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A quem pertence a ciência?

Conhecimento científico, soberania social e saberes locais


VINÍCIUS CARVALHO DA SILVA*

Resumo:
As ciências modernas são parte fundamental da cultura ocidental, e a partir do
globalismo se impõem como elemento comum a todas as sociedades que
buscam o desenvolvimento econômico. Sendo assim, além de suas
propriedades epistemológicas, as ciências fazem parte de um projeto de poder
cuja tendência, na atual fase do capitalismo, é eliminar as formas alternativas
de saber, originárias de tradições regionais, vinculadas a territórios específicos.
Neste trabalho abordamos esse fenômeno e defendemos a necessidade de
pensarmos em uma concepção de conhecimento, capaz de abarcar tanto a
pesquisa científica padrão, global, quanto as formas de saber-fazer dos
contextos locais.
Palavras chave: Conhecimento científico; saberes tradicionais; território.
To whom does science belong? Scientific knowledge, social sovereignty,
and local knowledge
Abstract:
The modern sciences are a fundamental part of Western culture, and with
globalization they have been imposed as a common element to all societies
which seek economic development. Thus, in addition to their epistemological
properties, the sciences are part of a project of power, whose tendency, in the
current phase of capitalism, is to eliminate alternative forms of knowledge that
originated from regional traditions and are linked to specific territories. In this
essay we approach this phenomenon and defend the need to think about a
decolonized concept of knowledge, capable of encompassing both standard and
global scientific research, and the know-how of local context.
Key words: Scientific knowledge; traditional knowledge; territory.

*
VINÍCIUS CARVALHO DA SILVA é Doutor e mestre em Filosofia da Ciência e Teoria
do Conhecimento pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pós-doc em Saúde Pública pelo
Instituto de Medicina Social da UERJ. É pesquisador da Universidade Estadual do Tocantins. Lecionou
na Universidade Federal do Tocantins.

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Introdução Sendo assim, assumindo uma
imbricação entre as dimensões
Neste trabalho defendemos a presença epistemológica e sociológica das
da metafísica e dos valores nas teorias práticas científicas, discorremos sobre
científicas, seguindo a perspectiva que como a ciência moderna pode ser o
adotamos em Qual é o valor da instrumento de uma geopolítica do
ciência? Metafísica e axiologia na era poder1 que marginaliza saberes locais e
da Big Science e tecnociência? (SILVA, culturas regionais. Acreditamos, por
2017)1. Assumimos que as práticas fim, que tais saberes podem ser
científicas não são filosófica, ideológica valorizados e considerados como
e axiologicamente neutras. Elas são conhecimentos constituintes de uma
dotadas de bases conceituais, cosmovisão científica mais ampla.
doutrinárias, de valores, bem como de Aqui compartilhamos da visão de André
interesses sociais e políticos. Nesse de Oliveira Mendonça (2017) em seu
sentido, seguimos o entendimento de “Manifesto da Filosofia Pau-Brasil”
Videira (2013) ao ressaltar que a sobre o ensaio-manifesto como gênero
assunção de pressupostos metafísicos é que permite a livre reflexão filosófica.
parte constituinte, inevitável, das O ensaio é mais livre, abre a
práticas científicas. oportunidade para que as conjecturas
sejam mais ousadas, e para que a crítica
Sustentamos que a ciência moderna se aprofunde. O ensaio permite maior
deve conjugar pressupostos e valores autenticidade ao autor. A partir de tal
como “verdade”, “justiça”, “bem atitude queremos abordar as práticas das
público” e “beleza”. No entanto, chamadas “ciências modernas” como
consideramos que toda teoria científica instrumentos de um complexo projeto
faz parte de um projeto de poder. De de poder, de controle colonial e
acordo com estudos em sociologia das dominação econômica, exercido pelo
ciências (KNORR-CETINA; Norte sobre o Sul em escala global. Para
MULKAY, 1983), concebemos as Boaventura de Souza Santos (2007) o
práticas científicas como fenômenos Ocidente seria marcado pelo
sociais, históricos, atravessados por “pensamento abissal”, que divide
múltiplos e complexos fatores e historicamente o mundo entre
interesses. O caráter histórico e social dominantes e dominados. Refletimos
da ciência já fora evidenciado há
décadas, como podemos perceber nas 1
Em nossa pesquisa de doutoramento
investigações de Robert K. Merton analisamos como os modos de produção do
(1970). Está implícito nos “coletivos de conhecimento científico a partir da emergência
da chamada Big Science, no pós-guerra, e da
pensamento” de Fleck (2010) e nas
tecnociência, nas últimas décadas do século XX,
comunidades de praticantes de “ciência passam a ser largamente instrumentalizados de
normal” filiados a um paradigma, em acordo com os interesses estratégicos de
Kuhn (2001). O estudo de Forman grandes corporações e Estados. As ciências,
(1983) sobre a influência cultural da cada vez mais movidas por uma ideologia
utilitarista e empresarial, serviriam aos grupos
República de Weimar sobre a
que detém um crescente poder político e
formulação da teoria quântica também é econômico em escala global. Para saber mais
emblemático em ressaltar a importância ver: SILVA, V.C. Qual o valor da ciência?
da compreensão do contexto Metafísica e axiologia na era da Big Science e
sociológico para o entendimento das da tecnociência (Tese de doutorado). Rio de
Janeiro: Universidade do Estado do Rio de
práticas científicas.
Janeiro, 2017.

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em que medida é possível desvincular que o consumo de X seja interrompido.
as ciências de tal projeto, e por que Nesse caso, o fato de que sabemos algo
devemos nos engajar em uma acerca da natureza da realidade implica
concepção de conhecimento que inclua que devemos fazer algo a respeito deste
os saberes tradicionais das sociedades saber. Algo de natureza ética, social e
historicamente dominadas. política. Nem todo conhecimento
teórico nos exige essa tomada de
Uma imagem alternativa de ciência
posição política. Certamente esse é o
Assumimos que toda teoria científica caso na pesquisa fundamental, como em
possui pressupostos metafísicos, que, matemática pura ou cosmologia.
por sua vez, são concomitantes a Sempre que não for o caso, a
princípios axiológicos (SILVA, 2016). neutralidade moral e política será uma
Um pressuposto metafísico sempre está conduta inaceitável.
ligado a um princípio axiológico. Outra
maneira de apresentar essa mesma tese Além disso, assumimos que o conteúdo
é dizendo que todo praticante de de uma teoria é o resultado de uma
ciências possui crenças, convicções e pesquisa. Tal pesquisa é não somente
compromissos ideológicos, logo, as um conjunto de procedimentos,
práticas científicas não são neutras, nem métodos, protocolos, etapas, mas a
ideologicamente, nem eticamente. encarnação de uma atitude. Tal atitude
Cremos que a primeira formulação seja não é neutra, possui valores, parte de
mais agradável aos epistemólogos, ao pressupostos. Não é (somente) o
passo que a segunda aos historiadores e resultado mais heurístico, formal, e
sociólogos da ciência. No final, são específico de uma pesquisa que nos
filosoficamente equivalentes se obriga a passar do é ao deve ser
estivermos dispostos a buscar um (Embora tal obrigação fique patente no
consenso. Enfim, defendemos que assim caso da física nuclear, por exemplo,
como não há teoria física isenta de com o desenvolvimento da bomba
metafísica, tampouco há metafísica que atômica), mas a própria existência da
seja neutra, despida de valores. Nossas atividade de pesquisa em sentido amplo.
crenças acerca do que é não estão Isto é, se pesquisamos, é porque
desvinculadas de outras, acerca do que assumimos que há algo (o real) para ser
devemos fazer. conhecido (Só aqui temos dois
pressupostos metafísicos, um
Foi Einstein (2017) que, entre os físicos ontológico, que é a assunção da
filósofos do século XX, nos lembrou da existência de uma realidade objetiva e
lei de Hume, de sua vindicação de que ordenada e outro epistemológico, que é
não devemos passar dos fatos aos a assunção de que tal realidade pode ser
valores, ou seja, que o nosso conhecida). E assumimos também que o
conhecimento daquilo que é nada tem a conhecimento é o oposto do engano, da
nos dizer acerca do que deve ser. Mas ilusão, da falsidade, e, portanto, da
não é exatamente o conteúdo “duro” de mentira e do engodo (assumimos, pois,
uma teoria que nos dá valores morais, princípios axiológicos).
embora possa fazê-lo. Por exemplo, a
partir do momento em que descubro que Se Einstein estivesse certo, e se a
uma substância X está ciência nada tivesse haver com ética, se
significativamente correlacionada com a do é não chegamos ao deve ser, então
incidência de doenças Y, temos o dever ele poderia, de modo absolutamente
moral de envidar todos os esforços para instrumentalista e utilitarista, ter

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desvinculado “ciência” de “verdade”, e tais pressupostos metafísicos 2 , ele
não o fez, pois a seu ver o espírito geral assume, concomitantemente,
da ciência, ou a atitude básica que determinados princípios axiológicos, ou
anima a pesquisa científica pressupõe seja, valores. Ora, se a ciência é a busca
uma crença na possibilidade de da verdade, então ela deve ser feita com
aproximação da verdade. Se Einstein honestidade, lisura, desinteresse e
realmente acreditasse que o conteúdo publicidade (deve ser pública, acessível
mais específico de uma teoria nada tem a todos). Não é possível assumir o
a nos dizer sobre como devemos agir, pressuposto metafísico de que a verdade
ele não teria se tornado um intenso é a explicação ou ao menos a
pacifista e militante do desarmamento representação da realidade tal como ela
nuclear. Saber que E=mc2 o fez, durante é (ou o mais próximo do que ela seja) e
a guerra, alertar o governo dos Estados ao mesmo tempo favorecer a fraude, a
Unidos sobre os riscos de os alemães desonestidade, a trapaça, a
desenvolverem uma bomba nuclear, e predominância de interesses financeiros
no pós-guerra, tornar-se um militante e ganhos pessoais em detrimento dos
em prol do desarmamento. É justamente interesses teóricos, o segredo, a
por que sabemos como liberar a energia competição desleal etc. O que distingue
do núcleo atômico que devemos lutar a ciência da pseudociência, não é
para que isso jamais volte a acontecer somente o “método”, como queriam os
com propósitos bélicos. Ao contrário do filósofos da ciência tradicionais, nem
que o brilhante físico alemão escreveu somente suas “práticas”, como querem
em mais de uma oportunidade, estamos os novos filósofos, sociólogos e
convencidos de que Einstein é um dos historiadores da ciência, mas também os
maiores exemplos de que quanto mais pressupostos metafísicos e valores que
sabemos acerca do que é, maior nossa animam tais práticas (SILVA, 2016).
responsabilidade sobre o que deve ser. Podemos dizer que pseudociência ou
ciência prostituída ou degradada é tudo
Voltemos, pois, ao nosso ponto: toda aquilo que se chama ciência, parece
teoria física possui pressupostos ciência, cheira a ciência, mas no fundo
metafísicos e princípios axiológicos (O não passa de uma estratégia de poder e
que significa dizer que os praticantes de lucro, baseada na técnica.
ciências são atores sociais e históricos, e
como tais, não são neutros). Tomemos A ciência deve cultivar valores como
como exemplo aquele tipo de realismo busca da verdade, honestidade e espírito
implicado, conforme Popper, na teoria público. O fato de que na prática as
da verdade objetiva de Tarski, segundo coisas não sejam assim, tão belas e
o qual um enunciado é verdadeiro idílicas, e existam inúmeros casos de
quando está de acordo (quando há fraudes, engodos, segredos,
correspondência) com os fatos
(POPPER, 2004). É a partir desta teoria 2
Popper não encara tais pressupostos ou
da verdade que Popper se sente seguro compromissos teóricos como “metafísicos”. Ele
para assumir que o objetivo da ciência é entende a metafísica como um conjunto de
a busca da verdade. Se o cientista busca crenças não científicas, isto é, que não são
a verdade isto significa que ele assume falseáveis. Nós entendemos que ‘crenças não
uma metafísica realista, partindo do falseáveis’ são compartilhadas pelos praticantes
de ciências, e que sem a assunção prévia (por
pressuposto de que há “coisas” como isso o termo “pressuposto”) de tais crenças não
“realidade” e “verdade”, sem as quais a falseáveis (por isso o termo “metafísico”) não é
ciência não faria sentido. Ao assumir possível elaborar uma teoria científica.

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manipulações e interesses corporativos assimetricamente distribuído, e a
e políticos que obliteram os interesses imensa maioria dos recursos é tragada
teóricos e o compromisso com o bem pelos projetos que interessam aos
público não prova que nossa tese esteja deuses do capital. Deste modo, se por
incorreta, antes, porém, aponta para o um lado reconhecemos que a maior
fato de que na ciência, assim como em parte dos pesquisadores não é formada
todas as outras atividades humanas, há nem por “puros buscadores da verdade”
corrupção, tensões, contradições. O que nem por mentes inescrupulosas movidas
se prova é que, sob a bela capa da por interesses mesquinhos, por outro
ciência, legitimados por sua posição somos obrigados a constatar que não
institucional e favorecidos pelo lobby, importa o que a maioria pensa que está
atuam indivíduos e grupos sem interesse fazendo, mas qual é, efetivamente, o
nenhum na “verdade” ou na jogo que está sendo jogado. Em um
compreensão da realidade, mas movidos mundo dominado pelo
tão somente pelo desejo de sucesso tecnocapitalismo, a maioria apenas
profissional e poder burocrático, ou em reproduz ad infinitum o modus operandi
nome dos interesses do capital. É o imposto pelo status quo. Se um projeto
“Crepúsculo da Ciência” de que nos fala ou uma área não se dobra a tais
Corredoira (CORREDOIRA, 2013). interesses, simplesmente jamais saberá
Embora esses dois extremos existam, e o que é receber a milésima parte dos
de um lado tenhamos pesquisadores que recursos que os projetos “interessantes”
encarnam, como nos disse Weber recebem.
(2005), a ciência como vocação, a Como toda atividade humana, as
pesquisa científica como uma profissão práticas de ciências podem ser
de fé e vida, enquanto do outro temos corrompidas, cooptadas,
burocratas, gerentes e homens de instrumentalizadas por interesses
negócio que fizeram da pesquisa o seu espúrios. Deste modo, a ciência não é
business, e são os braços técnicos das somente uma busca da verdade (com o
grandes corporações (agronegócio, que estamos de acordo), mas um projeto
indústria farmacêutica, indústria bélica de poder. Por detrás de toda imagem de
etc.), não podemos ficar presos a um ciência, existe uma geopolítica do
maniqueísmo superficial e caricatural, poder. Mesmo a belíssima sentença “a
sem deixar de considerar que a grande ciência é a busca da verdade” pode
maioria dos pesquisadores não está nem guardar (e historicamente guardou) uma
em uma extremidade nem em outra, forte ideologia que conflui para uma
mas combina de modo complexo um hierarquização do mundo conforme um
pouco de cada tendência. Interesses projeto de poder que eterniza o domínio
epistêmicos, teóricos, profissionais e do Norte sobre o Sul, do Ocidente sobre
pessoais se misturam desigualmente na
vida interior de cada um. No entanto,
isso não pode servir de pretexto para “tecnocapitalismo” é o axioma de que “a
tecnologia é o motor da economia”. A atual fase
ignorarmos que na Big Science do
do capitalismo financeiro se fundamentaria na
tecnocapitalismo 3 o poder se encontra instrumentalização da ciência e da técnica
conforme os interesses utilitaristas do grande
3
Em O ethos da ciência e suas transformações capital. Por “utilitarismo” entendemos aqui a
contemporâneas, com especial atenção à ideologia que reduz o valor de todas as
biotecnologia (2009), Garcia e Martins pontuam dimensões da cultura, incluindo, portanto, as
que diversos estudos nas últimas décadas ciências, à produção de bens e serviços, isto é, a
indicam que o princípio basilar do meios de enriquecimento.

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o que é não-ocidental, dos mais ricos Ásia, ao modo como as universidades
sobre os mais pobres. O domínio funcionam e estão territorialmente
histórico sobre os “discursos distribuídas.
verdadeiros” promove uma
A geopolítica do saber como poder
hierarquização do mundo. Como
defende Foucault (2005), em todas as Não há nada de errado com a crença
sociedades, e, sobretudo na sociedade filosófica de que a ciência busca a
moderna ocidental, aquele que detém a verdade. É uma crença bela, potente,
verdade, possui o poder. As estratégias que sempre corre o risco de tornar-se
de domínio e manutenção do poder uma ideia idílica, cândida, mas que com
demandam a “produção da verdade” a devida precaução pode vir a ser
(FOUCAULT. 2005, p. 29). sociologicamente sofisticada e
Ao assumirmos que a ciência é a busca politicamente sólida. O grande
da verdade, e, portanto, o que há de problema não está na ideia em si, mas
mais nobre para o espírito, não podemos em sua história e geografia, ou melhor,
deixar de considerar que esse discurso, no modo como ambas servem a um
que é filosoficamente fecundo4, foi, ao projeto geopolítico de poder. Se
longo da história, politicamente pudermos preservar a ideia e insuflar-
instrumentalizado para rebaixar as lhe nova vida social, de modo que sirva
tradições intelectuais e as formas de não somente aos interesses do Norte,
saber de outros povos. mas também do Sul, não somente à
prosperidade dos prósperos, mas que
E o que é isto, a ciência? A ciência combata igualmente a pobreza dos
possui uma história e uma geografia. É pobres, então certamente teremos dado
da história do pensamento ocidental, um significativo passo. O físico
dos grandes “impérios” do ocidente que brasileiro José Leite Lopes (1998)
estamos falando. É da geografia buscou isso em sua vida intelectual e
ocidental, grega, greco-romana, militância política. Ele disse que não
europeia, norte-americana, de que basta fazermos ciência. É preciso
estamos falando. Esta visão de ciência questionar: que ciência, servindo a quais
como um produto grego, europeu, interesses, reforçando qual projeto de
anglo-saxão, é de fato predominante em sociedade? Leite Lopes buscava erigir
nossos dias. Tudo conflui para uma imagem de ciência como força
fortalecer e reproduzir tal narrativa. Do libertária em busca de soberania social.
esquecimento dos saberes locais De uma ciência que reconhece os
anteriores aos processos de invasão saberes locais e não se restringe aos
europeia nas Américas, na África e na grandes centros. Nasce das periferias,
recentraliza o saber, desestabiliza as
4
O que queremos dizer é que, em sentido
relações de força que imperam no
axiológico, “buscar a verdade” nos parece mais mundo para permitir que todos os
eticamente justificável do que perseguir povos, a partir de seus saberes, tradições
exclusivamente ao lucro. Enquanto valor e necessidades, façam ciência.
cultural é algo que pode servir para impulsionar
a pesquisa em áreas básicas, e em sentido moral, Na história das ciências atuais autores
pode promover uma ‘força de orientação’ capaz como Raj (2007) nos lembram de que
de animar indivíduos e sociedades. A questão de antes (e depois também) da chegada dos
saber se há uma definição consistente de
verdade ou se há alguma verdade objetiva em
europeus, como os britânicos nas Índias,
sentido absoluto já não pertence ao domínio da as populações nativas não eram
axiologia. simplesmente hordas de ignorantes e

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néscios como uma história gloriosa dos “Colonialidade: o lado mais escuro da
mais fortes poderia nos “sugerir”. modernidade” (2017), a colonialidade,
Detinham seu saber-fazer, saberes que reverbera o ímpeto conquistador
práticos, técnicas, conhecimentos locais. europeu, é peça chave da história
Claude Lèvi-Strauss (1952, 1989) em ocidental desde o Renascimento. Esse
obras como Raça e Cultura e projeto colonialista está marcado pelo
Pensamento Selvagem demonstra como uso da técnica como forma de
os povos pré-colombianos possuíam um dominação e controle a partir da crença
vasto domínio técnico, promovendo europeia em sua superioridade
avanços em engenharia e arquitetura, civilizatória. Seu resultado é a
agricultura, medicina, astronomia e hierarquização e divisão do mundo,
matemática. Os maias, por exemplo, promovida por um “pensamento
utilizavam o zero há milhares de anos. abissal”, empenhado em fracionar o
Geralmente construímos uma história mundo em partes desiguais (SOUZA
das ciências eurocêntrica com a SANTOS, 2007).
finalidade de negar a cientificidade de
tais desenvolvimentos. A China, a Índia, Será que ao recusar essa imagem de
sociedades indígenas americanas, todas, ciência como produto exclusivamente
teriam, no máximo, algo que pode ser ocidental não estamos deixando de
chamado de técnica, mas não de ciência. reconhecer a fundamental importância
Ora, estamos de acordo que a ciência dos gregos nos primórdios do
ocidental começou com os gregos, mas pensamento científico? Físicos filósofos
por que negar que houve, em outros como Werner Heisenberg (1953) e
povos, uma atitude legitimamente Erwin Schrödinger (1996) disseram que
científica? Lèvi-Strauss (1952,1989) a ciência teve início na Grécia Antiga
demonstrou que também esses povos com aqueles físicos e cosmólogos que
buscavam o conhecimento da natureza hoje chamamos de filósofos pré-
por que desejavam elaborar uma socráticos. Foram eles os primeiros, na
cosmovisão racional, e não somente por história do ocidente, a buscarem uma
motivos utilitaristas. Certamente tais imagem simples, ordenada e unificada
saberes, muito por que foram extintos do mundo. Concordamos com
ou ignorados, não incorporam o belo Heisenberg e Schrödinger. O que
caudal do pensamento científico negamos é que a ciência moderna, que
ocidental. Mas negar que façam parte da se originou desta tradição grega de
ciência moderna ocidental não deve ser investigação natural deva ser hoje e para
o mesmo que negar-lhes enquanto sempre uma atividade “eurocêntrica”,
“ciências” ou “saberes” que devem ser que reforça e reproduz o status quo,
preservados. ignorando saberes locais e se impondo
unilateralmente, de modo a mascarar
Essa história da ciência tradicional, de relações de dominação e controle e
cunho eurocêntrico, reforça o fortalecer projetos de poder.
preconceito de uma Europa que encarna
a luz da razão, tendo a missão A ciência pode e deve ser
civilizatória de iluminar o mundo. epistemicamente centrada, socialmente
Nessa visão desponta a imagem do robusta e politicamente engajada
europeu civilizado como o grande (SILVA, 2017). O que significa ser
protagonista desse momento auspicioso epistemicamente centrada? Parece que o
que é a modernidade (QUIJANO, século XX nos brindou com tantos
2005). Para Walter Mignolo em desencantos e tragédias que a imagem

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de ciência como busca da verdade blasé. O sertanejo não é, antes de tudo,
tornou-se tão anacrônica que soa como um forte? O sertão não é, acima de tudo,
cândida, grosseiramente ingênua. A dentro da gente? Pois bem, que não
filosofia, a sociologia e a história muito tenhamos medo de ser-tão “brejeiros”,
contribuíram para isso ao repetirem o desde que isso nos coloque na
mantra de que todo conhecimento é companhia de Galileu, Newton, Darwin,
somente, e em sentido forte, uma Planck, Einstein, Marie Curie,
construção social. O componente social Heisenberg e Schrödinger, para, assim
é inegável, mas foi hipertrofiado com como eles, buscarmos a verdade. É
poderosos anabolizantes discursivos. inestimavelmente melhor estar nessa
Vindos da esquerda e agora da direita, confraria de ingênuos desajustados do
pensamentos relativistas confluíram que entre os estudantes decentes de
para o clímax da desfaçatez intelectual Mlodnow 7 . Não tenhamos medo de
contemporânea. Vivemos o auge do fazer, mais uma vez, da busca da
relativismo, com explosões verdade, o mais belo ideal da ciência.
devastadoras de fake news 5 e o
Um manifesto contra o relativismo ou
crescimento escabroso da pós-verdade6.
contra o descuido do conceito?
A ideia é que não há fatos, mas somente Assumamos logo nossa metafísica
versões, narrativas, discursos realista e a ciência como busca da
vencedores, imagens que se impõem. verdade, luta pelo bem, e criação e
O que chamamos de uma ciência contemplação do belo! Dirão que
epistemicamente centrada? Uma ciência estamos em torre de marfim. Será
que assume a busca da verdade como quixotesco. Estarão combatendo
seu valor epistêmico mais elevado. Em moinhos, escarnecendo de nossas
tal clima (anti)cultural em que vivemos, caricaturas e não de nós mesmos. Se
buscar a verdade é mesmo algo que zombam da eteridade do verbo é porque
pode soar cândido. Ouve-se em alguns desconhecem a nervura da palavra. A
círculos que chega a ser de grande busca da verdade não é o que eles
brejeirice isso de buscar a verdade, dizem, uma negação do mundo e de sua
coisa “provinciana” a valer, que caiu em complexidade sociológica, histórica,
desuso entre os mais sofisticados. Dizer política, antropológica e institucional.
que não há verdade, que não existem
A busca da verdade é um valor ligado a
verdades objetivas, é cult, ao passo que tantos outros, como paixão por
buscar a verdade é naïf. Que argumento
compreensão, curiosidade intelectual
profunda, honestidade, publicidade do
5
As chamadas fake news constituem notícias conhecimento. Tais elementos não são
falsas, geralmente veiculadas para confundir o exclusivos de supostos seres angelicais
público, distorcer os fatos e manipular a que vivem isolados nas mais altas torres
informação. Para saber mais ver: DELMAZO, das catedrais etéreas do saber, mas se
Caroline; VALENTE, Jonas C.L.. Fake news
nas redes sociais online: propagação e reações à
7
desinformação em busca de cliques. Media & O físico Leonard Mlodinow disse que qualquer
Jornalismo. 2018, vol.18, n.32, pp.155-169. estudante de graduação que seja decente
6
Conforme o Dicionário Oxford a pós-verdade conhece mais física hoje do que Einstein,
consiste na produção de circunstâncias em as Heisenberg, Schrödinger etc. Isso tem muito a
pessoas são movidas mais por seus afetos, suas dizer sobre a falta de preparo e a mediocridade
emoções, do que pelos fatos, OXFORD filosófica de muitos dos grandes bussines
DICTIONARIES. Post-truth: << makers da ciência contemporânea. A declaração
https://www.oxfordlearnersdictionaries.com/def encontra-se no livro em que trava diálogo com
inition/english/post-truth>>. Deepak Chopra.

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encontram encarnados em pelo bem social. O conhecimento não
pesquisadores que são atores sociais e pode servir aos interesses mesquinhos e
políticos. O argumento da torre de nefastos da plutocracia. O
marfim contra todos aqueles que falam conhecimento deve gerar prosperidade
em busca da verdade ou é desonestidade comum, soberania social,
intelectual ou mera ignorância. enriquecimento cultural, para todos os
Entendam-nos de uma vez por todas; a povos. Hoje milhões de populações
busca da verdade é um ideal, logo, um mundo afora estão em situação de
valor, e se falamos nela é porque vulnerabilidade social no meio rural
estamos defendendo como a ciência com o desaparecimento das sementes
deve ser, e não apenas descrevendo crioulas, a contaminação dos lençóis
como ela é. Se nem o jornalismo, cuja freáticos, a desertificação do campo,
missão em tese é informar os fatos ao tudo em nome da ambição desmedida e
público, é meramente descritivo inconsequente do agronegócio. A
(também nesta seara a neutralidade é agronomia, a biologia, a biotecnologia,
um mito), como a filosofia, atividade estão a serviço de quem nesses casos?
crítica por excelência, poderia ser? Não Buscam a verdade ou o poder, desejam
há filosofia neutra. Temos que escolher o saber ou o lucro? A quem a pesquisa
e defender algum valor central. Entre a científica serve nesses casos? Aos
utilidade, o interesse pessoal, o lucro, o povos da terra ou aos donos do capital?
progresso, e tantos outros, que fiquemos Uma ciência epistemicamente centrada,
com a verdade, o bem e a beleza. Não é socialmente robusta e politicamente
somente mais inteligente. Também nos engajada deve lutar para o bem estar
parece mais nobre. público e a prosperidade comum. A
ciência deve proporcionar a soberania
O que chamamos de ciência social e valorizar os saberes locais, e
socialmente robusta é uma ciência que não ser mais um instrumento utilizado
luta por empregar os frutos do pelos grupos de poder para perpetuar e
conhecimento à suprema causa do bem ampliar seus domínios. O modo como
comum, da soberania social dos povos elaboramos nossa história das ciências
da terra, combatendo, ao invés de também é de suma importância. A
alimentar, esse modelo predatório de historiografia, como ciência, deve cada
civilização, baseado na desigualdade vez mais recuperar os numerosos casos
social e no domínio de uns poucos de saberes locais que representam sim
exploradores sobre grandes massas de belos exemplos de atitude científica. A
explorados. O que chamamos de ciência epistemologia deve permanecer
politicamente engajada é uma ciência estudando minuciosamente os meandros
que nega o mito da neutralidade, que esotéricos e heurísticos do pensamento
assume que toda atividade humana está científico ocidental, mas deve
eivada por interesses, e que se igualmente saber reconhecer as
compromete com interesses políticos contribuições intelectuais e
justos e libertários. investigativas de todos os povos.
Uma ciência que busca a verdade para
que? Para quem? Não há verdade que
não deva ser comungada, não há
realidade (o real) que seja propriedade
privada. A busca da verdade somente
faz sentido se for acompanhada da luta

163
Saberes locais e justiça social Não há como separar o pensamento
abissal dos abismos sociais que ele
Podemos esperar, portanto, que os
produz. Não há como fazer uma
‘filósofos médios’ sejam pensadores
‘Filosofia do Brasil’ sem pisar firme no
empolados, perdidos em suas abstrações
solo de sua complexidade antropológica
etéreas, contemplando entidades
e de sua história social. Passar da Torre
eternas, como a ‘verdade em si’, fora do
à Ágora, e da Ágora ao Agora
mundo? Devemos acreditar que o
(MENDONÇA, 2017). Esse é o
espaço geográfico e o tempo histórico
imperativo de uma Filosofia Pau-Brasil.
não lhes dizem respeito, que é só do
espaço-tempo abstrato e de linhas de Buscamos encarnar tal atitude. Nossa
força invisíveis que eles se ocupam?8 A pesquisa de pós-doutoramento pelo
formação filosófica no Brasil é, grosso Instituto de Medicina Social da
modo, eurocêntrica, marcada a ferro e Universidade do Estado do Rio de
fogo, com profundidade “abissal”, pela Janeiro nos levou a “travessias” e
história colonialista ocidental. De nossa imersões no coração do país. No interior
parte, buscamos uma “Filosofia Pau- do “ser-tão velho cerrado”10, a mais ou
Brasil” (MENDONÇA, 2018), que menos 2h de Palmas, capital do
transcende essa tosca caricatura do Tocantins, há o território Akwe
pensamento que separa o mundo das Xerente, com mais de 60 aldeias. A
ideias das ‘ideias de mundo’9. A história Aldeia Akwe Xerente Porteira é uma
do pensamento colonialista se inscreve delas. Historicamente esta aldeia
na história das sociedades colonizadas. produziu diversas culturas que
formavam a base de sua alimentação.
8
Valorizamos imensamente o que poderíamos Os xerentes da Porteira cultivavam a
chamar de “teoria pura”, a livre especulação terra a partir da técnica de plantio de
intelectual, a investigação em áreas de pesquisa vazante, aproveitando os ciclos do rio
básica. Nós mesmos nos identificamos como
Tocantins. Com as cheias o rio
teóricos, cujo trabalho consiste, em grande
medida, no emprego diário de conceitos avançava sobre o leito e as matas
abstratos e na análise de questões sem qualquer ciliares, depositando rico material
aplicação prática, em sentido utilitário. O que orgânico no solo, que servia de adubo
consideramos caricatural e simplória, e, natural. Quando as águas baixavam os
portanto, recusamos, é a imagem da torre de
akwe xerentes faziam o plantio. Nos
marfim como expressão da atividade do teórico,
do intelectual. O teórico é um ator social, suas anos 90 a construção de uma usina
atividades são práticas sociais, históricas, e os hidrelétrica alterou irreversivelmente os
conceitos e problemas com que lida possuem ciclos do rio, eliminado o fenômeno das
uma história social. Como ator político e social, cheias. A tradição do plantio de vazante
o teórico, e temos em Sócrates um arquétipo
se perdeu. O fato alterou a vida do
milenar, não vive na Torre de Marfim, mas na
Ágora, na praça pública. povo, sua forma de organização do
9
Chamamos de ‘ideias de mundo’ as trabalho, sua relação com os ciclos
cosmovisões ou ideias dominantes que moldam naturais do rio, e impactou sua
a vida social e impactam sua conformação alimentação, constituindo um grave
histórica. O conceito requer desenvolvimentos
problema de Saúde Pública. Além disso,
ulteriores, mas pensamos que pode se relacionar
com o conceito de “paradigma”, em Tomas a relação com o agronegócio que avança
Kuhn, aplicado não somente à comunidade
científica, mas às sociedades em sentido amplo.
Para saber mais ver: KUHN, T. S. A estrutura
10
das revoluções científicas. Trad. Beatriz Vianna Nome do documentário do diretor André
Boeira e Nelson Boeira. São Paulo: Editora D’élia lançado em 2018 que retrata o processo
Perspectiva, 1987. (talvez irreversível) de extinção do cerrado.

164
na região e ameaça o território é sempre ciência, compromissada com a verdade
tensa e preocupante. e a justiça. No caso dos akwe xerente,
por exemplo, diversos indígenas estão
Ignorando a soberania social e os se apropriando da ciência, se
saberes locais, a tecnocracia estatal, a empoderando. Kleber Xerente está se
serviço dos interesses do capital, impôs formando em Serviço Social pela
aos akwe xerentes um modelo de Universidade Federal do Tocantins, e
agricultura mecanizada como pesquisa o alcoolismo entre os xerentes.
contrapartida. Não deu certo. Iniciativas Samuru Xerente está no mestrado em
unilaterais e arrogantes, partindo dos Antropologia pela Universidade Federal
donos do poder, utilizando-se da de Goiás e pesquisa o impacto da
“ciência” para impor um projeto de tecnologia nas aldeias xerentes. Irão
“desenvolvimento” não funcionaram, aprender com a ciência, mas irão
pois a vontade e os saberes deste povo ensinar-lhe também, valorizando seus
foram repetidamente ignorados. Hoje os saberes locais. Isso aumentará suas
akwe xerentes perderam sua tradição chances de soberania social. Ainda é
agrícola e dependem de alimentos pouco, mas é um primeiro passo.
industrializados e processados para
sobreviver. Como resultado, se Considerações finais
alimentam como a população urbana de Ao longo do ensaio um fio perpassou o
um modo geral, a saber, a base de grãos texto costurando suas partes: a imagem
transgênicos e de carnes e vegetais de mundo, e de ciência, que temos, foi
produzidos com agrotóxicos e demais produzida nas fornalhas dos grupos
venenos. Os índices de bem estar historicamente dominantes. Ao longo
psíquico e físico dos habitantes da dos últimos séculos, o conhecimento
aldeia foram radicalmente alterados, e científico foi instrumentalizado por uma
uma explosão de casos de diabetes, geopolítica do poder, culminando no
alcoolismo, tabagismo e outros males tecnocapitalismo contemporâneo. Como
teve início e se expande fortemente. Eis resultado, o saber-fazer, as tradições
um caso concreto, um entre milhares, de regionais, os saberes locais dos povos
total desprezo pela tradição técnica, do mundo, que não servem aos
pelo saber-fazer, pelos conhecimentos interesses dos grandes complexos
dos ciclos naturais, de um povo, em econômicos, são não somente
nome dos interesses do mercado e do desprezados, mas terrivelmente
Estado, seu serviçal. Com a perda da ameaçados de extinção.
tradição técnica e cultural, perde-se
também a autonomia, e, portanto, a A ciência ainda pertence aos donos do
soberania social. poder, mas a nossa luta não é nenhuma
outra senão o fim da propriedade
A quem pertence a ciência? Aos donos privada do conhecimento. A tarefa do
do agronegócio, da indústria conhecimento é a promoção do
farmacêutica, da indústria bélica, aos enriquecimento (imaterial e material) de
grandes investidores e especuladores? todos os povos. A ciência é um
Este é o mundo como ele é. Mas o patrimônio comum da humanidade. Ela
filósofo não deve ser um papagaio e não é somente aquilo produzido e
repetir somente o que vê. Ele deve legitimado pelos grandes centros. Além
ousar pensar outras visões possíveis. do conhecimento padrão gerado nas
Ele deve pensar no mundo tal como universidades e nos institutos de
deveria ser. Devemos lutar por outra pesquisa, há os saberes locais. O atual

165
modelo de ciência a serviço da FORMAN, Paul. A Cultura de Weimar, a
geopolítica do poder ignora e ameaça Causalidade e a Teoria Quântica, 1918-1927.
Cadernos de História e Filosofia da Ciência,
tais saberes. Uma ciência libertária, tal Supl. 2, Unicamp, SP. 1983.
como proposta por José Leite Lopes,
FOUCAULT, Michel. Em Defesa da
deve ser capaz de incorporar os saberes
Sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
locais e enriquecer-se com eles, ao
invés de ignorá-los ou dizimá-los. Leite GARCIA, J. L.; MARTINS, H. O ethos da
ciência e suas transformações contemporâneas,
Lopes (1998) se perguntou “que ciência com especial atenção à biotecnologia. Sci. Stud.
e para qual modelo de sociedade?”. 2009, vol.7, n.1, pp.83-104.
Temos que responder: uma ciência
HEISENBERG, Werner. Nuclear Physics.
epistemicamente centrada, socialmente London: Methuen & CO. LTD.,1953.
robusta e politicamente engajada para
KNORR-CETINA, K. D.; MULKAY, M.
uma sociedade realmente livre e Introduction: emerging principles in Social
próspera. Nada menos do que isso deve Studies of Science”. In: _______. Science
ser aceito. Observed: perspectives on the Social Study of
Technology. London/Beverly Hills/New Delhi:
Sage Publications, 1983
Agradecimentos KOYRÉ, Alexandre. Do espaço fechado ao
universo infinito. Rio de Janeiro: Forense
Agradeço ao filósofo brasileiro André de Universitária, 2006.
Oliveira Mendonça, meu supervisor de pós-
KUHN, Tomas S. A estrutura das revoluções
doc pelo Instituto de Medicina Social da
científicas. São Paulo: Editora Perspectiva,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro 2001.
(IMS-UERJ), tanto pela inspiração que nos
advém de sua Filosofia Pau-Brasil, quanto LÉVI-STRAUSS, Claude. O Pensamento
pelo apoio necessário à realização desta selvagem. Tânia Pellegrini (Trad.). Campinas-
SP: Papirus, 1989.
pesquisa. Agradeço a Cleber Akwe
Xerente, pela amizade frutífera e pela força LÉVI-STRAUSS, Claude. Race and History.
do exemplo de luta e resistência. Por fim, Paris: Unesco, 1952.
agradeço ao IMS-UERJ, e à CAPES, pelo LOPES, José Leite. A ciência e a construção da
apoio financeiro necessário a essa pesquisa. sociedade na América Latina In Ciência e
Liberdade. Rio de Janeiro: Editora UFRJ;
CBPF/MCT, 1998.
Referências LOPES, José Leite. As palavras do orador da
turma de bacharéis de 1942. Ciência e
CORREDOIRA, Marín López. The Twilight of Sociedade. CBPF-CS-007/12 - abril 2012.
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Fake news nas redes sociais online: propagação
e reações à desinformação em busca de cliques. MENDONÇA, André Luis de Oliveira.
Media & Jornalismo. 2018, vol.18, n.32, Manifesto da Filosofia Pau-Brasil: da Filosofia
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Recebido em 2019-03-29
Publicado em 2020-03-28

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