Sei sulla pagina 1di 79

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA

SARA RAQUEL DE ANDRADE SILVA

RELATÓRIO DE PESQUISA

Trabalho apresentado para conclusão da

disciplina de Metodologia Qualitativa,

ministrada pelo Prof. Dr. Jair Ramos.

Niterói

2017
Sumário

1. INTRODUÇÃO AO OBJETO DA PESQUISA ............................................................................................4


2. M ESAS REDONDAS , GT S , SIMPÓSIOS E FÓRUNS TEMÁTICOS EM EVENTOS CIENTÍFICOS ........................8
2.1 CBS – C ONGRESSO BRASILEIRO DE S OCIOLOGIA ......................................................................8
XVI Congresso Brasileiro de Sociologia 10 a 13 de setembro de 2013, Salvador BA ...........8
XV Congresso Brasileiro de Sociologia 26 a 29 de julho de 2011, Curitiba-PR ..................10
XIV Congresso Brasileiro de Sociologia 28 a 31 de julho de 2009, Rio de Janeiro (RJ).....10
XIII Congresso Brasileiro de Sociologia 29 de maio a 1 de junho de 2007, UFPE, Recife
(PE).............................................................................................................................................11
X11 Congresso Brasileiro de Sociologia – 31 de maio a 3 de junho de 2005 – Belo
Horizonte (MG) .........................................................................................................................12
XI Congresso Brasileiro de Sociologia - 1 a 5 de setembro de 2003 Campinas (SP) ...........12
2.2 - RBA REUNIÃO BRASILEIRA DE A NTROPOLOGIA ....................................................................13
30ª Reunião Brasileira de Antropologia - “Políticas da Antropologia: Ética, Diversidade e
Conflito” 3 a 6 de agosto de 2016 João Pessoa – PB .............................................................13
29ª Reunião Brasileira de Antropologia - “Diálogos Antropológicos expandindo
fronteiras” - 03 a 06 de agosto de 2014 Natal-RN ..................................................................14
28ª RBA “Desafios antropológicos contemporâneos” 02 a 05 de julho de 2012, PUC São
Paulo...........................................................................................................................................15
27ª Reunião Brasileira de Antropologia – “Brasil Plural conhecimentos, saberes
tradicionais e direitos a diversidade” 01 a 04 de agosto – 2010 Belém - Pará ....................15
2.3 - ANPOCS – ASSOCIAÇÃO N ACIONAL DE P ÓS -G RADUAÇÃO E P ESQUISA EM C IÊNCIAS S OCIAIS
16
40ª Anpocs 24 a 28 de outubro de 2016, Caxambu MG.........................................................16
39º Encontro Anual da Anpocs 29 a 30 de outubro 2015, Caxambu-MG............................17
38ª Encontro Anual da Anpocs de 27 a 31 de outubro de 2014, em Caxambu – MG .........17
37º ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS 23 a 27 de setembro, Águas de Lindóia-SP, 2013
....................................................................................................................................................18
3. - G RUPOS DE PESQUISA E P LATAFORMA L ATTES .............................................................................19
4. - OS ESPECIALISTAS .......................................................................................................................28
5. P ARTE 2 – R ESUMOS E FICHAMENTOS CONCEITUAIS .......................................................................34
BOURDIEU& Darbel, Alain. ([1969] 2003), O amor pela arte: os museus de arte na Europa e
seu público. São Paulo/Porto Alegre, Edusp/Zouk. ........................................................................34

2
BOURDIEU, Pierre. Gostos de classe e estilos de vida. In: ORTIZ, Renato (Org.). Pierre
Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983. p. 82-121 ...............................................................39
DABUL, Lígia. O público em público: práticas e interações sociais em exposições de artes
plásticas. Tese (Doutorado em Sociologia)–Programa dePós-Graduação em Sociologia,
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2005. ...........................................................................46
DUNCAN, Carol. “The Art Museum as Ritual” in Civilizing Rituals Inside Public Art Museums
........................................................................................................................................................53
FLEURY, Laurent “Os Públicos da Cultura” in: Sociologia da cultura e das práticas culturais,
Editora Senac : São Paulo, 2009 .....................................................................................................58
6. A NEXOS ........................................................................................................................................67

3
1. I NTRODUÇÃO AO OBJETO DA PESQUISA

O presente relatório visa apresentar o mapeamento e evolução do campo de pesquisa


ligado ao objeto da dissertação em desenvolvimento. O objeto em questão, os públicos da
cultura, perpassa as abordagens da sociologia da cultura, da arte e preocupações com
políticas públicas voltadas para a cultura. Nesse sentido, apresento nessa introdução um
breve levantamento das pesquisas relacionadas ao campo bem como as principais
questões construídas ao redor do tema e com as quais pretendo trabalhar. Posteriormente,
o relatório que elenca os passos dados na direção de conhecer os debates que cercam o
tema, bem como uma bibliografia fundamental se dará em duas partes: A primeira,
apontando o passo-a-passo junto aos congressos e eventos de ciências sociais, para, em
seguida, abordar os textos escolhidos da bibliografia alcançada.

As pesquisas que colocam o público e o consumo cultural no centro de sua


problemática constituem atualmente um instrumento que possibilita conhecer o
desenvolvimento do comportamento de uma população, mapear as dinâmicas de
exclusão, apontar o perfil cultural de uma cidade ou país e conhecer as relações que as
pessoas estabelecem ou buscam estabelecer com a cultura de uma forma geral. A
disseminação dessas pesquisas pode ser atribuída, em parte com o enfoque no campo da
cultura disseminado nos congressos periódicos da UNESCO, que a partir da década de
1970, conclama seus países membros a produzir dados estatísticos sobre a cultura,
intentando apurar a percepção dos governos nacionais sobre o tema; a partir de então,
desenvolvimento cultural começa a ser percebido como fator constituinte da base do
desenvolvimento econômico de uma sociedade1.

Esse movimento que coloca a cultura e o consumo cultural na agenda de governos de


países, estados ou municípios, é marcado por programas de estudos descritivos,
levantamentos de frequência e estatísticos sobre custos de investimento e funcionamento
de equipamentos culturais, precede o movimento que propõe abordar a transformação dos
modos de vida – aqui podemos pensar nos novos perfis de emprego e exigências de
qualificação técnica, aumento no grau de instrução, expansão da indústria cultural,
difusão de aparelhos eletrônicos domésticos e transformação do tempo de lazer -

1
BOTELHO, Isaura e FIORE, Maurício. O Uso do Tempo Livre e as Práticas Culturais na Região
Metropolitana de São Paulo. In CALABRE, Lia (Org.). Políticas culturais: diálogo indispensável. v.2. Rio de
Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2008, pág. 4

4
influenciou a relação das pessoas com a cultura. Dessa forma, o setor em que a cultura se
inscreve passa a ser entendido como parte fundamental do conjunto de preocupações
políticas, engendrando assim a necessidade de conhecer as relações entre a população e a
cultura e traduzir essa relação em número comparáveis e quantificáveis, a fim de
aprimorar os critérios de intervenção e “democratização” da cultura.

De maneira geral, as pesquisas voltadas para o consumo cultural tendem a


reafirmar os resultados obtidos na pesquisa de Bourdieu e Darbel 2 sobre públicos de
museus na Europa, na direção em que apontam que as formas de cultura erudita são mais
facilmente acessadas por aqueles que possuem uma bagagem familiar cultural,
ancorando-se ainda em variáveis como o nível de instrução escolar, renda familiar e
profissão.

Tais resultados motivaram o desenvolvimento de ações que vislumbravam a


“democratização da cultura”, no sentido de dar acesso ao maior número de pessoas às
obras da cultura legítima: Durante muito tempo, o discurso da democratização serviu para
legitimar as ações públicas no que toca a questão cultural e a profusão de iniciativas que
surgem a partir da década de 1980;3 essa abordagem da política cultural foi, contudo,
desaparecendo e dando lugar a novos discursos que pensavam a desigualdade no acesso
a formas culturais e as questões das hierarquizações dos gostos sob outras perspectivas.

As pesquisas que buscam mapear as formas de consumo cultural surgem nesse


contexto como ferramentas para mapear a relação do público com os equipamentos
culturais, visando fornecer dados para a ação de produtores, patrocinadores e políticas
governamentais, permitindo tomadas de decisões mais “acertadas” no sentido de
promover o acesso a aparelhos de difusão da cultura. No entanto, traduzir as práticas
culturais dos públicos em números estatísticos incorre no risco de construir um panorama
muitas vezes inexato e distorcido dos comportamentos da população pesquisada: Os
comportamentos que correspondem ao consumo da cultura erudita tendem, por sua
valorização, serem superestimados, enquanto as demais práticas são, de acordo com a
mesma lógica, minimizadas pelas pessoas abordadas. Nesse sentido, a pesquisa
qualitativa, a etnografia e a entrevista aprofundada surgem como alternativas

2
BOURDIEU, Pierre e DARBEL, Alain. O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu público. São
Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo: Zouk, 2003
3
DONNAT, Olivier Democratização da cultura: Fim e Continuação In: BOTELHO, Isaura (Org.) Revista
Observatório Itaú Cultural, n. 12 (maio/agosto), – São Paulo: Itaú Cultural, 2011

5
complementares às abordagens que se fixam em critérios como acúmulo de práticas
culturais, escolaridade, faixa etária, renda familiar e local de residência dos entrevistados
para, somando-se a esses dados, formar um panorama mais aproximado das relações dos
públicos com a cultura.

A partir dos esforços da prefeitura do Rio de Janeiro em mapear e conhecer os


públicos, o objeto desta pesquisa se construirá em entender de que forma os públicos se
relacionam com os equipamentos culturais públicos de cultura (teatros, cinemas, museus,
centros culturais, etc.) no espaço urbano. Nesse sentido, cabe a investigação de como são
aplicadas as políticas de promoção cultural – se existirem -, quais públicos visam atender
e quais de fato comparecem. Também é interessante observar a movimentação de pessoas
na cidade na direção em que acontecem os eventos de seu interesse, se permanecem nas
localidades em que residem, se transitam pela cidade, se participam e conhecem os
eventos culturais realizados nas diversas áreas da cidade. Cabe ainda observar a temática
abordada pelos eventos: Há um padrão nessa temática? Existem diferenças entre os
eventos realizados nas diferentes áreas de planejamento? Se sim, de que forma se
diferenciam? Que públicos se propõem a alcançar? Quais empresas apoiam quais
projetos? Qual é o perfil do público que participa nos diferentes bairros do Rio de Janeiro?
Existe alguma publicidade em torno desses eventos? De que forma ela acontece? Esses
são os primeiros questionamentos que surgem na fase de investigação da pesquisa.

A pesquisa apresenta como proposta de abordagem uma etnografia dos públicos,


uma aproximação que visa conhecer as práticas, movimentações, frequência, discursos,
por fim, a relação das pessoas com a cultura na cidade. Essa proposta apresenta
especificidades a serem superadas ao longo do trabalho de campo, uma vez que, diferente
do campo tradicional da etnografia –um grupo, uma aldeia, um bairro, com ou sem limites
estabelecidos, mas passíveis de um recorte geográfico ou social pelo pesquisador – os
públicos não constituem um grupo que possamos situar dentro e fora, os “nativos” que
pertencem ou não a eles; pelo contrário, são coalizões que se constroem e se desfazem,
em constante movimento e dificilmente distinguíveis enquanto grupo “fechado”. Nesse
sentido, interessam principalmente as pesquisas que lidam com os públicos de uma
maneira geral, a fim de conhecer de que maneira outros pesquisadores lidaram com a
abordagem a esse objeto.

6
O relatório a seguir buscou identificar em um período de dez anos, os principais
trabalhos que abordavam essa temática em treze eventos em ciências sociais – ANPOCS,
RBS e RBA. No entanto, embora as discussões, mesas e GTs que se reúnem para tratar
as temáticas no entorno da sociologia da arte e da cultura sejam numerosas, os trabalhos
que discutem os públicos são escassos. Dessa forma, busquei identificar os trabalhos
relevantes para essa pesquisa elencando palavras chaves que nortearam a busca e que
perpassam temas de interesse. Assim, embora alguns trabalhos aqui referenciados não
estejam estritamente em sintonia com o tema da pesquisa em si, foram sugeridos
pensando os problemas que abordam e tratam questões pertinentes à investigação que
proponho. Assim, junto com os encontros, debatedores, títulos dos papers e autores,
referencio as palavras chave que funcionaram como motor de busca para tal trabalho.

Em seguida, buscarei identificar os autores que são referência na temática a ser


desenvolvida na pesquisa, através da plataforma Lattes, informações sobre a produção
científica de autores, debatedores, bem como seus respectivos orientadores e grupos de
pesquisa de que participam, com a intenção de levantar as referências bibliográficas
fundamentais no tema e campo de pesquisa.

7
2. MESAS REDONDAS , GT S, SIMPÓSIOS E FÓRUNS TEMÁTICOS EM EVENTOS CIENTÍFICOS

Como já mencionado, esse primeiro momento apresentará o levantamento de papers


relacionados ao tema de pesquisa em congressos e reuniões científicas em ciências
sociais, buscando os papers pertinentes às problemáticas da investigação.

2.1 CBS – C ONGRESSO B RASILEIRO DE SOCIOLOGIA

Os Congressos Brasileiros de Sociologia reúnem, bienalmente, um público médio


de três mil participantes, entre docentes, pesquisadores e estudantes; constituem um
momento privilegiado para o intercambio científico e debate acadêmicos em torno dos
temas de pesquisa e investigação da sociologia brasileira (Dados obtidos no site da SBS
http://www.sbsociologia.com.br/2017/index.php?formulario=congressos&metodo=0&i
d=1).

Partindo do presente, ou seja, dos últimos encontros realizados em direção aos


primeiros, dei início a esta investigação com o XVI Congresso Brasileira de Sociologia,
realizada em 2013 (a reunião mais próxima, realizada em 2015, ainda não havia
disponibilizado os papers e programação do evento até a realização desta investigação).

Ao longo do levantamento, é possível observar certa inconstância na presença de


trabalhos relacionados à temática pesquisada, demonstrando um aumento em congressos
mais recentes. Assim, é possível inferir que o campo vem se desenvolvendo, sendo cada
vez mais foco de interesse de pesquisadores brasileiros.

XVI Congresso Brasileiro de Sociologia 10 a 13 de setembro de 2013, Salvador BA4

4
Disponível em: http://www.sbs2013.sinteseeventos.com.br/texto.php?id_texto=46

8
No XVI Congresso Brasileiro de Sociologia, encontrei dois GTs relacionados ao
tema com cinco papers na área de investigação.

GT’s Coordenadores Papers Palavras Chave


GT27 - Sociologia da Maria Lucia Bueno As Feiras de Arte Públicos, consumo
Arte (UFJF) e Sabrina Contemporânea no cultural, consumo
Marques Parracho Rio de Janeiro e em simbólico, cultura e
Sant’Anna (UFRRJ) São Paulo: entre a cidade
exclusividade e a
democratização.
Daniela Stocco UFRJi
Políticas Públicas e Políticas culturais,
Mercado das Artes consumo simbólico
Visuais: O Programa
Brasil Arte
Contemporânea e
seus desdobramentos
Mariana Fernandes
EACH-USPii
O público de cinema Públicos de arte,
em foco: um olhar consumo cultural
acerca do Festival de
Cinema do Rio
Bianca Pires UFFiii
GT28 - Sociologia da Edson Silva de Farias Critérios de Gosto e classe,
Cultura (UnB) e Maria Celeste excelência cultural, consumo cultural,
Mira (PUC-SP) padrões de gosto e consumo simbólico
manutenção de
fronteiras sociais
Carolina Martins Pulici
(UNIFESP)
Políticas públicas de Políticas culturais
cultura e
governamentalidade:
as dimensões de
participação e
controle nos editais
de ação afirmativa
Alexandre Barbalho,
Jocastra Holanda
Bezerra, Rachel
Gadelha
(UECE) iv

9
XV Congresso Brasileiro de Sociologia 26 a 29 de julho de 2011, Curitiba-PR5

Com 516 papers, distribuídos em 32 GTs, no XV Congresso Brasileiro de


Sociologia, apenas dois papers relacionados ao tema foram encontrados no GT de
Sociologia da Cultura.

GT’s Coordenadores Papers Palavras Chave


GT24 Sociologia da Sem informações Cultura, espaço e Políticas culturais,
Cultura sociedade: notas cidade e cultura
sobre um debate
contemporâneo
Maria Teresa
Manfredo
(UNICAMP)v
Recife Blues Sessions: Consumo cultural,
processos de consumo simbólico,
identificação, públicos, formação de
formação de público e públicos
valoração Manoel
Sotero Caio Netto
(UFPE)vi

XIV Congresso Brasileiro de Sociologia 28 a 31 de julho de 2009, Rio de Janeiro


(RJ)

Realizado no Rio de Janeiro, com 835 papers distribuídos em 31 GTs, 6o XIV


Congresso Brasileiro de sociologia continha três GTs, não necessariamente relacionados
ao tema, mas com questões relativas ao objeto da pesquisa. Aqui, três papers se mostraram
pertinentes ao trabalho.

GT’s Coordenadores Papers Palavras chave

5
Disponível em:
http://www.sbsociologia.com.br/portal/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=169&Ite
mid=171

6
Disponível em:
http://www.sbsociologia.com.br/portal/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=51&Itemi
d=171

10
GT Questão Urbana Sem informações Os “usos” da cultura Turismo cultural,
em Niterói: o cidade e cultura,
Caminho Niemeyer e políticas culturais
as políticas de
patrimônio
Margareth da Luz
Coelho (UFF)vii
GT24: Sociologia da Lígia Maria Dabul Gostos na classe e Gosto e classe,
Arte (UFF), Rogério concorrência aliada consumo cultural,
Medeiros (UFRJ) Caleb Faria Alves consumo simbólico
(UFRGS)viii
GT25 - SOCIOLOGIA Sem informações POR UMA NOVA Políticas culturais
DA CULTURA PERSPECTIVA NA
DELIMITAÇÃO DO
SETOR CULTURAL DO
ESTADO DO RIO DE
JANEIRO Janaína
Machado Simões
(UFRRJ e EBAPE/FGV)
Marcelo Milano
Falcão Vieira
(EBAPE/FGV)ix

XIII Congresso Brasileiro de Sociologia 29 de maio a 1 de junho de 2007, UFPE,


Recife (PE)7

Com 707 papers distribuídos 30 GTs, no XVIII Congresso Brasileiro de


Sociologia, apenas um paper com relação ao tema de interesse foi encontrado, no GT de
Sociologia da Cultura.

GT’s Coordenadores Papers Palavras chave


GT Sociologia da Sem informações Distinção e Políticas culturais,
Cultura Enobrecimento consumo cultural,
Urbano: os Centros consumo simbólico
Culturais e o
Mercado de Bens
Simbólicos - Marco
Estevão de Mesquita
Vieira (UnB)x

7
Disponível em:
http://www.sbsociologia.com.br/portal/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=143&Ite
mid=171

11
X11 Congresso Brasileiro de Sociologia – 31 de maio a 3 de junho de 2005 – Belo
Horizonte (MG)8
Sem GT dedicado à sociologia da arte, o XII Congresso Brasileiro de Sociologia
recebeu 424 papers distribuídos em 25 GTs, não recebeu nenhum paper na área temática
da pesquisa, com alguns trabalhos dialogando com certa distância com as palavras chave
e temas de interesse, como por exemplo, o trabalho “A identidade cultural: um elemento
de marketing turístico” da autora Magda Vianna de Souza, discutindo as políticas
públicas para o turismo e ressignificação de bens patrimoniais urbanos como
instrumentos de atração turística.

XI Congresso Brasileiro de Sociologia - 1 a 5 de setembro de 2003 Campinas (SP)9

Sem GT dedicado à sociologia da arte ou da cultura, o XI Congresso Brasileiro de


Sociologia recebeu 378 papers distribuídos em 25 GTs. Neste evento, apenas um paper
relacionado ao tema de interesse foi encontrado, no GT de Práticas Culturais e Imaginário.

GTs Coordenadores Papers Palavras chave


Práticas Culturais e Sem informações Museus e público Públicos, práticas
Imaginário no rio de janeiro: culturais, consum
Mapeando cultural
serviços e
qualidade -

8
Disponível em:
http://www.sbsociologia.com.br/portal/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=55&Itemi
d=171
9
Disponível em:
http://www.sbsociologia.com.br/portal/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=82&Itemi
d=171

12
Gabrielle Corrêa
Braga (IUPERJ)xi

2.2 - RBA REUNIÃO BRASILEIRA DE A NTROPOLOGIA

A Reunião Brasileira de Antropologia é organizada pela Associação Brasileira de


Antropologia, uma das mais antigas associações científicas existentes no país na área das
ciências sociais. Em 55 anos, a RBA se consolidou como uma renião que volta-se para a
discussão crítica do campo da Antropologia e tem abrangência internacional. A ABA e
por conseguinte a RBA tem exercido papel decisivo na formação do campo da
antropologia no país desde meados dos anos 1950 (Dados informados no site da ABA
http://www.portal.abant.org.br/index.php/inicio/apresentacao-aba).

Os papers levantados nos eventos da ABA analisados aparecem, de uma forma


geral, ligados à antropologia da arte, da cultura, patrimônio, e antropologia urbana.
Também neste evento, a busca pensando nas palavras chave foi motor importante para
encontrar papers relacionados ao objeto de pesquisa.

30ª Reunião Brasileira de Antropologia - “Políticas da Antropologia: Ética,


Diversidade e Conflito” 3 a 6 de agosto de 2016 João Pessoa – PB 10

Com 64 GTs, a 30ª Reunião Brasileira de Antropologia teve dois GTs de interesse,
mas apenas um paper relacionados a temática da pesquisa foi encontrado nesta reunião.

GT’s Coordenadores Papers Palavras-chave


GT 017. Arte e (Coordenador/a) A Bienal de São Paulo: Públicos,
antropologia Caleb Faria Alves pós–colonial ou representações
(UFRGS) Carla da neocolonial? culturais
Costa Dias (UFRJ) Reflexões para uma
etnografia da arte
contemporânea no
Brasil - Amélia Siegel
Corrêa (Universidade
de Copenhagen/
UFPR)xii

10
Disponível em: http://www.30rba.abant.org.br/simposio/public?ID_MODALIDADE_TRABALHO=2

13
29ª Reunião Brasileira de Antropologia - “Diálogos Antropológicos expandindo
fronteiras” - 03 a 06 de agosto de 2014 Natal-RN

Com 50 GTs aprovados, a 29ª RBA encontrou 5 papers relacionados aos temas
de interesse distribuídos em dois GTs diferentes.

GT’s Coordenadores Papers Palavra-chave


GT015. Antropologia, Coordenador/a: José POLÍTICAS E GESTÃO Cultura, políticas
política e cultura: Marcio Pinto de PÚBLICAS DE culturais
diversidade cultural e Moura Barros (PUC CULTURA:
desenvolvimento MINAS/UEMG), DIVERSIDADE
territorial Maria Dione Carvalho CULTURAL EM UMA
de Moraes PERSPECTIVA
(Universidade federal INTERCULTURAL -
do Piauí) Alice Pires de Lacerda
(UFBA / Bahia)xiii
O POPULAR E A Políticas culturais
POLÍTICA CULTURAL:
UMA ANÁLISE
CRÍTICA DO
DISCURSO DA
CULTURA POPULAR
- Jocastra Holanda
Bezerra, UECE/Ceará
Alexandre Barbalho,
UECE/Cearáxiv
Usos e sentidos da Políticas culturais,
cultura nas políticas turismo cultural,
públicas de turismo - públicos
Daniela Caruza
Gonçalves Ferreira
(IFPI/ PI), Joyce Kelly
da Silva Oliveira
(UESPI/PI), Bruna
Lorrany de Castro
Araújo (IFPI, /PI) Júlia
Maria Dias Carvalho
Paes (IFPI/PI)xv
GT016. Arte e Coordenador/a: Carla A cultura em Políticas culturais,
Antropologia da Costa Dias questões representações
(Universidade Federal - Carla da Costa Dias, culturais
do Rio de Janeiro), Caleb Faria Alves
Caleb Faria Alves (UFRGS/RS)xvi
(UFRGS)

Debatedor: Patricia Sociabilidade e Públicos


Reinheimer significado:

14
experiências dos
públicos das artes
visuais - Lígia Dabul
(UFF/RJ)xvii

28ª RBA “Desafios antropológicos contemporâneos” 02 a 05 de julho de 2012, PUC


São Paulo11

Com 69 GTs, na 28ª RBA de interesses no GT intitulado Arte e Antropologia.

GT’s Coordenadores Papers Palavras-chave


GT13 Arte e Carla Dias (UFRJ), O Estado da arte: Políticas públicas,
Antropologia Caleb Faria Alves debates acerca das cultura
(UFRGS) políticas culturais
Debate: Lígia Dabul em Belo Horizonte
(UFF) Pedro Gondim Davis
Museu
Nacional/UFRJxviii

27ª Reunião Brasileira de Antropologia – “Brasil Plural conhecimentos, saberes


tradicionais e direitos a diversidade” 01 a 04 de agosto – 2010 Belém - Pará 12

Com 57 GTs, a 27ª RBA foram encontrados dois papers relacionados em dois GTs
diferentes.

GT’s Coordenadores Papers Palavras-chave


GT15 - Caleb Faria Alves PERFORMANCES, Políticas culturais
Arte e antropologia (UFRGS) e ESTÉTICA E POLÍTICAS
Lígia Dabul (UFF) CULTURAIS: ARTE E
IDENTIDADE NOS
MARACATUS
CEARENSES
Danielle Maia Cruz –
UFC/Ceará
Lea Carvalho
Rodrigues –
xix
UFC/Ceará

GT 44 - As cidades e as Sérgio Ivan Gil Braga Turismo cultural no Públicos, Turismo


culturas urbanas (UFAM) centro histórico de cultural
e José Maria da Silva Manaus/AM
(UNIFAP) Rodrigo Fadul
Andrade

11
Disponível em: http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_28_RBA/index.html#

12
Disponível em: http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_27_RBA/index.html

15
(UFAM)xx

2.3 - ANPOCS – A SSOCIAÇÃO N ACIONAL DE PÓS-G RADUAÇÃO E PESQUISA EM C IÊNCIAS SOCIAIS

Os encontros da ANPOCS acontecem uma vez por ano e reúnem um número


médio de 1500 participantes, entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros, para
conferencias, debates e troca de saberes entre a pesquisa nas ciências sociais e consolidou-
se como o mais relevante fórum de ciências sociais stricto sensu no Brasil (Dados
informados no site da ANPOCS http://anpocs.com/index.php/encontros/apresentacao).

A programação dos encontros da ANPOCS reúne o que de mais expressivo vem


sendo produzido e pesquisado nas ciências sociais; assim, esse encontro se constitui como
ponto de observação para o desenvolvimento do tema pesquisado. Como veremos, a
incidência de trabalhos cujo o tema dialoga com o objeto da pesquisa não é alta e
tampouco está inserida na área afim, ou seja, na sociologia da arte e da cultura. Os papers
levantados provém dos mais diversos STs e SPGs, que são ligados desde a discussão
sobre questões metodológicas, até aos STs que debatem hierarquias do gosto.

40ª Anpocs 24 a 28 de outubro de 2016, Caxambu MG

No 40º Encontro Anual da ANPOCS foram 35 seminários temáticos onde foram


encontrados três papers de interesse em distribuídos em dois seminários.

GT’s Coordenadores Papers Palavras chave


ST 16 Métodos e Sem informações Indicador de Oferta Cultural para Políticas
técnicas de a cidade do Rio de Janeiro Daniele culturais
pesquisa em Cristina Dantasxxi
Ciências Sociais

ST26 Reflexões e Sem informações PRÁTICAS CULTURAIS EM Práticas


pesquisas recentes CONTEXTOS PERIFÉRICO- culturais,
em arte e culturas URBANOS E SUAS cidade e
nas sociedades INTERRELAÇÕES/INTERPELAÇÕES: cultura, gosto e
contemporâneas ações coletivas, processos de classe
identificação e apropriações
tecnológicas nos gêneros
musicais Kuduro e Cumbia Villera
- Manoel Sotero Caio Netto

16
MUSEUS-ESPETÁCULO: LIMITES E Públicos de
TENSÕES NAS EXPOSIÇÕES DE arte, públicos,
DOIS MUSEUS PÚBLICO- práticas
PRIVADOS DO CIRCUITO culturais,
CULTURAL PRAÇA DA LIBERDADE políticas
Clarissa dos Santos Veloso e culturais
Luciana Teixeira de Andradexxii

39º Encontro Anual da Anpocs 29 a 30 de outubro 2015, Caxambu-MG13

No 39º Encontro Anual da ANPOCS, apenas um paper de interesse foi


encontrado, no Simpósio de Pesquisa Pós-Graduada denominado Gosto, Hierarquias
simbólicas e legitimidades culturais.

GT’s Coordenadores Papers Palavras Chave


SPG09 Gosto, Carolina Martins Jovens universitários Gosto e classe,
hierarquias Pulici (Unifesp), e a música clássica: práticas culturais
simbólicas e Dmitri Cerboncini um estudo de caso
legitimidades Fernandes (UFJF) sobre o gosto musical
culturais e as práticas culturais
no Canadá Natassja
Oliveira Menezes
Universidade de
Montrealxxiii

38ª Encontro Anual da Anpocs de 27 a 31 de outubro de 2014, em Caxambu –


MG14
No 38º Encontro anual da APOCS, foram encontrados cinco papers relacionados
ao tema de interesse em dois GTs e um Simpósio de Pesquisa Pós-Graduada.

GT’s Coordenadores Papers Palavras chave


GT02 Arte e cultura Sem informações Cultura, mercado e Turismo cultural,
nas sociedades turismo: blocos, políticas culturais,
contemporâneas maracatus e a política públicos
de editais em
Fortaleza Danielle
Maia Cruz Uniforxxiv

Por entre a Públicos de arte


espacialidade e os
espectadores: um

13
Disponível em: http://anpocs.com/index.php/papers-39-encontro/spg
14
Disponível em: http://anpocs.com/index.php/38-encontro

17
percurso pela
recepção da arte
contemporânea em
Inhotim Juliana
xxv
Veloso Sá

GT03 As classes Sem informação Classes sociais, Práticas culturais,


sociais no Brasil práticas e cultura gosto e classe
Contemporâneo Edilson Berconceloxxvi

SPG08 Gosto, Sem informação Hierarquias Gosto e classe,


hierarquias simbólicas e práticas culturais,
simbólicas e legitimação de estilos cultura e cidade
legitimidades de vida na sociedade
culturais juiz-Forana Joana
Brito de Lima Silvaxxvii

O Discurso Práticas culturais,


Terapêutico na Radio gosto e classe
e na TV: Notas sobre
as práticas culturais e
o gosto de seus
participantes MAÍRA
MUHRINGER VOLPE
FESPSPxxviii

37º ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS 23 a 27 de setembro, Águas de Lindóia-


SP, 201315
No 37º Encontro Anual da ANPOCS foram encontrados dois papers distribuídos
em dois seminários temáticos.

GT’s Coordenadores Papers Palavras Chave


ST 19: O mundo das Sem informações Brasil: da identidade Práticas culturais,
Artes: culturas à marca Maria gosto e classe
artísticas, práticas Celeste Mira
sociais e dimensões (PUC/SP)xxix
simbólicas

ST 33 – As classes Sem informações Padrões de consumo Práticas culturais,


sociais no Brasil e estilos de vida: Em gosto e classe,
contemporâneo busca da nova classe consumo cultural
média Christiane
Uchôa (UFF) e Celia
Lessa Kerstenetzky –
(UFF) Nelson do Valle
Silva (IESP/UERJ)xxx

15
Disponível em: http://anpocs.com/index.php/37o-encontro-anual-2013-sp-1400301266

18
Ao longo deste levantamento pude constatar a escassez de pesquisas sobre o
objeto em questão, os públicos e sua relação com as artes e a cultura, no âmbito das
ciências sociais no Brasil. Embora a própria sociologia da arte seja uma área de
investigação relativamente nova, (o GT de sociologia da arte, por exemplo, só é criado na
ANPOCS em 2014)16, a temática dos públicos pode ser encontrada no seio de outros
debates, como o turismo, políticas públicas para a cultura e sociologia da cultura.

Os artigos levantados, pouco expressivo em números - se comparados a temas


comuns à sociologia da arte como aqueles que discutem temas relacionados a artistas,
críticos e obras – servirão de ponto de partida para o levantamento bibliográfico de
referências incontornáveis para o tema.

Aqui foram observados doze eventos científicos em ciências sociais no Brasil, e


através de tal análise foi possível observar os contornos que vão sendo delineados ao
redor do objeto da pesquisa. Assim, em um intervalo de pouco mais de dez anos, temos
os eventos analisados:

CBS RBA ANPOCS


2013; 2011; 2009; 2007; 2016; 2014; 2012; 2010 2016; 2015; 2014; 2013
2005; 2003

3. - G RUPOS DE PESQUISA E PLATAFORMA LATTES

Neste momento do levantamento, com o intuito de mapear os pesquisadores


experientes na área em que se insere o tema de pesquisa, a investigação teve continuidade
através do Diretório de Grupos de Pesquisa, da Plataforma Lattes – observando-se os
orientadores dos autores de papers levantados – observando-se também os organizadores
e debatedores de mesas redondas e grupos de trabalho dos eventos analisados a fim de
identificar os especialistas da área que circunscreve o tema.

16
QUEMIN, Alain e VILLAS BÔAS, Gláucia: França, Brasil e a Sociologia da Arte in Arte e vida social
Pesquisas recentes no Brasil e na Franca, Alain Quemin e Glaucia Villas Boas (orgs), OpenEdition
Press, 2016.

19
Pesquisa 1: Arte

4299 registros, dentre os quais incluíam-se grupos relacionados à arquitetura, espécies


vegetais, perspectivas históricas do pensamento jurídico, arte e política, entre outros.

Pesquisa 2: Públicos

235 registros, dentre os quais incluíam-se grupos relacionados a análises matemáticas,


políticas de saúde, administração pública e gestão social.

Pesquisa 3: Públicos arte

Grupo de Pesquisa encontrado: Laboratório de Modelos Tridimensionais na área de


Arquitetura e Urbanismo

Frente a esses resultados muito abrangentes ou muito específicos, a investigação


dos pesquisadores experientes se deu através dos grupos de pesquisas dos quais
participavam os coordenadores ou debatedores dos GTs dos eventos. Dessa forma, foi
possível identificar as redes de atuação dos pesquisadores, bem como a produção
científica dos grupos, possibilitando-se chegar a bibliografia fundamental ao tema.

Pesquisa 1: Maria Lúcia Bueno

4 registros dos quais três pertinentes ao tema

Grupo: Cultura e Artes Visuais: História e Sociedade.


Instituição: UFJF
Área: Sociologia
Líderes: Maria Lucia Bueno Ramos

Elisabeth Murilho da Silva


Repercussões:

O grupo, ligado à linha de pesquisa Arte, Moda: História e Cultura, do Programa


de Pós graduação em Artes, Cultura e Linguagens, reúne pesquisadores de sociologia da
arte e da cultura, assim como da história social, que investigam questões relativas a
Cultura e as Artes Visuais no Brasil e no contexto globalizado. Os estudos aqui reunidos
desenvolvem-se sintonizados com alguns dos principais eixos temáticos presentes na
história e nas ciências sociais contemporâneas (modernidade, globalização

20
cultural,estetização do cotidiano, cultura material, entre outros. O objetivo principal é
realizar investigações e levantamentos (empíricos e teóricos), envolvendo professores,
alunos de graduação, pós-graduação e jovens doutores, para construir reflexões
inovadoras que derivem em publicações, afim de contribuir para o adensamento desse
campo de pesquisas no país.

Linhas de Pesquisa: (1)Artes Visuais e Cultura Material: História e Sociedade;


(2)Artistas, Instituições e mercado:história e organização dos mundo da arte (3) Cultura,
Consumo e Estilos de Vida

Grupo: NECTAR - Núcleo de Estudos Cidadania, Trabalho e Arte


Instituição: UFF
Área: Sociologia
Líderes: Lígia Maria de Souza Dabul

Gláucia Kruse Villas Bôas


Repercussões:

O Nectar - Núcleo de Estudos Cidadania, Trabalho e Arte agrega investigações e debates


sobre trabalho, arte e práticas sociais relacionadas à constituição da cidadania. São focos
do interesse de seus pesquisadores os diferentes processos de criação, extensão ou
restrição do acesso da população a espaços públicos, a sociabilidade neles envolvida, as
identidades sociais às quais dão lugar - especialmente por meio de atividades, relações e
interações sociais próprias do mundo do trabalho e da experiência artística. Consistem
também em matéria de reflexão do Nectar as variadas estratégias de pesquisa
desenvolvidas nas ciências sociais em estudos dessa natureza. Repercussões: pesquisas;
orientações; interlocução com cientistas sociais, pesquisadores de outras áreas de estudo
e entidades da sociedade civil; seminários com instituições nacionais e internacionais;
publicações e produção de textos de divulgação e didáticos.

Linhas de Pesquisa:(1) Arte e Vida Social(2)Comunicação Científica,


Interdisciplinaridade e Espaço Virtual (3)Economia criativa e sociabilidades urbanas
(4)Exposição da Imagem (5) Ocupação de Espaços Públicos e Cidadania (6)Práticas de
Pesquisa em Ciências Sociais

Grupo: Modernidade, Arte e Cultura

21
Instituição: UFRJ
Área: Sociologia
Líderes: Gláucia Kruse Villas Bôas
Lígia Maria de Souza Dabul
Repercussões:

O Trabalho do Grupo de Pesquisa tem repercutido: 1) em publicações científicas


que tratam de questões da cultura e da arte moderna moderna e contemporânea bem como
na organização de grupos de trabalho em associações científicas e redes de pesquisadores
tanto no Brasil como no exterior. Mencione-se aqui a Akademie der Künste de Berlim, a
Universidade Livre de Berlim, a Universidade Federal Fluminense, a Universidade de
Paris 7, a Universidade Autonoma de Barcelona. 2) no âmbito do Programa de Pós-
graduação em Sociologia e Antropologia/UFRJ tanto nos cursos ministrados como na
orientação de dissertações e teses.Note-se que neste programa tem aumentado o número
de candidatos com projetos na área de Sociologia da Cultura com temática voltada para
as artes plásticas e visuais e historia das idéias sociológicas; no curso de graduação em
Ciências Sociais/UFRJ 3) em diversos encontros e eventos nacionais e internacionais
atividades de extensão com museus no Rio de Janeiro.

Linhas de pesquisa: (1) Intelectualização e abstração nas artes plásticas: o concretismo no


Brasil e no mundo; (2) Modernidade, pós-modernidade e cultura; (3) Perfil cognitivo,
histórico e institucional das Ciências Sociais; (4) Valor, reconhecimento e consagração
no mundo artístico moderno e contemporâneo.

Pesquisa 2: Sabrina Parracho Sant’Anna

2 registros dos quais um relaciona-se mais diretamente ao tema

Grupo: Modernidade, Arte e Cultura (Já referenciado)

Pesquisa 3: Edson Silva de Farias

3 registros dos quais dois relacionam-se mais diretamente com o tema

Grupo: Grupo de Estudos de Práticas Culturais Contemporâneas


Instituição: PUC-SP

22
Área: Antropologia
Líderes: Maria Celeste Mira

Mariza Martins Furquim Werneck


Repercussões:

Os trabalhos do grupo têm sido divulgados através de: CONGRESSOS, notadamente, o


da SBS, no qual, a líder, Maria Celeste Mira (PUC-SP) e Edson Farias (UnB) coordenam
o GT de Sociologia da Cultura. PESQUISAS: A primeira pesquisa coletiva foi
"Sociabilidade juvenil e práticas culturais tradicionais na cidade de São Paulo", cujos
resultados foram publicados em 2009 pela revista Sociedade e Estado, vol. 24, n.2.
SEMINÁRIOS: Reunindo membros do grupo e convidados de outras instituições, o grupo
realizou, em 2016, o seu oitavo seminário, desde 2015 em parceria com o grupo
PRACTIC coordenado por Marco Antonio de Almeida (ECA-USP) e a Divisão de
Pesquisas do Sesc-SP. PUBLICAÇÕES: Além dos artigos escritos por seus membros, o
grupo publicou, em 2014, o dossiê "Novas representações do Brasil e da brasilidade" na
revista Ciências Sociais Unisinos, vol. 50, n. 1; e o livro, organizado por Edson Farias e
Maria Celeste Mira, Faces contemporâneas da cultura popular.

Linhas de pesquisa: (1)Cultura, Economia e novas tecnologias de informação e


comunicação; (2) Diversidade cultural contemporânea e políticas culturais; (3)Imaginário
e representações estéticas

Grupo: Grupo de Estudos em Cultura, Comunicação e Arte


Instituição: UFC
Área: Sociologia
Líderes: Andrea Borges Leao

Enio Passiani
Repercussões:

1 Criação de um grupo de estudos permanente sobre temas, metodologias, objetos e


conceitos dos estudos da cultura e da arte, com estudantes da graduação e da pós-
graduação; 2. Participação dos membros do grupo em eventos acadêmicos na área de
sociologia arte e da cultura, regionais, nacionais e internacionais, com a coordenação e
apresentação de trabalhos em Gts, Mesas-redondas e fóruns; 3. Articulação das ações e
das produções do grupo com o grupo de pesquisa Cultura, Memória e Desenvolvimento,
23
da Universidade de Brasília; 4. Publicação de artigos com os resultados das pesquisas em
periódicos indexados nacionais e internacionais; 5. Preparação de projetos para
concorrência em editais específicos de financiamento para os trabalhos do grupo; 6.
Consolidação de um linha de pesquisa em sociologia da arte e da cultura no Programa de
pós-graduação em Sociologia da UFC; 7. Fortalecer a dar continuidade à representação
do grupo em projetos de cooperação nacional e internacional.

Linhas de Pesquisa: (1) Circulação cultural: trânsitos e interdependências transatlânticas;


(2)Sociologia das mídias e das notícias; (3)Sociologias da arte e da cultura

Pesquisa 4: Maria Celeste Mira

2 registros dos quais apenas um relaciona-se diretamente com o tema de pesquisa

Grupo: Práticas Culturais Contemporâneas (Já referenciado)

Pesquisa 5: Lígia Maria Dabul

7 registros, dos quais quatro relacionam-se diretamente ao tema de pesquisa

Grupo: NECTAR –Núcleo de Estudos Cidadania, Trabalho e Arte (já referenciado)

Grupo: Modernidade, Arte e Cultura: (Já referenciado)

Grupo: Economia Criativa, Arte E Sociedade


Instituição: UECE
Área: Sociologia
Líderes: Kadma Marques Rodrigues
Repercussões:
O grupo objetiva desenvolver pesquisas quantitativas e qualitativas com ênfase na
dimensão criativa da atividade humana, adota por isso a perspectiva relacional para
abordar a economia criativa. Por isso, enfoca os modos pelos quais arte, cultura e
sociedade se influenciam e são influenciadas como parte de uma economia ampla e
diferenciada (sendo a criatividade um substrato não necessariamente centrado em
produtos e trocas financeiras). Vinculado à linha de pesquisa Cultura, Diferença e
Desigualdade do PPGS da UECE, o grupo passou a contar, a partir de 2014, com estrutura
física e equipamentos próprios, no CCLin (Cidade, Cultura e Linguagem), prédio
construído no CH/UECE, com financiamento da FINEP. A partir de 2016, passou
24
também a integrar a rede de pesquisa Todas as Artes / Todos os Nomes, pretendendo
assim reunir pesquisadores e estudantes em torno da elaboração e execução de projetos
de pesquisa que se dediquem à compreensão fina da formação de disposições sociais
criativas.

Linhas de Pesquisa: (1) Economia criativa e sociabilidades urbanas; (2)Jogos e Mundos


Virtuais; (3) Representações literárias e sociologia histórica da cultura; (4) Sociologias
da arte e da cultura

Grupo: Rede Luso Brasileira de pesquisa em artes e intervenções urbanas

Instituição: UFC
Área: Sociologia
Líderes: Glória Maria dos Santos Diógenes

Ricardo Oliveira Campos


Repercussões:
A cidade contemporânea é cada vez mais marcada pela presença de múltiplas
intervenções de natureza estética informal produzidas por diferentes indivíduos e grupos
com intuitos distintos. Este traço assumidamente contemporâneo tem sido notado não
apenas pelo cidadão comum, mas também, cada vez mais, pela academia que se tem vindo
a debruçar sobre este fenómeno. Observa-se que um arsenal de artes e artistas cruzam,
cada vez, mais o espaço contemplativo dos museus e das galerias, domínios por
excelência dos críticos de arte, galeristas e curadores, abrindo-se à rua e a outros públicos.
Vemos emergir uma plêiade de fazeres artísticos marcados por novas conexões espaço-
tempo, interatividades de múltiplos domínios e fusão de linguagens e estéticas. São Artes
e Intervenções que cruzam fronteiras disciplinares e condensam múltiplos sujeitos,
saberes e práticas. A rede foi criada em Lisboa, em 2014, agregando cerca de 3 dezenas
de investigadores de instituições português e brasileiras.

Linhas de pesquisa: (1) Antropologia Urbana. (2) Antropologia Visual e da Imagem (3)
Antropologia visual. (4) Arte e intervenções urbanas (5) Arte e Pensamento: Das obras e
suas interlocuções. (6) Arte Urbana, Graffiti e Pixação: Cidade e Ciberespaço. (7)
Comunicação Digital e Interfaces Culturais na América Latina. (8) Convivência
multicultural e políticas públicas de inclusão/integração no espaço urbano. (9) Corpo,
comunicação e arte (10) Cultura e sociabilidade. (11) Culturas juvenis, musicalidades e

25
mercado. (12) Culturas Juvenis. (13) Desenvolvimento regional. (14) Dinâmicas da
cultura e conflitos sociais. (15) Gestão e Políticas da Informação e da Comunicação
Midiática. (16) Imagem e conhecimento. (17) Imagem, Memória e Imaginário. (18)
Narrativas audiovisuais e territorialidades urbanas. (19) Patrimônio, Linguagens e
Memória social (20) Políticas públicas de juventudes (21) Práticas de pesquisas em
Ciências Sociais

Pesquisa 6: Rogério Medeiros

1 registro, não diretamente relacionado ao tema

Pesquisa 7: Caleb Faria Alves

2 registros relacionados diretamente ao tema

Grupo: Cultura, Comunicação e Arte (já referenciado)

Grupo: NAPA - Núcleo De Arte, Antropologia E Patrimônio


Instituição: UFRJ
Área: Artes
Líderes: Carla Costa Dias

Caleb Faria Alves


Repercussões:
O conceito de arte necessita de instrumentos de institucionalização que são criados pela
alta cultura através dos museus e seus especialistas, críticos e historiadores. A
classificação de arte que é dada a alguns objetos é, desse modo, fruto de instrumentos
culturais, e a ideia de que a arte transcende o tempo, o espaço e as culturas é também um
conceito cultural. Os museus são, pois, espaços privilegiados para a investigação da
produção de significados, no âmbito formador de um discurso, sobre os signos da
identidade cultural, a um tempo mercadorias e suportes de significação. Eles podem dessa
forma ser percebidos como centros de fabricação da memória social, de modo que o
exibido em um museu deriva de uma fabricação ideológica na qual os objetos
museológicos representam iconicamente, com sua materialidade, uma seleção da
memória social.

26
Linhas de Pesquisa: (1) Arte e alteridade (2) Construindo histórias e acervos: Os arquivos
textuais e bibliográficos do Museu D. João VI

Pesquisa 8: Carla Costa Dias

4 registros, dos quais apenas um se relaciona mais diretamente ao tema

Grupo: NAPA – Núcleo de Arte, Antropologia e Patrimônio (Já referenciado)

Pesquisa 9: Julie Antoinette Cavignac

3 registros, dos quais nenhum se relaciona diretamente com o tema

Pesquisa 10: Patricia Silva Osorio

1 registro, que não se relaciona com o tema

Pesquisa 11: José Marcio Pinto de Moura Barros

4 registros dos quais apenas um dialoga com o tema

Grupo: Observatório da Diversidade Cultural


Instituição: PUC Minas
Área: Comunicação
Líderes: José Marcio Pinto de Moura Barros
Repercussões:

O Grupo de pesquisa reúne professores e pesquisadores que atuam nas áreas da cultura e
da comunicação. Além de pesquisas, participação em eventos acadêmicos e publicações,
o grupo estabelece relações de cooperação com a Faculdade de Políticas Públicas da
UEMG e O PPG em Cultura e Sociedade da UFBA. Seu objetivo é o de acompanhar,
avaliar e produzir informações sobre políticas públicas, ações de proteção e promoção da
diversidade cultural e midiática e formação de gestores culturais.

Linhas de Pesquisa: (1) Comunicação, interações midiáticas e diversidade cultural (2)


Cultura, educação e comunicação (3) Formação para a diversidade cultural (4) Mediação
e Diversidade Cultural (5) Políticas Públicas para a cultura e a comunicação

Pesquisa 12: Maria Dione

27
1 registro que não dialoga com o tema

Pesquisa 13: Sérgio Ivan Gil Braga

1 registro não relacionado ao tema

Pesquisa 14: José Maria da Silva

2 registros que não dialogam diretamente com o tema

Pesquisa 15: Carolina Martins Pulici

1 registro relacionado ao tema

Grupo: Gosto, hierarquias simbólicas e legitimidades culturais


Instituição: UNIFESP
Área: Sociologia
Líderes: Carolina Martins Pulici
Repercussões: (sem informações)
Linhas de Pesquisa: (1) Sociologia Da Cultura e das Distinções Sociais (2) Sociologia do
Gosto
Pesquisa 16: Dmitri Cerboncini Fernandes

3 registros dos quais apenas um se relaciona com o tema

Grupo: Gosto, hierarquias simbólicas e legitimidades culturais (já referenciado)

4. - O S ESPECIALISTAS

Através do levantamento junto ao Diretório de Grupos de Pesquisa foi possível


perceber as redes de pesquisa formadas pelos especialistas; também foi possível notar que
alguns nomes apareciam com mais frequência, fazendo parte de dois ou mais grupos de
pesquisa que se relacionam ao tema, ao mesmo tempo que coordenaram mesas e GTs em
eventos. Assim, os pesquisadores considerados especialistas são aqueles que participam
ativamente de dois ou mais grupos de pesquisa e aparecem com certa regularidade em
GTs e mesas dos eventos analisados:

 Prof.ª Lígia Maria de Souza Dabul (UFF)


 Prof. ª Gláucia Kruse Villas Bôas (UFRJ)

28
 Prof.ª Maria Celeste Mira (PUC-SP)
 Prof.º Caleb Faria Alves (UFRGS)
 Prof.ª Carla Costa Dias (UFRJ)
 Prof.ª Carolina Martins Pulici (UNIFESP)

Com a obtenção dos nomes dos especialistas foi possível ter acesso, através da
plataforma Lattes, às produções referenciadas e recentes dos pesquisadores em questão.
A partir da análise de tal produção foi possível extrair a bibliografia principal da qual
serão retiradas as referências bibliográficas que fundamentarão a discussão teórica da
pesquisa na dissertação.

Os artigos dos especialistas foram escolhidos por constituírem bibliografia de


referência dos mesmos (indicados pela estrela na plataforma Lattes), pela proximidade
com o tema ou ainda pelo número de vezes que apareceu nas bibliografias dos textos
levantados nos eventos e congressos analisados. Assim, os artigos consultados para a
obtenção da bibliografia fundamental foram:

29
ALVES, C. F.. A fundação de Santos na ótica de Benedito Calixto. Revista USP, São Paulo, v. 41,
n.1, p. 120-133, 1999.

ALVES, C. F.. O nascimento da crítica de arte no Brasil e sua suposta inocuidade. Plural (USP),
São Paulo, v. 1, n.1, p. 7-24, 2002.

DIAS, C. C.. A imagem do mundo, a natureza e as coisas. Revista Sans Soleil - Estudios de la
Imagem, v. vol.6, p. 37-47, 2014.

DIAS, C. C.. A arte da combinação da matéria. Arte e Cidades Cadernos de Pós Graduação, Escola
de Belas Artes/UFRJ, v. 3, p. 23-50, 1995.

DABUL, Lígia. Sociabilité et sens de l'art : les conversations lors d'expositions. Sociologie de l'Art,
v. OPuS 22, p. 93, 2014.

DABUL, Lígia. Museus de grandes novidades: centros culturais e seu público. Horizontes
Antropológicos (UFRGS. Impresso), v. 14, p. 257-278, 2008.

DABUL, Lígia. Conversas em exposição: sentidos da arte no contato com ela. Arte & Ensaio
(UFRJ), v. 16, p. 55-63, 2008.

MIRA, M. C.. O global e o local: mídia, identidades e usos da cultura. Revista Margem, São Paulo,
v. 3, p. 131-150, 1994.

MIRA, M. Sociabilidade Juvenil E Práticas Culturais Tradicionais Na Cidade De São Paulo

FERNANDES, DMITRI CERBONCINI ; PULICI, CAROLINA MARTINS . Gosto musical e


pertencimento social: O caso do samba e do choro no Rio de Janeiro e em São Paulo. Tempo Social
(USP. Impresso) , v. 28, p. 131, 2016.

PULICI, Carolina. Migração de classe e vergonha cultural: trajetórias ascendentes entre a crítica e
o reconhecimento das hierarquias simbólicas. Pró-Posições (UNICAMP. Online), v. 27, p. 153-178,
2016.

VILLAS BÔAS, Glaucia K.. Estética de ruptura: o concretismo brasileiro. Revista VIS: Revista do
Programa de Pós-Graduação em Arte, v. 13, p. 1-15, 2014.

VILLAS BÔAS, Glaucia K.. A Estética da conversão: o ateliê do Engenho de Dentro e a arte
concreta carioca
A partir(1946 - 1951).daTempo
da análise Social dos
bibliografia (USP. Impresso),
artigos v. 20, p. dos
selecionados 197-219, 2008. foi
especialistas,
. possível extrair a bibliografia fundamental para o tema. Os textos selecionados se deram
em função da repetição e/ou relevância para o tema da pesquisa. Assim, a bibliografia
incontornável para fundamentar a discussão teórica a que cheguei foi:

30
BECKER, Howard S. “arte como ação coletiva” in: uma teoria da ação coletiva. Rio
de janeiro: Zahar, 1976.

BOTELHO, Isaura & Fiori, Maurício. (2005), “O uso do tempo livre e as práticas
culturais na região metropolitana de São Paulo”. Relatório de pesquisa disponibilizado
pelo Centro de Estudos da Metrópole – Cebrap.

BOURDIEU, P. (2008). A distinção: crítica social do julgamento (D. Kern, & G. J. F.


Teixeira, trads.). São Paulo: Edusp; Porto Alegre: Zouk. (Obra original publicada em
1979)

BOURDIEU, P. La distinción: critérios y bases sociales del gusto. Madri: taurus,


1989.

BOURDIEU, Pierre. Gostos de classe e estilos de vida. In: ORTIZ, Renato (Org.).
Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983. p. 82-121

BOURDIEU, P. (1996). As regras da arte. Gênese e estrutura do campo literário (M.


L. Machado, trad.). São Paulo: Companhia das Letras. (Obra original publicada em
1992).

BOURDIEU& Darbel, Alain. ([1969] 2003), O amor pela arte: os museus de arte na
Europa e seu público. São Paulo/Porto Alegre, Edusp/Zouk.

BOURDIEU, P. Esboço de uma teoria da prática. In Ortiz, Renato (org.). Pierre


Bourdieu: Sociologia. São Paulo: Ática,1983

DABUL, Lígia. O público em público: práticas e interações sociais em


exposições de artes plásticas. Tese (Doutorado em Sociologia)–Programa dePós-
Graduação em Sociologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2005.

DABUL , Ligia. (2001), Um percurso da pintura: a produção de identidades de


artista.Niterói, Eduff.

DONNAT, Oliver. (1999), “La stratification sociale des pratiques culturelles et son
évolution 1973-1997”. Revue Française de Sociologie, 1 (xl): 111-119.

DUNCAN, Carol. Civilizing rituals: inside public art museums. London: Routledge,
2000.
31
GARCÍA CANCLINI, Nestor. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da
modernidade. São Paulo: Edusp, 1998.
GOFFMAN, Erving Behavior in Public Places. Notes on the social organization of
gatherings. New York: The Free Press, 1969.

GONDIM, Linda M. P. Desenho urbano e imaginário sócio-espacial dacidade: a


produção de imagens da “moderna” Fortaleza no Centro Dragão doMar de Arte e
Cultura. Relatório da pesquisa submetido à Fundação Cearensede Amparo à
Pesquisa (Funcap). Fortaleza, 2000. Mimeografado.

HEINICH, Nathalie. La sociologie de l’art. Paris: La Découverte, 2000.

MAGNANI, José Guilherme C. Quando o campo é a cidade: fazendo


Antropologia na metrópole. In: MAGNANI, José Guilherme c.; torrES, lílian
de lucca (orgs.) Na metrópole: textos de Antropologia Urbana. São paulo:
Edusp, Fapesp, 2000.

MAGNANI, José Guilherme C.; SOUZA, Bruna Mantese de (Orgs). Jovens na


metrópole: etnografias de circuitos de lazer, encontro e sociabilidade. São paulo:
terceiro nome, 2007.

PULICI, Carolina Martins. (2010), O charme (in)discreto do gosto burguês paulista:


estudo sociológico da distinção social em São Paulo. São Paulo, tese de doutorado,
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

Dentro desta primeira seleção foram selecionados cinco textos com o auxílio da
orientadora da dissertação, que me indicou, para além de quatro textos fundamentais
encontrados com o levantamento, mais um, que não apareceu nesta análise. Assim, os
cinco textos finais selecionados foram:

BOURDIEU, Pierre. Gostos de classe e estilos de vida. In: ORTIZ, Renato (Org.).
Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983. p. 82-121

BOURDIEU& Darbel, Alain. ([1969] 2003), O amor pela arte: os museus de arte na
Europa e seu público. São Paulo/Porto Alegre, Edusp/Zouk.

32
DABUL, Lígia. O público em público: práticas e interações sociais em
exposições de artes plásticas. Tese (Doutorado em Sociologia)–Programa dePós-
Graduação em Sociologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2005.

DUNCAN, Carol. Civilizing rituals: inside public art museums. London: Routledge,
2000.

FLEURY, Laurent “Os Públicos da Cultura” in: Sociologia da cultura e das práticas
culturais, Editora Senac : São Paulo, 2009

33
5. PARTE 2 – RESUMOS E FICHAMENTOS CONCEITUAIS
Com as referências fundamentais do tema em mãos, essa segunda parte dedica-se a
resumir e expor as ideias centrais dos principais textos pertinentes a pesquisa.

BOURDIEU& Darbel, Alain. ([1969] 2003), O amor pela arte: os museus de arte na
Europa e seu público. São Paulo/Porto Alegre, Edusp/Zouk.

“O Amor pela arte” é fruto de uma pesquisa empreendida por Pierre Bourdieu e o
matemático Alain Darbel em conjunto com uma grande equipe de pesquisadores, que
visava conhecer as características dos públicos de museus na Europa. O livro teve sua
primeira edição publicada em 1966, recebeu uma nova edição ampliada em 1969, sendo
esta última, a qual se baseia a edição brasileira de 2003.

O título do livro, “O Amor pela Arte” ao longo do livro desvela a ironia de que a ideia de
que, no amor pela, o coração obedece à razão, uma vez que, para viver esse “amor” livre
de condicionamentos e limitações, se faz necessário que os amantes possuam algumas
disposições adquiridas lentamente e que exigem dedicação e afinco, sendo assim, produto
do artificial, da educação. A pesquisa desvenda então, as condições sociais de acesso às
práticas cultivadas, o que nos faz ver que a cultura não é um privilégio natural ao alcance
de todos (Catani, 2003:9).

Dessa forma, para responder às questões levantadas por Bourdieu, os autores


empreendem a aplicação de um questionário em diversos museus de cinco países –
Espanha, França, Grécia, Holanda e Polônia – a fim de sondar as relações entre o público
e os museus de arte que visitam, a frequência dessa visitação, o nível de instrução escolar
que detém, a renda média familiar, enfim, desvendar as condições socioculturais que
acompanham as visitações frequentes desses espaços.

Condições sociais da prática cultural

Segundo os autores, é importante compreender que o sistema de causas e razões que


explicam a frequência de visitas em um museu, é necessário identificar a gênese estrutura
manifesta pela frequência dos museus, que se parte, nesta pesquisa, através da análise
empírica da relação entre essa frequência e as diferentes características econômicas,
sociais e escolares, para apreender o conjunto de fatores que determinam ou favorecem

34
essa prática e, ao mesmo tempo, estabelecer um peso relativo a cada um desses fatores na
estrutura das relações que os unem.

Ainda que p nível de instrução apareça ao longo da pesquisa como um fator determinante
em relação aos outros, a constatação de que as classes médias, nem sempre detentores de
títulos escolares elevados, com forte formação autodidata e, por vezes com estudos
interrompidos (como apontado pela sondagem) se declaram com um nível de instrução
mais elevado em relação aos resultados da sondagem se deve ao fato de que eles se
atribuem um nível cultural superior ao que indicam seus diplomas o que exprime sua boa
vontade cultural (Bourdieu, Darbel, 2003:38). Assim, o nível de instrução que o diploma
atesta é por vezes, menos significativo que o nível cultural de aspiração que o visitante se
atribui.

Em seu conjunto, o público de museus na Europa é constituído majoritariamente por


jovens sendo essa representação particularmente marcante nas classes populares e
médias, que declaram terem descoberto os museus na adolescência em companhia de
colegas. A idade média dos visitantes aumenta na medida em que se sobe na hierarquia
social, que indica que o efeito da ação escolar é mais duradouro quanto mais elevado o
nível escolar atingido; para os autores, aquele que dispõem previamente de uma maior
competência adquirida pelo contato direto e precoce com as obras, tornaria a ação escolar
mais duradoura e prolongada.

A pesquisa define um conjunto de critérios – idade, diploma, profissão, etc, - que torna
possível calcular a probabilidade de um visitante com idade x, diploma y, profissão z
venha a visitar um museu de arte. Se constata, dessa forma, que a assiduidade de
professores e especialistas de arte é nitidamente superior às outras categorias
profissionais; a precária representação dos agricultores estaria justificada, de acordo com
a pesquisa, a influência desfavorável da atmosfera cultural que o meio rural proporciona,
além do afastamento espacial. De acordo com os dados obtidos, o fato de que essa
profissão seja marcada por um nível de instrução inferior ao das outras categorias, leva a
concluir ainda, que a instrução tenha uma influência específica e determinante que não
pode ser compensada unicamente pelo pertencimento às classes sociais mais elevadas
(Bourdieu, Darbel, 2003:42).

Ainda que os ingressos sejam vendidos a preços amplamente acessíveis, cabe interrogar
se, ainda assim, a renda familiar não exerça uma influência específica à frequentação,

35
uma vez que o custo de uma visita inclua despesas como transporte, alimentação, e neste
caso, se um freio orçamentário não continuaria a agir ainda com a gratuidade das entradas.
Em relação à influência específica do habitat, os autores afirmam que esta não pode ser
isolada (exceção para os rurais) em função dos vínculos estreitos que unem à categoria
sócio-profissional ao nível de instrução. Assim, as desigualdades culturais associadas à
residência estariam ligadas às desigualdades de exclusão e situação social.

A representação das faixas etárias mais jovens –que permanece estável até sessenta e
cindo anos após uma ruptura em torno dos vinte e cinco anos - se explicaria pela influência
da escola; dentre todos os fatores, o nível de instrução pe, de fato, o mais determinante.
(Bourdieu, Darbel, 2003:45). Ainda assim, os autores alegam que o diploma é um
indicador grosseiro do nível cultural, o que leva a pressupor que determinadas diferenças
separariam os visitantes do mesmo nível escolar através da atuação de diferentes
características secundárias. Constata-se que aqueles que recebem uma formação clássica
são sempre mais representados que aqueles que não a tiveram. Para evitar atribuir uma
eficácia cultural misteriosa, os autores afirmam se fazer necessário ver nessa variável,
não um fator determinante, mas um índice de pertencimento a um meio culto, uma vez
que a orientação para tal forma de educação à medida que se sobe na hierarquia social.

Os autores chamam a atenção para o fato de que tipo de estudos secundários não constitui
o fator mais determinantes que explicaria, entre os indivíduos com o mesmo nível de
instrução, a condição necessária de uma frequência assídua a museus. É possível
encontrar grandes variações nas práticas culturais em indivíduos do mesmo nível escolar
ou social segundo o nível cultural de sua família de origem. Nesse sentido, em função da
lentidão do processo de aculturação, sobretudo em matéria de cultura artística,
determinadas diferenças relacionadas à esse processo continuam a separar indivíduos em
situações sociais e níveis escolares semelhantes.

Para avaliar se a intensidade da prática aumenta na medida que o nível de instrução, é


necessário verifica se os praticantes têm uma prática mais intensa na medida em que
representam uma proporção mais importante de sua categoria ou, se as diferentes
categorias separas segundo o grau de instrução são relativamente homogêneas à
frequência de sua prática (Bourdieu, Darbel, 2003:46). É notável que as classes sócias
mais representadas entre o público de museus são também as que se declaram
frequentadores mais assíduos.

36
A questão do turismo chama a atenção dos pesquisadores no sentido em que a prática
turística possa representar uma influência específica na visitação de museus. No entanto,
percebe-se que o turismo só atua de maneira diferencial – se ele poderia incitar indivíduos
menos cultos a visitar museus pela primeira vez - segundo as categorias sociais que já
atuam. É importante notar que o turismo não é independente da instrução, uma vez que a
intensidade, duração e frequência das viagens turísticas são associadas à profissão e à
renda. O turismo cultural dependeria do nível de instrução mais forte que o turismo
comum, e vê-se que a ação específica do turismo se reduz a quase nada, uma vez que a
parcela dos visitantes que conheceram um museu pela primeira vez em decorrência do
currículo é extremante reduzida. A possibilidade de se descobrir o museu pelo turismo,
no entanto, aumenta na medida em que se avança em idade.

Como o turismo está associado ao nível de instrução, os visitantes com as maiores


oportunidades de visitar museus são aqueles que mais sentem a inclinação de fazê-lo. O
turismo seria responsável por suscitar sentimentos de obrigação, constitutivos do
sentimento de fazer parte do mundo culto; a visita habitual a um museu sempre acessível
escapa ao controle coletivo e nada deve às pressões impostas nessa participação; o turismo
invoca práticas obrigatórias daqueles que tem ambições culturais mais consistentes,
aqueles que aspiram fazer parte do mundo culto recebem, portanto, sua força de coerção.
Uma vez que os imperativos culturais í constrangem aqueles que entendem pertencer ao
mundo culto, a intensificação de sua prática favorecida pelo turismo é mais forte à medida
em que se avança às classes mais cultas (definidas por um nível de recepção elevado).
Longe de determinar a prática, os deslocamentos turísticos oferecem apenas
possibilidades suplementares de visita às classes populares, que não passam de visitantes
ocasionais.

Os autores ressaltam que, mesmo a forte relação entre o nível de instrução e a prática
cultural, essa ligação não deve dissimular que só se pode alcançar toda a eficácia da ação
educativa do sistema escolar quando se exerce sobre indivíduos previamente dotados pela
educação familiar a uma relação precoce com o mundo da arte; nesse sentido, a ação da
escola tende a consagrar as desigualdades iniciais em relação a cultura. Dessa forma, se
considerarmos que a parcela daqueles que receberam da família uma iniciação precoce
cresce com o nível de instrução, o que se identifica através do nível de instrução limita-
se a ser o acúmulo dos efeitos da formação longamente adquirida pela ação familiar e das
aprendizagens escolares pressupostas por tal formação (Bourdieu, Darbel, 2003: 54)

37
Conclusão

A partir da pesquisa empreendida, os autores verificam que a consciência obscura do


arbitrário do prazer estético perpassa a história do gosto, individual ou coletivo, que estão
ligado às obras de cultura erudita, ao contrário da crença difundida, não são capazes de
suscitar sozinhas preferencias naturais. Somente a autoridade pedagógica é capaz de
diposr indivíduos a uma prática cultural assídua, gerada em uma exposição precoce e
prolongada de sujeitos à essas práticas.

O prazer estético pressupõe aprendizagem pela familiaridade e exercício; nesse sentido


são produtos do artifício que é vivenciado como prazer natural. As contradições que são
alimentadas ao redor desta prática são favorecidas e autorizadas a tornar-se natureza;
nesse sentido, os virtuoses do julgamento do gosto dão-nos a impressão de ter acesso a
uma experiência da graça estática libertada das restrições da cultura, pouco marcada pela
longa aprendizagem da qual ela é tão produto quanto as condições e condicionamentos
sociais puderam permitir.

Assim, para desempenhar sua função de encantamento, basta que passem despercebidas
as condições que permitiram a posse dessa cultura e o desapossamento cultural daqueles
que, sem acesso a tal privilégio, estariam como que condenados por sua “natureza” a
permanecer como tal. Ao deslocar para segundo plano as condições sociais que tornam
possível a apropriação de certas práticas, a burguesia constrói a noção de que à burguesia
é reservada a cultura e o amor pela arte. Ao invés de invocar o direito de sangue,
historicamente recusado pela aristocracia, o herdeiro dos privilégios burgueses faz apelo
à natureza culta e à cultura tornada natureza. A ideia de cultura de nascimento é
estimulada pela escola, instituição que garante e legitima a transmissão da herança
cultural sob a forma de uma democracia de acesso, dissimulando as desigualdades
socialmente condicionadas, transformando em desigualdades de dons as desigualdades
de sucesso.

Fichamento conceitual

[...] a"necessidade cultural" segundo a qual uma disposição duradoura eassídua à prática
cultural não pode se constituir senão por umaprática assídua e prolongada: as crianças
oriundas de famílias cultasque acompanham os pais nas visitas de museus ou
exposiçõesadotam, de alguma forma, essa disposição à prática, depois que tiverpassado

38
o tempo necessário para adquirirem, por sua vez, a disposiçãoà tal prática que surgirá de
uma prática arbitrária e, antes de tudo,arbitrariamente imposta. Pg. 164

Na medida em que ela produz uma cultura (habitus) - que não é senão a interiorização do
arbitrário cultural, a educação familiar ou escolar tem como efeito, pela inculcação do
arbitrário, dissimular cada vez mais completamente o arbitrário da inculcação. Pg. 164

As contradições e as ambiguidades da relação alimentadas pelos sujeitos cultos com sua


cultura são, ao mesmo tempo, favorecidas e autorizadas pelo paradoxo que define a
realização da cultura como tornar-se natureza: se é verdade que a cultura só se realiza ao
negar-se como tal, ou seja, como artificial e artificialmente adquirida, compreende-se que
os virtuoses do julgamento do gosto deem a impressão de ter acesso a uma experiência
da graça estética tão perfeitamente libertada das restrições da cultura (nunca realizada tão
perfeitamente a não ser ao superá-la) e tão pouco marcada pela longa paciência das
aprendizagens das quais ela é o produto, quanto a evocação das condições e dos
condicionamentos sociais que a sua revelação tornaram possível, ao mesmo tempo, como
uma evidência e como um escândalo. Pg. 165

Para que a cultura possa desempenhar sua função de legitimação dos privilégios herdados,
convém e basta que o vínculo - ao mesmo tempo, patente e oculto - entre a cultura e a
educação seja esquecido ou negado. Pg. 166

O museu fornece a todos, como se tratasse de uma herança pública, os monumentos de


um esplendor passado, instrumentos da glorificação suntuária dos grandes de outrora:
liberalidade factícia, já que a entrada franca é também entrada facultativa, reservada
àqueles que, dotados da faculdade de se apropriarem das obras, têm o privilégio de usar
dessa liberdade e que, por conseguinte, se encontram legitimados em seu privilégio, ou
seja, na propriedade dos meios de se apropriarem dos bens culturais ou, para falar como
Max Weber, no monopólio da manipulação dos bens de cultura e dos signos institucionais
da salvação cultural. Pg. 169

BOURDIEU, Pierre. Gostos de classe e estilos de vida. In: ORTIZ, Renato (Org.).
Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983. p. 82-121

39
Publicado pela primeira vez como “Goûts de classe et styles de vie” como excerto do
artigo “Anatomie du goût”, o artigo gosto de classe e estilos de vida procede a pesquisa
empírica, de certa forma semelhante àquela empreendida no estudo sobre públicos de
museus de arte na Europa (O amor pela arte, Bourdieu e Darbel, 1966). Bourdieu levanta
correlações estatísticas entre o nível de renda, instrução e práticas culturais (como a
fotografia ou visitas a museus) buscando analisar a relação entre esses aspectos e o
chamado “estilo de vida”, conceito que o autor problematiza ao longo do texto e que se
relaciona as propriedades expressa pelas maneiras que vivem as diversas classes sociais
em função das exigências e urgências da vida material.

Segundo Bourdieu, a expressão das condições de existência (ou estilos de vida) são
produto de um sistema de disposições duráveis e transponíveis, que exprime as
necessidades objetivas das quais são produtos. Esse conceito, o habitus, é um sistema de
esquemas geradores que exprime segundo sua própria lógica, a necessidade dos estilos de
vida em sistemas de preferencias, que reproduzem as diferenças ligadas à posição na
estrutura da distribuição dos instrumentos de apropriação. Sob essa ótima, aparecem
como distinções simbólicas.

A unidade das práticas no interior das classes só está no conjunto das “propriedades” que
cercam os indivíduos – que fica marcado pelos bens que consomem e pelas práticas
sociais, como carros, casas, livros, roupas, esportes, consumo cultural – porque estão no
princípio unificador do habitus, que é gerador de todas essas práticas. Assim, o gosto ou
a propensão à apropriação de uma categoria de objetos é a forma generativa que está no
princípio do estilo de vida.

O Luxo e a necessidade

O mais importante nas diferenças de ordem do estilo de vida e na estilização da vida,


reside nas variações da distância com o mundo, suas pressões materiais e urgências
temporais (Bourdieu, 1983:84). As condições que estão relativamente liberadas da
urgência dependem da trajetória social; assim, onde as classes populares reivindicam, nos
bens de primeira necessidade, limpeza e comodidade, as classes médias, mais liberadas
da urgência, se permitem pensar na estilização da vida, no “interior quente e íntimo” da
residência ou o cuidado com a moda e originalidade. Esses costumes, por já muito
arraigados, parecem naturais e são relegados pelas classes privilegiadas a segundo plano.

40
A cada nível de distribuição, o que é raro ou inacessível para os ocupantes do nível
anterior, torna-se banal ou comum e assim, necessário ou evidente que estimula o
aparecimento de novos consumos distintivos. As disposições ajustadas às condições de
classes são sempre referidas às disposições associadas a outras posições. Assim, não há
reivindicação burguesa ao desembaraço ou discrição que não vise às pretensões da
pequena burguesia espalhafatosa e inculta (Bourdieu, 1983:86).

A disposição estética, se define também na distância com relação à necessidade e a


urgência das condições materiais, uma vez que reside na capacidade de neutralizar as
urgências e colocar entre parênteses uma prática sem função prática; logo, ela se constitui
numa experiência do mundo liberada da urgência e na prática de atividades que tenham
sua finalidade em si próprias, como a contemplação das obras de arte, supondo uma
distância com o mundo.

Ao afirmar um poder sobre a necessidade dominada, reivindica-se uma superioridade


legítima àqueles que, sem saber desprezar as contingências do luxo, permanecem
dominados pelos interesses e urgências dos dominantes. Nesse sentido, Bourdieu afirma
que nada distingue mais rigorosamente as diferentes classes do que as disposições
exigidas pelo consumo legítimo de obras legitimas. Assim, quando defrontados com
obras de arte legítimas, mas desprovidos de competências específicas para sua
contemplação, só lhes cabe a aplicação de esquemas de interpretação ligada à
representação figurativa e questionam o que ela “quer dizer”, recusando qualquer valor
se ela não “diz o que tem pra dizer”.

A aptidão para pensar objetos ordinários está fortemente ligada ao capital cultural herdado
ou adquirido escolarmente (Bourdieu, 1983:90). Membros das classes populares recusam
a sofisticação estética quando a encontram em atividades que lhes são familiares. O
princípio dessas recusas está tanto na falta de competência técnica quanto na adesão a um
conjunto de valores “formais” que, vista aos olhos do público com desconfiança, como
quem fala a um não iniciado e exclui os não pertencentes; esse efeito se anuncia através
de um aparelho de distanciamento em que a solenidade dos museus é um exemplo entre
tantos (Bourdieu, 1983:92).

Distancia respeitosa e familiaridade

41
De acordo com o autor, as classes sociais se distinguem menos pelo grau que reconhecem
a cultura legítima que pelo grau que a conhece, assim as declarações de indiferença ou
rejeições são excepcionais. Bourdieu observa que um seguro indicio do reconhecimento
da legitimidade reside na propensão dos entrevistados a dissimular sua ignorância e se
esforçar em propor opiniões conformes à opinião legítima. Para a maioria, a cultura
erudita é um universo inacessível e é apenas entre os detentores de título de ensino
superior esse sentimento cessa de ser privilégio.

O gosto, produto de uma educação que é ligada a trajetória social, ao mesmo tempo que
sancionada pela educação escolar é por ela intransmissível; é nesse sentido que Bourdieu
afirma que não é necessário demonstrar que o gosto é produto de uma inculcação precoce,
uma educação dada no seio familiar, verdades que são dissimuladas pela ideologia do
gosto natural que nega as evidências que vê mecanismos sociais geradores de diferenças
de classes; essa ideologia naturaliza as diferenças reais convertendo as diferenças no
modo de aquisição de cultura em diferenças de natureza.

A ideologia do gosto natural opõe os modos de aquisição de cultura, de um lado o


aprendizado total e precoce, de outro, o aprendizado tardio, acelerado e metódico que a
ação pedagógica assegura. O primeiro se diferencia do segundo pela modalidade de
relação com a cultura que favorece, não forçada, capaz de assegurar uma profundidade e
durabilidade de seus efeitos.

O desapossamento cultural

O estilo de vida, que se constitui como um princípio altamente distintivo de classificação


social, pode ser caracterizado nas classes sociais através da sua “cultura”, no sentido de
sua posse ou desapossamento. Os então “desapossados” são excluídos tanto da
propriedade dos instrumentos de produção quanto dos instrumentos de apropriação
simbólica, não possuindo o capital cultural, condição para a essa apropriação, e é na
oposição competência/incompetência entre o domínio teórico e prático, conhecimento
dos princípios, que eles sentem concretamente seu desapossamento (Bourdieu,
1983:102).

O autor cita Marx, (pg. 102) para apontar o estigma do estilo de vida, através do qual os
desapossados se denunciam, e que contrasta em todas as esferas de distinção e contribui
com a dialética da pretensão e distinção, que para o autor, se encontra no princípio das

42
mudanças incessantes do gosto. Como se não bastasse o desconhecimento das maneiras
valorizadas socialmente, das habilidades que não tem valor nos mercados do gosto, até
em seu tempo livre, aqueles que mais se sacrificam na alimentação, no vestuário e nos
cuidados com o corpo, que se empenham nos divertimentos e gasto do tempo livre em
atividades vulgares, por essa forma de agir “confirmariam” o racismo de classe que
sofrem.

O operário e o pequeno burguês

É notável observar que a parte dos indivíduos desprovidos de qualquer diploma ou


nascidos de um pai sem diploma, decresce quando se vai de operários sem qualificação
aos contramestres; os índices de boa vontade cultural, como a frequência a museus ou
teatros, variam no mesmo sentido. Ainda assim, não é possível concluir que, mesmo os
trabalhadores no topo dessa hierarquia operária se confundem com as camadas inferiores
da pequena burguesia (Bourdieu 1983:103). Eles se distinguem até no uso de seu tempo
livre, onde boa parte dos operários, por exemplo, usam esse tempo para fazerem pequenos
serviços, quando apenas uma pequena parcela dos funcionários de quadros
administrativos médios dedica seu tempo a essas tarefas. Ainda no uso do tempo livre, é
observável que os operários o dedicam a transmissões esportivas ou espetáculos de circo,
enquanto funcionários da pequena burguesia veem muito mais programas históricos,
científicos ou literários. Esses são alguns dos muitos indicativos que Bourdieu aponta
para afirmar que, entre os operários e os funcionários existe uma fronteira na ordem do
estilo de vida. Assim, tudo aponta que a ainda a classe mais consciente da classe operária
permanece submissa – nas esferas da cultura e da língua – aos valores dominantes. E
assim, sensível aos efeitos de imposição da autoridade que os detentores da autoridade
cultural (aquela inculcada pelo sistema escolar) podem exercer.

A boa vontade cultural

A relação com a cultura é o elemento mais característico do estilo de vida, e pode ser
deduzido, até certo ponto, pela distância entre conhecimento e reconhecimento onde se
exprimem a posição atual, a trajetória passada e a disposição em relação ao futuro. Essa
distância pode ser percebida no princípio da pretensão cultural, que assume formas
diferentes segundo a origem social e o modo de aquisição da cultura – por exemplo, a
burguesia ascendente que acumula meios saberes relativamente desvalorizados pelas

43
condições de aquisição e que investe seu tempo nas práticas menores de bens culturais
legítimos (Bourdieu, 1983:109).

Assim, a boa vontade cultural estaria expressa nos testemunhos de docilidade cultural
– escolha por espetáculos educativos ou instrutivos – acompanhados por um sentimento
de indignidade. Pouco seguros nas classificações que procedem, esses “aspirantes” fazem
escolhas variadas e destoantes, juntando em um mesmo gosto de dois tipos de bens que
nos extremos do espaço social são exclusivos; essa aparência disparatada do sistema de
preferencias remete à particularidade do modo de aquisição. Esse ecletismo forçado nada
mais é que reflexo dessa boa vontade cultural, construída pelos encontros ao acaso, em
uma mistura de gêneros, confusão de ordens, onde podemos encontrar produtos legítimos
“fáceis”, desvalorizados, logo sem seu valor distintivo, oposto do ecletismo erudito que
vê na mistura de gêneros e estilos uma ocasião para manifestar a onipotência da
disposição estética; esses produtos “médios” do campo da produção em massa, reflete a
imagem de uma cultura pequeno burguesa.

Os saberes hierarquizados são, de certa forma, correspondentes a títulos por si mesmo


hierarquizados – como um título escolar mais elevado – e a competência que os títulos
certificam confere a garantia de acesso às condições verdadeiras, que fundam os saberes
do nível inferior. O sistema escolar é, por sua vez, o único autorizado a transmitir esse
conjunto de aptidões e saberes que fazem parte da cultura legítima, e consagra o acesso a
um nível de iniciação através do exame de seus títulos. Ignora o privilégio dos virtuosos,
as etapas e os obstáculos institucionalizados, a cultura escolar faz desconhecer o arbitrário
da hierarquização que transmite e de suas lacunas.

A pretensão e a distinção

A disposição estética é tão legitimada, e essa legitimidade tão reconhecida, que apaga que
o poder de definir o que é arte e assim, a “arte de viver” (o estilo de vida) é um lugar de
luta de classes. Despercebidas pelo ponto de vista dominante, as condições da qual as
diferentes disposições são produto, são objetos de um “mal-entendido” que, segundo
Bourdieu, não é menor quando inspira a intenção de “reabilitação”, ou seja, uma
pretensão em dar valor a práticas em função de um sistema de valores etnocêntrico, que
nega o sistema de valores das quais essas práticas são produto tanto quanto a intenção de
desvalorização.

44
A disposição estética implica em uma indiferença ética no estilo de vida que explica a
repulsa ética em relação ao artista que se manifesta das classes médias. Bourdieu cita
Proudhon, filósofo francês, que condena a autonomia da forma e do artista em controlar
aquilo que, para ele, deveria se restringir na execução, que compensaria uma “nulidade”
no tema e contribuiria para uma moda que onde “as reputações fazem e se desfazem”
(Proudhn, apud. Bourdieu, 1983:120). Nesse sentido, essa arte que se separa da vida
social deveria estar subordinada às suas esferas – ciência, moral, e justiça – e ter como
fim educar ao invés de transmitir impressões pessoais.

Por último, Bourdieu salienta que é necessário ter consciente que a disposição estética
está enraizada nas condições de existência e que ela constitui uma dimensão distintiva de
um estilo de vida; assim, para compreender as relações que as diferentes classes mantem
com a obra de arte, é uma relação de força desigual que movimenta e corrobora para uma
forma irreconhecível de luta de classes.

Fichamento conceitual

As práticas e as propriedades constituem uma expressão sistemática das condições de


existência (aquilo que chamamos estilo de vida) porque são o produto do mesmo
operador pratico, o habitus, sistema de disposições duráveis e transponíveis que
exprime, sob a forma de preferencias sistemáticas, as necessidades objetivas das quais
ele e 0 produto [...] pág. 82

O conhecimento das características pertinentes a condição econômica e social (o


volume e a estrutura do capital apreendidos sincrônica e diacronicamente) só permite
compreender ou prever a posição de tal indivíduo ou grupo no espaço dos estilos
de vida, ou, o que dá no mesmo, as práticas através das quais ele se marca e se
demarca, se for concomitante ao conhecimento (pratico ou erudito) da fórmula
generativa do sistema de disposições generativas (habitus) no qual essa condição
econômico-social se traduz e que a retraduz. Pg. 83

O estilo de vida e um conjunto unitário de preferencias distintivas que exprimem,


na logica especifica de cada um dos subespaços simbólicos, mobília, vestimentas,
linguagem ou hexis corporal, a mesma intenção expressiva, princípio da unidade de
estilo que se entrega diretamente a intuição e que a análise destrói ao recortá-lo
em universos separados. Pg. 83

45
Pars totalis, cada dimensão do estilo de vida simboliza todas as outras; as oposições
entre as classes se exprimem tanto no uso da fotografia ou na quantidade e
qualidade das bebidas consumidas quanto nas preferência em matéria de pintura ou
de música. Do mesmo modo que a oposi9ao entre bebida e abstinência, intemperança
e sobriedade, 0 bar e 0 lar simboliza todo um aspecto da oposição entre as classes
populares e a pequena burguesia, que identifica suas ambi90es de ascensão e suas
preocupa90es de respeitabilidade na ruptura com tudo 0 que associa ao universo
repudiado, no interior do universo dos connaisseurs, para quem tanto possuir urna
cave selecionada quanto ornamentar suas paredes com quadros dos mestres e uma
questão de honra, a oposi9ao entre champanhe e uísque condensa o que separa a
burguesia tradicional da nova burguesia [...] pg. 84

A “boa vontade cultural” se exprime, entre outras coisas, por uma escolha
particularmente frequente dos mais incondicionais testemunhos da docilidade cultural
(escolha de amigos "que tem educação", gosto pelos espetáculos "educativos" ou
"instrutivos") frequentemente acompanhados de um sentimento de indignidade ou de
demissão ("a pintura e bonita, mas e difícil" etc.) pg. 109

DABUL, Lígia. O público em público: práticas e interações sociais em


exposições de artes plásticas. Tese (Doutorado em Sociologia)–Programa dePós-
Graduação em Sociologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2005.

Em “O Público em Público: Práticas e interações sociais em exposições de artes plásticas”


Lígia Dabul apresenta a proposta de investigar as práticas e interações comuns aos
públicos em exposições de artes plásticas. A autora assim coloca seu foco no “o quê” o
público faz e experimenta durante o tempo no espaço das exposições, retirando assim o
foco das formas de recepção e direcionando-o para os atores sociais que não são os autores
nem transmissores ou “responsáveis” pelo discurso ou obras produzidas. O objeto
empírico da autora – os públicos de exposições de arte – são cercados pela pergunta “o
que de fato é feito e experimentado pelos visitantes durante uma exposição? ” (Dabul,
2001:270). Assim, os dados que procuram responder essa pesquisa foram obtidos ao
longo do trabalho de campo por meio de entrevistas ou observação direta das ações e
interações de atores sócias, que se estendem em situações anteriores e posteriores às
visitas.

Introdução

46
O trabalho de Lígia Dabul volta-se para a reflexão acerca da presença do público em
exposições de arte, pensando as interações e práticas presentes nessas ocasiões. Assim, a
pesquisa volta-se para “a outra ponta da produção artística” não se interessando pelo
trabalho do artista ou instituições e mediadores, mas ao fluxo e comportamento do público
que comparece a determinadas exposições, na frequência dessas visitas e no discurso
produzido por visitantes a fim de justificar sua ida. Para a autora, a maneira em que aborda
as práticas dos públicos pode contribuir para compreensão da arte como vida social.

A autora constata, num primeiro momento, haver uma tendência nos estudos sobre
públicos, de concebê-los junto à prática da recepção. Nesse sentido, a autora aponta a
dificuldade de recorte que experimentou na pesquisa, imergindo o objeto em
preocupações que pensavam a assimilação e produção de significados sobre as obras
expostas. Uma primeira versão da pesquisa apresentava a proposta de abordar uma
sociologia das visitas, no entanto, a ênfase na forma como o público atribui significados
às obras expostas conduziu a pesquisa a investigar os mecanismos dessa produção.

A autora chama a atenção para o fato de que estudos que pensam a arte como vida social
abordarem a recepção como atividade, prática que explica toda a presença de público nas
exposições; no entanto, a pesquisa dirige-se em outra direção e, ao colocar foco nas
visitas, nas ações sociais, instaura as atenções para o que de fato é feito pelo público no
tempo da visita. Enfoca-se então a presença como significativa para os atores que dela
participam, ocasião propícia para atualizarem-se as sociabilidades, o que consistiria em
práticas nem sempre voltadas principalmente para a compreensão das obras expostas.
Nesse sentido, investiga-se que práticas acompanham a convergência do público em
direção às obras ou ao espaço em que estão expostas.

Chama a atenção de Dabul o significado sociológico da presença do público, seja em


função do número cada vez maior de visitantes das exposições de arte, seja pelos
contornos que essa presença adquire que projetam novas formas de contato da população,
que se reflete num público crescente e diversificado de ofertas também em expansão e
diversificação de exposições de arte, cada vez mais localizadas em locais acessíveis e
centrais, acompanhadas pela difusão, a partir de 1970, de centros culturais que
acompanham esse processo. Nesse sentido, a autora também se interessa pela presença
do público nas situações em que o prédio em si, atrai a atenção dos visitantes, bem como

47
as múltiplas atividades oferecidas no espaço, característica primordialmente dos centros
culturais.

A heterogeneidade dos públicos de exposições dos centros culturais - bem como de


muitos museus de arte – e o extenso número de atividades ofertadas, faz com que a
presença do público seja dimensão importante da pesquisa no sentido em que pensa os
limites rotineiramente utilizados para recortar a arte, considerando as práticas que
constituem essa presença nas exposições. Por exemplo, o Centro Cultural Banco do Brasil
(CCBB, 1995) ressalta que uma razão fundamental apresentada pelo público para
justificar sua frequência ao espaço em detrimento de outros é exatamente a multiplicidade
de atividades que oferece.

A combinação de concentração de múltiplos eventos em um mesmo espaço, em lugar


central, de fácil acesso, o baixo preço ou gratuidade dos ingressos, propicia o aumento e
a heterogeneidade de público além de instituir outras modalidades de visitas. Muitas
delas, por exemplo, são feitas rapidamente, como espera de alguma atividade para qual
aqueles atores sócias, os visitantes, mobilizaram-se especialmente (Dabul, 2001 ver).

Outra dimensão já comentada é o valor histórico ou estético dos prédios onde residem
centro culturais e museus que, por si só, constituem objetos de visita – a autora vai usar
Duncan (ver) ao longo do trabalho para relacionar a postura que a arquitetura dos museus
inspira no comportamento dos públicos para relacionar essa postura com as interações
reais que ocorrem.

Dabuk diferencia visitas guiadas, em grupo, pares ou individuais a fim de desvelar as


formas de interação e a influência que a configuração do grupo de visitantes exerce. Nesse
sentido, observa-se que a modalidade de visita varia conforme essa configuração que
atinge amplamente o comportamento dos públicos no espaço da exposição.

Assim o trabalho organiza-se em cinco capítulos, no primeiro, buscando delinear o


ambiente em que a pesquisa acontece, onde a autora procura fornecer elementos que
situem o leitor em relação as informações e análises que serão apresentadas, além de
descrever a entrada e situação peculiar do campo. No segundo capítulo, a autora procede
a uma discussão bibliográfica, elencando os autores que desenvolveram referenciais para
a abordagem que mais frequentemente é posta em operação quando são feitos os estudos
não quantitativos sobre a presença do público em exposições de arte. No terceiro capítulo,

48
a autora se apropria de noções associadas ao conceito de ritual para discutir a presença e
comportamento so público em exposições de arte, atentando paras as especificidades das
situações de exposição de produtos artísticos. No quarto capítulo, encontramos a
descrição das principais práticas observadas pela autora durante a pesquisa, práticas essas
que constituem e dão significado à presença dos atores nas exposições de arte expondo a
maneira que interagem com outros atores e com as obras expostas.

No último capítulo, a pesquisa se direciona a formas significativas da presença do público


no sentido em que vincula essas a outros aspectos relevantes da vida social; por exemplo,
no item 5.1 – A escola estendida, a autora aborda que aspectos da vida escolar (como a
sociabilidade que a escola constrói) recaem diretamente sobre a maneira que as
exposições são percorridas e o significado que adquirem seus visitantes a partir disso.

Por fim, em Aquém e além de conclusões, a pesquisa apresenta suas contribuições


desenvolvidas através do itinerário percorrido para sua realização. Ao itens abordados ao
longo do texto serão retomados e questões a que se chegaram servirão para situar e
apresentar os limites e alcances do trabalho.

1.3 – Entrada em campo

Neste tópico, a autora descreve a forma de abordar o campo, aspecto absolutamente


relevante para o tema deste relatório. Como elenca Fleury (2009), diferente da etnografia
tradicional, que vê seus limites geográficos ou construído por barreiras sociais, a
etnografia dos públicos lida com material amplamente maleável, coalizões que se
constroem e se desfazem, em constante movimento. Nesse sentido, as experiências de
pesquisadores sobre o campo são especialmente relevantes e servirão como norteadores
para a abordagem que será desenvolvida para o trabalho de dissertação.

Assim, Dabul começa por descrever o jogo de espelhos da observação antropológica,


salientando que em algumas situações, como é o caso da sua própria observação, esse
jogo é potencializado. No trabalho de campo, observamos alguém que nos observa, dessa
forma observando também nossa observação; assim quando o trabalho de campo exige
uma relação direta e estável com o objeto de observação, a observação em si é mais
facilmente observada e interpretada por nós, logo, lidamos com isso mais tranquilamente.
Se, ao contrário, não temos uma relação estável ou de previsibilidade do comportamento
mútuo com que observamos, perceber que a observação é também observada, torna-se

49
consideravelmente constrangedor, sobretudo no caso da autora que, no início do trabalho
de campo optou por não revelar a identidade de pesquisadora.

A pesquisa feita por Dabul exigia a observação do comportamento de um público


numeroso, fluido e diversificado, e, na imensa maioria das vezes, desconhecido. Essa
posição fazia com que os riscos da efemeridade ocupassem o lugar do conforto e
estabilidade que é possível experimentar em outros tipos de pesquisa.

Assim, a autora opta por iniciar o trabalho de campo no CCBB no Rio de Janeiro, com
eventos gratuitos e em grande maioria tratados pela mídia. No primeiro dia, com três
exposições disponíveis, uma delas de arte contemporânea. Ainda que não constituísse o
foco da pesquisa, a autora se viu atraída pela possibilidade de confrontar categorias
produzidas por atores sociais inseridos no mundo artístico de diferentes maneiras, estando
o público dentre eles. No entanto, o tempo em que as exposições acabariam, ditou a
entrada no campo; sendo que uma das mostras disponíveis acabaria em uma semana, foi
a partir desta que se iniciou o trabalho de campo.

Ao entrar na exposição, a pesquisadora esbarra com o livro de presença, que folheia, na


ausência de pessoas na exposição. Essa atitude chama a atenção de uma relações
públicas 17 . Não permitir que o livro fosse folheado consistia em uma atitude não
permitida, que, para além da segurança das obras, competia nas obrigações das relações
públicas em zelar.

Tanto na tentativa de retirar do livro de presença informações úteis sobre os visitantes da


exposição, quanto na prática de observação dos visitantes, a autora chama a atenção das
relações públicas, logo, se sentindo impelida a apresentar-se como pesquisadora e apontar
suas intenções no espaço. A partir dessa apresentação, a autora relata que as relações
públicas, seguranças e recepcionistas dos espaços, sabendo sua identidade, acabarão por
fornecer informações, apontar oportunidades de observação, bem como oferecer locais
próximos a seus postos de observação, que a autora vai perceber como os melhores pontos
das salas, para que se posicione.

Isso instaura, de certa forma, possibilidades melhores e permite que a pesquisadora


consiga uma certa estabilidade na observação e coloca os relações públicas como uma

17
Relações públicas é uma categoria utilizada para se referirem às profissionais (em sua maioria
mulheres) que ficam no espaço das exposições para zelas pela segurança das peças (Dabul, 2001:75,
nota de rodapé)

50
espécie de “informantes” para a pesquisa, uma vez que estes relatam casos ocorridos na
ausência da autora e apresentam boas oportunidades de observação. Essa interação
acabou por formar uma relação de cumplicidade com as relações públicas, ambas sabendo
da observação velada aos visitantes.

Ainda assim, observar silenciosamente a observação alheia, aproveitando da distração das


pessoas, consistiu para a autora uma dimensão que não se cola somente às estratégias da
coleta de dados, mas se estende a qualidade das relações daqueles que são centros da
observação. Coloca-se então, uma questão ética, que chamará a atenção da autora durante
toda a pesquisa.

Fichamento Conceitual

[...] pretendo tratar uma outra ponta da arte, a presença do público nas exposições
de objetos de arte, e de novo partir de práticas e interações efetuadas pelos atores
sociais, agora o público, ao longo delas, tornando a “esquecer” as obras expostas,
apesar delas aparecerem com freqüência, inclusive no discurso de muitos dos que
visitam as exposições, como fundamento de se estar lá. E penso que em principalmente
dois sentidos o modo como tentei abordar o público das exposições neste trabalho, ao
lado das dificuldades que sei ter encontrado, pode contribuir para a compreensão da arte
como vida social. Pg. 14

Estamos considerando o público, neste trabalho, como conjuntos de pessoas que


compartilham um mesmo espaço social com objetos expostos como artísticos e por
isso valorizados socialmente. Para nossos interesses, faz sentido pensar então a
exposição sempre circunstanciada, em recortes no tempo e no espaço moldados
pelas práticas efetuadas e interações estabelecidas entre essas pessoas, e, mais
especificamente, conforme indicamos, entre as que frequentam as exposições em
centros culturais e museus de arte com [su]as características [...]. pg. 37

Alternadas, entrecortadas, superpostas, incompatíveis: vivenciar a sociabilidade e as


obras e ambientes (conjuntos de obras, sonoridades, visualidades, acolhimentos,
cenografias) são as experiências múltiplas, em combinações infinitas, observadas pelo
pesquisador e relatadas pelos visitantes de exposições de arte, muitas vezes
organizadas na memória quando lembrando de exposições passadas [...]Há práticas
relacionadas com a observação das obras que acompanham as interações entre os

51
indivíduos, em movimentos e operações concatenadas, quando, por exemplo, fitar o
acompanhante alterna-se ao fitar a obra, e o ritmo estabelecido pelo andar e parar em
frente à obra é intercalado de maneira harmoniosa com as interrupções causadas pela
derivação do assunto que já não mais se refere à obra que ainda pode ser alcançada
com os olhos, e que acabaram de ver. Pg. 185

Mas há ainda um conjunto de itens que podem ser abordados de modo mais detido, em
função desse alargamento do campo de práticas e procedimentos sociais importantes
vinculados à presença de visitantes em exposições de arte. Essa tentativa de ampliar
se traduz, claramente, em considerar agora mais diretamente em nossa reflexão espaços
e tempos outros para além daquele espaço e daquele tempo no qual os atores sociais
deslocam-se pela exposição. Há, nesse processo de análise, a ênfase naquela continuidade
que já temos sublinhado em relação às práticas sociais – como estudo, brincadeira,
aprendizagem, diversão, namoro, convivência etc. – que, dentro de configurações
específicas de situações de excepcionalidade – liminaridade –, são atualizadas de
alguma maneira nas exposições. Pg. 271

As relações e interações sociais não perpassam de modo marcante as

pesquisas dos antropólogos preocupados com as artes visuais ou plásticas 52 .

Concentrados nos objetos, na sua compreensão direta e análise, ainda quando voltados
para a inferência de elementos da sociedade ou cultura, as ações sociais, e, então,
os atores sociais, tendem a não constituir os focos da investigação. Rituais, assim,
costumam ser estudados bem mais frequentemente mas para a compreensão do
significado embutido nos objetos artísticos e sua função social.[...] Ritual aqui consiste
em conceito estratégico, usado como ponto de impulso, que nos ajuda a perceber traços
da vida social onde aparentemente reina absoluta a liberdade de criação dos artistas e de
escolha e de comportamento do público. Por conta dessa suposta liberdade atribuída à
arte, ela é comumente tomada como fenômeno não afeito a estudos científicos. Se
submetida, no aspecto que nos interessa, à verificação de correspondência com o atestado
por estudos que utilizam o conceito de ritual, talvez a arte possa ser sondada em
dimensões pouco levadas em conta e compreendidas. Pg. 119

52
DUNCAN, Carol. “The Art Museum as Ritual” in Civilizing Rituals Inside Public Art
Museums

O trabalho de Duncan tem como proposta apontar os aspectos rituais gerais que os museus
de arte evocam. Nesse sentido, a autora analisa tanto as práticas que se desenrolam dentro
dos museus, quanto a atmosfera de suspensão que essas construções evocam, no sentido
de uma arquitetura diferenciada, por vezes cercada de jardins ou em espaços históricos,
que tem a função de “separar” o tempo e espaço da vida cotidiana, gerando a ideia de
suspensão. Assim, através da análise desses aspectos, Duncan tece o argumento de que
os museus de arte evocam uma espécie de ritual em seus visitantes, reforçados tanto pelas
características físicas como pelas “normas” dos museus.

O argumento inicial da autora é de que o caráter ritualístico dos museus de arte existe há
tanto tempo quanto os próprios museus de arte e contribui, de certa maneira, para o
cumprimento da proposta do museu. Assim, Duncan argumenta que os museus sempre
foram comparados a templos, ou palácios e, de fato, eles têm sido deliberadamente
pensados para representa-los.

Mesmo que os museus de arte não sejam associados a valores religiosos, pertencendo ao
reino dos valores seculares – não apenas motivados pela prática científica e das
humanidades, mas por preservar também a memória cultural da comunidade – a prática
ritual que se associa à religiosidade também é a eles dirigida, muito embora antitética pela
dicotomia estabelecida entre religioso/secular.

A antropologia argumenta que nossa cultura supostamente secular está repleta de


situações rituais que acontecem muito poucas vezes em contextos religiosos. Também
nós construímos locais, edifícios, estruturas que representam as crenças sobre a ordem do
mundo, relações entre presente e passado e o lugar do indivíduo acerca dessas questões.
Museus são então, exemplos desse microcosmos; são especialmente ricos em simbolismo,
guardam o passado social e ‘sacraliza’ objetos em seu interior.

Os museus ainda requerem o status de conhecimento objetivo e controla-los significa


controlar também a representação dos valores e verdades da comunidade e, assim, aqueles
que melhor perfomam o ritual são aqueles cujas identidades –social, racial, sexual, etc.-
o ritual dos museus confirma. O que vemos e também o que não vemos nos museus de

53
arte está estreitamente vinculado às questões sobre quem constitui e define a identidade
de determinada sociedade.

A semelhança entre museus e antigos lugares de culto religioso se dá não só por sua
referência arquitetônica mas também porque são desenhados para a performance ritual;
como qualquer lugar ritual, os museus estão marcados por reservar a necessidade de uma
atenção especial assim como também se espera uma postura ou decoro em seu interior.
Alguns museus têm em seu interior listas com o que é e o que não é permitido no ritual
de comportamento. Duncan enfatiza a semelhança entre museu e templo também através
de sua estrutura; eles geralmente são colocados como que a parte de outras estruturas, sua
arquitetura monumental claramente marca uma ‘aura’ de diferenciação; seus prédios
constantemente são guardados por pares de criaturas, muitos deles são construídos em
áreas afastadas dos centros urbanos, cercados por paisagem natural.

A autora reforça a proposição de Mary Douglas de que os museus “preparam” o


espectador para uma experiência assim como a expressão “Era uma vez” prepara crianças
para ouvir histórias fantásticas. A atmosfera do museu indica um modo de consciência
que reside fora do cotidiano, assim como rituais que temporalmente suspendem as regras
do comportamento social normal, abrindo espaço para uma experiência que transcende a
vida cotidiana.

Duncan argumenta que a característica ritual dos museus está relacionada tanto à
experiência no sentido da atenção especial que requer quanto que à noção diferenciada
do tempo e espaço que proporcionam. O ritual, no entanto, também envolve algum
elemento de performance. Essa performance precisa ser, no entanto, algo espetacular; no
caso dos museus, é algo contrário, algo que pode ser performado individualmente, como
de seguir uma rota prescrita, repetir uma prece ou se envolver em uma experiência
estruturada que relata o sentido do lugar. Nos museus de arte, são os visitantes que
perfomam esse ritual. O espaço delimitado, o arranjo das peças a iluminação e detalhes
arquitetônicos providenciam o script e o palco dessa atuação. E finalmente, escreve
Duncan, o ritual deve ter um fim proposto. No caso dos museus, a experiência que
proporcionam é transformadora: Seus visitantes experimentam um sentimento de ser
nutrido, restaurado, iluminado.

Ao longo do século XVII críticos e filósofos começam a atribuir à arte o poder de


transformar espiritual, moral e emocionalmente as pessoas. A princípio, esses

54
profissionais não estavam preocupados com a experiência que a arte poderia
proporcionar, mas sim com as questões de gosto e estética. Ao mesmo tempo que a
estética surge como tópico importante de pensamento, cresce o interesse por galerias e
museus de arte. De fato, o surgimento do museu de arte é consequência da descoberta
filosófica do poder da moral e da estética dos objetos de arte. Nesse sentido, se os objetos
de arte exercem melhor sua função quando contemplados, o museu deve prover um
cenário adequado para eles, e isso os torna inútil para qualquer outro propósito.

Designar a experiência estética e artística como tópicos para investigações filosóficas e


críticas no século XVII parte de uma tendência de fornecer significado e valor para o que
é secular. A autora afirma que, nesse sentido, a invenção da estética pode ser interpretada
como uma transferência de valores do reino do sagrado para o secular.

O surgimento dos museus suscitou uma resposta de seus visitantes que era motivada pelo
sentimento de sacralidade que o impregnava. Goethe escreve sobre suas impressões após
visitar, em 1768, a Dresden Gallery e enfatiza o efeito do ambiente como impressionante.
Segundo ele:

The impatiently awaited hour of opening arrived and my


admiration exceeded all my expectations. That salon turning in
on itself, magnificent and so well-kept, the freshly gilded
frames, the well-waxed parquetry, the profound silence that
reigned, created a solemn and unique impression, akin to the
emotion experienced upon entering a House of God, and it
deepened as one looked at the ornaments on exhibition which,
as much as the temple that housed them, were objects of adoration
in that place consecrated to the holy ends of art. 18

Duncan expõe ainda o relato de outros visitantes, tanto temporalmente próximos de


Goethe quanto da modernidade, que torna claro que a impressão causada pelo ambiente
do museu é uma constante a seus visitantes. O que também fica claro nessa aproximação
é o fato de que o ambiente do museu pode alterar o significado dos objetos expostos,

18
DUNCAN, Carol pg. 14

55
redefinindo-os como obras de arte, diminuindo ou obscurecendo sua configuração
original por retirá-los de seu contexto de uso.

Ao longo do século XIX, o público de museus cresceu imensamente; se, no começo do


século apenas uma pequena minoria os frequentava, com o passar do tempo a população
começou a adotar a fé incondicional no valor dos museus de arte. Assim, ao início do
século XX, a crença nas galerias e museus como locais de experiência enriquecedora
estava difundida tanto na Europa, quanto na América. Durante o século XX, no entanto,
essa ideia de museu como um lugar para enriquecer cultural e socialmente seus visitantes
vai sendo substituída pelo conceito de muses estético.

Assim, as atribuições do museu de arte vão sendo alteradas; se no início os museus eram
responsáveis por guardar objetos de valor cultural incontestável, agora eles se tornam
lugar de contemplação estética. No entanto, a atmosfera mágica do museu permanece
ainda com a ação da estética, que começa a ser vista como a fonte de uma experiência
prazerosa.

Os museus começam a ser projetados para induzir seus visitantes a essa experiência, que
requer uma absorção profunda. O antropólogo Edmund Leach afirma que cada cultura se
empenha em construir algo que, simbolicamente, contradiga a irreversibilidade do tempo
e da morte; assim, os museus podem ser vistos como “templo” que revisitam momentos
significantes do passado.

A vitória do “museu estético” proporcional ainda alterações na estrutura dos museus, que
passaram a se preocupar com a sensação de imersão, com a concentrar o foco nos objetos
de arte; motivados pela contemplação estética, os museus foram pouco a pouco
aumentando o espaço entre as obras para que o olhar não fosse incomodado por outros
objetos. Logo, quanto mais “estético” as instalações – menos objetos, mais paredes vazias
– mais sacralizado o espaço do museu.

No entanto, essa abordagem faz com que o espaço sacralizador do museu tenha a
capacidade de fazer com que objetos se tornem arte. Dessa forma, qualquer coisa, como
cadeiras, extintores de incêndio, termostatos, enfim, qualquer coisa pudesse ser vista
como arte.

Nesse texto, a autora defende o argumento de que há, em torno dos museus e galerias,
uma atmosfera que suscita a atitude ritual. Essa atmosfera é tão grande que acaba por dar

56
aos museus o poder de transformar objetos em seu interior em arte pelo simples fato de
os expor.

Fichamento Conceitual

Besides introducing the concept of ritual that informs the book as a whole, it
argues that the ritual character of art museums has, in effect, been recognized for as
long as public art museums have existed and has often been seen as the very fulfillment
of the art museum's purpose. Pg 7

What we see and do not see in art museums [...]- is closely linked to larger
questions about who constitutes the community and who defines its identity. Pg. 9

Museums resemble older ritual sites not so much because of their specific architectural
references but because they, too, are settings for rituals.[...] Like most ritual space,
museum space is carefully marked off and culturally designated as reserved for a
special quality of attention - in this case, for contemplation and learning. One is also
expected to behave with a certain decorum. Pg. 10

A ritual site of any kind is a place programmed for the enactment of something
[...]But a ritual performance need not be a formal spectacle. It may be something an
individual enacts alone by following a prescribed route, by repeating a prayer, by
recalling a narrative, or by engaging in some other structured experience that relates to
the history or meaning of the site (or to some object or objects on the site). Some
individuals may use a ritual site more knowledgeably than others - they may be more
educationally prepared to respond to its symbolic cues. Pg. 12

In art museums, it is the visitors who enact the ritual. The museum's sequenced
spaces and arrangements of objects, its lighting and architectural details provide both
the stage set and the script - although not all museums do this with equal
effectiveness. Pg. 12

Finally, a ritual experience is thought to have a purpose, an end. It is seen as


transformative: it confers or renews identity or purifies or restores order in the self
or to the world through sacrifice, ordeal, or enlightenment. Pg. 13

57
FLEURY, Laurent “Os Públicos da Cultura” in: Sociologia da cultura e das práticas
culturais, Editora Senac : São Paulo, 2009

O debate empreendido no capítulo selecionado para este relatório tem foco em contrapor
as diversas definições de públicos por pesquisadores desta categoria, bem como as formas
de abordagem empreendidas por esses pesquisadores. Ao trazer para o debate
pesquisadores que evidenciam a abordagem de múltiplas práticas constituitivas dos
públicos, Fleury opõe à abordagem proposta por Bourdieu em “O Amor pela arte”
enviesadas pelo conceito de classe. Fleury tenta assim mostrar outras formas de trabalhar
o público através das diversas esferas culturais em detrimento do viés adotado por
Bourdieu.

Parte 2 - Os Públicos da Cultura

Falar de públicos da cultura na França é fruto da existência de políticas públicas da cultura


nesse pais. Poucas análises foram conduzidas sobre o próprio público.

O público, o “não público”, os públicos

O público é tradicionalmente concebido como conjunto homogêneo de leitores, ouvintes,


etc. de uma obra. Entretanto, não existe público, mas públicos e há tanto a existência de
de gêneros quanto de “expectativas” afetivas e intelectuais.

Contudo, assinantes ou aqueles que aderem a instituições culturais, a categoria “público”


oferece um apoio de identificação que podem suscitar metáforas, que, por sua vez,
constituem sempre armadilhas para o pensamento sociológico.

A dupla metáfora do público

A categoria de público corresponde primeiramente à metáfora do corpo político


unificado. A ideia de público veicula ainda uma segunda metáfora, da esfera literária,
ainda mais próxima da definição clássica de público, ou seja, leitores, espectadores,

58
ouvintes enquanto destinatários. Dessa forma, o recurso à categoria “público” no singular,
cristalizou um mito; essa dimensão lembra que a realidade não é apenas real, mas também
imaginada e logo, a categoria de “público” não deixa de ter efeito.
Mesmo as enquetes junto a públicos de festivais constataram que os processos de
identificação individual e coletiva estavam na origem de um “tornar-se” público e
espectador. Além da categoria de destinatário que o público evoca, as políticas de público
oferecem um espaço de identificação coletiva aos indivíduos. Dentro de tal categoria de
público, é necessário ainda estar consciente dos implícitos veiculados por uma outra
noção, a de “não público”.

A invenção da noção de não público

Essa noção foi introduzida pela primeira vez em maio de 1968 com a reunião de diretores
e homens do teatro e pesquisadores das ciências sociais. A ação cultural, entendida como
um dispositivo de transmissão da cultura erudita a um público privilegiado parece
estagnar, uma vez que os espectadores contemplados se encontram numa faixa da
população que possui meios de obter cultura.

Segundo Francis Jeanson: Há de um de lado o público e, de outro lado um “não público”,


imensidão humana composta daqueles que ainda não têm nenhum acesso nem chance de
se aproximar do fenômeno cultural.

Separando “cultos” e “não cultos” a declaração que emerge de tal encontro postula uma
desigualdade de atitudes culturais dos indivíduos. A noção de “não público” introduz uma
dimensão inédita; a negação que ela sugere já mostra um processo de marginalização e
até mesmo de exclusão.

Pela primeira vez desde o século XVII, quando se constitui o público literário, vê-se
implicitamente negar uma parcela da população a possibilidade formal de fazer parte
disso. Declara-se a intenção de se conduzir esse público ao teatro, mas essa intenção
corresponde a uma negação na medida em que a categoria de “não público” corra o risco
de permanecer enquanto tal; a invenção da noção de “não público” participa da
naturalização de uma construção social.

A discriminação introduzida reduz-se a uma etiqueta e não funciona como ferramenta de


apreensão do real; não porque o não público seja diferente é que deva ser excluído da
comunidade imaginária do público, mas ao contrário, porque ele é institucional e

59
politicamente construído que aparece como o Outro e suas diferenças culturais e sociais
passam para primeiro plano. O discurso realiza em parte aquilo que enuncia.

Quando passa de noção de público em potencial para “não público”, se viaja entre um
universo probabilista e um universo certo. O não público passa por um processo de
desqualificação e marginalização; o não público torna-se o “excluído” o “pobre” de
cultura. Entretanto, não é a pobreza integrada do século XX que convive nos corredores
do Louvre com as demais classes, é a pobreza desqualificada, tal qual escreve Simmel.

Assiste-se a uma fabricação de irredutível alteridade: o “não público” representa um


Outro que é completamente outro; há a formação de uma exterioridade radical, elaboração
de uma categoria naturalizada; esse processo discursa a favor da segregação identitária
que repousa na recusa da identidade do outro a quem se recusa qualquer possibilidade,
mesmo a de formação. Fenômenos sociais de reprodução se formam, oferecendo espaços
de identificação negativa que favorecem a interiorização do sentimento de indignidade
diante dos equipamentos culturais.

Do evento do encontro já citado ao advento de uma categoria, inspira-se duas


observações: A primeira diz respeito aos efeitos da difusão dos saberes de ciências sociais
que, como no caso de “não público”, ao contrário de emancipador veicula um efeito
ideológico, dissimulando desacordos sociais e políticos.

Uma segunda observação refere-se à armadilha nominalista: Descobre-se o poder de


nomear, as palavras anunciam aquilo que enunciam, possuem efeitos políticos e veiculam
normas sociais.

Contrariamente às ideias recebidas a introdução dessa categoria não levou a nenhuma


mudança nos modos de ação cultural ou mediação cultural. O corte, em si, não existe,
mas a crença no corte existe.

O advento da existência de “públicos”

Antes de entrar na descrição de “públicos culturais” é importante ter em mente as


distinções entre “público inventado” e “público constatado”. A distância entre um e outro
encontra-se no princípio de uma gama muito variada de tomadas de posição sobre a
cultura. Longe do público que deveria ascender a cultura pela ação pública, os usuários
dos equipamentos culturais não “se apresentam bem”. Esse é o caso em particular das

60
bibliotecas onde o público constatado não corresponde ao público inventado, quer dizer,
ao bom público. O primeiro, muito mais recorrente, corresponde aos barulhentos,
devoradores de sanduíches e consumidores de latas de cerveja. Dessa forma, o público
constatado sustenta relações complexas com o público inventado, que se designs como
novas camadas de público, definidas por características sociais ou geográficas ou ainda
por uma forma de utopia do espectador.

A esses dois tipos de público, adiciona-se um terceiro, o “público recusado”, aquele “para
quem se produzem procedimentos de domesticação das expectativas, que visam fazer dele
não apenas receptáculo, mas também negar-lhe expectativas ou demandas dos coletivos
efêmeros reunidos em torno de artistas e obras”.

A análise sociológica do público volta-se para a decomposição da noção unitária de


público e trazendo a análise das formas de relação entre obras, agentes culturais e
“expectadores”. Esse método de análise permite proteger-se do risco do essencialismo
ligado a essa entidade coletiva que representa o público e recusar a hipótese fácil da noção
de público. Não existe um “público geral”, o público são coalizões ou reagrupamentos
efêmeros. O mundo dos públicos é o da decomposição e recomposição permanentes,
apesar da constatação das regularidades culturais que existem na base das relações de
classe.

Por fim, assim como Weber recusava, em termos de método, o emprego de coneitos
coletivos mas reconhecia seus valores na explicação da orientação da ação social, é
preciso evitar substancializar o público.

Uma sociologia dos públicos da cultura19

Uma evolução em alta: Ascenção do audiovisual

São três as principais fontes de informação que permitem acessar os comportamentos


culturais: Pesquisas sobre compromissos (tempo dedicado), sobre gastos (quanto é gasto
com o quê) e pesquisas sobre atividades (quantas pessoas vão a).

Entre 1973 e 1997, por exemplo, observou-se a ascensão do audiovisual onde observa-se
que o consumo de audiovisuais tem sua expressão mais visível no aumento do tempo

19
Os dados estatísticos foram retirados da enquete “As práticas culturais francesas” de 2003 do INSEE –
para mais ver Fleury, 2009:61

61
dedicado ao consumo de programas de televisão, videocassetes, discos, etc.; dessa forma,
observou-se a intensificação e aumento na duração da escuta e a cultura televisiva. A
ascensão da televisão e dos aparelhos de som abriram uma nova era audiovisual,
acentuando as práticas audiovisuais no espaço doméstico. O movimento de aumento do
consumo televisivo e musical, no entanto não acompanha o mesmo ritmo, o aumento da
audição de discos foi mais importante em 1970, no momento em que os aparelhos
domésticos dedicados a reprodução sonora eram ainda limitados; o aumento do tempo
dedicado ao consumo televisivo foi mais marcado na década de 1980 e, é possível
constatar o declínio da leitura de livros.

Uma evolução em baixa: O declínio da leitura de livros

Mesmo com o progresso da compra de livros, assim como a frequentação de bibliotecas20,


as práticas de leitura declinam a partir de 1973; a proporção de não leitores, no entanto,
permanece estável. Embora as gerações, envelhecendo, percam leitores, a quantidade de
livros lidos diminuiu regularmente no período de 1973 a 1997, pois o fato de ler muitos
livros tornou-se menos frequente no início dos anos 1970. O recuo atinge ainda a
imprensa cotidiana, onde os jornais conhecem uma perda regular e o consumo de revistas,
ao contrário progride, sobretudo entre os jovens.

Como interpretar o recuo no número de livros lidos? Esse declínio conhece diversas
interpretações, em primeiro lugar as de concorrência no espaço-tempo, a participação
mais frequente em atividades artísticas e de lazer, bem como os consumos audiovisuais
são fatores de erosão na quantidade de livros lidos.

Esse declínio é interpretado no texto de três maneiras distintas: 1- Como consequência de


uma transformação dos atos de leitura, onde se percebe que os franceses não estariam
lendo menos, mas teriam desenvolvido novas práticas de leitura, mais voláteis e
utilitárias, que pode ser constatado no aumento do consumo de revistas; 2- A diminuição
da leitura entre os jovens pode ser relacionada ao efeito da atuação muito grande da
pedagogia escolar sobre o livro, relegando pouco espaço para a leitura prazerosa, que
torna a inserção do livro em contextos de lazer mais difícil; 3- A baixa na quantidade de
livros lidos pode referir-se ao fato de que o livro conheceu uma perda relativa de seu valor
simbólico e que a leitura também perde parte de seu poder distintivo no universo

20
63% dos franceses compraram um exemplar nos últimos 12 meses contra 51% em 1973 e a proporção
de associados a bibliotecas dobrou, se comparado a 1973

62
adolescente. O livro torna-se emblemático do mundo ultrapassado em frente as
tecnologias emergentes.

A Multiplicação das enquetes com públicos específicos

O teatro conhece seu público pelas enquetes que se referem a uma instituição particular e
pelos trabalhos sobre festivais. Uma enquete do Festival de Avignon conduzida desde
1996 busca medir os efeitos sociomorfológicos em relação a transformação e constituição
dos públicos de teatro fora dos equipamentos culturais tradicionais (aqui, se inclui o
próprio Festival). Esse conjunto de estudos mostra até que ponto dinâmicas culturais dos
públicos na prática festival constitutiva de sua própria experiência e personalidade
cultural. Uma enquete precedente mostrou que a participação cultural em festivais está
longe de limitar-se ao contato entre público e obra.

Recentemente, os públicos de cinema também foram estudados, tentando compreender


como o cinema se torna prática cultural majoritária, em termos de frequentação e
audiência, o que acrescentamos a nós mesmos com esse tipo de consumo e como a sala
de cinema se coloca, com seus ritos e códigos. Essas questões participam da definição
atual de cultura cinematográfica.

Para a ópera, o estudo dos públicos revela que só uma fração muito minoritária da
sociedade procura basear sua identidade social em práticas líricas. Os traços que
singularizam essa prática, por sua raridade de oferta e implantação constitui um ponto
cego para a sociologia da cultura que privilegia noções de “classes dominantes”, uma vez
que as pr[áticas líricas estão mais estritamente relacionadas aos rendimentos financeiros
que às formações escolares ou familiares.

A frequentação de espetáculos de dança se revela muito desigualmente difundida na


população, sendo a frequentação uma atividade de lazer ocasional raramente motivada
pelo amor à dança ou à sua prática amadora. Ela é antes condicionada pela existência e
proximidade dos espetáculos e interessa a um pequeno número de franceses.

O ponto comum dessas enquetes evidencia a diversidade e diferenciação das práticas


culturais dos franceses. Nesse contexto, o ator dominante no jogo social não é um
consumidor exclusivo, mas um “onívoro” eclético que aos poucos rompe as fronteiras
tradicionalmente erigidas entre cultura erudita e popular.

63
A construção dos universos culturais

A partir da constatação da hibridização dos universos culturais e diluição das fronteiras


entre popular e erudito, Olivier Donnat21propõe uma primeira passagem do modelo das
“três culturas” – legítima, média e popular – a um modelo de “sete universos culturais”.

Duas variáveis, comportamental e cognitiva

Visando ultrapassar os limites das abordagens da prática e abordar o tema da cultura pela
vertente cognitiva, Donnat elaborou um questionário com 65 personalidades que
cobririam o conjunto das formas de expressão artísticas das mais vanguardistas às mais
populares, tentando confrontar a competência do gosto em matéria artística e perguntar-
se sobre categorias de vulgar e distinto. Assim, ele distingue categorias de artistas entre
“patrimoniais”, “populares” “célebres” ou ainda os que se referem ao primeiro ou
segundo “círculo da alta cultura”, mas dentro destes mantém categorias como
“consagrados” e “consagráveis”, o que permite indicar classismo ou modernismo desses
artistas.

Os grupos de franceses que o autor indica são: “excluídos”, que conhecem somente os
“patrimoniais” ou “populares”, os “desprovidos” que apontam uma recusa de gosto aos
“patrimoniais”, o “cruzamento da média” com pessoas que se encontram no centro das
lutas simbólicas engajadas, “avisados” que compartilham os gostos da maioria e os
“antenados” que dispõem de capital informacional mais diversificado.

Os sete universos culturais dos franceses

A frequentação de espetáculos e exposições, audições e leitura, constituem os âmbitos


que servem para Donnat inaugurar uma tipologia das atitudes e comportamentos diante
da cultura. Assim, ele esboça sete universos culturais.

O universo da exclusão: composto, na maioria, por antigos agricultores ou operários não


diplomados, idosos e rurais que não frequentam nenhum equipamento cultural e ficam a
margem dos mercados e políticas culturais. O universo do desprovimento: onde o
conhecimento do mundo das artes e cultura permanece fraco, porém menos radical que o
tipo anterior, por meio de uma socialbilidade mais considerável.

21
Oliver Donnat, Les français face à la culture: de l’exclusion à l’écletisme (Paris,: La Découverte, 1994)

64
A cultura juvenil: Conjunto da geração entre 15 e 20 anos, e, ainda que os jovens ajam de
maneira diferenciada, variando em razão de gênero, trajetória escolar, residência entre
outros fatores, o contato com as mídias tende a estruturar seu tempo extraescolar; tanto a
audição quanto a desconfiança em relação às formas consagradas de cultura os caracteriza
igualmente.

O universo do “francês médio”: Conhece os aspectos mais “espetacularizados” da cultura,


mas ignora o espetáculo “vivo”: audições, teatro, etc. Corresponde às amplas frações das
jovens gerações de operários e empregados urbanos.

Os três últimos universos, o “universo dos clássicos”, o “universo culto moderno” e o


“universo dos antenados” são caracterizados por uma relação mais estreita com a cultura
culta, variando nos interesses e nas formas diferentes que assumem a arte e a cultura.

Os limites de uma construção tipológica

A tipologia elaborada apresenta três tipos de limites: O risco de reificação, que tende a
congelar a representação das atitudes e comportamentos, a delimitação desse o universo
que corre o risco de mascarar as trajetórias que esboçam curvas dinâmicas em matéria
cultural e a objetificação, que ameaça petrificar que é, na verdade, movimentação.

Embora fique clara a construção de ferramenta tipológica que não abarque a totalidade
do real das categorias propostas por Donnat, há o risco de recusa teórica pela construção
hierarquizada de suas categorias. O autor tende a consolidar o modelo que critica, uma
vez que a dinâmica hierarquização e legitimação se revela típica da teoria da distinção. O
ecletismo dos antenados já aparecia no âmago do modelo onívoro proposto pela
sociologia americana, que afirma que as classes superiores se distinguem agora a partir,
menos de sua tendência ao erudito/clássico do que pelo ecletismo de seu gosto.

O que resta é compreender porque os mais “nobres” permanecem propriedade


característica das classes superiores. É a isso que a explicação sociológica das hierarquias
sociais e culturais busca resolver.

Fichamento conceitual

Entendido no singular, o público é tradicionalmente concebido como o conjunto


homogêneo e unitário dos leitores, ouvintes, espectadores de uma obra ou espetáculo.
Porque o público monolítico não existe, um descrédito sociológico condena o emprego

65
do singular como uma ingenuidade do senso comum: não existe um público, mas
públicos, e há tanto a existência de gêners artísticos quanto “expectativas” afetivas e
intelectuais dos indivíduos. Pg. 49

[a noção de não público] Os fatores de emergência dessa noção surgem com a


cristalização de um de um duplo encontro: o dos diretores de teatro e o dos homens de
teatro e pesquisadores de ciências sociais.

Há de um lado o público, o nosso público, e pouco importa que


ele seja, segundo o caso, atual ou potencial; e há, do outro, um
“não público”: uma imensidão humana composta de todos
aqueles que ainda não têm acesso nem qualquer chance de se
aproximar do fenômeno cultural sob as formas de que ele
persiste em revestir-se na quase totalidade dos casos.22pg.52

[...]Público constatado é mais resistente do que se imagina e também, talvez, ais


intermitente e reflexivo do que a teoria sociológia deveria nos conduzir a pensa-lo [...]
longe de corresponder à definição do público que deveria ascender à cultura pela ação
pública [...] [os públicos constatados] “não se apresentam bem”. É o caso, em particular,
das bibliotecas, onde o público constatado não corresponde exatamente ao público
inventado, quer dizer, ao bom público (o povo em sua forma estudiosa, cheio de boa
vontade cultural e sempre à escuta dos bons mediadores) que não aparece muito das
bibliotecas. Pg. 56-57

[...]Público recusado, “aquele para quem se produzem diversos procedimentos de


domesticação das expectativas, que visam fazer dele não apenas puro receptáculo, mas
também negar-lhe expectativas ou demandas dos coletivos efêmeros reunidos em torno
dos artistas de obras. Pg. 57-58

Não existe público em geral: são apenas manifestos de coalizões ou de reagrupamentos


efêmeros que o individualismo moderno contribuiu para que se tornassem ainda mais
precários. O mundo dos públicos é o da recomposição e da decomposição permanentes,
apesar da constatação sociológica das regularidades culturais que existem na base das
relações de classe. Pg. 58-5

22
Citação de Francis Jeanson, “Déclaration de Villeurbanne”, em L’action culturelle dans la cité (Paris:
seuil, 1972) pp. 119-120. Grifo: Fleury

66
6. A NEXOS

i
As Feiras de Arte Contemporânea no Rio de Janeiro e em São Paulo: entre a exclusividade e a
democratização Daniela Stocco

Resumo: Se a fascinação causada pela arte é inquestionável, sua autonomia enquanto esfera da vida
social não o é. Para muitos sociólogos, a arte é, como toda atividade humana, socialmente construída
e não está ligada apenas a elementos essencialmente estéticos. Dentro desta perspectiva, artistas,
especialistas em geral, galeristas e compradores têm seu espaço e sua influência no mercado primário
de arte contemporânea. O objetivo da tese de doutorado é compreender como funciona o mercado de
artes plásticas no Rio de Janeiro e em São Paulo entre 2010 e 2013. Através do circuito de produção
e circulação das obras, analisar-se-á quem são seus integrantes, a influência que exercem na
divulgação e legitimação de artistas e obras e a relação que cultivam entre si. Além disso, serão
apontadas semelhanças e diferenças entre os mercados carioca e paulistano em relação ao mercado
em outras cidades no exterior, principalmente o de Paris.

Palavras-chave: Sociologia da arte; mercado de artes plásticas; galerias de arte; compra e venda de
obras de arte; circulação de obras de arte.

ii Políticas Públicas e Mercado das Artes Visuais: O Programa Brasil Arte Contemporânea e seus
desdobramentos Mariana Queiroz Fernandes

Resumo: O Programa Brasil Arte Contemporânea (BAC) foi uma política pública implementada
pelo Ministério da Cultura (MinC) em 2007 com o objetivo de estabelecer instrumentos para a
internacionalização da arte contemporânea brasileira e, pontualmente em 2008, promover a
participação das galerias brasileiras na 27ª Feira Internacional de Arte Contemporânea de Madri,
chamada Arco’08. Investigarei como o MinC durante o governo do PT, autor de políticas públicas de
clara e decidida opção por ações que contemplem os segmentos sociais desfavorecidos (as classes
populares, as minorias étnicas etc.), se dispôs a patrocinar espaços comerciais que beneficiam
quase exclusivamente, comerciantes de arte que servem clientelas economicamente ricas.

Palavras-chave: Políticas Públicas; Internacionalização; Mercado de Arte.

iii
Públicos de cinemas em foco: interações, sociabilidades e os significados do estar lá vendo e
sendo visto Bianca Salles Pires

Resumo: No presente artigo analiso as interações e sociabilidades que ocorrem entre os frequentadores
de cinemas nos dias atuais. A partir da perspectiva de que a ida ao cinema abrange mais do que o ir
assistir ao filme, incluindo: encontros “ao acaso”, flertes, conversas, avaliação dos objetos artísticos,
redes de conhecidmos que se estabelecem nos ambientes das salas, registros fotográficos,

67
partilhamento das experiências na internet, entre outros. Para tanto, me antenho aos dados das
pesquisas etnográficas realizadas junto aos públicos de três cinemas no bairro de Botafogo, Rio de
Janeiro. Ao dar foco às sociabilidades presentes nos cinemas, percebemos a existência de “novas”
diferenciações e distinções, que se tornam perceptíveis a partir da observação dos significados que o
“estar lá, vendo e sendo visto” adquirem para os públicos e como atualmente se estendem às redes
virtuais.

Palavras chave: Públicos de cinema, sociabilidades, interações

iv
Políticas públicas de cultura e governamentalidade: as dimensões de participação
e controle nos editais de ação afirmativa Alexandre Barbalho, Jocastra Holanda
Bezerra, Rachel Gadelha
Resumo: O trabalho propõe discutir o tema das políticas públicas de cultura à luz do conceito
de governamentalidade de Michel Foucault. Como objeto de reflexão, utiliza-se uma importante
política de financiamento à cultura, implementada nos Governos Lula e Dilma: os Editais Públicos
e, especialmente, os editais de ação afirmativa. Nesse âmbito, o Ministério da Cultura criou
um conjunto de editais voltados para a cultura afrodescendente, incentivando pesquisadores,
produtores e criadores negros. Para além do reconhecimento de suas contribuições e de
representar uma conquista histórica dos movimentos sociais, busca-se problematizar a inclusão
desses novos segmentos e práticas culturais a partir da análise das relações de poder que se
instauram nas políticas públicas de cultura. O argumento central é que, ao mesmo tempo em que
estimula à participação social de grupos minoritários e historicamente de resistência, a política
cultural, pelo seu caráter indutor de valores e linguagens artísticas, atua como dispositivo de disciplina
e controle da produção cultural.

Palavras-Chave: Governamentalidade. Política Pública de Cultura. Editais Públicos. Ação Afirmativa.


Cultura afrodescendente
v Cultura, espaço e sociedade: notas sobre um debate contemporâneo Maria Teresa Manfredo

Considerando-se essas premissas, este artigo tem o objetivo de compilar algumas linhas
conceituais de relevância para as ciências humanas (sobretudo para a Sociologia) no que diz
respeito ao espaço urbano e suas significações, à luz das transformações contemporâneas. Ou
seja, pretendemos nas próximas páginas promover um breve debate de como algumas abordagens
recentes buscam refletir sobre o advento da globalização, seus efeitos no espaço urbano, bem como,
tentam refletir sobre as significações sociais daí decorrentes.

vi
Recife Blues Sessions: processos de identificação, formação de público e valoração Manoel
Sotero Caio Netto

68
Resumo: A problematização da Música tem sido profícua nas perspectivas sociológicas. Os estudos
sobre Música permitem variações bastante complexas. A partir da incursão sociológica no tema
da música, proponho estudar a movimentação Blues na cidade do Recife, cartografando seus
roteiros, estruturação, formação de público, sustentabilidade, entre outros aspectos. Procuro
examinar de que maneira as práticas musicais e discursivas dos artistas e gente de apoio do Blues
operam na produção de sentidos de agrupamento no âmbito da cidade do Recife. Busco compreender
esse acontecimento através da investigação dos discursos desses agentes sobre sua própria
produção cultural, mas também analisando os elementos de formação de público. Busco ainda
compreender os elementos estratégicos de valoração do Blues, bem como processos de identificação,
estilos de vida e distinções sociais operadas nessa configuração.

Palavras-chaves: Música – Identidade - Cenas Musicais

vii
Os “usos” da cultura em Niterói: o Caminho Niemeyer e as políticas de Patrimônio Margareth
da Luz Coelho

Resumo: A cidade de Niterói (RJ), embora tenha sofrido ao longo de sua história Várias intervenções
urbanas, é a partir de 1989 alvo de um projeto de “revitalização” que aposta na Cultura como “ativo”
cujo gerenciamento pode promover o desenvolvimento urbano e tornar a cidade competitiva, atraindo
investimentos privados e incentivos do Estado. As práticas culturais são, a partir desse novo modelo
de governabilidade, redefinidas em função de sua integração aos circuitos de produção e consumo.
Nesse contexto, o patrimônio é concebido como “recurso” (YÚDICE, 2004) local para a formulação
de projetos de desenvolvimento cultural, Renovação urbana e valorização da identidade municipal.
Sob a rubrica do patrimônio são elaboradas estratégias de city marketing para promover o turismo
cultural e lutar contra as tendências culturais “englobantes” da metrópole vizinha, o Rio de Janeiro

viii
Gostos na classe e concorrência aliada Caleb Faria Alves

Resumo : Pretendo apresentar as conclusões iniciais de um projeto de pesquisa que venho


desenvolvendo sobre a produção artística em Porto Alegre, com destaque para as artes plásticas.
A pesquisa combina elaborações contemporâneas da teoria dos campos, formulada por Pierre
Bourdieu, com proposições clássicas sobre fronteiras entre grupos sociais estabelecidas pelo consumo
de bens, desenvolvida por Mary Douglas. Para esta última, precisamos inverter a fórmula clássica
segundo a qual o consumo depende e é produzido pela disponibilidade financeira. Segundo ela, é
a pertença a um grupo específico que se define pelo acesso e domínio do uso simbólico de
determinados objetos que faz com que uma pessoa ganhe direto de entrada em outros círculos,
inclusive profissionais, adquirindo, assim, cargos e rendimentos para consumir. Ou seja, é porque
se consome que se ganha. A exclusão seria uma conseqüência, entre outras, da ausência de consumo.

ix
Por Uma Nova Perspectiva Na Delimitação Do Setor Cultural Do Estado Do Rio De Janeiro
69
Janaína Machado Simões e Marcelo Milano Falcão Vieira

Resumo: O tema cultura vem despertando um crescente interesse tanto por parte do meio
acadêmico quanto por parte de organizações públicas e privadas no Brasil. Duas temáticas têm
se destacado nesse cenário: a crítica da apropriação da cultura como negócio e o desenvolvimento da
cultura como setor econômico. O Estado do Rio de Janeiro, por apresentar um contexto de análise
marcado pela complexa relação entre Estado, Município e União, tem sediado boa parte dessas
discussões. Apesar disso, pouco se tem avançado no intuito de definir e estabelecer limites para o que
se denomina setor cultural. Nesse sentido, partindo de uma perspectiva Metodológica qualitativa,
o objetivo deste trabalho é analisar o desenvolvimento do setor cultural do Estado do Rio de Janeiro,
propondo a discussão sobre a construção de critérios que auxiliem na sua delimitação e que
considerem outras dimensões além da econômica.

x
Distinção E Enobrecimento Urbano: Os Centros Culturais E O Mercado De Bens

Simbólicos Marco Estevão de Mesquita Vieira

A iniciativa do Banco do Brasil em abrir centros culturais se inscreve, por outro lado, no contexto de
mudanças que ao longo das últimas décadas vem sendo objeto de estudos no campo das ciências
humanas e sociais. As análises produzidas tratam do surgimento de um novo cenário
socioeconômico e cultural, característico do processo de acirramento ou de mutação do capitalismo,
que pode ser sintetizado na questão da pós-modernidade e da globalização econômica.

A partir do estudo de caso da iniciativa do Banco do Brasil, o trabalho propõe uma leitura dos
caracteres culturais e econômicos do período que convergiram no fenômeno dos centros culturais
e na disputa, nos anos 90, das capitais brasileiras para receber da Empresa o mesmo tratamento
dispensado à capital fluminense

xi
Museus E Público No Rio De Janeiro: Mapeando Serviços E Qualidade Gabrielle Corrêa Braga

Nos perguntamos: qual o papel do museu no Brasil? Os museus são em sua maioria, mais de 80% do
total, instituições públicas, o que significa que estão inseridos num projeto político geral do
Estado e que se sustentam com verba pública. Então, o que leva o governo a continuar
sustentando uma instituição que não cumpre seus objetivos, sejam eles ideológicos,
disciplinadores ou civilizadores, porque têm poucopúblico? É certo que os museus guardam e
resguardam o patrimônio histórico e cultural, mas o Estado, como a empresa que gere os bens
públicos, não pode mal administrar suas verbas e o descaso público para com os museus é
vergonhoso. Como pode uma instituição pública ser tão insensível a sua função social? Constrói-
se um ciclo vicioso que envolve poucos recursos, patrimônio mal cuidado, funcionários

70
desmotivados, museografias caducas, público mal informado e desconfiado. Para quem e para
que serve um patrimônio aquartelado?

xii
A Bienal de São Paulo: pós - colonial ou neo-colonial ? Reflexões para uma etnografia da arte
contemporânea no Brasil - Amélia Siegel Corrêa

Resumo: Durante o século XX surgiu no Brasil um complexo exibicionário e a criação de instituições


de arte com o objetivo de melhorar a posição do país na cena artística internacional, fazendo com que
a arte brasileira se tornasse visível para o mundo. O mercado internacional começa a prestar mais
atenção ao Brasil desde o seu boom econômico nos anos 2000, que provocou mudanças na balança de
poder entre o país e a Europa, com reflexos no campo cultural. Se por um lado a hierarquia do sistema
da arte - centrado em instituição e agentes no mundo anglo-saxão - não parece muito afetada, a
emergência de novos atores globais e os debates pós-coloniais tem contribuido para o surgimento de
novas formas de classificar e exibir obras de arte. Ao mesmo tempo, a constante necessidade do
mercado por novidade, levou à sua abertura para a produção das periferias, como a América Latina,
Ásia, África. A circulação de artistas e obras de arte desafia a classificação geopolítica, pois eles se
tornam cada vez mais parte de uma rede social cosmopolita. A Bienal de São Paulo é a principal
instituição no âmbito da arte contemporânea brasileira e tem ampla ressonância internacional, o que a
torna um local chave para avaliar em que medida a perda da hegemonia global da Europa é espelhada
em práticas de exposições no Brasil, uma vez que a arte contemporânea é uma das múltiplas narrativas
pelas quais as diferenças e as hierarquias são criadas. Esta apresentação tem como objetivo apresentar
algumas reflexões teóricas e metodológicas de uma pesquisa iniciada em fevereiro deste ano na
Universidade de Copenhagen e que faz parte do projeto Global Europe: Constituting Europe from the
outside in through artefacts, afim de construir o referencial necessário para uma etnografia da arte
contemporânea que será realizada na Bienal de São Paulo este ano. A Bienal, apesar de suas pretensões
globais, tem uma longa luta com as classificacões geográficas e com as suas tentativas de desafiar os
universais do atlântico norte. Como fenômeno que ocorre em todo o mundo com um certo grau de
autonomia, o desenvolvimento de bienais nas "periferias" supostamente deveria substituir um
referencial modernista de arte focado em homens brancos, em nome de maior diversidade e a
participação de outras culturas e grupos sociais, e ter, portanto, um carácter pós-colonial, em vez de
representar uma espécie de neo-colonialismo. Algumas das perguntas de pesquisa são: Como a Bienal
de 2016 lida com o "legado colonial" e em que medida suas práticas curatoriais questionam os
universais europeus? Como? De que forma e em que medida o principal evento da arte contemporânea
no Brasil questiona as categorias europeias de espaço, conhecimento e poder ao propor novas
configurações e imaginários globais?

xiii Políticas E Gestão Públicas De Cultura: Diversidade Cultural Em Uma Perspectiva


Intercultural Alice Pires de Lacerda (UFBA / Bahia)

71
Resumo: o presente artigo propõe uma reflexão acerca do desafio contemporâneo de pensarmos
políticas e gestões públicas voltadas para a diversidade cultural. Traçamos uma breve análise de como
a diversidade cultural vem sendo tratada como objeto de políticas culturais e gestões públicas no
Brasil, como também no campo epistêmico (pluri, multi e interculturalismo). Avançamos no sentido
de pensar o caráter relacional das diferenças que a diversidade cultural demanda e, para isso,
encontramos nos estudos descoloniais um horizonte crítico que nos possibilita vislumbrar paradigmas
outros que nos ajudam a enfrentar o desafio posto. Um paradigma outro que reclama uma perspectiva
intercultural para as políticas e a gestão da cultura, onde exercer os direitos culturais é também exercer
o direito de ser e pensar diferente, combatendo a hegemonia de uma monocultura moderna colonial.
No centro dessa questão está a necessidade de um estado pluriétnico e pluricultural que reconheça a
diversidade de etnias e culturas que conformam uma nação e que precisam ser pensadas e
desenvolvidas equitativamente através de políticas e gestões públicas interculturais.

Palavras-chave: Diversidade cultural; Política e gestão cultural; Interculturalidade.

xiv O Popular E A Política Cultural: Uma Análise Crítica Do Discurso Da Cultura Popular

Jocastra Holanda Bezerra e Alexandre Barbalho,

RESUMO O seguinte trabalho analisa a discursividade da cultura popular na política cultural e,


sobretudo, o desencadeamento de uma autodiscursividade, composta por narrativas conflituosas
e consensuais entre os sujeitos de direito da política e entre estes e a política cultural. A análise
é feita a partir da Teoria do Discurso dos filósofos Michel Foucault (2008), Ernesto Laclau e Chantal
Mouffe (1987), com o objetivo de apreender os conflitos, as relações de poder e as práticas
articulatórias presentes na disputa por uma narrativa legítima da cultura popular entre os sujeitos
do discurso. Para isso, o trabalho apresenta os usos e as construções conceituais presentes na política
cultural e a subsequente influência nas significações dos sujeitos, aqui representados por três grupos
de cultura popular participantes da ação Ponto de Cultura em Fortaleza, Ceará.

Palavras-chave: Política Cultural. Culturas Populares. Diversidade Cultural.

xv
Usos e sentidos da cultura nas políticas públicas de turismo

Daniela Caruza Gonçalves Ferreira Joyce Kelly da Silva Oliveira Bruna Lorrany de Castro Araújo
Júlia Maria Dias Carvalho Paes

Resumo: Como um emergente projeto de desenvolvimento que vem se consolidando nas últimas
décadas no país, o turismo proclama como um de seus elementos centrais a diversidade cultural.
Contudo, cabe refletir: como a cultura é tratada nos discursos e práticas predominantes no
turismo? A “cultura”, com tantas aspas que possamos empregar pela variedade de usos que admite
dentro desse contexto, pode se configurar tanto como produto consumível (por parte do turista) e
72
explorável (e com relativo baixo custo, por parte dos empresários e da administração pública), quanto
como objeto de políticas públicas e instrumento de resistência local. O que podemos perceber é que,
em diferentes situações e dependendo dos atores envolvidos, são acionados diferentes conceitos
de cultura e atribuídos diferentes valores à diversidade cultural no processo de desenvolvimento
turístico. Nossa questão central é, portanto, compreender como se articulam essas diferentes
dimensões nas políticas públicas de turismo no Brasil. Para isso, analisamos a legislação vigente,
documentos oficiais e publicações específicas do Ministério do Turismo, bem como algumas ações
de programas e projetos desenvolvidos para o setor.

Palavras-chave: turismo; cultura; políticas públicas.

xvi
A cultura em questões

Caleb Faria Alves/UFRGS/RS

Resumo: O setor de serviços e as políticas públicas têm feito um uso cada vez mais intenso
do conceito de cultura. Proliferam cursos de gestão, programas de governo e pesquisas que se
apresentam como diretamente concernentes a esse campo. Os dois últimos procuram, no entanto,
suporte nas enquetes investigativas. Esta apresentação abordará comparativamente o conteúdo desse
termo, explícito ou não, em algumas dessas enquetes no Brasil e América Latina. Como primeiro
passo procuramos destacar os condicionantes pressupostos ao consumo de bens culturais nas enquetes
e o quanto eles estão ligados ao próprio campo cultural. Ou seja, entender as mudanças nas formas
como a cultura é usada como acessória a preocupações que lhe são externas. Um parâmetro
importante é destacar o quanto o gosto aparece enquanto elemento de imposição distintiva e não
apenas como possibilidade gerada por uma faixa de renda. Num segundo momento procuramos
verificar como os setores público e privado se articulam na produção e uso desses dados,
mantendo o foco nas definições. Nessa etapa, entra em pauta também a academia e as
redefinições recentes do papel dos intelectuais.

Palavras chave: cultura, surveys, políticas públicas

xvii
Sociabilidade e significado: experiências dos públicos das artes visuais: Lígia Dabul

Ao analisarmos o comportamento dos públicos frequentadores de exposições de arte e salas de cinema


percebemos que a apreciação tanto de objetos artísticos como de filmes está transpassada por inúmeras
formas de sociabilidade que têm lugar nesses espaços e momentos de exibição. Nesta comunicação
pretendemos analisar interações sociais do público observadas em pesquisas etnográficas realizadas
em exposições de artes plásticas de centros culturais e em espaços de cinema, focando sobretudo
aquelas que concorrem muito diretamente para a construção de significados sobre obras de arte e
filmes, como conversas que têm lugar no tempo e espaço de contato com elas e em situações sociais

73
outras. Ao mesmo tempo, na tentativa de esgarçar a demarcação do que vem a ser o contato ou acesso
do público à arte e ao cinema, pretendemos descrever e analisar o quanto essas interações viabilizam
também a produção de sentido sobre a própria prática de frequência a essas ocasiões sociais, incidindo
sobre a experiência dos indivíduos com a arte, por meio de percepções, por exemplo, sobre “estar lá”,
“vendo e sendo visto”, em exposições e sessões de cinema.

xviii
O Estado da arte: debates acerca das políticas culturais em Belo Horizonte Pedro Gondim
Davis

Resumo: Pretendo apresentar aqui os primeiros passos de uma investigação que tem por fim a
compreensão de um momento singular no contexto dos recentes debates acerca das políticas
públicas para cultura em Belo Horizonte. Dado o ensejo criado a partir do cenário geral de
disputa, de contestação e de conflito no que tange a condução das políticas culturais da atual
gestão municipal, observou-se nos últimos anos uma série de articulações e de proposições em torno
(e partindo) dessa temática. Contudo, para além das questões normativas que o cercam, pretendo
discutir aqui as concepções de cultura que estão sendo forjadas e postas em jogo, algumas das
dimensões a elas atreladas, e as maneiras pelas quais os atores envolvidos no debate concebem
imagens de Estado que sejam passíveis de serem julgadas – e responsabilizadas – pela formulação,
pela implementação e pela avaliação de tais políticas.

xix
Performances, Estética E Políticas Culturais: Arte E Identidade Nos Maracatus Cearenses
Danielle Maia Cruz – UFC/Ceará e Lea Carvalho Rodrigues – UFC/Ceará

Resumo: O artigo toma como referência os desfiles de maracatus ocorridos no Carnaval de


Fortaleza em 2010. Fundamentando-se no estilo de apresentação que ocorre na atualidade, é
possível demarcar o ano de 1937 como o do início das apresentações na cidade. Com o surgimento
crescente de maracatus e outras manifestações no período carnavalesco, o poder municipal passou
a apoiar a festividade por meio da organização do trânsito e do repasse não sistemático de verbas. A
partir do ano de 2008, os desfiles de Carnaval dos maracatus passam a ser viabilizados por meio dos
editais municipais. Trata-se de ações políticas em consonância com as políticas culturais
nacionais que promovem a realização de projetos artísticos de natureza diversa para a população. As
reflexões aqui apresentadas discutem o modo como as políticas culturais municipais
empreendidas pela Secretaria de Cultura de Fortaleza (SECULTFOR) operam na ressignificação
das identidades culturais em Fortaleza. Para o atual poder municipal os maracatus devem ser
incentivados, pois eles catalisam aspectos como arte, tradição e autenticidade, o que permite promover
ideias que relacionem Fortaleza a uma cidade cultural. Para os brincantes os maracatus possuem
múltiplos significados, como os relacionados a identidades regionais, ancestralidade africana,
rememoração de mitos, afirmação de identidades étnicas, dentre outros.

74
Palavras-chave: Maracatus. Identidades. Editais municipais.

xx Turismo cultural no centro histórico de Manaus/AM Rodrigo Fadul Andrade

Resumo: O turismo é um tema que, ao longo dos últimos anos, ganhou seu lugar dentro das discussões
nas ciências sociais, seja no campo da antropologia ou sociologia e até mesmo na ciência política.
Com isso percebemos a presença dos diversos agentes sociais que fazem parte de forma direta
ou indireta desta atividade promovida pelos órgãos públicos, empresas privadas e o mercado
informal. Este trabalho busca analisar as diversas maneiras pelas quais os turistas são “guiados” por
esses agentes sociais que estão envolvidos, de alguma forma, com a atividade turística na cidade de
Manaus/AM, especificamente no centro histórico. A participação de vendedores ambulantes,
funcionários de restaurantes, motoristas de táxis, seguranças, entre outros é mais presente nas
práticas turísticas do que muitas vezes se imagina. Quem nunca pediu alguma informação à
dessas pessoas? Onde encontrar uma boa comida típica da região, assistir a um bom espetáculo,
comprar artesanato e dicas de lugares que se deve visitar quando se quer conhecer a cidade, são
questões que figuram esse universo e estreitam as relações sociais entre o turista e os agentes sociais
que estão envolvidos com o turismo. A partir desta realidade busca-se compreender ainda a relação
dos visitantes com os bens imóveis da cidade considerados “pontos turísticos” e as formas de
apropriação dos mesmos.

Palavras-chave: Turismo, cidade, consumo cultura

xxi
Indicador de Oferta Cultural para a cidade do Rio de Janeiro Daniele Cristina Dantas

Considerando possibilidades de análise da realidade cultural a partir de dados quantitativos,


aspectos empiricamente observados tornam-se objetos de estudo convenientes. Assim, o objeto de
estudo deste trabalho é a cidade do Rio de Janeiro, onde se tem a percepção da existência de
diferenças na distribuição de infraestrutura para a fruição cultural, propondo-se a construção de um
indicador que auxilie a observação da realidade local. Aliado a esse fato, a oferta de infraestrutura
para fruição no município está sob diferentes níveis de gestão: municipal, estadual, federal ou
privada; o que torna complexa a coordenação das ações.

xxii Museus-Espetáculo: Limites E Tensões Nas Exposições De Dois Museus Público-Privados Do


Circuito Cultural Praça Da Liberdade Clarissa dos Santos Veloso e Luciana Teixeira de Andrade

Neste artigo, a abordagem sobre o modo como são as exposições dos museus-espetáculo,
tomando como objeto de análise o Memorial Vale e o MMM, problematiza a seleção de temáticas e a
sua diversidade, bem como a possibilidade das exposições de dar voz a sujeitos e grupos ligados aos
temas expostos e de fomentar a reflexão crítica. Trata também, considerando o caso específico

75
desses dois museus, de conflitos entre as equipes de expografia e de curadoria no processo de
criação das exposições.

xxiii
Jovens universitários e a música clássica: um estudo de caso sobre o gosto musical e as
práticas culturais no Canadá

Resumo: O envelhecimento do público da música clássica é uma tendência generalizada,


mobilizadora de pesquisas em práticas culturais no Canadá (Garon, 2009), na França (Donnat,
2011), nos Estados Unidos (Kolb, 2001). Esses estudos demonstram que as principais
características do público desse estilo musical são um alto nível de escolaridade associado
a uma renda elevada. Entretanto, como explicar que a expansão do acesso ao nível superior não
represente uma renovação de plateias? Por que os jovens universitários que têm o perfil “ideal” para
a música clássica vão cada vez menos às salas de concerto? E se não assistem orquestras e óperas,
isso significa que os clássicos não estão em seus tocadores de áudio digitais? A fim de tratar essas
questões, realizamos uma pesquisa com 555 jovens universitários em Montreal, assim como
entrevistas com os principais organismos de música clássica da cidade canadense. Obtivemos
interessantes pistas sobre a necessidade de um formato de concerto mais descontraído, sobre
um consumo “onívoro cultural” (Peterson e Kern, 1996) e sobre o anseio pelo engajamento e pela
sociabilidade (Tepper e Ibey, 2008) da parte dos jovens em relação aos concertos clássicos.

Palavras chave: 1) Música clássica, 2) Desenvolvimento de públicos, 3) Público jovem, 4) Público


de estudantes universitários, 5) Sociomusicologia

xxiv
Cultura, mercado e turismo: blocos, maracatus e a política de editais em Fortaleza Danielle
Maia Cruz

Introdução Este artigo propõe uma reflexão sobre os recentes processos de mudança nas festas
carnavalescas de Fortaleza. Com base em uma pesquisa de caráter etnográfico, o objetivo é analisar
como as recentes políticas culturais municipais de fomento aos festejos carnavalescos,
implementadas na gestão da prefeita Luizianne Lins, sobretudo em seu segundo mandato, entre
2009 e 2012, operaram na lógica composicional de manifestações carnavalescas tradicionais na
cidade, como os blocos de pré-Carnaval e os maracatus.

xxv
Por entre a espacialidade e os espectadores: um percurso pela recepção da arte
contemporânea em Inhotim Juliana Veloso Sá

O espaço de Inhotim é um elemento central na identificação que o próprio Instituto faz de si.
Inhotim é centro de arte e jardim botânico, mas também se ocupa de questões ligadas à cidadania e
inclusão social, ao desenvolvimento sustentável e à educação. Em uma tentativa de abarcar essa

76
diversidade de forma sintética, a instituição recorre à ideia de “lugar único” para traduzir o que é o
Inhotim.

xxvi
Classes sociais, práticas e cultura Edilson Berconcelo

Estudos de classe recentes na sociologia brasileira podem ser distribuídos (a despeito de seus
distintos fundamentos teóricos e orientações metodológicas) ao longo de uma dimensão que opõe, de
um lado, aqueles que enfocam a construção de esquemas de posições de classe baseados em critérios
objetivos, teoricamente fundamentados (e definidos a priori), e a investigação dos efeitos das
relações entre tais posições sobre aspectos diversos da vida social e individual, e, por outro
lado, aqueles estudos que concebem as classes como coletividades sociais constituídas nos
planos material e cultural e que dão ênfase à investigação de como fronteiras sociais e simbólicas
emergem das práticas (e disputas classificatórias) dos agentes. Os primeiros estudos estão
associados a abordagens neomarxistas e neoweberianas. Os outros são mais fortemente influenciados
por uma abordagem bourdieusiana. Um dos principais objetivos neste trabalho é sustentar a
segunda abordagem, perseguindo uma linha de pesquisa empírica que sublinha uma concepção
de classes como coletividades sociais e o papel da cultura na conformação e reprodução das
relações de classe. Antes disso, gostaria de delinear muito brevemente os principais contornos
da produção sociológica brasileira no tocante à análise de classe de forma a elucidar as principais
disputas teóricas.

xxvii Hierarquias simbólicas e legitimação de estilos de vida na sociedade juiz-Forana Joana Brito
de Lima Silva

Como as hierarquias simbólicas são forjadas e quem as legitima? Em que medida os estilos de vida
retratados nas colunas sociais exercem a função de prescrever condutas e valores seguidos
socialmente? Qual o papel do colunista social nesse processo de legitimação dos padrões de
comportamento? Através dessas questões, a proposta dessa pesquisa de caráter exploratório é
compreender a formação das hierarquias simbólicas presentes na sociedade juiz-forana. De certo
modo, as colunas sociais divulgam padrões de conduta considerados legítimos e reconhecidos
socialmente, pois a maior parte das notícias mostra um estilo de vida almejado e admirado por
muitos e vivenciado por alguns poucos. Tais conteúdos ocupam um lugar de destaque nos cadernos
de cultura dos jornais por oferecerem informações sobre pessoas e acontecimentos acessíveis
somente a uma parcela da sociedade. Porém, esse mundo aparentemente inacessível pode ser
facilmente acessado através dessas publicações. Trata-se de uma seção voltada a acontecimentos muito
peculiares porque relatam publicamente fatos e assuntos da vida particular de pessoas
selecionadas criteriosamente pelo colunista.

77
xxviii
O Discurso Terapêutico na Radio e na TV: Notas sobre as práticas culturais e o gosto de seus
participantes Maíra Muhringer Volpe

A cadeia de produção das emissões televisivas é composta tanto por profissionais contratados
formalmente (vindos de grupos sociais remediados) quanto por informais. Entre estes últimos,
estavam, sobretudo, mulheres de meia idade, já fora do mercado de trabalho, com baixa escolaridade
e residentes em bairros periféricos da cidade de São Paulo e região metropolitana. Algumas atuavam
junto à equipe de produção, auxiliando na busca de possíveis convidados do palco; outras trabalhavam
na produção da plateia, integrando-a ou sendo responsável por arregimentar esse grupo. Para essas
três funções, respectivamente, “contato”, “integrante da plateia” e “caravanista”, recebiam uma
remuneração das emissoras ou em bens materiais (entre eles, dinheiro) ou simbólicos. Dessa complexa
cadeia produtiva, portanto, são ressaltadas aqui considerações a respeito de algumas dessas
integrantes, bem como participantes da plateia da rádio. Os grupos estudados – da TV e da rádio –
abarcavam pessoas heterogêneas, porém, quando contrastados, era clara a diferença de volume e
estrutura do capital de ambos, isto é, possuíam condições econômicas e sociais muito distintas,
bem como gostos e estilos de vida diferentes.

xxix
Brasil: da identidade à marca Maria Celeste Mira

Resumo: Ao longo da nossa história, a ideia de Brasil tem sido objeto de diversas elaborações,
em geral, combinando aspectos estéticos e políticos. No entanto, a partir da virada do milênio, este
processo se acelerou, ampliou sua abrangência e assumiu novos contornos. Se, antes, a
apropriação e reelaboração da ideia de Brasil podia ser acompanhada por períodos, de uma ou
duas décadas, agora, elas se multiplicaram. As iniciativas estão por toda a parte, alcançando os
diversos setores da produção cultural e artística, a mídia e, sobretudo, o mercado. Esta é a principal
diferença entre os movimentos do século XX e as atuais elaborações do conceito de Brasil: o
deslocamento do interesse político para o mercadológico, bem como da ênfase da identidade nacional
para a diversidade cultural. Desta maneira, BRASIL torna-se uma marca associada, sobretudo no
mercado mundial, à riqueza de um país que sabe conviver com sua diversidade cultural. O objetivo do
texto é apresentar os resultados da pesquisa realizada sobre o tema ao longo dos anos 2000.

xxx
Padrões de consumo e estilos de vida da “nova classe média” Celia Lessa Kerstenetzky,
Christiane Uchôa, Nelson do Valle Silva

Resumo: Contra o pano de fundo da redução da pobreza no mundo e no Brasil, em particular, este
artigo se dedica a investigar, via marcadores de estilo de vida baseados em pesquisa sobre
percepção sobre a classe média e com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF/IBGE)
de 2008-2009, o perfil socioeconômico dos domicílios brasileiros que emergiram da pobreza e têm
sido identificados pelo critério de renda como integrantes de uma nova classe média. As evidências

78
indicam que o perfil da assim chamada “nova classe média” não exibe a maior parte dos
critérios reconhecidamente distintivos de uma classe média.

Palavras-chave: nova classe média, estilo de vida, Veblen, Bourdieu

79

Potrebbero piacerti anche