

da atividade do próprio internauta (O’REILLY, 2005).  Além disso, Assis e Moura

(2013) defendem que

A folksonomia é alvo de pesquisas que visam compreender essa modalidade


de organização da informação em ambientes digitais e como essa
configuração, que integra redes de conceitos, pessoas e conteúdos, pode
contribuir para o desenvolvimento de metodologias e instrumentos de
representação e recuperação da informação nos mais diversos contextos.
(ASSIS; MOURA, 2013, p.87)

Dessa forma, pode-se compreender a Folksonomia como uma forma de

Organização da Informação, e sua aplicabilidade se estende a diversos ambientes

informacionais digitais, por proporcionar uma rápida recuperação da informação e

permitir uma classificação coletiva em linguagem natural. As autoras ainda argumentam

que as informações presentes nas Folksonomias são formadas pela tríade sujeito –

conteúdo –  tag, ou seja, para que se construa informação em uma Folksonomia é

necessário um sujeito informacional que classifique determinado conteúdo por meio de

uma tag (ASSIS; MOURA, 2013).

111
A Folksonomia ocorre no âmbito da Web 2.0, que é um termo introduzido por

O’Reilly que se caracteriza pela colaboração e pelo compartilhamento de conteúdos

(BRESLIN; PASSANT; DECKER, 2009). O’Reilly (2005) aponta as principais

mudanças da Web 1.0 para a Web 2.0:

Tabela 1: Mudanças da Web 1.0 para a Web 2.0


Web 1.0   Web 2.0
DoubleClick --> Google AdSense
Ofoto --> Flickr
Akamai --> BitTorrent
mp3.com --> Napster
Britannica Online --> Wikipedia
personal websites --> Blogging
evite --> upcoming.org and EVDB
domain name speculation --> search engine optimization
page views --> cost per click
screen scraping --> web services
publishing --> Participation
content management
--> Wikis
systems
directories (taxonomy) --> tagging ("folksonomy")
stickiness --> Syndication

Tais mudanças demonstram a ideia da interação e do compartilhamento, e uma

delas seria a possibilidade de estender as ações que geravam taxonomias na Web 1.0,

adicionando a elas outra forma de tagueamento, a Folksonomia. Nesse sentido, pode-se

dizer que a Folksonomia está inserida no contexto da Curadoria Digital, podendo, dessa

forma, ser considerada um recurso da Curadoria Digital pois, segundo Yamaoka (2012)

Um programa de Curadoria Digital tem como objetivo salvaguardar os


objetos digitais, possibilitando o acesso e o reuso em todo seu ciclo de
vida. O valor despendido para produzir tais objetos tem como retorno
o compartilhamento dos dados, o que reduz a duplicação de esforços
na criação destes e tornando-os disponíveis para extração de novos
conhecimentos. (YAMAOKA, 2012, p.70)

112
Ou seja, a Folksonomia pode ser considerada como um recurso da Curadoria

Digital por melhorar as condições de acesso, compartilhamento e recuperação de

objetos digitais. Ela se insere na fase de “acesso, uso e reuso” (access, use & reuse) do

ciclo de vida da curadoria do Digital Curation Centre (DCC), de acordo com o modelo

de ciclo de vida da Curadoria Digital.

Figura 1 - Modelo do Ciclo de Vida de Curadoria

Fonte: YAMAOKA, 2012.

A Folksonomia pode estar presente em duas fases do ciclo de vida do DCC:

access, use & reuse e transform (acesso, uso & reuso e transformar). A fase de acesso,

uso & reuso implica que os dados estejam disponíveis aos internautas para que as

informações possam ser compartilhadas livremente. A fase de transformação, por outro

lado, implica que novos dados podem ser criados a partir dos dados originais (DCC,

2004). Nesse sentido, a Folksonomia possibilita o acesso e o uso dos dados, além de

113
garantir a transformação desses dados, pois os indivíduos têm a possibilidade de criar e

utilizar tags em diversos objetos digitais.

2.1 A Folksonomia na plataforma Flickr

O Flickr é uma plataforma de compartilhamento de imagens que pode ser

utilizada de forma gratuita por qualquer internauta. As imagens disponíveis no Flickr

podem ser visualizadas por qualquer indivíduo que esteja utilizando a Internet. No

entanto, apenas indivíduos cadastrados gratuitamente na plataforma podem compartilhar

seu conteúdo (OLIVEIRA; VITAL, 2015). Trata-se de uma plataforma que permite uma

visualização clara do funcionamento da Folksonomia. Pode-se adicionar até setenta e

cinco tags a uma imagem, além das tags adicionadas pelo próprio Flickr. O Flickr

possui um sistema de reconhecimento de imagens que analisa o conteúdo da imagem e

determina algumas tags para que, a princípio, a imagem seja facilmente recuperada.

De acordo com os desenvolvedores do Flickr

Tags são palavras-chave que facilitam a localização de fotos na busca do


Flickr. As tags que você adicionar serão exibidas em cinza-escuro. Os robôs
do Flickr tentarão ajudar acrescentando algumas tags para você; estas
aparecerão com apenas um contorno cinza. (FLICKR, [s.d.])

Ou seja, há uma diferenciação entre as tags adicionadas pelo sistema do Flickr e

aquelas adicionadas pelo internauta, as tags adicionadas pelo sistema de

reconhecimento de imagens do Flickr são apresentadas em retângulos de contorno cinza

e fundo branco, já aquelas adicionadas pelo internauta aparecem em um retângulo cinza.

Nesse contexto, as tags funcionam como palavras chave que indicam o conteúdo de

uma imagem, e a partir dessas tags pode-se encontrar a imagem desejada de forma mais

eficiente.

Para adicionar tags a uma imagem no Flickr, o internauta deve estar cadastrado

na plataforma. Ao selecionar uma imagem, ela aparecerá ampliada na página, e logo

114
abaixo dela, na parte inferior direita, há uma listagem de tags, e logo acima dessa lista

de tags encontra-se o botão “Adicionar tags”. Ao clicar no botão, uma caixa de texto

para adicionar a tag é mostrada.  Deve-se digitar a tag desejada e teclar Enter para

adicionar a tag. A tag adicionada passa a fazer parte da “nuvem” de tags da imagem.

Figura 2 - Nuvem de tags no Flickr

Fonte: AUTOR, 2018.

Após adicionada a tag, o internauta pode realizar uma busca por imagens na

plataforma, buscando pela tag que adicionou. A imagem será rapidamente recuperada, e

aparecerá nos primeiros resultados da busca. De acordo com Oliveira e Vital (2015), há

autores que denominam tal processo de Indexação Social.

3 RESULTADOS: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO

Os resultados foram obtidos a partir de testes realizados na plataforma Flickr.

Foram adicionadas tags a imagens presentes na página da British Library no Flickr.

Como exemplo, destacamos um conjunto sobre o qual as autoras atuaram, testando a

efetividade do taguemento horizontalizado: uma primeira imagem apresentava o título

115
“Image taken from page 328 of '[Our Earth and its Story: a popular treatise on

physical geography. Edited by R. Brown. With ... coloured plates and maps, etc.]'” e foi

adicionada a ela a tag “Orquídea”. Uma segunda imagem, intitulada “Image taken from

page 160 of 'The Memoirs of Sherlock Holmes'” recebeu a tag “Sherlock_e_Watson”;

vale ressaltar que foi utilizado o sinal _ (underline) para separar as palavras para que

não fossem adicionadas como tags isoladas. Uma terceira imagem, “Image taken from

page 113 of 'The Dark Colleen. A love story. By the author of “The Queen of

Connaught” [i.e. Harriet Jay]'”, recebeu a tag “Letra_capitular”. Feito isso, as imagens

foram buscadas separadamente por suas respectivas tags, e todas foram rapidamente

recuperadas.

O fato de todas as imagens terem sido facilmente recuperadas demonstra como a

Folksonomia pode ser utilizada como um recurso da Curadoria Digital, uma vez que

facilita a recuperação da informação. Ela permite a interação entre as pessoas e os

profissionais da informação, uma vez que participam da classificação de objetos

informacionais, o que para Brayner (2016) faria parte da democracia da informação.

A participação do usuário no esquadrinhamento e descrição de documentos


enriquece, não apenas, a relação da sociedade com as instituições culturais,
como otimiza o acesso a essas mesmas fontes, já que elementos
imperceptíveis ao arquivista e ao bibliotecário serão contemplados. Para
mim, é, neste aspecto, que reside o famoso conceito de democracia da
informação que tem sido erroneamente entendido somente dentro do âmbito
de acesso livre e irrestrito a conteúdos armazenados em nossos acervos. A
questão de democracia informacional se estende ao modo como uma
informação é interpretada e descrita: a todos se dá uma voz, e estas vozes vão
começar a criar comunidades a partir de interesses comuns. (BRAYNER,
2016a, p.12)

Nesse sentido, a Folksonomia contribui diretamente para a democracia

informacional, na medida em que permite participação direta do sujeito informacional,

pois funciona de forma bottom-up, garantindo maior proximidade entre o internauta e o

profissional da informação, facilitando o acesso a informação de forma significativa.

4 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
116
A partir da análise da plataforma Flickr e da revisão de literatura realizadas neste

artigo, pode-se afirmar que a Folksonomia pode ser um importante recurso a ser

utilizado pela Curadoria Digital, já que ela pode ser praticada em duas fases do ciclo de

vida da Curadoria. Ao exercitar ao tagueamento horizontalizado percebeu-se que ele

pode melhorar os sistemas de recuperação da informação principalmente por estar mais

próximo da linguagem natural, permitindo a participação ativa dos internautas nos

processos de classificação e indexação, pois a Folksonomia, resumidamente, é uma

forma de indexação e classificação colaborativas no contexto da Web 2.0. O

funcionamento da Folksonomia na plataforma Flickr demonstrou que ela é uma forma

eficiente para se pensar a recuperação dos objetos informacionais.

Por outro lado, o exercício nesse contexto, nos animou a levantar hipóteses sobre

a possibilidade de extensão dessa aplicação em outros ambientes, como em catálogos de

bibliotecas, por exemplo. Os sujeitos que interagem com ambientes de uma biblioteca,

presenciais ou digitais, poderiam adicionar tags a livros e outros documentos da mesma

forma que ocorre no Flickr, conseguindo recuperá-los posteriormente por meio das

mesmas tags. Nesse contexto, as folksonomias representam uma nova possibilidade de

tratamento e recuperação de dados na Web. Ao levantar essa hipótese, o fazemos do

ponto de vista que entende necessária a revisitação dos ambientes digitais e presenciais

das bibliotecas na contemporaneidade. A crise que se apresenta nesses ambientes

globalmente pode ser encarada a partir da proposta de transformações na sua estrutura

aparente e profunda. A face mais visível é a da necessidade de redesenho das interfaces

de interação (digitais e presenciais) para abrigar internautas que querem participar e

compartilhar informação e conhecimentos; a outra face, menos aparente, mas essencial

nesse novo contexto, é a da reconceituação dos ambientes mediadores do conhecimento

perante o conjunto das novas possibilidades tecnológicas e de inovação da Web2.0.

117
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119
12
CURADORIA DIGITAL E DESIGN DA
INFORMAÇÃO NOS WEBSITES DE
BIBLIOTECAS PÚBLICAS: UMA ANÁLISE
NO ESTADO DE SÃO PAULO
Stephanie Cerqueira Silva
Maria José Vicentini Jorente

Resumo: O avanço e desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação


e da Internet modificou a maneira como as pessoas compartilham informação e
comunicam-se. Desse modo, o trabalho visa mostrar a importância da presença de
Websites para as bibliotecas públicas a fim de melhorar o relacionamento com a
comunidade a partir dos conceitos da Curadoria Digital e do Design da Informação. A
pesquisa consiste no levantamento bibliográfico correspondente ao tema e na análise
dos Websites das bibliotecas públicas selecionadas. Por meio das análises dos Websites
e de pesquisas exploratórias, constatou-se que as bibliotecas públicas utilizam com
baixa frequência os seus ambientes digitais e pouco interesse no uso da Curadoria
Digital, bem como do Design da Informação. Considerando o cenário em que as
bibliotecas públicas estão inseridas no que diz respeito aos ambientes digitais,
discussões sobre a temática se fazem importante, uma vez que a utilização dos Websites
pode resultar na melhoria do relacionamento com a comunidade.

Palavras-chave: Curadoria Digital. Design da Informação. Websites. Bibliotecas


Públicas.

1 INTRODUÇÃO

O avanço e desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação

(TIC) e da Internet, onde a Web tem papel importante, modificaram a forma de

comunicar-se e de compartilhar informação entre indivíduos e organizações, uma vez

que possibilitam a troca de conteúdos com maior velocidade, independentemente da

distância. Nesse sentido, compreende-se que houve mudanças no comportamento da

sociedade que, ao aderir o uso das TIC e dos recursos que a Internet oferece, pôde

buscar, compartilhar e criar conteúdos, além de se comunicar.


120
Pensar na busca e no armazenamento de informações no contexto do aglomerado

de informações disponíveis na Web pode ser, muitas vezes, um problema. Há uma

quantidade de informações que não são recuperadas, que estão obsoletas ou

incompletas, como também as chamadas fakenews, entre outros entraves.

Por outro lado – compreendendo que as Bibliotecas Públicas (BP) têm um papel

mediador do compartilhamento do conhecimento com a sociedade, além de seus

objetivos de custódia, armazenagem e tratamento sistemático da informação - é

necessário estabelecer parâmetros para que a informação e conteúdo de ambientes

digitais de instituições culturais como as bibliotecas públicas, possam contribuir com a

sociedade de maneira eficiente, eficaz, dinâmica e funcional.

É importante que a comunidade em que as BP estão inseridas conheça quais são

os serviços e projetos por elas prestados, informações básicas como a história, o horário

de funcionamento, o endereço e sobre o acervo, assim como o incentivo à leitura.

Porém, mais importante é, pensando no papel mediador social e cultural que exercem,

manter a relevância dos ambientes presenciais e digitais dessas instituições de

informação, por meio de estratégias de Curadoria Digital (CD) que recoloquem as BP

no papel central em que as comunidades possam delas obter os benefícios necessários.

Desse modo, o recurso dos Websites por uma parcela maior de BP no país,

possibilitaria que a informação compartilhada e acessada fosse mais fidedigna, assim

como proporcionaria novos vínculos comunicacionais com a comunidade, fator

importante para um país que apenas 55% sabe da existência de biblioteca em sua

cidade, como mostra a pesquisa 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 6

realizada no ano de 2015.

Tendo em vista a problemática na qual as BP estão inseridas, e considerando o

número de cidadãos com acesso à Internet no Brasil, que somam mais de 105 milhões
6
Disponível em: <http://prolivro.org.br/home/index.php/atuacao/25-projetos/pesquisas/3900-pesquisa-
retratos-da-leitura-no-brasil-48>.

121
de brasileiros, segundo dados do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento

da Sociedade da Informação (CETIC.BR, 2016), estar presente no meio digital tem

papel fundamental, ainda mais para instituições com cunho social.

Dessa maneira, a Curadoria Digital e o Design da Informação (DI) podem

contribuir para que os ambientes digitais dessas instituições se tornem um espaço no

qual consigam compartilhar informações, armazená-las, possibilitar a busca, além de

trazer funcionalidades, interatividade e comunicação para que os internautas possam

navegar, compreender e usufruir de todo o espaço oferecido, favorecendo um vínculo de

relacionamento entre comunidade e biblioteca.

Este artigo faz um diagnóstico nos Websites das bibliotecas públicas das

mesorregiões do Estado de São Paulo com o objetivo de visualizar e apresentar uma

análise desses ambientes considerando o conteúdo informacional, a interface e

atualizações, baseado em parâmetros da Curadoria Digital e do Design da Informação

para a identificação de possíveis melhorias para esses ambientes.

2 DESENVOLVIMENTO

As BP têm como um de seus fundamentos principais de existência a

democratização ao acesso à informação e à cultura, portanto, são responsáveis pelo

armazenamento, recuperação e compartilhamento da informação para sua comunidade,

além de promover projetos, exposições e incentivar a leitura e a cultura, dando às

bibliotecas públicas um caráter social, estabelecidos de acordo com as necessidades de

sua comunidade.

Essa responsabilidade de mediação social e cultural que as bibliotecas públicas

carregam ressalta a importância de estarem inseridas no contexto digital, uma vez que o

acesso à Internet no Brasil aumenta a cada ano.

122
A BP, para Milanesi (1995, p. 58), “exige, para seu desenvolvimento, uma

consciência da realidade que faz parte da visão geral que os indivíduos têm da

realidade.”, dessa maneira, as bibliotecas públicas devem estar se renovando,

acompanhando o contexto em que a sociedade está inserida, e uma vez que a sociedade

está mais conectada à Internet, a necessidade da presença proativa nos ambientes

digitais é fundamental.

As tecnologias e a Internet modificaram e contribuíram para que a informação

fosse compartilhada e moldaram toda a sociedade. Para Castells (2003, p. 10), “Nossas

vidas são profundamente afetadas por essa nova tecnologia da comunicação. Por outro

lado, ao usá-la de muitas maneiras, nós transformamos a própria Internet. Um novo

padrão sociotécnico emerge dessa interação.”, o que modificou também aspectos

relacionados às condições da informação e da comunicação, que aceleraram o tempo e

diminuíram os espaços entre o emissor, o estoque e o receptor da informação, como

afirma Barreto (2002).

Compreendendo que a Internet é, hoje, ambiente atrelado à grande parte da

sociedade, os Websites são aliados dessa ascensão. Desde a sua criação no fim da

década de 90 com a World Wide Web (WWW), os Websites são essenciais para a

comunicação e a promoção de conteúdos que podem conter textos, vídeos, imagens e

sons em sua composição, principalmente com o advento da Web 2.0 ou Web Social, que

proporciona uma comunicação horizontal entre os atores da rede, possibilitando melhor

interação e trocas de ideias.

O conceituador da Web 2.0, O’Reilly (2005, p. 2, tradução nossa), afirma que ela

“não tem fronteiras rígidas, mas pelo contrário, tem um centro gravitacional. [...]

interligam um verdadeiro sistema solar de sites [...]”. Sendo assim, o espaço para se

trabalhar dentro da Web 2.0 é infinito, o que resulta, segundo Jorente (2012), na criação

e ampliação de novas possibilidades de reflexão e exploração da informação, de modo

123
inter e transdisciplinar, que é veiculado por meio dos processos informacionais digitais.

Com todo o desenvolvimento exponencial da Internet e dos Websites, o fluxo

informacional cresceu de maneira que emergir a necessidade de se trabalhar mais

estratégicamente com as informações fornecidas.

Nesse contexto estratégico, a Curadoria Digital consiste na preservação,

promoção e fornece acesso às coleções digitais, bem como as digitalizadas, a fim dar

suporte às pesquisas em qualquer tempo utilizando das tecnologias. É ligada fortemente

as chamadas Humanidades Digitais, que introduziram novas metodologias de análises e

interpretação de dados com papel de fornecer uma estrutura interdisciplinar e apoiar na

colaboração de pesquisas para o campo (SABHARWAL, 2015).

Dessas definições, é possível perceber que a Curadoria Digital não se se

preocupa somente em preservar o conteúdo informacional na Web, garantindo que ele

seja encontrado por qualquer indivíduo e em qualquer tempo, mas também no apoio à

pesquisa, a fim de proporcionar espaços para a inserção de equipamentos culturais que

correspondam às humanidades digitais.

A Curadoria Digital (CD) é interdisciplinar e para cada área tem-se uma

preocupação diferente, mesmo que todas partam da mesmo objetivo, é vista como um

termo guarda-chuva e pode ter níveis de atuação como: curadoria de informação,

curadoria de conteúdo, curadoria de conhecimento e curadoria de dados (JORENTE;

SILVA; PIMENTA, 2015, p. 130). Desses níveis de atuação da curadoria, a curadoria

de conteúdo é essencial para os Websites de bibliotecas públicas que, segundo Barghava

(2011 apud SABHARWAL, 2015), a CD contribui nas práticas de promover o conteúdo

relacionado ao patrimônio cultural. Ainda disserta sobre “Os 5 modelos de curadoria de

conteúdo”, sendo eles:

1. Agregação (a ação de curadoria nas informações mais relevantes): consiste


na seleção de conteúdos mais relevantes que podem ser incluídos em
coleções digitais, em exposições virtuais e em publicações;

124
2. Destilação (a ação de curadoria nas informações de maneira mais
simplista): prepara o conteúdo selecionado para que ele tenha uma estrutura
mais clara e transparente [...];
3. Elevação (a ação de curadoria para identificar uma tendência ou maior
percepção): envolve na análise e interpretação de dados e informação
recolhidos por meio da agregação e da destilação;
4. Mashup (a ação de curadoria de justaposição única, mescla e utiliza de
conteúdos já existentes para a criação de um novo ponto de vista): envolve
representações de dados em variados novos contextos;
5. Cronologia (a ação de curadoria que reúne informações históricas baseadas
no tempo): envolve a criação de um cronograma para análise histórica e
representações próximas, ou vagamente, relacionadas a eventos.
(BARGHAVA, 2011 apud SABHARWAL, 2015, p. 20, tradução nossa).

Além dos cinco modelos de curadoria de conteúdo, Beiguelman descreve três

níveis possíveis de modelos de curadoria online e o papel do curador nestes modelos:

a) curador como filtrador: o curador seleciona, compartilha, comenta e


contextualiza as informações, observando seus efeitos (“eu sou o que eu
linko”);
b) curador como agenciador: seleciona e relaciona os conteúdos, além de
fazer a mediação com os receptores da informação (“eu sou como eu linko e
compartilho”);
c) a plataforma como dispositivo curatorial: é realizado por algoritmos que
categorizam e relacionam informações acessadas, identificando perfis e
interesses de consumo dos usuários nos ambientes digitais (“as coisas são
como você linka”); (2011 apud JORENTE; SILVA; PIMENTA, 2015, p.
130).

Fazendo uma relação com “Os 5 modelos de curadoria de conteúdo” e dos

“Níveis de modelos de curadoria online”, é possível traçar diferentes caminhos para que

o trabalho a ser utilizado nos Websites das bibliotecas públicas tenham resultados

significativos em relação ao conteúdo fornecido.

Além do processo de Curadoria Digital, estabelecendo conceitos e

sistematizando os processos de compartilhamento e criação de conteúdos e de

informações a fim de contribuir para Websites mais proativos, o Design da Informação

se encarrega de tornar os ambientes digitais mais estruturados, dispondo de modelos

para organização e apresentação para que o conteúdo seja compreendido pelo

internauta.

O Design da Informação é definido, para a Sociedade Brasileira do Design da

Informação (SBDI), da seguinte maneira:

125
Uma área do design gráfico que objetiva equacionar os aspectos sintáticos,
semânticos e pragmáticos que envolvem os sistemas de informação através
da contextualização, planejamento, produção e interface gráfica da
informação junto ao seu público alvo. Seu princípio básico é o de otimizar o
processo de aquisição da informação efetivado nos sistemas de comunicação
analógicos e digitais. (2006 apud QUINTÃO; TRISKA, 2014, p. 109).

Frascara divide em duas etapas o processo do Design da Informação:

A organização da informação e o planejamento da apresentação visual. Estas


tarefas requerem a habilidade para processar, organizar e apresentar a
informação de forma verbal e não verbal. A organização da informação
requer uma boa compreensão das estruturas lógicas e processos cognitivos. A
apresentação visual da informação requer conhecimentos sólidos da
legibilidade de símbolos, letras, palavras, frases e textos. E também requer
um entendimento da capacidade informacional de imagens e de suas
articulações com textos. (2004, p. 130, tradução nossa).

Dessa maneira, é importante a elaboração de interfaces que conduzam a

navegação do internauta de modo natural, em um ambiente em que o conteúdo

informacional esteja organizado e apresentado de maneira dinâmica e funcional. A

relação do DI com as interfaces está entre as sete caracterizações do design descritas por

Bonsiepe (1997, p. 15): “Design orientado à interação entre usuário e artefato. O

domínio do design é o domínio da interface”. Percebe-se, então, que os Websites são os

artefatos propostos por essa pesquisa e o Design da Informação que irá nortear a

interação do internauta com o artefato.

Compreendendo as contribuições que a Curadoria Digital e o Design da

Informação têm diante de possíveis melhorias nos Websites das bibliotecas públicas, e

notando a ausência delas no processo de elaboração de muitos Websites, bem como o

baixo conhecimento sobre as bibliotecas públicas no país, é de suma importância a

elaboração de ambientes digitais que supram a necessidade de uma comunidade,

podendo, assim, contribuir para a aproximação das bibliotecas públicas com a sua

comunidade.

3 RESULTADOS: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO

126
Essa pesquisa, ainda em desenvolvimento, objetiva realizar um diagnóstico nos

Websites das BP das mesorregiões do Estado de São Paulo, verificando aquelas BP que

têm uma website, e quais as contribuições da Curadoria Digital e do Design da

Informação para suprir as necessidades da comunicação com a comunidade. O trabalho

busca também criar um framework customizável para essas instituições de informação.

Existem no país um total de 6.102 bibliotecas públicas, entre elas municipais,

distratais, estaduais e federais, desse total, 1.958 estão localizadas na Região Sudeste do

Brasil, segundo dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas do ano de 2015.

De acordo com o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas de São Paulo, mais

de 800 bibliotecas públicas estão presentes por todas as regiões de São Paulo. Esse dado

mostra que mais de 40% das bibliotecas localizadas na Região Sudeste pertencem ao

Estado de São Paulo.  

O Estado de São Paulo é o segundo maior em número de municípios, somando

um total de 645 municípios divididos em 15 mesorregiões geográficas, dados da

Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados.

A amostra para esta pesquisa são as 15 mesorregiões do Estado, dando ênfase

apenas para a cidade que dá nome a mesorregião, que são elas: Araçatuba, Araraquara,

Assis, Bauru, Campinas, Itapetininga, Litoral Sul Paulista, Macro Metropolitana

Paulista, Marília, Metropolitana de São Paulo, Piracicaba, Presidente Prudente, Ribeirão

Preto, São José do Rio Preto e Vale do Paraíba Paulista.

Para observar os Websites selecionados, foi utilizado a técnica de análise

heurística que, segundo Reis (2017), é um método de avaliação de usabilidade cuja

função é avaliar se o Website possui bons princípios do design e, por essa razão, se

possui boa usabilidade, a partir da inspeção das características da interface. Segundo

Jorente, Silva e Pimenta (2017), as dez heurísticas são: 1) Visibilidade de Status do

127
Sistema; 2) Falar a linguagem do internauta; 3) Saídas claramente demarcadas; 4)

Consistência; 5) Prevenir erros; 6) Minimizar a sobrecarga de memória do internauta; 7)

Atalhos; 8) Estética e design minimalista; 9) Ajude os internautas a entender e resolver

o problema e; 10) Ajuda e documentação.

Dessa maneira, a heurística para análise desses ambientes se concentrou na

Estética e design minimalista, sendo ela um dos aspectos importantes para a usabilidade,

uma vez que a forma deve se adequar ao conteúdo para que o internauta se sinta bem ao

utilizar o ambiente (REIS, 2007).

Na tabela abaixo, há informações sobre os Websites correspondentes a cada

cidade:

Quadro 1: Mesorregiões e os Websites de suas bibliotecas públicas


CIDADE SITE CONTEÚDO INTERFACE
Confusa e pouco
Araçatuba Próprio Atualizado em 28/02/2018
interativa
Uma página
Vinculado ao da Informações básicas das
Araraquara somente. Pouco
Prefeitura bibliotecas
interativa
Vinculado ao da
Fundação Informações básicas da
Assis Pouco interativa
Assisense de biblioteca
Cultura
Vinculado ao da Informações básicas da
Bauru Pouco interativa
Prefeitura biblioteca
Vinculado ao da Informações básicas da
Campinas Pouco interativa
Prefeitura biblioteca
Atualizado 14/03/2018.
Itapetininga Não possui Apenas “Notícias” na Pouco interativa
página prefeitura.
Atualizado 22/01/2018.
Litoral Sul Paulista
Não possui Apenas “Notícias” na Pouco interativa
(Mongaguá)
página prefeitura.
Macro Vinculado ao da
Informações básicas da Agradável, mas
Metropolitana Secretaria da
biblioteca e serviços pouco interativa
Paulista (Sorocaba) Cultura
No site Prefeitura apenas
Marília Biblivre Pouco interativa
notícias
Metropolitana de Vinculada ao da Atualizado Confuso
São Paulo (São Secretaria da
Paulo) – Biblioteca Cultura
128
Mário de Andrade
Última atualização Confusa e pouco
Piracicaba Próprio
06/11/2017 interativa
Vinculado ao da
Presidente Informações básicas da
Secretaria da Pouco interativa
Prudente biblioteca – Toca música
Cultura
Não aparece na busca no
Ribeirão Preto Não possui
site da Prefeitura
Informações Básicas das
São José do Rio Vinculada ao da
Bibliotecas – Online Pouco interativa
Preto Prefeitura
(Acervo e Renovação)
Vale do Paraíba
Vinculado ao da Informação básica das
Paulista (São José Pouco interativa
Prefeitura bibliotecas
dos Campos)
Fonte: AUTOR, 2018.

Com esse breve levantamento dos Websites que as bibliotecas públicas dessas

cidades oferecem aos internautas, é visível a falta de investimento nas plataformas. A

maioria apresenta somente informações básicas – endereço, telefone e horário de

funcionamento - sobre a biblioteca matriz e seus ramais e/ou extensões. Poucas delas

possuem informações em relação aos serviços prestados ou projetos desenvolvidos. As

atualizações só correspondem a guia de notícias, quando existente. Além das poucas

informações oferecidas e do pouco conteúdo disponibilizado, os Websites não possuem

interfaces funcionais e que proporcionem fácil comunicação com o internauta.

É importante salientar que esta é uma dificuldade apresentada em diversas

regiões do país, como mostra a pesquisa do CETIC.BR (2016), que entrevistou

diferentes tipos de equipamentos culturais, entre eles:  arquivo, bem tombado,

biblioteca, cinema, museu, ponto de cultura e teatro. De todos esses equipamentos, as

bibliotecas são as que menos possuem Websites próprios ou os recursos oferecidos nos

Websites como informação sobre as atividades, divulgação das notícias sobre a

instituição e formulários de inscrição de cursos e visitas.

Neste sentido, o trabalho tímido exercido pelas bibliotecas públicas em seus

Websites pode contribuir para que mais pessoas desconheçam a existência das

129
bibliotecas físicas, os serviços e projetos oferecidos por elas e, ao mesmo tempo,

distancie do seu papel de mediadora social e cultural.

4 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS

Os Websites potencializam o acesso e o compartilhamento, a comunicação e o

relacionamento com a informação. Ao considerar o papel social das bibliotecas

públicas, esses ambientes possibilitam a interação com a comunidade de interesse de

forma abrangente, uma vez que a Internet concentra um número significativo de

indivíduos conectados, principalmente com a popularização do acesso a partir das novas

tecnologias.

A pesquisa que gerou esse artigo encontra-se em fase inicial. Contudo, com base

em levantamentos já realizados, percebe-se que os Websites dessas instituições são

semelhantes, independentemente da região em que se encontram, o que pode resultar em

obstáculos na apresentação do conteúdo informacional, assim como no relacionamento

da biblioteca com a comunidade.

Dessa maneira, compreende-se que é urgente que se empreendam discussões e

ações nessa temática a fim de contribuir para a área e para o redesenho das bibliotecas

públicas nos seus Websites.

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133
13
CURADORIA DIGITAL EM REPOSITÓRIOS
INSTITUCIONAIS: CONTRIBUIÇÕES PARA
A VISIBILIDADE DAS TEMÁTICAS LGBT,
DIVERSIDADE DE GÊNERO E
SEXUALIDADE
Simão Marcos Apocalypse
Maria José Vicentini Jorente

Resumo: Na contemporaneidade, os debates relacionados às comunidades LGBT,


diversidade de gênero e sexualidade têm sido abordados com maior frequência nas
universidades. Além de abordar essas questões, deve-se pensar também no
compartilhamento desses trabalhos. A presente pesquisa aponta a seguinte problemática:
de que maneira a Curadoria Digital pode contribuir para a visibilidade de produções
científicas relacionadas à comunidade LGBT, diversidade de gênero e sexualidade
armazenadas e preservadas em Repositórios Institucionais? Objetiva-se compreender
como a Curadoria Digital pode contribuir para a promoção de pesquisas, e justifica-se
pela necessidade de estudos voltados ao compartilhamento de conteúdos informacionais
produzidos nos ambientes acadêmicos e pertinentes a toda sociedade. O método
utilizado para a realização da pesquisa é de caráter teórico exploratório. Mediante a
revisão de literatura referente à Curadoria Digital, Repositório Institucional e a
comunidade LGBT, é possível identificar que o processo de Curadoria Digital, aplicado
em Repositórios Institucionais, pode apresentar contribuições para a visibilidade de
pesquisas desse segmento.

Palavras-chave: Informação e Tecnologia. Curadoria Digital. Repositório Institucional.


LGBT. Diversidade de gênero e sexualidade.

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), após

a Segunda Guerra Mundial, trouxe consideráveis mudanças referentes à produção e

acesso à informação. Na contemporaneidade, o acesso aos diferentes meios

informacionais e o modo de interação dos indivíduos com esses meios têm impactado

134
significativamente na forma com que a informação é compreendida (SÁEZ VACAS,

2007).

As TIC têm exercido um importante papel referente à organização, produção e

uso da informação, bem como a sua disponibilização à comunidade. Como apontam

Jorente e Santos (2014, p. 193), “[...] as Tecnologias de Informação e Comunicação e as

mídias, que, por meio delas, circulam, perfazem um meio de tramitação da informação e

do conhecimento em exponencial movimento de expansão.” Esse desenvolvimento

possibilitou a criação de diversos recursos, como os Repositórios Digitais, que possuem,

além da função de armazenar a informação de forma segura e permanente,

disponibilizar esse material a toda comunidade.

Os Repositórios Digitais surgem a partir de 1990, período em que se via a

necessidade de disponibilizar à comunidade acadêmica e a toda a população a produção

científica de determinada instituição. Desse modo, são definidos diferentes tipos de

repositórios, entre os quais estão os Repositórios Institucionais, que possuem como

finalidade reunir a produção científica de determinada instituição, como coleções de

documentos de pesquisa, relatórios, teses, dissertações, livros, entre outros (BOSO,

2011).

Toda produção científica é convergida em Repositórios Institucionais das

instituições, tornando-se o principal meio de acesso a essa produção.

Dentre a produção acadêmica convergida nos Repositórios Institucionais, estão

as relacionadas à comunidade LGBT, diversidade de gênero e a sexualidade. Segundo

Planella Ribera (2006), as produções científicas acerca dessas temáticas necessitam ser

abordadas com mais frequência na academia, a fim de produzir conhecimento teórico

que possibilite o aprofundamento no debate.

Contudo, além da necessidade de que as universidades se ocupem das questões

de interesse social e coletivo, deve-se pensar também nas formas em que essa produção

135
será compartilhada com a comunidade acadêmica e a população como um todo.

Ao considerar o poder transformador do conhecimento produzido pelas

universidades, a pesquisa justifica-se pela necessidade de estudos voltados ao

compartilhamento de conteúdos informacionais produzidos nesses ambientes

acadêmicos e pertinentes a toda sociedade. Nesse contexto, inserem-se estudos que

busquem maior visibilidade às produções relacionadas à comunidade LGBT,

diversidade de gênero e sexualidade.

A Curadoria Digital se apresenta como um tema, nos estudos da Ciência da

Informação, que tem como intuito dar respaldo às necessidades presentes na

contemporaneidade referentes ao gerenciamento, preservação e compartilhamento de

conteúdos informacionais.

De acordo com Beagrie (2004), o termo Curadoria Digital remete às ações

referentes à manutenção de dados em ambientes digitais durante o seu ciclo de vida.

Deste modo, são envolvidos processos como o gerenciamento, arquivamento,

preservação e compartilhamento de dados.

Considerando a Curadoria Digital como um meio que busca melhorias que

tangem o gerenciamento, armazenagem e compartilhamento de conteúdos

informacionais digitais, a problemática apresentada pela presente pesquisa consiste na

seguinte questão: de que maneira a Curadoria Digital pode contribuir para a visibilidade

de produções científicas relacionadas à comunidade LGBT, diversidade de gênero e

sexualidade armazenados e preservados em Repositórios Institucionais?

Nesse sentido, este trabalho apresenta uma discussão acerca do conceito de

Curadoria Digital, Repositórios Institucionais e a necessidade do compartilhamento de

informações referente à comunidade LGBT, diversidade de gênero e sexualidade.

Para a realização desse trabalho, a metodologia utilizada é de caráter teórico

exploratório, consistindo em um levantamento bibliográfico referente às temáticas

136
abordadas e outras áreas que as perpassam, construindo uma base teórica para a

pesquisa.

Fundamentado pelo levantamento bibliográfico e revisão da literatura, a

pesquisa se desenvolve acerca conhecimentos referentes às temáticas LGBT,

diversidade de gênero e sexualidade, a importância de sua abordagem nos ambientes

universitários e como o desenvolvimento das TIC e o surgimento dos repositórios

digitais podem contribuir para que as produções desse segmento adquiram maior

visibilidade.

2 DESENVOLVIMENTO DAS TIC E REPOSITÓRIOS INSTITUCIONAIS

DIGITAIS

O surgimento TIC, possibilitado pelo desenvolvimento das tecnologias, se

mostra como importante aliado para que os conteúdos informacionais produzidos

possam ser preservados e disseminados.

Desde meados da década de 1950, o desenvolvimento tecnológico e eletrônico

passou por grandes avanços, que possibilitaram a criação do primeiro computador

programável. Como fruto desses avanços, no final do século XX surgiu também a

Internet, criada pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA), que fazia parte

do departamento de segurança dos EUA. Nesse contexto, os estudos acerca de meios

tecnológicos estavam em seu auge (CASTELLS, 1999, p. 88).

Durante a década de 1990, Tim Berners Lee, a partir do conceito de hipertexto,

desenvolvido por Ted Nelson, idealizou a World Wide Web (CASTELLS, 1999, p. 88).

O desenvolvimento das TIC trouxe grandes avanços no que se refere à produção,

organização e compartilhamento da informação, e esses avanços surtiram reflexos

sociais consideráveis.

137
Em meio ao contexto de desenvolvimento das TIC, surgem os repositórios, que

Boso (2011) subdivide em três tipologias, sendo elas: Repositórios temáticos, que

abarcam a produção de áreas específicas do conhecimento; Repositórios de teses e

dissertações, que englobam exclusivamente teses e dissertações, e, por fim, os

Repositórios Institucionais, que o autor define como:

Repositórios institucionais: englobam a produção científica de determinada


instituição, mais comumente institutos de pesquisa e universidades.
Hospedam geralmente uma coleção de documentos de pesquisa (pré-prints e
pós-prints), embora possam incluir relatórios técnicos, manuscritos, dados,
videoclipes e imagens, além de conter dados administrativos de apoio à
instituição, como arquivo local de documentação, teses, dissertações, livros e
outros (BOSO, 2011, p. 34).

Nesse contexto, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

(IBICT) lançou o Manifesto Brasileiro de Apoio ao Acesso Livre à Informação

Científica, o qual estabelece as condições necessárias aos repositórios:

Uma versão completa da obra e todos os materiais suplementares, incluindo


uma cópia da licença, como acima definida, é depositada e, portanto,
publicada em um formato eletrônico normalizado e apropriado em pelo
menos um repositório que utilize normas técnicas adequadas (como as
definições estabelecidas pelo modelo Open Archives) e que seja mantido por
uma instituição acadêmica, sociedade científica, organismo governamental,
ou outra organização estabelecida que pretenda promover o acesso livre, a
distribuição irrestrita, a interoperabilidade e o arquivamento a longo prazo.
(IBICT, 2005, não paginado).

Compreende-se que o papel dos repositórios, em primeira instância, seria

garantir o acesso à informação, de modo livre e permanente. Nesse sentido, Sayão et al.

(2009) aponta que o lançamento do Manifesto Brasileiro de apoio ao Acesso Livre à

Informação Científica cumpriu importante papel nos avanços referentes à

disponibilização e disseminação do conteúdo informacional produzido pelas

universidades.

Sayão et al. (2009) reitera que o papel dos repositórios é de suma importância

para que a produção científica possa ser disponibilizada de maneira eficaz,

138
possibilitando que a população em geral acesse o conteúdo disponibilizado, além de

garantir a guarda e a preservação do que se é produzido.

Contudo, os repositórios institucionais, além de seu papel referente ao

armazenamento, preservação e acesso da produção científica de determinada instituição,

devem também possibilitar visibilidade ao que é produzido, como apontam Leite et al.

(2012):

A plena adoção e funcionamento de um repositório institucional contribuem


para a composição do acervo da memória institucional. Entretanto, é
importante não perder de vista sua finalidade primordial, que é aumentar a
visibilidade dos resultados de pesquisa, do pesquisador e da instituição, como
centro de pesquisa (LEITE et al., 2012, p. 9).

Nesse contexto, a busca por meios para que o conteúdo informacional produzido

pelas instituições seja disponibilizado e acessado deve ser contínuo. Os profissionais da

área da informação devem conhecer seus processos e os recursos existentes para sua

disponibilização e disseminação.

Dessa maneira, o desenvolvimento das tecnologias e o acesso aos diferentes

meios de informação que fazem parte do contexto contemporâneo em que vivemos, têm

influenciado de maneira direta na forma com que a sociedade compreende a

informação.

[...] o impacto da tecnologia sobre os cidadãos comuns, requer ajuste da lente


de observação sobre essa camada visível de arsenal tecnológico que podemos
chamar de tecnologias de, ou para, a vida cotidiana [...] (SÁEZ VACAS,
2003 p. 3, tradução nossa).

Sáez Vacas (2003) aponta a importância de analisarmos os impactos do acesso à

Web por pessoas que não possuem qualquer tipo de especialização voltada para áreas

tecnológicas e, contudo, interagem cotidianamente com os ambientes disponíveis na

Web e o modo com que esse fenômeno contemporâneo reflete em nossa sociedade.

139
3 CURADORIA DIGITAL

Atualmente, o fluxo de dados em formatos digitais tem se destacado no meio

tecnológico. Pode-se considerar pertinente que a quantidade de dados disponíveis tende

a aumentar gradativamente, e estudos que possibilitem o gerenciamento desses dados

para seu melhor aproveitamento têm se mostrado necessários.

Santos (2014) aborda questões referentes à Curadoria Digital e a evolução do

conceito ao longo de determinado período, definindo-a como:

[...] o processo de estabelecimento e manutenção de um corpo confiável de


informação digital dentro de repositórios de preservação a longo prazo para
uso corrente e futuro por pesquisadores, cientistas, historiadores e
acadêmicos em geral. Especificamente, a curadoria digital é definida com a
seleção preservação, manutenção, coleção e arquivamento de ativos digitais
(SANTOS, 2014, p. 106).

Pode-se considerar que um dos principais aspectos da Curadoria Digital é o

reuso do conteúdo informacional, sendo, desse modo, necessárias diversas ações para

que os dados disponíveis no ambiente digital sejam geridos de forma eficiente e eficaz,

para que seu acesso seja possível.

Como ressalta Santos (2014), as informações disponíveis nos ambientes digitais

carecem de serem tratadas, procedimento que se caracteriza como Curadoria Digital, e

que envolve determinadas atividades, sendo algumas delas:

[...] Produzir, organizar, manter, controlar, preservar e assegurar é um


empreendimento que exige coordenação de recursos humanos e operações. A
preservação e acesso a recursos de informação digital é considerada a espinha
dorsal da curadoria digital (SANTOS, 2014, p. 106).

Ao considerar as demanda tocantes às necessidades de gerenciamento de

conteúdos informacionais digitais, desde meados de 2011, o Digital Curation Center

(DCC) define-se como um:

140
[...] centro de especialização internacionalmente reconhecido em curadoria
digital com foco na capacidade de construção e habilidades para
gerenciamento de dados de pesquisa. O DCC fornece assessoria especializada
e ajuda prática para pesquisar organizações que desejam armazenar,
gerenciar, proteger e compartilhar dados de pesquisa digital. (DCC, 2018,
não paginado)

Neste contexto, o DCC, sendo uma organização especializada em Curadoria

Digital, busca auxiliar e fomentar a sua aplicação em ambientes informacionais digitais.

Ainda, segundo o DCC:

A gestão ativa dos dados da pesquisa reduz as ameaças ao seu valor de


pesquisa a longo prazo e mitiga o risco de obsolescência digital. Enquanto
isso, os dados curados em repositórios digitais confiáveis podem ser
compartilhados entre a comunidade [...] (DCC, 2018, não paginado).
A Curadoria Digital, além de contribuir para o gerenciamento, armazenagem e

compartilhamento de informação digital, contribui para que os dados de pesquisa

possuam mais qualidade e sejam compartilhados de modo eficaz, evitando que caiam

em desuso.

Santos (2014, p. 130) aponta a Curadoria digital como “as ações necessárias para

manter dados de pesquisa acessíveis”. Desse modo, pode-se considerar a Curadoria

Digital como meio relevante que pode auxiliar o compartilhamento e visibilidade de

conteúdos informacionais digitais.

De acordo com Abbot (2008), a Curadoria Digital traz diversos benefícios,

sendo alguns deles:

•Acesso persistente a dados digitais confiáveis;


•Melhor qualidade dos dados em si e do seu contexto de pesquisa;
•O uso de padrões comuns em diferentes conjuntos de dados, o que, por sua
vez, leva a mais oportunidades para pesquisa cruzada e colaboração;
• Verificações de autenticidade, melhorando a confiabilidade dos dados;
• Assegurar que os dados são válidos como um registro formal a evidência
legal;
• Explorar o investimento inicial garantindo que os dados estejam disponíveis
para uso e reutilização e proteção [...];
• Maior velocidade e alcance de acesso, compartilhamento de dados e outras
pesquisas [...];
(ABBOT, 2008, não paginado, tradução nossa).

Considerando os aspectos já apresentados referentes à Curadoria Digital, quanto

ao gerenciamento, armazenagem e compartilhamento de conteúdos informacionais

141
digitais, pode-se considerar como uma de suas características o compartilhamento da

informação enriquecida por meio da atribuição de metadados de contexto, proveniência

e preservação, o que significa uma potencialização da disseminação da informação.

4 PRODUÇÃO CIENTÍFICA ACERCA DAS COMUNIDADES LGBT,

DIVERSIDADE DE GÊNERO E SEXUALIDADE

Ao analisar o contexto histórico de nossa sociedade, é visível que as camadas

que se encontram à margem da sociedade foram, por muito tempo, perseguidas e

renegadas pelas camadas dominantes. Contudo, aos poucos essas mesmas camadas vêm

conquistando espaço, representatividade, e direitos mínimos que até então lhes eram

negados.

A produção científica acerca das temáticas relacionadas à comunidade LGBT,

diversidade de gênero e sexualidade, se fazem, por conseguinte, necessárias. O

conhecimento teórico provindo de estudos da temática possibilitará avanços e

aprofundamento no debate relacionado a tais questões.

Planella Ribera (2006) explicita em seu trabalho que o avanço está acontecendo,

bem como a importância da teoria queer como embasamento teórico:

A necessidade e as formas como a pedagogia constrói as normatividades


corporais, naquilo que se refere à sexualidade, tem levado a pedagogos/as,
mestres e educadores/as a repensar o que fazem, como o fazem e que
produzem nas suas práxis em relação com as temáticas sexuais. É verdade
que a publicação do trabalho de Butler (1989) Gender Troublem serviu de
ponto de partida para refletir e pensar de outra forma a pedagogia do gênero e
da sexualidade (PLANELLA RIBERA, 2006, p. 176, tradução nossa).

Contudo, nos dias de hoje, preconceitos para com comunidades historicamente

perseguidas ou silenciadas ainda perduram. Padrões que distinguem o que pode ser

considerado normal ou anormal são reforçados. A construção binária das identidades

sexuais, a dicotomia entre heterossexual-homossexual, colocando o heterossexual como

142
“bom” e homossexual como “ruim”, são reflexos de uma construção que visou

normatizar os indivíduos. Quando a questão abordada se refere à comunidade LGBT,

diversidade de gênero e sexualidade, nos deparamos com uma área pouco explorada e

repleta de tabus (PLANELLA RIBERA, 2006).

Ao considerar que a abordagem de temáticas referentes à comunidade LGBT,

diversidade de gênero e sexualidade, na contemporaneidade, tem sido crescente nos

ambientes universitários, também são necessários estudos acerca de mecanismos que

possibilitem que o resultado do que é discutido nesses ambientes seja disponibilizado à

sociedade de maneira eficiente e eficaz. O surgimento TIC, possibilitado pelo

desenvolvimento das tecnologias, pode ser considerado um importante aliado para que

os conteúdos informacionais produzidos possam ser preservados e disseminados.

5 DISCUSSÃO

Como apresentado, a Curadoria Digital cumpre um papel fundamental referente

à gestão de dados digitais disponíveis em diferentes ambientes informacionais. Desse

modo, as tecnologias digitais fazem parte do da construção do conhecimento científico

na atualidade, pois está presente na organização, preservação e acesso, além de

colaborar de forma pontual com o compartilhamento de dados, influindo na

disseminação de pesquisas (SAYÃO; SALES, 2013).

Ao apresentar que a Curadoria Digital influi no processo de gerenciamento da

informação em diferentes ambientes digitais, e que tal processo reflete diretamente no

compartilhamento da informação, é necessário considerar seu potencial papel na

recuperação e compartilhamento da informação.

143
Como enfatizado, é necessária a busca de meios para que temáticas pouco

disseminadas adquiram maior visibilidade, visto que o conteúdo informacional

produzido pela universidade traz informação aos que dela necessitam.

Conforme aponta Planella Ribera (2006), a produção científica e o acesso a

materiais voltados às temáticas relacionadas à comunidade LGBT, diversidade de

gênero e sexualidade são pertinentes a toda sociedade, e embora discussões acerca

dessas temáticas, nos dias atuais, tenham sido crescentes em ambientes universitários,

na sociedade conteúdos informacionais desses segmentos ainda possuem grande entrave

quanto ao seu compartilhamento, sendo a pesquisa necessária.

Nesse contexto, a aplicação da Curadoria Digital em Repositórios Institucionais

pode contribuir de maneira positiva para que a produção científica no ambiente

convergido seja recuperada de modo eficiente e eficaz, além de possibilitar, por meio da

atribuição de metadados, a escolha de indexadores o melhor compartilhamento de

conteúdos.

6 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS

O presente trabalho encontra-se em estágio inicial e faz parte de uma pesquisa

mais ampla que busca identificar meios para que a produção científica acerca das

temáticas LGBT, diversidade de gênero e sexualidade adquiram maior visibilidade,

tanto no meio acadêmico quanto na comunidade de modo geral.

Desse modo, identificar diferentes mecanismos, ferramentas ou procedimentos

que contribuam para a gestão, armazenamento e compartilhamento da informação

constituem o processo de execução da pesquisa.

A Curadoria Digital, de acordo com o DCC, pode contribuir para que o conteúdo

informacional de ambientes digitais seja mais bem gerido, e seu compartilhamento seja

144
melhorado, podendo ser considerada uma importante aliada na busca de visibilidade da

produção científica convergida nos Repositórios Institucionais.

Os processos de Curadoria Digital, como demonstram Sayão e Sales (2013),

possibilitam que os dados de pesquisa sejam compartilhados e acessados com melhor

eficiência. Podem-se destacar como parte importante desse processo as ações que vão

desde o recebimento ou criação do conteúdo até a transformação que consiste na

recriação dos dados, até a sua adaptação a diferentes formatos.

Ainda referente ao processo de curadoria, o acesso, uso e reuso são etapas que

possuem exponencial potencial de conferir visibilidade às pesquisas, pois tem como

finalidade garantir o acesso ao conteúdo pelos indivíduos que o buscam e envolvem

atividades que possibilitam a promoção de determinadas pesquisas. Dentre essas ações

destacam-se a atribuição de metadados de contextos, escolha de indexadores, entre

outros.

O compartilhamento da informação produzida pelas universidades tem, em tese,

grande impacto social. Em um panorama geral, algumas temáticas ainda possuem pouca

visibilidade e se apresenta a necessidade de estudos para que se tornem mais visíveis.

A construção do conhecimento científico relativo à temática LGBT, diversidade

de gênero e sexualidade, além de ser do interesse de pesquisadores da área, também diz

respeito às transformações sociais necessárias à contemporaneidade. Nesse sentido, a

construção de tal conhecimento é capaz de esclarecer dúvidas, preconceitos, vencer

tabus, criar novos comportamentos, informar para formar opiniões; em suma, exercer o

seu papel na construção de uma sociedade mais igualitária.

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146
14
A UTILIZAÇÃO DO ATOM NA
REPRESENTAÇÃO DA INFORMAÇÃO NA
WEB: UMA ANÁLISE DOS PRINCÍPIOS E
NORMAS DE DADOS ABERTOS
Nandia Leticia Freitas Rodrigues
Lucineia da Silva Batista
Maria José Vicentini Jorente

Resumo: No contexto da produção massiva, cotidiana e praticamente instantânea de


informação, do aumento exponencial dos fluxos informacionais, atrelados ao
surgimento de novas necessidades informacionais dos internautas no ambiente Web, e
da complexidade que envolve os processos de produção, organização, tratamento e
disseminação da informação em ambientes digitais, softwares têm sido desenvolvidos e
aprimorados no intuito de promover melhor assimilação, uso e reuso das informações
pelos indivíduos em sociedade. Nesse sentido, o presente artigo indaga a seguinte
questão: o software AtoM possui características que permitem representar a informação
e publicar conjuntos de dados atendendo aos princípios de dados abertos na Web?. Por
meio da Ciência da Informação e a análise do software AtoM, visando constatar as
possibilidades da sua utilização através da representação da informação no ambiente
Web, buscamos responder o questionamento apresentado. A metodologia aplicada
concentra-se em estudo teórico exploratório da literatura da área e converge à disciplina
do Design da Informação para analisar o design do AtoM em seus níveis de descrição.
Como considerações finais desse trabalho, constata-se que o AtoM atende aos requisitos
necessários para a representação da informação na Web, alguns em sua completude,
outros superficialmente, mas cumpre com o básico para se ter dados abertos
disponibilizados por esse sistema.

Palavras-chave: Dados Abertos. Curadoria Digital. AtoM. Design da Informação.

1 INTRODUÇÃO

A informação registrada tem se tornado um dos maiores bens a circular entre os

indivíduos na sociedade contemporânea. Nesse sentido, a difusão e o acesso aos dados

impacta diretamente na vida das pessoas e, consequentemente, no convívio social. Criar

e otimizar mecanismos que tornem possível a disponibilização de dados abertos à

sociedade, entre muitas outras possibilidades, auxilia o desenvolvimento social, a


147
dinamicidade na resolução de problemas cotidianos e, principalmente, a produção de

novas informações e conhecimentos.

No entanto, se por um lado o compartilhamento de dados e informações

produzidos diariamente pela sociedade e disponibilizado no ambiente Web possibilita

acesso à informação para um grupo cada vez mais amplo de indivíduos, por outro,

apresenta problemas de desinformação, gerados pelo excesso de informações existentes,

pelas dificuldades de lidar com a massiva enxurrada de conteúdos informacionais

diários, além do problema da existência dados desorganizados e carentes de gestão

eficiente para sua apresentação em ambientes digitais da Web.

Lidar com a produção extraordinária de dados é um dos grandes desafios atuais

da ciência moderna. Nesse cenário paradigmático de abundância informacional,

Davenport et al. (2012) salienta que trabalhar com grandes quantidades de dados,

tratando, filtrando, e disponibilizando o acesso ao público é um dos maiores anseios dos

últimos anos.

Os constantes avanços e desenvolvimentos das Tecnologias de Informação e

Comunicação (TIC) têm contribuído significativamente no processo de compreensão

dos dados e sua transformação em respostas reais e práticas para as questões do dia a

dia. Surgem, para responder aos problemas gerados, estratégias de Curadoria em

ambientes digitais que buscam responder também a uma legislação para implementação

das Políticas Públicas de Informação no mundo globalizado.

No que tange às questões de acesso, no Brasil, a Lei nº 12.527 de 2011,

conhecida como Lei de Acesso à Informação (LAI), fez crescer as iniciativas para o

acesso aberto da informação pública aos cidadãos, bem como a criação e investimento

em políticas de acesso à informação. Além da aprovação da LAI, que no artigo 8°

reconhece a necessidade de dados governamentais disponíveis em formato aberto, o país

também se destacou por fundar, com outras nações, em 2011, a Open Government

148
Partnership, da qual participam vários países na construção de um portal para

disponibilizar dados governamentais, de acordo com os princípios de dados abertos,

sendo esses parte da política de acesso à informação do Governo Federal (INDA), de

2012.

O acesso à informação tornou-se, dessa maneira, pela primeira vez no Brasil, um

direito constitucional, fundamental e assegurado pela LAI, que regulamenta “[...] o

direito, previsto na Constituição, de qualquer pessoa solicitar e receber dos órgãos e

entidades públicos, de todos os entes e Poderes, informações públicas por eles

produzidas ou custodiadas” (ASPECTOS GERAIS DA LEI, [s. d]). Assim, no Estado

democrático de direito, após sancionada a LAI, é então legitimado como direito

fundamental que todo e qualquer cidadão tenha contato com os documentos e as

informações públicas. Por conseguinte, o acesso não mais se restringe a somente uma

parcela minoritária de indivíduos, isto é, toda gestão e informação de caráter público

passa a ser acessível e transparente à sociedade em geral.

Como reflexo desse cenário paradigmático, nas Ciências em geral e na Ciência

da Informação (CI), em particular, têm surgido inúmeras pesquisas com enfoques

direcionados a criar mecanismos de Curadoria a partir da atribuição de metadados

estruturais e semânticos que visem descrever, organizar, salvaguardar, preservar e

garantir o acesso e uso dessa crescente massa de dados. A partir delas visualizaram-se,

nesse sentido, sistemas digitais abertos, softwares apropriados para a curadoria, que vêm

sendo internacionalmente desenvolvidos e aprimorados para facilitar todo o trabalho de

organização e representação de dados na Web. São sistemas que convergem e

interoperam, como o AtoM e o Archivematica, que se destacam na área dos Arquivos

em suas três idades, por possibilitar a Curadoria de dados e o acesso a dados e

informação via Web.

Objeto central do presente artigo, o AtoM (convergido ao Archivematica),

149
possibilita o acesso à informação aos internautas, a partir de descrição em níveis,

representação e apresentação da informação via Web. O Archivematica atua sobre os

dados digitais para a sua preservação, com autenticidade e confiabilidade que garantem

o acesso por longo tempo. Por conseguinte, a problemática do artigo se constrói a partir

da indagação: o software AtoM possui características que permitem representar a

informação e publicar conjuntos de dados atendendo aos princípios de dados abertos na

Web? Em resposta, exploramos as possibilidades do software no cumprimento dos

princípios de abertura de dados. Esse sistema auxilia na organização da informação e

interopera com o Archivematica no armazenamento de dados para a disponibilização de

informação no ambiente Web, tendo em vista as convergências de normas,

interoperabilidade, descrições multiníveis, multilíngue, design simples e a promoção de

acesso e difusão de dados.

2 O COMPARTILHAMENTO DA INFORMAÇÃO NA WEB E O ACESSO

ABERTO

No intuito de promover e assegurar a transparência pública e a democracia,

muitos países têm aprovado Leis de Acesso à Informação Pública. No Brasil, a Lei nº

12.527, conhecida como Lei de Acesso à Informação (LAI), após 23 anos de discursões

e tramitações entre o Senado e a Câmara, foi aprovada em 2011 e sancionada em 2012,

tornando-se o 90º país a sancionar a Lei de Acesso (JARDIM, 2012). Com a

implementação da LAI, o acesso aos dados públicos passa a ser um direito

constitucionalmente garantido aos cidadãos, e a partir de então a divulgação dos dados

públicos torna-se uma obrigatoriedade às organizações públicas, e o acesso às

informações vêm sendo constantemente solicitado pela sociedade (ABDALA;

NASCIMENTO, 2012).

150
No ano de 2016, segundo informações disponibilizadas no portal da

Controladoria-Geral da União (CGU), observam-se resultados positivos com a

implantação da Lei, visto que, segundo levantamento da CGU, o Portal de

Transparência do Governo Federal obteve 21,6 milhões de visitas, o que demonstra um

avanço significativo no que tange à busca e acesso à informação pública, após a

implementação da LAI.

Segundo Abdala e Nascimento (2012), o acesso à informação pública é um dos

pilares fundamentais para a efetivação de uma democracia plural e participativa. A LAI,

segundo os autores, “é uma ferramenta concreta para a construção da cidadania

participativa no Brasil, obtida por meio da transparência das informações.” (ABDALA;

NASCIMENTO, 2012, p. 1). A utilização cada vez mais crescente de instrumentos e

iniciativas voltadas a promover o acesso possibilita dar visibilidade e acessibilidade às

informações públicas, fazendo com que o cidadão se mantenha informado sobre as

ações desempenhadas no âmbito da administração pública, podendo avaliar

posteriormente as ações dos governos, propiciando o desenvolvimento de

conscientização política e de produção de conhecimento.

Nessa perspectiva, Hendges e Sliwka (2013) defendem que o aumento do

compartilhamento da informação no ambiente Web e, consequentemente, as

possibilidades do acesso aberto e do uso dos dados públicos pela sociedade, sem

limitações legais, respaldados pela LAI, contribui significativamente no processo de

promoção da transparência pública. No entanto, mesmo com os resultados positivos da

aplicação da LAI, um empecilho ao acesso à informação ao cidadão muito recorrente

ainda é a falta de zelo e tratamento dos dados para a disponibilização e acesso,

sobretudo no ambiente Web. Para que a demanda de informações seja atendida e as

informações cheguem ao cidadão de forma satisfatória, é necessário que  sejam

organizadas, conservadas, e representadas de forma eficiente e eficaz na Web.

151
No âmbito da CI, muitos estudos têm surgido no intuito de debater questões

pertinentes à LAI e o acesso à informação. Jardim (2012), em seu estudo A Lei de

Acesso à Informação Pública: dimensões político-informacionais, discorre sobre a

transparência, regulamentação e implementação da LAI em cinco Estados brasileiros

(Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul), no tocante às

políticas públicas arquivísticas e governamentais e às questões envolvendo o acesso a

essas informações governamentais. E segundo considerações do autor, “A LAI supõe

uma ordem informacional que está longe de existir no Estado brasileiro” (JARDIM,

2012, p. 3). No entanto, nos dias atuais, (cinco anos após sancionada a LAI), essa

realidade tem sofrido modificações significativas, sobretudo no aumento do interesse

dos cidadãos em acessar as informações públicas, embora a implementação da LAI

ainda falhe na evidente carência de maturidade técnica na disponibilização de dados

governamentais, e a resistência por parte de algumas organizações do país a aderir às

especificações da LAI.

Observa-se, na CI, um leque cada vez mais crescente de pesquisadores da área

que se debruçam sobre temática da LAI, principalmente no que tange à LAI na prática

arquivística, sobretudo na gestão da informação governamental, curadoria e os

procedimentos técnicos para disponibilização de dados no ambiente Web. Citemos

como exemplo os estudos de Jardim (2012, 2013) sobre a gestão da informação

arquivística governamental, Konrad e Rocha (2013) abordando a conduta dos

profissionais da informação frente à LAI, Medeiros, Magalhaes e Pereira (2014) sobre a

aplicação da LAI em busca da transparência pública frente ao problema da corrupção,

entre muitos outros estudos que contribuem significativamente para o enriquecimento

da discussão do tema.

Os procedimentos técnicos envolvendo o tratamento e gestão dos dados a serem

disponibilizados ao acesso, no contexto arquivístico, são característicos do paradigma

152
tecnicista, patrimonialista, custodial e moderno. Esse modelo envolve questões práticas

e técnicas da CI voltadas à organização da informação, pois “a prioridade estava na

guarda do património cultural incorporado e acumulado e não no acesso ou na difusão

plena” (RIBEIRO, 2010, p. 65), o que, segundo Ribeiro (2002, p. 2), “significa uma

predominância da guarda e preservação da informação, enquanto o acesso estava

relegado ao segundo plano”.

Segundo alguns estudos desenvolvidos por Cook (1993), Silva (2002) e Ribeiro

(2005), entretanto, esse modelo entra em colapso com denominada revolução

tecnológica, em que se questiona o documento, objeto de estudo da CI. Contudo,

Ribeiro (2002) salienta que o paradigma custodial - também entendido como um

modelo francês, por ser oriundo da Revolução Francesa, que propiciou a abertura de

bibliotecas e arquivos públicos ao acesso da população em geral, ainda é predominante

na maioria das situações.

O modelo custodial, na visão desses autores, deve ser, e já foi, ampliado,

abordando o acesso à informação, o que no modelo anterior ficava em segundo plano.

Nesse sentido, não houve um rompimento de paradigmas, e sim a continuidade do pós-

custodial em relação ao precedente. Assim, há que se considerar que, se para possibilitar

o acesso contínuo à informação, é necessária sua preservação a longo prazo, a

preservação fundamenta-se pelas necessidades e direitos ao acesso, que dela depende

para garantir a sua disponibilidade ao longo do tempo na Web.

Em contra partida, o paradigma denominado pós-custodial, também conhecido

como pós-moderno ou de acesso, conflui para o consenso de que o objeto de estudo da

CI seja a informação, e não somente o documento. As unidades de informação - termo

usado para definir instituições que lidam com informação, como Bibliotecas, Arquivos,

Museus e Centros de Documentação - ao se depararem com o paradigma pós-custodial,

imposto pela realidade digital, encontram grandes desafios, pois segundo Canclini

153
(1998), a modernidade não ocorreu como um todo e não alcançou todos os níveis da

sociedade e cultura global7.

Em uma pesquisa realizada no ano de 2014 por pesquisadores do LADRI 8

(Laboratório de Design e Recuperação da Informação), a partir de um projeto PIBIC

(CNPq) de 2014 que tinha por objetivo pesquisar a realidade dos Arquivos Permanentes

de municípios brasileiros com mais de 100.00 habitantes - portanto sujeitos à

determinação de abertura pela LAI - na Web, demonstrou-se que, de 180 municípios,

apenas 23 contavam com algum tipo de Website. Em relação aos conteúdos

disponibilizados, por outro lado, nesses ambientes disponíveis, existiam inúmeras

carências - quanto à representação da informação e aos instrumentos de busca e

pesquisa - que limitavam o acesso ao inventário do acervo da instituição.

Ainda nessa perspectiva, porém em contexto um tanto mais amplo, segundo um

estudo global recentemente produzido pela Business Software Alliance (BSA, 2015)

intitulado What’sthe Big Deal With Data?, constatou-se que aproximadamente 2,5

quintilhões de bytes de dados são criados todos os dias no mundo. Porém, grande parte

desses dados não está disponível, e tampouco estruturado para o acesso ao público.

Observa-se de maneira notável e geral uma carência no atendimento aos

requisitos de complexidades operacionais, de recuperação, integração, disseminação,

intercâmbio e interoperabilidade entre sistemas, princípios estes fundamentais para a

construção de um sistema informacional que contemple com excelência as demandas

informacionais dos indivíduos que buscam informações nestes ambientes.

Em resposta a essas necessidades, seguindo a perspectiva de ampliação do

acesso à informação, ambientes e softwares têm sido desenvolvidos e aprimorados no

7
Em muitos casos, isso significa entrar na pós-modernidade, ou até mesmo na denominada Sociedade da
Informação, sem antes ter passado pela modernidade, o que se constitui em problemática não tratada neste
artigo e que deve ser tratada em outra ocasião, complementarmente.
8
Trata-se da pesquisa realizada, com fomento do CNPq, pelas bolsistas: Anahí Rocha Silva, Solene Dal
Evedove e Talita Cristina Silva, intitulada: A disponibilização da Informação em Websites de Arquivos
Públicos Permanentes no Brasil.
154
intuito de otimizar a disponibilização de dados a partir da sua estruturação para melhor

representação da informação no ambiente digital. O estudo destes softwares e ambientes

torna-se, portanto, uma importante tarefa dos profissionais da informação e da CI em

particular, no sentido de contribuir para uma fruição da sociedade e cultura

contemporâneas.

3 DEFINIÇÕES, NORMAS E PRINCÍPIOS PARA A CONSOLIDAÇAO DO

ACESSO ABERTO POR MEIO DO ATOM

Nota-se que a abertura dos dados ao acesso pela sociedade é um movimento que

vem ganhando significativa força nas ultimas décadas. Segundo Machado (2015, p.

201), “Há 23 anos, surgia o arXiv.org, que hoje reúne quase 1 milhão de trabalhos,

principalmente das áreas de física, matemática, ciência da computação, estatística [...]”,

e que é um repositório  eletrônico que reúne e disponibiliza na Web artigos e pesquisas

de diversas áreas do conhecimento com acesso gratuito e livre da informação aos

usuários.

A Declaração de Budapeste, ocorrida em 2002, é reconhecida

internacionalmente como o marco inicial do movimento do Acesso Aberto, onde o

termo acesso aberto foi mencionado pela primeira vez no documento intitulado

Iniciativa do Acesso Aberto. Contudo, a definição de dados abertos ocorreu

efetivamente em 2007, a partir do estabelecimento de oito princípios que vieram,

segundo Machado (2015, p. 201) “[...] dar mais força ao processo de abertura de dados e

à ampliação dos usos e reusos da informação [...]”.

De acordo com a Open Definition (2007), Dados Abertos são: “[...] dados que

podem ser livremente utilizados, reutilizados e redistribuídos por qualquer pessoa –

sujeitos, no máximo, à exigência de atribuição à fonte original e ao compartilhamento

155
pelas mesmas licenças em que as informações foram apresentadas”. Diz respeito à

abertura dos dados, e à disponibilização de dados e conteúdos de forma livre para o

acesso e uso de qualquer pessoa.

A definição de abertura de dados implica em três propriedades essenciais que

fundamentam a publicação de dados em formato aberto, as quais são: disponibilidade e

acesso; reuso e redistribuição e participação universal. A disponibilidade e o acesso

referem-se à disponibilidade completa aos dados, com possibilidade de download; o

reuso e redistribuição são termos de permissões favoráveis, reutilização e redistribuição;

e a participação universal refere-se à possibilidade de qualquer pessoa fazer uso,

reutilização e redistribuição dos dados (OPEN DATA GOVERNMENT WORKING

GROUP, 2007).

Além da definição de Dados Abertos e das três características fundamentais dos

dados abertos, o OPEN Data Government Working Group definiu também um conjunto

de oito princípios a serem seguidos para que os dados possam ser considerados abertos,

os quais são: Completos, Primários, Atuais, Acessíveis, Processáveis por máquina,

Nao-discriminatórios, Não-proprietários e Livres de Licenças. Segundo o OPEN

Data Government Working Group (2007), os princípios de dados abertos e suas

características são:

O primeiro princípio diz respeito à sua completude – Completos - refere-se à

necessidade de todos os dados públicos, não restritos de privacidade e segurança,

estarem disponíveis para acesso do público em geral.

No segundo princípio – Primários –os dados devem ser provenientes da fonte

geradora e ser exaustivamente detalhados, coletados na origem, sem modificações ou

formas agregadas;

No terceiro princípio – Atuais - os dados devem estar disponíveis, o quanto

antes, para que seja preservado o seu valor. Quanto mais atual mais útil será para o

156
usuário.

No quarto princípio – Acessíveis - a disponibilidade dos dados deve ser para um

público variado, amplo e para diversos fins.

No quinto princípio – Processáveis por máquina - os dados necessitam estar

estruturados, para que sejam processados de forma automatizada;

O sexto princípio – Não-discriminatórios - pressupõe garantia da acessibilidade

à informação sem restrições, como por exemplo, a exigência de registro para o acesso

aos dados;

O sétimo princípio – Não-proprietários - refere-se ao uso de softwares que não

tenham controle de entidade, isto é, que sejam softwares livres;

No oitavo princípio – Livres de Licenças - os dados devem ser livres de direitos

autorais, regulamentos ou qualquer tipo de restrição de autoria, salvo os dados que

necessitam de privilégios, restrições e segurança.

No que tange aos softwares e sistemas de descrição e representação existentes,

acredita-se que algumas barreiras técnicas ainda devem ser superadas para atender com

excelência a esses oito princípios dos dados abertos, embora percebam-se os constantes

avanços das TIC a sanar os problemas contemporâneos informacionais.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

No contexto arquivístico, o AtoM (Access to Memory  ou Acesso a Memória),

como sistema de descrição arquivística, de representação e apresentação da informação

no ambiente digital, foi criado com base nas normas arquivísticas internacionais, para

permitir a disponibilização das informações na Web, e destaca-se por ser uma

alternativa às instituições públicas que desejam estar em conformidade com a LAI e

outras leis, normas e políticas de acesso à informação, transparência pública e abertura

dos dados.
157
O software AtoM utiliza-se de metadados arquivísticos para representar e

apresentar a informação e caracteriza-se por:

a. Ser um software de fonte aberta (open source), livre e gratuito, o que torna

possível ser utilizado por qualquer instituição pública ou privada, arquivística ou

não;

b. Estar em beta perpétuo, o que permite que o seu design seja atualizado e

aperfeiçoado com a colaboração e o feedback da comunidade que o utiliza;

c. Ser multilíngue, com a possibilidade de alterar sua interface para outras línguas,

como inglês, espanhol dentre outras que o administrador do sistema definiu para

ser traduzida;

d. Ser multi-repositório, com a aceitação e agregação de descrições de outras

instituições em seu sistema, como tem sido feito pelo Arquivo Nacional do

Brasil.

O desenvolvimento do AtoM se deu por meio da utilização de várias linguagens

e ferramentas de código aberto e software livre, tendo sido finalmente disponibilizado

com a licença da A-GPL - General Public License (Licença Pública Geral), o que

implica ser editável gratuitamente e utilizado para qualquer finalidade: estudado,

aperfeiçoado, modificado e redistribuído (modificado ou não).

Em nossa análise, observa-se que o software AtoM possui características muito

próximas ao que é proposto pelos princípios e políticas de dados abertos, apresentando

vários instrumentos tecnológicos convergentes a serem utilizados na organização e

armazenamento de dados. Principalmente considerando que o objetivo dos princípios de

dados governamentais abertos é a sua utilização para classificar de forma individual

cada conjunto de dados disponíveis ao acesso no ambiente Web, e o AtoM possibilita a

descrição e representação de dois ou mais conjuntos disponíveis com diferentes

classificações.  Nesse sentido, realizou-se uma exploração do sistema em relação aos

158
oito princípios de dados abertos e como podem ser atendidos por esse software.

Primeiro princípio: Completos. Dados públicos são aqueles que não estão

sujeitos a restrições de privacidade, segurança ou privilégios de acesso. Todos os dados

públicos devem ser disponibilizados.

A informação no AtoM pode ser disponibilizada de forma multinível, o que pode

dar o acesso completo à informação no ambiente digital. A descrição pode ser geral, isto

é, somente dos fundos arquivísticos preservados pela instituição, ou mais especifica, até

os itens documentais, o que garante o acesso efetivo de toda a informação para a

sociedade. Esse processo de descrição pode ser realizado no arquivo permanente, ou até

mesmo a partir do corrente, desde que se tenha uma boa gestão documental. Contudo,

para visualização dos documentos, que ainda são produzidos nas instituições públicas

em formato papel, é necessário que sejam digitalizados e preservados em um sistema

que tenha todos os requisitos necessários de preservação, como por exemplo, o

Archivematica.

O Archivematica é um sistema de preservação da informação arquivística que se

baseou, tanto na estrutura quanto no funcionamento, no modelo OAIS (Open Archival

Information System), e agrega vários padrões para a preservação, como o Mets, o

Premis, o Dublin Core, o da Biblioteca do Congresso especificação BagIt e outros

padrões. Normas estas que garantem a integridade, a autenticidade, a confiabilidade e a

preservação digital dos dados. O Archivematica também utiliza-se de software,

ferramentas e linguagens livres, de código aberto. Destaca-se por haver transparência

informacional em todas as atividades em que o documento é submetido dentro do

sistema. É possível, assim, visualizar todo o procedimento de preservação digital. Após

o tratamento, gera-se um pacote DIP (Pacote de Informação de Disseminação) linkado

ao AtoM, para que reproduza a imagem do documento digitalizado ou digital.

A convergência entre os sistemas AtoM  e Archivematica faz-se necessária para

159
a garantia de acesso a longo prazo, o que depende da existência de recursos de

preservação e pelo fato de o AtoM ser voltado ao acesso (sem o tratamento de

preservação) no sistema. Por outro lado, ao fazer o upload de grande quantidade de

documentos para o sistema por meio do AtoM, ele se torna lento no processamento da

informação.  

Segundo Princípio: Primários. Os dados devem ser coletados na fonte, com o

maior nível de detalhamento possível, e não de forma agregada ou modificada. Os

documentos arquivísticos, por si só, são considerados fonte primária, oriundos das

atividades de uma instituição. Ao utilizar o AtoM, possibilita-se que os documentos

sejam descritos e representados com o máximo  de informação possível referente ao

item (o que dependerá, por outro lado, das competências do profissional da informação

que irá descrever os documentos no sistema).

Terceiro Princípio: Atuais. Sua disponibilidade deve ser feita tão rapidamente

quanto necessária para preservar o valor dos dados. Neste sentido, a descrição e

disponibilização dos dados no AtoM pode ser aplicável no Arquivo Permanente e

também nas fases anteriores - corrente e intermediária - o que necessitará de um

controle e gerenciamento. O sistema informa ao indivíduo em que fase se encontra,

mesmo não disponibilizando o documento gerado e descrito no AtoM, e garante,

portanto, a transparência pública, sem contar com a possibilidade de controle

administrativo.

Quarto Princípio: Acessíveis. Os dados devem estar disponíveis para a mais

ampla gama de usuários e as mais diversas finalidades. Uma vez publicado no AtoM,

qualquer indivíduo poderá ter acesso à informação sem a necessidade de identificação.

O sistema possibilita às pessoas visualizarem e baixarem (download) o documento.

Quinto Princípio: Processáveis por máquina. Os dados devem ser

razoavelmente estruturados, de modo a permitir o processamento automatizado.

160
Machado (2015, p. 218) entende que o sistema, por utilizar o formato PDF:

Os dados precisam ser corretamente codificados para que possam ser


amplamente utilizados [...]. Deve haver documentação sobre o formato e a
codificação dos dados, assim como os significados de cada um dos itens para
que os usuários possam conhecer o sentido e o contexto dos dados.

Os pesquisadores Isotani e Bittencourt (2015), entretanto, apresentam um

esquema de cinco estrelas em que é possível ocorrer a abertura de dados; segundo essas

estrelas:

A única exigência para que o dado seja considerado aberto é que os dados
sejam disponibilizados com licenças abertas. Mesmo um documento sendo
publicado em PDF ou PNG, se ele utiliza uma licença aberta, então pode ser
considerado um dado aberto. (ISOTANI, BITTENCOUT, 2015, p. 47)

O AtoM, além do uso do PDF9 – formato proprietário - utiliza-se de metadados

para que o documento possa ser bem representado no ambiente digital, bem como de

ontologias por meio da construção de vocabulário controlado para possibilitar o acesso à

informação, mesmo que esse ainda seja trabalhado de forma apenas sintática.

Além disso, o AtoM também se utiliza do Dublin Core, EAD, EAF, EAC e

SKOS para que as páginas possam ser representadas, de acordo com suas

especificidades. O Dublin Core auxilia na interoperabilidade dos dados, uma vez que é

composto por um conjunto de metadados gerais que descrevem a página Web; a EAD

(Encoded Archival Description), é baseada no esquema Dublin Core, representa,

codifica, exporta e importa as descrições arquivísticas; A EAF é um padrão que realiza

as mesmas atividades da EAD, porém, é voltada para registros de autoridades; a EAC,

semelhante às anteriores, diferencia-se por ser utilizada para funções arquivísticas; e o

SKOS (Simple Knowledge Organization System) é usado para a construção de

Thesaurus, esquemas de classificação, listas de títulos de assuntos e Taxonomias, e no

9
Segundo a Adobe Acrobat DC, criadora do formato PDF, este agora é um padrão aberto mantido pela
International Organization Standardization (ISO). No entanto, a norma ISO 32000-1 alega que o
cumprimento desse formato pode conter uso de patentes relativas à criação, modificação, exibição e
processamento de arquivos PDF. Disponível em:
<https://www.loc.gov/preservation/digital/formats/fdd/fdd000277.shtml>.
Disponível em: <https://acrobat.adobe.com/br/pt/why-adobe/about-adobe-pdf.html>.
161
AtoM auxilia na importação e exportação de XML do vocabulário construído.  Mesmo

que não sejam estruturados semanticamente, há indícios da possibilidade de construção

de semântica no sistema, ainda que superficial. O que se acredita serem processáveis

por máquinas.

Sexto Princípio: Não discriminatórios. Os dados devem estar disponíveis para

qualquer pessoa, sem necessidade de registro. O AtoM permite que a informação seja

acessada gratuitamente, e não exige a identificação, cadastro ou qualquer tipo de

exigência nesse sentido. Uma vez publicada, qualquer pessoa poderá acessar a

informação, pois estará disponível na Web de maneira aberta.

Sétimo Princípio: Não-Proprietários. Os dados devem estar disponíveis em um

formato sobre o qual nenhuma entidade tem o controle exclusivo. O AtoM, por ser um

software livre, gratuito e open source, garante que a informação será acessada

gratuitamente, sem a necessidade de se pagar para mantê-la.  De acordo com Machado

(2015, p. 219):

Quando uma empresa produz o programa que é necessário para que um


arquivo onde dados armazenados podem ser lidos, o acesso do usuário a tais
informações passa a ser dependente do programa. O uso de formato
proprietário cria a possibilidade de o programa estar disponível ao público
somente mediante a cobrança de um determinado valor.

Sobre o desenvolvimento do sistema AtoM, este foi desenvolvido por uma

empresa, porém, de maneira conjunta e consensual com organizações importantes como

a UNESCO e o ICA (Conselho Internacional de Arquivos). O grande investimento na

construção do AtoM resultou em um sistema de qualidade que pode ser utilizado por

qualquer instituição pública, gratuitamente, atendendo às políticas de acesso à

informação, de dados abertos e, também, no Brasil, a LAI.

Oitavo Princípio: Livres de Licenças. Os dados não estão sujeitos a quaisquer

direitos de autor, patentes, marcas comerciais ou regulamento secreto. Pode ser

permitida uma razoável privacidade e restrições de privilégio e segurança.

162
Por se tratar de um sistema flexível, o AtoM dispõe de uma área voltada para

utilização de licenças no objeto digital, por exemplo Creative Commons. Geralmente,

estes recursos são utilizados em Bibliotecas, para proteção dos direitos dos autores. Em

instituição arquivística, dependendo da informação, a licença é obtida mediante a

permissão do autor, doador, ou instituição responsável. No AtoM, há campos de

metadados que orientam questões sobre reprodução do objeto informacional.     

Segundo Machado (2015), o uso de licenças livres é importante para que os

direitos sejam garantidos, bem como a liberdade e princípios dos dados abertos.

Entende-se que o autor critica o tradicional, que ainda se utiliza do Copyright, e

esclarece que há uma tradução equivocada desse princípio, pois os "[...] dados precisam

estar protegidos com algum tipo de licença para que não sejam apropriados por outra

parte que venha restringir a cadeia de inovação com base nessa informação" (2015, p.

220). Nesse sentido, o autor trabalha no contexto biblioteconômico, apresentando o que

pode acontecer quando a informação não tem nenhuma proteção legal.

A partir da análise do software AtoM e das características existentes nos oito

princípios de dados governamentais abertos, constata-se que o AtoM possui as

características necessárias para a publicação de conjuntos documentais, atendendo aos

princípios de dados abertos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do exposto, há que se considerar o grande potencial do AtoM em relação

aos dados abertos, ao permitir a realização de descrição e representação de dados no

ambiente Web e inclusive a gestão, armazenamento e preservação os dados a partir da

interoperabilidade estabelecida com o Archivematica, possibilitando que todo cidadão

possa ter livre acesso à informação disponibilizada nestes ambientes. Nesse sentido,

163
muito mais que somente dar acesso, o sistema AtoM permite que a informação seja

organizada, classificada e descrita em vários níveis e grupos, viabilizando a

disponibilização da informação de maneira íntegra, clara e transparente para o

indivíduo.

No que se refere aos princípios, constata-se que o AtoM atende a todos os

requisitos, alguns em sua completude, outros superficialmente, mas cumpre com o

básico para se ter dados abertos disponibilizados por esse sistema. Percebe-se, também,

que o AtoM prepara os dados para uma realidade futura na Web, a Web semântica, em

que esses serão interoperáveis, conectados, estruturados e compreendidos por máquinas.

O AtoM destaca-se por sua característica de acesso à informação, principalmente

em tempos pós-custodiais, considerando que o desenvolvimento humano, social,

econômico, político e intelectual é dependente da disponibilidade de dados.  Trata-se de

um software de descrição arquivística desenhado especificamente para a Web, que

funciona com sucesso nesse ambiente. Os multiníveis do AtoM permitem que os dados

dos documentos descritos atendam significativamente às normas que fundamentam a

abertura dos dados, atendendo portanto, aos oito princípios básicos. Ao permitir a

representação e acesso à informação livre e gratuita aos indivíduos no ambiente digital,

o AtoM pode ser visto como o ponto de partida para que as instituições comecem a se

adequar para a produção de dados abertos no mundo digital.

Neste sentido, sugere-se, finalmente, como parte das considerações desse estudo,

maiores aprofundamentos, tendo em vista que as colaborações advindas de novas

pesquisas poderão ser recebidas e incorporadas pelas equipes responsáveis pelo

desenvolvimento contínuo do software AtoM e suas potencialidades.

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