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Coronavírus: quase todo mundo tem que pegar para a pandemia passar?

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Coronavírus: quase todo mundo tem que pegar para a pandemia


passar?

© Ilustração: Adriana Komura/SAÚDE é Vital Imunidade de rebanho é o conceito que explica como
a maioria de uma população adquire resistência a um agente infeccioso.

Até o dia 16 de março, tanto Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, quanto Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, cogita-
vam apenas cruzar os braços enquanto a população de seus respectivos países fosse infectada pelo novo coronavírus. No plano inicial
deles, já descartado, só deveriam ser protegidos os mais vulneráveis.

A ideia era criar o que eles entenderam que seria a imunidadede rebanho, ou seja, quanto maior o número de infectados pelo
SARS-CoV-2, mais pessoas se tornariam resistente ao vírus devido à memória imunológica adquirida. Assim, chegaria um momento
em que o patógeno pararia de se disseminar a rodo por falta de hospedeiros suscetíveis.

O problema desse raciocínio é que o coronavírus é um agente infeccioso novo e não sabemos quantas pessoas ele é capaz de infec-
tar caso nenhuma medida seja adotada. Além disso, a imunidade de rebanho tem ótimos resultados quando é feita de forma controlada,
utilizando vacinas.

Não usamos um agente potencialmente letal, tampouco o deixamos livre para agir, a fim de alcançar a imunidade de rebanho. Devemos
empregar medidas baseadas em estudos e tecnologia.

Antes de termos as vacinas, era comum mães de crianças com catapora ou sarampo juntarem os filhos contaminados com outros peque-
nos saudáveis. Eram as “festas do sarampo”. Até podia funcionar, mas o processo não era isento de riscos. No caso do coronavírus, um
patógeno que mal conhecemos, o preço pode ser alto demais.

A imunidade de rebanho será eventualmente atingida. Mas não podemos apressar esse fenômeno imaginando que, ao proteger tão
somente idosos, doentes crônicos e outros mais vulneráveis, estaremos a salvo. Por isso fala-se tanto na expressão “achatar a
curva” da epidemia.

Se deixarmos muita gente ser infectada em um curto período, os sistemas de saúde não darão conta dos casos que se agravarão. Não
temos como garantir que a maioria dos casos será como um simples resfriado. Também não temos como garantir que tipo de imunidade
iremos adquirir. Será permanente? Vai durar um ano? É muito cedo para saber, e para apostar a vida de pessoas nisso.

Para entender melhor a imunidade de rebanho, precisamos conhecer dois conceitos epidemiológicos extremamente importantes: o
número de reprodução básico (R0) e o número de infecção efetivo (R). Vamos lá?

Conceitos para nos defender da Covid-19

O número de reprodução básico (R0) é utilizado para medir o potencial de transmissão de um vírus. Esse número é uma média de para
quantas pessoas um paciente infectado é capaz de transmitir o patógeno, assumindo que as pessoas próximas ao paciente não são imu-
nes a ele.

Por exemplo, o R0 estabelecido para o sarampo é 15. Então podemos esperar que, em média, uma pessoa infectada seja capaz de trans-
mitir o vírus para outras 15 pessoas suscetíveis.

Esse parâmetro não é igual para todos os agentes infecciosos, pois fatores como condições ambientais, forma de transmissão, duração
da infecção e comportamento da população infectada, afetam diretamente o cálculo. Assim, os valores dados na literatura científica só
fazem sentido no contexto especificado e é recomendável não usar valores obsoletos ou comparar valores com base em diferentes mode-
los.

Agora vamos entender o número de infecção efetivo (R). Uma população raramente será totalmente suscetível a uma infecção no mundo
real. Alguns contatos estarão imunes devido a uma infecção prévia que conferiu imunidade ou como resultado de imunização anterior,

https://www.msn.com/pt-br/saude/medicina/coronav%c3%adrus-quase-todo-mundo-tem-que… 26/03/2020
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pela ação das vacinas. Portanto, nem todos os contatos serão infectados e o número médio de casos secundários por caso infeccioso será
menor que o número básico de reprodução. Nesse cálculo, levamos em consideração as pessoas que são suscetíveis e não suscetíveis.

Com essas informações apresentadas, podemos concluir que, caso o valor de R seja maior do que 1, o número de casos aumentará, inici-
ando uma epidemia. Para que um vírus pare de se espalhar, o R tem que ser menor do que 1. Para fazer uma estimativa de R, multiplica-
mos o valor de R0 pela fração suscetível de uma população.

Utilizando o mesmo exemplo do sarampo, temos o R0 = 15. Esse vírus começa a se disseminar em um local em que 60% da população é
imune, logo 40% da população é suscetível. O número reprodutivo efetivo para o sarampo nessa população é 15 x 0,4 = 6. Nessas cir-
cunstâncias, um único caso de sarampo produziria uma média de seis novos casos.

A imunidade de rebanho

No cenário do sarampo, já conseguimos captar a importância da vacinação e podemos entender por que os agentes de saúde defendem
que, nesse caso, precisamos ter uma cobertura vacinal de 95% da população. Não adianta 90%, tem que ser 95%. Veja os cálculos nes-
ses dois cenários com esse vírus:

• Se vacinarmos 90% da população, estimamos que 10% da população é suscetível, portanto o cálculo de R é 15 x 0,1 = 1,5. O R
ainda é maior do que 1 e o vírus vai se espalhar.
• Se vacinarmos 95% da população, estimamos que 5% da população é suscetível, portanto o cálculo de R é 15 x 0,05 = 0,75. O R
é menor do que 1 e o vírus vai parar de se disseminar.

Os 5% restante da população são pessoas que não podem receber a vacina, por ter o sistema imunológico comprometido ou alguma aler-
gia aos componentes da vacina. Protegemos a massa para que eles também não sofram. Vacinar, portanto, não é uma questão pessoal,
mas social. Ainda assim, vale notar que, em 2019, tivemos mais de 13 mil casos de sarampo no Brasil.

E o coronavírus com isso?

Bom, não temos vacina para o vírus da Covid-19 e o cenário mais otimista é que ela esteja pronta apenas em 2021. Para ter uma imuni-
dade de rebanho controlada, teríamos que ter essa vacina agora. O R0 do coronavírus foi calculado com base nos casos chineses e temos
um valor de 2,6.

Como se trata de um vírus novo e não sabemos quantas pessoas estão imunes, estipulamos que 100% da população seja suscetível —
logo, o R0 é igual ao R. Portanto, assumimos que dez pessoas infectadas consigam transmitir o vírus para outras 26.

Isso é o melhor que conseguimos calcular com base nos dados disponíveis (e ainda sujeitos a alterações). A conta toda é bem mais com-
plicada e simplificamos ao máximo para que se tenha uma ideia da importância da vacinação e da irresponsabilidade de deixar a popu-
lação exposta ao vírus sem tomar medidas não farmacológicas, caso do isolamento social.

Se a população do Reino Unido tomasse a atitude de não fazer nada, mesmo em um cenário otimista em que só 50% dos cidadãos
seriam infectados, teríamos 33 milhões de pessoas contaminadas. Se considerarmos que a taxa de mortalidade mundial da Covid-19 é de
3,4%, teríamos um pouco mais de 1 milhão de mortos. Esses números fizeram com que Trump e Johnson reconsiderassem ficar apenas
de braços cruzados. Ainda bem que o Brasil também está se mexendo!

* Natalia Pasternak é PhD em microbiologia, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo e presidente
do Instituto Questão de Ciência

Luiz Gustavo de Almeida é doutor em microbiologia, diretor do Pint of Science no Brasil e coordenador de Projetos Educacionais do Insti-
tuto Questão de Ciência

https://www.msn.com/pt-br/saude/medicina/coronav%c3%adrus-quase-todo-mundo-tem-que… 26/03/2020

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