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12Ano Prof: Isabel Alves

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Simbologia da mensagem
Brasão – simboliza a nobreza imutável do passado;

Mar – simboliza a vida e a morte; o nascimento, a transformação e o


renascimento;

Campos – símbolo do paraíso ao qual os justos acedem depois da morte;


espaço de vida e acção:

Castelo – dada a sua habitual localização num lugar mais elevado, simboliza a
segurança, a protecção e a transcendência;

Quinas – os cincos escudos das armas de Portugal reenviam para as cinco


chagas de Cristo, adquirindo uma dimensão espiritual;

Coroa – símbolo de perfeição e de poder: promessa de imortalidade;

Timbre – insígnia que coroa o brasão, indicadora da nobreza de quem o usa,


remete para a sagração do herói numa missão transcendente;

Grifo – ave fabulosa com a força e a sabedoria, o poder terrestre e celeste;

Padrão – monumento de pedra que os navegadores portugueses erguiam nas


terras que iam descobrindo; simboliza o domínio da propagação da civilização
cristã sobre as mesmas;

Mostrengo – simboliza o desconhecido, os medos, os perigos e os obstáculos


que os navegadores tiveram de enfrentar e vencer;

Nau – simboliza a força e a segurança numa travessia difícil; bem como o


incitamento à viagem e a uma vida espiritual; prende-se, também, com a
aquisição de conhecimentos;
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Ilha – símbolo do desejo de felicidade terrestre ou eterna; do além


maravilhoso; da sabedoria e da paz;

Noite – simboliza a morte; remete para um tempo de gestação que


desabrochará como manifestação de vida;

Manhã – símbolo de pureza; de vida para paradisíaca, de confiança em si, nos


outros, na existência;

Nevoeiro – simboliza a indeterminação, indefinição; o prelúdio da aparição.

Os Lusíadas - A Ilha dos Amores

Vendo agora a frota em segurança no seu regresso a Portugal, Vénus pede a


ajuda do seu filho Cupido para juntar os amores e ferir as nereidas com as
flechas do amor. Com as ninfas e Tétis sob esta influência, coloca uma ilha
mística na rota dos portugueses, e a ela traz os amantes.

Podem ser consideradas três descrições no episódio da Ilha dos Amores:

O locus amoenus: o cenário onde decorre o encontro amoroso (estrofes 52 a 67


e mais algumas até ao final do canto) é típico do locus amoenus, com os seus
chãos maciamente relvados, águas límpidas e cantantes, arvoredos frondosos e
até um lago. O poeta fala ainda da simpática fauna que aí se cria e dos frutos
que se produzem sem cultivo. É um cenário paradisíaco, idílico, de écloga.

A alegoria: com um arrojo inesperado para um maneirista, Camões descreve o


encontro dos nautas com as ninfas que os esperavam, industriadas por Vénus. O
amor que experimentam é de paixão: imediato, arrebatado e carnal. E fica dado
o recado aos que condenam a expressão mais física do amor: «Melhor é
experimentá-lo que julgá-lo, Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.»

A recompensa dos portugueses tem um sentido alegórico: «Que as Ninfas do


Oceano, tão fermosas, Tethys e a Ilha angélica pintada, Outra cousa não é que
as deleitosas Honras que a vida fazem sublimada» (estrofe 89). A terminar o
canto, dirigindo-se ao leitor, reforça a intenção alegórica e incita aos feitos de
valor: «Impossibilidades não façais, Que quem quis sempre pôde: e numerados
Sereis entre os heróis esclarecidos E nesta Ilha de Vénus recebidos».

Leonardo: Camões, o indefectível cantor do amor, não quis, e se calhar não


pôde, evitar que isso se reflectisse n'Os Lusíadas. Se os amores mal sucedidos
do Adamastor deixam entrever o caso real do poeta, Leonardo (estrofes 75 a
82) aqui representa a consumação do seu sonho. Repare-se que as queixas
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deste navegante recordam as do poeta na lírica e como é um lamento delicado e


belo.

Canto X - As Ninfas oferecem um banquete aos portugueses. Após uma


invocação do poeta a Calíope, uma ninfa faz profecias sobre as futuras vitórias
dos portugueses no Oriente. Tétis conduz Vasco da Gama ao cume de um monte
para lhe mostrar a Máquina do Mundo e indicar nela os lugares onde chegará o
império português. Os portugueses despedem-se e regressam a Portugal.

O poeta termina, lamentando-se pelo seu destino infeliz de poeta


incompreendido por aqueles a quem canta e exortando o Rei D. Sebastião a
continuar a glória dos Portugueses.

Mitologia
Os seguintes tópicos pretendem fazer um resumo sobre o porquê da presença
da mitologia em Os Lusíadas:

. É uma prova, não só da grande admiração que Camões nutria pela


Antiguidade Clássica, como ainda do profundo conhecimento que dela
possuía. É de facto evidente que o autor desta epopeia estava a par de todos
os mais importantes episódios da mitologia, e que conhecia com algum
pormenor as figuras do panteão greco-romano

. É um dos traços inerentes a qualquer epopeia e que, como tal, Camões não
ousou dispensar;

. Tinha como função embelezar os versos do poema e criar um novo motivo de


interesse, não deixando que a descrição da viagem se tornasse demasiado
enfadonha, ou se aproximasse excessivamente de uma crónica de história;

. O uso da mitologia devia também ser encarado como forma de conseguir um


discurso mais culto e erudito, capaz de impressionar os leitores e de
evidenciar as capacidades intelectuais e artísticas  do  poeta;
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. As figuras mitológicas proporcionam um encadeamento lógico à acção, ao


mesmo tempo que desempenham um papel da maior importância no
desenrolar da viagem dos portugueses. Eles são, pois, intervenientes sempre
activos na acção, ora oferecendo a sua ajuda aos incautos viajantes, ora
conspirando para que tudo termine da forma mais inglória;

. As figuras divinas são uma forma de compensar as personagens “vazias” e


“desumanizadas" que são os marinheiros (personagens sem rosto e sem
nome, que só têm existência enquanto parte do grupo, e de quem nada
sabemos a não ser o resultado do seu esforço).

. Através da dicotomia figuras divinas e figuras humanas, o poeta consegue de


forma ainda mais indiscutível realçar os grandiosos feitos dos portugueses. A
coragem que demonstraram e o empenho que imprimiram à sua missão
teriam sido de tal amplitude que eles foram capazes, não só de triunfar sobre
as forças da natureza, como ainda de ultrapassar e secundarizar os
imponentes senhores do Olimpo;

Depois de tudo o que foi dito, resta-nos apenas acrescentar uma ideia. Para
além de incluir na sua obra a presença e a actuação dos deuses antigos, naquilo
a que designamos por maravilhoso pagão, o poeta fez também questão de focar
o maravilhoso cristão. Este é evidente em pelo menos duas passagens do texto
(uma no Canto II, estrofe 30; outra no Canto VI, estrofe 81), quando Vasco da
Gama dirige súplicas à sua Divina Guarda.

Conclui-se assim que, embora em proporções diferentes, existe a conjugação da


vertente pagã com a vertente cristã.

Júpiter: na mitologia latina era o soberano dos deuses. Sendo também o deus
dos trovões. Filho de Saturno e de Cibele, conseguiu sobreviver à ambição
implacável do seu pai (que devorava todos os filhos que Cibele dava à luz).

Neptuno – Deus supremo do mar. Era invocado pelos navegadores antes das
expedições marítimas e estes ofereciam-lhe sacrifícios. Irmão e Júpiter. Aparece
nu, de barba, com um tridente na mão e sobre um coche.

Plutão: irmão de Júpiter e de Neptuno, era o deus que controlava os infernos.

Marte - Filho de Júpiter e de Juno, Deus da guerra. Era representado na figura


de um guerreiro, completamente armado, com um galo junto de si.

Vénus - Filha do Céu e da Terra. É a Deusa do Amor e da beleza. Vulcano


recebeu-a por esposa, como prémio de haver fabricado os raios de que Júpiter
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necessitou, quando os Gigantes quiseram expulsá-lo do Céu. porém, não


conseguindo suportar a fealdade do marido, logo procurou a companhia de
outros deuses, nomeadamente Adónis, Anquises (de quem teve Eneias) e Marte
(de quem teve Cupido).

Vulcano - Filho de Júpiter e de Juno, Deus do fogo. Sua considerável feldade


aumentou com um pontapé recebido do próprio pai, de que resultou ficar coxo.

Mercúrio - Filho de Júpiter e de Maia. Deus da eloquência, do comércio e dos


ladrões. Era o mensageiro dos deuses, particularmente de Júpiter, que lhe
pegara na cabeça e nos calcanhares asas para as suas ordens serem executadas
com uma maior rapidez.

Apolo: fruto de um relacionamento entre Júpiter e Latona, Apolo era venerado


como deus do sol, das letras e das artes. Era ainda ele quem presidia todas as
nove musas.

Diana - Filha de Júpiter e de Latona, irmã de Apolo. Deusa da caça e da


castidade. O seu poder permitiu que metamorfease Actéon em veado por a ter
visto banhar-se.

Baco: ainda antes de nascer, Baco foi retirado do ventre da mãe (Sémele) por
Júpiter, que o colocou na barriga da sua perna. Aí viria a completar o período de
gestação. Mais tarde, Baco haveria de dominar o Egipto e a Índia, tendo lá
introduzido a agricultura e a vinha. Era por isso venerado como o deus do vinho.

Cúpido - Filho de Marte e de Vénus. Presidia aos prazeres e era representado na


figura de um menino nu, com arco e alojava cheia de setas.

Próteu: deus marinho e protector dos peixes. Tinha o dom de tomar todas as
formas possíveis.

Atlante: este era o gigante que transportava o mundo às costas.

Calíope: musa da eloquência e da poesia épica. Era filha de Júpiter, tal como
Clio (musa da História), Éroto (musa da poesia lírica), Euterpe (musa da dança).

Orfeu: filho de Calíope e Apolo. Tocava lira, e as suas melodias eram tão belas
que até as árvores e as pedras se moviam para o escutar.

Morfeu: deus dos sonhos na mitologia grega.

Tethys - Tethys é uma das divindades primordiais das teogonias helénicas.


Personifica a fecundidade “feminina” do mar. Nascida dos maiores de Ouganos e
Gaia, é a mais jovem das Titânides.
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Thetis - Thetis é uma das Nereidas, filha de Nereu, o velho do mar, e de Dóris.
É por consequência uma divindade marinha e imortal e é a mais célebre de
todas as Nereidas.

Dóris: filha do Oceano e de Tethys, casou com Nereu de quem teve as


Nereidas.

Hércules - Filho de Júpiter e de Alcmena. O pai dos Deuses, para enganar


Alcmena, tomou a forma do marido, Anfitrião, na ausência deste. Juno,
justamente indignada, conseguiu que Euristeu, rei de Micenas, obrigasse
Hércules a doze trabalhos perigosíssimos, com o desejo de vê-lo morrer em um
deles. Hércules porém venceu.

Tifeu: gigante que transformou Vénus e Cúpido em peixes.

Galateia: uma das Nereidas.

Mitificação do herói

Os Lusíadas celebram os Portugueses enquanto nação, colectividade. Para isso,


o poeta desenvolve uma história de Portugal como epopeia, seleccionando os
episódios e as figuras, de modo a fazer avultar o lado heróico e exemplar da
História, cantando-a. Por outro lado, o poema tende à universalidade, louva não
só os Portugueses mas o homem em geral: a sua capacidade realizadora,
descobridora.
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A empresa das descobertas é a grande prova dessas capacidades: a de se impor


à natureza adversa, de desvendar o desconhecido, de ultrapassar os limites
traçados pela cultura antiga e pelo conceito tradicional do homem e do mundo,
que estavam dogmatizados e eram difíceis de superar. Os Lusíadas celebram a
capacidade de alargar e aprofundar o saber; a realização do homem no que
respeita ao amor e, por fim, talvez o mais importante, o poder de edificar a vida
face ao destino.

O Homem, «bicho da terra» tão pequeno, conseguiu conquistar o mar que o


transcendia - espaço de transgressão -, vencendo as forças, personificadas pelos
Deuses. Conseguiu isso pela ousadia, pelo estudo, pelo sacrifício, por querer
superar-se a si próprio.

Os homens tornam-se deuses, fazendo cair do pedestal as antigas divindades. A


recepção dos nautas pelas ninfas significa a confirmação dos receios de Baco: de
facto, os navegantes cometeram actos tão grandiosos que se tornam amados
pelos deuses; e, de certo modo, divinizam-se também.

Mais do que explorar os mares, a viagem traduz em si mesma a contínua


procura de verdade, pois é sempre mais belo viajar do que chegar. Desta
viagem resulta a passagem do conhecido para o desconhecido, das trevas para a
luz, de uma ideologia confinada para outras e diversas realidades. Os olhos dos
eleitos que viram o raiar da aurora e a água pura das fontes ou que tiveram o
privilégio de contemplar a «máquina do Mundo» exprimem a metáfora da luz
numa nova época do conhecimento. O deslumbramento dos nautas pelo
erotismo da «ilha» simbolizará também a necessidade de uma comunhão dos
homens com o divino na procura da suprema harmonia.

Assim se consubstancia a narrativa que na Ilha dos Amores revelará ao mundo


que a única via para o Futuro é o Amor e o Conhecimento. A superação advém
dessa interiorização, dos perigos e contrariedades. «Vede» -depois de tantos e
tantos perigos, chegámos aqui para voltar com o conhecimento. A descoberta
verdadeira foi que o caminho marítimo (ou terreno) é através do Amor e do
Conhecimento. O desconhecido torna-se conhecido e o mistério é desvendado,
os nautas divinizados.

Reflexões do poeta
Na primeira reflexão d’Os Lusíadas, sobre a insegurança da vida, Camões reage
à traição protagonizada por Baco, lamentando-se da personalidade escondida
dos seres humanos. Estabelece um paralelismo entre os perigos encontrados no
mar e em terra, verificando que em nenhum dos ambientes há segurança
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absoluta. Na sequência disto, reflete sobre a posição do ser humano face à


natureza, já que na sua fragilidade e insegurança é capaz de atravessar mares e
conquistar povos, ultrapassando com sucesso os diferentes obstáculos.

A reflexão sobre a dignidade das Artes e das Letras é um episódio


marcadamente Humanista. Isto é observável noutras partes da obra pela
demonstração da vitória do Homem sobre a Natureza e a vontade de saber e
descobrir.

Camões alegra-se ao verificar que na Antiguidade sempre houve personagens


protagonistas de feitos heróicos e simultaneamente autores capazes de os
cantar condignamente. Em oposição, lamenta-se do facto de, apesar de os
portugueses terem inúmeros feitos passíveis de serem louvados, não ser
prezada a poesia, tornando-o num povo ignorante. Na sequência disto, caso
continue a não haver em Portugal uma aposta nas artes, nunca ninguém
exaltará os feitos dos portugueses.

No final do canto VI, Camões apresenta-nos o seu conceito de nobreza,


recorrendo para isso à oposição com o modelo tradicional. Desta forma, o poeta
nega a nobreza como título herdado, manifestada por grandes luxos e
ociosidade. Propõe então, como verdadeiro modelo de nobreza, aquele que
advém dos próprios feitos, enfrentando dificuldades e ultrapassando-as com
sucesso. Só assim poderá superiorizar-se aos restantes homens e ser
dignamente considerado herói. O estatuto será adquirido ao ver os seus feitos
reconhecidos por outros e, mesmo contra a sua vontade, ver-se-á distinguido
dos restantes.

Na reflexão que faz no início do canto VII, Camões faz um elogio ao espírito de
cruzada e critica os que não seguem o exemplo português. Isto porque, para
Camões, a guerra sem pretensões religiosas não faz sentido, visto ser apenas
movida pela ambição da conquista de território. Assim, recorre ao exemplo do
Luteranismo alemão.

Dirige-se depois aos ingleses, que deixam que os Muçulmanos tenham sob
controlo a cidade de Jerusalém e preocupa-se apenas em criar a sua nova forma
de religião (anglicanismo). Também os franceses, ao invés de combaterem os
infiéis, aliaram-se aos turcos para combater outros cristãos. Nem os próprios
italianos passam impunes, ao ser-lhes criticada a corrupção. Para incitar à
conquista de povos não - cristãos, visto esta causa não ser suficiente, Camões
lembra as riquezas da Ásia Menor e África, incitando desta forma a expansão.
Termina elogiando os portugueses, que se expandiram por todo o mundo tendo
como fim primário a divulgação da fé.
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Na segunda reflexão que faz no canto VII, Camões critica os opressores e


exploradores do povo. Começa por uma retrospectiva da sua própria vida, com
etapas como a pobreza, a prisão, o naufrágio, …, fazendo destas um balanço
negativo. No entanto, para ele a maior desilusão continua a ser o facto de não
ver a sua obra devidamente reconhecida. Alerta portanto para o facto de os
escritores vindouros se poderem também sentir desta forma, desencorajando a
escrita e a exaltação dos heróis.

No final do canto VIII, Camões centra a sua reflexão nos efeitos perniciosos do
ouro. Lista todos os efeitos do metal precioso, desde traições à corrupção da
ciência, ao afirmar que o ouro pode fazer com que os juízes dêem demasiada
importância a uma obra pelo facto de terem sido remunerados para tal.

No final da obra, Camões lamenta-se do facto de não estar a ser devidamente


reconhecido, já que a sociedade se rege somente pelo dinheiro, decidindo por
isso pôr-lhe termo. Não deixa no entanto de louvar os portugueses e todos os
perigos por eles ultrapassados (definição camoniana de nobreza). Elogiando os
heróis passados, alerta os homens do presente que a vida nobre não passa pelo
ouro, cobiça e ambição. Exorta D. Sebastião a valorizar devidamente aqueles
que pelos seus feitos se puderem considerar nobres. Correspondendo à visão
aristotélica da epopeia, remata com novas proposição e dedicatória e incita o rei
a feitos dignos de serem cantados.

Neoplatonismo e resquícios aristotélicos

Para interpretarmos as passagens em que o neoplatonismo se faz presente no canto IX


d’Os lusíadas, vamos tecer inicialmente algumas considerações sobre o poema épico. Ao
invocar os deuses pagãos, Camões já utiliza a Antigüidade clássica como autoridade. Porém,
não há incoerência no uso de divindades pagãs no poema, pois Camões as utiliza como
alegorias dos preceitos cristãos, para que Deus os supere e os governe. Os deuses pagãos só
servem para “fazer versos deleitosos”, mas a verdade se esconde na fábula dos versos ao
mesmo tempo em que nela é revelada. Além disso, os deuses são a imagem do mundo
platônico das idéias. Dessa forma, Camões consegue acoplar o paganismo ao cristianismo.
Vênus – o Amor, “que dentre todas as divindades é o mais amigo dos homens” como proferiu
Aristófanes, é escolhida por Camões para proteger e guiar os lusitanos em seus feitos. O poeta
pretende, com o poema, fundar o Império de Deus, erigido pelos portugueses. Os heróis
portugueses, afamados pelo poema, são levados à condição de deuses. Os portugueses, na
figura de seu rei, são a
(...)
Maravilha fatal da nossa idade,
(Dada ao mundo por Deus, que todo o mande
Pera do mundo a Deus dar parte grande);
(Os lusíadas, canto I, 6, vv. 6-8)
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Através de seus feitos valorosos tornam-se eternos, pois o amor “sanciona a coragem e
o trabalho”, tornando-os virtuosos e felizes durante a vida e após a morte, como já dito no
primeiro capítulo. Mas como se dá a passagem, o caminho para a divindade, para a
imortalidade? Através do amor, ponte entre homens e deuses, que supera a morte e é
representado poeticamente na figura da mulher (pelo que nela reflete é capaz de superar a
transitoriedade da vida). O corpo belo das ninfas une-se aos feitos valorosos dos portugueses e
os tornam divinos. Os amantes
Com palavras formais e estipulantes
Se prometem eterna companhia,
Em vida e morte, de honra e alegria.
(Os lusíadas, canto IX, 84,vv.6-8)

Tétis e as ninfas que recebem Vasco da Gama e os outros lusos são um símbolo das
honras e glórias que dignificam a vida. Os heróis antigos, explica Camões nas estrofes 90 e 91
do canto IX d’Os lusíadas, eram imortalizados no Olimpo, como prêmio por “feitos imortais e
soberanos” que “divinos os fizeram, sendo humanos”. O amor eleva o homem e “faz descer” os
deuses: [Cupido] “Os deuses faz descer ao vil terreno/E os humanos subir ao céu sereno” (Os
lusíadas, canto IX, 20, vv. 7-8).
A “Ilha de Vénus” é a representação poética do locus amoenus, uma natureza
paradisíaca, pacífica, amorosa1. É nesse locus, que lembra o Paraíso, onde há a conjunção
entre o humano e o divino. A ilha é um prêmio pelos valorosos feitos lusitanos, é o lugar da
perfeição – lembrando-nos o Mundo das Ideias de Platão ou o Paraíso cristão. Camões
emprega o erotismo nos versos do canto: a perseguição às ninfas é descrita com grande
sensualidade, quando os ventos vão descobrindo suas alvas carnes e levando seus cabelos de
ouro. Elas “Nuas por entre o mato, aos olhos dando/ O que às mãos cobiçosas vão negando”
(Os lusíadas, canto IX, 72, vv. 7-8). Mas, assim como em outros poemas líricos, o amor do
corpo é ponto de partida para o Amor divino. Camões, como recurso estilístico, também
sublima a passagem usando uma elocução das mais elevadas, que a forma do poema épico
exige.

Visão sistematizada de “Os Lusíadas”

Narrativa central do nosso Renascimento, Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões (c.


1531 – 1580) constitui-se igualmente como a bíblia de Portugal ou como o livro-
síntese da história do destino e da singularidade de Portugal no mundo.

Em primeiro lugar, nele repousa a memória da diferenciação entre Portugal e Castela


ou a definitiva distinção entre o reino de Portugal e os restantes reinos da Ibéria.
Camões representa Viriato como o "patriarca" militar dos portugueses, o modelo
originário e o motor de heroísmo a partir dos quais se conformam todos os feitos
ilustres dos portugueses, seja enquanto defesa bélica do território português, seja
enquanto promotor "Da Lusitânea antiga liberdade" (I, 6), isto é, dos valores da

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liberdade e independência nacionais, seja, ainda, enquanto exemplo militar e moral


dos feitos que os Portugueses estavam então realizando nos "novos mundos" do
mundo.

No "Concílio dos Deuses", do Canto I, Camões põe no discurso de Júpiter a descrição


daquela "forte gente" que eram os Portugueses, vencedores do "Mouro forte e
guarnecido" e do "Castelhano tão temido" e, numa autêntica viagem no tempo, que
reflecte o saber histórico renascentista, recua a Viriato. Nestas estâncias, a figura de
Viriato é moldada historicamente segundo a "fama antiga" que os Portugueses
levantam, tendo vencido sempre os seus inimigos: os romanos, enquanto ainda
Lusitanos, os mouros e os castelhanos. E se estes povos surgem como os três
inimigos dos portugueses na constelação imagética de Camões, as três figuras
"heróicas" deles vencedores são Viriato (I, 26), Nuno Álvares Pereira (IV, 13 a 50)
e D. Afonso Henriques (III, 30 a 84). Assim, a Lusitânia, donde, segundo Camões, 
os Portugueses derivam por continuidade histórica, surge como a diferença específica
entre a "Espanha" e Portugal; e Viriato, como chefe da Lusitânia, surge igualmente e
consequentemente como pai histórico ancestral dos Portugueses.

Em segundo lugar, Os Lusíadas cristaliza o momento histórico superior da expansão


de Portugal, desde a Reconquista à viagem de Vasco da Gama, passando pela
aclamação de D. João I, inaugurador da dinastia de Aviz. Portugal, um pequeno
povo litorâneo, expandindo-se, transfigura a face do mundo, tornando este um
arquipélago de continentes. Assim, se o herói individual d’Os Lusíadas é
indubitavelmente Vasco da Gama, recompensado no final pela sua transformação
em semi-deus na Ilha dos Amores, e o feito celebrado a descoberta do caminho
marítimo para a Índia, o herói colectivo é, também indubitavelmente, o povo
português e a sua saga histórica, representada período a período pelos seus
maiores (os reis, os nobres, os cavaleiros). Mais do que história feita pelo povo
(como em Fernão Lopes), narra-se uma história em que as acções das elites
guerreiras e religiosas se encontram fundidas com os desejos patrióticos das
camadas populares (os menesteirais, os burgueses, os judeus) no exclusivo sentido
de ambos prestarem honra e louvor a um corpo único, Portugal. N’Os Lusíadas, o
herói individual e a acção individual constituem-se apenas como representação
singular do sentido da história de Portugal, não possuindo autonomia face ao todo
da narrativa. Neste sentido, o livro de Luís de Camões exprime uma visão épica da
nossa história, centrada em torno do seu feito maior (a descoberta do caminho
marítimo para a Índia), cúmulo e resumo do seu destino heróico.

Em terceiro lugar, Os Lusíadas apresentam-se como a solidificação de quatrocentos


anos de evolução da língua portuguesa, representando-a, nos finais do século XVI,
como plenamente independente do Latim e do Castelhano. Semanticamente,
constitui-se, para a época, como a máxima exploração das possibilidades da língua,
elevando-a a um patamar estético de superior qualidade, expondo-a
concetualmente no seu sentido erudito, integrando-a no movimento renascentista
europeu.

Em quarto lugar, Os Lusíadas ostentam a conceção da sabedoria clássica da ciência


medieval aristotélica e ptolomaica (a “máquina do mundo”), mas também a nova
atitude renascentista de um saber de “experiência feito”, consagrada no verso “vi,
claramente visto”, de carácter empírico, como o provam as alusões a uma nova
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flora, uma nova fauna, uma nova geografia e a fenómenos atmosféricos e


marítimos (referência à tromba de água) nunca antes suspeitados. Existe assim um
naturalismo moderno n’Os Lusíadas que espreita a revolução científica europeia do
dealbar do século XVII, embora nesta Portugal não participe (o heliocentrismo, de
Copérnico, a mecânica de Galileu, a medicina de Harvey, a geometria analítica de
Descartes, o atomismo de Gassendi). De qualquer modo, o naturalismo
apresentado por Luís de Camões regista o avassalador progresso da astronomia e
da marinharia portuguesas (Abraão Zacut, Duarte Pacheco Pereira, Pedro Nunes)
de Quinhentos e Seiscentos, uma espécie de rasgão cultural que tornara Portugal
na vanguarda científica da Europa renascentista, e que fenecerá bruscamente
bloqueado pela aplicação dos ditames da Contra-Reforma no reinado de D. João III.

Em quinto lugar, Os Lusíadas, enquanto epopeia, espelha em perfeição o antigo


homem português da formação da nacionalidade, dominado pelo ideário templário
de Cruzada, de Reconquista, de conversão do outro (o mouro), aplicando-o agora,
de um novo modo, ao gentio africano e ao pagão asiático. O sentido da história de
Portugal permanece o mesmo, o coração do seu destino transcendente idêntico,
mas o âmbito e a área de aplicação são diferentes, apontando para a criação da
monarquia universal sob o domínio temporal de D. Manuel e o domínio espiritual
do Papa, abrindo assim caminho cultural para o projecto português de
missionarização universal de Padre António Vieira com o nome de Quinto Império
do Mundo.

Finalmente, em sexto lugar, Os Lusíadas atinge um dos mais altos graus estéticos
de toda a poesia portuguesa, fundindo o espírito lírico presente nas cantigas de
amigo e de amor, o espírito trágico presente em Castro, de António Ferreira, e o
espírito épico presente nas gestas medievais de cavalaria da “matéria da
Bretanha”, evidenciando-se na época como a mais bela e a rica síntese da
totalidade da cultura portuguesa.

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