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PENTAGRAMA

A revista Pentagrama propõe-se a atrair a ÍNDICE:


atenção dos leitores para a nova era que
2 DEUS EM MIM:
começou para o desenvolvimento da FUNDAMENTO DO
GNOSTICISMO
humanidade.
4 A GNOSIS DO SÉCULO XX

7 DEUS É LUZ
O Pentagrama sempre foi, em todos os tempos,
11 O CAMINHO INTERIOR
o símbolo do homem renascido, do novo DAGNOSIS: O LIBRUM
NATURÆ
homem. Também é o símbolo do universo
16 A AURORA DE UMA
e de seu eterno devir, por meio do qual
NOVA CONSCIÊNCIA
acontece a manifestação do plano divino.
19 “POIS EXISTE UM
SÓ DEUS”

Entretanto, um símbolo somente tem valor 22 NA VÉSPERA DE PÁSCOA...

quando se torna realidade. O homem que 24 A DOUTRINA GNÓSTICA


DE VALENTINO
realiza o Pentagrama em seu microcosmo,
26 O QUE OS ROSA-CRUZES
em seu próprio pequeno mundo, ENTENDEM POR ...
permanece no caminho de transfiguração. 29 A FORMAÇÃO
DE UM MICROCOSMO

30 A FORÇA DE AÇÃO DA
A revista Pentagrama convida o leitor para GNOSIS NO MUNDO
operar esta revolução espiritual em si mesmo. 34 A VERDADE SOBRE
O GNOSTICISMO

38 PRECE AO PAI DAS LUZES

40 GNOSIS FALSA E
GNOSIS VERDADEIRA

42 DESENVOLVIMENTO DE
UM NOVO PODER MENTAL

1997
ANO DEZENOVE
NÚMERO 2

© Stisch ing Rozekruis Pers. Reprodução proibida sem autorização prévia.


DEUS EM MIM: FUNDAMENTO DO GNOSTICISMO

Neste número da revista Pentagra- renovação total, todos podem pesquisar


ma, iremos desenvolver o tema a respeito do caminho desta renovação
maravilhosa e liberá-lo dentro de si. Fala-
“Deus em mim” a partir de um ponto
se muito da consciência materialista
de vista estreitamente ligado à expe- atual e de seus resultados. Acentua-
riência vivida da Gnosis e pelo gnos- -se a possibilidade de adquirir uma cons-
ticismo em nossa época. Esta expe- ciência totalmente nova, capaz de mos-
riência procede de uma visão de vida trar uma saída. Ora, o gnóstico baseia
orientada pelo restabelecimento do sua vida na aquisição de uma consciên-
cia como esta. Ele se esforça para des-
Homem-luz original no microcosmo.
pertar de seu sono de morte o “Deus
O gnosticismo não é um antigo siste- dentro dele” e para reestruturar-se, den-
ma filosófico que passou a interessar tro de si, inteiramente, a fim de poder se-
as pessoas em nossos dias, mas sim guir este Deus, este plano original de de-
uma senda que todos os seres senvolvimento, esta linha de força única
que conduz à Luz. Todo o homem sério
humanos devem percorrer quando
sabe que o mundo espera por uma reve-
buscam seu verdadeiro destino. lação como esta. Talvez ainda muitos
contestem, achando que o caminho do
N o passado, muitos seguiram realmente gnóstico não pode conduzir ao resultado
esta senda tão direta e concreta quanto a desejado. Mas, nestes dias em que as
do grupo dos que hoje buscam a verdade belas fachadas da fraude e das autorida-
seriamente, e que são cada vez mais des estabelecidas começam a ruir e so-
numerosos no mundo. Quando o homem mos forçados a escolher e seguir sozi-
se encontra em dificuldade e as soluções nhos nosso caminho, milhares de ho-
habituais para resolver os problemas de mens no mundo inteiro pressentem inte-
sua existência já não fazem efeito, ele pro- riormente a existência deste caminho
cura conquistar valores superiores que gnóstico. Os que escolhem este caminho
possam fazê-lo sair deste caminho sem respeitam seus semelhantes. Eles não os
rumo. Ele busca uma saída. Ele sai em ofendem, nem os ferem, mas os ajudam
busca da origem da criação, da causa de a encontrar este caminho que, século
todas as coisas. Para o gnóstico, é eviden- após século e dia após dia, inúmeras
te que a causa original fundamental está pessoas já percorreram e que está aber-
dentro dele mesmo, e que é aí que ele to a todos em nossa época tão crítica.
pode e deve encontrar a solução. Desejamos que nossos leitores pos-
Portanto, escolhemos este tema “Deus sam reconhecer este caminho interior e
em mim” porque ele provoca muito inte- oculto, e encontrar a coragem de dar
resse em todos aqueles que compreen- seus primeiros passos. Quem ousar fa-
dem que o mundo de hoje, com todos os zer isto, sentirá que se encontra em uma
seus perigos e seus sofrimentos, não senda de luz, onde as trevas espessas
pode ter sido desejado por Deus, mas podem ameaçá-lo, mas jamais poderão
A fuga.
que ele foi criado pelo próprio homem. aniquilar o que pertence ao domínio da
(Josep Bofill,
Museu de Baseando-se na idéia de “Deus dentro eternidade.
Metz, na de si”, este Deus que é a fonte de todo o
França) amor, de toda a sabedoria e de uma A Redação

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A GNOSIS DO SÉCULO XX

Bibliotecas inteiras estão cheias de uma série de programas sob o título “Os
publicações sobre a Gnosis e o Gnósticos”. Foram publicados inúmeros
livros e artigos em jornais e revistas.
Gnosticismo. Desde a descoberta,
Em março de 1993, realizou-se um con-
em 1945, de quarenta e oito textos gresso, em Moscou, na Biblioteca M.I.
gnósticos em Nag-Hammadi, no Alto Rudomino, sobre o tema: “Quinhentos
Egito, assistimos a um verdadeiro anos de Gnosis na Europa”, enquanto
renascimento da Gnosis, que já fez em São Petersburgo acontecia uma ex-
posição sobre o mesmo assunto. O fe-
correr muita tinta em nossa era. De-
minismo tirou elementos de textos
pois das primeiras publicações dos gnósticos que dão à mulher um papel
manuscritos de Nag-Hammadi, em importante. Até o momento, a Ro-
1977, surgiu uma onda de conside- zekruis Pers, em Haarlem, na Holanda,
rações sobre este assunto tão cati- editou cinqüenta obras de Jan van
Rijckenborgh e Catharose de Petri so-
vante.
bre a Gnosis, traduzidas em quinze lín-
guas.
Mas que a Gnosis não tem apenas
simpatizantes é o que mostram as po-
J á em 1956, comentávamos O Evan- lêmicas muitas vezes violentas que
gelho da Verdade, em Renova, e a surgem nos jornais diários ou sema-
Carta a Reginos foi o assunto de uma nais, em reação ao novo interesse que
conferência de renovação. Foi em este assunto desperta. Mas não se po-
1952 que começou uma série de con- de lutar contra esta nova corrente, pois
ferências de renovação sobre o E- não é por acaso que a Gnosis faz nova-
vangelho da Pistis Sophia para os alu- mente bater os corações. Realmente, a
nos da Rosacruz Áurea, e que a Ro- Gnosis toca o coração dos buscadores
zekruis Pers, em Haarlem, publicou A e faz com que eles compreendam que
Gnosis Universal, de Jan van Rijcken- existe um pensamento religioso com-
borgh. pletamente diferente daquele que foi
Atualmente, a Gnosis já não é um imposto durante séculos pelo dogma-
conceito obscuro. A palavra “Gnosis” tismo que domina as igrejas. O interes-
surge em dezenas de publicações teo- se pela Gnosis coincide com uma crise
lógicas e esotéricas, e o interesse pela mundial que também é uma crise espi-
Gnosis não pára de crescer. Muitos ritual.
congressos e debates são realizados A Gnosis autêntica abre os olhos
sobre este assunto. Em Amsterdam, por do buscador para um caminho, uma
exemplo, foram abordados alguns te- senda de transformação que deve co-
mas como “A Gnosis, terceiro compo- meçar dentro dele mesmo. A Gnosis
nente da tradição cultural européia” ilumina com sua luz este caminho in-
(1986) e “A Gnosis hermética no decor- terior: isto constitui para o buscador
rer dos séculos” (1990), enquanto a te- uma descoberta íntima de primeira
levisão holandesa programava em 1987 ordem.

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ESCLARECIMENTO DA GNOSIS COMO tro dele, de seu verdadeiro ser interior,
VERDADE UNIVERSAL que provém do divino campo de luz ori-
ginal para onde ele deve, portanto, re-
tornar. Aquele que se consagra a este
caminho de retorno alcança a transfigu-
A Gnosis é uma realidade viva que ração por um processo de cura da alma
corresponde a um profundo encaminha- vivente, imortal.
mento interior. É uma experiência inte- É por isso que os antigos gnósticos
rior provocada pela atividade da cente- diziam: “O homem é um deus decaído”
lha-do-espírito presente no coração hu- que, na realidade, não encontra seu lu-
mano, centelha de Luz a respeito da gar no mundo. Sua pátria original é um
qual falavam os antigos gnósticos que outro mundo, que não pertence ao uni-
designavam assim o núcleo, a semente verso visível. Aí está um dado funda-
espiritual original oculta no coração, no mental, um conceito secular, tão velho
centro do microcosmo. A experiência in- quanto a humanidade: a idéia da exis-
terior da ação desta centelha-do-espíri- tência de duas ordens de natureza com-
to provoca um choque: é o despertar pletamente diferentes. O homem dotado
mediante a “força” da Gnosis, de onde do átomo-centelha-do-espírito em seu
emanam, irresistivelmente, uma nova microcosmo fica vagando pelo mundo
orientação de vida e um comportamen- do bem e do mal, sempre atormentado
to diferente. Desencadeia-se um pro- pelas forças contrárias.
cesso de transformação interior que for- Um dos aspectos mais importantes
ça a pessoa a tomar consciência de si para o qual a Gnosis conduz, aspecto
mesma, o que provoca uma nova com- dado como critério luminoso do fim de
preensão espiritual que revela ao bus- uma longa busca, é a paz do retorno ao
cador, que está no caminho da Gnosis, lar. É o retorno ao equilíbrio verdadeiro
sua origem e seu destino. em Deus. Esta paz não é a de um ho-
É por isso que é dito no Evangelho da mem que se senta no final de um dia
Verdade: cansativo, mas a de um homem que al-
“Aquele que sabe é, portanto, um ser cançou a harmonia com a corrente divi-
do alto. Se é chamado, ouve; e respon- na que emana da Gnosis. Quem seguir
de; e volta-se para aquele que o chama esta corrente não sofrerá nenhum mal.
e retorna para ele. Ele compreende co- Ele ultrapassou-se, elevando-se até o
mo foi chamado. De posse do Conhe- “Outro” que está dentro dele. Bem e mal
cimento, ele faz o que quer e o que se dissolvem no Uno, que é Deus.
agrada àquele que o chamou. E recebe Assim ecoa uma palavra muito anti-
a paz”. ga, mas sempre atual: “Nosso coração
Quem possui este Conhecimento sa- estará inquieto enquanto não encontrar
be de onde veio e para onde vai. Com- a paz em ti”. Paz e silêncio interior são
preende como se fosse alguém que se as duas únicas colunas sobre as quais
libertasse e despertasse da embriaguez se edifica a vida espiritual libertadora.
em que estava, e então volta para si
mesmo.
O gnóstico vivencia a Gnosis como
libertação: a libertação da ilusão deste
mundo. Portanto, a Gnosis oferece à-
quele que busca um conhecimento li-
bertador. Contrariamente do que muitos
sugerem, a Gnosis é uma forma de pen-
samento e de experiência religiosa oti-
mista, pois o gnóstico tem o conheci-
mento da centelha divina que mora den-

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DEUS É LUZ

O moinho é um bom símbolo para so destino. “Cada um forja seu próprio


representar o eterno giro da roda do destino”, diz o ditado popular.
A idéia de que tudo é energia não pa-
nascimento e da morte. Antigamen-
rece muito estranha no século XX. Da
te, a roda de alguns moinhos era a- mais ínfima parcela de um átomo até a
cionada por prisioneiros ou escravos nebulosa espiral mais longínqua, do
que a faziam girar enquanto anda- mais delicado organismo vivo até o cria-
vam dentro dela. Depois de um certo dor que o concebeu... tudo é uma forma
de energia que comporta sua própria
número de passos, a roda havia fei-
freqüência vibratória. A matéria densa e
to um giro completo. Portanto, estes inerte é, na realidade, energia sob uma
homens passavam pelo mesmo lu- forma que corresponde a determinadas
gar, pisando sobre suas próprias pe- condições. Há alguns anos, quem ima-
gadas. Seu passado era seu futuro. ginasse que o mundo que nos envolve é
constituído unicamente por vibrações
teria sido considerado original, embora
E ste tipo de moinho dá verdadeira- a ciência há muito tempo esteja basea-
mente uma boa imagem da repetição da nesta constatação. Atualmente, inú-
sucessiva de nascimento e morte, de meros pesquisadores tentam ligar-se à
passado e futuro. Na vida, também pas- fonte de energia do universo. Este as-
samos pelos mesmos lugares, sem per- sunto tem feito correr muita tinta e tem
ceber, pois o cenário, as dimensões e criado muitos debates, sem que ainda
os atos mudam. Cada pensamento, re- tenha sido provado nem vivenciado inte-
flexão, opinião, sentimento, emoção, pa- riormente.
lavra, ação e reação representa um pas-
so a mais no moinho da existência coti-
diana. E cada passo deixa uma pegada. ELETRICIDADE: RESULTADO DE UM “SALTO”
À medida que o número de voltas na ro- ENERGÉTICO
da vai aumentando, as pegadas sobre
as quais vamos caminhando mais uma
vez vão-se tornando cada vez mais Conhecemos muito bem a eletricida-
marcantes e a cada passo vamo-nos re- de. Embora esta forma de energia seja
encontrando. A roda gira e vai subindo invisível, sabemos que ela existe e a so-
atrás de nós, desaparece por um mo- ciedade moderna não saberia como vi-
mento de nossa consciência, mas torna ver sem ela, e nem mesmo poderia ima-
a descer, inevitavelmente, diante de ginar como seria o mundo sem eletrici-
nós. É interessante compreender que dade. Esotericamente, sabemos que a
não devemos confundir nossos passos eletricidade emana da energia univer-
com nossas pegadas. A história não se sal, que se manifesta em uma diversida-
O carro solar de
repete literalmente, pois cada nova ação de inimaginável de tensões, de intensi-
Surya (Miniatura
indiana da Escola implica uma escolha. Mas as pegadas dades, de comprimento de ondas e de
de Mewar, no dos que vieram antes de nós determi- freqüências que provêm da mesma
século XVIII). nam nosso caráter, nosso karma e nos- fonte.

7
A mais curta definição da natureza da se trata desta luz? Desta luz que ele
divina Fonte universal, que é a mais to- percebe com seus olhos, ou da que ele
cante e profunda, surge na Primeira E- percebe também com seus outros senti-
pístola de João: “Deus é Luz!”. E quanta dos?
coisa precisa acontecer na vida de um
homem para que ele possa pronunciar
estas três palavras com toda a sua UMA DISTINÇÃO A SER FEITA
consciência! Entretanto, apenas pro-
nunciá-las não faz nenhum sentido, pois
o homem é chamado a construir, ele Quando vos levantais pela manhã e
mesmo, uma realidade vivente. A finali- abris as cortinas, a luz flui por todo o
dade de todos os seres humanos é, um quarto. Esta luz leva mais ou menos 8
dia, manifestar por si mesmo a “verda- minutos para percorrer a distância entre
de” transmitida por estas três palavras. o sol e a terra, e a parte que nos atinge
é muito pequena. Antigamente, um pro-
fessor muito sábio suspirava com a idé-
ONDE ENCONTRAR A LUZ DE DEUS? ia do desperdício que representam os
95% de energia solar que nos escapam.
Esta energia solar divide-se em nu-
O que sabe o ser que faz girar a roda merosos grupos de irradiação, cada um
do moinho sobre “o Deus dentro dele, com sua natureza, sua estrutura e sua
que é Luz”? Será que ele conhece esta função:
realidade? Como ele poderia conhecê- • a luz visível, que se divide nas mes-
-la, ele que, passo a passo, dia após mas cores do espectro;
dia, ano após ano, deixa na roda de sua • a luz invisível, como por exemplo o
existência as pegadas de seus pensa- calor, o som, os raios X, a radioativi-
mentos, de suas emoções e de seus dade etc.;
atos? Ele reage, ele deve reagir, às ve- • energias ainda desconhecidas e inde-
zes no próprio dia, às vezes durante a finíveis.
próxima existência. Assim como a criança se forma no ú-
Por mais que ele pense que está cri- tero da mãe a partir do programa here-
ando algo novo e pessoal a cada passo ditário concebido especialmente para a
que vai dando, na realidade ele está futura vida, os processos vitais da natu-
passando pelo mesmo lugar até que a reza são programados pela energia que
morte o alcance. Mas, antes disso, o irradia do sol Em outras palavras: todas
chamado de Deus atravessa algumas as formas terrestres emanam da ener-
vezes seu pensamento. Deus é Luz! Se- gia solar; ou de uma forma desta ener-
rá que ele vai segurar esta corda de luz, gia mais ou menos densa; ou ainda, de
ou a deixará passar porque tantas ou- uma forma de energia “mais lenta”.
tras coisas importantes sempre estão
solicitando sua atenção? Deus é Luz!
Será que a luz toca seu coração e lhe CORRENTES DE ENERGIA QUE SE
mostra seu aprisionamento na roda do EXPRESSAM SOB A FORMA DE MATÉRIA
moinho? Será que ele não está cansado
de girar como um louco? Será que ele já
não se excedeu tanto que até chegou A energia solar traz dentro dela várias
O carro solar ao limite? Chega! Chega! Quero Luz! espécies de radiações que, em certas
de Surya. Meu Deus, concede-me tua Luz! condições, ficam mais densas e tornam-
(Miniatura
indiana da
O que é esta Luz? Será que ela é vi- -se formas vitais. Por exemplo: formas
Escola de sível, sensível? Qualquer pessoa que humanas, animais, vegetais, e terrestres
Mewar, no fala da “luz” pensa, geralmente, na luz – seu biotipo1. Cada forma é, portanto,
século XVIII). do sol, na luz perceptível. Mas será que uma manifestação e um receptáculo

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desta energia solar, que aflui nesta dire-
ção para manter a vida. Os traços e as
cores maravilhosas de certas plantas e
flores são um testemunho desta estreita
ligação. O campo eletromagnético em
que se manifesta a energia solar é, por-
tanto, uma expressão da força solar. É a
energia que escreve o livro da natureza,
revelando seu reino e sua força em miría-
des de formas, de cores e de sons.
Os efeitos da energia solar depen-
dem do tempo e do lugar. Aquilo que
não consegue ir adiante em um lugar,
prolifera em outro. As condições que
fundamentam a vida em nosso planeta
impossibilitam que outros planetas te-
nham as formas vitais que conhecemos.
Estas condições foram criadas a partir
de um plano inscrito na forma original da
energia solar.

O SOL POR DETRÁS DO SOL

A Doutrina Universal fala da existên-


cia de duas ordens de natureza, de dois
campos de vida distintos um do outro. O
superior penetra o inferior, mas nunca o
inverso. Hermes Trismegisto declara: O
que está embaixo é como o que está em
cima; e o que é exterior é como o que é
interior. De onde se conclui que, ao lado,
ou nos bastidores da energia do sol visí-
vel, existe igualmente uma energia que
provém de uma outra fonte. Esta energia
é denominada Vulcano, o Filho divino.
A partir do axioma de Hermes Trisme-
gisto, pode-se dizer que a Luz, a Luz su-
perior invisível, a energia do Sol invisí-
vel, também mostra uma diversidade in-
finita de raios: radiações e energias que
têm uma função a cumprir no plano da
criação. Em si, isto não tem nada de no-
vo, mas a conclusão lógica é que o pro-
cesso evolutivo do homem imortal já es-
tá programado e fixado em linhas de for-
ça da luz invisível. No momento em que
Deus diz: Que se faça a Luz! o plano de
desenvolvimento, em toda a sua exten-
são, irradiou de uma só vez.
seu desenvolvimento e são habitantes
das trevas.
Como a luz perecível se transforma
em matéria, e a matéria em luz, parece
que a natureza deve adaptar-se às leis
desta luz, de acordo com a inspiração e
a expiração do sol perecível. Por outro
lado, Vulcano, o Sol que está por trás do
sol, dispõe de todas as possibilidades e
forças necessárias para a alma que tri-
lha o caminho da imortalidade. Esta Luz
contém todo o plano de construção do
Novo Homem.

O CAMINHO DA LUZ COMEÇA COM O


DESPERTAR DO HOMEM INTERIOR

“Deus disse: ‘Que se faça a Luz!’ e a


Luz se fez.”
A LIGAÇÃO COM A LUZ “OBSCURA” Tanto ontem como hoje, é mostrado o
caminho que se abre diante de todo o
ser humano. Este é o caminho que foi
Em um dado momento, o homem preparado para ele e que ele pode se-
(que estava ainda no início de seu pro- guir, sem nenhum perigo, se voltar as
cesso de desenvolvimento) abandonou costas à luz obscura para manter-se na
deliberadamente a Luz que fica por de- Luz divina. Então, pouco a pouco, pro-
trás da luz. Este é o processo que se gressivamente, acontecerá uma com-
chamou de “queda”, durante o qual o pleta recriação
homem se ligou à luz obscura, talvez É com toda a liberdade que o ho-
porque a sentisse como uma luz, mas mem, o microcosmo, escolhe esta sepa-
que, de fato, não passa de trevas. O pla- ração. É também em completa liberdade
no de evolução, que não se beneficia da que ele escolhe responder e adaptar-se
Luz divina, só pode produzir trevas; a ao plano divino, depois de ter tomado
menos que se estabeleça uma ligação consciência da irradiação interior da Luz
temporária e que a vibração cresça so- eterna, que é o alicerce da alma imortal.
mente com a finalidade de permitir que
a Luz original (e portanto o plano de de-
1. Em Biologia, trata-se de uma área geralmen-
senvolvimento original puro) possa a- te pequena e de condições ambientais uni-
presentar-se ao menos um pouco à formes, caracterizada por biotipos relativa-
consciência de quem busca. Os homens mente estáveis.
de hoje que encontram-se nesta fase de

10
O CAMINHO INTERIOR DA GNOSIS:
O “LIBRUM NATRUÆ”

Em 1950, Robert Jungk publicou um então a vida na terra irá piorar e se ex-
livro cujo título era: “O futuro já co- tinguir.
meçou”. Atualmente, a humanidade
já se encontra neste futuro e nós fa- A GRANDE VIRADA
zemos a seguinte pergunta: Que
conclusão devemos tirar disto? O
que a escola Espiritual da Rosacruz A Escola Espiritual da Rosacruz Áu-
rea considera que estes fatos são a
Áurea pode e deve fazer neste con-
prova de que chegou a hora da grande
texto? virada. A humanidade encontra-se no
início de uma nova fase de desenvolvi-
A tualmente, tudo é possível: hoje, há mento. É uma crise que provoca gran-
fenômenos que despertam os temores des reviravoltas, a confusão e o caos.
mais terríveis; mas também é a época A insegurança ganha todos os que
das revelações. Tudo é revelado (muitas perderam o rumo. É por isso que a
vezes sem escrúpulo). A mídia mostra Escola Espiritual chama por uma reto-
que dirigentes doentes tomam decisões mada ou, melhor dizendo, para uma
duvidosas, e, portanto, estes doentes revolução espiritual interna, para uma
determinam o destino de milhões de se- transformação interior total e funda-
res humanos. Quem não sente pavor mental.
sabendo das ações dementes e deses- Qualquer pessoa que refletir sobre a
peradas de um líder religioso que, sob a situação embaraçosa na qual se encon-
influência de drogas e por isso mesmo tram o mundo e a humanidade, haverá
sob a influência das forças da esfera re- de render-se à evidência: somente uma
fletora, se suicida levando seus adeptos transformação fundamental da consci-
com ele? A corrupção e a criminalidade ência lhe permitirá seguir positivamente
se propagam rapidamente e quase ao encontro dos novos tempos. É por
sempre são o alicerce de um sistema esta razão que a Escola Espiritual incita
social mantido contra o bom- todo o homem (seja dentro da Escola ou
-senso. Mais uma vez fechamos os olhos não) a descobrir que ele tem ascendên-
para crimes contra a humanidade, que, cia divina e por que ele é chamado de
no entanto, já haviam sido condenados microcosmo.
durante o processo de Nuremberg pelos Nesta segunda parte do artigo, cha-
vencedores da Segunda Guerra Mun- mado “Karma, Reencarnação e Rosa-
dial. cruz” que saiu na revista Pentagrama
O desespero toma conta de um gran- nº 1 de 1997, vamos examinar o método
de número de pessoas e a revolta con- perfeito de todas as artes, isto é, vamos
tra esta fatalidade que se espalha pela ver de que se compõe o Librum Naturæ,
humanidade cresce a cada dia. São inú- tal como foi indicado pelos antigos rosa-
meros os que chamam à reflexão, como cruzes na Fama Fraternitatis R.C., o
Robert Jungk, há 47 anos. Se a humani- Testamento Espiritual da Ordem da Ro-
dade não conseguir mudar de rumo, sa-Cruz, publicado em 1614.

11
CONSCIÊNCIA DO TESOURO OCULTO cessão de vidas no mundo da matéria,
NO CORAÇÃO constitui um livro volumoso colocado no
microcosmo. Ora, este livro deve fazer-
-nos compreender claramente que toda
O plano divino está oculto como uma a evolução, qualquer que seja o plano
semente no coração de todos. Trata-se, em que ela se dê, é carregada por uma
agora, de fazer esta semente germinar onda que se manifesta de acordo com
e florescer. Todos devem tomar consci- certas leis. Trata-se de um ritmo, de um
ência desta inestimável posse do micro- movimento universal, que opera de a-
cosmo e chegar a vivenciá-la, graças a cordo com períodos que correspondem
um comportamento totalmente novo! E, às leis, em durações inimaginavelmente
quando nossa consciência for um pouco longas chamadas “eões”. Estas leis car-
mais esclarecida, desejaremos, conse- regam a vida, de uma onda a outra.
qüentemente, nos devotar inteiramente Quando começamos a estudar estas
ao plano divino, e nos entregaremos to- leis, elas se apresentam com todo o seu
talmente às intenções divinas e, a partir imenso poder e com uma amplitude in-
daí, poderemos entrar em fusão com a concebível. Elas governam o Todo e cui-
Vida Universal. É assim que nossa dam para que o plano seja executado
Para impedir consciência se fundirá com a Consci- em todos os tempos.
Phaeton ência Universal.
de perder o Entre o momento em que o interesse
controle do por estes assuntos é despertado, logo A ELEVAÇÃO ATÉ O ÁPICE
carro do sol,
que aparece vagamente a idéia do ver-
Zeus o toca
com seu raio.
dadeiro objetivo da vida, e o momento
Sua queda da percepção e da experiência consci- Estas ondas periódicas fluem e re-
simboliza entes, há um caminho a ser percorrido. fluem igualmente em todos os indivídu-
o curso É um caminho que parece longo, duran- os, em todos os microcosmos. Todos os
cíclico da luz te o qual atravessamos um oceano de que buscam devem tornar-se conscien-
(Sarcófago
de mármore
experiências enquanto nosso barco va- tes delas, pois este movimento ondula-
do século III. gueia por todas as direções no meio das tório nos conduz até o ponto em que o
Erimetério, São tempestades. O acúmulo de todas estas microcosmo possa atingir uma espiral
Petersburgo). experiências, no decorrer da infinita su- superior de desenvolvimento e um novo

12
rumo. Esta fase faz parte do que chama- fletimos sobre ele e, na medida de nos-
mos de “ordem de socorro”. sas possibilidades, já o experimenta-
Este novo período se mantém sob o mos, em nossa vida, em nossa perso-
signo da constituição de um novo tipo nalidade! Já se desenvolveu em nós
humano: a de um homem que se tornou uma força-alma que conduziu nossa
consciente da “razão pela qual ele é consciência até uma certa compreen-
chamado de microcosmo, a fim de po- são. Graças a esta força-alma e ao fato
der alcançar seu verdadeiro destino no de a colocarmos em prática, as expe-
plano divino, como “microcosmo”. Quan- riências da vida foram conduzidas a um
to tempo ainda temos?” nível superior e um pouco acima das ex-
periências dialéticas.
Um certo conhecimento e alguma
QUANTO TEMPO NOS RESTA? compreensão foram assim germinando
em nossa consciência. Mas de que
consciência e de que compreensão es-
Quem pode dizer quanto tempo leva- tamos falando? Estamos falando sobre
rá a colheita? E quem poderá dizer qual a consciência e a compreensão que nos
será sua amplitude? As condições evo- dão a sublime “razão de sermos chama-
luem com uma rapidez incrível e os a- dos de microcosmo”. Expliquemos esta
contecimentos tornaram-se imprevisí- frase.
veis, como testemunham as conjunturas A centelha divina, a mônada, está no
políticas, econômicas e climáticas. A hu- centro do plano divino. Esta mônada e-
manidade se lança para a crista desta mite uma radiação espiritual que forma
onda que sobe como um vagalhão do o- uma estrutura de linhas de força que ge-
ceano divino; e, na vinha de Deus, os ram um sistema eletromagnético: o mi-
trabalhadores se perguntam, insistente- crocosmo. O centro deste sistema mi-
mente: “Quanto tempo ainda temos?” crocósmico é o ser monádico, que inin-
Impõe-se uma única resposta: “O tempo terruptamente envia um chamado para
é expressamente curto”. Então, aqueles o átomo refletor situado no coração (es-
que estão sentindo, que reconhecem e te átomo é o que chamamos de rosa-
compreendem, perguntam: “O que eu -do-coração). É por isso que falamos de
posso e devo fazer?” Deus em nós, ou dizemos que Deus nos
Podemo-nos sentir felizes e gratos fala. Na realidade, o plano divino está
por termos encontrado a Escola Espiri- sempre impulsionando a mônada para
tual atual, onde nos são reveladas as que ela realize este plano.
obras prodigiosas que jamais foram vis-
tas. Sabemos que existe o Librum Na-
turæ. O método perfeito, a serviço da li- TODA ESTAGNAÇÃO LEVA À FORMAÇÃO DE
bertação dos seres humanos! Nós o UM SER CÁRMICO
possuímos, ele nos é revelado pela me-
tade desconhecida e oculta do mundo.
Ora, nós chegamos a este ponto. Ora, a realidade de nosso atual esta-
Conhecemos o plano. Pelo menos já re- do microcósmico nos mostra que a

13
manifestação da idéia divina estagnou;
o que faz com que, ao lado do ser mo-
nádico apareça uma consciência-eu, ou
eu-cármico, que condiciona bastante a
vida no microcosmo. Mas o plano divino
impulsiona a mônada para a realização.
O ser monádico envia suas sugestões
através do conjunto do sistema micro-
cósmico, e, portanto, também as envia
para o eu da personalidade humana a-
tual. O ser cármico grava cada fato e a-
ção desta personalidade: toda a sua e-
xistência. A soma das experiências vivi-
das até então confere uma espécie de
consciência ao ser cármico, que irradia
possantemente na consciência-eu. É
assim que se explicam os terríveis sofri-
mentos psíquicos e corporais da perso-
nalidade humana.
Em nossa época, no fim de um perío-
do de desenvolvimento, o ser cármico
conduz inúmeros seres humanos a um
ponto culminante: é aí que eles se tornam
buscadores. O ser astral, o ser cármico,
os coloca face a face com os erros do
passado e suas conseqüentes reações.
Mas, no microcosmo, e portanto tam-
bém na personalidade que aí se mani-
Ao alto: festa, a mônada está sempre emitindo
O dragão as sugestões do Espírito, que impulsio-
representa a nam para a realização do plano divino. É
Matéria Original por essa razão que é preciso esperar o
ou a Pedra dos
momento em que o desejo fundamental
Sábios.
Suas duras desperte para que a personalidade pos- eu e a voz do ser cármico cobrem este
escamas, seu sa reagir de maneira correta. No fundo, a murmúrio, esta voz do coração. Será
corpo sinuoso vida, em toda a sua extensão, não é re- que estamos prontos para ouvir e para
e seu veneno almente um confronto ininterrupto com o escutar bem, de verdade, este murmú-
simbolizam as rio? É nesta hora que a força da alma se
passado e seus erros? Vede como os
características
terrestres
homens são sempre remetidos ao pas- torna indispensável, pois é por ela que
que são sado, um passado que determina, em podemos encontrar o único comporta-
transformadas grande parte, o presente e todas as mento correto. Neste caso, o aluno chega
em elixir de esperanças projetadas para o futuro. à fase seguinte do plano divino: ele se
vida pelos É por isso que a Escola da Rosacruz confia e se entrega inteiramente ao
sábios.
Áurea diz aos alunos que já adquiriram plano de Deus.
Embaixo:
Na floresta conhecimento e compreensão graças a
do Opus suas experiências e que, portanto, es-
Magnum as tão despertados, em um certo sentido: DEIXAR PARA MAIS TARDE? JÁ NÃO É
duas naturezas “Escutai sem cessar a voz da mônada, POSSÍVEL!
se encontram
na rosa-do-coração, esta voz que nos
(De lapide phi-
losophico, deve perpassar completamente como
Lambsprinck, um desejo do coração”. De uma certa forma, nós conhece-
1625). Mas em muitos buscadores a voz do mos o plano. De um ponto de vista mi-

14
crocósmico, vivenciamos a idéia, a ver- cosmos que somos. É assim que estare-
dade universal deste plano e a neces- mos diretamente a serviço real da hu-
sidade de sua execução. Se hoje deci- manidade”.
dimos que vamos realizá-lo em nós,
nesta vida, é preciso que nos consa- A Direção Internacional A.H. van den Brul
gremos inteiramente a ele. O tempo já
chegou e deixar para mais tarde só po-
deria ser muito nocivo. Por quê? Por-
que, primeiramente, as ondas do ritmo
universal não permitem que paremos
antes de chegar ao ápice de nosso pro-
cesso de desenvolvimento. Devemos
submeter-nos completamente a esta e-
volução microcósmica, o que significa
o abandono do eu e a neutralização do
ser cármico.
Em segundo lugar, supondo que os
alunos da Escola Espiritual atual da Ro-
sacruz Áurea tenham encontrado o ob-
jetivo de suas vidas, o Lectorium Rosi-
crucianum tornou-se um campo de tra-
balho: ele se ergue como uma baliza em
meio ao mundo; é um campo de ativida-
de muito movimentado, pelo menos de-
veria sê-lo, no sentido específico da pa-
lavra. Aí operam duas forças que se en-
contram em todo o aluno que vive no
Corpo-Vivo e para ele:

• a força natural da natureza dialética;

• e a força da Luz do outro Reino, o pra-


na crístico.

Este encontro provoca um conflito, e


este conflito deve ser resolvido à medi-
da que vamos compondo dentro de nós
mesmos o “Librum Naturae . Para tanto,
é preciso, em primeiro lugar, aplicar o
método perfeito da verdadeira liberta-
ção, dentro de nós.
Renunciar ao eu e nos elevarmos, al-
çando-nos à vida da alma, são, para
nós, tarefas de urgência prioritária. As-
sim, tornaremo-nos um exemplo para
muitos seres, e poderemos auxiliá-los
orientando-os em sua busca. É por esta
razão que ecoa para nós esta exigência:
“Abandonai-vos à nova e poderosa cor-
rente divina, que busca atrair-nos mais
fortemente do que nunca, a fim de nos
elevar até o plano divino, como micro-

15
A AURORA DE UMA NOVA CONSCIÊNCIA

Desde a queda, a humanidade per- acompanham o surgimento e o desapa-


correu um longo caminho de evolu- recimento de continentes, de povos e
ção através do espaço e do tempo. de civilizações. É nestes momentos que
os homens têm que fazer uma escolha:
A partir da consciência original cole-
utilizar os raios e as circunstâncias do
tiva deveria desenvolver-se a cons- momento atual, seja para a salvação de
ciência do “eu”, uma consciência ca- seu microcosmo, seja para a conserva-
paz de perceber o plano de desen- ção de seu eu, tendo como resultado
volvimento, a fim de poder tomar de- inevitável a degeneração e a cristaliza-
ção. Quando um novo período de mani-
liberadamente a decisão de voltar à
festação se anuncia, tudo o que está
natureza divina original. cristalizado é despedaçado e surgem
novas possibilidades.
U ma grande parte da humanidade se
encontra ainda no estágio de individua-
lização, mas há também seres que já a- OS QUATRO ELEMENTOS QUE CONSTITUEM
tingiram o limite extremo do desenvolvi- A CONSCIÊNCIA
mento terrestre. Este grupo, ainda relati-
vamente pequeno, está consciente de
que uma reviravolta fundamental é in- A humanidade atual está longe da
dispensável e possível. idéia divina de onde nasceu o homem o-
A história do desenvolvimento da riginal. Quatro forças naturais corruptí-
consciência humana relata um certo veis constituem os diferentes corpos e a
número de momentos críticos em que consciência:
se pode dizer que a consciência dá um • o éter químico forma o corpo material;
salto. Este tipo de “salto” é cientifica- • o éter de vida mantém as funções
mente descrito como “salto quântico” vitais em bom estado;
para indicar que em algum lugar dar- • o éter luminoso é o suporte das forças
-se-á uma mudança súbita, que não astrais e dos desejos;
está de acordo com as leis naturais • e o éter refletor dirige o poder mental.
conhecidas. O homem original vivia na natureza di-
Todos os seres vivos estão presos à vina; seu corpo era constituído da subs-
rede rigorosa dos processos cósmicos. tância ígnea da natureza divina e su-
Desse modo, a humanidade, como um portava as altas vibrações divinas. Uma
órgão vivente, faz parte do sistema da parte desta humanidade separou-se do
terra. A terra é um órgão vivente no cor- fogo divino, perdendo, assim, seu corpo
po solar e o sol é o núcleo central da ígneo ou de fogo: esta foi a primeira
Via Láctea, e assim por diante. As queda. Ao mesmo tempo, ela perdeu a
influências desta complexa rede mani- consciência da vida original. E, para
festam-se por irradiações que intervêm construir uma consciência substituta,
e agem periodicamente e sempre de foi constituído um corpo mortal. Du-
maneira diferente. É daí que vêm as rante um processo que durou milênios,
grandes revoluções que quase sempre o homem foi-se tornando o que é hoje.

16
Esta consciência “substitutiva” em um CADA ELEMENTO CRIA UMA CERTA
corpo perecível constitui o meio que CONSCIÊNCIA
permite ao microcosmo reintegrar, no
momento oportuno, o plano de criação
original. Como a consciência humana desen-
O ser humano que assim é formado volve-se gradualmente, é preciso distin-
– tão bem representado pelo persona- guir quatro formas que correspondem
gem Enkidu na epopéia de Gilgamesh aos quatro elementos de base da parte
(cf. Pentagrama nº 4 de 1996) – conti- perecível da criação. Estas formas de
nuou seguindo até o século XX um base determinam a atividade, o pensa-
longo e doloroso caminho. Ele apren- mento e a emotividade de cada um em
deu a obedecer às leis que ele mesmo particular e da humanidade em geral. A
criou, e agora chega o momento em forma mais antiga assemelha-se muito
que se apresenta uma nova etapa na ao sono. É um estado de vida impessoal
curva de evolução. Ora, esta etapa ne- e inconsciente, em que não se faz a dis-
cessita da posse da alma imortal. tinção entre sujeito e objeto, interior e A nova
Realmente, é preciso poder vencer a exterior. Nesta época, o homem ainda consciência
morte para entrar na vida eterna! É por não tinha forma definida. O éter químico poderá, com
isso que um quinto elemento vem jun- devia constituir, com o éter de vida, a toda a liberdade,
elevar-se para
tar-se aos quatro éteres: um elemento matriz de um uma forma mais densa.
além da existência
conhecido nas ciências como “eletrici- Podemos considerar a materialização dialética
dade”, e em esoterismo como o “quinto do corpo e a evolução da consciência (Ilustração
éter” ou “éter de fogo”. do mundo exterior como um primeiro Pentagrama).

17
“salto”. O primeiro homem material tinha que um violento combate agita a huma-
a capacidade de fazer a distinção entre nidade. Alguns dizem que tudo vai dar
ele mesmo e o mundo que o cercava. certo, um dia; outros estão extremamen-
Ele sentia e experimentava as coisas e te nervosos e inquietos, e buscam solu-
os seres exteriores a si mesmo como ções a qualquer preço. O “Deus neles” –
“pólos” opostos, e daí concebia o dese- se já não morreu! – os chama e os im-
jo. Ele ainda não tinha consciência do pulsiona a dar o passo seguinte. E, se
espaço e do tempo e a moral não exis- Deus está morto há muito tempo ...
tia. Podemos qualificar esta forma de quem será atormentado? Por isso, o
consciência como “natural e mágica”. quinto éter é enviado, a força que pre-
serva o que ainda vive e destrói o que
não tem nenhuma chance de sobrevi-
A SEGUNDA QUEDA ver, pois o que pertence ao “Deus em
vós” deve voltar para Deus. E quem não
quer “reconhecer o reino de Deus” esta-
Um efeito secundário desta queda na rá perdido.
matéria é uma ligação que cresce com Então desenrola-se uma terrível luta
a força do desejo, que aumentou ainda entre “o bem e o mal” no coração huma-
mais à medida que as forças diretoras no. Quem puder compreender, que
começaram a se retirar para que a jo- compreenda! Aquele que quiser esco-
vem humanidade se tornasse adulta. Os lher, que não demore, pois, neste perío-
que estavam à frente desta evolução to- do tão agitado em que vivemos, trata-se
maram a direção, e este foi um momen- de saber se temos o poder de ouvir o
to crítico para a jovem humanidade, pois “Deus em nós” e de agarrar a corda sal-
surgiu nesta época a possibilidade de vadora que ele nos envia!
deturpar os mistérios, de utilizá-los mal,
o que provocou um processo de desen-
volvimento centrado no ego. A consciên-
cia de “Deus no homem” foi sendo cada
vez mais deixada para trás e a matéria
tomou o seu lugar. O ser humano atin-
giu, assim, a última fase do desenvolvi-
mento no interior da natureza perecível.
A personalidade quádrupla encontra-se
totalmente terminada e pode agora tra-
balhar com as forças da natureza. Ela já
está pronta, também, para adquirir a
compreensão de seu próprio estado. A-
madurecida pelas experiências interio-
res, ela finalmente atinge o limite de su-
as possibilidades. Então, é preciso que
ela faça uma escolha: ou se mantém na
fase anterior e aí se cristaliza; ou deixa
esta fase e entra em uma nova fase.
Quem explorará e seguirá a nova sen-
da? Quem será capaz de jogar fora tudo
o que adquiriu para seguir “Deus dentro
de si”?
Para dar este passo, é preciso uma
compreensão totalmente nova e uma
consciência que já esteja amadurecida.
Os sinais de nosso tempo mostram

18
“POIS EXISTE UM SÓ DEUS”

Todo o homem sente um impulso in- com inveja de nós!


terior de fazer uma imagem de seu Mas muitos compreendem, cada vez
mais, que o materialismo é uma armadi-
criador, de seu Deus. É claro que es-
lha e procuram fugir dele buscando o in-
tas representações nem sempre são verso: o imaterial. Exploradores moder-
as mesmas para todos, em todo o nos, eles tentam percorrer os domínios
lugar. Principalmente no século XX, sutis das forças etéricas e astrais, assim
quando a noção do “Deus interno”, como as formas mentais. Mas seu obje-
tivo, que é conhecer profundamente o
do “Deus no homem” é cada vez ma-
mistério de Deus, este ainda não foi a-
is admitida, nota-se que estas repre- tingido! O inconcebível continua fasci-
sentações são continuamente testa- nante e queremos experimentar e sentir
dos pelas circunstâncias e freqüen- fisicamente o imenso “completamente
temente destruídos. outro”.
De onde provém esta luta intensa em
busca da luz? Esta luz que pode ilumi-
I números mitos e lendas a respeito de nar a existência infernal da pseudo “vida
deuses formam um panteão rico em co- em sociedade”? Esta luz que pode, en-
res destas figuras misteriosas que con- fim, dar a compreensão e mostrar o ca-
duziram a humanidade. Estas narrativas minho que leva ao Criador?
dão uma imagem do desenvolvimento Em A Gnosis Egípcia Tomo II, Jan
do homem e se manifestam sob uma van Rijckenborgh diz: Podemos tudo de-
grande variedade de formas, da mais duzir, a partir da única compreensão
primitiva à mais sublime. Podemos con- correta de Deus: e é isto que conduz o
cluir que o homem projeta no mundo candidato ao bom termo, com toda a
que o envolve uma imagem de seu certeza. Este é o ponto central e único
Deus – à medida em que o vai conhe- da compreensão a partir da qual pode-
cendo – por meio de símbolos e da lin- mos explicar e compreender tudo. Todos
guagem. os grandes de Espírito esforçaram-se
Os gregos estavam conscientes do em dar a seus alunos uma imagem li-
fato de que o invisível e o desconhecido bertadora de Deus. Seus ensinamentos,
dirigem o conhecido e transmitem assim na Escola da Rosacruz Áurea, estão re-
muitas forças. Eles representavam estas unidos sob o conceito de “Doutrina Uni-
forças no sistema estabelecido de deu- versal”. É a onda portadora, que é ca-
ses e semideuses do qual nos fala sua paz de liberar o princípio divino no ho-
mitologia. Além disso, eles fizeram tam- mem1.
bém uma imagem do Deus que ainda O testemunho de Lao-Tsé (veja no
desconheciam ... quadro, a seguir) e o canto de louvor de
O homem moderno destruiu em parte Hermes Trismegisto têm isto em co-
este sistema, criando novos ídolos, co- mum: eles querem demonstrar que o
mo o materialismo, a cultura do corpo, o homem não pode compreender Deus
desenvolvimento de pretensos “poderes com suas capacidades humanas. É por
superiores”... etc. Os gregos até ficariam isso que qualquer idéia, por mais bem

19
intencionada e sublime que seja, não O CANTO DE LOUVOR DE HERMES
passa de uma parcela da Verdade. Por-
tanto, quem quiser dar sua opinião,
deve sempre se perguntar: Sou eu que Quem poderia louvar-te o bastante
estou falando isto ou é o “Deus em segundo o teu valor?
mim”? Para onde dirigirei os meus olhos
Baseando-se no canto de louvor de para louvar-te?
Hermes e nas palavras de Lao-Tsé, os Para cima, para baixo, para dentro,
gnósticos chegaram a compreender que ou para fora?
o ser humano era duplo. Que existe um Não há nenhuma via, nenhum lugar
homem natural, nascido da carne, total- nem criatura alguma fora de ti;
mente da terra, terrestre; e que existe tudo está em ti, de ti tudo provém.
um homem espiritual, nascido do Espíri- Tudo concedes e nada tomas,
to de Deus. porque tudo possuis, e não há nada
Deste homem espiritual, resta ape- que não te pertença.
nas um princípio rudimentar, chamado Quando te entoarei louvor?
pela Doutrina Universal de lótus, a rosa- Pois é impossível saber a tua
-do-coração, o átomo original: Deus no hora e o teu tempo.
homem. Assim que este princípio des- E por que deveria eu entoar
perta, pode-se dizer que a força da louvores?
Gnosis se libera. Pelo que criaste ou pelo que não
No decorrer deste processo, a alma criaste?
renasce e vai sendo capacitada para re- Pelo que manifestaste ou pelo
ceber e transmitir a Gnosis em todas as que conservas oculto?
circunstâncias. A alma biológica ajuda E com que te entoaria louvor?
na preparação deste processo, mas ela Como se algo me pertencesse,
não toma parte na ressurreição, pois o como se possuísse algo próprio,
mistério da eternidade não pode ser ca- ou fosse outra coisa senão tu!
ptado por normas dialéticas. Porque tu és tudo o que eu possa
ser; és tudo o que possa fazer;
tudo quanto eu possa dizer.
Porque tu és tudo, e nada há
PENETRAR NO ANTIGO TAO além de ti.
Mesmo o que não existe, tu és.
És tudo o que veio a ser e tudo o
que ainda não foi manifestado:
No Tao Te King 2 , capítulo 14, é dito: Espírito, quando contemplado
Deves penetrar no antigo Tao para pela Alma-Espírito;
poder dominar a existência presente. Pai, quando dás forma ao
Quem conhece o princípio do original universo todo.
tem em mãos o fio de Tao. A animação, Deus, quando te revelas como força
a alma original, deve voltar à vida no ho- ativa universal; o Bem, porque
mem e pelo homem, graças ao Espírito criaste todas as coisas.
divino. Na Primeira Epístola aos Corín- O mais sutil da matéria é o ar;
tios (2: 10), Paulo diz: Pois o Espírito tu- O mais sutil do ar é a alma; o mais
do sonda: até mesmo as profundezas sutil da alma é o Espírito;
de Deus. Mas o homem não-espiritual O mais sutil do Espírito é Deus 1.
Lao-Tsé é
não aceita nada do que venha do Espí-
considerado o
pai do Taoísmo rito de Deus. Para ele, a Sabedoria Divi-
(século XVII, na é loucura porque a Gnosis somente
Biblioteca pode ser vivenciada quando se vive no
Nacional, Paris). Espírito.

20
O NÚMERO DE BUSCADORES SÉRIOS ESTÁ LAO-TSÉ, O SÁBIO CHINÊS QUE VIVIA
CRESCENDO RAPIDAMENTE ANTES DA ERA CRISTÃ DIZ NO TAO TE
KING:

No caminho da única fonte universal,


muitos erros, sofrimentos e dores espe- Contempla o Tao; tu não o vês:
ram pelos buscadores. De um lado, eles ele é chamado de invisível.
rompem com a imagem de Deus forne- Escuta o Tao; tu não o ouves:
cida pela tradição cristã, sem ter, por ele é chamado de inaudível.
outro lado, uma imagem clara do cami- Toca o Tao; tu não apalpas nada:
nho que agora está diante deles. Eles ele é chamado de imaterial.
não podem nem querem mais aceitar a Faltam palavras para pintar esta
imagem do Deus vingador do Antigo tríplice indeterminação: é porque
Testamento e procuram libertar-se total- elas se fundem em uma só.
mente destas representações estereoti- O aspecto superior de Tao não
padas. está na luz.
Um conceito aproximado da univer- O aspecto inferior não está nas
salidade está estreitamente ligado a trevas.
uma representação do Criador. A pró- O Tao é eterno e não saberia
pria essência de tal conceito está incluí- receber um nome.
da no próprio ser, como “Deus dentro Ele sempre volta ao não-ser.
dele”. Tudo o que os outros viram, vive- Tu te aproximas de Tao e não vês
ram e transmitiram é certamente uma seu princípio.
ajuda indispensável, mas o importante é Tu o segues e não vês seu fim.
que o buscador consiga liberar em sua Deves penetrar no antigo
própria vida este conhecimento e esta Tao para poder dominar a
sabedoria oferecidas a serviço de toda existência presente.
a criação. Aquele que deseja atingir e Quem conhece o princípio do
ultrapassar as fronteiras de sua limitada original tem em mãos o fio de Tao 2.
existência mortal deve cavar o mais
fundo que p
cerces univ

1. Jan van Rijckenborgh, A Gnosis Egípcia,


Tomo II, Lectorium Rosicrucianum,
1ª edição, 1986.
2. Jan van Rijckenborgh e Catharose
de Petri, A Gnosis Chinesa.
NA VÉSPERA DE PÁSCOA...

Foi em uma noite antes da Páscoa SER O PRÓPRIO CÁLICE

que Jesus celebrou a Santa Ceia


com seus doze discípulos e outros
O homem é um microcosmo, um pe-
alunos, sob a forma de uma refeição queno mundo que podemos descrever
no fim do dia. Será que para nós já particularmente como o terreno de bata-
chegou o fim do dia? A roda do nas- lha das forças terrestres e celestes. Este
cimento e da morte já está girando microcosmo caiu do mundo divino. O cor-
po é terrestre, e a alma é a força de liga-
há tanto tempo! Nosso microcosmo
ção. É a alma que, sob a direção do Es-
já viu tantas vidas! pírito, edificou um maravilhoso corpo ce-
leste, mas ela apegou-se a sua criação,
S erá que já chegamos ao fim de um desviou-se do Espírito e ligou-se ao cor-
longo processo de desenvolvimento? po. Então, ela mergulhou profundamente
Parece que é preciso viver muitas vidas na matéria e perdeu sua alta vibração, o
para chegarmos a nos ver a nós mes- que fez com que o Espírito tivesse de se
mos, a nos conhecermos. O ser huma- retirar. Ela foi-se afundando cada vez mais
no, de fato, é cheio de contradições, na matéria que a constrangia.
pois dentro dele falam duas vozes: o
desejo celeste e o desejo terrestre.
A Santa Ceia trata de um cálice. E o O CÁLICE CHEIO DE LUZ
impressionante é que Hermes Trisme-
gisto também fala de um cálice, de uma
cratera cheia de forças do Espírito que O cálice, que antigamente era cheio
desceu aqui embaixo (segundo os Mis- de Luz, da força do Espírito, tornou-se
térios egípcios que existiam bem antes um poço de contradições. Mas a Luz divi-
do início da era cristã): na não pára de chamar a alma, de tocá-
Ele enviou para baixo uma grande -la. Entretanto, a carne é fraca: ela sem-
cratera cheia de forças do Espírito e pre está empurrando a alma para baixo.
um mensageiro para anunciar aos co- Assim, a alma fica sem força, tomada de
rações dos homens a tarefa: Mergulhai impotência, incapaz de levantar-se. Mas
nesta cratera, vós, almas que podeis o Amor que emana incessantemente de
fazê-lo; vós que crestes e confiastes Deus sempre está buscando o que está
em que ascendereis até ele que enviou perdido. Sempre ele está fazendo descer
para baixo este vaso de mistura; vós o cálice cheio de forças do Espírito, um
que sabeis para que objetivo fostes cri- cálice transbordante de Luz crística.
ados.*
Hoje, esta tarefa é apresentada com
grande insistência à humanidade, co- CRISTO TAMBÉM É UM CÁLICE
mo ela sempre foi, no passado: é pre-
ciso beber deste cálice, desta cratera.
O que podemos compreender com Cristo, a força-luz universal, é tão
isto? grande, que mesmo tendo descido até o

22
coração da terra, ele a envolve inteira- O CÁLICE CIRCULA
mente e derrama, para o exterior, sua
Luz que constitui verdadeiramente o
cálice do Graal. Este cálice nos é esten- A porta do salão superior onde acon-
dido, atmosfericamente, dia após dia. tece a Ceia está aberta. Podemos entrar
Não importa o número daqueles que e tomar lugar à mesa. Por quanto tempo
dele bebem, ele sempre continua cheio. ainda? A mesa está posta, o cálice cir-
Às vezes, ele se eleva de novo ao cula e todos podem beber dele. Mas a
mundo divino, mas sempre desce para ordem secular diz que somente podem
buscar o que está perdido. beber deste cálice aqueles que estão
É dito que a última descida da Luz de prontos a renunciar a tudo o que é anti-
Cristo, no tempo de Jesus, foi a trigési- go, a tudo o que pertence ao eu e dele
ma terceira. Esta cratera, este cálice, provém. Beber do cálice significa res-
está sempre presente e sempre continu- surreição, ou queda ainda mais profun-
ará, até que todas as almas que podem da! Antes que a cruz de Luz possa er-
ser salvas o sejam, efetivamente. Para guer-se, é preciso esvaziar o cálice de
as outras, a roda do nascimento e da dor. Tudo o que é antigo deve ser despe-
morte não parará de girar, até a hora em daçado e deve desaparecer; então o
que elas tenham vivido experiências su- Novo surgirá, resultando em um com-
ficientes para poderem ser colhidas. portamento totalmente novo.
Que alegria! Sabendo disso, o sacrifí-
cio já não conta. Ainda é e sempre será
O QUE PODEMOS FAZER? a véspera de Páscoa! O cálice nos é o-
ferecido! Bebei, então, vós, as almas
que podeis!
Estamos em uma véspera de Pásco-
a, à véspera de uma ressurreição. O cá-
lice, que ficou tanto tempo aprisionado
na terra, novamente está libertado e se
eleva de novo para o lugar de onde des-
ceu, para levar consigo todos os que es-
tão preparados para isso. Que estamos
fazendo com nosso cálice? Ele está pu-
rificado e cheio de forças do Espírito?
Ou ele não passa de um poço de con-
tradições? O que nos adiantou dois mil
anos de cristianismo? Compreendemos
que a vida de Cristo é um símbolo a ser
imitado? Que na gruta de nosso cora-
ção a Luz deve nascer? Que no Gólgota
– o lugar do crânio – o velho homem de- * Jan van Rijckenborgh, A Gnosis Egípcia,
ve morrer a fim de que se erga a cruz de Tomo II, Sétimo Livro, versículo 8,
Luz, Cristo, a Alma-Espírito vivente? Lectorium Rosicrucianum, 1ª edição, 1986.

23
A DOUTRINA GNÓSTICA DE VALENTINO

Valentino surge como o mais impor- câmara nupcial”. O batismo pela água
tante dos gnósticos do início de nos- religa o ser que aspira à Verdade, à
força da Gnosis. Ele reage a este batis-
sa era. Ele nasceu em Alexandria,
mo pela convicção interior de que agora
fez seus estudos primeiro no Egito, o caminho de libertação está-se abrindo
depois em Roma, onde trabalhou de para ele e que ele pode percorrê-lo com
135 a 160. A ele é atribuída a auto- a força da Gnosis.
ria do Evangelho da Verdade e tam- Esta convicção também lhe dá,
entretanto, a sofrida sensação de que
bém do Evangelho de Felipe, encon-
o homem terrestre está fundamental-
trados em Nag Hammadi. mente separado de Deus, o que faz
crescer seu desejo de unir-se a ele.
D e onde Valentino tirou sua doutrina? Sobre esta base, durante a Santa Ceia,
Ele próprio disse que, em uma visão ele recebe as forças da nova esperan-
havia contemplado um recém-nascido ça e torna-se capaz de seguir a lei inte-
que lhe mostrava o Logos. Estimulado rior e de conformar sua vida ao apelo
por esta experiência, ele partiu em da Gnosis. Pelo fato de ser assim ungi-
busca da Verdade. Ele desenvolveu do pela força do Espírito Santo, ele tem
sua doutrina e criou uma escola que a capacidade de religar a outros
cresceu rapidamente, atraindo muitos homens com o Espírito de Deus. Todos
alunos. Não se sabe se o Evangelho os que são receptivos a ela adquirem
de Felipe é realmente de sua autoria, esta convicção; eles devolvem à huma-
mas é certo que Valentino passou por nidade tudo o que receberam de Deus
uma evolução interior semelhante à de e recebem um conhecimento crescente
qualquer pessoa que percorre a senda do mistério do Espírito. Na “câmara
libertadora; e é este caminho que é nupcial”, a sala das núpcias, a esposa
descrito no Evangelho de Felipe. — a alma purificada — espera por seu
esposo – o Espírito. Ela é tocada e
penetrada pelo Conhecimento divino.
Ela é conhecida como ela conhece a si
RESTABELECIMENTO DA LIGAÇÃO COM mesma. A Luz divina a faz sair das tre-
A FONTE ORIGINAL DO TODO vas e lhe revela sua atividade. A parte
do cérebro que permite a visão espiri-
tual é, para os gnósticos atuais, os
“thalami optici”. “Thalamos”, em grego,
O Evangelho de Felipe comporta 127 significa “câmara nupcial”. Segundo
versículos que explicam de modo deta- Valentino, é neste local que acontece o
lhado o restabelecimento da ligação grande mistério da união com Deus.
com Deus. Os momentos mais impor- Por este fato, sua doutrina vai ao en-
tantes deste caminho são “o batismo contro dos mais antigos mistérios egíp-
pela água, a santa ceia, o batismo de cios, que utilizavam os templos como
fogo, ou unção do Espírito, e o grande representações do santuário da cabe-
mistério do esposo e da esposa na ça.

24
A RESSURREIÇÃO PODE ACONTECER bertador da alma são descritos da se-
COM TODOS guinte maneira:
“A colaboração de quatro forças é
necessária para recolher os frutos do
Todo o gnóstico deve realizar interior- campo deste mundo. É somente pela
mente esta ressurreição. Um dos rituais colaboração da água, da terra, do ar e
de Valentino descreve esta fase impor- da luz que a colheita pode ser guarda-
tante da seguinte forma: “Devemo-nos da no celeiro. Assim, o fruto divino con-
encontrar no Único. Que a graça venha siste em quatro forças: a fé, a esperan-
sobre vós, primeiro de mim e por mim. ça, o amor e o conhecimento. A terra é
Trajai-vos como a esposa que aguarda a fé onde nos enraizamos; a água é a
seu esposo, a fim de que vos torneis eu esperança que nos alimenta; o ar é o
e eu me torne vós. Que a semente de amor pelo qual nós crescemos; e a luz
Luz penetre na câmara nupcial. Recebei é o conhecimento, que permite o ama-
o esposo: fazei-o entrar e deixai que ele durecimento”.
vos tome!“ Em sua visão, Valentino percebeu o
Tais rituais representavam um auxílio Logos, que é o começo e o fim, como
poderoso, pois, quando bem utilizados, uma unidade. Ele considerou como sua
A salamandra:
liberavam forças e estimulavam os que missão revestir estas experiências e es-
símbolo do fogo
buscavam a verdade na senda. tas forças com palavras e imagens com- oculto (Atalanta
No Evangelho de Felipe, as forças e preensíveis para as outras pessoas. A Fugiens, Michael
os processos essenciais do caminho li- força que emana destes escritos são Maier, 1618).

25
testemunho da realidade e da claridade
destas experiências.
O QUE OS ROSA-
Existe um princípio gnóstico segundo
o qual aquele que foi tocado uma vez
pelo Espírito dele deve testemunhar.
Desta visão nasceu uma ligação indis- Astral - A esfera astral da terra é a região
solúvel que lhe permitiu conduzir seus onde estão gravadas todas as experiên-
alunos do batismo de água até o misté- cias da humanidade. Por esta razão, ela
rio da câmara nupcial. A vida e as obras está profundamente suja e deteriorada.
de Valentino mostram que ele seguiu Ela rege, principalmente, o sangue e o
este caminho de auto-iniciação. sistema nervoso automático, conserva o
Imaginamos que sua época, em que estado de todas as formas e influencia a
proliferavam os sistemas filosóficos e consciência e a mentalidade.
crenças muito diversos, não lhe facilitou
muito as coisas. Mas suas palavras dei-
Campo de respiração - É o campo de
xaram um rastro luminoso através dos
força da personalidade, intermediário
séculos, e ainda hoje transmitem uma i-
entre o ser aural e a personalidade.
magem fiel da verdade ao buscador que
Neste campo estão concentradas as
está a caminho. Elas estão sempre
forças e as substâncias que correspon-
prontas a conduzir, a guiar e a sustentar
dem perfeitamente à personalidade e
este buscador, para que ele aprenda a
mantêm o estado em que ela se encon-
compreender suas próprias experiên-
tra.
cias, a fim de que o homem atual tam-
bém consiga, realmente, conquistar a li-
bertação da alma. Consciência - O homem dispõe de uma
Sobre a ressurreição da alma, Valen- consciência biológica e de uma cons-
tino diz: ciência espiritual. A consciência biológi-
“Aqueles que dizem que, antes de tu- ca é constituída pelos centros de cons-
do, é preciso morrer para em seguida ciência da personalidade. A consciência
ressuscitar, estão enganados. Se não espiritual encerra a estrutura de linhas
conseguirmos ressuscitar durante a de força do homem espiritual perfeito.
vida, não conseguiremos fazê-lo depois Logo após a queda, a consciência
da morte”. espiritual ficou presa à consciência bio-
lógica.

Corpo etérico - É o veículo da energia


vital. É a matriz do corpo material cons-
truído segundo linhas de força atraídas
nos diferentes corpos sutis. O corpo eté-
rico renovado constitui a veste da Alma
imortal.

Dialética - O mundo no qual vive o ho-


mem de hoje é dialético, pois suas ca-
racterísticas são: o espaço, o tempo e
as oposições, como luz e trevas, bem e
mal, vida e morte. Estes elementos
estão interligados e também geram uns
aos outros. A Dialética Santa é o mundo
original, em seu estado ainda inviolado,
antes da queda.

26
CRUZES ENTENDEM POR ...

Éteres - São forças ou vibrações elabo- que formam a personalidade, o campo


radas no universo visível. Trata-se do de manifestação ou campo de respira-
éter químico, que está relacionado ao ção), o ser aural e o sétuplo campo
processo de desenvolvimento do corpo magnético espiritual, que tem como
físico; do éter vital, que está relacionado limite a lipika. O microcosmo do ho-
com as forças de reprodução e com o mem atual está mutilado e profunda-
corpo etérico; do éter luminoso, que es- mente degenerado.
tá em relação com o corpo astral; e do
éter refletor, que está em relação com o Mônada - Este termo designa a semen-
corpo mental. Estes quatro “alimentos te espiritual indivisível do microcosmo. A
santos” estão muito degenerados em re- mônada tem dois pólos: um se encontra
lação aos que provinham da Terra origi- no coração, e é o átomo original, o
nal, antes da queda. proto-átomo. O outro se encontra no ser
aural. No processo de transfiguração, os
Ser Aural - Ao redor do campo de mani- dois pólos devem unir-se em uma triuni-
festação da personalidade, encontra-se dade: Espírito, Alma e Corpo.
o sétuplo ser aural, que possui um siste-
ma que lhe é próprio. É uma esfera de Natureza da morte - O campo das ilu-
pontos magnéticos que pode ser compa- sões, das forças opostas, do nascimen-
rada a um céu estrelado. Estes pontos to, do crescimento e da morte, no qual
representam os rastros de inúmeras toda a humanidade sem rumo deve pas-
vidas que foram-se sucedendo dentro do sar por experiências (Veja Ordem de
microcosmo. Estes pontos vão atraindo socorro).
forças externas e as transmitem à perso-
nalidade, e, sobretudo, ao santuário da
cabeça. O ser aural também é chamado Ordem de socorro - Trata-se do campo
de “eu superior”. É um ser irradiante e de vida no qual a humanidade decaída
luminoso que se mantém em interação deve passar por muitas experiências
com a personalidade. Para o transfiguris- para reencontrar o caminho que conduz
ta, é o grande adversário no processo de ao campo de vida original (Veja Natu-
renovação fundamental. reza da Morte).

Gnosis - Alento divino, Fonte de todas Esfera Refletora - É o “outro lado”, o


as coisas, Espírito Universal, Amor, For- lado etérico da matéria visível. É aí que
ça, Sabedoria, Fraternidade Universal, se encontram os pretensos inferno, pur-
força impulsionadora e manifestação do gatório e céu. Portanto, esta esfera tam-
campo de irradiação de luz crística. É o bém pertence à natureza da morte. Nos
Conhecimento vivo, que é divino e que éteres da esfera refletora estão grava-
está próximo a Deus, e que vai sendo dos todos os pensamentos, paixões e
liberado durante a senda libertadora. ações da humanidade, pois é aí que
eles se projetam e se refletem: por isso
Microcosmo - Pequeno mundo: sistema é que esta região se chama esfera refle-
vital esférico, complexo, que compre- tora. Depois da morte do corpo material,
ende (do interior ao exterior): o corpo os corpos sutis se dissolvem na esfera
material, o corpo etérico, o corpo as- refletora, para preparar uma outra vida
tral, o corpo mental (os quatro corpos futura na terra.

27
A FORMAÇÃO DE UM MICROCOSMO

O microcosmo é gerado da natureza fundamental.


A natureza divina, como já vimos, é semelhante a
uma corrente dupla: uma corrente do ser e da
vontade, do desejo e da atividade. Esta corrente não
é Deus, todavia provém dele. Essa corrente dupla,
onipresente, oniabarcante da natureza fundamental
é um campo astral poderoso e ígneo que preenche
todo o universo. Sabeis que o homem com o seu
pensamento racional inflama o próprio corpo astral.
Quando gerais imagens-pensamentos, estas
desenvolvem determinadas atividades astrais em
vosso corpo. Esse abrasamento provoca uma centelha
no corpo astral, com todas as conseqüências do
movimento retrógado. Talvez possais perceber
agora como o pensamento divino, que permanece
fora da naturaza fundamental, faz vibrar e arder
o poderoso campo astral da natureza fundamental.
Dessa forma, uma onda de vida é chamada à
existência, despertada e manifestada pelo
Pensamento divino. Por isto, os microcosmos
também são denominados ‘centelhas divinas’ ou
centelhas do Espírito. Um microcosmo é, portanto,
uma centelha astral desprendida da natureza
fundamental. Estamos ligados mui intimamente com
a natureza fundamental. Um microcosmo, uma
centelha do Espírito, traz consigo todas as qualidades
da natureza fundamental, pois dela provém.

Estas três
fontes podem
ser vistas como
símbolos dos
três núcleos do
microcosmo Extraído de A Gnosis Egípcia, tomo III, p. 168,
(Jardim de Fin, Jan van Rijckenborgh, Lectorium Rosicrucianum,
Irã, século XVI). 1ª edição, 1989.

29
A FORÇA DE AÇÃO DA GNOSIS NO MUNDO

A Gnosis e a natureza dialética não nômico, o eterno e o temporal, o perfei-


pertencem à mesma ordem e são to e o relativo. Como ligar dois pólos tão
incompatíveis? Em física, dizemos que
dois campos de vida distintos um do
um campo provém de uma fonte particu-
outro. A Gnosis é o Logos, a fonte de lar com propriedades específicas. O
toda a vida. Ela se manifesta no Es- campo da Gnosis também provém de
pírito e pelo Espírito, em amor, luz, a uma fonte: ele é a manifestação das
força que tudo engloba, e a sabedo- propriedades desta fonte. É por esta ra-
ria universal. O oposto desta mani- zão que não podemos conceber nem i-
maginar um tipo de campo como este,
festação divina original é o mundo
pois a fonte precede o campo e não o
imperfeito das forças contrárias, do inverso.
intelecto limitado e do amor seletivo:
é o mundo da ilusão.
O CONTATO ENTRE DOIS CAMPOS
INCOMPATÍVEIS
O campo de vida original da humani-
dade e o campo de vida perecível em
que ela habita atualmente existem si- Constatando todos os impulsos gnós-
multaneamente, mas suas propriedades ticos relatados na história da humanida-
os separam. A Gnosis é o absoluto e a de, perguntamos o seguinte: “Por que a
perfeição não ligada ao tempo e ao es- Gnosis se aproxima e sempre está to-
paço. O mundo terrestre é relativo, con- cando o mundo mortal? Em nossa épo-
traditório, imperfeito e ligado ao espaço ca está acontecendo um contato deste
e ao tempo. tipo?” A resposta à primeira pergunta é
Quem não faz a distinção entre estes a seguinte: porque o Criador não quer
dois mundos é presa fácil de mistifica- que sua criatura corra o risco de perder-
ções, como acreditar que o que chama- -se. Ora, esta criatura, o homem, é dota-
mos de “além” é o céu. O que chama- da atualmente de uma consciência que
mos de “além” nos meios religiosos, o foi formada por interação com a nature-
“outro lado do véu”, o “céu” etc. não pas- za mortal. Esta criatura encontra-se em
sa do correspondente simétrico sutil do total contradição, imperfeição, instabili-
mundo material. Aí também reinam ale- dade. Mas o ser humano também possui
gria e dor, recompensa e punição, céu e um princípio independente desta cons-
inferno. O pintor Jerônimo Bosch (1450- ciência terrestre, um núcleo espiritual
1516) representou todos estas regiões. que emana do campo da Gnosis e que é
Agora, que a moda é fazer “viagens” às fundamentalmente estranho ao mundo
regiões sutis, surgem muitos testemu- perecível: é um princípio espiritual que
nhos a este respeito. está sempre impulsionando o ser huma-
A história da humanidade mostra que no a voltar para o campo original. A pre-
o campo da Gnosis está sempre tocan- sença deste princípio não garante,
do o campo da natureza dialética, onde entretanto, que seja possível experimen-
surgem claramente o absoluto e o anti- tá-lo conscientemente. É por isso que a

30
Gnosis toca todos os homens no cora- campo da Gnosis, o que faz com que ele
ção e envia mensageiros para formar precise estar sempre escolhendo. Como
uma ponte temporária entre o campo a tentação e o engano são muito gran-
gnóstico e o mundo decaído, a fim de des, a escolha nem sempre é fácil e – na
que exista, se possível, uma ligação agitação deste mundo – é preciso que
entre eles. Esta ponte constitui um cam- um campo puramente gnóstico traga
po intermediário que permite uma inte- seu auxílio para operar a ligação com a
ração de um com o outro. Graças a esta Fonte da Vida. Aquele que reconhece
ponte, a Fraternidade Universal pode este campo e prova desta fonte, está
socorrer a humanidade que está sem pronto para fazer sua escolha e, em se-
rumo. Esta operação de “salvamento” já guida, ser socorrido.
aconteceu um número incalculável de
vezes, e ainda é o que acontece hoje.
Portanto, formou-se um campo seguro e QUANTO MAIS INTENSA A FONTE, MAIS
nutritivo, que se estendeu sobre o mun- FORTE É O CAMPO
do; e a força libertadora que daí emana
toca numerosos buscadores no coração
e os atrai irresistivelmente. Na fonte se concentram todas as for-
ças. Quanto mais densa for a fonte, mais
forte será a ação. Quanto mais densa for
SEMELHANTE ATRAI SEMELHANTE a fonte de um campo gnóstico, mais for-
tes serão suas atividades e o auxílio ofe-
recido. Como o campo da natureza e o
Independentemente da intensidade campo da Gnosis são completamente
de sua fonte, um campo magnético so- distintos, a Gnosis não fala ao homem
mente irá atrair o que tem uma polarida- natural, mas ao homem espiritual que
de com suas propriedades. Assim, um ainda está adormecido dentro de seu
ímã somente atrai o ferro e a Gnosis so- coração. É por isso que um campo gnós-
mente atrai o que é de natureza gnósti- tico não gera nenhuma força natural,
ca. Ora, a semente espiritual do coração mas libera a força que sai da semente
é gnóstica por natureza, pois ela provém espiritual no homem. Enquanto isso, é
do campo da Gnosis. O homem dialético perfeitamente possível que ele tome
não é gnóstico, portanto, não pode ser consciência da existência de um campo
atraído pelas forças gnósticas. Isto não gnóstico, mas com a condição de que o
tem nada a ver com falta de amor; trata- buscador aí penetre sem nenhum pre-
se da ação de uma lei universal: seme- conceito e com intenso desejo, para
lhante atrai semelhante. Esta lei garante descobrir e perceber a fonte deste cam-
a ligação entre Deus e o princípio de luz po. “Sem prejuízo”, evidentemente, não
no homem, onde quer que este se significa “sem reflexão” e sem exame
encontre. pessoal, mas implica uma reflexão e um
Por um lado, o ser humano participa exame independentes de critérios con-
do campo terrestre, e de outro, a semen- vencionais, com o coração aberto e re-
te espiritual dentro dele o religa ao ceptivo.

31
UMA PROFUNDA TRANSFORMAÇÃO cias da antiga natureza e dar prioridade
E RENOVAÇÃO à vida gnóstica. Pensamento, sentimen-
to e ação orientam-se sem nenhum
constrangimento rumo ao objetivo gnós-
Quando a Gnosis vai ao encontro de tico.
um ser humano, desenvolvem-se idéias É assim que o chamado da Gnosis
e influxos que transformam radicalmen- ecoa no mundo. É um grande privilégio,
te a vida comum deste ser. Por suas em nossa época, poder falar da Gnosis,
próprias experiências, o buscador já mas principalmente de receber sua for-
chegou ao ponto de compreender a ne- ça para a renovação da vida. A eternida-
cessidade de uma transformação como de desceu no tempo. Passo a passo o a-
esta e a aceita de todo o coração. As- luno sério pode aproximar-se dela e aí
sim, ele começa a seguir o caminho de adentrar. Pela porta aberta do campo in-
libertação, e é a Verdade que o guia na termediário, o toque da Gnosis torna-se
senda da Luz, por um processo de uma experiência vivida. O amor divino
transformação e de regeneração funda- conduz o candidato à compreensão e,
mentais, capaz de libertar a alma imor- se ele reagir de maneira correta, conduz
tal. O exemplo que se segue sem dúvi- também a uma transformação funda-
da esclarecerá este processo: um ímã é mental.
envolvido por um campo magnético; em
seu interior se encontra um fio de cobre
isolado, formando uma curva; ele se
mantém imóvel. Neste fio não circula
nenhuma corrente e nada acontece.
Mas, se mexermos neste fio, uma cor-
rente é induzida e aí se manifesta, pro-
duzindo seu próprio campo magnético
em interação com o campo-mãe. O mo-
vimento do fio gera um movimento den-
tro do fio. Esta imagem mostra a ação
de um campo eletromagnético em geral
e do campo gnóstico, em particular: o
que penetra neste campo sem dele to-
mar parte não se transforma. Quem aí
penetra e participa de seu movimento
sofre transformação. Não há interação
entre um ser inativo e o campo que o
contém. O ser nem sequer percebe o
campo. Mas, se este ser começa a agir
e seu movimento sintoniza com a força,
ele toma parte desta nova vida. Com-
Foto portar-se em conformidade com a
Pentagrama Gnosis significa libertar-se das exigên-

32
Para muitos, a vida cotidiana
é um caminho solitário onde
o coração vai-se tornando frio,
se cristaliza, se endurece e se
transforma em uma pedra de gelo,
a ponto de rejeitar a luz aquece-
dora do sol. Mas,
ó maravilha!, a fonte que alimenta
este coração interiormente está
sempre viva. Ela apenas espera
o momento em que sua camada
de gelo se quebre e daí
jorre a água que confere a
Vida. Então, a fonte correrá
livremente e expandirá
sua beleza e a pureza
que o Criador
aí depositou.
A VERDADE SOBRE O GNOSTICISMO

Todos os preconceitos em relação à ções é mortal; o homem espiritual é


vida gnóstica são causados pelo er- imortal.
ro de acreditar que o homem biológi-
co seria um homem original que per- A SENDA GNÓSTICA EXPLICA ESTE DUALISMO
deu o rumo. A Gnosis volta-se para
o que subsiste do homem divino, o-
culto e como que adormecido dentro Quando um gnóstico fala do bem,
ele está visando o mundo do Espírito
do ser humano atual. É por isso que
imperecível. Para ele, o mundo mortal
os gnósticos não falam das expe- e terrestre é uma prisão, pois impede o
riências do ser exterior no mundo crescimento do Espírito imperecível
exterior, mas de experiências inte- dentro dele. A vida perecível sempre
riores do ser interior, espiritual, no tenta impor suas leis ao homem espiri-
tual. É por isso que o homem gnóstico
mundo do Espírito.
considera a vida terrestre como “má”,
pois ela encobre e obscurece a vida
O s processos gnósticos não são in- espiritual. Ela lhe parece “má” tanto no
venções mentais, mas dizem respeito bem quanto no mal terrestres, pois
ao despertar, ao crescimento e à matu- tanto o bem quanto o mal são corren-
ridade do homem espiritual, oculto co- tes que mantêm a alma presa, longe
mo um deus adormecido dentro do ho- do Bem absoluto.
mem natural e que perdeu seus pode- Portanto, para o gnóstico, o mundo
res por muitas razões. Se este princípio perecível é dualista. O bem opõe-se ao
divino tem a ocasião de se despertar, mal. Entre o Bem absoluto do Espírito e
então ele se torna pouco a pouco cons- o bem do mundo dualista, não há oposi-
ciente de provir do Espírito divino, de ção: não pode haver nenhum dualismo
ser um pensamento concebido um dia entre o absoluto e o relativo. O dualismo
pelo Pai de todas as coisas. Ele perce- existe apenas entre dois pólos de natu-
be sua própria estrutura e suas pró- reza semelhante, portanto, no esquema
prias forças, semelhantes à estrutura e do mundo relativo.
às forças do Espírito que penetra o Para o gnóstico, não existem dois prin-
mundo. Ele se torna consciente desta cípios absolutos do bem e do mal, como
verdade. se fossem inimigos um do outro desde a
O gnóstico reconhece, em si mesmo origem dos tempos. O mundo espiritual
e fora de si, que existem dois mundos: é o Bem absoluto. É a unidade da árvo-
um mundo interior e um mundo exterior. re da Vida. O mal absoluto não existe.
No mundo exterior vive o homem exte- Quando o homem vai ao encontro da
rior com seu saber, suas crenças e sua unidade, ele cria a dualidade da árvore
maneira de agir, dependendo das leis do conhecimento do bem e do mal rela-
da natureza. No mundo do Espírito vive tivos. A consciência desta polaridade
o homem espiritual, o homem interior. O permite que ele escape disto e retorne
homem exterior com todas as suas cria- ao Bem absoluto.

34
No Evangelho de Felipe está escrito: sempre foram mal compreendidos. Pen-
Neste mundo, a luz e as trevas, sava-se (e sempre se pensa) que eles
a vida e a morte, diziam que Jesus tinha um corpo apa-
a esquerda e a direita rente e não um corpo de carne e san-
são irmãs gêmeas... gue. Para o gnóstico, este ponto não é
O que for libertado do mundo importante. Para ele, Jesus é o Homem
será incorruptível, de luz, o símbolo do ser que se doa to-
será eterno. talmente aos outros na senda da liberta-
ção interior.
Jesus tomou a forma de um servidor
A SENDA GNÓSTICA REPRESENTADA (Epístola aos Filipenses, 2:7). Apesar de
SIMBOLICAMENTE viver no mundo espiritual, ele nasceu no
mundo perecível, onde cumpriu sua tare-
fa em um corpo terrestre. Em sua vida de
O gnóstico não considera o Novo Tes- todos os dias ele mostrou aos homens
tamento acima de tudo uma narração de seu tempo como empreender o pro-
histórica. Para ele, todas as situações e cesso de libertação e como realizá-lo.
todos os acontecimentos têm, principal- No fundo, o corpo terrestre não é o
mente, um significado simbólico. Como verdadeiro corpo do homem, mas so-
ele sente seu corpo natural como uma mente uma aparência, pois o homem
prisão e um obstáculo, ele se esforça verdadeiro é o homem espiritual, e para
para libertar-se das influências deste o homem espiritual o corpo terrestre
corpo, que não é um instrumento apro- não é sua morada eterna.
priado para o Espírito. Quando o ho-
mem espiritual desperta e volta à vida, o
gnóstico constitui para si, concretamen- SENDA GNÓSTICA E ASCESE
te, um novo corpo, para que ele possa
servir de intermediário entre a vida mor-
tal e a imortal. Os gnósticos sempre foram reprova-
Este processo é descrito de modo dos por não se interessarem em outra
muito detalhado no Novo Testamento. coisa a não ser sua própria libertação e
Jesus demoliu conscientemente o anti- por quererem fugir do mundo. Não é Je-
go templo de seu corpo terrestre e cons- sus quem diz: Aquele que não odeia o
truiu um novo templo no qual o Espírito mundo não pode ser meu discípulo?
pudesse habitar. É por isso que os Ora, quando o homem natural ama o
gnósticos diziam que o corpo de Jesus mundo e se consagra a seu próximo, is-
não estava morto na cruz. to não o liberta, nem liberta o mundo,
Eles queriam dizer que corpo terres- nem liberta seu próximo. Quem quiser
tre de Jesus não era seu verdadeiro cor- ser um discípulo de Jesus e quiser imi-
po, aquele que correspondia a seu ser tá-lo compreenderá que deve começar
interior. Seu verdadeiro corpo é o corpo por romper todas as suas ligações com
da ressurreição, o corpo que venceu a a natureza antes de poder ter a revela-
morte. Sobre este ponto, os gnósticos ção da verdade. Deve também perder a

35
ilusão de que o humanitarismo pode li- “secretos”. Na realidade, é a ignorância
bertar o mundo e a humanidade. Cer- que os oculta e os dissimula. O saber in-
tamente, ele deve cumprir seus deveres telectual não pode dissipar esta igno-
de modo direito e correto, mas sem que rância; ela deve desaparecer interior-
eles o desviem da Verdade. mente. Não se trata também de realizar
Se dentro dele todos estes obstácu- a libertação pessoal do homem natural,
los forem aniquilados e aí começar a mas sim uma libertação coletiva. Um in-
agir o Amor divino, então poderá ser es- divíduo cuja personalidade foi renovada
tabelecida uma relação completamente deve, portanto, ser considerado como
diferente com a natureza, pois ele co- um precursor da nova humanidade.
nhece a única base sobre a qual se de- É preciso, portanto, que o homem di-
senvolve o verdadeiro e libertador amor alético torne-se consciente de ser o por-
ao próximo. Aos olhos daqueles que fa- tador do princípio fundamental da vida
zem tudo para melhorar a vida terrestre, divina original, o “Deus dentro dele”. Por
este comportamento gnóstico pode fa- si só, a fé não é suficiente: é a compre-
cilmente parecer insociável, e pode pa- ensão e, principalmente o desejo de re-
recer uma fuga do mundo. Mas o inver- tornar ao divino que estimulam o aluno
so é verdadeiro: quem se deixa guiar na senda. Aquele que não conhece esta
pelo Amor divino vê o mundo e suas cri- inquietude, nada pode imaginar a res-
aturas aprisionadas na ignorância e nas peito desta poderosa motivação. Conse-
trevas. O “deus dentro dele” ama o mun- qüentemente, os julgamentos emitidos
do, não para servir aos interesses do sobre os gnósticos são errôneos:
mundo, mas para fazer com que tudo o “Eles são arrogantes”.
que é divino neste mundo possa voltar a “Eles são frios e indiferentes.”
Deus. “Eles formam um grupo elitista.”
Desta forma, o gnóstico é uma prova Mas, quem avança na senda gnóstica
viva das palavras do Evangelho de João: não pode ser arrogante e falar como se
pertencesse a uma seita; é com muita
Pois Deus amou tanto o mundo, que lhe modéstia que ele aprende a se calar pa-
deu seu Filho único, a fim de que todo ra que “o Espírito de Deus dentro dele”
aquele que nele crê não pereça, mas possa falar. Ele transmite suas idéias re-
que tenha a vida eterna. novadoras a quem quer que seja, sem
exceção, a todos os que buscam o mes-
mo caminho. Seu maior desejo é o de
A SENDA GNÓSTICA É ABERTA A TODOS que seus semelhantes se libertem para
seguir a voz da Gnosis. O grau de rece-
ptividade é o que importa e é determi-
Dizem também que os gnósticos dis- nante. Quem não quiser e não puder
põem de métodos e conhecimentos se- abrir-se à luz interior é incapaz de viven-
cretos. Na medida em que o buscador ciar o Espírito de Deus. O aprisiona-
sério ainda não descobriu dentro de si mento espiritual significa não estar
mesmo estes recursos, em um certo consciente do “Deus dentro de si”; reco-
sentido estes conhecimentos ainda são nhecer a Luz interior é tornar-se consci-

36
ente do “Deus dentro de si” e esta com-
preensão ajuda a romper suas próprias
correntes e as dos outros. Aqui, a liber-
dade de um é a liberdade de todos!

O GNOSTICISMO É UMA SENDA DE ASCESE?

Dizem que os gnósticos maltratavam


sua natureza e que não viviam como ho-
mens normais. Realmente, existiram
pretensos gnósticos deste tipo. A dife-
rença entre estes e os verdadeiros
gnósticos é que estes podem privar-se
completamente à vontade e sem o míni-
mo constrangimento interior ou exterior
dos prazeres que se oporiam a seu pro-
cesso de desenvolvimento. Para alguns,
a ascese é uma severa cultura do eu;
para outros, é uma libertação das cor-
rentes nas quais o eu aprisiona a alma.
Quando o princípio espiritual desperta e
se desenvolve em um ser humano, “feli-
cidade” e “sofrimento” tornam-se valores
muito relativos.

37
P rece ao Pai das Luzes
pela iluminação final do gênero humano

Ó Luz invisível,
dá-nos olhos para te ver!

Ó Luz eterna,
tu, que participas da eternidade,
ilumina nossos espíritos
a fim de que eles te compreendam e te queiram bem
pois haveriam as trevas de te louvar,
Luz eterna?

Ó, estende, estende teus raios


e que nossa cegueira se dissipe
em todo o teu poder,
a fim de que aqueles que criaste
para tomarem parte da Luz e da Vida
deixem de ser cegos, de andar vagando sem rumo,
de tatear na escuridão
e de se afundar no túmulo.

Se não nos houvesses criado, Senhor,


não existiríamos.
Por que, então, toleras
que aqueles a quem deste a vida
tornem-se presas da morte?

Teus olhos são milhares de vezes


mais brilhantes que o sol e sondam os abismos.
Por que não nos dás,
a nós que fomos criados à tua imagem,
olhos clarividentes capazes de ver, dentro de si
o abismo de sua insignificância,
e portanto de ver em ti a fonte de seu ser?

Ó Verbo que disseste no princípio:


“Que se faça a luz”,
haverás de dizê-las novamente hoje:
“Que se faça a luz”
e a luz se fará.

Detalhe do Jardim
das Delícias
(Jerônimo Bosch,
1450-1516, Museu
do Prado, Madri). Jan Amos Comenius, 1657.

38
GNOSIS FALSA E GNOSIS VERDADEIRA

Quando lemos algo a respeito da não a conhece; e aquele que a conhece,


Gnosis ou quando ouvimos falar al- não fala. Esta é uma lei dos mistérios
universais, rigorosamente observada
guma coisa a respeito dela, geral-
desde que surgiu a ordem de natureza
mente associamos esse conceito à- dialética.
quele de “conhecimento oculto” e Em conseqüência de seu egocentris-
designamos pela palavra “gnóstico” mo e de sua consciência apartada do
tudo aquilo que é misterioso e que Espírito, o homem dialético tem a ten-
dência característica de utilizar aquilo
por conseguinte, oculto ao ser natu-
que ele pode agarrar e assimilar, em
ral grosseiro. qualquer nível que seja, para o fortaleci-
mentor de seu próprio estado. Conse-
O riginalmente, a Gnosis era, porém, a qüentemente, revelar a Gnosis a tais en-
síntese da sabedoria primordial, a soma tidades não contribuiria para sua salva-
de todo o Conhecimento, que dirigia a ção, mas sim para a sua definitiva perdi-
atenção diretamente para a vida primor- ção. Por isso, a Gnosis jamais é revela-
dial divina, uma verdadeira onda de vida da em sua plenitude, jamais foi transmi-
humana não-terrestre. tida verbalmente em sua integridade,
Os Hierofantes da Gnosis eram — e pois são inúmeros aqueles que, muito
ainda são — os enviados do Reino imu- depressa e muito facilmente, assimilam-
tável, trazendo para a humanidade per- na mentalmente e, em conseqüência, o-
dida a Sabedoria divina e indicando a casionam danos não só a si mesmos,
senda única para aqueles que, na quali- como também a outrem...
dade de filhos perdidos, estão desejo-
sos de retornar à Pátria original.
CALOR: a toda Essa Gnosis, tal como foi trazida pe-
poderosa fonte de los hierofantes mensageiros, jamais foi
Luz que rege o escrita. Ela foi transmitida verbalmente,
Todo. Segundo os de instrutor a aluno. Entretanto, nada
antigos alquimis-
deve fazer supor que essa transmissão
tas, o Amor que
em tudo está pre- verbal da Gnosis tenha sido, sem mais
sente e tudo per- nada, completa. Havia um contato com
passa é o único o grupo e com o próprio candidato. Em
grande Mistério. ambos os contatos era minuciosamente
Somente quando
levada em conta a condição espiritual
o campo de vida
foi cuidadosamen- do interessado. Da Gnosis somente era
te preparado este revelado aquilo que era considerado útil
Amor divino é e necessário ao candidato.
atraído e pode Assim, pode-se afirmar com absoluta
irradiar (A escada
certeza que nas regiões dialéticas não
dos Sábios,
Barent Coenders existe pessoa alguma em quem a * Jan van R jckenborgh e Catharose de Petri,
van Helpen, Gnosis se tenha revelado em sua totali- A Gnosis Universal, Lectorium Rosicrucianum,
1689). dade. Aquele que afirma conhecê-la, 1ª edição, 1985.

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DESENVOLVIMENTO DE UM NOVO PODER MENTAL

A faculdade atual de pensar é insufi- var-se acima das limitações terrestres e


ciente. As antigas Escolas de Misté- fazer crescer a alma ainda inconsciente,
e este processo de desenvolvimento
rios desenvolviam um pensamento
constitui o fundamento de um poder
capaz de adquirir o conhecimento e mental absolutamente inconcebível e fo-
a compreensão do Criador e de sua ra do alcance para o cérebro atual.
obra. Este pensamento não era, por-
tanto, baseado unicamente na maté-
COMO CHEGAR A ISTO?
ria, mas, em primeiro lugar, sobre a
alma e o Espírito.
A filosofia gnóstica parte do princípio
Q uem tenta descobrir por si mesmo o de que a inteligência do homem atual é
verdadeiro sentido da vida, começa re- geralmente ainda imperfeita, inacabada,
fletindo sobre a essência das coisas. imatura. A Doutrina Universal nos ensina
Mas, logo que chega ao limite entre a que, em um dado momento de sua evo-
matéria e Espírito ele sente que seu lução, a humanidade recebeu o gérmen
pensamento não pode mais aprofundar- do pensamento. O poder do pensamen-
-se no mistério da vida. Ele pode no má- to deveria tornar-se, então, um órgão
ximo reunir um certo número de fatos, diretor capaz de seguir os impulsos do
ordená-los e daí tirar suas conclusões. Espírito completamente em liberdade.
Às vezes, parece que consegue entre- Consciente ou inconscientemente, o ho-
ver uma nova dimensão, mas logo ele mem, no entanto, fez mau uso desta li-
se bate contra as barreiras, e a essên- berdade. A conseqüência foi uma facul-
cia da criação lhe escapa e vai-se dis- dade de pensar incapaz de voltar-se pa-
tanciando cada vez mais. ra a vida superior porque está exclusiva-
Para realmente sondar os aspectos mente treinada para tratar dos proble-
imateriais do Criador e de sua criação é mas de autoconservação sobre a terra.
preciso ter a faculdade de receber de Esta é a razão pela qual surgiu um tipo
modo não falseado os impulsos do Cria- de ser humano de pensamento duro, frio
dor e interpretá-los de maneira correta. e insensível, que não hesita nem mesmo
Em sua vaidade, o homem atual acredi- em andar sobre o cadáver dos outros.
ta que é semelhante ao Criador do uni- Nossa época nos dá muitos exemplos.
verso e pensa que possui os mesmos Admitindo-se que no ponto atingido
poderes. Mas a realidade nos mostra no decorrer de sua evolução no cosmo
que uma presunção como esta gera a humanidade deve agora dar prova de
males inimagináveis. poder dirigir-se e salvar-se a si mesma,
É por isso que todas as puras ativida- uma crise geral é mais que evidente, po-
des gnósticas, tanto antigamente como is quem possui a divina ciência dentro
hoje, são dirigidas tendo em vista a li- de si? Quem dispõe do poder real de
bertação do princípio divino que se en- conduzir os povos sem que estes o sin-
contra no coração de todos os seres hu- tam? O sábio chinês Lao-Tsé diz:
manos. Somente então é possível ele- A honra faz nascer a luta; o luxo faz

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nascer a ambição. Os humanos bus-
cam satisfazer seus desejos. Esta avi-
dez é a raiz dos inúmeros problemas
da sociedade.
O pensamento dialético é um produto
das percepções sensoriais. Ele aconte-
ce a partir das informações consegui-
das pelos sentidos. Se os sentidos são
baseados sobre a conservação do eu (e
eles o são, forçosamente) então o pen-
samento também o é. Se o pensamento
está voltado para a sabedoria divina,
então, ele terá diante dos olhos o bem
estar das criaturas e aí trabalhará. Sem
nomear ninguém, é preciso constatar
que não é este o caso.

O NOVO PENSAMENTO A SERVIÇO DE


TUDO O QUE VIVE para dar lugar a um novo processo de
desenvolvimento. Esta realização so-
mente começa quando o ser humano
Há muito tempo, o gérmen do pensa- sente um grande cansaço diante do e-
mento foi depositado no homem com a terno girar da roda da existência terres-
finalidade de desenvolver um poder tre: nascimento, crescimento, morte; e
mental capaz, tal como um cálice trans- novamente nascimento etc.. É um pro-
parente, de receber a luz e de refleti-la cesso que conduz a consciência a um li-
em proveito daqueles que dela tivessem mite. Quando a consciência atinge este
necessidade. Uma faculdade como esta limite, ela se encontra diante de uma es-
é independente de toda e qualquer in- colha: ficar no lugar ou avançar. Conti-
fluência pessoal, livre de toda e qual- nuar no lugar significa voltar atrás e cris-
quer intervenção pessoal, de toda e talizar-se de acordo com uma lei natu-
qualquer atração ou repulsa pessoais. ral. Avançar significa renunciar a si mes-
Da mesma forma que o sol brilha para mo para dar lugar ao que é novo. Assim
todos, assim a sabedoria divina irradia como os adultos dão o que há de me-
para todos sob o sol divino. lhor para seus filhos e se esforçam a fim
Como já foi dito, o pensamento co- de prepará-los para levarem suas pró- O poder mental,
mum é regido pelos sentidos. Logica- prias vidas, da mesma forma o homem edificado a partir
mente, se os sentidos fossem destruí- mortal se prepara para o desenvolvi- das percepções
sensoriais,
dos, a vida desapareceria também. É mento da vida imortal. Na fronteira entre
atinge seus
por isso que a senda que conduz ao no- o antigo e o novo, ele deixa o que tem limites em nossa
vo poder mental prevê um apagamento para trás para que o novo poder mental época (Salvador
progressivo da influência dos sentidos possa desenvolver-se. Dali, 1951).

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TEXTO EXTRAÍDO DA LENDA DO REI Ele abandona, assim, o que não per-
MACACO POR WU CHENG’EN tence à Nova Vida; então o eu, o guia da
personalidade mortal, retira-se em pro-
veito do Novo Homem imortal, cujo po-
O rei Macaco acreditava que der mental tem a faculdade de seguir os
podia medir-se com Buda. Este o impulsos do Espírito divino. Este proces-
desafiou para saltar embaixo da so de desenvolvimento não é, absoluta-
palmeira a sua direita. Se ele mente, uma invenção dos rosa-cruzes,
conseguisse, iria tornar-se habitante mas uma verdade secular, oculto como
do Palácio celeste. O rei Macaco uma semente em cada ser humano.
tomou fôlego, saltou, correu como
um corisco através dos ares e
chegou após certo tempo, diante
de cinco colunas rosas. “Este deve
ser o fim do mundo”, pensou ele.
E, para testemunhar sua passagem
por este local, escreveu sobre a
coluna do meio: “O grande Sábio,
semelhante ao Céu, passou por
aqui”. Depois, urinou com desdém
na primeira coluna e voltou-se para
Buda. “Cheguei ao fim do mundo”,
falou ele, contando vantagem, “Vem,
Gravura em que eu te mostro!” Mas Buda lhe
madeira de mostrou os cinco dedos de sua mão
Hokusai (1760- que o Macaco havia pensado que Redação: C. Bode,
1849), da eram colunas. Depois, jogou-o para A. H. van den Brul, I. van den
edição japonesa
da Legenda do
baixo e ligou-o aos cinco Brul-Doerk, R.
rei Macaco in A elementos que o mantiveram Bürmann, B. Klijnveld, H. P. Knevel,
Peregrinação prisioneiro à terra. Foi assim que H. Ch. Steinhart.
para o Oeste o rei Macaco, em toda a sua
(Rijksmuseum, grandeza ilusória, foi submetido. Secretaria: C. Bode, G. Uljee.
Leyde, Holanda)

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