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Padre Gaspar

A via do trabalho
e da pobreza
Arlindo de Magalhães Cunha
presbítero

Padre Gaspar
A via do trabalho
e da pobreza

2ª edição
Padre Gaspar
A via do trabalho e da pobreza
Arlindo de Magalhães Cunha, presbítero

Comunidade Cristã da Serra do Pilar


Largo de Avis
4430 Vila Nova de Gaia – Portugal
Telefone: +351 911 937 502
E-mail: comunidadeserrapilar@gmail.com

Capa e paginação
Rui Pedro Vasconcelos

Impressão e Acabamentos:
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1ª edição
Coimbra, 1998

2ª edição
Vila Nova de Gaia, abril de 2020

ISBN:
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Depósito Legal:
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reproduzida no seu todo ou em parte, qualquer que seja a sua forma ou processo,
sem autorização prévia do autor.
Introdução

As consequências do Concílio fizeram-se sentir em todos


os países europeus mais ou menos da mesma maneira e
quase sempre ao mesmo tempo, embora de modo diferente
por força do contexto próprio de cada igreja local.
Foi assim também na Igreja do Porto. O Vaticano II e a
(esperança de) abertura política que se desenhou em Por-
tugal a partir de 1968 emprestaram a esta diocese, nos fi-
nais da década de 60, um dinamismo muito próprio. Em
1969 inclusive, podia regressar do exílio o Bispo diocesa-
no, D. António Ferreira Gomes, um homem que «procurou,
por categorias diversas, que os cristãos do seu tempo de
aceleração da História, não caíssem nem na Modernidade,
ignorando o Cristianismo, nem também no Cristianismo
ignorando a Modernidade»1. Dez anos antes, isoladamen-
te e numa atitude profética, ele tinha enfrentado o ditador.
Durante o tempo em que esteve impedido de entrar no país,
muitas realidades entretanto tinham evoluído ou mudado.
O Concílio, só ele, não explica tudo; mas quase bastava.
1
PINHO, Arnaldo Cardoso de - Uma Cristologia para a identidade cristã
na modernidade, Salamanca/Porto: Universidad Pontificia de Salamanca/
Fundação Engº António de Almeida, 1989, p. 309.

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Padre Gaspar: A Via do Trabalho e da Pobreza

Ao chegar, D. António encontrou, por exemplo, no pres-


bitério diocesano, uma nova geração, e muita marcada, que
não escapava, no Porto como em muitos outros países e
dioceses, ao fenómeno ambivalente da contestação que es-
tava na ordem do dia2. Mas, se a reentrada na Diocese do
Bispo Ferreira Gomes abriu renovadas portas de esperança,
a sua prática pastoral — D. António era um grande pensa-
dor mas as suas capacidades de Pastor não se lhe podiam
comparar — não foi, muitas vezes, capaz de compreender o
que estava em questão. Muitos projectos poderiam não ter
estiolado, muitos problemas poderiam ter sido evitados, e
muitos presbíteros não teriam abandonado o ministério.
Mutatis mutandis, passou-se um pouco o mesmo em to-
das as dioceses portuguesas. Foi significativo para mim o
que João Paulo II disse em Fátima exactamente aos Bispos
de Portugal, no decurso da sua primeira viagem ao nosso
país: «Desejo sublinhar apenas uma função do pastor: a de
guiar o rebanho. Guiar é ir à frente. À frente para fazer o
reconhecimento do caminho: medir a profundidade das
torrentes, detectar perigos, garantir a marcha; à frente
para estimular e incutir coragem; à frente para mostrar o
rumo certo e evitar desvios. Nas fases de instabilidade e
mudança, é indispensável e preciosa a função destes guias
e é abençoado o povo que os encontra nos seus Bispos. Se,
pela graça do Espírito Santo, pelas virtudes e dotes cultivados

2
«A informação religiosa de 1968 foi marcada, se não dominada, por
um facto novo: a contestação que caracteriza a crise actual» (LAURENTIN,
René - La «contestación» en la Iglesia, Madrid: Taurus, 1970 [1ª edição fran-
cesa de 1969], p. 12). Paulo VI, em 1969, diria ao Conselho de Leigos: «As
múltiplas contestações podem, em certa medida, ajudar a Igreja a renovar-
-se, mas correm também o risco de matar a fé do povo cristão» (citado por
LAURENTIN - Ibid.).

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Introdução

com esforço e oração e pela sólida preparação, os Bispos de


um País forem capazes de discernir, com clarividência, o
sinal dos acontecimentos, muitos encontrarão neles alguém
que, no meio de realidades ambíguas, porque polivalentes,
faça a crítica das situações, das tendências, das correntes de
pensamento e das ideologias e interrompa assim a marcha
incerta. Se além de guias são pais, saberão incentivar a se-
guir por novos caminhos, ainda que desconfortáveis, aban-
donando os atractivos de sendas mais fáceis, mas quase
sempre enganadoras»3.
Penso não se ter tratado de uma palavra inócua: «Guiar é
ir à frente … a fazer o reconhecimento do caminho». O que
mais tarde repetiria um observador de mérito e imparcial:
« … em Portugal … a Igreja portuguesa estava a perder um
tempo precioso que depois não pôde recuperar. (…) Bem se
viu depois que dificuldades encontrou a Hierarquia diante
da Revolução de Abril, e como não teve outro remédio se-
não entoar o mea culpa nos momentos decisivos»4.
Entretanto acontecia o 25 de Abril. Libertaram-se as
energias de todo um Povo «derramado pelas ruas». E isso
sentiu-se, na Sociedade e na própria Igreja, aqui num cer-
to uníssono com toda uma ânsia de renovação e esperança
que se seguiu ao Vaticano II.
Inevitavelmente, diria, nem tudo, na Sociedade e na Igre-
ja, correu pelo melhor.
Foi neste contexto e período — tão genericamente apon-
tado — que o Gaspar começou a sua vida presbiteral: em
3
JOÃO PAULO II - «Pastor entre Pastores» (discurso aos Bispos por-
tugueses, em Fátima, em 1982.05.13), in Discursos do papa João Paulo II em
Portugal, Lisboa: Conferência Episcopal Portuguesa, 1982, pp. 57-48.
4
TARANCÓN, Vicente Enrique - Confesiones, Madrid: PPC, 1996, pp.
711-712.

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Padre Gaspar: A Via do Trabalho e da Pobreza

1971, seria ordenado presbítero por D. António Ferreira


Gomes.
Companheiros desde os tempos do Seminário, ele era
um pouco mais novo que eu. Mas as nossas vidas andaram
sempre cada uma por seu sítio. Chamava-lhe o meu aguilhão.
Tive sempre consciência de que, de lugares diferentes dos
meus, ele me chamava continuamente a atenção para di-
mensões do ser cristão e mesmo do ser pastor que eu, com
relativa facilidade, poderia desatender.
Estou convencido que a sua figura de presbítero foi, na
Igreja do Porto, um «sinal de contradição» (Luc 2,34) e um
sino que retiniu a convocar a realidades maiores e a urgên-
cias inadiáveis, animado duma esperança que não era fei-
ta de certezas mas de uma enorme capacidade de procura.
Como ele deixou escrito, porque não tinha nada a perder,
ousou. Com a prudência de que foi capaz, mas também
com a audácia dos fortes.
Não pretendi escrever a sua biografia; foram os seus es-
critos que me interessaram. Evitei por isso - quanto possível
- todas as referências pessoais, à excepção de algumas pou-
cas que aparecem em textos publicados antes da sua morte.
Os seus escritos, repito, esforçando-me embora por situar
tudo no contexto da história geral e pastoral do tempo em
questão. Só no fim tentarei esboçar-lhe o retrato.
Na Igreja — como em tudo o que é humano — a memó-
ria dos homens é muito curta. Mas a vida do Gaspar, que
não pretendo qualificar, não se pode perder. Morreu como
viveu, cheio de fé e confiança:
«“Provou-os como o ouro no cadinho” (Sab 3,6). É assim
que me sinto provado no cadinho do sofrimento. No meio
da dor cheguei a dizer que o Senhor estava a atiçar o fogo
com muita força. Não sei o que ele quererá separar em mim

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Introdução

e purificar. Mas, depois destes dias, o certo é que me sinto


muito mais próximo dele, falando mais com ele. É uma es-
tranha sensação esta: por um lado, desejo lutar para con-
servar este corpo e a vida o mais tempo possível e com
um mínimo de qualidade; mas por outro, sinto que algo se
rasgou dentro de mim e que me estou desprendendo des-
te corpo mortal. Será o corpo Espiritual que se está cons-
truindo? Oxalá! (…) É o Espírito que permanece. O corpo
cada vez me pertence menos e é a Terra que o comerá. O
Espírito é a única coisa que posso entregar a Pai: “Pai, nas
tuas mãos entrego o meu espírito!”. Se fosse o corpo que
eu pudesse entregar ao Pai, bem pouca coisa restaria no
fim desta peregrinação terrena»5 — escrevia a escassos três
meses da sua morte.

***

Este texto começou por ser um trabalho escolar; prova-o


um certo aparato que inegavelmente tem.
Ainda pensei retirar-lho. Mas isso exigir-me-ia uma dis-
ponibilidade de tempo que, de facto, nesta altura não tenho.
O leitor desculpar-mo-á. Apenas traduzi as citações que, no
original, não foram feitas em português, e acrescentei uma
ou outra nota de rodapé a explicar algum termo técnico.
Estava longe, quando elaborei este estudo. Tive por isso
grande dificuldade em reunir os textos do Gaspar. Devo à
Conceição e ao Crespo - que com ele tanto privaram - a re-
colha de maior parte. O Serafim e o Martins e também o
5
Reflexões, apontamentos que o Pe. Gaspar foi escrevendo ao longo da
sua doença e, com o título «É o Espírito que permanece», foram publica-
dos, depois da sua morte, inVoz Portucalense de 1995.05.04. p. 2 Ver trans-
crição em Apêndice.

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Padre Gaspar: A Via do Trabalho e da Pobreza

Porfírio encontraram tudo o mais. Mas fico convencido que


muitos outros estão mesmo perdidos: até as comunidades
têm uma memória curta! Ainda nos espantamos que, do
passado, tão pouco tenha chegado até nós!

***

O Gaspar fez parte de um grupo de padres da minha


geração e do presbitério do Porto que, acrescentado de al-
guns outros que aqui nasceram ou viveram, se dedicou,
de modos diferentes, mas com enorme dedicação, à causa
operária: o Serafim, o Castro Sá, o Torres Maia, o Manuel
António, o Crespo, o Martinho e o Constantino. A todos
estes tenho de juntar o Pe. Manuel Gonçalves (do Dr. Nar-
ciso falarei em devido tempo). Todos eles foram, e são, para
mim, verdadeiros aguilhões: como o Gaspar. Com dificulda-
des embora, conseguiram não deixar calar, nesta Diocese,
um grande clamor.
Nestas coisas de tratar o texto, o Manuel Neto e o Adelino
dão-me sempre uma colaboração indispensável e preciosa,
a que eles e eu já nos habituámos. Fica o registo da amizade.
Finalmente, em pano de fundo desta reflexão, estão ine-
vitavelmente presentes os Dr.s Albino de Carvalho Moreira
e Narciso Rodrigues, já falecidos: dois mestres que fizeram
uma geração de presbíteros da Diocese do Porto. Deixo-lhes
aqui a homenagem e a veneração de um discípulo.

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