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S OBJECTO
RP
RE RD
© Universidade Aberta
Resumo
Objectivos de aprendizagem
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Página intencionalmente em branco
© Universidade Aberta
No capítulo I, apresentámos um modelo sistémico de Relação Pedagógica 1
Cf. LOGOS – Enciclopé-dia
(RP). Descrevemos os quatro pólos essenciais da situação e da relação peda- Luso-Brasileira de Filo-sofia
(1997-2001). 5 Volu-mes.
gógica que importa considerar: o Sujeito (S) da aprendizagem; o Agente (A) (Volume 1: A-D, 1511 p.; Volume
de ensino; o Objecto (O) de estudo ou os conteúdos das aprendizagens; e o 2: E-I, 1511 p.; Volume 3: J-
Pa, 1382 p.; Volume 4: Pe-S,
Meio (M). Referimos também as relações biunívocas onde se apoia a Relação 1352 p.; Volume 5: T-Z, 1402
p.). Lisboa e São Paulo:
Pedagógica (RP): a Relação de Aprendizagem (RA) que corresponde à Verbo.
qualidade de interacção e envolvência entre o Sujeito (S) e o Objecto (O);
2
Herbert Read (1968). O
a Relação de Ensino (RE) que corresponde à qualidade de interacção e Significado da Arte. Lisboa:
envolvência entre o Agente (A) e o Sujeito (S); a Relação Didáctica (RD) Ulisseia. Il. 182 p.
Herbert Read (1982). Edu-
que corresponde à qualidade de interacção e envolvência entre o Agente (A) cação pela Arte. (Tradução do
e o Objecto (O). inglês por Ana Maria Rabaça
e Luís Filipe Silva Teixeira:
‘Education through Art’,
Chegou agora o momento de nos debruçarmos sobre o Objecto (O) das 1958). Lisboa: Edições 70. Il.
396 p.
expressões artísticas na educação. Para abordarmos este tópico, vamos
começar por fazer uma breve reflexão sobre o binómio arte e educação. 3
Arquimedes da Silva Santos
desempenhou um papel
Passaremos depois para a discussão sobre alguns dos conceitos orientadores relevante na Comissão para a
de uma educação fundada nas expressões artísticas. Terminamos este capítulo Reforma do Conser-vatório
Nacional de Lisboa. Neste
com as perspectivas mais conhecidas das expressões artísticas na educação. âmbito, criou a Escola--Piloto
para a Formação de
Professores e Educadores pela
Arte, em 1971. Depois do 25
de Abril de 1974, a Escola-
Piloto passar-se-ia a chamar
Escola Superior de Educação
pela Arte. A partir dos finais
2.1 Binómio arte-educação dos anos 80 a ESEA foi
encerrada pelo Ministério da
Educação, em condições não
Há muitos séculos que são dados contributos reflexivos abundantes para a completa-mente esclarecidas,
abordagem do binómio arte e educação. Essa reflexão mereceu a atenção de sem nunca ter sido reaberta ou
integrada no Instituto Poli-
filósofos, pensadores e pedagogos (p. ex. Platão, Rousseau, Nietzche, técnico de Lisboa. Ver, sobre
Dewey) 1 e, mais recentemente, do inglês Herbert Read 2 e, entre outros, do a temática da Educação pela
Arte em Portugal, os seguin-
português Arquimedes da Silva Santos 3. tes documentos:
• Arquimedes da Silva
Santos (1999). Estudos
Se nos reportarmos à civilização grega e à filosofia como arte de pensar, de Psicopedagogia e
encontramos em Platão (428-347 a.C.) e nos seus escritos, sinais e orientações Arte. Lisboa: Livros
Horizonte. 141 p.
importantes sobre as finalidades e o rumo a imprimir à Educação 4. • Vários (2001). Educa-
ção pela Arte. (Estudos
Segundo Platão, a Educação deveria corresponder a uma maiêutica (maieutiké, em homenagem ao Dr.
Arquimedes da Silva
que deriva do grego maîa, parteira) o que significa a arte da parteira, que Santos). Lisboa: Livros
Horizonte. 222 p.
colocava a ênfase naquele(a) que ajuda a nascer. Porém, a arte da parteira
deveria ser interpretada na extensão da mensagem que se encontra aí contida. 4
Anissa Castel-Bouchouchi
(2002). “Les figures du secret
Neste caso, a imagem da parteira é metafórica e, assim, a interpretação dans Les Lois de Platon: le
conduz--nos não só à acção daquele(a) que ajuda a nascer, como também à non-dit, l’impré-visible et
l’informulable”, in Sigila,
acção daquele(a) que ajuda a Ser. Perante a essência metafórica da imagem revista transdis-ciplinar luso-
da parteira, enquanto aquele(a) que ajuda o Ser a Ser, eis-nos assim em face francesa sobre o segredo, n.o
9 – Gardiens du secret –
do(a) Educador(a) e da sua função de ajudar o Ser a Ser. Com efeito, o(a) Guardadores do segredo,
primavera-verão 2002, pp.
Educador(a) é aquele(a) que exerce a arte da maiêutica ou a arte da parteira. 175-187.
Platão coloca-nos deste modo perante o desafio maior da Educação, o de
49
ajudar a transformar as potencialidades que nascem com a Pessoa, em
capacidades que se exprimem através do Ser.
Na obra Leis, Platão defendia que o estudo das diversas disciplinas não deveria
estar confinado a um período da vida. Ele entendia que a educação dependia
do jogo (paidia) que não deveria ter menos importância que as disciplinas
(mathemata).
Para vir a desenvolver-se e a exprimir-se como um homem de mérito,
deveremos permitir, desde a infância, que ele possa agir através do jogo
que diverte e ensina, assim como de actos sérios. (N/T livre de Platão,
citado por Castel-Bouchouchi, 2002: 181).
Ambos, o jogo, como via de prazer e de divertimento, ligado aos ditos ‘actos
sérios’, serão doravante a plataforma geradora de um princípio educacional
que, apoiado na expressão, deve conduzir as aprendizagens. Para Platão a
paidéia-paidia compreendia (…) a educação do corpo e da alma, com a
5
Idem, ibidem, 181. aprendizagem da ginástica, da música, das letras e das ciências 5. Platão
preconiza que a educação deve ser orientada para a harmonia (…) através do
conhecimento e a natureza da alma, passando pelo estudo do Bem, do Belo,
6
Idem, ibidem, 182. do Uno e do Múltiplo 6.
Sendo este capítulo centrado no Objecto (O) de estudo das expressões e das
artes na educação não será certamente aconselhável, neste contexto, expan-
dirmos a vertente filosófica da nossa abordagem. No entanto, tomando embora
a plataforma platónica como inspiradora, vamos concentrarmo-nos com maior
detalhe em alguns factores e conceitos que se consideram determinantes
quando nos debruçamos sobre o binómio arte e educação:
– arte;
– expressão;
– sensibilidade;
– jogo;
– prazer;
– criatividade;
– aprendizagem.
2.1.1 Arte
O termo arte tem origem no latim ars (artis) e é definido como a criação de
objectos tendo em vista a experiência estética 8. Esta definição evoca, 8
Cf. LOGOS – Enciclopé-dia
Luso-Brasileira de Filo-sofia
imediatamente, os três factores presentes na arte: criação, objecto e experiência (1997-2001). 5 Volu-mes.
estética. Estes factores estão, por sua vez, ligados a um certo saber, um certo (Volume 1: A-D, 1511 p.;
Volume 2: E-I, 1511 p.;
fazer e também um certo sentir. A busca de uma simples reacção de agrado Volume 3: J-Pa, 1382 p.;
por parte do espectador, até ao deslumbramento, a contemplação e o êxtase, Volume 4: Pe-S, 1352 p.;
Volume 5: T-Z, 1402 p.).
são algumas das intenções maiores que o objecto artístico procura. Lisboa e São Paulo: Verbo.
51
– Arte-Imitação ou mimese. Esta foi a via seguida por vários clássicos,
tanto no que diz respeito ao objecto em si como ao processo;
52
Pessoa observa relações de complementaridade entre arte e ciência. No
entanto, atribui-lhes funções distintas. A ciência descreve as coisas como
são; a arte descreve-as como são sentidas, como se sente que são 12. 12
Idem, ibidem, 3.
Finalmente, relembra--nos as finalidades da arte e da ciência: A finalidade
da arte é a elevação do homem por meio da beleza. A finalidade da ciência
é a elevação do homem por meio da verdade 13. 13
Idem, ibidem, 27.
2.1.2 Expressão
A expressão tem sido definida de várias formas. Numa síntese elaborada por
Michel Houle no seu livro Jeu-Apprentissage 14, é definida expressão com as 14
Michel Houle (1987:11).
Jeu-Apprentissage. (Cahier
seguintes acentuações: 1). Quebeque: Les entrepri-
ses culturelles enr. Il. 142 p.
Exprimir-se é viver um momento fora do tempo e do espaço real, num
mundo que se organiza em torno de sensações e que se constrói segundo
necessidades pessoais. (Lobrot).
A expressão não é qualquer coisa que se vem adicionar à vida, é a definição
mesma do indivíduo, correspondendo a ausência de expressão à morte.
(A. Paré).
Exprimir-se é explorar o ser que somos o mais possível, o melhor possível,
de acordo com a nossa própria natureza. (C. Wautelet).
É através da expressão e do reconhecimento do seu desejo pelo outro,
numa experiência de prazer partilhado, que a criança adquire e confirma
o sentimento de existir e de ter uma identidade pessoal.
(M. Pagès).
2.1.3 Sensibilidade
53
jogo e o drama (drama=acção) são produtos subjectivos inerentes a todo o
ser humano e que têm origem em três qualidades distintas: o instinto
psicológico, o instinto dramático e o instinto artístico. Centrado na observação
da criança, Pessoa refere-a como dispondo da capacidade de criação do mundo
da ficção através da função de irrealizar. De forma maravilhosamente poética,
o escritor português enuncia o período da infância assim:
(...)
Quanto mais eu sinta,
Quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidades eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
18
Cf. Álvaro de Campos/ Mais possuirei a existência total do universo,
Fernando Pessoa, citado por Mais completo serei pelo espaço inteiro fora
Amílcar Martins (1998: 117).
(...) 18
54
2.1.5 Prazer
2.1.6 Criatividade
disponibiliza.
2.1.7 Aprendizagem
55
A aprendizagem da comunicação é a aprendizagem do prazer; o prazer
desfaz as inibições e os medos que impedem a comunicação com o Outro.
(M. Pagès).
O acto de aprender só é verdadeiramente vantajoso quando ele se encontra
articulado com a experiência total daquele que aprende; estar atento ao
modo como as coisas se passam e se vivem aumenta e optimiza a capacidade
de aprender e de compreender o que se faz e o que se diz. (F. Estienne).
O jogo surge como um conceito-chave, fonte de cultura, via de
aprendizagem, motor de criação. (M. Bousquet).
O jogo nunca se opõe ao conhecimento. Pelo contrário, ele é um dos meios
mais importantes para a aquisição das diferentes situações sociais, de
aprendizagem e de tipos de comportamento. (J.-P. Ryngaert).
O jogo tanto ensina a pensar como a agir. (J. Château).
As faculdades de imaginação dispõem de um imenso espaço, porque elas
constituem a via mais lógica e mais espontânea de descoberta e de
aprendizagem. (P. Leenhardt).
56
2.2.1 Objectivos gerais de ensino
57
produto que tem alimentado uma parte do debate sobre as orientações
curriculares e programáticas das expressões artísticas no contexto
educacional, poder-se-á considerar que a perspectiva intrínseca valoriza
quasi-exclusivamente o processo. Por vezes, a forma quasi-radical
como é argumentada e implementada a perspectiva intrínseca retira
consistência aos próprios fundamentos que lhe deram origem,
designadamente o da auto-limitação a uma expressão artística que se
abra sobre a comunicação.
– A perspectiva estético-artística e cultural centra-se no desen-
volvimento estético-artístico e cultural, valorizando tanto o processo
como o produto e a resultante da experiência artística. Há uma ten-
dência, quando se opta por esta perspectiva, a reservar momentos
especiais para a apresentação de produtos a um público que faz parte
da comunidade escolar próxima ou, outras vezes, esses produtos são
apresentados a um público mais alargado e mesmo desconhecido.
Algumas das orientações curriculares e programáticas de alguns países
fomentam esta via com o pressuposto de que a articulação entre
processo-produto proporciona benefícios para o desenvolvimento das
crianças, designadamente da sua progressiva apropriação do universo
estético-artístico e cultural. Os momentos de apresentação de ‘produtos
finalizados’, designadamente na forma de exposições, de espectáculos
ou de encontros públicos, na forma de jogos dramáticos elaborados
ou mesmo de peças teatrais, de coreografias com maior ou menor
complexidade de execução, desde que devidamente enquadradas por
preocupações de inclusão e de respeito pela diferenciação das crianças,
constitui uma mais valia para toda a comunidade educativa.
– A perspectiva extrínseca centra-se nos objectivos determinados e a
atingir com uma disciplina, uma matéria específica, uma temática ou
uma função ‘fora’ do domínio restrito do que se consideram, tradi-
cionalmente, as expressões artísticas. Esta perspectiva é
particularmente utilizada no ensino de línguas (maternas, segundas
ou estrangeiras), assim como no ensino da história, entre outras
matérias. Teoricamente, qualquer disciplina ou matéria pode ser
ensinada através das expressões artísticas. O desafio para os
educadores, ao utilizarem esta perspectiva, é o da sua atenção ao
modo de utilizar as expressões artísticas, vigiando e protegendo as
tendências de atracção e banalização desvalorizadora dos aspectos
vitais das próprias expressões.
– A perspectiva terapêutica centra-se em objectivos determinados por
necessidades de âmbito psicoterapêutico. Esta perspectiva está,
tradicionalmente, mais próxima da área da saúde e da psicologia.
Porém, nas últimas décadas, esta perspectiva tem merecido uma atenção
especial da parte de investigadores e pedagogos que olham as
58
expressões artísticas como ‘matéria’ poderosa em processos de cura,
designadamente através de meios de compensação e de equilíbrio
emocional, facilitadores da harmonização global da pessoa. Com efeito,
algumas novas orientações curriculares e programáticas, apoiadas em
pesquisas relativamente recentes, começam a dar à perspectiva tera-
pêutica das expressões artísticas (psicodrama, dramoterapia, danço-
terapia, musicoterapia, entre outras), uma atenção que não tinham
anteriormente nos seus contextos educativos e culturais.
59
crianças. As expressões através do corpo, da voz, da música, da cor e
da forma, são essenciais para as crianças. Elas são mesmo vitais. É
importante que os educadores, professores ou animadores favoreçam
a regularidade através da continuidade e da permanência. A regularidade
das práticas de actividades expressivas (em contraponto à irregu-
laridade, à impermanência, ou mesmo à raridade e excepção), favorece
e cria condições para que as crianças as interiorizem. É a regularidade,
apoiada na diversidade das práticas de actividades expressivas, que
permite que as crianças cresçam com a normalidade e familiaridade
suscitada pelo seu uso quotidiano. As diversas linguagens e territórios
só são conquistados, com naturalidade, através de vivências regulares.
60
2.2.4 Perfil de atitudes e competências do educador
61
Actividades de revisão (e expansão)
Referências bibliográficas
62
CASTEL-BOUCHOUCHI, Anissa
2002 “Les figures du secret dans Les Lois de Platon: le non-dit,
l’imprévisible et l’informulable”, in Sigila, revista transdisciplinar
luso-francesa sobre o segredo, n. o 9 – Gardiens du secret –
Guardadores do segredo, primavera-verão 2002, pp. 175-187.
PLATÃO – FILOSOFIA – EDUCAÇÃO – SEGREDO
HOULE, Michel
1987 Jeu-Apprentissage. (Cahier 1). Quebeque: Les entreprises culturelles
enr. Il. 142 p.
REPORTÓRIO DE ACTIVIDADES – JOGOS
MARTINS, Amílcar
1998 Actividades dramáticas nos jardins de infância luso-chineses de
Macau. Tese de doutoramento apresentada em 1996 na Faculté
des sciences de l’éducation, Université de Montréal, Québec,
Canadá. Prefácio de António Nóvoa. Resumos em português,
francês, inglês e chinês. Macau: Fundação Macau e Direcção
dos Serviços de Educação e Juventude. Il. 420 p.
MACAU/CHINA – EDUCAÇÃO – FORMAÇÃO – ACTIVIDADES DRAMÁTICAS
– JARDINS DE INFÂNCIA LUSO-CHINESES
PESSOA, Fernando
1973 Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias. 2.a edição.
Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e
Jacinto Prado Coelho. Lisboa: Edições Ática. 360 p.
ARTE – ESTÉTICA – LITERATURA – JOGO
63
PESSOA, Fernando e Álvaro de Campos
1990 Ode maritime et autres poèmes. Tradução por Dominique Touati
e Michel Chandeigne. Paris: Orphée, La Différence, pp. 110-117.
ARTE – ESTÉTICA – LITERATURA
READ, Herbert
1968 O Significado da Arte. Lisboa: Ulisseia. Il. 182 p.
ARTE – EXPRESSÕES ARTÍSTICAS
1982 Educação pela Arte. (Tradução do inglês por Ana Maria Rabaça
e Luís Filipe Silva Teixeira: ‘Education through Art’, 1958).
Lisboa: Edições 70. Il. 396 p.
ARTE – EDUCAÇÃO PELA ARTE – EXPRESSÕES ARTÍSTICAS
VÁRIOS
2001 Educação pela Arte. (Estudos em homenagem ao Dr. Arquimedes
da Silva Santos). Lisboa: Livros Horizonte. 222 p.
EDUCAÇÃO PELA ARTE – FUNDAMENTOS E PERSPECTIVAS
64