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Copyright©2018 por Marcos Kopeska e Jasiel Botelho

Editor: Norberto Schütz Cruzeiro


Capa (ilustração e diagramação): Antonio Cezar Boamorte Charges: Jasiel Botelho e Antonio Cezar
Boamorte Diagramação: Débora Balmant Cruzeiro Cieslak Revisão de texto: Josias Brepohl

Débora Balmant Cruzeiro Cieslak Edson Cruz


Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada, salvo outra
indicação.

Todos os direitos reservados por:


Editora Schütz
Rua Antônio Costa, 160
80820-020 – Curitiba – Paraná
www.editoraschutz.com.br

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao amigo e mestre Bispo Nelson Luiz de


Campos Leite, que, no início do meu ministério, incentivou-me a
escrever, e, na ocasião, lançamos os primeiros trabalhos na série
Quando. Para um jovem pastor, o encorajamento de um bispo
experiente, acreditando no futuro escritor, foi o alçar das velas para
singrar novos mares. Obrigado, velho e incansável guerreiro!
(Marcos Kopeska)

Os autores conseguem tratar de um assunto crucial para a vida


pastoral de forma alegre e prática. Finanças é uma área que pode
ser bênção ou pesadelo para o pastor, e as dicas práticas

deste livro ajudarão você a tornar sua vida e ministério melhores.

Josué Campanhã Missionário da Sepal Diretor da Envisionar

Á
PREFÁCIO

Dinheiro não é poder, mas tem muito poder de transformar quase


tudo o que nos diz respeito. O que somos ou o que empreendemos,
individual ou coletivamente, possui algum lance de teor financeiro.
Como aponta Lynne Twist,

virtualmente tudo em nossa vida, [incluindo] cada escolha que


fazemos – o que comemos, as roupas que usamos, as casas em
que vivemos, as escolas que frequentamos, o trabalho que fazemos,
o futuro com que sonhamos, se nos casamos ou não, e mesmo
assuntos de vida [ou morte] – tudo é influenciado por essa coisa
chamada dinheiro.1

As igrejas, bem como seus pastores e líderes ativos hoje, não são
exceção à regra. Ocorre que, de uma forma ou de outra, tudo no
ministério se apruma no critério financeiro e, com menos ou mais
clareza, quase sempre, sem dúvida alguma, orbita em torno do
assunto e da disponibilidade de recurso monetário – salários, ofertas
missionárias, orçamentos, quotas, custos de manutenção, imóveis
adquiridos ou alugados, construções, despesas corriqueiras,
subsídios, alocações, encargos.

Lembro-me da primeira vez que, há vários anos, fiz parte de um


comitê de missão e evangelismo na igreja local da qual era membro
aqui na América do Norte. Nosso pastor, quase sempre presente
nas reuniões, insistia em uma pergunta: “O que podemos fazer para
promover o testemunho cristão ao nosso redor?” As ideias eram
excepcionalmente criativas, cheias de propriedade bíblica e de
paixão por fazer o melhor que podíamos e devíamos como igreja
relevante, mas nenhuma ganhou corpo porque a última resposta,
dada invariavelmente pelo próprio pastor, desmontava a criatividade
e o entusiasmo que se percebia na sala: “Não temos dinheiro para
fazer isso”. No mundo evangélico brasileiro, as coisas não são tão
diferentes quanto parecem. Um rápido olhar sobre as nossas
práticas mostram o repetido agravamento dessa mesma
centralidade da dependência financeira para agir, o que provoca
engessamento de muitas possibilidades de ação de nossas igrejas.
1 TWIST, Lynne. The Soul of Money [A Alma do Dinheiro]. W.W. Norton, 2003, pg. xxi.

Em uma correlação inevitável, na vida e no trabalho do pastor,


dinheiro é uma das questões mais significativas no que tange ao
seu dia a dia, embora esse assunto não seja extensivamente
abordado na formação teológica, nos tratados ético-pastorais
acessíveis a todos, nem na prática ministerial. Dinheiro está no topo
da lista dos fatores que mais afligem o ministério. O dinheiro tem
feito excelentes pastores escorregarem de seus extensos alcances
de influência ministerial. Alguns colegas tiveram o seu ministério
inteiro colocado em situação incerta ou até mesmo destruído em um
piscar de olhos. Um dos mais eficazes dardos inflamados do
maligno de que se tem notícia se apresenta como relações
financeiras impróprias, seja fruto da má gestão de finanças
pessoais, seja do péssimo manuseio de recursos institucionais.

Para piorar o quadro, os novos modelos pastorais, eclesiásticos e


de ministérios cristãos de praticamente todos os grupos evangélicos
fazem com que se dê valor excessivo ao volume de cifras e à
aparência financeira como modelo de sucesso pessoal e
institucional. Esta é a razão pela qual encontramos cada vez mais
pastores entorpecidos por ideais repletos de imaginários financeiros
e de linguagem centralizada na “raiz de todos os males”: o velho
amor ao dinheiro (1Timóteo 6:10)!

Lembro-me de ter lido, logo no início do meu ministério, no mesmo


dia em que fui ordenado ao pastorado, a “Oração de um Profeta
Menor”, escrita por A. W. Tozer, na qual ele inclui o seguinte:

Salva-me do erro de julgar uma igreja […] pelo total de suas ofertas
anuais”, e, “[...] se, como por vezes sucede aos teus servos, o teu
povo bondoso me obrigar a aceitar ofertas expressivas de gratidão,
conserva-Te ao meu lado e salva-me da praga que a isso
frequentemente se segue; ensina-me a usar o que porventura
receber de tal modo que não prejudique a minha alma nem diminua
o meu poder espiritual. A Vida Financeira do Pastor, brilhantemente
escrito por

Marcos Kopeska e Jasiel Botelho, eles próprios pastores


experientes no ministério e no assunto que abordam, vem preencher
uma lacuna de orientação prática aos pastores em suas finanças
pessoais e, por extensão, sobre seus reflexos no ministério. A leitura
deste livro pode ser, em si mesma, transformadora. Seu conteúdo é
francamente realista e direto, porém honestamente terno, afetuoso e
libertador.

Ao inserir histórias pessoais e conselhos práticos, A Vida Financeira


do Pastor vai muito além do óbvio. Chamanos a examinar nossa
atitude na lida com o dinheiro – como entender, como usar, como
sermos generosos, como alinhar nossos relacionamentos, como
colocar o dinheiro no seu devido lugar de modo a transformar nossa
vida e ministério, e como avaliar nossos valores humanos e cristãos
sob o senhorio de Jesus Cristo, e de Cristo tão somente!

Apresento-lhes, portanto, um livro autenticamente brasileiro,


integralmente contextualizado, escrito por pastores para pastores, e
de leitura simples, fascinante, inspirada, atraente e transformadora.
A quem quer que seja que anseie por mudar sua vida financeira em
ministério, vai aqui a minha mais incisiva recomendação.

Luís Wesley de Souza Candler School of Theology Emory University


Atlanta, GA E.U.A. ____________________________________
Luís Wesley é professor catedrático na Emory University, pós-doutor em Teologia Prática e
Práxis Religiosa, doutor em Estudos Interculturais e especializado em Ciências do
Comportamento, além de ser ministro metodista, diretor do World Methodist Evangelism
Institute, cofundador da Faculdade Teológica Sul Americana, cofundador do Instituto Jetro,
fundador da Communitàs UMC e escritor.

SUMÁRIO

Introdução
1. Dinheiro e ministério, uma relação complexa
2. Pastor com orçamento sob controle? Deve ser piada! Um dilema
nunca resolvido: o salário do pastor3.
4. E o que fazer com as dívidas?
5. Empréstimo: ilusão disfarçada de solução
6. Imprevistos: “com essa eu não contava!”
7. Testemunho pessoal por meio das finanças
8. Pastor: o mordomo exemplar
9. Ética: ainda há tempo de reverter o quadro
10. Seguros: gasto ou investimento?
11. O pastor e a consciência em paz

Conclusão
INTRODUÇÃO

Era final de 1998, e eu (Marcos Kopeska) recém-assumira o


pastorado em uma cidade interiorana na região Centro-Oeste, no
coração do cerrado brasileiro. Uma fronteira agrícola de riquezas
consideráveis e comércio a todo vapor. Estava ainda instalando a
mudança na casa pastoral, muito ampla e arejada, quando observei
a necessidade de alguns objetos decorativos na sala e na copa.

Dirigi-me a algumas lojas, olhei algumas peças e simpatizei com


uma estátua de mármore sobre um pedestal, ideal para um dos
cantos da sala de estar. Eu na verdade preferia pagar à vista, porém
a vendedora, muito simpática, insistiu para que eu fizesse a compra
em três parcelas, até como uma forma de cativar o novo cliente.
Contudo, nem ela, muito menos eu, contávamos com o que viria
pela frente.

Ao preencher a minha ficha e colher os dados, perguntou qual era a


minha ocupação. Até aquele momento, ela esboçava um sorriso
gentil. Quando, porém, respondi que era pastor, foi como se eu
houvesse dado uma péssima notícia. Seu sorriso desapareceu
imediatamente, e não conseguiu disfarçar certo grau de
desapontamento. Preencheu todos os dados e foi para a sala ao
lado.
Retornou cerca de dez minutos depois. Discretamente, e pedindo
muitas desculpas, informou-me que seria impossível conceder o
parcelamento, o qual havia incentivado inicialmente. Disse ela: “o
senhor é pastor, e a loja não faz crediário para igrejas evangélicas
ou para pastores”. Confesso que fiquei horrivelmente
desconcertado, contudo mantive a postura e fiz logo o cheque para
cobrir o valor em um único pagamento.

Por um instante pensei na minha trajetória pastoral, na cidade de


onde eu viera, na excelente reputação que lá desfrutara e na
relação íntegra que tivera com todo o comércio. Nesse momento, o
proprietário, um senhor muito comunicativo, aproximou-se para
conversar comigo, talvez por achar que valia a pena não generalizar
o conceito que ele alimentava sobre a figura do pastor.

Ao longo do diálogo, ele contou ter sido membro e músico muito


atuante de uma igreja. Entretanto, algumas decepções nocautearam
sua fé. Uma delas, o fato de ter sido vítima da inadimplência de três
pastores, que deixaram um rastro de prejuízos e desgastes. Dois
deles apenas passaram pela cidade, porém o terceiro adquiriu
instrumentos musicais, e sua equipe de louvor, dominicalmente,
“adorava a Deus” com os equipamentos que não haviam sido
pagos.

O proprietário me perguntou a que denominação eu pertencia. A


minha resposta pareceu ter-lhe dado certo alívio. E ele confidenciou
que o conceito que nutria sobre minha igreja era bom e que os
membros daquela comunidade sempre foram bons pagadores,
porém o título “pastor” lhe suscitava péssimas lembranças.

Antes de me despedir, orei por ele e paguei pela compra. Depois


disso, nossa amizade estreitou-se de tal forma que me tornei cliente
fiel do seu estabelecimento, e ele, membro da nossa igreja. Dois
anos depois, tive o privilégio de dirigir a cerimônia de seu
casamento.

Tenho certeza de que, ao longo do ministério, você já ouviu relatos


de restrição de crédito para pastores. Esse é um fato cada vez mais
comum. Talvez você até já tenha sido vítima desse cruel
preconceito, que elimina todas as possibilidades de contra
-argumentação. Entre as causas de quedas de pastores brasileiros,
a segunda mais frequente é a negligência na administração das
finanças.

Estranhamente, igrejas, denominações e associações eclesiásticas


tratam com severidade o problema do descontrole financeiro dos
pastores somente depois que as consequências vêm à tona.
Também temos pouco material publicado no que se refere à
prevenção do problema, bem como poucos seminários são
realizados sobre o tema da vida financeira do pastor. Tratamos o
efeito, porém não investimos na prevenção contra esse mal que
tanto atrapalha o ministério e o testemunho dos obreiros.

Com essa demanda em mente, trabalhamos as questões e


produzimos este livro. Nosso objetivo não foi produzir um conjunto
de receitas legalistas ou moralistas, mas fornecer, ao ministro do
evangelho, um instrumento que sinalize o melhor caminho na
dificultosa estrada em que caminha.
1. DINHEIRO E MINISTÉRIO, UMA RELAÇÃO COMPLEXA
...onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. (Mateus
6.21)

Dinheiro e ministério têm estado em conflito na igreja desde que um


e outro começaram a existir. Esse conflito esteve presente quando
Ananias e Safira mentiram sobre o valor da venda de sua
propriedade e quando Simão tentou comprar de Pedro o poder de
conceder a dádiva do Espírito Santo.1

É de fundamental importância que o pastor saiba definir o lugar do


dinheiro em sua vida pessoal e em seu ministério. John Blanchard2
afirma que poucas coisas testam mais profundamente a
espiritualidade de uma pessoa do que a maneira como ela usa
1 Atos 5 e Atos 8.14.24
2 BLANCHARD, John. Pérolas para a Vida. Edições Vida Nova. São Paulo, 1993, p. 119.

o dinheiro. A atitude com o dinheiro é reflexo dos conceitos que


cada pessoa construiu em sua mente nessa área. Há pelo menos
três modos diferentes de pensar que definem a relação de uma
pessoa com o dinheiro.

Senhor e Servo

Jesus alertou sobre a relação “senhor e servo” em Mateus 6.24:


Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de
aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e
desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.

A relação “pastor e dinheiro” deve ser de “senhor e servo”, nunca o


contrário.

O cristianismo brasileiro sofre hoje a frontal e insistente influência da


Teologia da Prosperidade, com suas interpretações tendenciosas
que, por vezes, redefinem a autoridade espiritual, o ministério e a
vida financeira dos pastores. Nesse meio, as posses são o
termômetro da fé. Essa teologia, em geral, fundamenta
-se em textos esparsos do Antigo Testamento, porém, mesmo ali,
esse ensino começa a ser desconstruído. Aliás, esse assunto é
profundamente tratado no livro de Jó, talvez o livro mais antigo da
Bíblia. O livro de Jó trabalha o fato de que Deus pode lançar uma
pessoa, ainda que íntegra e reta, em sofrimento e escassez por
motivos que estão além da nossa compreensão. Isso contradiz
completamente o conceito moderno de prosperidade.

Constatamos que patriarcas, líderes de clãs e reis piedosos eram


ricos, entretanto, observamos que sacerdotes e levitas não
possuíam terras, riquezas e rebanhos. Assim sendo, o sacerdote
era preservado da ansiedade pela vida e de suas intensas
demandas em torno da sobrevivência, o que possibilitava maior
atenção para com as causas espirituais da nação. Ocorre que os
arautos da prosperidade omitem intencionalmente esse assunto.

O problema essencial na questão não é o dinheiro, as posses ou os


empreendimentos, porém o amor dado a eles, que leva indivíduos a
se entregarem à busca e à conservação das riquezas acima de
tudo. Sendo assim, na vida dos sacerdotes, o dinheiro e os bens
dificilmente ocupariam o status de senhor.

No livro de Provérbios, e depois com mais ênfase no Novo


Testamento, a manifestação da bênção de Deus na vida de alguém
é sua capacidade de amar o próximo e dividir seus bens materiais
com o necessitado, o que, mais uma vez, denota que o dinheiro é
servo, e não senhor. Jesus opôs-se frontalmente aos ricos, não
pelas posses em si, mas pelas atitudes que os seus possuidores
inconscientemente tomavam em relação a elas.

Por exemplo, ao jovem rico ele disse:


Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no
céu; então, vem e segue-me. Ele, porém, contrariado com esta
palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades.
Então, Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discípulos: Quão
dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! (Marcos
10.21-23)

À luz do contexto, o jovem retirou-se triste não porque era muito


rico, mas porque amava devota e intensamente as suas riquezas.

As riquezas seduzem o ser humano. São como um ídolo


manipulado com todo cuidado e atenção. A visão magnetizadora do
verde do dólar, o cheiro sedoso do interior do automóvel importado,
as cinco estrelas douradas da folha do cheque, o conforto da sala
VIP do aeroporto, a conquista da casa nova repleta de requintes são
hipnotizantes.

Nós vivemos o capitalismo selvagem que o pastor Marcelo


Gualberto satiriza, chamando de “capetalismo”. A liberalidade em
dar, ofertar, socorrer e romper o encantamento do senhorio das
cifras e suas engenhosas sutilezas é a maior evidência do controle
absoluto sobre as finanças.

Deus e Adorador
No capitalismo selvagem, regido pela relação produção – consumo
– status, passamos a valer pelo potencial de consumo. Tornamo-nos
admirados pelo que possuímos, e não pelo que somos. Em suma,
se temos muito, valemos muito; se temos pouco, valemos pouco; se
não temos nada, não valemos nada. Sendo assim, o fator “ter”
passa a ser a divindade que define quem é quem no grupo, que
elenca os valores da sociedade e constrói a escala de prioridades
do indivíduo.

No Antigo Testamento, uma das razões da insistente ordenança da


guarda do sábado era destronar a divinização do ter. Sem o
descanso do sábado, o ser humano trabalharia dia e noite,
ultrapassaria todos os limites da exploração e se entregaria à
competição em nome da ganância. Além do mais, depositaria sua
confiança em si mesmo, e não mais no Deus da Provisão.

No Novo Testamento, o Sermão do Monte tem como um dos seus


propósitos destronar esse deus e mostrar que os valores do Reino
são infinitamente mais nobres. Nessa ocasião, Jesus redefine a
escala de valores, pois:

promete-nos que o Pai recompensará a generosidade do dar


(Mateus 6.4);
chama-nos para orar pela provisão diária (Mateus 6.11);
garante-nos que os tesouros no céu são seguros (Mateus 6.19-
20);
mostra-nos que há conexão entre nossas posses e nossas
emoções (Mateus 6.21);
alerta-nos que a cobiça de bens traz trevas espirituais (Mateus
6.22-23);
adverte-nos acerca da ansiedade relacionada à falta de dinheiro
(Mateus 6.25-33); e
mostra-nos que o dinheiro concorre com Deus pelo senhorio de
nossas vidas (Mateus 6.24).
Observe que o dinheiro dos irmãos da igreja primitiva era
depositado aos pés dos apóstolos, não nas contas bancárias, nos
bolsos ou no coração, mas aos pés, portanto em posição de
adorador. Com nossos recursos adoramos a Deus, investimos na
expansão do Reino e socorremos os necessitados. O dinheiro está
a serviço do pastor, do Reino, da igreja local, das obras sociais, da
família pastoral, e esse papel nunca pode ser invertido. Quando a
relação é oposta e a cifra assume o papel de deusa, as motivações
do ministério se modificam, os valores se invertem, a escala de
prioridades se desarticula aos poucos, novas amizades
discretamente tomam o círculo de relacionamentos, e os indícios
dessa relação corrompida claramente se evidenciam. Alguém disse
que o ministério requer dinheiro, contudo precisamos tomar cuidado
para que o dinheiro não requeira o ministério. Muitos há que
sacrificam cabalmente seus ministérios no altar de Mamon3, e as
consequências são trágicas. Dizem que o dinheiro é um bom
empregado, mas um mau patrão, e isso é uma verdade absoluta.
Quando o dinheiro ocupa o status de senhor, do lugar de senhor ele
passa a requerer o lugar de deus. É a divinização do “ter”. O escritor
Herbert Spencer4 diz que o dinheiro é o maior deus debaixo do céu.
Jesus coloca a servidão ao dinheiro em contraponto à servidão a
Deus ao dizer que ambos não podem ocupar o mesmo coração ao
mesmo tempo.
Observe que o dinheiro possui muitas características de um deus,
razão pela qual Jesus o classifica como tal: traz a sensação de
segurança;
promete liberdade;
dá poder, sensação de onipotência;
ata ou desfaz relacionamentos;
manipula os sentimentos;
corrompe os valores de uma sociedade;
faz promessas;
exige zelo, atenção, energia e perspicácia; e parece
onipresente.
É evidente que esse deus se torna, ao longo da vida, o maior
concorrente de Deus no senhorio do coração. Essa é a razão pela
qual encontramos uma vasta gama de menções ao dinheiro e aos
bens materiais na Bíblia. Algumas curiosidades: 2.084 versículos
tratam de administração, contabilidade, dinheiro e finanças5;
dos 107 versículos do Sermão da Montanha, 28 tratam de
mordomia;
das 49 parábolas, 16 usam dinheiro ou bens materiais como base
de instrução; e
8 parábolas de Jesus nos ensinam como usar nosso dinheiro.
John Maxwell cita uma pesquisa realizada por James Petterson e
Peter Kim e compartilha os relatos sobre o que as pessoas disseram
que fariam por dinheiro (dez milhões de dólares). Os entrevistados
disseram que:
abandonariam a família (25%);
prostituiriam-se por uma semana ou mais (23%); abririam mão
da cidadania norte-americana (16%); deixariam o cônjuge (16%);
recusariam-se a testemunhar, permitindo que um assassino fosse
libertado (10%);
matariam um estranho (7%); e
entregariam os filhos para adoção (3%).
Essas descobertas reafirmam que o dinheiro possui status de
divindade. E todo deus reivindica senhorio.
3 Mamon é transliteração da palavra hebraica para “dinheiro” , algumas vezes
personificado como uma divindade.
4 BLANCHARD, Jonh. Pérolas para a Vida. Edições Vida Nova. São Paulo, 1993, p. 120.
5 HILL, Craig S. e PITTS, Earl. Bens, Riquezas e Dinheiro. Bless Gráfica e Editora, 1ª edição, 2002, p. 3.

Pasme! Há pastores que passaram a olhar os membros de suas


igrejas como cifras em potencial. Ouvi um pastor dizer que a sua
igreja precisava alcançar mais pessoas para Cristo a fim de obter
mais contribuições para cobrir os pagamentos da instituição e
manter os projetos da comunidade (na verdade, devaneios
egocêntricos, e não projetos comunitários). O mundo é centrado em
dinheiro, a máquina que alavanca a economia, no entanto esse
conceito não pode atropelar as motivações tão sagradas que
norteiam o ministério e o Reino.

O pastor submisso à servidão do dinheiro traz consigo algumas


características sintomáticas que passam a dirigir suas atitudes e
decisões: avareza, ansiedade, insegurança, arbitrariedade, acepção
de pessoas, doenças psicossomáticas. Perguntaram a Buda: “O que
mais o surpreende na humanidade?” E ele respondeu:
A cabeça dos homens, porque perdem a saúde para juntar dinheiro,
depois perdem dinheiro para recuperar a saúde, e, por pensarem
ansiosamente no futuro, esquecem-se do presente de tal forma que
acabam por não viver nem o presente nem o futuro, e vivem como
se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido.

Infelizmente, essa é a condição de muitos pastores. Essa condição


pode significar uma tentação cada vez mais comum aos pastores,
pois o ministério coloca o pastor diante de oportunidades para
realizar bons negócios, cultivar relacionamentos com pessoas
influentes e receber ofertas generosas. O rev. Messias Anacleto
costuma dizer que todo pastor será tentado nas três barras: barra de
saia, São João da Barra6 e barra de ouro.
A relação correta é: o dinheiro na condição obrigatória de servo; e,
Deus, na condição de Senhor. Nessa posição, o dinheiro será
instrumento de Deus para abençoar a vida e o ministério do seu
servo.
Como sei que o dinheiro está na condição de servo? Eis alguns
indicativos da relação correta:
Amizades preservadas, independentemente de poder aquisitivo;
orçamento sob controle, não obstante as variações ocasionais;
relacionamento com a esposa preservado de tensões advindas da
administração financeira;
6 Marca de um conhaque bem conhecido nos anos 1980.

somatório das contas a pagar menor do que a renda familiar;


contribuições depositadas com alegria e por liberalidade;
confiança na provisão de Deus ao longo dos períodos de
necessidades;
pouco ou nenhum investimento em bens supérfluos e ostentação
de status;
distância das facilidades do crediário;
liberalidade nas ofertas e no socorro aos necessitados;
poupança como hábito; e
administração e a aquisição de recursos, embora sempre deva
existir, fora do centro, não ocupando todas as energias e atenção.
Quando esses indicativos são observados em suas finanças, o
dinheiro está subjugado e está a seu serviço.

Mordomo e Bens

Eu (Marcos Kopeska) tenho ministrado, nos últimos anos, a


empresários. A cada semestre trabalho com o curso Negócios à Luz
da Bíblia7, e uma das aplicações muito impactantes do princípio da
mordomia é mudar a oração que os alunos normalmente fazem.
Orientamos a não mais orarem como
7 Curso do Crown Financial Ministries, traduzido, preparado e representado no Brasil pela
UDF (Universidade da Família), com a finalidade de implementar princípios bíblicos nas
organizações empresariais, a partir de empresários e executivos.

tradicionalmente faziam: “Senhor, o que devo escolher sobre meu


negócio?” A oração correta, após consagrar tudo a Deus, é:
“Senhor, o que devo escolher sobre o Seu negócio que eu apenas
administro?” Esse princípio é plena e absolutamente aplicável às
finanças pessoais de qualquer cristão. Nossas orações se esvaziam
da primeira pessoa do singular quando assumimos a figura do
mordomo:

“Senhor, que devemos fazer com o SEU dinheiro que


economizamos? Onde devemos aplicá-lo?”
“Senhor, este é o momento ideal para a troca do SEU automóvel, ou
devemos esperar?”
“Senhor, neste mês estamos sem os recursos para cobrir a conta do
condomínio do SEU apartamento.”
Ao Senhor pertence a terra, os bens, o ministério, os dons, o
dinheiro. Quanto a nós, somos os administradores serviçais das
riquezas de Deus. Na condição de mordomos, apenas cuidamos
daquilo que não é nosso, mas do proprietário. De acordo com Walter
Kaschel,

[...] mordomo quer dizer, literalmente, ecônomo, do termo grego


oikonomos, isto é, aquele que é incumbido da direção da casa, o
administrador. É aquela pessoa a quem é entregue tudo quanto o
senhor possui para ser cuidado e desenvolvido. É aquele a quem o
senhor incumbe o governo daquilo que lhe é mais precioso. Em
linguagem bíblica isto quer dizer não só terras, dinheiro, joias e os
bens materiais em geral, mas também o cuidado da esposa e dos
filhos, a reputação do senhor e até sua própria vida. Daí se
depreende o que o Senhor exige de nós quando nos constitui
mordomos seus. É com temor e tremor que devemos assumir nossa
responsabilidade, mas, de outro lado, com regozijo em nossos
corações, por ele nos ter confiado um lugar de tantas oportunidades
para glorificar seu santo nome.8

Somos gestores dos bens do Senhor que, ao longo dos anos de


nossa vida, terão sido apenas emprestados a nós. De acordo com o
Rev. Hernandes Dias Lopes, quando o mordomo se sente dono dos
bens do seu senhor, ele o trai. Quando deixa de cuidar com zelo e
fidelidade dos bens do seu senhor, ele torna-se usurpador, mas
quando entende e aplica integralmente o conceito de mordomia, o
dinheiro está no devido lugar e sua relação com ele é santa e digna.
8 KASCHEL, Walter. Lições de Mordomia. Palavra Prudente. Disponível em: http://
www.palavraprudente.com.br/estudos/walter_k/mordomia/cap01.html. Acesso em:
10/maio/2018.
2. PASTOR COM O
ORÇAMENTO SOB CONTROLE? DEVE SER PIADA!

Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta


primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a
concluir?
(Lucas 14.28)

Uma pesquisa entre cristãos nos EUA levantou que 90% das
instituições eclesiásticas, incluindo igrejas, seminários teológicos,
agências missionárias e ministérios de treinamentos de obreiros,
não possuem qualquer treinamento formal na área de finanças para
seus membros. No Brasil, quais são os seminários teológicos que
possuem alguma disciplina na grade curricular que prepare o futuro
pastor para a tão sensível tarefa de cuidar das suas finanças?
Poucos! Assim sendo, por falta de referenciais, os pastores adotam
para si os princípios seculares na direção das finanças pessoais.
Ocorre que, quando o espelho da comunidade, seu mentor
espiritual, deixa de refletir Cristo nas finanças pessoais, pouco se
espera, nesse aspecto, dos seus liderados.

Dizem que o orçamento do obreiro cristão é um documento


teológico. O registro dos gastos indica quais são os valores do líder
e esses, por sua vez, ditam as prioridades do homem de Deus.
Essas prioridades revelam com exatidão o que ou a quem
adoramos, e mais, indicam com precisão quem ou o que amamos.
Exibem com clareza em que ou onde investimos tempo qualitativo.
O orçamento mais bem elaborado trabalhará com alguns princípios
de organização e será nosso “livro de atas”, fazendo o registro
histórico das nossas prioridades. Lembrome de ter ouvido as sábias
reflexões de um pregador em certo culto de virada de ano: “Quer
saber onde esteve seu coração no ano findo? Então consulte os
canhotos dos cheques que você preencheu ao longo dos últimos
doze meses. Eles são o reflexo das suas prioridades”.

O hábito do planejamento

Planejar é a função ou serviço de preparar um determinado


trabalho. O planejamento antes da ação é algo que o próprio Senhor
Jesus incentivou como ação preventiva necessária e indispensável:

Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta


primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a
concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a
podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, dizendo: Este
homem começou a construir e não pôde acabar. Ou qual é o rei que,
indo para combater contra outro rei, não se assenta primeiro para
calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra
ele com vinte mil? Caso contrário, estando o outro ainda longe,
envialhe uma embaixada, pedindo condições de paz. Assim, pois,
todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não
pode ser meu discípulo. (Lucas 14.28-33)
Planejar é também calcular a probabilidade de desastres e

pensar antecipadamente em uma gama de possíveis soluções . No


Brasil, uma pesquisa realizada pela SERASA indicou que 57% dos
divórcios se concretizam devido a questões financeiras.9 Nos EUA,
uma pesquisa realizada pela Universidade de Michigan, divulgada
em 2012, mostrou o dinheiro como o principal motivo de conflitos
entre os casais. No estudo, 49% das pessoas divorciadas contaram
que brigavam muito com seus parceiros por causa de perfis
econômicos diferentes e de mentiras sobre os gastos.10 Uma
pesquisa realizada pela H2R Pesquisas Avançadas, empresa
especializada em comportamento do consumidor, revelou que 33%
dos casais brigam com certa frequência por dinheiro e 7,5%
discutem sempre por esse motivo11. No Brasil, a segunda causa de
divórcios é a incompatibilidade dos cônjuges na administração
financeira, e o casamento do pastor não está imune ao perigo em
voga. O planejamento em conjunto aproxima os cônjuges da
realidade financeira do lar sob o mesmo ponto de vista. Por essa
razão o sábio Salomão conclui: “Melhor é serem dois do que um,
porque têm melhor paga do seu trabalho” (Eclesiastes 4.9).
9 Dicas para Evitar que Problemas Financeiros Terminem em Divórcio. Disponível em:
www. diariodoscampos.com.br/noticia/dicas-para-evitar-que-problemas-financeiros-
terminem
-em-divorcio. Acesso em: 26/janeiro/2018.

Diferentemente do que alguns poderiam pensar, o hábito de planejar


não anula a confiança e a fé no Deus da Provisão. A Bíblia nos
incentiva a planejar. Alguém disse: “Escreva seu planejamento a
lápis e entregue a borracha na mão de Deus”.

Um excelente começo para o planejamento financeiro é montar uma


planilha de contabilidade simples na qual constem todas as
entradas, os gastos fixos e variáveis do mês. Não se esqueça de
relacionar os pequenos gastos do mês, pois, no somatório, pesam
mais do que imaginamos. Ao possuir um mapa real de quanto custa
para viver a cada mês, podemos estabelecer com mais clareza o
alvo de economia/mês. Você pode
10 MACHADO, Elisabete. Estes são os principais motivos de brigas entre casais.
Disponível em: https://hintigo.com.br/motivos-de-brigas-entre-casais/. Acesso em:
22/novembro/2016.
11 VILLAS, Leticia. Juntos, menos na conta corrente. Disponível em: https://www.
otempo.com.br/capa/economia/juntos-menos-na-conta-corrente-1.283252. Acesso em: 10/maio/2018.

baixar da internet alguns bons modelos de planilha ou fazer a sua


em programas como o Excel.
A cultura da poupança

Poupar é uma orientação que deveria virar hábito, que, por sua vez,
deveria se transformar em cultura, apesar de a pósmodernidade,
com seus apelos agressivos pelo consumo, tentar implantar a sua.
Ocorre que a cultura do consumismo pode, num primeiro momento,
aquecer a economia, mas logo à frente oferece o risco do colapso.
O apelo incessante do capitalismo é: Consuma! Consuma!
Consuma!

Quem nos ajuda a compreender o hábito de poupar como atitude


sábia na administração é José, do Egito. A sabedoria de José não
se resumiu em interpretar o enigmático sonho de faraó, mas foi
exuberante em planejar uma poupança de alimentos para os sete
anos de fome. A implementação da poupança salvou o Egito e
outros povos da fome que avassalou o mundo nos anos de seca
que se seguiram. A história de José se repete ao longo da história.
As sete vacas gordas nunca são eternas. O número sete referindo-
se a anos, à luz da numerologia hebraica, significa um ciclo
completo, portanto, depois de um ciclo completo de abundância,
pode vir um ciclo completo de escassez. O Brasil viveu o boom da
economia entre 2008 e 2011 e, acerca desse tempo, o Frei
Leonardo Boff, em entrevista,12 comentou:
12 Roda Viva. TV Cultura. Programa exibido em 18/março/2013.

Nenhum crescimento econômico pode ser maior do que a


capacidade de absorção econômica da sociedade, portanto todo
crescimento de uma economia baterá em um teto. O mercado de
consumo logo ficará saturado, estagnará e depois entrará em
decadência. Aí, vêm na sequência, os problemas sociais[...]

Na vida pessoal não é diferente. Quando as vacas forem gordas,


economizemos, poupemos, “construamos silos”, “guardemos nos
armazéns”, porque haverá um teto. As vacas magras virão no ciclo
seguinte e, se pouparmos, teremos reserva suficiente para enfrentá-
las. Vejamos o que Salomão escreveu: “O que ajunta no verão é
filho sábio, mas o que dorme na sega é filho que envergonha”
(Provérbios 10.5).

Algumas recomendações para o colega que decidiu criar o hábito de


poupar:
Faça o levantamento de todos os gastos mensais e separe 5% da
sua renda para iniciar a sua poupança. Depois, à medida que for se
adaptando à nova cultura, você poderá aumentar esse percentual
para 10%. Assim que o montante justificar, o gerente do banco
poderá indicar uma aplicação mais rentável.
Estabeleça um alvo para sua economia, por exemplo, alcançar,
em um ano, o valor X com a finalidade do investimento Y. Melhor
ainda se o alvo for um bem imóvel, pois não sofre depreciação.
Quando você caminha em direção a um alvo, suas economias
passam a ter significado maior e a sensação de se aproximar do
alvo é o incentivo.
Tenha sempre o valor correspondente ao orçamento doméstico de
dois meses em poupança. Essa reserva é importante para as
surpresas. Sessenta dias é uma média de tempo razoável para um
possível redimensionamento em uma relocação ministerial.
Cuidados com a autocobrança por status e compromissos

Muitos jovens seminaristas oriundos de lares humildes passam por


constantes necessidades financeiras ao longo do período de
formação acadêmica. É muito comum ouvirmos as narrativas de
colegas que, no tempo de formação teológica, passaram por
privações, comeram pão com ovo por meses e mal tinham dinheiro
para o transporte. Os quatro ou cinco anos de aperto se foram, e
agora, formados e ordenados, estão à frente de uma igreja
composta por famílias estruturadas e bem resolvidas
financeiramente. Inconscientemente o jovem ministro procura
oferecer à sua esposa um mínimo do que julga ser compatível com
a sua função e com o padrão econômico da comunidade. Porém,
em médio prazo, essa postura pode lhe custar muito. Ele, que veio
de um estilo de vida caracterizado pelo baixo poder aquisitivo, de
imediato se vê com um salário seguro, uma conta bancária, um
cartão de crédito e um talão de cheques à disposição. Com isso
surge a tentação do consumo. O salto imediato pode lhe conferir um
poder de compra que o afundará no descontrole do orçamento
familiar.

Os compromissos sociais advindos da função, que vão desde


constantes jantares, pizzas após o culto, aniversários, viagens e
presentes de casamento, também podem facilmente colocar as
finanças da família pastoral em perigo. Do mesmo modo,
consideremos a necessidade constante de reciclagem do pastor.
Isso o levará a investir em livros, material de estudo e congressos.
Algumas igrejas locais cobram a pós-graduação do seu ministro,
com especialização em área relevante para os trabalhos que realiza.
É fato que o pastor que não investe em sua formação e em seu
crescimento intelectual está fadado a tornar-se repetitivo e
ultrapassado com o passar dos anos, mas é evidente o razoável
custo monetário dessa consciência.

Todas as inserções do pastor na vida social da sua comunidade ou


na sua formação são absolutamente legítimas, mas é prudente que
o ministro, nos primeiros anos de seu ministério, monitore suas
finanças com realismo, livre das sutis tentações do status e do
consumismo. Seus ideais nessas áreas devem ser compartilhados
com a liderança maior da igreja local, e nunca transformados em
autocobranças secretas.

3. UM DILEMA NUNCA RESOLVIDO: O SALÁRIO DO PASTOR


Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os
presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se
afadigam na palavra e no ensino. Pois a Escritura declara: Não
amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é
digno do seu salário.

(1Timóteo 5.17-18)

Por séculos o protestantismo alimentou o ideal do pastor ou do


missionário sofredor, abnegado, que renuncia a qualquer
possibilidade de renda além do seu baixo salário, pago pela igreja,
convenção ou junta de missões. Formava-se entre os fiéis a imagem
do “semianjo” que não tinha olhos para o dinheiro, não se envolvia
com negócios paralelos, não tinha ideais materiais e tão pouco tinha
direito a uma casa própria. Até cerca de meio século atrás, algumas
igrejas, além de terem a casa pastoral, tinham a mobília pastoral já
instalada. Dessa forma, em época de sucessão pastoral, o ministro
não acumularia preocupações com móveis e decoração. Ainda hoje,
algumas denominações referemse ao salário do pastor como
subsídio pastoral, subvenção, côngrua13 ou donativo, uma
insinuação de que o termo “salário” é inconveniente ou impróprio
para o ministério. Inclusive, segundo o sociólogo e professor da
UFRGS Ivaldo Gehlen, a esmola tem origem religiosa, e não civil, o
que reforça a teoria.

Creio que o salário pastoral não é a principal recompensa pelo


ministério nem a mais gratificante. Os valores eternos, estes mais
nobres, fazem o ministério valer a pena. As pessoas alcançadas
para Cristo, os matrimônios restaurados, a igreja doutrinada, os
cristãos discipulados, a liderança treinada, essas são as
recompensas que coroam o legítimo ministério pastoral. O salário
nunca pode ser a principal moeda nas decisões e escolhas
inerentes ao ministério. Não obstante, o pastor precisa tratar a
negociação salarial com cuidado e zelo para que possíveis
decepções e frustrações resultantes de uma má condução dessa
questão não esfriem seu ânimo no ministério.
13 Termo medieval que significa “pensão que os párocos recebiam para o seu sustento”.
O pastor deve receber salário?

Parece que esse ainda é um questionamento muito presente na


sociedade e até entre alguns círculos cristãos. É muito evidente que
o ministro deve ser remunerado, isso tanto pela argumentação
bíblica como pela lógica da vida. Torna-se difícil, no contexto cada
vez mais empreendedor das igrejas, considerando as demandas da
pós-modernidade, desenvolver com excelência o ministério pastoral
de tempo parcial. Se considerarmos a gama de atividades
necessárias para que os ministros do Evangelho conduzam o
rebanho de Cristo, perceberemos um árduo, exaustivo e ininterrupto
trabalho;

no estudo da Bíblia, feito com esmero;


na dedicação perseverante à oração e à piedade; no
aconselhamento dado aos trôpegos na fé; na orientação aos
novos em sua caminhada cristã; no apaziguamento de casais em
crise;
na mediação das demandas entre irmãos;
no monitoramento dos relacionamentos frágeis; na
admoestação dos insubmissos;
no treino e formação de discípulos;
na visita aos enfermos;
no socorro dado a pessoas em crise, por vezes madrugada
adentro;

na contratação dos líderes dos ministérios da igreja; na


motivação dos colaboradores;
na zelosa preparação dos sermões;
na catalogação de estudos e artigos;
na organização e motivação dos ministérios da igreja; na
atualização do rol de membros e dos livros de atas; na cuidadosa
administração do patrimônio. Assim como os membros de sua
igreja, o pastor precisa,

com a dignidade de um pai de família:


pagar suas dívidas;
saldar seus impostos;
vestir seus filhos;
pagar escola;
comprar material escolar;
pagar aluguel (situação da maioria dos pastores); ir ao
supermercado, farmácia e posto de gasolina; adquirir livros,
periódicos e materiais de pesquisa

(investimentos no ministério);
manter seus meios de comunicação com a comuni
dade (internet, celular e telefone);
manter-se reciclado, participando de congressos e seminários
(para uso no próprio ministério); manter seu automóvel
(instrumento de trabalho); e cuidar da saúde (indispensável ao
ministério). No entanto, parece que parte da igreja de Cristo
encontra-se anestesiada quanto às necessidades de seus líderes
espirituais, mesmo porque, para alguns cristãos, o pastor não
deveria receber salário14 pelo trabalho prestado à comunidade.
Alguns membros das igrejas, por não acompanharem a intensidade
das tarefas do dia a dia do ministro, concluem que o pastor faz
pouco e recebe muito. Ignoram o fato de que a ocupação do pastor
traz desgaste mental e emocional, não necessariamente laboral e
físico. Os horários de trabalho do pastor não estão necessariamente
enquadrados nas oito horas diárias registradas por um relógio
ponto, cumpridas em um gabinete que abre as nove da manhã. Os
melhores sermões que preparei foi na calada da noite, madrugada
adentro. Alguns aconselhamentos fiz pelo WhatsApp em plenas
férias. Alguns cursos para a igreja, que envolveram pesquisa
intensa de dias e aconselhamento para a solução problemas
matrimoniais de membros da igreja duraram tardes inteiras.

Como calcular remuneração de horas de trabalho, horas extras ou


adicional de insalubridade (faço uma ironia, mas devemos levar em
conta o fato de que o pastor, após anos de ministério, estará
exposto a doenças psicossomáticas, neuroses e até enfermidades
psiquiátricas, fruto do volume constante de problemas da
comunidade que ele absorveu)? Enfim, quanto vale o pastor?
Outros agasalham o tabu de que quando tratamos de salário
pastoral estamos maculando o santo ministério com a perversidade
do vil metal. Ocorre que o dinheiro em si não é bom nem ruim, não é
profano nem santo, é neutro. O uso dele, bem como as motivações
para ganhá-lo, é que podem fazê-lo vil e perverso ou abençoado e
digno.
14 VARGENS, Renato. É Lícito o Pastor Ganhar Salário? Disponível em: http://
pulpitocristao.com/2010/01/e-licito-o-pastor-ganhar-salario.html. Acesso em: 10/ maio/2018.

O salário é a condição para o ministério?

Defendo o pensamento de que, se o pastor trabalha com uma igreja


que tem dificuldades financeiras para mantê-lo integralmente, ele
deverá ter uma segunda ocupação como complementação da renda
familiar, sem qualquer peso de consciência. Acompanhei as
dificuldades de alguns colegas que, no ideal de servirem
integralmente ao Senhor, deixaram carreiras profissionais rentáveis
e seguras que poderiam indubitavelmente figurar como
mantenedoras do ministério. Anos depois, consagrados à instituição
eclesiástica, vieram a ter seus dissabores, decepções, desamparos
e enfermidades. Alguns chegaram ao extremo de perderem o apoio
espiritual dos filhos e da esposa.

Façamos algumas ponderações sobre essa questão tão


controversa. Antes de o pastor renunciar a uma carreira profissional,
precisa refletir com sobriedade: “Eu vou deixar a carreira profissional
em prol da Igreja Reino ou da Igreja Instituição?” Se for pelo Reino,
valerá a pena; se for pela Instituição, nem sempre.

Consideremos, em primeiro lugar, que tudo é sagrado para o


discípulo do Senhor, tanto o trabalho secular como o labor
ministerial. Eu (Marcos Kopeska) conheço pastores advogados,
pastores bancários, pastores médicos, pastores professores,
pastores empresários, e nem por isso seus ministérios são menos
consagrados ou menos frutíferos. Pelo contrário, por vezes a
inserção no meio profissional amplia a gama de contatos e estreita
as relações da sua igreja com a sociedade. Em contraponto,
conheço inúmeros colegas que, mesmo de tempo integral, não têm
atividades ministeriais nem resultados que correspondam às oito
horas disponíveis por dia. Vivem em uma redoma religiosa que os
impede de dar um passo em direção ao “mundo dos mortais”, com o
tradicional argumento da consagração integral.

Consideremos, em segundo lugar, que a expressão “viver por fé”,


presente em três textos das Escrituras (Romanos 1.17, Habacuque
2.4, Gálatas 3.11), está contextualizada com salvação, justificação e
santificação, nada tendo a ver com provisão. Não se trata do
incentivo para um pai de família submeter arbitrariamente seu lar a
necessidades ou escassez em nome da vocação. Não se trata de
submeter a família pastoral a privações em nome do ministério.
Essa expressão é muito comum aos missionários que deixam seus
lares e carreiras com o ideal do ministério mantido por milagres de
provisão, mas sem a vocação específica para o ministério de tempo
integral. O argumento pessimamente usado acaba sendo: “O justo
viverá por fé”. Creio que esse é um dos motivos por que o Brasil é
um dos países que mais enviam missionários ao mundo, mas
também o que registra altíssimo índice de desistências e
insucessos.

Uma pesquisa revelou que um missionário em cada vinte deixa o


campo missionário para voltar para casa a cada ano. O que esses
números dizem? Que, de 30.600 missionários, 21.726 retornam
para seu país de origem. Dos missionários brasileiros enviados, três
em cada quatro desistem antes de completar cinco anos no campo.
De 5.000 missionários enviados, somente 1.000 ainda estavam no
campo cinco anos depois.15 Os fatores causadores do retorno
precoce do campo missionário são muitos. Missionários voltam por
questões relacionadas com visto de permanência, enfermidade, falta
de adaptação ao campo, falta de interação com a equipe,
insubmissão, decepção. Porém, grande número de missionários
brasileiros voltam por motivos relacionados a falha na administração
das finanças pessoais.
Por vezes, a provisão de Deus virá por meios convencionais como:
sua empresa, seu salário e seus negócios seculares. Em
contraponto, muitos pastores meramente profissionais do sistema
religioso são mantidos pela Igreja Instituição, sem viver pela
providência divina.

Consideremos, em terceiro lugar, a vida de grandes homens de


Deus, heróis da Bíblia, que marcaram intensa e positivamente a
história do povo de Deus com seus ministérios. A maior parte deles
nunca veio a declinar de suas atividades profissionais. Abraão era
pecuarista, e o foi até o final da vida. José passou parte da vida
como escravo e parte como ministro da fazenda do Egito. Daniel era
conselheiro do rei na Babilônia, e nunca abdicou da função. Lucas
acompanhou a comitiva de Paulo como médico, cuidou da saúde do
apóstolo e, em razão da profissão, deixou dois preciosos textos para
a posteridade. Paulo fazia tendas e, em alguns campos missionários
por onde passou, dependeu das suas mãos para manter seu
ministério. Assim foi quando esteve em Éfeso e, sobre esse período,
ele relata aos presbíteros na sua despedida:
15 ROMERO Filho, Antonio. Missionários de Ontem e de Hoje. Disponível em:
http://christiannewsbrasil.blogspot.com.br/2011/01/missionarios-de-ontem-e-de-hoje.html.
Acesso em: 11/maio/2018.

vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era
necessário a mim e aos que estavam comigo. Tenho-vos mostrado
em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados
e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-
aventurado é dar que receber (Atos 20.34-35).

Áquila e Priscila, além de companheiros de Paulo, discipuladores de


Apolo e pastores, estavam ligados aos negócios da confecção de
tendas. Lídia, vendedora de tecidos, foi o sustentáculo da igreja em
Filipos. David Livingstone foi missionário, mas também médico,
explorador e ativista contra a escravatura. William Carey foi o pai
das missões modernas, mas poucos sabem que, em algumas
etapas difíceis do seu ministério, dedicou-se paralelamente a uma
companhia de importação e exportação. O conceito de ministério
totalmente mantido pela igreja foi sedimentado a partir de
Constantino e a sua antirreforma religiosa.

Consideremos, em quarto lugar, que, se a igreja local pretende ter


um pastor dedicado integralmente ao ministério, precisa ajustar-se à
visão espiritual de que se responsabiliza por manter um líder
vocacionado para lhe trazer valores espirituais. Essa comunidade
não contratará um funcionário remunerado por tarefas institucionais.
O pastor é um discipulador que se afadiga na Palavra, não um
burocrata que se esgota com as demandas organizacionais e
administrativas.

Com base no conceito de ministério pastoral resgatado das


Escrituras, não há cifras que paguem os valores espirituais
cultivados ao longo de uma legítima gestão pastoral à frente do
rebanho que lhe foi confiado pelo Supremo Pastor. Não há dinheiro
suficiente para recompensá-lo pelos sábios conselhos que salvaram
casamentos em crise. Não há reembolso que cubra o empenho
espiritual que resultou na libertação de um dependente químico.
Não há valor financeiro que remunere o trabalho contínuo de
visitação que aliviou a dor de um doente terminal e o preparou para
o encontro com o Senhor. Se essa for a visão da igreja, ela deverá
investir o melhor que puder em seu líder espiritual. Espero que não
somente pastores, mas presbíteros, diretores, tesoureiros e líderes
leiam estas linhas e compreendam a amplitude da questão.

Consideremos, em quinto lugar, que há chamadas específicas para


ministério de tempo integral, e essa deve ser considerada uma
escolha de foro íntimo. Quando eu (Jasiel Botelho) terminei meu
bacharelado em teologia, uma grande igreja de São Paulo me
convidou para ser pastor de jovens e, além da honra do pastorado,
eu tive um salário acima da média. Pela primeira vez me senti
seguro financeiramente, vivendo o ciclo das “vacas gordas”. Em três
anos, reformei a casa, adquiri um automóvel novo e, no final de
cada ano, viajava com a família para a casa da sogra.

Tudo aparentemente adequado, exceto a vocação para a missão


que eu negligenciava cada dia mais, pois a igreja me exigia tempo e
dedicação. Até que um dia fui ao Congresso Brasileiro de Missões
em Belo Horizonte, e lá Deus me disse claramente: “Você trocou
sua primogenitura por um prato de lentilhas”. Quando voltei do
congresso, pedi dispensa do pastorado, manifestei gratidão pela
confiança e assumi integralmente a Missão Jovens da Verdade.
Perguntei a Deus como eu sustentaria minha família, e Ele me
respondeu: “Jasiel, já lhe dei dons, talentos e até aqui o sustentei
com o pão de cada dia. Também lhe dei todos os recursos para a
aquisição e implementação do Acampamento JV, então por que
pergunta a mim sobre o salário?” Passei os próximos oito anos de
minha vida sem salário fixo, morando no acampamento, mas com
certeza absoluta do chamado para trabalhar em tempo integral na
Missão Jovens da Verdade.

Quando eu e Ivone olhamos para trás, ao final dos anos 1960,


glorificamos a Deus pelos milhares de conversões nos cultos ao ar
livre no Largo da Misericórdia, na evangelização de porta em porta,
nos trens, nas ruas e nos ônibus, além dos inúmeros pastores,
líderes e missionários chamados por Deus que dedicaram a vida ao
Senhor pela instrumentalidade do JV.

O pastor deve saber para quem está trabalhando, se para Deus ou


para a instituição, se para o organismo ou para a organização.
Quem é seu provedor? Porém, volto a repetir: quando se trata de
ministério, interpretamos pastorado como vocação divina específica
e inconfundível, portanto o provedor é o Senhor da Seara.

Quanto deve ser o salário do pastor?

Eu (Marcos Kopeska) lembro-me de ter ouvido uma ilustração sobre


uma senhora que cochichou ao ouvido da amiga enquanto o pastor
entrava no templo para o início do culto: “Que vergonha! Nosso
pastor não tem um mínimo de cuidado pessoal. A camisa está com
a gola desgastada!” O pobre servo de Deus ouviu o comentário
maldoso, mas, mesmo um tanto chateado, subiu ao púlpito e
entregou, com elegância, a mensagem do Senhor naquela manhã.
Ao longo da semana, depois de recalcular suas previsões
orçamentárias, resolveu comprar uma camisa de grife. Imaginou o
sorriso estampado no rosto daquela irmã ao vê-lo vestido com
fineza. O culto estava para começar, e ele fez questão de passar
devagar com a camisa nova, toda engomada, bem próximo à tal
senhora. Então a ouviu cochichar novamente no ouvido da pessoa
ao lado: “Que vergonha! Já está roubando da igreja!”

Em outra ocasião, desta feita um acontecimento real, um líder da


igreja, no término de um culto vespertino, com uma calculadora na
mão, interpelou o ministro: “Pastor, sabe quanto custa cada sermão
seu?” E foi logo dividindo o salário do pastor pelo número de
pregações que fazia a cada mês. Uma forma reducionista e
brutalmente desrespeitosa de avaliar o tão digno ministério pastoral.
Ainda hoje, é comum a negociação salarial entre pastor e
comunidade palmilhar o campo dos preconceitos. Façamos algumas
considerações sobre o assunto.

A primeira delas diz respeito ao ideal de pobreza e ausência de


ambições materiais, herdado por pastores e por algumas igrejas
históricas mais conservadoras, como um elemento inerente à
piedade. Na Idade Média, a Igreja interpretou pobreza como virtude,
um contraponto ao abusivo enriquecimento dos senhores feudais
em detrimento dos camponeses miseráveis. Desde então formou-se
o mito de que ministério e riqueza são polos opostos. Ocorre que,
assim como a riqueza não é empecilho para um ministério
abençoado, a pobreza também não é virtude. Aliás, segundo o
sociólogo Max Weber, citado por Ken Eldren,16 as religiões que
exaltam a pobreza como virtude promovem valores que resistem ao
desenvolvimento, enquanto as que enxergam a riqueza como
bênção, promovem valores que favorecem o desenvolvimento. Faço
referência ao fato que os países mais ricos e socialmente mais
justos são os colonizados pelo protestantismo, como Suíça, Suécia,
Holanda, Alemanha, Inglaterra, Escócia, Gales e Canadá. Sendo
assim, a negociação
16 ELDREN, Ken. Deus no Trabalho – transforme pessoas e nações por meio dos negócios, 1ª edição.
Universidade da Família, 1ª Edição, Pompéia, p. 114.
do salário do ministro não pode ter como ponto de partida o ideal da
pobreza.
A segunda consideração diz respeito ao cuidado administrativo. Eu
(Marcos Kopeska) aprendi, ao longo da caminhada pastoral, que os
ganhos do pastor em uma igreja devem ser minuciosamente
discutidos com o conselho ou diretoria, registrados em ata,
formalmente documentados, antes da posse do pastor. Essa etapa
do diálogo não deve ser a prioritária, pois creio que a proposta
ministerial deve preceder a proposta salarial. A proposta salarial,
porém, deve ser segura e objetiva.

Lembro-me de um colega que, ao assumir uma nova igreja local,


não teve o cuidado de solicitar o registro documental de seu acerto
com o Conselho. Ocorreu que, antes da sua posse, a igreja local
passou por uma divisão e, quando ele veio para assumir a nova
comunidade, os presbíteros que haviam negociado verbalmente
suas condições não estavam mais na função nem na igreja. Não
havia qualquer dado formalmente registrado, e o desgaste para
renegociar com a próxima gestão foi inevitável.

Creio também que não se deve discutir essa matéria com toda a
congregação, mas com uma comissão nomeada pela assembleia ou
pelo conselho17. Os contratempos podem mostrarse a partir da
inegável constatação: o tema divide opiniões quando gerido pela
membresia. Os membros mais pobres da comunidade
17 Cada denominação tem a nomenclatura para definir a liderança responsável pelas
questões financeiras e administrativas da igreja local – Diretoria, Conselho, CLAM, Corpo
Diaconal,

concluem que o salário do pastor é alto, enquanto outros poucos o


julgam baixo. Com exceção dos campos missionários, uma boa
referência para o salário do pastor é a média salarial dos membros
da igreja.

A terceira consideração eu chamaria de pragmatismo eclesiológico-


empresarial. Muitas comunidades, ao usarem o padrão secular,
estabeleceram uma relação perversa de custo e benefício.
Interpretaram o ministério do pastor de maneira utilitarista. Sendo
assim, o ministério pastoral é friamente avaliado pela produção:
aumento de patrimônio, arrecadação e rol de membros. Os
primeiros anos do ministério do pastor à frente de uma igreja que o
vê como objeto dessa relação podem ser regados de elogios e bons
tratos, mas, no decorrer do tempo, a relação utilitarista se torna
evidente. É muito comum encontrarmos colegas decepcionados por
finalmente descobrirem que foram usados pela comunidade como
meros elementos de valorização da imagem da igreja. Por essa
razão, muitas esposas de pastores são amargas e muitos filhos de
pastores estão distantes da igreja.

Lembro-me de uma esposa de pastor que chorava copiosamente


enquanto narrava sua desilusão com a denominação em que
serviam, uma das pentecostais mais antigas de nossa nação. O
esposo, fiel e incansável no trabalho ministerial, tivera seus ganhos
reduzidos drasticamente porque não alcançara as metas financeiras
estabelecidas pelo pastor presidente do campo. Isso depois de dez
anos de trabalho abençoado e frutífero. Por não conseguirem
manter a família depois da nova configuração, a esposa assumiu
dois empregos, e os filhos, um deles ainda adolescente,
sacrificaram os estudos para entrar no mercado de trabalho.
Estranha e inexplicavelmente, o episódio se desenrolou após
considerável acréscimo de bens ao patrimônio da igreja local em
razão do ministério frutífero do pastor.

Em uma ocasião, eu (Marcos Kopeska) passei por uma experiência


semelhante e senti-me o mais inútil objeto de descarte,
completamente desguarnecido. Pastoreei uma igreja por seis bons e
prósperos anos. Ao assumir os trabalhos, a igreja vinha em um
elevado patamar de crescimento numérico e plena satisfação com o
ministério do jovem pastor que me antecedeu. Isso por si só exigia
muito esmero, e logo entendi que precisaria me desdobrar para “cair
em pé” e manter o bom ânimo da igreja, apesar da sucessão da
gestão pastoral.

A reação foi mais rápida do que esperávamos. O número de


membros cresceu cerca de 30%, em decorrência do trabalho de
discipulado de novos convertidos, e a arrecadação cresceu em
média 100% nesse período de boa colheita espiritual. Foi um tempo
de muita visitação, aconselhamento, pregação e discipulado.
Esbocei, naquele gabinete solitário, as melhores pregações e,
naquele púlpito, preguei os mais inspirados sermões da minha
caminhada pastoral. O Ministério de Missões da igreja cresceu na
visão, na arrecadação de ofertas e o número de missionários
adotados em parceria dobrou.

Muitas vezes dedicava-me ao ministério pela manhã, tarde e noite.


Vários dos sermões e estudos eu preparava no silêncio da
madrugada, não por opção, mas por falta de tempo qualitativo ao
longo do dia. Não obstante, sentia-me seguro, feliz e satisfeito. O
primeiro desafio, logo depois da posse, foi a construção de um
ginásio de esportes no colégio administrado pela igreja, também
pensando em um espaço para os cultos especiais. Planejamos
realizar a construção em anos, mas em um ano e meio tínhamos
concluído o projeto.

Nesse meio tempo em que o trabalho estava sedimentado e as


finanças, saudáveis, despontaram os interesses nepotistas18 de
famílias tradicionais da comunidade, bem como a ingratidão e o
inflar do ego do Conselho19. Na ocasião, o Conselho apontou
-me quatro razões para escolherem um novo pastor: 1) queremos
um melhor pregador; 2) precisamos de um pastor com melhor
formação acadêmica; 3) almejamos um líder com características
mais personalistas; 4) necessitamos de um pastor com mais
experiência de ministério.

Dispenso dizer o tipo de sentimento que me tomou pelos próximos


meses. Adoeci emocional e fisicamente, pois vi todos os ideais de
ministério se diluírem como um filete de fumaça à mercê do vento.
Logo depois minha esposa adoeceu, e a paixão dos meus filhos
pela igreja arrefeceu drasticamente. Hoje entendo que fui mais uma
vítima, entre milhares, do pragmatismo eclesiológico-empresarial de
uma comunidade que
18 Nepotismo: concessão de cargos ou posições de destaque e confiança a parentes ou
amigos apadrinhados de maneira injusta e parcial, por favoritismo, e não por mérito.
19 No sistema presbiteriano, o Conselho é composto pelo pastor e presbíteros eleitos pela igreja, com poder
deliberativo, inclusive para admissão e demissão do próprio presidente, o pastor.

precisa se reconciliar com o verdadeiro sentido do que é ser igreja


(ekklesia).

Pensando em um mínimo de proteção, o pastor não deve aceitar


propostas de subsídio que estejam ligadas a:
percentual de crescimento numérico da igreja (pois isso poderia
corromper a motivação evangelística da igreja);
comissão sobre a arrecadação (pois isso arranharia a sua
autoridade no ensino sobre mordomia); e
simpatia de uma família ou líder dominante (pois isso prejudicaria
sua imparcialidade no tratamento de conflitos envolvendo esses
grupos reinantes).
A quarta consideração nos remete a alguns princípios bíblicos que
lançam luz sobre os valores a serem pagos a um pastor. Não
podemos estabelecer uma regra absoluta sobre o que é muito ou o
que é pouco a se receber pelo ministério de tempo integral, mesmo
porque existem critérios que variam de acordo com o nível social da
igreja, contexto cultural, volume de demandas semanais,
parâmetros de avaliação da denominação, formação acadêmica e
experiência no ministério.
Ao abordar o tema com alguns colegas, observei o alto nível de
contentamento dos que, gratos para com a igreja local que os
mantém, conseguem sustentar suas famílias com dignidade, dar
bom estudo aos filhos, tirar as merecidas férias de verão, cuidar da
futura aposentadoria e alugar uma residência compatível com as
necessidades. Por sua vez, há pastores que projetam um elevado
ideal nessa área, fundamentam a satisfação pessoal nos ganhos,
estabelecem parâmetros de comparação com outros colegas e se
frustram. Frustrados por não alcançarem o que outros alcançaram,
deixam arrefecer a paixão pelo ministério. Contudo esse mecanismo
se desencadeia lenta e secretamente.
Judas Iscariotes não gostou do “salário” que recebeu por trabalhar
com Jesus. Ele era um daqueles que pensava que “a piedade é
fonte de lucro” (1Timóteo 6.5) e queria enriquecer. Quando
percebeu que não enriqueceria como “tesoureiro do Reino de
Jesus”, pediu demissão. Pelos três anos de serviço “inútil” de
pregação do evangelho, ele exigiu uma “indenização” de trinta
moedas de prata, o preço que se conseguia pela venda de um
escravo.
“Digno é o trabalhador do seu salário” (Lucas 10.7) é um dito de
Jesus dirigido aos obreiros do Evangelho. Quando os doze
apóstolos foram encaminhados à missão em Israel, Jesus lembrou-
lhes desse ditado (cf. Mateus 10.10). Os setenta receberam a
mesma recomendação seguida pelo mesmo lembrete (cf. Lucas
10.7). Paulo citou duas vezes esse dito, uma vez referindo-se a ele
mesmo e aos obreiros em geral (cf. 1Coríntios 9.14), outra vez falou
especificamente sobre os bispos da igreja (cf. 1Timóteo 5.18). A
forma como o ditado aparece em Mateus 10.10 é um pouco
diferente da que ocorre nos outros textos: “digno é o trabalhador do
seu alimento».
O uso do termo “salário” (em Lucas 10.7) ou “alimento” (em Mateus
10.10) não altera o sentido básico do provérbio. O sentido dessa
orientação de Cristo era duplo: o obreiro receberá o que merece, e o
obreiro merecerá o que recebe. Ele receberá o que merece
relativamente à segurança pessoal: ele não morrerá de fome. Ele
merecerá o que recebe porque não há vergonha nenhuma em ser
sustentado: ele é um homem honrado e digno. Ele merece o
sustento. Assim, o Mestre diz aos obreiros que lhes são garantidas
segurança e honra, ligadas ao sustento que recebem por pregar o
Evangelho.
“Preocupe-se com a pregação, e não com a provisão.” Esse é o
sentido das instruções dadas por Jesus aos missionários sobre o
que não levar na viagem missionária (cf. Mateus 10.9-11; Marcos
6.8-10; Lucas 9.3-4). Não era necessário levar suprimentos ou
dinheiro, pois Deus cuidaria de tudo. Como? Eles deviam aceitar a
hospitalidade de um anfitrião, o sustento temporário de uma família
e a honra de uma comunidade visitada.
O ministro precisa ter fé em Deus, confiar no valor de sua
mensagem e deixar por conta de Deus a garantia de sustento.
Jesus foi sustentado pelos que o seguiam (cf. Lucas 8.1-3). Paulo
recebeu ajuda (cf. Filipenses 4.10-20) e salário das igrejas (cf.
2Coríntios 11.8). Os evangelistas itinerantes do fim do primeiro
século eram auxiliados materialmente em seu trabalho. Esse
provérbio de Jesus recomenda ao obreiro uma postura de fé para
que confie no suprimento, sustento e alimento que Deus
providenciará.20
20 PESTANA, A. César. Digno é o Trabalhador do seu Salário. Disponível em: http://
www.hermeneutica.com/estudos/digno.html. Acesso em: 10/maio/2018.

Í
4. E O QUE FAZER COM AS DÍVIDAS?
O rico domina sobre o pobre, e o que toma emprestado é servo do
que empresta.
(Provérbios 22.7)

O apóstolo Paulo deixa a ordenança: “A ninguém fiqueis devendo


coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros”
(Romanos 13.8). Em muitas das ocasiões em que preguei sobre
esse verso, foquei o amor como o tema principal abordado. Muitas
vezes usei o texto para falar sobre o amor, mas sem atentar para o
imperativo: “a ninguém fiqueis devendo coisa alguma”.

O número de famílias endividadas aumenta a cada ano. E a


tendência é que continue a aumentar. Alguns dados do IBGE21
21 Percentual de famílias endividadas sobe de 59% para 62,2%. Disponível em: http://
www.perfilnews.com.br/noticias/brasil-mundo/percentual-de-familias-endividadas
-sobe-de-59-para-622-. Acesso em: 05/janeiro/2018.

detalham melhor esse quadro:

O percentual de famílias brasileiras com dívidas fechou 2017 em


62,2%, acima dos 59% de 2016. [...] As famílias inadimplentes, isto
é, com dívidas ou contas em atraso, ficaram em 25,7% em
dezembro, acima dos 24% de dezembro de 2016. Já o percentual
de famílias que declararam não ter condições de pagar as suas
contas ou dívidas em atraso ficou em 9,7%, acima dos 9,1% de
dezembro de 2016. [...] Para 76,7% das famílias que possuem
dívidas, o cartão de crédito permanece como a principal forma de
endividamento, seguido de carnês (17,5%) e financiamento de carro
(10,9%).

Nos EUA, 56% dos divórcios são causados por desacordos na


administração financeira e dívidas22, que nunca surgem ao acaso.
As principais causas de endividamento apontadas são:

má administração dos recursos;


divórcio;
doença;
desemprego; e
falta de um fundo de emergência.
Penso que, se o endividamento para o cidadão comum

é extremamente desconfortável, para o pastor pode significar o


colapso ministerial. Os desdobramentos de um ministério
comprometido por dívidas, negociações e cobranças são
devastadores e minam desde a paz interior da família até a
autoridade pastoral.
22 DAYTON, Howard. O Seu Dinheiro. Crown Financial Ministries. Bless Gráfia e Editora. Pompeia, 2003, p.
35.
Cartão de crédito, o perigo das facilidades

Ouvi a anedota sobre a esposa de um pastor que fora assaltada, e o


ladrão levara o cartão de crédito. Um ano depois, um irmão da igreja
perguntou ao ministro porque ele ainda não havia registrado queixa
na polícia, e ele respondeu: “Não espalhe, mas se tornou em um
bom negócio. O ladrão gasta bem menos que minha esposa”.
Humor à parte, esse é o quadro de muitos pastores. Li em algum
lugar a seguinte definição: o cartão de crédito é a facilidade para
comprar tudo o que você não precisa, com o dinheiro que você não
tem, para impressionar pessoas das quais você não gosta.

O chamado dinheiro de plástico tem lá suas vantagens, mas há que


se pesar a facilidade de gastar além da necessidade quando
projetamos o pagamento para quarenta dias e quando não
visualizamos o valor real da aquisição. Quando utilizo o termo
“visualizamos”, refiro-me ao que acontece quando pagamos em
espécie (dinheiro de papel). O troco é dado, e há, finalmente, o
senso de subtração daquele valor na carteira (percebemos que
gastamos). Nem o cheque nem o cartão de crédito produzem essa
sensação. É fato: economizamos mais quando fazemos nossas
aquisições com dinheiro.

O economista Jurandir Macedo23 recomenda três cuidados no uso


do cartão de crédito:
23 Jurandir Sell Macedo é consultor de Finanças Pessoais do Itaú Unibanco e professor da UFSC
Ele representa uma facilidade: concentra os gastos para pagamento
em uma vez só por mês, detalha na fatura cada consumo e
possibilita ganhar pontos para trocar por milhas ou outras
vantagens. O cartão de crédito é mesmo uma maravilha para muita
gente. [...] faz a ressalva: não é todo mundo que sabe usar o cartão
de crédito. E quem não sabe usar acaba assumindo dívidas com
uma das taxas de juros mais altas do mercado e estraga a própria
vida. E bastam três cuidados simples para aproveitar o cartão, sem
dores de cabeça: 1) Tenha em mente que o dinheiro está saindo do
bolso, sim. O cartão de crédito pode dar a falsa sensação de que
você está levando um produto para casa, mas não está gastando.
Não caia nessa. 2) Guarde antes o dinheiro para pagar a fatura no
valor integral. Levar uma surpresa ao abrir a conta e acabar
pagando o valor mínimo por falta de recursos para quitar o total
pode ser o começo de uma grande bola de neve de dívidas. 3)
Busque opções de crédito mais barato, caso você já tenha caído no
crédito rotativo do cartão. Crédito pessoal ou consignado podem ser
as saídas. O importante é não deixar a dívida acumular.

O pastor Josias Brepohl24 alerta para o fato de que o uso do cartão


não necessariamente é seguro:
Quadrilhas que operam em bancos são capazes de criar cartões de
crédito falsificados em nome de correntistas desta
24 BREPOHL, Josias, in loc, pastor da Igreja Cristianismo Decidido Mercês, em Curitiba, editor e revisor.

ou daquela agência e gerar dívidas em nome de suas vítimas. Eu fui


vítima de um ataque desses e, graças ao fato de eu ser contra o uso
do cartão de crédito (não uso e não tenho), pude comprovar a
fraude. Porém, quantos que, por possuírem cartão e usá-lo sem
controle, ao receberem cobrança judicial, podem acabar pagando
uma dívida que não foi gerada por eles?

Crediário, o incentivo ao consumismo

São vários os fatores que aumentam o grupo dos endividados,


grupo esse que gera lucro para as instituições financeiras.
Especialistas em finanças pessoais apontam o crédito fácil,
cotidianamente anunciado sob diversas formas (empréstimos sem
restrição, sem consulta ao Serviço de Proteção ao Crédito, dinheiro
vivo na hora) e o uso crescente do cheque especial como os
principais vilões do endividamento crônico. O pastor Josias
Brepohl25 adverte:

Comprar a prestação é fazer uma aposta de que você terá amanhã


um valor em dinheiro que ainda não tem. É arriscar-se com aquilo
que ainda não possui e que, em última análise, nem sabe ao certo
se vai possuir. Quem compra a prazo corre o risco de não conseguir
amanhã o valor que prometeu pagar, pois imprevistos acontecem,
doenças surgem, empregos são perdidos, gastos inesperados e
urgentes podem vir a qualquer
25 Ibid.

momento. Tudo isso pode ser o estopim da ruína financeira daquele


que compra a prazo ou faz empréstimos para pagar depois.

Observe o Princípio do Maná, citado pelo Rev. Pedro Leal26 em um


de seus artigos para casais:

Em Êxodo 16, quando Deus dá o Maná ao seu povo no deserto, ele


orienta Israel, por meio de Moisés, a não armazenar o Maná para o
outro dia. Cada família deveria pegar somente a quantidade
necessária para o dia, nunca para o dia seguinte. Porém, o povo
desobedeceu, colhendo a mais e guardando para o futuro. No verso
20, vemos que o Maná guardado cheirava mal e tinha bichos.
Aplicando a narrativa, concluo que toda vez que desejamos algo ou
nos apossamos (compramos) de algo que não é para nós naquele
momento, vamos ter problemas (cheira mal e produz bichos). As
ofertas para trocarmos de automóvel são cada vez

melhores e vão desde taxa de juro 0% até parcelamento em 60


meses. As ofertas para comprarmos os aparelhos eletrônicos de
última geração são as mais tentadoras e, em um primeiro olhar
apaixonante, as prestações cabem com sobra no orçamento
familiar. Um colega brincou dizendo que logo o mercado lançará
aparelhos eletrônicos com tela fina como uma folha de papel, mas,
quanto mais fina é a tela, mais espesso é o carnê do pagamento.
26 O Pr. Pedro Leal Júnior é pastor para missões e famílias da 1ª Igreja Presbiteriana Independente de
Londrina.

Nem toda compra é consumismo desenfreado, nem toda dívida é


uma armadilha disfarçada. Para discernirmos o que e como
comprar, devemos fazer quatro ponderações:

Primeira: O que eu estou para adquirir é um bem necessário ou


supérfluo? O que classifica algo como necessidade ou
superfluosidade não é o bem em si, mas o nível de utilidade, bem
como o momento da aquisição. Por exemplo, se um apartamento de
cinco cômodos próximo à igreja me satisfaz, devo resistir ao
encanto da mansão de 380m2 no condomínio de luxo onde residem
os renomados empresários da região, situado a quinze quilômetros
da igreja. Por sua vez, se preciso viajar constantemente para
cumprir as agendas do ministério, logo um automóvel novo com
freios ABS, airbag, motor flex não será um capricho do momento,
mas uma necessidade ligada à segurança. Paulo, ao escrever aos
cristãos em Filipos, diz: “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em
glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas
necessidades” (Filipenses 4.19). Deus se responsabiliza por nossas
necessidades, e não por nossos caprichos consumistas.

Segunda ponderação: É o momento para gastar ou para investir?


Grande parte dos pastores deixa passar sólidas oportunidades de
investimento, que inclusive figuram como a chance de uma
aposentadoria mais digna. Anos depois, quando as oportunidades
são escassas, arrependem-se.

No final de 1998, eu (Marcos Kopeska) assumi o pastorado de uma


igreja na Região Centro-Oeste, fronteira agrícola, onde a igreja é
próspera como a região. Por sete bons anos, morei na casa pastoral
e utilizei o automóvel da igreja em meus trabalhos. Com isso, fiz
reservas mês a mês. Poupei o que gastaria com aluguel e
combustível. Fui determinado! Poupei na certeza de que Deus me
dava uma oportunidade abençoadora, mas talvez singular. Anos
mais tarde, apliquei as reservas no mercado imobiliário, o que muito
me abençoou nos próximos anos. Diferentemente, lembro-me de um
colega que possuía uma reserva razoável e teve a possibilidade de
adquirir uma livraria cristã, mas não o fez. Dias depois, passou na
concessionária e saiu de lá com o automóvel dos seus sonhos. Por
um tempo satisfez seu desejo, mas comeu a semente do
empreendimento. Se tivesse adquirido a livraria, mantendo o
empenho no ministério, com um pouco de paciência ele teria a
oportunidade de adquirir o automóvel sonhado, além de possuir o
empreendimento comercial. Seria apenas uma questão de tempo e
paciência. A livraria pagaria o automóvel em médio prazo. Existem
momentos de fartura que sinalizam a necessidade de investir,
portanto não coma a semente do projeto, mesmo porque, no
ministério pastoral, elas são raras.

Terceira ponderação: Mesmo que seja necessário, cabe no meu


orçamento? Mesmo depois de confirmar a necessidade do bem a
adquirir, verifique se o valor a ser pago sacrificará áreas da vida
familiar. Um colega pastor, ao longo do tempo em que pagou o
financiamento do automóvel, absteve-se de viajar nas férias,
participar de congressos e adquirir novos materiais de pesquisa. O
redimensionamento do orçamento significou uma atrofia no
ministério, infinitamente desproporcional à satisfação pela aquisição.
A abrupta alteração no orçamento familiar e no curso do ministério
acabou por lhe custar o ânimo e o empenho no pastorado da igreja
local.

Quarta: Craig Hill, em seu livro Os Cinco Segredos da Riqueza,


recomenda-nos a investir em bens que se multiplicam, que ampliam
o seu valor, pois o grande segredo não está em poupar apenas, mas
fazer o dinheiro trabalhar para você. Alguns pastores não se atinam
de que um dia vão precisar jubilar e que precisam estabelecer
prioridades nos gastos. Em vez de investirem em um imóvel,
investem no carro do ano, do modelo mais caro, que vai lhe
demandar um seguro altíssimo e um IPVA salgado. O imóvel
valoriza, enquanto o automóvel rapidamente se desvaloriza. Em vez
de investirem no mestrado, que pode lhes garantir a possibilidade
de dar aulas como uma fonte de renda no futuro, investem em uma
viagem internacional durante as férias.

Cheque especial, o vilão disfarçado de solução

Entrar no cheque especial pode ser uma boa solução para quem
está em dificuldades financeiras, mas em um segundo momento a
decisão passa a ter o sabor amargo da dívida. No Brasil há uma
larga possibilidade de endividamento crônico ou até colapso
financeiro quando alguém passa a depender do cheque especial ou
do pagamento rotativo do cartão de crédito. Os juros e taxas a pagar
por tais facilidades são os mais elevados e são responsáveis pelo
endividamento da população. A economista Sophia Camargo
orienta:

O cheque especial é uma linha de crédito para ser usada apenas


em situações de emergência em um período curto”, ensina Miguel
Ribeiro de Oliveira, diretorexecutivo da Anefac (Associação Nacional
dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). “Um
exemplo de emergência: se tem de pagar a prestação da casa
própria e já está com três parcelas de atraso, correndo o risco de o
banco entrar com execução da dívida e retomada do bem”, diz. O
cheque especial poderia ser usado para tapar o buraco, mas não
para solucionar o problema. É que não se deve contar com o limite
do cheque especial todo mês como se fizesse parte do orçamento.
“Tem gente que ganha R$ 5.000 e gasta R$ 8.000 todo mês, porque
conta com o limite de R$ 3.000 do cheque”, diz. Se gasta mais do
que ganha, todo mês, sem ter planejamento financeiro, qualquer
despesa extra pode fazer com que o orçamento estoure, e o
consumidor fique endividado. Aí a coisa fica feia, porque os juros
cobrados são altos, só perdendo para o rotativo do cartão de
crédito.27

Se você possui dívida de cheque especial, contrate um empréstimo


pessoal, e, assim, trocará uma taxa mensal média de juros de 8%
por 4%. Será um bom começo para a quitação. Mesmo que não seja
uma solução definitiva, é, dos males,
27 CAMARGO, Sophia. Vive no cheque especial? 7 dicas para largar o hábito que arruína
o bolso. Disponível em: https://economia.uol.com.br/financas-pessoais/noticias/
redacao/2017/08/10/cheque-especial-financas-pessoais-orcamento-endividamento. htm.
Acesso em: 10/agosto/2017.

o menor. Você também pode negociar com seu credor ou consultar


um perito na área de juros e tributação. Em muitas situações,
comprovados os juros abusivos, o cliente do serviço de crédito entra
com uma ação judicial requerendo o novo cálculo e o pagamento
dos atrasados em juízo. Enquanto o processo tramita, a dívida
permanece estancada. Esse dispositivo não é ilegal ou imoral, mas
coerente, já que não é segredo que as administradoras de cartões
de crédito lucram exorbitantemente com suas taxas abusivas.

Os perigosos “desafios de fé”

Uma das razões do eminente descrédito das igrejas e pastores é o


famoso “desafio de fé”. Sob esse pretexto, mesmo sem reunir
condições para tal, a igreja se lança em projetos maiores do que
suas possibilidades, envolvendo finanças, aquisições, construções e
investimentos para o ministério. Na pressa de ver os sonhos se
realizarem, na expectativa de ver as construções erguidas, no ideal
de ver a música da igreja melhor equipada, pastores se entregam
por ingenuidade, ou por descuido, a obras faraônicas. São sonhos
legítimos de quem ama o Reino, mas muitos líderes se tornam
escravos de dívidas, desonram o rebanho de Deus e, por fim,
colocam um ponto final no ministério. Apesar de serem projetos da
comunidade, e não do pastor, as dívidas contraídas trazem seus
reflexos sobre as finanças pessoais do líder maior, sem contar o fato
de que o pastor, por força de estatuto, na maior parte das
denominações, responde juridicamente pela igreja local.

Em uma biografia de Charles H. Spurgeon, lê-se que o notável


evangelista, quando menino, enamorou-se de um brinquedo e,
como não tinha o dinheiro, comprou-o fiado. Quando o pai soube,
aplicou-lhe uma surra severa. Doeu bastante, mas valeu a pena.
Quando Spurgeon construía o Tabernáculo de Londres, houve dias
em que faltava dinheiro para a compra de material. Não faltavam
sugestões de oficiais da igreja para comprar fiado. Contudo, o
homem de Deus permanecia irredutível: “Interrompa-se a
edificação, mas fiado nunca! Papai me ensinou a não comprar
fiado”. E o Tabernáculo se erigiu sem compras penduradas.

Não é errado partirmos para os desafios de fé, pois ofertar com fé é


algo legitimamente bíblico, mas há que se filtrar a visão de Deus da
visão humana sobre o que se está adquirindo. Lembro-me de
quando eu (Marcos Kopeska) fui pastor no Norte Pioneiro do
Paraná, no início da década de noventa, quando tínhamos duas
necessidades evidentes na igreja e nenhum recurso. Precisávamos
aumentar o templo em pelo menos 30% da sua capacidade de
acomodação. Simultaneamente, necessitávamos construir um novo
templo em um dos bairros para atender ao crescimento de uma
congregação. Com prudência, reuni o Concílio Local para juntos
estudarmos as possibilidades e definirmos a prioridade. Quando
lancei ambas as necessidades em pauta, Deus usou a irmã Adhair
Barbosa, anciã valorosa, para motivar a igreja a se lançar em ambas
as frentes simultaneamente, pois Deus providenciaria os recursos
para tal. O plenário aplaudiu efusivamente em sinal de aprovação e
entendemos que estava ali manifesto o dom da fé. Construímos, em
tempo recorde, ambas as obras, sem empréstimos, e até hoje não
sei de onde vieram os recursos, mas não entramos em dívidas.
Tínhamos uma visão clara de Deus e a fé para executar o projeto.
Quanto aos recursos, Ele proveu.

Corte despesas e administre melhor o seu dinheiro

Geralmente quando as pessoas pensam em reduzir suas despesas


ou cortar gastos com a casa, começam a se desencorajar porque
pensam que não poderão adquirir bens ou não poderão aproveitar
as coisas boas da vida. Isso não é necessariamente verdade.

B em aplicado, o dinheiro se multiplica. A compra adiada se torna


mais fácil depois que o dinheiro bem aplicado se multiplica. Além do
que, ao comprar a prazo, o cliente normalmente paga um preço
elevado, em torno de 150% a 200% do que conseguiria pagar se
comprasse à vista. Quem sabe usar o dinheiro esfola o vendedor no
ato da compra. Já o desregrado é esfolado pelo vendedor.28

Você deve pensar da forma correta quando tomar a decisão de


cortar despesas para ajudá-lo a alcançar seus objetivos financeiros,
ou abandonará o seu plano. Por isso, encare um corte
28 BREPOHL, Josias, in loc.
de despesas como algo bom e que o ajudará a melhor utilizar o seu
dinheiro.

Vamos às dicas práticas para o ajuste do orçamento do pastor


endividado:
Estabeleça um alvo mensurável (algo como dois anos e meio, ou
três anos e quatro meses, portanto um alvo concreto) para o “dia D”
em que você terminará de pagar o último centavo das dívidas.
Compartilhe esse alvo com a família, escreva-o e deixe-o em um
local em que a cada dia vai lhe servir como um lembrete desafiador.
Combine com a família a se absterem de qualquer gasto extra
enquanto não atingirem o alvo.
Revise o orçamento e corte os gastos que não sejam prioritários.
Cuide dos pequenos gastos diários, pois são os maiores vilões da
economia doméstica.
Faça o levantamento total das dívidas e comece a pagar as que
sobre si incorrem juros maiores.
Faça um plano que utilize qualquer renda extra para apressar o
pagamento (13º salário, adicional de férias ou restituição de IR).
Por fim, depois da ação corretiva, ore para que Deus lhe cubra de
sabedoria e determinação ao longo desse processo.
Que Deus o abençoe e o livre cabalmente da escravidão das
dívidas.
5. EMPRÉSTIMO: ILUSÃO DISFARÇADA DE SOLUÇÃO
O rico domina sobre o pobre, e o que toma emprestado é servo do
que empresta.
(Provérbios 22.7)

Há momentos em que, fatalmente, é necessário recorrer a


empréstimos para salvar situações de urgência que real e
racionalmente fugiram ao controle. Nem todo empréstimo estará no
campo da usura e do abuso, caso contrário Deus não permitiria que
Israel emprestasse a outras nações: “Pois o SENHOR, teu Deus, te
abençoará, como te tem dito; assim, emprestarás a muitas nações,
mas não tomarás empréstimos” (Deuteronômio 15.6a). É
aconselhável evitar ao máximo recorrer a essa alternativa, mas, se
for inevitável, respeite as seguintes orientações:

Não contraia empréstimos de irmãos da igreja


A relação entre pastor e ovelha corre sério risco de se fragilizar
quando há negócios ou favores financeiros envolvidos. Costumo
dizer que ao fim, se para receber o valor precisa-se recorrer ao
desconforto da cobrança, ou a igreja perde o pastor ou o pastor
perde a ovelha. Certo irmão dizia: “Quando um amigo meu vem me
pedir dinheiro emprestado, eu respondo que não tenho, porque,
assim, eu só perco o amigo; se eu emprestar o dinheiro, perderei o
dinheiro e o amigo!” Há uma relação discreta de senhor e
empregado entre quem empresta e quem toma emprestado. Por
essa razão, Salomão escreve: “O rico domina sobre o pobre, e o
que toma emprestado é servo do que empresta” (Provérbios 22.7).

Essa relação enfraquece a autoridade pastoral diante da pessoa


que passa a ser o credor. Inconsciente e ingenuamente os papéis
são trocados de pastor para devedor, e de irmão na fé para credor.

Não recorra a agiotas

É quase redundante, mas é importante observar que a prática da


agiotagem é crime contra a economia popular, enquadrada no artigo
4º da Lei 1.521/51:

Art. 4º. Constitui crime da mesma natureza a usura pecuniária ou


real, assim se considerando:
a) cobrar juros, comissões ou descontos percentuais, sobre dívidas
em dinheiro superiores à taxa permitida por lei; cobrar ágio superior
à taxa oficial de câmbio, sobre quantia permutada por moeda
estrangeira; ou, ainda, emprestar sob penhor que seja privativo de
instituição oficial de crédito;

Qualquer dependência de agiotas compromete o testemunho do


pastor e a autoridade da igreja diante da sociedade.
Planeje a quitação

Se houver necessidade extrema de um empréstimo, faça-o com


critérios. Antes de formalizar o empréstimo, verifique todas as
possibilidades de quitação no menor prazo possível. Procure ter
clareza em algumas questões como:
De onde virão os recursos para a quitação? Qual o prazo
previsto para a quitação?
Quanto comprometerá do meu orçamento durante

esse período?
Quais ajustes preciso fazer ao longo do prazo de
pagamento?

Fuja da ciranda financeira

No Antigo Testamento, os juros abusivos são comparados a uma


picada de serpente, cujo veneno se espalha rapidamente até trazer
a morte. No episódio da serpente de bronze levantada por Moisés,
lemos:

Disse o S ENHOR a Moisés: Faze uma serpente abrasadora, põe-na


sobre uma haste, e será que todo mordido que a mirar viverá. Fez
Moisés uma serpente de bronze e a pôs sobre uma haste; sendo
alguém mordido por alguma serpente, se olhava para a de bronze,
sarava. (Números 21.8,9)

O verbo “picar” em hebraico é nashak. Também aparece nos


seguintes versos:

Habacuque 2.7: “Não se levantarão de repente os teus credores (“os


que te picam” - nashak)? E não despertarão os que te hão de
abalar? Tu lhes servirás de despojo.”

Deuteronômio 23.20: “Ao estrangeiro emprestarás com juros, porém


a teu irmão não emprestarás com juros (nashak), para que o
SENHOR, teu Deus, te abençoe em todos os teus empreendimentos
na terra a qual passas a possuir.”

Os lucros dos bancos e instituições financeiras com o rentável e


crescente mercado dos empréstimos são excessivos, enquanto os
lucros dos demais segmentos da economia são medianos ou
decadentes. Algumas facilidades do dinheiro rápido chegam a
custar três vezes mais do que o valor do capital da dívida, devido
aos juros abusivos29 muito comuns praticados por essas
instituições. Por exemplo, usando as taxas de um dos bancos que
pesquisei, se tomamos emprestados R$ 50.000,00,
29 Não há um conceito único e indiscutível sobre qual é o limite para o abusivo. Pelo que
se extrai da jurisprudência do STJ, juros abusivos são os que colocam o consumidor em
desvantagem exagerada. E desvantagem exagerada, segundo o Código de Defesa do
Consumidor, ocorre quando o contrato é excessivamente oneroso.

pagaremos o empréstimo em 36 vezes de R$ 2.738,67, portanto o


total de R$ 98.592,12. A projeção de inflação poderia, em 36 meses,
ser de 8% ao ano (calculando por alto)30. Somando-se a inflação de
8% a uma taxa justa de 3,5% (incluindo seguro, administração e
demais itens), um pagamento justo ao banco credor seria de R$
69.500,00. Sendo assim, nesta simulação, aproximadamente R$
29.000,00 do seu dinheiro acabarão nos rechonchudos cofres das
instituições bancárias. A ciranda financeira escraviza, pesa e
empobrece os desinformados ou precipitados que lançam mão de
suas facilidades imediatas. É o nashak da pós-modernidade.

Reavalie entre indispensável, prioritário e urgente

Certifique-se de que o motivo do empréstimo é legítimo e


indispensável. Já pensou em outras possibilidades? Já se
esgotaram as alternativas?

Há pastores que contraem dívidas para gravar CDs, editar livros ou


cursar pós-graduação. São investimentos na expansão do
ministério, sem dúvida, mas há uma margem de risco a ser
ponderada com atenção. Faça as seguintes reflexões:

E se os CDs encalharem nas vendas?

E se os livros demorarem para sair das prateleiras da editora?


Que lastro tenho para garantir esse período de atraso?
30 Enquanto escrevo, uso dados da economia do momento. Os referenciais de comparação podem mudar
em função do mercado
Este é o momento para investir ou para poupar?
É bem provável que a reflexão o faça entender que o investimento é
prioritário, mas não indispensável nem urgente.
Em uma determinada ocasião, quando eu (Marcos Kopeska)
morava em residência alugada, iniciei a construção da minha casa.
Em cada etapa, calculava os gastos para não ultrapassar as
possibilidades. Foram três etapas e duas interrupções. Na última
das etapas, que envolvia parte elétrica, acabamento e pintura, fiz a
simulação de um refinanciamento do veículo. O valor mensal a
pagar em quatro anos pelo refinanciamento equivalia ao aluguel.
Não tive dúvidas. Refinanciei o automóvel, portanto contraí uma
dívida. No entanto, livrei-me da dívida do aluguel, pois mudei-me
para a minha casa. Com esse passo, concluí minha residência e,
em quatro anos, paguei o refinanciamento. Meu risco, nesse caso,
era o mesmo que eu tinha com o aluguel. Assim, investi em meu
patrimônio sem aumentar os riscos.
6. IMPREVISTOS: “COM ESSA EU NÃO CONTAVA!”

Vi ainda debaixo do sol que não é dos ligeiros o prêmio, nem dos
valentes, a vitória, nem tampouco dos sábios, o pão, nem ainda dos
prudentes, a riqueza, nem dos inteligentes, o favor; porém tudo
depende do tempo e do acaso. Pois o homem não sabe a sua hora.
Como os peixes que se apanham com a rede traiçoeira e como os
passarinhos que se prendem com o laço, assim se enredam
também os filhos dos homens no tempo da calamidade, quando cai
de repente sobre eles.

(Eclesiastes 9.11-12)

O pastor, como também todo cidadão, deve se preparar tanto para


os imprevistos da vida como para as oportunidades. Tempos difíceis
chegam cedo ou tarde. Ninguém passa pela vida apenas ganhando.
No balanço da existência há ganhos e perdas; às vezes triunfamos,
por vezes somos derrotados. Não contamos com um acidente
automobilístico, mas ele pode acontecer e rapidamente causar um
rombo nas finanças. Não computamos a possibilidade de uma
enfermidade degenerativa, mas ela pode bater às portas e dilapidar
as reservas da família pastoral. Não consideramos a perda
repentina de um ente querido, mas ela pode surpreender e exigir
muito mais do que temos. Alguém escreveu: “Um imprevisto
acontecer é a coisa mais previsível que existe! Os imprevistos
sempre acontecem”. Algumas opções podem ser exploradas
quando os imprevistos quebram a rotina e ameaçam dragar as
finanças.

A primeira possibilidade é o auxílio da igreja local. Paulo, ao orientar


os cristãos de Corinto, diz:
Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Certo que é por nós
que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança; o
que pisa o trigo faça-o na esperança de receber a parte
que lhe é devida. Se nós vos semeamos as coisas espirituais,
será muito recolhermos de vós bens materiais? Se outros participam
desse direito sobre vós, não o temos nós em maior medida?
Entretanto, não usamos desse direito; antes, suportamos
tudo, para não criarmos qualquer obstáculo ao evangelho de
Cristo. Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados
do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do
altar tira o seu sustento? (1Coríntios 9.10-13).
Para o pastor, que semeia verdades espirituais, não é desonroso
colher socorro no campo material. O pastor e sua família, parte
integrante da comunidade de fé, precisam ser
Imprevistos: “com essa eu não contava!”

amparados em primeiro lugar pela igreja local, como expressão de


amor da família da fé pelo seu pai espiritual. Por mais que sejam
inexpressivos os recursos da comunidade, em um momento de
necessidade do pastor, a igreja deve apoiá-lo prioritariamente.
Sendo assim, não tenha nenhum constrangimento em recorrer à
igreja.

A segunda saída é a federação de igrejas ou convenção. O pastor


também deve buscar os recursos disponíveis junto à denominação
ou associação à qual está jurisdicionado. Grande parte das
denominações têm um fundo de socorro aos obreiros, como plano
funerário e seguro de vida. Acompanhei o processo de um pastor de
nosso presbitério que, com o agravamento de uma enfermidade,
ficou completamente inválido, e isso no curto período de um ano.
Ele recolhia regularmente para o INSS, mas o presbitério, em
conjunto com a igreja local, assumiu 50% do seu orçamento familiar.
São exemplos de zelo da instituição para com seus pastores.

A terceira opção em meio a circunstâncias inesperadas que tolhem


as economias é vender bens de maior liquidez, como terreno, sítio,
joias, carta de crédito ou automóvel. Mesmo que o valor a ser
oferecido seja abaixo do valor de mercado, vale a pena salvar as
finanças familiares sem entrar na ciranda financeira. A relação
custo-benefício será sempre favorável quando compararmos a
perda de capital na venda com os juros abusivos dos credores. Há
quem se amarre afetivamente a bens que possuem grande valor
relativo para a família. Não se esqueça de que os bens existem para
servir, nunca para ser servidos. É mais coerente desfazer-se deles,
e não entrar em dívidas.
7. O TESTEMUNHO PESSOAL NAS FINANÇAS

Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão


dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza.
(1Timóteo 4.12)

Enquanto escrevo este capítulo acabo de ouvir mais um comentário


negativo sobre o comportamento de pastores com relação a
negócios bancários. Ao firmar o contrato para o financiamento
estudantil da minha filha, o gerente da agência bancária, um cristão
idôneo, orientou para que toda a minha documentação estivesse
absolutamente correta, pois havia uma desconfiança natural do
banco quando se tratava de negócios com pastores. Vivemos em
dias de descrédito da sociedade para com os pastores.

Há cerca de cinquenta anos, ser pastor era honroso e era evidente o


respeito que a sociedade nutria pelo servo de Deus que estava à
frente de uma igreja. Ouvi de alguns pastores da década de 1930 e
1940 que, ao passarem em frente aos bares da cidade, os homens
paravam de jogar e tiravam seus chapéus em respeito ao
reverendo. Em uma demanda entre vereadores em minha cidade, o
moderador nomeado para promover a paz foi um pastor de respeito.
Na conversa entre cidadãos, com a chegada do pastor ao círculo, os
assuntos se multiplicavam, pois todos viam na figura do ministro
alguém coerente e bem informado. Hoje em roda de conversa, com
a chegada do pastor o assunto acaba e, quando não, ficam
segurando firme suas carteiras. Muito dessa mudança se deve à
relação dos pastores com o dinheiro.

Talvez você já conheça a anedota do rabino que foi cortar o cabelo


no barbeiro. Quando este terminou o serviço, o rabino ia pagar, mas
o barbeiro não quis receber por ser ele um servo de Deus. No outro
dia, o barbeiro encontrou um presente em frente à sua porta,
deixado pelo rabino. O padre também foi ao barbeiro e este da
mesma forma não quis receber pelo corte de cabelo por ser ele um
servo de Deus. No outro dia, o barbeiro encontrou uma garrafa de
vinho em frente à sua porta. Por sua vez, o pastor foi cortar o cabelo
e, no momento de pagar a conta, o barbeiro disse: “Aqui o senhor
não paga o corte de cabelo, pois o considero servo de Deus”. No
outro dia, o barbeiro encontrou uma fila de quinze pastores em
frente à sua porta. Humor à parte, creio que estamos estigmatizados
pela sociedade como aproveitadores e péssimos gestores de
recursos. Porém, há como reverter esse quadro.

Honestidade, uma pérola rara e preciosa

Howard Dayton, em citação a Richard Halverson, escreve que por


meio do dinheiro faz-se uma avaliação precisa do nosso verdadeiro
caráter.31 Ao longo das Escrituras, encontramos uma íntima
correlação entre o desenvolvimento do caráter de uma pessoa e a
forma como ela lida com o dinheiro. Por exemplo, em Lucas 16.10,
Jesus estabelece um dos critérios de avaliação da fidelidade quando
diz: “Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto
no pouco, também é injusto no muito”. Como saber se o obreiro de
uma igreja interiorana de pequeno porte pode ser convidado para
assumir o pastorado de uma igreja bem maior e que movimenta
montante dez vezes maior do que a sua atual igreja? Se o critério é
avaliar a honestidade, basta observar como ele administra cada real
em sua pequena igreja. Alguém disse: “O importante não é aquilo
que eu faria se tivesse um milhão de reais, mas aquilo que estou
fazendo com os dez reais que possuo”.

Hudson Taylor, certa vez, enquanto falava sobre finanças, disse que
“as coisas pequenas são coisas pequenas, mas honestidade nas
coisas pequenas é uma grande coisa”.
31 DAYTON, Howard. O Seu Dinheiro. Crown Financial Ministries. Bless Gráfia e Editora. Pompeia, 2003, p.
31.
Humildade, um estilo de vida

De acordo com a pesquisa feita pelos professores universitários


Richard Ryan e Tim Kasser, há um lado escuro no sonho americano
de prosperidade, e o problema não está confinado aos Estados
Unidos. Baseado nos dados reunidos de pessoas de doze
países, Kasser diz que, em cada cultura que estudou, encontrou
resultados psicologicamente pouco animadores, e na maioria das
vezes destrutivos, resultantes da busca incontida por riqueza. O
problema não reside em ter dinheiro, mas em viver uma vida em que
o dinheiro ocupa o centro de todas as coisas. O ideal de ministério
caminha na contramão desses valores consumistas que invadiram
as sociedades na pós-modernidade.

Paulo adverte em 1Timóteo 6.9-10:

Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em


muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam
os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de
todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si
mesmos se atormentaram com muitas dores.

Viver com simplicidade não significa viver na pobreza, significa viver


livre da extenuante busca pelo status social, sem medo de ser
julgado pelo que não possui e longe das raias do consumismo que
dita os valores da sociedade.
Na Idade Média, a igreja romana fortaleceu o ideal de pobreza como
virtude e como requisito para o céu. A Igreja pregava a plenos
pulmões a dificuldade de o rico entrar no céu e a opção do
Evangelho pelos pobres. Esse discurso afivelou um pesado fardo de
culpa aos ombros dos empreendedores e senhores. Nesse contexto
surgiu a resposta da Reforma Protestante: “Não se sinta culpado
pelas riquezas, desde que elas gerem oportunidades sociais em vez
de serem entesouradas”. Não há qualquer problema para a
reputação do pastor se ele, com dignidade, ganhar muito dinheiro.
Inclusive lucrar com negócios paralelos ao ministério, sem, no
entanto, inverter a escala de prioridades. Conheço pastores que,
além de piedosos homens de Deus, têm seus empreendimentos
prósperos, que, em muitas ocasiões, abrem portas para o
testemunho cristão entre os homens de negócios.

A questão a ser avaliada é: O dinheiro mina a sua autenticidade


pastoral? Suga as energias que deveriam ser investidas no
ministério? Ocupa todo o seu tempo? Dirige os seus
relacionamentos? Acerca desse cuidado, o apóstolo Paulo orientou
seu filho Timóteo:

Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem
depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em
Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento;
que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar
e prontos a repartir; que acumulem para si mesmos tesouros, sólido
fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira
vida. (1Timóteo 6.17-19)

John Wesley dizia: “Ganhe todo o dinheiro que puder, economize


todo o dinheiro que puder, doe todo o dinheiro que puder”.

Nosso colega e amigo pastor Carlos Queiroz costuma nos


aconselhar a aliviar as nossas bagagens, referindo-se ao peso dos
carnês, boletos, contas a cobrir, cheques a cair, transferências
bancárias a efetuar, que acabam por nos estressar e desvirtuar do
foco prioritário: o trabalho com pessoas. Só podemos pastorear
pessoas, empáticos aos seus corações, quando a nossa bagagem
burocrática e financeira estiver leve.

Fé, a contramão da ansiedade

Muitos colegas pastores, quando pregam aos seus rebanhos,


abordam com impressionante destreza os temas que versam sobre
a fé em resposta às preocupações da vida, a esperança em
resposta aos eventos inesperados, a confiança em resposta às
adversidades, mas, quando são provados, suas mentes são
tomadas pela ansiedade. Seus discursos não passam de oratória
motivacional não autenticada por suas vidas. Quem, à semelhança
do rei Amazias, preocupa-se com a perda de dinheiro, devia ater-se
à palavra de 2Crônicas 25.9b: “Muito mais do que isso pode dar-te
o SENHOR”. Nós, pastores, precisamos crer e provar em nossa vida
a provisão pela fé. Quando nos dispusermos a confiar no Senhor,
em algum instante da caminhada, isso ocorrerá.

Jesus promete nos sustentar com o pão de cada dia, não com o pão
de amanhã, do mês que vem ou do próximo ano. Ele nos lembra
dos princípios do maná no deserto: os judeus colhiam o suficiente
para cada dia e, se colhessem mais, o excedente apodreceria.
Somente na sexta-feira permitia-se guardar para o sábado. O
propósito era creditar a provisão a Deus, e não ao maná. Jesus nos
orienta a fazer a mesma coisa quando nos ensina a orar: “O pão
nosso de cada dia nos dá hoje”. Precisamos confiar no Pai nosso e
não no pão que ele nos dá. Precisamos crer no Deus Provedor, e
não no dinheiro, apenas um subproduto da provisão divina.

George Müller, o Príncipe dos Intercessores, foi, por sessenta anos,


diretor de um orfanato na cidade inglesa de Bristol. Ele tinha a
convicção de que não deveria pedir dinheiro às pessoas, mas
diretamente a Deus. Resultado: nunca lhe faltaram os recursos para
sustentar os dez mil órfãos que por ali passaram ao longo dos
sessenta anos de sua direção. Nunca precisou se preocupar nem se
desesperar. E ainda nos deixou a lição em um trocadilho: “O início
da ansiedade é o fim da fé; e o início da verdadeira fé é o fim da
ansiedade”.
Domínio próprio, o ponto de equilíbrio

Entrar em um shopping center, passear por duas horas pelos


corredores iluminados por lustres de cristais, admirar cada
glamorosa vitrine e sair sem comprar nada é um teste de equilíbrio
emocional. No entanto, se o pastor é consumista, tem que evitar a
tentação do shopping nem ao menos submeter-se ao teste. Passar
pela concessionária, admirar cada modelo recémlançado, fazer um
test drive e, mesmo tendo uma reserva, refazer as contas e voltar a
dirigir seu automóvel de cinco anos de uso é a fuga da tentação do
ter. Somos tentados a comparar o que temos a partir do que não
possuímos e, se assim fizermos, estaremos constantemente
insatisfeitos. Por definição, consumismo é um modo de vida
orientado por uma crescente propensão ao consumo de bens ou
serviços, em geral supérfluos, em razão do seu significado simbólico
(prazer, sucesso, felicidade), frequentemente atribuído pelos meios
de comunicação de massa32. A cultura do consumismo tem como
seu principal sustentáculo a insatisfação, portanto viver contente é a
resposta mais pontual ao consumismo. O contentamento é
mencionado sete vezes na Bíblia, em seis delas se referindo ao
dinheiro.33

Procure frear e controlar os impulsos. Mantenha o controle sobre


suas emoções sempre que lhe oferecerem algo que possa alterar
seu orçamento. Nunca compre por impulso. Se a oferta é do tipo
“compre agora, antes que acabe”, então a resposta é não! Somente
compre quando tiver refletido mais de uma vez sobre o assunto.
Isso é sobriedade, característica comum em obreiros sensatos e
experientes.
32 https://pt.wikipedia.org/wiki/Consumismo
33 DAYTON, Howard. O Seu Dinheiro. Crown Financial Ministries. Bless Gráfia e Editora. Pompeia, 2003, p.
12.
8. PASTOR: O MORDOMO EXEMPLAR

Eis que, agora, trago as primícias dos frutos da terra que tu, ó S
ENHOR, me deste. Então, as porás perante o SENHOR, teu Deus,
e te prostrarás perante ele. Alegrar-te-ás por todo o bem que o
SENHOR, teu Deus, te tem dado a ti e a tua casa, tu, e o levita, e o

estrangeiro que está no meio de ti.


(Deuteronômio 26.10-11)

Como já vimos, o mordomo era o escravo administrador, o


tesoureiro do seu senhor. Não somos apenas ensinadores da
mordomia cristã, mas praticantes. Ouvi falar sobre alguns colegas
pastores que ensinavam a igreja a dizimar, mas eles mesmos não
eram dizimistas. Quando arguidos sobre a postura, apenas
respondiam que dizimar ou não dizimar era questão de foro íntimo.
Não é de se estranhar que todos estejam fora do ministério pastoral,
afinal Cristo disse: “porque, onde está o teu tesouro, aí estará
também o teu coração” (Mateus 6.21). Por inferência, se o dinheiro
de um pastor não estiver no Reino de Deus, seu coração não estará
nele. Alguém disse: “A fé entra pela cabeça, vai até o coração e,
quando atinge o bolso, torna-se verdadeira”.

Por questão de lógica, se o pastor prega e ensina sobre a


eternidade, por que razão não haveria de investir em valores
eternos? A contribuição é apenas a semeadura, a colheita é de
valores espirituais. Paulo, ao falar sobre a contribuição missionária,
diz: “Não que eu procure o donativo, mas o que realmente me
interessa é o fruto que aumente o vosso crédito” (Filipenses 4.17).
Portanto, quando o obreiro contribui, investe em valores eternos
junto ao seu rebanho. Um livro precioso sobre esse assunto é Fé e
Finança, de Loren Cunningham, um dos fundadores da JOCUM34.
Um dos princípios que ele ensina aos missionários é que eles
devem ser os primeiros a serem liberais se desejam ser sustentados
na obra missionária. Muitas experiências de fé ele compartilha no
seu livro, provenientes dessa semeadura.

Eu (Marcos Kopeska) tenho amigos pastores que, ao lançarem


campanhas de reforma ou construção, são os primeiros a contribuir.
Com isso a igreja inspira-se na autenticidade do seu líder. Lembro-
me de um colega que, em época da construção do templo, ofertou
seu automóvel a fim de não interromperem a obra. Outro ofertou seu
automóvel para um missionário muito pobre e, quando retornou à
sua cidade, Deus lhe deu um novo. Também tenho bom
relacionamento com um colega que tem um excelente lastro de
divulgação dos livros que escreve, mas reverte toda a renda dessa
produção literária para a evangelização. São
34 Jovens Com Uma Missão – ministério que prepara jovens para o campo missionário.
corações desapegados a valores terrenos.

O grande evangelista João Wesley, no século 17, ensinava


sistematicamente os pastores e pregadores que somavam ao
movimento metodista acerca da mordomia. Pregava pontualmente
que a relação que temos com o dinheiro pode potencializar ou
romper nossa relação com Deus, e nesse viés, dava quatro
conselhos quanto às prioridades de Deus para o uso da renda
individual do cristão e do pregador:

1º Supra o necessário para si mesmo e a família (cf. 1Timóteo 5.8).


2º Tendo sustento e com que se vestir, esteja contente (cf. 1Timóteo
6.8).
3º Procure as coisas honestas perante todos os homens (cf.
Romanos 12.17 - ARC) e a ninguém fique devendo coisa alguma
(cf. Romanos 13.8). Depois de cuidar das necessidades básicas, a
próxima prioridade é pagar os credores ou providenciar para que
todos os negócios sejam feitos de forma honesta, sem incorrer em
dívidas.

4º Faça o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé (cf.


Gálatas 6.10). Depois de prover para família, credores e negócios,
Deus espera que você lhe devolva o restante por meio do hábito de
doar aos necessitados.

Para ajudar a discernir em situações não muito claras se a direção


tomada é certa diante de Deus, Wesley sugeria que o cristão fizesse
a si mesmo as seguintes perguntas em relação a algum bem que
quisesse adquirir:

1ª Em gastar este dinheiro, estou agindo como se eu fosse dono


dele ou como despenseiro de Deus?
2ª Que ensino da Escritura me orienta a gastar dinheiro desta
forma?
3ª Posso oferecer esta aquisição como oferta ao Senhor?
4ª Deus haverá de me elogiar na ressurreição dos justos por este
dispêndio?35
Eu (Marcos Kopeska) tive a oportunidade de provar a mão de Deus
guiando-me de forma muito clara na vida financeira. Nasci em um
lar cristão e fui educado a devolver ao Senhor o dízimo de tudo
quanto ele me dava. Aos quatorze anos de idade, comecei a
trabalhar e, aos dezesseis, tinha a carteira assinada. Desde o
primeiro salário, dizimei, e isso me faz descansar no senhorio de
Cristo sobre minhas finanças.

Conta-se que um dia ladrões entraram no templo e arrombaram o


gazofilácio. Foi na noite de uma quarta-feira. Três irmãos haviam
colocado o envelope de seus dízimos depois do culto de oração. O
tesoureiro não comparecera, e lá ficaram os dízimos. No dia
seguinte, o zelador encontrou o gazofilácio arrombado, vazio. Então,
no domingo pela manhã, o pastor aproveitou-se da oportunidade
para contar à igreja o ocorrido: “Irmãos, um ladrão arrombou o
gazofilácio e roubou os dízimos de três irmãos que ali os haviam
depositado. Nossa tesouraria vai contabilizá-los, pois os envelopes
foram abandonados na sala dos fundos. Porém, devemos dar
graças a Deus pelos dízimos que foram roubados”. E emendou: “há
muitos dízimos que não poderão ser roubados do gazofilácio do
templo porque já estão sendo roubados de Deus muito antes”.
Sejamos bons mordomos daquilo que o Senhor nos tem confiado,
pois nossa fidelidade nessa área é observada pelos céus e pela
terra. Aliás, como em outras doutrinas, a mordomia do rebanho
começa com o pastor. Como dizia Tomás de Kempis: “quem vive
bem, calando prega”.
35 O Exemplo de John Wesley. Disponível em: http://ganancia.com.br/index. php?id=57. Acesso em:
10/maio/2018.

9. ÉTICA: AINDA HÁ TEMPO DE REVERTER O QUADRO

Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o


modelo que tendes em nós.
(Filipenses 3.17)
Por definição, ética é a parte da filosofia dedicada aos estudos do
comportamento humano. A palavra grega ethos tem a ver com
comportamento, diferentemente da moral, que tem a ver com o
caráter. Ethos também indica um lugar, um refúgio. O lugar-comum,
compartilhado, infere um comportamento aceitável para que a
convivência se torne possível nesse meio ambiente. Logo, a ética é
intrinsecamente prática, enquanto que a moral trata das razões do
coração, isto é, do caráter.

Realmente, algumas atitudes de ministros do Evangelho na relação


“caráter e finanças” beiram as raias da loucura e do ridículo. Mesmo
depois de levar em conta a pouca credibilidade das denúncias
publicadas na internet contra o “próspero mercado do púlpito”, eu
(Marcos Kopeska) naveguei em alguns sites e blogs para me
informar sobre como andam as coisas nesse meio. Em menos de
duas horas de pesquisa, encontrei:

Uma agência que contrata pregadores para vigílias, congressos,


cultos evangelísticos, cultos de prosperidade. Os pregadores
interessados no agenciamento podem inscrever-se preenchendo um
cadastro e pagando uma taxa.

A denúncia de um pastor que ligou para o assessor de um


pregador popstar e, logo após fechar o negócio para pregar em um
culto da igreja X (uma megaigreja), ofereceu mais quinhentos reais
de bônus, além dos quatro mil e quinhentos do contrato, para elogiar
publicamente o pastor da igreja e enaltecer o seu ministério, visto
que os ventos sopravam contrários na sua gestão. O assessor
aceitou a oferta e garantiu a bajulação.

A relação dos cachês cobrados pelos cantores ou grupos top que


vão de R$ 5.000,00 a R$ 250.000,00 por show, e cada contrato é
feito com várias exigências adicionais. A relação dos cachês dos
pregadores varia de R$ 4.000,00 a R$ 25.000,00 por mensagem.
Também está em ascendência a cotação dos testemunhos. Quanto
mais horripilante for a narrativa, maior o cachê. (Não é para menos
que o mundo gospel é considerado o terceiro maior filão comercial,
movimentando mais de um bilhão de reais a cada ano.)
A oferta de um curso para a formação de conferencista
internacional, ministrado online com a promessa de bons
agendamentos no futuro.

Os processos que se arrastam na justiça por contratos violados


de shows gospel e pregações cujas demandas são milionárias.

Os detalhes sobre a conduta dos trinta e dois dos cinquenta e


seis deputados federais da Frente Parlamentar Evangélica, que
respondem a processos por suspeitas em crimes como peculato
(apropriação de bens ou valores públicos de forma indevida),
improbidade administrativa, corrupção eleitoral, abuso de poder
econômico, sonegação fiscal e formação de quadrilha. Na sua
maioria são parlamentares pastores.

Parei a pesquisa por dois motivos: ficou maçante, pelo volume de


matérias publicadas, e pela angústia que tomou meu coração. Por
um momento fui tomado de vergonha por fazer parte do ministério
pastoral.

O dinheiro e a autenticidade do pastor

Quando Jesus derrubou as mesas dos cambistas no átrio do templo,


imaginamos que o fez porque comercializavam os animais para o
sacrifício, mas na verdade todo aquele comércio era um engodo. Os
líderes repartiam o lucro entre si e exploravam o ofertante. O judeu
saía da porta do templo convicto de que seu sacrifício seria
oferecido, mas o cordeiro não chegava ao altar. Outro fator a
considerar era a alteração do câmbio com o propósito do lucro
abusivo dos líderes do templo. Portanto, o problema financeiro,
tanto do povo como dos líderes, vem de longe, de milênios, e seria
pretensão nossa querer solucioná-lo hoje. Precisamos, no entanto,
refletir sobre os princípios bíblicos para a gerência dos bens
materiais.

A igreja apostólica mostrou extremo zelo e transparência na


administração das ofertas missionárias. As igrejas gentílicas
escolheram uma comissão para ir com Tito receber a oferta de amor
e levá-la aos crentes pobres da Judeia. Paulo recusou-se a levar a
oferta sozinho. Por quê? Por três motivos: o primeiro tinha a ver com
a segurança. Havia o alto risco de assalto para alguém que viajasse
solitário levando uma soma em espécie. O segundo era a promoção
da unidade cristã e o senso de equipe. E o terceiro motivo era
eliminar a possibilidade de que alguém duvidasse da sua lisura na
administração do dinheiro. Por isso organizou uma comissão
representativa: “pois o que nos preocupa é procedermos
honestamente, não só perante o Senhor, como também diante dos
homens” (2Coríntios 8.21). Isso é atitude racional. Hudson Taylor
dizia: “O trabalho de Deus, feito da maneira de Deus, receberá os
recursos de Deus”. Creio que a razão de muitas igrejas e de muitos
pastores, com exceções, não reunirem recursos para o trabalho de
Deus é justamente porque não dirigem o trabalho do jeito de Deus.

Ainda no seminário, eu (Marcos Kopeska) ouvi o testemunho de um


pastor que, em absoluta transparência, informava ao conselho de
sua igreja sobre qualquer rendimento, oferta recebida,
empreendimento realizado, e fazia questão de que a informação
fosse registrada em ata. Em uma ocasião, um irmão de sua
comunidade observou que o automóvel do pastor estava com pneus
e suspensão depreciados, colocou-o na oficina e propôs cobrir todos
os custos. O pastor, antes de aceitar a generosa e oportuna oferta,
certificou-se de que o bondoso ofertante não estava subtraindo a
oferta do dízimo. Na próxima reunião do conselho, fez constar o fato
em ata. Exagero? Não podemos transformar tais procedimentos em
lei nem tão pouco deixar que os conselhos ou diretorias de igrejas
invadam a privacidade financeira do pastor. Não obstante, esses
exemplos nos chamam a refletir sobre a seriedade com que o tema
deve ser tratado. Por vezes será melhor pecar por excesso do que
por falta de cuidado.

Outro colega, grande referencial de ministério, sempre que assumia


o pastorado em uma nova igreja, pedia que o conselho registrasse
documentalmente que “o pastor não tomará dinheiro emprestado,
não emprestará, não solicitará aval e não será avalista de membros
da igreja local”. Justificava isso ao dizer que sempre que havia
envolvimento financeiro entre pastor e membro corria-se o risco de o
pastor perder a ovelha ou de a ovelha perder o pastor.

É fato que não há um código de ética padronizado ou publicado


sobre esta tão sensível área da vida pastoral, mas há um leque
aberto que inicia com o bom senso e vai até o conjunto de textos
bíblicos sobre finanças.

O dinheiro e os relacionamentos do pastor

“Foram encontradas duas caixas-pretas pelos terroristas. A nossa


posição é a de não as destruir”, afirmou o embaixador ucraniano em
Roma, Heorhii Cherniavskiy, reportando-se ao voo da Malaysia
Airlines, caído na Ucrânia no dia 17 de julho de 2014, enquanto
Rússia e Ucrânia avolumavam as discussões sobre a legitimidade
do movimento separatista pró-Rússia. A “caixa-preta” de um
relacionamento conjugal é a sua vida financeira. A caixa-preta de
uma aeronave só é aberta quando há um desastre aéreo, assim
como a situação financeira de alguém ou de uma organização,
quase como regra, só é aberta quando um escândalo vem à tona.

Vida financeira é algo íntimo, pessoal e pode ser o ponto de partida


para um conflito. Isso não é diferente na vida dos pastores e
missionários. Procuramos esconder o quanto ganhamos, pois o
salário do pastor pode causar ciúmes no pastor auxiliar ou em outro
colega do presbitério e, pasmem, há esposas de ministros que não
sabem quanto o marido ganha. Procuramos esconder quando
recebemos uma oferta ou fechamos algum negócio que nos renda
bons dividendos. É a nossa caixa-preta.

O dinheiro pode separar pessoas, romper amizades, sacrificar


equipes pastorais, minar relacionamentos entre pastor e ovelha. Na
igreja primitiva, as viúvas judias recebiam mais ajuda financeira do
que as viúvas helenistas e logo houve um problema relacional em
razão das finanças. Esse problema culminou na escolha dos
primeiros diáconos, uma solução à altura. Na parábola do filho
pródigo, o irmão mais velho rejeita o mais novo por causa dos bens
gastos dissolutamente, portanto o problema nasceu no uso das
finanças.

Há pastores cujos relacionamentos são construídos entre as


pessoas mais influentes e mais ricas da igreja. Naturalmente haverá
desdobramentos desgastantes. Eu (Marcos Kopeska) acompanhei
uma situação de divisão de uma comunidade, na qual os irmãos
queixosos pontuaram as razões porque deixavam a igreja. Uma
delas era que o pastor dava toda a atenção aos irmãos mais
abastados, em detrimento dos demais.

O dinheiro e as motivações do pastor

Dinheiro atrai poder, poder traz dinheiro e juntos dão a discreta


sensação de onipotência. Contudo, a onipotência é atributo
exclusivo de Deus e, com dinheiro e poder, nós sutilmente tentamos
tomar o lugar de Deus. Com a pretensa segurança do dinheiro,
corremos o risco de alimentarmos motivações secretas. Por
exemplo: o pastor pode dedicar-se total e exaustivamente ao
crescimento da igreja a ponto de ser admirado pelos membros da
comunidade, mas lá no recôndito da alma, seu desejo é que a igreja
cresça para que cresça sua influência e status.

O pastor pode dedicar-se a discipular empresários e profissionais


liberais sob o legítimo argumento de que esse é seu ministério
específico, mas no profundo da alma desejar que o caixa da sua
igreja seja fortalecido. João Calvino e os pais da igreja motivaram os
pregadores e líderes a uma vida simples, de forma que as
motivações do ministério ficassem muito claras à comunidade. Nas
Institutas,Calvino escreve:

Tudo quanto a Igreja possui, seja em propriedade, seja em dinheiro,


é patrimônio dos pobres. E assim frequentemente ali é entoada esta
cantilena aos bispos e diáconos: que se lembrem que estão a
manejar não valores próprios, mas os destinados à necessidade dos
pobres; valores que, se de má-fé são suprimidos ou dilapidados, se
constituem réus de sangue. Daí serem admoestados a que, com
sumo tremor e reverência, como à vista de Deus, os distribuam, sem
acepção de pessoas, àqueles a quem se devem. Daqui também
aquelas sérias reiterações em Crisóstomo, Ambrósio, Agostinho e
outros bispos como eles com as quais diante do povo asseveram
sua integridade.36
36 CALVINO, João. As Institutas. Livro IV, capítulo XIII.

A psicanalista Gail Saltz37 esmiúça e analisa as origens, as


consequências e os riscos psicológicos aos quais as motivações
ocultas podem levar. Ela alerta sobre a possibilidade de que as
motivações secretas sejam vergonhosas, e por isso há a tendência
em escondê-las de si mesmo ou negá-las. Quando o gazofilácio é
mais importante do que o púlpito, a ética ministerial está em jogo.

Os relatórios financeiros e a transparência administrativa

Rubens Teixeira38 afirma que a área mais visada da administração


eclesiástica é a financeira, porque é pela fé que se entregam
dízimos e ofertas (enfoque divino), e é pelas leis e princípios morais
que se deve administrar bem e prestar contas (enfoque humano). O
entendimento de que a obra é de Deus não exclui o de que a
administração é humana. O homem pode administrar bem o
sacerdócio, como Samuel, ou administrar de forma ruim, como Eli e
seus filhos. A unção de Deus não torna o sacerdote incapaz de
errar. A Bíblia aponta homens de Deus ungidos que fizeram
escolhas erradas.

A Bíblia ensina que todos têm uma vocação. O pregador não é


necessariamente bom administrador. A fé que motiva os fiéis a
entregar os recursos não retira do administrador eclesiástico
37 Autora do livro Anatomia de Uma Vida Secreta, Editora Gente, 2007.
38 Doutor em Economia pela UFF, Pós-graduado em Auditoria e Perícia Contábil pela UNESA

o dever de bem administrar e prestar contas. A transparência na


gestão dos recursos dará aos membros condições de avaliar a
qualidade do administrador. Não é possível a igreja avaliar a
habilidade de seus gestores se não receber informações suficientes.
Um hábito que precisamos cultivar na administração eclesiástica é a
prestação de contas com extrema transparência. Há igrejas que
possuem ministério de administração ou conselho que gerencia
finanças e administração, mas essa não é a realidade da maioria
das igrejas ou campos missionários onde o pastor é o administrador.
A denominação na qual eu (Marcos Kopeska) sirvo normatiza que
cada igreja local tenha suas finanças regidas pelo Conselho, e a
cada ano a Comissão de Exame de Contas trabalha na conferência
dos trabalhos do Conselho e do tesoureiro especificamente. A cada
ano a igreja recebe um relatório completo e discriminado do
movimento financeiro.

O obreiro, mesmo sendo digno do seu salário, não deve administrar


sozinho os recursos de onde sai o seu sustento. Deve haver uma
tesouraria e um conselho fiscal competente, independente, discreto,
leal e sério. Desse modo, o pastor será preservado.
10. SEGUROS: GASTO OU INVESTIMENTO?

O que ajunta no verão é filho sábio, mas o que dorme na sega é


filho que envergonha.
(Provérbios 10.5)

O provérbio aconselha não somente a poupar, mas a preparar-se


para os invernos da vida. O verão não dura para sempre, a
juventude não é eterna, e as portas do ministério talvez não
permaneçam abertas por muito tempo. A noite vem para cada um
de nós pastores, quando as portas das finanças se fecham pouco a
pouco.

Neste tempo que chamamos de pós-modernidade, presenciamos,


em velocidade inacreditável, transformações comportamentais e
sociais. Uma das marcas desta era é o descarte. Lembro-me de
que, na infância, nos anos 1970, usávamos os sapatos até que
furassem as solas e desbotasse o couro. Quando isso ocorria,
íamos ao sapateiro e colocávamos saltos, solas e tinta novos, e os
calçados ficavam bons para mais um ano de uso. Nossas camisas e
calças eram cuidadosamente usadas e depois reaproveitadas pelos
irmãos mais novos. Lavávamos as garrafas de Coca-Cola depois
que as utilizávamos e as colocávamos nas grades até a próxima
festinha de aniversário. Quando nasciam crianças, as mães lavavam
e passavam diariamente as fraldas de tecido. Normalmente os
varais das casas presenteadas com neném ficavam tomados pelas
fraldas brancas a cada tarde. Hoje temos desde copos até roupas
descartáveis. Temos de guardanapos a empregos descartáveis. Fico
preocupado com essa cultura do descarte, não tanto pela relação
custo-benefício, compensadora, mas pelo senso de desvalorização
daquilo que um dia conquistamos.

Penso que essa cultura já invadiu nossa relação com os valores


maiores da vida, como amizades, fé, namoro, igreja, pessoas e...
ministérios. Hoje temos pastores descartáveis para satisfazer igrejas
que precisam “bombar”. Há algum tempo, ouvi o desabafo de um
irmão cuja igreja passava por transformações ministeriais intensas
com o fim de criar uma organização que a levasse a um rápido
crescimento: “Antes eu era o irmão Roberto, que chorava, ria, ficava
alegre ou triste. Era respeitado como um ser humano, com meus
valores, minhas limitações e minhas qualidades. Hoje me sinto
como uma peça de xadrez no tabuleiro de uma organização
empresário-religiosa e valho pelo que produzo”.
O conceito de pastor era o de um pai espiritual que exercia um
ministério duradouro em uma comunidade; que via as crianças
nascerem, as batizava e as acompanhava ao longo da adolescência
entre retiros e acampamentos. O pastor era o principal conselheiro
no período dos namoros adolescentes e ajudava a moçada na crise
da escolha profissional. Ele os acompanhava no crescimento
espiritual, no discipulado e levava-os à profissão de fé. Anos depois
essas mesmas crianças, agora jovens, estavam no altar a contrair
núpcias, abençoados pelo mesmo pastor que fez parte das suas
vidas. Depois vinham os filhos, e lá estava o mesmo ministro a
repetir, com o zelo de um pai, os cuidados espirituais com a nova
geração. Isso sem falar dos momentos junto ao leito da
enfermidade, funerais, aniversários, bodas de prata e outras
ocasiões em que a presença do ministro marcava a história das
famílias.

O pastor era a voz profética da comunidade, o orientador espiritual,


o fiel cuidador do rebanho e o porto seguro nas crises emocionais
da igreja. Porém, não podemos nos iludir nem alimentar
saudosismos. A realidade é que esse padrão de ministério está em
extinção. O conceito substitutivo é o do pastor empreendedor,
criativo e empresarial. As ferramentas do ministério acabam por
serem as mesmas do mundo dos negócios: fina oratória, poder de
persuasão, excelente argumentação, velocidade de raciocínio,
organização impecável, formação acadêmica, visão empreendedora
e razoável influência.

Acontece que esse modelo de pastorado recém-assumido quase


inconscientemente pelo cristianismo brasileiro tem seu lado tirano,
com cobranças a cada semana, algumas delas silenciosas, mas
presentes. O ministério passa a ser um jogo de competitividade e
produtividade em que, se as metas não são alcançadas, lá está o
fantasma da demissão, o trauma da divisão do rebanho ou o
sentimento de inadequação.

Como lidar com o descarte no ministério? Como excluir essa


truculenta relação “igreja patrão e pastor empregado”, se nem ao
menos o seminário teológico nos avisou desse modelo? Aliás, a
grade curricular dos seminários teológicos no Brasil é a mesma de
setenta anos atrás. Ironicamente prepara mal pastores para o
modelo pós-moderno. Deixamos aqui alguns conselhos práticos
para os que navegam nesse conflito.

Não negligencie o recolhimento para o fundo de aposentadoria

Pois bem, um dos grandes dilemas neste contexto diz respeito à


merecida aposentadoria depois de sessenta e cinco anos de idade
ou algumas décadas no pastorado. Apesar de grande parte das
cobranças estarem no campo profissional do ministério, os direitos
profissionais são quase ignorados. É comprovado que o brasileiro é
pouco previdenciário e os resultados são lastimáveis. Os dados
estatísticos são melancólicos, e nestes se incluem os ministros do
evangelho:

46% dos aposentados dependem da ajuda de parentes; 28%


dos aposentados vivem na miséria;
25% dos aposentados precisam trabalhar para complementar
renda;

1% tem independência financeira.39

Algumas poucas convenções ou denominações mantêm seus


pastores jubilados com honra, mas seguidamente nos deparamos
com os tristes relatos de pastores que não contaram com o
envelhecimento ou com a invalidez, e hoje são discretamente
descartados. Também nos deparamos com instituições e agências
missionárias que negligenciam o cuidado para com seus fiéis
obreiros. Por essa razão, cada igreja deve cuidar da aposentadoria
do seu pastor e, se por questões burocráticas não o faz, que o
pastor recolha um valor mensal para os tempos futuros.

De acordo com a divulgação da Assembleia de Minas, a expectativa


de vida no Brasil saltou de 53,4 para 73,4 anos, e as pessoas não
apenas vivem mais, como também muitas delas chegam à velhice
com mais saúde e disposição.40 De acordo com o último censo do
IBGE, 12% da população têm hoje mais de sessenta anos e, se as
tendências forem mantidas, 30% dos brasileiros estarão nessa faixa
etária em 2050. Estes dados apontam inevitavelmente para a
necessidade imperativa de uma aposentadoria razoável. Se houver
condições para tal, aconselha-se que
39 Aposentadoria: sobrevivência ou qualidade de vida? Disponível em: https://www.
bussoladoinvestidor.com.br/especiais/aposentadoria_sobrevivencia_ou_qualidade_de_vida
-4770,1.html. Acesso em: 10/maio/2018.
40 MARTINO, Natália. O envelhecimento populacional e os dilemas da aposentadoria. Disponível em:
https://www.almg.gov.br/acompanhe/noticias/arquivos/2013/09/26_
materia_especial_idosos_qualidade_vida.html. Acesso em: 10/maio/2018.
o ministro também adquira um plano de aposentadoria privada como
complementação de renda.
Não desconsidere a relação Idade e Potencialidade

Há pastores que, por não se preocuparem com a aposentadoria na


idade mais jovem, acordam para essa realidade quando as forças já
estão arrefecendo. Aí lhes resta como alternativa continuar no
ministério mesmo com idade avançada. Se não o fizerem, não
conseguirão viver com a aposentadoria rala que recebem. O
problema vai além da sobrevivência do pastor idoso, visto que sua
idade avançada pouca possibilidade lhe dá de acompanhar as
demandas do ministério e ao mesmo tempo manter-se
emocionalmente ágil, vigorosamente saudável e intelectualmente
reciclado. Logo esse pastor poderá se sentir ultrapassado e
inadequado. Em consequência, poderá encerrar o ministério com o
sentimento de ser pesado à comunidade, abalado em sua
autoestima.

No Antigo Testamento, o sacerdote servia no Tabernáculo até aos


cinquenta anos de idade. Após essa idade outro assumiria suas
funções, mas as ofertas e dízimos da nação sustentavam o
sacerdote jubilado. O catolicismo romano, por sua vez, aproveita as
potencialidades de seus sacerdotes, mesmo em idade avançada.
Relocam, sem perdas, seus clérigos para atividades menos
estressantes e compatíveis com suas energias. As igrejas
evangélicas em geral pouco trabalham em um plano de carreira que
contemple, sem prejuízos à dignidade, o pastor em fim de carreira.

O economista Franco Modigliani41 desenvolveu uma teoria


denominada Ciclo de Vida de Modigliani. Segundo ele, a renda
tende a crescer pela força do trabalho, chega ao seu ponto
culminante aos cinquenta anos de idade e depois diminui. Depois
dos cinquenta anos a renda alternativa tende a crescer. A renda
alternativa para o pastor pode ser um aluguel, uma aposentadoria
privada, um material publicado ou um ministério paraeclesiástico.
Não desconsidere o fato de que a fase de grande disposição de
energia, conjugada ao carisma e à boa disposição, pode durar entre
vinte e cinco ou trinta anos. Mais uma vez entramos em águas
profundas, mas é necessário dizer que seguidamente ouço
presbíteros dizerem algo como: “resolvemos trocar o pastor, afinal, a
igreja pedia um pastor mais jovem e carismático”. Nessas
circunstâncias da vida, a renda alternativa faz muita diferença.

Seja prudente com seu futuro

A Palavra de Deus nos alerta: “O que adquire entendimento ama a


sua alma; o que conserva a inteligência acha o bem” (Provérbios
19.8). Classicamente, prudência é considerada uma virtude e, de
fato, uma das quatro virtudes cardinais. A palavra vem
de prudence, expressão francesa do final do século 13, que por sua
vez nasceu do latim prudentia, que significa
“previsão”, “sagacidade”. Poderíamos dizer que a prudência nos faz
prever e evitar as inconveniências e os perigos. Podemos associá
-la à cautela, precaução, calma, ponderação, sensatez, paciência ao
tratar de assunto delicado ou difícil. Ser prudente é calcular bem o
ônus e o bônus de cada atitude. É pensar e repensar as prioridades
da vida. É uma virtude que nos faz ver o perigo e nos afastar dele.
Ela é classificada como um cardinal, isto é, uma virtude principal.
41 Economista nascido na Itália, naturalizado norte-americano em 1946. O seu trabalho na
Hipótese do Ciclo da Vida é bastante simples: as pessoas poupam nas fases iniciais da
vida para suavizar o consumo ao longo do ciclo de vida e ter dinheiro para manter o padrão
de vida na aposentadoria. Apesar de simples, essa ideia resulta em diversos
desdobramentos não triviais, como a explicação das taxas de poupança e como variam de
acordo com variáveis demográficas e econômicas.

Seja prudente no zelo do templo do Espírito Santo


- plano de saúde

Alguns cuidados particulares do ministro estão no campo da


prudência, e não no campo da falta de fé ou da ansiedade pelo
futuro. É extremamente importante cercarmo-nos de cuidados
quanto às demandas mais comuns da saúde: consultas, exames e
procedimentos cirúrgicos.
A realidade é que, infelizmente, a maioria dos pastores brasileiros
está no grupo de risco das doenças cardiovasculares. Sobram
compromissos, falta tempo e a agenda da igreja atropela a agenda
pessoal e familiar. Falta tempo para a reunião do conselho que
precisa ser realizada no mesmo dia em que um irmão baixou ao
hospital e aguarda a visita do pastor. Falta tempo para a preparação
do sermão do domingo, mas há um casal em crise ligando, que
precisa de aconselhamento com a máxima urgência. Falta tempo
para ir ao futebol dos homens na sexta-feira porque, de última hora,
os músicos da igreja pediram uma reunião para administrar seus
problemas de relacionamento e, se protelarem, pode haver uma
debandada dos músicos. Falta tempo para concluir o preparo dos
novos convertidos ao batismo porque há um processo disciplinar em
andamento que requer tempo qualitativo do pastor nos últimos trinta
dias. Falta tempo para a devocional diária porque há documentos a
serem encaminhados para o presbitério no final da manhã, sem falar
no atraso do artigo para o boletim.

Quando o pastor olha para a agenda dos compromissos formais e a


dos compromissos de última hora, está evidente que não há espaço
para cuidar da saúde, da alimentação e das atividades físicas. O
líder multiplica forçosamente o dia de vinte e quatro horas em um de
quarenta e oito e, ao final dele, sente-se inútil por não cumprir suas
tarefas com qualidade. Atividades esportivas, alimentação saudável,
exames de saúde preventivos são apenas metas empurradas para o
mês seguinte, acompanhados de um pesado fardo de culpa.

Se você é pastor e identificou-se com a maratona acima, é forte


candidato a sofrer doenças cardiovasculares - a primeira causa de
morte do país - 33% do total de óbitos. Os médicos estimam que no
Brasil morram anualmente cerca de 140 mil pessoas de infarto e
130 mil de derrames, os dois principais tipos de doenças
cardiovasculares. Hoje, o pastorado figura entre as ocupações de
maior risco de doenças dessa natureza. Por essas razões, o
ministro precisa investir em um plano de saúde. Isso não é luxo,
nem um anexo pesado demais ao seu orçamento, mas uma
necessidade notória.
Fiz questão de falar das enfermidades cardiovasculares, mas há
outras enfermidades decorrentes do estilo de vida que a maioria dos
ministros do evangelho adota. Há riscos inerentes ao sedentarismo,
há riscos decorrentes da falta de descanso adequado, há riscos
oriundos da pressão psicológica. Eu poderia citar o risco de AVC,
diabetes, obesidade, hipertensão. Sendo assim, o investimento em
um bom plano de saúde figura entre as necessidades logísticas do
ministério. Muitas denominações reconhecem a importância disso e
cobrem o plano de saúde para o pastor e sua família.

Seja prudente com os filhos - seguro de vida

O fato de o pastor trabalhar integral e apaixonadamente pelo Reino


não o torna isento da realidade de que é mortal. Cedo ou tarde,
todos nós, servos de Deus, haveremos de dar o adeus a esta vida e
cruzar os portais celestiais para sermos recebidos na Igreja
Triunfante. Para o servo de Deus promovido, o momento é de
coroação. D. L. Moody, ao partir deste mundo, deixou estas
inesquecíveis palavras como legado: “O mundo se distancia. O céu
se abre! Chegou o dia da minha coroação! Se isso é a morte, ela é
uma doçura!” Contudo, em meio a todo o romantismo natural e
legítimo entre nós que entregamos a vida terrena pela conquista da
eterna, há uma família que continuará aqui na terra a sofrer com os
infortúnios dos mortais, até que chegue o dia da sua coroação.

Eu (Marcos Kopeska) lembro-me de um querido pastor, homem de


Deus, movido por zelo singular pela causa do Mestre. Jovem, aos
trinta e cinco anos de idade precisou submeter-se a uma cirurgia,
teoricamente simples e de baixo risco. Inesperadamente sofreu
duas paradas cardíacas enquanto decorria o procedimento cirúrgico.
Logo após a conclusão da operação, quando voltava da anestesia,
sofreu a terceira parada do coração, sendo esta fatal. Depois de
semanas de intensa dor pela perda, alguns presbíteros se
mobilizaram na busca pelos documentos que dariam algum suporte
financeiro à jovem viúva e a seus dois filhos adolescentes. Aí veio a
segunda triste notícia: o pastor, não obstante seu cuidado pela
igreja, não havia pensado no futuro dos seus. Por ser jovem, não
contava com a possibilidade de tão cedo precisar dos seguros,
portanto nunca recolhera para o INSS nem fizera seguro de vida. De
forma altruísta e até reparadora, a igreja local, apesar de não ter
muitos recursos, incluiu no orçamento uma ajuda mensal à família
pastoral. Ocorre que depois de alguns meses a igreja precisou
seguir seu curso e contratar um novo pastor. Isso também
comprometeu seu orçamento mensal.

Da mesma forma, algumas denominações fazem o seguro de vida


em bloco para todos os seus ministros, inclusive algumas com uma
verba prevista para funeral do pastor e de sua esposa. Porém, isso
não é uma prática comum. Portanto, a orientação é que o pastor
não seja egoísta, que não pense apenas em si, mas prepare-se
para deixar algo para seus filhos e esposa, se partir ao lar eterno
antes deles.

Seja prudente com as aquisições - seguro dos bens

Fazer uma apólice de seguro para a casa e para o automóvel está


no campo das prioridades, isso se o pastor viaja com frequência.
Em muitas igrejas os obreiros estão em viagens constantes ou
então em trabalhos de visitação, de forma que o uso do automóvel é
constante.

Eu (Marcos Kopeska) lembro-me da ocasião em que ia com a


família em férias para o litoral, e o motor esquentou. Estávamos com
a bagagem para uma semana de praia. O hotel já estava reservado
e parte do pagamento adiantado. De pronto recebemos todo o apoio
da equipe da seguradora. Terminamos a viagem de táxi, e o carro
seguiu de guincho para a oficina parceira da seguradora. Fiquei
imaginando como as férias seriam interrompidas ou complicadas se
eu não tivesse o seguro. Em outra ocasião, um pastor retornava de
uma viajem missionária quando descobriu que todos os bens da
casa haviam sido roubados. Acionou o seguro e em vinte dias
estava com a casa equipada novamente.
11. O PASTOR E A CONSCIÊNCIA EM PAZ

Por isso, também me esforço por ter sempre consciência pura


diante de Deus e dos homens.
(Atos 24.16)

Definir consciência não é uma tarefa tão fácil, mas Norbert Lieth, da
Chamada da Meia Noite, nos dá uma boa ajuda:

Um homem havia cometido uma fraude e sua consciência não o


deixava em paz. Para sentir-se aliviado, escreveu à empresa
prejudicada: “Anexo uma parte do valor que estou devendo. Se
ainda não conseguir dormir direito hoje à noite, vou enviar mais uma
parcela”. A consciência não é um órgão físico que se pode ver,
operar ou transplantar, mas mesmo assim ela existe e está presente
na vida de cada um de nós. De onde vem a consciência? Qual é sua
finalidade? Quem a colocou em nós? De onde vem essa “voz
interior”? Um índio descreveu figuradamente a consciência como
sendo um triângulo em seu interior: “Quando cometo alguma
injustiça, o triângulo se move, e isso dói”. Gostaria de definir a
consciência como o “acusador” divino, pois ela nos acusa quando
fazemos algo errado. Conforme a Bíblia, o Diabo é nosso acusador
diante de Deus, mas Satanás não é onipresente, nem onisciente.
Estou falando, porém, de outro “acusador”, que é a consciência,
sempre presente em nós.42
Você se recorda de Francisco Basílio Cavalcante? Talvez

não se lembre mais dele. Era o faxineiro de cinquenta e cinco anos


que ficou conhecido nacionalmente por ter devolvido a um turista
suíço uma pasta com dez mil dólares encontrada no banheiro do
aeroporto de Brasília. Muitos o criticaram e se divertiram com sua
“falta de esperteza”. Na época, ele perdia o sono diante da
dificuldade de não ter vinte e oito reais para o pagamento da conta
de luz atrasada. O dinheiro encontrado na maleta teria resolvido sua
vida. Francisco poderia ter saído do aeroporto sem chamar a
atenção ou levantar suspeitas e, em um passe de mágica, resolveria
seus problemas financeiros sem que ninguém fosse lesado, afinal
ele encontrou o dinheiro, sem trapaça ou falcatrua. O dinheiro
encontrado equivalia à economia do salário de sete anos de seu
trabalho, sem gastar um só centavo. Contudo, a sua formação o
impediu de ficar com um dólar sequer.
42 LIETH, Norbert. A Consciência - O Acusador Divino. Disponível em: http://
www.chamada.com.br/mensagens/consciencia.html. Acesso em: 10/maio/2018. O pastor e a consciência em
paz

Quando tratamos do polêmico assunto de finanças, é difícil manter


uniformidade de opinião. Dizem que um pregador embarcava em um
voo de primeira classe e, enquanto aguardava para ticar o bilhete,
um colega pastor lhe disse: “Eu só viajo de segunda classe”. O
pregador perguntou, já esperando a alfinetada: “Mas por quê?” Ao
que o colega respondeu: “Para economizar o dinheiro de Deus”.
Então, o que viajava de primeira classe disse: “Ah! essa não. Eu
viajo de primeira classe para economizar o servo de Deus”. São
diferentes olhares sobre a questão do trato com o dinheiro.
Entretanto, em qualquer dos pontos de vista, há que se encontrar o
temor de Deus como o fiel da balança.

João Wesley foi um dos maiores evangelistas da história. Viveu


entre 1703 e 1791, e foi conhecido como o pregador que
revolucionou a Inglaterra do século 18. Foi instrumento de
avivamento e influenciou profundamente a igreja com seus ensinos
sobre santificação. Poucos talvez saibam que ele ganhou muito
dinheiro com a venda de seus livros e panfletos e que sua renda o
classificava como um dos homens mais ricos da Inglaterra do seu
tempo. Porém, havia uma expressão que Wesley realmente
detestava. Eram as palavras que as pessoas usavam para justificar
gastos extravagantes ou um estilo de vida materialista. Diziam: “mas
tenho condições de comprar aquilo ou de viver assim”. Para ele,
esta expressão “tenho condições” era vil, miserável, imbecil e
diabólica, pois nada do que temos é nosso. Nenhum cristão
verdadeiro jamais deveria usá-la, dizia ele. Ele não só pregou, mas
viveu esse princípio na prática.

Em uma época em que uma pessoa podia viver tranquilamente com


£30,00 (trinta libras) por ano, Wesley começou sua carreira de
professor da universidade ganhando mais ou menos esse valor. Um
dia, porém, notou uma empregada doméstica que não tinha
agasalho suficiente no inverno. Ele não tinha nada para lhe dar, pois
já gastara todo seu dinheiro para si mesmo. Sentiu-se fortemente
repreendido por Deus como mau despenseiro dos seus recursos.
Daí em diante reduziu ao máximo suas despesas para poder ter
mais para distribuir e socorrer os necessitados. Com o tempo, sua
renda anual passou de £30,00 a £90,00, depois a £120,00 e anos
mais tarde chegou a £1400,00. Entretanto, ensinou que, assim que
a renda do cristão aumentasse, devia aumentar seu nível de ofertas,
não o seu nível de vida. Por inúmeras vezes ele testemunhou a paz
que desfrutava com o estilo de vida adotado a partir da sua relação
com o dinheiro. Quando morreu, deixou apenas algumas moedas
nos bolsos e nas gavetas e os livros que possuía.

CONCLUSÃO

Para algumas nações, o dinheiro é instrumento de opressão social.


Para muitos políticos, o dinheiro é a coisa a ser ofertada para a
compra do eleitorado desesperançado. Para os corruptos, é o troféu
da esperteza. No entanto, para a igreja de Cristo, o dinheiro precisa
ser instrumento de evangelização, de envio missionário, de
expansão do Reino, de socorro aos necessitados e de sustento
digno de obreiros. O uso que fazemos do dinheiro pode definir
nossa relação com Deus e com os céus. Diferentemente do que
normalmente pensamos, o dinheiro não é apenas a ferramenta para
sobrevivermos neste mundo enquanto aguardamos o
arrebatamento. Não é um mal necessário, como já ouvi de um
pregador, mas é uma bênção de Deus para nosso ministério quando
na sua posição de servo e sob controle absoluto.

Seu uso coerente e cuidadoso será nosso testemunho pessoal


diante da comunidade. Betty Carlson, autora norteamericana, conta
a história de um pastor que preparava a lição da Escola Bíblica
Dominical sobre o tema “As Marcas de Um Verdadeiro Cristão”.
Antes de ensinar à sua classe, decidiu rever os pontos principais
com a esposa enquanto o filho menor estava por perto. Pediu ao
garoto que se sentasse e o ouvisse por quinze minutos. Quando
acabou, o menino estava pensativo. E de repente disse: “Papai, eu
acho que nunca vi um cristão em minha vida”. Foi um choque para o
pai, mas também uma advertência.

A família, a igreja e a sociedade observam silenciosamente como


lidamos com as finanças. Spurgeon certa vez disse: “Se o
Observatório de Greenwich43 estiver errado, metade de Londres
ficará desorientada. O mesmo acontece com o ministro da Palavra.
Ele é o relógio da comunidade. Muitos conferem sua hora com ele e,
se ele for incorreto, todos andarão erradamente”.

Que Deus nos ajude a sermos referenciais de sobriedade e tempo


de cegueira e loucura da sociedade em relação ao uso do dinheiro.

Em Cristo e pelo Seu Reino!


43 O Observatório Real de Greenwich foi fundado em 1675 com o objetivo de contribuir
para o desenvolvimento dos conhecimentos astronômicos essenciais à navegação. A hora
média de Greenwich (GMT – Greenwich Mean Time) baseada na rotação da Terra foi
utilizada como padrão mundial de tempo até 1986.
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