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2017
PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
As informações sobre a atuação do psicólogo, veiculadas nos textos que você irá
ler, serão complementadas por outras informações resultantes de entrevista s que você
realizará com profissionais que estejam atuando no mercado de trabalho de sua cidade,
nos diversos contextos de atuação existentes. Durante aulas específicas, você receberá
instruções e orientação para este trabalho, que será realizado em grupo.
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O primeiro assunto que será apresentado refere -se a uma questão que precisa ser
abordada logo de início na sua formação de psicólogo. Essa questão diz respeito à própria
área de conhecimento que você resolveu estudar.
A pergunta que se coloca é a seguinte: ao falarmos em “Psicologia”, estamos
falando de um único corpo de conhecimento, sólido, indivisível e coeso ou estamos nos
referindo a várias formas de pensar sobre os fenômenos psicológicos humanos, formas
estas algumas vezes até diferentes entre si? Ao invés de nos referirmos à "Psicologia" (no
singular) seria mais apropriado falar nas "Psicologias"?
Estas e outras interessantes questões são discutidas no texto que você vai ler. Ao
final dele você encontrará um roteiro de atividades de leitura e reflexão sobre os assuntos
abordados que poderá ser bastante útil nesta sua primeira atividade de leitura da
disciplina.
Podemos começar sua primeira leitura desta disciplina imaginando alguém nos
seus primeiros dias como aluno ou aluna de Psicologia, começando a frequentar a
faculdade e conhecendo todas as matérias, bastante curioso em relação ao que vai
encontrar pela frente. Este aluno curioso quase certamente tem algumas expectativas,
imagina determinadas coisas sobre a Psicologia e sobre a profissão e espera coisas de seu
curso. Se fosse possível a gente adivinhar essas expectativas, poderíamos encontrar
alguém pensando o seguinte: "Bom, estou pronto pra começar a aprender a Psicologia e
o que o psicólogo faz. Tenho 5 anos pela frente pra 'devorar' o máximo que eu puder do
que ela sabe sobre o ser humano. Não vejo a hora de conhecer e ssa 'coisa' chamada
Psicologia!”.
O pensamento desse estudante imaginário poderia estar revelando algumas
expectativas que precisam ser comentadas aqui, nesta sua primeira leitura, porque elas
estão diretamente relacionadas ao que vai acontecer neste curso que você está
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Colaboraram na elaboração deste texto os professores Rita N. Gabriades e Carlos E. Costa
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que aquela tal coisa é B e não A. E aí? Como é que fica?! Se tudo isso está sendo
apresentado pra mim como Psicologia, não seria melhor falar 'Psicologias'?!" Talvez esse
aluno nem imaginasse que alguns estudiosos responderiam afirmativamente à sua
pergunta. "Sim, diriam eles, esta é uma característica fundamental da Psicologia, é esta a
"cara" dela atualmente. Seria mais adequado falar em 'Psicologias', portanto". Esta é , por
exemplo, a posição que é defendida por um estudioso do assunto, o professor e
psicólogo Luís Claudio Figueiredo (ver referência ao final deste texto).
A Psicologia, diferentemente de outras ciências, não tem um objeto único de
estudo e não tem uma forma única de abordá-lo (ou seja, não possui um método de
estudo único). Se pensarmos na Psicologia como um todo, ela estuda fenômenos
bastante variados, como a mente, o inconsciente, o comportamento, as relações
humanas etc. Às vezes interessa-se pela Fisiologia, outras por algo menos palpável, às
vezes está interessada no indivíduo, outras no grupo; às vezes dá muita importância ao
"interior" dos indivíduos como determinante de seus atos, outras vezes se concentra na
influência do ambiente e da educação sobre o comportamento huma no. Portanto, a
Psicologia é marcada pela DIVERSIDADE. Diversidade teórica, diversi dade metodológica,
diversidade prática, diversidade de crenças etc.
Figueiredo (1992) se refere a essa característica da Psicologia como o "estado frag -
mentar do conhecimento psicológico" e diz que a Psicologia tem sido considerada um
"espaço de dispersão". Isto é, o conhecimento psicológico não é "uno", único, coerente,
no geral, e totalmente integrado. O que se observam são diferentes formas de
pensamento em Psicologia, "linhas" ou "correntes" de pensamento, também chamadas
"abordagens". Se considerarmos a Psicologia como um espaço, poderíamos observar que
estas diferentes formas de pensamento ocupam diferentes pontos deste espaço, já que
não têm as mesmas origens e objetivos.
Note que a partir desse ponto de vista, não há porque considerar, de antemão,
essa característica "fragmentar" ou "dispersiva" da Psicologia como algo ruim, nocivo,
desorganizado. Independente de como pudéssemos avaliar essa situação, se boa ou rui m,
o que se propõe é que essa é a característica fundamental da Psicologia. Aquilo que no
primeiro momento poderia parecer caótico poderia vir a mostrar algum sentido,
principalmente quando começamos a estudar a origem de toda essa dispersão, de todas
essas convergências e divergências que se encontram na Psicologia (ou nas várias
"Psicologias" estudadas).
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psicólogo muitas vezes não conseguem enfrentar essa constatação de que a Psicologia é
um espaço em que a diversidade predomina. Reagem à angústia que isso provoca de duas
formas diferentes:
(a) o psicólogo ou estudante não admite ou aceita a própria existência de formas
de pensar diferentes da sua; ele passa a acreditar que só existe uma Psicologia
"verdadeira", rejeitando, em princípio, todas as outras, sem considerar que elas existem
e sem se preocupar em conhecê-las. Estes seriam os "dogmáticos", na terminologia do
autor. Note que não é o fato de um psicólogo acreditar que a sua abordagem é
“verdadeira” não o torna um dogmático, já que é óbvio que adotamos a forma de pensar
que nos parece mais apropriada e adequada em relação a outras. O que o torna um
dogmático é o fato de que ele não aceita que outros possam ter outros critérios e
pensamentos diferentes dos seus.
(b) o psicólogo ou estudante ignora que as várias "Psicologias" são, em muitos ca -
sos, radicalmente diferentes e incompatíveis (porque se originaram de matrizes
totalmente diferentes) e acredita, erroneamente, que todas elas pretendem as mesmas
coisas. Ele adota todas as abordagens indistintamente, como se as diferenças não
existissem. Estes seriam os psicólogos "ecléticos", para o autor.
Note, portanto que o fato de um psicólogo ser "dogmático" ou ser "eclético"
fundamentalmente está relacionado à atitude que ele adota frente à diversidade do
conhecimento psicológico. Nos dois casos, a ênfase não está no número de abordagens
que o psicólogo adota (como veremos mais à frente), mas como ele se comporta frente
às diferenças que caracterizam as diversas abordagens da Psicologia.
Voltando ao nosso aluno imaginário, agora ele se tornou mais confuso porque
entendeu que as duas posições são criticadas pelo autor. O aluno não vê saída e pensa,
de novo: "E eu, nisso tudo? Afinal, o que o psicólogo pode fazer para não ser aquilo que o
autor chama de dogmático ou eclético? Qual é a saída?"
O autor do texto (Figueiredo, 1992) que estamos tomando aqui como referência
para esta introdução ao nosso curso, faz algumas considerações que podem servir para
que a gente reflita e pense em alternativas para enfrentar a situação.
O autor justifica por quê considera inaceitáveis para o psicólogo as atitudes do
dogmatismo ou do ecletismo: elas não são consideradas adequadas porque impedem o
crescimento e desenvolvimento da Psicologia e dos psicólogos. Ele (e vários outros
autores e filósofos) considera que só existe o crescimento quando alguma coisa se
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confronta com seu diferente, com o "Outro", com aquele ou aquilo que não é você (há
uma palavra para designar isso: "alteridade"). Quando o dogmático diz "só a minha forma
de pensar é que vale, as outras não me interessam", ele está impossibilitado de enfrentar
o outro, aquilo que é diferente dele e, sendo assim, nem ele, nem a Psicologia teriam a
possibilidade de se desenvolver, de crescer. A mesma coisa aconteceria com o eclético:
acreditando que possa adotar ao mesmo tempo todas as formas de pensar e agir, não
enfrenta aquilo que elas todas têm de diferente; ele desconsidera o que elas têm de
essencial, estrutural e particular e que a s torna diferentes. O resultado disso é que aqui,
também, não há possibilidade de crescimento e desenvolvimento porque o psicólogo não
está experienciando a diversidade, a alteridade das teorias e formas de pensar.
Voltando ao nosso aluno calouro que se encontrava confuso frente a tanta
novidade que o contato com a Psicologia estava lhe trazendo, é importante que ele saiba
que alguma escolha ou escolhas ele fará à medida que for se formando em Psicologia. E
claro que ele estabelecerá preferências, concordará pessoalmente com algumas coisas e
discordará de outras, mas certamente ele fará escolhas. O que o autor do texto propõe é
que os psicólogos enfrentem essa questão da diversidade característica da Psicologia de
duas maneiras, com dois "movimentos": (a) o "movimento construtivo" em que o
psicólogo estará produzindo conhecimento, buscando respostas para as perguntas que
envolvam seu objeto de estudo e profissão, com base em recursos e referências
oferecidos por uma ou mais teorias, pensando e estabelecendo relações entre as
proposições teóricas e sua prática profissional. Mas para que isso possa re sultar em
crescimento da Psicologia é importante que ocorra, ao mesmo tempo, (b) o "movimento
reflexivo", que se caracteriza pela reflexão constante sobre as várias teorias e siste mas
de pensamento existentes. É essa reflexão que garantirá a possibilidade de contato com
o outro, com o diferente. Refletir sobre as minhas teorias e a dos outros significaria,
portanto, a possibilidade de crescimento. Refletir sobre os pressupostos das minhas e das
outras teorias permitiria que eu conhecesse melhor os meus pressupostos porque os
veria em contraste com os dos outros.
Este trabalho de reflexão, com o objetivo de se encontrar o que existe "por trás",
ou subjacente ("por baixo", "na base") às diversas formas de pensar, me levaria à
identificação das várias matrizes diferentes que subjazem às diversas teori as. A questão
aqui não é descobrir qual "a melhor" teoria, a mais "verdadeira", ou a mais "científica".
Todo o conhecimento obtido até agora pela Psicologia, o foi baseado em alguns
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Referência Bibliográfica:
FIGUEIREDO, L. C. Convergências e divergências: a questão das correntes de pensamento
em Psicologia. Transinformação, 4 (1-2-3): 15-26, jan/dez, 1992.
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1. Explique, com suas próprias palavras, a afirmação: "A Psicologia, como área de
conhecimento e profissão, é marcada pela diversidade e pode ser caracterizada como um
'espaço de dispersão'”.
2. Qual é a origem da diversidade na Psicologia? Explique, com suas próprias palavras, o
que são as matrizes do conhecimento psicológico, na definição de L. C. Figueiredo.
3. O que são o dogmatismo e o ecletismo e por que surgem? Por que o autor
considera-os inaceitáveis?
4. O que Figueiredo propõe como atitude para o psicólogo lidar com a diversidade da
Psicologia?
5. Por que não faria sentido no contexto da diversidade da Psicologia, procurar descobrir
qual a corrente de pensamento mais "verdadeira" ou mais "científica"?
6. Faça uma reflexão sobre o poema reproduzido abaixo, com base no texto lido:
A VERDADE
Carlos Drummond de Andrade
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Inicialmente é importante que fiquem claros os objetivos deste texto que você está
começando a ler.
Você já sabe que um dos objetivos desta disciplina é que você tenha acesso a
informações importantes sobre a diversidade da atuação de psicólogo e que tenha alguns
elementos para que possa refletir criticamente sobre ela.
Neste Texto 2, você encontrará algumas informações básicas sobre o que o
psicólogo faz, concretamente, nos contextos em que atua e sobre algumas características
desses contextos. A diversidade da Psicologia e da atuação prática do psicólogo ficará
evidente, quando você identificar no texto a variedade de formas diferentes que as
atividades profissionais assumem. São variados e múltiplos os seus locais de atuação, os
tipos humanos e variedade de pessoas com as quais os psicólogos têm contato no seu
cotidiano profissional, dependendo dos diferentes contexto s nos quais eles desempenham
suas atividades.
Em vista disso, e levando em consideração o tempo disponível, o texto não
pretende apresentar uma discussão aprofundada de cada um desses contextos ou da
atuação profissional do psicólogo. O objetivo dele é, portanto, relativamente simples:
pretende-se, com a sua leitura, que você ganhe familiaridade com alguns termos que
devem ser novos para você, mas que são comumente utilizados entre os psicólogos. Além
disso, é importante que você aprenda o significado de alguns desses termos, que
envolvem a atuação dos profissionais nos vários contextos que serão estudados.
1.3. Entrevista
Igualmente básica, a atividade de entrevistar aparece desempenhada pelos
psicólogos, nos mais diferentes contextos. Você aprenderá, com o tempo, que uma
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entrevista não é um simples bate-papo do profissional com uma pessoa, mas uma
atividade planejada, com objetivos específicos e realizada segundo determinadas regras.
A entrevista pode ser realizada ao vivo, em contato face -a-face, bem como o psicólogo
pode aplicar questionários, respondidos por escrito pelo próprio indivíduo.
Como dissemos, essas três atividades aparecem nos mais variado s contextos de
atuação, às vezes separadamente (só a entrevista, por exemplo), às vezes em conjunto.
Seguem alguns exemplos:
No caso dos contextos de Saúde, fala-se em psicodiagnóstico (ou estudo de caso),
para se referir ao conjunto dessas três atividade s que o psicólogo realiza. O objetivo do
psicodiagnóstico é identificar os fatores que caracterizam um indivíduo, tanto
internamente (emoções, necessidades, desejos, características cognitivas etc.) quanto
externamente (fatores de ambiente social, familiar, educacional etc.). Apesar do sentido
que "diagnóstico" sugere, o psicodiagnóstico não é realizado apenas para se identificar
um "problema", mas para se identificar as características psicológicas do indivíduo, com
problema ou não. O psicodiagnóstico pode ser utilizado pelo profissional antes do início
de um processo terapêutico (para tratamento) ou para encaminhá -lo para outros
profissionais.
No contexto educacional, pode-se encontrar, por exemplo, o psicólogo observando
uma criança interagindo com seus colegas no intervalo, ou a interação de uma professora
com a classe; entrevistando uma mãe sobre o comportamento da criança em casa;
aplicando um teste de nível intelectual etc.
No contexto organizacional, quando se fala em seleção de pessoal, pode -se, da
mesma forma, observar a aplicação de algumas ou de todas essas atividades (por
exemplo, entrevista, aplicação de testes, observação do comportamento de um
candidato em um grupo, ou em situação de trabalho etc.).
No contexto institucional, por exemplo, o psicólogo "judiciário" pode realizar estas
atividades para fornecer um laudo psicológico que subsidiará a decisão de um juiz, sobre
um detento, ou sobre candidatos à adoção de uma criança.
No contexto da pesquisa, como já foi afirmado acima, a observaçã o, a entrevista e
a aplicação de instrumentos desenvolvidos pelo pesquisador, são atividades essenciais
para a produção de informações sistemáticas sobre os fen ômenos investigados. Por
exemplo, no hospital um psicólogo pode pesquisar as relações entre o de senvolvimento
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psicológico de bebês e a quantidade de stress da mãe durante a gravidez. Para isso, terá
que desenvolver ou utilizar instrumentos de medida do stress da mãe , entrevistá-la,
observar o desenvolvimento de bebês etc. Na escola, ao pesquisar, por exemplo, as
relações entre aprendizagem e tipo de aula (expositiva, seminário, discussão em grupo
etc.), o psicólogo deverá observar a aula dada pelo professor, entrevistar alunos e
professores e utilizar testes ou instrumentos de medida de aprendizagem.
2. PSICOTERAPIA
Vamos, nesta disciplina, considerar a psicoterapia como uma atividade em que o
psicólogo aplica um conjunto de técnicas e métodos psicológicos, cujas características e
objetivos podem variar, dependendo das concepções teóricas e metodológicas que
servem de referência para o profissional (ANCONA-LOPEZ e FIGUEIREDO, 1990). Entre a
diversidade de objetivos da psicoterapia, dependendo da abordagem mencionada, podem
ser citados como exemplo: a solução de problemas; modifi cação de comportamentos
através de novas aprendizagens; desenvolvimento de novas con cepções sobre si e o
mundo; autoconhecimento: transformação da personalidade etc.
Ainda assim, embora a psicoterapia seja uma atividade voltada para múltiplos
objetivos e se desenvolva de maneiras muito diferentes, dependendo dos pressupostos
epistemológicos e teóricos do psicólogo que a utilize, consideramos importante a
concepção da psicoterapia como uma das formas de o psicólogo contribuir para a
promoção da saúde dos cidadãos.
As diferentes abordagens teóricas da Psicologia, assim, servem de base para as
diferentes abordagens psicoterápicas que você pode encontrar entre os psicólogos.
Exemplos dessas diferentes abordagens orientadoras dos psicoterapeutas: psicanálise ou
análise freudiana, análise existencial, análise junguiana (de Jung – o J do nome é
pronunciado como I), terapia comportamental, cognitiva etc.
Uma modalidade de psicoterapia, a chamada psicoterapia breve, tem sido muitas
vezes utilizada em alguns contextos que demandam menor tempo de duração da terapia.
Neste tipo de atividade, o terapeuta tem uma intervenção mais focalizada, buscando
atingir objetivos mais imediatos, principalmente decorrentes da especificidade do
contexto de vida atual do cliente, (por ex., uma separação, uma perda, uma interrupção
abrupta na carreira profissional, uma internação hospitalar etc.).
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3. ACONSELHAMENTO E ORIENTAÇÃO
Esta atividade de aconselhamento e orientação, como na terapia breve, se dá
voltada para uma situação específica que caracteriza o momento de vida de um indivíduo
ou de um grupo. Entretanto, diferentemente da terapia breve em que o objetivo é
"tratar” de um problema específico, no aconselhamento e orientação o psicólogo assume
uma posição que é, principalmente, mais educativa. Isto é, com base nos conhecimentos
da Psicologia, o psicólogo esclarece as pessoas sobre determinados fenômenos da
psicologia humana, nos seus aspectos cognitivos, afetivos e comportamentais. Essas
informações serão úteis para que a pessoa reflita sobre si e a situação que está vivendo,
de forma a lidar da melhor forma possível com sua vida.
A orientação e o aconselhamento aparecem em vários contextos diferentes de
atuação do psicólogo. Por exemplo, em hospitais, orientações para grupos de pacientes
transplantados e suas famílias; em um posto de saúde, orientação de gestantes ou de
mães; em uma escola, orientação vocacional ou sexual ou orientação para pais de filhos
com problemas de aprendizagem (orientação psicopedagógica).
A orientação e o aconselhamento também podem ser atividades que o psicólogo
desempenha tendo como sua “clientela” outros profissionais. Por exemplo, no contexto
de Saúde, em que médicos, enfermeiras e atendentes têm contato , através do psicólogo,
com o conhecimento da Psicologia que lhes é necessário, o que resulta em benefício para
a clientela atendida e para o próprio profissional. No contexto educacional, na atividade
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CONSIDERAÇÃO FINAL
São essas as informações sobre as principais atividades dos psicólogos que
gostaríamos de apresentar a você. Como dissemos no início, o objetivo deste texto é
basicamente o de começar a familiarizar você com alguns termos mais comuns
relacionados às atividades dos psicólogos e apresentar informações básicas sobre
algumas dessas atividades e sobre alguns dos contextos em que elas são desempenhadas.
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Referências Bibliográficas:
ANCONA-LOPEZ, M. & FIGUEIREDO, L. C. M. Guia Psi. São Paulo: Ed. Marco Zero,
1990.
BASTOS, A. V. B. & GONDIM, S. M. G. (orgs.). O trabalho do psicólogo no Brasil. Porto
Alegre: Artmed, 2010.
JUSTO, H. Identidade do Psicólogo: reflexões e limitações das técnicas psicoterápicas.
Canoas: La Sale, 1997.
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No texto que segue abaixo você encontrará informações gerais sobre a atuação do
psicólogo em contextos específicos. As informações e detalhes abordados complementam
as informações do Texto 2, apresentando algumas particularidades dos diversos
contextos mencionados, como o da Saúde, com seus múltiplos subcontextos, além do
Educacional, do Organizacional e o de Pesquisa.
instrumentos utilizados para esta seleção. Os mais comuns são a análise de currículos, a
entrevista, a aplicação de testes (por ex., de personalid ade, de habilidades), a observação
do desempenho do candidato em grupo (a "dinâmica de grupo"), observação de
desempenho do candidato em uma situação simulada ou real etc.
Treinamento: na medida em que um dos conhecimentos da Psicologia se refere ao
processo de aprendizagem dos indivíduos, o psicólogo é chamado a desenvolver e
implementar (por em prática) programas de treinamento entre os funcionários de forma
a melhorar seus desempenhos. Este desempenho tanto pode estar relacionado a
habilidades específicas ou técnicas necessárias para a função, quanto pode estar
relacionado a habilidades "psicológicas", isto é, aquelas que envolvem a relação pessoal
entre indivíduos e suas características pessoais. Assim, o funcionário pode ser
encaminhado ao treinamento com o objetivo de torná-lo mais hábil para determinado
desempenho ou para garantir as melhores condições possíveis de relacionamento entre
os funcionários (atuação, no caso, preventiva), quanto o psicólogo pode ser chamado a
planejar e aplicar um treinamento na tentativa de resolver algum problema relacionado
ao desempenho de habilidades técnicas ou psicológicas (atuação, no caso, remediativa).
Tem-se observado, mais recentemente, que o psicólogo organizacional vem
desempenhando atividades novas e entre elas podemos citar a ergonomia (estuda e
implementa a melhor adequação dos equipamentos à estrutura anatômica, fisiológica e
psicológica do Homem) e a assessoria no planejamento de grandes instituições. Nos
últimos anos, especialmente, tem-se observado uma tendência entre as empresas em
terceirizar os serviços do psicólogo, sendo que nesse caso ele não é um assalariado da
Organização, mas é chamado a assessorá-la, quando necessário.
Podemos dizer, portanto, que o caráter das atividades do psicólogo organizacional
é basicamente, mas não exclusivamente, preventivo, na medida em que seu objetivo
básico é abordar os processos organizacionais, melhorando-os e ampliando-os, visando o
desenvolvimento dos indivíduos e das Organizações. Isso não significa que em
determinadas situações o psicólogo não seja chamado a atuar para resolver problemas,
tendo, aí, uma atuação remediativa.
A Psicologia Organizacional, ao tentar compreender o comportamento do
indivíduo na Organização, estuda o contexto social, político e econômico, as relações
interpessoais, os cenários em que o funcionário está inserido na Organização e os
determinantes internos do indivíduo (sua personalidade, expectativas, desejos etc.).
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realizada pelos estudiosos das Ciências Naturais, como a física, a química, a biologia etc.
Em Psicologia, esse modelo está presente desde sua fundação, e tem produzido
conhecimento bastante significativo, mas outros modelos também foram se
desenvolvendo, partindo de outras concepções sobre o mundo, sobre o Homem e sobre o
próprio conhecimento. Fala-se em modelo das Ciências Humanas para se refe rir aos
parâmetros que orientam essa outra forma de pesquisar, igualmente importante e que
também tem produzido conhecimento psicológico relevante. Nesse modelo, via de regra,
não se busca quantificar os fenômenos psicológicos (o que significa que nem sempre uma
pesquisa se faz com base em números), nem se utilizam experimentos para comprovar
seus resultados. Entretanto, os dois modelos têm em comum a utilização da razão, do
pensamento crítico e da lógica como instrumentos fundamentais na produção do
conhecimento. Ao longo do seu curso, você terá oportunidade de conhecer esses
diferentes modelos de pesquisa da Psicologia.
As condições para a realização de pesquisas nem sempre são as ideais, na medida
em que as verbas necessárias nem sempre estão facilmente disponíveis. Há órgãos
oficiais que subsidiam as pesquisas, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (FAPESP), o Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) etc.
Não é muito comum, no Brasil, empresas privadas patrocinarem pesquisas de Psicologia.
E importante que se reflita sobre a abrangência social do trabalho do pesquisador.
Se considerarmos que o conhecimento produzido pelo pesquisado r fica disponível para
que todos os outros profissionais o utilizem, potencialmente a abrangência do
pesquisador é bastante grande e muitos indivíduos poderão ser beneficiados. Ao mesmo
tempo, esse potencial será reduzido se a divulgação dos resultados das pesquisas se
restringir a poucos profissionais, ou apenas a aquele que a desenvolveu. Por outro lado ,
isto também implica a necessidade dos profissionais buscarem acesso ao conhecimento e
às informações produzidas pela pesquisa, através de estudo, leitura , comparecimento a
congressos etc.
Referência Bibliográfica:
CAMPOS, T. C. P. Psicologia Hospitalar. São Paulo: E.P.U., 1995.
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Psicologia Hospitalar:
7. Como você entende a afirmação de que o papel do psicólogo no hospital é contribuir
para a humanização da instituição hospitalar?
8. Reflita sobre a seguinte afirmação: "O indivíduo, portanto, não se resume à sua
doença, mas é um ser humano complexo e é esse 'todo' humano que precisa ser
considerado".
9. Quais são as principais atividades do psicólogo hospitalar?
10. Por que se pode afirmar que é grande a abrangência do trabalho do psicólogo
hospitalar, em termos de quantas pessoas beneficia?
O texto que você vai ler a seguir tem algumas características diferentes dos textos
anteriores. Você vai notar que aqui o estilo do texto é diferente, já que ele foi extraído e
adaptado de um relato de uma pesquisa sobre a profissão de psicólogo. Sendo um relato
de pesquisa, o texto segue algumas normas e regras de redação e formato, que você
aprenderá posteriormente, quando estudar metodologia do trabalho científico. Como
imaginamos que este tipo de texto é novo para você, algumas dicas gerais de leitura são
importantes. Em primeiro lugar, tenha um dicionário à mão, já que é possível que você
encontre algumas palavras que desconheça. Outra coisa importante: não se preocupe em
memorizar datas e nomes de autores, apesar da grande quantidade de citações que o
texto apresenta. Em Ciência, o conhecimento se produz com base no conhecimento obtido
anteriormente. Sendo assim, há necessidade do texto referir-se a trabalhos feitos
anteriormente, a seus autores, datas e locais de publicação, que apoiem as ideias
apresentadas nele. A longa lista de referências bibliográficas que se encontra no final do
texto cumpre essa função de informar ao leitor a origem das ideias contidas nele.
Não se esqueça de ir lendo o texto utilizando as dicas de leitura e as questões de
estudo que se encontram ao final do material. Isto poderá facilitar a compreensão dos
pontos principais discutidos.
Note que, embora este trabalho cubra um período da história da profissão que vai
apenas até o início dos anos 2000, sua apresentação se justifica pela discus são da
questão da função social contida nele. Para atualização dos dados sobre a profissão até
os anos mais recentes, aconselha-se fortemente que você recorra à seguinte referência,
presente na bibliografia básica da disciplina:
BASTOS, A. V. B. & GONDIM, S. M. G. (orgs). O trabalho do psicólogo no Brasil.
Porto Alegre: Artmed, 2010.
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2
Texto extraído e adaptado de: BETTOI, W. Natureza e construção de representações sobre a profissão na Cultura Profissional
dos psicólogos. São Paulo. 2003. 273p. Tese (Doutorado). Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo
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inaugurado pela abertura dos cursos de Psicologia (na PUC-RJ, em 1956 e na Universidade de São
Paulo, em 1957) e pela regulamentação da profissão, em 1962. Em 1964, a formação e o exercício
profissional são regulamentados pelo Conselho Federal de Educação. Salienta-se, no início da
década de 70, a expansão no número das escolas de Psicologia, em função da política oficial de
abertura do Ensino para a iniciativa privada; (c) um terceiro marco, que se inicia com a inserção
dos psicólogos nos serviços públicos de saúde. Segundo Dimenstein (1998a), no final da década de
70, começa o movimento de abertura de mercado para as instituições públicas, com o aumento do
número de psicólogos nelas. Esse movimento se expandiu muito lentamente nos anos seguintes,
sendo ainda o número de profissionais pouco expressivo, comparado a outras categorias
profissionais do setor de saúde e a outras áreas de atuação dos psicólogos. A autora chama a
atenção para o fato de esse movimento ocorrer em estreita relação com o contexto
histórico-político-econômico, salientando as políticas públicas de saúde do final dos anos 70 e
década de 80 e a crise econômica e social nos anos 80, levando ao afastamento da clientela dos
serviços privados.
Assim como os psicólogos têm estudado a sua história, as ideologias que nela se constroem
têm sido também objeto de sua reflexão. Quando falamos em "ideologia" da profissão estamos
interessados em discutir questões como quais os partidos que temos tomado, como psicólogos,
em relação às coisas do mundo, conhecer o que se oculta sob aquilo que temos feito
profissionalmente, aos interesses que servimos, com o quê nos comprometemos e o quê nossas
ações produzem nos outros.
Uma das primeiras questões que se colocam diz respeito à nossa função social, como
psicólogos, e aos nossos compromissos com a sociedade. Quando se pergunta a quantos e a quem
temos atingido com nosso trabalho (isto é, qual a nossa abrangência social) e qual o significado
dos efeitos produzidos pela nossa atuação (se contribuem, e como, para a transformação do
Homem e da Sociedade), estamos tratando da ideologia que tem caracterizado a nossa profissão.
Fica, então, caracterizado o conceito principal deste texto, o conceito de função social da atuação
do psicólogo. Assim, função social deve ser entendida como os efeitos do trabalho do profissional
sobre a sociedade. No âmbito desta disciplina, esse efeito será avaliado em termos de sua
abrangência (isto é, de quantos e quem são os atingidos pela atuação do profissional) e de seu
significado (isto é, se o trabalho contribui para a transformação do indivíduo ou da sociedade).
Nessa medida, sempre haverá alguma função social sendo exercida, ainda que essa função social
signifique efeitos apenas sobre poucos ou que esses poucos pertençam a uma única classe social.
Não faz sentido, portanto, dizer que não há função social quando o psicólogo atinge poucas
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pessoas com sua atividade profissional. Além disso, não utilizamos o termo "social" apenas para
nos referirmos à classe social menos favorecida.
Nossa abrangência social tem sido, historicamente, bastante restrita. Para Dimenstein
(1998a), a abrangência da atuação do psicólogo não deveria ser avaliada pela variedade de
técnicas utilizadas ou pela diversidade das atividades do profissional. Para ela, uma atuação
abrangente se dá pela "possibilidade de alcançar uma parcela relevante da população ou de
situações em que é potencialmente útil." (p.29). É consenso, entre os envolvidos com a profissão,
que poucos brasileiros têm sido atingidos diretamente pela nossa atuação profissional,
constituindo-se eles na parcela mais privilegiada, econômica e socialmente, da nação. Apenas nos
anos recentes a Psicologia tem se aproximado das populações mais pobres, através de sua
inserção nos serviços públicos de saúde, apesar desta inserção ocorrer de forma bastante pau-
latina e cercada de problemas, como se verá adiante.
Desde o final da década de 70 e início de 80, observa-se o interesse de estudiosos por uma
discussão sobre a função social do psicólogo. Mello (1975), já se utilizava do termo função social,
constatava que nossa função social era muito pouco significativa e nos advertia sobre a
necessidade de revertemos o quadro para o futuro. Botomé (1979) nos perguntava a quem, "de
fato", servíamos. Carvalho (1982) nos apresentava reflexões bastante interessantes sobre as
relações entre a sociedade e a profissão e, ao colocar em discussão a questão das necessidades
sociais às quais deveríamos atender, fazia importantes considerações a respeito do fato dessas
necessidades não estarem sendo as responsáveis pela abertura de espaços de atuação do
psicólogo. Para ela, isso não ocorria, em função da pressão exercida pela imagem social da
profissão, imagem esta limitada e responsável pela abertura dos espaços limitados a serem
ocupados pelos psicólogos.
Discutindo nossa função social, Campos (1983) nos remete à origem de nossa profissão no
contexto das sociedades capitalistas da Europa, no final do século XIX, dominadas pelos
pressupostos da ideologia liberal, como a noção de liberdade individual, da igualdade de
oportunidades, da responsabilidade individual e das aptidões naturais, que serviam à função de
mascarar as desigualdades produzidas pela divisão de classes. É nesse contexto que a prática do
psicólogo passa a ser requerida, principalmente para exercer a função de adaptação e colaboração
à reprodução da dominação de classe3. A ideologia liberal pressupõe um modelo de indivíduo, que
é visto como autônomo, senhor de si e independente (isto é, sua vida depende apenas de si,
3
A esse respeito, ver também Bock (2003)
42
principalmente de sua vontade e suas capacidades inatas), desvinculado dos determinantes de sua
cultura (isto é, não depende das influências que recebe de sua cultura e da sociedade).
Ao longo das décadas de 80 e 90, a função social do psicólogo continuou a ser discutida e
isso se deveu principalmente, conforme Campos (1983), Dimenstein (1998a), Jacó-Vilela (1999) e
Moura (1999), ao fato de o psicólogo se sentir insatisfeito com sua formação e começar a ter
necessidade de aproximar-se de contextos socioculturais desconhecidos, em função da saturação
do mercado para a área clínica privada. Campos (1983) acredita que, em função dessa saturação
do mercado de trabalho, o psicólogo se viu obrigado a prestar seus serviços à população de menor
renda e que é neste ponto que o profissional pode encontrar a possibilidade de lutar contra a
dominação histórica. Isso se daria na medida em que os profissionais tomassem consciência e
refletissem sobre a inadequação das práticas aprendidas aos novos contextos de atuação e fossem
capazes de alterá-las.
A necessidade de se pensar sobre a função social ficava, então, mais evidente, princi-
palmente em seus aspectos relacionados à formação do profissional. Nessa medida, encontram-se
nas publicações disponíveis ao longo das duas últimas décadas, vários trabalhos abordando
aspectos da nossa função social, dos nossos compromissos sociais e das necessidades sociais para
as quais os psicólogos deveriam atentar (Del Prette, 1986; Bastos, 1988; Bonfim, 1990; Ozella &
Lurdes, 1993; Weber, Botomé & Rebelatto, 1996; Bettoi, 1998; Bock, 1999b; Bettoi & Simão,
2000).
Para Dimenstein (1998b), a entrada do psicólogo no mercado da saúde pública, em função,
entre outros fatores, da retração de sua clientela particular em razão da crise econômica dos anos
80, levou ao questionamento dos modelos de atuação do psicólogo, ineficientes e inviáveis no
contexto das instituições públicas. Por modelo de atuação deve-se entender sua forma típica de
atuar, quais são as práticas profissionais que tradicionalmente têm sido utilizadas pelos
psicólogos, como elas são desenvolvidas e quais são as suas características. Essa discussão
contribuiu para que o alcance social da profissão fosse criticado e produziu uma série de
iniciativas, a partir dos anos 80, no sentido de dar à profissão uma função social mais significativa.
Os modelos de atuação do psicólogo são, dessa forma, analisados, a distribuição dos psicólogos
pelas áreas de trabalho é levantada, seus vínculos empregatícios são identificados e o que se
constata é a predominância de um modelo de atuação que se concretiza na atuação do psicólogo
de forma tal, que apenas uma pequena parcela da população é atingida.
Levantamentos que sistematicamente têm sido feitos pelos órgãos representantes da
categoria, para mapear a situação dos psicólogos brasileiros (Sindicato dos Psicólogos no Estado
43
de São Paulo, 1984; Conselho Federal de Psicologia, 1988; Conselho Regional de Psicologia – 6ª,
1995) e outras iniciativas regionais ou institucionais específicas, através de pesquisas feitas por
psicólogos independentes (por exemplo, Yamamoto, Siqueira & Oliveira, 1997, no Rio Grande do
Norte; Magalhães, Straliotto, Keller & Gomes, 2001, no Rio Grande do Sul) têm mostrado a
predominância da atuação do psicólogo como clínico autônomo em consultórios particulares,
trabalhando tipicamente de forma individual, com objetivos remediativos (buscando remediar ou
resolver problemas), focado nos determinantes internos da vida psíquica dos seus clientes (isto é,
dando mais atenção às características internas das pessoas do que a aquilo que ocorre fora dela).
Dados obtidos através de um levantamento feito pelo Conselho federal de Psicologia (WHO/CFP,
2001) junto a uma amostra de profissionais representativa dos inscritos nos Conselhos Regionais
de todo o país, confirmam basicamente este panorama. Para Dimenstein (2000), a Cultura
Profissional do psicólogo brasileiro é carregada de uma ideologia individualista, o que explicaria a
manutenção, entre grande parte dos profissionais, daquele modelo, como norteador de sua
atuação.
Estabelecem-se relações entre a função social do trabalho do psicólogo e aquela forma
típica de atuação. Considerado no seu todo, o modelo de atuação impede uma abrangência social
significativa porque implica serviços de alto custo, oferecidos na forma de atendimento privado
aos quais a população de baixa renda não tem acesso. Requer um treinamento longo, contínuo e
especializado, o que também onera seu custo. O caráter basicamente curativo do modelo aplicado
impede que amplas faixas da população se beneficiem da profissão, pois não opera com base na
lógica e no pressuposto da saúde integral do cidadão. Na medida em que está voltado para o
conhecimento dos fatores internos que caracterizam o indivíduo psicológico, impõe-se uma tarefa
altamente complexa, o que obriga a uma abordagem individual (igualmente restritiva), contínua,
em geral longa. Da mesma forma, a ênfase na busca de compreensão dessa "natureza" psicológica
individual, impede que se apreenda o homem e o fenômeno psicológico na sua condição de
produto e produtor simultâneo do seu contexto sociocultural e histórico.
Visto dessa forma, o fenômeno que se observa na nossa Cultura Profissional, caracterizado
pela predominância da atuação autônoma em clínica particular e pela predominância do modelo
típico de atuação discutido, resulta em uma abrangência social pequena. Isto é, são poucos os
beneficiados, tomando a população como um todo, e apenas os pertencentes aos segmentos
sociais superiores. A função social é pouco significativa, já que não tem contribuído para a
transformação social. Pelo contrário, conscientes ou não disto, os psicólogos têm estado a serviço
das classes dominantes e da manutenção desse domínio, segundo Dimenstein (2000).
44
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caracterização geral da formação acadêmica e do exercício profissional. Estudos de Psicologia, 2(1), 42-67.
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1. Dica de leitura: Os parágrafos iniciais, em que o autor apresenta um breve relato sobre a
história da profissão no Brasil, devem ser lidos com a atenção necessária para que se tome
contato com o desenvolvimento da história da profissão no Brasil e se estabeleçam relações entre
essa história e a questão da função social da profissão.
2. Segundo o autor, a reflexão sobre as ideologias que se construíram na história da
profissão levanta algumas questões importantes para discussão. Quais são essas questões?
3. Dica de leitura: Antes de você continuar a leitura é importante que você entenda uma
expressão que será utilizada bastante no texto: função social do trabalho do psicólogo. Por função
social, entendem-se os efeitos que a atuação do psicólogo produz na sociedade. Esse efeito é
identificado em termos da abrangência e do significado social da atuação do profissional.
4. (a) Qual é o sentido da expressão "abrangência e significado social da profissão"? (b) Qual
é a avaliação que os estudiosos da profissão têm feito da abrangência e da função social da
Psicologia?
5. (a) Historicamente, quais eram os pressupostos da ideologia liberal? (b) Segundo o autor,
quais as funções que essas crenças exerciam no contexto da época? (c) Que papel a profissão de
psicólogo exercia, em relação ao poder vigente na época?
6. (a) Quais foram as condições do mercado de trabalho do psicólogo e da sociedade que
levaram ao questionamento dos modelos tradicionais de atuação do psicólogo? (b) De que
maneira esta questão poderia estar relacionada à formação do psicólogo?
7. Segundo o texto, quais são as características do modelo tradicional de atuação?
8. Quais os argumentos que a literatura sobre a profissão apresenta no sentido de afirmar
que existe relação bastante estreita entre os modelos de atuação do psicólogo e sua função
social?
9. O que você entende pela afirmação: "Aquilo que o psicólogo sabe fazer não se coaduna às
novas situações a serem enfrentadas."? Deixe claro que situações são essas.
10. O autor afirma que a questão da abrangência social da profissão tem mostrado sinais de
mudança nas últimas décadas. Entretanto, ele afirma que isso não significa que a questão da
função social do psicólogo tenha sido resolvida. Por quê?
11. A necessidade de compromisso social do psicólogo tem sido apontada por diversos
autores. Segundo Bock (1999b), por que esse compromisso é necessário? O que você entendeu
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dos critérios apontados pela autora para considerar uma atuação como compromissada
socialmente?
12. Dica de leitura: Atente para os exemplos apresentados pelo texto, apontando algumas
mudanças na direção de um compromisso social mais significativo da parte dos psicólogos.
13. Dica de leitura: Examine a lista de referências bibliográficas para se familiarizar com os
assuntos que têm sido objeto de estudo e pesquisa dos estudiosos da profissão de psicólogo.