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PESQUISA AKATU 2012:

RUMO À SOCIEDADE DO BEM-ESTAR

Assimilação e Perspectivas Percepção da Responsabilidade Social


do Consumo Consciente no Brasil Empresarial pelo Consumidor Brasileiro
PESQUISA AKATU 2012:
RUMO À SOCIEDADE DO BEM-ESTAR

Assimilação e Perspectivas do Consumo Consciente no Brasil


Percepção da Responsabilidade Social Empresarial pelo Consumidor Brasileiro

1ª Edição
2013
Pesquisa Akatu 2012
Equipe Técnica
Rumo à Sociedade do Bem-Estar:
Instituto Akatu
Assimilação e Perspectivas do Consumo Consciente no
Brasil – Percepção da Responsabilidade Social Empresarial
Direção geral:
pelo Consumidor Brasileiro
Helio Mattar
Textos de Aron Belinky e Helio Mattar.
São Paulo: Instituto Akatu, 2013
Direção técnica:
Aron Belinky
96 p.: color.
ISBN: 978-85-89827-09-6
Planejamento:
Annelise Vendramini
e Aron Belinky
1. Pesquisa 2. Responsabilidade Social Empresarial
Análise de dados:
3. Consumidor 4. Consumidor Brasileiro
Aron Belinky,
5. Consumo Consciente 6. Felicidade 7. Sustentabilidade
Dalberto Adulis
e Helio Mattar
O estudo foi executado pela GfK a pedido do
Redação:
Instituto Akatu e patrocinado por
Aron Belinky e Helio Mattar
Grupo Pão de Açúcar, Natura, Nestlé e Unilever.
Revisão de texto:
Fernanda Favaro

Produção:
Realização
Ana Néca, Cristina Bodas e
Instituto Akatu
Denise Conselheiro
Patrocínio
Projeto Gráfico
Grupo Pão de Açúcar
e Diagramação:
Natura
Sob Medida
Nestlé
Comunicação e Sustentabilidade
Unilever
Impressão
Execução da Pesquisa
Stilgraf
GfK Brasil
Índice
INTRODUÇÃO .7
APRESENTAÇÃO E OBJETIVOS .7

1. CONSUMIR PARA QUÊ? O CONSUMISMO EM CONFLITO


COM AS ASPIRAÇÕES DOS CONSUMIDORES .9
SUMÁRIO EXECUTIVO .10
ASSIMILAÇÃO DO CONSUMO CONSCIENTE:
COMO SE ENCONTRA O CONSUMIDOR BRASILEIRO .13
Níveis de adoção dos comportamentos .13
Variações nos segmentos de consumidores .16
Explorando diferenças entre consumidores mais e menos conscientes .20
COMO O BRASILEIRO ENTENDE A SUSTENTABILIDADE? .24
O termo se tornou mais conhecido, mas não tão compreendido... .24
O entendimento sobre sustentabilidade varia conforme a assimilação do consumo
consciente? .27
DESEJOS E FELICIDADE: UMA QUESTÃO FUNDAMENTAL .28
Que caminho leva ao que mais desejamos: o do consumismo ou da sustentabilidade? .29
A priorização dos desejos varia conforme as classes sociais? .33
E entre as regiões do Brasil e outros segmentos, varia a priorização dos desejos? .36
As aspirações variam conforme a assimilação do consumo consciente? .39
A influência do transporte cotidiano na hierarquia de desejos .41
O que faz o consumidor brasileiro feliz? .42
CONCLUSÕES - Uma mensagem para as empresas .44

2. TEMPOS DE TRANSPARÊNCIA: A RESPONSABILIDADE SOCIAL


DAS EMPRESAS FRENTE AO CONSUMIDOR BEM INFORMADO .49
SUMÁRIO EXECUTIVO .49
INFORMAÇÃO E CREDIBILIDADE: O QUE INTERESSA
AO CONSUMIDOR, E EM QUEM ELE ACREDITA .53
Onde e como se informa o consumidor? .53
O interesse por RSE e sustentabilidade .55
Lideres de opinião .59
PERCEPÇÃO SOBRE RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL .63
O que o consumidor inclui na responsabilidade social .63
Expectativas sobre responsabilidade das empresas .68
PRÁTICAS DE RSE: PRIORIDADES DO CONSUMIDOR .71
Uma agenda de práticas da RSE .71
RSE, produtos e marcas .76
O GOVERNO E SEU PAPEL .80

CONCLUSÕES - Do discurso à prática .86

ANEXOS .88
Anexo 1 – Plano Amostral .88
Anexo 2 – Significado de “Felicidade” .89
Anexo 3 – Significado de “Sustentabilidade” e segmentação
conforme a compreensão sobre esse conceito .90
Anexo 4 – Ranking de prioridades das Práticas de RSE .93
Ín d i ce d e g r á fi cos, tabel as e di agrama s
Gráfico 1: Adesão a comportamentos indicadores de consumo Gráfico 21: Confiança na comunicação realizada pelas empresas
consciente (2006, 2010 e 2012) .14 (2010 e 2012) .58
Gráfico 2: Adesão a comportamentos indicadores de consumo Diagrama 1: Critérios para definição dos perfis atitudinais no
consciente agrupados por categorias (2006, 2010 e 2012) .15 debate público sobre Responsabilidade Social Empresarial e
Gráfico 3: Perfil de assimilação do consumo consciente sustentabilidade .59
(2006, 2010 e 2012) .17 Gráfico 22: Perfil atitudinal dos respondentes no debate público
Gráfico 4: Adesão total ou parcial a comportamentos indicadores sobre Responsabilidade Social Empresarial e sustentabilidade
de consumo consciente (2010 e 2012) .19 (2010 e 2012) .60

Gráfico 5: Adesão a comportamentos indicadores de consumo Gráfico 23: Perfil atitudinal no debate público sobre Responsabi-
consciente - Comparação entre mais e menos conscientes lidade Social Empresarial e sustentabilidade segundo segmentos
(2006, 2010 e 2012) .21 socioeconômicos e geográficos .61

Tabela 1: Proporção de adesão a comportamentos indicadores Gráfico 24: Perfil atitudinal no debate sobre Responsabilidade
de consumo consciente - comparação entre os mais e menos Social Empresarial e sustentabilidade segundo perfil de assimila-
conscientes (2006, 2010, 2012) .22 ção do consumo consciente .62

Gráfico 6: Perfil socioeconômico - comparativo entre mais e Gráfico 25: Percepção dos respondentes sobre temas incluídos na
menos conscientes .23 noção de Responsabilidade Social Empresarial, conforme a ISO 26000 .64

Gráfico 7: Percentual de respondentes que declararam ter ouvido Gráfico 26: Quantidade de temas associados pelos respondentes
falar sobre sustentabilidade (2010 e 2012) .25 à noção de Responsabilidade Social Empresarial .65

Gráfico 8: Visão dos respondentes sobre sustentabilidade Tabela 4: Percepção sobre temas incluídos na noção de Respon-
– Apenas dentre os respondentes que “ouviram falar” do termo .26 sabilidade Social Empresarial segundo perfil dos respondentes (%
de reconhecimento) .66
Gráfico 9: Assimilação do consumo consciente segundo catego-
rias de entendimento do termo sustentabilidade .27 Gráfico 27: Expectativa do consumidor em relação às ações das
empresas .68
Tabela 2: Desejos dos respondentes – Frases avaliadas, agrupa-
das por temas .30 Gráfico 28: Responsáveis por preservar o meio ambiente e solu-
cionar os problemas sociais (2010 e 2012) .70
Gráfico 10: Desejos dos respondentes – Preferências por cada
“caminho” agrupadas por temas .31 Tabela 5: Práticas de Responsabilidade Social Empresarial
pesquisadas .72
Gráfico 11: Desejos dos respondentes – Preferências segundo
classe social .33 Tabela 6: Práticas de Responsabilidade Social Empresarial:
ranking em 2010 e 2012 .74
Gráfico 12: Desejos dos respondentes - Preferências segundo
região .36 Gráfico 29: Práticas de Responsabilidade Social Empresarial:
comparação entre importância e essencialidade .76
Tabela 3: Desejos dos respondentes – Preferências segundo
gênero, idade e escolaridade .38
Gráfico 30: Probabilidade de mudança de comportamento de
compra de uma marca ao descobrir determinadas práticas .77
Gráfico 13: Desejos dos respondentes – Preferências segundo
perfil de assimilação do consumo consciente .39 Gráfico 31: Critérios importantes na decisão de compra dos
consumidores entre produtos com mesmo preço e qualidade .78
Gráfico 14: Desejos dos respondentes – Preferências por cada “cami-
nho”, agrupadas por perfil de assimilação do consumo consciente .40
Gráfico 32: Percepção em relação a consumo responsável e
produtos sustentáveis .79
Gráfico 15: Modalidades de transporte habituais .41
Gráfico 33: Compras públicas: ações que o governo deveria fazer .81
Gráfico 16: Concepção de Felicidade – Respostas agrupadas por
temas mencionados, segundo faixas etárias .43
Gráfico 34: Critérios para compras públicas considerados
importantes pelos respondentes .82
Gráfico 17: Desejos dos respondentes – Preferências por cada
“caminho”, agrupadas por classe social .46
Gráfico 35: Critérios que deveriam ser considerados nas compras
públicas .83
Gráfico 18 A: Fontes de informação sobre Responsabilidade
Social Empresarial .53
Gráfico 36: Instituições e atores que deveriam ter influência nas
compras públicas .84
Gráfico 18 B: Grau de confiança nas fontes de informação .53
Gráfico 37: Distribuição da amostra por região .88
Gráfico 19 A: Interesse por temas do debate público (2010 e 2012) .55
Tabela 7: Concepção de Felicidade para os respondentes .90
Gráfico 19 B: Grau de interesse pelos temas (2010 e 2012) .55
Tabela 8: Visão dos respondentes sobre sustentabilidade .92
Gráfico 20 A: Busca por informações sobre Responsabilidade
Social e Ambiental .57 Tabela 9: Práticas de RSE pesquisadas em 2010 e 2012 .93

Gráfico 20 B: Fontes de informação mais confiáveis sobre com-


portamento social e ambiental das empresas – apenas dentre os
que responderam costumar buscar informações sobre o tema .57

6
INTRODUÇÃO

APRESENTAÇÃO E OBJETIVOS
A série de pesquisas Responsabilidade detrimento do acúmulo consumista. comportamento e nas atitudes dos
Social Empresarial - Percepção pelo Em suas pesquisas, o Akatu coloca- consumidores em sua relação com
consumidor brasileiro, realizadas desde se não como um mero observador ou o consumo propriamente dito. Essa
o ano 2000 e agora em sua 8ª edição, analista distante, mas como um prota- divisão foi importante para o apro-
é uma contribuição do Instituto Akatu e gonista que – sem abandonar a neces- fundamento do conhecimento nessas
de seus parceiros para o entendimento sária objetividade e consistência em diferentes áreas e para trabalhar ob-
do que é, a nosso ver, um desafio cen- suas análises – trabalha com o intuito jetivos específicos.
tral do momento que vivemos. de ampliar e reforçar uma visão de Mais recentemente, na medida em
Trata-se de transitar do atual modelo mundo engajada, comprometida com que essas agendas se consolidaram, o
de desenvolvimento – ancorado na essa transição civilizatória e com a Akatu entendeu ter chegado o momen-
expansão da economia a partir do construção de instrumentos que a tor- to para uma conexão mais direta entre
crescimento contínuo do consumo ne mais rápida, efetiva e positiva. As- as duas agendas, passando a unir, em
“a qualquer custo” – para uma nova sim, temos buscado sempre combinar uma mesma pesquisa, tanto as ques-
forma de organização da economia e o registro e interpretação da realidade tões voltadas à relação dos brasileiros
das relações sociais que, reconhe- com a proposição de instrumentos e com o consumo quanto as questões
cendo as limitações impostas por a investigação de possibilidades que relativas à sua percepção da RSE. Com
um planeta finito e o imperativo de contribuam com essa missão. isso, passou a ser possível examinar
prover adequadas condições de vida Durante suas primeiras edições, vá- as correlações entre, por exemplo, o
para a grande parcela da população rias pesquisas foram feitas com con- grau de assimilação do consumo cons-
ainda alijada do mercado, venha a sumidores focalizando exclusivamen- ciente e a participação do consumidor
direcionar sua expansão para a qua- te o tema da Responsabilidade Social no debate público sobre RSE ou suas
lidade em detrimento da quantidade, Empresarial (RSE), enquanto outras expectativas quanto à ação das em-
e para o desfrute e o bem-estar em pesquisas eram feitas com foco no presas no campo da sustentabilidade.

A presente publicação é um registro de o levantamento de campo e as análi- pras governamentais, como parte de
conclusões e observações feitas pelo ses estatísticas sido realizados pela um consórcio internacional – o The
Akatu com base nos dados coletados conceituada empresa de pesquisas de Choices Project – do qual o Akatu faz
em pesquisa quantitativa realizada mercado, GfK Custom Research Brasil. parte juntamente com parceiros da
no final de 2012. Tais informações fo- Foram entrevistados 800 brasileiros Inglaterra (Royal Holloway, Universi-
ram analisadas no início de 2013 pela e brasileiras das classes A, B, C e D, ty of London e Ethical Consumer), do
equipe do Instituto, em conjunto com com idade acima de 16 anos, morado- Chile (Universidad Diego Portales e
seus conselheiros, consultores e espe- res em áreas urbanas de 12 capitais ou Ciudadano Responsable) e do Brasil
cialistas convidados. regiões metropolitanas de todo o País. (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-
Este estudo apresenta resultados de- Foi realizado o controle de cotas e tra- -Graduação e Pesquisa de Engenharia
talhados em dois grandes blocos. No tamento estatístico necessário para a - COPPE/UFRJ).
primeiro, focaliza o comportamento do adequada representação e análise da Concluindo esta apresentação, dese-
consumidor em relação ao consumo população nacional. Salvo quando in- jamos agradecer o apoio das muitas
consciente. No segundo, revela a visão dicado em contrário, a margem de erro empresas e outros parceiros que, ao
dos consumidores sobre a responsabili- é de 3% com intervalo de confiança de longo dos anos, têm viabilizado a re-
dade social das empresas. 95%. O anexo 1 deste relatório traz alização de nossas pesquisas, e apre-
Como em nossas pesquisas anterio- detalhes sobre o plano amostral e a sentar nosso especial agradecimento
res, buscou-se alta qualidade técnica metodologia utilizada. às empresas patrocinadoras desta edi-
e representatividade dos dados cole- Na presente edição, incluímos tam- ção da pesquisa: Grupo Pão de Açúcar,
tados e dos resultados obtidos, tendo bém algumas questões sobre com- Natura, Nestlé e Unilever.
1
Nos anos 2000 a 2004 (pesquisas números 1 a 4), a pesquisa foi liderada pelo Instituto Ethos. Desde 2005 (pesquisas números 5 a 8), os trabalhos têm sido liderados pelo Akatu. As pesquisas números 1 a 6
contaram com a parceria da GlobeScan e seus associados no Brasil, inicialmente Indicator e, posteriormente, GfK. Em 2005 e 2006-2007, contou-se com a parceria da Market Analysis Brasil. As edições mais
recentes (2010 e 2012) foram executadas pela GfK a partir de modelo do próprio Akatu.

7
Objetivos desta pesquisa

• Compreender e monitorar a percep- consciente, de modo a propiciar e esti- e mobilização, visando o uso de seu
ção do consumidor sobre seu próprio mular ainda mais esse processo. poder de consumo como forma de
poder de consumo e suas responsabi- • Aperfeiçoar e atualizar as ferramen- estimular empresas na direção de prá-
lidades/potencialidades como agente tas desenvolvidas pelo Akatu com o ticas mais socialmente responsáveis.
transformador, com vistas à constru- objetivo de compreender e apoiar o • Gerar informações de interesse para
ção de uma sociedade mais justa e desenvolvimento e a prática do consu- os parceiros e apoiadores do Akatu,
democrática, ambientalmente susten- mo consciente e da RSE. assim como para o público e a mídia
tável, economicamente próspera e es- • Compreender e monitorar a percep- em geral, fomentando, assim, o de-
piritualmente/psicologicamente plena ção do consumidor brasileiro sobre a bate e a disseminação do consumo
e equilibrada. responsabilidade social das empre- consciente e da sustentabilidade pela
• Compreender o desenvolvimento do sas, de modo a tornar mais efetivas mídia, e o aumento do interesse por
consumidor em direção ao consumo as estratégias para sua sensibilização esses temas.

A “classe c emergente”

Conforme já havia sido levantado na Pesquisa Akatu 20102, o otimismo com a situação econômica e o ingresso de no-
vos consumidores no mercado parecem ter um impacto relevante sobre o processo de assimilação do consumo conscien-
te, em especial no que diz respeito aos comportamentos mais relacionados aos ganhos imediatos para quem os adota.
Para entender mais sobre esse cenário, incluímos nesta edição algumas questões visando identificar os respondentes da
assim chamada “classe C emergente”, ou seja, consumidores que apenas recentemente passaram a ter acesso a bens
e serviços um pouco mais sofisticados. As respostas da “classe C emergente” puderam ser analisadas em separado do
restante da classe C. A conclusão dessa análise – em relação aos focos de atenção desta pesquisa – foi que não há
diferenças relevantes entre esses dois segmentos, ou seja, não foram identificadas tendências marcantes ou diferen-
ciadoras entre a classe C e o segmento C emergente no campo do consumo consciente, da RSE e da sustentabilidade.
Para registro, enumeramos os principais aspectos da metodologia e dos dados coletados:
- Foram considerados “C emergente” os respondentes que: (a) foram enquadrados na classe C, conforme o Critério
Brasil 2012, da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa e (b) entre 2010 e 2012 adquiriram, pela primeira vez,
pelo menos cinco dos seguintes produtos e serviços: computador e/ou notebook; TV de LED/LCD ou plasma; acesso à
internet; telefone celular; TV por assinatura; máquina de lavar roupas; conta bancária; imóvel próprio; cartão de crédi-
to; viagem de avião; carro; plano de saúde particular.
- Por esse critério, o subgrupo “C emergente” representou 13% da classe C e 7% do total da amostra.
- Dos produtos e serviços listados, os mais adquiridos foram: computador/notebook, internet, TV de LED/LCD ou plas-
ma, TV por assinatura e celular. Chama atenção o fato de que todos esses produtos são, por um lado, fontes de acesso
à informação, o que poderia apontar para um movimento positivo quanto à ampliação da consciência desses consu-
midores. Por outro lado, é preciso considerar que, ao mesmo tempo, esses itens podem ser “vitrines” de estímulo ao
consumo, seja pela disseminação de campanhas e informações publicitárias, seja pelo comércio online.

2
Pesquisa Akatu 2010. Disponível em: http://bit.ly/WRGSDL.

8
1. CONSUMIR PARA QUÊ?
O CONSUMISMO EM CONFLITO COM
AS ASPIRAÇÕES DOS CONSUMIDORES

Não é novidade que existe um sen- O engano está na palavra “sem- que reproduzem o consumismo? São
timento generalizado de insatisfa- pre”. O bom-senso mostra e os es- respostas para essas perguntas que
ção e angústia derivado da pressão tudos comprovam que, sim, a boa o Akatu foi buscar nesta pesquisa,
gerada pelo círculo vicioso “traba- qualidade de vida requer um nível que marca os 12 anos de sua fun-
lhar mais para ganhar mais para de renda que permita um acesso a dação. O resultado é uma contribui-
consumir mais”. Em diferentes situ- bens e serviços do qual muita gente ção que deve animar todos aqueles
ações e mídias, vem sendo repetida ainda não desfruta. E mobilizar tais engajados na causa da sustentabi-
a mesma mensagem: as pessoas recursos de fato exige trabalho, de- lidade e do consumo consciente, e
sentem que estão cada vez mais dicação e uso de recursos naturais. encorajar dirigentes empresariais e
presas na armadilha do consumo Mas essa lógica, a partir de certo políticos rumo a profundas mudan-
pelo consumo em si mesmo, e não ponto, deixa de funcionar: a possi- ças em sua maneira de atuar. Mu-
necessariamente pelo adicional de bilidade de comprar mais bens pas- danças, estas, tão urgentes quanto
bem-estar gerado pelo consumo, sa a trazer menor ganho adicional necessárias.
sacrificando o tempo de suas vidas de felicidade ou bem-estar e aca- Nas seções a seguir, apresentamos
no esforço incessante de comprar ba chegando ao ponto em que não incialmente uma análise de como
bens e serviços que, em muitos traz benefício adicional algum, ou está e como tem evoluído a assimi-
casos, não precisam ou dos quais até mesmo o diminui, dependendo lação do consumo consciente pelos
pouco desfrutarão... da tensão pessoal que acompanha brasileiros, utilizando, para isso, a
Paradoxalmente, ainda predominam esse processo. metodologia desenvolvida pelo pró-
as políticas públicas e as estraté- O desejável, então, seria buscar o prio Akatu, em uso desde 2003, e
gias empresariais que, fundamen- “ponto ótimo” da relação entre o que tem demonstrado uma grande
tadas em interesses econômicos ou bem-estar gerado e os recursos hu- consistência consistência. Em se-
eleitorais imediatos, buscam repro- manos e materiais alocados. Criar guida estudamos o entendimento do
duzir e ampliar tal situação. A ma- condições para que isso aconteça público sobre o conceito de susten-
nutenção desse paradoxo depende, coletivamente, em ampla escala, é o tabilidade, também com metodologia
é claro, de uma ilusão cotidiana- que se espera de empresas e gover- própria, exploramos as aspirações
mente vendida aos consumidores: nos comprometidos com a felicidade dos consumidores, confrontando dois
a de que o “progresso” é sempre sustentável de suas sociedades. diferentes caminhos para o atendi-
dependente de crescimento mate- Mas, seria verdade que os consumi- mento das necessidades humanas:
rial, e que há, necessariamente, um dores brasileiros preferem a quali- o da sociedade de consumo e o da
preço a pagar por isso em forma de dade de vida à quantidade de bens? sociedade sustentável. Finalmente,
problemas de saúde, estresse, falta Nós, brasileiros, somos capazes de vamos ao âmago da questão, inqui-
de tempo, perda de qualidade de distinguir entre os caminhos que rindo aos consumidores qual é, afinal,
vida e degradação ambiental. levam à felicidade sustentável e os seu entendimento sobre “felicidade”.

9
SUMÁRIO EXECUTIVO

Nesta seção, apresentamos sequen- alizações, reflexões ou arrazoados. não obstante, recomendamos forte-
cialmente os principais pontos da Esses elementos, se desejados, mente a leitura deste sumário exe-
parte 1 desta publicação, de forma encontram-se ao longo das seções cutivo juntamente com a seção de
sintética e factual, deliberadamente aqui resumidas. Destacamos tam- conclusões desta parte da pesquisa,
não incluindo quaisquer contextu- bém aqui algumas conclusões, mas, ao final.

Assimilação do consumo consciente:


como se encontra o consumidor brasileiro

• Foi interrompida em 2012 a ten- clagem e de Compra Sustentável – adesão dessas categorias de con-
dência de queda na adesão dos con- aparentemente característicos dos sumidores e os quatro diferentes
sumidores a alguns comportamen- consumidores motivados pela iden- tipos de comportamentos mostra
tos utilizados para segmentação em tificação com as propostas de sus- nitidamente que as categorias mais
função da assimilação do consumo tentabilidade, gerando benefícios conscientes se diferenciam das me-
consciente, que havia sido observa- de longo prazo e para a coletividade nos conscientes não só pela maior
da entre 2006 e 2010. – apesar de serem adotados por um adesão aos comportamentos, mas
• Dentre os quatro tipos de compor- menor percentual de consumidores também pela maior estabilidade ao
tamentos incluídos na metodologia, (em torno de 30%), apresentaram longo dos anos.
um deles – referente a Economia – grande estabilidade desde 2006 até • Em termos de diferenciação so-
teve redução significativa entre 2006 2012, com mínimas variações. cioeconômica ou geográfica entre
e 2010 (75% para 66%) e redução • Essas variações se refletiram em essas categorias, confirma-se que o
nominal, porém dentro da margem de oscilação nos segmentos de consu- consumo consciente não se caracte-
erro, entre 2010 e 2012 (62%). midores conforme assimilação do riza como peculiaridade de nenhum
• Outro tipo de comportamento, refe- consumo consciente: o segmento de segmento específico, a despeito da
rente a Planejamento, apresentou re- maior adesão (Conscientes) perma- ligeira tendência para maior adesão
duções nominais nesse mesmo perío- neceu em 5% desde 2006, enquanto entre universitários, integrantes das
do, porém dentro da margem de erro o segmento logo abaixo (Engajados) classes A e B, e pessoas acima de
(44%, 40% e 37%). Comportamentos variou de 28% para 23% e 22% entre 45 anos.
deste grupo, juntamente com os li- 2006, 2010 e 2012, respectivamente. • Entre 2010 e 2012, se considerada
gados à Economia, são associados • Na outra ponta, a soma dos seg- também a adesão ocasional aos com-
a consumidores que aparentemente mentos de menor consciência – In- portamentos utilizados na segmenta-
aderem a eles mais por um interes- diferentes e Iniciantes – oscilou de ção, observamos um aumento geral
se de benefício imediato do que pela 67%, em 2006, para 72% e 73%, em nas respostas positivas, o que parece
consciência no consumo. 2010 e 2012. indicar maior predisposição dos bra-
• Já os comportamentos de Reci- • A análise combinando o nível de sileiros ao consumo consciente.

10
Como o brasileiro entende a sustentabilidade?
• De 2010 para 2012, aumentou for- exemplos (23%), geralmente tam- to do termo, incluindo as noções de
temente (de 44% para 60%) o contin- bém com viés ambiental. permanência ao longo do tempo e/
gente de brasileiros que “ouviram • Uma parcela importante dos que ou de respeito aos limites planetá-
falar” no termo sustentabilidade. “ouviram falar” em sustentabilidade rios e às necessidades sociais.
Também aumentou muito o interes- não sabe o que termo significa, ou tem • A correlação entre entendimento
se em buscar informações sobre o um entendimento equivocado do mes- correto de sustentabilidade e as cate-
tema, que passou de 14% para 24%. mo (25%). gorias de adesão ao consumo conscien-
• Dentre os 60% que “ouviram fa- • Apenas 12% dos que “ouviram te é baixa, não permitindo dizer que os
lar” em sustentabilidade, predomi- falar” em sustentabilidade, (corres- mais conscientes se destaquem por ter
na um entendimento ambiental do pondendo a 7% do total de consumi- um entendimento mais claro sobre esse
termo (40%) ou limitado a alguns dores) têm um entendimento corre- conceito ou vice-versa.

Desejos e felicidade: uma questão fundamental


• A aplicação da metodologia de- tendem a priorizar mais o caminho a dia, a posição é a mesma, mas a
senvolvida pelo Akatu para avaliar sustentável, enquanto as classes diferença entre os índices de prefe-
a relação entre as aspirações dos sociais mais baixas tendem a des- rência é um pouco menor (7,7 contra
consumidores e as propostas da priorizar menos o caminho do con- 5,3). Já dentre os 18% de entrevis-
sustentabilidade ou da sociedade sumismo. Isto se reflete de modo tados que utilizam carro próprio no
de consumo mostrou uma forte in- consistente nos posicionamentos dia a dia, a diferença na preferên-
clinação do consumidor em favor do em relação aos vários temas e “de- cia em favor da opção sustentável é
“caminho da sustentabilidade”: em sejos”. bem maior: 8,7 contra 2,8.
5 dos 8 temas pesquisados, o “cami- - Todas as classes priorizam mais • A preferência pelo “caminho da
nho sustentável” foi preferido e, em “Ter tempo para estar com quem sustentabilidade” prevalece em to-
2, houve um virtual empate entre os gosta” do que “Comprar presentes”. das as categorias de assimilação
caminhos da sustentabilidade e da - Não há grandes diferenças entre as do consumo consciente. Há, tam-
sociedade de consumo. regiões, exceto a Norte e a Centro- bém, forte correlação entre uma
• Adicionalmente, dos 6 “desejos” -Oeste, que também se inclinam maior consciência no consumo e
que se destacam dentre os 16 pes- mais a favor do “caminho da susten- uma maior preferência pelo “cami-
quisados por ter pontuação superior tabilidade”, mas enfatizam com me- nho da sustentabilidade”: dentre
à mediana, apenas um (“Ter um pla- nos intensidade a maior prioridade os Indiferentes – grupo de menor
no de saúde que garanta bons médi- nessa direção. assimilação do consumo consciente
cos, hospitais e remédios”, que foi o - Essas regiões também tendem a se – o índice de preferência médio em
item mais priorizado) está no “cami- preocupar menos com o desperdício favor desse caminho é 29% maior
nho da sociedade de consumo”. de água e a priorizar mais os planos que o do caminho da sociedade de
• O outro item relacionado ao tema de saúde e desejo de “Ter seu pró- consumo. No outro extremo, dos
Saúde (“Ter tempo para lazer, es- prio carro”. Conscientes, a diferença é de 60%.
porte e descanso, pouco estresse • Em relação à Mobilidade, a prefe- • O mesmo ocorre em relação às
e boa alimentação”, representando rência pelo “caminho da sustenta- classes sociais: na classe D, o índice
o “caminho da sustentabilidade”), bilidade” (“Me deslocar pela cidade médio de preferência pelo “caminho
também ficou entre os seis mais com rapidez, segurança, conforto e da sustentabilidade” é 22% maior
priorizados. flexibilidade”) teve 7,9 como índice que o índice médio de preferência
• A tendência à maior preferência de preferência médio, contra um ín- pelo “caminho da sociedade de con-
pelo “caminho da sustentabilidade” dice de apenas 4,9 dado à opção ofe- sumo”. Na classe C, essa diferença
ocorre em todas as classes sociais, recida pela sociedade de consumo aumenta para 42%, na classe B para
faixas etárias e demais segmentos (“Ter meu próprio carro”). (A escala- 60% e chega a 81% na classe A.
socioeconômicos e geográficos, po- -padrão do índice vai de 0 a 10) • Em relação à concepção de “feli-
rém com intensidades diferentes: • Dentre os 82% de entrevistados cidade”, os resultados mostram que
- As classes sociais mais altas que não utilizam carro próprio no dia há, entre os entrevistados, um gran-

11
de consenso sobre a relação entre sua concepção de felicidade. do felicidade aos momentos felizes
saúde e felicidade: dois terços deles • Esta proporção é praticamente o de “desfrute da vida” nas mais va-
lembram que “estar saudável e/ou dobro daquela dos que se lembram riadas formas, como na música, es-
ter uma família saudável” é um ele- do papel do “dinheiro” como compo- portes, atividades religiosas, artísti-
mento necessário para a felicidade. nente da sua felicidade: apenas 3 em cas, românticas, etc. Uma proporção
• Há, também, um grande consenso cada 10 brasileiros incluíram a tran- não muito inferior a essa (27%) as-
em relação à importância do convívio quilidade financeira em suas respos- sociou a “realização como profissio-
social: para 6 em cada 10 brasileiros, tas sobre o que é felicidade. nal ou estudante” à sua concepção
“conviver bem com a família e os • Uma proporção um pouco maior de felicidade.
amigos” é lembrado como parte de (36%) incluiu o bem-estar, associan-

Dentre as conclusões, destacamos:


• A maior diferenciação entre con- to das da sociedade de consumo. nhar força uma contranarrativa do
sumidores “mais conscientes” e Apesar de serem metodologias di- consumismo que, de dentro do
“menos conscientes” – puxada pela ferentes, tanto a categorização por discurso e da lógica consumis-
queda na adesão aos comportamen- grau de assimilação do consumo ta em vigor, tenta se conectar à
tos de Economia por este segundo consciente quanto a priorização dos emergência de aspirações que
grupo – parece revelar que 3 em desejos mostram tal relação. apontam como objetivos princi-
cada 10 brasileiros demonstram • Importante lembrar que ambas pais a saúde e o desfrute de uma
uma consistente adesão ao consumo mostram também, por outro lado, vida com qualidade.
consciente, fundada mais em convic- que não se trata de condições que • Como corolário, parece-nos fun-
ções do que em conveniências. afastam as classes de menor renda damental que as lideranças sociais,
• A fraca correlação entre compre- da sustentabilidade, mas que ape- políticas e empresariais reflitam
ensão correta do conceito de sus- nas mostram diferenças de ênfase profunda e urgentemente sobre a
tentabilidade e adesão ao consumo ou intensidade nessa tendência. importância de ir ao encontro dessa
consciente parece reforçar a ideia • É também notável a congruên- tendência emergente, fomentando
de que a motivação para aderir às cia entre a priorização de desejos e acelerando o trajeto rumo a uma
práticas e aos valores da sustenta- e as concepções de felicidade: em sociedade mais sustentável, capaz
bilidade depende pouco do enten- ambos os casos, a importância da de incluir os bilhões de pessoas ain-
dimento racional ou conceitual do saúde emerge com grande força, da privadas das condições básicas
assunto e, portanto, deve passar seguida de outros elementos fun- para seu bem-estar e segurança ma-
mais por outros aspectos, como a damentais para a qualidade de vida, terial.
emoção, a ética ou os valores pes- como “tempo para desfrutar os rela- • Vale ressaltar que a inclusão da
soais e grupais. cionamentos”, “dedicar-se ao lazer nova classe média emergente re-
• Há notável consistência na rela- e à cultura”, “cuidar do próprio cor- presenta um adicional de mercado
ção entre maior afluência e maior po” e outros aspectos. que serve como oportunidade para
tendência a valorizar as promessas • Indo ao encontro dessas aspira- a mudança do modelo de consumo,
da sustentabilidade em detrimen- ções, parece estar começando a ga- com menor risco para as empresas.

12
ASSIMILAÇÃO DO CONSUMO CONSCIENTE:
COMO SE ENCONTRA O CONSUMIDOR BRASILEIRO

Níveis de adoção dos


comportamentos
Nesta pesquisa, foi dada sequência do dezenas de outras possibilida- mostrado resultados consistentes
à aplicação da metodologia que, des, tanto de práticas de consumo sob vários aspectos3, como é pos-
desde 2006, o Instituto Akatu utiliza como de opiniões e valores expres- sível ver ao longo desta publicação.
para avaliar o grau de assimilação sos pelos consumidores. A segmentação realizada se baseia
do consumo consciente pelos brasi- As análises realizadas com base na prática dos comportamentos a
leiros, e que divide os consumido- nesta metodologia, apelidada de seguir, em função de quantos o con-
res em quatro categorias, conforme Teste do Consumo Consciente, têm sumidor declara “adotar sempre”
adotem ou não 13 comportamentos. se revelado úteis para compreen- ou “ter realizado nos últimos seis
Tais comportamentos foram escolhi- der a evolução da consciência de meses”.
dos com base em análises envolven- consumo da população brasileira e

Como se pode ver, variações 1. Economia:


nos níveis de adoção práticas que resultam em benefícios diretos ao consumidor, causados pelo
de cada comportamento não desperdício de recursos, com retorno imediato e direto ao indivíduo
têm ocorrido desde 20064, praticante;
havendo tanto estabilidade
como oscilações para cima ou 2. Planejamento:
para baixo de ano para ano. práticas que resultam no uso racional de recursos que, por serem planeja-
Para a análise deste quadro, das antecipadamente, geram melhor aproveitamento e permitem um retorno
é importante considerar individual a médio e longo prazos;
a tipologia dos 13 compor-
tamentos utilizados no 3. Reciclagem:
Teste do Consumo Consciente, práticas diretamente ligadas ao descarte, reúso e reaproveitamento de ma-
que são classificados em teriais, em geral implicando, de modo mais significativo, um retorno para o
quatro categorias: coletivo da sociedade de médio ou longo prazo;

4. Compras sustentáveis:
práticas que indicam a maior sensibilização do consumidor no plano do con-
sumo consciente e sua mobilização diante das causas de sustentabilidade
e responsabilidade social empresarial (fortemente associadas ao consumo
consciente) e cujos benefícios para o consumidor que as adota, em geral,
não são perceptíveis no nível individual, ocorrendo de forma distribuída no
coletivo da sociedade e em prazo mais longo.

3
Explicações detalhadas sobre a construção e aplicação dessa metodologia podem ser encontradas em publicações
anteriores do Akatu, especialmente nas suas pesquisas de números 3, 5 e 7, disponíveis em http://bit.ly/oRPBrj
4
Idem.

13
Gráfico 1: Adesão a comportamentos indicadores de consumo
consciente (2006, 2010 e 2012)
Percentual de resposta “sempre” ou “sim”

75
Costumo fechar a torneira enquanto 71
escovo os dentes 67

Economia
Evito deixar lâmpadas acesas em 77
ambientes desocupados 69
67
Espero os alimentos esfriarem antes 77
de guardar na geladeira 62
62
Desligo aparelhos eletrônicos 72
quando não estou usando 62
53
Costumo planejar as 55
compras de alimentos 48

Planejamento
47
Costumo planejar 36
as compra de roupas 41
40
Costumo pedir nota fiscal (cupom fiscal) 42
quando vou às compras, mesmo que o 36
fornecedor não a ofereça espontaneamente 35
Costumo ler atentamente os rótulos 44
antes de decidir uma compra 33
27

Reciclagem
Quando possível, utilizo também o 34
verso das folhas de papel. 38
35
Em minha casa, separo 28
o lixo para reciclagem 24
23

Procuro passar ao maior número possível 34


de pessoas as informações que aprendo 29

Sustentável
sobre empresas e produtos. 26

Compra
Comprei produtos orgânicos nos 24
últimos 6 meses 23
23
Comprei produtos feitos com material 27
reciclado nos últimos 6 meses 29
29
Questão: Eu vou ler algumas frases e gostaria que você me dissesse se faz isto sempre, às vezes, raramente ou nunca. 2006 2010 2012

14
Conforme discutido na Pesquisa lhas de consumo muito limitadas, que à consciência no consumo. Da
Akatu 2010, as profundas mudan- consumissem mais. Entre 2010 e mesma forma, seria de se esperar
ças no panorama econômico do 2012, tal ânimo persistiu, espe- que consumidores efetivamente
País e as políticas de estímulo à cialmente considerando que alguns sensibilizados para a importância
economia e à expansão do consumo tropeços na área econômica, como o do consumo consciente para além
adotadas pelo governo nos últimos baixo crescimento do PIB em 2012, da obtenção de benefícios individu-
anos geraram enormes pressões no não haviam provocado mudanças ais e em curto prazo mantivessem
sentido contrário ao fortalecimento no quadro de emprego ou de dispo- suas práticas, mesmo num contexto
do consumo consciente. Como já nibilidade de crédito até a data de de otimismo e bonança econômica.
observado na Pesquisa Akatu 2010, realização das entrevistas para esta Ao observarmos os dados relacio-
mesmo a crise global de 2008 não pesquisa5. nados a cada comportamento pes-
havia sido suficiente para esfriar o Num cenário como esse, é de se quisado, vemos um reflexo bastante
otimismo da população brasileira, esperar que houvesse menor moti- claro dessa situação, ainda mais
dadas a redução do desemprego, a vação para a adoção de comporta- perceptível no gráfico a seguir, que
inflação sob controle e a expansão mentos de consumo mais contidos, apresenta a evolução média dos
do crédito, facilitando as condições especialmente em relação àqueles comportamentos de cada categoria
para que grandes contingentes da associados mais à necessidade de ao longo das três últimas pesquisas
população, antes restritos a esco- manter os gastos sob controle do realizadas pelo Akatu sobre o tema:

Gráfico 2: Adesão a comportamentos indicadores de consumo


consciente agrupados por categorias (2006, 2010 e 2012)

Percentual médio de resposta “sempre” ou “sim”

75
Economia
média dos 4 comportamentos
66
62

44
Planejamento
média dos 4 comportamentos 40
37

31
Reciclagem
31
média dos 2 comportamentos

29
2006
28
Compra Sustentável
média dos 3 comportamentos 27 2010
26 2012

Questão: Eu vou ler algumas frases e gostaria que você me dissesse se faz isto sempre, às vezes, raramente ou nunca.

5
As entrevistas foram realizadas entre 26/10 e 21/11/2012.

15
A comparação dos percentuais de 2010 e 2012, respectivamente. tu por meio do Teste do Consumo
adesão registrados no gráfico 2 Já nas outras duas categorias – Consciente . Em poucas palavras,
mostra a ocorrência de uma va- Reciclagem e Compra Sustentável observa-se que a adoção de com-
riação significativa nos compor- – são registradas variações nomi- portamentos de Economia e Pla-
tamentos da categoria Economia nais muito baixas, de no máximo 2 nejamento são predominantes nas
entre os anos de 2006 e 2010, cuja pontos percentuais, configurando categorias de menor assimilação
média caiu de 75% para 66% no assim um quadro de estabilidade do consumo consciente, enquanto
período. Nessa mesma categoria, nos segmentos da população que a adoção de comportamentos de
entre 2010 e 2012 registra-se uma adotam tais comportamentos. Reciclagem e Compra Sustentável
queda de 4 pontos percentuais, Conforme amplamente discutido é maior nas categorias identifica-
que, apesar de chamar a atenção em publicação anterior 7, há uma das como de maior consciência no
numericamente, ainda se situa grande associação entre os tipos consumo. As variações nos níveis
próxima da margem de erro da pes- de comportamento adotados – Eco- observados de adoção de compor-
quisa 6. Fato semelhante ocorre na nomia, Planejamento, Reciclagem tamentos se refletem em variações
categoria Planejamento , em que e Compra Sustentável – e as cate- na segmentação do púbico consu-
variações de 4 e 3 pontos percen- gorias de assimilação do consumo midor brasileiro, como mostramos
tuais são observadas entre 2006, consciente identificadas pelo Aka- a seguir.

Variações nos segmentos de


consumidores

A segmentação realizada Indiferentes:


pelo Akatu por meio do Teste do de 0 a 4 comportamentos
Consumo Consciente se baseia Iniciantes:
na quantidade de comportamentos de 5 a 7 comportamentos
que o consumidor declara
Engajados:
“adotar sempre” ou “ter realizado”
de 8 a 10 comportamentos
nos últimos seis meses, neste
caso para comportamentos Conscientes:
que implicam uma resposta de 11 a 13 comportamentos
positiva ou negativa.
Tendo como referência os
13 comportamentos listados no
gráfico 1, o critério de
segmentação é baseado no
número de comportamentos
adotados:

6
Consideramos “significativas” diferenças iguais ou superiores a 6%, correspondendo à variação além da margem de erro das
pesquisas, que é de 3% para mais ou para menos em cada valor.
7
Pesquisa número 7 do Akatu: Como e porque os brasileiros praticam o consumo consciente, publicada em 2007, cuja pesquisa
de campo foi realizada no final de 2006. Disponível em: http://bit.ly/16doBDx

16
Gráfico 3: Perfil de assimilação do consumo consciente
(2006, 2010 e 2012)

Percentual de respondentes por segmento

Engajados + Conscientes = “Mais conscientes”


Indiferentes + Iniciantes = “Menos conscientes”

Agrupamento conforme metodologia baseada no grau de adesão aos comportamentos indicadores de consumo
consciente.

Vários aspectos nos chamam a aten- riação bem mais significativa obser- econômico e em linha com o que se
ção neste gráfico: vada entre 2006 e 2010 nessas mes- comentou anteriormente, vê-se que,
A distribuição dos consumidores mas categorias e que foi discutida entre 2010 a 2012, há um aumento
entre os vários segmentos é prati- amplamente na publicação Pesquisa percentual na categoria Indiferentes
camente estável entre 2010 e 2012, Akatu 2010 8. O trabalho levantou (ainda dentro da margem de erro
com variação muito pequena – den- hipóteses para esta variação rela- da pesquisa e, por isso, não signi-
tro da margem de erro da pesquisa cionadas, principalmente, ao bom ficativo), possivelmente decorrente
– nas categorias Iniciantes e Engaja- momento da economia brasileira, de consumidores que adotavam as
dos, que compõem mais da metade na época pouco impactada pela cri- práticas pesquisadas (especialmen-
do público. Ou seja, o cenário em se de 2008 e experimentando forte te da categoria Economia) não por
2012 é essencialmente o mesmo crescimento da renda e expansão do consciência no consumo, mas por
que em 2010 para essas duas cate- consumo, especialmente entre os contingência financeira. É como se,
gorias. setores mais pobres da população. com maior disponibilidade de renda
Essa estabilidade se contrapõe à va- Coerentemente com esse cenário e orçamentos um pouco mais folga-

8
Disponível em: http://bit.ly/WRGSDL

17
dos, uma parte da população tendeu 2010, esse dado sugere um grupo Também se considera positivo o fato
a adotar comportamentos de consu- da população para o qual, de fato, de que – mesmo na contramão da
mo menos sustentáveis. os comportamentos indicativos do conjuntura econômica expansionista
No outro extremo, identifica-se uma consumo consciente não estão re- – esse contingente estável de con-
estabilidade nos segmentos Cons- lacionados a questões conjunturais, sumidores “mais conscientes” con-
cientes e Engajados, entre 2010 e mas a aspectos mais profundos, que tinua representando quase um terço
2012, que se revela bastante consis- resistem às oscilações derivadas da da população quando considerados
tente: também em linha com a aná- economia e às flutuações momentâ- os 5% de Conscientes somados aos
lise apresentada na Pesquisa Akatu neas na indução ao consumo. 22% de Engajados.

Como se vê a seguir, para diversas de membros, aumenta a precisão ser também “às vezes” ou “rara-
outras comparações, temos conso- estatística do que se pode concluir mente ou nunca”. A razão para isso
lidado a categorização apresentada sobre os mesmos. Antes de entrar é que são muito altos os percentuais
em dois grandes grupos: os “mais nessa análise, porém, há mais um de respostas incluindo não apenas
conscientes” (reunindo as catego- ponto importante a se abordar quan- a resposta “sempre” mas também
rias Engajados e Conscientes) e os to ao quadro geral de assimilação a resposta “às vezes”, o que torna
“menos conscientes” (reunindo as do consumo consciente. pouco discriminante uma segmenta-
categorias Indiferentes e Inician- Como explicado, a segmentação re- ção feita com base nelas.
tes). Esse procedimento permite alizada com base no Teste do Con- Entretanto, observando a evolução
uma comparação mais confiável sumo Consciente considera apenas da soma dessas duas respostas, sur-
entre os grupos, na medida em que, as respostas “adotar sempre”, numa ge um cenário mais promissor, como
tendo cada grupo um maior número escala em que as respostas podem mostra o gráfico 4 a seguir.

18
Gráfico 4: Adesão total ou parcial a comportamentos
indicadores de consumo consciente (2010 e 2012)
Percentual de respostas “sempre” e/ou “às vezes”

Desligo lâmpadas

Fecho torneiras

Esfrio alimentos

Desligo eletrônicos

Planejo compra de
alimentos
Planejo compra de
roupas
Peço nota fiscal

Uso verso de papel

Leio rótulos

Compartilho
informações
Separo lixo

Questão: Eu vou ler algumas frases e gostaria que você me dissesse se faz isto sempre, às vezes, raramente ou nunca.

Os comportamentos referentes a compra de produtos orgânicos ou feitos com material reciclado não foram
incluídos neste gráfico, pois têm outras opções de resposta (“sim” ou “não”).

19
O cenário indicado é bastante ani- variação positiva e nenhum apre- certa quantidade de consumidores
mador, pois mostra que um per- senta decréscimo significativo. Um ter deixado de adotar “sempre”
centual crescente de consu- dos comportamentos apresenta va- alguns comportamentos pesquisa-
midores tem passado a adotar lor estável, e apenas outros 2 têm dos, uma quantidade maior pas-
– mesmo que apenas eventualmen- pequenos decréscimos dentro da sou a adotá-los “às vezes”, pos-
te (“às vezes”) – os comporta- margem de erro da pesquisa. sivelmente denotando uma maior
mentos indicativos de assimi- Temos aqui um cenário indicativo sensibilidade ao tema, ainda que
lação do consumo consciente. de uma maior receptividade ao não suficiente para motivar uma
Dos 11 comportamentos em ques- consumo consciente, mesmo que adoção permanente dos comporta-
tão, 4 apresentam significativa apenas eventualmente: apesar de mentos “sustentáveis”.

Explorando diferenças entre


consumidores mais e menos
conscientes

Apesar da segmentação utiliza- consumidores do segmento “mais do que os consumidores do grupo


da pelo Akatu basear-se apenas conscientes” tendem a adotar com “mais conscientes” reduziram seu
em aspectos comportamentais, mais intensidade os comportamen- percentual de adesão em proporção
estudos anteriores mostram uma tos dos tipos Compra Sustentável bem menor que o grupo dos “menos
grande consistência entre seus re- e Reciclagem. Essa constatação – conscientes”. Em vários casos, hou-
sultados e outras características que já mencionamos – foi conside- ve a constatação inversa: aumento
dos segmentos obtidos, diante de rada uma indicação de que, confor- da adesão pelo grupo dos “mais
uma variada gama de assuntos re- me esperado, consumidores mais conscientes”, enquanto o grupo dos
lacionados à sustentabilidade e ao conscientes tenderiam mais forte- “menos conscientes” apresentava
consumo consciente. Nesta seção, mente a adotar atitudes motivadas queda.
exploramos alguns desses aspec- não apenas pela expectativa de O gráfico 5, a seguir, sintetiza as in-
tos, de modo a tornar mais claras as benefício pessoal e de curto/médio formações sob tal perspectiva, reu-
características desses segmentos e prazo (caso dos comportamentos de nindo os resultados desta pesquisa
a evidenciar a consistência da me- “economia” e de “planejamento”), e de duas anteriores, organizados
todologia utilizada e das análises mas pela percepção das implica- conforme os grupos de consumido-
sobre o que é revelado por ela. ções coletivas e de longo prazo de res e tipos de comportamento de
Em pesquisas anteriores9, foi veri- suas decisões de consumo. consumo. A utilização dos percen-
ficado que, conforme o grau de as- Na mesma oportunidade, com a tuais médios de adesão por tipo de
similação do consumo consciente, queda significativa na adoção mé- comportamento torna mais evidente
além de adotar em média um maior dia dos comportamentos pesquisa- as tendências mencionadas acima.
número de comportamentos, os dos entre 2006 e 2010, foi observa-

9
Como e porque os brasileiros praticam o consumo consciente, pp. 22-24 (disponível em: http://bit.ly/16doBDx) e Responsabilidade Social Empresarial – Percepção do Consumidor Brasileiro 2010,
pp. 14-17 (disponível em: http://bit.ly/WRGSDL).

20
Gráfico 5: Adesão a comportamentos indicadores de consumo consciente
Comparação entre mais e menos conscientes (2006, 2010 e 2012)

Percentual médio de respostas “sempre”ou “sim”

67%
57%
52%
Economia 92%
90%
92%

35%
25%
24%
Planejamento 73%
75%
75%

{
19%
20%
2006
20% menos
Reciclagem 57% conscientes 2010
60%
56% 2012

{
19%
Compra 17% 2006
18% mais
sustentável 48% conscientes 2010
53%
48% 2012

Questão: Eu vou ler algumas frases e gostaria que você me dissesse se faz isto sempre, às vezes, raramente ou nunca

No gráfico 5, a comparação do per- ao controle de despesas domés- comportamento nas quatro catego-
fil de adoção dos comportamentos ticas e que, para os consumidores rias de consumidores.
de consumo pelos diferentes grupos “menos conscientes” (para quem Comparando-se a proporção entre
reforça o que se havia verificado na a motivação econômica tem maior os valores correspondentes aos
Pesquisa Akatu 2010, conforme co- peso), o período de bonança econô- comportamentos de Economia,
mentado anteriormente. mica pode ter contribuído para um vemos que, em 2006, a média de
Por exemplo, comparando-se a relaxamento de sua disciplina orça- adoção pelos “menos conscientes”
evolução na adoção de comporta- mentária. foi de 67%, enquanto a dos “mais
mentos nos diferentes grupos, ve- Por outro lado, o grupo dos “mais conscientes” foi de 92%, ou seja,
rificamos que o grupo dos “menos conscientes” apresentou estabilida- 1,38 vezes maior. Já em 2012, a
conscientes” apresentou uma redu- de em todos os grupos de comporta- adoção pelos “menos conscientes”
ção significativa no nível de adesão mentos pesquisados, com variações caiu para 52%, enquanto a dos
aos comportamentos de Economia não significativas, sejam positivas “mais conscientes” permaneceu
e, entre 2006 e 2010, também nos ou negativas. em 92%, ficando 1,78 vezes maior.
de Planejamento. Outra forma de analisar os dados Portanto, há um aumento mais que
Cabe notar que vários dos compor- do gráfico 5 é focalizar a atenção proporcional na distância entre os
tamentos incluídos nesses dois gru- na proporção entre os níveis de “mais conscientes” e os “menos
pos são tipicamente relacionados adoção dos diferentes tipos de conscientes”.

21
Tabela 1: Proporção de adesão a comportamentos indicadores
de consumo consciente - comparação entre os mais e menos
conscientes (2006, 2010, 2012)

Percentual médio de adesão aos comportamentos de cada categoria pelo grupo dos
“mais conscientes”, dividido pelo mesmo percentual entre os “menos conscientes”.

Proporção entre as médias de adoção de comportamentos A tabela 1 a seguir mostra essas


(% mais conscientes/ % menos conscientes) proporções para todos os pontos
do gráfico e deixa clara a maior
Categorias tendência ao abandono de com-
2006 2010 2012
de comportamentos portamentos de Economia e Plane-
jamento pelos “menos conscien-
tes” – o que fez com que essas
Economia 1,38 1,58 1,78 atitudes se tornassem cada vez
mais importantes como diferencia-
doras entre os grupos dos “mais
Planejamento 2,11 2,98 3,10 conscientes” e “menos conscien-
tes”. Fica evidente, também, que
a maior estabilidade no grupo dos
Reciclagem 3,05 3,05 2,87 “mais conscientes” é reflexo da
manutenção dos comportamentos
de Reciclagem e Compras Susten-
táveis, mesmo em um contexto de
Compra sustentável 2,51 3,06 2,65 exacerbação do consumo.

Uma outra questão recorrente é sobre diferenciam? Buscando essa respos-


os perfis socioeconômicos dos “mais ta, o gráfico 6, a seguir, apresenta a
conscientes” e “menos conscientes”: comparação entre “mais conscien-
além das diferenças nos níveis de tes” e “menos conscientes” perante
adoção dos comportamentos estuda- cinco recortes socioeconômicos.
dos, há outras características que os

22
Gráfico 6: Perfil socioeconômico - comparativo
entre mais e menos conscientes
Percentual de respondentes por segmento

Como evidencia o gráfico 6, a compo- que atingiram a educação universi- dos segmentos estudados: trata-se de
sição socioeconômica de ambos os tária (54% dos “mais conscientes” um conjunto de atitudes assimilado por
grupos é bastante diversificada, não contra 45% dos “menos conscien- todo o espectro social, porém com um
havendo em nenhum deles grandes tes”). Na pesquisa anterior, de 2010, a pouco mais de ênfase por consumido-
disparidades em relação à população concentração nesses grupos também res mais instruídos (que atingiram o
brasileira nem predomínio absoluto de aparecia, e com maior ênfase do que ensino superior), mais ricos (maior pre-
alguma categoria, ainda que existam a resultante desta pesquisa. sença das classes A/B) e mais velhos
diferentes ênfases na composição dos Também em relação ao gênero há uma (maior concentração de maiores de 45
grupos, o que merece atenção. diferença, sendo a presença feminina anos). Os resultados mais recentes su-
Em relação à idade, vemos que o grupo marcadamente maior no grupo dos gerem, também, que entre as mulheres
dos “mais conscientes” tem, propor- “mais conscientes” (62% contra 51% há uma maior propensão a assimilar o
cionalmente, mais pessoas acima de do grupo dos “menos conscientes” e consumo consciente. Esta é a primeira
45 anos (49% dos “mais conscientes” 54% da população em geral). Nas pes- vez que tal resultado surge, e será im-
contra 33% dos “menos conscientes” e quisas anteriores, esse tipo de tendên- portante acompanhar a evolução desse
37% da amostra em geral). Essa distri- cia não foi detectado. aspecto, que pode estar relacionado
buição é praticamente a mesma obser- Em termos da distribuição regional, tanto ao fato de cada vez mais lares
vada na pesquisa anterior, em 2010. não há diferenças relevantes entre os serem liderados por mulheres quanto à
Em relação à classe social e à esco- dois grupos. expectativa de que as mulheres – por,
laridade, existem algumas diferenças. Em seu conjunto, os dados sobre perfil possivelmente, serem em geral mais
O grupo dos “mais conscientes” tem socioeconômico dos grupos mostram atentas ao futuro dos filhos e mais in-
uma maior concentração de pessoas bastante estabilidade, indicando que clinadas aos valores do coletivo e da
das classes A/B (37% contra 33% dos a assimilação do consumo conscien- cooperação – sejam mais propensas a
“menos conscientes”) e de indivíduos te não é atributo especial de nenhum assimilar o consumo consciente.

23
Como sumário desta seção, podemos Uma análise mais focalizada nas di- Finalmente, é importante notar que
dizer que, após uma queda relevante ferenças de comportamentos entre a estabilidade aqui mencionada não
entre 2006 e 2010 (coincidindo com os grupos dos “mais conscientes” pode significar acomodação para o
um período no qual, a despeito da cri- e dos “menos conscientes” reforça movimento pelo consumo conscien-
se internacional, o consumidor brasi- a percepção, já relatada na edição te e pela sustentabilidade, pois, por
leiro apresentou crescente otimismo, 2010 desta pesquisa, quanto à maior um lado, estamos ainda longe de ter
melhor distribuição de renda e rela- consistência no comportamento dos entre os brasileiros uma maioria de
xamento das preocupações quanto à “mais conscientes”, que se mostram consumidores conscientes ou, pelo
economia), o grau de assimilação do mais propensos a manter suas prá- menos, engajados, e, por outro lado,
consumo consciente entre os brasi- ticas mais sustentáveis mesmo num era de se esperar que em um ano
leiros permaneceu estável. Tenden- cenário de otimismo econômico, re- como 2012, no qual os brasileiros
cialmente, há sinais distintos: por um laxamento na disciplina orçamentária foram expostos fortemente às ques-
lado, os dados parecem indicar um mo- do consumidor e expansão do consu- tões da sustentabilidade (por conta
vimento de redução nos percentuais mo (real ou apenas percebida pelo da Conferência Rio+20, dos debates
de adoção dos comportamentos moni- consumidor). Fica reforçada também sobre o Código Florestal e outros
torados pelo Akatu, embora a pequena a percepção de que a maior adesão fatores), tivesse ocorrido uma am-
magnitude das variações ofereça mui- a comportamentos de consumo com pliação na consciência e uma maior
to pouca certeza sobre essa tendência. benefícios coletivos é um dos dife- mobilização dos consumidores. Como
Por outro lado, há indicações de que renciadores dos “mais conscientes”. veremos adiante, houve de fato maior
a adoção desses comportamentos se Isso adiciona uma importante dimen- familiaridade com o tema, mas isto
amplia, à medida que mais consumi- são qualitativa à análise quantitativa ainda não se converteu nas atitudes
dores declaram adotá-los, mesmo que sobre a qual se baseia a categoriza- desejadas.
apenas “às vezes”. ção utilizada pelo Akatu.

COMO O BRASILEIRO ENTENDE A SUSTENTABILIDADE?

Em várias pesquisas, do Akatu e de e pouco cuidado, o que tende a levar tentabilidade e uma maior consciên-
outras organizações, tem sido detec- à saturação dos interlocutores, com cia no consumo. Pessoas que sabem
tado que o termo sustentabilidade é consequente banalização e erosão de o que é sustentabilidade têm uma
pouco conhecido e que a compreen- significado. Assim, o conceito passa maior tendência a assimilar o consu-
são do seu significado varia bastante a ser associado não a algo positivo, mo consciente? Tendem a ser mais
e é, muitas vezes, equivocada. Por mas a mais um modismo, a um jogo de mobilizadas e influentes nas questões
outro lado, já há também preocupação cena ou a greenwashing. relacionadas a esses temas, como é o
quanto ao desgaste do termo, que vem Há também um questionamento mais caso da responsabilidade social das
sendo repetido com grande frequência específico sobre a relação entre sus- empresas?

O termo se tornou mais conhecido,


mas não tão compreendido...

Repetindo a pergunta: “Você já ouviu mos que o termo se tornou muito mais população que o conhecia em 2010 e
falar em sustentabilidade?”, feita tam- conhecido, com um aumento de pra- o conhece em 2012, conforme mostra
bém na Pesquisa Akatu 2010, verifica- ticamente um terço no percentual da o gráfico 7.

24
Gráfico 7: Percentual de respondentes que declararam ter
ouvido falar sobre sustentabilidade (2010 e 2012)

Foi perguntado também sobre o


“interesse em buscar informações”
sobre diversos temas, dentre
eles, sustentabilidade.
Também neste caso houve
um aumento muito significativo,
passando o percentual
de interessados de 14% em
2010 para 24% em 2012.

Questão: Você já ouviu falar em “sustentabilidade”?

Avançando na forma de •Sustentável, correspondendo a uma percepção ampla de sustentabili-


investigar o tema, optamos dade, que necessariamente incorpora a noção de limites planetários e/
nesta edição da pesquisa por ou a perspectiva geracional e a de continuidade ao longo do tempo, ou
fazer uma pergunta aberta, com seja, de permanência (por exemplo, “desenvolver sem comprometer as
resposta espontânea, sobre o gerações futuras”).
que os entrevistados entendiam
•Ambiental, correspondendo às respostas em que foi colocada uma
ser o significado do termo.
preocupação ampla com o meio ambiente (por exemplo, “ter responsabi-
Assim, para os 60% de
lidade com o meio ambiente”).
respondentes (478 entrevistados)
que afirmaram “já ter ouvido •Limitado, correspondendo às respostas que representam apenas exem-
falar em sustentabilidade”, foi plos fragmentados de práticas ou de atitudes relacionadas à sustentabi-
perguntado o que, na opinião lidade ou a temas correlatos, mas que não incorporam nenhum conceito
deles, queria dizer essa palavra. mais abrangente (por exemplo, “não jogar lixo na rua” ou “empresa que
As respostas abertas foram se preocupa com seus funcionários”).
sistematizadas, resultando •Equivocado, correspondendo às respostas que revelam um entendi-
em 34 textos-padrão que mento incorreto do respondente no contexto de sustentabilidade que
representam, em seu conjunto, estamos tratando (por exemplo, “pessoa que se sustenta sozinha” ou
o significado de todas as “sustentar alguma coisa com argumentos seguros”).
respostas recebidas.
A análise desses textos10 •Não sabe, correspondendo aos respondentes que, apesar de terem
mostrou que os mesmos podiam ouvido falar do tema, declararam não saber dizer o que ele significava.
ser classificados em cinco tipos:

10
Para mais detalhes, ver anexo Significado de “Sustentabilidade” e segmentação conforme compreensão sobre esse conceito, ao fim desta publicação.

25
Considerando que a resposta de mais de um dos tipos acima, classificação das respostas, que
aberta de cada entrevistado foi estabelecida uma regra de resultou no gráfico 8, a seguir.
poderia conter textos-padrão segmentação com base nessa

Gráfico 8: Visão dos respondentes sobre sustentabilidade


Apenas dentre os respondentes que “ouviram falar” do termo

Percentual de respondentes por segmento

• Sustentável: citou pelo menos uma resposta “sustentável”


e nenhuma resposta “equivocada”
• Ambiental: citou pelo menos uma resposta “ambiental” e
nenhuma resposta “equivocada” ou “sustentável”
• Limitado: citou apenas respostas “limitadas”
• Não sabe: citou pelo menos uma resposta “equivocada”
ou ouviu falar mas não soube dizer o que seja.

Agrupamento realizado a partir de análise das respostas


espontâneas à questão aberta “Para você o que significa “Sustentabilidade”?

Como se vê no gráfico 8, dentre os respondem a 7% da amostra total da por poucos, sua incorporação já é
que ouviram falar em sustentabilida- pesquisa, configurando uma minoria uma realidade tangível para pratica-
de, ainda predomina fortemente uma mais esclarecida ou mais envolvida mente metade dos brasileiros, que
visão focada no meio ambiente (40%) com o tema. Finalmente, restam 55% o associam fortemente à dimensão
ou uma visão parcial, limitada a dos entrevistados que têm um enten- ambiental. Este é um resultado bas-
exemplos ou práticas isoladas (23%). dimento equivocado do tema, não tante positivo, especialmente tendo
Esses dois grupos somados represen- sabendo descrevê-lo, ou que nem se- em vista o resultado da Pesquisa
tam praticamente dois terços dos que quer ouviram falar dele. Consideran- Akatu 2010, que mostrava um índice
ouviram falar em sustentabilidade ou do a metodologia utilizada – resposta de conhecimento bem menor sobre o
38% do total da população total da espontânea e classificação ad hoc termo. Por outro lado, permanece a
pesquisa. Já os 12% que demons- – podemos dizer com bastante segu- dúvida: em que medida esse conhe-
tram entendimento abrangente, como rança que, apesar do termo sustenta- cimento conceitual se relaciona, de
de fato cabe ao tipo Sustentável, cor- bilidade ainda ser bem compreendido fato, a atitudes e práticas concretas?

26
O entendimento sobre sustentabilidade varia conforme
a assimilação do consumo consciente?

Uma possível resposta para a nando a assimilação do consumo O gráfico 9, a seguir, resume a
pergunta que finaliza a seção an- consciente e a compreensão do resposta encontrada.
terior pode ser obtida correlacio- conceito de sustentabilidade.

Gráfico 9: Assimilação do consumo consciente segundo


categorias de entendimento do termo sustentabilidade
Percentual de respondentes por segmento

Combinação entre categorias descritas nos gráficos 3 e 8.

Como se vê no gráfico acima, uma sustentabilidade. Assim, vejamos: do consumo consciente e a compre-
pequena correlação existe, mas não Na população total, como mostrado ensão de sustentabilidade - afinal,
é tão direta ou intensa como se po- anteriormente, o percentual de “mais 69% dos que mostraram um entendi-
deria esperar. Não se pode afirmar conscientes” é de 26%, enquanto no mento correto do termo permanecem
que “aqueles que, de fato, entendem pequeno grupo que mostrou um en- no grupo dos “menos conscientes”.
o que é sustentabilidade assimilam tendimento Sustentável do termo A mesma situação ocorre em relação
mais o consumo consciente”. Isso sustentabilidade, tal percentual é ao grande grupo que tem um enten-
fica claro quando comparamos o per- apenas um pouco maior, chegando a dimento Ambiental do termo susten-
centual de “mais conscientes” dentro 31%. Ou seja, bem longe do que se tabilidade: 66% deles ainda estão no
de cada uma das categorias definidas poderia esperar caso houvesse uma grupo dos “menos conscientes”.
com base no entendimento do termo forte correlação entre a assimilação

27
Nos estudos para elaborar esta publi- que as demais correlações que encon- Esta é uma situação já percebida por
cação, fizemos algumas comparações tramos são também tênues, trazendo vários analistas e militantes, e refle-
levando em conta a tipologia apre- à tona a noção de que, ao que tudo tida no relatório da Pesquisa Akatu
sentada acima, buscando identificar indica, a transformação que buscamos 2010. Por esse motivo, incluímos na
possíveis correlações entre a compre- não virá apenas do “convencimento e pesquisa aqui relatada uma rica in-
ensão sobre sustentabilidade e outros esclarecimento” racional do que é sus- vestigação sobre as aspirações dos
aspectos da ampla agenda relaciona- tentabilidade, mas principalmente de consumidores e sua relação com a
da ao termo. Podemos antecipar – e outras formas de engajamento e sen- sustentabilidade, utilizando uma nova
reconhecendo que ainda há muito o sibilização mais relacionadas à esfera metodologia, em desenvolvimento
que estudar nos dados coletados – da ética, dos valores e das emoções. pelo próprio Akatu.

DESEJOS E FELICIDADE: UMA QUESTÃO FUNDAMENTAL

“Para ganhar os corações, A afirmação ao lado – que encerra Buscando respostas para essas
mentes e bolsos dos consumi- o relatório da Pesquisa Akatu 2010 questões, em várias ocasiões incluí-
dores, a Sustentabilidade, a – foi o ponto de partida para incluir- mos em nossas pesquisas perguntas
RSE e o Consumo Consciente mos, na presente edição, uma pers- destinadas a verificar como a adesão
precisam ser apresentados não pectiva inovadora sobre a questão a certos valores e visões de mundo
como conceitos sofisticados, do consumo consciente e das for- se relacionava à maior ou menor
mas traduzidos em práticas e mas de disseminá-lo mais ampla e assimilação do consumo conscien-
propostas concretas. E estas rapidamente. te (Pesquisas números 512 e 713).
não podem ser percebidas Em seu trabalho de contribuir com a Também em outras situações
pelo público como imposições construção de uma sociedade mais – como na produção de materiais
restritivas, mas sim como uma justa e sustentável, por meio da de mobilização e artigos – tocamos
boa alternativa ao consumismo expansão do consumo consciente, nesta questão (por exemplo, na
vazio, angustiante e insustentá- o Akatu tem frequentemente se de- série temática Consumo Conscien-
vel. Vista como o caminho mais frontado com perguntas fundamen- te do Dinheiro e do Crédito14. nos
curto, barato e desejável rumo tais: afinal, para que as pessoas relatórios Estilos Sustentáveis de
à felicidade, que é, ao final, consomem? O que leva a maioria Vida - Resultado de uma Pesquisa
o que todos almejamos”. da população a manter padrões de com Jovens Brasileiros15 e Visions
(Pesquisa Akatu 2010, p. 53)11 consumo incompatíveis tanto com For Change - Recommendations for
a sustentabilidade quanto com seu Effective Policies on Sustainable
próprio bem-estar? Lifestyles 16).

11
Pesquisa Akatu 2010. Disponível em: http://bit.ly/WTAsUI
12
Pesquisa 5: Consumidores conscientes: o que pensam e como agem. Disponível em: http://bit.ly/16fdcTO.
13
Pesquisa 7: Como e por que os brasileiros praticam o consumo consciente? Disponível em: http://bit.ly/WRPRVi.
14
Caderno Temático: O consumo consciente do dinheiro e do crédito. Disponível em: http://bit.ly/WTAsUI.
15
Estilos Sustentáveis de Vida - Resultado de uma Pesquisa com Jovens Brasileiros. Disponível em: http://bit.ly/WTEsEG.
16
UNEP. Visions For Change - Recommendations for Effective Policies on Sustainable Lifestyles. Disponível em: http://bit.ly/YyOHS1

28
Nesta pesquisa abordamos essas cebesse o tema sobre o qual estava Nesta seção, apresentamos os re-
indagações de forma mais direta e respondendo. Isto ajudou a elimi- sultados dessa investigação e al-
focalizada, por meio de duas ques- nar o viés de respostas voltadas a gumas considerações sobre seu
tões incluídas logo no início do “agradar o entrevistador”, “mostrar possível significado para o objetivo
questionário. Essas perguntas foram conhecimento” ou comportamentos de acelerar e ampliar a adoção do
feitas antes que o entrevistado per- similares. consumo consciente

Que caminho leva ao que mais desejamos:


o do consumismo ou o da sustentabilidade?

Para ajudar a responder à pergunta plicam uma forte diferenciação entre fosse mais atraente que outra não
que intitula esta seção, fizemos nes- as soluções “sustentáveis” e as “da pela forma, mas pelo conteúdo17.
ta pesquisa um exercício para inves- sociedade de consumo”. Para cada Entendemos que o resultado dessa
tigar em que medida os desejos dos um desses 8 temas, foram formula- hierarquização reflete de modo elo-
consumidores se relacionam com as das duas frases, ambas expressando quente e com muito baixo viés as
ofertas e promessas da sociedade um desejo possível e legítimo, porém aspirações dos consumidores, nos
de consumo ou, alternativamente, uma seguindo o “caminho sustentá- permitindo sondar que aspectos
com ofertas e promessas focalizadas vel” e, outra, o “caminho consumis- do consumo lhes são mais impor-
em aspirações que seriam melhor ta”. É importante frisar que não se tantes e, dentre os diferentes ca-
respondidas por uma sociedade e/ou trata de escolher entre “o certo e o minhos, conhecer sua inclinação à
um modo de vida mais sustentável. errado” ou entre “o bem e o mal”, sustentabilidade ou à manutenção
Para isso, escolhemos 8 temas que, mas de definir prioridades entre vá- do consumismo.
conforme nossas pesquisas anterio- rias coisas boas e desejáveis. Foi As frases exprimindo os desejos em
res e os debates em curso na socie- tomado cuidado para que todas as relação a cada um dos temas testa-
dade, estão presentes no cotidiano frases fossem sóbrias e com lingua- dos foram as seguintes:
da maioria dos consumidores e im- gem equivalente, evitando que uma

17
Naturalmente, existe um aspecto arbitrário nessa metodologia, uma vez que a associação das aspirações a um ou outro “caminho” é um julgamento do Akatu, do qual outros podem
discordar. Como em nossas pesquisas anteriores, reconhecemos que não tratamos aqui de uma ciência exata e, visando o avanço de um tema urgente, mas ainda em construção,
assumimos o risco de eventuais imprecisões ou divergências de interpretação. Neste sentido, convidamos os leitores a refletir sobre nossas propostas, aportando críticas e sugestões
que possam melhorá-las, e a contribuir na criação de novos conhecimentos e metodologias.

29
Tabela 2: Desejos dos respondentes – Frases avaliadas,
agrupadas por temas

“SOCIEDADE SUSTENTÁVEL” “SOCIEDADE DE CONSUMO”


TEMA (aspirações que prometem ser satisfeitas por uma (aspirações que prometem ser satisfeitas pela
sociedade sustentável, ou que vão nessa direção) sociedade de consumo, ou que vão nessa direção)

Quero ter tempo para estar junto com as Quero comprar presentes para agradar as
AFETIVIDADE pessoas de que gosto (AF-S) pessoas de que gosto (AF-C)

Quero contar com água abundante e limpa, sem Quero poder usar água à vontade, sem precisar
ÁGUA poluição (AG-S) me preocupar com a conta (AG-C)

Quero alimentos saudáveis, frescos e nutritivos Quero alimentos práticos, que não dão trabalho
ALIMENTOS (AL-S) para preparar (AL-C)

Quero produtos que durem bastante e que seja Quero produtos que seja fácil e barato substi-
DURABILIDADE fácil consertar ou atualizar quando necessário tuir, mesmo que ainda funcionem (DU-C)
(DU-S)

Quero reduzir os impactos sociais e ambientais


ENERGIA da geracão de energia (EN-S) Quero ter certeza que não faltará energia (EN-C)

Quero me deslocar pela cidade com rapidez,


MOBILIDADE segurança, conforto e flexibilidade (MO-S) Quero ter meu próprio carro (MO-C)

Quero reduzir a quantidade de lixo produzido Quero que o volume crescente de lixo possa ser
RESÍDUOS (RE-S) coletado e tratado (RE-C)

Quero tempo para lazer, esporte e descanso, Quero ter um plano de saúde que garanta bons
SAÚDE pouco stress e boa alimentação. (SA-S) médicos, hospitais e remédios (SA-C)

É importante ressaltar que, como a cada conjunto de frases de modo tável”: em 5 dos 8 temas, o “ca-
estabelecido pela metodologia independente. A cada entrevistado minho sustentável” foi preferido
utilizada (ver box a seguir), eram foram mostrados, separadamente, e, em dois deles, houve um virtual
apresentados aos entrevistados dez cartões com diferentes combi- empate. Ademais, dos 6 “desejos”
cartões com quatro frases, sendo nações de frases. O conjunto das que se destacam por ter pontuação
solicitado a eles que apontassem, escolhas feitas permitiu, matema- superior à mediana (linha traceja-
em cada cartão, a frase mais dese- ticamente, o cálculo da escala de da no gráfico), apenas 1, ligado à
jável e a menos desejável. Assim, prioridades de cada entrevistado. saúde, está no “caminho da socie-
em nenhum momento os entrevis- O resultado, como se vê no gráfico dade de consumo” (e por razões
tados escolhiam diretamente entre 10, a seguir, mostrou uma forte in- bem compreensíveis, como vere-
os dois caminhos de um dado tema, clinação do consumidor na direção mos adiante).
mas informavam a sua preferência do “caminho da sociedade susten-

30
Gráfico 10: Desejos dos respondentes
Preferências por cada “caminho” agrupadas por temas

Média dos índices de preferência por cada “caminho”

O gráfico apresenta os temas pesquisados


em ordem decrescente da distância entre
o caminho “sustentável” e o “consumista”,
e mostra a prioridade dada pelo público
entrevistado a cada uma das duas opções
relativas a cada tema, conforme descrito
na tabela 2. A escala vertical corresponde
ao índice de prioridade resultante da apli-
cação da metodologia MaxDiff (Escalona-
mento por Máximas Diferenças) e ajuda a
compreender as diferenças na prioridade
dada a cada “desejo”.
A técnica utilizada na pesquisa é altamen-
te eficaz para hierarquização de grandes
grupos de atributos positivos, evitando
viés ou manipulação das respostas pelo
entrevistado. O quadro contendo todas as
opções nunca é mostrado ao entrevistado,
que realiza a priorização a partir de suces-
sivas escolhas, cada uma envolvendo ape-
nas quatro dos “desejos” sendo testados.

Índice calculado pela metodologia MaxDiff

Focalizando nos temas pesquisa- te os desejos associados ao modelo que tanto a opção “sustentável”
dos, o tema Afetividade destaca- consumista em vigor, mas num vir- quando a “consumista” ficaram
-se como o que tem maior diferen- tual empate com os desejos susten- bem abaixo da mediana. O fato de
ça entre os que preferem o cenário táveis para o mesmo tema. Nesses que ambas as opções tratam ex-
mais sustentável (passar tempo com dois casos, podemos dizer que a plicitamente de produtos reforça
as pessoas) em vez do consumista mensagem dos entrevistados é aditi- a impressão de que os brasileiros,
(comprar presentes). Em seguida, va e não alternativa. Isto é, eles nos efetivamente, estão mais interes-
outros 3 temas (Alimento, Água dizem que querem energia garantida sados na qualidade de vida do que
e Mobilidade) são os que contam E de baixo impacto. Dizem também nas mercadorias. Essa impressão
com uma preferência bem maior que querem reduzir o volume de lixo também é reforçada quando vemos
para os desejos do “caminho susten- E que todo o lixo produzido seja re- que, das 16 aspirações testadas, a
tável”, com a qualidade de vida (ali- ciclado. Essas perspectivas mostram maioria das que mencionam direta-
mentos saudáveis, uso racional da que, sem abdicar do essencial, os mente mercadorias18 ficou entre as
água e boa mobilidade) sendo bem brasileiros prezam também as op- menos priorizadas.
mais valorizada do que os desejos ções sustentáveis. Com esta ressalva, sobre o aspecto
consumistas tradicionais (alimentos Dentre os temas intermediários, específico da Durabilidade há uma
práticos, uso da água de forma abun- temos ainda a Durabilidade dos tendência favorável ao caminho da
dante e ter carro próprio). Produtos, que se destaca como o sustentabilidade, na contramão da
Em seguida, nos temas Energia e tema menos priorizado na agenda obsolescência planejada e da des-
Resíduos, predominam ligeiramen- do consumidor, visto ser o único em cartabilidade: a maioria dos respon-

18
São elas: MO-C (carro); AG-C (conta de água); DU-S (produtos duráveis); AL-C (alimentos “práticos”, em geral industrializados); DU-C (produtos “descartáveis”) e AF-C (presentes comprados).

31
dentes prefere produtos que durem pela maior proporção de pessoas é a única que tratava desse tema
bastante e que possam ser atualiza- que priorizaram a opção consumista diretamente, uma vez que a opção
dos, mostrando por esses um inte- (“Ter um plano de saúde que garan- sustentável era representada pela
resse proporcionalmente bem maior ta bons médicos, hospitais e remé- proposta de um estilo de vida mais
do que pelos produtos baratos e dios”). Cabe lembrar que Saúde, saudável, mas que não mencionava
substituíveis. como veremos adiante, é um tema explicitamente a Saúde (“Ter tempo
Finalmente, o tema Saúde se des- de grande relevância para os entre- para lazer, esporte e descanso, pou-
taca em relação a todos os demais vistados, e que a frase escolhida co estresse e boa alimentação”).

Ademais, a análise mais • Em Saúde, além do já mencionado, é possível que os respondentes não
detida das opções em pauta tenham atentado para a diferença entre serviços de saúde (que são impres-
nos temas Saúde, Resíduos cindíveis) e planos de saúde, que são uma solução mercantil (e, muitas ve-
e Energia reforça o zes, problemática) para atender a uma necessidade essencial da população.
entendimento quanto à A resposta parece revelar não uma preferência pela opção consumista, mas
tendência dos consumidores uma preocupação com a precariedade do sistema de saúde e, mais ainda,
em direção às propostas uma atitude que prioriza a segurança: apesar de um modo de vida saudável
mais sustentáveis ser desejável (ficou em 6º lugar no ranking geral), a garantia de assistência
médica em caso de necessidade vai ao encontro da primeira prioridade dos
brasileiros quando pensam em sua felicidade, que é ter saúde (ver adiante).

• Em Resíduos, as entrevistas resultaram praticamente em um empate, fi-


cando a opção consumista lado a lado com a alternativa sustentável. É im-
portante notar que a opção consumista é, aparentemente, muito desejável
também pela ótica da sustentabilidade: reciclar o lixo – mesmo que assumin-
do um volume sempre crescente – pode ser visto como uma opção sustentá-
vel, sendo difícil para o consumidor menos atento perceber que essa solução
(tão incentivada pela mídia e pelas campanhas de toda sorte) é, de fato,
menos propícia à sustentabilidade do que a redução do volume de resíduos.

• Em Energia, também há um empate entre as alternativas e temos de novo


o confronto entre garantir uma necessidade básica (ter energia elétrica, um
bem hoje essencial à vida digna e à produção econômica) e uma visão mais
sistêmica, voltada não ao bem em si mesmo, mas aos impactos de sua dispo-
nibilização (reduzir os impactos sociais e ambientais da geração de energia).

• Finalmente, cumpre notar que nestes três casos tratamos de aspectos hoje
muito críticos, para os quais a falta de investimentos ou a ineficiência do
sistema atual criam carências (efetivas ou potenciais) diante das quais a
reação mais imediata do público parece ser, naturalmente, apelar para que
funcionassem bem os sistemas em vigor, que é de onde se poderia esperar
soluções mais imediatas e compatíveis com a urgência já sentida.

32
A priorização dos desejos varia
conforme as classes sociais

No gráfico 11, a seguir, os desejos ponde à priorização média de cada todas as opções. A escala vertical
são representados por uma versão desejo pela população, enquanto os corresponde ao índice resultante da
reduzida do texto das frases pesqui- pontos coloridos apresentam as mé- aplicação da metodologia MaxDiff
sadas e pelos seus respectivos có- dias de priorização pelas diferentes e mostra a magnitude da prioridade
digos, cuja versão completa está na classes sociais19. A linha traceja- dada a cada desejo.
tabela 2. A linha tracejada corres- da corresponde à mediana dentre

Gráfico 11: Desejos dos respondentes


Preferências segundo classe social

Índice de preferência médio para cada segmento


(normalizado para escala de 0 a 10)
Indice MaxDiff de prioridade

19
“Classes Sociais” definidas pelo acesso a bens e serviços, conforme o CCEB 2012 - Critério de Classificação Econômica Brasil, da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa.

33
O aspecto geral do gráfico 11 1. As classes sociais mais altas tendem a priorizar
(distribuição dos pontos mais o “caminho sustentável”.
coloridos em relação à linha Esta tendência é evidenciada pela priorização dada pela classe A (e, em menor
da média) mostra que há uma intensidade, pela classe B) às aspirações que ocupam as seis primeiras posições
tendência geral bastante no gráfico: nestes itens, vemos atribuído, às cinco posições ocupadas pelas
uniforme entre classes sociais, frases representativas do “caminho sustentável”, um índice de prioridade bem
mas com algumas variações maior pelas classes mais altas, sendo que a classe A chega a inverter as priori-
significativas tanto no dades: para essa classe, a maior prioridade é “água limpa e abundante” (índice
posicionamento dos desejos de prioridade igual a 10), seguida de “ter tempo para estar com quem gosta”,
para uma dada classe, quanto “alimentos saudáveis”, “mobilidade” e “estilo de vida saudável”, esta última
no posicionamento de cada com a mesma prioridade dada a “bom plano de saúde”, e todas com índices em
desejo entre as classes. torno de 9 e 10. Tendo em vista o que já comentamos sobre o tema Saúde, essa
ordenação mostra uma assimilação avançada dos valores sustentáveis.
2. As classes sociais mais baixas tendem a despriorizar
menos o “caminho consumista”
De forma consistente com o observado acima, vemos que nas últimas posições
do gráfico (11ª a 16ª) a classe D se destaca por dar prioridade maior que todas
as outras classes às aspirações do “caminho consumista” (que compõe todas
as aspirações desta faixa de opções, com exceção da 13ª, que é do “caminho
sustentável” e em relação à qual o índice de prioridade é igual para todas as
classes). Ou seja, a classe D não inverte a ordem geral, confirmando que as
aspirações sustentáveis são as mais prioritárias, mas, dentre as prioridades mais
baixas, esta classe diferencia-se das demais por reduzir menos as prioridades do
caminho do consumismo.
3. Em Energia e Resíduos, há empate na prioridade média, mas vemos
grandes diferenças conforme as classes sociais: as classes A e B dão
maior prioridade às soluções mais sustentáveis, enquanto a classe D dá
maior prioridade às menos sustentáveis.
a. Comparando as prioridades dadas pelas diferentes classes em relação às
aspirações constantes do tema Energia, vemos que a classe D prioriza bem
mais a solução da sociedade de consumo (energia garantida), enquanto a clas-
se A prioriza a opção mais sustentável (energia de baixo impacto). Em ambos
os casos, vemos claramente a correlação entre classe social e priorização das
propostas: nas opções do “caminho sustentável”, quanto maior a classe, maior
a prioridade. Nas opções do “caminho consumista”, o inverso: será tão maior a
prioridade quanto mais baixa é a classe social.
b. A maior prioridade dada pela classe D à opção “energia garantida” coloca
essa aspiração dentre as suas mais prioritárias (com índice superior a 6,5), no
mesmo nível que “estilo de vida saudável”, e bem acima de “energia de baixo
impacto”, que fica no nível intermediário de suas prioridades (com índice em
torno de 5,0).
c. Nesse mesmo nível intermediário, para a classe D, estão também as duas
opções relacionadas a resíduos. Para a classe D – ao contrário do que ocorre
nas demais classes – as aspirações ligadas a resíduos ficam num nível de prio-
ridade abaixo das aspirações ligadas a “energia garantida”, “água à vontade”
e “carro próprio”, todas do grupo relacionado ao caminho do consumo.

34
4. Quanto mais alta a classe social, maior a prioridade dada a “estilo
de vida saudável” (e menor a dada aos “planos de saúde”, mas em
proporção bem menor).
Como se vê na 6ª posição do gráfico, há uma relação direta entre a classe social
e a prioridade dada ao desejo por um estilo de vida saudável. Aqui ocorre a
maior diferença entre classes: enquanto a classe D apresenta um índice de
prioridade 6,5, na classe A tal índice chega a 9,2. Como em outros casos, um
fenômeno inverso ocorre na aspiração “consumista” correspondente, embora de
maneira menos significativa: “bom plano de saúde” é tão mais priorizado quanto
mais baixa a classe: índice em torno de 10,0 na classe D e 9,5 na classe A.
5. O nível de prioridade dado à água é diretamente proporcional
à classe social: quanto mais alta a classe, maior a prioridade dada
à “água limpa e abundante” e, inversamente, quanto mais baixa a
classe, maior o desejo de “usar água à vontade, sem se preocupar
com a conta”.
Pode-se, por um lado, argumentar que esse desejo de gastar à vontade aumenta
os riscos de desperdício, o que parece plausível. Mas cabe também perguntar se
esse segundo caso não é uma decorrência, principalmente, da situação econô-
A contraposição – que coloca em extremos
opostos duas opções tão emblemáticas
mica de cada classe, já que seria razoável supor que a classe A não se preocupa
dos dilemas que nossa sociedade vive e com a conta, enquanto a classe D vive com um orçamento mais apertado e
dos caminhos que comparamos em nossa simplesmente gostaria de não mais se preocupar com tal custo.
pesquisa – é muito reveladora e reforça o 6. Todas as classes priorizam mais “ter tempo para estar com quem
que já comentamos: independentemente
gosta” do que “comprar presentes”
da classe social, os brasileiros deixam cla-
ro que suas prioridades não são mercado-
Também neste caso, o grau de prioridade é proporcional à classe social: quanto
rias e dinheiro como fontes de felicidade, mais alta a classe, mais se prioriza “ter tempo para estar com quem gosta”. Por
mas convivência e bem-estar. Certamente, outro lado, quanto mais baixa a classe, mais prioriza o “comprar presentes”,
um recado que coloca em cheque o modelo mesmo que em proporção bem menor do que “ter tempo para estar com
consumista em vigor. quem gosta”.

Em síntese, vemos que – sem fugir sumo – da qual, presumivelmente, a acompanhar a classe A, porém com
ao padrão geral quanto aos grupos se vê mais excluída - e que oferecem menos ênfase. No entanto, lembran-
de desejos mais e menos prioritários soluções possíveis às suas carências do da grande diferença no acesso a
– a classe D apresenta uma diferen- imediatas20. bens e serviços entre essas classes
ciação em vários aspectos, espe- Uma particularidade que chama e as demais, é bastante razoável su-
cialmente se comparada à classe A. atenção na classe A, ainda, é um por que a menor prioridade dada a
Como se pode ver, com exceção dos arranjo diferente nas principais prio- desejos como “usar àgua à vontade”
desejos por “alimentos saudáveis” e ridades: esta classe coloca como vem do fato que, notoriamente, es-
“produtos duráveis”, em que as vá- principal desejo “água limpa e abun- ses são bens aos quais tais classes
rias classes divergem muito pouco dante”, seguida por um empate en- têm acesso garantido e a custos que,
em termos de prioridade, em todos tre “tempo para conviver” e “servi- em comparação com suas rendas,
os demais desejos as classes D e A ços de saúde”, juntamente com “se fazem com que sejam colocados no
estão em extremos opostos: a classe deslocar bem” e “tempo para lazer e campo das condições básicas, e não
A valoriza, proporcionalmente, mais vida saudável” (que, na média e para das aspirações, objetos de desejo.
os desejos relacionados à promessa as demais classes, não se situa no Feitos estes comentários, destaca-
da sustentabilidade, ao passo que a mesmo grupo de prioridades princi- remos a seguir mais alguns pontos
classe D valoriza mais intensamente pais). relevantes levando em conta as
as promessas da sociedade de con- Nota-se ainda que a classe B tende variações regionais.
20
De fato, sabe-se que, com investimentos proporcionalmete pequenos e com impacto ambiental aceitável, já seria possivel suprir necessidades básicas de todos, como saneamento,
acesso à água e bens/serviços essenciais. O problema está na má distribuição e gestão dos recursos existentes, alocados para fins menos essenciais ou, simplesmente, desperdiçados
ou investidos em atividades de alto retorno financeiro em detrimento das prioridades sociais.

35
E entre as regiões do Brasil e outros segmentos,
varia a priorização dos desejos?

O gráfico 12, a seguir, tem a mes- anterior, mas, ao invés de dividir as apresenta separadas pelas re-
ma lógica do comentado na seção as respostas por classe social, giões do País.

Gráfico 12: Desejos dos respondentes


Preferências segundo região

Índice de preferência médio para cada segmento


(normalizado para escala de 0 a 10)
Indice MaxDiff de prioridade

36
Além da homogeneidade Não há grandes diferenças entre as regiões,
quanto à linha geral exceto a Norte/Centro-Oeste, a qual:
de prioridades em
todo o País, podemos a. Tende a priorizar menos as aspirações ligadas ao caminho de
acrescentar alguns uma sociedade sustentável, colocando-as no mesmo nível em
comentários específicos que, na média, colocou suas “prioridades intermediárias”.
sobre o gráfico 12. Mais precisamente, é visível que o “bloco de prioridades intermediárias” da
região Norte/Centro-Oeste (com índices de prioridade entre 5,8 e 7,5) engloba
da 3ª à 11ª posição do gráfico, formando uma grande área em que há, pratica-
mente, um empate de prioridades. Nesse contexto, ficam bastante misturadas
as informações que nos permitiriam identificar inclinações mais para o lado
sustentável do que para o consumista, ou vice-versa.

b. Tende a priorizar mais a energia de baixo impacto, colocando-a


com prioridade maior, ainda que próxima, da energia garantida.
Essa mudança de posição não é de grande magnitude em termos do índice de
prioridade (com um valor 6,2 contra um valor de 5,8), mas é suficiente para
ultrapassar o índice da opção menos sustentável, embora a diferença entre
as duas aspirações sobre energia (6,1 contra um valor médio de 5,9) não seja
significativa. O caso chama a atenção por envolver justamente a região onde,
hoje, estão ocorrendo os maiores conflitos relativos à exploração energética.
Ao que parece, de maneira diferente do que se passa em outras regiões, a
população dessa região – que conhece de perto as implicações da geração de
energia nos rios da Amazônia – não está disposta a sacrificar seu bem-estar,
sua memória e a natureza em nome da energia garantida a qualquer custo.

c. Tende a se preocupar menos com o desperdício de água e


a priorizar mais os planos de saúde.
Em ambos os casos, são variações de magnitude relativamente pequena, mas
o suficiente para destacar essa região das demais. A analogia, aqui, é com o
que observamos na seção anterior acerca da classe D: o perfil da região Norte/
Centro-Oeste – mais pobre e precariamente recém-incluída nos circuitos de in-
formação e produção – pode estar associado a uma população cujas carências
a aproximam mais dessa classe do que das demais.

d. Tende a valorizar mais o “ter carro próprio”.


Este é o aspecto que, isoladamente, mais destaca a região Norte/Centro-Oeste
do restante do País. Uma hipótese para isso seria o fato de que há algumas
características que diferenciam essa região das demais: as longas distâncias,
as áreas vazias, a malha urbana dispersa e o serviço público ainda mais precá-
rio que no restante do País. Esses, certamente, são fatores que aumentam, em
muito, o desejo por um carro próprio.

37
Explorando um pouco mais a lacionadas a outros recortes da conforme gênero, faixa etária e
priorização de desejos estuda- sociedade brasileira. A tabela escolaridade:
da, buscamos diferenciações re- 3, a seguir, mostra os resultados

Tabela 3: Desejos dos respondentes


Preferências segundo gênero, idade e escolaridade
Índice de preferência médio para cada segmento

Total Gênero Idade Escolaridade


Desejos

Até Fund.2 Médio

45 anos
25 a 44

ou mais
16 a 24
Média

Masc.

Fem.

anos

anos
Segmentos Fund.2 comp. a comp. e
inc. Médio inc. acima
Quero ter um plano de saúde que garanta bons
médicos, hospitais e remédios 10,0 9,6 10,3 9,7 9,9 10,3 10,1 10,0 9,9
Quero contar com água abundante e limpa,
sem poluição 9,1 8,9 9,3 8,6 9,1 9,5 9,7 8,7 8,6
Quero ter tempo para estar junto com as pessoas de
que gosto 8,3 8,3 8,3 8,0 8,1 8,8 8,4 8,4 8,1
Quero alimentos saudáveis, frescos e nutritivos 8,3 8,0 8,5 7,5 8,2 8,8 8,5 8,0 8,1
Quero me deslocar pela cidade com rapidez,
segurança, conforto e flexibilidade 7,9 7,6 8,2 7,7 7,7 8,2 8,0 8,2 7,4
Quero tempo para lazer, esporte e descanso, pouco
estresse e boa alimentação. 7,3 7,5 7,2 7,1 7,5 7,2 7,6 7,3 6,7
Quero que o volume crescente de lixo possa ser
coletado e tratado 6,3 6,2 6,3 6,0 6,2 6,5 6,8 6,0 5,7
Quero ter certeza que não faltará energia 5,9 5,8 6,0 5,4 5,9 6,2 5,7 6,1 6,1
Quero reduzir a quantidade de lixo produzido 5,9 5,9 5,9 6,1 5,8 5,9 6,3 5,7 5,4
Quero reduzir os impactos sociais e ambientais da
geração de energia 5,8 5,8 5,8 6,0 5,9 5,6 6,4 5,3 5,4
Quero ter meu próprio carro 4,9 5,0 4,8 6,7 4,9 3,8 4,8 5,2 4,6
Quero poder usar agua à vontade, sem precisar me
preocupar com a conta 4,0 4,2 3,8 3,7 4,1 4,0 3,5 4,0 5,0
Quero produtos que durem bastante e que sejam fáceis
de consertar ou atualizar quando necessário 3,9 3,9 3,8 3,8 3,9 3,8 3,7 4,0 4,1
Quero alimentos práticos, que não dão trabalho para
preparar 2,7 2,6 2,8 2,5 2,7 2,8 2,6 2,6 3,0
Quero produtos que sejam fáceis e barato substituir,
mesmo que ainda funcionem 2,6 2,7 2,6 2,7 2,7 2,6 2,5 2,6 3,1
Quero comprar presentes para agradar as pessoas
que gosto 2,6 2,9 2,4 2,9 2,5 2,6 2,3 2,9 2,9

índice calculado pela metodologia MaxDiff

O fato notável destes dados é que conforme a idade dos respondentes 45 anos, no entanto, esse desejo já
praticamente não há diferenças en- (ver destaque na tabela). O resultado se coloca significativamente abaixo
tre os segmentos mapeados, estan- mostra que, para os jovens abaixo da média. Trataremos mais da ques-
do todos os valores realmente muito de 25 anos, ter o próprio carro ainda tão dos automóveis nas próximas se-
próximos da média e entre si. A única é um forte objeto de desejo, possi- ções, ao examinarmos as variações
exceção é quanto à preferência por velmente associado à ideia de liber- na priorização dos desejos conforme
“ter meu próprio carro”, que decres- dade, autonomia e reconhecimento o nível de assimilação do consumo
ce de forma bastante significativa pelos pares. Para o grupo acima de consciente.

38
As aspirações variam conforme a assimilação
do consumo consciente?

Naturalmente, investigamos tam- média da população, salvo algumas É importante frisar que aproveita-
bém a existência de correlação exceções. Notamos também que o mos o mesmo gráfico 13, a seguir,
entre a priorização dos desejos e olhar mais próximo e comparativo para mostrar a categorização da in-
o grau de assimilação do consumo revela algumas diferenças e peculia- formação conforme o uso ou não de
consciente. Também neste recorte ridades de cada grupo, consistentes veículo próprio nos deslocamentos
vimos que o perfil geral dos grupos com o que temos observado até aqui cotidianos. A razão disso ficará cla-
categorizados pela assimilação do e com as características dos vários ra nos comentários na sequência.
consumo consciente segue a linha segmentos de consumidores.

Gráfico 13: Desejos dos respondentes


Preferências segundo perfil de assimilação do consumo consciente
Índice de preferência médio para cada segmento
(normalizado para escala de 0 a 10)
Indice MaxDiff de prioridade

Um dos destaques no gráfico 13 é que, mo no grupo dos “menos conscientes”, meio de seus comportamentos como
apesar das diferenças pouco ou nada há um potencial latente para adesão consumidores, revelam uma diferente
alterarem a ordem das prioridades, é maior às propostas ligadas aos valores percepção de mundo, mais inclinada às
visível que os desejos do “caminho sus- da sustentabilidade. aspirações da sustentabilidade.
tentável” têm maior prioridade para os Entendemos que o aparecimento tão O cruzamento entre os índices médios
consumidores com maior assimilação nítido de uma correlação positiva entre de prioridade dados pelos diferentes
do consumo consciente. Por outro lado, as categorias de assimilação do consu- segmentos de consumidores e as pro-
o fato de haver uma tendência geral de mo consciente e os desejos do “cami- postas dos caminhos da sustentabili-
predominância dos desejos para o “ca- nho sustentável” é mais um indício de dade e do consumismo, a consistência
minho sustentável” (inclusive entre os que a categorização da consciência no da categorização feita pelo Akatu fica
consumidores que assimilaram menos consumo criada pelo Akatu é capaz de muito clara, conforme mostra o gráfico
o consumo consciente) indica que, mes- selecionar grupos de pessoas que, por 14, a seguir:

39
Gráfico 14: Desejos dos respondentes – Preferências por cada
“caminho”, agrupados por perfil de assimilação do consumo consciente

Média dos índices de preferência por cada “caminho”

O gráfico 14 evidencia a correlação aspiração dos diferentes segmentos apenas de “produtos substituíveis”,
direta entre uma maior assimilação de consumidores, conforme sua as- este último reconhecido como um
do consumo consciente e uma maior similação do consumo consciente. dos grandes problemas no campo
preferência pelas propostas do “ca- Aqui, os Indiferentes apresentam um da sustentabilidade. Nessa mesma
minho da sustentabilidade”. Mais índice de prioridade acima da média, inversão de prioridades, vemos que
do que isso, também mostra que representada pela linha tracejada “produtos duráveis” – uma impor-
– como mencionado acima e analo- (5,7 contra 4,9), ao mesmo em tempo tante aspiração para a sustenta-
gamente ao observado em relação que os Conscientes apresentam índi- bilidade – é a 11ª preferência dos
à classe D – mesmo as categorias ce bem abaixo (2,9). Conscientes, deixando abaixo de si
menos mobilizadas para o consumo Além dessas grandes diferenças nos outras cinco aspirações, todas do
consciente (como os Indiferentes e índices, chama atenção também a caminho da sociedade de consumo.
os Iniciantes) demonstram clara in- mudança de ordem nas prioridades: Ainda acerca do desejo de “ter seu
clinação à sustentabilidade. enquanto o índice dado pelos Indi- próprio carro” – aspiração em torno
As diferenças de perspectiva entre ferentes coloca o “carro próprio” na da qual vemos a maior discrepância
os grupos são bem ilustradas tam- 7ª posição (acima das aspirações no grau de prioridade dado pelo di-
bém pela região à direita do gráfico para “energia” e “resíduos”), para ferentes segmentos de consumido-
13, da 11ª à 16ª posição. Na 11ª posi- os Conscientes essa aspiração des- res – comentaremos, na próxima
ção (“carro próprio”), encontra-se a penca para a penúltima posição, seção, as indicações colocadas no
maior diferença entre os índices de junto com “dar presentes” e acima gráfico 13.

40
A influência do transporte cotidiano
na hierarquia de desejos

A mobilidade urbana é uma das faces é fortemente em favor da mobilidade de 8,7 e 2,8. É notável perceber, por
mais emblemáticas da sociedade de e em detrimento do desejo por um meio deste dado, como fica nu o para-
consumo e, também, um ponto em “carro próprio” (índices de 7,7 con- doxo da infestação das ruas brasilei-
evidência nos debates atuais sobre tra 5,3). Ou seja, a opção de usar um ras e mundiais por veículos grandes,
sustentabilidade. Por isso, além de carro para mobilidade no cotidiano é pesados, poluidores e disfuncionais,
incluirmos esta questão e a do au- pouco atraente mesmo para as pes- além de enormemente subutilizados
tomóvel de uso individual em nossa soas que não têm o “privilégio” do (dado o número de pessoas dentro de
priorização de desejos, fizemos algu- carro próprio e usam outros modais cada carro): quem usa regularmente o
mas perguntas adicionais, buscando para se deslocar no cotidiano (e que, carro próprio sente mais falta de mo-
compreender para quais soluções presumivelmente, estariam sedentas bilidade do que quem não o faz.
aponta o desejo dos consumidores, por tal conforto). Poderiam ser feitas Investigamos, também, se haveria
conforme sua situação cotidiana no inúmeras especulações sobre o moti- variação conforme o tempo gasto
tema transporte. vo dessa recusa (custo mais elevado, diariamente em deslocamentos. Ape-
Ao cruzar o tipo de transporte utili- dificuldades para guardar e manter o sar de parecer natural que pessoas
zado no cotidiano e a priorização dos carro), mas o fato é que se trata de gastando mais tempo teriam mais
desejos do consumidor, constatamos uma aspiração despriorizada. inclinação a desejar carro próprio, o
que há pouca diferença nessa hie- Já para a minoria que usa carro resultado revelou pouquíssima varia-
rarquia, com a previsível exceção, é próprio no cotidiano, a diferença ção, nem mesmo afetando a ordem
claro, do desejo de “ter meu próprio em favor da mobilidade é ainda de prioridades para quaisquer cate-
carro”. O resultado é revelador, maior: cai muito o desejo por ter gorias.
como mostram os pontos especial- carro (afinal, as pessoas já o têm) O perfil de transporte cotidiano do
mente incluídos no gráfico 13. e sobe o desejo por boa mobilidade público entrevistado é mostrado no
Para a maioria que não usa carro (que o carro não entrega). Os índices gráfico 15 , a seguir:
próprio no cotidiano (82%), a opção de prioridade são, respectivamente,

Gráfico 15: Modalidades de transporte habituais

Percentual de respondentes por segmento

Questões: Qual a forma que você se desloca habitualmente de segunda a sexta-feira, seja para trabalhar e/ou estudar e/ou passear?
Normalmente, quanto tempo por dia útil você gasta com o deslocamento – considerando ida e volta?
Respota Multipla

41
Concluindo, voltamos ao cerne das inflar aspirações e turbinar desejos, à as aspirações dos consumidores,
discussões desta seção – o consu- base de muita propaganda, da indús- e quanto à necessidade urgente de
mismo em conflito com as aspirações tria cultural e de outros incentivos ao construir um novo alinhamento coe-
dos consumidores – e lembramos que consumo inconsciente. rente com a felicidade sustentável.
o tema da mobilidade é um exemplo Cremos que o rico conjunto de dados Para entender esta relação, inves-
perfeito do que comentamos ini- analisado demonstra, com tranqui- tigamos também o que o brasileiro
cialmente: cada vez mais, o modelo lidade e firmeza, nossas afirmações entende por felicidade, como apre-
consumista trata não de satisfazer iniciais quanto à incongruência en- sentamos a seguir.
necessidades, mas de insuflar medos, tre o atual modelo de consumo e

O que faz o consumidor brasileiro feliz?

Buscando elementos para compreender cisões políticas e empresariais que, ao (27%) associou a realização como
melhor a relação entre as dimensões não encarar tal obviedade, reproduzem profissional ou estudante à sua
racionais e emocionais/subjetivas da os caminhos convencionais que trazem concepção de felicidade. Há, natural-
mobilização pelo consumo consciente progresso material a um custo cada vez mente, elementos que são lembrados
e pela sustentabilidade, foi feita aos mais intolerável em termos de concen- por porções menores da população,
entrevistados uma pergunta singela: tração de renda, perda de qualidade de os quais foram agrupados (27%) sob o
“Para você, o que é felicidade?” vida e degradação ambiental. título outros, dentro do qual se des-
Como em nossa pergunta sobre o en- Objetivamente, os resultados mos- tacam os temas “segurança/não ter
tendimento de sustentabilidade, as res- tram que há, entre os entrevistados, medo da violência” e “ter o que comer
postas não foram de múltipla escolha, um grande consenso sobre a relação todos os dias”, indicados, em média,
mas abertas: cada entrevistado falou entre saúde e felicidade: dois terços por 7% dos entrevistados.
livremente sobre a sua concepção de deles lembram que estar saudável e/ Buscamos em seguida responder à
felicidade. As respostas foram, então, ou ter uma família saudável é um ele- pergunta: a concepção de felicidade
analisadas e sistematizadas, identifi- mento necessário para a felicidade. varia conforme idade, classe social,
cando-se os vários textos-padrão pre- Há um grande consenso, também, em região, consciência no consumo e ou-
sentes nos conceitos de felicidade. relação à importância do convívio tros fatores?
Os resultados mostram que os entre- social: para 6 em cada 10 brasilei- As respostas apuradas foram estu-
vistados, espontaneamente, associam ros, conviver bem com a família e os dadas em detalhes pelo Akatu e seus
sua felicidade muito mais ao bem-es- amigos é lembrado como parte de sua parceiros, buscando padrões e correla-
tar físico e emocional e à convivência concepção de felicidade. Curiosamen- ções tanto dentro desta questão quanto
social do que aos aspectos financeiros te, esta proporção é praticamente o diante de outros dados da pesquisa.
e à posse de bens. Assim, para os bra- dobro daquela dos que se lembram do Surpreendentemente, não foram iden-
sileiros, ir ao encontro da felicidade, papel do dinheiro como componente tificadas tendências, com poucas ex-
atualmente, não é insuflar o consumo da sua felicidade: apenas 3 em cada ceções. E também foram muito poucas
mas, sim, ter saúde e prover condições 10 brasileiros incluíram a tranquili- as discrepâncias pontuais (um ou outro
para o verdadeiro bem-viver, com su- dade financeira em suas respostas segmento que se diferencia fortemente
ficiência material e com tempo para sobre o que é felicidade. Uma pro- da média, mas não chega a indicar al-
desfrutar a vida em companhia dos porção um pouco maior (36%) incluiu guma tendência).
amigos e familiares, num ambiente o bem-estar, associando felicidade Para eventual consulta, incluímos no
seguro e acolhedor. aos momentos felizes de desfrute da anexo 3 as tabelas com resultados ge-
Esta pode parecer uma conclusão óbvia, vida nas mais variadas formas, como rais da tabulação, e apresentamos aqui,
ou mesmo ingênua ou utópica. Mas, na música, esportes, atividades reli- como exemplo, as informações do grá-
efetivamente, o que temos visto no Bra- giosas, artísticas, românticas etc. Uma fico 16, a seguir, com as respostas des-
sil e na maior parte do mundo são de- proporção não muito inferior a essa dobradas conforme a idade do público:

42
Gráfico 16: Concepção de Felicidade
Respostas agrupadas por temas mencionados, segundo faixas etárias
Percentual de menção pelos respondentes

Realizado a partir de análise das respostas espontâneas à questão aberta


“Para você o que é Felicidade? O que mais?”

No gráfico, o percentual indica a proporção de consumidores que inclui um ou mais elementos de cada tema em sua con-
cepção de felicidade. Ou seja, não se trata de um ranking de importância, mas de uma indicação do grau de consenso sobre
a relação entre cada tema e a concepção de felicidade dos respondentes.
Sendo respostas a uma pergunta aberta, a ausência de menção a um tema pode ser tomada como indicação de que ele é
menos prioritário, mas também como percepção de que certas coisas essenciais “são dadas”: p. ex. o ar que se respira é
essencial à felicidade, mas nem por isso é muito lembrado. Já a menção a um tema é entendida como indicação de priori-
dade no momento da resposta: as pessoas se lembram de mencionar o que, para elas, é percebido como mais importante
de ser garantido ou conquistado atualmente.
Pensando no conjunto da sociedade, podemos considerar mais prioritários os itens de maior consenso, mesmo que tal
ordem de prioridades não se aplique individualmente aos respondentes.

43
Como se pode ver, salvo nas res- evidentemente, maiores preocupa- de consenso indicado pelas respos-
postas dos mais jovens (abaixo de ções nessa área e uma convivência tas acima não poderia ser tomado
25 anos), o cenário geral das várias mais frequente com situações nas como sinônimo de maior prioridade
faixas etárias é parecido, seja na or- quais se pode sentir ou observar os para os consumidores individual-
dem em que mais aparecem os ele- efeitos que a falta de saúde pode mente. Isto é realmente válido. Po-
mentos que compõem a felicidade, trazer ao bem-estar dos indivíduos rém, lembramos que o fato de serem
seja no percentual de integrantes de e famílias. Decorrente dessa situa- respostas a uma pergunta aberta
cada faixa que menciona cada tema. ção, identifica-se, entre os mais jo- permite considerar a menção ao
Saúde é um tema que se destaca não vens, uma inversão de prioridades, tema como uma indicação de prio-
só por ser o mais lembrado pela mé- sendo o “convívio com os amigos e ridade dos respondentes: as pesso-
dia da população (66%), mas, tam- a família” o assunto mais lembrado. as se lembram de mencionar o que,
bém, pela clara correlação das res- Algo análogo ocorre em relação à para elas, é de fato mais importante.
postas com as faixas etárias, sendo “realização como profissional ou es- Logo, a ausência de menção a um
tão mais mencionado quanto maior tudante”, que, para os mais jovens, tema pode ser tomada como indica-
a idade dos respondentes. Essa me- se equipara ou mesmo ultrapassa o ção de que tal assunto é menos prio-
nor preocupação com o tema entre tema do Dinheiro como componente ritário para uma grande parte dos
os mais jovens parece natural, vis- da felicidade. respondentes e vice-versa.
to que o maior tempo de vida traz, Já mencionamos que o elevado grau

Com relação a outras segmentações, de informações coletadas deve con- de estudiosos, o Akatu está progra-
como dissemos, não foram detec- ter insumos para mais conclusões, mando uma segunda rodada de aná-
tadas variações significativas das desde que examinadas com um me- lise dos dados coletados, a ser divul-
respostas, seja pela idade, classe lhor instrumental metodológico e gada posteriormente, incluindo, por
social, região ou consciência no teórico. Tendo em conta que as mo- exemplo, um diálogo com os referen-
consumo, indicando um cenário tivações para o consumo e as ques- ciais teóricos propostos por Manfred
de grande homogeneidade no País tões da felicidade, do bem-estar ou Max-Neef e por Amartya Sen, ambos
quando se trata de uma discussão da satisfação de necessidades e as- citados por Ricardo Abramovay em
conceitual sobre felicidade. pirações têm sido – cada vez mais seu recente livro Muito além da eco-
Acreditamos, porém, que a riqueza frequentemente – objeto de atenção nomia verde 21.

CONCLUSÕES
Uma mensagem para as empresas

Os achados desta pesquisa sobre a da lógica consumista insustentável um papel fundamental no processo.
assimilação do consumo consciente, e migrem para a satisfação das re- Diante do conjunto de informações e
o entendimento do termo sustenta- ais aspirações, crescendo pela via observações trazido, cabe destacar
bilidade, os desejos e a felicidade da “inclusão social sustentável” em alguns pontos.
mostram claramente que o consu- vez do “consumismo excludente e in- Um deles é a notável consistência
midor aspira a algo bem diferente sustentável”? Certamente há papéis da relação entre maior afluência
do que o consumismo tem propos- fundamentais a serem desempenha- e maior tendência a valorizar as
to. Qual o papel das empresas em dos por diversos atores sociais, como promessas da sustentabilidade em
atender a essas aspirações? O que consumidores e governos. Mas, tam- detrimento das promessas da socie-
é preciso fazer para que elas saiam bém, é certo que as empresas têm dade de consumo. Apesar de serem

21
ABRAMOVAY, Ricardo. Muito além da economia verde. São Paulo: Abril, 2012.

44
metodologias completamente dife- apenas mostram diferenças de ênfa- gruência entre a priorização de de-
rentes, tanto a categorização por grau se ou intensidade dessa tendência. sejos e as concepções de felicidade,
de assimilação do consumo conscien- Isso fica claro ao lembrarmos que a que observamos na sessão anterior.
te (mostrada na seção inicial deste primeira metodologia mostra que há Em ambos os casos, a importância
relatório) quanto a priorização de presença expressiva de todas as clas- da saúde emerge com grande força22,
desejos (examinada agora) revelam ses nos grupos de maior assimilação seguida de outros elementos funda-
tal relação. É importante lembrar que do consumo consciente, e que a se- mentais para a qualidade de vida,
ambas indicam também, por outro gunda metodologia mostra uma prio- como tempo para desfrutar os rela-
lado, que não se trata de condições rização geral, por todas as classes, cionamentos, dedicar-se ao lazer e
que afastam da sustentabilidade as das promessas da sustentabilidade. à cultura, cuidar do próprio corpo e
classes de menor renda, mas que Outro ponto que destacamos é a con- outros aspectos.

Acreditamos que as análises e da- com seus potenciais clientes. O mes- sibilidade deste relatório. Mas, de
dos apresentados aqui são claros e mo se pode dizer sobre o discurso de qualquer forma, acreditamos trazer à
falam por si mesmos. Por isso, não algumas “celebridades” ou forma- tona fatos que podem ter grande re-
iremos repeti-los, transformando dores de opinião que, com cada vez levância no direcionamento das es-
esta conclusão em um resumo do mais frequência, têm apelado para tratégias de empresas e lideranças
trabalho apresentado. Vamos direta- bordões do tipo: “hoje, luxo é ter sociais e políticas – capazes de per-
mente ao que percebemos como pro- tempo, silêncio e vida saudável”. Por ceber o valor desses aspectos como
postas e consequências necessárias superficiais ou manipuladoras que pontos de apoio para as necessárias
dos raciocínios, dados e questões possam parecer essas manifesta- transformações e de usá-los para re-
que expusemos. ções, cremos que elas podem indicar forçar suas motivações e argumen-
Com relação à questão da felicidade, o avanço de uma contranarrativa tos na construção de um futuro mais
fica evidente que grande parte da do consumismo, a qual, de dentro sustentável, que já começou.
sociedade brasileira já compartilha, do discurso e da lógica consu- Buscando colaborar na construção
mesmo que de forma difusa e pouco mista em vigor, tenta se conectar dessa ponte entre as esferas da
consciente, a narrativa de que, uma à emergência de aspirações que produção e do consumo, trazendo
vez satisfeitas as necessidades bási- apontam como objetivos princi- um olhar inovador, construtivo e, ao
cas, a busca da felicidade precisaria pais a saúde e o desfrute de uma mesmo tempo, instigante e desa-
tomar o caminho da sustentabilidade vida com qualidade23. fiador, o Akatu elaborou um “decá-
e não o do consumismo. Saber se estamos vendo os indícios logo”, com diretrizes e tendências
Tanto isso é verdade que vemos cada da conformação de uma sociedade que, seguidas, certamente ajudarão
vez mais campanhas publicitárias pós-consumista ou se trata-se ape- empresas, consumidores e outros
buscando se conectar com essa mes- nas da incorporação de mais um mo- atores sociais a avançarem com
ma narrativa como forma de reforçar dismo pelo sistema em vigor é algo mais firmeza e segurança sobre esse
a identidade de uma dada empresa que vai além do horizonte e da pos- terreno ainda pouco conhecido.

22
A saúde já foi mencionada como elemento essencial para a construção da felicidade e do bem-estar em outros conteúdos do Akatu e em trabalhos que contaram com a partici-
pação do Instituto. Para uma amostra desses conteúdos, consultar: INSTITUTO AKATU. Pesquisa 7: Como e por que os brasileiros praticam o consumo consciente? Disponível em:
http://bit.ly/WRPRVi. UNEP. Visions For Change - Recommendations for Effective Policies on Sustainable Lifestyles. Disponível em: http://bit.ly/YyOHS1.
23
Este aspecto também é analisado por Domenico De Masi e Zygmunt Bauman em suas obras: BAUMAN, Zygmunt. Vida para o consumo: a transformação das
pessoas em mercadorias. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. DE MASI, Domenico. O ócio criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2001.

45
Dez Novos Caminhos para a Produção Responsável e o Consumo Consciente
Pensando em um novo modelo de consumo que inspire oportunidades de negócios social e ambien-
talmente mais sustentáveis e ainda atenda o bem-estar de toda a humanidade, com a maior eficiência
possível no uso dos recursos naturais, com uma rentabilidade justa no uso do capital, visando a uma
sociedade com maior equidade e justiça, o Akatu promove e mobiliza a sociedade em favor de uma pro-
dução e um consumo que valorizem:

1. os produtos duráveis mais do que os descartáveis ou de obsolescência acelerada.


2. a produção e o desenvolvimento local mais do que a produção global.
3. o uso compartilhado de produtos mais do que a posse e o uso individual.
4. a produção, os produtos e os serviços social e ambientalmente mais sustentáveis.
5. as opções virtuais mais do que as opções materiais.
6. o não-desperdício dos alimentos e produtos, promovendo o seu
aproveitamento integral e o prolongamento da sua vida útil.
7. a satisfação pelo uso dos produtos e não pela compra em excesso.
8. os produtos e as escolhas mais saudáveis.
9. as emoções, as ideias e as experiências mais do que os produtos materiais.
10. a cooperação mais do que a competição.

Gráfico 17: Desejos dos respondentes


Preferências por cada “caminho”, agrupadas por classe social

Média dos índices de preferência por cada “caminho”

sustentável

consumo

46
O gráfico sintetiza os dados 1. Em todas as classes sociais, a preferência média pelas aspirações
coletados em sua relação representativas do “caminho sustentável” é significativamente maior
com as classes sociais e deixa que a dada ao “caminho consumista”.
evidentes dois aspectos centrais: 2. Existe uma relação direta entre classe social e a maior priorização das
aspirações representativas do “caminho sustentável”: quanto mais alta
a classe, maior a distância das aspirações sustentáveis sobre as consumistas.
Visto isoladamente, este fato poderia ser interpretado como evidência de
que “sustentabilidade é para ricos”. Mas, à luz dos demais dados coletados,
vemos que é como se, tendo menos, as classes mais pobres, apesar de pre-
ferirem as opções sustentáveis, indicassem o desejo premente de suprir suas
necessidades tanto por um modelo quanto por outro. À medida que aumenta
a classe social, a preferência pelas opções sustentáveis passa a ser mais
fortemente expressada.

O fato de haver uma tendência ge- de consumo, mais profunda é a per- mais ainda um modelo esgotado, in-
ral de predominância dos desejos do cepção do descompasso entre as op- sustentável e conflitante com as as-
“caminho sustentável” pode ser en- ções sustentáveis e as consumistas. pirações profundas dos consumidores
tendido como um sinal de que há um Isso leva a crer que essa é uma ten- e com suas concepções de felicidade.
potencial latente para adesão maior dência que aumentará à medida que É importante refletir sobre a possibili-
às propostas do consumo consciente o ingresso de mais pessoas na clas- dade de ir ao encontro desse desejo,
e aos valores da sustentabilidade. se média cresça e que a distribuição dessa tendência emergente, fomen-
Como mobilizar esse potencial la- de renda melhore. tando e acelerando o trajeto rumo
tente é uma das perguntas que está Saber que o potencial de adesão ao a uma sociedade mais sustentável
sendo respondida pelo trabalho em- consumo consciente e à sustentabili- e, assim, capaz também de incluir
pírico do Akatu e de outras organiza- dade já se expressa nos desejos dos os bilhões de seres humanos ainda
ções, além de diversos estudos te- consumidores é um sinal de alerta privados das condições básicas para
óricos que não serão aqui tratados. para empresas e lideranças em geral, promovam bem-estar e segurança
A pesquisa indica que quanto maior que deveriam avaliar mais profunda- material.
o acesso dos consumidores aos bens mente suas estratégias de explorar Essa reflexão vale o nosso futuro.

47
48
2. TEMPOS DE TRANSPARÊNCIA: A RESPONSABILIDADE SOCIAL
DAS EMPRESAS FRENTE AO CONSUMIDOR BEM INFORMADO

Um dos mais importantes motores tão bem quanto possível. ambas as agendas.
do movimento pela Responsabilidade Esse é o objetivo desta segunda par- Iniciamos nosso relato focalizando a
Social Empresarial (RSE) é a noção de te da publicação, em que focaliza- relação do consumidor com os meios
que existe um significativo e crescente mos a percepção e a avaliação dos de comunicação e com o debate pú-
escrutínio do público sobre o que fa- consumidores sobre a RSE tanto em blico sobre RSE, buscando compre-
zem (ou deixam de fazer) as empresas. termos conceituais como em termos ender posicionamentos que pautam
A atenção dada a uma empresa pelos concretos, abordando suas expecta- as discussões nesse campo. Em se-
vários públicos de seu interesse é um tivas quanto à responsabilidade das guida, investigamos três aspectos: a
fator crítico na formulação de suas empresas no campo socioambiental e percepção dos consumidores sobre as
estratégias e na avaliação de seu va- no ambiente de negócios, e sua visão responsabilidades das empresas, em
lor de mercado. A reputação e outros sobre práticas emblemáticas de ges- termos conceituais e práticos, suas
ativos intangíveis são altamente re- tão neste tema. declarações sobre o que influencia
levantes nesse cenário e podem ser Ao fazer essa análise, estabelecemos suas decisões de compra e as opiniões
afetados pela opinião pública em geral algumas relações com a primeira par- que externam sobre as empresas. Fi-
ou por públicos específicos, como in- te da publicação, avançando na com- nalmente, como parte da colaboração
vestidores, ONGs, empregados, consu- preensão conjunta desses dois movi- com o The Choices Project, apresen-
midores, fornecedores, dentre outros. mentos – consumo consciente e RSE tamos uma série de questões sobre
Por isso, é cada vez mais crítico mo- – e buscando construir evidências como o consumidor vê o papel do
nitorar expectativas e interesses dos da conexão entre ambos, potenciali- governo na interface entre consumo,
cidadãos/consumidores com relação zando as motivações e a capacidade Responsabilidade Social Empresarial
às empresas, buscando conhecê-los de transformação e mobilização de e sustentabilidade.

SUMÁRIO EXECUTIVO

Nesta seção, apresentamos sequen- alizações, reflexões ou arrazoados. não obstante, recomendamos forte-
cialmente os principais pontos da Esses elementos, se desejados, mente a leitura deste sumário exe-
parte 2 desta publicação, de forma encontram-se ao longo das seções cutivo juntamente com a seção de
sintética e factual, deliberadamente aqui resumidas. Destacamos tam- conclusões desta parte da pesquisa,
não incluindo quaisquer contextu- bém aqui algumas conclusões, mas, ao final.

Informação e credibilidade: • Jornais e noticiários na televisão continuam sendo a principal fonte


o que interessa ao consumidor de informação da maioria dos consumidores, ao mesmo tempo em que
e em quem ele acredita se nota uma crescente importância das fontes baseadas na Internet.
A credibilidade dessas novas fontes, porém, permanece bem mais baixa
que a de outras, mais tradicionais.
• O interesse por RSE cresceu, assim como por Sustentabilidade, colocando
esses temas no mesmo nível que outros temas mais tradicionais, como Política
e Empresas/Negócios. No mesmo período, possivelmente pela “intercambiali-
dade” entre os termos, diminuiu o interesse por Ecologia/Meio Ambiente.
• Dos 35% de entrevistados que declararam buscar informações sobre Respon-
sabilidade Social e Ambiental, uma expressiva maioria vê as ONGs e associa-
ções de defesa do consumidor, lado a lado com a própria empresa como fontes
mais confiáveis sobre o comportamento social e ambiental das empresas.

49
• Ao mesmo tempo, de 2010 para 2012, aumentou entre os consumidores
em geral o ceticismo em relação ao que as empresas divulgam em termos
de suas práticas de Responsabilidade Social e Ambiental.
• Nesse mesmo período, o acesso à internet aumentou fortemente, sendo
esperado que a continuidade dessa expansão esteja associada à maior bus-
ca de informações sobre RSE, visto que, dentre o grupo que mais busca tais
informações, 71% têm acesso à rede contra 53% dentre os consumidores
que não procuram se informar sobre o tema.
• O contingente de consumidores conectados ao debate público sobre RSE
e/ou sustentabilidade permaneceu estável, sendo aproximadamente 50%
do total. Dentre estes, o envolvimento tornou-se mais ativo, indo além da
busca por informações.
• A conexão com esse debate varia de forma proporcional à classe social,
sendo maior nas classes mais altas e variando de 63% na classe A a 44%
na classe D. Sudeste e Norte/Centro-Oeste são as regiões mais conectadas;
Sul é a região menos conectada. Não há tendências de oscilações significa-
tivas em relação a outras variáveis e segmentos.
• Na atuação como Influenciadores no debate público sobre RSE e susten-
tabilidade, os consumidores “mais conscientes” são três vezes mais ativos
do que os “menos conscientes”. São, também, muito mais conectados com
esse debate: 70% contra 42%.

Percepção sobre • Uma parte importante dos consumidores (29% a 41%) reconhece 6 dos 7
Responsabilidade temas centrais definidos pela Norma Internacional de Responsabilidade So-
Social Empresarial cial - ISO 26000 como sendo parte da RSE. A exceção é o tema Governança
organizacional, reconhecido por apenas 12%.
• Dentre aqueles consumidores que buscam informação sobre RSE, esses
percentuais são bem mais altos: de 36% a 52% para os 6 temas mais
reconhecidos, e 21% para Governança organizacional. Os temas em que há
maior diferença entre os dois grupos são Direitos humanos e Práticas leais
de operação (comportamento ético).
• Apesar desse amplo reconhecimento coletivo, no nível individual a situa-
ção é menos animadora: 69% dos consumidores reconhecem, no máximo, 2
temas centrais. Apenas 6% reconhecem pelo menos 5 dos 7 temas centrais.
• Conforme os segmentos de consumidores, há fortes variações na ampli-
tude dessa percepção, destacando-se a percepção mais ampla pelos consu-
midores da região Sul e/ou da classe A e/ou dos segmentos Consciente em
termos de consumo e/ou Influenciador no debate público sobre RSE.
• A maioria dos consumidores (53%) concorda que as empresas devem ir
além do que é exigido pelas leis, buscando gerar mais benefícios para a
sociedade. Outros 28% acreditam que elas devem fazer isso, mas apenas
na medida em que também lhes traga vantagens para seus clientes.
Apenas 13% acreditam que as empresas devem se limitar a fazer apenas
o que a lei as obriga.
• A percepção subjetiva dos consumidores é que há três grandes responsá-
veis por preservar o meio ambiente e solucionar problemas sociais, nessa
ordem: os Países ricos, as Empresas multinacionais e as Organizações inter-
nacionais. Mas outros atores também são fortemente responsabilizados.

50
Práticas de RSE: prioridades • Diante de um conjunto de 18 práticas emblemáticas da RSE, os consu-
do consumidor midores, em média, conferem a todas uma importância bastante alta ao
dar “notas” 1, 2 e 3: nenhuma fica abaixo do nível “importante” (nota 2) e
quatro se destacam pela proximidade ao nível “muito importante” (nota 3).
• As práticas mais priorizadas são relacionadas ao cuidado com os em-
pregados e à inclusão social, mas também há, no alto da agenda, práticas
relacionadas ao meio ambiente, à relação com consumidores e à educação
deles sobre os impactos do consumo.
• A posição relativa dessas práticas permanece praticamente a mesma de
2010, exceto pela “Adoção de práticas anticorrupção e antipropina”, que
subiu cinco posições no ranking.
• As duas práticas que mais negativamente impactam a disposição do con-
sumidor para comprar produtos de uma empresa ou falar bem dela continu-
am as mesmas de 2010: “Fazer propaganda enganosa” e “Ter produtos que
podem causar danos à integridade física dos seus consumidores”.
• “Praticar discriminação entre funcionários” e “Gerar impactos sociais ou
ambientais negativos” vêm em seguida, no ranking, de maiores impactos
negativos sobre a disposição declarada pelo consumidor.
• Pelo lado positivo, cinco aspectos se destacam como motivadores de
preferência ou admiração: “Não maltratar animais”, “Ter boas relações com
a comunidade”, “Ter selos de proteção ambiental”, “Ajudar na redução do
consumo de energia” e “Ter selo de garantia de boas condições de traba-
lho”.
• Alguns mitos sobre consumo e sustentabilidade persistem, associados a
uma percepção do consumidor ainda focalizada mais na quantidade do que
na qualidade: a maioria acredita que “Consumir de maneira consciente é
consumir o mínimo possível” e que “Consumir produtos sustentáveis é mais
caro”, fora de seu orçamento.

O Governo e seu papel • Há grande concordância que o governo deveria adotar práticas de compra
favoráveis à RSE e à sustentabilidade, e também que deveria obrigar as
empresas a fornecer informações sobre os impactos ambientais e sociais
provocados pelas suas operações.
• Os consumidores desejam ser consultados sobre os critérios de compra
utilizados pelos governos e tendem a apontar, para esse fim, os mesmos cri-
térios de RSE e sustentabilidade que priorizaram em suas compras pessoais.
• Ao mesmo tempo, tendem também a incluir dentre esses critérios aspec-
tos como “o produto ser brasileiro” e “o produto ser orgânico”, que foram
menos priorizados em suas escolhas pessoais.
• Finalmente, indagados sobre quem deveria influenciar as decisões de
compra do governo, os consumidores apontam massivamente Os cidadãos
em primeiro lugar, com larga margem. Em seguida, vêm os mandatários
públicos eleitos (presidente e ministros).
• ONGs e outras organizações da sociedade civil (empresarial e não empre-
sarial) vêm depois em termos de importância para influenciar as decisões
de compra do governo, configurando certo ceticismo na atual efetividade
em sua ação de pressão junto à esfera pública. Órgãos reguladores exter-
nos vêm em um distante último lugar.

51
Dentre as conclusões, • É notável a grande relação entre maior assimilação do consumo cons-
destacamos: ciente e maior proatividade no debate público sobre RSE, o que, entre
outras coisas, reforça tanto a conexão entre essas duas importantes áreas
de aplicação prática do conceito de sustentabilidade quanto a consistência
da metodologia criada e utilizada pelo Akatu.
• Mesmo ainda não sendo objeto de interesse da maioria, a RSE vem
despertando a atenção de uma proporção crescente de consumidores e,
combinada com as questões da sustentabilidade e do meio ambiente, vem
sendo cada vez mais objeto do debate público. A expansão do acesso à
internet está intimamente ligada a esse cenário, possibilitando que mais e
mais cidadãos obtenham informações sobre fatos envolvendo as empresas
de seu interesse e ao debate sobre estes acontecimentos.
• O fato de que aproximadamente um terço dos consumidores revela-se
capaz de perceber as múltiplas dimensões da RSE traz para as empresas
brasileiras a certeza de que sua atuação não passará despercebida em cam-
pos tão diversos como as relações com empregados e consumidores, com
as comunidades impactadas por suas atividades e com os direitos humanos,
a ética e o meio ambiente.
• Detectamos também maior ceticismo do consumidor quanto ao que as
empresas comunicam nessas áreas, junto com maior demanda para que re-
gulações externas, legais, imponham sobre elas o cuidado com sua respon-
sabilidade social. Essa tendência parece ser uma decorrência indesejada
do uso excessivo e descuidado dos conceitos de sustentabilidade e respon-
sabilidade social como eixos de comunicação e marketing, especialmente
por marcas que os utilizam apenas como discurso, com pouco ou nenhum
respaldo objetivo.
• A propaganda enganosa permanece como um dos maiores pecados que
uma empresa pode cometer junto aos consumidores, e isso se aplica não
só aos seus produtos, como também à imagem que apresenta ao público,
inclusive no que diz respeito à responsabilidade social e à sustentabilidade.
O uso descuidado desses termos os desgasta e passa a ter efeito inverso,
transformando-os em lugar-comum, mesmo quando utilizados por empresas
que tenham ações concretas para respaldá-los.
• A responsabilidade social – mais do que erguida como bandeira de comu-
nicação e marketing – deve ser traduzida na adoção de práticas e políticas
Em síntese, sustentabilidade e res-
conceitualmente consistentes, concretas e ancoradas em relações sólidas
ponsabilidade social continuam sen-
e transparentes com as partes interessadas. Só com essa base real pode fa-
do pilares fundamentais para apoiar
zer sentido que a comunicação corporativa aproprie-se dela e, com o devido
a transição civilizatória em que es-
cuidado, dê visibilidade ao que, de fato, se faz.
tamos todos envolvidos, e, portanto,
devem ser preservados e utilizados • Portanto, na comunicação da empresa com o público, a recomendação
apropriadamente. Não podem ser é focalizar-se em mostrar como a marca, produto ou serviço contribuiu, de
máscaras, mas precisam ser a es- fato, para as “aspirações sustentáveis” do consumidor (veja parte 1 desta
trutura que dá forma e solidez ao publicação), mas sem adjetivá-los como “sustentáveis”, “responsáveis” ou
conjunto. termos no gênero.

52
INFORMAÇÃO E CREDIBILIDADE: O QUE INTERESSA
AO CONSUMIDOR E EM QUEM ELE ACREDITA

Onde e como se informa o


consumidor?

Antes de entrar na discussão espe- traçar um panorama geral de onde e zam para se informar sobre os temas
cífica sobre a percepção do consu- como se informa esse público, e qual de seu interesse e qual a credibili-
midor brasileiro sobre a Responsa- a credibilidade que dá às diferentes dade atribuída a cada uma delas.
bilidade Social Empresarial (RSE) fontes. Assim, perguntamos aos en- Os resultados são mostrados a seguir:
e temas correlatos, é importante trevistados quais fontes mais utili-

Gráfico 18 A: Fontes de informação sobre Gráfico 18 B: Grau de confiança nas


Responsabilidade Social Empresarial fontes de informação

Percentual de respondentes por opção Percentual de respondentes por opção

Questões: Qual sua principal fonte de informação sobre os temas de seu interesse?
Que outras fontes de informação sobre esses temas você utiliza? Mais alguma?

53
Como se vê no gráfico, os Jornais/no- dicionais e assumir uma posição de em outras pesquisas ou, pelo menos,
ticiários de televisão continuam sen- grande destaque. intuída por muitos: a ampliação do
do, por larga margem, as fontes mais É importante notar, porém, que essa uso da internet como fonte de infor-
utilizadas pelo conjunto dos consu- maior presença e popularidade da mação vem acompanhando a forte e
midores brasileiros, seguidos pelos internet não está proporcionalmen- rápida ampliação do acesso à rede,
tradicionais Jornais em papel, pelas te acompanhada de credibilidade, que saltou de 45% dos consumidores
informações de Amigos e parentes e como evidencia a diferença entre a em 2010, para 60% em 2012 – entre
pelos Programas de atualidades na nota média de credibilidade dada aos estes, 75% têm sua residência como
TV. Há, entretanto, uma importante Sites de notícias gerais na internet principal local de acesso. Em outras
novidade, que é o rapidíssimo avanço (com 50% de notas abaixo de 6) e, por palavras, os dados revelam que prati-
das fontes relacionadas à internet, exemplo, os Jornais/noticiários de TV camente a metade dos consumidores
como os Sites de notícias gerais e as e Jornais em papel, para os quais o brasileiros já pode acessar essa mídia
Redes sociais que foram menciona- índice de notas abaixo de 6 é de ape- potencialmente revolucionária com
das por 28% e 23% dos consumido- nas 19% e 22%, respectivamente). grande autonomia, sem depender de
res em 2012, contra 19% e 10% em Chama atenção, ainda, o fato de que terceiros e, portanto, com maior dis-
2010, respectivamente. Mesmo ainda Amigos e parentes, uma fonte men- ponibilidade de tempo de acesso (21
não ameaçando a hegemonia das no- cionada por pouco mais de um terço horas por semana, em média).
tícias na televisão, já se vê a inter- dos consumidores, são tidos como a Como veremos mais adiante, há uma
net com uma presença mais próxima fonte de maior credibilidade pelos significativa correlação entre acesso
das fontes tradicionais e avançando que a utilizam. e atividade na internet e interesse
num ritmo que a levará, ao que tudo Os dados pesquisados confirmam por RSE por parte dos cidadãos/con-
indica, a ultrapassar as mídias tra- também uma tendência detectada sumidores.

54
O interesse por RSE e sustentabilidade

O passo seguinte no estudo da per- com outros temas. Para isso, foram que trata dos temas de interesse dos
cepção da RSE pelo consumidor utilizadas as mesmas perguntas re- consumidores e do seu grau de in-
brasileiro foi compreender o nível alizadas em 2010 24, permitindo uma teresse por cada um deles. Destaca-
de interesse por esse tema, tanto comparação direta dos resultados, mos, aqui, as variações em relação
isoladamente como em comparação como mostra o gráfico 19, seguinte, aos dados da Pesquisa Akatu 2010.

Gráfico 19 A: Interesse por temas do Gráfico 19 B: Grau de interesse pelos


debate público (2010 e 2012) temas (2010 e 2012)

Percentual de respondentes por opção Percentual de respondentes por opção

Questão: Em quais destes temas você costuma ter interesse?


Questão: Quanto cada um dos temas interessa a você?

24
Devido à mudança na metodologia e formulação das perguntas ao longo do tempo, as comparações diretas serão feitas apenas
com relação aos dados de 2010. Eventuais referências a anos anteriores serão feitas como comentários à parte.

55
Como se vê, os 2 únicos temas que É interessante notar que, dentre Já a intensidade de interesse pelo
tiveram expressivo crescimento no todos os temas pesquisados, esses tema Responsabilidade Social Em-
nível de interesse do consumidor fo- foram os únicos que apresentaram presarial apresentou um decréscimo:
ram exatamente a Responsabilidade oscilações importantes. É muito o índice de “muito interesse” caiu de
Social Empresarial e a Sustentabili- possível que o aumento de interes- 48% em 2010 para 41% em 2012,
dade. Em 2010, ambos estavam num se nesses temas seja um reflexo numa oscilação sem causa aparente,
patamar inferior a todos os demais da Conferência das Nações Unidas mas que, combinada com os dados
e, em 2012, subiram para o mesmo sobre Desenvolvimento Sustentá- acerca da credibilidade das empre-
nível de temas tradicionais, como vel, a Rio+20, ocorrida em junho de sas, que exporemos mais adiante,
Empresas/negócios e Política. Nota- 2012 (poucos meses antes da cole- pode ser um sintoma de maior ce-
-se, ao mesmo tempo, uma queda ta de dados para esta pesquisa), e ticismo do consumidor com relação
no percentual de interessados em que colocou esses temas em grande às ações de RSE. Algo análogo pode
Ecologia/meio ambiente. Mas tendo evidência. Essa também pode ser a ter ocorrido com o tema Política, em
em vista que, para grande parte do razão para o aumento na intensidade relação ao qual o índice de “muito
público esse é um tema “intercam- do interesse pelo tema Sustentabili- interesse” caiu de 50% para 34%
biável” com Sustentabilidade, como dade, que também aumentou, como no mesmo período. O fato de 2010
mostrado anteriormente, pode-se se vê pelo crescimento no percentu- ter sido um ano de eleições presi-
considerar que tal queda evidencia al de interessados que declarou se denciais também pode ter contri-
não uma perda de interesse, mas “interessar muito” pelo tema (52% buído, naquele ano, para um maior
uma mudança na terminologia. em 2012, contra 41% em 2010). interesse no tema.

Além do interesse sobre cada tema, em buscar informações sobre eles. Por e expressa de forma ligeiramente di-
outro importante indicador para a ava- essa metodologia, o percentual do pú- ferente, como mostra o gráfico 20,
liação de como está sua relevância na blico que busca se informar sobre RSE sobre a busca de informações sobre
agenda dos brasileiros é a disposição permaneceu praticamente estável: Responsabilidade Social e Ambiental.
do público para buscar informações 14% em 2010 e 15% em 2012, cor- Ao lado desse gráfico, apresentamos
sobre tais assuntos. Para isso, foram respondendo, respectivamente, a 75% também a credibilidade de cada uma
consideradas duas abordagens dis- dos 18% que declararam ter interesse das fontes no que diz respeito especi-
tintas. Na primeira delas, logo em no tema, em 2010, e a 61% dos 25% ficamente ao comportamento social e
seguida à pergunta sobre cada um que assim responderam, em 2012. ambiental das empresas sob o ponto
dos temas de interesse e o grau de Entretanto, nota-se uma diferença de vista do público que, ativamente,
interesse nos mesmos, indagamos se expressiva quando os consumidores busca informações sobre tal compor-
o entrevistado também tinha interesse respondem a uma pergunta isolada tamento.

56
GRAFICO 20 B: Fontes de informação mais
confiáveis sobre comportamento social e
ambiental das empresas - apenas dentre
GRAFICO 20 A: Busca por informações sobre os que responderam costumar buscar
Responsabilidade Social e Ambiental informações sobre o tema

Percentual de respondentes por opção Percentual de respondentes por opção

(xx) = dado de 2010 (% por faixa)

Questão A: Você costuma buscar informações sobre responsabilidade social e ambiental?


Questão B: Para você, quais são as três fontes de informação mais confiáveis sobre o
comportamento social e ambiental das empresas?

Como se vê no gráfico 20, ao falarmos, informações sobre o tema. fontes mais confiáveis.
em termos mais genéricos, sobre o Esse grupo, como também mostra o Esse quadro de credibilidade, en-
tema Responsabilidade Social e Am- gráfico 20, considera as ONGs e as tretanto, muda de forma importante
biental (em vez de usar o jargão Res- associações de defesa do consumi- quando ouvimos o conjunto dos con-
ponsabilidade Social Empresarial) o dor (63%), além da própria empresa sumidores pesquisados e não apenas
percentual de interessados em buscar (58%), como duas das três fontes mais os que declaram buscar informações
informações mais do que dobra, pas- confiáveis de informações sobre o sobre Responsabilidade Social e Am-
sando a 35% dos entrevistados. Essa comportamento social e ambiental das biental e estão atentos ao comporta-
resposta revela que não apenas houve empresas. A imprensa, as associações mento socioambiental das empresas.
um crescimento nos interessados es- empresariais e os comentários de ou- No conjunto dos consumidores, há
pecificamente em RSE (como visto no tras pessoas na internet ficam num um importante e crescente ceticismo
gráfico 19, sobre temas de interesse), segundo grupo, somando, respectiva- em relação ao que as empresas divul-
mas que o expressivo contingente de 1 mente, menções de 41%, 37% e 34% gam sobre si mesmas, como mostra o
em cada 3 brasileiros costuma buscar dentre as três primeiras menções a gráfico 21, que segue:

57
Gráfico 21: Confiança na comunicação realizada pelas empresas (2010 e 2012)

Percentual de respondentes por opção

Base: 800 respondentes

Questão: Você acredita que as empresas realmente fazem aquilo que divulgam
em termos de responsabilidade social e ambiental?

Como se vê pelo gráfico, nos últimos “sustentável”, “socialmente respon- que o consumidor saberá identificar
dois anos ocorreu um encolhimento sável” e similares. Repetindo uma o que tem mais ou menos relevância
de 13% para 8% no grupo que tende situação que não é nova, vemos o des- para sua agenda, reconhecendo, as-
a acreditar incondicionalmente no gaste de um termo técnico que, grada- sim, as empresas e marcas mais ali-
que comunicam as empresas, acom- tivamente, perde seu valor para o pú- nhadas com suas aspirações.
panhado de um aumento do mesmo blico, passando a ser visto mais como Finalmente, como último comentário
tamanho no grupo descrente (de 44% uma “maquiagem verde” por parte de sobre o perfil do consumidor interes-
para 49%). O contingente que condi- empresas que mudam apenas na su- sado em buscar informações sobre
ciona sua credulidade à fonte de onde perfície, mas desejam ser vistas pela Responsabilidade Social e Ambien-
provêm as informações permanece em opinião pública como profundamente tal, cabe lembrar que, repetindo o já
40%, mas com um tom mais cético em transformadoras. observado em 2010, há entre eles um
relação às empresas, à medida que Interpretamos essa situação como um alto percentual com acesso à internet
também cai o percentual que associa alerta para que as empresas e as lide- (71%), o qual é bem maior do que en-
sua credulidade à empresa emitente ranças genuinamente comprometidas tre os consumidores que não buscam
da informação: de 32% em 2010 para com a sustentabilidade focalizem sua tais informações (53%). Esse fato nos
28% em 2012. comunicação mais nas contribuições permite supor que haja, dentre os con-
Apesar de não termos evidências ex- substantivas que suas práticas podem sumidores ativos na internet, um per-
plícitas, nos parece razoável supor que trazer para a comunidade e o meio am- centual maior de interessados na res-
essa combinação de maior interesse biente do que em seus investimentos ponsabilidade social das empresas e,
no tema e maior ceticismo sobre a ou compromissos genericamente cate- presumivelmente, mais atentos para
comunicação emitida pelas empresas gorizados como “em prol da sustenta- detectar os comportamentos positivos
tenha a ver com o uso excessivo e bilidade”. Como concluímos na parte 1 ou negativos das mesmas e comparti-
inconsistente de qualificativos como desta publicação, é razoável acreditar lhar as informações que venham a obter.

58
Líderes de opinião

Buscando ir além da simples cons- midores conforme sua capacidade sobre os temas de RSE, sustentabi-
tatação das relações entre acesso potencial de influir nas decisões de lidade e afins. Depois, seu grau de
à internet e uso da mesma como outros sobre os temas em pauta. informação sobre esse debate. E,
fonte de informação sobre a RSE, Para isso, foram trabalhadas três di- por fim, se exerce algum tipo de
aplicamos nesta pesquisa a mesma mensões da relação dos consumido- influência sobre pessoas próximas
metodologia utilizada em 2010 com res com tal tema. Em primeiro lugar, no que diz respeito a esse debate.
o objetivo de segmentar os consu- o nível de interesse da população

Desta forma, é possível • Desconectados – não apontam interesse nos temas em avaliação.
detectar quatro diferentes gru- Para este grupo, trata-se de um assunto desvinculado de sua experiência
pos em relação ao seu diária e que não desperta nenhum tipo de ação. A mobilização dessas pessoas
posicionamento no debate é extremamente difícil, pois antes de tudo é necessário traduzir o debate
público desses temas: para seu cotidiano, de forma a despertar relevância e interesse.
• Interessados – demonstram interesse nos temas, mas não se dispõem
a mobilizar algum esforço no sentido de aumentar seu grau de informação
sobre os mesmos. É um grupo que já estabeleceu algum tipo de relação com
o debate, mas que, para que se envolva mais, é necessário que as informa-
ções cheguem até ele.
• Informados – já estão participando do debate, ainda que sem ter o reco-
nhecimento de seus pares quanto a possuírem uma autoridade diferenciada
nesses temas. Divulgam e discutem os conceitos, mas sem influência sobre
os demais, justamente pela carência desse reconhecimento.
• Influenciadores – além de terem interesse e buscarem informações sobre os
temas, são também reconhecidos pelos outros como detentores de informações
mais recentes e claras, a ponto de serem buscados como referência no debate.

Diagrama 1: Critérios para definição dos perfis atitudinais no debate público


sobre Responsabilidade Social Empresarial e sustentabilidade

O diagrama reproduz dados da Pesquisa Akatu 2010 e sintetiza as informações anteriores.

59
Os gráficos que seguem mostram a seu papel no debate e a sua influên- pesquisa, de acordo com a metodolo-
distribuição dos grupos de consumi- cia na formação de opiniões sobre um gia resumida no diagrama.
dores em 2010 e 2012 – conforme o ou mais dos temas de interesse desta

Gráfico 22: Perfil atitudinal dos respondentes no debate público sobre


Responsabilidade Social Empresarial e sustentabilidade (2010 e 2012)

Percentual de respondentes por segmento

Agrupamento conforme perfis atitudinais descritos no diagrama 1.

60
Como se vê no gráfico 22, houve, de para 10% dos consumidores. Os dois crescimento do grupo dos Influencia-
modo geral, uma situação de esta- segmentos em que se encontra o res- dores (3%) e parte ao crescimento do
bilidade em que aproximadamente tante do público podem ser agrupa- grupo dos Desconectados (2%). De
metade dos consumidores permane- dos e denominados genericamente de qualquer forma, são variações peque-
ceu distante dos temas em pauta, Conectados, visto que todos têm inte- nas, indicativas mais de estabilidade
pertencendo, portanto, à categoria resse nos temas focalizados, alguns do que de mudança.
dos Desconectados. Na outra meta- buscando informação sobre eles e Estudando a composição de diferentes
de houve, por um lado, aumento de 3 outros, não. Esse grupo reduziu-se um categorias socioeconômicas conforme
pontos percentuais no segmento dos pouco, passando de 44% para 39%, a segmentação anteriormente aborda-
Influenciadores, que passou de 7% sendo essa redução devida parte ao da, temos o gráfico 23, que segue:

Gráfico 23: Perfil atitudinal no debate público sobre


Responsabilidade Social Empresarial e sustentabilidade
segundo segmentos socioeconômicos e geográficos

Percentual de respondentes por segmento

Combinação de atributos conforme perfis atitudinais descritos no diagrama 1.

61
Vemos assim que, em termos de gê- sobre RSE, sustentabilidade e temas do consumo consciente e uma per-
nero e faixa etária, não há pratica- correlatos não é, de fato, exclusivida- cepção mais apurada e disseminada
mente diferenças. Já em termos de de de uma ou outra classe social. dos temas em questão. Essa aparente
classe social, existe uma clara cor- Finalmente, na comparação entre re- distorção pode, também, ser decor-
relação, sendo maior o percentual de giões, vemos variações expressivas rente do fato de termos, para o Sul,
Desconectados quanto mais baixa a em todos os segmentos, aparente- uma amostra relativamente pequena
classe social. Essa mesma proporcio- mente sem relação com outras ca- – mais suscetível, portanto, a flutua-
nalidade aparece, de forma inversa, racterísticas, como renda per capita, ções e erros estatísticos.
em relação aos Conectados, sendo grau de industrialização ou outras Concluindo esta seção, temos um
maior o percentual de pessoas neste usualmente utilizadas para identifi- interessante cruzamento entre duas
grupo quanto mais alta a classe so- car as diferentes regiões do Brasil. segmentações propostas pelo Akatu,
cial. Entretanto, o mesmo não se apli- O fato de a região Sul apresentar o mostrado no gráfico 24, a seguir, que
ca ao grupo dos Influenciadores, que mais alto percentual de Desconecta- ilustra bem a relação entre a assi-
varia pouco entre as classes (de 8% a dos e o mais baixo de Influenciadores milação do consumo consciente e a
12%), oscilando dentro da margem de parece conflitante com vários outros maior propensão a agir como influen-
erro da pesquisa e dando a entender aspectos – por exemplo, o destaque ciador, especialmente no campo da
que a presença de pessoas interessa- dessa região como a que possui um RSE e da sustentabilidade.
das e ativas na formação de opinião grau mais elevado de assimilação

Gráfico 24: Perfil atitudinal no debate sobre Responsabilidade


Social Empresarial e sustentabilidade segundo perfil
de assimilação do consumo consciente

Percentual de respondentes por segmento

Combinação entre categorias descritas nos gráficos 3 e 22.

62
Vemos, no gráfico, que a chance de dor do grupo dos “mais conscientes” um aspecto muito importante, pois
um consumidor do grupo dos “mais (58% contra 30%). representa, na prática e na matemá-
conscientes” ser um Influenciador em À primeira vista, esse tipo de correla- tica, uma evidência de que as meto-
sustentabilidade e temas afins é três ção pode ser vista como mera “cons- dologias em uso são consistentes e,
vezes maior que a de um consumidor tatação do óbvio”, mas refletindo com ao que tudo indica, eficazes para os
do grupo dos “menos conscientes” mais atenção e lembrando que as me- agrupamentos e análises em ques-
(22% contra 7%). Da mesma forma, todologias para chegar às diferentes tão. Com tais evidências e conexões,
e no outro sentido, a chance de um segmentações aqui comparadas são espera-se ser possível dar mais força
consumidor “menos consciente” ser bem diferentes e independentes, e credibilidade às conclusões e re-
Desconectado desses debates é o do- percebe-se que a detecção de ten- comendações da pesquisa como um
bro da apresentada por um consumi- dências “obviamente esperáveis” é todo.

PERCEPÇÃO SOBRE RESPONSABILIDADE


SOCIAL EMPRESARIAL

O que o consumidor inclui na


responsabilidade social

Uma das questões recorrentes Há também controvérsias mesmo que há 7 temas centrais incluídos
quando se fala em Responsabili- entre os especialistas: enquanto sob a ideia de Responsabilidade
dade Social Empresarial (RSE) é o alguns utilizam simplesmente Res- Social Empresarial. Apesar de tal
entendimento desse conceito pelo ponsabilidade Social, outros prefe- convenção ser abrangente e refletir
público em geral. Conforme comen- rem ter certeza de incluir os aspec- o consenso dos especialistas mun-
tado anteriormente na seção sobre tos ambientais envolvidos e falam diais sobre o assunto, não está cla-
interesse pela busca de informa- em Responsabilidade Social e Am- ro até que ponto o público reconhe-
ções, esta expressão é um jargão biental, ou mesmo em Responsa- ce tais conteúdos. Por esse motivo,
utilizado por pessoas ligadas ao bilidade Socioambiental. Essa con- o Akatu realizou, nesta pesquisa,
tema, mas que, por ser compos- trovérsia existe também em outros uma sondagem inédita, apresen-
to por palavras do senso comum, países e, por esse motivo, a Norma tando aos consumidores brasilei-
em princípio não levanta dúvidas: Internacional de Responsabilidade ros todo o leque indicado pela ISO
quem o ouve, rapidamente forma Social ISO 26000 25 dedicou-se, por 26000 e pedindo aos entrevistados
um entendimento. Porém, como vi- meio de uma ampla consulta e de- que indicassem quais dessas áreas,
mos, pequenas variações na forma bate internacional26, a definir, entre na sua opinião, estavam incluídas
de apresentar a ideia podem gerar outras coisas, quais os temas inclu- sob a ideia de RSE. O resultado é
grandes diferenças na compreensão ídos nessa expressão. apresentado no gráfico 25, a seguir .
pelo público. Como resultado, foi convencionado

ABNT. NBR ISO 26000: diretrizes sobre responsabilidade social. ABNT: Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: http://bit.ly/iso26000_gratis.
25

Sobre o processo de construção da norma: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Contribuições do 1º grupo de trabalho do GVces sobre a ISO 26000 a norma internacional
26

de responsabilidade social. São Paulo: FGV, abril de 2011. Disponível em: http://bit.ly/LivroISO26000. Outras informações em: http://www.ethos.org.br/ISO26000/.

63
Gráfico 25: Percepção dos respondentes sobre temas incluídos na
noção de Responsabilidade Social Empresarial, conforme o ISO 26000

Percentual de respondentes que incluiu o tema como parte da RSE

Questão: Quais destas áreas você entende que estão incluídas na ideia de responsabilidade social empresarial?
Respostas pelo total de respondentes e pelo subgrupo que declarou interesse em RSE (ver gráfico19A)

Ao comentar os resultados deste apresentadas aos consumidores, assunto, enquanto apenas 12% re-
gráfico, chamamos a atenção para o que precisavam simplesmente indi- conhecem a inclusão da Governan-
fato de que, para fins desta pesqui- car “sim” ou “não” incluindo ou reti- ça organizacional como sendo parte
sa, os temas centrais na linguagem rando cada área do universo da RSE. do mesmo. Os demais 5 temas são
da ISO 26000 (coluna da esquerda, O gráfico 25 indica o percentual de reconhecidos em proporções seme-
em caixa alta) foram “traduzidos” consumidores que reconheceu cada lhantes por aproximadamente 3 em
em frases mais amigáveis e expli- tema como sendo parte da RSE e cada 10 consumidores no total da
cativas, bem como referidos como mostra que, no conjunto da popu- população brasileira. No conjunto,
“áreas” (coluna da direita, em caixa lação pesquisada, 41% incluem o entendemos que isso mostra uma
baixa). Apenas essas frases foram Meio ambiente como parte desse penetração relevante do assunto,

64
revelando que as múltiplas facetas ca, proporcionalmente, a diferença na medida em que se diferenciam
em que se desdobra a responsabi- entre os consumidores que buscam pelo reconhecimento de temas que
lidade das empresas são razoavel- informação sobre RSE e aqueles têm mais recentemente sido deba-
mente conhecidas da população. que não o fazem, com aumento de 9 tidos e que, para o senso comum
Focalizando apenas os consumi- pontos percentuais entre um grupo dos leigos, são menos obviamente
dores que costumam buscar in- e outro, passando de 12% do grupo relacionados com a Responsabilida-
formações sobre RSE e que, pre- que não busca informação para 21% de Social Empresarial (Governança
sumivelmente, são portadores de do grupo que busca informação. organizacional e Direitos humanos).
uma melhor compreensão do tema, Em termos absolutos, o maior di- Já Práticas trabalhistas, tema que
vemos de fato uma proporção sig- ferencial entre os dois grupos é menos diferencia os dois grupos,
nificativamente maior de entendi- observado em relação a Direitos está no alto da lista de preocupa-
mento sobre o significado da RSE. humanos, em que a diferença no ções dos consumidores quando se
Ao mesmo tempo, mantêm-se em índice de reconhecimento entre os fala em RSE, como identificado
linhas gerais as proporções entre dois grupos é de 13 pontos percen- mais adiante.
temas mais e menos reconheci- tuais, passando de 30% a 43%. A Há, entretanto, outra forma de
dos: Meio ambiente permanece em menor diferença – tanto absoluta analisar os resultados: focalizando
primeiro lugar (com 52% de reco- como proporcional – está no tema na percepção individual quanto à
nhecimento) e Governança organi- Práticas trabalhistas, com variação abrangência da RSE. Nessa pers-
zacional em último (com 21%). Os de apenas 5 pontos percentuais pectiva, identificamos quantos te-
demais ficam na faixa intermediária (passando de 31% para 36%). mas foram reconhecidos por cada
de reconhecimento, entre 36% e Essas diferenças sugerem que, de consumidor individualmente. O re-
42% da população. fato, o grupo dos que buscam infor- sultado é apresentado no gráfico 26
Governança organizacional é o tema mações sobre RSE tem um entendi- e é muito instigante:
em relação ao qual mais se desta- mento mais sofisticado do assunto,

Gráfico 26: Quantidade de temas associados pelos respondentes


à noção de Responsabilidade Social Empresarial

Percentual de respondentes por segmento O gráfico mostra que, em média,


os consumidores entrevistados re-
conheceram 2,12 temas como in-
tegrantes da RSE, sendo que 69%
identificaram, no máximo, 2 temas.
Esse resultado, evidentemente, mos-
tra que o entendimento individual
médio sobre RSE é muito limitado,
dado que 7 em cada 10 consumidores
são capazes de reconhecer apenas
uma pequena parte do amplo espec-
tro de responsabilidades sociais e
ambientais atribuídas às empresas e
outras organizações em decorrência
dos impactos de suas atividades e
decisões.
Na outra ponta, o percentual de con-
sumidores capazes de reconhecer de
forma mais abrangente essa respon-
Questão: Quais destas áreas você entende que estão incluídas na ideia de responsabilidade sabilidade é de apenas 6% se consi-
social empresarial? (Contagem de áreas incluídas: mínimo =0, máximo=7) derarmos como tal o reconhecimento
de, pelo menos, 5 dos 7 temas cen-
trais estabelecidos pela ISO 26000.

65
Vendo sob o ponto de vista das concentração de esforços e re- lização de esforços. O quadro fica
empresas, os dois gráficos anterio- cursos para mitigá-los). Mas, por completo na medida em que o úni-
res apresentam um curioso desa- outro lado, coletivamente, isto é, co tema menos reconhecido pela
fio: por um lado, individualmente, como grupo de consumidores, algo população em geral (Governança
poucos consumidores reconhecem como 30% a 40% percebem todos organizacional) é exatamente um
o amplo leque de responsabilida- os 6 temas centrais mais reco- dos que mais interessa a um grupo
des das empresas (o que poderia nhecidos, inviabilizando, assim, a pequeno, porém muito poderoso,
reduzir os riscos reputacionais eventual possibilidade de redução de stakeholders : os investidores e
empresariais ou possibilitar uma nos riscos reputacionais ou foca- financiadores.

Tabela 4: Percepção sobre temas incluídos na noção de


Responsabilidade Social Empresarial segundo perfil dos
respondentes (% de reconhecimento)

Percentual de respondentes que incluiu o tema como parte da RSE

Vemos, na tabela, que alguns seg- maior de integrantes com uma visão
mentos de consumidores brasileiros abrangente da RSE. Situação seme-
se destacam por reconhecer mais lhante ocorre com a região Sul, com
amplamente o leque de responsa- destaque especial para o tema Meio
bilidades das empresas ou por en- ambiente, reconhecido por 70% dos
fatizar mais um ou outro tema aí entrevistados.
incluído. As células em azul claro Os dados também reforçam a con-
representam diferenças significati- sistência das segmentações pro-
vas entre um grupo e a média da po- postas pelo Akatu ao evidenciar
pulação, e aquelas em azul escuro que são exatamente os grupos dos
representam diferenças muito signi- “conscientes” e dos “influenciado-
ficativas em relação a essa média. res” os que revelam maior percen-
Em síntese, vemos que a classe A se tual de percepção ampla da RSE e
destaca bem mais do que a média de reconhecimento de praticamente
da população por reconhecer alguns todos os temas. São, em outras pa-
temas (Meio ambiente, Envolvimen- lavras, grupos que puxam para cima
to da comunidade e desenvolvimen- as expectativas e mantêm o tema
to e Questões dos consumidores) e, em alta entre os consumidores em
também, por ter um percentual bem geral.

Questão: Quais destas áreas você entende que estão incluídas na ideia de responsabilidade social
empresarial?(com contagem do número de áreas incluídas. Respostas pelo total de respondentes, por atributos
socioeconomicos e geográficos, e por segmentos descritos nos gráficos 3 e 22)

As opções propostas para os entrevistados refletem os temas centrais estabelecidos na ISO 26000, e foram
apresentados da sequinte forma: Quais destas áreas você entende que estão incluídas na idéia de responsa-
bilidade social empresarial?
Como a empresa cuida dos efeitos da sua atividade sobre o meio ambiente e todos os seres vivos
Como a empresa contribui para o bem-estar da comunidade onde está e da sociedade em geral
Como a empresa trata seus empregados e todos que trabalham para ela
Como a empresa cuida para que todos seus representantes respeitem a lei e se comportem de forma ética
Como a empresa cuida para que as suas atividades e as de todos que com ela trabalham respeitem os direitos humanos
Como a empresa considera os interesses das pessoas que consomem ou utilizam seus produtos
Como a empresa toma decisões e controla sua implementação e seus resultados

66
O corolário disso tudo é que, para nidade (pelas empresas que tomam gumas das categorias trabalhadas,
as empresas, a RSE converteu-se, esse desafio como um motivador e destacando as situações em que
de fato, em uma agenda tão abran- um guia em seu movimento de ino- há significativos diferenciais entre
gente quanto inevitável e que pode vação e ganho de competitividade). as respostas de um dado segmento
tanto ser tomada como ameaça Dando um passo a mais no caminho e as da média dos consumidores
(pelas empresas que, por algum da compreensão desse complexo e entrevistados.
motivo, não conseguem romper importante cenário, a tabela 4, a
com o atual modelo insustentável seguir, apresenta um cruzamento
de negócios) quanto como oportu- das respostas já analisadas e al-

67
Expectativas sobre a
responsabilidade das empresas

A Responsabilidade Social Empresa- e por outros instrumentos de gestão incluímos nesta pesquisa algumas
rial é impulsionada por dois grandes (como os Indicadores Ethos de Res- questões que, longe de esgotarem
vetores: um, mais objetivo, que é a ponsabilidade Social e Empresarial e o tema, pelo menos permitem ava-
responsabilidade derivada dos im- as Diretrizes para Relatórios de Sus- liar a magnitude e a direção das ex-
pactos causados pelas atividades tentabilidade, da Global Reporting pectativas presentes na sociedade
e decisões das empresas e outro, Initiative - GRI, entre outros) ajuda brasileira. Uma dessas perguntas é
mais subjetivo, derivado das expec- no mapeamento, focalização e prio- sobre se as empresas deveriam se li-
tativas do público sobre o que elas rização dos aspectos que devem ser mitar a cumprir a lei ou se deveriam,
poderiam ou deveriam fazer para a atendidos pelas empresas. ativamente, ir além dessa obrigação
sociedade em que operam. A siste- Pensando agora no aspecto mais básica legal. Os resultados são apre-
matização proposta pela ISO 26000 subjetivo, de difícil mensuração, sentados no gráfico a seguir:

Gráfico 27: Expectativa do consumidor em relação às ações das empresas

Percentual de respondentes por opção

Questão: Com qual destas frases você concorda mais?

Vemos no gráfico que os consumido- turalmente, evitar falhas bastante e autoridades, o uso de corrupção
res brasileiros continuam esperando comuns como o não pagamento de para auferir vantagens, a imposi-
das empresas mais do que apenas impostos, a contratação irregular ção de danos ao meio ambiente e
um comportamento correto do ponto de trabalhadores, a falta de infor- à comunidade etc.). Como em 2010,
de vista legal (o qual incluiria, na- mações corretas aos consumidores apenas 13% dos entrevistados en-

68
tendem que as empresas devem se A ideia de que as empresas deve- de agir de muitas empresas brasi-
limitar a isso. A grande maioria en- riam se limitar ao cumprimento das leiras, advoga que, dado o contexto
tende que cabe às empresas ir muito leis justifica-se na medida em que a do País – onde há graves carên-
além dessas obrigações, seja visan- empresa seja entendida como uma cias e incapacidade do Estado para
do prioritariamente vantagens junto entidade separada dos seus proprie- atendê-las, mesmo quando existem
aos seus clientes (28% em 2012 e tários ou acionistas e, portanto, que recursos para isso –, a contribuição
25% em 2010), seja buscando mais tem como objetivo e compromisso da empresa para além dos limites
benefícios para a sociedade (53% fundamental maximizar seus resul- legais seria justificável na medida
em 2012 e 59% em 2010). tados e remunerar o capital nela em que melhoraria o ambiente em
Esse cenário não é diferente do que investido. A ativação da economia, que a mesma se insere, com ganhos
vinha sendo detectado em anos an- o fornecimento de bons produtos e de vários tipos, tanto em termos de
teriores (conforme reportado nas serviços, a geração de empregos reputação quanto de vantagens com-
pesquisas publicadas pelo Akatu em e o cumprimento das leis – que já petitivas e de produtividade, entre
conjunto com o Ethos, no período de incluem uma expressiva transferên- outros. Nessa medida, desde que
2000 a 2008) e indica uma inclinação cia de recursos para a sociedade claramente alinhada com os interes-
consistente do consumidor brasileiro por meio de impostos, salários e ses da empresa, a contribuição além
em favor do que alguns consideram compras – já seriam uma importante do exigido pela lei seria justificável
como “filantropia empresarial”. contribuição para o bem-estar da so- e desejável, não conflitando com
Esse é um tema que tem suscita- ciedade. Contribuições além dessas seu mandato e compromisso com
do intensos debates no Brasil e no obrigações seriam liberalidades que acionistas ou proprietários. Parece,
exterior, contrapondo diferentes conflitariam com o propósito da em- no entanto, que, com tal lógica, esse
enfoques teóricos e estratégicos. presa e, sua eventual adoção deveria tipo de investimento não deveria
Não nos cabe aqui avançar em tal ser feita com recursos dos acionistas deixar de ser visto como uma contri-
debate, mas é importante registrar ou proprietários, por serem estes os buição para a sociedade, mas passar
algumas das posições mais signifi- únicos que podem decidir discricio- a ser encarado como uma estratégia
cativas, o que auxiliará compreen- nariamente sobre o que fazer com os negocial que maximiza as vantagens
der as implicações das respostas recursos gerados pelo negócio. para a empresa e, como subproduto,
anteriormente abordadas. Outra corrente, que embasa a forma também para a sociedade.

Finalmente, a visão predominante concentração de recursos nas mãos questão de preferências, mas um de-
entre os consumidores brasileiros das empresas e o arraigado ceticis- bate profundo, com importantes con-
pode ser entendida, pelo lado em- mo de que as instituições públicas sequências e desdobramentos para
presarial, como um desdobramen- possam mitigá-la pela via da dis- as empresas e a sociedade.
to da corrente anterior. Ainda que tribuição de renda ou da oferta de Em relação ao segundo vetor da RSE,
seguindo a mesma lógica de sua melhores serviços e bens públicos. mais associado às expectativas pro-
antecessora, esta nova visão admi- Nessa perspectiva, a questão foge jetadas pelos consumidores sobre
te conexões mais frouxas entre os da lógica empresarial e visa a pro- as empresas do que às responsa-
investimentos e os benefícios advin- moção da justiça social pelos meios bilidades das mesmas por seus im-
dos de uma sociedade melhor que aparentemente mais acessíveis e rá- pactos, foi repetida a pergunta feita
impactam indiretamente a empresa. pidos, mas sem atenção aos efeitos em 2010, permitindo identificarmos
Mas pode, também, ser entendida colaterais decorrentes dessa mescla que, apesar do pouco tempo decorri-
simplesmente como uma expectati- pouco estruturada entre a iniciativa do, houve alguma variação no tema,
va do público não empresarial, deri- privada e a esfera pública. como pode ser visto no gráfico 28:
vada da combinação entre a extrema Como se vê, temos aqui não só uma

69
Gráfico 28: Responsáveis por preservar o meio ambiente e
solucionar os problemas sociais (2010 e 2012)

Percentual de respondentes por opção

Questão: Quanto você acredita que <cada item> é responsável por


preservar o meio ambiente e solucionar os problemas sociais?

A percepção subjetiva dos consumi- fato de que justamente os dois ato- aumentos de 4% e 5%. No caso de
dores é que há três grandes respon- res menos carregados de expectati- Governo e Empresas brasileiras, os
sáveis por preservar o meio ambien- vas são aqueles com os quais, muito índices eram de 73% e 75%, respec-
te e solucionar problemas sociais: possivelmente, os entrevistados tivamente, o que indica um cresci-
os Países ricos, as Empresas multi- possuem mais identificação. mento de 2 pontos percentuais para
nacionais e as Organizações interna- Na comparação com 2010, chama a cada um.
cionais (os três com 80% de “muito atenção o fato de ter havido um au- Hierarquizando conforme a indica-
responsável” e “mais ou menos res- mento geral nas expectativas, visto ção de “muito responsável” e com-
ponsável”). Pouco atrás, na segunda que os três atores agora com 80% de parando com dados de 2010, temos
posição, temos o Governo e as Em- menções como “muito responsável” que Países ricos continuam na 1ª
presas brasileiras, com, respectiva- e “mais ou menos responsável”, posição (com 54%), mas, agora, vêm
mente, 75% e 77%. Mais abaixo, tiveram, em 2010, índices de, res- em seguida as Empresas multinacio-
com índices de 72%, 67% e 62%, pectivamente, 75% (Países ricos) e nais, com um índice até ligeiramente
temos as ONGs, os Consumidores e 76% (Empresas multinacionais e Or- superior ao do Governo: 51% contra
os Países pobres. Chama atenção o ganizações internacionais), ou seja, 49%, sendo que em 2010 essa pro-

70
porção era de 41% contra 43%. mais responsáveis pelos problemas o Estado, mas também, em vários
Esse quadro dá a entender que, ou, pelo menos, com maior condi- casos, financeiramente mais pode-
apesar de ainda depositar grandes ção de solucioná-los. Essa situação, rosas e, portanto, mais capazes de
responsabilidades nas mãos do go- acreditamos, reflete a mudança re- solucionar os problemas em pau-
verno, os consumidores tendem a cente no quadro global, em que as ta. Ao grande poder das empresas,
perceber as empresas, especialmen- empresas já são vistas não apenas passam a corresponder expectativas
te as grandes multinacionais, como como mais agéis e eficazes do que cada vez maiores.

PRÁTICAS DE RSE: PRIORIDADES DO CONSUMIDOR

Uma agenda de práticas da RSE

Num quadro com tão amplas respon- cionamento geral das empresas. – Pesquisa 2010, ambas publicadas
sabilidades e altas expectativas, a de- Buscando contribuir para esse deba- pelo Akatu.
finição de focos e prioridades torna- te, em 2008 o Instituto Ethos estudou Dando continuidade a esse traba-
-se uma questão fundamental para as as referências mais atuais no campo lho, incluímos na pesquisa 2012 um
empresas. Do ponto de vista de cada da gestão socialmente responsável conjunto de questões destinadas a
empresa individualmente, o consenso e, combinando-as com suas reco- aferir a prioridade dada pelo consu-
estabelecido nas mais reconhecidas mendações, compilou uma relação midor a cada uma dessas práticas.
referências sobre gestão respon- abrangente de práticas esperadas Incorporando o aprendizado da pes-
sável – como a ISO 26000, as Dire- das empresas mais socialmente res- quisa anterior, optamos por submeter
trizes GRI e os Indicadores Ethos 26 ponsáveis. O resultado encontra-se menos práticas à priorização pelo
entre outras – é de que uma priorida- na publicação Critérios Essenciais de consumidor, permitindo assim uma
de mais alta deve ser dada às situa- Responsabilidade Social Empresarial visão mais focalizada dos resultados.
ções em que impactos negativos são e seus Mecanismos de Indução no Desse modo, refinamos o conjunto
gerados por suas ações e decisões. Brasil 28, do Instituto Ethos, e foi utili- original (de 56 práticas), selecionan-
Quanto maior o impacto negativo, zado como base para a definição das do um conjunto menor, mas ainda
mais alta a responsabilidade e maior 56 práticas utilizadas nas pesquisas representativo do universo de práti-
a prioridade da empresa em adotar desenvolvidas pelo Akatu com empre- cas trabalhado, e que incluiu aquelas
medidas para interrompê-lo e reparar sas (2008) e consumidores (2010). Os consideradas prioritárias para acom-
ou compensar o que for possível. resultados desses trabalhos podem panhamento. Os critérios utilizados
Ainda assim, permanece a necessida- ser vistos na publicação Práticas e e o conjunto original de práticas são
de de maior clareza quanto à agenda Perspectivas da RSE no Brasil – 2008 apresentados no anexo 4. A tabela 5,
e às prioridades da sociedade como e na edição anterior da pesquisa Res- a seguir, mostra as 18 práticas sele-
um todo a serem consideradas no pla- ponsabilidade Social das Empresas – cionadas para a presente pesquisa.
nejamento de longo prazo e no posi- Percepção do Consumidor Brasileiro

27
Norma Internacional de Responsabilidade Social ISO 26000 ; Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade, da Global
Reporting Initiative - GRI; Indicadores Ethos de Responsabilidade Social e Empresarial.
28
INSTITUTO ETHOS. Critérios Essenciais de Responsabilidade Social Empresarial e seus Mecanismos de Indução
no Brasil. São Paulo: Instituto Ethos, 2006. Disponível em: http://bit.ly/criteriosRSE.

71
Tabela 5: Práticas de Responsabilidade Social
Empresarial pesquisadas

72
Como se pode ver, há pelo menos temas Direitos humanos e Desenvol- tes”, outro com as “mais ou menos
uma prática representativa de cada vimento e envolvimento comunitário, importantes” e outro com as “menos
uma das seis dimensões em que foi mas várias das práticas utilizadas importantes”. Em seguida, foram
analisada a Responsabilidade So- contemplam tais temas, que não es- convidados a identificar, no grupo das
cial Empresarial. Utilizadas nos es- tão, portanto, esquecidos. práticas “mais importantes”, aque-
tudos anteriores, essas dimensões A razão desse alinhamento imperfei- las que consideravam essenciais,
têm grande correspondência com os to é tanto cronológica (a ISO 26000 ou seja, “que uma empresa tem que
temas centrais da ISO 26000 (men- ainda não estava concluída em 2008, fazer sempre, em qualquer situação,
cionados anteriormente e utilizados quando foram definidas essas dimen- para ser considerada socialmente
como referência para compreensão sões na pesquisa do Akatu) quanto responsável”.
do entendimento conceitual do consu- metodológica (as dimensões combi- O ranking geral (prioridade entre to-
midor sobre a RSE), mas não há uma nam um conjunto de perspectivas e dos os entrevistados) foi estabelecido
correspondência exata: as dimen- instrumentos, não se colocando, em atribuindo-se pontos para as práticas
sões da tabela incluem, por exemplo, princípio, alinhadas com uma ou com (um ponto para cada vez que a prática
Relacionamento com seus públicos, a outra). ficou entre as “menos importantes”,
que embora seja um assunto trata- O conjunto de práticas da tabela 5 dois pontos para quando ficou entre
do com grande importância pela ISO foi submetido aos consumidores en- as “mais ou menos importantes” e
26000, não foi incluído na norma trevistados por meio de um conjunto três pontos para quando ficou entre
como um tema central, mas de for- de cartões, cada um contendo apenas as “mais importantes”) e calculando-
ma transversal, aplicável aos temas uma das práticas. Os entrevistados -se a pontuação média de cada prá-
da gestão da RSE como um todo. Por foram convidados, primeiramente, tica. Foi também calculado o percen-
outro lado, as dimensões acima não a dividir os cartões em três grupos: tual de entrevistados que apontaram
individualizam especificamente os um com as práticas “mais importan- cada prática como essencial.

A tabela 6, a seguir, mostra a pontu- práticas. No entanto, é importante redação de algumas frases tenham
ação resultante e indica, também, a ressaltar que, apesar da metodologia sido feitos recomenda cuidado na
posição que essas práticas ocuparam de ranqueamento ter sido a mesma, comparação entre os resultados de
no ranking anterior, em 2010. Isso a existência de uma grande diferença 2010 e 2012. Não obstante, a com-
permite avaliar se houve mudanças no número de práticas incluídas na paração é válida para avaliação dos
nas prioridades relativas a essas pesquisa e o fato de que ajustes na grandes movimentos.

73
Tabela 6: Práticas de Responsabilidade Social Empresarial:
ranking em 2010 e 2012

Ranking

Ranking

%essencial
Nota média
(1) PRÁTICAS
2012 2010(2)
Não utilizar o trabalho infantil e trabalho forçado e exigir em contrato o mesmo
A compromisso de toda a sua cadeia de valor 2,74 1 2 44
Manter programas de contratação, capacitação e promoção de mulheres, negros e
B pessoas com deficiência, visando promover a igualdade de oportunidades 2,71 2 1 37
Assegurar aos trabalhadores uma remuneração que garanta um nível de vida adequado
C para eles e suas famílias 2,69 3 3 34
Adotar medidas em relação a seus produtos e/ou serviços que visam minimizar os
D riscos à saúde e segurança do consumidor ou cliente 2,55 4 6 23
Garantir ao trabalhador terceirizado as mesmas condições de saúde e segurança no
E trabalho e o acesso a benefícios básicos gozados pelos empregados regulares 2,54 5 5 23
F Manter programas para racionalização e otimização do uso da água 2,45 6 4 19
Manter programas de alfabetização, de desenvolvimento e carreira formalizadas e
G divulgadas entre os empregados 2,44 7 10 19
H Investir em novas tecnologias para permitir a reciclagem de seus produtos após o uso 2,43 8 9 20
Promover programas de informação ou educação do consumidor quanto aos impactos
I sociais e ambientais relativos a seus hábitos de consumo 2,41 9 7 19
Oferecer informações ao cliente ou consumidor sobre os cuidados a serem observados
J tanto no uso quanto no descarte de seus produtos ou serviços 2,35 10 8 13
K Adotar práticas anticorrupção e antipropina em seus processos de compra e de venda 2,31 11 16 9
L Manter programa especifico para a redução da emissão de gases de efeito estufa 2,31 12 11 14
M Participar formalmente de iniciativas de combate à corrupção em todas as suas formas 2,29 13 13 14
Incluir critérios de responsabilidade social em seus processos de seleção e avaliação de
N fornecedores 2,28 14 12 8
O Utilizar somente dados cadastrais de seus clientes ou consumidores com sua prévia
autorização 2,18 15 17 10

P Atuar de acordo com a legislação em vigor e publicar, regularmente, seus balanços ou


relatórios financeiros verificados por uma empresa de auditoria externa 2,13 16 14 9

Q Publicar e divulgar anualmente seu balanço social ou relatório de sustentabilidade, elabo-


rado ou avaliado com a participação de representantes das partes interessadas 2,07 17 18 5

R Divulgar a cada eleição os valores de suas contribuições para campanhas políticas 2 18 15 6


(1) código que referencia as inserções do gráfico 29.

(2) toma como base as notas de 2010, mas só considera a posição relativa (entre si) das 18 práticas incluidas na pesquisa 2012.

Questões: (A) Quanto você considera que <texto de cada prática> é importante para uma empresa ser considerada
socialmente responsável? Dentre as mais importantes=3; mais ou menos importantes=2; não são importantes=1.
(B) Quais destas frases você diria que uma empresa tem que fazer sempre, em qualquer situação, para ser consi-
derada socialmente responsável?(apontar dentre as que considerou “mais importantes”)

74
Focalizando a atenção, inicialmente, de vida. Essa tendência reflete uma agenda do público em relação à RSE.
apenas no ranking de 2012, vemos convergência entre as agendas indivi- Finalmente, quatro outras práticas
que três práticas relativas às re- duais (visto que cada entrevistado é, completam a metade mais prioriza-
lações de trabalho se destacam também, um trabalhador em exercício da dentre as 18 avaliadas. Além de
como as mais importantes, man- ou potencial) e coletivas (a melhoria mais uma prática ligada à agenda
tendo uma tendência repetidamente da sociedade, de que todos são parte). do trabalho (“manter programas de
observada desde que esta série de Sem dúvida, esse deve ser um foco alfabetização, de desenvolvimento
pesquisas foi iniciada. É importante das estratégias de todas as empresas. e carreira formalizados e divulgados
notar, também, que essas práticas se Um segundo bloco é formado pelas entre os empregados”), surge, aqui, a
relacionam tanto com as condições de outras duas práticas com nota mé- dimensão do meio ambiente, repre-
trabalho na empresa quanto com sua dia superior a 2,5, sendo uma delas sentada tanto por duas práticas bem
cadeia de valor. Outro fato relevante também relacionada ao mundo do específicas – uso racional da água e
é a conexão dessas práticas com os trabalho (condições dos empregados reciclagem – quanto por uma prática
direitos humanos, na medida em que terceirizados) e outra diretamente re- central para o consumo conscien-
tratam exatamente do combate à ex- lacionada à saúde e segurança do te, que é a educação do consumi-
ploração de trabalhadores e à discri- consumidor, que também tem, re- dor quanto aos impactos sociais
minação, assim como da promoção da petidamente, se colocado como e ambientais de seus hábitos de
inclusão social e de condições dignas item de primordial importância na consumo.

Analisando a metade menos priori- empresas, por parte dos consumido- sitivo da aparentemente interminável
zada das práticas em pauta, notamos res, os quais priorizam os aspectos avalanche de denúncias sobre cor-
que estão aqui as dimensões da éti- que mais diretamente os afetam, mas rupção e relações impróprias entre
ca, da governança, da transparên- não se limitam a eles. empresas privadas e o poder público.
cia, incluindo o relacionamento com Um último aspecto que destacamos Certamente, o emblemático e am-
públicos de interesse para dissemi- na tabela anterior é a variação nas plamente divulgado julgamento do
nação da RSE. A menor priorização posições relativas das práticas estu- “mensalão” ajudou este item a subir
dessas dimensões também é uma dadas, por meio da comparação entre na agenda do consumidor.
tendência reiteradamente observada os rankings de 2010 e 2012. A classificação como “prática essen-
e que certamente está relacionada Na metade de práticas mais priori- cial” é outra informação pesquisada
a sua relação indireta ou intangível zadas, houve pequenas variações: as e presente na tabela 6. Entendemos
com a agenda da responsabilidade três primeiras posições são ocupadas que seu significado é dar um alerta
social – por isso, menos perceptível pelas mesmas práticas (mesmo que adicional para as empresas, mostran-
pelo consumidor comum. Não obstan- em ordem diferente) e o mesmo acon- do quais são as red lines estabeleci-
te, é importante notar que todas as tece com as três posições seguintes, das pelos consumidores, ou seja, os
práticas foram consideradas impor- bem como com o terceiro bloco, in- limites que não podem ser violados
tantes ou muito importantes, visto cluindo a 10ª posição. sob pena de graves prejuízos à repu-
que – numa escala de 1,00 a 3,00 – a Na metade de práticas menos priori- tação empresarial. Uma análise com-
nota de importância dada pela média zadas, vemos uma variação mais sig- binada dessa classificação com as
dos entrevistados à prática menos nificativa, representada pela “adoção notas de importância atribuídas pelo
priorizada foi 2,00. Este também é de práticas anticorrupção e antipro- conjunto de consumidores às práticas
um resultado coerente com pesquisas pina em seus processos de compra e revela uma agenda bastante clara
anteriores, denotando que existe, no de venda”, que subiu cinco posições e consistente com os comentários
Brasil, uma expectativa bastante sig- no ranking, indo da 16ª posição para já feitos, como mostra o gráfico 29,
nificativa sobre o comportamento das a 11ª. Esse parece ser um reflexo po- a seguir.

75
Gráfico 29: Práticas de Responsabilidade Social Empresarial:
comparação entre importância e essencialidade

Percentual de indicação como essencial X nota de importância média

Valores apresentados na tabela 6

Como se pode observar, há um gru- riscos reputacionais. Frisamos a ex- práticas levadas à pesquisa são re-
po bem destacado de práticas que, pressão genérica, pois é fundamen- presentativas de um conjunto bem
além de muito importantes, são con- tal lembrar que – como mencionado maior e que, portanto, não devem ser
sideradas essenciais por um grande no início desta seção – o principal vistas estritamente pelo seu texto,
percentual de consumidores. Elas elemento definidor das prioridades mas associadas às dimensões que
correspondem à “metade superior” de uma empresa são os impactos representam e ao conjunto maior de
do conjunto de práticas estudado gerados por suas atividades e deci- práticas assemelhadas ou relativas
e indicam uma agenda prioritária sões, que precisam ser analisados aos mesmos temas. Elas são uma in-
genérica que pode ser seguida pe- caso a caso e não podem ser substi- dicação de foco e não uma checklist
las empresas que desejam alinhar tuídos por um alinhamento genérico, a ser cumprida sem maiores cuida-
suas práticas com as expectativas por melhor que este seja. dos com sua integração às ativida-
dos consumidores e minimizar seus Finalmente, vale lembrar que as des e estratégias empresariais.

RSE, produtos e marcas


Além de analisar a agenda ampla do cações sobre aspectos mais pontuais, ta edição uma pergunta sobre esse
consumidor no tocante às suas ex- relacionados a essa mesma agenda, assunto, já feita em 2010,o que per-
pectativas quanto à Responsabilida- que tenham implicações sobre as mitiu uma análise de possíveis ten-
de Social Empresarial, as pesquisas decisões individuais de consumo dos dências de mudança.
do Akatu têm procurado também indi- entrevistados. Assim, incluímos nes- A metodologia consistiu em solicitar

76
que o entrevistado considerasse um ta da sustentabilidade e da responsa- diu que os resultados fossem consi-
produto que costuma consumir e ava- bilidade social da empresa produtora. derados como indicativo da maior ou
liasse como mudaria sua propensão a É sabido que apenas uma parte pe- menor importância que o consumidor
continuar consumindo tal produto se quena dessas respostas se reverte- dá às questões levantadas. Os resul-
viesse a saber que o mesmo está as- ria efetivamente em mudanças de tados são apresentados no gráfico 30
sociado a problemas do ponto de vis- comportamento, mas isso não impe- e foram os seguintes:

Gráfico 30: Probabilidade de mudança de comportamento de


compra de uma marca ao descobrir determinadas práticas

Percentual de respondentes por opção

Questão: Pense agora em marcas de produtos que você costuma comprar frequentemente nas suas compras do
dia a dia. Quanto mudaria a chance de você comprar os produtos de alguma destas marcas ou de recomendar
alguma destas marcas para parentes e amigos se você descobrir que essa marca <cada item>?

Numa perspectiva geral, nota-se, no essa resposta à “reduziria um pouco”, consomem: 7 em cada 10 afirmaram
gráfico, que houve um significativo temos um quadro estável, com 91% que isso reduziria muito sua dispo-
aumento, em relação a 2010, na dos consumidores afirmando que rea- sição para comprar ou recomendar
disposição do consumidor para giriam negativamente se soubessem tais produtos a outras pessoas. Esses
punir faltas das empresas no cam- que produtos de uma marca que con- são os mesmo fatores que recebe-
po da responsabilidade social, somem podem “provocar problemas ram a maior prioridade na pesquisa
seja deixando de comprar seus produ- de saúde ou ferimentos”. de 2010, com a diferença que “faz
tos ou de recomendá-los a outras pes- Conforme indicado pelas respostas propaganda enganosa” teve peso um
soas. Dos sete atributos pesquisados, dos consumidores, este é o fator que, pouco maior e “provocar problemas
apenas um teve uma pequena redução junto com “faz propaganda engano- de saúde ou ferimentos” teve peso
no percentual de respostas “reduziria sa”, encabeça a lista dos fatos que um pouco menor.
muito”, dentro da margem de erro da afetariam sua disposição para com- No segundo lugar, praticamente em-
pesquisa. Além disso, somando-se prar ou recomendar um produto que patados, temos “não trata todos os

77
seus funcionários da mesma forma” as reações negativas menos intensas questões mais tangíveis relacionadas
e “tem impactos sociais e ambientais dos consumidores, temos três fatores à RSE é por meio da proposição de fa-
negativos”, com a resposta “reduziria que abordam a questão do compor- tores para escolha entre produtos de
muito” na ordem de 61% e 58%, res- tamento punitivo pelo lado inverso: preço e qualidade semelhantes. Tam-
pectivamente. Nota-se que, em rela- não se trata realmente de práticas bém aqui é preciso reconhecer que as
ção a 2010, “tem impactos sociais e negativas, mas da ausência de práti- respostas devem ser tomadas como
ambientais negativos” é um assunto cas positivas em relação às quais se indicativas de tendências e nunca
que cresceu na agenda dos consumi- esperaria uma reação positiva dos como “promessas de comportamen-
dores, como se pode deduzir do fato consumidores, aumentando sua dispo- tos” que possam ser esperados em
de que o tema, que antes estava bem sição para compra ou recomendação a situações reais de compra. Também
abaixo de “não trata todos os seus outras pessoas (por exemplo, o oposto é importante frisar que estamos abor-
funcionários da mesma forma”, ex- de “não tem programas de melhoria dando as manifestações conscientes
perimentou uma reação negativa pro- da educação e da saúde em sua comu- dos consumidores, as quais certamen-
porcionalmente bem maior. nidade” seria “tem programas de...”). te não refletem todo o amplo espectro
Na parte de baixo do gráfico 30, com- Outra forma de analisar o comporta- de fatores – conscientes e inconscien-
pondo o grupo de fatores que geraram mento dos consumidores diante das tes – envolvidos nas suas decisões.

Gráfico 31: Critérios importantes na decisão de compra dos


consumidores entre produtos com mesmo preço e qualidade

Percentual de respondentes por opção

Questão: Assumindo que preço e qualidade sejam os mesmos, quais dos seguintes fatores
seriam importantes em sua decisão para comprar um produto em vez de outro?

78
Antes de tudo, uma novidade se des- relações de trabalho, da proteção ao mundo com suas aspirações tangí-
taca no gráfico 31: a importância do meio ambiente e do bom relaciona- veis do que pela pregação do ter-
tratamento dispensado aos animais, mento com a sociedade se refletem, mo em si mesmo (o qual, ademais,
tema não abordado nas outras per- assim, como possíveis fatores de está claramente dando sinais de
guntas desta pesquisa e que surge, desempate nas escolhas de compra desgaste em função do seu uso in-
aqui, como o mais relevante fator de dos consumidores. discriminado e pouco consistente).
desempate na decisão dos consumi- Observando os demais fatores, cha- O conjunto de observações anterio-
dores. Este fato revela um lapso nos ma atenção o fato de que, dentre res mostra de modo bem enfático
estudos anteriores, que não incluí- esses nove, apenas dois se referem que, pelo menos no plano conscien-
ram esse tema no universo estuda- à RSE ou sustentabilidade: “que a te e entre produtos percebidos como
do. Certamente, ele é um alerta para marca seja mais sustentável” e “que semelhantes em preço/qualidade, o
as empresas e um ponto a ser estu- o produto seja orgânico”. A impor- consumidor brasileiro declara estar
dado em futuras pesquisas. tância relativamente baixa dada à atento à RSE e disposto a tomar
Além deste item, outros quatro se afirmação genérica sobre “marca decisões de compra que reflitam a
destacam entre os 14 fatores da pes- sustentável” (especialmente se vista importância dada ao tema.
quisa por serem mencionados como em contraposição à maior importân- Concluindo esta seção sobre opini-
“muito importantes” por 43% a 46% cia dada às propostas mais tangíveis ões e comportamentos do consumi-
dos consumidores. Todos esses itens dessa mesma agenda) vai ao encon- dor diante das marcas e dos produ-
têm, em comum, o fato de serem im- tro do que levantamos antes nesta tos, temos duas perguntas bastante
portantes aspectos da RSE e terem, publicação: o caminho para conquis- específicas, cujas respostas estão
de uma forma ou de outra, se desta- tar decisões do consumidor em prol no gráfico 32, a seguir, e que são
cado na análise das outras pergun- da sustentabilidade passa muito importantes para enriquecer o per-
tas que já tratamos. As agendas das mais pela conexão dessa visão de fil que vimos traçando.

Gráfico 32: Percepção em relação a consumo responsável


e produtos sustentáveis

Percentual de respondentes por opção

Questão: O quanto você concorda com as seguintes afirmações?

79
As duas perguntas apresentadas no sendo substituído por uma narrativa balho de comunicação para que o con-
gráfico refletem a persistência de bem mais positiva e desejável: a de sumidor em geral perceba que “sus-
alguns “mitos” associados ao consu- que sustentabilidade não é apenas tentável” não tem necessariamente a
mo consciente e – de certo modo – à uma questão de consumir mais ou ver com atributos excepcionais de um
sustentabilidade em geral. Um deles menos, mas de consumir de uma produto ou serviço, mas com o modo
é a associação do consumo respon- maneira diferente, de consumir como o mesmo é produzido e utilizado
sável à contenção ou à minimização bem e aproveitar melhor os inúme- (e que pode, inclusive, ser bem mais
do consumo. Esta é uma barreira que ros bens materiais e imateriais que a barato ou cost effective).
tem dificultado a aproximação de mui- natureza, a sociedade, o mercado e O Akatu tem desenvolvido materiais
tos consumidores mainstream das nossas mentes nos permitem acessar e propostas visando contribuir para
discussões sobre sustentabilidade e e desfrutar. A persistência desse mito a reversão desse quadro por meio da
consciência no consumo: muitas pes- indica que ainda há muito a fazer até criação e compartilhamento de exem-
soas evitam o contato com propostas que a população entenda que esta- plos e narrativas capazes de esclare-
e ambientes onde, pelo que supõem, mos falando menos de quantidade e cer e inspirar cada vez mais atores,
serão cobradas por suas “culpas” e mais de qualidade de consumo. tanto entre os “convertidos” à causa
responsabilidades como “consumis- O segundo mito, de que produtos sus- da sustentabilidade quanto entre
tas e destruidoras do planeta”. tentáveis são mais caros, também se aqueles que, por quaisquer motivos,
É inegável que o desperdício e o con- relaciona ao que acabamos de dizer ainda relutam em se juntar a este
sumo excessivo são, em grande medi- na medida em que focaliza apenas um movimento. Ele aponta não para a
da, indesejáveis e incompatíveis com modelo tradicional de mensagem pela contenção pouco inteligente e a volta
a inclusão sustentável dos grandes “mídia”, em que “sustentável” é ven- ao passado, mas para o avanço rumo
contingentes de pessoas ainda em dido como apenas mais um atributo de a um futuro mais seguro, saudável e
estado de carência ou precariedade. valor e, por isso, presumivelmente re- pleno de condições para o desfrute
Mas também é fato que, já há algum lacionado a um preço mais alto. Aqui inteligente e perene do muito que te-
tempo, esse discurso amargo vem também é preciso um importante tra- mos à nossa disposição.

O GOVERNO E SEU PAPEL

Um consórcio internacional deno- Akatu, desenvolveu uma pesqui- sobre as empresas em particular29.
minado The Choices Project, for- sa buscando conhecer a visão dos Nesta seção, são apresentadas as
mado pela Royal Holloway (Univer- consumidores com relação ao papel respostas obtidas no âmbito bra-
sity of London), Universidad Diego do governo no âmbito da sustenta- sileiro dessa pesquisa. Em relação
Portales (Chile), Instituto Alberto bilidade, seja como grande compra- às expectativas dos consumidores
Luiz Coimbra de Pós-Graduação e dor de bens e serviços, seja como quanto ao governo como comprador
Pesquisa de Engenharia (COPPE/ proponente e operador de políticas de produtos e serviços, os resulta-
UFRJ), Ethical Consumer, Ciudada- de grande envergadura, influindo dos são apresentados no gráfico 33,
no Responsable (Chile) e Instituto sobre a sociedade como um todo e que segue:

29
Mais informações sobre o The Choices Project em http://choices.concoctions.ca/

80
Gráfico 33: Compras públicas: ações que o governo deveria fazer

Percentual de respondentes por opção

Questão: Quanto você concorda com as seguintes afirmações?

As respostas demonstram a expec- bientalmente corretas) quanto como não seriam suficientes para dar
tativa dos consumidores de que o regulador (obrigando as empresas a conta dos desafios de sustentabi-
governo pode e deve desempenhar fornecerem informações sobre os lidade, sendo necessária uma ação
um papel significativo em relação impactos ambientais e sociais que mais intensa do governo para que
à sustentabilidade, tanto como provocam). Portanto, parece haver se caminhe nessa direção.
comprador (apoiando pequenas em- um pressuposto, por parte dos con- Já na pesquisa publicada em 2010,
presas e produtores, e comprando sumidores, de que os instrumentos tratamos parcialmente desse as-
apenas de empresas social e am- voluntários e as forças de mercado sunto, tendo sido concluído que:

“... observando as três frases com maior grau de concordância, do total de entrevistados
no estudo, 63% concordam que o governo deve obrigar as empresas a tornar a sociedade um
lugar melhor para todos. Para 62% dos brasileiros, devem ser criadas leis que exijam que as
empresas forneçam instruções claras sobre uso e descarte dos produtos e 62% acreditam que
é importante que o consumidor pressione as empresas para que evitem danos ao meio ambiente.
Estes destaques demonstram que há grande concordância com afirmações que incluem a
imposição de responsabilidades sobre as empresas, e não apenas um estímulo ou indução
à ação voluntária.”

81
Por outro lado, tendo em conta a bilidade, ao mesmo tempo em que de, combinado com a percepção de
notória (e fartamente documenta- esperam que governança e políticas que elas – especialmente as grandes
da) desconfiança dos consumidores públicas possam alterar, de forma empresas – detêm recursos e poder
brasileiros quanto à competência e mais eficaz, a direção para um mo- vitais para a necessária transição.
efetividade do Estado, fica a impres- delo mais sustentável. A pergunta seguinte, cujas respos-
são de que esse “chamado” por uma Adicionalmente, outro aspecto que tas são apresentadas no gráfico 34,
ação mais ativa por parte do governo possivelmente contribui para essas explora as expectativas dos consu-
reflete, também, um esgotamento respostas dos consumidores é o midores quanto aos critérios de es-
da expectativa dos consumidores de seu já comentado ceticismo quanto colha que deveriam ser usados pelo
que as empresas trabalhem espon- à sinceridade das empresas em seu governo em suas opções de consu-
taneamente em favor da sustenta- engajamento com a sustentabilida- mo, quando no papel de comprador.

Gráfico 34: Critérios para compras públicas considerados


importantes pelos respondentes

Percentual de respondentes por opção

Questão: O Governo, como as pessoas, realiza compras de bens e serviços. Supondo que
preço e qualidade fossem iguais, quais critérios você julgaria importantes para a realização
de compras pelo Governo?

82
Analisando as respostas apresenta- “sejam comprometidas com a redu- uma relevância maior para o cida-
das no gráfico 34 em comparação ção do consumo de energia” (88%); dão nas compras públicas, quando
com as respostas dadas pelos consu- “tenham selo de proteção ambien- comparadas às compras individuais,
midores quanto aos critérios usados tal” (86%) e “mantenham boas con- destacam-se:
em suas próprias decisões, percebe- dições de trabalho” (87%).
• Compra de empresas pequenas;
se que há uma grande consistência, Adicionalmente, é também dada
com apenas algumas variações de uma ênfase maior a fatores como • Compra de produtos brasileiros;
ênfase. Basicamente, é repetida a a compra de orgânicos e produtos • Compra de produtos orgânicos;
agenda que prioriza, como impor- brasileiros.
tantes e muito importantes, critérios Por outro lado, como mostra o gráfi- • Compra de produtos com selo
de compra referentes à sustentabi- co 35, a seguir, quando na condição de proteção ambiental.
lidade, devendo o governo comprar de cidadãos, os indivíduos exigem Com isso, os consumidores parecem
de empresas que: “não maltratem mais do governo do que exigem de- transferir para um terceiro, o gover-
animais” (89%); “mantenham boa les próprios, como consumidores. no, algo que ainda não conseguem
relação com a comunidade” (86%); Entre os critérios que assumem adotar como prática cotidiana.

Gráfico 35: Critérios que deveriam ser considerados


nas compras públicas

Percentual de respostas “importante” ou “muito importante”

Combinação dos resultados apresentados nos gráficos 31 e 34.

83
Finalmente, foi também indagado traz implícita a ideia de que tais de- governamental com base no inte-
quem, entre diversos atores sociais, cisões resultam de um conjunto de resse público. Os resultados são
deveria ter maior influência nas pressões, mais ou menos legítimas, apresentados no gráfico 36, como
compras do governo. A pergunta mais do que de um planejamento mostramos:

Gráfico 36: Instituições e atores que deveriam ter influência


nas compras públicas

Percentual de respondentes por opção

Questão: Da lista que está neste cartão, ordene por prioridade as três instituições que,
em sua opinião, deveriam ter maior influencia nas decisões de compra do Governo.

84
O fato de Os cidadãos terem sido direta a esta questão, porém uma compra dos governos, sendo que a
apontados por 73% dos entrevista- hipótese que pode ser aventada está mais priorizada foi o próprio governo
dos como os atores sociais que de- associada às possibilidades de parti- (presidente e ministros), apontado
veriam ter maior influência nas de- cipação por meio de redes sociais e por 56% dos entrevistados como
cisões de compra do governo parece do uso de ferramentas de informação principal voz a influir nas políticas
ecoar a percepção de que as insti- e comunicação disponíveis na inter- de compras públicas. Na sequência,
tuições públicas deveriam refletir, net, as quais podem servir para pres- surgem outras instâncias do poder
em sua ação, o desejo dos cidadãos sionar governos, empresas e outras público, representadas pelos polí-
em vez de interesses de grupos es- instituições. Na sociedade em rede, ticos e prefeitos, com 38% e 29%,
pecíficos ou de prioridades difusas. estes recursos podem contribuir tan- respectivamente. Ou seja, mesmo
A indicação é que os respondentes to para uma maior transparência das longe de ser ampla maioria, um gru-
gostariam de ver a atuação do gover- instituições quanto para permitir a po ainda expressivo reconhece nos
no pautada pelo interesse público e participação ativa dos cidadãos. representantes eleitos a legitimida-
acreditam que poderiam exercer in- Uma parte das respostas apresenta- de para decidir sobre um assunto
fluência neste sentido. Mas como das no gráfico 36 atribui importân- que, de fato, é de sua alçada.
poderia se dar, na prática, essa in- cia às organizações como potenciais
fluência? Não temos uma resposta influenciadoras das escolhas de

Depois desse bloco, com indicação nários públicos, 22%) ou por órgãos e de participação da sociedade.
de aproximadamente um quarto externos especializados (organismo “Política autoral”, movimentos em
dos consumidores, aparecem as regulador externo, 14%), foram as rede, cyberativismo e redes sociais
ONGs e as Associações comer- últimas opções citadas, com adesão são exemplos de novos caminhos
ciais e empresariais. A proporção bem menor que as demais alternati- que precisam ser estudados e co-
relativamente baixa atribuída às vas propostas.Este conjunto de res- nhecidos em suas efetivas possibi-
organizações da sociedade civil in- postas indica uma possível tendên- lidades. O movimento pelo consumo
dica que os respondentes ainda não cia à atomização da ação política e consciente, convidando à ação coti-
atribuem grande relevância a este da participação na esfera pública. diana de consumidores informados
segmento no que se refere à sua in- Os consumidores querem partici- e conectados entre si –seja articu-
fluência sobre as compras públicas, par das decisões coletivas que lhes lados individualmente, em peque-
ainda que, em princípio, estas ins- afetam, mas, em sua maioria, não nos grupos ou em comunidades – é
tituições pudessem desempenhar se veem representados pelas insti- um passo nessa direção, e parece
um papel relevante representando tuições que as operam. Este é um cada vez mais refletir os anseios da
o interesse dos próprios cidadãos. caso emblemático do momento em sociedade, apoiando-se num grupo
As “soluções técnicas”, representa- que vivemos, marcado pela busca que, mesmo minoritário, se mostra
das pela burocracia estatal (funcio- por novas formas de fazer política engajado e consistente.

85
CONCLUSÕES
Do discurso à prática

Como dissemos na apresentação zer, portanto, que aproximadamente ficam muito reforçadas tanto a con-
desta publicação, ao dividirmos em um terço dos consumidores revela- sistência da metodologia criada e
duas partes o registro dos resultados -se capaz de perceber as múltiplas utilizada pelo Akatu como a conexão
desta pesquisa 2012, visamos garan- dimensões da RSE, com exceção do entre essas duas importantes áreas
tir a necessária ênfase em dois dife- tema Governança organizacional. de aplicação prática do conceito de
rentes focos de atenção que, mesmo Estas constatações trazem para as sustentabilidade.
sendo complementares e interliga- empresas brasileiras a certeza de Entre os dados levantados em rela-
dos, têm importantes especificida- que sua atuação não passará desper- ção ao que fazem as empresas no
des. Assim, à conclusão da parte 1 cebida em campos tão diversos como vasto campo da RSE, vemos que as
– em que enfatizamos os achados em as relações com seus empregados e expectativas sobre suas práticas vão
relação às aspirações dos consumi- consumidores, com as comunidades bem além das obrigações legais e
dores e à sua assimilação das atitu- impactadas por suas atividades, e interesses específicos do negócio.
des, conceitos e práticas do consumo com os direitos humanos, a ética e o Ao mesmo tempo, num aparente pa-
consciente – acrescentamos, agora, meio ambiente. radoxo, detectamos maior ceticismo
nossas observações conclusivas so- Para esse expressivo contingente de do consumidor – mais incrédulo so-
bre a percepção do consumidor sobre cidadãos, parece já estar ultrapassa- bre o que as empresas dizem fazer,
as empresas no tocante à sua res- da a fase em que o marketing verde mas mais demandantes para que re-
ponsabilidade social e à sua relação e a filantropia seriam suficientes gulações externas, legais, imponham
com a sustentabilidade e o consumo para garantir a uma empresa a boa sobre elas o cuidado com sua res-
consciente. imagem necessária em um mercado ponsabilidade social. Essa tendência
As informações levantadas mostram cada vez mais transparente e compe- – já detectada em anos anteriores –
que, no curto período de dois anos titivo. A comoditização – tendência a parece ser uma decorrência indese-
(entre 2010 e 2012), a responsabi- que produtos e serviços concorrentes jada do uso excessivo e descuidado
lidade social das empresas subiu se tornem cada vez mais semelhan- dos conceitos de sustentabilidade e
significativamente de importância tes – torna a reputação e a imagem responsabilidade social como eixos
na agenda do consumidor brasileiro. pública das marcas ativos, ao mesmo de comunicação e marketing, espe-
Mesmo que ainda não seja objeto tempo, cruciais e delicados, na medi- cialmente por marcas que os utilizam
de interesse da maioria, o tema vem da em que dependem de fatores fora apenas como discurso, com pouco ou
despertando a atenção de uma pro- do controle das empresas: reputação nenhum respaldo objetivo.
porção crescente de consumidores não é o que uma empresa fala de si Nesse cenário, os consumidores de-
e, combinado com as questões da mesma, mas aquilo que seus diver- claram uma alta importância dada
sustentabilidade e do meio ambien- sos públicos, especialmente seus a aspectos da responsabilidade so-
te, vem sendo cada vez mais um ob- stakeholders, falam dela. cial em suas decisões de compra.
jeto do debate público. A expansão É notável, nesse aspecto, a grande Por mais que tal importância, no
do acesso à internet tem um papel relação entre a maior assimilação do momento da efetiva decisão, seja
potencializador desse cenário, possi- consumo consciente e maior proati- combinada a muitos outros fatores,
bilitando que mais e mais cidadãos vidade no debate público sobre RSE. conscientes e inconscientes, é ine-
obtenham informações sobre fatos Os consumidores mais conscientes gável que se trata de aspectos com
envolvendo as empresas de seu inte- são três vezes mais ativos como peso relevante. Se não impactam
resse e – muito importante – acom- influenciadores no debate público as compras específicas no cotidia-
panhem o debate sobre estes acon- sobre o tema, sendo 7 em cada 10 no das compras, certamente terão
tecimentos. deles, pelo menos, conectados ao efeito acumulativo na formação de
Com exceção do tema Governança tema. Tendo em conta que a meto- imagens e preferências que, em seu
organizacional, os outros 6 temas dologia para categorização do grau conjunto, pesarão no sucesso ou in-
centrais estabelecidos pela ISO de assimilação do consumo cons- sucesso comercial das marcas em
26000 são reconhecidos por 29% a ciente é totalmente independente seus processos de estabelecimento
41% dos consumidores. Pode-se di- dos aspectos específicos da RSE, de reputação no mercado.

86
Na parte 1 desta publicação, co- explicitamente, no mesmo). esse cuidado quando se trata de co-
mentamos que o consumidor incor- Acreditamos que o mesmo raciocí- municar sobre sua responsabilidade
pora às suas aspirações o “caminho nio se aplica à responsabilidade so- social ou ação voltada à sustentabi-
sustentável” mesmo sem conhecer cial, a qual – mais do que ser ergui- lidade. Os efeitos negativos desse
ou utilizar corretamente a expres- da como bandeira de comunicação descuido, porém, afetam a todos: o
são “sustentabilidade”. Comen- e marketing – deve ser traduzida uso desses termos, cada vez mais
tamos também que, para muitos, em adoção de práticas e políticas desgastados pela exposição exces-
o uso da expressão pode ter um concretas, conceitualmente con- siva e desqualificada, passa a ter
sentido negativo, quer por ser er- sistentes e ancoradas em relações o efeito inverso, fazendo com que
roneamente interpretada como um sólidas e transparentes com as par- sejam tomados como lugar-comum
indesejável discurso normativo e tes interessadas. E só então, uma mesmo quando utilizados por em-
restritivo, quer por ser vista como vez que exista essa base real, faz presas que tenham ações concretas
um termo “da moda”, esvaziado de sentido a comunicação corporativa para respaldá-los.
conteúdo real. apropriar-se deste conceito, dando Estas são, para nós, constatações
A recomendação é, por um lado, re- a devida visibilidade ao que efeti- com grandes implicações e que
servar o termo para uso preciso e vamente a empresa faz. Para isso, precisam ser adotadas com cuidado
apropriado, e focalizar-se em mos- o conjunto de práticas explorado para “não jogarmos fora o bebê jun-
trar (via comunicação da empresa nesta pesquisa e em sua edição to com a água do banho”. Susten-
com o público) como a marca, pro- anterior é um interessante ponto de tabilidade e responsabilidade so-
duto ou serviço contribuiu de fato e partida, a ser ampliado e consolida- cial são e continuarão a ser pilares
concretamente para as “aspirações do por cada empresa à luz das im- fundamentais para apoiar a tran-
sustentáveis” do consumidor, sem portantes ferramentas já existentes sição civilizatória em que estamos
necessariamente qualificá-las des- para gestão da RSE. todos envolvidos. Por isso mesmo,
sa maneira. A propaganda enganosa – como estes pilares devem ser preserva-
Em um bom exemplo de “ganha- mostra nossa pesquisa e bem sa- dos, utilizados apropriadamente e
-ganha”, recomenda-se preservar bem os dirigentes empresariais e incorporados às práticas reais das
o conceito no que ele tem de útil profissionais de marketing – é um empresas para – finalmente – con-
e, ao mesmo tempo, tornar mais dos maiores erros que uma em- taminar positivamente sua imagem
simples e efetiva a comunicação presa pode cometer perante seus e transparecer naturalmente na sua
com o público, indo direto ao pon- consumidores. Isso, obviamente, comunicação.
to e dispensando a intermediação não se aplica apenas aos produtos Não podem ser máscaras: precisam
conceitual (que permanece como e serviços que vende mas, também, ser a estrutura que dá forma e soli-
base do posicionamento e do dis- à imagem que apresenta. Curio- dez ao conjunto.
curso, mas não precisa aparecer, samente, muitas parecem não ter

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ANEXOS
ANEXO 1 – PLANO AMOSTRAL
Este relatório foi produzido a Foram entrevistados 800 homens e mulheres, com idade igual ou superior
partir dos resultados de uma a 16 anos, das classes A, B, C e D, de todas as regiões geográficas do Brasil,
pesquisa de opinião pública nas seguintes localidades:
quantitativa realizada por meio
Sudeste: Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo
da aplicação individual, pessoal
e domiciliar de um questionário Sul: Curitiba e Porto Alegre
estruturado, elaborado em Nordeste: Fortaleza, Recife e Salvador
conjunto pela GfK Brasil, e pelo
Akatu, com duração de 45 minutos. Norte e Centro-Oeste: Belém, Brasília, Goiânia e Manaus

Gráfico 37: Distribuição da amostra por região

Amostra de 800 entrevistas,


segue a seguinte distribuição

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A distribuição amostral foi cons- fim de evitar um viés nos resultados utilizadas na construção da amostra
truída de forma a garantir a quan- do estudo, quando analisados para e na definição dos fatores de pon-
tidade mínima de 30 entrevistas o total Brasil ou por regiões, esta deração foram baseadas no Censo
por localidade e 130 entrevistas em distorção na amostra foi corrigida 2000 do IBGE.
cada região geográfica e, com isso, por meio do mecanismo de ponde- A margem de erro máxima do es-
permitir a leitura dos resultados por ração do banco de dados. tudo para resultados relativos ao
região do País. Em função disso, a Em cada cidade, as entrevistas fo- total Brasil (800 entrevistas) é de
distribuição das entrevistas não ram distribuídas por cotas de sexo, 3 pontos percentuais para mais ou
corresponde exatamente à propora- idade, escolaridade e ocupação, para menos, considerando-se um
ção da população com idade a partir conforme composição da população intervalo de confiança de 95%.
de 16 anos nas localidades estuda- de 16 anos ou mais. Os dados foram coletados de 26 de
das e nas regiões geográficas. A Todas as informações de população outubro a 21 de novembro de 2012.

ANEXO 2 – SIGNIFICADO DE “FELICIDADE”


Ver tabela 7 a seguir

A investigação do que os entrevis- sobre diferentes dimensões e pos- tística do conjunto das respostas e
tados declaram como sendo seu sibilidades de sua vida seria ativa- seu agrupamento em macrotemas.
entendimento de “felicidade” foi da sem que houvesse algum viés Tendo em conta que uma mesma
realizada com base em uma per- decorrente da percepção do tema resposta pode gerar várias frases-
gunta simples, respondida livre- da pesquisa. síntese agrupadas em um mesmo
mente pelo entrevistado, em suas As respostas foram analisadas se- macrotema, o cálculo dos percen-
próprias palavras. Esta pergunta foi gundo metodologia usual da GfK, na tuais de respondentes associados
colocada no início do questionário, qual o seu conteúdo das respostas é a cada um deles é feito de modo a
antes de qualquer pergunta que decupado em uma série de “frases- evitar dupla contagem e resulta no
indicasse os focos da entrevista e síntese” que refletem os elementos percentual líquido (NET) mostrado
logo após o exercício de prioriza- centrais do discurso do entrevista- para cada macrotema. A tabela a
ção entre diferentes desejos – que, do. Não há limite para o número de seguir apresenta os macrotemas,
como descrito, aborda oito dimen- frases extraídas de cada resposta, as frases-síntese neles incluídas e
sões do cotidiano e traz, com igual de modo que múltiplas facetas do seus respectivos percentuais para o
ênfase, desejos relacionados aos que foi dito por cada responden- total da amostra e para as princi-
“caminhos” da sustentabilidade e te podem ser capturadas. Essas pais segmentações trabalhadas na
do consumismo. Acreditamos que, frases-síntese são então padroni- pesquisa.
assim, a reflexão do entrevistado zadas, permitindo a análise esta-

89
ANEXO 3 - SIGNIFICADO DE
“SUSTENTABILIDADE” E
SEGMENTAÇÃO CONFORME
A COMPREENSÃO SOBRE
ESSE CONCEITO
Ver tabela 8 na pág. 92
Tabela 7: Concepção de Felicidade para os respondentes
Assim como no estudo sobre o con-
ceito de felicidade, a investigação
do que os entrevistados declaram
como sendo seu entendimento so-
bre “sustentabilidade” foi realizada
com base em uma pergunta simples,
respondida livremente pelo entre-
vistados, em sua próprias palavras.
As respostas foram analisadas se-
gundo metodologia usual da GfK,
na qual o conteúdo das respostas é
decupado em uma série de “frases-
síntese” que refletem os elementos
centrais do discurso do entrevista-
do. Não há limite para o número de
frases extraídas de cada resposta,
de modo que múltiplas facetas do
que foi dito por cada respondente
podem ser capturadas.
Para análise estatística, essas fra-
ses-síntese, depois de padroniza-
das, foram classificadas pelo Akatu
em cinco categorias pré-estabele-
cidas. A tabela a seguir apresenta
essas frases e as categorias em
que foram classificadas. Conforme
a combinação dos tipos de respos-
ta que deram, os respondentes fo-
ram classificados em quatro tipos,
refletindo seu entendimento so-
bre sustentabilidade: Sustentável,
Ambiental, Limitado e Não sabe.
A seção Como o brasileiro enten-
de a sustentabilidade? do relatório
desta pesquisa, traz uma explicação
dos critérios utilizados e de como
essa metodologia foi aplicada.

90
91
Tabela 8: Visão dos respondentes sobre sustentabilidade

Para você, o que significa “sustentabilidade”? O que mais? Menções


(respostas e % dos 478 respondentes que “ouviram falar” do termo)
Qtd %
Desenvolver sem comprometer as gerações futuras 30 6%
SUSTENTÁVEL

Consumir sem excessos, com responsabilidade com as gerações futuras 20 4%


Desenvolvimento socioeconômico com o mínimo possível de agressão ao meio ambiente 3 1%
O modo de viver 9 2%
Ideia de desenvolvimento econômico e social sem quaisquer danos à comunidade 6 1%
Cuidar do meio ambiente 169 35%
Ter responsabilidade com o meio ambiente 47 10%
AMBIENTAL

Saber utilizar os recursos naturais sem desperdício 42 9%


Uso responsável dos recursos naturais 29 6%
Manter o meio ambiente equilibrado 23 5%
Sustentar a vida com as coisas saudáveis que a Terra nos dá 14 3%
Reciclagem de matéria-prima 123 26%
Empresa que sustenta sem prejudicar o meio ambiente 60 13%
Não jogar lixo na rua 39 8%
Reciclar e reaproveitar sem poluir nem agredir o meio ambiente 39 8%
Economizar água e energia 37 8%
Diminuição de gases poluentes 31 6%
LIMITADO

Renovável: se tirar uma árvore, planta outra no lugar 19 4%


Qualidade de vida 16 3%
Reutilização de água 13 3%
São produtos com durabilidade e que não necessitam de meios ou recursos naturais 7 1%
Consumir alimentos saudáveis 4 1%
Responsabilidade empresarial e política 4 1%
Outros (mencionados por apenas 1 ou 2 respondentes) 7 1%
Pessoa que se sustenta sozinha 4 1%
EQUIVO-
CADO

Não ter inflação/ economia do país estabilizada 47 10%


Outros (mencionados por apenas 1 ou 2 respondentes) 3 1%

92
ANEXO 4 - RANKING DE PRIORIDADES DAS PRÁTICAS DE RSE

Como explicado na seção Práticas A redução no número de práticas especialmente alta ou baixa, quer
de RSE do relatório de pesquisa, as teve como objetivo simplificar a pelos consumidores, quer pelas em-
18 práticas levadas à análise dos análise pelos entrevistados, mas a presas, bem como a facilidade de
consumidores nesta edição são mesma não deve ser vista como um entendimento pelos entrevistados e
um subconjunto das 56 práticas resumo da agenda representada pe- a inclusão de pelo menos uma prá-
trabalhadas na edição anterior, as las 56 práticas originalmente iden- tica de cada dimensão da RSE. A ta-
quais, por sua vez, representavam tificadas e testadas. O critério para bela a seguir mostra as 56 práticas
uma síntese do levantamento feito a seleção das 18 práticas testadas originais e, marcadas em amarelo,
pelo Akatu em parceria com o Ins- nesta edição foi uma combinação as 18 práticas selecionadas para a
tituto Ethos, compilando um amplo de atributos, incluindo a diferen- pesquisa 2012.
leque de referências. ciação decorrente de priorização

Tabela 9: Práticas de RSE pesquisadas em 2010 e 2012


(destacadas em amarelo)

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Instituto Akatu
DIRETORIA
Diretor-presidente
Helio Mattar
Diretor adjunto
Eduardo Schubert

CONSELHO FISCAL
Elcio Anibal de Lucca
Guilherme Amorim Campos da Silva
Thomas Lanz

CONSELHO DELIBERATIVO CONSELHO CONSULTIVO CONSELHO ACADÊMICO


Anamaria Cristina Schindler Ana Lucia Villela Eduardo Giannetti
Celina Borger Torrealba Carpi Antonio Jacinto Matias Eduardo Viola
Helio Mattar Carlos Rocha Ribeiro da Silva Emilio La Rovere
João Paulo Capobianco Daniela Nascimento Fainberg Fátima Portilho
Eduardo Bom Angelo
Jorge Abrahão Jose Augusto Drummond
Eduardo Ribeiro Capobianco
Luiz Ernesto Gemignani Jurandir Zullo
(presidente do conselho) Eduardo Schubert
Lívia Barbosa
Fabio Feldman
Oded Grajew Mario Monzoni
Geraldo Carbone
Ricardo Cavalieri Guimarães Nisia Werneck
Gustavo Donda
Ricardo Vacaro Rachel Biderman
José Berenguer
Ricardo Young Silva José Eduardo Nepomuceno Martins Ricardo Abramovay
Sergio Mindlin Juscelino Fernandes Martins (presidente do conselho)
Lúcia Maria Araújo Roberto Schaeffer
Maria Alice Setubal
Paulo Anis Lima
Renata Moura
Ricardo Ariani
Ricardo Carvalho
Thais Corral
Assistentes de Diretoria Gerência de Comunicação Gerência de Desenvolvimento
Daniel Silva Ana Néca de Parcerias
Paula de Santis Caroline Derschner Ana Maria Melo
Vera Antunes Cristina Bodas Any Bittar
Denise Conselheiro Diego Schultz
Gerência Vivian Rubia Ferreira
Administrativo-Financeira Gerência de
Chayanne Silva Conteúdo e Metodologia Gerência de Educação
Claudio Santos Barbara Balbino Angela Serino
Larissa Ferreira Dalberto Adulis Júlia Rosemberg
Laura Sousa Estanislau Maria Silvia Frei de Sá
Juliano Mendonça

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