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Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

RELATÓRIO LABORATORIAL – MIEM | 2018/2019


MATERIAIS METÁLICOS | 2ºANO – 2 º SEMESTRE

IDENTIFICAÇÃO DE MATERIAIS EM COMPONENTES


-
ESPADA

Professores:

• Eng.º Jorge Lino


• Eng.º Viriato Antunes

Alunos:
Turma: MIEM - 2M_06
• Frederico Lopes
Grupo: M1894
• Luís Côrte-Real
Identificação de Componentes - Espada

Resumo

Este trabalho, realizado no âmbito da unidade curricular de Materiais Metálicos, tem como
finalidade a apresentação do projeto desenvolvido nas aulas práticas, que consiste na identificação de
componentes de uma espada de aço.
Assim, numa primeira fase, será feita uma pequena abordagem teórica aos tratamentos
térmicos e ensaios utilizados. Dos tratamentos térmicos, serão referidos a têmpera martensítica e o
recozido de normalização. No que toca aos ensaios, mencionar-se-ão o ensaio dilatométrico, o ensaio
de dureza e o ensaio de espectrometria de emissão.
De seguida, será feita uma breve contextualização da espada, sendo explicitada a evolução
dos materiais utilizados nas suas lâminas, os processos de fabrico e referidos os aços tipicamente
utilizados.
Numa segunda parte mais relacionada com a atividade prática desenvolvida em aula, será
feita uma previsão sobre o que esperar da composição do aço em estudo. De seguida, esclarece-se a
maneira como foram preparadas as amostras da espada, antes de se proceder à análise do material
no estado fornecido, após um recozido de normalização e, após uma têmpera martensítica. Em cada
estado do aço será considerada a microestrutura e o resultado do ensaio de dureza referente ao
mesmo, bem como o ensaio dilatométrico no caso do estado fornecido.
Com base na informação obtida a partir da atividade experimental, prever-se-á o tipo de aço
que constitui a espada, sendo esta previsão, de seguida, comparada com o resultado do ensaio de
espectrometria de emissão.
Finalmente, apresenta-se uma breve conclusão, terminando com uma sugestão para um
trabalho futuro.

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Agradecimentos

Em primeiro lugar, devemos um especial agradecimento ao professor Eng.º Jorge Lino pela
ajuda e dedicação constante demonstrada ao longo do desenvolvimento do nosso projeto bem como
pela confiança depositada em nós perante a escolha de um tema tão exigente.
Agradecemos, também, ao professor Eng.º Viriato Antunes, pelos conhecimentos
transmitidos ao longo das aulas teóricas e ao professor Eng.º Lucas Silva, por nos ter permitido
frequentar muitas das suas aulas laboratoriais e por nos ter disponibilizado o seu apoio sempre que
necessário.
Finalmente, devemos um agradecimento à responsável laboratorial Emília Soares pela
disponibilidade contínua demonstrada ao longo de toda a atividade prática necessária.

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Identificação de Componentes - Espada

Lista de Figuras
Figura 1 – Espada em estudo……………………………………………………………………………………………………..……..7
Figura 2 – Espada 1822 British Pattern………………………………………………………………………………………………7
Figura 3 – Exemplo de forno utilizado para aquecimento da peça …………………………………….……..……...8
Figura 4 – Exemplo de têmpera em óleo…………………………………………………………………………………….……10
Figura 5 – Microestrutura de um aço hipoeutectóide antes de um recozido de normalização…………12
Figura 6 - Microestrutura de um aço hipoeutectóide após um recozido de normalização……………....12
Figura 7 – Ensaio Vickers………………………………………………………………………………………………………………….13
Figura 8 – Ensaio Brinell……………………………………………………………………………………………………………..……14
Figura 9 – Espectómetro de emissão ótica………………………………………………………………………………….……14
Figura 10 – Forjamento de uma espada……………………………………………………………………………………..……15
Figura 11 – Espada em estudo…………………………………………………………………………………………………………17
Figura 12 – Amostra envolvida num suporte de resina termoendurecível…………………………………….…17
Figura 13 – Dois dos discos giratórios usados para polimento das amostras……………………………………18
Figura 14 – Disco giratório contendo alumina………………………………………………………………………………….18
Figura 15 – Discos rotativos com spray abrasivo de diamante…………………………………………………………19
Figura 16 – Resultado do ensaio dilatométrico………………………………………………………………………………..20
Figura 17 – Microestrutura do aço da espada no estado fornecido (escala 200µm)…………………………21
Figura 18 – Microestrutura do aço da espada no estado fornecido (escala 20µm)…………………………..21
Figura 19 – Pormenor do revestimento da espada (escala 20µm)……………………………………………………22
Figura 20 – Recozido de normalização…………………………………………………………………………………………….24
Figura 21 – Microestrutura do aço da espada após um recozido de normalização (escala 20µm;
pormenor com ampliação 4×)…………………………………………………………………………………………………………24
Figura 22 – Têmpera martensítica realizada……………………………………………………………………………………26
Figura 23 – Microestrutura resultante após a têmpera efetuada (escala 20µm)……………………………..26
Figura 24 – Dureza da martensite em função da % de carbono da mesma……………………………………..27
Figura 25 – Dureza de um aço após tratamento em função do meio de arrefecimento e da
massividade da amostra…………………………………………………………………………………………………………………28
Figura 26 – Amostra da espada após a realização de um ensaio de espectrometria de emissão…….29

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Lista de Tabelas
Tabela 1 – Tempo de estágio de um aço à temperatura de têmpera em função da quantidade de
liga………………………………………………………………………………………………………………………………………………..…9
Tabela 2 – Ensaio dilatométrico na vizinhança de A1…………………………………………………………………….…20
Tabela 3 – Ensaio dilatométrico na vizinhança de A3/Acm…………………………………………………………………20
Tabela 4 – Resultados do ensaio de dureza do aço no estado fornecido……………………………………….…23
Tabela 5 – Resultados do ensaio de dureza do aço após um recozido de normalização………………..…25
Tabela 6 – Resultados do ensaio de dureza do aço após uma têmpera martensítica…………………….…27
Tabela 7 – Composição do aço SAE-AISI 1095……………………………………………………………………………….…28
Tabela 8 – Resultados do ensaio de espectrometria de emissão……………………………………………………..29

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Identificação de Componentes - Espada

Índice
1. Introdução.…………….……………………………………………………………………………………………..………………………7
2. Tratamentos Térmicos…………………………………………………………………………………………………………….…….8
2.1. Têmpera Martensítica…………………………………………………………………………….………………………8
2.1.1. Aquecimento……………………………………………………………………………..……………………8
2.1.2. Estágio á Temperatura de Têmpera……………………………………………..………………….9
2.1.3. Arrefecimento………………………………………………………………………………….……………10
2.2. Recozido de Normalização……………………………………………………………………………….……………11
3. Ensaios…………………………………………………………………………………………………………………………………………12
3.1. Ensaio Dilatométrico……………………………………………………………………………………….……………12
3.2. Ensaio de Dureza……………………………………………………………………………………………..……………12
3.1.1. Ensaio Vickers………………………………………………………………………………….……………13
3.1.2. Ensaio Brinell…………………………………………………………………………………………………13
3.3. Ensaio de Espectrometria de Emissão…………………………………………………………………..………14
4. Espadas num Contexto Histórico…………………………………………………………………………………………………15
4.1. Evolução dos Materiais Utilizados…………………………………………………………………………………15
4.2. Processo de Fabrico das Espadas…………………………………………………………………………………..15
4.3. Aços Tipicamente Utilizados em Espadas………………………………………………………………………16
5. Análise da Espada……………………………………………………………………………………………………………...….17
5.1. Previsões………………………………………………………………………………..…………………………………….17
5.2. Preparação das Amostras…………………………………………………….……………………………………….17
5.3. Estado Fornecido……………………………………………………………...………………………………………….19
5.3.1. Ensaio Dilatométrico……………………………………………………………………………………..19
5.3.2. Microestrutura……………………………………..….….……………………………………………….21
5.3.3. Ensaio de Dureza……………………………….….….…………………………………………………..22
5.4. Recozido de Normalização……………………………………..………………………………..…………………..23
5.4.1. Microestrutura………………………………….………..………………………………………………..24
5.4.2. Ensaio de Dureza…………………………….……………………………………….……………………25
5.5. Têmpera Martensítica……………………………………….…………………………………….……………………25
5.5.1. Microestrutura………………………………..……………………………………….…………………..26
5.5.2. Ensaio de Dureza………………………....………………………………………….…………………...27
5.6. Discussão de Resultados………………………………………………………………………….…………………...28
5.7. Ensaio de espectrometria de emissão………….………………………………………….……………………29
6. Conclusões……………………………….…………………………………………………………………………….……………………30
7. Trabalhos Futuros…………………….…………………………………………………………………………….……………………31

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1. Introdução
Desde a origem da humanidade que os conflitos entre povos foram sempre surgindo, de uma
forma mais ou menos inevitável, o que, eventualmente, conduziu ao desenvolvimento de armamento.
Neste aspeto, o aço teve um papel preponderante devido às suas propriedades mecânicas quando
comparadas com outros materiais. Uma das armas que rapidamente beneficiou da descoberta desta
liga metálica foi a espada, que durante largos séculos, foi a arma mais utilizada em combate. [5]
Deste modo, considerou-se pertinente localizar temporalmente a espada em estudo. Assim,
tendo em conta o elevado grau de degradação da mesma, o formato da sua lâmina e o estilo da sua
pega, concluiu-se que se estava perante uma British Pattern Sword do início do século XIX. [6]
Da lâmina da espada foram retiradas sete amostras. Duas delas, que não necessitaram de
preparação, foram necessárias para a realização do ensaio dilatométrico e do ensaio de
espectrometria de emissão ótica (uma para cada ensaio). Duas amostras, após a devida preparação,
foram alvo de estudo no estado fornecido. Quanto às restantes, foram utilizadas para os tratamentos
térmicos para posterior análise após a sua preparação.
Cruzando as informações obtidas e o resultado do ensaio de espectrometria de emissão,
procurou-se encontrar um aço normalizado que se assemelha ao aço presente na espada.

Figura 1: Espada em estudo Figura 2: Espada “1822 British Pattern”

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2. Tratamentos Térmicos
Designa-se por tratamento térmico de um aço o aquecimento e arrefecimento do mesmo
com o objetivo final de melhorar as suas propriedades mecânicas mantendo, no entanto, a sua
composição. [1]

2.1. Têmpera Martensítica


A têmpera martensitica é um tratamento térmico que, como o próprio nome indica, tem como
finalidade a formação de martensite para que esta atinga maior dureza.
Este é composto por 3 fases: aquecimento até à temperatura de austenitização do aço; estágio
a temperatura de têmpera; arrefecimento a uma velocidade conveniente que garanta a formação de
quantidade de martensite desejada. [1] [2]

2.1.1. Aquecimento
Aquando do aquecimento de uma peça em aço são vários os fatores a ter em consideração:
A condutibilidade do aço é um fator essencial dado que, para aços com baixa condutibilidade
térmica (normalmente aços muito ligados), é necessário proceder a um aquecimento lento para que
não existam grandes tensões devido as diferenças de temperaturas que podem originar fraturas na
peça. Para corrigir este problema, e pelo facto de este tipo de aços ter uma temperatura de
austenitização elevada, deve-se recorrer a um aquecimento por andares para evitar a criação dessas
enormes tensões: deste modo, garantimos que a temperatura do núcleo e da periferia da peça não
diferem muito. [1] [3]
Outro problema associado a têmpera martensitica é a descarbonização, isto é, por vezes
durante o aquecimento o meio envolvente tem menos % de carbono que a peça, o que conduz a que
esta liberte carbono para a atmosfera envolvente, descarbonizando. Existem várias soluções para este
método como, por exemplo, envolver a peça em jornal, aumentando a quantidade de carbono ao
redor da peça. No entanto, existem soluções mais eficazes como o aquecimento numa atmosfera
controlada ou em banho de sais. [1] [2]

Figura 3: Exemplo de forno utilizado para


aquecimento da peça

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Como referido anteriormente, a temperatura de têmpera é um fator muito relevante. De


facto, o aquecimento da peça a uma temperatura errada pode trazer enormes consequências:
• Se for aquecida a uma temperatura inferior a temperatura de têmpera do aço esta
não irá austenitizar o que resultará num tratamento falhado devido a impossibilidade de formação de
martensite;
• Se a temperatura for superior o tamanho de grão poderá crescer desnecessariamente
e também poderá levar a descarbonização da peça.

2.1.2. Estágio à temperatura de têmpera


Esta fase destina-se somente a garantir que toda a peça é austenitizada. No entanto há que
notar que somente os aços hipoeutectóides (menos de 0,86 % de carbono) obterão 100% martensite.
Isto acontece já que os aços hipoeutectóides sao constituídos por perlite e ferrite sendo ambos macios
pelo que a sua trasformação em martensite endureceria sempre o aço. [2] [21]
No entanto os aços hipereutectóides têm na sua constituição perlite e cementite, sendo que
a cementite apresenta uma dureza superior á da martensite pelo que só faz sentido transformar a
perlite em martensite, mantendo-se a cementite. Portanto, visto que a martensite proveniente dos
aços hipereutectóides e proveniente exclusivamente do constituinte eutéctico (perlite) a martensite
dos aços hipereutectóides apresentará sempre, não descarbonizando, aproximadamente 0,86% de
Carbono. [1] [21]
O tempo de estágio à temperatura de têmpera depende da massividade da peça, isto é, quanto
maior a peça maior será o tempo necessário e também da quantidade de elementos de liga que o aço
contêm já que, como referido anteriormente, aços com muitos elementos de liga apresentam baixa
condutibilidade. [2] [24]
Deste modo, definiu-se que o tempo necessário de estágio consoante a quantidade de liga
visualizável na tabela 1.

Tabela 1: Tempo de estágio de um aço à temperatura de têmpera em função da quantidade de liga [1]

Aços Tempo de estágio por 10mm de espessura

Sem liga ou de pequena liga 5 minutos

Média liga 7 minutos

Muita liga 10 minutos

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2.1.3 Arrefecimento
O arrefecimento é uma fase muito importante neste tratamento, mais concretamente o meio
de arrefecimento.
Para que ocorra formação de martensite a partir da austenite é necessário arrefecer o aço a
uma velocidade suficientemente rápida para que o carbono presente na austenite não tenha tempo
para difundir e consequentemente fique “preso” na matriz, deformando a estrutura do aço devido a
grande diferença molecular entre o carbono e o ferro, conferindo-lhe maior dureza. [1]
E neste sentido que se introduz o conceito de temperabilidade, isto é, um aço tem uma
temperabilidade elevada se a velocidade de arrefecimento mínima para que ocorra formação de
martensite for baixa, ou seja, não é necessário um meio de arrefecimento tão energético para obter
martensite. É importante referir que de um modo geral, a presença de elementos de liga no aço
aumenta a sua temperabilidade, sendo o alumínio uma das raras exceções e a mais significativa de
todas elas. [1] [3]

Figura 4: Exemplo de têmpera em óleo

A escolha de um meio de arrefecimento é, portanto, essencial para que o tratamento


térmico seja bem sucedido. Os meios de arrefecimentos mais utilizados são a água, o óleo, o banho
de sais, o ar e, nos casos dos fornos de vácuo, o gás. Seria de pensar usar sempre a água visto ser o
meio mais energético e deste modo garante-se sempre a formação de martensite. No entanto, de um
modo geral meios de arrefecimentos mais energéticos induzem tensões maiores no aço e provocam
maiores alterações dimensionais pelo que é essencial conhecer o aço e a sua temperabilidade para
encontrar um compromisso que garanta que a peça é temperada e, simultaneamente, não sofre danos
estruturais. Contudo, se as condições “obrigarem” à utilização de um meio de arrefecimento
muitíssimo energético como a água uma solução possível para o risco de fraturas devido às grandes
tensões geradas pelas enormes diferenças de temperatura será a utilização de uma tempera
interrompida que consiste em: [1] [2] [3]

1. Arrefecer o aço em água até uma temperatura ligeiramente superior a Ms (ponto onde
se inicia a formação de martensite);

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2. Manter a temperatura até que a temperatura de toda a peça esteja homogeneizada;

3. Arrefecer até à temperatura ambiente num meio menos energético já que a formação
de martensite já está assegurada.

Nas grandes indústrias de tratamentos térmicos os arrefecimentos em banho de sais, como


alternativa ao arrefecimento em óleo, têm adquirido grande importância visto que estes são menos
severos para o aço sendo, portanto, mais fiáveis. Para além disso também o arrefecimento em
atmosfera controlada (normalmente fornos de vácuos com hélio ou azoto) são favorecidos em
detrimento do arrefecimento ao ar já que o primeiro, devido a baixa pressão, permite baixar a
velocidade de arrefecimento para valores próximos do óleo e também pelo facto de estarmos em
meios sem oxigénio o que significa que não existem problemas de oxidação da superfície, conferindo
uma superfície externa limpa ao aço. [1]

2.2. Recozido de Normalização


O recozido de normalização é um tratamento térmico que tem como finalidade obter uma
estrutura homogénea, restaurando o grão. Este tratamento é muitas vezes usado como um pré-
tratamento para tornar a estrutura do aço mais favorável à realização da têmpera. [1]
Este tratamento é feito da seguinte forma:

1. Aquece-se a peça a uma temperatura 30ºC a 50ºC acima da zona crítica (A3 para
hipoeutectóide e Acm para hipereutectóide), sendo que o aquecimento entre A1 e a temperatura
crítica deve ser feito de forma rápida para que se obtenha pequenos grãos de austenite;

2. De seguida, o tempo de estágio deve ser o mais curto possível, ou seja, apenas o suficiente
para que a temperatura da peça esteja homogeneizada;

3. Finalmente o arrefecimento deverá ser, de um modo geral, ao ar visto que, por um lado, se
for usado um meio de arrefecimento mais energético como óleo ou água existe a possibilidade de
que o aço tempere e, por outro lado, se for arrefecido demasiado lentamente (por exemplo, no
forno) a estrutura formada será demasiado grosseira.

No final do tratamento espera-se obter uma estrutura constituída por perlite fina e ferrite (aços
hipoeutectóides) ou por perlite fina e cementite (aços hipereutectóides). [23]
É de referir que no caso dos aços muito ligados e, consequentemente, muito temperáveis, o
risco de têmpera ao ar é grande pelo que é recomendável optar por uma transformação isotérmica.
[16] [7]

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Figura 5: Microestrutura de um aço Figura 6: Microestrutura de um aço


hipoeutectóide antes de um recozido de hipoeutectóide após um recozido de
normalização normalização

3. Ensaios
3.1. Ensaio Dilatométrico
O ensaio dilatométrico permite a determinação das temperaturas A1, A3 (hipoeutectóide) ou
Acm (hipereutectóide) e Ms a partir da existência de variação das dimensões do aço com a temperatura.
[1]
No aquecimento para austenitização o aço dilata continuamente até ao ponto crítico inferior (A1),
contraindo-se a partir desta temperatura até se transformar totalmente em austenite no ponto crítico
superior (A3/Acm) após o que entra de novo em dilatação, com coeficiente de expansão diferente. O
arrefecimento que se segue vai provocar uma contração contínua até Ms, altura em que ocorrerá uma
grande dilatação devido a formação de martensite (se a velocidade de arrefecimento for
suficientemente rápida). [14]
Para a realização deste ensaio usa-se normalmente um aparelho eletrónico denominado
dilatómetro que mede as várias temperaturas a que a amostra se encontra assim como as dimensões
da mesma registando os valores numa tabela/gráfico. É de referir que a amostra deve cumprir alguns
requisitos dimensionais para garantir a fiabilidade do ensaio. [14]

3.2. Ensaio de Dureza


Para determinar a dureza de um aço existem vários ensaios que podem ser feitos. Cada um
desses ensaios dá um valor de dureza numa escala diferente, mas que pode ser convertida em
qualquer uma das outras recorrendo a equações matemáticas. [3]

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3.1.1. Ensaio de Vickers


O ensaio Vickers consiste na penetração de uma superfície piramidal quadrada e com um
ângulo de 136º entre as suas faces numa superfície plana do aço a medir a dureza com uma
determinada carga, F. De seguida são medidas as diagonais do losango deixado na superfície do aço
(d1, d2) e calculada a dureza, em HV, com a seguinte fórmula: [12] [20]

1,8544. 𝐹
𝐻𝑉 =
𝑑1. 𝑑2

Figura 7: Ensaio Vickers

3.1.2. Ensaio Brinell


O ensaio Brinell é semelhante ao ensaio Vickers. No entanto a penetração é feita por uma
esfera de diâmetro D. Por sua vez, a dureza é calculada em função do diâmetro da esfera que penetra
a superfície do aço, D, pelo diâmetro deixado na superfície, d, e pela carga aplicada F. A fórmula usada
para o cálculo da dureza, em HB, é: [12] [20]

2. 𝐹
𝐻𝐵 =
(𝜋. 𝐷)[𝐷 − √(𝐷 2 − 𝑑2 )]

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Figura 8: Ensaio Brinell

3.3. Ensaio de Espectrometria de Emissão Ótica


Este ensaio permite obter a análise química detalhada de uma liga metálica baseando-se na
quantidade e energia absorvida e seguidamente radiação emitida pelo material através da excitação
dos seus átomos recorrendo a uma fonte de energia externa. [15]
Quando uma descarga energética ocorre sobre os átomos do material estes absorvem energia
provocando a subida do nível de órbita dos seus eletrões. Seguidamente os eletrões voltam aos níveis
orbitais originais libertando energia sobre a forma de radiação. Através da análise espetral da radiação
emita pelo metal são determinados os elementos químicos presentes na amostra assim como a
respetiva quantidade. Isto é possível visto que cada elemento químico quando liberta radiação emite
um espectro eletromagnético único característico desse só elemento sendo deste modo possível
identificar a sua presença. [15]
O aparelho eletrónico utilizado para a realização deste ensaio chama-se espectrómetro de
emissão ótica e tem como principais vantagens a rapidez e a fácil utilização.
Quanto à amostra, apenas é necessária uma superfície plana do metal a ser analisado.

Figura 9: Espectrómetro de emissão ótica

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4. Espadas num Contexto Histórico


4.1. Evolução histórica dos materiais utilizados
A espada foi uma das principais armas de combate corpo a corpo, utilizada tanto pela
infantaria como pela cavalaria, que surgiu do desenvolvimento da faca e do punhal, na Idade do
Bronze, havendo conhecimento de exemplares que datam de 1600 A.C.. Sendo inicialmente fabricadas
em bronze, as suas propriedades mecânicas não eram as ideais (módulo de Young do bronze bastante
baixo), pelo que, após o início da Idade do Ferro, este material foi, naturalmente, adotado como
alternativa ao bronze. Esta mudança apenas permitiu um ligeiro aumento de resistência mecânica
comparativamente às espadas de bronze, uma vez que não existia nenhum mecanismo de
endurecimento. [31}
O grande avanço tecnológico na produção de espadas deu-se com a implementação do aço e
consequente utilização de técnicas que lhe garantiam uma melhoria significativa das suas
propriedades, como a têmpera e o revenido, tornando-se a liga mais comum utilizada em espadas na
Idade Média. Com o aparecimento das armas de fogo, o uso da espada foi caindo em desuso, sendo,
nos dias de hoje usada maioritariamente como símbolo em contexto militar. [31]

4.2. Processos de Fabrico de Espadas


Como já foi referido anteriormente, tratamentos como a têmpera e o revenido são
normalmente realizados durante o fabrico de uma espada de aço. No entanto, antes de os mesmos
terem lugar é necessário a lâmina se encontrar já perfeitamente definida. Tal é tradicionalmente
conseguido através de uma série de etapas:
Inicialmente, o aço, no estado fornecido, é forjado. Para tal, é austenitizado, tornando-se
maleável, sendo depois retirado da forja e martelado de modo a definir a forma geral da espada.
Sempre que a temperatura do aço baixe substancialmente, é fundamental que se aqueça de novo na
forja, de forma a garantir a maleabilidade do aço para poder continuar a ser trabalhado. Antigamente,
devido ao facto de o aço fornecido apresentar heterogeneidades, no início do forjamento, o aço é
dobrado e levado à forja uma série de vezes, permitindo que o carbono difunda e que o seu teor no
aço se torne praticamente homogéneo. Nos dias de hoje é mais comum o uso de técnicas de remoção
de material (através do uso de ferramentas de corte) em vez da forja para dar forma à espada. [27] [28]

Figura 10: Forjamento de uma espada

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Seguidamente, ocorre o processo de retificação e polimento, responsável por definir o gume


da espada e remover quaisquer imperfeições resultantes do forjamento. Este é conseguido com o
auxílio de um esmeril de correia ou de uma lima. [27] [28]
Antes de ser temperada, a lâmina é sujeita a um recozido de normalização, restaurando o grão
que se apresenta alongado como consequência do forjamento.
Por fim, têm lugar os tratamentos térmicos: a têmpera e o revenido. A primeira resulta no
endurecimento da lâmina, tornando-a bastante dura, mas pouco tenaz. É de salientar a ocasional
colocação de barro em certas partes da lâmina antes de esta ser temperada. Como o barro é um fraco
condutor térmico, o arrefecimento das partes envolvidas neste material será mais lento, dificultando
a sua têmpera. Isto permite que se fabrique uma espada com um gume bastante duro e que apresenta,
simultaneamente, uma dureza mais baixa na restante espada, contribuindo para uma maior
tenacidade. Este processo é designado por tratamento térmico diferencial. [27] [29] [30]
O revenido consiste em aquecer a lâmina a uma baixa temperatura durante um estágio de
tempo elevado, o que confere ao material um aumento da tenacidade e ductilidade à custa de uma
ligeira diminuição da dureza. [27]

4.3. Aços tipicamente presentes em espadas


A escolha do aço de uma espada está diretamente associada ao tipo de uso pretendido para
a mesma e à experiência do indivíduo que a vai manusear.
Por um lado, espadas fabricadas a partir de aços com baixo teor de carbono (0.4% - 0.6%) são
mais acessíveis a nível monetário, além de serem as mais recomendadas para utilizadores
principiantes, uma vez que, apesar da dureza inferior, a lâmina dificilmente parte devido à maior
tenacidade, possuindo, por isso, as características ideais para aprendizagem. É, também, o tipo de
espadas que requer menor manutenção, uma vez que a sua corrosão é mínima quando comparada
com outros aços. [29] [30]
Por outro lado, a utilização de aços com um teor mais elevado de carbono (0.6% - 1,1%) para
fabricar uma espada resulta numa dureza bastante elevada que se reflete na capacidade do gume se
manter afiado durante mais tempo, mas que acarreta problemas associados à baixa tenacidade. Por
este mesmo motivo, é o tipo de espada indicado para utilizadores mais experientes, capazes de tirar
o máximo partido das suas vantagens enquanto mitigam as suas desvantagens. [29] [30]
Sendo assim, os aços mais usados são os regidos pelas seguintes normas:
• AISI 1045
• AISI 1060
• AISI 1095
• Aços de molas: 65MN, 5160, 5166, 9260
• Aço de Ferramentas T10

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Identificação de Componentes - Espada

5. Análise da Espada
5.1. Previsões
Apesar da longa idade da espada em estudo, foi possível
fazer algumas previsões acerca da sua composição.
Hoje em dia os conhecimentos dos efeitos da adição de
elementos de liga num aço são vastos. No entanto, este é um
conceito recente que remonta ao início do século XX, quando
investigadores como Harry Brearley (que acabaria por descobrir os
aços inox) e Frederick Taylor (grande desenvolvimento nos aços
rápidos), na busca de aços com propriedades mecânicas
melhoradas comparativamente às que os aços com apenas carbono
conseguiam oferecer, estudaram intensamente o efeito da adição
de outros elementos metálicos ao aço. Deste modo, e sendo a
espada em estudo do início do século XIX, é de prever que o aço da
sua lâmina apresente uma percentagem quase nula de elementos Figura 11: Espada em estudo

de liga, ou seja, torna-se bastante plausível a hipótese de este ser


um aço ao carbono. [10] [11]
Finalmente, quanto à percentagem de carbono do aço, não é possível fazer uma previsão
concreta dos resultados. De facto, o aço que compõe normalmente uma espada pode ter uma grande
variação na percentagem de carbono, sendo por isso, apenas possível concluir que se deverá situará
entre os 0,4% e os 1,1%, valores típicos presentes em espadas. [29]

5.2. Preparação das Amostras


Devido à reduzida dimensão das amostras, foi necessário colocá-las em suportes de resina
termoendurecível antes de iniciar o polimento.

Figura 12: Amostra envolvida num suporte de


resina termoendurecível

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Identificação de Componentes - Espada

O desbaste foi realizado passando a amostra por quatro disco giratórios com lixas de
granulometrias sucessivamente maiores (80, 180, 320, 800) lubrificadas com água a 300 rpm, tendo-
se mudado a direção do desbaste (perpendicular à anterior) entre cada lixa.

Figura 13: Dois dos discos giratórios usados para


polimento das amostras

De seguida, as amostras foram polidas num disco giratório revestido por um pano embebido
em alumina a 150 rpm.

Figura 14: Disco giratório contendo alumina

Após este conjunto de operações, as amostras foram acabadas em dois pratos giratórios
contendo um spray abrasivo de diamante (diâmetros de grão de 3µ e 1µ respetivamente).

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Figura 15: Discos rotativos com “spray” abrasivo de


diamante

Finalmente, para possibilitar a observação da microestrutura no microscópio ótico, procedeu-


se a um ataque químico da amostra com uma solução diluída de ácido nítrico (Nital 2%).

5.3 Estado Fornecido


Para analisar o aço da espada no estado fornecido, em primeiro lugar, procedeu-se a um corte
de uma secção retangular da mesma para a realização de um ensaio dilatométrico.
Por outro lado, foram preparadas duas amostras da espada (uma colocada transversalmente
na resina e outra longitudinalmente), para observação da microestrutura e medição da microdureza.

5.3.1 Ensaio Dilatométrico


Com o intuito de determinar as temperaturas de transição A1 e A3/Acm (A3 se o aço for
hipoeutectóide; Acm se o aço for hipereutectóide), foi realizado um ensaio dilatométrico, cujos
resultados foram registados numa tabela e, posteriormente, traduzidos no gráfico da figura 16.

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A1
A3/Acm

Figura 16: Resultado do ensaio dilatométrico

Tabela 2: Ensaio dilatométrico na Tabela 3: Ensaio dilatométrico na


vizinhança de A1 vizinhança de A3/Acm

Temperatura Alongamento Temperatura Alongamento


(ºC) (µm) (ºC) (µm)
… … … …
718,5193 136,6691 739,3513 93,92526
719.0971 136,7452 740,0518 93,47054
719,6080 136,7669 740,8746 93,3138
720,1221 136,7669 741,8272 93,4876
720,5670 136,6629 742,8546 94,01838
721,1099 136,5636 743,8350 94,90298
… … … …

A partir da análise dos resultados obtidos no ensaio dilatométrico concluiu-se que a


temperatura A1 se situa, aproximadamente, nos 720ºC, uma vez que, considerando a tabela 2, a partir
desta temperatura, verificou-se o início da contração do material. Por outro lado, determinou-se, por
observação da tabela 3, a temperatura A3 (aproximadamente 741ºC), sendo esta a temperatura a
partir da qual o aço retoma a sua dilatação.

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Devido à proximidade das temperaturas de transição deste aço e com base no diagrama de
equilíbrio das ligas ferrocarbónicas, é possível afirmar que a composição da liga se deve situar próximo
do ponto eutectóide.

5.3.2. Microestrutura
Após a preparação das amostras no estado fornecido, procedeu-se à sua observação ao
microscópio ótico (figuras 17, 18, 19)

Figura 17: Microestrutura do aço da espada no estado


fornecido (escala 200 µm)

Figura 18: Microestrutura do aço da espada no estado


fornecido (escala 20 µm)

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Figura 19: Pormenor do revestimento da espada


(escala 20 µm)

Tendo em consideração a figura 17, foi possível identificar uma estrutura muito danificada,
marcada com um grande número de inclusões. Estas inclusões podem ser explicadas pela idade
avançada da espada, já que, outrora, os processos que asseguram a homogeneidade de um aço
fornecido eram mais rudimentares.
Atendendo à figura 18, observou-se o que aparenta ser cementite globular, podendo-se assim
suspeitar que o aço que compõe a espada é hipereutectóide e, consequentemente, aferir que
temperatura de 741ºC corresponde a Acm.
Finalmente, salientou-se um pormenor na periferia do corte transversal da espada, visível na
figura 19, que revela uma possível camada de óxidos, devendo-se à elevada exposição da espada à
corrosão, o que reflete, mais uma vez, a idade da mesma.

5.3.3. Ensaio de Dureza


Utilizando as duas amostras visualizadas ao microscópio, foi realizado um ensaio de dureza de
Vickers das mesmas, com uma carga aplicada de 40 kgf. Os resultados estão apresentados na tabela
4.

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Tabela 4: Resultados do ensaio de dureza do aço no estado fornecido

Amostra longitudinal Diagonais (mm) Dureza (HV)


0,38
1ª Medição 514
0,38
0,37
2ª Medição 542
0,37
0,38
3ª Medição 527
0,37
Amostra transversal
0,38
1ª Medição 514
0,38
0,38
2ª Medição 514
0,38
0,38
3ª Medição 514
0,38
Média: 521

Perante os resultados, é plausível a hipótese de que a espada tenha sofrido uma têmpera
martensítica seguida de um revenido, visto que a dureza apresentada, apesar de ser elevada, é inferior
à dureza da martensite com 0,86% C (martensite tipicamente formada nos aços hipereutectóides).
Esta hipótese é simultaneamente reforçada pelo facto de estes tratamentos serem comuns no fabrico
de uma espada.

5.4. Recozido de Normalização


Tendo em conta a observação ao microscópio de amostras da espada no estado fornecido
constatou-se a necessidade de proceder a um recozido de normalização, utilizando uma nova amostra,
de modo a restaurar o grão, tendo em vista a possibilidade de obter uma microestrutura homogénea
e com os limites de grão bem definidos.
Assim, foi definido o tratamento apresentado no gráfico da figura 19.

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35 minutos

ar

Figura 20: Recozido de normalização realizado

5.4.1. Microestrutura
Realizado o tratamento térmico ao aço em estudo, foi preparada uma amostra do mesmo,
tendo sido esta, posteriormente, observada ao microscópio (figura 20).

Figura 21: Microestrutura da espada após um recozido de normalização (escala 20 µm; pormenor com ampliação 4×)

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Da análise à microestrutura visualizada foi possível distinguir claramente a presença de uma


matriz perlítica lamelar e grãos de cementite globular, confirmando a hipótese previamente
formulada de que o aço em estudo é hipereutectóide.

5.4.2. Ensaio de Dureza


Tal como no estudo fornecido, realizou-se, a partir da amostra preparada, um ensaio de
dureza de Vickers, mantendo a carga aplicada (40 kgf). Os resultados estão apresentados na tabela 5.

Tabela 5: Resultados do ensaio de dureza do aço após um recozido de normalização

Medições Diagonais (mm) Dureza (HV)


0,53
1ª Medição 264
0,53
0,54
2ª Medição 254
0,54
0,53
3ª Medição 259
0,54
Média: 259

Após análise dos dados obtidos, foi possível perceber o comportamento do aço quando
arrefecido ao ar e, deste modo, reunir mais dados no sentido de descobrir o aço normalizado que
apresente mais características semelhantes ao aço em estudo, mesmo sabendo que estamos perante
um aço não normalizado.

5.5. Têmpera Martensítica


Tendo em mente o cálculo da percentagem de carbono do aço em estudo a partir da dureza
da martensite, foi crucial efetuar uma têmpera em água de modo a obter uma estrutura martensítica.
Como a possível variação dimensional da peça, neste caso, não se apresenta como um problema,
descartou-se o óleo como meio de arrefecimento.
É importante mencionar que este tratamento térmico foi realizado duas vezes, tendo sido
necessárias duas amostras. No entanto, os resultados apresentados refletem apenas a segunda
têmpera realizada, uma vez que a primeira não produziu os resultados esperados, tendo até ocorrido
uma diminuição da dureza relativamente ao estado fornecido. Tal aconteceu, provavelmente, devido
a um elevado tempo de estágio à temperatura de têmpera, o que levou à descarbonização da amostra.

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Tendo em consideração o erro cometido, realizou-se o tratamento observável na figura 22.

10 minutos

água

Figura 22: Têmpera martensítica realizada

5.5.1. Microestrutura
Ao observar a amostra temperada no microscópio ótico verificou-se a presença de uma
estrutura martensítica com alguns carbonetos (pontos pretos), não se tendo observado grandes
vestígios de austenite residual (figura 23).

Figura 23: Microestrutura resultante após a têmpera


efetuada (escala 20 µm)

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5.5.2. Ensaio de Dureza


Após a obtenção da microestrutura a amostra temperada foi submetida a um ensaio de
dureza de Vickers, tendo sido utilizada, mais uma vez, uma carga de 40 kgf. Os resultados são visíveis
na tabela 6.

Tabela 6: Resultados do ensaio de dureza do aço após uma têmpera martensítica

Medições Diagonais (mm) Dureza (HV)


0,28
1ª Medição 946
0,28
0,29
2ª Medição 913
0,28
0,28
3ª Medição 946
0,28
Média: 935

Tendo em conta a dureza obtida (935 HV) e


após análise do gráfico da figura 24, pôde-se concluir
que a percentagem de carbono do aço em estudo
seria, idealmente, 0,9 %. No entanto, devido à
presença de austenite residual, indesejada, é de
prever que este valor aumente, ainda que
ligeiramente, visto que na microestrutura, não foi
possível a observação de grãos bem definidos de
austenite residual.

Figura 24: Dureza da martensite em função da %


de carbono da mesma

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5.6. Discussão de resultados


Apesar de se ter conhecimento de que o aço em estudo não é normalizado, dado que a criação
das normas para os aços é posterior à criação da espada, procedeu-se a uma procura do aço
normalizado cujas características fossem as mais próximas do aço da espada.
Em primeiro lugar, tendo em conta a hipótese formulada de que se está perante um aço ao
carbono (% de elementos de liga desprezável), foi possível fazer uma seleção inicial de uma gama
restrita de aços que apresentam poucos elementos de liga, sendo estes os aços da série SAE-AISI 10XX.
Juntando, também, os resultados das durezas obtidas na têmpera martensítica
(arrefecimento em água) e no recozido de normalização (arrefecimento ao ar) e comparando com o
diagrama de arrefecimento contínuo nos vários meios apresentado na figura x, concluiu-se que o aço
normalizado que mais semelhanças apresenta em relação ao aço em estudo é o SAE-AISI 1095 que
apresenta a composição química observável na tabela 7.

Tabela 7: Composição do aço SAE-AISI 1095 [9]

Elemento %
Fe 98,38 – 98,80
C 0.90 – 1,03
S ≤ 0,050
P ≤ 0,040
Mn 0,30 – 0,50

Figura 25: Dureza de um aço após tratamento em função do meio de arrefecimento e da massividade
da amostra [4]

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5.7. Ensaio de Espectrometria de Emissão Tabela 8: Resultados do


ensaio de espectrometria
Perante a necessidade de se confirmar a hipótese de que o
Elementos %
material em estudo é um aço ao carbono, isto é, sem elementos de
Fe 98,70
liga e, também, de modo a descobrir a percentagem exata de carbono C 1,01
presente no aço em estudo, para comparar com as previsões Si 0,0558
efetuadas, realizou-se um ensaio de espetrometria de emissão, cujos Mn 0,0516
resultados estão expressos na tabela 8. P 0,0098
Da análise aos resultados retiramos que o material em estudo S 0,0107
se trata, de um aço ao carbono com 1,1% de carbono, confirmando o Cr 0,0012
que se esperava antes da realização deste ensaio. Ni 0,0021
Al 0,00081
Co 0,0168
Cu 0,0742
Outros 0,0667

Figura 26: Amostra da espada após a


realização do ensaio de espectrometria de
emissão

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6. Conclusões

Neste trabalho foi analisado o aço da lâmina de uma espada do início do Séc. XIX, recorrendo
para isso a uma série de ensaios e tratamentos térmicos.
Após análise dos resultados foi possível concluir que o aço em estudo se trata de um aço ao
carbono (% de elementos de liga desprezável) com uma percentagem de carbono entre os 0,9% e os
1,2%, valores que viriam a ser confirmados com a realização do ensaio de espetrometria de emissão
ótica que indicaram que o aço em estudo se tratava de um aço ao carbono com 1,01% de carbono.
Concluiu-se, também, que estamos perante um aço não normalizado segundo qualquer
norma de classificação de aços, o que é compreensível pelo facto de a introdução das normas ser
posterior à produção da espada. Deste modo, procurou-se encontrar o aço normalizado que
apresentasse maiores semelhanças ao aço em estudo, com recurso aos resultados dos ensaios de
dureza após os vários tratamentos térmicos realizados. O aço que se revelou mais compatível foi o
regido pela norma SAE-AISI 1095, que se apresenta com reduzida percentagem de elementos de liga
e com percentagens de carbono entre os 0,90% e os 1,03%.

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7. Trabalhos Futuros
Na continuação do desenvolvimento deste projeto, seria interessante estudar a forma como
este aço se comportaria ao sofrer um revenido, de modo a verificar experimentalmente a ausência de
elementos de liga do mesmo.
Seria, igualmente, interessante, a realização de uma têmpera em óleo comparando os valores
de dureza obtidos com o valor teórico do aço SAE-AISI 1095 com o objetivo de clarificar ainda mais se
o aço escolhido é, de facto, idêntico ao aço da espada.

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Referências Bibliográficas
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