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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

Portal Educação

CURSO DE
PSICOLOGIA CLÍNICA

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

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CURSO DE
PSICOLOGIA CLÍNICA.

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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SUMÁRIO

1. HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO MUNDO


1.1 JOHN LOCKE E A PSICOLOGIA
1.2 A INFLUÊNCIA DE DARWIN
1.3 WUNDT: DA PSICOLOGIA EXPERIMENTAL FISIOLÓGICA À
PSICOLOGIA DOS POVOS
1.4 PSICOLOGIA DA INTELIGÊNCIA E DA FORMA
1.5 O PRINCÍPIO DO SENTIDO
1. 6 BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A PSICOLOGIA NO BRASIL

2. GRANDES PENSADORES DA PSICOLOGIA E AS ABORDAGENS


DELES DERIVADAS
2.1 INÍCIO, O ESTRUTURALISMO
2.2 FUNCIONALISMO
2.3 WUNDT E O ASSOCIACIONISMO
2.4 PAVLOV E A REFLEXOLOGIA
2.5 BEHAVIORISMO, A PRIMEIRA POTÊNCIA
2.6 GESTALT E A PSICOLOGIA DA FORMA
2.7 PSICANÁLISE
2.8 HUMANISMO
2.8.1 PIRÂMIDE DE MASLOW
2.9 PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
2.10 PSICODRAMA
2.10.1 JACOB LEVY MORENO
2.10.2 TEORIA DO PSICODRAMA
2.10.3 MÉTODO PSICODRAMÁTICO
2.10.4 PSICODRAMA PSICANALÍTICO
2.11 PSICOLOGIA ANALÍTICA

1. A PSICOLOGIA ENQUANTO CIÊNCIA (PSICOLOGIA CIENTÍFICA)

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2. PRINCIPAIS ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO
3. PSICOLOGIA CLÍNICA: CONCEITO

1.CONCEITO DE SAÚDE
2.SAÚDE MENTAL
3 DEFICIÊNCIA MENTAL
4 TRANSTORNO MENTAL
5 PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS

1. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
2. INTERVENÇÃO
3. EQUIPE MULTIPROFISSIONAL
4. PRESENTE E FUTURO DA PSICOLOGIA CLÍNICA
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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Prefácio

A Psicologia talvez seja uma das mais controversas


ciências da atualidade. Amada por uns e odiada por outros, sem dúvida ainda
permanece obscura para a grande maioria.
Ouve-se falar dela como ‘coisa do demônio’ dentro de igrejas católicas e
evangélicas. Confundida com práticas alternativas não reconhecidas pela Ciência
tradicional, muitos cientistas a vêem com maus olhos e até com certo desdém. O
certo é que as pessoas normalmente costumam combater aquilo que não
conhecem. Esse comportamento é no mínimo preconceituoso.
Faz-se necessário conhecer para só depois exercer sobre aquilo que se
conhece algum tipo de pensamento, seja de apoio ou repulsa. Mas que seja feito
com fundamento.
O certo é que a Psicologia provavelmente seja uma das mais complexas
ciências da atualidade. A começar pelo seu próprio objeto de estudo, a pretensão de
estudar a alma humana. Por mais que se estude, jamais será possível abarcar toda
esta complexidade, pois o ser humano é o reflexo de interações ambientais, sociais,
físicas, cognitivas e espirituais.
Várias Ciências se cruzam na busca deste conhecimento, como a
Neurologia, a Filosofia, as Ciências Sociais, a Psiquiatria... Tudo o que for dito perto
da dimensão do ser humano envolto em sua cultura e valores será muito pouco.
Tudo isso faz da Psicologia uma Ciência extremamente bela e complexa, dificílima,
embora fascinante. Ninguém, jamais sairá ileso depois que dela se aproximar.
E o objetivo deste curso é facilitar uma primeira aproximação com esta
Ciência, que mais pergunta que responde, pois não é função da Psicologia encontrar
respostas, ou soluções simples e prontas para coisas complexas, mas apenas se
propõe a entender melhor quem é o ser humano e como ele age. Quero caminhar

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com você ao dar os primeiros passos rumo ao conhecimento psicológico e espero
que se apaixone tanto quanto eu me apaixonei por esta Ciência, ainda tão mal
compreendida. Vamos lá?

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1. HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO MUNDO

Desde o início dos tempos, o ser humano sempre quis compreender melhor
o mundo que o rodeia, conhecendo as suas origens. Se entendermos a Psicologia
como um conhecimento amplo, é possível afirmar que os mais antigos filósofos, os
pré-socráticos, eram, em sua essência, psicólogos, embora não fossem assim
denominados nem tivessem o seu exercício regulamentado em lei.
Na busca pela indagação de si e pelo entendimento de suas origens, Várias
correntes teóricas se formaram, dentre elas as duas mais importantes, tentando
explicar a origem do ser humano e do Universo: O Criacionismo e o Evolucionismo.
Entende-se o Criacionismo como sendo a teoria ou sistema que sustenta as
espécies animais e vegetais criadas de forma distinta, permanecendo invariáveis.
Houve um Ser Superior que criou todas as coisas que existem. O relato da criação
do mundo encontra-se pormenorizado na Bíblia Sagrada, livro de orientação de
todos aqueles que professam a fé cristã. (FERREIRA, 1993).
Ao processo gradual de mudança genética em que as características de
toda uma espécie são alteradas durante muitas gerações, produzindo uma mudança
cuja função é proporcionar uma melhor adaptação dos indivíduos daquela espécie
ao meio ambiente, processo conhecido como Seleção Natural, dá-se a denominação
de Evolucionismo. (HAYES, 1997).
Mas as grandes questões da humanidade não se limitaram àquelas ligadas
ao Universo. O ser humano sempre se interessou por conhecer melhor a sua própria
essência - De onde vim? Para onde vou? Quem sou eu? O que vim fazer nesse
mundo? As respostas a estas perguntas trariam alívio para a própria angústia e
inquietação inerentes ao ser humano. Era preciso entender melhor as próprias
emoções, ansiedades, sentimentos, o porquê da existência, do nascimento, da
morte...
Faz-se necessário entender que esses questionamentos tão profundos são
naturais e fazem parte do processo de autoconhecimento. Não é preciso fugir de
sensações que nem sempre são confortáveis, mas enfrentá-las, tirando proveito de
cada evento desagradável para encontrar o próprio equilíbrio, a própria estrada. Um
dos grandes equívocos atuais provavelmente seja o de querer se livrar a todo e
qualquer custo, da dor e dos sofrimentos humanos. Mas eles são parte da complexa

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natureza humana. Não há fórmulas miraculosas para fazer com que o ser humano
pare de sofrer, por mais que os livros de auto-ajuda falem o contrário. Não é essa a
finalidade da Psicologia, mas sim, entender a alma humana e aprender a lidar
melhor com a própria existência.
A partir desse breve comentário, poderíamos afirmar que a Psicologia nasce
de dois ramos distintos: Da Filosofia, considerando pensadores como Aristóteles e
Platão os primeiros psicólogos (ainda que não utilizassem esse termo) e da
Medicina, ainda que, de forma equivocada, tentassem encontrar respostas físicas
para questões emocionais (Os pensadores, 1999).
Provavelmente, a primeira grande obra psicológica de que se tem notícia
seja a do grande pensador Aristóteles, intitulada De Anima. Embora já se estudasse
a alma humana, o termo Psicologia só aparece no século XVI, com Rodolfo
Goclênio.
A palavra Psicologia tem sua raiz etimológica nos termos psiché (alma) +
logos (razão, estudo). É bom que se diga que a Psicologia enquanto profissão é algo
ainda recente, pois a regulamentação da profissão de psicólogo acontece somente
em 27 de agosto de 1962. (Data em que hoje se comemora o Dia do Psicólogo).
Tem-se afirmado que a Psicologia é uma ciência com um longo passado,
mas com uma curta história de reconhecimento enquanto atividade profissional e
Ciência. Tal frase lança luz sobre o fato de que os povos de todos os tempos e de
todas as culturas se tenham ocupado dos problemas da alma e da vida humana.
A partir de alguns testemunhos escritos que nos ficaram das antigas culturas
da Índia, China, Ásia Anterior, do Delta e do Nilo. A partir de mitos e contos
populares, bem como de obras eruditas, pode-se concluir que as pessoas sempre
refletiram sobre a alma, a morte e a imortalidade, sobre o bem e o mal, e as causas
dos seus medos e preocupações.
O estudo da alma humana e a existência do ser humano são eventos
interligados. Daí a afirmação que a Psicologia é uma ciência em construção e de
que o psicólogo é um profissional sempre em formação. Não há psicólogos prontos,
visto que compreender o ser humano requer estudo incessante e a capacidade de
aprender com os próprios erros.
A nossa ciência ocidental, assim como a psicologia, remonta à Grécia
Antiga, pelo que o antigo escrito do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) "Acerca

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da Alma", é designado muitas vezes como o primeiro Manual de Psicologia. De fato,
este grande mestre da ciência antiga tratou de quase todos os problemas que ainda
hoje nos ocupam; interessou-se de modo muito especial pela questão dos
fundamentos biológicos da vida anímica e do seu desenvolvimento.
É do pensador Aristóteles a tese de que o todo vem antes das partes e é,
portanto, mais do que o somatório das suas partes. Por exemplo: cada floresta é
mais do que o somatório das suas árvores, arbustos e ervas as quais a constituem e
dos animais que nela habitam, é uma totalidade própria com características
especiais que pertencem à totalidade. Porém, tais totalidades existem igualmente no
domínio psíquico. Este é um dos grandes fundamentos do que atualmente se intitula
Psicologia da Gestalt, ou Psicologia da forma.
Esta concepção opõe-se à de Wilhelm Wundt (1832-1920), de que o todo da
mente é constituído a partir de processos elementares, a qual dominou, a princípio,
de a moderna Psicologia Científica, orientada pelo pensamento atomista da Física.
Os gregos consideravam a alma como o sopro da vida, como aquilo que
vivificava a vida. Como, porém, se realizava essa vivificação foi problema que
permaneceu tão discutido quanto insolúvel. Tales de Mileto, muito antes de
Aristóteles, considerou o movimento como algo essencial para o processo de
vivificação; alguns filósofos da Antiga Grécia pensavam que a alma era "ar", outros,
que eram os odores os elementos vivificantes. (Os pensadores: Pré-socráticos,
1999).
Platão (427-347 a.C.) qualifica alma de ser algo espiritual; o seu discípulo
Aristóteles considerava-a como uma força, aliás, incorpórea, mas que movia e
dominava os corpos. A partir de tais concepções, adquiridas exclusivamente pela
especulação, existiam, contudo, também já na Antigüidade, estudos amplos sobre
processos cerebrais, sobre as funções dos órgãos sensoriais e sobre perturbações
destas funções em caso de lesões cerebrais.
Muito se houve falar sobre a doutrina dos quatro temperamentos, sobretudo
em livros norte-americanos de Psicologia. Mas a grande verdade é que esta doutrina
remonta ao grande médico grego Hipócrates (cerca de 400 a.C.), retomada e
desenvolvida pelo médico romano Galeno (131 até 201 a.C.). Segundo ele, existem
quatro temperamentos, determinados pela predominância de um dos quatro
"humores": o sangüíneo (sangue: folgazão e superficial), o colérico (bílis amarela:

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vontade forte e iras repentinas), o melancólico (bílis negra: pensativo e triste) e o
fleumático (muco: sossegado e inativo). Apesar do seu funcionamento
pseudocientífico, a doutrina dos quatro temperamentos afirmou-se na prática e os
quatro tipos foram finalmente introduzidos como noções da nossa linguagem do dia-
a-dia. (Sournia, 1996).
Outro nome fundamental para que se estudem os primórdios da Psicologia é
Santo Agostinho (354-430), pelo fato de ter descoberto dois métodos importantes: o
da auto-observação e o da descrição da experiência interior, dando origem a uma
Psicologia mais subjetiva e qualitativa, baseada na fala e na introspecção, ao
contrário daquela que prioriza apenas o comportamento observável. De certa forma,
pode-se citar a Psicologia Européia como aquela que mais se aproxima de uma
Psicologia menos comercial e imediatista para uma mais aprofundada e
introspectiva denominada por alguns de ‘Psicologia profunda’.

Imagem retirada do site www.alamed.com.br/psicologia.htm

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1.1 JONH LOCKE E A PSICOLOGIA

Grande parte das pessoas que trabalham na Educação já ouviu falar que ‘a
criança é como uma folha em branco na qual são registradas as várias
experiências’. Esta idéia que também influenciou bastante a Psicologia,
principalmente em relação às abordagens que priorizam a experiência como a
principal fonte de formação do ser humano, vem de um pensador conhecido: Jonh
Locke.
Este pensador veio sublinhar a importância que desempenham as
impressões sensoriais para o desenvolvimento da nossa experiência. Imaginou o
espírito da criança como uma folha de papel em branco (tábula rasa) na qual são
"registradas" as experiências. John Locke também tem papel decisivo na Pedagogia
e na Psicopedagogia. Seu pensamento sustentou ricas correntes pedagógicas e
psicológicas. (Abagnano, 2000).
Já Aristóteles se ocupara das associações, da combinação de duas ou mais
representações ou vivências parciais. O fato de David Hume (1711-1776) ter
retomado e aperfeiçoado a teoria aristotélica das associações demonstrou ser de
extraordinária importância, também para a atual Psicologia. Hume ensinou que as
representações eram imagens de impressões sensoriais e se encontravam ligadas
umas às outras com base em leis mecanicamente funcionais. Reforçando o
pensamento de Aristóteles, formulou as leis da associação do contato espaço-
tempo, da semelhança, do contraste e da causalidade.
Desde então se verifica a importância que as experiências exercem sobre a
vida de qualquer ser humano, gerando gratificação ou traumas. As experiências têm
uma função primordial na estrutura da pessoa, principalmente de zero aos seis anos
de vida. Aquilo que é vivenciado nessa fase torna-se determinante na vida adulta. A
forma de ser, de reagir e de enfrentar crises em boa parte é construído na infância.
Também a forma feliz de celebrar a vida em seus detalhes mais simples.

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1.2 A INFLUÊNCIA DE DARWIN

Charles Darwin

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A Psicologia sempre viveu o dilema de optar entre entregar-se à


objetividade, para que ocorresse a apropriação do fazer científico, ou exercer um
modo alternativo de fazer seus estudos de maneira mais alternativa e aberta à
especulação e assim correr o risco de não ser legitimada nos meios acadêmicos.
Pela própria raiz eminentemente filosófica, toda a Psicologia fora praticada
até aos meados do século XX de modo predominantemente especulativo: julgava-se
poder solucionar todos os problemas a partir da reflexão, da análise e da síntese.
Ledo engano. Atualmente, percebe-se que as alternativas acima citadas não são
excludentes, mas podem se complementar e se enriquecer mutuamente e assim o
fazer científico enriquece seu olhar, tornando-se mais holístico e menos
fragmentado.
Prova disso são as propostas atuais do Sistema Único de Saúde, de tornar o
trabalho cada vez mais interdisciplinar e menos individualista, o que amplia o prisma
do observador para um horizonte mais amplo dentro do estudo de cada caso. Uma
gastrite, por exemplo, pode ser analisada como algo proveniente de uma irritação
gástrica apenas ou do produto complexo da somatização de uma vida corrida e
sedentária. Aliado a uma alimentação precária digerida num ambiente de ansiedade,
somatizando numa irritação gástrica, que vai eclodir num órgão de choque, que
pode ser o estômago.

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Isso prova que vários olhares sobre o mesmo assunto mostram o quão
complexo é cada situação e o quanto podem se tornar ricos os debates entre os
vários fazeres científicos.
Quanto ao modo empírico de fazer ciência, pode-se afirmar que um dos
principais impulsos na Psicologia teve sua origem nas observações e experimentos
de Charles Darwin (1809-1882), o fundador da moderna doutrina genética e da
hereditariedade.
“A Origem das Espécies" (1859), magnífica obra deste cientista, influenciou
de modo revolucionário quase todos os domínios da Ciência, desde a Física e
Química, passando pela Biologia até chegar à Psicologia. Essa obra promove
debates, os mais acalorados, e inúmeras teses, colocando como inimigos frontais
teólogos e cientistas, lógico, dentro de uma perspectiva excludente, fragmentada e
dualista.
Além das suas investigações biológicas, Darwin ocupou-se igualmente de
uma série de problemas que hoje denominaríamos psicológicos. As idéias de Darwin
deram um novo impulso à investigação psicológica e constituíram o fundamento
para muitos campos da moderna Psicologia: - a Psicologia do Desenvolvimento e a
Psicologia Animal; o estudo da expressão dos movimentos afetivos, a investigação
das diferenças entre os diversos indivíduos; - o problema da influência da
hereditariedade em comparação com a do meio ambiente; o problema do papel da
consciência; e, logo a seguir; o estudo experimental das funções anímicas como
também a introdução do princípio quantitativo da investigação.
O historiador Boring, cuja formação acadêmica remonta a Wilhelm Wundt,
passando por Edward E. Titchener, afirma, em determinado passo, acerca da
psicologia americana, que ela herdou o corpo da investigação experimental alemã; o
espírito, porém, provém de Darwin. Refere-se assim à tradição americana fundada
com base em William James (1842-1910) e John Dewey (1859-1952) que -
diferentemente da tradição alemã criada por Wundt - transfere para primeiro plano
as questões da Biologia, do Desenvolvimento e da Atividade Anímica.
Historicamente é interessante verificar que as primeiras publicações de
Fechner e Wundt sobre as Percepções Sensoriais surgiram ao mesmo tempo em
que a "Origem das Espécies" de Charles Darwin: os "Elementos de Psicofísica" de

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Fechner apareceram em 1860 e os "Contributos para uma Teoria das Percepções
Sensoriais" de Wundt, no ano de 1862. (DAVIDOFF, 2003).

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1.3 WUNDT: DA PSICOLOGIA EXPERIMENTAL FISIOLÓGICA À
PSICOLOGIA DOS POVOS

Wundt

serendip.brynmawr.edu

Wundt é considerado por muitos estudiosos como o pai da Psicologia. Sem


dúvida, a posição de destaque que Wundt ocupa entre os psicólogos e a sua
influência internacional, gigantesca, tem sua fundamentação numa série de
circunstâncias: Wundt não se limitou a criar em 1879, em Leipzig, o primeiro
laboratório destinado à investigação experimental dos fenômenos da consciência,
fato que muitos consideraram o marco inicial da Psicologia como ciência
independente.
Ele desenvolveu, além disso, um sistema amplo para o nascimento desta
nova ciência, pesquisando aspectos que iam desde a Psicologia Experimental
Fisiológica até a Psicologia dos Povos, dando origem àquilo que hoje se conhece
como Psicologia Social e Comunitária. Essa ampla gama de estudos dentro da
Ciência Psicológica demonstrava que Wundt possuía invulgar capacidade e
fecundidade para o trabalho.
Fato curioso é que a base teórica da Psicologia pensada por de Wundt vinha
da Física. Não é à toa que hoje se fala em termos como campos de tensão dentro
da dinâmica dos grupos.
Tal como um físico, ele pretendia encontrar elementos e processos
elementares; a partir deles pensava poder construir a alma como um todo. No
entanto, também ele próprio, no fundo, não estava absolutamente convencido desta
idéia, como demonstra o fato de ter esperado que a Psicologia dos Povos

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fornecesse de qualquer modo conhecimento para os fenômenos mais complexos da
alma humana.
Apesar da grandiosa concepção fundamental, a Psicologia dos Povos de
Wundt não levou a quaisquer resultados duradouros precisamente no que se refere
à compreensão dos fenômenos mais complexos ou mesmo daqueles que dizem
respeito ao desenvolvimento humano. Mesmo porque Wundt não chegou a
desenvolver um conceito preciso daquilo que seria essa área da Psicologia, a
Psicologia dos Povos.
Enquanto Wundt militava em defesa da Psicologia dos Povos, outros
pensadores estudavam os fenômenos de maturação por meio da observação de
animais e de crianças, o que daria origem à Psicologia do Desenvolvimento. Esse
sistema de pensamento incide exclusivamente sobre a observação do
comportamento animal e humano e dos processos de maturação de tal
comportamento. De Francis Galton a Lloyd Morgan, William McDougall, Thorndike,
Yerkes e John B. Watson, encontramos uma série de investigações brilhantes que
se ocupam das questões da hereditariedade, do comportamento animal, dos
instintos e do comportamento infantil.
O estudo do comportamento observável é um dos pilares doutrinários do
Behaviorismo e os estudos realizados por seus seguidores baseavam-se quase que
exclusivamente em observações animais e de crianças. Hoje em dia a Psicologia
Animal e a Psicologia Infantil constituem dois ramos extremamente vastos e
significativos da investigação psicológica, apesar de que já são necessários vários
cuidados legais, pelos abusos antes cometidos por pesquisadores menos avisados.
Em pesquisas que envolvam seres humanos, por exemplo, é necessário,
atualmente, que seja assinado um termo de Livre Consentimento. É preciso
conhecer de que trata a pesquisa e quais os possíveis riscos envolvidos nela, para,
só assim, decidir se deseja fazer parte da experiência ou não.
Em relação aos animais, o pesquisador precisa garantir, através de
documentações específicas, que este não vai sofrer nenhum dano. Controvérsias à
parte, o certo é que a tradição das observações realizadas em animais foi
perpetuada em muitos países e pela comparação cuidadosa entre: o comportamento
animal e humano, levada a efeito nas investigações de Wolfgang Köhler, Howard
Liddel, Nikolaas Tinbergen, Konrad Lorenz e Otto Koehler, permitiu que se

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obtivessem conhecimentos fundamentais sobre as funções psíquicas em diferentes
fases do desenvolvimento.
Muitas pesquisas relacionadas a medicamentos, por exemplo, parte da
generalização dos resultados obtidos do estudo com animais. É do conhecimento
geral o grande incremento sofrido pela Psicologia da Criança e do Adolescente;
amplificadas ao âmbito da investigação experimental, desde Karl Bühler e David
Katz até Arnold Gesell e Jean Piaget.
Praticamente toda a teoria piagetiana foi obtida a partir de observações dos
seus próprios filhos. Um estudo cuidadoso e que certamente exigiu muito do seu
espírito investigativo. Foram anos a fio para que fosse possível elaborar a sua teoria,
de contribuição inestimável também para a Psicologia Clínica infantil, de maneira
mais específica.

1.4 PSICOLOGIA DA INTELIGÊNCIA E DA FORMA

É impossível falar da Psicologia da Inteligência e da Forma sem citar nomes


como: Franz Brentano (1838-1917), Christian von Ehrenfels (1859-1932) e Edmund
Husserl (1859-1938). Estes dois grupos, que costumam normalmente serem
designados por Escola de Würzburg e de Berlim, insistiam em que a compreensão
das relações de sentido e a percepção de formas, ou seja, de formas e totalidades.
São processos de uma espécie própria e não se podem explicar como sendo
formados por elementos, ou seja, a forma não se mostra absoluta, mas existe uma
relação entre a forma e a percepção de quem vê, para que haja um sentido. Esse
pensamento explica de certa forma, a existência da relatividade e do significado da
arte.
O valor da obra artística, uma tela, por exemplo, está no significado atribuído
pelo observador. Esta Escola Psicológica demonstra que o todo tem um significado
maior do que o que teria simplesmente em unirem as suas partes.
Fazendo uma analogia a esse pensamento e demonstrando-o, por exemplo,
na rotina de uma policlínica, diria que trabalhar numa equipe interdisciplinar de
saúde tem um efeito muito superior que tentar unir conclusões de trabalhos isolados
de diversos profissionais de saúde, produzidos de forma individualizada. Daí ser a
máxima desta Escola: “O todo é mais que a soma de suas partes”.

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Os pensadores da Psicologia da Inteligência e da Forma apresentavam,
além disso, a comprovação experimental para provar a exatidão da sua tese. Não
são as representações, mas sim as suas relações que decidem o sentido de um
pensamento, afirmou Karl Bühler, um dos jovens representantes da Escola de
Würzburg, ao ser contestado por Wundt.
As percepções estruturais do pensamento são operações específicas, por
meio das quais se constroem as nossas percepções: as impressões sensoriais não
são simplesmente refletidas e ligadas umas com as outras, mas dá-se a partir de
diferentes centros cerebrais, uma projeção das impressões sensoriais em diferentes
direções, o que faz com que cada pessoa interprete e veja o mundo de uma
determinada forma. (Pimentel, 2003; Perls, 1969).

1.5 O PRINCÍPIO DO SENTIDO

“Minha vida carece de sentido”. “É preciso dar sentido à existência.”


“Menino, dê um rumo à sua vida!” Todos certamente já ouviram frases assim, que
denotam, de certa forma, a necessidade de que a vida tenha um significado, uma
direção, senão se transformaria num barco a deriva.
Eduard Spranger trouxe à Psicologia o que denominava de valores
espirituais, aos poucos retornando à mesa de discussão, dentro de uma perspectiva
mais abrangente e menos reducionista. "Reivindico a palavra Psicologia para a
ciência da vida provida de sentido" declarou Eduard Spranger no ano de 1922, numa
máxima verdadeiramente clássica. A palavra "sentido" é definida aqui de modo
diferente do que na Psicologia da Inteligência, para a qual sentido significa o
contexto espiritual de um pensamento.
Sentido aqui é definido como "aquilo que está integrado num todo de valores
como membro constituinte" ou, por outras palavras, provido de sentido é aquilo que
contribui para a realização de valores, o que amplia a função da Psicologia, de
apenas explicativa para algo compreensivo. Spranger, que, seguindo as idéias de
Wilhelm Dilthey (1833-1911), contrapõe uma Psicologia compreensiva à Psicologia
explicativa dos experimentalistas.

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O essencial na vida humana passa a ser a orientação dos valores. Dever-se-
ia compreender a pessoa a partir do "espírito objetivo", produtor de valores.
Na linguagem da moderna Psicologia isso quer dizer que Spranger se
ocupava exclusivamente com as finalidades de valor e com os produtos de cultura
formados através deles, enquanto considera o estudo da realização das ações
humanas desprovidas de importância.
Porém, como Karl Bühler acentua na sua obra "A Crise da Psicologia",
ambos os aspectos são importantes. É necessário entender que se tratam apenas
de aspectos diferentes de um mesmo ser, o ser humano. Portanto, uma dimensão
não deve excluir a outra, mas a ela se complementar. Ação e sentido são inerentes
à alma da pessoa. De nada adianta a execução de tarefas se aquilo não vier provido
de sentido e, a falta deste sentido tem promovido diversos transtornos psíquicos no
mundo do trabalho. Um terceiro grupo ocupou-se ainda de outra maneira com a
relação de sentido das finalidades.
Este fato mostra cada vez mais claramente que o ponto de vista do sentido
ocupa um plano especial na Psicologia atual. É a relação de sentido da ação
motivada, tal como Sigmund Freud (1856-1939), o fundador da Psicanálise, a viu e
descreveu - aliás, descreveu-a, no início da sua teorização dentro dos limites daquilo
que ele definiu como Libido, e que pode ser rapidamente conceituado como energia
vital.
Aos poucos a relação de sentido da ação motivada foi se ampliando, até
compreender-se a concepção cada vez mais divulgada de que todo o nosso
pensamento e procedimento visam a satisfação de determinadas necessidades e
adquire o seu sentido a partir de tal necessidade ou desejo.
Sob este ponto de vista, todo o procedimento é provido de sentido, uma vez
que é determinado por motivos. Mesmo o pensamento e procedimento daqueles que
estão em sofrimento psíquico têm sentido, isto é, tem em vista um objetivo, ainda
que o sentido dos próprios objetivos seja mal compreendido naquele momento.
No entanto, uma vez que mesmo esse sentido mal compreendido é muitas
vezes susceptível de ser interpretado pelo analista, é possível, em muitos casos,
ajudar a pessoa a adquirir uma melhor autocompreensão e a partir daí um modo de
vida mais equilibrado e harmônico. Dentro de uma perspectiva psicanalítica, pode-se

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afirmar que até aquilo que se sonha é provido de sentido, visto que lhe é inerente
uma finalidade dirigida no sentido da satisfação de necessidades.
A interpretação, introduzida por Freud no pensamento psicológico como
novo princípio fundamental, deve ser utilizado sempre que a pessoa que atua oculta
a si própria e aos outros o verdadeiro objetivo dos seus anseios. Em tais casos, ela
pensa e atua simbolicamente, quer dizer, (acontece inconscientemente), em vez do
objetivo verdadeiro coloca um objetivo substituto ou ilusório, para desviar a atenção
das intenções que lhe parecem contestáveis, reprováveis ou puníveis.
No princípio do sentido amplo aqui desenvolvido, encontram-se incluídos,
tanto o princípio da relação do sentido no nosso pensamento, acentuado pela
Psicologia da Inteligência, como o princípio do sentido das finalidades de valor,
defendido por Spranger. Atravessada por várias teorias, recorrendo a métodos e
técnicas de investigação diversificada, organizada em várias especialidades, a
Psicologia procura, nesta diversidade, responder às questões que desde sempre se
colocaram acerca do comportamento, emoções, sentimentos, relações sociais,
sonhos, perturbações... (NASIO, 1988).

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1. 6 BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A PSICOLOGIA NO BRASIL

Fonte: www.veja.abril.com.br

É possível falar de uma Psicologia genuinamente brasileira? Até bem pouco


tempo parecia impossível até mesmo pensar sobre essa possibilidade.
O filósofo Farias Brito (1912, p. 277 apud Antunes, 2004 ) retrata bem essa
posição pessimista ao questionar que de todo este assunto, de tão alta significação,
o que motivaria entre eles incentivaria o interesse dos homens mais eminentes de
todo o mundo? A resposta deveria ser: nada, absolutamente nada! Pois, para ele,
realmente, o solo da intelectualidade nacional não parecia ser terreno fértil e propício
para a semente da nova Ciência.
Depois de posição tão desoladora, é importante ressaltar que se o
pensamento culto brasileiro não fosse tão fértil, a Psicologia enquanto Ciência não
teria tido a expansão tão grande que teve no início século XX, e ainda hoje continua
tendo. Poucas vezes uma Ciência cresceu tanto e em tantas áreas ao mesmo tempo
como a Ciência Psicológica, e de forma específica, a Ciência Psicológica Brasileira.
O brasileiro tem as suas peculiaridades e, se ainda hoje ainda importamos boa parte
das pesquisas da Europa e dos Estados Unidos, também já se fazem adaptações de
testes psicológicos para a realidade brasileira, o que demonstra o franco
crescimento desta Ciência em nosso País, o Brasil.
A Psicologia enquanto profissão, por exemplo, está presente nas áreas
jurídica, clínica, organizacional, dos esportes, hospitalar, do comportamento animal,

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21
etc. Além disso, o Brasil foi um dos primeiros países do mundo a regulamentar a
profissão de Psicólogo, pela Lei 4.119.
Infelizmente, não há muitos registros daquilo que se produz no Brasil em
termos de Ciência Psicológica, pelo menos em termos proporcionais. Aprendeu-se a
supervalorizar aquilo que vem de fora e a desvalorizar a nossa produção, seja ela
artística ou científica e de que área for.
Por um lado, os profissionais de Psicologia não registram seu trabalho,
talvez por considerarem de pouco valor (Seria um complexo de inferioridade?). Por
outro lado, o Brasil, pelo próprio processo de colonização, sofre daquilo que se pode
denominar “Complexo de Menos Valia”. E assim se forma uma profissão sem
registros, sem memória, sem história, aliás, noção plenamente generalizada para
outras áreas no Brasil. Infelizmente, ainda há uma grande quantidade de
conhecimentos importados, de forma especial, o conhecimento importado dos
Estados Unidos.
O grande problema é que a nossa gente e a nossa cultura são diferentes e
aquilo que se aplica para outros países muito provavelmente não se aplicará para
nosso povo. Principalmente em se tratando de questões psicológicas e emocionais,
pois se tem no Brasil, uma diversidade religiosa e cultural completamente incomum a
outros lugares.
Daí se questionar tanto a validade dos testes psicológicos, em sua grande
maioria criado em outros países e aplicado aqui.
Ao realizar um breve retrospecto da história da Psicologia no Brasil, vê-se
que no início do século XX muitos estudantes que se interessaram pela Psicologia
foram estudar no exterior, vislumbrando problemas e “soluções” típicos daqueles
locais. Ao retornarem ao Brasil, assumiram a posição de intelectuais dominadores,
colocando o Brasil na posição de “objeto de pesquisa”.
Dentro dessa perspectiva, tudo o que partia do povo, sua cultura, suas
crenças, seus valores, era menosprezado, considerado como “não científico”.
Apagar hábitos, costumes e tradições eram “papel científico”, sua “mais nobre
função”. Decorre daí que um povo que não preserva as suas próprias raízes se torna
mais fácil de dominar, pois não reconhece a sua própria identidade. Um povo sem
história é um povo sem identidade.

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E um povo sem identidade assume a identidade de qualquer outro como
sendo sua. O que não é verdade soa falso, inautêntico. Esse fato é visto muito
facilmente nos hábitos alimentares, na linguagem, na forma de vestir... É urgente a
necessidade de nos reconhecermos como Nação e valorizar aquilo que é
genuinamente nosso.
Boa parte desse problema tem a sua origem no Pensamento Positivista,
que não considera o conhecimento histórico como algo de valor científico, o que se
torna um impedimento ao próprio avanço.
Ao desvalorizar a contribuição da cultura pré-científica à evolução do
conhecimento humano, essa corrente restringe a história da Psicologia ao
desenvolvimento da Psicologia científica nos últimos dois séculos.
A exclusão do domínio historiográfico dos conhecimentos psicológicos
difundidos no seio das diferentes tradições culturais e julgados não relevantes.
Implica a renúncia à memória das raízes dessa disciplina presente em tais tradições
e o esquecimento das questões originais que determinaram o seu surgimento, ou
favoreceram sua influência e seu desenvolvimento em específicos ambientes
culturais. Outra conseqüência é a redução da Psicologia a apenas a européia e
norte-americana, revestidas de uma pretensa universalidade. (ANTUNES, 2004).
Felizmente, o que era visto como avanço científico, hoje é visto como sério
entrave ao conhecimento. Não há mais como negar o profundo nexo entre Ciência e
conhecimento histórico. Parte daí a busca incessante de vários estudiosos em
Psicologia para encontrar as verdadeiras raízes do conhecimento psicológico
brasileiro.
A partir do séc. XVI o que se vê é uma combinação original entre o que se
pode denominar de Psicologia indígena e conhecimentos europeus.
Como exemplos destes primeiros registros podemos citar os seguintes
títulos: Tratados da Terra e Gente do Brasil (Londres, 1625), Notícias curiosas e
necessárias sobre o Brasil: (Lisboa, 1668), Crônicas (Lisboa, 1661), Sermões-15
volumes (Lisboa, 1696), Arte de criar bem os filhos na idade de puerícia (Lisboa,
1685), Nova Escola para aprender a ler, escrever e contar, (Lisboa, 1722), Viridiário
Evangélico IV volumes (Lisboa, 1724; 1734; 1746, 1755), Progymnasma Literário e
Tesouro de erudição sagrada e humana, para enriquecer o ânimo de prendas e a
alma de virtudes (Lisboa, 1737), Reflexões sobre a vaidade dos homens ou

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Discursos Morais sobre os efeitos da vaidade (Lisboa, 1752), Problemas de
Arquitetura Civil, a saber: Porque os edifícios antigos têm mais duração e resistem
mais ao tremor de terra que os modernos? (Lisboa, 1770).
Muito interessantes são os relatos sobre o comportamento social dos índios
numa fase de pré-colonização. Eles revelam muito sobre uma forma peculiar de
Psicologia, a indígena. De acordo com esses relatos, o amor às crianças é intenso e
se alguém trata bem aos pequenos indígenas tem dos pais aquilo de que precisar.
O papel maternal é extenso, ou seja, as mulheres das tribos cuidam das
crianças como se fossem suas mães. Depois do parto, a mulher se levanta e ocupa
de suas tarefas domésticas e da roça. Enquanto o marido fica deitado na rede e
recebe as visitas e os cuidados de amigos e parentes – como se fora à mulher –
Para dar atenção à criança, o pai se afasta do trabalho e permanece em casa. A
mãe amamenta a criança exclusivamente de leite materno até um ano, um ano e
meio e em alguns casos até os sete ou oito anos.
As índias, no período da colonização, foram proibidas de amamentar seus
filhos por período prolongado – À moda das mulheres portuguesas, que entregavam
seus filhos às amas nos primeiros anos -, tendo como justificativa que, se
amamentadas, as crianças cresceriam ‘frouxas’. Atualmente, o hábito de amamentar
é amplamente estimulado e reconhecido como benéfico pela Ciência.
Há relatos deste período de que as crianças indígenas participam
ativamente da sociedade e da rotina da vida adulta. Os pais levam as crianças para
junto de si quando vão trabalhar. De igual modo, os hábitos higiênicos são
aprendidos desde cedo: as crianças levantam cedo e vão ao rio, lavar-se e nadar.
Os jogos simbólicos, tão enfatizados por psicanalistas como Erik Erikson e
Bruno Bettelheim são prática comum na vida das crianças indígenas há muito
tempo. Iniciadas na vida social e religiosa desde cedo, elas cantam, dançam e
representam nas suas tribos e as brincadeiras variadas são feitas com muita alegria.
Segundo relatos do período colonial, as crianças eram muito mais alegres que os
meninos portugueses e as brincadeiras ocorriam sem brigas nem palavrões. É
prática comum, os mais hábeis ensinarem os outros a tocar e a cantar.
Não se observam práticas punitivas nas comunidades indígenas e há uma
relação de estreito afeto entre pais e filhos. Também não se observa uma divisão
radical entre infância e vida adulta, mas as regras sociais são transmitidas

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gradativamente, sempre ao lado de algum adulto, pai ou mãe, o que se transforma
numa fonte de segurança e saúde emocional.
As condições de vida social indígena aparecem como elementos que
facilitam um desenvolvimento psíquico sadio e bem integrado em todos os seus
fatores. A clareza acerca do significado e da positividade da vida, transmitida pelos
adultos, permite à infância indígena uma alegria, vivacidade, abertura à realidade,
muitas vezes relatadas pelos missionários e viajantes do período colonial, em seus
diários.
Pode-se dizer que, de modo geral, na formação da cultura brasileira, a
Psicologia, antes do advento deste saber enquanto Ciência ocupava um lugar de
conhecimento generalizado difuso, presente em diversas áreas humanas. No Brasil
do séc. XIX, a Psicologia se restringe na transmissão e interpretação de
conhecimentos vindos da Europa e Estados Unidos. Observa-se uma
descontinuidade entre conceitos e práticas de conhecimentos psicológicos do
período colonial e aqueles adquiridos no século XIX.
Este fato se deve à intensa desvalorização de tudo o que foi aprendido
anteriormente, havendo, então, uma tentativa de apagar todo e qualquer registro e
impregnar uma “nova psicologia”, a “psicologia médica”.
Quase nada se sabe acerca das produções brasileiras. Pouco se fala das
publicações psicopedagógicas de Alexandre de Gusmão, da obra de Pe. Vieira ou
do Frei Mateus da Encarnação Pinna. Nossos pensadores não são reconhecidos, à
época, como intelectuais.
Pode-se afirmar que o esquecimento praticado no século XIX a respeito da
tradição anterior é uma das causas da “perda de memória” da Psicologia atual. A
fragmentação e a dispersão dos conhecimentos psicológicos também são uma
grande barreira à tentativa de unificação desta Ciência, pois seus conhecimentos
nascem da Medicina e da Filosofia e perpassam a Política, Sociologia, Direito e
Religião.
Sem dúvida, as dificuldades se iniciam a partir de seu objeto de estudo: a
subjetividade humana. Apesar disso, ou até mesmo por causa disso, a Psicologia
também é reconhecida como uma Ciência altamente rica e complexa, perpassando
várias áreas humanas.

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2 GRANDES PENSADORES DA PSICOLOGIA E AS BORDAGENS DELES
DERIVADAS

Letra grega psi, símbolo da Psicologia

2.1 Início, o Estruturalismo

Considera-se como fundador da psicologia moderna Wilhelm Wundt, por ter


criado, em 1879, o primeiro laboratório de psicologia na universidade de Leipzig,
Alemanha. A psicologia só se tornou uma ciência independente da filosofia graças a
Wundt, nos finais do século XIX. Foi a partir deste acontecimento que se
desenvolveram de forma sistemática as investigações em psicologia, através de
vários autores que a esta ciência se dedicaram, construindo múltiplas escolas e
teorias.
Wundt criou o que, mais tarde, seria chamado de Estruturalismo, por
Edward Titchener; cujo objeto de estudo era a estrutura consciente da mente, as
sensações. Segundo esta perspectiva, o objetivo da psicologia seria o estudo
científico da Experiência Consciente através da Introspecção. Titchener levou a idéia
da Psicologia para os Estados Unidos da América, modificando-a em alguns pontos.
As principais limitações do Estruturalismo residem no fato de a introspecção não ser
um verdadeiro método científico incontestável e de esta corrente excluir a psicologia
animal e infantil. Esta corrente foi extinta em meados do século XX. (Badcock,
1976).

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2.2 Funcionalismo

O Funcionalismo é o modelo que substitui o Estruturalismo na evolução


histórica da Psicologia, sendo o seu principal impulsionador William James. O
principal interesse desta corrente teórica residia na utilidade dos processos mentais
para o organismo, nas suas constantes tentativas de se adaptar ao meio. O
ambiente é um dos fatores mais importantes no desenvolvimento. (Cultural, 1974).

2.3 Wundt e o Associacionismo

Wilhem Wundt (1832-1920), juntamente com o seu discípulo Tichener, inicia


o caminho que irá levar a Psicologia a atingir o estatuto de ciência.
Começa por definir como objeto da psicologia o estudo da mente: O estudo
da mente (ou consciência) faz-se ao nível do consciente do ser humano pela análise
dos elementos simples da mente, à semelhança da divisão em átomos da realidade.
(Monteiro 2003).
Para ele e seus seguidores (nomeadamente Edward Tichener, 1867-1927),
as operações mentais não eram mais do que a organização de sensações
elementares, procurando relacioná-las com a estrutura do sistema nervoso.
No seu laboratório, em Leipzig, vai procurar conhecer a forma como se
relacionam e associam os elementos da consciência: é a concepção
associacionista (vide associacionismo) dos comportamentos.
Para atingir este objetivo, vai utilizar como método a introspecção
(observação interna), mas de um modo controlado: Observadores treinados
deveriam, no laboratório, descrever as suas próprias experiências, resultantes de
uma situação experimental definida. Os dados eram depois relacionados e
interpretados por uma equipe de psicólogos; ex. após a apresentação de um
estímulo visual ou som teriam de descrever as sensações recorrendo a um conjunto
definido de termos para maior objetividade.

2.4 Pavlov e a Reflexologia

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www.sonoma.edu/psychology/images/pavlov.gif

Você está condicionado a fazer isto ou aquilo. Joãozinho precisa de um


reforço escolar. Os trabalhadores da empresa estão sem estímulo. Seqüestradores
precisariam ser punidos no Brasil. Todos nós já ouvimos expressões desse tipo pelo
menos uma vez na vida.
Em grande parte o nosso vocabulário de base comportamentalista se deve
ao pensador Pavlov, devido a uma de suas clássicas experiências fisiologistas e
uma das mais conhecidas é a que ele realizou com cães.
De modo simples esse experimento pode ser descrito de forma simplista, da
seguinte forma: O cientista tocava uma sineta e em seguida oferecia alimento ao
cão.
Depois de algumas vezes repetindo essa experiência ele passou a apenas
tocar a sineta e observou, através de equipamentos de laboratório que esse simples
estímulo estimulava as glândulas salivares do cão, fazendo-o produzir secreção e
exibir um comportamento de esperar pela chegada do alimento. Esse
comportamento poderia ser reforçado e se tornar cada vez mais forte ou se tornar
tênue até a ponto de ser extinto, a depender das variáveis apresentadas ao sujeito.

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Extraído do site http://animalbehaviour.net/gifs+pics/Pavlov's_dog.jpg

Os conhecimentos advindos dos experimentos de Pavlov se generalizaram


e, com as devidas adaptações, puderam ser utilizados em muitas outras áreas e
atualmente são empregados nos setores empresarial, escolar e clínico,
principalmente. Na área de adestramento animal, até hoje os princípios da
Reflexologia de Pavlov são empregados.
Pavlov continuou suas pesquisas em ritmo intenso, estudando
minuciosamente aquilo a que hoje denominamos sistema nervoso e sistematizou um
conjunto de leis fisiológicas, o que lhe valeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1904.
Segundo este cientista, é no córtex cerebral o local onde reside o espírito. É lá onde
os comportamentos nascem, se modificam e são extintos.
Atualmente, estas idéias já não são utilizadas de forma tão radical, apesar
de muitas delas se fazerem presentes, de forma mais sutil, no chamado
neobehaviorismo; contudo, é na aprendizagem onde ganha um forte impacto. Veja o
nosso sistema de avaliações, por exemplo!
O pensamento pavloniano foi aprofundado pelo cientista J.B.Watson. Ao
reflexo condicionado de Pavlov, ele acrescentou o condicionamento denominado
operante. Era tanta a confiança de Watson que ele afirmou em certa ocasião que
bastava entregar nas mãos dele uma dúzia de crianças bem nutridas e um ambiente
favorável no qual ele as transformaria naquilo que ele quisesse e isso não iria

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depender da raça, aptidões ou inclinações intelectuais. Da mesma forma, poderia
transformar essas crianças em ladrões ou pedintes, caso desejasse.
Essa forma de pensar e fazer a Psicologia trouxe para si um sem-número de
críticas, principalmente a de ser “reducionista”, ou seja, o pensar psicológico estaria
reduzido ao comportamento, fosse ele humano ou animal.
O fato é que, por causa desse sistema de conhecimentos sobre o
comportamento, a Psicologia pode ser reconhecida atualmente como Ciência,
embora ainda seja vista com certa desconfiança pelos pensadores mais radicais de
outras áreas, principalmente aquelas mais antigas, como o Direito e a Medicina. É
lógico que isso não se aplica a todos.
Para os behavioristas, entretanto, que se utilizavam e ainda se utilizam, do
conhecimento objetivo, todo e qualquer comportamento poderia ser medido,
quantificado, controlado, como também a possibilidade de repetir ações poderia ser
prevista.
Dentro de uma perspectiva mais radical, pode-se afirmar que a
hereditariedade não é levada em conta e o ambiente só é considerado como forma
de exercer um maior controle sobre as variáveis. Emoções não são levadas em
conta. Não se cogita o subjetivo. Contudo, houve um intenso estudo dos processos
cognitivos, dando origem em grande parte àquilo que hoje se denomina
Neuropsicologia.
O pensamento Behaviorista Radical é norteado por princípios que aos
nossos olhos podem parecer estranhos, a depender da perspectiva com que
observarmos esses parâmetros: Essa corrente apregoa que todo e qualquer
comportamento se constitui de uma resposta a estímulos. Comportamentos simples
são formados por cadeias menores e comportamentos mais complexos são
simplesmente o somatório de redes mais simples de comportamentos interligados.
O comportamento humano passa a ser visto, então, como fruto dos
movimentos musculares e das secreções glandulares, o que parece absurdo aos
nossos olhos. Watson não se resumiu à vida acadêmica, mas chegou a ser vice-
presidente de uma agência de propaganda.
Dentro dessa linha de pensamento também se destacaram nomes como
Skinner, Tolman e Hull.

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2.5 Behaviorismo, a primeira potência

Fonte: John B. Watson. Retirado de arbeitsblaetter.stangl-taller.at

A maior escola de pensamento americana surgiu no início do século XX,


sendo influenciada por teorias sobre o comportamento e fisiologia animal. A
tradução do inglês de Behavior é comportamento, portanto, o foco de estudo do
comportamentismo ou comportamentalismo (título traduzido) é o comportamento
observável, e o condicionamento é o método utilizado nesta escola. Foi fundada por
John B. Watson (Behaviorismo Metodológico) que acreditava que o controle do
ambiente de um indivíduo permitia desencadear qualquer tipo de comportamento
desejável. Traz do funcionalismo a aplicação prática da Psicologia; o seu foco está
na aprendizagem. Segundo esta perspectiva não se pode estudar cientificamente os
pensamentos, desejos e sentimentos que acompanham os comportamentos em
estudo. (Watson, 1972).

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2.5.1 Burrhus Frederic Skinner

Skinner

www.facade.com/celebrity/B_F_Skinner/

Foi influenciado, inicialmente, pelas teorias de Ivan Pavlov e Edward


Thorndike. E, posteriormente, pelas teorias do operacionismo. Foi Burrhus Frederic
Skinner o maior autor neocomportamentalista, levantando a tona seu
condicionamento operante e a modificação do comportamento (Behaviorismo
Radical).
No meio do século XX, vários autores escreveram sobre o pensamento, a
cognição. Diziam fazer parte do comportamento este pensamento, estava sendo
criada uma divisão no behaviorismo: a Psicologia Cognitiva. Alguns autores desta
escola foram: Albert Bandura, Julian Rotter e Aaron Beck. Estes falavam que o
comportamento pode ser entendido também a partir da cognição. O aprendizado
pode existir sem a necessidade de condicionamento em laboratório, mas pela
observação e elaboração do que foi visualizado. É chamada de a primeira grande
força da psicologia. (Skinner, 2006).

2.6 Gestalt, a psicologia da forma

Retirado de web.educastur.princast.es/.../191gestalt.gif

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Fundada dentro da filosofia por Max Wertheimmer e Kurt Koffka a Gestalt
traz novas perguntas e respostas para a Psicologia. Ela se detém nos campos da
percepção e na visão holística do homem e do mundo. A palavra gestalt não tem
uma tradução para o português, mas pode ser entendida como forma, configuração.
Criticava principalmente a psicologia de Wundt, que era chamada de Psicologia do
"tijolo e argamassa", pois via a mente humana dividida em estruturas.
A gestalt preocupa-se com o homem visto como um todo, e não como a
soma das suas partes (o lema da Gestalt é justamente este: O todo é mais que a
soma das suas partes). No ano de 1951, Frederic S. Pearls cria a teoria Gestalt-
terapia, trazendo consigo a teoria de campo de grupos de Kurt Lewin.

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2.7 Psicanálise

Sigmund Freud. Retirado de www.thecjc.org/sfreud.htm

Quando se pensa em procurar um psicólogo, um emaranhado de idéias


invade a mente: Tem-se a falsa impressão de que é preciso estar transtornado
emocionalmente ou mentalmente para procurar ajuda. Na verdade o psicólogo
deveria trabalhar numa perspectiva muito mais de promoção à saúde que
propriamente no âmbito meramente curativo, mas os preconceitos em relação ao
seu trabalho muitas vezes o impedem de trabalhar dentro dessa perspectiva.
Também se imagina uma sala sombria, com móveis pretos e um divã. Atrás
dele alguém calado e de aspecto severo, fechado. Muito desse imaginário coletivo
faz parte do legado deixado por Sigmund Freud, Pai da Psicanálise (1856-1939).
Na verdade nem todo psicanalista é psicólogo. Ele pode ser formado em
Medicina, por exemplo. O médico psiquiatra também pode se utilizar a Psicanálise
para a elaboração de alguns conceitos.
O psicólogo por sua vez, trabalha dentro do que denomina abordagem, que
pode ser: Humanista, Existencialista, Behaviorista ou Psicanalista, a depender da
base teórica que dá sustentação à sua prática. Isso também não quer dizer que o
psicólogo só possa utilizar-se dos conhecimentos de sua abordagem.

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É cada vez maior o número de psicólogos denominados temáticos, ou seja,
aqueles que se utilizam diversos arcabouços teóricos, a depender da demanda
daquele momento. São também denominados de psicólogos ecléticos.
Sigmund Freud foi um médico psiquiatra que estudou sobre vários assuntos
e levou bem mais tempo que seus colegas para se formar, por ter utilizado boa parte
de seus anos em estudos de laboratório.
Estudou, por exemplo, temas como a fisiologia dos peixes. O seu interesse
pela Psiquiatria, entretanto, se iniciou com as descobertas de Charcot, seu futuro
mestre, e os estudos sobre Histeria, considerado naquela época, doença de mulher,
principalmente daquelas que não haviam casado. O termo histeria vem de ‘útero’ e
até hoje as mulheres solteiras de idade mais avançada são chamadas de forma
desprezível, de histéricas.
Freud descobriu que a histeria possuía causas emocionais e que as pessoas
nas quais eram recalcadas, ou seja, as que não extravasavam seus desejos
libidinais, poderiam sofrer de crises histéricas, inclusive homens. Essa descoberta,
ao ser proclamada em um encontro científico, causou furor nos médicos presentes,
que se retiraram, deixando o Dr. Freud falando sozinho naquele encontro
internacional. Freud viu suas aulas particulares se esvaziarem de alunos. Como
também suas turmas da faculdade se tornaram pouco freqüentadas.
Polêmico, mas obstinado, estudava até às três horas da manhã, e muito
material escrito acabava sendo jogado no lixo, pois já discordava de tudo aquilo.
Suas teorias iam ser reescritas por várias vezes durante a sua vida. Trabalhou com
hipnose, mas logo reconhecera a sua falta de habilidade com tal técnica e percebeu
que poderia produzir os mesmos efeitos com a técnica da associação livre, o que
daria origem à cura pela fala, ou, como ficaria conhecida mais tarde, psicanálise.
A Psicanálise foi considerada por Freud como um conhecimento firmado em
um tripé composto por técnica, teoria e pesquisa, principalmente. A Psicanálise é
conhecida pela investigação do inconsciente e pela descoberta da sexualidade
infantil, tema polêmico até hoje. Freud não teve apenas um mestre, mas vários
nomes inspiraram sua teoria, desde Goethe a Nietzsche e costumava ler desde
literatura e antropologia, a livros de Biologia e Fisiologia Animal. Também tinha uma
predileção por antiguidades.

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Um personagem importante da psicanálise é seu discípulo, Carl G.Jung,
primeiro presidente da sociedade psicanalítica. Com o avanço da teoria de Freud em
relação à sexualidade infantil, Jung, que não concordava com o que Freud afirmava
acerca do assunto, rompe com o psicanalista e segue outro caminho, criando uma
nova teoria, denominada psicologia analítica.
A proposta inicial foi retirar do inconsciente o seu teor puramente sexual.
Mas Freud retifica o ex-colega, dizendo que "o ego possui várias naturezas das
pulsões, mas a pulsão sexual é a que ganha mais investimento". Freud, inclusive,
alerta que é possível canalizar as pulsões libidinais para as artes ou a produção
científica.
O conceito de inconsciente foi criado anos antes, e Freud utilizou-se desse
termo com outro sentido, encarregando-se de criar uma teoria acerca do tema. Na
psicanálise, inconsciente significa outra ordem, com outras regras, um dos
elementos do aparelho psíquico, constituído por pensamentos, memórias e desejos
que não se encontram em nível consciente, mas que exercem grande peso no
comportamento humano.
Existem atualmente várias correntes psicanalíticas, oriundas de pensadores
que ampliaram ou discordaram da visão freudiana. Dentre estes nomes estão Anna
Freud, filha de Freud, Melanie Klein, Lacan, Bion,Winnicott, Carl G. Jung, Alfred
Adler, Erik Erikson, Carl Rogers etc. (TALAFERRO, 1996).
A psicanálise hoje se apresenta de várias formas, que são a psicanálise
ortodoxa, a psicanálise nova (ou neopsicanálise) e a psicologia de orientação
analítica ou de orientação psicanalítica (utilizada não só por psicanalistas formados,
mas também por psicólogos não especializados), todas com algumas
peculiaridades.
A Psicanálise é considerada a segunda grande força de Psicologia, e
segundo o Conselho Federal de Psicologia Brasileiro e demais Conselhos Regionais
de Psicologia (CRPs). A psicanálise é aceita no meio acadêmico, porém só pode ser
utilizada de forma integral com uma formação em Psicanálise, devo dizer que ainda
não reconhecida pelo MEC. Caso contrário, deve-se utilizar a técnica de psicoterapia
de orientação psicanalítica.

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Para a Psicanálise, as ações humanas são orientadas, basicamente, por três
instâncias mentais (simbólicas):

 Consciente (EGO) - Raciocínio, operações lógicas;


 Pré-consciente (SUPEREGO) - Memórias, interiorização de regras
sociais, produzem angústias, ansiedades e “pune” o EGO quando este aceita
impulsos vindos do ID;
 Inconsciente (ID) - pulsões, desejos e medos recalcados. Não obedece
à lógica nem à moral. Representa os impulsos e os instintos.

Para ter acesso ao inconsciente, o psicanalista utiliza processos indiretos,


tais como:

 Hipnose – Consiste em induzir o paciente, através de uma sugestão


intensa, a um estado semelhante ao sono, a partir do qual é possível estabelecer a
comunicação com o hipnotizador e ser sugestionado, podendo assim revelar
memórias ocultas ou ser condicionado para determinada ação ou comportamento.
A hipnose é pouco usada atualmente. Sua utilização se restringe ao controle
de comportamentos de uso abusivo de álcool e drogas e só deve ser praticado por
profissionais capacitados e treinados devidamente.

 Método psicanalítico, recorrendo às técnicas de:

o Interpretação dos sonhos


o Interpretação de atos falhos
o Transferência, ou seja, o paciente atua, durante a sessão, em relação
ao psicanalista, como se ele fosse uma outra pessoa: pai, mãe, namorado, etc.
Cabe ao profissional trabalhar com essa “encenação” de forma a levar o paciente à
cura de seu trauma. Nesse jogo se encontram envolvidos sentimentos e emoções
muito fortes, de raiva, ressentimento, paixão...
A Psicanálise se popularizou demais, o que levou seu vocabulário a ser
utilizado de forma indiscriminada e também a graves erros de interpretação. Além
disso, várias pessoas praticantes de charlatanismo se dizem “psicanalistas”.

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2. 8 HUMANISMO

Carl Rogers

www.psychotherapie-netzwerk.de

O enfoque da psicanálise no inconsciente, e seu determinismo, e o enfoque


na observação apenas do comportamento, pelo behaviorismo, foram às críticas mais
fortes dos novos movimentos de Psicologia surgidos no meio do século XX. Na
verdade o humanismo não é uma escola de pensamento, mas sim um aglomerado
de diversas correntes teóricas.
Em comum elas têm o enfoque humanizador do aparelho psíquico, em
outras palavras elas focalizam o ser humano como detentor de liberdade, escolha,
sempre no presente. Traz da filosofia fenomenológico-existencial um extenso
gabarito de idéias. Foi fundada por Abraham Maslow, porém a sua história começa
muito tempo antes. A Gestalt foi agregada ao humanismo pela sua visão holística do
homem, sendo importante campo da Psicologia, na forma de Gestalt-terapia. Mas foi
Carl Rogers, um psicanalista americano, um dos maiores exponenciais da obra
humanista.
Ele, depois de anos afinco praticando psicanálise, notou que seu estilo de
terapia se diferenciara muito da terapia psicanalítica. Ele utilizava outros métodos,
como a fala livre, com poucas intervenções, e o aspecto do sentimento, tanto do
paciente, como do terapeuta. Deu-se conta de que o paciente era detentor de seu

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tratamento, portanto não era passivo, como passa a idéia de paciente, denominando
então este como cliente.
Era a terapia centrada no cliente (ou na pessoa) Seus métodos foram
usados nos mais vastos campos do conhecimento humano, como nas aulas
centradas nos alunos, etc. Apresentou três conceitos, que seriam agregados
posteriormente para toda a Psicologia.
Estes eram a congruência (ser o que se sente, sem mentir para si e para os
outros), a empatia (capacidade de sentir o que o outro quer dizer, e de entender seu
sentimento), e a aceitação incondicional (aceitar o outro como este é, em seus
defeitos, angústias, etc.). Erik Erikson, também psicanalista, trouxe seu estudo sobre
as oito fases psicossociais, em detrimento às quatro fases psicossexuais de Freud,
onde todas as fases eram interdependentes, e não necessariamente determinam as
fases posteriores; para ele o homem sempre irá se desenvolver, não parando na
primeira infância.
Viktor Frankl, com sua logoterapia, veio a acrescentar os aspectos da
existência humana, e do sentido da vida, onde um homem, quando sente um vazio
de sentido na vida, busca auxílio, pois não se sente confortável em viver sem
sentido ou ideais. Diz também que eventos muito fortes podem adiantar a busca
pelo sentido da vida. Tais eventos podem criar desconforto, trauma intenso, mas
podem criar um aspecto de fortaleza no indivíduo. (ROGERS, 1961, 1974).

2.8.1 Pirâmide de Maslow

Maslow trouxe, para a psicologia que havia fundado, estes autores,


agregando, ainda seus estudos sobre a pirâmide de necessidades humanas.

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Para Maslow, as necessidades fisiológicas precisam ser saciadas para que


se precise saciar as necessidades de segurança. Estas, se saciadas, abrem campo
para as necessidades sociais, que se saciadas, abrem espaço para as necessidades
de auto-estima. Se uma destas necessidades não está saciada, há a
incongruência. Quando todas estiverem de acordo, abre-se espaço para a auto-
realização, que é um aspecto de felicidade do indivíduo. Esta é hoje considerada a
terceira grande força dentro da psicologia. (FRICK, 1975).

2.9 Psicologia Transpessoal

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Maslow estava insatisfeito com sua própria teoria, dizendo que faltava-lhe o
fato de o homem ser um ser espiritualizado. Para ele era importante a espiritualidade
e as características da consciência alterada, teoria de Stanislav Grof. Criou então,
com ajuda de outros psicólogos, uma teoria que era abrangente neste aspecto.
Como Carl G. Jung era um estudioso dos aspectos transcendentais da consciência,
foi tomada sua teoria para incorporar a Psicologia transpessoal.
A abordagem Transpessoal é, portanto, uma área da psicologia que estuda
as possibilidades psíquicas (mentais, emocionais, intuitivas e somato-sensoriais) do
ser humano pelos diferentes estados ou graus de consciência pelos quais passa a
pessoa (para se ter idéia do que sejam estados de consciência, lembre-se que o
estado de consciência de quando se está acordado é diferente do estado de
consciência de quando se está dormindo; que o estado de consciência de quando se
resolve um problema de matemática é diferente de quando se assiste a um filme,
etc.). (Jornal Infinito, 2003).
Em cada um destes estados de consciência (que são vários, alguns ainda
desconhecidos) é experimentado uma forma diferente de se perceber ou interpretar
a realidade (quando estamos com raiva ou frustrados, percebemos o mundo de uma
maneira muitíssimo diversa de quando estamos apaixonados).
A Psicologia Transpessoal, portanto, volta-se para o estudo destes diversos
estados, não os encarando como contrários, mas como complementares, dando,
porém, especial ênfase aqueles estados de consciência superiores, espirituais ou
“transpessoais”. Porque em tais estados, o sentimento de separação e de egoísmo
torna-se um segundo plano em relação a um sentimento e identificação mais ampla,
cooperativa, fraternal, transpessoal para com todos os seres vivos (consciência
crística, búdica, nirvânica, universal ou ecológica).
Segundo a Teoria Transpessoal, Francisco de Assis, Gandhi, Jesus Cristo,
Einstein, Luther King e tantos outros grandes nomes foram detentores de uma outra
forma de ver e sentir o mundo que o fizeram capazes de ajudar o próximo e
tornaram-se capazes de ver o mundo de uma outra forma. A essa capacidade eles
denominam “consciência cósmica”.
A Psicologia Transpessoal fala de vários níveis de consciência, que vão do
mais obscuro (a sombra), até o mais alto grau de consciência, a transpessoal. Por

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ter seu foco na consciência e seus aspectos, foi também chamada de psicologia da
consciência. Seu estudo é recente e traz muitas características que necessitam de
um estudo maior. (TABONE, 2005). Vale ressaltar que a Psicologia Transpessoal
ainda não é reconhecida como prática científica pelo Conselho Federal de Psicologia
e os psicólogos inscritos no Conselho não estão autorizados a tê-la como prática
profissional.

2.10 Psicodrama

"Um Encontro de dois: olhos nos olhos, face a face. E quando estiveres
perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus; E arrancarei meus
olhos para colocá-los no lugar dos teus; Então ver-te-ei com os teus olhos e tu ver-
me-ás com os meus." (J.L.Moreno)

2.10.1 Jacobo Levy Moreno

Moreno

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O Psicodrama pode ser considerado como um dos meios psicoterápicos


mais inovadores. Falar em Psicodrama nos remete a um médico romeno chamado

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Jacob Levy Moreno. Ele foi o criador do Psicodrama e do Sociodrama, reverenciado
como exemplo de criatividade e dedicação à investigação psicológica e social. Ele
nasceu na Romênia em 1892 e faleceu nos EUA em 1974.
Foi um homem de ampla cultura e fortes idéias religiosas e filosóficas,
amante do teatro e incansável investigador do ser humano e de seus vínculos
afetivos; deixou-nos uma vasta obra escrita e um movimento psicodramático que
abrange a América, Europa e Ásia.
Em 1925, indo morar no EUA, desenvolveu e sistematizou suas
descobertas: a socionomia, sendo dividida em sociometria, sociodinâmica e a
sociatria. A socionomia é o estudo do grupo e suas relações. A sociometria visa
medir as relações entre os membros do grupo, evidenciando as preferências e
evitações presentes nas relações grupais.
Utiliza como método o teste sociométrico. A sociodinâmica se interessa pela
dinâmica do grupo e utiliza como método o role-playing ou jogo de papéis. Já a
sociatria busca tratar as relações grupais e utiliza três métodos: o sociodrama, a
psicoterapia de grupo e o Psicodrama.
Com a leitura de suas obras, muitos autores declaram que o psicodrama
possui um grande conteúdo emocional e uma audácia renovadora, pois surgiu como
uma nova e dinâmica linha de investigação para o conhecimento e terapia dos
conflitos psicológicos.
Para o surgimento desta teoria, Moreno desafiou críticas, rompeu com o
movimento médico da sua época, atacando os valores oficiais, conseguindo
desenvolver uma teoria baseada numa concepção de ser humano e de saúde que
têm como núcleo a espontaneidade. O otimismo sobre o vital, o amor, a catarse e os
papéis que o Eu do indivíduo vai formando. (MORENO, 1980).
Esta busca pelo reencontro dos verdadeiros valores éticos, religiosos e
culturais em uma forma dramática espontânea, (mais tarde, denominado como
desenvolvimento do Axiodrama) foi o primeiro conteúdo do Psicodrama. O lugar do
nascimento do psicodrama foi um teatro dramático de Viena. Moreno declarou que
não possuía nenhuma equipe de atores, nem uma peça e que neste dia apresentou-
se sozinho, sem nenhuma preparação, ante um público de mais de mil pessoas.
Segundo ele no palco havia somente uma poltrona de espaldar alto, como o
trono de um rei, no assento, uma coroa dourada. Surgiu com um intento de tratar e

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curar o público de uma enfermidade, uma síndrome cultural e patológica que os
participantes compartilhavam no momento (Viena encontrava-se em pós-guerra, não
havia governo... a Áustria estava inquieta em busca de uma nova alma).
Mas psicodramaticamente, Moreno possuía um elenco e uma obra. Uma vez
que o público era seu elenco, e a obra era retratada pela trama demonstrada pelos
acontecimentos históricos, no qual cada um representava seu papel real.
Cada representante de um papel foi então convidado para subir ao palco, e
encenar o papel de um rei, sem preparação e diante de um público desprevenido,
que funcionava como jurado. Mas neste primeiro momento nada se passou.
Ninguém foi achado digno de ser rei e o mundo permaneceu sem líder.
Apesar do aparente fracasso desta primeira representação, este foi o marco do
nascimento de uma nova modalidade de expressão catártica que, instrumentada
pelo exercício da espontaneidade e sustentada na teoria dos papéis, viria a se
constituir o método psicodramático de abordagem dos conflitos interpessoais, cujo
âmbito natural é o grupo. Surge então, a expressão “psicoterapia de grupo".
O psicodrama desde seus primórdios estabeleceu um setting basicamente
grupal, com a presença do terapeuta (diretor de cena), seus egos auxiliares e os
pacientes (tanto como protagonistas como público). Aliás, a expressão, "psicoterapia
de grupo" foi pela primeira vez utilizada por Moreno.

2.10.2 Teoria do psicodrama

Moreno foi capaz de dar sentido à improvisação dramática e retomar o


conceito de catarse, pois, ao ocorrer uma identificação do espectador com os
atores, ocorre uma catarse e, também, certa conscientização.
Para que ocorra esta catarse deve existir uma espontaneidade e
criatividade, pois, caso contrário, é uma mera repetição que não trará nada de novo
nem aos protagonistas nem ao público. É na criação espontânea que se consegue o
vínculo do ser humano com o mundo.
O Psicodrama possui o conceito de espontaneidade-criatividade, a teoria
dos papéis, a psicoterapia grupal como pontos básicos da sua teoria, além de outros
como: Tele (capacidade de se perceber de forma objetiva o que ocorre nas
situações e o que se passa entre as pessoas), Empatia (tendência para se sentir o

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que se sentiria caso se estivesse na situação e circunstâncias experimentadas pela
outra pessoa.), Co-inconsciente (vivências, sentimentos, desejos e até fantasias
comuns a duas ou mais pessoas, e que se dão em "estado inconsciente".) e Matriz
de Identidade (lugar do nascimento). A teoria da espontaneidade: está ligada
dialeticamente à criatividade, compreende uma fenomenologia, uma metapsicologia,
uma psicotécnica, uma psicopatologia e uma psicologia genética.
As que possuem maiores riquezas são: a Psicotécnica ou treinamento da
espontaneidade que, ainda que pareça parado, procura resgatar o espontâneo
perdido pelo homem ao longo da sua existência e a Psicologia Genética, quer dizer:
a criança, ao nascer, realiza seu primeiro ato criativo: é o primeiro ato de catarse de
integração. Nasce com uma capacidade criadora própria do ser humano que irá
completando com a maturidade e com a ajuda dos outros. O primeiro ego-auxiliar é
a sua própria mãe.
Ao longo de sua infância, à medida que vai vivendo os diversos papéis e em
contato com os agentes sociais. Desenvolve essa capacidade criadora e atrofia em
maior ou menor medida, de acordo com o tipo de relações e na medida em que as
"tradições culturais" lhe sejam impostas pelos mais velhos.
Esses agentes da sociedade lhe submetem, durante o desenvolvimento,
condutas estereotipadas, repetitivas, ritualistas, muitas delas para ela e para os
demais vazias de significado, assim como também ajudam o desenvolvimento da
espontaneidade. Depende de cada caso e do meio em que vive a criança em um
determinado momento histórico-social.
O ato espontâneo está intimamente ligado ao instante, dali surge à noção do
aqui e agora. A filosofia do momento opõe-se à duração, os benefícios do instante,
do presente, em constante mudança. É lugar (lócus) onde se dá o crescimento.
Segundo Moreno, esta experiência primitiva da identidade configura o destino da
criança. Em toda essa primeira etapa, os papéis são psicossomáticos.
A segunda etapa é a do reconhecimento do Eu. A criança observa o outro
(mãe) como algo diferente dela. Integra as diferentes partes do seu corpo numa
unidade e é a partir dali que se diferencia. É na segunda etapa que aparecem os
papéis psicodramáticos.

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Moreno faz uma pormenorizada descrição da evolução da imagem do
mundo da criança, distinguindo: 1) Matriz de identidade total: primeiro universo: tudo
é um. As configurações estão configuradas pelos atos. 2) Matriz de identidade total
diferenciada: segundo tempo do primeiro universo diferencia-se as unidades, porém
têm o mesmo grau de realidade, os indivíduos, os objetos imaginários e os reais. 3)
Matriz da lacuna entre fantasia e realidade: começam a se organizar dois mundos, o
da realidade e o da fantasia. Isto, na linguagem moreniana, marca o começo do
segundo universo.
O ideal é que o indivíduo possa dominar a situação e que não desenvolva
um mundo real em detrimento da fantasia, nem vice-versa.
Teoria dos papéis: o termo "papel" é um conjunto das várias possibilidades
identificatórias do ser humano. Os papéis psicodramáticos expressariam as distintas
dimensões psicológicas do eu (self) e a versatilidade potencial de nossas
representações mentais. Nesta teoria, tomam-se os papéis como núcleos do
desenvolvimento egóico, e à medida que a criança cresce e se diferencia vai
ampliando seu leque de papéis. Alguns papéis ficarão inibidos, necessitando,
posteriormente, serem resgatados (função do Psicodrama).
A psicoterapia grupal: Moreno assim a define “a psicoterapia de grupo é um
método para tratar, conscientemente, na fronteira de uma ciência empírica, as
relações interpessoais e os problemas psíquicos dos indivíduos de um grupo...” na
sua concepção, todos no grupo são agentes terapêuticos, e todo o grupo também o
pode ser em relação a outro grupo.
Este método aspira alcançar o melhor agrupamento de seus membros para
os fins que persegue. Não trata somente dos indivíduos, mas de todo o grupo e dos
indivíduos que estão relacionados a ele. Em sua relação sociológica vê a sociedade
humana total como o verdadeiro paciente. O conceito de encontro está no centro da
psicoterapia de grupo, comunicação mútua que não se esgota no intelectual, mas
que abrange a totalidade de seu ser. O encontro vive no "aqui e agora". Vai mais
além da empatia e da transferência. Forma um "nós".
Moreno enumera os métodos a serem utilizados, entre os quais se
destacam: método de clube ou associação, de assessoramento, de conferência, de
classes, psicanalítico, visuais, discussão livre, sociométricos, de histórias clínicas, da

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bibliografia, magnetofônico (sessões gravadas), da música e da dança, ocupacionais
e laboratoriais e o que se destaca é o método psicodramático.

2.10.3 Método psicodramático

O método do Psicodrama usa a representação dramática como um núcleo


de abordagem e exploração do ser humano e seus vínculos. A ação, unida à
palavra, brinda o mais completo desdobramento do conflito, do drama que ocupa o
protagonista no espaço dramático.
Na cena, o indivíduo pode representar seus conflitos passados e presentes,
e também externar seus temores, expectativas, projetos e dúvidas sobre o futuro,
explorando suas relações com o presente e o passado.
Distinguem-se, no desenvolvimento da ação dramática, três momentos que
possuem cada um, uma importância singular. A primeira fase, chamada
aquecimento, é quando se prepara o clima do grupo. Escolhem-se um tema e um
protagonista e tenta-se penetrar no mesmo no maior nível de espontaneidade
possível.
O segundo momento ou fase é a representação propriamente dita, a cena
dramática. Aqui ganha importância os ego-auxiliares, que serão os encarregados de
encarnar os personagens para os quais o protagonista os escolheu: os personagens
reais ou fantasiosos, aspectos do paciente, símbolos do seu mundo.
O terceiro momento ou fase é o compartilhar, é onde o grupo participa
terapeuticamente. Nesta etapa o grupo devolve, compartilham seus sentimentos e
vivências, tudo o que lhes foi acontecendo durante a cena, às ressonâncias que ele
produziu. As diversas técnicas dramáticas utilizadas durante a representação foram
pensadas por Moreno em relação à sua teoria da evolução da criança.

Cada uma delas cumpre uma função que corresponde a uma etapa do
desenvolvimento psíquico. O diretor do Psicodrama instrumentará, em cada
situação, aquelas que pareçam mais adequadas e correspondentes ao momento do
drama, segundo o tipo de vinculação que nele se expressa.
A primeira etapa de indiferenciação do Eu como o Tu corresponde à técnica
do duplo. A segunda, do reconhecimento do Eu, a técnica do espelho. A terceira

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etapa do reconhecimento do eu, a técnica da inversão de papéis. Mediante a técnica
do duplo, um eu-auxiliar desempenha o papel de protagonista. Verbal e
gestualmente complementam aquilo que, a partir desse desempenho, entende e
sente que o protagonista não pode expressar completamente por ser isto
desconhecido ou oculto, por inibições.
Coloca-se ao lado a idêntica postura ao protagonista, fazendo seus
movimentos, funcionando como a mãe e a criança na primeira etapa. Na técnica do
espelho, o protagonista sai do palco e é público da representação que um ego-
auxiliar faz dele. Busca-se, com isso, que o paciente se reconheça em determinada
representação, assim como na sua infância reconheceu sua imagem no espelho. O
terapêutico desta técnica consiste em que se reconheçam como próprios os
comportamentos e aspectos que lhe são desconhecidos e que importam para o
esclarecimento do conflito.
Utilizando a técnica da inversão de papéis, a mudança de papéis investiga
na cena o sentir desses personagens do mundo do paciente. Esta é a técnica básica
do Psicodrama. Existem outras técnicas dramáticas criadas por Moreno e
posteriores a ele.
Moreno, tomando do modelo teatral seus elementos, distinguem, para a
cena psicodramática, cinco elementos ou instrumentos: a) Cenário: neste continente
desdobra-se à produção e nele podem-se representar fatos simples da vida
cotidiana, sonhos, delírios, alucinações. b) Protagonista: o protagonista pode ser um
indivíduo, uma dupla ou um grupo. É quem, em Psicodrama, protagoniza seu próprio
drama. Representa a si mesmo e seus personagens são parte dele. Palavra e ação
se integram, ampliando as vias de abordagem. c) Diretor: o psicoterapeuta do grupo
é também o diretor psicodramático. O diretor do psicodrama está atento a toda
informação ou dado que o protagonista dê, para incluí-la na cena, guia e ajuda a
chegar à cena com espontaneidade.
Uma vez começada a cena, o diretor se retira do espaço dramático e
somente intervém se é necessário incluir alguma técnica, dando ordens ao
protagonista ou ego-auxiliares. d) Público: é o grupo terapêutico Moreno distingue
três procedimentos, segundo o objeto de estudo para se abordar quando se
dramatiza: Psicodrama, tratamento dos conflitos individuais. Sociodrama, onde o

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objeto de estudo são os grupos sociais. Role playing: quando o Psicodrama é
utilizado para a formação e treinamento de papéis profissionais e técnicos.

2.10.4 Psicodrama psicanalítico

O psicodrama psicanalítico nasceu na França em 1944. Hoje, há uma


corrente na qual define que a cena dramática é reconhecida na função de concentrar
o drama e permitir que apareçam novos significantes. Dizem que “... o Psicodrama
não é a busca de certo sentido nem tampouco de um significante fundamenta”l.
“Por isso, deve-se evitar a interpretação que proporcione o sentido e a perda
do sentido...” Conforme Anzieu "...o psicodrama analítico favorece a expressão dos
conflitos por intermédio de imagens simbólicas..." caracteriza quatro aspectos
importantes no Psicodrama: dramatização dos conflitos, comunicação simbólica,
efeito catártico e natureza lúdica. Na América Latina, a Argentina é o país pioneiro
em Psicodrama. Atualmente , Brasil, México e outros fizeram um importante
desenvolvimento, sendo pertinente destacar o Psicodrama no Brasil que,
inicialmente foi desenvolvido por docentes argentinos e, atualmente, por seus
próprios docentes.
Para Osório, a teoria moreniana, que se torna pouco sólida, se a
compararmos com a teoria psicanalítica, tem, entretanto, alguns aspectos que não
são excludentes, mas que se complementam. E, em alguns casos, são parcialidades
de conceitos psicanalíticos não reconhecidos e rebatizados com outros nomes ou
trabalhados sob outros ângulos, como acontece com os conceitos de regressão e
fixação.
A regressão em Psicodrama não se obtém através da transferência, mas
através de cena dramática que torna presente o passado. Tele e transferência em
Moreno são conceitos herdeiros da transferência freudiana. Espontaneidade,
essencialmente, está relacionada com o conceito de libido de Freud.
O encontro, o compartilhar, a criatividade e o ato espontâneo possibilitam
novos papéis e resgatam energias perdidas. Isto levará a uma catarse de integração
e a uma catarse do público. A cena é a representação do passado, um “lugar
simbólico” onde se revela o imaginário através das cenas atuais ou manifestas,

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podendo explorar e elaborar situações conflitivas do mundo externo, encontrando
sua conexão com o mundo interno dele ou dos indivíduos, em sucessivas ações
dramáticas com cenas antigas e inconscientes.
Em suma, a cena dramática é, basicamente, a “presentificação” e
“corporização” que, através da representação, têm os vínculos intrapsíquicos em sua
mútua e dinâmica reestruturação com os vínculos interpessoais.
Moreno resgatou o valor das forças imanentes ao grupo. Retomou o fato de
que vivemos em grupo desde que nascemos e nossos problemas provêm desse
mundo. Que todos se ajudam em um grupo, mas nem por isso estão ausentes as
relações hostis. Afirmou que trabalhar em um grupo sem uma fundamentação
sociométrica, antropológica e microssociológica, somente com a interpretação da
análise individual, é impossível.
Mostrando que a regra fundamental é a interação livre e espontânea, e o
objetivo é favorecer a integração do indivíduo e do grupo. Considerou a
transferência como expressão da dissociação e desequilíbrio do grupo. Este se
deteve no papel de psicoterapeuta de grupo e psicodramaturgo, demonstrando uma
série de normas éticas e, científico-técnicas. Normatizaram regras e normas de
grupos como sigilo, os honorários iguais, a seleção de pacientes a livre expressão, o
cuidado do indivíduo e do grupo, a utilização de métodos cientificamente
comprovados. Resgatam assim, muito além da comunicação verbal, o contato
corporal, motor e tátil.

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2.11 Psicologia Analítica

Carl Gustav Jung

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Também conhecida como Psicologia junguiana, é um ramo de conhecimento


e prática da Psicologia, iniciado por Carl Gustav Jung no qual se distingue da
psicanálise iniciada por Freud, por uma noção mais alargada da libido e pela
introdução do conceito de inconsciente coletivo. (JUNG, 1981)
Divergindo da perspectiva de Freud, Jung via a psique como positiva e
negativa, um repositório não só das memórias e das pulsões reprimidas, mas
também uma instância da dinâmica da divindade.
A psicologia analítica foi desenvolvida com base nos estudos de Freud e no
amplo conhecimento que Jung tinha da tradição psicológica contida na alquimia e na
mitologia. Quando Jung conheceu a obra de Freud, identificou-se com suas idéias e
logo quis conhecê-lo.
Ao se conhecerem a admiração foi mútua, pois Freud rapidamente recebeu
o jovem como seu discípulo e um dos defensores de suas idéias. Porém, esta
parceria durou pouco, pois Jung mostrava-se insatisfeito, com algumas das posições
de Freud, especialmente a teoria da libido e sua relação com os traumas. Freud, por

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sua vez, não compartilhava do interesse de Jung pelos fenômenos espirituais como
fontes válidas de estudo.
A Psicologia Analítica conheceu, depois da estruturação por C.G.Jung, um
grande desenvolvimento nos chamados pós-junguianos, que ampliaram a visão de
Jung.
Merece destaque neste desenvolvimento a Escola Desenvolvimentista, que
estudou o desenvolvimento humano desde o nascimento até a fase adulta. E, que
tem como fonte a Escola Junguiana de Londres e a pessoa de Michael Fordham
com sua obra "A criança como indivíduo" e também a pessoa de Eric Neumann, com
a obra "A criança".
Além desta, há também a Psicologia Arquetípica, que é fruto do trabalho de
James Hillman, o qual explora e desenvolve ao máximo a importância dos
arquétipos na vida das pessoas. Marie-Louise voz Franz foi uma das mais
importantes colaboradoras de Jung, e após sua morte desenvolveu um amplo
trabalho abordando temas como a alquimia, a interpretação psicológica dos sonhos
e dos contos de fada.
Parabéns, você está concluindo o primeiro módulo! Não se preocupe tanto
com nomes e datas. É suficiente apenas que você tenha uma visão geral sobre os
fundamentos da Psicologia.

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GLOSSÁRIO

ANÍMICO (VIDA ANÍMICA): Do Latim animu, que se refere à alma.


Psicológico.

ASSOCIACIONISMO: Doutrina relativa à associação de idéias; teoria da


explicação dos fenômenos psicológicos pela associação de idéias.

ATUAR: O termo atuar é utilizado dentro da abordagem psicanalítica para


se referir a comportamentos que representam/simbolizam ações ou personagens
que ainda estão inconscientes ao ser analisado. O comportamento “atuado” em
consultório é uma resposta àquilo que se denomina transferência, ou seja, pessoa
representada simbolicamente pelo analista, a quem o paciente, devota um suposto
amor ou ódio, a depender do momento da análise.

BEHAVIORISMO: do Ing. behaviorism, behaviourism, de behavior,


behaviour, comportamento; Psicologia do comportamento; corrente segundo a qual
a Psicologia tem por objeto o comportamento exterior do homem; Psicologia
objetiva.

CATARSE: do Gr. Kátharsis s. f., .Purificação, evacuação, purgação.

CONGRUÊNCIA: Adequação, concordância, harmonia.

EMPIRICISMO OU EMPIRISMO: Uma escola de pensamento filosófico com


muita influência na Psicologia, cujo pressuposto é de que apenas aquilo que pode
ser diretamente observável ou medido pode ser estudado de modo significativo.

EMPÍRICO: Aquilo que pode ser mensurado. Observações empíricas são


aquelas que podem proporcionar um nível de dados objetivos, os quais podem ser
avaliados de uma forma ou de outra. De forma geral, empregando o termo “medida”,

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vagamente, quase todas as formas de investigação psicológica podem ser
consideradas empíricas.

ESTEREOTIPIA: do Gr. stereós, sólido + typos, tipo s. f., arte de converter


em formas fixas o que primeiro se compõe com tipos móveis; casa em que se
estereotipa; palavra, atitude, gesto invariavelmente retido. Comportamento
mecanicista, robotizado, pouco original, ritualista.

ESTRUTURALISMO: Pressuposto metodológico segundo o qual as ciências


humanas devem abordar os seus objetos do ponto de vista das estruturas, na
medida em que estas podem traduzir características universais ou princípios
organizadores; denominação dada aos estudos lingüísticos da primeira metade do
séc. XX, da gramática generativo-transformacional.

EXISTENCIALISMO: s. m., Filos., Corrente de pensamento, iniciada por


Kierkegaard, que, por oposição às filosofias conceptuais (essencialismo), cujo
modelo é o sistema hegeliano, tem o centro das suas reflexões na existência
humana considerada como existência livre, desprovida de normas e de essência
abstrata e universal, sendo o homem o responsável pelo seu próprio destino;
movimento cultural em torno daquela corrente de pensamento, caracterizado, de
uma forma geral, pelo relevo dado à subjetividade e ao método de descrição
fenomenológica das realidades existenciais e ao absurdo da existência.

FENOMENOLOGIA: do Gr. phainómenon, fenómeno + logos, tratado.


Estudo descritivo de um conjunto de fenômenos.

HISTERIA: do Gr. hystéra, útero. s. f., Doença nervosa caracterizada por


convulsões e acessos espasmódicos.

LIBIDO: Termo originalmente utilizado por Sigmund Freud para se referir à


energia sexual do ID (instância inconsciente responsável pelo instinto) e disponível
para distribuir energia para os processos mentais e as atividades físicas. Mais tarde,

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Freud reconsiderou a libido como a energia geral de vida. No uso cotidiano, o termo
ainda está associado à conotação de energia sexual.

PENSAMENTO ATOMISTA: Vertente do pensamento pré-socrático baseia-


se na teoria dos átomos, criada por Leucipo e desenvolvida, posteriormente, por
Demócrito de Abdera. Para o pensamento atomista, o princípio (arché) da realidade
(phýsis) reside nos átomos, elementos invisíveis, de número ilimitado, cada um
possuidor de uma forma própria; sendo o número de formas presentes nos átomos,
igualmente, ilimitado. A natureza destes elementos é unitária e plena, uma vez que
eles são indivisíveis (em grego, o termo átomo significa sem divisão).
Além dos átomos, deve também existir o vazio, lugar onde aqueles residem
e realizam seu modo de ser, que é movimento incessante. Sem a existência do
vazio, o movimento não pode ser explicado; nem pode haver pluralidade entre os
entes, sem haver um meio que os separe. Deste modo, segundo alguns comentários
de pensadores da Antiguidade acerca desta teoria, para pensar as questões
relativas ao movimento, provando sua existência, é necessário aceitar a co-
pertinência entre ser -- no presente caso, os átomos -- e não ser -- entendido aqui
como o vazio. É do movimento realizado pelos átomos, constituído de
turbilhonamentos e choques entre eles, que se formam todas as coisas. (conceito
extraído do site www.algosobre.com.br em 19 de janeiro de 2008)

PSICOLOGIA DA GESTALT: A palavra Gestalt tem origem alemã e surgiu


em 1523 de uma tradução da Bíblia, significando "o que é colocado diante dos olhos,
exposto aos olhares". Hoje adotada no mundo inteiro significa um processo de dar
forma ou configuração. Gestalt significa uma integração de partes em oposição à
soma do "todo". A palavra gestalt tem o significado de uma entidade concreta,
individual e característica, que existe como algo destacado e que tem uma forma ou
configuração como um de seus atributos.

Dizer que um processo, ou o produto de um processo é uma gestalt,


significa dizer que não pode ser explicado pelo mero caos, a uma mera combinação
cega de causas essencialmente desconexas, mas que sua essência é a razão de
sua existência. A Psicologia da Gestalt, baseada neste princípio, dá origem a uma

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prática clínica denominada Gestalt-terapia, um método de psicoterapia desenvolvido
por Fritz Perls, que trabalha de preferência com o aqui e agora e não com o
passado, cuja pretensão é promover o aumento da consciência da pessoa acerca do
modo como os seus processos psicológicos estão integrados. A ênfase na
compreensão da pessoa como um todo decorre dos princípios da Gestalt. (HAYES,
1997).

PENSAMENTO POSITIVISTA: Teoria Filosófica que tem como base a idéia


de evolução do pensamento e do comportamento humano, do mais baixo para o
mais alto escalão. A evolução humana é tratada como algo alinear e contínuo. O
pensamento só é considerado válido se tiver valor científico e a pesquisa científica
válida é a quantitativa, numérica. Nada que não for comprovado não tem valor
enquanto Ciência. Nâo são considerados pontos como a cultura, a religião ou os
mitos de um determinado lugar. Este pensamento originou o Behaviorismo, na
Psicologia, que acredita que o comportamento humano pode ser treinado, moldado.

---------------- FIM--------------------

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação

CURSO DE
TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL

Aluno:

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1
EaD - Educação a Distância Portal Educação

CURSO DE
TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL

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SUMÁRIO

1. PSICOTERAPIA
1.1 Conceitos de Psicoterapia
1.2 Fatores comuns a toda psicoterapia
1.3 Equívocos sobre a terapia cognitiva e comportamental

2 TERAPIA COMPORTAMENTAL
2.1 Histórico
2.2 Fundamentos Teóricos
2.3 Indicações e Contraindicações
2.4 Técnicas da Terapia Comportamental
2.5 Conceitos Básicos
3 TERAPIA COGNITIVA
3.1 Histórico
3.3 Fundamentos teóricos da terapia cognitiva
3.3 Indicações e Contraindicações
3.4 Técnicas da terapia cognitiva

3.5 Conceitos Básicos da Terapia Cognitiva


3.6 Teoria Focada em Esquemas de Young
3.7 Diferença entre Cognitivismo e o Construtivismo

3.8 Princípios Fundamentais


3.9 Distorções Cognitivas
3.10 Perfil Cognitivo dos Transtornos Psiquiátricos
3.11 Estruturação das sessões
3.12 Instrumentos Utilizados

3.13 Relação Terapêutica

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3.14 Componentes Relevantes para se chegar ao problema
3.15 A TCC e a família
3.16 Mitos Equivocados sobre Terapia Cognitiva
3.17 Recaídas
3.18 Algumas resoluções referentes a atendimento psicoterápico
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1 PSICOTERAPIA

1.1 Conceitos de Psicoterapia

Segundo Atkinson (2002) Psicoterapia pode ser conceituada como


tratamento de transtornos mentais por métodos psicológicos, em vez de físicos e
biológicos. Esse termo abrange uma variedade de técnicas, todas as quais
destinadas a ajudar, pessoas emocionalmente perturbadas a modificarem seu
comportamento, seus pensamentos e suas emoções, para que possam desenvolver
melhores maneiras de lidar com o estresse e com as outras pessoas.
Artur Scarpato, em seu artigo “Introdução sobre a Psicoterapia” cita vários
conceitos sobre Psicoterapia. Vejamos alguns:

 “Recurso para lidar com as dificuldades da existência em todas as


formas que o sofrimento humano pode assumir, como transtornos psicopatológicos,
crises pessoais, conflitos conjugais e familiares, crises profissionais, distúrbios
psicossomáticos, dificuldades nas transições da vida, etc”;

 É um espaço especial de atenção às dificuldades da vida e aos


caminhos internos para solucioná-los, onde seus resultados demonstram uma
grande potência de transformação de vidas, oferecendo uma oportunidade de
compreender e mudar os padrões de vínculo e relação interpessoal.
Outros autores a definem como terapia que usa diversas técnicas
empregadas em Psicologia para o tratamento de transtornos e problemas psíquicos.
Ou, processo de ajuda, autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.
“Psicoterapia é um método de tratamento mediante o qual um profissional
treinado, valendo-se de meios psicológicos, especialmente a comunicação verbal e
a relação terapêutica, realiza, deliberadamente, uma variedade de intervenções,
com o intuito de influenciar um cliente ou paciente, auxiliando-o a modificar
problemas de natureza emocional, cognitiva e comportamental, já que ele procurou
com essa finalidade”. (Strupp, 1978 citado por Cordioli, 2008).
Em termos etimológicos, terapia está relacionada à cura, então quando nos
referimos à psicoterapia, estamos falando da cura por intermédio da psique.

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Na psicoterapia a psique é trabalhada a favor do paciente buscando
desenvolvimento de habilidades que o ajudem a enfrentar as adversidades no
presente, ou seja, podemos conceituá-la também como um processo de mudança,
de solução dos problemas causados pela falta de adaptação frente as dificuldades
da vida, de aprendizado de como refletir, analisar e tentar viver melhor.
Wampold (2001), diz que a psicoterapia é um tratamento primariamente
interpessoal, baseado em princípios psicológicos, que envolve um profissional
treinado e um paciente ou cliente portador de transtorno mental, problema ou
queixa, o qual solicita ajuda, sendo o tratamento planejado pelo terapeuta com o
objetivo de modificar o transtorno, problema ou queixa, e é adaptado a cada
paciente ou cliente em particular.
E de acordo com a Resolução do Conselho Federal de Psicologia sobre
esse tema, temos no:
"Art. 1º - A Psicoterapia é prática do psicólogo por se constituir, técnica e
conceitualmente, um processo científico de compreensão, análise e intervenção que
se realiza por meio da aplicação sistematizada e controlada de métodos e técnicas
psicológicas reconhecidos pela ciência, pela prática e pela ética profissional,
promovendo a saúde mental e propiciando condições para o enfrentamento de
conflitos e/ou transtornos psíquicos de indivíduos ou grupos." (Resolução CFP N.º
010/00).
Veja algumas resoluções sobre prestação de serviço por meio da
psicoterapia no final deste módulo.
Veremos adiante, que à psicoterapia se distingui de outras modalidades de
tratamento por ser muita mais uma atividade colaborativa entre o paciente e o
terapeuta do que uma ação predominantemente unilateral, exercida por alguém
sobre outra pessoa, como ocorre com outros tratamentos médicos.
Quando falamos de tempo de duração da psicoterapia, isso pode variar de
semanas até anos, vai depender muito do tipo de psicoterapia, da abordagem usada
e dos objetivos que se buscam. Por exemplo, a psicoterapia breve trabalha com
objetivos mais específicos, então são bem mais rápidas que uma psicoterapia que
vai trabalhar com uma psicopatologia mais severa, que envolverá conteúdos muito
mais profundos.

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A psicoterapia pode ser aplicada para tratar diversos fins como:
 Resolução de conflitos pessoais, interpessoais, conjugais, familiares e
profissionais;
 Amadurecimento pessoal, para um autoconhecimento melhor, reflexão
e descoberta de novos modos de conduzir a própria vida;
 Crises existenciais;
 Transições difíceis como luto;
 Crises profissionais;
 Mudanças de fases de vida (puberdade, adolescência, vida adulta,
menopausa, envelhecimento, etc.);
 Usada no tratamento de vários transtornos como depressão, anorexia,
bulimia, pânico, fobias, frigidez, impotência, etc.
Assim percebemos que a psicoterapia oferece meios e recursos importantes
para uma compreensão mais ampla do processo de adoecimento assim como
estratégias para lidar com as várias contingências as quais estamos vulneráveis.
São vários os tipos de psicoterapia, podemos citar a Psicoterapia Individual
para crianças, adolescentes, adultos e idosos, psicoterapia de família, de casal, de
grupo, psicoterapia em situações de crise e emergência.
A psicoterapia é importante, pois vai nos ajudar a perceber questões que
estão obscuras, vai nos ajudar a rever nossa história de vida de um ângulo diferente,
vai nos ensinar a reconhecer nossos padrões de comportamento e aprender formas
de influenciar e lidar com esses padrões que são responsáveis por como nós
agimos, nos relacionamos, pensamos e sentimos.
Artur Scarpato cita alguns motivos importantes que explicam porque a
psicoterapia funciona:
Segundo este autor ao dividirmos um problema, o sujeito estará
compartilhando, isso ajuda a aliviar a carga emocional e seu sofrimento; O vínculo
estabelecido entre terapeuta e cliente tem poder curativo, pois é mais fácil superar
muitas dores mediante uma relação autêntica de respeito mútuo do que sozinho; A
psicoterapia faz o sujeito parar para refletir sobre a própria vida e quando fazemos
isso permitimos muitas mudanças de orientação, sentido, rumo e aprofundamento
de nossas experiências; O psicoterapeuta vai ajudar a perceber as coisas de um
ângulo que você não tinha visto antes e nem suspeitava ser possível; O

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psicoterapeuta recebeu formação adequada e conhece teorias psicológicas que
ajudam na compreensão do que ocorre com esse sujeito, auxiliam a identificar o que
pode estar errado em sua vida, a direção que você está seguindo e as mudanças de
rumo necessárias; Ele também tem prática com técnicas que tornam possível
descobrir aspectos da personalidade que seriam inacessíveis a uma observação não
treinada e está preparado para compreender você a partir do vínculo que você
estabelece com ele, das respostas emocionais que você suscita nele; Essa
presença autêntica no vínculo com o cliente permite que essa relação funcione como
catalisador de processos de mudança como superação dos efeitos de traumas de
relacionamentos anteriores.
De acordo com Cordioli (2008) a psicoterapia originalmente chamada de
cura pela fala, tem suas origens na medicina antiga, na religião, na cura pela fé e no
hipnotismo. Entretanto ao final do século XIX que ela passou a ser utilizada no
tratamento das doenças denominadas nervosas e mentais, tornando-se uma
atividade médica inicialmente restrita aos psiquiatras, só no século XX outros
profissionais passaram a exercê-la, como médicos clínicos, psicólogos, enfermeiros,
assistente sociais, assim ultrapassando as fronteiras do modelo médico.
Na atualidade existe um relativo consenso que as terapias são efetivas, além
de uma concordância que uma boa parte dos seus efeitos deve-se a um conjunto de
fatores que envolvem as técnicas efetivas utilizadas, em que cada abordagem
possui as suas e também fatores específicos a todas as psicoterapias.
Então podemos conceituar a psicoterapia como um tratamento
primariamente interpessoal sendo realizada por um profissional treinado, utilizando
meios psicológicos como forma de influenciar o paciente sendo a comunicação
verbal o principal recurso, como já citamos.
São vários os tipos de psicoterapia, mas todas possuem o mesmo objetivo,
que é de reduzir ou remover um problema, queixa ou transtorno, trazido pelo
paciente que busca ajuda.

Cordioli (2008) cita alguns elementos comuns a toda psicoterapia:

 Ela deve ocorrer num contexto de uma relação de confiança


emocionalmente carregada em relação ao terapeuta, pois se o paciente não sente

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essa confiança, ficará um pouco difícil haver uma colaboração e assim o paciente
não expressará o que o levou ao setting;
 A psicoterapia ocorre em um contexto terapêutico, no qual o
paciente acredita que o terapeuta irá ajudá-lo e confia que esse objetivo será
alcançado, assim consegue-se estabelecer uma boa relação e levar a terapia à
frente;
 De acordo com Frank (1973) citado por Cordioli (2008), existe uma
racional, um esquema conceitual ou um mito que provê uma explicação plausível
para o desconforto, no caso um sintoma/um problema, e um procedimento ou um
ritual para ajudar o paciente a resolvê-lo, ou seja, existe um problema e este pode
ser explicado por uma teoria que com suas técnicas buscará ajudar.
São várias as abordagens que dão suporte aos psicoterapeutas, aqui nos
restringiremos às terapias comportamentais e cognitivo-comportamentais, em que
estas se concentram nas alterações dos padrões habituais de pensamento e
comportamento. Apesar das diferenças nas técnicas, a maioria dos métodos de
psicoterapia possui características básicas em comum, umas delas que envolvem
uma relação de auxílio entre duas pessoas, o cliente e o terapeuta, o cliente é
estimulado a discutir preocupações íntimas e emoções e experiência livremente sem
medo de ser julgado pelo terapeuta ou ter suas confidências traídas. E o terapeuta
deve oferecer empatia e compreensão, engendrando confiança e tentando ajudar o
cliente a desenvolver modos mais eficazes de lidar com seus problemas.

1.2 Fatores comuns a toda psicoterapia

De acordo com Cordioli (2008) existem muitos fatores comuns a todas as


psicoterapias, citaremos alguns:

 A psicoterapia ocorre no contexto de uma relação de confiança


emocionalmente carregada em relação ao terapeuta;

 A psicoterapia ocorre em um contexto terapêutico, no qual o paciente


acredita que o terapeuta irá ajudá-lo e confia que esse objetivo será alcançado;

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 Segundo Cordioli (2008) existe um racional, um esquema conceitual ou
um mito que prevê uma explicação plausível para o desconforto/sintoma/problema e
um procedimento ou um ritual para ajudar o paciente a resolvê-lo;

 A psicoterapia é uma relação profissional que ocorre no contexto de


uma relação interpessoal, envolvendo outra pessoa ou um grupo de pessoas;

 Para a terapia ter sucesso é indispensável um contexto terapêutico


favorável, caracterizado por um ambiente de confiança e apoio, no qual o paciente
acredita que o terapeuta irá ajudá-lo e, que esse objetivo será atingido;

 A psicoterapia deve proporcionar uma oportunidade para o paciente


expressar emoções, reviver e revisar experiências passadas, particularmente as que
envolvem relacionamentos com figuras importantes do passado, percebendo as
repetições no presente e encontrando novas formas de agir;

 Intervenções específicas são usadas pelo terapeuta, em que são


coerentes com o modelo explicativo sobre a origem e a manutenção dos sintomas,
como propósito de eliminá-los;

 A terapia deve criar um ambiente que proporcione o entendimento e a


busca de alternativas para modos problemáticos de pensar, sentir e comportar-se;

 A terapia deve proporcionar a oportunidade para novas aprendizagens


por meio da exposição da situação, ideias, sentimentos e comportamentos que
provocam ansiedade, fazendo com que o paciente supere seus medos e evitações;

 Segundo o autor citado, é indispensável o reconhecimento, por parte


do paciente, da necessidade de mudança e de um esforço pessoal para conseguir
os resultados desejados.

1.3 Equívocos sobre a terapia cognitiva e comportamental

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Nota-se que a Terapia Cognitiva tem sido frequente, e equivocadamente,
identificada como Terapia Comportamental, originando a ideia, comum entre
terapeutas treinados na abordagem comportamental, de que estariam naturalmente
habilitados a praticá-la. A abordagem cognitiva e comportamental tem concepções
de ser humano e modelos de personalidade e de psicopatologia diferentes, mas isso
não quer dizer que elas não possam ser trabalhadas juntas como explicaremos
adiante, pois elas são trabalhadas juntas e muitas pesquisas demonstram sua
eficácia.
A mudança da terapia cognitiva e suas técnicas por comportamentais
requerem uma adaptação da visão de ser humano e a adoção dos modelos
cognitivos de personalidade e psicopatologia.
Essa integração de elementos da terapia comportamental à Terapia
Cognitiva pode ser feita sim, resultando na assim chamada Terapia Cognitivo-
Comportamental (TCC), sendo viável desde que as técnicas comportamentais sejam
empregadas com a finalidade de mudar cognições, e não comportamentos, ou seja,
usar-se-iam técnicas comportamentais que seriam destinadas a mudar cognições e
não comportamentos, mas à mudança de cognições consequentemente mudariam
comportamentos. Todavia, que fique claro que o objetivo primeiro e principal seria a
mudança da cognição, e assim modificariam os comportamentos. Deste modo, a
Terapia Cognitiva, a TCC adota a hipótese de primazia das cognições sobre
emoções e comportamentos e conceituam as cognições como eventos mentais.

FIM!

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação

CURSO DE
PSICOLOGIA CLÍNICA

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

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CURSO DE
PSICOLOGIA CLÍNICA.

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1. A PSICOLOGIA ENQUANTO CIÊNCIA (PSICOLOGIA CIENTÍFICA)

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Muito se tem discutido sobre o que vem a ser conhecimento científico. Uns
consideram que só deve ser reconhecido como Ciência aquele tipo de conhecimento
que se pode medir e quantificar. A Ciência deve auxiliar no sentido de predizer os
fatos. Todo e qualquer conhecimento que não se enquadre dentro das tabelas
estatísticas deve ser colocado fora dos parâmetros científicos.
Na verdade, o conceito de Ciência nunca foi uma unanimidade. Há várias
correntes de pensamento se debatendo entre si, como também outros tipos de
conhecimento lutando pelo reconhecimento de ser reconhecido como científico. Com
a Psicologia não haveria de ser diferente e há várias práticas alternativas se
autodenominando científicas dentro da prática psicológica.
Entre punições efetuadas pelo Conselho de Ética dos Conselhos Regionais
de Psicologia, muitas práticas hoje já são reconhecidas pelo Conselho Federal de
Psicologia. O exemplo mais claro é a acupuntura.

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Mas o que vem a ser Ciência? O que poderia ser considerado científico ou
não? Quais os critérios para que um conhecimento seja reconhecido como Ciência,
ao passo que outros não o são? Qual a diferença entre pensamento e Ciência?
A grande diferença entre o ser humano dos outros animais, pelo menos até
que se prove o contrário, é que a pessoa é capaz de pensar. Pensamos ou pelo
menos deveríamos pensar antes de agir. Ainda assim há aqueles que agem por
impulso e só pensam naquilo que fizeram depois.
Existem pensamentos simples, como aqueles que nos fazem preparar o café
da manhã, levar o filho à escola e realizar tarefas simples como escovar os dentes e
calçar os sapatos. Algumas dessas atividades são quase automáticas e
praticamente não refletimos sobre elas.
Há, contudo, cadeias de pensamentos bem mais elaboradas e que nos
fazem parar para refletir sobre elas. Esse tipo de pensamento utiliza-se da razão e
de cadeias lógicas para fazer sentido. Utiliza-se do pensamento racional para a
tomada de decisões importantes na vida, como a escolha profissional, por exemplo.
Dentre os tipos de pensamento existem aqueles rotineiros, comuns. Crê-se
em determinadas coisas apenas porque todo o mundo crê. Fazem parte desse
universo as crendices, as benzeduras, as superstições.
Muitas práticas são oriundas de um método denominado tentativas e erro.
Por exemplo, muitos chás são utilizados porque uma determinada pessoa fez uso
dele e ele não fez mal, sem que houvesse um fundamento, uma explicação lógica
para tal prática.
A crença no sobrenatural é outro exemplo. As festas populares são ricas em
rituais e precisam ser respeitadas, pois fazem parte da história de um povo. Os
índios possuem uma cultura muito rica e muitas drogas utilizadas por eles já tiveram
o seu valor científico comprovado.
Todos os tipos de pensamentos humanos têm o seu valor. Mas só a partir do
momento em que se pensa sobre os próprios processos de pensamento é que se dá
início àquilo que comumente denominamos de saber científico. A Ciência se mostra
principalmente como algo racional e sistemático. A Ciência utiliza métodos
específicos, a depender de objetivos previamente traçados.
Dentro da Psicologia Científica, para efeitos didáticos, é possível dividir a
sua história em fases, desde a Antigüidade, quando já havia muito conhecimento

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apreendido da experiência humana. Embora não sistematizado, até os dias atuais,
quando já existe um reconhecimento da Psicologia enquanto profissão e Ciência e já
há um volume considerável de material científico produzido.
Ao se falar em fase pré-científica, ou seja, aquela que foi do século XVI até
1879, havia rudimentos de uma psicologia ainda muito ligada à Filosofia. Essa foi
uma fase de rejeição às verdades absolutas implantadas pela igreja e de
questionamento sobre o pensar humano. A racionalidade se mostrava como traço
preponderante do pensamento, sobretudo por construir as suas bases na Grécia
Antiga, berço da civilização Humana.
Cinco correntes se mostraram influentes dentro dos germes de uma futura
psicologia científica e até hoje influenciam as escolas ou abordagens psicológicas.
São elas:
- O Empirismo Crítico que apresenta nomes de destaque como os de
Descartes, Locke e Kant. Dentro dessa linha de pensamento considerava-se fator de
suma importância que houvesse um pensamento racional, no qual fosse capaz de
quantificar e provar, através de experimentos, os fenômenos mentais. O termo
mente substitui o anteriormente utilizado, ‘alma’. Essa corrente filosófica daria
origem, dentro da Psicologia, à Psicologia Experimental, que utilizaria animais de
laboratório para reproduzir possíveis comportamentos humanos.
Mais tarde, foram realizadas cirurgias mentais, com a intenção de mudar o
comportamento do sujeito. A violência, assim como a alienação mental, eram frutos
de distorções cerebrais facilmente tratáveis com cirurgias.
Dessa corrente filosófica viriam todas as linhas que tentariam reduzir o
comportamento humano a fórmulas matemáticas e estatísticas. O Behaviorismo tem
uma forte base empirista. Sua linha mais radical elimina a possibilidade de estudar a
psique humana. Apenas o comportamento observável é capaz de ser estudado
dentro de parâmetros científicos.
- Outra corrente filosófica propunha que a razão provinha do somatório de
idéias simples. Pensamento de base fundamentalmente atomista se encontra
presente até os dias atuais através, por exemplo, do nosso sistema de ensino.
O profissional, para ser considerado bom precisa ter um profundo
conhecimento em uma determinada área. Daí decorre em cursos de especialização,

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mestrado e doutorado, o que afunila a visão do todo a tal ponto que se torna
praticamente impossível manter uma visão geral sobre o assunto.
Nas rotinas do trabalho em saúde, tem se tornado uma luta incessante a
implantação do trabalho interdisciplinar, pois a formação profissional estimulou o
estudo em grades, que por sua vez se fragmenta em disciplinas e estas em
unidades de ensino. É dito ao professor que ele “não pode fugir do assunto”.
Depois, é cobrado que esse profissional trabalhe em equipe interdisciplinar.
É possível? Essa forma de ver o mundo e de atuar vem do pensamento atomista,
que tem nomes de importantes defensores como Darwin, Mill e Spencer.
- O Materialismo Científico foi outra corrente filosófica que influenciou a
Psicologia. De acordo com esse pensamento, apenas aquilo que fosse quantificável
e observável valeria como objeto de estudo científico. Fazem parte desta corrente,
nomes como August Comte e Marx. A nossa Bandeira representa bem esse
pensamento, com o lema “Ordem e Progresso”. Ficaria fora daquilo que é
considerado científico o estudo das emoções, dos sentimentos, a história e tudo o
mais que pudesse de alguma forma, se relacionar com a dimensão subjetiva do ser.
- Husserl trouxe a Fenomenologia, pensamento que deu origem à
abordagem de mesmo nome, para a qual o que interessa é apenas a descrição do
fenômeno. Na abordagem originada desse pensamento, não se utiliza classificações
diagnósticas, visto que essa forma de agir dentro da Psicologia é considerada
preconceituosa para a Psicologia, ou seja, uma forma de rotular e discriminar o ser
humano.
As angústias fazem parte da experiência humana, portanto, impossível à
pretensão de querer curar as doenças. O ser humano é visto de forma única e a
dicotomia cartesiana é eliminada nessa perspectiva de pensamento, ou seja, não há
bem e mal, feio ou bonito, médico e paciente, mas um contexto que precisa ser
descrito e observado.
- O Romantismo origina uma corrente psicológica basicamente ingênua, na
qual todo o homem é essencialmente bom e está direcionado para a auto-realização
e auxílio mútuo. Se apresentar algum tipo de comportamento reprovável, não o faz
por sua culpa, mas é vítima de um sistema social injusto e perverso, que o impede
de ser bom. A abordagem Humanista deriva do Romantismo, por compartilhar dessa
perspectiva. Rosseau eternizou essa corrente com o “Mito do Bom Selvagem”.

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É considerado como período da Psicologia enquanto Ciência aquela que vai
de 1879 até os dias atuais e o seu marco inicial foi à criação do Primeiro Laboratório
de Psicologia Experimental do mundo, na Alemanha, por Wundt.
Nessa primeira fase da Psicologia enquanto Ciência, e até para afirmar-se
enquanto tal, seu estudo era baseado em fórmulas físico-matemáticas e utilizava-se
da terminologia médica, de forma mais específica, a fisiológica.
Essa fase é marcada pela busca de estruturas imutáveis e universais,
provavelmente para tentar encontrar respostas baseadas na anatomia humana a
questões de outro âmbito. Os escritos freudianos são de certa forma, considerados
estruturalistas, na medida em que representam muito bem as estruturas da
consciência, em níveis de consciente, pré-consciente e inconsciente.
Outra ramificação preocupa-se muito mais com o dinamismo, o
funcionamento mental, portanto, é denominada de Funcionalista. Baseia-se na
linguagem da fisiologia para encontrar respostas aos estudos da percepção humana.
Não diria que nessa época surgiriam as escolas ou abordagens psicológicas,
mas que as correntes filosóficas tomariam forma de pensamento psicológico, o que
seria conhecido como abordagens. Não há uma abordagem pura, mas cada
abordagem fundamenta-se no pensamento de determinados filósofos e suas
escolas.
O Behaviorismo é uma das mais conhecidas abordagens psicológicas e tem
o seu norte no pensamento positivista de Comte. Sem dúvida, foi à primeira escola
organizada, fundamentando as suas estruturas no Positivismo.
Ela foi reconhecida utilizando em termos a psicofísica de Wundt, embora não
se ocupe muito em teorizar, pois já se inicia com experiências que visam entender o
comportamento humano como algo produzido por determinados condicionantes.
O comportamento torna-se, portanto, para essa Escola, fruto de pequenas
ações aprendidas ou excluídas, a partir de estímulos ambientais. Tem-se claro,
portanto, a visão atomista daquilo que seria denominada de estudo do
comportamento humano.
A Psicologia se restringe ao estudo daquilo que é observável. Destacam-se
nomes como Skinner e Watson.

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Em relação à Psicanálise, ainda é questionada quanto à sua cientificidade.
Resultado claro disso é que a grande maioria dos cursos de Formação em
Psicanálise, ainda não são reconhecidos pelo MEC.
Como amplamente divulgado, o Pai da Psicanálise foi o médico psiquiatra e
psicanalista Sigmund Freud, no início do séc. XX. Duas grandes apropriações
realizadas pela Psicanálise foram a descoberta do inconsciente, ou seja, aquilo que
acaba por determinar ações do sujeito sem que se tenha acesso às suas reais
causas e a descoberta da sexualidade infantil. Determinante da maioria das ações e
atitudes da vida adulta, a depender da gratificação ou privação da satisfação dessas
necessidades da vida infantil.
Para Freud, a libido, energia sexual, é multifocal e permeia toda a vida
psíquica do sujeito, podendo ser canalizada para vários aspectos e não apenas para
a vida sexual em si. Este talvez seja o maior equívoco dos críticos dessa abordagem
psicológica.
Quando Freud se refere ao falo, por exemplo, que não está se referindo ao
órgão sexual masculino, mas ao poder que ele representa. Por utilizar uma
linguagem ‘sexualizada’, reduzem sua teoria às questões sexuais. Coube a Jung
ampliar esse discurso, incluindo aí mitologia e antropologia.
Fazem parte de temas importantes da Psicanálise o Complexo de Édipo,
Inconsciente, Atos Falhos, Hermenêutica dos Sonhos, etc.
Por se tratarem de temas tão subjetivos, ainda hoje se pergunta se a
Psicanálise realmente funciona. O certo é que a Psicanálise propõe a cura pela fala
e imortalizou a figura do analista e do divã. Se tornando um importante passo para o
autoconhecimento e oportunidade rara para proporcionar um encontro com o eu e
parar em meio a tanta correria dentro desse sistema produtivo-capitalista em que se
vive.
A Psicanálise permeia áreas como a Hospitalar, discursos do cinema, das
letras, das artes, organizacional, psicodrama, escolar, ou seja, onde são realizadas
análises de algum tipo de discurso, certamente aí estará a Psicanálise.
São várias as escolas advindas da Psicanálise, dentre elas: as de Jung,
Reich, Klein, Anna Freud, Adler, etc.
É percebida a falta de algo novo em torno do conhecimento psicanalítico,
pois o que se vê são repetições daquilo que já foi dito e feito.

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Quanto a Gestalt, há desacordos quanto a se tratar de uma escola definida.
Ela é mais aceita como um conjunto de conhecimentos que veio auxiliar a Psicologia
a ter uma visão mais total do ser humano. Algo que contemplasse as várias
dimensões do ser e não apenas uma pequena parte fragmentada.
Atualmente, muito graças a Gestalt, o ser humano é contemplado, dentro
das mais diversas áreas da Psicologia, em suas dimensões físicas (comportamentos
e somatizações), social, cognitiva, emocional e até mesmo a espiritualidade já se
mostra como algo a não ser ignorado dentro das quatro paredes de um consultório,
por exemplo.
Já existem estudos científicos do benefício da fé para a proporção do bem-
estar humano. A Gestalt utiliza idéias de Koehler, Sartre, Merleau-Ponty e Husserl.
Um importante ramo ou área da Psicologia trabalha com o desenvolvimento
humano e baseia-se principalmente nas idéias de Piaget e Vygotsky. É a Psicologia
do Desenvolvimento, aplicável em clínicas, hospitais e escolas, principalmente.
Estudos sobre maturação cognitiva, relação entre linguagem e
aprendizagem e o papel social entre todo esse processo fizeram parte do discurso
desses brilhantes pensadores.
Suas reflexões permanecem bastante atuais e tem gerado inúmeros debates
acalorados. Enquanto para uns as idéias de ambos se excluem, para outros elas
apenas se complementam.
Carl Rogers, por sua vez, trouxe para a Ciência psicológica a concepção
filosófica de humanismo, exaltando o ser humano como o autor mais importante da
sua própria existência. Apregoava ser a pessoa mais importante que qualquer
sistema psicológico.
Essa grande quantidade de escolas acabou gerando ferrenhos adeptos de
uma ou outra. Daria-se novamente a fragmentação e as guerras entre profissionais e
estudantes, que acabariam por defender esta ou aquela posição. Isso gerou muita
rivalidade e facções. Pouco se podia perceber que a pluralidade de escolas e
pensamentos só enriqueceria o estudo da alma humana. Era necessário somar e
não dividir. Quanto mais conhecimento teórico, melhor poderia ser a prática ou as
práticas psicológicas.
Aos poucos, o sistema quase partidário dentro das academias, aquele que
forma discípulos deste ou daquele pensador, cede lugar a um novo profissional de

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Psicologia, aquele denominado ‘eclético’ e ainda criticado por muitos, por ser
considerado indefinido em sua posição teórica.
Seguindo a tendência atual do saber e fazer científicos, o profissional da
Psicologia começa a atuar por temática, a depender da necessidade do paciente ou
cliente, da pessoa que procura atendimento psicológico.
É um profissional que pode ser considerado especialista e generalista ao
mesmo tempo, pois necessita ter um conhecimento muito aprofundado sobre todo o
saber psicológico, para ser tão generalista a ponto de entender a necessidade de
seu paciente.

O psicólogo temático tem, então, a liberdade de escolher uma área de


atuação: Psicologia Jurídica ou Hospitalar, por exemplo, e a partir daí ter a
liberdade de utilizar os diversos conhecimentos de cada corrente ou escola
psicológica.
O fato é que a Ciência é uma conquista recente da humanidade. Tem
trezentos anos e surgiu no séc. XVIII. Isso não quer dizer que antes disso não tenha
havido qualquer saber rigoroso, pois desde a Grécia Antiga o ser humano anseia por
um tipo de conhecimento que seja distinto ao saber comum e ao mito.
Enquanto Sócrates se preocupava com a definição dos conceitos, desejando
atingir a essência das coisas, Platão mostrava o caminho que a educação do sábio
deveria percorrer para ir do doxa (opinião) a episteme (Ciência). Entretanto, a
Ciência só se desvincula da Filosofia na Idade Moderna.
O mundo científico aspira à objetividade, pois as conclusões devem ser
verificadas por qualquer outro membro competente da comunidade científica. A
racionalidade deste conhecimento procura despojar-se do emotivo, tornando-se, na
medida do possível, impessoal.
A Ciência, apesar da busca por um conhecimento racional e verdadeiro, não
é absoluta. É apenas mais uma de tantas outras verdades. Está tão sujeita a falhas,
quanto qualquer outro tipo de conhecimento. Daí surgirem modelos científicos e até
teorias contraditórias.
É impossível admitir que um conhecimento seja neutro, pois conhecimento é
poder e o poder está atrelado às ações políticas. Daí o cuidado que se deve ter para
associar todo e qualquer conhecimento científico a uma prática ética.

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10
Como em qualquer outra prática científica, a pesquisa psicológica visa
quatro finalidades básicas: Descrição, explicação, predição e controle. A descrição é
o objetivo básico de qualquer Ciência. Os psicólogos reúnem fatos a respeito do
comportamento e do funcionamento mental, a fim de formarem quadros precisos e
coerentes destes fenômenos. (DAVIDOFF, 1983).
Quando é extremamente difícil ou impossível usar estratégias diretas,
recorrem a testes, entrevistas, questionários e outras táticas indiretas que têm
menos probabilidade de serem exatas. Depois, faz-se necessário estabelecer uma
relação de causa e efeito. Estas explicações se transformam em hipóteses. Quanto
aos princípios básicos que norteiam a pesquisa psicológica, podem ser citados os
seguintes, dentre outros:

1. Precisão: Os psicólogos procuram serem precisos de diversas


maneiras. Primeiro, definem claramente o que estão estudando. Segundo tentam
colocar seus dados em forma numérica, ao invés de confiar em impressões
pessoais. É possível encontrar estes cientistas (principalmente os da linhagem
positivista norte-americana) fazendo medições em fenômenos aparentemente
imensuráveis, como o amor, a ansiedade ou a intoxicação por drogas lícitas ou
ilícitas. Terceiro, após completarem a pesquisa, os psicólogos escrevem relatórios
detalhados, descrevendo os sujeitos, o equipamento, os métodos, as tarefas e os
resultados. O relatório preciso de pesquisa permite a outros cientistas do
comportamento repetir ou replicar os estudos dos outros para ter a certeza de que
são consistentes;

2. Objetividade: A pesquisa científica em Psicologia se esmera para que


não ocorram distorções, pois, ao contrário de outras áreas, a Psicologia é a única
em que o objeto de estudo tem a mesma natureza do pesquisador. Ou seja, ao
pesquisar a personalidade de seres humanos, o cientista não pode perder de vista
que também é um ser humano no qual não pode deixar que sentimentos como o
amor e o ódio interfiram nos seus estudos;

3. Empirismo: Os psicólogos acreditam que a observação direta é a


melhor fonte de conhecimento. E a especulação, por si só, é considerada como

AN02FREV001/REV 4.0

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prova inadequada. Estes cientistas não devem adiantar como evidências noções
populares, suas próprias idéias plausíveis, as especulações de cientistas eminentes
ou pesquisas de opinião a respeito deste ou daquele tópico. Todas estas estratégias
se apóiam apenas em conjecturas e não em observação direta;

4. Determinismo: Todos os acontecimentos devem ter causas naturais.


Os psicólogos acreditam que os atos das pessoas são determinados por enorme
número de fatores. Alguns intrínsecos: Potencialidades genéticas, motivos, emoções
e pensamentos. Outros extrínsecos: Pressões pessoais e circunstâncias externas
sejam ambientais ou sociais;

5. Parcimônia, ou seja, as explicações devem ser padronizadas e


ajustadas aos fatos observados;

6. Tentativas: As conclusões devem ser permanentemente reavaliadas e


jamais definitivas. O psicólogo não deve ter um conhecimento como algo
absoluto e acabado, mas sempre duvidar dele.

Pesquisa em Psicologia e Bioética

Extraído do site www.ufpe.br

Bioética é um neologismo construído a partir das palavras gregas bios (vida)


+ ethos (relativo à ética). Segundo Diniz & Guilhem "...por ser a bioética um campo

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disciplinar compromissado com o conflito moral na área da saúde e da doença dos
seres humanos e dos animais não-humanos, seus temas dizem respeito a situações
de vida que nunca deixaram de estar em pauta na história da humanidade..."

Em muitas ocasiões, ao longo da história, abusos dos mais diversos foram


cometidos em nome da Ciência, através das denominadas pesquisas científicas. O
alvo principal para o exercício de tais experimentos eram os menos favorecidos, os
excluídos sociais: transtornados mentais, pobres, prisioneiros...

O ponto culminante desse tipo de distorção aconteceu com as ‘experiências’


do holocausto, envolvendo inúmeros seres humanos sacrificados e que até hoje
choca todo o mundo pela crueldade e pelo abuso de poder praticado por médicos
nazistas.

A Ciência jamais deve sobrepujar o ser humano e o psicólogo também deve


estar atento a isso. O respeito ao outro deve permear toda a nossa prática. Foi
criado, a partir disso, um código limitando pesquisas com seres humanos.

Toda e qualquer pesquisa Científica não deve se colocar a serviço de


interesses financeiros ou quaisquer outros que estejam acima do bem da
humanidade. A Ciência não é neutra nem ingênua, por isso mesmo os estudiosos
devem estar atentos ao uso que podem fazer das pesquisas advindas dela. O
pesquisador precisa ter claro os possíveis efeitos sobre o outro que determinadas
descobertas podem exercer sobre a humanidade, pois o mito da neutralidade
científica é uma farsa.

Toda pesquisa científica precisa ser controlada por rígidas normas,


principalmente aquelas que envolvam seres humanos. Van R. Porter instaurou o
termo Bioética em 1971 e desde então inúmeros progressos nesse sentido foram
feitos.

Os direitos dos seres humanos precisam ser respeitados, partindo do


pressuposto de que aquele que participa de pesquisas devem ter claros os seus
objetos e objetivos de cada estudo, como também o livre arbítrio de desejar

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participar da pesquisa ou não, sem jamais ser induzido a participar. O cientista deve
estar alerta ao risco de sedução que o poder científico exerce.

No Brasil, os aspectos éticos envolvidos em atividades de pesquisa que


envolva seres humanos estão regulados pelas Diretrizes e Normas de Pesquisa em
Seres Humanos, através da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde,
estabelecida em outubro de 1996. Estas Diretrizes foram detalhadas para pesquisas
envolvendo novos fármacos, medicamento, vacinas e testes diagnósticos através de
outra resolução ( 251/97), de agosto de 1997. Novas resoluções estão sendo
elaboradas para tratar de outras áreas temáticas especiais.

O objetivo maior da avaliação ética de projetos de pesquisa é garantir três


princípios básicos: a beneficência, o respeito à pessoa e a justiça. Nesta garantia
devem ser incluídas todas as pessoas que possam vir a ter alguma relação com a
pesquisa, seja o sujeito da pesquisa, o pesquisador, o trabalhador das áreas onde a
mesma se desenvolve e, em última análise, a sociedade como um todo.
Os cuidados éticos da pesquisa em saúde envolvem a qualificação dos
pesquisadores, o direito de informações precisas que o participante necessite obter,
a relação custo-benefício, pois os benefícios devem sempre se sobrepor aos riscos,
além de passar necessariamente por um Comitê de Ética, para avaliação a priori.
É fundamental salientar que uma pesquisa que envolva seres humanos só
pode ser realizada se absolutamente todos os outros possíveis meios tiverem se
esgotado. O sigilo deve permear todo o processo de pesquisa, para que o indivíduo
pesquisado não seja exposto de alguma forma.
Se porventura os riscos envolvidos ultrapassarem aquele previsto, todo o
processo da pesquisa deve ser imediatamente interrompido e sua metodologia
revista.
Seria ideal que o pesquisador fosse completamente indiferente aos
resultados a serem obtidos, para não correr o risco de ser tendencioso, mas nem
sempre isso é possível.
Quanto ao comitê de Ética que é responsável pela autorização prévia da
pesquisa, devem participar pesquisadores reconhecidamente competentes, como
também representantes da comunidade, de preferência que não privilegiem algum

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setor, religião ou gênero. Devem ser avaliados tanto aspectos éticos quanto a
qualificação dos respectivos pesquisadores.

2. Principais áreas de atuação do psicólogo

Psicologia do Esporte:

www.ead.pucrs.br/cursos/listartodos.php

Quem nunca se vio extasiado frente a uma jogada brilhante de Ronaldinho


Gaúcho ou Kaká? Quem nunca ficou impressionado com a paixão de uma torcida
fanática por um determinado time?

O que motiva esportistas a treinarem horas e horas a fio? A verdade é que o


início profissional de atletas está começando cada vez mais cedo e as pressões por
resultados sempre maiores. Também o número de horas de treinamento testa os
limites do atleta. Saudades de casa, necessidade de adaptar-se a países diferentes,
jogadas cada vez mais duras, o que coloca a saúde do atleta sempre em risco e
quando acidentes ocorrem, pressão para que retorne o mais breve possível….

Todo esse ambiente favorece transtornos como depressão e ansiedade, pois


nem todo atleta apresenta estrutura emocional para lidar com a fama rápida e
também com um sem-número de frustrações, pois sabe-se que o universo daqueles
que ganham cifras milionárias é mínimo.

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A grande maioria vive quase que na miséria absoluta. Todo esse ambiente
favoreceu o nascimento da Psicología do Esporte, pois o Esporte é considerado um
dos maiores fenômenos de massa e tem requerido pesquisadores das mais variadas
áreas, pois a tecnología empregada é quase sempre a tecnologia de Ponta.
Pesquisadores da Antroplogia, Sociología e Filosofia têm feito parte deste universo,
como também das áreas da Medicina, Engenharia, Fisiologia e Biomecânica, dentre
tantos outros.

De forma mais específica, dentro da Psicología do Esporte tem sido


estudados temas como Motivação, Agressão, Violência, Liderança e Personalidade,
embora no início os estudos tenham se restringido a apenas questões mais
fisiológicas, como o Condicionamento Reflexo, tema de base Behaviorista. A
Psicologia do Esporte tem seus primeiros registros como tal a partir do início do séc.
XX, especificamente a partir da Copa do Mundo de Futebol de 1958, no Brasil.

Ainda não há um arcabouço teórico específico dessa área da Psicología e


esta acaba por recorrer a conhecimentos específicos da Psicología Clínica e da
Psicología Social. No Brasil, essa área de atuação do psicólogo só se torna
reconhecida em dezembro de 2000, e ainda assim apenas como uma especialidade.

Problemas vividos por outras áreas de atuação também estão presentes na


Psicologia do Esporte, pois a equipe Esportiva ainda não tem como certa a real
possibilidade de auxílio quanto ao desempenho dos atletas e resultados práticos a
partir do trabalho do psicólogo.

João Carvalhaes foi o primeiro psicólogo brasileiro de que se tem registro, a


atuar na Psicologia do Esporte Brasileira. Psicometrista, trabalhou no São Paulo
Futebol Clube, na capital paulista, por vinte anos. Ele estava presente na conquista
do primeiro título mundial, em 1958. (A. Machado, 1997; Rubio, 1999; 2000.a).

O campo de atuação da Psicologia do Esporte envolve o estudo da pessoa


praticante de esporte, seja este de caráter amador ou profissional, competitivo ou
não competitivo.

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Isso inclui a avaliação, diagnóstico, intervenção ou simplesmente a análise
do contexto esportivo incluindo o comportamento do grupo ou indivíduo praticante da
atividade. Faz parte dessa perspectiva a necessidade de realizar ações
prognósticas, ou seja, de tornar predizível possíveis resultados. Isso é realizado
dentro de uma certa probabilidade estatística. (J. Azevedo Marques & S. Junishi,
2000; S. Figueiredo, 2000; M. Markunas, 2000; S. Martini, 2000).

Os métodos normalmente utilizados para intervenção esportiva, após análise


diagnóstica realizadas pelo psicólogo esportivo são aqueles baseados em processos
sensoriais, sensório-motores, de pensamento, mnemônicos e volitivos como os de
ordem psicossociais.

Pode-se afirmar, então, que na Psicologia do Esporte são estudadas as


particularidades psicológicas de um grupo esportivo, buscando revelar e explicar sua
dinâmica e assim poder intervir de forma efetiva e eficaz, visando a obtenção dos
resultados desejados, fazendo fluir o melhor que cada atleta possui, em termos
potências, preservando a sua saúde e o seu equilíbrio psicológico.

Psicologia Ambiental

AN02FREV001/REV 4.0

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Extraído de www.usp.br

A Psicologia Ambiental trata do relacionamento recíproco entre


comportamento e ambiente físico, tanto construído quanto natural. Mantém
interface com áreas de estudo tais como: a sociologia e antropologia
urbana, ergonomia, desenho industrial, paisagismo, engenharia florestal,
arquitetura, urbanismo e geografia, entre outras.

Na medida em que estas áreas estudam diferentes aspectos da


organização de espaço/ambiente físico e sua relação recíproca com o ser
humano. Encontra-se freqüentemente, na literatura estrangeira, o termo
environment-behavior relation, para caracterizar este campo de estudo,
para o qual se sugere, em Português, o termo relações indivíduo-
ambiente. (ARAGONÉS, 1998).

Por sua característica interdisciplinar e por ser um campo que


possibilita o estudo de fenômenos os mais diversos, a Psicologia
Ambiental utiliza uma abordagem multimetodológica.

O que determina a escolha do método é o problema em estudo em


cada situação. Quase toda pesquisa se orienta para a resolução de um
problema prático e no meio termo procura também avançar no

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18
conhecimento teórico da área, sob o modelo da pesquisa-ação.

Psicologia Organizacional

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A Psicologia Organizacional, inicialmente denominada como Psicologia


Industrial ou Psicologia do Trabalho estuda os fenômenos psicológicos presentes
nas organizações. Mais especificamente, atua sobre os problemas organizacionais
ligados à gestão de recursos humanos (ou gestão de pessoas). A psicologia está
muito ligada a empresas, atualmente, seja ela no bem-estar de cada um dos
colaboradores, até mesmo nas emoções geradas num ambiente de trabalho.

Tradicionalmente, as principais áreas da psicologia organizacional são:


recrutamento, seleção de pessoal, treinamento, diagnóstico organizacional. A
Psicologia do Trabalho ou Organizacional consolida-se em um contexto capitalista,
sob um modelo de desenvolvimento fordista.

Fordismo:

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- Modo de desenvolvimento dos países capitalistas (hegemônico após a 2ª
Guerra Mundial)

- Envolve um regime de acumulação intensivo, associado a um modo de


regulação monopolista.

- "Produção em massa de produtos indiferenciados" e um consumo em


massa, assegurado por salários elevados praticados pelas empresas e defendidos
pelos sindicatos, e pelo estado que mantém, através de políticas de bem-estar
social, desempregados e aposentados no mercado consumidor.

- Pacto social:
* Papel do trabalhador: obediência às prescrições dos organizadores.
* Conseqüência: aumento de produtividade.
* Recompensa: manutenção de uma norma salarial e aumentos periódicos
atrelados aos ganhos de produtividade obtidos.

- Trabalhador de "chão de fábrica": pouco especializado mal escolarizado,


muito disciplinado e qualificado a exercer sua função empobrecida.

Psicologia Industrial:

- Surge a serviço de certa forma de administração.

- Marcada pelo apelo dos controles individuais.

- Visa fornecer elementos que permitam a seleção de trabalhadores, sua


capacitação para o desempenho das funções, a descrição detalhada do que fazem
introdução ao ambiente de trabalho, avaliação periódica, seu crescimento
hierárquico e seu aconselhamento (principalmente quando compromete
desempenho).

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Psicologia Industrial, influenciada pela escola de relações humanas da
administração, se preocupa:

- Como fazer para que os subordinados trabalhem (motivação)


- Como fazer para que os chefes e supervisores tornem seus subordinados
mais produtivos (liderança)
- Como divulgar as informações e decisões tomadas pela cúpula para
evitarem-se distorções e resistência (comunicação).
- Prática de seleção
- Treinamento

Psicologia Organizacional:

- Emergiu como resposta no âmbito da Psicologia do Trabalho à primeira


crise do fordismo.

Fatores que contribuíram para a crise do modelo fordista:

1º surgimento da concorrência internacional (reconstrução européia do pós-


guerra e a emersão do Japão no cenário internacional)
2º rigidez do processo em massa tem dificuldade em atender mercado
consumidor diferenciado e mais exigente.
3º maior qualificação e instrução dos países do centro levam à resistência
por trabalhos empobrecidos e relações hierárquicas verticais.
4º surgimento de processos que permitem produção em massa de produtos
extremamente diferenciados.
5º rigidez das relações salariais fordistas.
6º crise do petróleo caracteriza um aumento do custo.

Conseqüência da crise fordista:

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- Dissociação geográfica do fordismo: exportação da montagem
desqualificada para países estáveis do 3º mundo.

Paralelo com a Psicologia Organizacional:

- Modificou-se para dar suporte ao processo de mudança organizacional.


- Organizações deveriam atender às novas demandas do mercado aonde
iriam se inserir.
- Organizações deveriam aprender a lidar com trabalhadores de cultura
diferente.

Função dos psicólogos

- Colaboração no diagnóstico organizacional


- Pesquisas de clima e cultura organizacional
- Levantamento de necessidades de treinamento
- Análise do comportamento dos recursos humanos
- Utilização dos traços de personalidade à seleção profissional.

Psicologia Organizacional X Ergonomia

- Adaptação do trabalho ao homem.


- Envolve aspectos como a fisiologia, antropometria, percepção, acidentes
de trabalho, fadiga, tecnologia, ambiente físico, ambiente psicossocial, organização
do trabalho, postos de trabalho e produtividade.

Psicologia Organizacional X Qualidade de Vida no Trabalho

- Fruto de uma ampliação de papel do movimento sindical nos países do


centro.

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- Associada a uma escolarização maciça da classe trabalhadora.

- Criam-se:

- Programas de estresse laboral: visam reduzir desgaste físico-psíquico do


trabalhador.
- Qualidade de vida no trabalho, orientada em direção à satisfação no
trabalho.

FUNÇÕES DE RECURSOS HUMANOS

- Antes universais passam a ser vistas como políticas e programas de


recursos humanos.
- Técnicas e concepções podem ser alteradas e modificadas.

ARTICULAÇÃO ENTRE DIVERSOS CONHECIMENTOS E A


ADMINISTRAÇÃO

- Psicanalítica medicina psicossomática e situações de trabalho: nasce a


"psicopatologia do trabalho"

- Psicopatologia do trabalho - estuda o sofrimento, conceito situado entre a


doença mental propriamente dita e a saúde mental, em contraponto à organização
do trabalho.

- Transcende-se à noção de estresse organizacional e procura analisar


também neuroses e psicoses em relação ao trabalho e à organização, tendo em
vista sua prevenção.

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Psicologia Hospitalar

www.delboniauriemo.com.br/qualidade_parcerias.php

Definição

•É um ramo da Psicologia que se diferencia dos demais, por


pretender principalmente humanizar a prática dos profissionais de saúde
dentro do contexto hospitalar. (BRANDÃO, 2001)

•A partir da Psicologia Hospitalar, a própria psicologia redefiniu


conceitos teóricos na tentativa de uma melhor compreensão da
somatização, suas implicações, ocorrências e conseqüências.

Histórico da Psicologia Hospitalar no Brasil

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• 1054- Matilde Neder dá inicio à Psicologia Hospitalar no Brasil
desenvolvendo uma atividade na Clínica de Ortopedia e Traumatologia da USP.
1974- Belkis Wilma Romano Lamosa implanta o Serviço de Psicologia no Instituto do
Coração, Faculdade de Medicina da USP, que só abriria para a população em 1977.

• 1984- Criado o Departamento de Psicologia da Sociedade de


Cardiologia do Estado de SP, sob a Coordenação de Belkis W.R. Lamosa, a
partir daí todos os Congressos da Sociedade Brasileira de Cardiologia
contavam com a presença da Psicologia em sua programação Científica.

• 1993- Criado o Departamento de Psicologia Aplicada à


Cardiologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia-DF sob a Coordenação
de Lúcia Miranda.

• 2002- Primeira Turma da Disciplina Optativa de Psicologia


Hospitalar–UniCEUB...

Psicologia Hospitalar

• O Psicólogo se descobre sendo instrumento de alívio de uma das


facetas mais sofridas da realidade humana: a morte.
O Psicólogo Hospitalar descobre de modo concreto um dos preceitos
máximos da Psicologia que é a cura através da palavra, a cura da dor provocada
pelo sofrimento físico e emocional.

Psicologia Escolar

AN02FREV001/REV 4.0

25
www.ufmg.br/.../cursos/psicologia.htm

O interesse pela educação, suas condições e seus problemas, foi sempre


uma constante entre filósofos, políticos, educadores e psicólogos.
Com o desenvolvimento da Psicologia como Ciência e como área de
atuação profissional, no final do século XIX, várias perspectivas se abriram, fato que
também ocorreu à chamada Psicologia Educacional. (MACHADO, 2004).
Durante as três primeiras décadas do século XX a psicologia aplicada à
educação teve enorme desenvolvimento. Nos EUA destacava-se a necessidade de
um novo profissional, capaz de atuar como intermediário entre a psicologia e a
educação.
Três áreas destacaram-se: as pesquisas experimentais da aprendizagem; o
estudo e a medida das diferenças individuais e a psicologia da criança.
Até a década de 50, a Psicologia da educação aparece como a 'rainha' das
ciências da educação.
Seu conceito: uma área de aplicação da psicologia na educação. A
Psicologia Educacional era um ramo especial da Psicologia, preocupado com a
natureza, as condições, os resultados e a avaliação e retenção da aprendizagem
escolar. Ela deveria ser uma disciplina autônoma, com sua própria teoria e
metodologia.

AN02FREV001/REV 4.0

26
Durante a década de 50, o panorama muda. Começa-se a duvidar da
aplicabilidade educativa das grandes teorias da aprendizagem, elaboradas durante a
1ª metade do século XX. Prenuncia-se uma crise.
Surgem outras disciplinas educativas tão importantes à educação quanto a
psicologia, e esta precisa ceder espaço.
Na década de 70, assume o seu caráter multidisciplinar que conserva até
hoje.
Não mais é considerada como a psicologia aplicada à Educação.
Atualmente, a Psicologia da Educação é considerada um ramo tanto da Psicologia
como da Educação, e caracteriza-se como uma área de investigação dos problemas
e fenômenos educacionais, a partir de um entendimento psicológico.

Conceito de Psicologia da Educação:

Quando se fala, hoje, em 'Psicologia da Educação' vários termos são


utilizados indiscriminadamente como sinônimos, tais como: psicopedagogia,
psicologia escolar, psicologia da educação, psicologia da criança, etc. A lista poderia
ser alongada.
Esta imprecisão na linguagem, e esta confusão entre disciplinas ou
atividades não são exatamente passíveis de sobreposição, pois cada qual tem suas
definições e limitações.
A Psicologia da Educação tem por objeto de estudo todos os aspectos das
situações da educação, sob a ótica psicológica, assim como as relações existentes
entre as situações educacionais e os diferentes fatores que as determinam.
Seu domínio é constituído pela análise psicológica de todas as facetas da
realidade educativa e não apenas a aplicação da psicologia à educação. Seu maior
objetivo é constatar ou compreender e explicar o que se passa no seio da
situação de educação. Por isso, tanto psicólogos quanto pedagogos podem possuir
tal especialização profissional.
A Psicologia da Educação faz parte dos componentes específicos das
ciências da Educação, tal como a sociologia da educação ou a didática. Compõem
um núcleo, cuja finalidade é estudar os processos educativos.

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Atualmente, rejeita-se a idéia de que a Psicologia da Educação seja
resumida a um simples campo de trabalho da Psicologia; ela deve, ao contrário,
atender simultaneamente aos processos psicológicos e às características das
situações educativas.

Ela estuda os processos educativos com tripla finalidade:

1. Contribuir à elaboração de uma teoria explicativa dos processos


educativos – nível teórico;
2. Elaborar modelos e programas de intervenção - nível tecnológico;
3. Dar lugar a uma práxis educativa coerente com as propostas teóricas
formuladas - nível prático.

Definição de Psicopedagogia:

Especialização dentro da Pedagogia e/ou Psicologia que trata dos distúrbios


de aprendizagem (crianças que possuem dificuldades para aprender).

Definição de Psicologia da Criança:

Também chamada de Psicologia Evolutiva ou Psicologia do


Desenvolvimento Humano, estuda as leis gerais da evolução da criança, as
sucessivas etapas de seu desenvolvimento nas quatro grandes áreas: cognitiva,
afetiva, social e psicomotora.

APRENDIZAGEM INFORMAL E FORMAL

Conceito Geral de Aprendizagem:

AN02FREV001/REV 4.0

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Aprendizagem é a aquisição de novos comportamentos, que são
incorporados ao repertório individual de cada pessoa, que deverá apresentar, desse
modo, capacidades e habilidades não existentes anteriormente. Além de adquirir
comportamentos novos, através da aprendizagem, uma pessoa poderá também
modificar comportamentos anteriormente adquiridos (ROCHA).
“Aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo
já maturo, que se expressa, diante de uma situação-problema, sob a forma de uma
mudança de comportamento em função da experiência; envolve os hábitos que
formamos os aspectos de nossa vida afetiva e a assimilação de valores culturais,
além dos fenômenos que ocorrem na escola” (JOSÉ & COELHO).“A aprendizagem é
parte de um processo social de comunicação - a educação” - e apresenta os
seguintes elementos:

Comunicador ou emissor: professor, enquanto transmissor de informações


ou agente do conhecimento. O comunicador tem uma participação ativa no processo
educativo, devendo estar motivado e ter pleno conhecimento da mensagem que irá
transmitir a seus alunos.
Mensagem: conteúdo educativo, conhecimentos e informações a serem
transmitidas. A mensagem deve ser adequada, clara e precisa para ser bem
entendida. Receptor da mensagem: aluno. O receptor não tem um papel passivo;
deve ser um construtor crítico dos conhecimentos e informações que lhe são
transmitidos.
Meio ambiente: meio escolar, familiar e social, onde se efetiva o processo de
Ensino-aprendizagem. O meio ambiente deve ser estimulador da aprendizagem e
propício ao bom desenvolvimento do processo educativo. (DROUET)

Aprendizagem significativa: é interessante destacar que não basta apenas


'ensinar'; é preciso oportunizar aos nossos educandos uma aprendizagem
significativa. Ou seja, para que a aprendizagem provoque uma efetiva mudança de
comportamento e amplie cada vez mais o potencial dos educandos. É necessário
que ele perceba a relação entre o que está aprendendo e a sua vida, sendo capaz
de reconhecer as situações em que aplicará o novo conhecimento.

AN02FREV001/REV 4.0

29
“Uma aprendizagem mecânica, que não vai além da simples retenção, não
tem significado nenhum” (JOSÉ & COELHO).

É possível medir o nível de aprendizagem?

Como a aprendizagem se concretiza em termos de comportamento, para


avaliar o que alguém aprendeu é preciso observar o seu desempenho.
Esta é a concepção das escolas mais tradicionais, onde a 'prova' era a única
capaz de verificar o aprendizado, inferindo sobre sua ocorrência. Mas será esta a
melhor e mais fidedigna maneira de verificar o aprendizado?
Atualmente, têm-se realizado importantes mudanças no modo de pensar em
relação à aprendizagem escolar, tendo como resultados esforços para combinar
várias interpretações. A prova já não parece mais tão fidedigna assim, pois ela pode
representar uma mudança temporária de comportamento e não uma mudança
duradoura.

Curva representativa de Aprendizagem

Estamos permanentemente em estado de aprendizagem. O declínio da


curva se dá porque começa a haver um enfraquecimento neuro-hormonal no
indivíduo. Devido a esse enfraquecimento alguns envelhecem mais cedo, enquanto
outros permanecem perfeitamente lúcidos até uma idade muito avançada.

Ensino X Instrução

ENSINAR: fazer com que as pessoas aprendam; fazer com que outros
saibam, adquiram conhecimentos ou mudem atitudes. A aprendizagem é seu
produto final.
INSTRUIR: manipular deliberadamente o ambiente de outros, para torná-lo
capaz de aprender, sob condições específicas (aprendizagem escolar). Este é um
conceito ultrapassado. Desta diferença entre ensinar e instruir pode-se dizer que
existem dois tipos de aprendizagem: informal e formal.

AN02FREV001/REV 4.0

30
A Aprendizagem e a Psicologia da Educação: Aprendizagem Informal e
Formal

Aprendizagem Formal: processo que é direcionado, orientado e previamente


planejado e organizado (sala de aula); advém da instrução.
Aprendizagem Informal: processo que é de natureza incidental, não-dirigido,
e carente de controle. Resultam da experiência no ambiente de vida (fora da escola);
advém do ensino. A Psicologia da Educação exerce seu papel mais relacionado à
aprendizagem formal.

Modelos de Ensino Formal:

Um modelo de ensino formal inclui um conjunto de procedimentos para que


se realize o ensino.
Pode resumir-se em seus componentes fundamentais: professor, aluno e
conteúdo.
Existem quatro modelos básicos:

Modelo Clássico: ênfase dada no professor, enquanto um transmissor de


conteúdo.
A educação consiste em transmissão de idéias selecionadas, organizadas e
não de acordo com o interesse do aluno. O aluno é apenas um recipiente passivo.
Modelo Tecnológico: ênfase na educação como transmissora de
conteúdos; o conteúdo é o centro do processo. O aluno é um recipiente de
informações. A educação se preocupa com aspectos observáveis e mensuráveis e o
professor é o responsável por essa concretização.
Modelo Personalizado: ênfase no aluno. O ensino se processa em função
do desenvolvimento e interesse dos alunos. A educação é um processo progressivo
e o professor oferece assistência ao aluno, enquanto um facilitador da
aprendizagem.
Modelo Interacional: apresenta um equilíbrio entre os componentes do
modelo. O professor cria um clima de diálogo e troca experiências e valores com

AN02FREV001/REV 4.0

31
seus alunos. O conteúdo consiste na análise crítica de problemas reais e sociais. O
aluno é ativo em sua aprendizagem.

DOMÍNIOS DA APRENDIZAGEM

A aprendizagem abrange três domínios fundamentais: 1. Intelectual ou


Cognitivo; 2. Afetivo-social; 3. Sensório-psiconeurológico.

Domínio intelectual ou cognitivo (inteligência humana)

A inteligência e a idade mental (e não a cronológica) são domínios decisivos


à aprendizagem humana.
Inteligência: capacidade de interagir com o meio ambiente e adaptar-se a
ele; desenvolve-se através de fases, ao longo da vida, que se sucede em uma
mesma ordem, mas devido às diferenças individuais, podem ser alcançadas em
idades diferentes para cada pessoa, dependendo do ritmo de desenvolvimento.

Domínio afetivo-social (emoções, sentimentos e aspectos psicossociais)

As pessoas são todas diferentes e únicas. As diferenças são determinadas


pelas influências genéticas, bioquímicas de seu próprio organismo e por estímulos
do ambiente em que vivem, bem como pela interação de todas as experiências
sociais que tiveram desde o nascimento. A personalidade de cada indivíduo vai se
formando se desenvolvendo; Portanto, o aluno que chega à escola ou universidade
já possui sua personalidade bem definida.
As características psicológicas momentâneas, tais como o humor, as
emoções e os sentimentos, também são domínios fundamentais à aprendizagem
humana. Da mesma forma, certo amadurecimento social (relacionamento
interpessoal e intrapessoal) é elemento igualmente importante neste processo de
ensino-aprendizagem.

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32
O sensório-psiconeurológico (sensações, desenvolvimento neuropsicológico
e maturação neurológica).

- A integração das funções neuropsicológicas é fundamental à


aprendizagem. Para tanto, a estimulação é comprovadamente importante, já que
crianças que viveram seus primeiros anos de vida em ambientes pobres de
estímulos sofreram danos graves de desenvolvimento, principalmente em seus
elementos sensoriais (audição, visão, tato, gustação, olfato), neurológicos
(maturação neurológica), psicomotores (esquema corporal, lateralidade, equilíbrio) e
lingüísticos (fala).

PRINCÍPIOS DA APRENDIZAGEM

1º princípio: “universalidade” - a aprendizagem é co-extensiva à própria vida,


ocorre durante todo o desenvolvimento do indivíduo. Na vida humana a
aprendizagem se inicia antes do nascimento e se prolonga até a morte.
2º princípio: A aprendizagem é um processo constante e contínuo.
3º princípio: “gradatividade” - A aprendizagem é gradual, isto é, aprende-se
pouco a pouco.
4º princípio: “processo pessoal/individual” - cada indivíduo tem seu ritmo
próprio de aprendizagem (ritmo biológico) que, aliado ao seu esquema próprio de
ação, irá constituir sua individualidade. Por isso, tem fundo genético e também
ambiental, dependendo de vários fatores: dos esquemas de ação inatos do
indivíduo; do estágio de maturação de seu sistema nervoso; de seu tipo psicológico
constitucional (introvertido ou extrovertido); de seu grau de envolvimento; além das
questões ambientais.
5º princípio: “processo cumulativo” - as novas aprendizagens do indivíduo
dependem de suas experiências anteriores. As primeiras aprendizagens servem de
pré-requisitos para as subseqüentes. Cada nova aprendizagem vai se juntar ao

AN02FREV001/REV 4.0

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repertório de conhecimentos e de experiências que o indivíduo já possui indo
construir sua bagagem cultural.
6º princípio: “processo integrativo e dinâmico” - esse processo de
acumulação de conhecimentos não é estático. A cada nova aprendizagem o
indivíduo reorganiza suas idéias, estabelece relações entre as aprendizagens, faz
juízos de valor.

FATORES DA APRENDIZAGEM

Saúde física e mental: para que seja capaz de aprender, a pessoa deve
apresentar um bom estado físico geral; deve estar gozando de boa saúde, com seu
sistema nervoso e todos os órgãos dos sentidos. As perturbações na área física,
como na sensorial e na área nervosa poderão constituir-se em distúrbios da
aprendizagem. Febre, dores de cabeça, disritmias (ausências mentais) são
exemplos disto.
Motivação: é o fator de querer aprender; o interesse é a mola propulsora da
aprendizagem. O indivíduo pode querer aprender por vários motivos: para satisfazer
a sua necessidade biológica de exercício físico e liberar energia; por ser estimulada
pelos órgãos dos sentidos, através de cores alegres; por sentir-se inteligente e bem
consigo mesmo ao resolver uma atividade mental; por sentir necessidade de
conquistar uma boa classificação na escola (status social e pessoal, admiração).
Prévio domínio: domínio de certos conhecimentos, habilidades e
experiências anteriores, possuindo relativa vantagem em relação aos que não o
possuem.
Maturação: é o processo de diferenciações estruturais e funcionais do
organismo, levando a padrões específicos de comportamento. A maturação
neurológica se dá por etapas sucessivas e na mesma seqüência (Leis céfalo-caudal
e Próximo-distal). A maturação cria condições à aprendizagem, havendo uma
interação entre ambas.
Inteligência: capacidade para assimilar e compreender informações e
conhecimentos; para estabelecer relações entre vários desses conhecimentos; para

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criar e inventar coisas novas, com base nas já conhecidas; para raciocinar com
lógica na resolução de problemas.
Concentração e atenção: capacidade de fixar-se em um assunto/tarefa.
Desta capacidade dependerá a facilidade maior ou menor para aprender.
Memória: a retenção da aprendizagem é aspecto essencial à aprendizagem,
pois quando a pessoa precisar de um conhecimento ela deverá ser capaz de
resgatá-los da memória, usando os conhecimentos anteriormente adquiridos. No
entanto, quem aprende está sujeito a esquecer o que aprendeu. O esquecimento se
dá por vários motivos: pela fragilidade ou deficiência na aprendizagem, causada por
estudo ineficiente, falta de atenção; pela tentativa de evocação do fato memorizado
através de um critério diferente do usado na fixação da aprendizagem; pelo desuso
das informações; por um componente emocional que não permite a memorização da
informação ou a 'esconde' no subconsciente.

FATORES QUE INFLUENCIAM NA APRENDIZAGEM

A aprendizagem é produto de uma interação complexa e contínua entre


hereditariedade e o meio ambiente. Este processo pode ser influenciado tanto na
vida pré-natal como na vida pós-natal. As causas podem ser inúmeras: químicas,
físicas, imunológicas, infecciosas, familiar, afetivas e sócio-econômicas.

FATORES GENÉTICOS OU HERANÇA

Os elementos hereditários que influenciam na aprendizagem são chamados


de fatores genéticos e encontra-se na inscrição do programa biológico da pessoa -
herança. Está presente em toda parte: determina o grau de sensibilidade dos órgãos
efetores aos estímulos indutores; condiciona o aparecimento de doenças familiares
capazes de prejudicar a aprendizagem (insônia, depressão, síndrome de down,
asma) e ainda pode indiretamente intervir nos fatores ambientais, garantindo maior
ou menor resistência do organismo aos agravos do meio.

FATORES NEUROENDÓCRINOS

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O hipotálamo é destacado como o local controlador do sistema endócrino.
Podemos considerar o hipotálamo como um centro integrador de mensagens,
controlando a função da glândula hipófise na produção e liberação dos hormônios de
todas as glândulas do organismo e possibilitando a criança explorar seu potencial
genético, de desenvolvimento e de aprendizagem. Neuro-Hormônio
Adenocorticotrófico - ACTH: é liberado pelo hipotálamo; sua secreção acompanha
um ritmo circadiano gerado por um ritmo cerebral intrínseco, ligado a alteração de
luz (dia e noite), sono, estresse físico e emocional.

FATORES AMBIENTAIS

O meio ambiente na qual a pessoa está inserida exerce influências


particularmente poderosas, contribuindo positivamente à realização do plano
genético ou negativamente, apresentando obstáculos. O ambiente compreende
tanto condições da vida material, estando em primeiro lugar a alimentação e sua
utilização (nutrição), quanto pelo ambiente físico (sócio-econômico, estilo de vida) e
o ambiente familiar e cultural, cujo elemento fundamental é constituído pela relação
afetiva primária e o estímulo materno.
Na interação da hereditariedade e do meio ambiente, quando o meio é
normal e favorável pode-se calcular que 80 a 90 % da variabilidade natural da
espécie humana, nos limites da normalidade, se realizam segundo o programa
genético pré-determinado, entretanto, quando o meio é desfavorável e heterogêneo,
a hereditariedade pode cair a 60%.

NUTRIÇÃO

Em relação à alimentação, o leite é a nutrição natural inicial para todos, e a


qualidade desse leite tem condições para satisfazer o potencial genético ao
crescimento e à aprendizagem. A alimentação saudável é a balanceada, com
proteína suficiente, além da presença de hidratos de carbono, gorduras, sais
minerais e vitaminas. É preciso ter presente que só o crescimento consome 40% das
calorias fornecidas à criança.

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36
Deve-se fornecer energia à criança para atender às necessidades de
metabolismo basal; ação dinâmico-específica dos alimentos; perda calórica pelos
excretos; atividade muscular; crescimento. Para que a aprendizagem também seja
beneficiada, a nutrição do indivíduo deve ser balanceada e saudável. Essa energia
é, então, transmitida através dos macro nutrientes: Vitaminas; proteínas; hidratos do
carbono; sais minerais; gorduras.

Dois aspectos relacionados à alimentação que exercem influências:

A superalimentação: aceleração e envelhecimento precoce do crescimento;


A subalimentação: quando é global (fornecimento calórico abaixo de 1/3), o
crescimento é bloqueado de forma completa. Quando a sobrevida é possível, se
traduz pelo aspecto clínico de marasmo. Quando se refere especificamente sobre a
proteína, continuando o fornecimento calórico global tolerável, o crescimento
estatural é bloqueado - desnutrição protéica.

VARIÁVEIS SÓCIO-ECONÔMICO-CULTURAIS

As variáveis sócio-econômicas exercem importante influência: renda per


capita, a idade dos pais, o tamanho da família, condições de habitação e
saneamento, escolaridade, higiene; cultura dos pais (influencia na alimentação da
criança).
Dada a melhoria nas condições de vida, tais como a urbanização, melhoria
nos cuidados médicos, maior ingestão alimentar de nutrientes, vestuário menos
restritivo, entre outros fatores, existe uma forte tendência para que as crianças das
gerações que nos sucedem alcancem uma maturação mais cedo. Esta tendência de
aceleração secular pode ser vista nos estudos de Monteiro (1996), que demonstra
que as crianças brasileiras estão maturando cada vez mais cedo, em todas as
classes sociais, onde as regiões sul e sudeste do país são as que mais crescem.

FAMÍLIA E OS FATORES PSICOSSOCIAIS

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Outro aspecto importante, diz respeito ao ambiente familiar, que comporta
elementos diversos, de ordem psicológica particular, mas também de ordem cultural
segundo o nível intelectual, os conhecimentos adquiridos através dos pais, a
herança dos costumes, etc. Acima de tudo, intervém a relação afetiva precoce da
mãe com a criança desde os primeiros instantes da vida.
A qualidade dessa ligação afetiva condiciona em grande parte o
relacionamento da mãe e, conseqüentemente, a qualidade de sua conduta com a
alimentação, proteção física, estímulo psíquico e cultural da criança. A carência
afetiva consiste na falta de carinho e de solicitação afetiva materna, perturbando ou
mesmo impedindo o vínculo mãe e filho, determinando o aparecimento de uma
síndrome complexa com reflexos no seu desenvolvimento neuropsicomotor, no
crescimento e no estado emocional, e por conseqüência, na aprendizagem.

O PROFESSOR E O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Quando inserido no processo de ensino-aprendizagem (sala de aula), o


professor poderá vir a assumir vários papéis sociais.
A Psicologia da Educação, após longos anos de pesquisa a respeito deste
assunto, identificou alguns papéis claros, assumidos por professores em seu
trabalho diário junto a uma classe de alunos.

# Grupo de papéis Negativos:

Bode expiatório: sente-se alvo de hostilidades, recusado por seus alunos;


perde sua estabilidade emocional. Requer uma grande dose de segurança interior
para aceitar esta situação e ainda permanecer no posto. Este professor poderá ter
dois tipos de comportamento: a contra-hostilidade e a necessidade de constante
submissão, para com a vontade de seus alunos para ser aceito.

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Inspetor e disciplinador: sente-se o distribuidor e o executor da justiça;
Valoriza desempenhos, classifica alunos, promove-os e rebaixa-os. É o grande
responsável pela conduta em sala de aula, faz o papel de inspetor. Julga o certo e o
errado, administrando recompensas e punições.

# Grupo de papéis Autoritários:

Substituto da autoridade paterna: assume o papel de orientador dos


alunos, orientando a todos de igual maneira. Não é nem paternalista demais, nem
rígido demais. Mantém um bom e equilibrado nível de relações afetuosas com todos.
Fonte de informações: sua função é transferir conhecimentos para os
alunos; é aquele que sabe. Orienta-se em termos acadêmicos em sua abordagem.
Forja uma concepção passiva do aluno quando se vê como o único que sabe tudo.
Líder de grupo: professor que se coloca como líder. Pode assumir a
liderança do grupo de duas formas: autocrática ou democrática, ambas envolvem o
sistema de status no grupo.
Cidadão modelo: sua função vai além de transmitir conhecimentos; coloca-
se como mentor moral, ético, social e político de seus alunos. Dá sempre bom
exemplo de comportamento social, utilizando-o para ensinar. Não separa sua vida
provada da profissional.

# Grupo de papéis de Proteção:

Terapeuta: é um orientador e higienista mental do grupo; responsável pela


prevenção e ajustamento de problemas, além de promotor de um meio favorável à
aprendizagem; aceita as diferenças e promove aulas com atmosfera de aceitação
emocional. Acredita que a experiência pessoal e todos os aspectos da vida afetam a
aprendizagem.
Amigo e confidente: é amigo e caloroso, convidando a todos a confidências
e a participar das dificuldades do grupo. Leva tudo ao plano da amizade pessoal. É

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acessível e compreensivo, deixando o aluno contar suas dificuldades e problemas
em um meio neutro. O excesso ocorre quando o professor usufrui satisfação
primária à resposta afetiva do aluno para com ele. Gera-se um conflito entre o papel
de professor e de amigo.

Psicologia Jurídica

Extraído de sinalizando.blogspot.com/2007/06/psicologia-j...

A Psicologia Jurídica, também chamada de Psicologia Criminal ou Psicologia


Judiciária, consiste na aplicação dos conhecimentos psicológicos ao serviço do
Direito. Dedica-se à proteção da sociedade e à defesa dos direitos do cidadão,
através da perspectiva psicológica. Juntamente com a Psicologia Forense, constitui
o campo de atuação da Psicologia conjuntamente com o Direito.

Este ramo da Psicologia dedica-se às situações que se apresentam


sobretudo nos tribunais e que envolvem o contexto das leis. Desse modo, na
Psicologia Jurídica, são tratados todos os casos psicológicos que podem surgir em
contexto de tribunal. Dedica-se ao estudo do comportamento criminoso.

Clinicamente, tenta construir o percurso de vida do indivíduo criminoso e


todos os processos psicológicos que o possam ter conduzido à criminalidade,
tentando descobrir a raiz do problema, uma vez que só assim se pode partir à

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descoberta da solução. Descobrindo as causas das desordens, sejam elas mentais
e/ou comportamentais (criminosas, neste caso), também se pode determinar uma
pena justa, tendo em conta que estes casos são muito particulares e assim devem
ser tratados em tribunal.

Esta ciência nasceu da necessidade de legislação apropriada para os casos


dos indivíduos considerados doentes mentais e que tenham cometido atos
criminosos, pequenos ou graves delitos. A doença mental tem que ser encarada a
partir de uma perspectiva clínica mas também do ponto de vista jurídico.

Um psicólogo formado nesta área tem que dominar os conhecimentos que


dizem respeito à Psicologia em si, mas também tem que dominar os conhecimentos
referentes às leis civis e às leis criminais. Deve ser um bom clínico e possuir um
conhecimento pormenorizado da Psicopatologia. Podem-se encontrar peritos nesta
área em instituições hospitalares, especialmente do tipo psiquiátrico.

A Psicologia Criminal realiza estudos psicológicos de alguns dos tipos mais


comuns de delinqüentes e dos criminosos em geral, como, por exemplo, os
psicopatas. De fato, a investigação psicológica desta área da Psicologia apresenta,
sobretudo, trabalhos sobre homicídios e crimes sexuais, talvez devido à sua índole
grave e fascinante.

Psicologia Jurídica em linhas gerais

Como visto anteriormente, o Positivismo ditava as regras da Ciência do final


do século XIX e início do século XX. Contando com expoentes como Durkheim e
Comte, transferia o método das Ciências naturais para as áreas humanas,
privilegiando os exames criminológicos, laudos e testes, itens indispensáveis ao
psicodiagnóstico.

Se for realizada uma análise pormenorizada da realidade atual, verificar-se-á


que ainda hoje os exames laboratoriais ainda mantêm o status de científico por ter
em seu poder provas ditas ‘materiais’. Em detrimento de outras avaliações mais
subjetivas. Ao psicólogo ainda é cobrado algo mais concreto, mas como tratar os

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seres humanos, complexos pela sua própria essência, com as mesmas técnicas
empregadas por aquilo que é exato, quantificável?

Mas era essa a proposta do Positivismo comteano. A Psicologia Jurídica,


nomeada como Psicologia do Testemunho, era responsável por provar a
fidedignidade do relato, ou testemunho, através de instrumentos específicos, o que
só estimulou ainda mais o crescimento da Psicologia Experimental. Quem ainda não
ouviu falar sobre a máquina que detecta mentiras?

Era o impulso que faltava para que fossem realizados inúmeros estudos
sobre memória, sensação e percepção, o que aumentou ainda mais a interface entre
a Psicologia e o Direito. Os instrumentos da Psicologia legitimam, de certa forma, as
práticas jurídicas, ratificando, ou não, as suas tomadas de decisão.

Cabe ao psicólogo jurídico, entretanto, não ceder à tentação de atuar como


um Juiz oculto, dono de um saber absoluto e apto a julgar, absolver ou condenar
aqueles que lhes chegarem às mãos. A Psicologia Jurídica acaba por reforçar uma
prática repressora e controladora, característica do Direito, segundo o qual os
conflitos não passariam por uma solução, mas permaneceriam recalcados.

Torna-se, então, fundamental, que a Psicologia aja abrindo uma brecha para
que as práticas jurídicas tenham outro olhar, menos repressivo e mais acolhedor,
vigilante das práticas que privilegiem os direitos humanos.

Cabe ao psicólogo, então, uma atenta observância de que não lhe é dada à
função de julgar, ditar normas e regras, regulando a relação do homem com a
sociedade e favorecendo práticas de controle social, mas sim utilizar laudos periciais
para favorecer a liberdade e a solidariedade humana. Atuando de forma o mais
flexível possível, sempre para o bem do ser humano e não para endossar práticas
repressivas que favoreçam determinadas partes.

O psicólogo jurídico deve priorizar o bem do ser humano, favorecendo-lhe a


liberdade e o devido amparo legal e não reforçar a repressão humana agindo como
um ditador que carimba cada decisão tomada. Faz-se necessário refletir sobre cada
ação, redação, documento e cada decisão. Não cabe ao psicólogo determinar

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culpados ou inocentes, nem fazer aquilo que cabe ao juiz: tomar a decisão final em
cada processo. Ao psicólogo cabe apenas auxiliar-lhe na tomada de decisão.

É preciso estar atento, pois não existe uma verdade absoluta inteira, mas
sempre parcial e relativa. O psicólogo sempre terá apenas o olhar de um dos
prismas da questão, jamais uma visão total. Cautela é fundamental. O jogo de poder
pertence ao mundo jurídico. Não cabe ao psicólogo assumir posições, seja de
defesa ou de acusação, apenas de análise do discurso e auxílio à reflexão, para a
tomada de decisão.

Num jogo de guarda dos filhos, por exemplo, cabe ao psicólogo não se
deixar seduzir pela tendência jurídica de ceder à mãe o direito do pátrio poder, mas
discutir, inclusive, que os pais também têm perfeita competência de criar bem os
seus filhos.

Já são muitos os que questionam em processos o atual sistema de visita


domiciliar, pois desejam uma participação mais ativa junto aos seus filhos.

O desejo desses pais tem gerado mudanças em nossa sociedade e na


cultura de gênero (de que mães foram feitas para cuidar dos filhos e da casa e os
pais do trabalho e do dinheiro), provocando inquietação e novas propostas para o
conceito de parentalidade; eles têm se organizado em instituições, associações ou
agremiações para discutir temas pertinentes ao casamento, divórcio, guarda dos
filhos e paternidade.

Grupos de discussão pela internet têm se tornado um veículo de divulgação


muito rápido e eficaz para propagar suas idéias. É nesse sentido que a Psicologia
Jurídica e o Direito devem se manter unidos para analisar a situação e, amparados
em suas teorias e práticas, liberar essa nova geração de pais do antigo enquadre,
onde os filhos são das mães e os pais apenas os provedores e “visitantes”, para
estabelecer novos conceitos de família e relacionamento entre pais e filhos.

A urgência para rever os laços de parentalidade tem implicações em um


fenômeno que está surgindo no contexto de divórcio e guarda. Em que registros de

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que falsas denúncias intencionais de abuso sexual de pais contra seus próprios
filhos surgem como um método para se impedir a visitação e o pedido de guarda.

As falsas denúncias de abuso sexual como um ato deliberado de acusação,


seja motivado por vingança, interesses financeiros distúrbios de caráter ou outros
motivos, têm, por conseqüência mais imediata, o afastamento das crianças até que
o genitor acusado prove sua inocência.

Em razão do afastamento da criança com o propósito de salvaguardá-la do


contato com o suposto abusador, o pai falsamente acusado teria seu direito à
convivência familiar, normalmente garantido pela Constituição Federal (art. 227),
pelo Código Civil (art. 1.634, II), e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA,
art. 3° e 4°), transgredido.

Para esses pais, o Estado Democrático de Direito passaria a não existir,


tendo sua cidadania e sua dignidade vilipendiadas perante todos. O trabalho do
psicólogo, nestes casos, pode auxiliar e nortear a atuação de advogados,
promotores, juízes, através da constatação dos indicadores da situação familiar,
reconhecendo a necessidade de uma ação em conjunto com os demais profissionais
na construção de um saber que auxilie a expressão da Justiça. Permitindo ao juiz
aplicar a Lei, dentro dos fins sociais, visando a uma relação democrática, justa e
igualitária (Verani, op.cit.). Ou prejudicar e alongar o processo por vários anos, sem
diminuir o conflito e a dor dos envolvidos, através da restrição de seu exercício
profissional à elaboração de laudos ou pareceres psicológicos, por vezes
conclusivos, fechados e, portanto, iatrogênicos.

3. PSICOLOGIA CLÍNICA: CONCEITO

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http://www.acervosaber.com.br/imagens/psicologia.jpg

A Psicologia Clínica se baseia na observação e análise aprofundada de


casos individuais. Criada por volta do final do século XIX por alguns médicos
psiquiatras e neurologistas que tratavam pacientes com doenças mentais, foi
desenvolvida por Freud, médico, discípulo de Breuer. Eles utilizavam a hipnose
como método de cura de tais pacientes.

Segundo a teoria de Breuer, que logo foi incorporada e melhor descrita por
Freud, as doenças mentais provinham de conflitos que estavam localizados na
mente da pessoa, e não necessariamente de problemas biológicos. Breuer
acreditava que através da hipnose a pessoa poderia driblar censuras que a
impediriam de lembrar certos fatos (os traumas), e assim melhorar sua idéia de tais,
ou vivenciar experiências. Freud depois descreveu esse estado como catarse. Freud
discordava quanto à eficiência da hipnose, e em contrapartida desenvolveu a técnica
da livre associação. Foi aí que a Psicologia Clínica nasceu, porque trouxe a cura
pela palavra.

A Psicologia Clínica cresceu desde então. O advento da Psicanálise abriu


um abrangente campo para novas teorias, como a Psicologia Analítica de Gustav
Jung, discípulo de Freud.

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Hoje em dia há muitas linhas de pensamento em psicologia: as mais
famosas são a Psicanálise a Psicologia Analítica, a Análise do comportamento ou
Behavorismo de Skinner e a Fenomenologia. Esta última nasceu dos pensamentos
de Sartre, Husserl, e tem seus expoentes na psicologia representados por Rollo May
(existencialista) e Fritz Pearls (Gestalt Terapia).

É freqüente o desconhecimento que, por vezes, se verifica relativamente à


pessoa e ao papel do psicólogo clínico e de outros técnicos de saúde mental
denominados, comumente, de "Psis".

Se depararmos com técnicos de saúde com modelos de intervenção


diferentes e bem delimitados tanto na forma como em conteúdo, torna-se premente
distingui-los, para que a procura por cuidados em saúde mental seja, à partida,
informada e racional.

Sem querer minimizar a importância (bem como o dever ético e deontológico


que lhe está subjacente) da indicação para um técnico de outra especialidade,
quando a situação assim o exige, será benéfico para o funcionamento da saúde
enquanto sistema. No qual a pessoa esteja suficientemente informada quanto ao
tipo de ajuda disponível para que, logo de início, procure o tipo de intervenção
adequada à situação.

Importa, então, clarificar determinados aspectos inerentes à prática do


psicólogo enquanto técnico de saúde, e diferenciá-lo de outros intervenientes neste
âmbito. Não cabe aqui uma descrição pormenorizada da especificidade de outras
áreas de intervenção no âmbito da saúde mental.

No entanto, importa realçar a sobreposição que, com freqüência, se verifica,


quer ao nível de entidades quer de metodologias, com outro técnico de saúde: o
psiquiatra. Este profissional segue um modelo médico, próprio da formação que
obteve: o indivíduo tem o "mal" para o qual existe o "remédio" que "cura".

Trata-se de um modelo amplamente adotado, difundido e enraizado, quer


pela longa idade da medicina enquanto ciência quer pelos valores sociais e políticos
vigentes, amparados quer por interesses econômicos de algumas indústrias quer por

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movimentos científicos mais conservadores que se constituem como grupos de
influência e que possibilitam a manutenção da performance deste tipo de modelo.

Historicamente mais recente, a psicologia possui o seu quadro de referência,


constituindo-se como ciência autônoma com objeto, metodologia e estatuto
epistemológico próprios. Apesar disto, ainda é confundida com outras ciências com
as quais compartilha alguns aspectos metodológicos ou o mesmo objeto de estudo.

Se assim acontece um pouco em todas as áreas da psicologia, mais se


verifica, esta situação, no campo da saúde. O próprio conceito de "psicologia clínica"
torna-se por vezes ambíguo. O termo "clínico" é referente ao indivíduo que está de
cama, como referência ao indivíduo que está doente.

No entanto, atitude clínica não é uma atitude médica. A psicologia clínica


entende os fenômenos psíquicos não num antagonismo saúde-doença, mas antes
como sendo a expressão possível (para o indivíduo) de diferentes processos
psicológicos socialmente contextualizados. Ou seja, relativiza a noção de "mal",
"remédio" e de "cura". O ato clínico não é necessariamente um ato médico.

Ao abordar o indivíduo que procura ajuda, o psicólogo clínico intervém


contextualizando a problemática em questão. É esta contextualização que confere
significado, originalidade e individualidade ao problema.

Deixamos de estar perante aquele discurso factual, e por vezes redutor, do


"mal", do "remédio" e da "cura" para passarmos a aceder aos fenômenos por outro
caminho. O real vê agora o seu interesse diminuído em detrimento da verdade
individual.

Movimentam-se as peças de um "jogo de xadrez" assentes num tabuleiro


que já não é o da realidade direta, mas antes da percepção, do simbolismo e da
representação individual dessa realidade. Entramos no campo da relação, do
imaginário e da comunicação. Assim, tanto aquilo que é verbalizado como aquilo
que é transmitido de um modo não-verbal é susceptível de ser entendido e
enquadrado num contexto específico.

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O discurso do indivíduo é o portal de acesso ao seu interior. Esse discurso é
"decifrado" na relação estabelecida entre o psicólogo, o cliente é quem faz o pedido
para a consulta. O pedido de ajuda é por si só, revelador. A intervenção da
psicologia clínica reporta-se, pois, a uma metalinguagem.

Na sua intervenção social o psicólogo clínico demarca-se significativamente


de outros profissionais de saúde mental, não tanto ao nível da prática (já que o
objeto de estudo, bem como a relação espistemológica em questão coexiste, por
vezes, com outras áreas do saber). Mas antes ao nível do método e do paradigma
de referência. Como disse, um dia, um determinado psicólogo: “Não será demais
pedir a um psicólogo clínico que use o Rorschach (prova de avaliação psicológica)
com a competência com que um médico usa o estetoscópio”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS...

Então, o que o psicólogo faz?

Você deve estar se perguntando a razão de estudar os vários campos de


atuação do psicólogo, se o curso é sobre Psicologia Clínica. É que todas essas
demandas aparecem no consultório de Psicologia e é dever do Psicólogo conhecer
sobre cada uma delas, encaminhando a outro profissional de Psicologia apenas
quando o caso exigir um conhecimenbto mais aprofundado.

O psicólogo age em diversas áreas e é importante entender primeiramente


onde e como se forma o conhecimento da ciência "Psicologia": a área científica. O
psicólogo, em sua graduação, aprende a pesquisar novos caminhos a partir de
dados já existentes; forma opiniões convergentes ou divergentes, podendo ser na
forma de crítica ou avanço em uma determinada pesquisa; monta estudos com
bases em experimentos, observação, estudos de casos, análises neurológicas e
farmacológicas, além de estudar em grupos multidisciplinares vários outros
conteúdos (mostrados à seguir).

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As áreas mais conhecidas desta criação científica são, como já vimos, entre
outras, a Psicologia Social, a Psicometria, a Psicologia Experimental (nisto
englobando a linha comportamental), a Psicologia do Desenvolvimento, a Psicologia
Metafísica, a Neuropsicologia, a Psicopatologia. Esses estudos criam teorias que
são utilizadas na Psicologia Aplicada, que como o nome diz, é a aplicação dos
construtos teóricos em áreas específicas.

A Psicologia Social estuda os movimentos sociais. Esta Psicologia Aplicada


está inserida nos mais diversos campos da sociedade, resolvendo problemas
práticos, sendo a área clínica a mais famosa. É importante, também, saber que esta
Psicologia Aplicada pode criar constructos científicos, que é o caso de Sigmund
Freud, Carl R. Rogers, Carl Gustav Jung, na Psicologia Clínica, além de Kurt Lewin
e J. L. Moreno, de outras áreas.
Além da clínica, o psicólogo aplicado trabalha em escolas, empresas
(treinamento, R.H., grupos, terapia individual), nas terapias de grupos, na
criminologia, nas academias de esportes, no clubes esportivos, nas propagandas
(marketing, venda de produto, com o uso da gestalt), nos hospitais (em terapias
breves, ou psicooncologia) e no tratamento de adicção (pela entrevista
motivacional).

Essas duas áreas, a de produção científica e a Psicologia Aplicada, são


práticas aceitas pelos Conselhos de Psicologia. Porém, o psicólogo não pode
medicar fármacos para um cliente, nem quebrar o sigilo deste sem seu
consentimento (há casos onde esta quebra de sigilo é possível, como no caso de
alguém que pode pôr em risco a vida de outra pessoa, ou a sua própria).

O terapeuta não pode utilizar métodos que não estejam em estudo científico,
aprovado pelo Conselho, como utilizar Florais de Bach, regressão a vidas passadas,
homeopatia, terapia bioenergética, entre outros. Ao usar estes métodos, o terapeuta
é proibido de utilizar-se do título de psicólogo.

A acupuntura e a hipnose são as únicas práticas complementares


regulamentadas e aceitas pelo Conselho de Psicologia, mas a utilização dessas

AN02FREV001/REV 4.0

49
práticas devem atender a normas de conduta ética estipuladas pelo Conselho de
Psicologia.

Necessidades da multidisciplinaridade

A Psicologia nasceu de estudos filosóficos e fisiológicos, portanto carrega


traços destes dois tipos de conhecimento. Atualmente, ela incorporou outros
conhecimentos ao seu próprio, trabalhando lado a lado com estes, é o caso da
Psicologia Social, por exemplo, que trabalha com bases teóricas de sociólogos,
antropólogos, teólogos e filósofos, tais como Auguste Comte, Michel Foucault, entre
outros. O próprio Carl Gustav Jung trabalha com trabalhos antropológicos, podendo
traçar as diferentes culturas com símbolos em comum.

A Psicologia Comunitária faz trabalho em campo, junto a assistentes sociais


terapeutas ocupacionais. Os conhecimentos destas áreas se fundem.

A Psicologia Jurídica trabalha com funcionários do Direito (advogados,


juízes, desembargadores), assim como os Psicólogos Hospitalares trabalham com
médicos, enfermeiros, enfim, com outros agentes promotores de saúde. Há,
também, a área da psicopedagogia, que trabalha com conteúdos da pedagogia no
campo da aprendizagem.

Algumas áreas da Psicologia, como a Psicologia Transpessoal e ,em partes,


a Psicologia Analítica, necessitam de estudos em física e metafísica para que
possam se tornar conhecimentos amplos acerca do ser humano, seja em analogias,
seja em estudos sobre eventos parapsicológicos, sendo que estes estudos são
recentes e não se constituem plenamente como ciência psicológica.

Tanto as áres alheias da Psicologia citadas, quanto a própria Psicologia


precisam trabalhar unidas, quando tratam de interesses em comum, os
conhecimentos se cruzam, e aumentam, e é possível que existam diferentes pontos
de vista em constante diálogo.

AN02FREV001/REV 4.0

50
Comitês de Bioética trazem esta multidisciplinaridade, agindo sobre
problemas corriqueiros e controversos. Estes comitês são formados por muitas
outras correntes do conhecimento, além do psicólogo. São médicos, enfermeiros,
advogados, fisioterapeutas, físicos, teólogos, pedagogos, farmacêuticos,
engenheiros, terapeutas ocupacionais e pessoas da comunidade onde o comitê está
inserido. Eles decidem aspectos importantes sobre tratamento médico, psicológico,
entre outros.

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51
GLOSSÁRIO

HERMENÊUTICA: do Gr. hermeneutiké, scilicet téchne, a arte de interpretar;


a arte de interpretar os livros sagrados; interpretação dos textos, dos símbolos;
interpretação do sentido das palavras; arte de interpretar as leis.

IATROGENIA: Fator que provoca doença. Algo iatrogênico.

MNEMÔNICO: adj., Relativo à memória; conforme os preceitos da


mnemônica; que facilmente se retém na memória.

PESQUISA-AÇÃO: Método de pesquisa no qual a interação é necessária


para a obtenção de resultados.

PROGNÓSTICO: do Lat. prognosticu < Gr. Prognostikós s. m., prognose;


ato ou efeito de prognosticar; conjectura sobre o que vai acontecer; parecer do
médico acerca do curso e resultado de uma doença; pop., Sentencioso, doutoral.
Probabilidade futura de desenvolver um determinado quadro.

PSICOMETRIA: do Gr. psyché, alma + metrein, medir; s. f., medição das


funções psíquicas através de testes normalizados destinados a estabelecer uma
base quantificável das diferenças entre indivíduos.

PSICOMOTOR: que diz respeito simultaneamente às funções psíquicas e às


funções motoras; relativo às relações entre a vontade e as reações motoras.

VOLITIVO: do Lat. *volitivu, volo, querer; adj., Que se refere à vontade ou à


volição.

------------------FIM----------------

AN02FREV001/REV 4.0

52
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação

CURSO DE
TERAPIA COGNITIVO
COMPORTAMENTAL

Aluno:

AN02FREV001/ REV 3.0

12
EaD - Educação a Distância Portal Educação

CURSO DE
TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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13
2 TERAPIA COMPORTAMENTAL

2.1 Histórico

Sabemos que antes do Behaviorismo existir, muitas outras escolas de


psicologia o antecederam, e outras surgiram a partir dele, como a Psicologia
Experimental, a Psicologia de Wilhelm Wundt, o Estruturalismo (sistema da
psicologia de E. B Titchener, que considerava a experiência consciente como
dependente das pessoas que a vivenciava), o Funcionalismo (sistema de psicologia
que se dedicou ao funcionamento da mente na adaptação do organismo ao
ambiente tendo como precursor William James), posteriormente o Behaviorismo
(ciência do comportamento concebida por Watson tratando somente do
comportamento passível de observação e descrição em termos objetivos), a
Psicologia da Gestalt (sistema de psicologia que se dedica amplamente à
aprendizagem e à percepção, sugerindo que a combinação dos elementos
sensoriais produz novos padrões com propriedades que eram inexistentes nos
elementos individuais), a Psicanálise (teoria de Sigmund Freud sobre a
personalidade e o sistema de psicoterapia) que juntamente com o Behaviorismo,
incentivaram o surgimento de diversas subdivisões dentro de cada escola.
Na década de 50 a Psicologia Humanista (sistema de psicologia que enfatiza
o estudo da experiência consciente e a integridade da natureza humana)
incorporando os princípios da Psicologia da Gestalt desenvolveu uma reação contra
o Behaviorismo e a Psicanálise.
Em 1960, a Psicologia Cognitiva (sistema de psicologia que se concentra
nos processos de aquisição do conhecimento, mais especificamente, na forma de
organização das experiências da mente) desafiou o Behaviorismo a rever o conceito
de psicologia, porque seu foco principal seria o retorno aos estudos dos processos
conscientes. E posteriormente surgiram a Psicologia Evolucionista, a Neurociência
Cognitiva e a Psicologia Positiva. Nesse tópico nos restringiremos ao Behaviorismo,
chamada atualmente de Psicologia Comportamental.
De acordo com Schultz & Schultz (2005) muitos nomes marcaram a história
da psicologia e suas escolas. No Estruturalismo temos nomes como Wundt, Stumpf,

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14
Kulpe, Titchener, Brentano, Ebbinghaus, no Funcionalismo temos James, Dewey,
Munsterberg, Angell, Carr, Hall, Cattell, Witmer, Scott, Woodworth, na Psicanálise
figuras como Freud, Jung, Adler, Horney se destacaram, no Behaviorismo temos
Thorndike, Pavlov, Watson, Hull, Bekhterev, Lashley, Tolman, Skinner, Rotter,
Bandura, na Psicologia da Gestalt se destacaram Wertheimer, Koffka, Kohler e
Lewin, na Psicologia Humanista temos Maslow e Rogers, na Psicologia Cognitiva
destaques foram para Miller e Neisser e na Psicologia Positiva, Seligman.
Todos esses estudiosos tiveram grande participação para que hoje
tivéssemos abordagens tão consistentes como a Psicologia Comportamental, as
quais serão citadas agora.
Tudo começou quando no ano de 1913 foi marcada uma espécie de
declaração de guerra, com o surgimento de um movimento de protesto cuja intenção
era dilacerar as visões antigas, buscando uma ruptura com ambas as posições, seus
líderes não desejavam modificar o passado, muito menos manter alguma relação
com ele, esse movimento revolucionário foi chamado de Behaviorismo e foi
promovido pelo psicólogo B. Watson, com 35 anos de idade (veja foto logo abaixo):

Disponível
em:<http://www.klickeducacao.com.br/Klick_Portal/Enciclopedia/images/Ps/11532/4072.jpg>. Acesso
em: 24/09/2010.

Como já citamos acima o Estruturalismo e o Funcionalismo desempenharam


papéis importantes, só que foram suplantadas por três escolas, o Behaviorismo, a

AN02FREV001/ REV 3.0

15
Psicologia da Gestalt e a Psicanálise. Segundo Atkinson (2002) das três, a que teve
maior influência na América do Norte foi o Behaviorismo, em que Watson acreditava
que para psicologia ser uma ciência, os dados psicológicos deveriam estar abertos
ao exame público como os dados de qualquer outra ciência, defendia o
comportamento como público e a consciência como privada, assim a ciência deveria
tratar apenas dos fatos públicos. Uma vez que os psicólogos estavam ficando
impacientes com a introspecção, o novo Behaviorismo foi rapidamente aceito.
Schultz & Schultz (2005) afirmam que as premissas básicas de Watson eram
simples, diretas e ousadas, buscando uma psicologia científica que lidasse
exclusivamente com os atos comportamentais observáveis e passíveis de descrição
objetiva, por exemplo, em termos de estímulos e respostas. Watson rejeitava
quaisquer termos ou conceito mentalista, na sua visão palavras como imagem,
sensação, mente e consciência, que eram adotadas desde antes da filosofia
mentalista, não significavam absolutamente nada para a ciência do comportamento.
Ele afirmava que ninguém jamais tinha tocado, visto, cheirado, experimentado ou
transferido de um lugar a outro a consciência, sendo sua definição tão improvável
como o conceito de alma.
Deve-se ficar claro que não foi Watson que deu origem as ideias básicas do
movimento Behaviorista, elas já vinham sendo desenvolvidas há algum tempo tanto
na psicologia como na biologia, como qualquer outro fundador, o que Watson fez foi
organizar e promover as ideias e as questões já aceitáveis para o Zeitgeist
intelectual da época, assim ele destacou questões como:
 A tradição filosófica objetivista e mecanicista;
 A psicologia animal;
 A psicologia funcional.

Dessa forma Watson começou a trabalhar com questões que focasse


apenas algo que fosse visível, audível ou palpável.
Para entendermos melhor as ideias de Watson faremos um breve balanço
de como surgiu várias ciências.
Encontramos em Baum (1999) a definição de Behaviorismo como um
conjunto de ideias sobre o comportamento, não como uma ciência, mas como uma
filosofia da ciência. Esse conceito fica mais bem entendido quando percebemos que

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16
houve um rompimento de várias ciências com a filosofia, todas começaram seus
estudos com a filosofia e posteriormente se separaram uma ruptura de ciências
como a astronomia, física, química, biologia com a filosofia, ciência da qual se
originaram, sendo que com a psicologia não foi diferente.
O raciocínio da filosofia parte de suposições para conclusões e sua verdade
é absoluta, já a ciência segue direção oposta, observa e tenta explicar que verdade
poderia levar essa observação e tem a verdade científica como relativa e provisória.
Como dissemos, a Psicologia rompeu com a filosofia, apesar de até na
última metade do século XIX ter usado métodos filosóficos como a introspecção,
método este considerado vulnerável e pouco confiável.
Os psicólogos da época acreditavam que seguindo os métodos objetivos
que eram verificáveis e replicáveis em laboratórios, a Psicologia poderia transformar-
se numa verdadeira ciência.
Em 1913, Watson articulou a crescente insatisfação dos psicólogos com a
introspecção e a analogia como métodos. Ele defendia que a Psicologia deveria ser
definida como a ciência do comportamento e não a ciência da consciência. De
acordo com eles evitar os termos relacionados à consciência e mente deixaria a
Psicologia livre para estudar o comportamento humano e social. Ele contestou
bastante o antropocentrismo.
Para Watson, o caminho era fazer da Psicologia uma ciência geral do
comportamento, que compreendesse todas as espécies, e que estudaria apenas o
comportamento objetivamente observável e deixaria de lado a subjetividade da
introspecção e as analogias entre homem e animal.
Com a ciência do comportamento veio o determinismo noção de que o
comportamento é determinado unicamente pela hereditariedade e pelo ambiente.
Em contra partida a essa tese temos o livre-arbítrio, que é a capacidade de escolha,
e supõe um terceiro elemento além da hereditariedade e do ambiente, que ele diz
ser algo que vem de dentro do indivíduo. O livre-arbítrio afirma que a escolha não é
uma ilusão que são as próprias pessoas que causam o comportamento.
De acordo com Baum (1999), alguns filósofos tentaram conciliar
determinismo com livre-arbítrio e propuseram para o livre-arbítrio teorias chamadas
de “determinismo brando” e “teorias compatibilizadoras”, a primeira deixa implícita
que o livre-arbítrio é apenas uma experiência, uma ilusão, e não uma relação causal

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entre pessoa e ação, já a segunda define livre-arbítrio como deliberação antes da
ação, isto é, comportamento que pode ser determinado pela hereditariedade e pelo
ambiente passado.
A Psicologia comparativa teve origem na ideia de fazer comparações entre
espécies a fim de conhecer melhor a nossa própria. Passou-se a fazer comparações
entre homem e animal para descobrir seus mecanismos, até mesmo suas formas de
pensar e agir.
Essa Psicologia teve grande influência no estudo do Behaviorismo,
citaremos alguns pontos marcantes.
Jacques Loeb acreditava na reação direta e automática do animal a um
estímulo, afirmando que a reação comportamental forçada pelo estímulo, não cabia
qualquer explicação em termos de definição consciente do animal, o que existia era
o movimento forçado involuntário, que segundo sua teoria era chamado de tropismo,
(veja foto logo abaixo):

Disponível em: <http://www.flavinscorner.com/jllab.JPG>. Acesso em: 24/09/2010

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18
Thorndike, um dos principais pesquisadores para o desenvolvimento da
psicologia animal, elaborou uma teoria de aprendizagem objetiva e mecanicista com
enfoque no comportamento manifesto, ele também acreditava que o psicólogo devia
estudar o comportamento, não os elementos mentais ou a experiência consciente,
não interpretando a aprendizagem do ponto de vista subjetivo, mas em termos de
conexões concretas entre estímulos e a resposta, embora não admitisse qualquer
referência à consciência e os processos mentais. Ele criou algumas teorias como à
do “conexionismo”, que era baseada nas conexões entre as situações e as
respostas, a “aprendizagem por tentativa-e-erro, que era baseada na repetição das
tendências de respostas que levam ao êxito, que posteriormente ele definiu como
“lei do efeito”, em que os atos que produzem satisfação em determinada situação
tornam-se associados a ela, quando a situação se repete, o ato tende a ocorrer.
Outra teoria seria a “lei do uso e desuso ou lei do exercício”, em que afirmava que
quanto mais um comportamento é realizado em uma situação, mais forte se torna a
associação entre comportamento e situação, (veja foto logo abaixo):

Disponível em: <http://www.chesapeake.edu/library/Stock/edward_thorndike_HEAD.jpg>. Acesso em:


24/09/2010

Ivan Pavlov estudou os reflexos condicionados, que seriam reflexos


dependentes na formação entre o estímulo e a resposta. Seus estudos foram feitos

AN02FREV001/ REV 3.0

19
por meio de um aparelho utilizando cães que estudava a resposta da salivação,
(veja foto logo abaixo):

Disponível em: <http://www.algosobre.com.br/images/stories/assuntos/biografias/Ivan_Pavlov.jpg>.


Acesso em: 24/09/2010.

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20
Disponível em: <http://images.com.br/imgres>. Acesso em: 24/09/2010

Todos esses estudiosos importantes influenciaram Watson e seus estudos


sobre o comportamento, fortalecendo desde o início sua intenção de fundar uma
escola, onde ele desejava que o novo Behaviorismo tivesse valor prático e aplicável
na vida real.
Watson afirmava que quase todo comportamento é resultado de
condicionamento e que o ambiente molda o comportamento reforçando hábitos
específicos. Essa escola tendia a discutir os fenômenos psicológicos em termos de
estímulos e respostas, dando origem ao termo psicologia de estímulo-resposta (E-
R).
De acordo Schultz & Schultz (2005), instinto era conceituado por Watson
como respostas condicionadas socialmente e emoções não passavam de uma
simples resposta fisiológica a estímulos específicos.
Embora o Behaviorismo houvesse chamado a atenção dos psicólogos
americanos, nem todos concordavam com a visão de Watson. Alguns psicólogos
desenvolveram sua própria psicologia behaviorista, conduzindo a escola de
pensamento em direções distintas.
A carreira produtiva de Watson na psicologia durou pouco menos de 20
anos, mesmo assim, afetou profundamente o curso do desenvolvimento da
psicologia por muito tempo. Watson foi um eficaz agente do Zeitgeist, em uma época
de mudanças não apenas na psicologia, como também nas atitudes científicas em
geral, ele tornou a metodologia e a terminologia da psicologia mais objetiva, embora
hoje suas formulações não sejam mais válidas.
O Behaviorismo de Watson constituiu o primeiro estágio da evolução de
escola de pensamento comportamental aproximadamente em 1913. Mas não parou
por aí, do período de 1930 a 1960, surge o Neobehaviorismo, englobando os
trabalhos de Tolman, Hull e Skinner, em que estes compartilhavam alguns pontos
em comum, como tópico central da psicologia o estudo da aprendizagem, os
comportamentos podem ser entendidos por leis de condicionamentos e o
operacionismo. E o terceiro estágio da evolução behaviorista, que vai de 1960 e
perdura até hoje, chamado de neoneobehaviorismo ou sociobehaviorismo, incluindo

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21
trabalhos de Bandura e Rotter, enfocam o retorno do estudo dos processos
cognitivos, mas mantendo o enfoque na observação do comportamento manifesto.
Edward Tolman foi um dos primeiros convertidos ao Behaviorismo cunhou o
termo Behaviorismo Intencional, em que este combina o estudo objetivo do
comportamento com a ponderação da intenção ou a orientação do propósito no
comportamento. Seu principal enfoque segundo Schultz & Schultz (2005) estava no
problema de aprendizagem. Tolman rejeitou a lei do efeito de Thorndike, afirmando
que a recompensa ou o esforço exerciam pouca influência sobre a aprendizagem, e
em seu lugar propunha uma explicação cognitiva para a aprendizagem, sugerindo
que a repetição do desempenho de uma tarefa reforça a relação aprendida entre as
dicas ambientais e as expectativas do organismo, dessa forma, o organismo acaba
conhecendo seu ambiente, afirmando serem essas relações estabelecidas pela
repetição da realização de uma tarefa, (veja foto logo abaixo):

Disponível em: <http://web.syr.edu/~jlbirkla/kb/images/Tolman.jpg>. Acesso em: 24/10/2010.

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22
Já Clark Hull usava uma forma de Behaviorismo mais sofisticada e mais
complexa que Watson, embora ainda fosse considerado como objetivo, reducionista
e mecanicista. Descrevia seu Behaviorismo e sua visão de natureza humana
empregando termos mecanicistas e considerava o comportamento humano
automático e possível de ser reduzido e explicado na linguagem da física. Sua teoria
da aprendizagem concentra-se no princípio de reforço, a qual é essencialmente a lei
do efeito de Thorndike, (veja foto de Hull logo abaixo):

Disponível em: <http://www.uned.es/psico-2-psicologiaII/links/photogallery/1pp/personajes/Clark_L_Hull.jpg >.


Acesso em: 24/09/2010.

Segundo Schultz & Schultz (2005), o Behaviorismo de Skinner dedicava-se


ao estudo das respostas, preocupando-se em descrever e não em explicar o
comportamento, sua pesquisa tratava apenas do comportamento observável, e ele
acreditava que a tarefa de investigação científica era estabelecer as relações
funcionais entre as condições de estímulos controladas pelo pesquisador e as
respostas subsequentes do organismo.
Skinner não duvidava da existência das condições mentais ou fisiológicas
internas, apenas não aceitava sua validade no estudo científico do comportamento.
Em seus experimentos, Skinner conceituou condicionamento operante como
uma situação de aprendizagem que envolve o comportamento emitido por um
organismo em vez de eliciado por um estímulo detectável. Esse comportamento

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23
ocorre sem qualquer estímulo antecedente externo observável, (veja foto de Skinner
logo abaixo):

Disponível em:
<http://3.bp.blogspot.com/_Rg2vOgLY4e0/RwW_V2R4sVI/AAAAAAAAAIM/fTxWXZmueXI/s1600/skin
ner.jpg>. Acesso em: 24/09/2010.

Skinner também criou a lei da aquisição, em que a força de um


comportamento operante aumenta quando, em seguida, recebe um estímulo
reforçador.
No terceiro estágio da evolução behaviorista chamado de
neoneobehaviorismo ou sociobehaviorismo, Bandura, Rotter e outros seguidores
adotavam uma forma de behaviorismo bem mais distinta que a de Skinner. Eles
questionavam sua total negação aos processos mentais ou cognitivos e propunham
em seu lugar uma aprendizagem social, uma reflexão sobre um movimento cognitivo
mais amplo na psicologia como um todo.
Este teóricos defendiam os pensamentos (cognições), o que fez com que
fosse criada uma divisão no behaviorismo: nascendo a psicologia cognitiva. Outros

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24
autores desta escola além de Albert Bandura, Julian Rotter, foi Aaron Beck. Eles
acreditavam que o comportamento pode ser entendido também a partir da cognição,
que o aprendizado pode existir sem a necessidade de condicionamento em
laboratório, mas pela observação e elaboração do que foi visualizado.
Bandura desenvolveu termos como Reforço Vicário (noção de que o
aprendizado pode ocorrer por observação do comportamento de outras pessoas e
das consequências delas decorrentes, e não apenas experimentando o reforço
diretamente) e Autoeficácia (a percepção do indivíduo de sua autoestima e a
competência em lidar com os problemas da vida), (veja foto logo abaixo):

Disponível em: <http://news-service.stanford.edu/news/2006/february22/gifs/ppl_bandura.jpg>.


Acesso em: 24/09/2010.

Rotter desenvolveu uma forma de behaviorismo, que como a de Bandura,


inclui referência às experiências subjetivas internas, sendo menos radical que o de
Skinner. Rotter concentrou sua pesquisa nas crenças a respeito da origem do
reforço. Ela acreditava num Locus de controle (a ideia sobre a origem do
reforçamento, havendo o lócus de controle interno - crença de que o reforço

AN02FREV001/ REV 3.0

25
depende do próprio comportamento das pessoas e Locus de controle externo –
reforço depende das forças externas).

Disponível em: <http://psychlops.psy.uconn.edu/founders/Images/7.jpg>. Acesso em: 24/09/2010.

Segundo Schultz & Schultz (2005), apesar do debate interno a respeito da


questão cognitiva no behaviorismo ter provocado mudanças no movimento
behaviorista, que se seguiram desde Watson até Skinner, é importante lembrar que
Bandura, Rotter e outro neoneobehavioristas que são defensores da abordagem
cognitiva ainda se consideram behavioristas. Assim, eles podem ser chamados de
behavioristas metodológicos, porque se referem aos processos cognitivos internos
como parte do objeto de estudo da psicologia, enquanto os behavioristas radicais
acreditam que a disciplina devia se dedicar ao estudo do comportamento público e
do estímulo ambiental, e não dos estudos internos presumidos.
Watson era behaviorista metodológico e Skinner era behaviorista radical. Já
Hull, Tolman, Bandura e Rotter podem ser classificados como metodológicos.

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26
Sabe-se que o domínio do tipo de behaviorismo de Skinner chegou ao auge
na década de 1980 e diminuiu depois de sua morte em 1990. Skinner até admitiu
que sua abordagem estivesse perdendo terreno e que o impacto da abordagem
cognitiva aumentava. E hoje o behaviorismo que permanece vivo na psicologia
contemporânea, principalmente na psicologia aplicada, é diferente daquele que
surgiu nas décadas entre o manifesto de Watson em 1913 e a morte de Skinner, em
1990.

2.2 Fundamentos Teóricos

De acordo com Skinner (2003) a abordagem comportamental prioriza na


terapia, a alteração de fatores ambientais e sociais (contingências), possibilitando ao
indivíduo discriminar os estímulos no meio, que contribuem para manutenção de
seus comportamentos e dessa forma possibilitar ao indivíduo maior autocontrole
diante de seus comportamentos indesejáveis. Prioriza o uso de experimentos para
verificar como ocorre o comportamento e como ele é mantido e formular conceitos
como esquemas de reforçamento, punição, extinção, generalização de estímulos,
equivalências de estímulos, controle de estímulos entre tantos outros.
Como já ressaltamos anteriormente muitos teóricos contribuíram para que o
behaviorismo chegasse tão longe, Pavlov trabalhou com conceitos como
condicionamento clássico, estímulo não condicionado, estímulo condicionado,
Thorndike e sua “Lei do Efeito”, Skinner, com os conceitos de condicionamento
operante, reforçamento positivo, reforçamento negativo e punição, Wolpe enfatizou
novas técnicas para a eliminação de medo e da evitação, usando uma hierarquia
gradual de estímulos ansiogênicos, o que foi chamado de dessensibilização
sistemática e também pela importância do paciente realizar extensas lições de casa
in vivo entre as sessões de terapia.
Hoje muitos autores conceituam como uma abordagem que trabalha os
problemas psicológicos baseada na filosofia da ciência conhecida como
Behaviorismo Radical e na ciência do comportamento, Análise Experimental do
Comportamento. O Behaviorismo radical, muito trabalhado atualmente por alguns
terapeutas, defende que o comportamento dos organismos é ordenado, passível de
ser estudado cientificamente na mesma forma das ciências naturais, assim busca-se

AN02FREV001/ REV 3.0

27
descobrir os eventos no Meio Ambiente que determinam os seus comportamentos-
problema e o que os mantém.
Na terapia comportamental, pensamentos e sentimentos são considerados
comportamentos, diferentes apenas pela forma como se pode ter acesso a eles, pois
este se dá por meio do relato verbal daquele que pensa e sente, ou seja,
pensamentos e sentimentos, também, são levados em consideração, analisados e
passíveis das intervenções do terapeuta.
Cada terapeuta, de acordo com sua abordagem segue uma linha, mas com
o mesmo objetivo, ou seja, melhora e bem-estar do seu paciente, no caso do
terapeuta comportamental, ele entende que o cliente é único e seus problemas ou
dificuldades são produto de uma história particular, com isso percebe-se uma
humanização do processo psicoterápico, buscando assim, entender cada cliente e
cada história, antes de propor qualquer intervenção.
Seu principal instrumento é a análise funcional, ou o levantamento criterioso
das variáveis - eventos, acontecimentos - que estejam funcionalmente relacionados
aos comportamentos desejáveis e indesejáveis do cliente, com esse entendimento é
possível propor uma estratégia eficaz no alcance do bem-estar e da melhora do
paciente, mas que fique claro que na maioria das vezes não é fácil se chegar a
essas variáveis.
De acordo com Saffi, Savoia e Lotufo (2008), a terapia comportamental
utiliza na clínica os conhecimentos derivados das teorias da aprendizagem, sua
principal fonte teórica é o comportamento operante. Diz-se muito que se trata de
uma terapia superficial e que aborda apenas o sintoma, mas isso não é verdade, ela
pode ser aplicada a toda gama de problemas humanos, tanto para o
autoconhecimento como para as dificuldades e conflitos interpessoais. Só que é
uma abordagem que exige conhecimento teórico e técnico sofisticado e o terapeuta
deve possuir empatia, interesse pelo paciente e calor humano.
O terapeuta comportamental busca combater os comportamentos-problema,
ao mesmo tempo em que busca instalar e aumentar a frequência de
comportamentos adequados ao contexto, desejáveis, funcionais e geradores de
satisfação e felicidade. O clínico, entre outras funções, auxilia com suas análises na
construção de um novo repertório ou no fortalecimento do repertório existente,
segundo Skinner (1989).

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28
A terapia comportamental é, segundo Bouchard (1979) citado por Saffi,
Savoia e Lotufo (2008), a aplicação do conjunto de conhecimentos psicológicos,
adquiridos segundo os princípios da metodologia científica, à compreensão e
solução de problemas clínicos, assim é uma prática de ajuda psicoterápica baseada
na ciência e na filosofia caracterizada por uma concepção naturalista e determinista
do comportamento humano.
Pode ser conceituada também, segundo os teóricos citados, por um
processo de aplicação de princípios da teoria da aprendizagem para a melhoria de
comportamentos específicos e, simultaneamente, de avaliação de quaisquer
modificações observadas, analisando se elas são de fato atribuíveis ao processo de
aplicação e, em caso positivo, a que parte desse processo.
A terapia comportamental é muito rica em informações e técnicas, ela é
formada por um conjunto considerável de técnicas derivadas de pesquisas, em
laboratório ou no próprio consultório.
Para fecharmos esse tópico falaremos mais um pouco sobre o trabalho do
terapeuta comportamental. O primeiro passo é o bom relacionamento com o
paciente, por meio da empatia, do interesse, do calor humano e de outras
qualidades do psicoterapeuta, segundo Saffi, Savoia e Lotufo (2008). Ele deve fazer
a coleta de informação por meio da anamnese, do uso de diários, de escalas, de
instrumentos diagnósticos e da observação para que se permita conhecer a pessoa
e seus problemas.
A análise funcional é a ferramenta para a coleta de informações e para o
conhecimento da relação entre a pessoa e seu ambiente, em que por meio dela
procura-se estabelecer todas as relações de contingências que afetam a pessoa
procurando-se descrever operacionalmente o problema, detalhando os estímulos
desencadeantes, os comportamentos envolvidos e as suas consequências.
Mostraremos agora uma tabela bastante interessante que faz algumas
diferenciações entre behaviorismo, cognitivismo e construtivismo, para que
posteriormente fiquem mais claras as semelhanças e diferenças entre cada
abordagem.

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29
Disponível em: <http://www.prof2000.pt/users/amtazevedo/af24/teorias.gif>. Acesso em: 24/09/2010.

Sintetizando tudo que já dissemos, podemos frisar que o terapeuta


comportamental focaliza-se no comportamento manifesto, salientando de acordo
com Kaplan e Sadock (2003), a remoção de sintomas manifestos, sem considerar as
experiências privadas ou conflitos internos do paciente. Percebemos que o objetivo
terapêutico de quem segue essa abordagem é claro e concreto: a extinção de
hábitos ou atitudes mal-adaptativas e sua substituição por padrões novos,
apropriados e não provocadores de ansiedade. Os métodos inerentes as terapias do
comportamento fundamentam-se na crença fundamental de que as ansiedades e
comportamentos persistentes e mal-adaptativos foram condicionados ou aprendidos,
portanto o tratamento efetivo consiste de variadas formas de descondicionamento ou
desaprendizagem, isto é, o comportamento inadequado aprendido pode ser
desaprendido.
Ainda segundo Kaplan e Sadock (2003), o clínico que deseja adotar o
enfoque comportamental deve responder a algumas questões (tabela abaixo) em
conjunto com o paciente, parentes ou outros responsáveis, que foi preparada por
Robert Paul Liberman:

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30
1. Quais são os problemas e objetivos da terapia?

Esta questão aborda as conquistas do paciente, bem como os


déficits no comportamento adaptativo e excessos de comportamento
mal-adaptativo. Frequentemente, os problemas do paciente estão
relacionados à oportunidade inadequada ou contexto inapropriado das
respostas comportamentais. A avaliação dos problemas e uma
formulação de objetivos devem considerar toda a faixa de resposta
objetivas, subjetivas, afetivas, sociais e cognitivas.

2. Como o progresso pode ser medido e monitorado?

Cada problema e objetivo exigem especificação comportamental


e monitoramento contínuo em termos de frequência, duração, forma,
latência ou contexto da ocorrência. A operacionalização dos objetivos
da terapia possibilita que o terapeuta determine se as intervenções
selecionadas são eficazes e oferece a base empírica para a terapia
comportamental.

3. Que contingências ambientais estão mantendo o problema?

Uma análise do comportamento considera as relações


funcionais entre os problemas clínicos e seus antecedentes ambientais
(estímulos precipitadores ou desencadeantes) e consequências
(reforçadores).
Antes de formular um plano de tratamento, o terapeuta deve

AN02FREV001/ REV 3.0

31
compreender as contingências sociais e instrumentos presentes, que
podem ter de ser modificadas para um resultado eficaz.

4. Que intervenções tendem a ser efetivas?

Esta questão final aborda as técnicas específicas que podem


ser usadas no plano de tratamento. Somente após as três primeiras
perguntas terem sido respondidas, uma seleção racional das
intervenções pode ser feita. Frequentemente, uma combinação de
princípios de aprendizado é usada, para maximizar os efeitos do
tratamento.

Citaremos uma tabela feita por Rebecca Jones citada por Kaplan e Sadock
(2003):
OBJETIVO Modificar padrões comportamentais
mal-adaptativos aprendidos que
levam a sintomas patológicos.
CRITÉRIOS DE SELEÇÃO Comportamentos mal-adaptativos
específico, bem-definidos, circunscritos e
facilmente identificáveis (por ex. fobia,
consumo excessivo de alimentos,
disfunções sexuais). Transtornos
psicofisiológicos nos quais as
manifestações dos sintomas são
afetadas pelo estresse (por ex. asma,
dor e hipertensão)
DURAÇÃO Geralmente limitado em tempo,

AN02FREV001/ REV 3.0

32
específico ao comportamento em
particular.
TÉCNICAS Baseada no princípio da teoria da
aprendizagem da teoria do aprendizado
(por ex. condicionamento clássico e
operante);
Treino de relaxamento;
Reforços;
Terapia aversiva;
Dessensibilização sistemática;
Imersão;
Modelagem participante;
Economia de fichas.

2.3 Indicações e Contraindicações

A terapia comportamental pode ser indicada e útil para tratar praticamente


todos os problemas de saúde e de comportamento de atuação do psiquiatra ou do
psicoterapeuta, como:

 Fobias específicas;
 Agorafobia com ou sem pânico;
 Fobia social;
 Transtornos de ansiedade;
 Transtorno obsessivo-compulsivo;
 Disfunções sexuais: em especial ejaculação precoce e vaginismo;
 Dificuldade de relacionamento interpessoal;
 Reabilitação de doentes crônicos;
 Depressão;
 Transtornos alimentares;

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33
 Problemas de comportamento na infância;
 Problemas de comportamento na adolescência;
 Abuso de dependência de álcool e drogas;
 Autoconhecimento.

No caso do autoconhecimento, o terapeuta auxilia o paciente a explicitar as


variáveis que influenciam seu comportamento, podendo a partir disso, auxiliar a
pessoa a modificar seu ambiente para que possam ocorrer mudanças no seu
comportamento, ou seja, autocontrole.

Cordioli (2008) cita que a terapia comportamental é também utilizada como


coadjuvante no tratamento de:

 Depressão maior, particularmente na fase inicial de pacientes


gravemente deprimidos;
 Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade;
 Estresse pós-traumático;
 Transtornos de impulsos: Tricotilomania, comprar compulsivo e jogo
patológico;
 Déficits de habilidades sociais: transtornos de personalidade,
esquizofrenia, deficiências mental e autismo;
 Deficiência de controle esfincteriano;
 Obesidade;
 Hipertensão;
 Insônia e insônia primária;
 Asma;
 Dor crônica;
 Cefaleia, etc.

Cordioli (2008) também cita algumas contraindicações na terapia


comportamental:

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34
 Níveis de ansiedade muito elevados ou incapacidade de tolerar
aumento dos níveis de ansiedade (transtorno da personalidade borderline,
histriônica);
 Problemas caracterológicos graves, incapacidade de estabelecer um
vínculo com o terapeuta (personalidade esquizoide ou esquizotípica);
 Incapacidade de estabelecer um relacionamento honesto com o
terapeuta (personalidade antissocial);
 Ausência de motivação.

Mas caso seja a terapia cognitivo-comportamental, podemos dizer que


aumenta o leque de atuação, e podemos citar alguns transtornos que houve algum
nível de evidência de eficácia:

 Sintomas de esquizofrenia;
 Sintomas de demência;
 Crises convulsivas não epilépticas;
 Reabilitação cognitiva;
 Insônia;
 Síndrome da fadiga crônica;
 Transtorno da personalidade borderline;
 Conflitos familiares;
 Tabagismo;
 Obesidade;
 Autismo;
 Transtorno do pânico;
 Depressão;
 Fobias;
 Transtorno obsessivo-compulsivo;
 Tiques;
 Parafilias;
 Disfunção sexual;
 Problemas de comportamento na infância;
 Treino de habilidades parentais;

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35
 Bulimia nervosa;
 Transtorno de estresse pós-traumático;
 Dor crônica;
 Vítimas de abuso sexual;
 Jogo patológico;
 Dependência de drogas;
 Problemas de saúde relacionados a comportamento;
 Prevenção de problemas de saúde;
 Promoção de saúde;
 Ansiedade generalizada;
 Enurese noturna;
 Transtorno bipolar.

Abaixo veremos um gráfico que mostra alguns transtornos que acometem a


população e com eles suas taxas, em alguns, bastante elevadas, e perceberemos o
quanto é importante o trabalho psicoterápico.

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36
Disponível em: <http://www.ip.usp.br/imprensa/aconteceu/hu.JPG>. Acesso em: 24/09/2010.

2.4 Técnicas da Terapia Comportamental

AN02FREV001/ REV 3.0

37
De acordo com Knapp (2004), todos os experimentos comportamentais têm
um elemento cognitivo e a modificação das distorções cognitivas se dá também por
meio das técnicas comportamentais.
Padesky (1994) citado por Knapp (2004) afirma que a forma mais eficaz de
modificar principalmente pressupostos e regras subjacentes é por meio de
experimentos comportamentais, assim o paciente experimenta na prática o que
acontece quando ele se engaja em comportamentos, que permitem examinar a
veracidade e/ou utilidades dessas crenças subjacentes.
Leahy (1996) citado por knapp (2004), diz que o objetivo dessas técnicas ou
intervenções comportamentais é aumentar o comportamento positivo enquanto
diminui o negativo, sendo assim pode-se dizer que o engajamento em um
comportamento que traz resultados positivos aumenta a autoeficácia do indivíduo e
estimula o empenho em novos comportamentos mais adaptativos.

A seguir algumas técnicas:

 Alvos comportamentais

Segundo Rangé (2004), nessa técnica o terapeuta ajuda o paciente a


identificar possíveis comportamentos específicos que deseja modificar a curto,
médio e longo prazo. Esse autor cita alguns exemplos para ficar mais claro:
 O engajamento em exercícios físicos;
 As tarefas de casa concluídas;
 O número de páginas de leitura diária;
 A diminuição da checagem obsessiva;
 A lavagem das mãos.

No caso de haver grandes alvos comportamentais, de difícil execução de


uma só vez, devem ser divididos em pequenos comportamentos de mudança, até
que o comportamento como um todo se modifique.
Com essa técnica o paciente aprenderá a estipular metas e objetivos
específicos e factíveis, tais comportamentos são passíveis de aferição em
determinado período de tempo.

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38
Assim o terapeuta deve questionar o paciente, se o objetivo foi alcançado,
isso depois de algum tempo.

 Dessensibilização sistemática

Essa técnica foi criada por Joseph Wolpe, e baseia-se segundo Kaplan e
Sadock (2003) no princípio comportamental do contracondicionamento, o qual afirma
que o indivíduo pode superar a ansiedade mal-adaptativa provocada por uma
situação ou objeto aproximando as situações temidas gradualmente, em um estado
psicofisiológico que iniba a ansiedade.
Nessa técnica o cliente é treinado a relaxar, é colocado em contato com uma
hierarquia de situações geradoras de ansiedade e é solicitado a relaxar enquanto
imagina cada uma delas, assim o paciente atinge um estado de completo
relaxamento, quando é exposto ao estímulo que provoca a resposta de ansiedade.
Nesse caso a reação negativa de ansiedade é inibida pelo estado de relaxamento,
num processo chamado de inibição recíproca.
Ao invés de utilizar as situações ou objetos reais que provocam medo,
paciente e terapeuta preparam uma lista graduada ou uma hierarquia de cenas
provocadoras de ansiedade associadas aos medos do paciente. Finalmente, o
estado aprendido de relaxamento e as cenas provocadoras de ansiedade são
sistematicamente pareados ao tratamento.
Percebemos que a dessensibilização sistemática consiste então de três
etapas: treino de relaxamento, construção de hierarquia e dessensibilização do
estímulo.

 Exposição in vivo

Semelhante a dessensibilização, exceto pelo fato de que o cliente realmente


experimenta cada situação.

 Exposição com prevenção de respostas.

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39
Confrontar uma situação ou estímulo temido.
Ex: o paciente obsessivo-compulsivo é instigado a refrear a lavagem de suas
mãos após mergulhá-las em água suja.

 Flooding ou Inundação

É uma modalidade de exposição in vivo em que um indivíduo fóbico é


exposto ao objeto ou situação mais temido por um período prolongado sem
oportunidade de fugir.

 Reforçamento seletivo.

Reforço de comportamento específico, muitas vezes mediante o uso de


fichas que podem ser trocadas por recompensas.

 Modelagem.

Segundo Atkinson (2002), consiste em reforçar somente variações de


respostas que se desviam na direção desejada pelo experimentador.
Na técnica de modelagem “o terapeuta modela a resposta/comportamento
que se deseja” (RANGÉ, 2004), ou seja, ele reforça apenas os comportamentos
desejados.

 Modelação (imitação).

É o processo pelo qual uma pessoa aprende comportamentos observando e


imitindo os outros. É um método bastante eficaz de mudança de comportamento,
pois uma vez que observar os outros é uma das principais formas humanas de
aprender, assistir a pessoas que estão apresentando comportamento adaptativo
ensina melhores estratégias de enfrentamento as pessoas com respostas
inadaptativas. A modelação é eficaz na superação de medos e ansiedades porque

AN02FREV001/ REV 3.0

40
oferece uma oportunidade para observar outra pessoa passar pela situação
geradora de ansiedade sem se ferir.
Ex: O terapeuta emite comportamentos assertivos durante a sessão que
podem ser copiados pelo cliente e reproduzidos.

 Ensaio comportamental.

Nessa técnica o paciente dramatiza o comportamento que planeja conduzir


fora da terapia.
Ex: O paciente pode demonstrar como ser assertivo mediante um diálogo
com seu chefe.

 Hierarquia de respostas/estímulos.

Nessa técnica tem-se uma lista de situações ou respostas, das mais temidas
até as menos temidas, para serem usadas em exposição.
Ex: o paciente e o terapeuta fazem uma lista de situações ou
comportamentos que o primeiro teme, com hierarquia de temor. O paciente fóbico de
elevador coloca – pensar em elevador- como a menos temida e – subir de elevador
o edifício mais alto da cidade-como a mais temida.

 Autorrecompensa.

De acordo com Knapp (2004), usar autoelogio, gratificações e reforços


concretos para incrementar comportamentos desejáveis.
Ex: o paciente pode se recompensar com consequências positivas tangíveis
(uma comida, um filme, um presente ou um comportamento prazeroso) ou com
autoafirmações positivas (“estou orgulhoso de mim mesmo por tentar”).

 Treinamento de Relaxamento.

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41
Relaxar diferentes grupos musculares em sequência, imaginar imagens
relaxantes, praticar exercícios de respiração.

 Reforço.

Para Skinner, segundo Myers (1999), recompensa é representado pela


palavra “reforço”, que pode ser conceituada como qualquer evento que aumente a
frequência de uma reação precedente. Assim o reforço pode abranger uma série de
ações, como um elogio ou uma salva de palmas. Existem dois tipos básicos de
reforço, o positivo e o negativo.

 Reforço positivo.

O reforço positivo é capaz de fortalecer uma reação quando oferece um


estímulo logo após esta reação. Ele aumenta a probabilidade de um comportamento
pela presença (positividade) de uma recompensa (estímulo).

 Reforço negativo.

O reforço negativo é capaz de fortalecer uma reação quando remove algum


tipo de estímulo aversivo. Ele aumenta a probabilidade de um comportamento pela
ausência (retirada) de um estímulo aversivo (que cause desprazer) após o
organismo apresentar o comportamento pretendido.
Segundo alguns autores, o que difere um reforço positivo de um reforço
negativo é que o primeiro consiste em inserir um estímulo reforçador no ambiente e
o segundo consiste em retirar um estímulo aversivo.
Ex 1: comportamento de estudar bastante é reforçado pelo estímulo
reforçador de se receber uma boa nota, de modo que a boa nota é um reforço
positivo. Ex 2: desligar o telefone durante uma conversa desagradável retirará do
ambiente um estímulo aversivo, que é a conversa, de modo que desligar o telefone é
um reforço negativo.

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 Punição

A punição é um estímulo aversivo que reduz a probabilidade do


comportamento.

A punição pode ser positiva e negativa:

 Punição Positiva.

Inseri-se no ambiente um estímulo aversivo:

o Ex: um puxão de orelha.

 Punição Negativa.

Retirada de um estímulo reforçador do ambiente:

o Ex: proibição que uma criança receba de assistir televisão.

OBSERVAÇÕES:

1. Reforço negativo não é a mesma coisa que punição: o reforço negativo é


um estímulo que aumenta a frequência do comportamento que consiste em retirar
um estímulo aversivo do ambiente.

2. Reforço ou reforçamento não é recompensa.

3. Reforços não apenas aumentam a probabilidade de incidência no


comportamento como também são utilizados para que um determinado
comportamento deixe de acontecer, estimulando a não incidência do determinado
comportamento.

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43
4. Técnicas comportamentais para diminuação de frequência de um
determinado comportamento:

o Punição positiva, pela qual se insere algo aversivo no ambiente;


o Punição negativa pela qual se retira algo reforçador do ambiente;
o Extinção.

 Extinção

É a retirada total do estímulo ao comportamento do ambiente.

Veja quadro com tipos de reforçamento e punição de acordo com Atkinson


(2002):

TIPOS Reforçamento Reforçamento Punição Punição


positivo negativo positiva negativa

Estímulo Remoção de Apresentação Remoção de um


agradável que um estímulo de um estímulo estímulo
ocorre após um desagradável desagradável agradável
comportamento depois que um depois que um depois que um
DEFINIÇÃO desejado. comportamento efeito comportamento

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desejado indesejável indesejado
ocorre. ocorre. ocorre.

Aumenta a Aumenta a Diminui a Diminui a


probabilidade probabilidade probabilidade probabilidade
EFEITO do do do do
comportamento comportamento comportamento comportamento
desejado. desejado. indesejado. indesejado.

Nota alta em Permitir a uma Uma nota Cortar a


uma prova. criança que baixa em um televisão de
EXEMPLO saia do seu exame. uma criança que
quarto depois se comporta
de parar com mal.
um acesso de
raiva.

 Terapia aversiva.

De acordo com Kaplan e Sadock (2003), técnica prega que quando um


estímulo nocivo (punição) é apresentado imediatamente após uma resposta
comportamental específica, esta acaba sendo inibida ou extinta. Assim existem
muitos tipos de estímulos aversivos como:
o Choques elétricos;
o Substâncias que induzem a vômito;
o Punição corporal;
o Reprovação social, etc.

O estímulo negativo é pareado ao comportamento que é assim, suprimido. O


comportamento inadequado geralmente desaparece após uma série de tais
sequências.

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45
A terapia aversiva tem sido usada no tratamento de vários transtornos,
dentre eles:
o Abuso de álcool;
o Parafilias;
o E outros comportamentos com qualidades impulsivas e compulsivas.

Muitos terapeutas a contestam, dizendo que ela é controvertida, um exemplo


é que a punição nem sempre leva a diminuição esperada na resposta e pode, às
vezes, ser positivamente reforçadora.

2.5 Conceitos Básicos

 Condicionamento respondente.

De acordo com Skinner (1987), diz respeito ao reflexo condicionada de


Pavlov, que prepara o organismo para reagir a um ambiente ao qual apenas o
indivíduo é exposto.

 Estímulo não condicionado.

De acordo com Atkinson (2002) é um estímulo que automaticamente


provoca uma resposta, normalmente por intermédio de reflexo, sem
condicionamento prévio.

 Resposta não condicionada.

Resposta originalmente dada a um estímulo não condicionado, usada como


base para estabelecer uma resposta condicionada a um estímulo anteriormente
neutro.

 Estímulo condicionado.

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46
Estímulo anteriormente neutro que passa a gerar uma resposta
condicionada por meio de associação com um estímulo não condicionado.

 Resposta condicionada.

A resposta aprendida ou adquirida a um estímulo que originalmente não


provoca resposta, ou seja, um estímulo condicionado.

 Comportamento operante.

Nesse tipo de comportamento novas respostas podem ser fortalecidas –


reforçadas – por eventos que as seguem imediatamente.

 Aprendizagem social.

Processo de aprendizagem no qual um indivíduo muda seu comportamento


em função de observar, ver ou ler a respeito do comportamento de outro indivíduo.

3 TERAPIA COGNITIVA

3.1 Histórico

De acordo com Beck (1964), a Terapia Cognitiva foi desenvolvida por Aaron
T. Beck, como uma psicoterapia breve, estruturada, orientada ao presente, para
depressão, direcionada a resolução de problemas atuais e a modificar os
pensamentos e comportamentos disfuncionais.
Segundo Beck (2007), Aaron T. Beck a desenvolveram na Universidade da
Pensilvânia no início da década de 60. Desde lá, Beck e outros vêm adaptando com
sucesso essa terapia para um conjunto surpreendentemente diverso de populações
e desordens psiquiátricas.
O modelo cognitivo propõe que o pensamento distorcido ou disfuncional, que
sabemos que influencia o humor e o comportamento do paciente, seja comum a

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47
todos os distúrbios psicológicos. Assim se o paciente faz uma avaliação realista e
modifica seu pensamento, ele produz uma melhora no humor e no seu
comportamento. Para se ter uma melhora duradoura deve-se modificar as crenças
disfuncionais básicas dos pacientes.
Judith Beck enfatiza que a terapia cognitiva é utilizada em uma ampla gama
de aplicações também apoiadas por dados empíricos, que são derivados da teoria.
A terapia cognitiva foi extensamente testada desde 1977, em que estudos
controlados demonstraram sua eficácia no tratamento do transtorno depressão
maior, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de pânico, fobia social,
abuso de substância, transtornos alimentares, problemas de casais e depressão de
pacientes internados.
Beck (1997) diz que a terapia cognitiva pode ser usada também para
pacientes com diferentes níveis de educação e renda, pacientes de todas as idades,
da pré-escola até os idosos.
Outras formas de Terapia Cognitivo-comportamental foram desenvolvidas
por outros teóricos, a Terapia racional-emotiva de Albert Ellis, a modificação do
comportamento de Donald Meichenbaum e a Terapia multimodal de Arnold Lazarus,
e muitos outros contribuíram de forma importante para o desenvolvimento da
Terapia Cognitiva, incluindo Michael Mahoney, Vittorio Guidano e Giovanne Liotti.
A integração entre as abordagens cognitiva e a comportamental aconteceu a
partir da aceitação de ideias cognitivas influenciado pelos “três sistemas” de Lang,
(Salkovskis et al. 1997) que são o comportamental, cognitivo/afetivo e fisiológico,
que enfatiza que os problemas psicológicos poderiam ser conceitualizados de
maneira útil em sistemas de resposta sutilmente ligados. Isso foi um marco para a
aceitação das noções cognitivas na abordagem comportamental.
O tratamento na abordagem cognitivo-comportamental objetiva ajudar o
paciente a reconhecer padrões de pensamento distorcido e comportamento
disfuncional, utilizando-se a discussão sistemática e tarefas comportamentais
previamente estruturadas para ajudar o paciente a avaliar e modificar tanto seus
pensamentos deformados quanto seus comportamentos disfuncionais.
Três proposições fundamentais são identificadas como estando no cerne
das terapias cognitivo-comportamentais (Knapp & cols, 2004):

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48
 A atividade cognitiva influencia o comportamento, isto é, a avaliação
cognitiva dos fatos pode influenciar a resposta a esses fatos;
 A atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada;
 O comportamento desejado pode ser influenciado mediante a mudança
cognitiva.

3.2 Fundamentos teóricos da terapia cognitiva

A terapia cognitiva visa resolver problemas atuais e modificar pensamentos


disfuncionais. Seu objetivo é reestruturar as cognições disfuncionais e dar
flexibilidade cognitiva no momento de avaliar situações específicas. Visa também à
resolução de problemas focais, objetivando, em última análise, dotar o paciente de
estratégias cognitivas para perceber e responder ao real de forma funcional.
O terapeuta cognitivo formula as ideias e crenças disfuncionais do paciente
sobre si, sobre suas experiências e sobre seu futuro em hipóteses e, então, testa a
validade dessas hipóteses de uma forma objetiva e sistemática.
Segundo Beck & Alford (2000) a terapia cognitiva considera a cognição a
chave para os transtornos psicológicos. “Cognição” é definida como aquela função
que envolve deduções sobre as experiências e sobre a ocorrência e o controle de
eventos futuros. Na terapia cognitiva clínica, a cognição inclui o processo de
identificar e prever relações complexas entre eventos, de modo a facilitar a
adaptação a ambientes passíveis de mudanças. Esta terapia propõe que os
transtornos psicológicos resultam de uma maneira disfuncional de perceber os
acontecimentos, influenciando com isso, o afeto e o comportamento. Então, uma
modificação na cognição influenciará na mudança do afeto e consequentemente do
comportamento.
Os sustentáculos conceituais da prática da Terapia Cognitiva são os
seguintes (explicaremos esses conceitos mais detalhadamente nos próximos
tópicos):

 Esquemas e Crenças centrais: Os esquemas são estruturas cognitivas


dentro do pensamento, cujo conteúdo específico são as crenças centrais;

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49
 Pensamentos automáticos: “Pensamentos automáticos são um fluxo de
pensamento mais manifesto” (Beck, 1964);
 Estratégia compensatória: São comportamentos que visam aliviar ou
anular os pensamentos automáticos e emoções negativas;
 Conceituação Cognitiva: É uma hipótese sobre pensamentos,
suposições, emoções e crenças do paciente.

No decorrer desse tópico voltaremos não só a Terapia Cognitiva, mas


adentraremos a conceitos que se referem à Terapia Cognitivo-comportamental, para
que fique mais clara como se dá esse trabalho das duas abordagens.
De acordo com Rangé, a Terapia Cognitivo-comportamental é uma
integração dos princípios e práticas das terapias, comportamental e cognitiva. É
abordagem ativa, diretiva e estruturada usada no tratamento de uma variedade de
problemas psiquiátricos, fundamentada nos modelos cognitivo e comportamental
caracterizada pela aplicação de uma variedade de procedimentos clínicos como
introspecção, teste de realidade, insight e inúmeros procedimentos comportamentais
que conduzem a aprendizagens, visando aperfeiçoar discriminações e corrigir
concepções equivocadas, modificar estados emocionais e mudar comportamentos
julgados inadequados.
A abordagem cognitivo-comportamental enfatiza a expressão de conceitos
em termos operacionais e a comprovação empírica do tratamento por intermédio de
estudos experimentais. Esse tratamento está baseado no aqui e agora, e tem como
objetivo principal ajudar os pacientes a promover mudanças desejadas em sua vida.
Para tanto, é necessário que o paciente trabalhe junto com o terapeuta numa
relação cooperativa em que ambos planejam as estratégias para enfrentar
problemas claramente identificados, sendo uma terapia limitada temporalmente e
com objetivos previamente estabelecidos (Salkovskis et al. 1997).

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50
Pensamentos Automáticos

Crenças Subjacentes
(pressupostos e regras)

Crenças Nucleares
(esquemas)

Objetivos da TCC:

 Identificar e modificar a forma distorcida de pensar;


 Identificar e modificar as emoções que esses pensamentos provocam;
 Identificar e modificar os comportamentos que são tomados como
consequência desses pensamentos e emoções;
 Utilizar formas alternativas, mais funcionais, de pensar e se comportar
diante das situações;
 Reestruturar crenças nucleares;
 Solucionar problemas;
 Construir estratégias de enfrentamento;
 Construir habilidades necessárias ao enfrentamento;
 Prevenir recaídas.

3.3 Indicações e Contraindicações

De acordo com Young (2003) pacientes diagnosticados com transtorno de


personalidade e pacientes crônicos muitas vezes não respondem ao tratamento com
a terapia cognitiva de curto prazo. Isso pode ser explicado por três características
que estes pacientes possuem:

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51
 Rigidez;
 Evitação;
 Dificuldades interpessoais.

A rigidez está presente na maioria dos pacientes com transtorno de


personalidade, não só rigidez como padrões invasivos, inflexíveis, círculos viciosos e
muito duradouros, o que atrapalharia nesse tipo de terapia, pois ela exige certa
flexibilidade por parte dos pacientes.
Muitos pacientes com transtorno de personalidade bloqueiam ou evitam
seus pensamento e sentimentos por serem muito dolorosos, “onde essa evitação
pode ser explicada como resultado de um condicionamento aversivo, onde a
ansiedade e a depressão foram condicionadas a lembranças e associações, levando
a evitação, o que dificulta muito a tratamento cognitivo” (Young, 2003, p.13).

Outra característica dos pacientes com transtorno de personalidade é o


relacionamento interpessoal disfuncional que não permite um relacionamento
colaborativo entre paciente e terapeuta como prega a terapia cognitiva.
De acordo com Cordioli (2008) a terapia cognitiva está bem-estabelecida
nos seguintes transtornos:
 Depressão unipolar de intensidade leve ou moderada, não psicótica;
 Transtorno de ansiedade (associada à terapia comportamental e a
drogas);
 Transtornos alimentares;
 Transtornos somatoformes (hipocondria e transtorno Dismórfico
corporal).

O mesmo autor cita algumas indicações da terapia cognitiva como


tratamento coadjuvante:
 Abuso de substância e álcool;
 Transtorno de personalidade;
 Transtornos psicóticos (esquizofrenia e transtorno delirante);
 Transtorno bipolar;

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52
 Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade;
 Dor crônica;

Segundo Cordioli (2008) a terapia cognitiva, em princípio, é


contraindicada para os seguintes transtornos:
 Doença mental orgânica, que implica comprometimento cognitivo
(demência);
 Retardo mental;
 Pouca capacidade para trabalhar a introspectivamente (identificar
pensamentos, emoções, crenças, e expressá-los em palavras);
 Psicose aguda;
 Patologia grave do caráter borderline ou antissocial;
 Ausência de motivação.

3.4 Técnicas da terapia cognitiva

Rangé, em seu texto “Por que sou terapeuta cognitivo-comportamental?”


Nele são citadas as técnicas mais usadas na TCC e diz que usa primariamente, no
trabalho cognitivo, o método socrático, não podendo ser de forma alguma
persuasivo, transcorrendo fundamentalmente, em torno de perguntas que o
terapeuta faz para que o paciente possa questionar os fundamentos de suas
crenças e, na ausência destes, poder modificá-las.
Os questionamentos que motivam as reestruturações giram em torno
fundamentalmente de evidências que sustentam as crenças e pensamentos
automáticos e de alternativas possíveis de se interpretar a situação. O que vai
acontecer é que a falta de evidências e a descoberta de outras interpretações abala
a confiança na crença, tornando-a uma hipótese entre outras sujeita a uma
verificação.

 Automonitoramento ou autorregulação.

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53
Segundo Atkinson (2002), como o cliente e o terapeuta raramente se
encontram mais do que uma vez por semana, o cliente deve aprender a controlar e
regular seu próprio comportamento, de modo que o progresso possa ser feito fora do
horário da terapia. Além disso, quando as pessoas sentem que são responsáveis
pela sua própria melhora, elas têm mais chances de manter os ganhos que
conquistaram.
Essa técnica envolve monitorar, ou observar, nosso próprio comportamento
e usar várias técnicas como autorreforço, autopunição, controle de condições de
estímulo, desenvolvimento de respostas incompatíveis, para mudar o
comportamento de inadaptação. Assim o indivíduo monitora seu comportamento
mantendo um registro cuidadoso dos tipos de situações que provocam
comportamento inadaptativo e os tipos de respostas que são incompatíveis com ele.
Ex.1 Uma pessoa preocupada com seu abuso de álcool observaria os tipos
de situações em que se sente mais tentada a beber e tentaria controlar estas
situações ou imaginar uma resposta mais incompatível com o beber
Ex.2. Um homem que acha difícil não acompanhar os colegas de trabalho
em um drinque na hora do almoço, poderia planejar almoçar no escritório,
controlando assim seu comportamento de beber pelo controle do ambiente. Caso
sinta-se tentado a relaxar com uma bebida ao chegar à casa do trabalho, ele poderia
utilizar em seu lugar uma partida de tênis ou correr em volta da quadra como modo
de aliviar a tensão, em que essas duas atividades seriam incompatíveis com o
beber.

 Programação de atividades.

De acordo com Knapp (2004), uma vez monitorada as atividades que mais
dão prazer e/ou habilidades, a dupla terapêutica prescreve atividades diárias que
tragam recompensas ao paciente.
Ex. Uma dona de casa pode ter muitas habilidades em fazer aquele bolo que
seus filhos adoram, o que lhe traz prazer. Como está deprimida e antecipa somente
sentimentos negativos e uma expectativa de futuro sombrio, planeja como
experimento fazer o bolo preferido dos filhos e observar quais as suas recompensas
por ter feito algo que, embora relutasse a princípio, acabou trazendo-lhe grande

AN02FREV001/ REV 3.0

54
satisfação. Percebemos que a programação da atividade é útil em aumentar a
autoeficácia do paciente e em encorajá-lo a buscar outras atividades que lhe deem
prazer.
-Terapeuta: “Você me falou que, diferente do que havia imaginado, se
surpreendeu quando percebeu que estava feliz com os seus filhos, que outras
atividades a senhora poderia realizar que talvez lhe tragam satisfação?

 Prescrição de tarefas graduais.

Segundo Knapp (2004), neste tipo de técnica escolhem-se os


comportamentos, os quais produzem prazer e/ou habilidades, ou seja, que trará
algum tipo de recompensa e prescreve-se para o paciente. Todavia, tendo bastante
cuidado para não iniciar atividades que são muito difíceis para o paciente, pois isto
pode minar sua autoeficácia e até comportamentos. Inicia-se sempre da mais fácil
para mais difícil.

 Solução de problemas.

De acordo com D’Zurilla e Goldfried(1971) e Dobson (2001) citados por


Knapp (2004), esta técnica refere-se a tornar disponível uma variedade de respostas
efetivas para lidar com uma situação problemática, aumentando a possibilidade de o
paciente selecionar a resposta alternativa mais efetiva disponível.
Devem-se seguir os seguintes passos:
 Identificar e especificar o problema;
 Gerar soluções possíveis para lidar com o problema;
 Avaliar as consequências de cada uma das diferentes soluções
encontradas;
 Escolher e colocar em prática a solução escolhida para ser testada;
 Avaliar os resultados obtidos com a solução selecionada;
 Se necessário, promover modificações e colocá-las em prática
novamente.

 Treinamento de habilidades sociais (assertividade).

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55
Nessa técnica o terapeuta busca o aprendizado da assertividade por meio
da instrução de como fazer afirmações e solicitações legítimas. Segundo Knapp
(2004), o paciente pratica comportamentos assertivos fora da sessão, numa escala
de comportamentos assertivos dos mais fáceis até os mais difíceis de realizar, isto
inclui aprender a escutar e interessar-se pelos outros, elogiar e gratificar.

 Treinamento de comunicação.

No treinamento de comunicação, o paciente treina o que quer dizer de forma


clara e objetiva, sem agressividade e mostrando o que espera do outro.

 Treinamento de escuta ativa.

No treinamento da escuta ativa o paciente aprende a escutar, perguntar,


empatizar, validar e refrasear (você está dizendo que...).
 Psicoeducação.

A Psicoeducação visa deixar o paciente informado sobre seu problema ou


transtorno e mostrar como se vai trabalhar.
A Psicoeducação acerca do transtorno, segundo Knapp (2004), melhora a
motivação para a mudança e estimula a participação proativa do paciente na
recuperação. Pode-se dizer que ela ajuda o paciente a retirar o aspecto distorcido
que atribui a si mesmo por não ser capaz de resolver o problema, podendo ser feita
por intermédio de folhetos explicativos, artigos de revistas, livros, páginas de internet
e qualquer outro material que tenha informações verdadeiras.

 Identificação de pensamento automático/distorcidos ou ABC.

Nesse modelo de Albert Ellis, o A se refere aos eventos, situações ou


experiências ativadoras, o B refere-se às crenças, esquemas, pensamentos, e o C
refere-se às consequências, onde podem ser comportamentais, emocionais ou
físicas.

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A (ativador) B (Beliefs) C
(Consequências)

Evento ou situação Pensamentos Emocionais,


ativadora automáticos, comportamentais,
pressupostos, regras, físicas.
crenças (esquemas)

....... .......... ..........

FONTE: Knapp (2004).


 Registro de pensamentos automáticos distorcidos.

Nesse modelo assim que o paciente perceber que seu humor está mudando,
piorando, ele deve-se perguntar: O que está passando no meu pensamento? Assim
ele identificará seu pensamento, e a partir dele irá perceber a emoção que vem junta
e consequentemente o comportamento provocado.
Essa técnica foi formulada por Aaron Beck e modificada por Judith Beck, em
que nota-se que ela é bem parecida com a técnica de Ellis.

 Questionamento Socrático e Descoberta Guiada.

Por intermédio de perguntas abertas, o terapeuta vai orientando o paciente


de forma que ele entenda seus próprios problemas, explore possíveis soluções e
desenvolva um plano para lidar com as dificuldades; seu objetivo é a avaliação
independente e racional dos problemas e de suas soluções.

 Experimentos comportamentais.

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57
Segundo Padesky (1994), a forma mais efetiva de examinar e desafiar o
pressuposto, pensamentos e esquemas são os experimentos comportamentais, em
que o paciente vai lidar com situações que não confirmem suas falsas crenças de si.
Segundo Beck (2007), os experimentos comportamentais testam
diretamente a validade dos pensamentos ou das suposições do paciente e são uma
importante técnica avaliativa, utilizada sozinha ou acompanhada pelo
questionamento socrático, podendo ser feitas dentro ou fora do consultório.

 Técnicas de reatribuição.

Nessa técnica o terapeuta ajuda o paciente a flexibilizar seu julgamento por


meio da identificação de outros fatores que contribuem para o resultado final ou pelo
reconhecimento de diferentes critérios usados para avaliar a responsabilidade
pessoal e a de terceiros, ou seja, Cordioli (2008) mostra que essa técnica é usada
quando o paciente apresenta um padrão de autoatribuição de responsabilidades
irreais em relação a vários resultados negativos.
Knapp (2004), afirma que essa técnica é usada com pacientes que
frequentemente consideram-se culpados por determinadas situações, ou ao
contrário, colocam toda a culpa em outras pessoas, em que seu objetivo é levar os
pacientes a considerarem todos os possíveis fatores e indivíduos envolvidos em
determinadas circunstâncias, a ponderarem um nível mensurável de
responsabilidade a cada um desses fatores/indivíduos.

 Ressignificação.

De acordo com Knapp (2004), é semelhante à reatribuição, seu objetivo


seria ajudar o paciente a produzir uma resposta racional aos eventos, ou seja, uma
versão mais lógica, realista e mais adaptativa do pensamento automático.

 Seta descendente.

Nessa técnica é feito um questionamento sucessivo sobre o significado de


uma determinada cognição até alcançar seu significado mais central, podendo ser

AN02FREV001/ REV 3.0

58
feito, segundo Cordioli (2008), mediante perguntas como: “O que isso significaria
para você, e se o pior acontecer, e se isso for verdadeiro, então o que significa”.

 Descatastrofização.

Essa técnica visa “fazer com que o indivíduo imagine a consequência mais
temida e possa reavaliá-la por meio de diversas técnicas cognitivas”. (CORDIOLI,
2008).

 Exame de vantagens e desvantagens.

Cordioli (2008), afirma que o objetivo dessa técnica é ressaltar as


desvantagens e enfraquecer as vantagens que mantém uma crença. Por exemplo,
com um paciente com problemas de drogas, enumeram-se as vantagens de se
drogar, as vantagens de não se drogar, as desvantagens de se drogar e as
desvantagens de não se drogar.

 Continuum Cognitivo

Segundo Cordioli (2008), essa técnica deve ser usada quando uma das
distorções predominantes é o pensamento dicotômico, assim o terapeuta cria um
continuum cognitivo, de 0 a 100%, para o que se está avaliando, em termos de tudo
ou nada. Depois se pede que o paciente compare seu desempenho com o de outros
indivíduos, posicionando-os no gráfico, facilitando assim que o paciente se avalie de
forma mais relativa.

 Técnica do gráfico em forma de pizza.

Usado para o paciente ver suas ideias em forma de gráfico. Digamos que ele
poderia colocar no gráfico metas que ela quer alcançar, fazendo assim dois gráficos,
um com o real e outro com o que considera ideal.

AN02FREV001/ REV 3.0

59
Cordioli (2008), diz que a visualização dos pensamentos em gráfico é útil
para que o paciente discrimine qual sua parcela de responsabilidade em algum
resultado ou o quanto deseja investir em alguma área de sua vida.

 Role-play.

Esta técnica pode ser usada para uma ampla variedade de propósitos, ou
seja, uma dramatização que pode ser usada na identificação de pensamentos
automáticos, para desenvolvimento de uma resposta racional e para a modificação
de crenças, sendo também usada para aprender habilidades sociais, segundo Beck
(1997).
 Cartões de enfrentamento.

Nessa técnica se usam cartões pequenos, geralmente de tamanho 8x13cm,


segundo Beck (1997), em que o paciente o mantém por perto, em gavetas, na
carteira, na bolsa, no bolso, fixados em espelhos, geladeira ou painel do carro,
assim o paciente deve seguir uma rotina de lê-los algumas vezes por dia num
período regular.
Ele pode assumir algumas formas diferentes, segundo Judith Beck:
o Escrever em um dos lados um pensamento automático ou uma crença
seguida de sua resposta adaptativa e do outro escrever estratégias
comportamentais para uma situação problemática específica e assim motivando o
paciente;
o Escrever estratégias que foram discutidas na sessão, visando assim
lembrar o paciente;
o Usado para motivar o paciente quando este estiver desmotivado.

 Empirismo colaborativo.

Aqui o trabalho conjunto entre terapeuta e paciente, usando de experimentos


para confirmar e refutar as hipóteses levantadas para explicar o sofrimento
psicológico do paciente e criar novos mecanismos, mais adaptáveis, para lidar com
eles.

AN02FREV001/ REV 3.0

60
 Biblioterapia.

Podemos dizer que esta técnica consiste na leitura de variados materiais,


possibilitando que o paciente obtenha mais informações fora da sessão e com isso,
segundo Cordioli (2008), reestruture certas cognições.
A Biblioterapia pode ser feita por meio da indicação de livros, páginas de
internet (confiáveis), folhetos e outros tipos de literatura.

FIM!

AN02FREV001/ REV 3.0

61
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação

CURSO DE
PSICOLOGIA CLÍNICA

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

1
CURSO DE
PSICOLOGIA CLÍNICA

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

AN02FREV001/REV 4.0

2
CONCEITO DE SAÚDE

www.usp.br

Seria possível compreender bem o que significa e o que representa


transtorno psicológico sem ter o entendimento prévio do que significaria saúde?

A definição mais conhecida de saúde é a encontrada na Constituição da


Organização Mundial de Saúde, ou seja, aquela que se propõe a considerá-la um
completo bem-estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença.

Seria possível ser portador de um completo bem-estar? Dentro dessa


perspectiva, até parece que para ter saúde é necessário viver em outro planeta e
não habitar aquele a que aprendemos a denominar Terra. O conceito de saúde é
cada vez mais relativo e suas discussões atrelam esse bem a outras dimensões do
bem-viver humano como saneamento básico, lazer e acesso à educação e cultura,
por exemplo.

AN02FREV001/REV 4.0

3
O certo é que a percepção de saúde varia muito entre as diferentes culturas,
assim quanto às crenças sobre o que traz ou retira a saúde. A Organização Mundial
de Saúde (OMS) define ainda a Engenharia Sanitária como sendo um conjunto de
tecnologias que promovem o bem-estar físico, mental e social. Sabe-se que sem o
saneamento básico (sistemas de água, de esgotos sanitários e de limpeza urbana) a
saúde pública fica completamente prejudicada.

A OMS reconhece ainda que a cada unidade monetária (dólar, euro, real,
etc.) dispendida em saneamento economiza-se cerca de quatro a cinco unidades em
sistemas de saúde (postos, hospitais, tratamentos, etc.) e que cerca de 80% das
doenças mundiais são causadas por falta de água potável suficiente para atender as
populações. Portanto, a saúde deve ser entendida em sentido mais amplo, como
componente da qualidade de vida. (Wood; Cohen, 2007)

Assim, não é um “bem de troca”, mas um “bem comum”, um bem e um


direito social, em que cada um e todos possam ter assegurado o exercício e a
prática do direito à saúde. A partir da aplicação e utilização de toda a riqueza
disponível, conhecimentos e tecnologia desenvolvidos pela sociedade nesse campo,
adequados às suas necessidades, abrangendo promoção e proteção da saúde,
prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de doenças. Em outras palavras,
considerar esse bem e esse direito como componente e exercício da cidadania, que
é um referencial e um valor básico a ser assimilado pelo poder público. Para o
balizamento e orientação de sua conduta, decisões, estratégias e ações.

A partir daí, deve-se perguntar: afinal, o que significa esse processo saúde-
doença e quais suas relações com a saúde e com o sistema de serviços de saúde?
Em síntese, em termos da determinação causal, pode-se dizer que ele representa o
conjunto de relações e variáveis que produz e condiciona o estado de saúde e
doença de uma população, que se modifica em diversos momentos históricos e do
desenvolvimento científico da humanidade. Assim, houve a teoria mística sobre a
doença, que os antepassados julgavam como um fenômeno sobrenatural, ou seja,
ela estava além da sua compreensão do mundo, superada posteriormente pela
teoria de que a doença era um fato decorrente das alterações ambientais no meio
físico e concreto que o homem vivia. Em seguida, surge a teoria dos miasmas

AN02FREV001/REV 4.0

4
(gazes), que vai predominar por muito tempo. Até que, com os estudos de Louis
Pasteur na França, entre outros, vem a prevalecer a “teoria da unicausalidade”, com
a descoberta dos micróbios (vírus e bactérias) e, portanto, do agente etiológico, ou
seja, aquele que causa a doença.
Devido a sua incapacidade e insuficiência para explicar a ocorrência de uma
série de outros agravos à saúde do homem, essa teoria é complementada por uma
série de conhecimentos produzidos pela epidemiologia, que demonstra a
multicausalidade como determinante da doença e não apenas a presença exclusiva
de um agente.
Finalmente, uma série de estudos e conhecimentos provindos
principalmente da epidemiologia social nos meados deste século esclarece melhor a
determinação e a ocorrência das doenças em termos individuais e coletivos. O fato é
que se passa a considerar saúde e doença como estados de um mesmo processo,
composto por fatores biológicos, econômicos, culturais e sociais.
Deve-se ressaltar ainda o recente e acelerado avanço que se observa no
campo da Engenharia Genética e da Biologia Molecular, com suas implicações tanto
na perspectiva da ocorrência como da terapêutica de muitos agravos. Desse modo,
surgiram vários modelos de explicação e compreensão da saúde, da doença e do
processo saúde-doença, como o modelo epidemiológico baseado nos três
componentes: agente, hospedeiro e meio, considerados como fatores causais, que
evoluiu para modelos mais abrangentes, como o do campo de saúde, com o
envolvimento do ambiente (não apenas o ambiente físico), estilo de vida, biologia
humana e sistema-serviço de saúde, numa permanente inter-relação e
interdependência.
Alguns autores questionam esse modelo, ressaltando, por exemplo, que o
“estilo de vida” implicaria uma opção e conduta pessoal voluntária, o que pode não
ser verdadeiro, pois pode estar condicionado a fatores sociais, culturais, entre
outros. De qualquer modo, o importante é saber e reconhecer essa abrangência e
complexidade causal: saúde e doença não são estadas estanques, isolados, de
causa aleatória – não se está com saúde ou doença por acaso. Há uma
determinação permanente, um processo causal, que se identifica com o modo de
organização da sociedade. Daí se dizer que há uma “produção social da saúde e/ou
da doença”.

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5
Em última instância, como diz Breilh, “o processo saúde-doença constitui
uma expressão particular do processo geral da vida social”. Outro nível de
compreensão que se há de ter em relação ao processo saúde-doença é o conceito
do que é ser ou estar doente ou o que é ser ou estar saudável.
Sem aprofundar as grandes discussões sobre esse tema, que envolvem
entre outras, como base de discussão preliminar e compreensão, as categorias da
“representação dos indivíduos” e a “representação dos profissionais” ou mesmo das
instituições de saúde. Em um sentido mais pragmático pode-se destacar que em
toda população há indivíduos sujeitos a fatores de risco para adoecer com maior ou
menor freqüência e com maior ou menor gravidade. Além do que, há diferenças de
possibilidades entre eles de “produzir condições para sua saúde” e ter acesso aos
cuidados no estado da doença.
Há, portanto, grupos que exigem ações e serviços de natureza e
complexidade variada. Isso significa que o objeto do sistema de saúde deve ser
entendido como as condições de saúde das populações e seus determinantes, ou
seja, o seu processo de saúde-doença. Visando produzir progressivamente
melhores estados e níveis de saúde dos indivíduos e das coletividades, atuando
articulada e integralmente nas prevenções primária, secundária e terciária, com
redução dos riscos de doença, seqüelas e óbito.
Desse modo, há que se compreender outra dimensão, que é aquela que
coloca o processo de intervenção, por meio de um sistema de cuidados para a
saúde, para atender as necessidades, demandas, aspirações individuais e coletivas,
como, um processo técnico, científico e político. É político no sentido de que se
refere a valores, interesses, aspirações e relações sociais e envolve a capacidade
de identificar e privilegiar as necessidades de saúde individuais e coletivas.
Resultantes daquele complexo processo de determinação e acumular força e poder
para nele intervir, incluindo a alocação e garantia de utilização dos recursos
necessários para essa intervenção.
É técnico e científico no sentido de que esse saber e esse fazer em relação
à saúde-doença da população não devem ser empíricos, mas podem e devem ser
instrumentalizados pelo conhecimento científico e desenvolvimento tecnológico, pelo
avanço e progresso da ciência.

AN02FREV001/REV 4.0

6
Portanto, o saber e o fazer em relação à saúde da população mediante um
sistema de saúde é uma tarefa que implica a concorrência de várias disciplinas do
conhecimento humano. E a ação das diversas profissões da área de saúde, bem
como ação articulada entre os diversos setores, que é requerimento para a produção
de saúde.
E aquela dimensão política inerente a esse processo social remete para a
necessidade de satisfazer outro requerimento, próprio dos processos políticos
democráticos, que é a participação social, ou seja, a participação ativa da população
na formulação, desenvolvimento e acompanhamento das políticas e dos sistemas de
saúde. Que hoje, no Sistema Único de Saúde (SUS), está minimamente
estabelecida nos conselhos de saúde (nacional, estadual e municipal) e
conferências de saúde.

SAÚDE MENTAL

http://s.socialesaude.zip.net/

O conceito de saúde mental deve envolver o homem no seu todo


biopsicossocial (biológico, psicológico e social), o contexto social em que está

AN02FREV001/REV 4.0

7
inserido assim como a fase de desenvolvimento em que se encontra. Neste sentido,
podemos considerar a saúde mental como um equilíbrio dinâmico que resulta da
interação do indivíduo com os seus vários ecossistemas: O seu meio interno e
externo; as suas características orgânicas e os seus antecedentes pessoais e
familiares (Benedito, 1975).
Numa abordagem à influência de fatores sociais na saúde mental, foi
referido que a saúde mental deixou de serem a ausência de doença, problemas
mentais e psíquicos, mas sim a percepção e consciência dos mesmos, e a
possibilidade pessoal e/ou coletiva de solucioná-los, de modificar e de intervir sobre
eles (Uribe Vasco et al., 1994).

DEFICIÊNCIA MENTAL

http://www.gazetadelimeira.com.br/jornaldamulher

A partir do século XX começou-se a estabelecer uma definição para o


Deficiente Mental e essa definição diz respeito ao funcionamento intelectual, que
seria inferior à média estatística das pessoas e, principalmente, em relação à
dificuldade de adaptação ao entorno. (DSM-IV, CID 10).

AN02FREV001/REV 4.0

8
Segundo a descrição do DSM. IV, a característica essencial do Retardo
Mental é quando a pessoa tem um “funcionamento intelectual significativamente
inferior à média, acompanhado de limitações significativas no funcionamento
adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades:
comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais, relacionamento
interpessoal, uso de recursos comunitários, auto-suficiência, habilidades
acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança”.

Essa é também a definição de Deficiência Mental adotada pela AAMR


(Associação Americana de Deficiência Mental). Na Deficiência Mental, como nas
demais questões da saúde mental, a capacidade de adaptação do sujeito ao
objeto, ou da pessoa ao mundo, é o elemento mais fortemente relacionado à
noção de normalidade. Teoricamente, deveriam ficar em segundo plano as
questões mensuráveis de QI, (Coeficiente de Inteligência) já que a unidade de
observação é a capacidade de adaptação.

Acostumamos a pensar na Deficiência Mental como uma condição em si


mesma, um estado patológico bem definido. Entretanto, na grande maioria das
vezes a Deficiência Mental é uma condição mental relativa.

A deficiência será sempre relativa em relação aos demais indivíduos de


uma mesma cultura, pois a existência de alguma limitação funcional,
principalmente nos graus mais leves, não seria suficiente para caracterizar um
diagnóstico de Deficiência Mental, se não existir um mecanismo social que atribua
a essa limitação um valor de morbidade. E esse mecanismo social que atribui
valores é sempre comparativo, portanto, relativo.

Como vimos nas definições acima, Deficiência Mental é um estado onde


existe uma limitação funcional em qualquer área do funcionamento humano,
considerada abaixo da média geral das pessoas pelo sistema social onde se
insere a pessoa. Isso significa que uma pessoa pode ser considerada deficiente
em uma determinada cultura e não deficiente em outra, de acordo com a
capacidade dessa pessoa satisfazer as necessidades dessa cultura. Isso torna o
diagnóstico relativo.

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9
Segundo critérios das classificações internacionais, o início da
Deficiência Mental deve ocorrer antes dos 18 anos, caracterizando assim um
transtorno do desenvolvimento e não uma alteração cognitiva como é a
Demência. Embora o assunto comporte uma discussão mais ampla, de modo
acadêmico o funcionamento intelectual geral é definido pelo Quociente de
Inteligência (QI ou equivalente).

Classificações da Deficiência Mental

A Deficiência Mental se caracteriza assim, por um funcionamento global


inferior à média, junto com limitações associadas em duas ou mais das seguintes
habilidades adaptativas: comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais,
utilização da comunidade, saúde e segurança, habilidades escolares, administração
do ócio e trabalho. Para o diagnóstico é imprescindível que a Deficiência Mental se
manifeste antes dos 18 anos. As áreas de necessidades dos deficientes devem ser
determinadas através de avaliações neurológicas, psiquiátricas, sociais e clínicas e
nunca numa única abordagem de diagnóstico.

Tipo de classificação baseada na intensidade dos apoios necessários:

Intermitente: O apoio se efetua apenas quando necessário. Caracteriza-se


por sua natureza episódica, ou seja, a pessoa nem sempre está precisando de apoio
continuadamente, mas durante momentos em determinados ciclos da vida, como por
exemplo, na perda do emprego ou fase aguda de uma doença. Os apoios
intermitentes podem ser de alta ou de baixa intensidade.

Limitado: Apoios intensivos caracterizados por alguma duração contínua,


por tempo limitado, mas não intermitente. Nesse caso incluem-se deficientes que
podem requerer um nível de apoio mais intensivo e limitado, como por exemplo, o
treinamento do deficiente para o trabalho por tempo limitado ou apoios transitórios
durante o período entre a escola, a instituição e a vida adulta.

AN02FREV001/REV 4.0

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Extenso: Trata-se de um apoio caracterizado pela regularidade,
normalmente diário pelo menos em alguma área de atuação, tais como na vida
familiar, social ou profissional. Nesse caso, não existe uma limitação temporal para o
apoio, que normalmente se dá em longo prazo.

Generalizado: É o apoio constante e intenso, necessário em diferentes


áreas de atividade da vida. Estes apoios generalizados exigem mais pessoal e maior
intromissão que os apoios extensivos ou os de tempo limitado.

Ainda baseada na capacidade funcional e adaptativa dos deficientes, existe


outra classificação bastante interessante para a Deficiência Mental. Trata-se da
seguinte:

Dependentes: geralmente QI abaixo de 25; casos mais graves, nos quais é


necessário o atendimento por instituições. Há poucas, pequenas, mas contínuas
melhoras quando a criança e a família estão bem assistidas.

Treináveis: QI entre 25 e 75; são crianças que se colocadas em classes


especiais poderão treinar várias funções, como disciplina, hábitos higiênicos, etc.
Poderão aprender a ler e a escrever em ambiente sem hostilidade, recebendo muita
compreensão e afeto e com metodologia de ensino adequada.

Educáveis: QI entre 76 e 89; a inteligência é dita “limítrofe ou lenta” e estas


crianças podem permanecer em classes comuns, embora necessitem de
acompanhamento psicopedagógico especial.

Essa classificação bastante simples é extremamente importante na prática


clínica, pois, sugere o que pode ser proporcionado à criança com Deficiência Mental.

Por outro lado, a classificação da OMS - CID.10 (Organização Mundial da


Saúde) é baseada ainda no critério quantitativo. Por essa classificação a gravidade
da deficiência seria:

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Profundo: São pessoas com uma incapacidade total de autonomia. Os que
têm um coeficiente intelectual inferior a 10, inclusive aquelas que vivem num nível
vegetativo.

Agudo Grave: Fundamentalmente necessitam que se trabalhe para


instaurar alguns hábitos de autonomia, já que há probabilidade de adquiri-los. Sua
capacidade de comunicação é muito primária. Podem aprender de uma forma linear,
são crianças que necessitam revisões constantes.

Moderado: O máximo que podem alcançar é o ponto de assumir um nível


pré-operativo. São pessoas que podem ser capazes de adquirir hábitos de
autonomia e, inclusive, podem realizar certas atitudes bem-elaboradas. Quando
adultos podem freqüentar lugares ocupacionais, mesmo que sempre estejam
necessitando de supervisão.

Leve: São casos perfeitamente educáveis. Podem chegar a realizar tarefas


mais complexas com supervisão. São os casos mais favoráveis.

TRANSTORNO MENTAL

Durante séculos as pessoas com sofrimento mental foram afastadas do


resto da sociedade, algumas vezes encarcerados, em condições precárias, sem
direito a se manifestar na condução de suas vidas. Hoje em dia, as atitudes
negativas os afastam da sociedade de maneiras mais sutis, mas com a mesma
efetividade. Você provavelmente conhece alguém que tem problemas mentais.

Transtornos mentais como a ansiedade, depressão, distúrbios alimentares,


uso de drogas e álcool, demência e esquizofrenia, pode afetar qualquer pessoa em
qualquer época da sua vida. Na realidade, elas podem causar mais sofrimento e
incapacidade que qualquer outro tipo de problema de saúde.

Apesar disso, pessoas com essas condições, muitas vezes atraem medo,
hostilidade e desaprovação em vez de compaixão, apoio e compreensão. Tais
reações não somente influem para que se sintam isolados e infelizes, como são

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12
impedimentos para que busquem ajuda efetiva e tratamento. A saúde mental é
componente chave de uma vida saudável.

O termo “doença mental” ou transtorno mental engloba um amplo espectro


de condições que afetam a mente. Doença mental provoca sintomas tais como:
desconforto emocional, distúrbio de conduta e enfraquecimento da memória.
Algumas vezes, doenças em outras partes do corpo afetam a mente; outras vezes,
desconfortos, escondidos no fundo da mente podem desencadear outras doenças
do corpo ou produzir sintomas somáticos.

Um grande espectro de fatores – nosso mapa genético, química cerebral,


aspectos do nosso estilo de vida podem causar algum tipo de transtorno mental.
Acontecimentos que nos acometeram no passado e nossas relações com as outras
pessoas – participam de alguma forma. Seja qual for à causa, a pessoa que
desenvolve a “doença mental” ou o transtorno mental, muitas vezes se sente em
sofrimento, desesperançada e incapaz de levar sua vida na sua plenitude.

Existem muitos tratamentos efetivos para a doença mental. Eles podem


incluir medicamentos e outros tratamentos físicos, ou tratamentos pela fala
(Psicoterapias) de várias espécies, aconselhamento e/ou apoio no dia-a-dia da vida
em diferentes formas. Diferentes profissionais da saúde podem estar envolvidos na
assistência da pessoa que está mentalmente enferma: clínicos gerais, psiquiatras,
enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e grupos de
apoio voluntários, dentre outros..

As causas do sofrimento mental são complexas e os psicólogos, assim como


outros profissionais da saúde mental não têm todas as respostas. Sabe-se que
alguns aspectos da doença mental, tais como ansiedade, desespero e sentimentos
suicidas, nem sempre são fáceis de serem tratados, pois envolvem âmbitos os mais
diversos da existência humana.

Na antiga Grécia, sinais corporais ou “stigmata” feitos por cortes ou


queimaduras no corpo, marcavam as pessoas como diferentes. Pessoas com
doença mental que há muito não são marcadas no corpo, mas atitudes críticas e

AN02FREV001/REV 4.0

13
prejudiciais podem ser tão danosas quanto às marcas corporais. Basta abrir um
jornal, ligar a TV ou ir ao cinema para perceber tais atitudes.

Enquanto a mídia não aceitar essas queixa pelas percepções negativas,


toda vez que um programa, artigo ou filme retrata um estereótipo ou falha em
esclarecer um mal entendido sobre doença mental, ela auxilia na manutenção de
mitos.

Os estigmas podem surgir por diferentes caminhos. As pessoas com


sofrimento mental podem agir de forma diferente. Uma pessoa deprimida pode se
apresentar triste ou apática; alguém na fase maníaca da doença bipolar pode
parecer exageradamente feliz ou irritável.

O problema é que quando alguém é marcado como diferente, é difícil para


ele ser aceito, não importa o quanto ele tente, Eles não conseguem afastar o
estigma e o resultado disso, pois perdem a confiança em si mesmos. Com o tempo,
começam a se sentir como estranhos e que não se enquadram na vida.

Pessoas com transtornos mentais ou doenças mentais continuam a ser


prejudicados e discriminados em todas as áreas de suas vidas, desde onde
encontrar um lugar para viver, encontrar um trabalho. Não é surpreendente que
muitas pessoas com doença mental grave terminem pobres ou sem teto.

Cabe a todos nós tomarmos conhecimento do dano que provocamos com


nossas atitudes negativas e nossa colaboração para isolá-los. Seja quem formos e
seja o que fazemos, nós podemos combater os efeitos danosos do estigma
estendendo nossa amizade, apoio e compreensão em vez do nosso julgamento e
discriminação, para as pessoas que estão mentalmente doentes.

Descrever pessoa com doença mental como “louco”, “esquisito”, “Pinel”


“lunático”, o diminui como pessoa a não ser levada seriamente ou com a percepção
que ele é perigoso pode excluí-lo das atividades do dia a dia. Muitas pessoas
acreditam que doença mental é incurável. Eles podem até ver certos tratamentos,
como com antidepressivos ou psicoterapias, como sem valor ou mesmo danosos,
mesmo que em muitos casos tenham se mostrado efetivos.

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O fato é que cientistas estão fazendo progressos no desvendamento da
estrutura e química do cérebro. Como conseqüência tem-se melhor compreensão da
mente e com ela funciona. Entretanto, a doença mental tem muitas causas. Ela não
é apenas uma questão de química alterada e envolve questões sociais, emocionais,
cognitivas e físicas.

Principais transtornos mentais

Depressão

http://escrevoapenas.blogs.sapo.pt/arquivo/depressao.jpg

Depressão é uma palavra freqüentemente usada para descrever nossos


sentimentos. Todos se sentem angustiados de vez em quando, ou muito alegre às
vezes e tais sentimentos são normais. A depressão, enquanto evento psiquiátrico é
algo bastante diferente: é uma doença como outra qualquer que exige tratamento.

Muitas pessoas pensam estar ajudando um amigo deprimido ao


incentivarem ou mesmo cobrarem tentativas de reagir, distrair-se, de se divertir para
superar os sentimentos negativos. Os amigos que agem dessa forma fazem mais
mal do que bem, são incompreensivos e talvez até egoístas. O amigo que realmente
quer ajudar procura ouvir quem se sente deprimido e no máximo aconselhar ou
procurar um profissional quando percebe que o amigo deprimido não está só triste.

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Uma boa comparação que podemos fazer para esclarecer as diferenças
conceituais entre a depressão psiquiátrica e a depressão normal seria comparar com
a diferença que há entre clima e tempo. O clima de uma região ordena como ela
prossegue ao longo do ano por anos a fio. O tempo é a pequena variação que
ocorre para o clima da região em questão.

O clima tropical exclui incidência de neve. O clima polar exclui dias propícios
a banho de sol. Nos climas tropicais e polares haverá dias mais quentes, mais frios,
mais calmos ou com tempestades, mas tudo dentro de uma determinada faixa de
variação.

O clima é o estado de humor e o tempo as variações que existem dentro


dessa faixa. O paciente deprimido terá dias melhores ou piores, assim como o não
deprimido. Ambos terão suas tormentas e dias ensolarados, mas as tormentas de
um, não se comparam às tormentas do outro, nem os dias de sol de um, se
comparam com os dias de sol do outro. Existem semelhanças, mas a manifestação
final é muito diferente. Uma pessoa no clima tropical ao ver uma foto de um dia de
sol no pólo sul tem a impressão de que estava quente e que até se poderia tirar a
roupa para se bronzear.

Este tipo de engano é o mesmo que uma pessoa comete ao comparar as


suas fases de baixo astral com a depressão psiquiátrica de um amigo. Ninguém
sabe o que um deprimido sente, só ele mesmo e talvez quem tenha passado por
isso. Nem o psiquiatra sabe: ele reconhece os sintomas e sabe tratar, mas isso não
faz com que ele conheça os sentimentos e o sofrimento do seu paciente.

Os sintomas da depressão são muito variados, indo desde as sensações de


tristeza, passando pelos pensamentos negativos até as alterações da sensação
corporal como dores e enjôos. Contudo para se fazer o diagnóstico é necessário um
grupo de sintomas centrais:

• Perda de energia ou interesse


• Humor deprimido
• Dificuldade de concentração
• Alterações do apetite e do sono

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• Lentificação das atividades físicas e mentais
• Sentimento de pesar ou fracasso

Os sintomas corporais mais comuns são sensação de desconforto no


batimento cardíaco, constipação, dores de cabeça, dificuldades digestivas. Períodos
de melhora e piora. Eles são comuns, o que cria a falsa impressão de que se está
melhorando sozinho quando durante alguns dias o paciente sente-se bem.
Geralmente tudo se passa gradualmente, não necessariamente com todos os
sintomas simultâneos, aliás, é difícil ver todos os sintomas juntos. Até que se faça o
diagnóstico praticamente todas as pessoas possuem explicações para o que está
acontecendo com elas, julgando sempre ser um problema passageiro. Outros
sintomas que podem vir associados aos sintomas centrais são:

• Pessimismo
• Dificuldade de tomar decisões
• Dificuldade para começar a fazer suas tarefas
• Irritabilidade ou impaciência
• Inquietação
• Achar que não vale a pena viver; desejo de morrer
• Chorar à toa
• Dificuldade para chorar
• Sensação de que nunca vai melhorar, desesperança...
• Dificuldade de terminar as coisas que começou
• Sentimento de pena de si mesmo
• Persistência de pensamentos negativos
• Queixas freqüentes
• Sentimentos de culpa injustificáveis
• Boca ressecada, constipação, perda de peso e apetite, insônia, perda
do desejo sexual

Basicamente existem as depressões monopolares (este não é um termo


usado oficialmente) e a depressão bipolar (este termo é oficial). O transtorno afetivo
bipolar se caracteriza pela alternância de fases deprimidas com maníacas, de

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exaltação, alegria ou irritação do humor. A depressão monopolar só tem fases
depressivas.

Os sintomas depressivos apesar de muito comuns são pouco detectados


nos pacientes de atendimento em outras especialidades, o que permite o
desenvolvimento e prolongamento desse problema comprometendo a qualidade de
vida do indivíduo e sua recuperação. Anteriormente estudos associaram o fumo, a
vida sedentária, obesidade, ao maior risco de doença cardíaca. Agora, pelas
mesmas técnicas, associa-se sintoma depressivo com maior risco de desenvolver
doenças cardíacas. A doença cardíaca mais envolvida com os sintomas depressivos
é o infarto do miocárdio.

Também não se pode concluir apressadamente que depressão provoca


infarto, não é assim. Nem todo obeso, fumante ou sedentário enfarta. Essas
pessoas enfartam mais que as pessoas fora desse grupo, mas a incidência não é de
100%. Da mesma forma, a depressão aumenta o risco de infarto, mas numa parte
dos pacientes. Está sendo investigado.

A depressão costuma atingir 15 a 25% dos pacientes com câncer. As


pessoas e os familiares que encaram um diagnóstico de câncer experimentarão uma
variedade de emoções, estresses e aborrecimentos. O medo da morte, a interrupção
dos planos de vida, perda da auto-estima e mudanças da imagem corporal,
mudanças no estilo social e financeiro são questões fortes o bastante para
justificarem desânimo e tristeza.

O limite a partir do qual se devem usar antidepressivos não é claro,


dependerá da experiência de cada psiquiatra. A princípio sempre que o paciente
apresente um conjunto de sintomas depressivos semelhante ao conjunto de
sintomas que os pacientes deprimidos sem câncer apresentam, deverá ser o ponto a
partir do qual se deve entrar com medicações. Existem alguns mitos sobre o câncer
e as pessoas que padecem dele, tais como"os portadores de câncer são
deprimidos".

A depressão em quem tem câncer é normal, o tratamento da depressão no


paciente com câncer é ineficaz. A tristeza e o pesar são sentimentos normais para

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uma pessoa que teve conhecimento da doença. Questões como a resposta ao
tratamento, o tempo de sobrevida e o índice de cura entre pacientes com câncer,
com ou sem depressão estão sendo mais enfocadas do que a investigação das
melhores técnicas para tratamento da depressão.

Normalmente a pessoa que fica sabendo que está com câncer torna-se
durante um curto espaço de tempo descrente, desesperada ou nega a doença. Esta
é uma resposta normal no espectro de emoções dessa fase, o que não significa que
sejam emoções insuperáveis. No decorrer do tempo o humor depressivo toma o
lugar das emoções iniciais. Agora o paciente pode ter dificuldade para dormir e
perda de apetite.

Nessa fase o paciente fica ansioso, não consegue parar de pensar no seu
novo problema e teme pelo futuro. As estatísticas mostram que aproximadamente
metade das pessoas conseguirá se adaptar a essa situação tão adversa. Com isso
estas pessoas aceitam o tratamento e o novo estilo de vida imposto não fica tão
pesado.

Para se afirmar que o paciente está deprimido tem-se que afirmar que ele
sente-se triste a maior parte do dia, quase todos os dias, não tem tanto prazer ou
interesse pelas atividades nas quais apreciava. E, não consegue ficar parado e pelo
contrário movimenta-se mais lentamente que o habitual. Passa a ter sentimentos
inapropriados de desesperança desprezando-se como pessoa e até mesmo se
culpando pela doença ou pelo problema dos outros, sentindo-se um peso morto na
família. Com isso, apesar de ser uma doença potencialmente fatal, surgem
pensamentos de suicídio. Esse quadro deve durar pelo menos duas semanas para
que possamos dizer que o paciente está deprimido.

A causa exata da depressão permanece desconhecida. Eventos


desencadeantes são muito estudados e de fato encontra-se relação entre certos
acontecimentos estressantes na vida das pessoas e o início de um episódio
depressivo. Contudo, tais eventos não podem ser responsabilizados pela
manutenção da depressão. Na prática a maioria das pessoas que sofre um revés se
recupera com o tempo. Os eventos estressantes provavelmente disparam a

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depressão nas pessoas predispostas, vulneráveis. Exemplos de eventos
estressantes são: perda de pessoa querida, perda de emprego, mudança de
habitação contra vontade, doença grave, pequenas contrariedades não são
consideradas como eventos fortes o suficiente para desencadear depressão.

O que torna as pessoas vulneráveis ainda é objeto de estudos. A influência


genética como em toda medicina é muito estudada. Trabalhos recentes mostram
que mais do que a influência genética, o ambiente durante a infância pode predispor
mais as pessoas. O fator genético é fundamental uma vez que os gêmeos idênticos
ficam mais deprimidos do que os gêmeos não idênticos.

Ansiedade

http://www.brasilescola.com/imagens/ansiedade.jpg

A ansiedade é uma sensação ou sentimento decorrente da excessiva


excitação do Sistema Nervoso Central conseqüente à interpretação de uma situação
de perigo. Parente próximo do medo, (muitas vezes onde a diferenciação não é
possível) é distinguida dele pelo fato de o medo ter um fator desencadeante real e
palpável enquanto na ansiedade o fator de estímulo teria características mais
subjetivas.

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A ansiedade é o grande sintoma de características psicológicas que mostra
a intersecção entre o físico e psíquico, uma vez que tem claros sintomas físicos
como: taquicardia (batedeira), sudorese, tremores, tensão muscular aumento das
secreções (urinárias e fecais) aumento da motilidade intestinal, cefaléia (dor de
cabeça). Quando recorrente e intensa também é chamada de Síndrome do Pânico
(Crise ansiosa aguda). Toda esta excitação acontece decorrente de uma descarga
de um Neurotransmissor chamado Noradrenalina.

O nosso Sistema Nervoso Central e a nossa mente necessitam de uma


situação de conforto e de segurança para usufruir a sensação de repouso e de bem
estar.

Quando a nossa percepção nos alerta para uma situação de perigo a este
estado acontece o estado ansioso.

Evolutivamente faz muito pouco tempo que saímos dos tempos da caverna,
onde os perigos de vida e a necessidade de luta eram uma constante. A excitação
do Sist. Nerv. Central vinha como uma forma de estimular o nosso corpo para a luta
ou para a fuga.

O que interpretamos como perigo hoje, transcende e muito o perigo de vida


biológico. Perda de status, de conforto, de poder econômico, de afetos, amizades,
de privilégios, vantagens, de possibilidade de concretizar interesses, de vaidade, são
fatores mais do que suficientes em muitos casos para disparar o estado ansioso.

Em estados de desequilíbrio emocional, o simples contacto com o novo, com


situações inesperadas e desconhecidas são o suficiente para disparar estados
ansiosos.

A principal característica psíquica do estado ansioso é uma excitação, uma


aceleração do pensamento, como se estivéssemos elaborando, planejando uma
maneira de nos livrar do perigo e da maneira mais rápida possível. Este movimento
mental, na maioria das vezes acaba causando certa confusão mental, uma
ineficiência da ação, um aumento da sensação de perigo e de incapacidade de se

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livrar do perigo o que configura um círculo vicioso, pois esta sensação só faz
aumentar ainda mais o estado ansioso. “Mente acelerada é mente desequilibrada”.

Este movimento impulsivo de a mente se acelerar, de precisar ter tudo sob


controle, para poder usufruir a sensação de repouso e conforto faz com que ela se
excite e se o problema não tiver uma solução mental imediata. Como o que
acontece na maioria dos casos terá a chamada ansiedade patológica, que tende a
se cronificar e piorar com os anos.

A ansiedade poderia ter uma origem genética, ou seja, a pessoa herda de


seus ancestrais uma pré-disposição para ter estes sintomas. Nestes casos as
manifestações podem ser bastante precoces, sendo a pessoa desde cedo uma
criança agitada, às vezes, hiperativa, que chora com facilidade e às vezes até com
dificuldade de dormir.

A ansiedade precoce também pode se manifestar através da avidez de


mamar e numa postura mais teimosa e possessiva ainda como criança. A segunda é
uma infância carente e problemática onde as dificuldades dos pais, mas
principalmente da mãe de passar afeto e suprir as carências afetivas da criança, vão
fazendo com que ela vá se sentindo insegura e exposta. E vá gravando e
condicionando um sentimento de que coisas ruins e sensações negativas podem
acontecer a qualquer momento.

A terceira é a dificuldade de incorporar fatos e intercorrências novas ou


desconhecidas.

O velho ou conhecido sempre traz a sensação de segurança e controle. O


novo por sua vez tem a capacidade de potencializar a sensação de medo no sentido
de que algo ruim ou perigoso pode vir a acontecer.

É mais ou menos assim, “Tudo que vem de mim é seguro e tudo que vem de
fora e não está sob controle é perigoso". É a clássica postura do pessimista, como
aquele personagem dos desenhos antigos de TV, a hiena Hardy, amiga do leão
Lippy, que sempre dizia “Oh céus, oh vida, oh azar, não vai dar certo!" Traumas de
infância, grandes sustos, perdas afetivas ou mesmo materiais também podem

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desencadear quadros ansiosos importantes, mas não chegariam a ser causas
específicas

Transtorno Bipolar

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É uma enfermidade na qual ocorrem alterações do humor, caracterizando-se


por períodos de um quadro depressivo, que se alteram com períodos de quadros
opostos, isto é, a pessoa se sente eufórica (mania). Tanto o período de depressão,
quanto da mania podem durar semanas, meses ou anos.

O termo mania não significa “repetição de hábitos”, mas sintomas de euforia.


O Transtorno do Humor pode ocorrer, ao longo da vida, dentro de um curso bipolar
ou unipolar. O curso unipolar refere-se a episódios somente de depressão e, no
bipolar, depressão e mania (euforia). O Transtorno Bipolar do Humor atinge de igual
maneira homens e mulheres em torno de 1% a 2% e, geralmente, entre os 15 e 30
anos de idade.

O transtorno bipolar também pode atingir as crianças, manifestando-se com


sintomas predominantes de humor ansioso e irritável. O humor da pessoa oscila de
muito eufórico (agitado), para muito triste (com desesperança, desmotivação e
desvalia).

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Como em outras doenças, o Transtorno Bipolar do Humor afeta não só
quem o tem, como também, o cônjuge, familiares, amigos e empregadores. Se
depressão, mania forem acompanhadas de alucinações (ouvir, ver, sentir o que não
existe) e delírios (pensamentos irreais à realidade) trata-se do subtipo psicótico. As
pessoas que sofrem de Transtorno Bipolar levam, em média, 8 anos antes de serem
diagnosticadas ou receberem tratamento adequado, o que pode causar grande
sofrimento e perdas.

Tipos de Transtorno Bipolar do Humor

Existem quatro formas de Transtorno Bipolar do Humor:

- Transtorno Bipolar Tipo I – Períodos de mania (euforia) com humor elevado


e expansivo grave o suficiente para causar prejuízo no trabalho, relações sociais
podendo necessitar de hospitalização contraposta por períodos de humor deprimido,
sentimentos de desvalia, desprazer, desmotivação, alterações do sono, apetite,
entre outros. Geralmente, o estado maníaco, dura dias ou pelo menos uma semana,
e períodos de depressão de semanas a meses.

- Transtorno Bipolar Tipo II – Períodos de hipomania, em que também ocorre


estado de humor elevado e agressivo, mas de forma mais suave. Um episódio de
tipo hipomania, ao contrário da mania, não chega a ser suficientemente grave para
causar prejuízo em atividades de trabalho ou vida social.

- Transtorno Bipolar Misto – Períodos mistos, em que em mesmo dia haveria


alternâncias entre depressão e mania. Em poucas horas a pessoa pode chorar, ficar
triste, com sentimentos de desvalia e desprazer e, no momento seguinte, estar
eufórica, sentindo-se capaz de tudo, falante e agressiva.

- Transtornos Ciclotímicos – Períodos em que haveria uma alteração crônica


e flutuante do humor marcada por numerosos períodos com sintomas maníacos e
numerosos sintomas depressivos que se alterariam. Contudo, não seriam
suficientemente graves nem ocorreriam em quantidade suficiente para se ter certeza

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de se tratar de depressão e mania. Isto é, pode ser facilmente confundida com o
jeito de ser da pessoa, “de lua”.

Principais teorias etiológicas

Apesar de se desconhecer a base causal, existe uma interação complexa


entre fatores biológicos, genéticos e psicossociais para tentar explicar o Transtorno:

- Fatores Biológicos – As teorias dos neurotransmissores, nos sistemas


noradrenérgico, seratonérgico e dopaminérgico, que têm características
semelhantes, pois todos se originam em núcleos localizados no tronco cerebral e se
projetam para amplas áreas do pró-encéfalo, têm sido admitidas na etiologia dos
Transtornos Bipolares. Além destes, outros neurotransmissores, incluindo o
glutemato, neuropeptídeos, como a colecistocinina e o hormônio liberado de
corticotrofina, têm sido implicados assim como anormalidades no eixo hipotalâmico -
pituitário - tireóide são comuns no Transtorno Bipolar.

- Fatores Genéticos – Quando um dos pais apresenta Transtorno Bipolar,


existe de 25 a 50% de chance de o filho adquirir Transtorno Bipolar. Quando maior a
distância de parentesco, menor a possibilidade de ter um Transtorno Bipolar. Os
estudos de gêmeos têm mostrado que a taxa de concordância em gêmeos
monozigóticos é de 33 a 90% e gêmeos dizigóticos cerca de 5 a 25%. As
associações entre o Transtorno Bipolar I e marcadores genéticos têm sido relatadas
para os cromossomas 5,11 e x.

- Fatores Psicossociais – Os acontecimentos vitais estressores precedem,


mais freqüentemente, os primeiros episódios de Transtorno do Humor e poderiam
provocar alterações nos estados funcionais de vários sistemas neurotransmissores e
sinalizadores intraneurais. Dificuldades financeiras, doença na família, perda de uma
pessoa importante, uso de drogas, entre outros, podem contribuir para o
desencadeamento da doença.

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Achados clínicos – como identificar:

Mania

- Humor “para cima”, excitado, exaltação, alegria exagerada e duradoura;


irritabilidade (impaciência, “pavio curto”);

- Agitação, inquietação física e mental; - aumento da energia, da


produtividade ou começar muitas coisas e não conseguir terminar;

- Pensamentos acelerados, tagarelice;

- Achar que possui dons ou poderes especiais de influência, grandeza e


poder;

- Otimismo e autoconfiança exagerados;

- Aumento dos gastos, endividamentos;

- Distração fácil: tudo desvia a atenção;

- Maior contato social e desinibição, comportamento inadequado e


provocativo, agressividade física e/ou verbal;

- Erotização, aumento da atividade e necessidade sexuais;

- Insônia, redução da necessidade de sono;

- Quando grave, ocorrem delírios e/ou alucinações, estressores precedem,


mais freqüentemente, os primeiros episódios de Transtorno do Humor e poderiam
provocar alterações nos estados funcionais de vários sistemas neurotransmissores e
sinalizadores intraneurais. Dificuldades financeiras, doença na família, perda de uma
pessoa importante, uso de drogas entre outros, podem contribuir para o
desencadeamento da doença.

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Depressão

- Humor “para baixo”, tristeza, angústia ou sensação de vazio;

- Irritabilidade, desespero;

- Pouca ou nenhuma capacidade de sentir prazer e alegria na vida;

- Cansaço mais fácil, desânimo, preguiça, falta de energia física e mental;

- Falta de concentração, lentidão do raciocínio, memória ruim;

- Falta de vontade, falta de iniciativa e interesse, apatia;

- Pensamentos negativos repetidos amplificados, pessimismo, idéias de


culpa, fracasso, inutilidade, falta de sentido na vida, doença, morte (suicídio);

- Sentimentos de insegurança, baixa auto-estima, medo;

- Interpretação distorcida e negativa do presente, de fatos ocorridos no


passado e no futuro;

- Redução da libido e vontade de ter sexo;

- Perda ou aumento de apetite e/ou peso;

- Insônia ou dormir demais, sem se sentir repousado;

- Dores ou sintomas físicos difusos, sofridos, que não se explicam por outras
doenças: dor de cabeça, nas costas, no pescoço e nos ombros, sintomas
gastrointestinais, alterações menstruais, queda de cabelo, dentre outros;

- Em depressões graves, alucinações e/ou delírios.

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Tratamento do Transtorno Bipolar

O tratamento envolve manejo nas fases agudas e na terapia de manutenção.


Os quadros agudos demandam contenção imediata dos sintomas através da
farmacologia: estabilizadores do humor, antidepressivos (se necessário),
antipsicóticos (se necessário) e, muitas vezes internação hospitalar para proteção do
paciente.

Os episódios de depressão aguda são tratados, preferencialmente, com


antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina, pois são maiores indutores
de “virada” maníaca (eufórica) ou hipomaníaca, mais comuns com as ADT
(tricíclicos).

As fases maníacas podem ser controladas com Carbonato de Lítio, Ácido


Valpróico, Carbamazepina, lomotrigina, gebapentina e topiramato. Se sintomas
psicóticos estiverem presentes, é necessário o uso de antipsicóticos ou
benzodiazepínicos. Muitas vezes, é necessária a combinação de drogas, isto é, mais
de um estabilizador do humor associado, antidepressivos, mesmo na fase de
manutenção.

Existem substâncias que propiciam a desestabilização do quadro do humor


e que devem ser identificadas (tricíclicos, esteróides, álcool e os estimulantes).

Psicoterapia

Sabe-se que a terapia cognitiva pode contribuir na adesão do tratamento e


na prevenção das recaídas, tornando-se um valioso acessório para o tratamento
farmacológico. Como relatado anteriormente, o Transtorno Bipolar não se limita
meramente a um problema bioquímico, mas também, psicológico e social (envolve
dificuldades pessoais, familiares e sociais). Existem outros tipos de psicoterapias
como individual, grupal, de família, conjugal, entre outros, mas, o que importa é se
está surtindo resultado na melhora do paciente e na sua qualidade de vida.

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TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO (TOC)

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Sou ou não sou um portador do TOC? Eis uma pergunta que você pode ter
se feito eventualmente. Provavelmente, ouviu em algum programa de rádio ou TV,
leu em alguma reportagem de jornal ou revista que lavar as mãos seguidamente,
revisar várias vezes as portas, janelas ou o gás antes de deitar, não gostar de
segurar-se no corrimão do ônibus. Evitar usar as toalhas de mão utilizadas pelos
demais membros da sua família, não conseguir tocar com a mão no trinco da porta
de um banheiro público, ter medo de passar perto de cemitérios ou entrar numa
funerária, de deixar um chinelo virado. Assim como outros comportamentos
semelhantes, podem, na verdade, constituir sintomas do chamado transtorno
obsessivo-compulsivo ou TOC.

E você deve ter ficado com dúvidas quanto a ser ou não um portador. Medos
e preocupações fazem parte do nosso dia-a-dia. Aprendemos a conviver com eles
tomando certos cuidados. Fechamos as portas antes de deitar, lavamos as mãos

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antes das refeições ou depois de usar o banheiro, desligamos o celular antes da
sessão de cinema ou verificamos periodicamente o saldo bancário de nossa conta.

Esses mesmos comportamentos e preocupações, entretanto, podem se


tornar claramente excessivos, quando repetidos inúmeras vezes em um curto
espaço de tempo e quando acompanhados de grande aflição.

É comum, ainda, pelo tempo que tomam que comprometam as rotinas e o


desempenho no trabalho. Isso configura o que, de forma convencional, chamamos
de obsessões ou compulsões, sintomas característicos de um transtorno bem mais
comum do que se imagina, o TOC.

O TOC é um transtorno mental incluído pelo Manual Diagnóstico e


Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV)
entre os chamados transtornos de ansiedade. Manifesta-se sob a forma de
alterações do comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), dos
pensamentos (obsessões como dúvidas, preocupações excessivas) e das emoções
(medo, desconforto, aflição, culpa, depressão).

Sua característica principal é a presença de obsessões: pensamentos,


imagens ou impulsos que invadem a mente e que são acompanhados de ansiedade
ou desconforto, e das compulsões ou rituais: comportamentos ou atos mentais
voluntários e repetitivos, realizados para reduzir a aflição que acompanha as
obsessões.

Dentre as obsessões mais comuns estão à preocupação excessiva com


limpeza (obsessão) que é seguida de lavagens repetidas (compulsão). Outro
exemplo são as dúvidas (obsessão), que são seguidas de verificações (compulsão).
A obsessão está ligada aos pensamentos; já os atos ou comportamentos são
denominados de comportamentos compulsivos.

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O que são obsessões?

Obsessões são pensamentos ou impulsos que invadem a mente de forma


repetitiva e persistente. Podem ainda ser imagens, palavras, frases, números,
músicas, etc. Sentidas como estranhas ou impróprias, as obsessões geralmente são
acompanhadas de medo, angústia, culpa ou desprazer.

O indivíduo, no caso do TOC, mesmo desejando ou se esforçando, não


consegue afastá-las ou suprimi-las de sua mente. Apesar de serem consideradas
absurdas ou ilógicas, causam ansiedade, medo, aflição ou desconforto que a pessoa
tenta neutralizar realizando rituais, compulsões, ou através de evitações (não tocar,
evitar certos lugares).

As obsessões mais comuns envolvem:

• Preocupação excessiva com sujeira, germes ou contaminação


• Dúvidas
• Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento
• Pensamentos, imagens ou impulsos de ferir, insultar ou agredir outras
pessoas
• Pensamentos, cenas ou impulsos indesejáveis e impróprios,
relacionados a sexo (comportamento sexual violento, abusar sexualmente de
crianças, falar obscenidades, etc.)
• Preocupação em armazenar, poupar, guardar coisas inúteis ou
economizar
• Preocupações com doenças ou com o corpo
• Religião (pecado, culpa, escrupulosidade, sacrilégios ou blasfêmias)
• Pensamentos supersticiosos: preocupação com números especiais,
cores de roupa, datas e horários (podem provocar desgraças)
• Palavras, nomes, cenas ou músicas intrusivas e indesejáveis.

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O que são compulsões ou rituais?

Compulsões ou rituais são comportamentos ou atos mentais voluntários e


repetitivos, executados em resposta a obsessões, ou em virtude de regras que
devem ser seguidas rigidamente. Os exemplos mais comuns são lavar as mãos,
fazer verificações, contar, repetir frases ou números, alinhar, guardar ou armazenar
objetos sem utilidade, repetir perguntas, etc.

As compulsões aliviam momentaneamente a ansiedade associada às


obsessões, levando o indivíduo a executá-las toda vez que sua mente é invadida por
uma obsessão.

Por esse motivo se diz que as compulsões têm uma relação funcional (de
aliviar a aflição) com as obsessões. E, como são bem sucedidas, o indivíduo é
tentado a repeti-las, em vez de enfrentar seus medos, o que acaba por perpetuá-los,
tornando-se ao mesmo tempo prisioneiro dos seus rituais.

Nem sempre as compulsões têm uma conexão realística com o que desejam
prevenir (p ex., alinhar os chinelos ao lado da cama antes de deitar para que não
aconteça algo de ruim no dia seguinte; dar três batidas em uma pedra da calçada ao
sair de casa, para que a mãe não adoeça). Nesse caso, por trás desses rituais
existe um pensamento ou obsessão de conteúdo mágico, muito semelhante ao que
ocorre nas superstições.

Os dois termos (compulsões e rituais) são utilizados praticamente como


sinônimos, embora o termo “ritual” possa gerar alguma confusão, na medida em que
praticamente todas as religiões e diversos grupos culturais adotam comportamentos
ritualísticos e contagens nas suas práticas: ajoelhar-se três vezes, rezar seis ave-
marias, ladainhas, rezar 3 ou 5 vezes ao dia, benzer-se ao passar diante de uma
igreja. Existem rituais para batizados, casamentos, funerais, etc.

Além disso, certos costumes culturais, como a cerimônia do chá entre os


japoneses, o cachimbo da paz entre os índios, ou um funeral com honras militares,
envolvem ritos que lembram as compulsões do TOC. Por esse motivo, há certa
preferência para o termo “compulsão” quando se fala em TOC.

AN02FREV001/REV 4.0

32
As compulsões mais comuns são:

• De lavagem ou limpeza
• Verificações ou controle
• Repetições ou confirmações
• Contagens
• Ordem, simetria, seqüência ou alinhamento
• Acumular, guardar ou colecionar coisas inúteis (colecionismo), poupar
ou economizar
• Compulsões mentais: rezar, repetir palavras, frases, números
• Diversas: tocar, olhar, bater de leve, confessar, estalar os dedos.

Compulsões Mentais

Algumas compulsões não são percebidas pelas demais pessoas, pois são
realizadas mentalmente e não mediante comportamentos motores, observáveis.
Elas têm a mesma finalidade: reduzir a aflição associada a um pensamento. Alguns
exemplos:

• Repetir palavras especiais ou frases


• Rezar
• Relembrar cenas ou imagens
• Contar ou repetir números
• Fazer listas
• Marcar datas
• Tentar afastar pensamentos indesejáveis, substituindo-os por
pensamentos contrários.

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33
http://www.elciudadano.cl/imagenes/gt2.jpg

ESQUIZOFRENIA

Esquizofrenia é uma doença mental que afeta a capacidade da pessoa


distinguir se as experiências vividas são ou não reais. Afeta ainda a capacidade de
pensar logicamente, sentir emoções e sentimentos, e comportar-se em situações
sociais.
Não há cura para a esquizofrenia, mas o tratamento controla os sintomas e
ajuda a pessoa a ter uma vida parecida com a de quem não sofre da doença. Ou
seja, pode trabalhar, namorar, ter amigos e divertir-se.
A esquizofrenia é uma doença que tem início no fim da adolescência e
começo da vida adulta (15 a 25 anos). Embora a freqüência seja igual entre os
sexos, pode começar mais tardiamente nas mulheres.
Em torno de 1% da população mundial tem Esquizofrenia.
Esquizofrenia é uma doença complexa, intrigante e sua causa ainda não é
conhecida.

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Sabe-se que a hereditariedade é um fator importante - pessoas que têm um
familiar com esquizofrenia têm maior chance de desenvolver a doença - mas ainda
não se sabe quais os genes envolvidos ou se a presença deles é suficiente para o
desenvolvimento da esquizofrenia.
Gêmeos idênticos têm 50% de chance de desenvolver a doença quando um
deles já desenvolveu.
Alguns pesquisadores acreditam que a esquizofrenia é resultado de uma
combinação de fatores genéticos e ambientais. Certas pessoas nascem com essa
tendência, mas o problema só aparece se expostas a determinados fatores
ambientais.
Não existe um consenso de quais seriam os fatores ambientais envolvidos,
mas estudos sugerem que infecções, má nutrição na gravidez e complicações no
parto podem contribuir posteriormente para o desenvolvimento da esquizofrenia.
Os sintomas são variados e podem aparecer subitamente, embora,
geralmente, a doença se manifeste em meses ou anos.
Inicialmente os sintomas podem não ser evidentes, e são confundidos com
alterações próprias da idade ou com de outras doenças psiquiátricas.
Os indivíduos começam a perceber que há algo estranho, mas muitas vezes
são incapazes de contar para seus familiares.
Podem relatar que estão mais tensos, tendo dificuldade de concentração ou
para dormir, começam a isolar-se das pessoas, não conseguem mais ficar com os
amigos e param de estudar ou trabalhar. Com a progressão da doença, aparecem
os sintomas mais característicos da psicose. (Perda da noção da realidade)

Mudanças na Percepção do Pensamento

a) Delírios: são crenças não verdadeiras, baseadas numa inferência


incorreta sobre a realidade exterior, apesar de provas e evidências contrárias. O
paciente pode sentir que seus pensamentos são influenciados, controlados,
inseridos ou transmitidos para fora da cabeça. Os eventos normais do dia-a-dia
passam a ter significado diferente. O indivíduo pode sentir-se perseguido ou
discriminado e achar que tem poderes ou atributos especiais. Pode sentir que seu
corpo está mudando ou que recebe influências de forças externas.

AN02FREV001/REV 4.0

35
b) Alucinações: são falsas percepções na ausência de um estímulo externo,
mas com as qualidades de uma verdadeira percepção. Isto é, eles podem ver, ouvir
e sentir coisas que não estão realmente no local.
As alucinações podem ser auditivas, visuais, táteis, olfativas, gustativas ou
uma combinação de todas.

• Auditivas - são as mais comuns em esquizofrenia e podem ocorrer na


forma de barulhos, músicas ou mais freqüentemente como vozes. Estas vozes
podem ser sussurradas, ou claras e distintas, podem falar entre si ou ser uma única
voz. Podem comentar o comportamento da pessoa e, às vezes, podem dar ordens.
• Visuais - podem ser simples ou complexas, podendo envolver fachos
de luz, pessoas ou coisas.
• Olfativas e gustativas - ocorrem em geral juntas como cheiros ou
gostos ruins.
• Táteis - o paciente tem a sensação de ser tocado ou picado, ou ainda
sensações elétricas como se insetos estivessem rastejando sobre a pele.

c) Distúrbios formais do pensamento: os pensamentos mudam de assunto


completamente e esta alteração aparece na fala da pessoa.

Transtornos de Comportamento e Motor

Muitos pacientes apresentam diminuição de iniciativa, transtornos motores e


alterações no comportamento social. Um paciente pode ficar parado por um longo
período de tempo ou engajar-se numa atividade repetitiva sem finalidade.
Os extremos podem incluir o estupor catatônico - situação na qual o paciente
fica imóvel por um período longo, ou o excitamento catatônico, onde o indivíduo
apresenta atividade motora incontrolável e sem objetivo.
Outras alterações motoras são estereotipias (movimentos repetidos sem
objetivo aparente) e maneirismos (atividades normais, mas fora de contexto).
Geralmente a deterioração do comportamento social ocorre junto com o
isolamento social. Os indivíduos podem negligenciar seus cuidados pessoais, vestir

AN02FREV001/REV 4.0

36
roupas sujas ou inapropriadas, e suas coisas e ambientes permanecerem
descuidados e desarrumados.
Podem ainda desenvolver comportamentos que contrariam as convenções
sociais como falar obscenidades em público ou apresentar maneiras rudes à mesa.
Podem ser encontrados nas ruas marchando, falando alto e gesticulando.
Esse descuido com a higiene pessoal e comportamentos excêntricos podem
dificultar ainda mais a aproximação de familiares, amigos e estranhos. Essa situação
corrobora ainda mais a certeza, destes pacientes, de que as pessoas não gostam
deles.

Transtornos do Afeto

A diminuição da resposta emocional já foi considerada um sintoma


característico da esquizofrenia. Muitos pacientes são indiferentes ou apáticos,
evitam o contato com olhar, apresentam ausência na inflexão na voz, mudanças na
expressão facial e os movimentos espontâneos e os gestos expressivos podem
estar diminuídos. Com freqüência perdem a capacidade de sentir prazer e podem
descrever-se como vazios de emoção.

Reações dos Pacientes aos Sintomas

A pessoa com esquizofrenia altera seu entendimento do mundo na tentativa


de explicar as experiências vividas. Devido às experiências serem incomuns, as
explicações também são. É difícil explicar para alguém o fenômeno de ouvir vozes.
Pacientes mais crônicos, que já apresentam dificuldades de relacionamento social,
ficam isolados e muitas vezes envolvidos em suas próprias fantasias.
Podem imaginar que outras pessoas tentam prejudicá-los, não estão
interessadas nele ou querem criticá-lo.
Alternativamente, os pacientes podem experienciar reações negativas de
outras pessoas durante os episódios psicóticos, o que pode pesar ainda mais na sua
imaginação. Percebem ainda que não são mais competentes no trabalho. Ele pode
ter sido um bom estudante durante anos ou um trabalhador devotado e competente,
mas após a doença percebe que houve diminuição de sua performance.

AN02FREV001/REV 4.0

37
A experiência de estar "louco" é uma das mais dolorosas e significativas.
Quando os pensamentos tornam-se desorganizados, quando as decisões estão
bloqueadas, quando as emoções inexplicadas e não esperadas aparecem, há uma
conscientização do clima de horror, de que mente está fazendo armadilhas e que foi
embora seu modo usual de agir.
A experiência da psicose faz com que o paciente mude o conceito a respeito
de sua própria mente. A experiência do distúrbio faz com que a pessoa desacredite
nos seus processos de pensamento, mesmo quando estes voltam ao normal.
O paciente perde a fé de que possa pensar propriamente. Após a psicose,
ele tem conhecimento de que alucinou e, por algum tempo ou para sempre, ele não
será capaz de reagir normalmente aos sons estranhos e ocasionais que podem ser
ouvidos em locais e horas não esperados.

Tratamento

O tratamento da esquizofrenia envolve vários tipos de profissionais que


trabalham em equipe.

Os objetivos da equipe de saúde são:

• Controlar os sintomas da doença tentando minimizar os efeitos


deletérios da medicação
• Prevenir riscos de suicídio e crise paranóide
• Evitar hospitalizações
• Desencorajar o paciente ao uso indiscriminado da emergência médica
• Cuidar da saúde geral do paciente
• Melhorar sua qualidade de vida e dar à família suporte emocional

Talvez o fator mais importante para cumprir estes objetivos seja assegurar
que o paciente faça o tratamento. Devido ao isolamento social, idéias paranóides,
negação da doença e desconforto com os efeitos colaterais das drogas, muitos
pacientes abandonam o tratamento.

Tratamento Farmacológico

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38
Antipsicóticos "típicos" ou clássicos são aquelas medicações que tendem a
produzir sintomas extrapiramidais (EPS). Estes agentes têm sido as principais
drogas na farmacoterapia da esquizofrenia por mais de um quarto de século.
Os sintomas que respondem melhor aos antipsicóticos típicos são os
chamados sintomas positivos, como delírios e alucinações. Já nos sintomas
negativos, além de não responderem tão bem, podem ser acentuados com seu uso.
A maioria dos autores divide o tratamento farmacológico da esquizofrenia
em duas fases: aguda e manutenção ou profilática.

Fase Aguda

Envolvem a tentativa de aliviar os sinais e sintomas associados como


delírios, alucinações, alterações formais do pensamento e do comportamento.
Apesar da variação das doses utilizadas na prática clínica, as doses recomendadas
para a fase aguda situam-se em 600-700 mg de clorpromazina ou equivalente/dia ou
5-20 mg/dia de haloperidol ou flufenazina.
A administração de altas doses de antipsicótico (neuroleptização rápida) no
tratamento de pacientes agudos não é indicada devido à falta de estudos
controlados, demonstrando que esta medida é mais eficaz no controle de sintomas
psicóticos. Após a remissão dos sintomas, diminui-se a dose e avalia-se a
necessidade de tratamento em longo prazo com antipsicóticos.
Se a medicação for suspensa, o médico deve estar atento a algum sinal de
recidiva e, em caso de nova crise psicótica, a medicação deve ser introduzida por
tempo indefinido.

Fase de Manutenção ou Profilática

Esquizofrenia é uma doença que dura a vida toda, como diabetes ou


hipertensão. A maioria das pessoas com esquizofrenia necessitará de cuidados
médicos e medicação pelo resto de suas vidas.

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As medicações antipsicóticas não curam a esquizofrenia, somente controlam
os sintomas da doença. Ou seja, se o paciente deixar de tomar a medicação pode
sofrer uma recaída.
Algumas pessoas, mesmo tomando a medicação regularmente, podem ter
uma recaída dos sintomas psicóticos.
É muito importante que elas possam reconhecer que estes estão voltando, e
procurar ajuda imediatamente. Antes do aparecimento de sintomas como delírios ou
alucinações, é comum aparecerem sintomas menos específicos como irritabilidade,
insônia e depressão.
Os familiares devem estar atentos a mudanças sutis que possam ocorrer
com seu familiar doente, pois a intervenção médica precoce pode impedir a recaída.
Enquanto esta necessidade de tratamento por longo tempo é bem
reconhecida pelo médico, freqüentemente não é bem aceito pelo paciente.
Muitos estudos mostram quão inconstantes e não confiáveis eles podem ser
em relação à medicação. Interrompem porque se sentem bem, e não entendem
porque devem continuar tomando o remédio; ou ainda, porque os efeitos colaterais
são muito desagradáveis.
A introdução dos antipsicóticos de ação prolongada, de uso injetável,
possibilitou uma maior adesão destes pacientes ao tratamento.

HIPERATIVIDADE E DÉFICIT DE ATENÇÃO

Http://Www.Plenarinho.Gov.Br/Educacao/Imagens/Escolha-A-Escola-Certa/04.Jpg

AN02FREV001/REV 4.0

40
A hiperatividade, denominada também como desordem do déficit de
atenção, pode afetar crianças, adolescentes e até mesmo alguns adultos. Os
sintomas variam de brandos a graves e podem incluir problemas de linguagem,
memória e habilidades motoras.

Embora a criança hiperativa tenha muitas vezes uma inteligência normal ou


acima da média, o estado é caracterizado por problemas de aprendizado e
comportamento. Os professores e pais da criança hiperativa devem saber lidar com
a falta de atenção, impulsividade, instabilidade emocional e hiperativa incontrolável
da criança.

O comportamento hiperativo pode estar relacionado a uma perda da visão


ou audição, a um problema de comunicação, como a incapacidade de processar
adequadamente os símbolos e idéias que surgem, estresse emocional, convulsões
ou distúrbios do sono.

Também pode estar relacionado à paralisia cerebral, intoxicação por


chumbo, abuso de álcool ou drogas na gravidez, reação a certos medicamentos ou
alimentos e complicações de parto, como privação de oxigênio ou traumas durante o
nascimento.

Esses problemas devem ser descartados como causa do comportamento


antes de tratar a hiperatividade da criança.

O verdadeiro comportamento hiperativo interfere na vida familiar, escolar e


social da criança. As crianças hiperativas têm dificuldade em prestar atenção e
aprender. Como são incapazes de filtrar estímulos, são facilmente distraídas. Essas
crianças podem falar muito, alto demais e em momentos inoportunos.

As crianças hiperativas estão sempre em movimento, sempre fazendo algo e


são incapazes de ficar quietas. São impulsivas. Não param para olhar ou ouvir.
Devido à sua energia, curiosidade e necessidade de explorar surpreendentes e,

AN02FREV001/REV 4.0

41
aparentemente infinitas, são propensas a se machucar e a quebrar e danificar
coisas.

As crianças hiperativas toleram pouco, as frustrações. Elas discutem com os


pais, professores, adultos e amigos. Fazem birras e seu humor flutua rapidamente.
Essas crianças também tendem a ser muito agarradas às pessoas.

Precisam de muita atenção e tranqüilização. É importante para os pais


perceberem que as crianças hiperativas entenderam as regras, instruções e
expectativas sociais. O problema é que elas têm dificuldade em obedecê-las. Esses
comportamentos são acidentais e não propositais. Para a criança hiperativa e sua
família, uma ida a um parque de diversão ou supermercado pode ser desastrosa. Há
simplesmente muita coisa acontecendo - muito estímulo ao mesmo tempo.

Devido à sua incapacidade de concentrar-se e ao constante


bombardeamento de estímulos, a criança hiperativa pode ficar estressada.

A criança hiperativa pode ter muitos problemas. Apesar da "dificuldade de


aprendizado", essa criança é geralmente muito inteligente. Sabe que determinados
comportamentos não são aceitáveis. Mas, apesar do desejo de agradar e de ser
educada e contida, a criança hiperativa não consegue se controlar. Pode ser
frustrada, desanimada e envergonhada.

Ela sabe que é inteligente, mas não consegue desacelerar o sistema


nervoso, a ponto de utilizar o potencial mental necessário para concluir uma tarefa.

A criança hiperativa muitas vezes se sente isolada e segregada dos colegas,


mas não entende por que é tão diferente.

Fica perturbada com suas próprias incapacidades. Sem conseguir concluir


as tarefas normais de uma criança na escola, no playground ou em casa, a criança
hiperativa pode sofrer de estresse, tristeza e baixa auto-estima.

Um especialista em comportamento infantil pode ajudá-lo a distinguir entre a


criança normalmente ativa e enérgica e a criança realmente hiperativa. As crianças

AN02FREV001/REV 4.0

42
até mesmo as menores podem correr, brincar e agitarem-se felizes durante horas
sem cochilar, dormir ou demonstrar qualquer cansaço.

Para garantir que a criança realmente hiperativa seja tratada


adequadamente - e evitar o tratamento inadequado de uma criança normalmente
ativa - é importante que seu filho receba um diagnóstico preciso.

Durante a primeira ou a segunda consulta médica, a criança hiperativa pode


ser comportar de forma quieta e educada. Sabendo o que é esperado, pode se
transformar em uma criança "modelo". Esteja preparado para descrever, de forma
precisa e objetiva, o comportamento do seu filho em casa e nas atividades sociais.
Se seu filho está encontrando dificuldade na escola, peça ao professor que converse
com o médico ou envie-lhe um relatório por escrito.

Podem precisar de várias consultas antes que o comportamento hiperativo


torne-se aparente. Não se preocupe. Um especialista em crianças, geralmente, pode
realizar um diagnóstico preciso.

Ao tratar da criança hiperativa, sua meta é ajudá-la a fazer o melhor


possível, em casa, na escola, e com os amigos. Lembre-se sempre de que seu filho
está lutando com todas as forças para superar uma deficiência do sistema nervoso.
Explique, se preciso for, mas não se sinta envergonhado ou culpado quando seu
filho não se comportar bem.

Os pais da criança hiperativa merecem muita consideração.

É preciso muita paciência - e vigor - para amar e apoiar a criança hiperativa


em todos os desafios e frustrações inerentes à doença. Os pais da criança hiperativa
estão sempre preocupados e atentos, sempre "em alerta". Conseqüentemente, é
fácil sentirem-se cansados, abatidos e frustrados. É de importância vital para os pais
de a criança hiperativa, serem bons consigo mesmos, descansar quando apropriado,
além de buscar e aceitar o apoio para eles e para o filho.

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43
TRATAMENTO CONVENCIONAL

Antes de qualquer tratamento, um exame físico deve ser feito para descartar
outras causas para o comportamento do seu filho, tais como infecção crônica do
ouvido médio, sinusite, problemas visuais ou auditivos ou outros problemas
neurológicos.

O metilfenidato é o medicamento mais comumente receitado para


hiperatividade. É um estimulante que tem efeito paradoxal de acalmar o sistema
nervoso e aumentar a capacidade da criança hiperativa de prestar atenção.

Contudo, não deixe de verificar com seu médico antes de parar de dar esse
medicamento a seu filho. A tioridazina é um tranqüilizante ao qual se pode recorrer
se a criança for extremamente agressiva e, nesse caso, apenas nas situações mais
difíceis.

Na maioria das circunstâncias, o medicamento para a hiperatividade pode


ser interrompido durante o verão e retomado quando as aulas começarem
novamente, após as férias.

Essa conduta pode limitar alguns dos efeitos colaterais prolongados desses
medicamentos. Após um verão sem medicamento, talvez seja útil deixar que seu
filho freqüente as primeiras semanas de aula sem qualquer medicação. Considere
esse período como um teste para determinar se seu filho pode passar sem o
medicamento. (Converse sempre com seu médico antes de descontinuar qualquer
tratamento, durante qualquer período de tempo).

PSICOTERAPIA E PSICOPEDAGOGIA

Essas disciplinas ajudam a criança a entender o problema contra o qual está


lutando, a estabelecer metas e padrões e reconhecer e avaliar seu comportamento.
Podem ser de grande valia.

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44
Esses programas ensinam controles internos que podem ser usados em
várias situações. Seu filho aprenderá a oferecer recompensas pelos seus feitos e
aprenderá a partir dos seus erros.

Coopere com seu médico ou terapeuta para desenvolver programas de


modificação comportamental. É importante que o programa seja claro, facilmente
entendido e executado por todos que dele participam - pela criança bem como pelos
adultos.

É essencial que essas intervenções sejam realizadas com cautela e boa


vontade, em um ambiente calmo e carinhoso. A criança deve participar com
disposição. Certifique-se de que os dois tenham entendido que esses programas
objetivam ajudar e não punir.

Desenvolva uma rotina estável em casa. Para diminuir a confusão e a


quantidade de estímulos diários, defina horários específicos para comer e dormir.

Experimente atribuir uma tarefa pequena e rápida e insista delicadamente


para que seja concluída. Em seguida, não deixe de agradecer e elogiar seu filho
quando a tarefa tiver sido concluída.

Faça com que a criança participe de projetos que ela goste para ajudá-la a
concentrar-se.

Aprender a concentrar-se alterará sua resposta ao mundo, gradativamente.


Lembre-se sempre de que, além de ter um desequilíbrio do sistema nervoso que
transforma em tortura o simples ato de permanecer sentado, a criança hiperativa e
inteligente entedia-se facilmente.

Cooperar com o hiperativo para ajudá-lo a realmente concluir um projeto.


Concluir um projeto oferecerá uma idéia de competência e maior auto-estima. O
domínio e conclusão de uma tarefa requerem elogios.

Busque terapia para você e seu cônjuge. Para ajudar a diminuir os


sentimentos de frustração e isolamento, os pais da criança hiperativa precisam de
informação e apoio.

AN02FREV001/REV 4.0

45
Busque auxílio; certamente encontrará. Você aprenderá a apoiar seu filho e
a ficar calmo e próximo, mesmo quando a situação parecer fora de controle. Você
também aprenderá que é importante que os pais tirem férias sem se sentirem
estressados ou culpados por deixarem uma criança "difícil" com outras pessoas
competentes. Nunca é demais enfatizar a necessidade dos pais terem uma folga.
Tire uma tarde, uma noite ou um fim de semana. Entre em contato com uma pessoa
que possa tomar conta do seu filho. Ligue para seus pais e amigos.

Se você não fizer isso para o seu próprio bem, faça por seu filho.
Provavelmente você voltará se sentindo renovado, mais calmo e carinhoso.

ATIVIDADES FÍSICAS

São fundamentais, principalmente aquelas que mantêm a criança em


contato com a água, como a hidroginástica e a natação. É importante saber que a
água exerce um efeito calmante. Práticas como a yoga e o tai-chi-chuan também
são interessantes, pois treinam a mente para que fique quieta.

ALGUNS CUIDADOS IMPORTANTES

Durante a gestação, mantenha a exposição a chumbo ambiental ao mínimo


possível e elimine álcool. Os dois têm sido relacionados à hiperatividade.

Não deixe que seu filho se exponha ao chumbo. As fontes mais comuns de
exposição ao chumbo são tinta à base de chumbo, água potável e cerâmica mal
esmaltada.

ALGUNS FATOS SOBRE A HIPERATIVIDADE

Há um equívoco muito grande, principalmente nas escolas, em


“diagnosticar” crianças como sendo hiperativas. Embora muitos pais de crianças
enérgicas perguntem aos médicos sobre a hiperatividade, ela não é problema

AN02FREV001/REV 4.0

46
comum. Agitação não é sinônimo de hiperatividade. Ansiedade também não.
Tampouco problemas de concentração. É fundamental procurar um psicólogo, de
preferência especialista em Psicopedagogia ou Psicologia Escolar.

De acordo com um artigo publicado no British Journal of Psychiatry, apenas


3% das crianças são realmente diagnosticadas com a desordem do déficit de
atenção. A hiperatividade é dez vezes mais comum nos meninos do que nas
meninas. A causa ou causas exatas da hiperatividade são desconhecidas.

Os profissionais de saúde teorizam que a desordem pode ser resultado de


fatores genéticos; desequilíbrio químico; lesão ou doença na hora do parto ou depois
do parto; ou um defeito no cérebro ou sistema nervoso central, resultando no mau
funcionamento do mecanismo responsável pelo controle das capacidades de
atenção e filtragem de estímulos externos.

Metade das crianças hiperativas tem menos problemas comportamentais


quando seguem uma dieta livre de substâncias como flavorizantes, corantes,
conservantes, glutamato monossódico, cafeína, açúcar e chocolate e mantém
psicoterapia associada a atividades físicas, ou seja, o tratamento deve ser
multidisciplinar.

GLOSSÁRIO

Os termos desconhecidos deste módulo foram explicados no próprio corpo


do texto, não havendo necessidade de incluir termos no glossário.

-------------FIM-------------

AN02FREV001/REV 4.0

47
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação

CURSO DE
TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL

Aluno:

AN02FREV001/ REV 3.0

63
EaD - Educação a Distância Portal Educação

CURSO DE
TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

AN02FREV001/ REV 3.0

64
3.5 Conceitos Básicos da Terapia Cognitiva

De acordo com Dobson & Franche (2002), a terapia


cognitiva foi desenvolvida por Aaron Beck quando realizava
trabalhos com pessoas depressivas, seu modelo cognitivo de
disfunção enfatiza o potencial dos indivíduos para perceber
negativamente o ambiente e os acontecimentos que os
rodeiam e, por meio destas percepções negativas, criar neles mesmos a
perturbação emocional.
A Terapia Cognitiva identifica três níveis de pensamento como já falamos
anteriormente: os pensamentos automáticos, as crenças intermediárias e as crenças
centrais. Os pensamentos automáticos são conteúdos espontâneos que fluem em
nossa mente a partir de acontecimentos do nosso dia a dia, as crenças
intermediárias correspondem ao segundo nível de pensamento e refletem ideias ou
entendimentos mais profundos que os pensamentos automáticos e ocorrem sob a
forma de suposições ou regras, e as crenças centrais, seriam o nível mais profundo
da estrutura cognitiva e compostas por ideias absolutistas, rígidas e globais que um
indivíduo tem sobre si mesmo.
Beck (1997) faz distinção entre esquemas e crenças, em que estas são as
ideias mais centrais da pessoa a respeito do self e esquemas seriam as estruturas
cognitivas dentro dos pensamentos, cujo conteúdo específico seria as crenças
centrais.
Knapp (2004) também confirma essa distinção e acrescenta que na literatura
os conceitos de crenças, mais especificamente as nucleares, com frequência são
usados indistintamente, mas de acordo com o propósito clínico, podemos fazer a
seguinte diferenciação:

 Esquemas são estruturas cognitivas;


 E Crenças já seria o conteúdo dos esquemas.
De acordo com alguns autores como Falcone (2001), Knapp (2004) e Beck
(2000) são feitas algumas distinções a esses conceitos:

AN02FREV001/ REV 3.0

65
 Pensamentos automáticos.

Alguns autores que trabalham com a terapia cognitiva o


conceituam como conteúdos espontâneos que fluem em nossa
mente a partir de acontecimentos do nosso dia a dia. Que
pensamentos poderiam ser estes? Esses pensamentos são as
cognições mais fáceis de serem acessadas e modificadas,
podendo ocorrer em forma de pensamento ou em forma de
imagem. Geralmente, não são acessíveis a nossa consciência,
mas podem ser identificados após um treinamento adequado, como por exemplo,
solicitando ao paciente que pergunte a si mesmo quando verificar uma mudança
brusca de humor, “o que está passando por sua cabeça agora?”. Isso pode fornecer
qual pensamento disfuncional está por detrás dessa variação de humor.
Podem-se classificar os pensamentos automáticos levando em consideração
à sua validade e utilidade, em três tipos (Beck, J. 1997):

 Distorcidos, ocorrendo apesar das evidências encontradas;


 Acurados, mas com a conclusão distorcida;
 Acurados, mas totalmente disfuncionais.

Os pensamentos automáticos estão intimamente relacionados com as


crenças centrais e não necessariamente são peculiares a pessoas com angústia,
são pensamentos comuns a todos os indivíduos. O que se sabe é que a maioria das
pessoas não é ciente de sua existência, embora com um pouco de treino já se possa
trazer esses pensamentos facilmente à consciência.

Quando os pensamentos automáticos se tornam conscientes, é possível se


fazer uma avaliação da realidade e se existe ou não uma disfunção psicológica a ser
trabalhada.

Então qual seria o trabalho de um terapeuta cognitivo?

AN02FREV001/ REV 3.0

66
O terapeuta cognitivo está preocupado em identificar os pensamentos
disfuncionais, ou seja, os pensamentos que trazem prejuízo ao funcionamento
psíquico de um indivíduo, pois de certa forma distorcem a realidade e dificultam o
alcançar metas.

Geralmente esses pensamentos são breves e o paciente está mais ciente da


emoção do que o pensamento em si, podendo vir de forma verbal ou visual ou em
ambas as formas bem como podem ser avaliados de acordo com sua utilidade e
validade.

 Crenças

As crenças podem ser:


o Intermediárias;
o Centrais.

o Crenças intermediárias: Correspondem ao segundo nível de


pensamento e refletem ideias ou entendimentos mais profundos que os
pensamentos automáticos e ocorrem sob a forma de suposições ou regras.
Constituem uma forma que o indivíduo encontrou para reduzir o sofrimento
provocado pelas crenças centrais. Essas crenças pressupõem que:

“Desde que determinadas regras, normas e atitudes sejam cumpridas, não


haverá problemas, e o indivíduo se mantém relativamente estável e
produtivo. No entanto, se, por alguma circunstância esses pressupostos não
estão sendo cumpridos, o indivíduo torna-se vulnerável ao transtorno
emocional quando as crenças nucleares negativas são ativadas” ( Knapp &
cols, 2004, p.25).

o Crenças centrais: Seriam o nível mais profundo da estrutura cognitiva


e compostas por ideias absolutitas, rígidas e globais que um indivíduo tem sobre si
mesmo, as pessoas e o mundo.
São incondicionais, isto é, independente da situação que se apresente ao
indivíduo, ele irá pensar de modo consoante com suas crenças.

AN02FREV001/ REV 3.0

67
Segundo Knapp & cols (2004) as crenças centrais vão se construindo e
formando desde experiências de aprendizado mais primitivas e são fortalecidas ao
longo da vida, moldando a percepção e a interpretação dos eventos, modelando o
jeito psicológico de ser. Caso não haja ações corretivas dessas crenças centrais
disfuncionais, o indivíduo irá considerá-las como verdades absolutas e imutáveis.
O objetivo último da terapia é a modificação dessas crenças disfuncionais, o
que irá resultar em mudanças duradouras na vida do indivíduo, mas que fique claro
que o terapeuta inicia o processo sempre modificando os pensamentos automáticos
para depois chegar até as crenças.
As crenças centrais disfuncionais podem ser colocadas em dois grandes
grupos, expandidos agora para três, de acordo com Beck:

 Crenças nucleares de desamparo:


Crenças sobre ser impotente, frágil, vulnerável, carente, desamparado e
necessitado;

 Crenças centrais de desamor:


Crenças sobre ser indesejável, incapaz de ser gostado, incapaz de ser
amado, sem atrativos, imperfeito, rejeitado, abandonado e sozinho;

 Crenças centrais de desvalor:


Crenças sobre ser incapaz, incompetente, inadequado, ineficiente, falho,
defeituoso, enganador, fracassado e sem valor.
Aprender a modificar pressuposições e crenças centrais mal adaptadas pode
ajudar a reduzir o número de pensamentos automáticos negativos, distorcidos que
se tenha.
O desenvolvimento de novas pressuposições e crenças centrais pode
reduzir a angústia e facilitar a mudança do comportamento de forma que esteja de
acordo com as novas crenças.
Essas pressuposições e as crenças, frequentemente são adquiridas na
infância quando interage com outras pessoas significativas e encontram uma série
de situações que confirmem essa ideia.

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68
As crenças centrais negativas são usualmente globais, rígidas e
supergeneralizadas. Quando ativada, o paciente facilmente é capaz de processar
informações que a apoiam, mas falha em reconhecer e distorce informações que
são contrárias a ela. As crenças levam a sofrimento psíquico e comportamentos
desadaptativos além de dificultarem a concretização dos objetivos.
De acordo com Beck (1997) as crenças centrais influenciam o
desenvolvimento de uma classe intermediária de crenças que consiste em atitudes,
regras, expectativas e suposições. Essas crenças intermediárias influenciam sua
visão de uma situação, o que, por sua vez, influencia como ele pensa, sente e se
comporta. O relacionamento dessas crenças intermediárias com as crenças centrais
e pensamentos automáticos estão retratados a seguir:

Crenças Centrais

Crenças Intermediárias
(regras, expectativas, atitudes e
suposições)

Pensamentos Automáticos

Modelo Cognitivo:

Crenças Centrais

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Crenças Intermediárias
(regras, expectativas, atitudes e suposições)

Situação Pensamentos Automáticos


Emoção

Conforme explicado no começo deste texto, é essencial para a terapia


cognitiva que se aprenda a conceituar as dificuldades em termos cognitivos, a fim de
se proceder a mudanças.

Crenças Centrais
Eu sou incompetente

Crenças Intermediárias
(regras, expectativas, atitudes e suposições)
Se eu não entendo algo perfeitamente, então eu sou burro.

Situação Pensamentos Automáticos Reações


Leitura deste texto Isso é difícil demais. Emocional:
Eu jamais entenderei Tristeza
isso. Comportamental:
Fecha o livro
Fisiológica:
Peso no abdômen

FONTE: Terapia Cognitiva, Beck (1997).

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70
 Esquemas

De acordo com Beck (2000), esquemas seriam estruturas de cognição com


significados, servindo como o principal caminho para o funcionamento ou adaptação
psicológica.
Os esquemas são considerados ingredientes de suma importância no
modelo cognitivo, pois eles servem para moldar os dados em cognições,
constituindo a base para extrair, diferenciar e codificar os estímulos que confrontam
o indivíduo.
Beck (1997) mostra que os tipos de esquemas empregados determinam
como o indivíduo estruturará experiências diferentes e quando eles são ativados em
uma situação específica determinam diretamente o modo como a pessoa responde.
De acordo com Beck (2000), esquemas seriam estruturas de cognição com
significados, servindo como o principal caminho para o funcionamento ou adaptação
psicológica.
Entende-se que esse significado refere-se à interpretação da pessoa sobre
um determinado contexto e da relação daquele contexto com ela.
Os esquemas seriam estruturas e estariam compostos por crenças.
Para o melhor entendimento de esquemas, como se dividem, não podemos
deixar de ressaltar a Teoria dos Esquemas, Young (2003), que conceitua esquema
como uma estrutura cognitiva que filtra, codifica e avalia os estímulos a qual o
organismo é submetido, e o veremos nos próximos tópicos.

Veja agora no quadro abaixo um exemplo:

Pensamento Automático Pressupostos Subjacentes Crenças Nucleares

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Pensamento Fisiologia: calafrio, “É muito perigoso interagir com as “Sou incapaz de ser
taquicardia e sudorese. pessoas, pois elas não iriam gostar amado”
Emoção – angústia e medo de mim”
Comportamento - fuga e evitação “Para não ter problemas, eu não
devo interagir com as pessoas”.

1. Ativados por eventos 1. Pressupostos, regras, normas e 1. Conteúdo - ideias e


externos/internos; atitudes; conceitos mais
2. Pensamentos ou imagens; 2. Condicionante e imperativo fundamentais acerca de si,
3. Alteração de humor/fisiológico; 3. Estratégias Compensatórias. dos outros, e do mundo;
2. Esquemas

 Modelo Cognitivo

Como já sabemos, a terapia cognitiva baseia-se no modelo cognitivo, que


defende a hipótese de que as emoções e os comportamentos das pessoas são
influenciados por sua percepção dos eventos. Não é uma situação por si só que
determina o que as pessoas sentem, mas, antes, o modo como elas interpretam
uma situação.
O modelo cognitivo de interações (cognição, humor e comportamento)
sugere uma variedade de intervenções, que vão desde as programadas para a
modificação do afeto, para alcançar mudança comportamental, como também,
intervenções focalizadas nas cognições.
Percebemos então, que o ponto central seria quebrar o ciclo que perpetua
os problemas do indivíduo, por intermédio de técnicas que focalizam a modificação
dos pensamentos automáticos, para a melhoria do humor ou para a modificação dos
comportamentos do paciente.
Um fator muito importante a ser considerado na terapia cognitiva diz respeito
à familiarização do paciente no modelo cognitivo, em que será ensinado ao paciente:
 A identificar os seus pensamentos automáticos que ocorrem em
situações problemáticas;
 A reconhecer os efeitos que eles produzem na emoção e no
comportamento;

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 A responder de forma eficaz a esses pensamentos disfuncionais.

Então o modo como as pessoas se sentem está associado ao modo como


elas interpretam e pensam sobre as coisas e situações.
A situação em si não determina diretamente como elas se sentem, mas o
pensamento desse sujeito sobre essa situação é que vai determinar seu
comportamento, assim sua resposta emocional é intermediada por sua percepção
da situação.
Tendo identificado seus pensamentos automáticos, você pode avaliar sua
validade. Se o sujeito verifica que a interpretação dele é errônea e a corrige, você
provavelmente descobre que o seu humor melhora. Em termos cognitivos, quando
pensamentos disfuncionais são sujeitos à reflexão racional, nossas emoções em
geral mudam.
E é isso que a terapia busca - pensamentos racionais, reflexão racional, para
que não cairmos nas armadinhas da nossa mente.

 Conceituação cognitiva

Conceituação Cognitiva é a formulação do caso, embasada na concepção


cognitiva dos transtornos emocionais do paciente.
Por intermédio da conceitualização ou conceituação cognitiva que serão
percebidos os seguintes aspectos (Knapp & cols, 2004):

 Os problemas atuais e os fatores estressores precipitantes que


contribuíram para seus problemas psicológicos ou interferiram em sua habilidade
para resolvê-los;
 As aprendizagens e experiências antigas que contribuíram para os
problemas atuais,
 Os pensamentos automáticos, as crenças intermediárias e as crenças
centrais;
 Os mecanismos cognitivos, afetivos e comportamentais que ele
desenvolveu para enfrentar suas crenças disfuncionais;
 Como ele percebe a si mesmo, os outros e o mundo.

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73
 Identificação de Pensamentos Automáticos

De acordo com vários autores acima citados, os pensamentos automáticos


são pensamentos, palavras, imagens ou recordações que vêm espontaneamente
em nossas mentes durante o dia.
Sempre que temos um estado de humor forte, há também pensamentos
automáticos presentes que fornecem pistas para a compreensão de nossas reações
emocionais.

 O que estava passando em minha mente, instantes antes de eu


começar a me sentir deste modo?

 O que isso diz a respeito de minha pessoa se for verdade?

 O que isso significa em relação a mim, minha vida e meu futuro?

 O que temo que possa acontecer?

 O que de pior poderia acontecer se isso fosse verdade?

 O que isso significa em termos do modo como a(s) outra(s)


pessoa(s) sente(m) ou pensa(m) a meu respeito?

 Quais imagens ou lembranças tenho nesta situação?

FONTE: Greenberger (1999).

Quando temos pensamentos automáticos negativos, geralmente damos


importância a dados que confirmam nossas conclusões.

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74
Uma forma muito importante de desfazer esses pensamentos é reunir
evidências que apoiam e não apoiam os pensamentos, assim ajudaríamos a
esclarecer nossos pensamentos e reduzir a intensidade dos estados de humor
angustiantes.
Não esquecendo que evidências consistem de dados, informações e fatos, e
não de interpretações.

 Eu tive alguma experiência que mostra que este pensamento não é


completamente verdadeiro o tempo todo?

 Se meu melhor amigo ou alguém que amo tivesse este pensamento,


o que eu diria para ele ou ela?

 Se meu melhor amigo ou alguém que me ama soubesse que estou


tendo este pensamento, o que diriam para mim? Quais evidências eles me
mostrariam que sugeririam que meus pensamentos não são 100% verdadeiros?

 Quando não estou me sentindo deste modo, penso sobre este tipo
de situação de forma diferente? Como?

 Quando me senti deste modo no passado, sobre o que pensei que


me ajudou a me sentir melhor?

 Eu já estive neste tipo de situação antes? O que aconteceu? Há


alguma diferença entre esta situação e as situações anteriores? O que aprendi de
experiências prévias que poderia me ajudar agora?

 Existem pequenas coisas que contradizem meus pensamentos que


eu possa estar descartando como não sendo importante?

 Daqui a cinco anos, se olhar para trás em relação a esta situação,

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75
eu olharei para ela de forma diferente? Concentrarei minha atenção em qualquer
outra parte de minha experiência?

 Existe algum ponto positivo ou forte em mim, ou na situação, que


estou ignorando?

 Estou tirando conclusões precipitadas que não são totalmente


justificadas pelas evidências?

 Estou me culpando por algo sobre o qual não tenho controle total?

FONTE: Greenberger (1999).

 Reestruturação Cognitiva

De acordo com Greenberger (1999), quando as evidências não apoiam os


pensamentos automáticos, devemos construir um ponto de vista alternativo da
situação que seja mais coerente com as evidências.
Percebemos como as evidências são importantes para desfazer esses
pensamentos automáticos, que aparecem nas nossas mentes.
Caso as evidências apoiem apenas parcialmente os pensamentos
automáticos, devemos construir um pensamento compensatório que resuma as
evidências que apoiam e contradizem o pensamento original.
Por fim, é importante avaliar nossa crença no pensamento alternativo ou
compensatório com uma escala que varia de 0 – 100%.

 Com base nas evidências encontradas, existe um modo


alternativo de pensar ou de compreender esta situação?

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76
 Construir uma ideia, frase ou pensamento compensatório a partir
do resumo ou combinação de todas as evidências que apoiam meu
pensamento automático e de todas as evidências que contradizem este meu
pensamento.

 Se alguém de quem gosto estivesse nesta situação, tivesse estes


pensamentos e tivesse estas informações disponíveis, qual seria meu conselho
para esta pessoa? Como eu sugeriria que a pessoa compreendesse a
situação?

 Se meu pensamento automático fosse verdadeiro, qual seria a


pior consequência? Se meu pensamento automático não fosse verdadeiro, qual
seria a melhor consequência? Se meu pensamento automático fosse
verdadeiro, qual será a consequência mais realista? Posso lidar com essas
consequências?

 Alguém em quem confio poderia pensar de outro modo para


compreender esta situação?

 As outras pessoas consideram esta experiência como sendo tão


séria quanto eu considero?

 Algumas pessoas consideram-na menos séria? Por quê?

 Quão séria ou grave eu consideraria a experiência se meu melhor


amigo fosse o responsável e não eu?

 Quão importante esta experiência parecerá daqui a um mês? Um


ano? Cinco anos?

 Quão séria eu consideraria a experiência se alguém fizesse isso


para mim?

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77
 Eu sabia de antemão o significado ou as consequências de
minhas ações (ou pensamentos)? Com base no que eu sabia e passava na
época, os meus julgamentos atuais são pertinentes?

 Pode qualquer dano que ocorreu ser corrigido? Quanto tempo


isso vai levar?

 Houve uma ação até mesmo pior que eu tenha considerado e


evitado?

FONTE: Greenberger (1999).

3.6 Teoria Focada em Esquemas de Young

Abordaremos aqui algumas teorias do desenvolvimento cognitivo, para que


possamos entender como se dá a formação dos esquemas e crenças discutidos por
Young.
De acordo com Papalia (2000) a maioria dos pesquisadores do
desenvolvimento cognitivo usa umas das quatro abordagens para estudos de
questões referentes ao desenvolvimento cognitivo:

 Abordagem Behaviorista: Que já detalhamos anteriormente estuda a


mecânica básica da aprendizagem, preocupando-se em como o comportamento
muda em resposta à experiência;
 Abordagem Piagetiana: Observa as mudanças na qualidade do
funcionamento cognitivo, ou o que a pessoa é capaz de fazer, onde faz relação com
a evolução das estruturas mentais e como as crianças se adaptam ao seu ambiente,
sustentando que a cognição se desenvolve em etapas;
 Abordagem Psicométrica: Tenta medir as diferenças individuais em
termos de quantidade de inteligência;

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78
 Abordagem do Processamento de Informação: Concentra-se nas
diferenças individuais quanto ao modo no qual as pessoas usam sua inteligência,
focando os processos envolvidos na percepção e no manuseio de informação.

Como podemos perceber cada abordagem tem sua importância e todas nos
ajudam a compreender o comportamento inteligente. Nesse tópico focaremos nosso
estudo em Piaget e Bartlett, pois segundo Beck & Freeman (1993), o conceito de
esquemas tem uma história relativamente ligada a estes dois teóricos, que foram os
primeiros a definir o que seria um esquema descrevendo-o como estruturas que
integram e atribuem significados aos eventos, em seguida trabalharemos como se
dá o processamento de informações.
Segundo Mussen (2001) Piaget acreditava que o desenvolvimento do
conhecimento é um processo ativo dependente da interação entre a criança e o
ambiente. A criança não possui um conjunto predefinido de habilidades mentais e
nem é um recipiente passivo de estímulos do ambiente. A partir da infância, o
movimento cada vez mais dá lugar ao pensamento e o aprendizado continua a ser
um processo interativo.
Papalia (2000), cita que Piaget acreditava que o núcleo do comportamento
inteligente estaria numa capacidade inata de adaptar-se ao ambiente, pois é a partir
daí que ele descreve o desenvolvimento cognitivo como uma série de estágios, em
cada estágio a criança desenvolve uma nova maneira de pensar e responder ao
ambiente, onde esse desenvolvimento ocorreria por meio de três princípios que
estão inter-relacionados: organização, adaptação e equilibração.
A organização cognitiva é a tendência de criar sistemas de conhecimento
cada vez mais complexos. Desde que nascem as pessoas organizam o que
conhecem por meio de representações mentais da realidade que as ajudam a dar
sentido a seu mundo. Dentro dessas representações mentais encontram-se as
estruturas chamadas esquemas, que podem ser conceituados como padrões
organizados de comportamento que uma pessoa usa para pensar e agir em uma
situação.
À medida que as crianças adquirem mais informação, seus esquemas
tornam-se cada vez mais complexos, progredindo as maneiras de realizar ações

AN02FREV001/ REV 3.0

79
motoras até o pensamento crítico sobre percepções sensoriais, e depois até o
pensamento abstrato.
A adaptação é o modo como lidamos com as novas informações, onde vai
envolver a assimilação que seria tomar uma informação e incorporá-la em estruturas
cognitivas existentes e acomodação que seria mudar nossas ideias para incluir um
novo conhecimento.
Já a equilibração é uma busca constante de equilibrio, entre a criança e o
mundo exterior e entre as próprias estruturas cognitivas da criança.
Papalia (2000) afirma que segundo Piaget os esquemas têm origem no
exercício dos reflexos, ou seja, o recém-nascido, ao exercitar seus reflexos
hereditários começa a relacionar o contexto no qual o reflexo é aplicado com a
situação alcançada por ele, dando origem aos esquemas.
Essas informações nos mostram que o esquema piagetiano é uma estrutura
cognitiva dinâmica que se modifica ao longo do tempo, agregando conhecimento. É
por meio de suas interações, das experiências que a criança vivencia, que ela
constrói ativamente os seus conhecimentos. A ação da criança sobre os objetos é
que possibilita a formação da inteligência, em que a estrutura lógica é formada pelo
desenvolvimento cognitivo, e neste sentido, a socialização, a linguagem, a
curiosidade é expressão do desenvolvimento cognitivo.
Não esquecendo de citar Bartlett, Atkinson (2002) afirma que talvez ele
tenha sido o primeiro psicólogo a estudar sistematicamente os efeitos dos esquemas
sobre a memória. Ele sugeriu que distorções de memórias muito semelhantes
àquelas que ocorrem quando encaixamos pessoas em estereótipos podem ocorrer
quando tentamos encaixar narrativas em esquemas. O que Bartlett concluiu na sua
pesquisa sobre os esquemas é que os dois aspectos da memória: preservar e
construir, podem sempre estar presentes, embora sua ênfase relativa possa
depender da situação exata.
Fica bem claro como Piaget e Bartlett querem definir um esquema: Uma
representação mental de uma classe de pessoas, objetos, eventos e situações.
Como sabemos, o desenvolvimento intelectual é um processo que começa
desde o nascimento da criança (e, possivelmente, antes). Papalia (2000) nos
confirma isso quando diz que um bebê ao nascer apresenta comportamentos
simples e também alguns reflexos. Ele necessita de toda a atenção e cuidados do

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80
adulto, sozinho ele não sobreviveria, pois o período que vai do nascimento à
aquisição da linguagem é marcado por um extraordinário e complexo
desenvolvimento da mente. A criança progressivamente aumenta o autocontrole do
seu próprio corpo e sentimentos. Assim, ela conseguirá pouco a pouco lidar com as
demandas da vida.
A partir dessas concepções básicas citadas anteriormente, percebemos o
quanto Piaget contribuiu para a descoberta dos processos de pensamentos e dos
mecanismos de aprendizagem e como ele chegou à definição do que seria um
esquema.
Para entendermos de forma clara o que seriam realmente os esquemas de
Young já fizemos uma breve revisão sobre a Terapia Cognitiva anteriormente, que é
o ponto chave para entendermos a definição de esquemas.
Para o entendimento da evolução e desmistificação de como são esses
esquemas, como se dividem, não podemos deixar de ressaltar a Teoria dos
Esquemas, Young (2003), que conceitua esquema como uma estrutura cognitiva
que filtra, codifica e avalia os estímulos ao qual o organismo é submetido.
Young é responsável por uma abordagem chamada “Terapia focada nos
Esquemas” que se baseou na Terapia Cognitiva de curto prazo, terapia esta que se
refere à abordagem de terapia Cognitiva de 16 a 20 sessões, originalmente
desenvolvida por Beck e colegas para tratamento da depressão. E Young usou a
teoria dos esquemas para tratar pessoas com transtorno de personalidade.
De acordo com Young (2003), existem algumas suposições importantes
sobre os pacientes a respeito da Terapia Cognitiva de Curto Prazo, que seria a
Terapia Cognitiva criada por Beck.
 Os pacientes têm acesso aos sentimentos com um breve treinamento,
ou seja, com um treinamento relativamente breve, podemos ensinar o paciente a
perceber quando estiver sentindo-se ansioso, triste, zangado, culpado ou com
alguma outra emoção. Mais existem pacientes que estão bloqueados e não entram
em contato com seus sentimentos, assim para estes pacientes tem se que modificar
a abordagem da terapia cognitiva;

 Os pacientes têm acesso a pensamento e imagens com um breve


treinamento, mas como toda regra tem suas exceções, os pacientes com transtornos

AN02FREV001/ REV 3.0

81
de personalidade precisam de estratégias diferentes, pois eles não conseguem
chegar aos seus pensamentos automáticos ou mesmo afirmam não ter nenhuma
imagem;

 Esse tipo de terapia defende que os pacientes têm problemas


identificáveis a serem focalizados, caso alguns tenham problemas vagos ou difíceis
de definir, deve-se também modificar a terapia cognitiva para trabalhar com esses
pacientes que vem ao consultório sem ter nada específico como problema;

 Uma das técnicas utilizadas nessa terapia são tarefas de casa e


também uso de estratégias de autocontrole, mas alguns pacientes resistem a isso,
mostrando que estão muito mais motivados a depender do terapeuta e a obter apoio
do que aprender estratégias, para ajudarem a si mesmos;

 Deve haver um relacionamento colaborativo entre paciente e terapeuta,


mas existem casos também em que é muito difícil engajar pacientes num
relacionamento colaborativo, podendo isso atrapalhar a terapia;

 Só que o relacionamento terapêutico não é o foco maior do problema,


mas em pacientes com transtornos de personalidade, que possuem sérias
dificuldades de relacionamento interpessoal, seria muito importante focalizar esse
problema de relacionamento, embora a terapia cognitiva tenha poucos estudos de
como trabalhar em profundidade o relacionamento terapêutico;

 Todas as cognições e todos os padrões de comportamento podem ser


modificados por análise empírica, discurso lógico, experimentação, passos graduais
e prática.

AN02FREV001/ REV 3.0

82
Disponível em: <http://www.psicronos.pt/imagens/destaques/terapia_cognitva.gif>. Acesso em:
24/09/2010.

Young (2003) propõem alguns constructos para tratamento de pacientes


com transtorno de personalidade, que seriam muito difíceis de tratar por meio do
modelo cognitivo, ele propõe uma expansão do modelo cognitivo proposto por Beck.
Seriam eles:

 Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIAs);


 Domínio de um esquema;
 Processos de um Esquema:
o Manutenção de um esquema;
o Evitação dos esquemas;
o Compensação dos esquemas.

Agora conceituaremos cada um, para que a Teoria dos Esquemas de Young
fique mais clara.

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83
 Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIAs): Young (2003) diz que
esses esquemas se referem a temas extremamente estáveis e duradouros que se
desenvolvem durante a infância, são elaborados ao longo da vida e são
disfuncionais em um grau significativo. A grande maioria desses esquemas são
crenças e sentimentos incondicionais sobre si mesmo em relação ao ambiente,
sendo autoperpetuadores e, portanto muito resistentes à mudança, eles podem levar
a um sofrimento psicológico, seja direta ou indiretamente, sua ativação é feita por
meio de acontecimentos ambientais relevantes para um esquema específico, sendo
mais ligados a altos níveis de afeto quando ativados do que a suposições
subjacentes. Eles parecem ser resultado de um temperamento inato da criança
interagindo com experiências disfuncionais com os pais, irmãos e conhecidos
durante os primeiros anos de vida, ou seja, sua maioria não são resultados de
acontecimentos traumáticos isolados, sua maioria é causada por padrões
continuados de experiências nocivas cotidianas com outras pessoas que reforçam
de alguma maneira o esquema.

 Domínio de um esquema: Segundo Young (2003) são cinco


necessidades desenvolvimentais primárias que a criança precisa negociar para se
desenvolver de maneira sadia. Podemos dizer que questões como temperamento
inato e a biologia desempenham um papel no desenvolvimento de alguns desses
esquemas. Assim esses dois fatores associados ou combinados com os estilos
parentais e as influências sociais às quais a criança está exposta é que desenvolve
as tarefas (conexão e aceitação, autonomia e desempenho, limites realistas, auto-
orientação e autoexpressão, espontaneidade e prazer) relacionadas aos esquemas
que citamos acima, ou seja, quando os pais e o ambiente social são ótimos, as
crianças se desenvolvem de maneira sadia em todas as cinco áreas, caso esse
ambiente não seja bom, a criança pode desenvolver Esquemas Iniciais
Desadaptativos em um ou mais dos domínios de esquemas, onde estes persistem
por toda a vida e tornam-se princípios organizadores do funcionamento cognitivo,
emocional, interpessoal e comportamental do paciente. Caso ela não consiga, ela
terá dificuldades para funcionar nos seguintes domínios de esquemas:

o Desconexão e rejeição;

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84
o Autonomia e desempenhos prejudicados;
o Limites prejudicados;
o Orientação para o outro;
o Supervigilância e inibição.
Os esquemas que fazem parte desses domínios serão citados
detalhadamente no decorrer deste capítulo.

Agora falaremos de Processos de um Esquema:


o Manutenção de um esquema;
o Evitação dos esquemas;
o Compensação dos esquemas.

 Manutenção de um esquema: Refere-se a processos pelos quais os


esquemas iniciais adaptativos (EIAs) são reforçados. Essa manutenção, de acordo
com Young (2003), acontece salientando-se ou exagerando-se informações que
confirmam os esquemas e negando ou minimizando informação que contradizem o
esquema. Muitos desses processos de manutenção dos esquemas são descritos por
Beck como distorções cognitivas. O terapeuta geralmente encontra uma enorme
resistência quando começa a contestar esses esquemas, pois o paciente tem
certeza que eles são verdadeiros. Nesses processos incluem distorções cognitivas
explicadas a nível cognitivo e padrões de comportamento autoderrotistas, explicada
a nível comportamental, que são os principais mecanismos de manutenção de
esquemas e juntos servem para perpetuá-los, tornando-os cada vez mais inflexíveis.

 Evitação dos esquemas: São três os tipos mais importantes de


evitação dos esquemas – cognitivo, afetivo e comportamental – eles permitem que o
paciente escape da dor associada ao seu EID.
 Compensação dos esquemas: Refere-se a processos que
supercompensam os EIA.
Vale ressaltar que em Young (2003), foram citados 18 Esquemas Iniciais
Desadaptativos, estando agrupados nos cinco domínios de esquemas abaixo:

 Desconexão e rejeição:

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85
Expectativa de que as necessidades de segurança, estabilidade, carinho,
empatia, compartilhamento de sentimentos, aceitação e respeito não serão
atendidos, previsivelmente. A família de origem é tipicamente desligada, rejeitadora,
refreada, solitária, explosiva, imprevisível ou abusiva.
Esquemas associados:

o Abandono/instabilidade;
o Desconfiança/abuso;
o Privação emocional;
o Defectividade/vergonha;
o Isolamento social/alienação.

 Autonomia e desempenhos relacionados:


Expectativa sobre si mesma e o ambiente que interferem na capacidade
percebida de separar-se, sobreviver, funcionar independentemente ou ter um bom
desempenho. A família de origem é tipicamente emaranhada, abala a confiança da
criança em si mesma, é superprotetora ou não consegue reforçar a criança para ter
um desempenho competente fora da família. Esquemas relacionados:

o Dependência/incompetência;
o Vulnerabilidade/incompetência;
o Emaranhamento/self subdesenvolvido;
o Fracasso.

 Limites prejudicados:
Deficiência em limites internos, responsabilidade com os outros ou
orientação para objetivos em longo prazo. A família de origem é tipicamente
caracterizada pela permissividade, excesso de indulgência, falta de direção ou
senso de superioridade em vez de confrontação, disciplina e limites apropriados em
relação a assumir responsabilidades, cooperar de maneira recíproca e estabelecer
metas.
Esquemas relacionados:

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86
o Merecimento/grandiosidade;
o Autocontrole/autodisciplina insuficientes;

 Orientação para o outro:


Um foco excessivo nos desejos, sentimentos e respostas dos outros, à custa
das próprias necessidades a fim de obter amor e aprovação, manter o sentimento de
conexão ou evitar retaliação. A família de origem é tipicamente baseada na
aceitação condicional, em que as crianças precisam suprimir aspectos importantes
de si mesmas a fim de obter amor, atenção e aprovação.
Esquemas relacionados:

o Subjugação;
o Autossacrifício;
o Busca de aprovação/busca de reconhecimento;

 Supervigilância e inibição:
Nesse esquema há uma ênfase excessiva na supressão dos sentimentos,
dos impulsos e das escolhas pessoais espontâneas ou na criação de regras e
expectativas internalizadas rígidas sobre desempenho e comportamento ético à
custa da felicidade, autossupressão, relaxamento íntimos ou saúde. A família de
origem é tipicamente severa, exigente e, às vezes, punitiva. Esquemas relacionados:

o Negativismo/pessimismo;
o Inibição emocional;
o Padrões inflexíveis/crítica exagerada;
o Caráter punitivo.

Na teoria da terapia cognitiva, a natureza e a função do processamento de


informação, formação de esquemas (atribuição de significados), constituem a chave
para entender o comportamento mal-adaptativo e os processos terapêuticos
adaptativos.

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87
Embora os significados sejam construídos pelas pessoas em vez de serem
componentes preexistentes da realidade, eles são corretos ou incorretos em relação
a um determinado contexto ou objetivo. Então, quando ocorre a distorção cognitiva,
os significados são disfuncionais ou mal-adaptativos, essas distorções incluem erros
no conteúdo cognitivo (significados), no processamento cognitivo (elaboração de
significados) ou ambos.
“Os esquemas evoluem para facilitar a adaptação da pessoa ao ambiente e
são neste sentido estruturas teleonômicas”. (BECK, 2000, p.25). Portanto, eles são
essencialmente estruturas de significado consciente e inconsciente, em que servem
à função de sobrevivência.
Neste sentido, percebe-se que um estado psicológico não é nem adaptativo
nem mal-adaptativo em si, mas encontram-se em relação ao contexto do ambiente
social e físico mais amplo no qual a pessoa está inserida. O significado que uma
pessoa atribui a uma situação, ou a forma como um evento é estruturado, construído
por uma pessoa é que determina como aquela pessoa se sentirá e se comportará.
Beck (2003) simplifica isso quando diz que as crenças que temos sobre nós
mesmos, sobre o mundo e sobre o futuro determinam o modo como nos sentimos: o
que e como as pessoas pensam afeta profundamente o seu bem-estar emocional. E
é desse princípio que vem a ideia de que, examinando nossas crenças e, se
apropriando, modificando-as, afetamos diretamente o nosso bem-estar emocional.
Podemos entender isso melhor quando percebemos como se dá a formação
de um esquema: Nossas respostas emocionais e comportamentais, bem como
nossa motivação, não são influenciadas diretamente por situações, mas sim pela
forma como processamos essas situações, em outras palavras, pelas interpretações
que fazemos dessas situações, por nossa representação dessas situações, ou pelo
significado que atribuímos a elas. As nossas interpretações, representações ou
atribuições de significado, por sua vez, refletem-se no conteúdo de nossos
pensamentos automáticos, contidos em vários fluxos paralelos de processamento
cognitivo que ocorrem em nível pré-consciente.
O conteúdo de nossos pensamentos automáticos, pré-conscientes, reflete a
ativação de estruturas básicas inconscientes, os esquemas e crenças, e o
significado atribuído pelo sujeito ao real.

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Nossas interpretações, representações, ou atribuições de significado atuam
como variável mediacional entre o real e as nossas respostas emocionais e
comportamentais. Daí decorre que, para modificar emoções e comportamentos,
intervimos sobre a forma do indivíduo processar informações, ou seja, interpretar,
representar ou atribuir significado a eventos, em uma tentativa de promover
mudanças em seu sistema de esquemas e crenças.
Como já foi dito as crenças estão contidas dentro dos esquemas, ou seja,
“as crenças são um registro da história de cada entidade, da confiança que temos
em obter as coisas que desejamos ou em ter sucesso em nossas empreitadas.” (LE
BON, 2001, p.58).
Por intermédio da história de vida do sujeito e com base em experiências
relevantes desde a infância, desenvolvemos um sistema de esquemas, que estão
cheios de crenças, localizado em nível inconsciente ou, utilizando conceitos da
Psicologia Cognitiva, em nossa memória implícita.
Esquemas, nesse sentido, podem ser definidos como superestruturas
cognitivas, que refletem regularidades passadas, conforme percebidas pelo sujeito.
Ao processarmos eventos, os esquemas implicitamente organizam os elementos da
percepção sensorial, ao mesmo tempo em que são atualizados por eles, em uma
relação circular. Os esquemas ainda dirigem o foco de nossa atenção.
Como já foi explicitado, incorporadas aos esquemas, são desenvolvidos
crenças básicas e pressuposições intermediárias específicas para diferentes classes
de eventos, as quais são ativadas em vista de eventos críticos eliciadores. A
ativação dessas crenças reflete-se em nosso pré-consciente, nos conteúdos dos
pensamentos automáticos, que representam nossa interpretação do evento, ou o
significado atribuído a ele. Estes, por sua vez, influenciam a qualidade e intensidade
de nossa emoção e a forma de nosso comportamento, frente a essa determinada
situação.
Sintetizando como essas crenças atuam podemos dizer, que elas se
desenvolvem na infância à medida que a criança interage com outras pessoas
significativas e encontra uma série de situações que confirmem essa ideia, e essas
crenças centrais negativas podem vir à tona apenas durante momentos de aflição
psicológica.

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Segundo Beck (1997), quando uma crença central é ativada o sujeito é
facilmente capaz de processar informações que a apoiam, mas ele frequentemente
falha em reconhecer e distorce as informações que são contrárias a crença central.
Chegamos até aqui com o propósito de mostrar que a construção de
significados é muito importante e que esses significados interferem na nossa vida,
pois essas crenças que adquirimos se tornam verdades absolutas e são apenas
ideias que podem ser modificadas.
É de extrema importância a interpretação que o próprio paciente tem sobre
sua experiência, sobre seu mundo e sobre si mesmo. Não se trata mais de descobrir
os significados ocultos, mas de conhecer os processos de sua construção.
E como diz Silva (2003), um sistema de crenças e valores é capaz de
conferir continuidade e coerência as nossas vidas, em razão de nos ajudar a tomar
decisões e a avaliar a importância das experiências pessoais. Temos a tendência de
aceitar melhor aquilo que está de acordo com nossas crenças e, ao aceitar, nós o
validamos como verdadeiro.

3.7 Diferença entre Cognitivismo e o Construtivismo

Algumas concepções alicerçam a teoria e a prática dos diferentes modelos


cognitivos, temos o cognitivismo tradicional (cognitivismo-objetivo) e o cognitivismo
construtivista (construtivista).
De acordo com Nabuco (2003) nos cognitivistas o conceito de realidade e de
construção de significados pode ser entendido, como fruto direto das representações
extraídas da realidade externa, ou seja, no desenvolvimento da nossa cognição,
exibimos uma inclinação natural para revelar internamente os significados da
existência concreta externa. Os conceitos já estão existentes no mundo exterior.
Evidencia-se a busca contínua daquilo que objetivamente existe no mundo. Ao nos
defrontarmos com o mundo, abstrairemos os conceitos possíveis, e nosso
pensamento, em sua atividade, buscará tais eventos.
Segundo Beck (1964), não é a situação e o contexto que determina o que as
pessoas sentem, mas sim o modo como elas interpretam os fatos. Então se percebe
que conhecimento é uma representação imediata do mundo exterior, dessa realidade
que é única.

AN02FREV001/ REV 3.0

90
Já para o construtivismo, os conceitos de realidade e construção de
significados encontram-se subordinados à influência das emoções, é por meio dos
elementos proprioceptivos e das estruturas vivenciais (aquelas que interpretam os
estímulos pela experiência) que ocorrerão esses processos. Assim a realidade interna
será vista como derivada do modo pelo qual cada indivíduo sente emocionalmente o
mundo, mediante percepções corpóreas e tácitas produzidas pelo seu aparecimento.
Percebe-se que aqui, primeiro sente algo para depois pensar no seu
conteúdo, a emoção sempre criará problemas para o pensamento resolver.
No quesito emoção, os cognitivistas afirmam que as emoções são derivadas
dos padrões de pensamento, pautadas nas crenças, direcionando a maneira como as
pessoas interpretam a situação.
Para o construtivismo, as emoções não são nem racionais, nem irracionais,
mas sim adaptativas por natureza. Não são as emoções que nos afligem, mas a
dificuldade de entendê-la. Somos aquilo que sentimos que somos.
A psicopatologia afirma, cognitivamente, que algumas doenças surgem de
pensamentos negativos automáticos e quanto mais desenvolverem os sintomas, mais
intensos se tornaram os PNA, maior será a validade da crença central disfuncional e
mantendo o circulo vicioso em atividade. As crenças disfuncionais deslocam as
estruturas mais adaptativas, compostas por crenças mais razoáveis e adaptativas,
prevalecendo nos atos finais de significação.
Nabuco (2003) diz que o construtivismo, as disfunções e os distúrbios
emocionais surgem quando as pessoas não se sentem autorizadas a reconhecer,
sentir ou até mesmo legitimar determinadas emoções. Aqui os padrões
desadaptativos ou dolorosos da experiência emocional refletem as tentativas
individuais de adaptação e desenvolvimento.
No tratamento, o cognitivismo foca a eliminação, o controle ou a substituição
dos padrões negativos do pensamento. Propõe-se a identificação, seguida da
alteração dos padrões irracionais por padrões mais lógicos e realistas.
Para o construtivismo a ênfase está na experiência e na expressão
apropriada das emoções, assim como na exploração do seu desenvolvimento.

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91
FIM!

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92
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação

CURSO DE
PSICOLOGIA CLÍNICA.

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

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1
CURSO DE
PSICOLOGIA CLÍNICA.

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Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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1. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

http://www.crpsp.org.br/a_acerv/jornal_crp/146/frames/orientacao.gif

Muitas pessoas confundem a aplicação de testes com avaliação psicológica.


A avaliação psicológica pode envolver técnicas de dinâmica de grupo, entrevistas,
questionários, levantamento do histórico de vida e tudo o mais que tenha como
objetivo avaliar - no sentido de analisar, compreender, esclarecer - a dinâmica dos
processos psicológicos representativos de um indivíduo. Sendo, portanto, muito
mais complexa que a simples aplicação de testes psicológicos.

A depender dos objetivos da avaliação, que pode ser diagnóstica, de


emprego, demissional, ela pode durar várias sessões. Um grande engano cometido
por quem necessita de uma avaliação é que imagina que ela pode ser realizada em
quinze minutos, por exemplo. Puro engano. Para se chegar a um diagnóstico mais
preciso, o psicólogo necessita realizar um levantamento minucioso.

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A avaliação psicológica deve ser utilizada em todo e qualquer setor da
sociedade em que se necessite conhecer melhor o funcionamento da psique
humana, visando orientar ou tomar certas decisões relativas à pessoa em questão.
(Pellini, 2000).

Encontram-se referências precisas de que desde o século XIX já se


realizava avaliação psicológica em vários países e no Brasil, obviamente de forma
diferente dos modelos conhecidos atualmente.

No Brasil, a Avaliação Psicológica começou a ser praticada mais


sistematicamente nas décadas de 50 e 60, porém, já na década de 20 foram
realizados trabalhos acadêmicos e criados institutos para a realização de processos
de seleção de pessoal nos setores públicos e privados, destacando-se as empresas
do segmento de transporte coletivo.

Com a regulamentação da Psicologia na década de 60, houve um aumento


significativo de profissionais e de empresas interessadas em investir na área de
recrutamento e seleção, passando a compor setores e a contratar psicólogos que
realizassem avaliação psicológica em candidatos, tendo o intuito de aumentar as
probabilidades de “acerto”, isto é, de selecionarem “a pessoa certa para o lugar
certo”.

As décadas de 80 e 90 foram promissoras para a área. Entretanto, se por


um lado havia a utilização maciça de testes psicológicos nas avaliações para
seleção de pessoal, por outro, não se encontravam instrumentos adaptados ou
criados especificamente para esse fim.

Visualiza-se, atualmente, um panorama no qual houve uma redução


significativa da utilização dos testes psicológicos devido às rigorosas exigências de
qualidade dos instrumentos, trazendo maior segurança ao profissional que se
embasa em seus resultados para tomar decisões estratégicas e, não raramente, de
maneira decisiva no direcionamento da vida das pessoas.

Tanto no setor da Psicologia Clínica quanto no da Psicologia Organizacional,


onde se pode fazer uso da Avaliação Psicológica, contar com os resultados obtidos

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a partir de testes é de grande importância, pois traz ao avaliador dados não
facilmente perceptíveis de outro modo a respeito do candidato, além de poder
confirmar aspectos percebidos durante a entrevista e dinâmica de grupo, se for o
caso. Praticada de modos diferentes de acordo com cada objetivo, a ferramenta
contribui de forma decisiva para o diagnóstico do candidato ou paciente.

A avaliação psicológica não se reduz à aplicação de testes. Além de testes,


a avaliação compreende técnicas de dinâmica de grupo, entrevistas, observação de
comportamento e uma anamnese bem-feita, ou seja, investigação da vida social,
familiar, física e emocional do paciente, com análise criteriosa do histórico de vida.

Na prática

http://www.unipar.br:8080/unipar/vestibular2007/curso/fotos/psicologia_01.jpg

De maneira geral, uma avaliação psicológica se constitui por uma entrevista


individual, às vezes substituída ou acrescida de uma dinâmica de grupo, e um teste
para avaliação da personalidade. Outros testes, de habilidades ou aptidões
específicas, são acrescentados ao conjunto de técnicas de avaliação, conforme o
objetivo e a área de atuação do profissional.

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5
O objetivo maior é o de diagnosticar cada pessoa, conhecer suas
competências individuais e, para isso, o teste psicológico ainda é o melhor
instrumento de que se dispõe, embora jamais único no processo, pois além de
resultar em dados confiáveis, já que suas características psicométricas são
comprovadas cientificamente. Ele permite que o psicólogo tenha uma visão total da
pessoa, que consiga definir quais são as suas competências ou características mais
vantajosas e quais aquelas em que precisaria investir um pouco mais.

Num processo de seleção, por exemplo, tais informações permitem ao


psicólogo indicar com maior segurança pessoas para cargos específicos e orientar
as lideranças sobre como lidar com seus colaboradores e no que efetivamente
investir para obter maior desenvolvimento e melhores resultados.

Da mesma forma, em treinamento e desenvolvimento, uma Avaliação


Psicológica traz subsídios suficientes para que um programa seja encaminhado
considerando as especificidades individuais e grupais, podendo até com isso gerar
um redirecionamento das estratégias adotadas.

Até pouco tempo, algumas empresas procuravam premiar colaboradores


tecnicamente bons com uma promoção para cargos de chefia, sem outro critério
senão a satisfação com o desempenho desse funcionário, ou seja, sem uma
avaliação que pudesse assegurar que essa pessoa tivesse características
condizentes com posições de liderança, além de sua competência técnica.

O resultado final geralmente era desastroso para o colaborador e para a


empresa. Por não ser um líder e necessitar desenvolver as competências de
liderança, não se saía bem na nova função. Como nem sempre é possível a pessoa
retornar ao cargo anterior, a empresa contava com duas opções: mantê-lo no cargo
e arcar com conseqüências indesejáveis ou então demiti-lo. Prejuízo para ambos.

Para um planejamento de carreira, a realização de uma Avaliação


Psicológica também se torna decisiva, visto que norteará todo o programa a ser
desenvolvido com o profissional, especificando as características psicológicas a
serem desenvolvidas para que ele possa futuramente ascender numa hierarquia
com sucesso.

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No momento atual, o foco das empresas, seja qual for o seu negócio, é cada
vez mais seus recursos humanos e sabe-se que o sucesso da empresa deve-se ao
conhecimento e ao investimento em pessoas. A Avaliação Psicológica, científica e
ética, apoiada em instrumentos e testes fidedignos, contribui essencialmente para
essa finalidade.

Em se tratando da Psicologia Clínica, a avaliação psicológica é usada para


fins diagnósticos, ou seja, para avaliar a saúde emocional do paciente e verificar se
ele é portador de algum transtorno. Vale ressaltar que nem sempre a queixa inicial é
a responsável pelo sofrimento psíquico de uma pessoa, mas a constatação disso só
se verifica depois de uma avaliação psicológica.

Entrevista Psicológica

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http://kaizenrh.com.br/fotos/kaizen05.jpg

Existem vários tipos de entrevistas e são vários os profissionais que dela se


utilizam. Com os psicólogos não é diferente. Ele se utiliza deste instrumento para
elaborar diagnósticos, durante avaliações e em prognóstico, ou seja, quando,
durante uma entrevista devolutiva, por exemplo, mostra as probabilidades futuras de
um quadro psicológico atual.

É bem verdade que a entrevista psicológica sofreu algumas modificações no


início do século XIX, quando predominava o modelo médico. Naquela época,
Kraepelin usava a entrevista com o objetivo de detalhar o comportamento do
paciente, e, assim, poder identificar as síndromes e as doenças específicas que as
classificavam segundo a nosografia vigente. (SILVA, 2007).

Enquanto isso, Meyer, psiquiatra americano, se interessava pelo enfoque


psicobiológico (aspectos biológicos, históricos, psicológicos e sociais) do
entrevistado. A partir de Hartman e Anna Freud o interesse da entrevista se
deslocou para as defesas do paciente. Isto é, a psicanálise teve sua influência na
investigação dos processos psicológicos, sem enfatizar o aspecto diagnóstico, antes
valorizado.

Nos anos cinqüenta, Deutsch e Murphy apresentaram sua técnica


denominada Análise Associativa que considerava importante registrar não somente

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o que o paciente dizia, mas, também, em fornecer informações sobre o mesmo.
Desse modo, desviou-se o foco sobre o comportamento psicopatológico para o
comportamento dinâmico. Ainda nesta década, Sullivan concebeu a entrevista como
um fenômeno sociológico, uma díade de interferência mútua.

Após este período, a entrevista e o Aconselhamento Psicológicos se


deixaram influenciar, entre outros, por Carl Rogers, cuja abordagem consiste em
centrar no paciente. Ou seja, em procurar compreender, de acordo com o seu
referencial, significados e componentes emocionais, tendo como base a sua
aceitação incondicional por parte do entrevistador.

DEFINIÇÃO DE ENTREVISTA PSICOLÓGICA

http://www.institutouniao.com.br/imagens

A entrevista psicológica é um processo bidirecional de interação, entre duas


ou mais pessoas com o propósito previamente fixado no qual uma delas, o
entrevistador, procura saber o que acontece com a outra, o entrevistado, procurando
agir conforme esse conhecimento (WIENS apud NUNES, In: CUNHA, 1993).

Enquanto técnica, a entrevista tem seus próprios procedimentos empíricos

AN02FREV001/REV 4.0

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através dos quais não somente se amplia e se verifica, mas, também,
simultaneamente, absorve os conhecimentos científicos disponíveis. Nesse sentido,
Bleger (1960) define a entrevista psicológica como sendo “um campo de trabalho no
qual se investiga a conduta e a personalidade de seres humanos”.

Outra definição caracteriza a entrevista psicológica como sendo “uma forma


especial de conversão, um método sistemático para entrar na vida do outro, na sua
intimidade” (RIBEIRO, 1988, p.154). Enfim, Gil (1999) compreende a entrevista
como uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes, busca coletar
dados e a outra se apresenta como fonte de informação (p.117).

A entrevista psicológica pode ser também um processo grupal, isto é, com


um ou mais entrevistadores e/ou entrevistados. No entanto, esse instrumento é
sempre em função da sua dinâmica, um fenômeno de grupo, mesmo que seja com a
participação de um entrevistado e de um entrevistador. (SILVA, 2007).

OS OBJETIVOS DA ENTREVISTA

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http://www.ufmg.br/diversa/7/imagens/Psicologia2saladeaula-FLisboa.jpg

Com base nos critérios que objetivaram a entrevista em saúde mental, pode-
se classificar a entrevista quanto aos seguintes objetivos:

a) Diagnóstica – Visa estabelecer o diagnóstico e o prognóstico do


paciente, bem como as indicações terapêuticas adequadas. Assim, faz-se
necessário uma coleta de dados sobre a história do paciente e sua motivação para o
tratamento. Quase sempre, a entrevista diagnóstica é parte de um processo mais
amplo de avaliação clínica que inclui testagem psicológica;

b) Psicoterápica – Procura colocar em prática estratégia de intervenção


psicológica nas diversas abordagens - rogeriana (C. Rogers), jungiana (C. Jung),
gestalt (F. Perls), bioenergética (A. Lowen), logoterapia (V. Frankl) e outras -, para
acompanhar o paciente, esclarecer suas dificuldades, tentando ajudá-lo a solucionar
seus problemas;

c) De Encaminhamento – Logo no início da entrevista, deve ficar claro para


o entrevistado, que a mesma tem como objetivo indicar seu tratamento, e que este
não será conduzido pelo entrevistador. Devem-se obter informações suficientes para
se fazer uma indicação e, ao mesmo tempo evitar que o entrevistado desenvolva um
vínculo forte, uma vez que pode dificultar o processo de encaminhar;

d) De Seleção – O entrevistador deve ter um conhecimento prévio do

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currículo do entrevistado, do perfil do cargo, deve fazer uma sondagem sobre as
informações que o candidato tem a respeito da empresa, e destacar os aspectos
mais significativos do examinando em relação à vaga pleiteada, etc.;

e) De Desligamento – Identifica os benefícios do tratamento por ocasião da


alta do paciente, examina junto com ele os planos da pós-alta ou a necessidade de
trabalhar algum problema ainda pendente. Essa entrevista também é utilizada com o
funcionário que está deixando a empresa, e tem como o objetivo obter um feedback
sobre o ambiente de trabalho, para providências, intervenções do psicólogo em
caso, por exemplo, de alta rotatividade de demissão num determinado setor;

f) De Pesquisa – Investiga temas em áreas das mais diversas ciências,


somente se realiza a partir da assinatura do entrevistado ou paciente, do
documento: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Resolução CNS no
196/96), no qual estará explícita a garantia ao sigilo das suas informações e
identificação, e liberdade de continuar ou não no processo.

A SEQUÊNCIA TEMPORAL DAS ENTREVISTAS DIAGNÓSTICAS

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http://www.corporal.com.br/segura/imagens_arquivos/quadrodefiguras.jpg

Essa seqüência pode ser subdividida em: entrevista inicial; entrevistas


subseqüentes e entrevista de devolução, caracterizadas de forma diferente, e
mostrando objetivos distintos conforme o momento em que elas ocorram (GOLDER,
2000).

a) Entrevista Inicial

É a primeira entrevista de um processo de psicodiagnóstico. Semidirigida,


durante a qual o sujeito fica livre para expor seus problemas. Segundo Fiorini (1987),
o empenho do terapeuta nessa primeira entrevista pode ter uma influência decisiva
na continuidade ou no abandono do tratamento (p.63). Pinheiro (2004) salienta que
a mesma ocorre num certo contexto de relação constantemente negociada. O termo
negociação se refere ao posicionamento definido como “um processo discursivo,
através do qual [...] são situados numa conversação como participantes observáveis,
subjetivamente coerentes em linhas de histórias conjuntamente produzidas”(DAVIES
& HARRÉ apud PINHEIRO, 2004, p.186).

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Essa entrevista, geralmente, inicia-se com a chamada telefônica de outro
técnico, encaminhando o entrevistado para a avaliação psicodiagnóstica, ou com a
chamada do próprio entrevistado. Tem como objetivos discutir expectativas, clarear
as metas do trabalho, e colher informações sobre o entrevistado, que não poderiam
ser obtidas de outras fontes. (SILVA, 2007).

As primeiras impressões sobre o entrevistado, sua aparência,


comportamento durante a espera, são dados que serão analisados pelo
entrevistador, e que podem facilitar o processo de análise do caso. Para Gilliéron
(1996), a primeira entrevista deve permitir conhecer:

- O modo de chegada do paciente à consulta (por si mesmo, enviado por


alguém ou a conselho de alguém, etc.);

- O tipo de relação que o paciente procura estabelecer com o seu terapeuta;


- As queixas iniciais verbalizadas pelo paciente, em particular a maneira pela qual
ele formula seu pedido de ajuda (ou sua ausência de pedido).

A partir dessas impressões e expectativas, entrevistador e entrevistado


constroem mutuamente suas transferências, contratransferências, e resistências que
foram ativadas bem antes de ocorrer o encontro propriamente dito.

Um clima de confiança proporcionado pelo entrevistador facilita que o


entrevistando revele seus pensamentos e sentimentos sem tanta defesa, portanto,
com menos distorções. No final dessa entrevista devem ficar esclarecidos os
seguintes pontos: horários, duração das sessões, honorários, formas de pagamento
(quando particular), condições para administrar instrumentos de testagem e para as
condições de consulta a terceiros.

b) Entrevistas Subseqüentes

Após a entrevista inicial, em que é obtida uma primeira impressão sobre a


pessoa do paciente, esclarecimentos sobre os motivos da procura, e realização do
contrato de trabalho de psicodiagnóstico, normalmente são necessários mais alguns
encontros. O objetivo das entrevistas subseqüentes é a obtenção de mais dados

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com riqueza de detalhes sobre a história do entrevistado, tais como: fases do seu
desenvolvimento, escolaridade, relações familiares, profissionais, sociais e outros.

c) Entrevista de Devolução ou Devolutiva

No término do psicodiagnóstico, o técnico tem algo a dizer ao entrevistado


em relação ao que fundamenta a indicação. Em 1991, Cunha, Freitas e Raymundo
(apud NUNES, In: CUNHA, 1993), elaboraram algumas recomendações sobre a
entrevista de devolução:

- Após a interpretação dos dados, o entrevistador vai comunicar-lhe em que


consiste o psicodiagnóstico, e indicar a terapêutica que julga mais adequada;

- O entrevistador retoma os motivos da consulta, e a maneira como o


processo de avaliação foi conduzido;

- A devolução inicia com os aspectos menos comprometidos do paciente, ou


seja, menos mobilizadores de ansiedade;

- Deve-se evitar o uso de jargão técnico (expressões própria da ciência


circulante entre os profissionais da área, em outras palavras “gíria profissional”), e
iniciar por sintoma ligado diretamente à queixa principal;

- A entrevista de devolução deve encerrar com a indicação terapêutica.

DIFERENÇA ENTRE ENTREVISTA, CONSULTA E ANAMNESE

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http://www.petpsicologiaufes.com/images/outubro/entrevista.jpg

A técnica da entrevista procede do campo da medicina, e inclui


procedimentos semelhantes que não devem ser confundidos e nem superpostos à
entrevista psicológica. Consulta não é sinônimo de entrevista. A consulta consiste
numa assistência técnica ou profissional que pode ser realizada ou satisfeita, entre
as mais diversas modalidades, através da entrevista.

A entrevista não é uma anamnese. Esta implica numa compilação de dados


preestabelecidos, que permitem fazer uma síntese, seja da situação presente, ou da
história de doença e de saúde do indivíduo. Embora, se faça a anamnese com base
na utilização correta dos princípios que regem a entrevista, porém, são bem
diferenciadas nas suas funções.

Na anamnese, o paciente é o mediador entre sua vida, sua enfermidade, e o


médico. Quando por razões estatísticas ou para cumprir obrigações regulamentares
de uma instituição, muitas vezes, ela é feita pelo pessoal de apoio ou auxiliar.

A anamnese trabalha com a suposição de que o paciente conhece sua vida


e está, portanto, capacitado para fornecer dados sobre a mesma. Enquanto que, a
hipótese da entrevista é de que cada ser humano tem organizado a história de sua
vida, em um esquema de seu presente. E, destes temos que deduzir o que ele não

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sabe. Ou seja, “o que nos guia numa entrevista, do mesmo modo que em um
tratamento, não é a fenomenologia reconhecível, mas o ignorado, a surpresa”
(GOLDER, 2000, p.45).

Nessa perspectiva, Bleger (1980) compreende que, diferentemente da


consulta e da anamnese, a entrevista psicológica tenta o estudo e a utilização do
comportamento total do indivíduo em todo o curso da relação estabelecida com o
técnico, durante o tempo que essa relação durar (p.12).

A entrevista psicológica funciona como uma situação onde se observa parte


da vida do paciente. Mas, nesse contexto não consegue emergir a totalidade do
repertório de sua personalidade. Uma vez que não pode substituir, e nem excluir
outros procedimentos de investigação mais extensos e profundos, a exemplo de um
tratamento psicoterápico ou psicanalítico, o qual demanda tempo, e favorece para
que possa emergir determinados núcleos da personalidade.

Este tipo de assistência, também não pode prescindir da entrevista. Esta que
apresenta lacunas, dissociações e contradições que levam alguns pesquisadores a
considerá-la um instrumento pouco confiável. Mas, com diz Bleger (1980), essas
dissociações e contradições, são inerentes à condição humana, e a entrevista
oferece condições para que as mesmas sejam refletidas e trabalhadas.

TIPOS DE ENTREVISTA

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http://images.google.com/imgres?imgurl=http://bp0.blogger.com

Segundo Gil (1999), as entrevistas podem ser classificadas em: informal,


focalizada, por pautas e estruturada.

a) Entrevista Informal (livre ou não-estruturada) – É o tipo menos


estruturado, e só se distingue da simples conversação porque tem como objetivo
básico a coleta de dados. O que se pretende é a obtenção de uma visão geral do
problema pesquisado, bem como a identificação de alguns aspectos da
personalidade do entrevistado;

b) Entrevista Focalizada (semi-estruturada ou semidirigida) – É tão livre


quanto a informal, todavia, enfoca um tema bem específico. Permite ao entrevistado
falar livremente sobre o assunto, mas quando este se desvia do tema original o
entrevistador deve se esforçar para sua retomada;

c) Entrevista por Pautas (semi-estruturada ou semidirigida) – Apresenta


certo grau de estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de interesses
que o entrevistador vai explorando ao longo do seu curso. As pautas devem ser
ordenadas e guardar certa relação entre si. O entrevistador faz poucas perguntas
diretas e deixa o entrevistado falar livremente à medida que se refere às pautas
assimiladas. Quando este, por ventura, se afasta, o entrevistador intervém de
maneira sutil, para preservar a espontaneidade da entrevista;

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d) Entrevista Estruturada (fechada) – Desenvolve-se a partir de uma
relação fixa de perguntas, cuja ordem e redação permanecem invariáveis para todos
os entrevistados, que geralmente são em grande número. Por possibilitar o
tratamento quantitativo dos dados, este tipo de entrevista torna-se o mais adequado
para o desenvolvimento de levantamentos sociais.

A ENTREVISTA QUANTO AO SEU REFERENCIAL TEÓRICO

http://www.filmesraros.com/loja/images/mind.jpeg

O processo de entrevista é orientado por seu referencial teórico. Aqui serão


vistas, em síntese, algumas das perspectivas:

a) Perspectiva Psicanalítica – Tem como base os pressupostos dos


conteúdos inconscientes. O entrevistador busca avaliar a motivação inconsciente, o
funcionamento psíquico e a organização da personalidade do entrevistado. A
entrevista é orientada para a psicodinâmica da estrutura intrapsíquica ou das

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relações objetais1 e funcionamento interpessoal;

b) Perspectiva Existencial-humanista – Não procura formular um


diagnóstico, e sim, verificar se o interesse do indivíduo está auto-realizado ou não.
Aqui não existe uma técnica específica de entrevista, estas são consideradas pelos
existencialistas como manipulação. O entrevistador reflete o que ouve, pergunta com
cuidado, e tenta reconhecer os sentimentos do entrevistado;

c) Perspectiva Fenomenológica – Estuda a influência dos pressupostos e


dos preconceitos sobre a mente, e que os acionam ao estruturar a experiência e
atribuir-lhe um significado. Além de uma atitude aberta e receptiva, é necessário que
o entrevistador atue como observador participante, e que, assim, seja capaz de
avaliar criticamente, através de sua experiência clínica e conhecimento teórico, o
que está ocorrendo na entrevista.

A ENTREVISTA QUANTO AO SEU MÉTODO

http://www.usp.br/agen/bols/2000/Image217.gif

Segundo Ribeiro (1988), a realização da entrevista psicológica segue


diferentes enfoques:

a) Psicométrico – O entrevistador faz uso constante de uma série de


instrumentos: testes, pesquisas, controle estatístico, etc., predeterminados,
enquanto dispositivos para a aquisição de conhecimentos sobre o entrevistado.
Nessa situação, dificilmente o entrevistador conseguirá aprofundar a relação, o
encontro permanece mais em nível formal e informativo do que espontâneo criativo

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e transformador. Isto não quer dizer que seja menos válida ou mais superficial;

b) Psicodinâmico – A relação poderá ser mais aprofundada devido ao fato


do entrevistador contar com maior disponibilidade de tempo para questionar o
entrevistado, e conduzir a situação de maneira “menos estruturada”. Sua atenção
não está no aqui e no agora, ela atende a uma dinâmica de causa-efeito na qual
submensagens poderão dificultar a comunicação;

c) Antropológico – Abrange a relação ambiente-organismo na


compreensão da comunicação. Qualquer dado será considerado, mas, nem sempre,
é possível dizer em que momento ele está e onde será utilizado. Esse tipo de
entrevista parece mais complexo, assim sendo, exige mais prática do entrevistador
para analisar as informações.

TÉCNICAS DE ENTREVISTA

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Um dos aspectos essenciais da entrevista está na investigação que se


realiza durante o seu transcurso. As observações são registradas em função das
hipóteses que o entrevistado emite. O entrevistador ordena na seguinte disposição:
observação, hipótese e verificação. Uma boa observação consiste de algum modo,
em formular hipóteses que vão sendo reformuladas durante a entrevista em função
das observações subseqüentes.

No entender de Bleger (1980), o trabalho do psicólogo somente adquire real


envergadura e transcendência quando coincidem a investigação e a tarefa

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21
profissional, porque estas são as unidades de uma práxis que resguarda a tarefa
mais humana: compreender e ajudar os outros. Assim, indagação e atuação, teoria e
prática, devem ser manejadas como momentos e aspectos inseparáveis do mesmo
processo.

Segundo Bleger (1980), a entrevista se diferencia de acordo com o


beneficiário do resultado:

- A entrevista que se realiza em benefício do entrevistado, a exemplo da


consulta psicológica ou psiquiátrica;

- A entrevista cujo objetivo é a pesquisa, valorizando, apenas, o resultado


científico da mesma;

- A entrevista que se realiza para terceiro, neste caso, a serviço de uma


instituição.

Com exceção do primeiro tipo de entrevista, os demais exigem do


entrevistador que desperte interesse ou motive a participação do entrevistado.

Segundo Gil (1999), as entrevistas podem acontecer em duas modalidades:


Face a face e por Telefone. A entrevista tradicional tem sido realizada face a face.
No entanto, nas últimas décadas vem sendo desenvolvida a entrevista por telefone.

- Principais vantagens da entrevista por telefone, em relação à entrevista


pessoal: custos mais baixos; facilidade na seleção da amostra; rapidez; maior
aceitação dos moradores das grandes cidades, que temem abrir suas portas para
estranhos; facilidade de agendar o momento mais apropriado para a realização da
entrevista;

- Limitações da entrevista por telefone: interrupção da entrevista pelo


entrevistado; menor quantidade de informações; impossibilidade de descrever as
características do entrevistado ou as circunstâncias em que se realizou a entrevista;
parcela significativa da população que não dispõe de telefone ou não tem seu nome
na lista.

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22
Segundo Erickson (apud SCHEEFFER, 1977), algumas recomendações
devem ser aplicáveis ao processo de entrevista psicológica:

- O entrevistador deve ter o cuidado para não transformar a entrevista numa


conversa social. “Como posso ajudá-lo?”, é uma boa maneira de se iniciar uma
entrevista;

- O entrevistador não deve completar as frases do entrevistado. Devem-se


evitar perguntas que induzam respostas do tipo “sim” ou “não”. Não interromper o
fluxo do pensamento do entrevistado, a não ser que ele se perca em idéias que
fogem dos tópicos da entrevista;

- A atitude do entrevistador deve ser de aceitação completa das vivências do


entrevistado. Não deve haver discussão de pontos de vista;

- As pausas e silêncios são, quase sempre, embaraçosos para o


entrevistador. Nesses momentos, possivelmente, o entrevistado está revivendo
experiências que não consegue expressar verbalmente. Quando as pausas forem
longas, o entrevistador poderá retomar um tópico anterior que estava sendo
discutido;

- O tempo de entrevista deve ser marcado, e o entrevistado será


comunicado de quanto tempo dispõe. Se necessário, marca-se outra (s) entrevista
(s). Deve-se limitar o número de assuntos em cada sessão para não confundir o
entrevistado;

- É necessário trocar o pronome pessoal “eu”, pelo uso de expressões mais


vagas, tais como: “parece que ...”; “parece melhor ...”; etc.;

- Recomenda-se fazer o resumo do que fora discutido em cada final de


entrevista. E que o entrevistador faça uma síntese para o entrevistado do que foi
abordado na sessão;

- O término da entrevista não deve transformar-se numa conversa social,


sem nenhuma relação com os problemas discutidos. Isto pode prejudicar o resultado
da entrevista.

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23
Segundo Foddy (2002), é aconselhável o investigador ou entrevistador:

- Adotar uma atitude comum e casual. Ex. “Por acaso você...”;

- Empregar a técnica “Kinsey” de olhar os inquiridos bem nos olhos, e


colocar a pergunta sem rodeios de modo a que eles tenham dificuldade em mentir;

- Adotar uma aproximação indireta de modo a que os inquiridos forneçam a


informação desejada sem terem consciência disso, a exemplo das técnicas
projetivas;

- Colocar as perguntas perturbadoras na parte final do questionário ou da


entrevista de modo a que as respostas não sofram qualquer conseqüência desse
efeito.

Segundo Gilliéron (1996), podem-se estudar os comportamentos do paciente


praticamente em relação a dois eixos:

- A anamnese do sujeito que permite a observação dos comportamentos


repetitivos que dão uma idéia exata da sua personalidade: trata-se do ponto de vista
histórico;

- A observação do comportamento do paciente quando da primeira


entrevista também fornece indicações muito precisas sobre a organização da sua
personalidade.

DINÂMICA DA ENTREVISTA

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http://www.kaneoya.com.br/wordpress/wp-content/uploads/2007/11/entrevista.jpg

O entrevistador, no seu papel de técnico, não deve expor suas reações e


nem sua história de vida. Não deve permitir em ser considerado como um amigo
pelo entrevistado e, nem entrar em relação comercial, de amizade ou de qualquer
outro benefício que não seja o pagamento dos seus honorários. Para Gilliéron
(1996), a investigação repousará:

- Na análise do comportamento do paciente com relação ao enquadre;

- Num modelo preciso suscetível de evidenciar a dinâmica relacional que se


estabelece entre o paciente e o terapeuta; modelo de apoio objetal.

O entrevistado deve ser recebido com cordialidade, e não de forma efusiva.


Diante de informações prévias fornecidas por outra pessoa, se deixa claro que essas
não serão mantidas em reserva. Em função de não abalar a confiança do
entrevistado, estas lhe serão comunicadas.

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A reação contratransferencial deve ser encarada com um dado de análise da
entrevista, não se deve atuar diante da rejeição, inveja ou qualquer outro sentimento
do entrevistado.

As atitudes deste não devem ser “domadas” ou subjugadas, não se trata de


querer triunfar e nem se impor perante o mesmo. Compete ao entrevistador
averiguar como essas atitudes funcionam e como o afetam. O grau de repressão do
entrevistado, de certo modo, tem uma relação direta com o nível de repressão do
entrevistador.

Necessariamente, o entrevistado que fala muito não traz à tona aspectos


relevantes das suas dificuldades. A linguagem que é um meio de transmitir
informação, mas poderá ser também uma maneira poderosa de se evitar uma
verdadeira comunicação (BLEGER, 1980). Nem sempre, uma carga emocional
intensa significa uma evolução no processo.

O silêncio é uma expressão não-verbal que muitas vezes comunica bem


mais que as palavras. O silêncio é, geralmente, o fantasma do entrevistador
iniciante. Ele pode ser também uma tentativa de encobrir a faceta de um momento o
qual o sujeito não consegue enfrentar. Castilho (1995) cita uma série de tipos de
silêncio que são comuns nas dinâmicas de grupo, mas que também ocorrem, com
bastante freqüência, no processo de entrevista, etc. Para ilustrar foram destacados
alguns tipos de silêncio:

- Silêncio de Tensão – É a expressão da ansiedade. Facilmente observado


através da postura corporal tensa ou inquieta do entrevistado, da sua respiração
ofegante, do tamborilar dos dedos, etc.;

- Silêncio de Medo – Deixa o entrevistado petrificado, na sua tentativa de


fugir de uma situação psicologicamente ameaçadora. Esse silêncio suscita muita
tensão e, como conseqüência, forte descarga psicossomática;

- Silêncio de Reflexão – Surge normalmente após a intervenção do


entrevistador, ou logo após um feedback, ou mesmo depois do entrevistador ter

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passado por algum tipo de vivência. Nele, observa-se a ausência de tensão, há um
recolhimento introspectivo de elaboração mental;

- Silêncio de Desinteresse – O indivíduo perde o foco da atenção, camufla


resistência, se desinteressa pela situação externa porque interiormente ela o atinge.

A Ansiedade na Entrevista

http://www.redepsi.com.br/portal/uploads/smartsection/images/item/c37r20060m2870.jpg

A ansiedade é parte da existência humana, todas as pessoas a sentem em


grau variado, por vezes consiste em uma resposta adaptativa do organismo
(SIERRA, 2003). Para Bion (apud ALMEIDA & WETZEL, 2001), se duas pessoas
estão numa sala de análise sem angústia, não está havendo análise (p.272).

Calligaris (apud GOLDER, 2000), percebe que em todo encontro, o outro


está imediatamente implicado enquanto “semelhante imaginário”, o que se busca
primeiro é uma tela, uma espécie de cumplicidade, na qual supõe um sentido
comum ao que estamos dizendo(p.151). Desse modo, a ansiedade é um indicativo
do desenvolvimento de uma entrevista, e deve ser controlada pelo entrevistador, a
sua própria, e a que aparece no entrevistado.

Durante a situação de entrevista, tanto à ansiedade quando os mecanismos


de defesa do entrevistado podem aumentar, não somente devido a esse novo

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contexto externo que ele enfrenta, mas também devido ao perigo, em potencial,
daquilo que desconhece em sua personalidade. O contato direto com seres
humanos, coloca o técnico diante da sua própria vida, saúde ou doença, conflitos e
frustrações.

Considerando que o entrevistador é um agente ativo na investigação, sua


ansiedade torna-se um dos fatores mais difíceis de lidar. Em sua tarefa, o psicólogo
pode oscilar facilmente entre a ansiedade e o bloqueio, sem que isto o perturbe,
desde que possa resolver na medida em que surja.

Toda investigação implica a presença de ansiedade frente ao desconhecido,


e o investigador deve ter a capacidade para tolerá-la, assim, poderá manter o
controle da situação. Há casos em que o investigador, devido aos seus bloqueios e
limitações, se vê oprimido pela ansiedade, e recorre a mecanismos de defesa para
se sentir seguro, e assim, elimina a possibilidade de uma investigação eficaz, uma
vez que conduz a entrevista de maneira estereotipada. Outro problema freqüente diz
respeito à certa compulsão do entrevistador focalizar seu interesse ou encontrar
perturbações exatamente na esfera que ele nega os seus próprios conflitos.

A manipulação técnica, de toda ansiedade, deve ser realizada com


referência a personalidade do entrevistado, e o nível de timing (sincronização e
ajustamento) que se tenha estabelecido na relação. Toda interpretação fora desse
contexto implica em agressão ao paciente ou entrevistado. Cabe ao psicólogo saber
calar, na proporção inversa da sua vontade compulsiva de interferir. Nessa ótica,
Almeida & Wetzel (2001, p.271) dizem que a interpretação algumas vezes vem de
um desejo de intervenção com a finalidade de eliminar angústias (perda de
continência), instados pela situação e autorizados pelo setting.

Segundo Piaget (apud GIL, 1999), o bom entrevistador deve reunir duas
qualidades: saber observar (não desviar nada, não esgotar nada); saber buscar
(algo de preciso, ter a cada instante uma hipótese de trabalho, uma teoria,
verdadeira ou falsa, para controlar).

Douglas (apud FODDY, 2002) corrobora com essa idéia quando afirma que
entrevistar criativamente é ter determinação atendendo ao contexto, em vez de

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negar, ou não conseguir compreender. O que se passa numa situação de entrevista
é determinado pelo processo de perguntas e respostas, a entrevista criativa agarra o
imediato, a situação concreta, tenta perceber de que modo esta afetação vai sendo
comunicada e, ao compreender esses efeitos, modifica a recepção do entrevistador,
aumentando, assim, a descoberta das verdades.

Transferência e Contratransferência

www.rodrigues.psc.br

Transferência

Freud (1914-1969) entende que a transferência é (...) apenas um fragmento


da repetição e que a repetição é uma transferência do passado esquecido (...) para
todos os aspectos da situação atual (p.166). A transferência é designada pela
psicanálise como um processo através do qual os desejos inconscientes se
atualizam sobre determinados objetos, num certo tipo de relação estabelecida,
eminentemente, no quadro da relação analítica. A repetição de protótipos infantis
vividos com um sentimento de atualidade acentuada. Classicamente a transferência
é reconhecida como o terreno em que se dá a problemática de um tratamento
psicanalítico, pois são a sua instalação, as suas modalidades, a sua interpretação e
a sua resolução que as caracteriza (LAPLANCHE & PONTALIS, 2004).

A transferência e a contratransferência são fenômenos que estão presentes


em toda relação interpessoal, inclusive na entrevista. Na transferência o entrevistado
atribui papéis ao entrevistador, e se comporta em função dos mesmos, transfere
situações e modelos para a realidade presente e desconhecida, e tende a configurar

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esta última como situação já conhecida, repetitiva. No entender de Gori (2002),
repetindo transferencialmente, evoca-se a lembrança e é somente por meio da
lembrança que temos acesso à história [...] Por meio da transferência é forjado num
lugar intermediário entre a vida real e um ensaio de vida, para que o drama humano
possa ter um desfecho (p.78).

A articulação do conceito de “momento sensível”(grifo da autora) passa pelo


posicionamento do terapeuta. Esse instante preciso determina os mecanismos que
instalam a transferência. Com efeito, é o momento em que uma relação de trabalho
se torna possível. A abertura ao outro, a espera de ajuda vinda do exterior é forte e
expõe o paciente tanto ao melhor quanto ao pior dessa interação (GOLDER, 2000).

Nessa perspectiva, Gilliéron (1996) diz que todos os pacientes procuram


obter alguma coisa do terapeuta. Eles não buscam apenas a cura de um sintoma,
mas também certa qualidade de relação (p.14). Os entrevistados revelam aspectos
irracionais ou imaturos de sua personalidade, seu grau de dependência, sua
onipotência e seu pensamento mágico.

As transferências negativas e positivas podem coexistir num mesmo


processo, embora, quase sempre com predomínio relativo, estável ou alterado, de
uma delas. Segundo Sang (2001), é a situação analítica e não a sua pessoa o que
levou a paciente a se apaixonar por ele, isto é, que o amor de transferência é
essencialmente impessoal. [...] o analista não deve nem reprimir nem satisfazer as
pretensões amorosas da paciente. Deve sim, tratá-las como algo irreal (pp.319-20).
No que é confirmado por Yalom (2006), quando diz que os sentimentos que surgem
na situação terapêutica. Geralmente pertencem mais ao papel que à pessoa, é um
equívoco tomar a adoração transferencial como um sinal de sua atratividade ou
charme pessoal irresistível (p.175).

Contratransferência

Na contratransferência emerge do entrevistador reações que se originam do


campo psicológico em que se estrutura a entrevista. Porém, se constitui, quando

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bem conduzida, num indício de grande significação e valor para orientar o
entrevistador no estudo que realiza. Seu manejo requer preparação, experiência e
um alto grau de equilíbrio mental, para que possa ser utilizada com validade e
eficiência. Na contratransferência, salienta Gilliéron (1996), as emoções vividas pelo
analista são consideradas reativas às do paciente, vinculando-se, portanto, ao
passado deste último, e não dizendo respeito diretamente à pessoa do analista.
Manfredi (apud ZASLAVSKY & SANTOS, 2005, p.296), distingue cinco tendências
de abordagens desta questão:

1 - A contratransferência não é mais considerada como uma criação


unicamente do paciente, por ignorar a transferência do analista;

2 - É problemático diferenciar a contratransferência normal da patológica (os


dados à disposição do analista não permitem, quase sempre, uma diferenciação);

3 - A tolerância à contratransferência já seria suficiente, dada aqui, a


dificuldade da diferenciação dos sentimentos envolvidos na dupla;

4 - Devia-se, mais sábia e humildemente, fazer também a rota inversa:


procurar no paciente, e não só procurar no analista;

5 - A questão do confessar ou não, ou confessar/revelar até quando/quanto,


os sentimentos contratransferências despertados.

Para que o instrumento Entrevista Psicológica, de fato, se efetive como


auxiliar no trabalho do psicólogo, não é o bastante a sua compreensão ou domínio
teórico e técnico que fundamenta e norteia sua prática, mas também de experiências
que são adquiridas em rollyplays através de estágio, supervisão; laboratório ou
oficinas de sensibilidade.

É preciso desenvolver a sensibilidade para entrevistar, aprender ser


empático, saber lidar com a própria subjetividade e com a subjetividade do outro
(entrevistando), facilitando assim que seu universo, um tanto livre das “ameaças”, se
descortine. O entrevistador precisa adquirir à habilidade da “dissociação
instrumental”, e ser capaz de adentrar esse universo, sem juízo de valor, sem

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preconceito, para que assim possa estar com o Outro, conhecer, não temer, se
perder e se achar e, finalmente, voltar à realidade do contexto.

E agora, de posse de sua bagagem técnica tecer suas observações,


ponderações e considerações, de modo axiomático, considerado que a utópica da
neutralidade sempre deverá ser perseguida. Os princípios éticos serão avivados em
cada encontro, e nenhum instrumento poderá adquirir uma aura de prevalência
sobre a pessoa do entrevistado, que é mais importante e assim deve ser respeitado.
O que não significa ser “meloso”, por demais e muito menos autoritário.

O entrevistador deve habilitar-se em se inscrever na virtualidade da distância


e proximidades ótimas que o trabalho possa fluir. Ser a pessoa na figura do
profissional imbuído da intenção singular de realizar uma atividade sem perder sua
essência humana.

Nesse investida, é fundamental que o profissional se “conheça”, e que faça


de rotineiras as reflexões sobre suas atitudes, postura e comportamento, bem como
de que tenha também flexibilidade em reformulá-los, quando a necessidade aponte.
Muito do trabalho do psicólogo certamente vem em conseqüência do auto
“mergulho” que lhe dará a base na qual se apóiam à sua atuação e intervenção com
toda transparência.

2. INTERVENÇÃO

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Abordagem Sistêmica

Parte da teoria geral dos sistemas e da teoria da comunicação de


Watzlawick. É um paradigma que emerge das ciências exatas e fornece uma base
teórica e prática de compreensão dos sistemas humanos. Nos anos 40, Ludwig Von
Bertalanffy publicava uma série de princípios válidos para vários sistemas
(biológicos, físico-químicos, sociais).

O sistema é um complexo organizado em múltiplos elementos que estão em


interação recíproca no seu interior e com o meio. Um sistema pode ser aberto (auto-
organizado) ou fechado (entropia).

A perspectiva sistêmica constitui um bom suporte teórico para a intervenção,


especialmente em terapia familiar. Põe em causa uma epistemologia linear,
unidirecional e contextualiza os problemas humanos, não num único sentido, mas
em função dos contextos em que emergem os problemas. Alarga a perspectiva de
intervenção, centrada apenas num sistema pessoal, para uma perspectiva que se
centra nos contextos de vida e nas redes de apoio dos sujeitos. Estes pressupostos
são aplicados, sobretudo na terapia familiar.

Modelo Cognitivo-comportamental

" O que perturba o ser humano não são os fatos, mas a interpretação que
ele faz dos fatos"

Epitectus - Século I

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Esta perspectiva teve origem nos trabalhos de Aaron Beck e Albert Ellis.
Sugere que as nossas crenças e atribuições desempenham um importante papel no
comportamento.

Esta abordagem é historicamente baseada nos princípios da aprendizagem


e da psicologia experimental. Centra-se no comportamento observável e não
observável. Pensamentos adquiridos através da aprendizagem e do
condicionamento no ambiente social.

As terapias cognitivo-comportamentais compartilham alguns pressupostos


básicos, ainda que existam diferentes abordagens conceituais e estratégicas para os
diversos transtornos. Há algumas características essenciais no núcleo das terapias
cognitivo-comportamentais (Dobson, 2001):

1- A atividade cognitiva influencia o comportamento;

2- A atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada;

3- O comportamento desejado pode ser influenciado mediante a mudança


cognitiva.

Esta terapia baseia-se na premissa que uma inter-relação entre cognição,


emoção e comportamento é parte integrante do funcionamento psicológico normal.
Um acontecimento de vida pode acarretar inúmeras formas de agir, sentir e pensar,
mas não é o evento em si que gera as emoções e comportamentos, é o que nós
pensamos e interpretamos sobre esse evento.

Outra premissa é que as distorções cognitivas são muito freqüentes em


diferentes transtornos.

Ao contrário do que acontece com o modelo psicanalista, o material trazido à


consulta não é interpretado pelo terapeuta, mas elaborado conjuntamente com o
cliente, com o objetivo de identificar, examinar e corrigir as distorções do
pensamento que causam sofrimento emocional ao indivíduo.

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Albert Ellis centrou-se nas crenças irracionais para lidar com pensamentos e
comportamentos problemáticos. Pensamentos como "toda a gente deve me
apreciar", "ninguém vai amar alguém tão feio como eu" vão inevitavelmente conduzir
à decepção.

Aaron Beck desenvolveu a terapia cognitiva para tratar a depressão e outros


problemas. Beck considera que durante o desenvolvimento, as pessoas formulam
regras sobre o funcionamento do mundo, tendendo serem simplistas, inflexíveis e
freqüentemente baseadas concepções errôneas.

As abordagens cognitivistas podem-se distinguir em duas tradições:

- Cognitivismo Substantivo Racionalista: centra-se no conteúdo,


pensamento interno, mecanicista. (Ellis, Beck, Meichenbaum, D´Zurilla, etc.)

- Cognitivismo Construtivista Desenvolvimental: O Construtivismo prega


que o conhecimento e a experiência humana implicam em uma proação ativa do
sujeito, a importância das emoções e os problemas psicológicos refletem diferenças
entre as exigências do ambiente e a capacidade adaptativa do cliente.

Abordagem Humanista

Esta abordagem tem as suas origens na filosofia Européia e no trabalho


psicoterapêutico de Victor Frankl, Carl Rogers, Abraham Maslow, Rollo May, Fritz
Perls e outros. Rejeitando as premissas básicas das teorias psicodinâmicas e
comportamentalista, os humanistas assumem uma abordagem fenomenológica que
enfatiza a percepção individual e a experiência. Tende a ver as pessoas como
ativas, pensadoras, criativas e orientadas para o crescimento. Consideram que as
pessoas são basicamente bem intencionadas e que naturalmente lutam pelo
crescimento, amor, criatividade e auto-atualização. Em vez de se centrar na
influência do passado, os humanistas focam-se no "aqui e agora" ou presente.

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Exemplos de Conceitos e Técnicas Humanistas

Empatia - capacidade de ver o mundo a partir da perspectiva da outra


pessoa. Transmite a sensação de ser ouvido e compreendido.

Aceitação incondicional- aceitar totalmente os sentimentos e pensamentos


do cliente.

Auto-atualização - As pessoas tendem a procurar o crescimento e a atingir o


seu máximo potencial.

Congruência- O terapeuta manifesta sentimentos autênticos durante a


consulta. É uma harmonia entre os sentimentos e as ações.

A terapia centrada no cliente é a perspectiva de Carl Rogers e é um dos


exemplos mais clássicos da abordagem humanista. Usa técnicas não diretivas
(indutoras) como a escuta ativa, empatia, congruência e aceitação incondicional. A
empatia sincera é necessária para as pessoas se sentirem aceitas e compreendidas
e para permitir o crescimento.

Abordagem Comportamentalista

O expoente moderno mais importante do behaviorismo foi Skinner (1904-


1990), que considerava que o único objeto da psicologia era o comportamento
manifesto (observável).

Nesta abordagem, pretende-se manipular e controlar o comportamento


através do reforço (quando as pessoas têm o comportamento desejado,
aumentando a hipótese da sua ocorrência) e através de castigos (quando as
pessoas se comportam de maneira indesejável).

A aprendizagem pode fazer-se por condicionamento clássico, em um


estímulo, até aí neutro, é associado com dado motivacionalmente significativo e
surge uma resposta.

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Ex: Condicionamento Clássico de Pavlov:

Pavlov reparou que os cães salivavam muitas vezes sem razão fisiológica
aparente, para que tal acontecesse. O cão aprende uma associação entre o
alimento e um sinal casual que precedia o alimento. Pavlov verificou que ao tocar a
campainha antes de dar comida ao cão, este começava a salivar quando ouvia a
campainha, após alguns ensaios de associação entre campainha e comida- o que
originava o reflexo condicionado.

Uma campainha começava a tocar e passado algum tempo, com a


campainha ainda a tocar, era fornecido ao animal comida. A seqüência campainha -
comida foi repetida uma série de vezes. Aos poucos, a quantidade de saliva
produzida começou a aumentar logo após a campainha tocar. O cão salivava ao
ouvir a campainha, o que não sucedia no início da experiência.

A associação repetida entre o som da campainha (estímulo neutro) e a carne


transformaram o estímulo inicialmente neutro (campainha) num estímulo
condicionado que agora provocava a salivação sob a forma de um reflexo
condicionado.

No condicionamento operante, há um aumento da probabilidade de


resposta num determinado meio ambiente devido ao reforço da resposta.

Ex: rato que carrega numa alavanca para obter uma recompensa de comida.

Vários autores duvidaram da capacidade deste "behaviorismo radical" para


explicar a complexidade do comportamento humano. As grandes diferenças de
personalidade indicam que não é só importante o que as pessoas fazem, mas
também o que pensam e esperam (expectativas). Isto levou a uma evolução do
comportamentalismo, aceitando conceitos como expectativa e crença.

Estes são os teóricos da aprendizagem social, como Albert Bandura e


Walter Mischel. Defendem que muitas das diferenças individuais entre os indivíduos
são basicamente cognitivas: são os modos diferentes de interpretar o mundo, de

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pensar e agir sobre ele. Assim, os comportamentos podem ser aprendidos e
desenvolvidos pela observação do comportamento dos outros, em vez de ter de
realizar esse comportamento ou ser reforçado para um determinado comportamento.

Esta abordagem também valoriza o papel das expectativas no


desenvolvimento do comportamento. Por exemplo, alguém pode dedicar muito
tempo e dinheiro para obter uma licenciatura, porque espera que essa qualificação
vá originar uma carreira e vida satisfatória.

Abordagem Psicodinâmica

Foi fundada com o trabalho de Sigmund Freud. Muitos neofreudianos e


outros revisionistas fizeram uma grande adaptação, desenvolvimento e mudança na
abordagem básica de Freud. Esta abordagem ainda mantém certas concepções
sobre o comportamento humano e problemas psicológicos.

Defende que o comportamento humano é influenciado por desejos


intrapsíquicos, motivações, conflitos e impulsos. Os mecanismos de defesa do ego
(adaptativos ou não) são utilizados para lidar com conflitos, desejos, necessidades e
fantasias não resolvidas, que contribuem para o comportamento normal ou anormal.

As experiências precoces na infância desempenham um papel fundamental


no desenvolvimento psicológico e no comportamento adulto. A compreensão destas
influências inconscientes e a sua discussão e integração nas experiências
quotidianas ajudam a melhorar o funcionamento psicológico. A relação de
transferência que se desenvolve entre o cliente e o terapeuta também ajuda a
melhorar o funcionamento psicológico.

Freud desenvolveu uma compreensão do comportamento humano baseado


em três estruturas mentais, que normalmente estão em conflito:

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- o Id, inato, funciona segundo o princípio do prazer e representa todos os
desejos e necessidades mais primitivas. O Id não conhece juízos de valor, moral, ou
o bem ou o mal. O Id procura a satisfação imediata sem considerar as circunstâncias
da vida real. A nossa energia psíquica básica (libido) está contida no Id e exprime-se
através da redução da tensão. Contudo, para a satisfação das necessidades é
preciso interagir com o mundo real. O ego, que é mediador entre o id e o mundo
exterior, ajuda nesta interação.

- O ego, que funciona segundo o princípio da realidade, mantém em


suspenso as exigências para o prazer que provêm do id, até que se encontre um
objeto apropriado para satisfazer a necessidade e reduzir a tensão. Desenvolve-se
cerca do primeiro ano de idade e representa os aspectos racionais e razoáveis da
nossa personalidade, ajudando-nos a adaptar a um mundo desafiante.

- O superego, que se desenvolve cerca dos cinco anos de idade, quando


são assimiladas as regras de comportamento ensinadas pelos pais, através de um
sistema de recompensas e castigos. Representa a internalização de normas e
regras sociais, culturais e familiares. O superego inclui o ego ideal (a imagem
perfeita do que somos e do que podemos ser) e a nossa consciência (as regras de
bons e maus pensamentos e comportamento).

Irá haver um conflito inevitável entre id, ego e superego para lidar com a
ansiedade e desconforto e a necessidade de utilizar mecanismos de defesa do ego.
O ego está numa posição difícil, pois têm de lidar com forças opostas. Os
mecanismos de defesa são estratégias desenvolvidas pelo ego para proteger o
indivíduo destes conflitos internos e em geral, inconscientes.

Eles ajudam a lidar adaptativamente ou não, com a inevitável ansiedade de


ser humano. Há uma variedade de mecanismos de defesa, como a repressão
(manter pensamentos, desejos, sentimentos e conflitos desagradáveis fora da
consciência). Negação (negar que existem pensamentos ou sentimentos
problemáticos), sublimação (substituição de uma meta que não pode ser satisfeita
por outra socialmente aceitável), projeção ( a origem da ansiedade é atribuída à
outra pessoa).

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Freud também definiu vários estádios psicossexuais do desenvolvimento
da personalidade. No decorrer destes estádios, as crianças são auto-eróticas ao
obter prazer erótico quando estimulam as zonas erógenas do corpo. Cada estádio
tende a estar localizado numa determinada zona erógena. Estes incluem as fases:
oral, anal, fálica, latente e genital.

- O Estádio oral vai desde o nascimento até ao segundo ano de vida. A


estimulação da boca (sugar, morder, etc.) é a fonte de satisfação erótica.

- No estádio anal, a satisfação vai da boca para o ânus e as crianças têm


prazer na zona anal. Nesta fase treinam a higiene pessoal e as crianças podem reter
ou expelir fezes.

- No estádio fálico, por volta do quarto ano de idade, a satisfação erótica


passa para zona genital, havendo manipulação e exibição dos órgãos genitais.
Neste estádio há o desenvolvimento do Complexo de Édipo, em que o rapaz
desenvolve um desejo incestuoso e de morte, desejando unir-se à mãe e eliminar o
pai. Os medos de retaliação e de castração resultam na repressão destes impulsos
e na identificação com o pai.

O objetivo desta abordagem é o insight-compreensão de fatores


inconscientes que levam a comportamentos e sentimentos problemáticos, através de
uma análise aprofundada e cuidadosa do papel de desejos, impulsos e conflitos
inconscientes na vida diária.

Técnicas como a associação livre (dizer tudo o que nos passa pela cabeça),
a análise dos sonhos e a interpretação são usadas para compreender e tratar vários
problemas.

3. EQUIPE MULTIPROFISSIONAL

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http://www.qualitare.com.br/imagens/equipe.jpg

O trabalho em equipe multidisciplinar consiste numa forma especial de


organização, que visa, principalmente, a ajuda mútua entre profissionais de uma
mesma área, no caso da Psicologia, a área de saúde. O trabalho em Equipe deve
ser descrito como um conjunto ou grupo de pessoas que se dedicam a realizar uma
tarefa ou um determinado trabalho, visando um objetivo comum, neste caso é a
pessoa atendida. A grande maioria dos transtornos psicológicos requer o auxílio de
um médico psiquiatra, um neurologista, um nutricionista, assistente social,
fonoaudiólogo ou profissional de Educação Física.

Percebe-se, neste caso, que um bom profissional jamais deve ficar restrito à
sua área de atuação, mas estudar sobre tudo aquilo que poderá beneficiar o
paciente. Muitas vezes, por exemplo, a ajuda de um profissional do Direito é
imprescindível. São muitas as crianças abusadas sexualmente que chegam ao
consultório de Psicologia; também são bastante comuns casos de mulheres
violentadas e espancadas por seus companheiros.

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Valorizando cada indivíduo e permitindo que todos façam parte de uma
mesma ação, seja no campo escolar, profissional ou, até mesmo, em atividades
cotidianas. O Trabalho em Equipe, além de possibilitar a troca de conhecimento é
determinante nas relações humanas, pois motiva o grupo a buscar de forma coesa
os objetivos traçados. Os estudos de caso devem fazer parte da rotina de
consultórios e policlínicas de Saúde.

Também uma boa supervisão e psicoterapia pessoal são suportes valiosos


na rotina de um bom profissional de Psicologia. É preciso ficar claro que não há
profissão melhor ou pior que a outra. O que deve existir é a consciência de que, em
se tratando de seres humanos, nenhum tipo de conhecimento é demais. Todo
conhecimento é válido e jamais se conhece sobre tudo. O trabalho em equipe é
necessário e fundamental.

Na visão do psicólogo Abraham Maslow (1908-1970), considerado por


muitos como o profissional que deu início à Psicologia Transpessoal (área da
psicologia que estuda a consciência nos seus diferentes níveis e a sua relação com
os aspectos evolutivos do ser). O trabalho em equipe possibilita dar e receber, por
parte de cada um de seus membros, afeição, aceitação e sentimento de importância.

Para Maslow, "isto faz com que o indivíduo cresça, tornando o trabalho
determinante, pois o objetivo a ser alcançado depende, exclusivamente, da
satisfação psicológica do indivíduo bem como das relações humanas".

A necessidade de desenvolvimento do trabalho em equipe passa por


diversos fatores de importância para a evolução profissional, como a definição de
prioridades, o ajuste de metas, otimismo e o “estar aberto” a mudanças. Todas estas
qualidades, quando são acrescidas ao ser individual (si próprio), pode significar o
sucesso nas relações pessoais, o que forma um círculo virtuoso, propiciando assim
as tarefas conjuntas.

É importante perceber que, quando se fala em trabalhar em equipe, fala-se


em maior volume de atividades, mais e maior responsabilidade, comprometimento,
flexibilidade, colaboração e esforço pessoal, detalhes que acabam sendo
descobertos a cada novo dia de trabalho. Entretanto, como benefício, um grupo

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coeso aflora muitas características até então passadas desapercebidas no
individual, como a criatividade, a participação, visão de futuro, questionamento de
posições e colocações e senso crítico.

Segundo a Psicóloga Solange B. R. Cremasco, a motivação é um fator


substancial que deve estar ligado ao trabalho em equipe. De acordo com ela, esse
atributo individual do ser humano representa o comprometimento e a "chave para o
sucesso que está ao alcance de todos". "Quanto maior for o grau de
responsabilidade, quanto maior for o universo de aprendizado e as perspectivas de
evolução, muito mais eles (os profissionais) se envolvem com as atividades que lhes
são atribuídas e, conseqüentemente, a motivação sempre se encontrará no topo",
conclui.

Trabalhar em equipe significa compartilhar uma direção comum. Além disso,


atividades desenvolvidas em conjunto encorajam o grupo, o que aumenta o
desempenho na hora de realizar atividades, transmitindo autoconfiança, habilidade e
união, características primordiais para o sucesso. Isso também vale para os
profissionais de saúde, incluindo aí os profissionais de Psicologia.

4. PRESENTE E FUTURO DA PSICOLOGIA CLÍNICA

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http://www.psiquiatriageral.com.br/terapia/imagens/indice_terapiaOcupacional.jpg

A psicoterapia é um valioso recurso para lidar com as dificuldades da


existência em todas as formas que o sofrimento humano pode assumir como
transtornos psicopatológicos, crises pessoais, crises de relacionamentos, conflitos
conjugais e familiares, distúrbios psicossomáticos, dificuldades nas transições da
vida, crises profissionais, etc.

A psicoterapia é também um espaço favorável ao crescimento pessoal, um


lugar, tempo, modo privilegiado de criar intimidade consigo mesmo, de estabelecer
diálogos construtivos, abrir novos canais de comunicação, de transformar padrões
estereotipados de funcionamento, restabelecendo o processo formativo e criativo de
cada um.

A Psicoterapia oferece uma oportunidade de compreender e mudar os


padrões de vínculo e relação interpessoal. Os problemas vinculares são fonte de
incontáveis sofrimentos e doenças.

A psicoterapia ocupa hoje um lugar fundamental na área da saúde, por


trazer uma visão integrada do homem, considerando as dimensões orgânicas,
psíquicas e sociais conjuntamente participantes na produção da existência humana
e de seus problemas.

Em alguns casos, a Psicoterapia cumpre também uma função de educação


para a vida. Esta é uma área pouco considerada em nossa cultura, porém evidente
quando as pessoas se vêem inaptas para lidar com situações como crises conjugais,
desemprego ou envelhecimento, por exemplo.

A psicoterapia é um espaço especial de atenção às dificuldades da vida e


aos caminhos internos para solucioná-los. Seus resultados demonstram uma grande
potência de transformação de vidas. Todos os últimos avanços na área da
Psicologia e Psicoterapia têm permitido alcançar resultados cada vez maiores e mais
significativos.

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OS PRAZOS VARIAM COM OS OBJETIVOS

http://wagbarart.files.wordpress.com/2007/02/59.jpg

No geral, os prazos de tratamento são relativos aos objetivos almejados. Há


vários desenvolvimentos recentes em psicoterapias breves, que são focadas em
objetivos mais específicos.

Atualmente é possível atingir resultados significativos em períodos de 3


meses a 12 meses e há muitos processos terapêuticos profundos que se encerram
satisfatoriamente em prazos inferiores há 3 anos. Muitas pessoas obtêm resultados
significativos no início do tratamento, compensando os investimentos realizados.

Há casos que demandam um trabalho terapêutico mais demorado,


geralmente com problemática psicopatológica mais severa, envolvendo traumas
precoces, desorganização psicológica, problemas vinculares sérios, etc. Estes
trabalhos podem demandar anos de trabalho árduo, compensados por ajudas
significativas que o trabalho psicológico pode trazer.

Algumas pessoas encontram na terapia um lugar fundamental de


acompanhamento de seu processo de vida, onde são trabalhadas transformações
mais profundas ao longo de vários anos. São situações em que o processo
terapêutico não tem um prazo definido e segue em comum acordo entre o
psicoterapeuta e o cliente.

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Apesar de poder parecer, à primeira vista, um tratamento oneroso em
termos de tempo e dinheiro, a psicoterapia tem se mostrado, na realidade, um modo
econômico de tratamento. Pesquisas indicam, por exemplo, que a psicoterapia
diminui os índices de consumo de medicamentos e de internações hospitalares. A
psicoterapia tem se mostrado também um tratamento economicamente
compensador por prevenir e tratar problemas psicológicos que, quando não tratados
adequadamente, trazem enormes prejuízos econômicos para as pessoas e para o
país.

AS VÁRIAS APLICAÇÕES DA PSICOTERAPIA

http://casadooriente.blogs.sapo.pt/arquivo/Terapia.jpg

Vários estados de sofrimento, crises, transtornos e doenças têm encontrado


uma solução e melhora apenas com o auxílio da psicoterapia.

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Não é possível hoje se falar em doenças sem uma consideração pela
dimensão psicológica e emocional. Cada vez está mais evidente a natureza
psicossomática de todas as experiências humanas. A saúde psicológica é pré-
condição e parte integrante da saúde global.

Cada ser psicossomático vive uma história de interações, encontros e


acontecimentos em que as doenças (orgânicas ou mentais) resultam também dos
desequilíbrios existenciais e de soluções inadequadas de vida.

A psicoterapia é um processo que permite transformações profundas da


personalidade, com resultados evidentes em diversas situações como:

• Tratamento de vários transtornos como pânico, fobias, depressão,


anorexia, bulimia, frigidez, impotência, etc.
• Resolução de conflitos pessoais, interpessoais, conjugais, familiares,
profissionais etc.
• Crises existenciais, transições difíceis (luto, crises profissionais, etc.) e
mudanças de fases de vida (puberdade, adolescência, vida adulta, menopausa,
envelhecimento, etc.)
• Aprendizado do autogerenciamento da capacidade de lidar com o
estresse, dialogando com os estados afetivos internos e os efeitos dos desafios e
problemas da vida.
• Descoberta de novos modos de conduzir a própria vida.
• Aquisição de autoconhecimento, autonomia e amadurecimento
pessoal.

OS TIPOS DE PSICOTERAPIA

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http://www.itapetininga.sp.gov.br/img/noticias/terapia.jpg

Há alguns tipos de psicoterapia, conforme as necessidades e a configuração


dos problemas.

Os principais tipos são:

• Psicoterapia Individual para crianças, adolescentes, adultos e idosos.


• Psicoterapia de Grupo
• Psicoterapia de Casal
• Psicoterapia de Família
• Atendimento Emergencial

O PROCESSO TERAPÊUTICO MAIS PROFUNDO

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http://www.orizamartins.com/sld_hdr.gif

O processo terapêutico é como atravessar um túnel. Neste túnel você vai


rever muitas cenas da história da sua vida de um ângulo completamente novo,
fazendo conexões inusitadas entre os eventos e percebendo a potência do passado
para moldar quem você é hoje.

Na travessia deste túnel você vai aprender a reconhecer os seus padrões de


comportamento, que levam você a se comportar de modo parecido em situações
diferentes, inclusive repetindo os mesmos erros.

Você vai aprender a reconhecer o "como," do seu comportamento, como


você age, como se relaciona, como pensa, sente e vai aprender caminhos para
poder influenciar e transformar estes padrões.

Esta é uma travessia acompanhada de alguém que pode ajudar você a se


compreender. Alguém que pode te ajudar a transformar o seu jeito de ser, a mudar e
a se conhecer profundamente. Esta travessia pode mudar completamente a sua
vida.

O VÍNCULO NA PSICOTERAPIA

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http://www.centrinho.usp.br

A base de uma boa terapia está na relação terapêutica. A boa terapia se


desenrola num enquadre clínico (ambiente pré-definido) com um clima terapêutico
favorável. Aí está um dos segredos desta arte: criar um ambiente que permita a
revelação dos mundos internos e favoreça o desenvolvimento do processo singular
de cada um. Neste clima é possível que o ser mais oculto e amedrontado se mostre,
seja ouvido, transforme-se, que o processo formativo possa prosseguir formando
vida.

O ser humano nasce, cresce e vive em ambientes vinculares. Destes


ambientes emocionais depende seu bem-estar e suas realizações na vida. Os
problemas vinculares - da primeira infância à terceira idade - afetam profundamente
a capacidade que as pessoas têm de amar, trabalhar e viver. A psicoterapia é um
espaço para se esclarecer e transformar estas dificuldades vinculares. E este
processo ocorre através de uma relação saudável com um profissional eticamente
comprometido e tecnicamente qualificado.

POR QUE A PSICOTERAPIA FUNCIONA?

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bp0.blogger.com/.../mSnJf2Dk2Xg/s320/afeto.jpg

É comum a desconfiança nos processos terapêuticos. Pela própria história


da Ciência, exigindo uma quantificação, para que se legitime, fica mais difícil
acreditar em um saber profissional que lide com a subjetividade. No entanto, as
pesquisas, de caráter científico ou não, têm demonstrado uma grande eficácia da
psicoterapia. Mesmo as recentes tecnologias de mapeamento cerebral têm permitido
demonstrar como o tratamento psicológico age, transformando o funcionamento
cerebral. A eficácia que vinha se demonstrando há muitos anos têm sido
corroborados recentemente pelos novos conhecimentos das neurociências.

Pela complexidade do tema existem centenas de livros e pesquisas


explorando e explicando porque a psicoterapia funciona. Mesmo assim, como
simples exercício de compreensão, vamos listar alguns motivos para explicar a
efetividade da psicoterapia, dos mais simples aos mais complexos.

No início da lista, como num continuum, temos aqueles motivos que são
comuns a outras relações de ajuda, mesmo não profissionais, como uma conversa
íntima com um amigo, uma conversa sobre um problema pessoal com um professor,
um médico, etc. Avançando na lista vamos chegando aos motivos que são mais
comuns na psicoterapia até aqueles que são exclusivos da psicoterapia - possíveis
pelo cuidadoso treinamento teórico e técnico adquirido pelo psicólogo em sua
trajetória de formação profissional. Eis o continuum com alguns motivos pelos quais
a psicoterapia funciona:

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1 É fundamental ter alguém em quem confiar e com quem se possa dividir o
peso do problema que se vivencia. Compartilhar auxilia sobremaneira a aliviar a
carga emocional e conseqüentemente se sofre menos. Além disso, terá ao lado um
profissional capaz de escutar e de guardar sigilo, além de não alimentar
preconceitos e cobranças muitas vezes moralistas;

2 Provavelmente formarão um vínculo afetivo e o próprio vínculo tem um


poder de cura. É mais fácil superar muitas dores através de uma relação autêntica
de respeito mútuo do que sozinho. A relação terapêutica é uma relação de ajuda, de
compreensão e apoio.

3 A psicoterapia é um ponto obrigatório para se parar e pensar na própria


vida. Ao parar para um momento de reflexão, são revistos valores e projetos futuros.
Parar, observar e refletir permite muitas mudanças de orientação, sentido, rumo e
aprofundamento da experiência de vida. A vida não consiste apenas em produzir,
mas em ser feliz. Este deve ser o verdadeiro sentido da vida.

4 O psicólogo clínico (psicoterapeuta) é outro, com o olhar e a perspectiva


de um outro, o que lhe ajudará ver a sua vida de um modo diferente, lhe fazer
perguntas diferentes, ajudá-lo a perceber as coisas de um ângulo que você não
tinha visto antes e nem suspeitava ser possível.

5 O psicoterapeuta conhece teorias psicológicas que ajudam na


compreensão do que ocorre com o ser humano, auxiliam na identificação do que
pode estar errado em sua vida, a direção na qual você está seguindo e as mudanças
de rumo necessárias. A partir de seu conhecimento o psicólogo pode apontar - O
que olhar? Como olhar? O que fazer com o que se descobre? Para que estas
descobertas possam ser construtivas em sua vida.

6 O psicoterapeuta conhece métodos de investigação que tornam possível


descobrir aspectos da sua personalidade que seriam inacessíveis a uma observação
não treinada. Há um amplo repertório de técnicas de investigação da personalidade
que permitem esclarecer problemas de modo extremamente eficaz.

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7 O psicoterapeuta domina técnicas terapêuticas que permitem realizar
mudanças profundas na existência.

8 O psicoterapeuta está preparado para compreender você a partir do


vínculo que você estabelece com ele, das respostas emocionais que você suscita
nele. Em seu treinamento ele afinou a si mesmo como instrumento de trabalho para
reconhecer pequenas nuances do que você mostra na relação com ele (e
conseqüentemente com os outros) e assim poder compreender seus modos de
vinculação e suas dificuldades em relacionamentos.

9 O psicoterapeuta é capaz de oferecer uma presença autêntica no vínculo


com você. Esta relação funciona como catalisador de processos de mudança
necessários em sua vida, incluindo a superação dos efeitos de traumas de
relacionamentos anteriores.

10 O psicoterapeuta passou por todos estes passos anteriores, tendo estado


em todos os papéis, como cliente, como profissional e como observador. O que o
habilita a "sentir-se em casa" em situações difíceis e poder caminhar por terrenos
inóspitos, cheios de sofrimento e problemas emocionais e saber o melhor caminho a
seguir.

Certamente esta lista poderia ser estendida, mas o que se pretende é


apenas oferecer uma idéia do trabalho da Psicologia Clínica numa linguagem
diferente daquela do universo teórico, técnico e científico habitual na Psicologia.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

http://stelladauer.files.wordpress.com/2006/11/virgem.jpg

Quero parabenizá-lo por ter chegado até aqui, ao final do curso. Você
conheceu as linhas básicas da Psicologia científica e de como ela funciona, de
forma mais específica sobre a Psicologia Clínica.

Em muitos momentos, o trabalho deste profissional em muito se assemelha


ao trabalho do psiquiatra e atualmente do filósofo clínico e não raro o psicólogo é

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convidado a integrar uma equipe. Com competência, atualização constante, uma
paixão incomensurável pelo ser humano, capacidade mais para calar, do que para
falar. Para observar, analisar, interpretar e muita humildade são pré-requisitos para
quem quer atuar nesta área.

Necessita-se de muita disposição para trabalhar, sem horários fixos e


disposição para dedicar-se, horas a fio, a analisar casos, avaliar testes, redefinir
linhas de ação... Por fim, para quem se apaixonou pelo que leu. Aconselho que
procure uma boa faculdade de Psicologia, que disponibilize do Curso de Formação
(Única modalidade que dá direito a clinicar) e faça a graduação, ponto de partida da
carreira profissional.

Lembre-se: O psicólogo está em constante formação e deve se comportar


como estudante sempre, jamais como dono de um saber acabado, pronto. De
certeza, apenas uma: A Psicologia é a profissão mais complexa, mais difícil e mais
fascinante que existe! Ame-a ou deixe-a! Sucesso a todos!

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GLOSSÁRIO

ANAMNESE: do Gr. anámnesis, lembranças. f., Ret., Recordação do que


se finge esquecido; reminiscência; recordação. Na área de saúde, trata-se de um
levantamento do histórico do paciente, direcionado e de acordo com os objetivos
traçados pelo profissional. Faz parte do levantamento diagnóstico.
CONTRATRANSFERÊNCIA: Reações inconscientes e não racionais do
psicoterapeuta, em relação às atuações transferenciais do paciente.
NOSOGRAFIA: do Gr. nósos, moléstia + graph, r. de gráphein, descrever. s.
f., descrição ou classificação metódica das doenças, segundo as suas
características.
OBJETAL: Referente a “objeto”, alvo de vínculo afetivo.
PSICODIAGNÓSTICO: Fase anterior à psicoterapia, propriamente dita, na
qual são investigadas as queixas do paciente, analisando-as a fundo, ao tempo em
que se verifica se há algum tipo de transtorno mental ou psicológico. Corresponde
às dez primeiras sessões, em média, a depender dos objetivos do caso.
ROLLYPLAYS: Refere-se ao momento sensível ou tempo sensível.
SETTING: Diz-se do momento da sessão e dos papéis ali representados.
Refere-se ao momento atemporal e não ao tempo cronometrado. Para tempo de
relógio (De 45min à 1h), local, forma, pagamento, contrato de acompanhamento
psicológico, denomina-se “enquadre”. São os acordos feitos normalmente na
primeira consulta.
TESTAGEM: Termo utilizado em qualquer tipo de pesquisa de saúde que
envolva experimentos com grupos-teste e grupo-controle.
TRANSFERÊNCIA: Atuações inconscientes durante a sessão psicológica. É
quando ele “representa um papel”.

-----------FIM---------

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AN02FREV001/REV 4.0

67
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação

CURSO DE
TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL

Aluno:

AN02FREV001/ REV 3.0

125
EaD - Educação a Distância Portal Educação

CURSO DE
TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

AN02FREV001/ REV 3.0

126
3.13 Relação Terapêutica

A relação terapêutica é à base de uma boa terapia, pois a boa terapia se


desenrola num enquadre clínico com um vínculo que favoreça esse processo, com
essa junção de extrema relevância para o processo fluir de forma harmoniosa entre
terapeuta e cliente.
Quando há uma boa relação terapêutica, cria-se um ambiente que permita a
revelação do interior desse sujeito e favorece assim o desenvolvimento do processo
singular de cada um, assim o que está mais oculto se mostra, permitindo que o
processo aconteça.
Uma sólida relação terapêutica é a condição necessária para uma TCC
efetiva. Algumas questões ou atributos como empatia, interesse genuíno, calor
humano, autenticidade, devem estar presentes em todo terapeuta cognitivo. E essa
relação que se estabelecerá será vista como um esforço colaborativo entre
terapeuta e paciente.
Juntos, terapeuta e cliente estabelecem os objetivos da terapia e cada
sessão, prazo e duração do contrato terapêutico, os sintomas-alvo, as tarefas, etc.,
ficando clara a participação ativa do paciente em seu processo de mudança.

 Função da Relação Terapêutica

Muitos autores concordam em dizer que a terapia tem como função básica,
promover mudanças comportamentais que visam diminuir o sofrimento do paciente e
aumentar as contingências reforçadoras, e isso, pode acontecer de duas maneiras:

 Por intermédio do uso de alguns procedimentos, técnicas, instruções,


etc.;
 Mediante a relação estabelecida entre terapeuta e cliente, que como já
vimos é muito importante.

AN02FREV001/ REV 3.0

127
Segundo Skinner (1953), a terapia tem como função primordial reduzir os
efeitos gerados por punição.
Kohlenberg e Tsai (1987) e Rosenfarb (1992), completaram as suposições
de Skinner afirmando que um cliente também pode buscar ajuda porque suas
relações interpessoais apresentam-se insatisfatórias e as fontes de reforço não são
suficientes.
Pode-se conceituar relação terapêutica como uma oportunidade para que o
cliente emita comportamentos que lhe têm trazido problemas e a partir da interação
com o terapeuta, aprender formas mais efetivas de respostas.
Lettner (1998) aponta que o sucesso da terapia está diretamente ligado à
qualidade da relação terapêutica, negligências nessa relação podem levar ao
fracasso do tratamento.
Outro fator importante é a percepção do cliente sobre essa relação, em que
sendo vista de forma positiva está relacionada à efetividade do tratamento.
Um resultado terapêutico satisfatório origina-se em parte, de características
pessoais do terapeuta, de acordo com Lettner (1998) e Casullo (1999):

 Postura empática;
 Compreensão;
 Aceitação desprovida de julgamentos;
 Autenticidade;
 Autoconfiança;
 Flexibilidade na aplicação das técnicas;
 Terapeutas avaliados como calorosos, amigáveis, comprometidos,
tolerantes e interessados são aqueles que têm maior sucesso nos resultados do
tratamento;

Pesquisas mostram alguns comportamentos considerados relevantes no


tratamento:

 Altas taxas de comportamentos gestuais do terapeuta;

AN02FREV001/ REV 3.0

128
 Grande número de verbalizações do terapeuta e do cliente referentes a
eventos privados;
 Elementos advindos da história de vida do terapeuta;
 Opção sexual entre terapeuta e cliente;
 Questões socioeconômicas;
 Postura diretiva por parte do terapeuta acarreta resistência;
 Terapeutas experientes são mais bem avaliados pelos clientes do que
iniciantes.

Citaremos agora algumas habilidades terapêuticas que merecem especial


atenção durante um processo terapêutico:

 Habilidades Empáticas;
 Habilidades Verbais;
 Habilidades Não verbais;

Agora veremos algumas habilidades de observação, que devem ser


consideradas durante a sessão terapêutica, pois trarão muitas respostas as
perguntas do terapeuta:

 Habilidades dos Sentidos

o VISÃO: Olhar Clínico – Observação;


o AUDIÇÃO: Escuta-Ativa;
o TATO: Cinesiologia (Hipercinesia e Hipotensão);
o FALA: Consecução de fatos, Repetições, Erros, Parafraseamento, etc.
 Instrumentos de avaliação da relação terapêutica

Há dois principais conjuntos de instrumentos de avaliação da relação


terapêutica:

 1º conjunto:

AN02FREV001/ REV 3.0

129
Vários tipos de questionários, escalas e listas de avaliação respondida, ora
por clientes, ora por terapeutas, ora por ambos;
 2º conjunto:
Baseia-se na observação das sessões de terapia, incluindo observações de
videotipes.
A pesquisa clínica ocorre com frequência em ambiente experimentalmente
não controlado e deve ser feita de modo a não interferir na interação terapeuta -
cliente, o pesquisador é o terapeuta, e a observação ocorre de forma menos neutra,
já que o próprio terapeuta contribui continuamente para ela.
Três tipos de perguntas de pesquisas podem ser formuladas com relação ao
processo terapêutico:
 Um tipo de questão geral:
Este tipo de questão permite a elaboração de dados por manipulação
experimental;
 Dada certa consequência, de que operações e sob quais condições
podem levar à determinada consequência?
 Dada uma condição ou problema, que operação pode levar a
determinada consequência?

Assim segundo Lettner (1998) e Casullo (1999), foram elaboradas algumas


recomendações de pesquisas necessárias de como:
 Elucidar fatores comuns e únicos entre as várias escolas de terapia;
 Esclarecer os diferentes tipos de alianças;
 Determinar se o estilo de personalidade ou o nível do sofrimento
afetam o papel que a aliança pode representar na mediação de mudanças positivas
em terapia, entre outras.

As características que mais fortemente discriminam a avaliação


comportamental da não comportamental que as classificaram quanto aos seus
objetivos, focos, metas, estratégias, inferências, suposições sobre causalidade e
propriedades dos comportamentos-problemas são variáveis observáveis em
oposição a variáveis ou eventos intrapsíquicos da avaliação não comportamental e,

AN02FREV001/ REV 3.0

130
também, a busca de relações funcionais envolvendo variáveis de estímulos e de
respostas, quando se referiam ao foco das avaliações.
Outro fator importante é a escolha do instrumento, que também deve seguir
critérios que sejam compatíveis ao referencial teórico da abordagem, não havendo
como um terapeuta cuja abordagem é comportamental ou cognitiva utilizar um
instrumento cuja fundamentação teórica encontra-se respaldada na teoria tradicional
de personalidade.
A avaliação é utilizada pela maior parte dos profissionais com a finalidade de
diagnóstico e ao final de cada intervenção servindo de base para avaliação da
prática do profissional.
Assim segundo Matos (1999) é característico do psicólogo
comportamental/cognitivo, visto que não fecha o diagnóstico inicialmente, rever a
cada intervenção os objetivos e as hipóteses de avaliação, sendo novamente
avaliados para uma intervenção futura.
Alguns instrumentos como as entrevistas são as estratégias/instrumentos
utilizadas com maior frequência na avaliação.
Desse modo, pode-se supor que tais profissionais deveriam seguir o que
preconizam os pressupostos da avaliação cognitivo-comportamental, são
características acentuadamente divergentes em relação à avaliação tradicional. A
ênfase estaria no estabelecimento de relações funcionais ao invés de causais, nas
quais o comportamento-problema seria entendido com base nos princípios da
aprendizagem social e da análise experimental do comportamento, e não na teoria
tradicional da personalidade.

 Checklist de habilidades terapêuticas

Veremos agora algumas habilidades terapêuticas que o profissional deve ter,


segundo Rangé (2001). O terapeuta deve se questionar se realmente está
alcançando o que se propõe um terapeuta dessa linha e checar suas habilidades
terapêuticas:

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131
 O terapeuta preparou uma agenda para sessão? O terapeuta cognitivo
deve se antecipar e planejar a sessão para que não se perca;

 Os itens eram específicos e orientados para o problema?

 Foram estabelecidas prioridades? Geralmente escolhe-se ou inicia-se


trabalhando os problemas menos graves.

 A agenda foi adequada ao tempo?

 O terapeuta cobriu a maioria dos itens da agenda?

 O terapeuta foi flexível para incluir temas relevantes que apareceram


na sessão? Deve-se ter bastante atenção para não perder o foco do problema e ter
cuidado se o paciente traz sempre um problema novo.

 Soube limitar temas não pertinentes? (eram mesmo não pertinentes?).


Deve-se ter bastante atenção com o teor emocional, cognitivo que o paciente nos
traz, escutar bem, perguntar, questionar e podar o que não é necessário;

 Identificou os problemas específicos e centrais a serem enfocados?


Observar sempre os problemas gerais e centrais, atentando-se ao que está
atrapalhando o cliente nesse momento;

 Estes problemas eram apropriados para serem tratados nesse


momento? Deve-se escolher o problema mais emergencial nesse momento para o
paciente.

 Concentrou-se em apenas um ou dois (sem ficar pulando entre vários)?


Deve-se focar o problema que vai ser trabalhado.

 Soube fazer perguntas abertas para obter dados relevantes? Deve-se


ter cuidado para não induzir o paciente por meio das perguntas.

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132
 O terapeuta fez resumos periódicos para verificar sua compreensão e
sintonia? Deve-se sempre fazer resumos quando tiver histórias confusas, com
muitas pessoas, para verificar se o que estamos entendendo é correto.

 O terapeuta ofereceu feedback?

 Ele solicitou feedback (sobre a sessão atual, em momentos da sessão


atual e sobre a sessão anterior)? Nesses casos se o paciente não estiver
conseguindo raciocinar sobre este feedback, uma saída seria usar a descoberta
orientada.

 Solicitou sugestões e opções? Sempre perguntar para o cliente se ele


tem alguma sugestão ou proposta para resolver aquela situação.

 Entremeou resumos, exemplos, reflexões e espelhamento? Tentar


mostrar para o cliente situações de ganhos, mudanças que ele conseguiu alcançar e
tudo que pode está se transformando na sua vida depois da terapia.
 Foi socrático? Fez perguntas e questionamentos para mostrar
incongruência no pensamento do paciente? Deve-se fazer o paciente pensar,
questionar, perguntar, e nunca se deve dar respostas ao paciente. Caso o terapeuta
seja ansioso, deve este trabalhar isso para que não atropele as informações que o
paciente traz e possa pontuar na hora certa.

 Fez perguntas para ajudar o paciente a explorar sentimentos acerca de


um problema? Nesse caso busca-se primeiro trabalhar com questões racionais e
depois entra nas emocionais.

 Fez perguntas para examinar alternativas de solução de um problema?


Muitas vezes acontece do paciente não ver soluções para seus problemas, nesse
caso muda-se a situação (distração) e depois retorna.

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133
 Fez perguntas para examinar consequências positivas ou negativas de
alguma ação proposta? Deve-se trazer consciência ao problema.

 Explicou a lógica da técnica utilizada? Sempre explicar a técnica e o


que objetiva alcançar com ela, sempre mantendo o contato com os olhos e
passando segurança.

 Fez um resumo sobre os progressos alcançados na sessão? Deve-se


sempre que puder fazer um reforço.

 Explicou a lógica de usar trabalhos para casa?

 Revisou o trabalho de casa da sessão anterior?

 Resumiu os progressos alcançados com o trabalho de casa?

 Estabeleceu novos trabalhos de casa?

 O trabalho de casa foi apropriado aos problemas identificados e


tratados na sessão?

3.14 Componentes Relevantes para se chegar ao problema

Existem cinco componentes relevantes, segundo Greenberger (1999), para


qualquer problema:

 Aspectos ambientais ou situacionais;


 Reações físicas;
 Estados de humor;
 Comportamentos;
 Pensamento

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134
Cada um dos cinco componentes, afeta e interage com os demais, assim
pequenas mudanças em qualquer desses aspectos podem acarretar mudanças nos
demais.
Podemos perceber que é muito importante identificar esses componentes,
pois essa identificação nos ajudaria a direcionar as áreas de mudança.
Citaremos agora alguns questionamentos que nos ajudaria a identificar
esses componentes, de acordo com Greenberger (1999):

MUDANÇAS AMBIENTAIS OU SITUAÇÕES DE VIDA:

o Ultimamente, tenho experimentado qualquer mudança?


o Quais foram os eventos mais estressantes para mim no último ano?
o Nos últimos três anos?
o Cinco anos?
o Na minha infância?
o Estou passando por quaisquer dificuldades duradouras ou atuais
(incluindo ser discriminado ou molestado por outros)?

REAÇÕES FÍSICAS:

o Tenho quaisquer sintomas físicos que me incomodam, tais como


mudanças em nível de energia, apetite e sono, bem como sintomas específicos, tais
como flutuações no ritmo cardíaco, dores de estômago, sudorese, tontura,
dificuldades respiratórias ou dor?

HUMOR:

o Que palavras isoladas descrevem meus estados de humor (triste,


nervoso, raivoso, culpado, envergonhado, etc.)?

COMPORTAMENTO:

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135
o Que coisas eu faço que gostaria de mudar ou melhorar?
o No trabalho?
o Em casa?
o Com amigos?
o Em mim mesmo?
o Evito situações ou pessoas quando estou envolvido poderia ser
vantajoso para mim?

PENSAMENTOS:

o Quando tenho estados de humor fortes, que pensamentos têm a


respeito de sua própria pessoa?
o Sobre outras pessoas?
o Meu futuro?
o Quais pensamentos interferem na realização de coisas que eu gostaria
de fazer ou acho que deveria fazer?
o Quais imagens ou lembranças me vêm à mente?

EXERCÍCIO

Mudanças
ambientais
Situações de Vida
Reações físicas

Humor

Comportamento

Pensamentos

FONTE: Greenberger (1999)

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136
3.15 A TCC e a família

De acordo com Datillio (2004), a Terapia Familiar nas abordagens cognitivo-


comportamentais centra-se na análise detalhada dos conflitos cotidianos que podem
levar a ruptura da relação, bem como do funcionamento e manutenção de
problemáticas geradoras de interações disfuncionais. Essas problemáticas podem
variar muito de família para família, abaixo alguns exemplos:

 Déficits em habilidades de comunicação;


 Resolução de problemas;
 Excessos de comportamentos negativos;
 Déficits de comportamento positivo entre casais e membros familiares;
 Déficits e excessos na experiência e expressão de emoções.

AVALIAÇÃO INICIAL:

Objetivos

 Convocar maior número possível de familiares, envolverem os que estão


mais motivados a participar e trabalhar com estes no sentido de atrair os que estão
ausentes no processo;
 Extrair a queixa e a percepção de cada membro da família;
 Investigar toda a história familiar (eventos positivos e negativos);
 Explorar a demanda apresentada com as características de cada família e
dinâmica dos relacionamentos, ou seja, tentar perceber o que acontece com o
paciente em meio a sua família;
 Trabalhar com recursos utilizados para lhe dar com a situação e os fatores
que favorecem o seu uso;
 Tentar entender o interesse do grupo em seu conjunto;

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137
 Coletar informações sobre as cognições, reações emocionais e
comportamentais dos familiares e entre si, no sentido de formular hipóteses, as
quais vão sendo testadas nas sessões subsequentes;

Instrumentos utilizados:

 Entrevista individual e grupal com membros da família;


 Questionários de descrição pessoal;
 Inventários;
 Observação comportamental das interações familiares.

Intervenções terapêuticas:

 Trabalhar nas intervenções as principais questões apresentadas,


pressões de vida e estressores que produzem dificuldades de adaptação, padrões
construtivos e problemáticos de macronível em suas interações que parecem estar
influenciando os problemas presentes;
 Considerar as mudanças advindas com a terapia e como isso afetará a
homeostase ou equilíbrio da família.

Modelo terapêutico:

 Educar a família e o paciente ao modelo Cognitivo-comportamental:


estrutura e natureza colaborativa da abordagem, princípios e métodos envolvidos;
 Tarefas de Casa;
 Sessão Terapêutica: agenda, regras básicas de comportamento dos
familiares dentro e fora das sessões (revelar segredos para o terapeuta que não
podem ser revelados aos demais, participam de todos nas sessões,
comportamentos verbais e físicos agressivos são inaceitáveis;

Intervenções terapêuticas:

Modificando distorções cognitivas e extremadas

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 Identificar pensamentos automáticos: observar padrões de
pensamentos associados a reações emocionais e comportamentais negativas dos
membros consigo mesmo;
 Identificar distorções cognitivas: leitura de pensamentos,
hipergeneralização, maximização e minimização, personalização e pensamento
dicotômico;
 Reestruturar pensamentos automáticos: identificar distorções em seu
modo de pensar e analisar alternativas e verificar as alterações das reações
emocionais e comportamentais de si e de outros membros (evidencias?
alternativas? informações adicionais?);
 Verificando e modificando regras, pressupostos e crenças nucleares
(seta descendente – “e se acontece o que acarretaria?”);

Intervindo com experiências comportamentais

 Testar as previsões de que determinadas ações acarretarão certas


respostas dos outros membros;
 Uso de role-play no sentido de despertar reações disfuncionais em
interações familiares no setting terapêutico – interação in vivo;
 Troca de papéis no sentido do outro compreender melhor a situação
vivenciada pelo membro;
 Cuidado com técnica de imagens!

Modificando padrões comportamentais

 Treinamento em comunicação (escuta e expressão);


 Treinamento em resolução de problemas;
 Acordos para mudança de comportamento;
 Intervenção para déficits e excessos de reações emocionais;

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Pelo o que tem se encontrado na literatura, observa-se que a abordagem
cognitivo-comportamental na terapia familiar têm-se concentrado mais no tratamento
de determinados transtornos em membros individuais, mas do que no alívio do
conflito e da disfuncionalidade geral da família.
Algumas informações são utilizadas em conflitos familiares em função de
transtornos de condutas dos filhos, TDAH, Esquizofrenia, Transtorno Bipolar,
Drogadição, Alzheimer como a psicoeducação sobre a etiologia, sintomas e fatores
de risco, atuais tratamentos eficazes, treinamento de capacidade de comunicação e
resolução de problemas, manejo de recaídas e crises;

3.16 Mitos Equivocados sobre Terapia Cognitiva

Knapp (2004) é um dos autores que cita com exatidão alguns mitos que são
confundidos com a teoria da terapia cognitiva. Citaremos as 14 concepções
equivocadas que este autor frisou em seu livro:

 1. Muitas pessoas pensam ou falam que a Terapia Cognitiva é


baseada no poder do pensamento positivo.
Pode-se dizer que não seria bem o pensamento positivo, mas sim baseada
no poder do pensamento realista, pois pensamentos demais irrealistamente
otimistas podem ser tão prejudiciais e mal-adaptativos quanto uma visão
irrealistamente negativa.
O seu objetivo não é fazer com que o paciente tenha só pensamento
positivo, pois isso seria um equívoco, mas o correto seria corrigir os pensamentos
distorcidos ou disfuncionais, promovendo formas mais adaptativas de lidar com os
problemas reais.

 2. A teoria cognitiva de psicopatologia propõe que os pensamentos


negativos distorcidos causam a psicopatologia.
Essa proposição seria incorreta, pois existem outros fatores que influenciam
também a psicopatologia. Sabemos que embora os pensamentos distorcidos façam
parte do ciclo vicioso da psicopatologia, Knapp (2004) afirma que eles não são o

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140
único fator importante, temos outras questões que influenciam fortemente a
psicopatologia, as quais seriam os desequilíbrios bioquímicos, os eventos de vida e
as relações interpessoais são elementos que interagem conjuntamente, formando a
psicopatologia.

 3. Muitos dizem que a Terapia Cognitiva é simples e apenas utiliza o


senso comum.
Seria isso mesmo? O senso comum pode ser utilizado na terapia cognitiva,
mas na maior parte do tempo, terapeuta e paciente tem muito trabalho em des-
vendar as interações cognitivo-afetivo-comportamentais do paciente, que por sinal
são muito complexas.

 4. A TC convence as pessoas a sair dos seus problemas.


Esse tipo de terapia não trabalha convencendo ou argumentando o paciente
do que ele tem que fazer. Aqui o terapeuta guia o paciente para que ele próprio faça
descobertas, ao observar criticamente suas distorções, e assim trabalha as
resistências e estimula o desenvolvimento de habilidades necessárias para
futuramente analisar por si mesmo seus problemas.

 5. A TC ignora as emoções.
Sabemos que nesse modelo as cognições são o alvo principal, mas se
trabalha sim as emoções. Knapp (2004) diz que por vezes, a forma mais adequada
de examinar os pensamentos é pelas emoções.

 6. A meta da TC é eliminar as emoções.


Sua meta não é eliminar as emoções e sim ajustar a emoção à situação e
ajudar o paciente a ser capaz de se adaptar com a emoção, regular as reações
emocionais exageradas.

 7. A TC é a aplicação de uma variedade de técnicas.


A terapia cognitiva desenvolveu uma ampla variedade de técnicas
específicas e também as emprestou livremente de outras terapias. Mas que fique
claro que cada caso é um caso, e o terapeuta não deve se focar apenas em

AN02FREV001/ REV 3.0

141
técnicas, pois não será de forma alguma eficaz.

 8. A terapia cognitiva ignora o passado e se interessa apenas pelo


presente.
Quando necessário é investigado sim o passado, mesmo porque muitos
detalhes só se chegam a eles quando há essa volta ao passado. Só que nesse
método é possível resolver os problemas focalizando primariamente o presente e
segundo Dattilio (1992) o foco não é tanto o que foi, mas o que é e o que mantém ou
reforça o comportamento disfuncional.

 9. A TC é superficial.
A Terapia cognitiva pode trabalhar mais superficialmente e mais
profundamente ou mais profundamente, isso vai depender do objetivo do indivíduo
e dos problemas a serem tratados, sendo o paciente a tomar a decisão final sobre o
grau de mudança que quer atingir.

 10. A relação terapêutica não é importante na Terapia Cognitiva.


Concepção muito errada sobre esse modelo, a relação é muito importante,
sem ela o método colaborativo não anda.

 11. A TC tem um limite de 15 a 25 sessões ou menos.


A TC tende a obter resultados terapêuticos relativamente rápidos, mas a
duração do tratamento depende da natureza dos problemas do paciente e seu nível
de motivação para aprofundar o entendimento de suas questões, então o que
podemos concluir é que ela pode variar de algumas sessões até vários anos.

 12. Fazer TC significa não usar medicação.


Em muitas situações o paciente só poderá fazer um tratamento cognitivo
quando estiver medicado, em especial nas depressões graves, no transtorno
bipolar, em psicoses e mesmo nos transtornos de ansiedade mais debilitantes,
como cita Knapp (2004). Assim, podemos dizer que ela é compatível com os
medicamentos e pode ser um complemento à psicofarmacoterapia, e vice-versa.

AN02FREV001/ REV 3.0

142
 13. A TC é apropriada apenas para pessoas articuladas, com boa
capacidade intelectual.
Segundo o autor seria mais fácil trabalhar com pacientes com boa
capacidade de raciocínio, com sólida formação educacional, alguns conhecimentos
psicológicos e motivação para o tratamento, mas também não quer dizer que
qualquer pessoa de qualquer nível intelectual ou classe social possa ser trabalhada,
tem-se apenas que adaptar de forma mais simples aquela pessoa. E segundo Beck
(1995) pesquisas já demonstraram que esse modelo é efetivo para pacientes com
diferentes níveis de escolaridade, renda e cultura. Ela precisa apenas ser adaptada
as necessidades das pessoas.

 14. A TC não é eficaz em pacientes com transtornos mentais graves.


Ela pode sim ser usada de forma eficaz para pacientes com transtornos
mentais graves, mesmo hospitalizados.

3.17 Recaídas

A prevenção de recaídas, ponto importante no tratamento, consiste em


ajudar o paciente a tornar-se ciente das situações de risco, a identificar sinais
indicadores de recaída e a desenvolver estratégias voltadas para lidar com as
situações de risco.
No tocante ao término da terapia, este deve estar pautado nos objetivos que
foram montados conjuntamente para nortear o tratamento. Alcançado os objetivos, e
feito o trabalho de prevenção de recaídas, terapeuta e paciente decidem ir
diminuindo o número de sessões e a periodicidade das mesmas:
“Se o paciente desejar, pode retornar ocasionalmente para sessões de
reforço. E, em qualquer momento, pode voltar ao tratamento para mais um conjunto
de sessões, a fim de abordar novas questões e aprofundar seu entendimento
cognitivo comportamental” (Knapp & cols, 2004, p.35).

3.18 Algumas resoluções referentes a atendimento psicoterápico

AN02FREV001/ REV 3.0

143
A. RESOLUCÃO CFP N° 002/95 DE 20 de fevereiro de 1995

Dispõe sobre prestação de serviços psicológicos por telefone.


O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições
legais e regimentais,
CONSIDERANDO análise efetivada pela Câmara de Orientação e
Fiscalização sobre anúncios publicados em jornais relativos a serviços tais como
Tele?Ajuda, Tele?Aconselhamento e similares;
CONSIDERANDO que a matéria tem sido objeto de consultas a este
Conselho Federal;
CONSIDERANDO finalmente que é atribuição do Conselho Federal de
Psicologia orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de psicólogo;
RESOLVE:
Art. 1º - Incluir a alínea "o" no Art. 02 do Código de Ética Profissional do
Psicólogo, Resolução CFP 002/87 de 15 de agosto de 1987 com a seguinte
redação:
Art. 2º - Ao Psicólogo é vedado:
1º) Prestar serviços ou mesmo vincular seu título de Psicólogo a serviços
de atendimento psicológico via telefônica".
Art. 2º - Caberá aos Conselhos Regionais fiscalizar, junto à categoria, a
observância do disposto na presente resolução.
Art. 3º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação,
revogando as disposições em contrário.
Brasília (DF), 20 de fevereiro 1995

B. Resolução CFP Nº 003/2000 de 25 de Setembro de 2000


Regulamenta o atendimento psicoterapêutico mediado por computador.
Esta resolução foi alterada e revogada. Veja a Resolução CFP Nº 012/2005
de 18 de agosto de 2000.

AN02FREV001/ REV 3.0

144
C. Resolução CFP N.º 010/2000 de 20 de dezembro de 2000

Especifica e qualifica a Psicoterapia como prática do Psicólogo.


O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições
legais e regimentais, que lhe são conferidas pela Lei nº 5.766, de 20 de dezembro
de 1971 e;
CONSIDERANDO a natureza pública do Conselho Federal de Psicologia,
da qual decorre tanto a necessidade de aprimorar os serviços técnicos dos
psicoterapeutas, quanto a defesa da população usuária desses serviços e do
cidadão e;
CONSIDERANDO o disposto no art. 2º, alíneas “e” e “n” do Código de Ética
Profissional do Psicólogo, que veda ao psicólogo utilizar-se do relacionamento
terapêutico para induzir a pessoa atendida à convicção religiosa, política, moral ou
filosófica, bem como estabelecer com a mesma, relacionamento que possa interferir
negativamente nos objetivos do atendimento ou qualquer outro que viole princípios
técnicos, éticos ou científicos.

RESOLVE:
Art. 1º – A Psicoterapia é prática do psicólogo por se constituir, técnica e
conceitualmente, um processo científico de compreensão, análise e intervenção que
se realiza através da aplicação sistematizada e controlada de métodos e técnicas
psicológicas reconhecidos pela ciência, pela prática e pela ética profissional,
promovendo a saúde mental e propiciando condições para o enfrentamento de
conflitos e/ou transtornos psíquicos de indivíduos ou grupos.
Art. 2º - Para efeito da realização da psicoterapia, o psicólogo deverá
observar os seguintes princípios e procedimentos que qualificam a sua prática:
I. Buscar um constante aprimoramento, dando continuidade à sua
formação por meio de centros especializados que se pautem pelo respeito ao campo
teórico, técnico e ético da psicologia como ciência e profissão;
II. Pautar-se em avaliação diagnóstica fundamentada, devendo, ainda,
manter registro referente ao atendimento realizado: indicando o meio utilizado para
diagnóstico, ou motivo inicial, atualização, registro de interrupção e alta;

AN02FREV001/ REV 3.0

145
III. Esclarecer à pessoa atendida o método e as técnicas utilizadas,
mantendo-a informada sobre as condições do atendimento, assim como seus limites
e suas possibilidades;
IV. Fornecer, sempre que solicitado pela pessoa atendida ou seu
responsável, informações sobre o desenvolvimento da psicoterapia, conforme o
Código de Ética Profissional do Psicólogo;
V. Garantir a privacidade das informações da pessoa atendida, o sigilo e a
qualidade dos atendimentos;
VI. Estabelecer contrato com a pessoa atendida ou seu responsável;
VII. Dispor, para consulta da pessoa atendida, de um exemplar do Código
de Ética Profissional do Psicólogo, no local do atendimento.
Art. 3º - Os casos omissos serão resolvidos pelo Plenário do CFP.
Art. 4° - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 5° - Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília (DF), 20 de dezembro de 2000.


ANA MERCÊS BAHIA BOCK
Conselheira-Presidente

D. RESOLUÇÃO CFP Nº 010/2003 de 14 de Junho de 2003

Altera a Resolução CFP N° 003/2000. Esta resolução foi revogada. Para


acessar a nova resolução veja Resolução CFP Nº 012/2005 de 18 de agosto de
2005.

E. RESOLUÇÃO CFP Nº 012/2005 DE 18 DE AGOSTO DE 2005

Regulamenta o atendimento psicoterapêutico e outros serviços


psicológicos mediados por computador e revoga a Resolução CFP N° 003/2000.
O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições
legais, estatutárias e regimentais,
CONSIDERANDO que, de acordo com o Código de Ética Profissional do
Psicólogo é dever do psicólogo prestar serviços psicológicos de qualidade, em

AN02FREV001/ REV 3.0

146
condições de trabalho dignas e apropriadas à natureza desses serviços,
utilizando princípios, conhecimento e técnicas reconhecidamente fundamentados
na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional;
CONSIDERANDO que, de acordo com o Código de Ética Profissional do
Psicólogo, é dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger,
por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou
organizações, a que tenha acesso no exercício profissional;
CONSIDERANDO o disposto no Código de Ética Profissional do
Psicólogo sobre a realização de estudos e pesquisas no âmbito da Psicologia;
CONSIDERANDO o princípio fundamental do Código de Ética
Profissional do Psicólogo que determina que o psicólogo atuará com
responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional, contribuindo
para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e
de prática;
CONSIDERANDO as Resoluções do CFP n°. 10/97 e 11/97 que dispõem,
respectivamente, sobre critérios para divulgação, publicidade e exercício
profissional do psicólogo, associados a práticas que não estejam de acordo com
os critérios científicos estabelecidos no campo da Psicologia e sobre a realização
de pesquisas com métodos e técnicas não reconhecidas pela Psicologia;
CONSIDERANDO que os efeitos do atendimento psicoterapêutico
mediado pelo computador ainda não são suficientemente conhecidos nem
comprovados cientificamente e podem trazer riscos aos usuários;
CONSIDERANDO o encaminhamento do V CNP - Congresso Nacional da
Psicologia - de que o Sistema Conselhos de Psicologia deve continuar e
aprimorar a validação de sites que possam prestar serviços psicológicos pela
internet, de acordo com a legislação vigente, ainda que em nível de pesquisa;
CONSIDERANDO a importância de atestar para a sociedade os serviços
psicológicos que possuam respaldo técnico e ético;
CONSIDERANDO a decisão deste Plenário em 13 de agosto de 2005;

RESOLVE:

CAPÍTULO I - DO ATENDIMENTO PSICOTERAPÊUTICO

AN02FREV001/ REV 3.0

147
Art. 1o. O atendimento psicoterapêutico mediado pelo computador, por
ser uma prática ainda não reconhecida pela Psicologia, pode ser utilizado em
caráter experimental, desde que sejam garantidas as seguintes condições:
I. Faça parte de projeto de pesquisa conforme critérios dispostos na
Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde ou
legislação que venha a substituí-la, e resoluções específicas do Conselho Federal
de Psicologia para pesquisas com seres humanos em Psicologia;
II. Respeite o Código de Ética Profissional do Psicólogo;
III. O psicólogo que esteja desenvolvendo pesquisa em atendimento
psicoterapêutico mediado pelo computador tenha protocolo de pesquisa aprovado
por Comitê de Ética em pesquisa reconhecido pelo Conselho Nacional de Saúde,
conforme resolução CNS 196/96 ou legislação que venha a substituí-la;
IV. O psicólogo pesquisador não receba, a qualquer título, honorários da
população pesquisada, sendo também vedada qualquer forma de remuneração do
usuário pesquisado;
V. O usuário atendido na pesquisa dê seu consentimento e declare
expressamente, em formulário em que conste o texto integral desta Resolução, ter
conhecimento do caráter experimental do atendimento psicoterapêutico mediado
pelo computador, e dos riscos relativos à privacidade das comunicações inerentes
ao meio utilizado;
VI. Esteja garantido que o usuário possa a qualquer momento desistir de
participar da pesquisa, retirando a autorização, impedindo que seus dados até então
recolhidos sejam utilizados na pesquisa;
VII. Quando da publicação de resultados de pesquisa, seja mantido o sigilo
sobre a identidade do usuário e evitados indícios que possam identificá-lo;
VIII. O psicólogo pesquisador se compromete a seguir as recomendações
técnicas e aquelas relativas à segurança e criptografia reconhecidas
internacionalmente;
IX. O psicólogo pesquisador deverá informar imediatamente a todos os
usuários envolvidos na pesquisa, toda e qualquer violação de segurança que
comprometa a confidencialidade dos dados.
Art. 2º. O reconhecimento da validade dos resultados das pesquisas em
atendimento psicoterapêutico mediado pelo computador depende da ampla

AN02FREV001/ REV 3.0

148
divulgação dos resultados e reconhecimento da comunidade científica e não
apenas da conclusão de pesquisas isoladas.
Art. 3º. Os psicólogos, ao se manifestarem sobre o atendimento
psicoterapêutico mediado pelo computador, em pronunciamentos públicos de
qualquer tipo, nos meios de comunicação de massa ou na Internet, devem
explicitar a natureza experimental desse tipo de prática, e que como tal, não pode
haver cobrança de honorários.
Art. 4º. As disposições constantes na presente Resolução são válidas
para todas as formas de atendimento psicoterapêutico mediado por computador
realizado por psicólogo, independente de sua nomenclatura, como psicoterapia
pela Internet, ou quaisquer termos que designem abordagem psicoterapêutica
pela Internet, tais como psyberterapia, psyberpsicoterapia, psyberatendimento,
cyberterapia, cyberpsicoterapia, cyberatendimento, e-terapia, webpsicoterapia,
webpsicanálise, e outras já existentes ou que venham a ser inventadas. São
também igualmente válidas quando a mediação computacional não é evidente,
como o acesso à Internet por meio de televisão a cabo, ou em aparelhos
conjugados ou híbridos, bem como em outras formas possíveis de interação
mediada por computador, que possam vir a ser implementadas.
Art. 5º. As pesquisas realizadas sobre atendimento psicoterapêutico
mediado pelo computador deverão ser identificadas com certificado eletrônico
próprio para pesquisa, desenvolvido e conferido pelo Conselho Federal de
Psicologia, na forma de selo, número com hiperligação ou equivalente, a ser
incluído visivelmente nos meios em que são realizadas, como sites e páginas de
Internet e equivalentes.
I. Para efeito do disposto acima, o psicólogo responsável pela pesquisa,
que esteja regularmente inscrito em Conselho Regional de Psicologia e em pleno
gozo de seus direitos, dirigirá requerimento ao Conselho Regional de Psicologia via
site www.cfp.org.br/selo, com protocolo em que detalha a pesquisa da forma
padronizada recomendada pelo Conselho Federal de Psicologia e pela Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde, e após análise e constatada a regularidade
da pesquisa, será concedida a certificação eletrônica, devendo o psicólogo notificar
ao Conselho Regional de Psicologia toda eventual mudança de endereços
eletrônicos e de formatação da pesquisa realizada.

AN02FREV001/ REV 3.0

149
II. A hiperligação nos selos, números ou outra forma de certificado
eletrônico deverá remeter ao site do Conselho Federal de Psicologia ou Conselho
Regional de Psicologia onde conste o texto integral desta Resolução e outras
informações pertinentes a critério do Conselho Federal de Psicologia.

CAPÍTULO II - DOS DEMAIS SERVIÇOS PSICOLÓGICOS

Art. 6º. São reconhecidos os serviços psicológicos mediados por


computador, desde que não psicoterapêuticos, tais como orientação psicológica e
afetivo-sexual, orientação profissional, orientação de aprendizagem e Psicologia
escolar, orientação ergonômica, consultorias a empresas, reabilitação cognitiva,
ideomotora e comunicativa, processos prévios de seleção de pessoal, utilização
de testes psicológicos informatizados com avaliação favorável de acordo com
Resolução CFP N° 002/03, utilização de softwares informativos e educativos com
resposta automatizada, e outros, desde que pontuais e informativos e que não
firam o disposto no Código de Ética Profissional do Psicólogo e nesta Resolução,
sendo garantidas as seguintes condições:
I. Quando esses serviços forem prestados utilizando-se recursos de
comunicação on-line de acesso público, de tipo Internet ou similar, os psicólogos
responsáveis deverão ser identificados através de credencial de autenticação
eletrônica por meio de número de cadastro com hiperlink, hiperligação ou outra
forma de remissão automática, na forma de selo ou equivalente, desenvolvido e
conferido pelo Conselho Federal de Psicologia. Os selos, números ou outros tipos
de certificados eletrônicos conferidos trarão a identificação do ano de sua concessão
e prazo de validade, a critério do Conselho Federal de Psicologia. As hiperligações
ou remissões automáticas dos certificados eletrônicos concedidos deverão
necessariamente remeter à página do site do Conselho Federal de Psicologia que
conterá o texto integral desta Resolução e também os números de cadastro ou sites
que estejam em situação regular, e outras informações pertinentes a critério do
Conselho Federal de Psicologia.
II. Para efeito do disposto acima o psicólogo responsável técnico pelo
serviço, que esteja regularmente inscrito em Conselho Regional de Psicologia e em
pleno gozo de seus direitos, dirigirá requerimento ao Conselho Regional de

AN02FREV001/ REV 3.0

150
Psicologia via site www.cfp.org.br/selo, prestando as informações padronizadas
solicitadas em formulário a respeito da natureza dos serviços prestados, qualificação
dos responsáveis e endereço eletrônico, e receberá certificação eletrônica do tipo
adequado que deverá ser incluída visivelmente em suas comunicações por meio
eletrônico durante a prestação dos serviços validados. O procedimento de cadastro
e concessão de certificado eletrônico será sempre gratuito.
III. A Comissão Nacional de Credenciamento de Sites avaliará os dados
enviados para a aquisição de certificação, e encaminhará parecer a ser julgado na
Plenária do Conselho Regional de Psicologia em que o psicólogo requerente está
inscrito.
IV. Da decisão do Conselho Regional de Psicologia caberá recurso
voluntário ao Conselho Federal de Psicologia.
V. O Conselho Regional de Psicologia utilizará os dados enviados pelo
requerente para verificar e fiscalizar os serviços oferecidos pelos psicólogos por
comunicação mediada pelo computador a distância. Na detecção de qualquer
irregularidade nos serviços prestados, o Conselho Regional de Psicologia efetuará
os procedimentos costumeiros de orientação e controle ético.
VI. O cadastramento eletrônico deverá ser atualizado anualmente junto ao
Conselho Regional de Psicologia via site www.cfp.org.br/selo. Essa reatualização
deverá ser sempre gratuita, e o novo certificado conferido trará a data de sua
concessão e prazo de validade. Os serviços em situação irregular não receberão a
revalidação do cadastramento.
VII. O psicólogo responsável pelo site deverá informar ao Conselho
Regional de Psicologia, via site www.cfp.org.br/selo alterações no serviço
psicológico prestado.
Art. 7º. Caso o Sistema Conselhos de Psicologia identifique, a qualquer
tempo, irregularidades no site que firam o disposto nesta Resolução, no Código
de Ética Profissional do Psicólogo e na legislação profissional vigente estará
configurada falta ética e o site será descredenciado.
Art. 8°. É permitido aos psicólogos que prestam os serviços indicados no
Art. 6° desta Resolução a cobrança de honorários desde que se respeite o Art. 20
do Código de Ética Profissional do Psicólogo que veda a utilização do preço como
forma de propaganda. Parágrafo Único - Caso o psicólogo queria prestar um

AN02FREV001/ REV 3.0

151
serviço gratuito, o mesmo deverá seguir o padrão de qualidade e rigor técnico que
trata essa Resolução sendo necessário seu credenciamento.
Art. 9°. Será mantida, pelo Sistema Conselhos de Psicologia, Comissão
Nacional de Credenciamento de Sites que além da avaliação dos sites,
apresentará sugestões para o aprimoramento dos procedimentos e critérios
envolvidos nesta tarefa e subsidiará o Sistema Conselhos de Psicologia a
respeito da matéria.
Art. 10º. Para realização do credenciamento de sites de que tratam os
artigos anteriores a Comissão Nacional de Credenciamento de Sites terá um
prazo máximo de 30 dias para encaminhar sua avaliação ao CRP.
I. Da data de recebimento do parecer da referida Comissão, o Plenário
do Conselho Regional de Psicologia terá o prazo máximo de 60 dias para efetuar o
julgamento.
II. Da decisão do CRP, as partes terão um prazo de 30 dias a contar da
data da ciência da decisão para interpor recurso ao Conselho Federal de Psicologia.
Art. 11º. Ficam revogadas as disposições em contrário, em especial a
Resolução CFP n.° 003/2000.
Art. 12º. Esta Resolução entra em vigor na dada de sua publicação.

Brasília (DF), 18 de agosto de 2005.


ANA MERCÊS BAHIA BOCK
Conselheiro Presidente

AN02FREV001/ REV 3.0

152
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YOUNG, J. E. Terapia Cognitiva para Transtornos da Personalidade: uma


abordagem focada nos esquemas. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.

FIM DO CURSO

AN02FREV001/ REV 3.0

155
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação

CURSO DE
TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENAL

Aluno:

AN02FREV001/ REV 3.0

93
EaD - Educação a Distância Portal Educação

CURSO DE
TERAPIA COGNITIVO
COMPORTAMENTAL

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

AN02FREV001/ REV 3.0

94
3.8 Princípios Fundamentais

Os princípios que aqui citaremos são de extrema importância para se


entender e trabalhar com a terapia cognitiva, sendo citados em Beck (2003):

 Formulação em contínuo desenvolvimento do paciente e de seus


problemas.

A terapia cognitiva se baseia em uma formulação em contínuo


desenvolvimento do paciente e de seus problemas em termos cognitivos, assim o
terapeuta deve identificar o pensamento atual do paciente, que ajuda a manter seus
sentimentos, depois investiga os comportamentos.
Percebe-se que os comportamentos problemáticos, ao mesmo tempo em
que fluem do pensamento disfuncional, eles também reforçam os pensamentos do
paciente. O terapeuta também identifica fatores precipitantes que influenciam as
percepções do paciente. E podemos dizer que ele deve levantar hipóteses sobre
eventos desenvolvimentais chaves e padrões duradouros de interpretação desses
eventos que podem ter predisposto o paciente ao transtorno ou problema que ele
está acometido.
Assim o terapeuta baseia sua formulação nos dados que o paciente traz e
continua a refinar a conceituação ao longo da terapia.
Em alguns momentos o terapeuta partilha a conceituação com a paciente
para ter certeza que está indo no caminho certo.
O paciente aprende principalmente a identificar os pensamentos associados
a seu sentimento, ou seja, que esses são condutores de seu comportamento e
assim avaliar e formular respostas mais adaptativas ao seu pensamento, para se ter
comportamentos funcionais.

 Aliança terapêutica segura

A terapia cognitiva requer uma aliança terapêutica segura, por que muitos
pacientes têm dificuldade em confiar e trabalhar com seu terapeuta, assim este deve
demonstrar todos os ingredientes básicos necessários em uma situação de

AN02FREV001/ REV 3.0

95
aconselhamento, que são:
o Cordialidade;
o Empatia;
o Atenção;
o Respeito genuíno;
o Competência.
Demonstre fazendo declarações empáticas, escutando com atenção e
cuidado, resumindo cuidadosamente seus pensamentos e sentimentos e sendo
realisticamente otimista.
O terapeuta também deve pedir o retorno no final de cada sessão para
certificar-se de que o paciente se sentiu entendido em relação à sessão.
Deve-se tomar cuidado com pacientes com transtornos de personalidade,
pois estes necessitam maior atenção no que se trata de relacionamento terapêutico
e uma boa aliança de trabalho.

 Colaboração e participação ativa

A terapia cognitiva enfatiza colaboração e participação ativa, assim o


terapeuta deve encorajar o paciente a ver a terapia como um trabalho em equipe,
em que juntos eles decidem coisas, como o que trabalhar em cada sessão, a
frequência com que eles deveriam encontrar-se e o que deveriam fazer, entre as
sessões, como tarefa de casa da terapia.
A princípio, o terapeuta é mais ativo em sugerir uma direção, mas o
terapeuta deve encorajar o paciente a tornar-se mais ativo nas sessões, como
decidir sobre que tópicos falar, identificar as distorções em seu pensamento, resumir
pontos importantes e projetar tarefas para casa.

 Terapia orientada em metas e focalizada em problemas.

A terapia cognitiva é orientada em meta e focalizada em problemas. Na


sessão inicial, o terapeuta deve pedir para seu paciente, enumerar seus problemas
e estabelecer metas específicas, ou seja, o paciente deve relatar quais são seus
problemas, o que lhe angustia, e depois tentar buscar soluções para resolver estes

AN02FREV001/ REV 3.0

96
problemas, que seriam as metas.
O terapeuta deve ajudar o paciente a avaliar e responder a seus
pensamentos que interferem em suas metas e a avaliar a validade desses
pensamentos no consultório por meio de um exame de evidências.
Uma vez que o paciente reconhece e corrige a distorção em seu
pensamento, ele é capaz de beneficiar-se com a resolução de problemas
diretamente para melhorar seus relacionamentos.
Assim, o terapeuta presta atenção particular aos obstáculos que impedem o
paciente de resolver problemas e atingir metas por si mesmo.
Assim, percebemos que o terapeuta precisa conceituar as dificuldades
específicas do paciente e avaliar o nível apropriado de intervenção.

 Inicialmente focaliza o presente

A terapia cognitiva inicialmente enfatiza o presente. Na maioria dos


tratamentos o foco recai sobre os problemas atuais e sobre situações específicas
que são aflitivas para o paciente.
Para se reduzir os sintomas devem-se fazer uma avaliação realista do
problema e do que ele está causando, assim esse terapeuta inicia a terapia com
exame de problemas no aqui e agora, independentemente do diagnóstico.
A atenção só volta-se para o passado em três circunstâncias, segundo Beck
(2003):
o Quando o paciente expressa uma forte predileção a fazer isso;
o Quando o trabalho voltado em direção a problemas atuais produz
pouca ou nenhuma mudança cognitiva, comportamental e emocional;
o Quando o terapeuta julga que é importante entender como e quando
ideias disfuncionais importantes se originaram e como elas afetam o paciente hoje.
O terapeuta ajuda a avaliar a validade dessas crenças tanto no passado
como no presente, fazendo com que o paciente desenvolva crenças mais funcionais
e mais razoáveis.

 Educativa

AN02FREV001/ REV 3.0

97
A terapia cognitiva é educativa, visa ensinar o paciente a ser seu próprio
terapeuta e enfatiza prevenção da recaída.
Na sessão inicial o terapeuta deve educar o paciente sobre informações que
dizem respeito a seu transtorno, sobre o processo da terapia cognitiva, como a
terapia trabalha esse transtorno e sobre o modelo, como a terapia cognitiva
conduzirá o problema.
Assim, o paciente aprenderá a estabelecer metas, identificar e avaliar
pensamentos e crenças e planejar mudança comportamental, mas também
aprenderá como fazer isso sozinho e depois continuar sem a ajuda do terapeuta.

 Tem tempo limitado

A terapia cognitiva visa ter um tempo limitado. O terapeuta tem metas para
serem trabalhadas com seus pacientes:
o Prover alívio de sintomas;
o Facilitar uma remissão do transtorno;
o Ajudar a resolver seus problemas mais prementes;
Assim pacientes com depressão ou transtornos de ansiedade são tratados
de 4 a 14 sessões, porém nem todos os pacientes fazem progresso suficiente em
apenas alguns meses. Alguns pacientes requerem um ou dois anos de terapia (ou
possivelmente mais) para modificar as crenças disfuncionais muito rígidas e os
padrões de comportamento que contribuem para a sua angústia crônica.

 Sessões estruturadas

As sessões de terapia cognitiva são estruturadas. O terapeuta cognitivo


deve estruturar e estabelecer o que vai ser feito cada sessão, assim ele verifica o
humor do paciente, solicita uma breve revisão da semana, estabelece, de comum
acordo entre ambos, uma agenda para a sessão, obtém feedback sobre a sessão
anterior, revisa a tarefa de casa, discute os itens da agenda, estabelece nova tarefa
para casa, resume com frequência e busca feedback no final de cada sessão.
Essa estrutura que acabamos de citar deve permanecer constante ao longo
da terapia.

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98
 Paciente aprende a identificar e responder a pensamentos e crenças

A terapia cognitiva ensina os pacientes a identificar, avaliar e responder a


seus pensamentos e crenças disfuncionais.
Um dos métodos que pode ser utilizado para fazer o que falamos acima é
por intermédio do questionamento socrático leve, que ajuda a promover o
sentimento do paciente a qual o terapeuta está verdadeiramente interessado sem
desafiar ou persuadir o paciente a adotar o ponto de vista do terapeuta. Já em
outros momentos pode utilizar descoberta orientada, aonde o terapeuta chega a
crenças subjacentes que o paciente mantém sobre si mesmo, seu mundo e outras
pessoas.
Mediante a todas essas técnicas de questionamento, ele também a orienta
em avaliar a validade a funcionalidade das suas crenças.

 Uso de técnicas

A terapia cognitiva utiliza uma variedade de técnicas para mudar


pensamento, humor e comportamento. Embora estratégias cognitivas como
questionamento socrático e descoberta orientada sejam centrais à terapia cognitiva,
técnicas de outras abordagens são também usadas na terapia cognitiva.
Que fique claro que a terapia varia consideravelmente de acordo com o
paciente individual, a natureza de suas dificuldades, suas metas, sua habilidade de
formar um vínculo terapêutico forte, sua motivação para mudar, sua experiência
prévia com terapia e suas preferências de tratamento. A ênfase no tratamento
depende do transtorno(s) particular do paciente e assim de acordo com esse
transtorno serão escolhidas as técnicas que mais se adéquam ao momento e ao
contexto que o paciente traz.

3.9 Distorções Cognitivas

AN02FREV001/ REV 3.0

99
As pessoas muitas vezes tendem a cometer erros em seus pensamentos.
Percebemos que com frequência, há uma tendência sistemática negativa no
processamento cognitivo daqueles que estão sofrendo de algum mal-estar
psicológico. E a identificação dessas distorções cognitivas é essencial e muito
importante para sua correção. Veremos agora os erros ou distorções mais comuns:

 Personalização;
 Catastrofização;
 Rotulação;
 Magnificação/minimização;
 Leitura mental;
 Supergeneralização/hipergeneralização;
 Desqualificando ou desconsiderando o positivo;
 Declarações do tipo “eu deveria ou eu devo”;
 Visão em túnel;
 Vitimização;
 Questionalização;
 Pensamento do tipo tudo ou nada/polarização ou pensamento
dicotômico;
 Raciocínio emocional;
 Abstração seletiva;
 Adivinhação;
 Inferência arbitrária.

 Personalização

É a tendência a se ver como causador de fatos ruins, sem o ser de fato.


Acredita-se que os outros estão se comportando negativamente devido a
você ou por sua culpa, sem considerar explicações mais plausíveis para o
comportamento do outro.
Knapp (2004) é assumir a culpa ou responsabilidade por acontecimentos
negativos, falhando em ver que outras pessoas e fatores também estão envolvidos
nos acontecimentos.

AN02FREV001/ REV 3.0

100
Exemplo:
Meu amigo foi rude comigo, devo ter feito algo de errado;
Se algo de errado acontecer ao meu aniversário, a culpa será só minha.

 Catastrofização

Knapp (2004) conceitua essa distorção como uma pessoa que pensa que o
pior de uma situação irá acontecer sem levar em consideração a possibilidade de
outros desfechos.
Ele afirma que é acreditar que o que aconteceu ou irá acontecer será terrível
e insuportável.
Os eventos negativos que podem ocorrer são encarados como catástrofes
intoleráveis, em vez de serem vistos em perspectiva.
Antecipar que as coisas, de qualquer maneira, vão dar errado, sem base
para isso.
Prever o futuro, antecipando problemas que podem não vir a existir.
Estabelece expectativas negativas como se já fossem fatos.
Exemplo: Eu sei que serei rejeitada;
Eu não suportarei a separação da minha mulher;
Se eu perder o controle, será o meu fim.

 Rotulação

Como o próprio nome já diz é a tendência a descrever erros ou medos


como, características estáveis do comportamento ou da personalidade, como
fossem rótulos pessoais.
De acordo com Knapp (2004) coloca-se um rótulo global e fixo sobre si
mesmo ou sobre os outros sem considerar que as evidências poderiam levar a uma
conclusão menos desastrosa.
Exemplo: Eu sou um fracassado (em vez de: falhei nisso!);
Ele não presta mesmo! (diante de um ato impensado do outro).

AN02FREV001/ REV 3.0

101
 Magnificação/minimização

É a tendência a diminuir a importância dos aspectos positivos em si mesmo,


nos outros ou nas situações e ampliar ou engrandecer a importância dos aspectos
negativos.
O positivo é minimizado, enquanto o negativo é maximizado.
Exemplo: Obter boas notas não quer dizer que sou inteligente (ao passo que
as notas baixas provam que é um fracasso);
Eu tenho um ótimo emprego, mas todo mundo tem, e com tantas falhas
qualquer dia irei perdê-lo.

 Leitura mental

De acordo com Knapp (2004) quando uma pessoa tem distorções desse
tipo, ela presume, sem evidências, que sabe o que outros estão pensando,
geralmente dela, desconsiderando outras hipóteses possíveis.
Exemplo: Tenho certeza que o professor está pensando que eu não estudei.
Ele não gostou da minha casa.

 Supergeneralização ou hipergeneralização

É a tendência a ver um evento negativo como um padrão interminável de


perigos ou sofrimentos.
Tira-se uma conclusão negativa muito abrangente e radical que vai muito
além da situação atual.
Exemplo: Se eu senti medo aqui, vou sentir sempre de novo;
Tudo dá sempre errado para mim (após ter batido o carro);
Todo homem faz a mesma coisa, traem.

 Desqualificando ou desconsiderando o positivo

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102
É a tendência a rejeitar experiências ou fatos positivos por insistir que eles
não contam, por qualquer motivo.
Exemplo: Sou burra e fraca (mesmo depois de ter passado no vestibular e
ter se formado);
Eu fiz bem aquele projeto, mas isso não significa que eu seja competente,
eu apenas tive sorte.

 Declarações do tipo “eu deveria ou eu devo”-declarações imperativas

É a tendência a dirigir a própria vida em termos de “deverias”, por avaliações


de “certo ou errado”, em vez de dirigi-la por seus desejos.
Tem-se uma ideia exata estabelecida de como você ou os outros deveriam
se comportar, superestimando quão ruim será se as expectativas não forem
preenchidas.
Knapp (2004) também cita demandas feitas a si mesmo, aos outros e ao
mundo para evitar as consequências do não cumprimento dessas demandas.
Exemplo: Eu deveria estudar mais (em vez de: eu quero (ou não quero)
estudar mais;
É terrível que eu tenha cometido este erro, eu deveria sempre dar o melhor
de mim.

 Visão em túnel ou seleção arbitrária

É a tendência em selecionar e ver apenas os aspectos negativos de uma


situação.
Exemplo: O professor do meu filho não sabe fazer nada direito: ele é crítico,
insensível e ensina mal;
Eu sou burro, tirei outra nota baixa.

 Vitimização

AN02FREV001/ REV 3.0

103
É a tendência a considerar-se injustiçado ou não compreendido.
A fonte da maioria dos problemas geralmente é em razão aos outros ou por
algumas situações.
Há recusa ou dificuldade de se responsabilizar pelos próprios sentimentos
ou comportamentos.
Exemplo: Minha mãe não entende meus sentimentos;
Faço tudo pelos meus amigos, mas eles não me agradecem.

 Questionalização;

De acordo com Knapp (2004) é a tendência a focar o evento naquilo que


poderia ter sido e não foi.
Culpar-se pelas escolhas do passado e questionar-se por escolhas futuras.
Exemplo: Se eu tivesse aceitado o outro emprego, estaria melhor agora... e
se o outro emprego não der certo?
Se eu não tivesse viajado, isso não teria acontecido.

 Pensamento do tipo tudo ou nada/polarização ou pensamento


dicotômico

É a tendência de interpretar todas as experiências em termos de categorias


opostas e polarizadas.
Pensamento do tipo tudo ou nada, branco ou preto, perfeição ou fracasso,
sempre ou nunca.
Perceber tudo em termos absolutos.
Exemplo: Se eu não for um sucesso total, eu serei um fracasso.
Um sinal imprevisto no meu corpo significa perigo iminente.

 Raciocínio emocional

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104
É a tendência a tomar as próprias emoções como provas de uma verdade.
Pensa-se que algo deve ser verdade porque sente assim.
Nesse caso a pessoa com a distorção deixa o sentimento lhe guiar, ou seja,
guiam a interpretação da realidade.
Exemplo: Se eu sinto pânico aqui, é porque essa situação é mesmo
perigosa;
Eu sei que eu faço muitas coisas certas, mas eu ainda me sinto um fracasso.

 Abstração seletiva

É a tendência a focalizar apenas um detalhe retirado de um contexto,


ignorando outros aspectos também importantes, e conceber a totalidade da
experiência com base no fragmento selecionado.
Presta-se atenção indevida a um detalhe negativo em vez de considerar o
quadro geral.
Exemplo: Cometi um erro neste trabalho, ele está deplorável (quando o erro
é secundário e está em meio a muitos aspectos positivos do trabalho);
Sou impotente (diante de uma única falha erétil).

 Adivinhação

Aqui pessoas com a distorção preveem o futuro, antecipam problemas que


talvez não venham a existir.
Exemplo: Eu não irei me sentir bem quando viajar;
Sei que não irei gostar desse emprego.

 Inferência arbitrária

É a tendência a chegar a uma conclusão (ou a uma regra) na ausência de


evidências ou provas suficientes, ou por meio de um raciocínio falho.

AN02FREV001/ REV 3.0

105
Exemplo: Não sou atraente para as mulheres (após algumas tentativas
infrutíferas).

3.10 Perfil Cognitivo dos Transtornos Psiquiátricos

De acordo com Kaplan e Sadock (2003) que cita Aaron Beck e John Rush, o
perfil cognitivo de alguns transtornos psicológicos são os seguintes:

Transtornos
Conteúdo cognitivo
específico

Anorexia nervosa
Medo de ficar gordo e
1.
disforme.

Comportamento suicida
Desesperança e déficit na
2.
resolução de problemas.

Transtorno obsessivo-compulsivo Alerta repetido ou dúvidas


3.
sobre a segurança e atos
repetidos para afastar
ameaças.

Transtorno depressivo Visão negativa de si mesmo.


4.

AN02FREV001/ REV 3.0

106
5. Transtorno de ansiedade Medo de perigo físico ou
psicológico.

Transtorno de pânico Interpretação errônea e


6.
catastrófica de experiências
corporais e mentais.

Transtorno de pânico Interpretação errônea e


6.
catastrófica de experiências
corporais e mentais.

Transtorno de personalidade paranoide Visão dos outros como


7.
manipuladores e mal-
intencionados.

Fobia Perigo em situações


8.
específicas e evitáveis.

Hipocondria Atribuição de sério transtorno


9.
médico.

Episódio hipomaníaco Visão inflada de si mesmo,


10
da experiência e do futuro.
.

Transtorno conversivo Conceito de anormalidade


11
motora e sensorial.
.

FONTE: Kaplan e Sadock

3.11 Estruturação das sessões

AN02FREV001/ REV 3.0

107
É preciso citar como é estruturada a sessão de TCC, segundo Rangé
(2001). A estrutura é a seguinte:
 Revisão do humor, revisão da semana – checagem do humor para
monitoramento do progresso terapêutico;
 Ponte com a sessão anterior – feedback do paciente acerca do que foi
aprendido na sessão anterior;
 Revisão das tarefas;
 Fazer a agenda dos tópicos importantes a serem discutidos na sessão
e trabalhar os itens da agenda;
 Estabelecimento de novas tarefas de casa;
 Resumo da sessão e feedback – o paciente é solicitado a resumir os
pontos principais que foram aprendidos e também revelar quais sentimentos
experimentou na sessão.

 Revisão do humor/ Revisão da semana

De acordo com a maioria dos autores, a sessão inicial de terapia tem várias
metas importantes. Knapp (2004) diz que é necessário, nessa sessão, revisar o
humor. Isso pode ser feito por meio de uma nota de zero a 10 para o humor, em que
zero indica nenhuma depressão ou ansiedade e 10 indica muita depressão e
ansiedade. Deve-se também revisar os acontecimentos bons e ruins que
aconteceram no intervalo dessas sessões, para que se dê prioridade a algumas
questões a serem trabalhadas.
Beck (1997) citado por Rangé (2001) cita questões como estabelecer
rapport, refinar a conceituação, socializar o paciente no processo e na estrutura da
terapia cognitiva, educar o paciente sobre o modelo cognitivo e sobre o seu
transtorno prover esperança e algum alívio de sintomas e também desenvolver uma
sólida aliança terapêutica e encorajar o paciente a aliar-se ao terapeuta para
alcançar metas terapêuticas são questões de suma importância a serem
trabalhadas.

 Ponte com a última sessão

AN02FREV001/ REV 3.0

108
Cada sessão deve dar um sentido de continuidade, então é muito importante
que o terapeuta faça perguntas como: O que você lembra-se de mais importante da
última sessão? Assim o paciente fará a interligação com a sessão passada sem
muita dificuldade. Alguns pacientes são muito esquecidos, nesses casos aconselha-
se trazer uma agenda ou caderno para que seja feita a anotação de pontos
importantes e com isso relembre mais facilmente a sessão anterior.

 Revisão das tarefas

Segundo Knapp (2004) uma tarefa que não deu certo ou não alcançou o
resultado esperado traz muitas informações, pois ao se realizar a revisão da tarefa
se confirma se a direção e a marcha do trabalho terapêutico estão adequadas, ou
ao contrário ainda se faz necessário incrementar as habilidades e autoeficácia do
paciente, caso a tarefa não tenha seguido como se planejou.
É muito importante que o terapeuta sempre revise a tarefa de casa, pois
quando o terapeuta não revisa a tarefa e não extrai dela todo o aprendizado
possível, ou seja, quando o terapeuta mostra de forma mais clara o objetivo da
tarefa e como ela pode ajudar o paciente, estará reforçando no paciente a ideia de
que a tarefa não é importante.

 Fazer agenda

Como já discutimos antes, esse tipo de terapia tem uma sessão


estruturada, assim é feita a agenda, que nos guiará como seguir no decorrer da
sessão, quais problemas são mais e menos importantes, estabelecendo assim
ordem de prioridades, evitando que se perca tempo com questões que não teria
importância naquela sessão. Ela deve ser feita no início das sessões em comum
acordo com o paciente.
Assim pode-se perguntar ao paciente no começo da sessão: O que o
paciente gostaria de trabalhar na sessão de hoje?

 Resumos periódicos/Resumo final;

AN02FREV001/ REV 3.0

109
Nesse tipo de terapia o paciente deve fazer resumos para que ele fortaleça o
que foi aprendido. Fazem-se os resumos periódicos ou capsulares, em que são
realizados ao longo da sessão e o resumo final, sendo relembradas as principais
descobertas. O terapeuta pode ajudar o paciente a fazer esses resumos com a
seguinte pergunta: O que você está levando da sessão de hoje? Onde segundo
Knapp (2004) devem ser resumidos as descobertas e aprendizados que ocorreram,
com conclusões e experimentos que irão confirmar e fortalecer os aprendizados.

 Feedback da sessão.

O feedback deve ser feito regularmente, para que o terapeuta perceba


algum problema na relação terapêutica, buscando informar contrariedades e
insatisfações do paciente com o terapeuta. Deve-se também buscar o feedback de
como está o tratamento, o que o paciente está sentindo e pensando a cerca do
processo e do progresso terapêutico, pois segundo Knapp (2004) essas
informações do percurso terapêutico podem corrigir o rumo da terapia.

3.12 Instrumentos Utilizados

 Conceituação Cognitiva

Nome_________________________________________________
Idade:_________
Data: _________

AN02FREV001/ REV 3.0

110
Dados relevantes da infância

Crenças Centrais

Crenças Intermediárias
(Atitudes, regras, expectativas, suposições)

Estratégias Compensatórias

AN02FREV001/ REV 3.0

111
Situação: Situação: Situação:

Pensamento Automático Pensamento Automático Pensamento Automático

Significado do PA Significado do PA Significado do PA

AN02FREV001/ REV 3.0

112
Emoção Emoção Emoção

Comportamento Comportamento Comportamento

FONTE: Terapia Cognitivo-Comportamental na Prática Psiquiátrica.

Exemplo de Conceituação cognitiva:

Nome: A.B.C
Idade: 18 anos
Data: 15/05/2005

Dados relevantes da infância

Morte do pai aos cinco anos de idade;


Decepção com o primeiro amigo da adolescência;
Nunca conseguiu arranjar namorada.

AN02FREV001/ REV 3.0

113
Crenças Centrais

Sobre si:
Eu sou sozinho;
Eu sou inútil;
Sou infeliz.
Não sou amado.
Sobre os outros:
Sou louco;
Sou estranho;
Sou lesado.

Crenças Intermediárias
(Atitudes, regras, expectativas, suposições)

Mesmo que eu arranje namorada e emprego eu ainda vou ser triste;


Se meu pai estivesse vivo eu não seria assim;
Mesmo que eu fique bom da depressão eu ainda vou ser infeliz.

Estratégias Compensatórias

Fazer terapia;
Ler poetas tristes, como Augusto dos Anjos;
Isolar-se e não fazer amizades;
Beber para preencher o vazio que existe dentro de si;

AN02FREV001/ REV 3.0

114
Pensar muito em suicídio e ver como a única saída.

Situação: Situação: Situação:

Briga com a mãe Saindo da escola Dia dos


sobre a conta de energia. e vendo as pessoas namorados, sem
sorrindo. namorada.

Pensamento Pensamento Pensamento


Automático Automático Automático.

Quero me matar. Eu tenho ódio das Ninguém gosta de mim.


pessoas

Significado do PA Significado do PA Significado do PA

Eu não sirvo pra Eu sou infeliz e Sou sozinho,


nada. sozinho. ninguém gosta de mim.

Emoção Emoção Emoção

Tristeza. Tristeza, raiva. Melancolia e tristeza

Comportamento Comportamento Comportamento

Agressividade Ir para casa e se

AN02FREV001/ REV 3.0

115
com a mãe e se isola isolar no quarto. Chorar.
mais ainda em seu quarto
para ouvir música.

 Registro de Pensamentos Disfuncionais (RPD);

Data/ Situação Pensamento Emoção Comportamento


Horário

Registro de Pensamento mais complexo

Nome: _______________________________________________________
Idade: _____________
Data: ____________

AN02FREV001/ REV 3.0

116
Humor Pensamentos Distorções Evidências Evidências Pensamentos
Situação Automáticos Cognitivas Apoiadora Contrárias Alternativos Humor
s

FONTE: Greenberger (1999)

 Tabela de atividades

Tabela de atividades segundo Beck (1997):


Essa tabela de atividades é como se fosse uma monitoração de atividades,
em que o paciente vai colocar o grau de prazer (P) e o grau de realização (R), de 1 a
10.

Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5 Dia 6 Dia 7


6-7

AN02FREV001/ REV 3.0

117
7-8
8-9
9-10
10-11
11-12
12-1
1-2
2-3
3-4 Estudo
R=2
P=1

4-5
5-6
6-7 Jantar
R=2
P=4

7-8
8-9
9-10
10-11
11-12 Dormir

12-1 ...
1-2 .
..
2-3 .
..
3-4 .
..
4-5 .

AN02FREV001/ REV 3.0

118
..

Mediante a tabela, terapeuta e cliente vão tirar conclusões sobre o que mais
o paciente faz por prazer de maneira a sentir-se realizado.

 Questionando pensamentos automáticos

Este quadro de questionamento está de acordo com Beck (1997):

Questionando os pensamentos automáticos

1. Quais são as evidências?


Quais são as evidências que apoiam essa ideia?
Quais são as evidências contra essa ideia?
2. Existe uma explicação alternativa?
3. Qual é o pior que poderia acontecer? Eu poderia superar isso?
O que é o melhor que poderia acontecer?
Qual o resultado mais realista?
4. Qual é o efeito da minha crença no pensamento automático?
Qual poderia ser o efeito de mudar meu pensamento?
5. O que eu deveria fazer em relação a isso?
6. O que eu diria ________ (a um amigo) se ele ou ela estivesse na
mesma situação?

 Notas de terapia

Notas de terapia extraídas de Beck (1997):

AN02FREV001/ REV 3.0

119
Notas de Terapia

Nome do paciente:
Data:
Sessão nº:

Escores objetivos: Algum teste que pode ter sido feito com o paciente

Roteiro do paciente:

Objetivos do terapeuta:

Pontos importantes da sessão:

Tarefa de casa:

Sessão seguinte ou sessão futura:

 Relatório de ligação de sessão

Este relatório foi extraído de Beck (1997), que segundo este a bibliografia foi
adaptada com permissão de Thomas Ellis.

Relatório de ligação de sessão

1. Sobre o que nós falamos na sessão anterior, o que foi


importante? O que você aprendeu? (1 a 3 frases).

AN02FREV001/ REV 3.0

120
2. Houve algo que incomodou você na última sessão? Qualquer
coisa que você esteja relutante em dizer?

3. Como foi a sua semana? Como estava o seu humor,


comparando a outras semanas? (1 a 3 frases)

4. Alguma coisa aconteceu nessa semana que seja importante


discutir? (1 a 3 frases)

5. Que problemas você deseja colocar no roteiro? (1 a 3 frases)

6. Que tarefa de casa você fez/não fez? O que você aprendeu?

 Relatório de terapia

Este relatório foi extraído de Beck (1997), por Judith S Beck:


Relatório de terapia

1. O que você vivenciou hoje que é importante para você lembrar?

2. Quando você sentiu que podia confiar no seu terapeuta hoje?

3. Houve qualquer coisa que incomodou você em relação à terapia


hoje? Se houve, o que foi?

4. Quanta tarefa de casa você fez para a terapia hoje? Quão


propenso você está a fazer a nova tarefa de casa?

5. O que você deseja certificar-se de abordar na próxima sessão?

AN02FREV001/ REV 3.0

121
 Guia para sessões de autoterapia

Este guia está de acordo com Beck (1997);

Guia para sessões de autoterapia

1. Estabelecer o roteiro:
 Sobre os tópicos ou situações importantes eu deveria pensar?

2. Revisar tarefa de casa:


 O que eu aprendi?
 Se eu não fiz a tarefa de casa, o que me atrapalhou (problemas
práticos, pensamentos automáticos)?
 O que eu posso fazer para me tornar mais propenso a realização da
tarefa de casa desta vez?
 O que eu devo continuar a fazer como tarefa de casa?

3. Revisão da semana passada:


 Além da tarefa de casa específica, eu usei alguma ferramenta de
terapia cognitiva?
 Olhando para trás, teria sido vantajoso ter usado mais intensamente
as ferramentas da terapia cognitiva?
 Como eu me lembrarei de usar as ferramentas da próxima vez?
 Que coisas positivas acontecem durante a semana? Pelo o que eu
mereço crédito?
 Algum problema surgiu? Se sim, quão bem eu administrei? Se o
problema reincidir, como eu o manejarei da próxima vez?

AN02FREV001/ REV 3.0

122
4. Pense sobre tópicos/situações problemáticas atuais:
 Como estou vendo isso realisticamente? Eu estou reagindo
exageradamente?
 Há outro modo de ver isso?
 O que eu deveria fazer?

5. Prever problemas possíveis que podem ocorrer entre esse


momento e a próxima sessão de terapia:
 Que problemas podem surgir nos próximos dias ou semanas?
 O que eu deveria fazer se o problema de fato surgir?
 Ajudaria imaginar-me enfrentando o problema?
 Que eventos positivos eu tenho para esperar no futuro?

6. Estabelecer nova tarefa de casa:


 Que tarefa de casa seria útil? Eu deveria considerar:
o Fazer RPDs;
o Monitorar minhas atividades;
o Agendar atividades de prazer e domínio;
o Trabalhar sobre uma hierarquia comportamental;
o Ler anotações da terapia;
o Praticar as habilidades como relaxamento ou lidar com imagens;
o Fazer um diário de autodeclaração positiva;
 Que comportamento eu gostaria de mudar?

7. Marcar a próxima sessão da terapia:


 Quando deveria ser a próxima sessão? Quanto tempo deveria
passar?
 Eu deveria fazer sessões futuras regularmente no primeiro dia de
cada semana/mês/estação?

 Resolução de Problemas

AN02FREV001/ REV 3.0

123
Escolha da
Definição Pensamento Consequências
Pensamentos alternativa e
do alternativo Alternativas realistas de Reavaliação
automáticos plano de
problema realista cada alternativa
execução

FIM!

AN02FREV001/ REV 3.0

124

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