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ISSN: 0100-8307
cienciaenaturarevista@gmail.com
Universidade Federal de Santa Maria
Brasil
Resumo
Resumo
Este trabalho tem por objetivo discutir a valorização da cultura científica dos povos indígenas, bem como a importância dessa cultura para a
promoção do pensamento
Este trabalho crítico por
tem por objetivo parteados
discutir estudantes
valorização da ecultura
professores em formação.
científica dos povosPara tanto, argumentamos
indígenas, em prol dadessa
bem como a importância etnoastronomia,
cultura para a
umpromoção
conhecimento desenvolvido por povos nativos das Américas e que apresenta riqueza de informações, cultura e conhecimento
do pensamento crítico por parte dos estudantes e professores em formação. Para tanto, argumentamos em prol da etnoastronomia, tácito. Nossa
discussão vai nesse sentido
um conhecimento por entendermos
desenvolvido a potencialidade
por povos nativos pedagógica
das Américas que a etnoastronomia
e que apresenta proporciona,cultura
riqueza de informações, por se etratar de uma astronomia
conhecimento tácito. Nossa
baseada em elementos
discussão sensoriais,
vai nesse sentido e não em elementos
por entendermos geométricos
a potencialidade e abstratos,
pedagógica que aeetnoastronomia
também por fazer alusão a por
proporciona, elementos dadenossa
se tratar uma natureza
astronomia
(sobretudo
baseada fauna e flora) esensoriais,
em elementos história, promovendo autoestimageométricos
e não em elementos e valorização dos saberese antigos,
e abstratos, também salientando que asa diferentes
por fazer alusão elementosinterpretações da
da nossa natureza
mesma região fauna
(sobretudo do céu, feitas epor
e flora) diversas
história, culturas, auxiliam
promovendo autoestima naecompreensão
valorização dosdassaberes
diversidades culturais.
antigos, Dessa
salientando queforma, para além
as diferentes de buscar a da
interpretações
inserção
mesmaderegião
conteúdos
do céu,defeitas
Astronomia na escola
por diversas básica,
culturas, também
auxiliam nadevemos buscar
compreensão dasa diversidades
valorização eculturais.
o ensino Dessa
da etnoastronomia; que de
forma, para além pode ser a
buscar
realizada e otimizada se articulada à abordagem Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS).
inserção de conteúdos de Astronomia na escola básica, também devemos buscar a valorização e o ensino da etnoastronomia; que pode ser
realizada e otimizada
Palavras-chave: se articulada
Etnociência. à abordagem
Astronomia Ciência,
Indígena. Tecnologia
Ciência. e Sociedade
Tecnologia (CTS).
e Sociedade. Formação de Professores.
Palavras-chave: Etnociência. Astronomia Indígena. Ciência. Tecnologia e Sociedade. Formação de Professores.
Abstract
Abstract
This work aims to discuss the development of a scientific culture of indigenous peoples, as well as the importance of culture for the promotion
of critical
This workthinking bydiscuss
aims to students theand teachers inoftraining.
development Therefore,
a scientific culture we argue in favor
of indigenous of ethnoastronomy,
peoples, knowledgeofdeveloped
as well as the importance by the
culture for indigenous
promotion
peoples of the Americas and presenting a wealth of information, culture and tacit knowledge. Our discussion will do so
of critical thinking by students and teachers in training. Therefore, we argue in favor of ethnoastronomy, knowledge developed by indigenous by understanding the
pedagogical potential that ethnoastronomy provides, for it is an astronomy based on sensory elements, not geometric
peoples of the Americas and presenting a wealth of information, culture and tacit knowledge. Our discussion will do so by understanding the and abstract elements,
andpedagogical
also to allude to elements
potential of our natureprovides,
that ethnoastronomy (mainly forfauna
it is and flora) andbased
an astronomy history, promoting
on sensory self-esteem
elements, and appreciation
not geometric of ancient
and abstract elements,
knowledge,
and also stressing
to allude that different of
to elements interpretations of the same
our nature (mainly fauna region
and of the sky,
flora) and made by promoting
history, diverse cultures, help inand
self-esteem understanding
appreciation cultural
of ancient
diversity. Thus,
knowledge, in addition
stressing that to seekinginterpretations
different the inclusion of of the
Astronomy
same region contents
of theinsky,
elementary
made by school,
diversewe must also
cultures, helppursue recovery and
in understanding the
cultural
teaching of ethnoastronomy;
diversity. Thus, in addition which can be realized
to seeking and optimized
the inclusion if articulated
of Astronomy contentsapproach to Science,
in elementary Technology
school, we must and Society
also (STS).
pursue recovery and the
Abstract
teachinghere
of Abstract here Abstract
ethnoastronomy; whichhere
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be realized here
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if articulated approach to Science, Technology and Society (STS).
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Keywords: Abstract here
Ethnoscience. Abstractastronomy.
Indigenous here Abstract here Abstract
Science, hereand
Technology. Abstract here
Society. Teacher training.
Keywords: Ethnoscience. Indigenous astronomy. Science, Technology. and Society. Teacher training.
superfície da Terra, o que mostra que, muito exemplo, a incidência dos percevejos que atacam
antes da Teoria de Galileu, que, nesse aspecto, a lavoura (AFONSO, 2009, p. 2).
não considerava a Lua, os indígenas que Isso mostra o quão avançado era o sistema
habitavam o Brasil já sabiam que ela é a astronômico desses povos. O mais interessante
principal causadora das marés, conforme é que esses conhecimentos não eram
indicava d’Abbeville. exclusividade dos tupinambás, haja vista que o
Em 1614, quando o monge capuchinho povo guarani também possuía uma Astronomia
francês Claude d'Abbeville viveu um tempo bem desenvolvida.
com os tupinambás, no Maranhão, ele aprendeu Ao estudarem a obra de Claude d'Abbeville,
muito sobre aquela cultura e escreveu sobre ela Lima e Moreira (2005) trazem um quadro com
em alguns manuscritos. Afonso (2009) comenta diversas palavras e seus significados, muitas
que os indígenas já possuíam o conhecimento vezes bem extensos, que mostram a riqueza
de que a Lua influencia o fluxo das marés. linguística dos tupinambás em relação à
Também eram capazes de diferenciar o tipo de Astronomia.
maré para a Lua cheia e as demais. Ao levar em Outro aspecto interessante da Astronomia
consideração que, em 1632, Galileu Galilei indígena no Brasil é a identificação das
publicou seu livro falando sobre o fenômeno constelações. Afonso (2009, p. 3) destaca os três
das marés e atribuindo-o ao movimento da principais pontos que diferem a Astronomia
Terra, podemos afirmar que o conhecimento indígena da ocidental tradicionalmente
dos tupinambás era bem desenvolvido para conhecida. São eles:
atender às necessidades das tribos.
Os indígenas observavam os movimentos
• Primeiro, as principais constelações
aparentes do Sol para determinar o meio dia
ocidentais registradas pelos povos antigos são
solar, os pontos cardeais e as estações do ano,
aquelas que interceptam o caminho imaginário
utilizando um instrumento chamado Gnômon, que chamamos de eclíptica, por onde
que consiste de uma haste cravada aparentemente passa o Sol, e próximo do qual
verticalmente no solo, da qual se observa a encontramos a Lua e os planetas. Essas
sombra projetada pelo Sol, sobre um terreno constelações são chamadas zodiacais. As
horizontal (AFONSO, 2009). Apesar de principais constelações indígenas estão
conhecer as fases da Lua e seus movimentos ao localizadas na Via Láctea, a faixa esbranquiçada
longo do ano, Claude d'Abbeville acreditava que atravessa o céu, onde as estrelas e as
nebulosas aparecem em maior quantidade,
que os tupinambás utilizavam o Sol como um
facilmente visível à noite.
tipo de medidor dos dias do ano, ou seja, um
calendário solar (LIMA; MOREIRA, 2005).
Em sua estadia no Maranhão, d'Abbeville • Segundo, os desenhos das constelações
pôde observar que os índios já conheciam e ocidentais são feitos pela união de estrelas. Mas,
descreviam o movimento do Sol ao longo do para os indígenas, as constelações são
ano e sabiam se com ele viria vento ou chuva; constituídas pela união de estrelas e, também,
conheciam as estações do ano e controlavam o pelas manchas claras e escuras da Via Láctea,
passar dos meses por meio das chuvas ou do sendo mais fáceis de imaginar. Muitas vezes,
apenas as manchas claras ou escuras, sem
ciclo do caju.
estrelas, formam uma constelação. A Grande
Além da orientação geográfica, um dos principais Nuvem de Magalhães e a Pequena Nuvem de
objetivos práticos da astronomia indígena era sua Magalhães são consideradas constelações.
utilização na agricultura. Os indígenas
associavam as estações do ano e as fases da Lua
com a biodiversidade local, para determinarem a • O terceiro aspecto que diferencia as
época de plantio e da colheita, bem como para a constelações indígenas das ocidentais está
melhoria da produção e o controle natural das relacionado ao número delas conhecido pelos
pragas. Eles consideram que a melhor época para indígenas. A União Astronômica Internacional
certas atividades, tais como, a caça, o plantio e o (UAI) utiliza um total de 88 constelações,
corte de madeira, é perto da lua nova, pois perto distribuídas nos dois hemisférios terrestres,
da lua cheia os animais se tornam mais agitados enquanto certos grupos indígenas já nos
devido ao aumento de luminosidade, por mostraram mais de cem constelações, vistas de
Ciência e Natura v.38 n.1, 2016, p. 475 – 483 480
proposta, o autor pretendia estudar, por meio da a cultura científica e a conscientização dos
pedagogia dialógica de Paulo Freire, o céu com o objetivos variados do conhecimento científico, de
olhar da cultura indígena e não somente aquele suas limitações e das bases sobre as quais se
conteúdo ligado à tradição greco-romana. assentam suas asserções. Além disso, atestam
Por fim, Araújo (2014) reconhece a que documentar e disseminar o conhecimento
importância do ensino de uma cultura diferente astronômico dos índios e de outros povos que
(Astronomia indígena e não somente a greco- correm o risco de desaparecer é importante para
romana) para a promoção da autonomia e a preservação de um patrimônio de valor
criticidade dos estudantes frente ao inestimável e a valorização da memória
conhecimento. brasileira.
Em conformidade com esses autores, a Corroborando Fares et al. (2004), Araújo
perspectiva CTS considera possível perceber o (2014) defende que o ensino da Astronomia
universo numa dimensão relativa, ou seja, que indígena favorece o desenvolvimento de um
respeita a pluralidade cultural e que envolve a estudante crítico, pois ao levar para sala de aula
construção social da realidade e a consequente uma visão distinta do que normalmente se usa
necessidade de respeitar as diferenças que daí para falar do assunto, os estudantes
emergem, observando a perspectiva humana e desenvolvem sua criticidade para compreender
não somente técnica da astronomia. que a Ciência é uma construção humana e, como
Correa e Bazzo (2013) se apoiam em Maia e tal, tem suas limitações, seus períodos de crise,
Monteiro ao afirmarem que aquilo que o enfoque de afirmação e de controvérsias. Nesse sentido, a
CTS defende, “é o tratamento de questões discussão sobre a Astronomia indígena favorece
científicas de forma que o estudante valorize este esse tipo de discussão em sala de aula, pois traz
conhecimento por relacioná-lo a seus saberes para os estudantes uma cultura rica e cheia de
cotidianos. Esta atitude possibilita a construção saberes.
de uma abordagem crítica sobre a ciência, Vemos então que o uso de elementos da
necessária para a construção da identidade Astronomia indígena, além do respeito à
cidadã” (MAIA; MONTEIRO, 2008, p. 3). diversidade, pode colaborar no desenvolvimento
Dessa forma, concordamos com Fares et al. da criticidade dos estudantes (FARES et al., 2004;
(2004, p. 78) quando eles defendem que as AFONSO, 2009; ARAÚJO, 2014). Mas para isso
constelações, por exemplo, demonstram o temos que primeiramente inserir efetivamente
quanto a subjetividade do olhar influenciado esses conteúdos nos cursos de formação de
pelo contexto cultural é preponderante para a professores, tanto do Ensino Fundamental,
formação das estruturas sociais responsáveis quanto do Médio (LANGHI, 2009).
pela elaboração e sistematização das diversas A partir deste ponto, a valorização da cultura
formas de conhecimentos que irão nortear a vida indígena pode então ser uma importante
dos sujeitos sociais de uma dada sociedade. E ferramenta na relação didática em sala de aula.
ainda que, quando as pessoas olham para o céu e Acreditamos que uma concepção filosófica de
criam símbolos para resolver seus problemas caráter interdisciplinar, como o enfoque CTS,
cotidianos, ocorre aí a exteriorização de todo um pode auxiliar no rompimento dos moldes atuais,
universo cultural e imaginário, tendo em vista contribuindo para uma formação mais
que as constelações, para quem as criou e para os globalizadora e duradoura do conhecimento
povos que delas fazem uso, podem ser (BAZZO et al., 2008).
entendidas não só como um agrupamento de
estrelas, mas como a representação simbólica de
5 Conclusões
um conjunto de valores, crenças e costumes
próprios de cada sociedade. O presente artigo buscou discutir alguns
Por isso, é necessário pensar o mundo numa aspectos referentes à valorização da cultura
perspectiva relativa ou plural, de forma a científica dos povos indígenas, bem como a
propiciar o respeito às diferenças. Ou seja, o que importância dela para a promoção do
Fares et al (2004) defendem é que a abordagem pensamento crítico por parte dos estudantes e
da astronomia indígena em sala de aula professores em formação.
permitirá a construção de uma visão crítica sobre
Ciência e Natura v.38 n.1, 2016, p. 475 – 483 482
________. As constelações indígenas brasileiras. FONSECA, O.; PINTO, S. P.; JURBERG, C. Mitos
Disponível em: e constelações indígenas, confeccionando um
<http://www.telescopiosnaescola.pro.br/indigena planetário de mão. In X Reunón de la Red de
s.pdf>. Acesso em: 05 fev. 2015. Popularización de la Ciencia y la Tecnologia en
483 Correa e Simões : Astronomia indígena na formação de professores...