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Norma 'I cl k ,
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Hú YÍn\e :mos. quando u GT Mulher e Literatura ini ciava seus trabalhos, nos
preocupáYn.mos com as questões relac ionadas à definição de gênero e às condições de
dt:sigua ldade entre u ·'masculino" e o "feminino" definidos pela cultura ocidental.
Indagávamos acerca das possibilidades de realização artística das mulheres inseridas
naquela cultura diante de um cânone de criadores homens que as definiam como
reprod utoras, não engendradoras culturais. As mulheres não haviam sido excluídas de
at ividades criadoras ao acaso. A exclusão e o esquecimento que marcavam a cultura
eram decorrentes de premissas, ou preconceitos, gerados em processos históricos e
relações sociais específicas. Duby e Perrot ( 1990) sugerem mesmo que a profusão de
fig uras femininas que inundaram os vários âmbitos da cultura nos últimos séculos seja
proporcional à retirada efetiva de mulheres da esfera pública e criadora. Neste
movi mento, foi impugnada às mulheres qualquer autoridade de expressão, tomando-as
sujeitas às formulações masculinas.
Foi preciso interrogar as relações mantidas por mulheres reais, na qualidade de
agentes históricos, com o conceito normativo de "Mulher", produto do discurso
hegemônico , para se tentar entreter com o passado uma outra relação. Foi preciso,
seguindo Woolf (1985), indagar das dificuldades da artista mulher em seu proce~o de
autodefiniçã o, que necessariamente precede toda criação. Uma vez que esse processo se
complica pelas tramas dos textos da literatura masculina. Diz Showalter (1977: 4) que
" [ ... j as mulheres constanteme nte conseguem ser conscientes mas só raramente
conseguem uma autodefiniçã o", por lhes ser negada a autonomia, e a subjetividade que
a pena representa. Em 1889, Narcisa Amália deu voz a essa mesma idéia no jornal
Garatuja: " A pena obedece ao cérebro, mas o cérebro submete-se antes ao poderoso
influ xo do coração, como há de a mulher revelar-se artista se os preconceitos sociais
ex igem que o se u coração cedo perca a probidade, habituando-se ao balbucio de
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se de um só? Quem sabe! (Muraro et alii , 1992 : 60 ).
A realidade mostra-se a nós por meio de um sistema hi storicamente determ inado
de med iações. ,, w11111 , da med iação lingüística, lembra Muraro. Ou seja, há o Célm inho
de identificação de autoridade e poder, uma tautologia derivada de investigações c
tratados que chegaram a um acordo ao atribuir ao Poder o controle dos códi gos
culturais. E. inversamente, ao fazer deste controle a quintessência do podcr. Porém,
ressalta Murara, há uma outra resposta possível, o caminho da autoridade di stinta do
poder, o caminho da relação com a confiança, da qual temos certeza graças à antiga
relação com a mulher que nos deu vida e palavra (Murara et ulii, 1992: 62). Arcndt,
anteriormente. já havia distinguido poder e autoridade associando a autoridade à
confiança. Precise-se: Hannah Arendt não menciona a relação mãe- filha entre as
relações humanas caracterizadas pela confiança.
No entanto, autores mais nossos contemporâneos o fazem . É o caso de Maturana e
Verden-Zõller que examinam em detalhe os fundamentos da condição humana que
permeiam o afetivo e o lúdico. Mostram que o patriarcado é um modo de emocionar que
pode ser vivido de várias formas mas não engloba relações de confiança. Basicamente,
o patriarcado europeu de que somos subsidiários é uma"[ ...] maneira de viver [que] se
caracteriza pelas coordenações de ações e emoções que fazem de nossa vida cotidiana
um modo de coexistência que valoriza a guerra, a competição, a luta, as hierarquias, a
autoridade, o poder[ ... ] a apropriação de recursos e verdades" (2004: 35).
A este tipo de autoridade os autores contrapõem o respeito e a dignidade da
relação materno-infantil cimentada pela emoção que estrutura a coexistência social, o
amor, e numa dinâmica de total aceitação mútua na intimidade do brincar (Maturana &
Verden-Zõller, 2004: 124).
Bakhtin já descrevera o ri so como uma das linguagens não oficiais que operam ,
com jovialidade e abandono, para romper a linguagem oficial do status quo. Kristeva
afirma que o ri so tem uma intensidade polivocal , é a erupção corporal que suspende
ini bições ao rom per um a proibição (apud Yeager, 1988: 180). Porém, lembra Yeagc r,
há resistência quando se menciona a idéia do lúdico no meio <la teoria. A autora acredita
que essa resistência simplesmente espelha a exclusão do brincar no di scurso dominunte
sobre a mulher. E justapõe a necess idade <le a cultura dom inante reprimir O brincar na s
mulheres com o poder de jogo das críticas fem ini stas. "Estabelec i uma matriz teórica na
, u.d e p,):,;-..1 ,1:I 1.-' ,)11 ~·c hn ti lúd1L'1J ,.' lll llll t1111 1110<.Jo de ilu 111in:1r e tc,nw r \o lá1il o que.: (.:
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dr ('llJL'!'. l'lll ljlll' f:ll~n-am de seu pr:.ize r e cncu ntrav:.im prazer no tex to, e incorpmar
1..'S~l's 1c111 as a 11ussas an:í li ses e teorias são tarefa s ainda a cumprir. Observa-se, p<.:lo
pc1\:urs .. 1 traçiJch a necess idade de vários caminhos de sa beres, veredas até, para se
Lr~war um esboço . Implica também a recuperação de uma força e o júbilo, a jo vialidade,
4ue traria consigo.
--o amor reclama palavras porque sabe que o corpo não fala sozinho. As palavras
são i11ca11descentes .. (Piflon, 1994: 70).
Re_(t!rências Bibliográficas
DUBY, G. & PERROT, M. História das Mulheres. Tradução de Ana Losa Ramalho
e outros. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.