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Personagens:
- Vazio
- Harpia SF
- Helminto
- Damas SF
- Artista
- Narrador
- Coruja Louca
Início:
Narrador chega á clareira onde há uma placa: “histórias ao Luar – Criadores e Criaturas
- HOJE”, olha ao redor da fogueira e vê o espaço vazio.
Percebe uma coruja empoleirada numa árvore ao fundo, observando-o.
Seu reconhecimento mútuo dura um bom tempo, e o Narrador percebendo a alegoria,
se empertiga.
E conta histórias à noite, para ninguém.
- Coruja Louca:
O Artista...
...e sua Engenhoca!
Já mirabolava troços, muito antes do Artista saber que era um Artista...
Planos Rascados, Rimas Desencontradas, Novelos de Novelas;... e Tramas!
Ah... Tramas... – adoro as Tramas, eu Ás prefiro!
- Narrador:
Quanto mais a Febre do Artista aumentava, menores ficavam suas unhas.
Era só a Engenhoca forçar um pouco as engrenagens, e zás, lá se iam mais alguns
nacos de unha.
E mais alguns. Mais ainda...
Outros.... Ahhhhh!
...
Sorte é que a Engenhoca do Artista não usava óleo, ao menos não sempre, - porque o
preço do óleo que poderia ser usado nela andava pela hora da morte... - portanto, os
destranques necessários às peças, eram feitos com Fumaça!
...
Justo num desses verdes leves que dão tons à bruma,
incoerente,
surgiu o Azul!
E a Engenhoca do Artista “geringonçou”:
Bordô!
- Coruja Louca:
Foi um grito de parto!
Enredo de laço.
Enraizou.
Segunda Parte:
Num quarto bagunçado por livros, guimbas e cinzas, com uma mesa de madeira velha,
uma cadeira e um banquinho – usado como mesa, jovem se digladia com uma questão
intelectual.
- Artista: (falando sozinho com bloco de notas na mão)
“Bordô, bordô...
Borderô bordô!”
- Narrador:
Aquelas palavras argutas não o deixavam desde que... [aí então]
... ele levou outra vez a mão até a boca e parou.
Como numa fotografia, a imagem revelara-se naquele instante, capturada ao
contrário.
Seu pensamento então soube; Quem era aquela figura... e A palavra...
... o que buscava, e porque!
- Artista:
“Vazio!
Se chamará, Vazio...”
- Coruja Louca:
Veja isso, veja muito bem!
- Narrador (sentimental):
É um vício tão tocante, que afunila.
- Coruja Louca:
Vê!?
Percebe o brilho estranho que ele traz nos olhos quando pensa no Vazio?
Não é amor... não é dor... os olhos do Artista brilham de melancolia.
- Narrador:
Tragando fundo essa ideia, o Artista ‘Agoreia’ os Depois, e vai despindo-a. – A ideia!
Sobre esse: Não: não-hetero, Não mulher, Não afrodescendente, Não humilde, Não
humano, Não AMOR!
Tanto procurou, encontrou!
O Vazio.
E sua fome.
Terceira Parte:
Branco.
Tudo imaculadamente branco, incluso a mesa, os pratos. Talheres prateados, garfo e
faca. O que está no prato não é visível da (câmera/plateia), mas, Vazio está comendo e
rejeitando, como se não fosse o que quisesse comer.
- Narrador:
Destacadas as escuras lentes de ‘No Lennon’
(o Vazio, Invisível) via Coronário,
dava-se Abertamente a uísques e charutos.
Já sem boca, perdida em meio à barba branca
[tão preta],
e sem Universo a qual se conectar,
tragava e cuspia,
Vazio, descontente.
- Narrador:
Clique... Estalagmite..., tite. E pronto!
Surge do Vazio, um arsenal de medo para Inocentes.
Qual caverna... inumana.
...
O que me lembra a Elza...
- Coruja Louca:
Ella?
- Narrador: (retorquindo)
Ela? Ela quem?
- Coruja Louca:
Fitzgerald!
- Narrador:
Não... A Soares.
...
Se bem que a valha...
- Coruja Louca:
Ah, é?
- Narrador:
É...
Não é!
- Coruja Louca:
E qual é?
- Narrador:
A fêmea!
Quarta parte:
Num covil de nauseantes obscenidades, o Vazio surge por detrás da fumaça de seu
charuto interminável, agora de ponta da Ponta Cabeça; ou: Ao contrário do Cabeça pra
Baixo, tanto faz; De qualquer forma, agora não mais ostenta a barba, mas jubila-se em
cabelos, branquinhos, da cor do vazio. – assim mesmo, em minúscula!
- Vazio: (pensando)
“O Amor das Damas, deveras atado;
A Sensibilidade das Damas, em pelourinho;
A Vontade das Damas, silenciada e impedida/e a contragosto levada.
E nada, nada me sacia...”
(virando-se para Helminto, ordena)
Sangre!
- Coruja Louca:
Peraí,... Euminto?
- Narrador:
Sim. Mas, HeLminto.
- Coruja Louca:
H-E-L- MINTO...
Helminto porque, afinal?
- Narrador:
Verme...
Nemate, Plate do Artista!
- Coruja Louca:
Hã?... Qual Verme? Do Artista? Mas ele não estava...Hãã??
- Narrador:
Shhhhhhhh! ( se dirigindo a Coruja e depois voltando a narrar)
Logo, perturbado pelo medo e admiração que sentia pelo Vazio, Helminto...
- Helminto: (perturbado pelo medo que sente do Vazio, joga a Vontade das Damas
num ‘altar de improviso’)
“Só o que me lambuzar, dessa vez, ãhn? Que tal senhor? Apenas para vislumbrar Sua
Graça...”
- Vazio:
“Helminto, Helminto;
Sempre é, para mim, o mais saboroso manjar! Mas busco ainda a perfeita iguaria!
A peça que, preparada ao ponto, será o espaldar da bandeira da Fome de quem come,
contra a Carne barata de quem, Sê comida!”
- Helminto: (precariamente dissimulando)
“Nem eu busco, melhores ‘cóóórtes’ para me banquetear... Quero apenas a satisfação
total, de Sua plena satisfação, senhor;”
- Vazio: (acena autorizando Helminto ao carneio, donde então espirra sangue e ele, com ordens de
Vazio, se lambuza miseravelmente. Segundos depois Vazio continua )
“ Ainda existe uma chance; A derradeira aposta... entre Verdade e Luta, das Damas!
...
A Luta e a Verdade. A Verdade e a Luta. Duas Damas opostas e complementares!”
(fala divagando... e, virando-se de chofre, e frente a frente com a escolha – Helminto segura as
fotografias com as opções, gozando com doentios olhares, o prêmio – sagrado – a ser profanado logo...
a Mala.)
“Ahh, essa é a verdadeira e única escolha, Helminto Errante, visto que é... a Última!”
(calmamente, mas com leve tremor, Vazio escolhe a fotografia da Luta das Damas. )
- Narrador:
Singra no olhar azul, do Vazio, a angústia de suas ‘imposses’;
Repostas as lentes, volve impávido, tomando seu caminho da espera.
- Coruja Louca:
Pra onde vai o Vazio?
- Narrador:
Para seu Reino!
- Coruja Louca:
E que faz ele, em seu Reino?
- Coruja Louca:
Que pode haver naquela Mala, para causar tamanha comoção no olhar Predador...
predado... perdido, de Helminto?
Quinta parte:
Usando o artifício da Importância, o verme (para você: Helminto) atraiu a Harpia.
Frente a frente naquele “altar de improviso” – com a Mala nele encimada - Helminto e
Harpia se encaram e trocam informações mudas.
- Narrador: (crescente)
Tal e qual a fábula onde o ratinho dá ordens ao leão, Helminto orienta a bastarda e
carnicenta Harpia lhe fazendo saber o objeto da caça.
De cantos ensanguentada, a imagem da fotografia é ainda nítida, como o aroma da
postiça unha A...
- Narrador:
...zul! (baixando o tom e olhando Coruja Louca)
Postiça Unha AZUL!
O aroma vinha, da postiça unha AZUL, que Helminto entregava Agora, para a Harpia.
- Coruja Louca:
Ahhhh...
- Narrador:
Porém, ave agourenta, tens razão!
Antes de falar da postiça unha Azul preciso voltar ao Artista, e seu Universo Bordô...
- Coruja Louca:
E então? Prossiga!
- Narrador: (primeiro: irritado com interrupção, depois feliz em saber que o conto está agradando a
Coruja, e logo, confidenciando – em caretas muito rápidas )
E nem sabes do melhor, sobre as Damas: Luta e Verdade...
...
...elas é que bruxearam a obsessão da Harpia!..
...tonta ave, qual o coxo: agiu como se previa:
...
Tocou com sangue a rosa Azul, num erro em fim de tarde.
- Artista: (voltando do devaneio e anotando tudo de uma vez, como uma enxurrada )
“...naquele fim de tarde, a Harpia cometeria o erro de usar a rosa Azul para marcar o
alvo errado.
Traída pelo cheiro, plantado pela Verdade das Damas...
Caíra na armadilha...
Para seguir na eterna busca de sua honra há tanto perdida, qual o coxo, ainda antes de
anoitecer a Harpia adentrou ao Saloon...
Lá a Vida, incongruente, buscava embelezar-se no balcão.”
- Narrador: (ironizando)
Frente à Luta das Damas, a batalha da Harpia
– dizem – fora rápida. Dizem,
ter virado prato de alta freguesia!
- Narrador:
Nelson Rodrigues;
- Coruja Louca:
Seu Zé!...
...
... deixa pra lá.
Quero a verdade!
Diga-me, o que aconteceu de fato,
o que se deu... o que sobrou da Harpia?
Sexta parte:
Branco. Tudo imaculadamente branco, incluso a mesa, os pratos. Talheres prateados,
garfo e faca. O que está no prato não é visível da (câmera/plateia). Mas Vazio está
comendo e Glorificando.
- Narrador:
O Vazio andava ansioso.
Daquilo tudo que ele não É!
Perpétua busca, de tomar dos outros,
aquilo que só se origina da Fé.
...
Cuidado de quem busca,
é o de não Ver, só o que se quer...
...
Ver.
- Narrador:
Paradoxal a tristeza, nos olhos de um Vazio vencido.
...
O prato? Circundo de postiças, Unhas, Azuis.
Ausentes de suas Fêmeas, e de si mesmas...
Porém, Verdade e Luta, que aqui compus,
as quais semeio de mim?... Ah, Floresças!
...
...
Quanto a você Coruja, já passa de sua hora...
Vá! Vá agora.
Siga o meu conselho...
(diz olhando para a Coruja que vai saindo, ainda enjoada. Depois Narrador olha outra vez pra
[câmera/plateia])
*Final:
O Narrador fica de braços abertos uns instantes, depois olha ao redor e sorri
descontente. Começa a juntar as anotações do Artista. De repente lembra-se da Coruja
e a procura no cenário.
Já não a encontra.
Coloca as anotações e computador junto ao chapéu, que deveria servir para receber
incentivos.
Toma tudo nos braços, num abraço sentido.
(tempo silêncio)
(recompõe-se, olha obstinado e decreta em direção a bilheteria do teatro)
Borderô Azul!
* Benze-se e sai.
FIM.