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Célio Celli
Clau d io Carneiro
Jurem a Carneiro d e Oliveira
Célio Celli
Cláu d io Carneiro
Marcu s Soares
Ricard o Braga
Christianne Bernard o
Célio Celli
Carla Salgad o
Rosan e Fu rtad o
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Sem estral
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C O N SE L H O E D I T O R IA L .................................................................3
E XP E D IE N T E .........................................................................................4
SU M ÁR I O ................................................................................................5
PA L AVR A D O P R E SID E N T E ..........................................................9
por Claudio Carneiro
A P R E SE N TA ÇÃO ...............................................................................11
por Célio Celli
O S FLU XO S M I G R AT ÓR I O S N A EU R O PA : O S D I R EI T O S
H U M A N O S E A S EG U R A N ÇA JU R ÍD I C O -EC O N ÔM I C A À
LU Z D A A N ÁLI S E EC O N ÔM I C A D O D I R EI T O ....................13
por Claudio Carneiro
IN T RO D U ÇÃO ....................................................................................15
1. O C O N ST IT U C I O N A L I SM O C O N T E M P O R ÂN E O .........16
2. A BO A G O VE R N A N ÇA E O “D IÁL O G O ” À L U Z D A
A N ÁL ISE E C O N ÔM IC A D O D I RE I T O .................................21
C O N SI D E R A ÇÕE S FIN A IS ............................................................27
R E FE R E N C I A S....................................................................................28
A S I N T E R A ÇÕ E S D A BO A –FÉ O BJ E T I VA N A
D I N ÂM I C A C O N T R AT U A L N ÃO T I P I F I C A D A ...............31
P O R C A RL O S G A BR I E L F E I JÓ D E L I M A
IN T RO D U ÇÃO ....................................................................................33
1. N O ÇÕE S I N A U G U R A IS ..............................................................35
1.1 O S C O N TRAT O S AT ÍP IC O S.........................................................35
1.2 A BO A -F É O BJET IVA .......................................................................40
2. A N ÁL I SE D A E XP E RI ÊN C IA T E ÓRI C A E JU D IC IA L
D A S I N T E R RE A ÇÕE S D A BO A -F É O BJE T IVA D A
D IN ÂM IC A C O N T RAT U A L AT ÍP I C A ..................................47
C O N C L U SÃO ......................................................................................61
R E FE R ÊN C I A S ....................................................................................63
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
D I ÁLO G O S I N S T I T U C I O N A I S E S O C I A I S .......................67
por Fabrício de Souza Lopes Pereira
IN T RO D U ÇÃO ....................................................................................69
1. A P R O BL E M ÁT I C A C R IA D A P EL A FA LTA D E
D I ÁL O G O ..............................................................................................71
1.1 C O N TR O LE D I FU SO E A REC LA M A ÇÃO
N .º 4335-5/A C .............................................................................................72
1.2 PA P E L D O SEN A D O E A R EP ERC U SSÃO G ER A L ............73
2. D A SE PA R A ÇÃO D O S P O D E R E S............................................74
3. D A JU D IC IA L I Z A ÇÃO D A P O L ÍT IC A .................................76
4. C O N C E P ÇÕES D E RO N A L D D W O R K IN E JE R E W Y
WA L D R O N .......................................................................................81
C O N C L U SÃO ......................................................................................84
R E FE R ÊN C I A S ....................................................................................86
A J U S TA C O M P O S I ÇÃO D O L I T ÍG I O F I R M A D A N A
V ER D A D E R EA L ...............................................................................89
por Conceição Cássia de Oliveira
IN T RO D U ÇÃO ...................................................................................91
1. P RIN C IP I O D A VE R D A D E R E A L .........................................92
2. A D I ST RI BU I ÇÃO D O ÔN U S D A P R O VA ...........................94
3. A P R E C I A ÇÃO D A P RO VA ........................................................95
4. O JU I Z N O C O N T R O L E D O P R O C E SSO ............................97
C O N C L U SÃO .....................................................................................99
R E FE R ÊN C I A S .................................................................................100
O V O T O D O P R E S O E A R ES S O C I A LI Z A ÇÃO ................101
por Gabriela Grasel BiĴ encourt
IN T RO D U ÇÃO ..................................................................................103
1. D IR E I T O S P O L ÍT IC O S ..............................................................104
2. D IR E I T O D E SU FR ÁG I O ..........................................................107
3. D A SU SP E N SÃO D O S D I R EI T O S P O L ÍT I C O S ................111
4. D IR E I T O S E G A R A N T I A S D A P E SSO A
C O N D E N A D A ...............................................................................112
5. A RE A L ID A D E D A P E SSO A C O N D E N A D A ..................112
6. O VO T O D O P RE SO E A R E SSO C IA L IZ A ÇÃO ...............113
7. ÓBI C E S BU R O C R ÁT I C O S E O P E RA C I O N A IS................114
C O N C L U SÃO ....................................................................................117
R E FE R ÊN C I A S ..................................................................................118
R E F LE XÕ E S S O BR E A S D E C I S Õ E S P O L ÍT I C A S
S EG U N D O R O N A LD D W O R K I N E O D I R E I T O
FU N D A M EN TA L A O A C E S S O A M E D I C A M E N T O S ...121
por Alexandra Barbosa de Godoy Corrêa
IN T RO D U ÇÃO ..................................................................................123
I. P R IN C ÍP I O , P O L ÍT I C A E P RO C E SSO PA R A R O N A L D
D W O R KI N ......................................................................................124
II . JU D I C I A L IZ A ÇÃO D A P O L ÍT IC A E O AT IVISM O
JU D I C I A L ......................................................................................130
II I. A S D E C I SÕE S N O S C A SO S D I FÍC E I S ..............................135
IV. C O N SI D E R A ÇÕE S SO BRE A JU D I C I A L IZ A ÇÃO
N O D IR E I T O A O A C E SSO A M E D I C A M E N T O S ........137
C O N C L U SÃO ....................................................................................143
R E FE R ÊN C I A S ..................................................................................145
O I N S T I T U T O D A D A ÇÃO E M PA G A M E N T O N O
D I R E I T O T R I B U T ÁR I O BR A S I LE I R O : A N ÁLI S E
D A L EI 13.259 D E 16 D E M A R ÇO D E 2016 ..............................147
por Priscila Rangel Barros
IN T RO D U ÇÃO ..................................................................................149
1. O I N ST IT U T O D A D A ÇÃO E M PA G A M E N T O ...............150
1.1 D A ÇÃO E M PA G A M E N T O N O D I RE IT O
T RI BU T ÁRI O BR A SIL E IR O .......................................................151
2. P RE C E D E N T E S D O S T R IBU N A I S SU P E RI O R E S ..........153
3. A L E I 13.259 D E 16 D E M A RÇO D E 2016................................155
3.1 D A R E ST RI ÇÃO D A D A ÇÃO E M PA G A M E N T O
A P E N A S PA RA C R ÉD IT O S I N SC RI TO S N A
D ÍV ID A AT I VA ................................................................................156
3.2 D A E XP R ESSÃO “A C RI T ÉRI O D O C R ED O R” ...................157
3.3 D A E XP R ESSÃO “VA L O R D E M E RC A D O ” .........................159
3.4 D A E XC L U SÃO D O SIM P LE S N A C I O N A L E A
V IO LA ÇÃO A O P R IN C ÍP I O D A ISO N O M I A ......................160
4. D A O M ISSÃO D A L E I N A H I P ÓT E SE S D E O VA L O R
D O BE M SE R SU P E RI O R A O VA L O R D A D ÍVID A A
SE R Q U ITA D A ..............................................................................161
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
5. D A A BR A N G ÊN C IA E D A A N ÁL ISE D A
C O N ST I T U C I O N A L ID A D E F O R M A L E M AT E R IA L
D A L E I 13.259 D E 16 D E M A R ÇO D E 2016 ............................161
C O N C L U SÃO ....................................................................................162
R E FE R ÊN C I A S ..................................................................................163
od os aqu eles qu e atu am na área ed itorial sabem o qu ão d ifícil
é lançar u m a revista cientíę ca. Mais d ifícil aind a é m antê-la
torná-la u m a obra d e qu alid ad e acad êm ica qu e seja bem
qu alię cad a no cenário nacional.
Célio Celli
Diretor d a ESA Barra
por Cla udio Ca rneiro 1
1 Pós-d outorand o p ela Universidade d e Lisboa. Doutor em Direito Público e Evolução Social. Mestre
em Direito Tributário. Pós-grad u ad o em Direito Constitu cional e Direito Tribu tário. Ad vogad o
Sócio Fu nd ad or d o escritório Carneiro & Oliveira Advogados. Presid ente d a 57ª Su bseção d a
Ord em d os Ad vogad os do Brasil/RJ. Mem bro do Institu to dos Advogad os Brasileiros. Membro
d a Com issão Esp ecial d e Assu ntos d a OAB/RJ e d a Escola da Magistratura d o Estad o d o Rio d e
Janeiro. Mem bro da International Fiscal Association. Au tor d e várias obras ju ríd icas. Ex-Diretor d a
Escola Su perior d e Ad vocacia d a OAB Barra d a Tijuca. Ex-Procu rad or Mu nicip al.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
2 A utilização d a exp ressão Constitu cionalism o Contem p orâneo não foi u sad a aleatoriam ente,
m as sim rep rod u ção d a nom enclatu ra ad otad a por Lenio Streck a p artir d a qu arta ed ição d a
obra “Verd ad e e Consenso” (em 2011), em substitu ição à term inologia anteriormente em p regad a
p ara tratar do constitucionalism o insu rgente d o segu nd o Pós-Gu erra (Neoconstitucionalism o),
constitu ind o, portanto, um m od o esp ecíę co d e abord agem, qu e, em linhas gerais, se op õe ao
estabelecimento de uma relação de causalidade existente no trinômio moral-princípios-discricionariedade,
p rópria d as posturas neoconstitu cionalistas e, com isso, evita uma ap roxim ação com o Positivism o
Juríd ico. Com seu emp rego objetiva-se introd u zir u m d os nú cleos d a teoria d e Lenio Streck,
qu e consiste, a u m só tem p o, na realização d e d ois enfrentam entos: p or u m lad o, na crítica ao(s)
Neoconstitu cionalism o(s) (esp ecialm ente su rgid os no âmbito d o con stitu cionalism o esp anhol);
e, p or ou tro, na bu sca pela sup eração d o Positivismo Ju ríd ico.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
ou d e Direito Dem ocrático, p erm itiu qu e as d iscu ssões ju ríd icas se d eslocassem
p ara o m u n d o p rático, não m ais p reso aos conceitos p ositivistas. Signię ca d izer
qu e o fenôm eno d o (neo)constitu cionalism o ou , p ara nós, com o já d ito, Constitu -
cionalismo Contem porâneo, p rop orciona o surgim ento d e ord enam entos juríd icos
constitu cionalizad os e, para tanto, é necessário qu e ocorra a d iscu ssão sobre o papel
d a ju risd ição constitu cional e seu s reĚexos, sobretu d o na econom ia.
4 CARBONELL, Migu el e JARAMILLO, Leonard o Garcia. El Canon neoconstitucional. Mad ri: Ed itora
Trota. 2010. Obra coletiva no artigo El neoconstitucionalismo: Signięcado y niveles de análisis. p . 154.
5 Não entrarem os aqu i na d istinção relativa à su jeição p assiva tribu tária qu e separa a ę gu ra d o
contribu inte d o resp onsável tribu tário.
6 HOLMES, Step hen e SUSTEIN, Cass R. The Cost of Rights. Why liberty d ep end s on taxes. New
York – Lond on: N orton & Com p any. 2012. Pag. 15-48.
7 SARMEN TO, Daniel. Filosoęa e Teoria Constitucional Contemporânea. Rio d e Janeiro: Lu m en Ju ris,
2009. p . 113-114.
8 STRECK, Lenio Lu iz. Verdade e Consenso. Constituição Hermenêutica e Teorias Discursivas. Da
possibilidade à necessidade de respostas corretas em Direito. Rio d e Janeiro: Lu men jú ris. 2009. p . 8.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
d irigente) e o Positivism o Ju ríd ico, nas su as m ais variad as form as, e nesse sentid o,
qu alqu er p ostu ra qu e, d e algu m m od o, se enqu ad re nas características ou teses
qu e su stentam o Positivism o, entraria na linha d e colisão com esse (novo) tip o d e
constitu cionalism o.9
É sem p re op ortu no frisar qu e o “novo” texto constitu cional rep resenta a real
p ossibilid ad e d e ru p tu ra d o antigo m od elo d e d ireito e d e Estad o, a p artir d e u m a
p ersp ectiva com p rom issória e d irigente.
Dialogand o com ALEXY, os p rincíp ios constitu cionais (consid erad os p or ele
com o m and ad os d e otim ização), qu and o em colisão, no fu nd o acabam p or sofrer
u m a “p ond eração”. Por ou tro lad o, o conĚito d e regras16 (m and ad os d e d eterm i-
nação) é solu cionad o p ela su bsu nção.
13 Em feliz expressão, CALDEIRA se refere a u m “m ovim ento p end u lar”, p ois se antes o Ju d iciário
ad otava p ostu ra passiva e tím id a, com o ad vento d o constitu cionalism o contem porâneo no Brasil
p assou a assu mir u m a excessiva atuação. Para a au tora citad a, d iante d esse m ovim ento pend u lar,
o d esejável, em bu sca d a p rópria Dem ocracia, é qu e agora se p rocure u m a via d e equ ilíbrio entre
esses extrem os. CALDEIRA, Ana Pau la Canoza. O direito à saúde e a sua “curiosa” efetividade em
Terrae Brasilis: Do desaęo da realização da boa governança excessiva judicialização. Tese d e Dou torad o.
São Leopold o: UN ISINOS. 2013. p. 109.
14 HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre facticidade e validade. Vol. I. Trad . Flávio Beno
Siebeneichler. Rio d e Janeiro: Tem po Brasileiro, 1997. p. 83.
15 STRECK, Lenio Lu iz. op. cit. p. 9.
16 Essa aę rm ativa carece d e um com entário mais ap urad o, p ois para Alexy, a pond eração serve p ara
a solu ção entre a colisão d e princípios, enqu anto qu e p ara o conĚito, qu e se d á entre as regras,
ap lica-se a su bsu nção. E, para o au tor e boa p arte d a d outrina qu e o segue, o qu e se p ond era
são p rincíp ios e não regras. Contu d o, o foco d o nosso estud o, não ad entra neste m omento nessa
d iscu ssão, p or isso ę zemos um breve com entário d espretensioso.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
sociais e, p orqu e não d izer tribu tários, já qu e a tribu tação é u m elem ento qu e
p od e p rovocar a d egrad ação 17 d a p róp ria socied ad e. N esse sentid o, su rge u m
sentim ento constitu cional no País e na socied ad e qu e d eve ser efetivam ente alcan-
çad o, não d eixand o essa d iscu ssão m eram en te no p lano teórico ou u tóp ico, m as
levand o-a p rincip alm ente p ara o p rático, p ois o m arco ę losóę co d o “novo” d ireito
constitu cion al é o p ós-p ositivism o, e o d ebate sobre su a caracterização situ a-se na
conĚu ência d as d u as grand es correntes d e p ensam ento qu e oferecem p arad igm as
op ostos p ara o Direito, m as qu e, p or vezes, são singu larm ente com p lem entares:
o Ju snatu ralismo e o Positivism o.
Cam inhand o com SUSTEIN 18 e POSN ER,19 é claro que sabem os a im portância
d o orçam en to d e u m p aís p ara fazer frente às d esp esas. N ão su stentam os aqu i
u m a p ostu ra anarqu ista ou d e total liberalid ad e ę scal e, p or isso, corroboram os
o entend im ento d e SILVA,20 ao aę rm ar qu e o p rincíp io d a sep aração d os Pod eres
e a com p etência d e d isp or d o orçam ento não são id eias absolu tas, p ois sofrem
lim itações constitu cionais, nem são ę ns em si m esm os, m as m eios p ara o controle
d o Pod er Estatal e garantia d os d ireitos ind ivid u ais. Aliás, o objetivo é exatam ente
p rocu rar m ostrar a relação existente entre a qu estão orçam entária e a absorção
d essa d em and a p opu lacional qu e, ato contínu o, reĚete na concretização d e d ireitos
fu nd am entais.
17 Entend em os com o d egrad ação u m d os efeitos d a inju stiça ę scal, p ois face à excessiva carga
tribu tária, p ercebem os u m “índ ice d e m ortalid ad e” d as em presas em torno d e d ois anos.
18 HOLMES, Step hen e SUSTEIN , Cass R. The Cost of Rights. Why liberty d ep end s on taxes. New
York – Lond on: N orton & Com p any. 2012. Pág. 15-48
19 POSN ER, Richard A., Cómo deciden los jueces. Mad rid | Barcelona | Buenos Aires: Marcial Pons.
2011. P. 365.
20 SILVA, Sand oval Alves d a. Direitos sociais: leis orçamentárias como instrumento de implementação.
Cu ritiba: Ju ru á, 2007. p . 97.
21 SILVA, Celso d e Albu qu erqu e. Legitimidade da execução orçamentária: d ireitos sociais e controle p elo
Pod er Ju d iciário. Disp onível em: ww w.anp r.org.br. Acesso em: 02/05/10.
liberd ad e, a igu ald ad e, o bem estar e a ju stiça, d entre ou tros, com o valores su -
p rem os d e u m a socied ad e fraterna. As p olíticas p ú blicas não são seletivas, m as
sim d isju ntivas,22 e a reboqu e, os recu rsos são ę nitos, enqu anto as d em and as são
ilim itad as. Assim tem os qu e, o p roblem a é d e ord em ep istem ológica e ę losóę ca,
e tam bém d e ad equ ação ao conceito e efetivid ad e d os d ireitos fu nd am entais, ou
seja, em qu e consiste esse d ireito e aí sim analisar a interferência e a efetivid ad e
d esses nas p olíticas p ú blicas.
22 LEAL, Rogério Gesta. Condições e Possibilidades eęcaciais dos Direitos Fundamentais Sociais. Os desaęos
do Poder Judiciário no Brasil. Porto Alegre: Livraria d o Ad vogad o. 2009. p . 120.
23 KOSELLECK, Reinhart. Crítica e crise. Rio d e Janeiro: UERJ/Contrap onto, 1999. p . 79.
24 GRAU, Eros. A Ordem Econômica na Constituição de 1988. 11 ed . São Pau lo: Malheiros, 2004. p . 25
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Classicam ente, a tribu tação foi id ealizad a com o form a d e cu stear os gastos
com os serviços p ú blicos, d e form a qu e os cid ad ãos fossem os resp onsáveis p elo
ę nanciam ento d as obras e serviços qu e o Estad o estivesse a realizar, haja vista qu e
sem au ferir tal rend a ele jam ais p od eria alcançar os objetivos traçad os.29 A p artir
d o ad vento d o m od o d e p rod u ção cap italista e com o Estad o Social d e Direito, a
tribu tação p assou a ser u tilizad a tam bém com o instru m ento d e interferência na
econom ia, com o ę m d e inĚu enciar na d ireção d os setores econôm icos, ou seja,
com fu nção extraę scal.30
25 CAVALCANTI, Francisco d e Qu eiroz Bezerra. ReĚexões sobre o papel do Estado frente à atividade
econômica. In: Revista Trim estral d e Direito Pú blico, v. 1, n. 20, 1997. p . 73-74.
26 CARNEIRO, Claudio. Impostos Federais, Estaduais e Municipais. 4 ed. São Paulo: Saraiva. 2013. p. 10.
27 HESSE, Konrad. A Força Normativa da Constituição. Trad u ção d e Gilm ar Ferreira Mend es. Porto
Alegre: SAFE, 1991. p. 5
28 LASSALLE, Ferd inand . A Essência da Constituição. Rio d e Janeiro: Liber Ju ris. 1985. p . 2.
29 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 14 ed . São Pau lo: Saraiva, 2006. p . 96.
30 CARVALH O, Pau lo d e Barros. Curso de Direito Tributário. 20 ed . São Pau lo: Saraiva. 2008. p . 82.
Deę ne a extraę scalid ad e com o a form a d e m anejar elem entos ju ríd icos u sad os na conę gu ração
d os tribu tos, com objetivos qu e não se coad u n am com a arrecad ação tribu tária. ATALIBA,
Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 5 ed . São Pau lo: Malheiros, 1999. p . 51. N as palavras d e
ATALIBA, a extraę scalid ad e se conę gura pelo “em prego deliberado d o instrumento tribu tário para
ę nalid ad es não ę nanceiras, m as regu latórias d e com p ortam entos sociais, em matéria econôm ica,
social e p olítica”. TORRES, Ricard o Lobo. Tratado de direito constitucional ęnanceiro e tributário: os
direitos humanos e a tributação – imunidades e isonomia. Rio d e Janeiro: Renovar, 1999. p. 167. TORRES
conceitua a extraę scalid ade “como form a de intervenção estatal na economia, apresenta uma dupla
conę guração: d e um lad o, a extraę scalid ad e se d eixa absorver p ela ę scalid ad e, constituind o a
d imensão ę nalista do tributo; de outro, permanece como categoria autônoma de ingressos p úblicos,
a gerar prestações não tributárias”.
A id eia d e neu tralid ad e d o Estad o, d as leis e d e seu s intérp retes, assen-
tad a p ela d ou trina liberal-norm ativista, tom a p or base o status quo, logo, neu tra
é a d ecisão ou a atitu d e qu e não afeta nem su bverte as d istribu ições d e p od er e
riqu eza existentes na socied ad e, relativam ente à p rop ried ad e, rend a, acesso às
inform ações, à ed u cação, às op ortu nid ad es etc.31
Tem -se em p rim eiro lu gar a Escola N eoinstitu cional, assim intitu lad a
p or gu ard ar sem elhança com a escola d os econom istas “institu cionalistas” d o
p rincíp io d o Sécu lo XX, qu e p ossu i com o p rincip al elem ento d eę nid or o estu d o
a resp eito d os cu stos d e transação e os cu stos d a agência.
40 COASE, Ronald H. The problem of Social Cost. In: 3. Journal Law & Economics. 1 (1960), no entanto
p ublicad o em 1961.
41 Até m esm o p ela enorm e p rod u ção cientíę ca e literária sobre o assu nto.
42 O m encionad o au tor aę rm a o segu inte: “Elas envolvem u m trade-oě na margem ; com p arar cu stos e
benefícios d e um p ouco m ais em um a ativid ad e versus u m pou co m enos. O estu d o d e tais d ecisões
é con hecido com o análise marginal”. KRUGMAN, Paul e WELLS, Robin. Introdução à economia /
Helga Hoě m ann (trad .). Rio d e Janeiro: Elsevier, 2007, p.7.
43 Esta signię ca u m a p ond eração entre os cu stos com p arad os com os ben efícios, relacionad os a u m a
qu estão d e qu antię cação.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
44 STRECK, Lenio Luiz. Verdade e Consenso: constituição, hermenêutica e teorias discursivas. 4 ed . São
Pau lo: Saraiva, 2011. p . 190.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
AMARO, Lu ciano. D ireito Trib u tário Brasileiro. 14 ed . São Pau lo: Saraiva, 2006.
ATALIBA, Gerald o. H ip ótese d e In cid ên cia Trib u tária. 5 ed . São Pau lo: Malheiros, 1999.
BARROSO, Lu iz Roberto. Tem as d e D ireito Con stitu cion al – Tom o III. Rio d e Janeiro:
Renovar, 2005.
__________. A O rd em Econ ôm ica Con stitu cion al e os Lim ites à Atu ação Estatal n o Con -
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BERCOVICI. Gilberto. D esigu ald ad es region ais, Estad o e Con stitu ição. São Pau lo: Max
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por Carlos Gabriel Feijó de Lima45
45 Ad vogad o. Pós-gradu ad o em Direito Civil pela UCAM. Pós-gradu ação em Direito Imobiliário pela
UCAM (em and am ento, m onograę a d efend id a). Pós-grad u ação em Direito Privad o Patrimonial
PUC-RIO (em and am ento, d issertação ap resentada). Bacharel em Direito p ela UFRJ.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
This article aim s to analyze and verify the interaction of the good -w ill and
the non-typ ical contracts, esp ecially w hen it com es to its interp retation.
O Sistem a Ju ríd ico, lato sensu, m ira, e acaba p or ter com o atribu ição,
garantir a eę cácia d esses negócios. Pod er-se-ia falar em Segu rança Ju ríd ica - não
àqu ela referid a na Constitu ição Fed eral,46 relacionad a à coisa ju lgad a, ao d ireito
ad qu irid o e, p or m ais qu e cau se estranheza, ao ato ju ríd ico p erfeito-, qu erend o
signię car o cu m p rim ento obrigacional p elas p artes contratan tes, não obstante
serem id entię cad as razões “ind ivid u ais” em sentid o contrário.
46 BRASIL. Constitu ição Fed eral (1988). Disp on ível em : hĴ p ://w w w .p lanalto.gov.br/ccivil_03/
Constitu icao/Constitu icaoComp ilado.htm . Acesso em : 03 ju l. 2013.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Evid enciad a a relevância social d a relação contratu al atíp ica, é aind a m ais
im p ortante reiterar qu e seu cu m p rim ento p rescind e d a conę ança entre as p artes
e, se necessário, o su p rim ento d esta conę ança p or p arte d o p od er ju d iciário.
Daí o p orqu ê ser tão im p ortante frisar o necessário d ever d e conę ança
entre contratantes, e d ar-lhe nomen iuris: boa-fé objetiva.
Para tanto, necessário, ab initio, breve p ond eração sobre conceitos intrín-
secos ao tem a, a serem exp ostos nos itens abaixo.
O Contrato, enqu anto negócio juríd ico bilateral, se form a p elo consenso d e
vontad es. Ou seja, a vontad e ind ivid u al d eixa o íntim o d os contratantes qu e, p or
m eio qu ase d ialético, criam vontad e nova, não m ais no recanto d e suas mentes, m as
sim no u niverso ju ríd ico. É consentim ento cap az d e p rod u zir efeitos norm ativos.
N esse sentid o, exp lica Cristiano Chaves d e Farias, alu d ind o aos d izeres
d e Ju nqu eira d e Azeved o:48
47 GOMES, Orland o. In trod u ção ao direito civil. 19ª. ed. Rio de Janeiro : Forense , 2008, p. 241.
48 FARIAS, Cristiano. Chaves d e. Direito civi - teoria geral. 3ª. ed . Rio de Janeiro: Lu m en Ju ris,
2005,p .402.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Pecu liar a m aneira p ela qu al a lei atu a sobre os contratos. Via d e regra,
não estarão nela d eterm inad os os efeitos ou conteú d o d a aven ça, m as ap enas se
terá os contornos aos qu ais d everá estar ad strito tal conteú d o.
Para m elhor d em onstrar essa constru ção p od e-se im aginar u m recip iente
p reenchid o com algu m tip o líqu id o. O líqu id o rep resenta o contrato em si e seu
conteú d o, enqu anto o recip iente rep resenta a lei e seu s contornos. N ão se p od e
p retend er qu e o líqu id o ę qu e d erram ad o ou esp alhad o, p ois estar-se-ia d iante
d e conju ntu ra d em asiad am ente instável, cu ja concretização estaria aqu ém d o
interesse a qu e se refere.
Por ou tro lad o, im p ortante p erceber qu e o recip iente d eve ser vazad o
d isp ond o d e bastante esp aço p ara aqu ele conteú d o líqu id o, necessitand o ap enas
d e u m a ę na barreira p ara, sim p lesm ente, d ar-lhe contorno e contenção.
O p reenchim ento d esse recip iente d eve ser cond u zid o d e form a a não
transbord ar esse lim ite físico im p osto, p ois caso venha a ocorrer aqu ele d eterm i-
nad o conteú d o contratu al extrap olou os lim ites d a su a viabilid ad e legal.
49 Ibid.
Analisand o estes três p lanos d o negócio ju ríd ico, os qu ais vêm send o su s-
tentad os p ela m elhor d ou trina, esclarece Cristiano Chaves d e Farias:50
Os contratos p od em ser classię cad os com o “típ icos” e “atíp icos”, d ep en-
d end o d e p revisão legal e conteú d o obrigacional.51
Qu anto à classię cação em atípicos enqu ad ram -se, m od ernam ente, aqueles
qu e não p ossu em regu lam entação legal esp ecíę ca, ou seja, cu ja lei não faz referên-
cia qu an to a seu s elem entos d eterm inantes. Em ou tras p alavras, a atip icid ad e é a
au sência d e tratam ento legislativo esp ecíę co, u m a vez qu e seu “elem ento-cau sa”
não encontra d iscip lina.53
N este sentid o, su stenta Álvaro Villaça Azeved o:54 “Por isso mesmo que
tipicidade signięca presença, e atipicidade ausência, de tratamento legislativo especíęco.”.
50 Loc. cit.
51 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria geral d os con tratos típ icos e atíp icos: curso d e d ireito civil. 3ª.
ed. São Pau lo: Atlas, 2009.
52 PEREIRA, Caio Mário da Silva. In stitu ições d e d ireito civil. 14ª ed ição. ed . Rio d e Janeiro: Ed itora
Forense, v. III, 2010.
53 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria geral d os con tratos típ icos e atíp icos: curso d e d ireito civil. 3ª.
ed. São Pau lo: Atlas, 2009.
54 Ibid,p .120.
55 MIRANDA, Pontes d e. Tratad o d e d ireito p rivado. Rio de Janeiro: Borsoi, v. 38, 1962,p .366.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
“As relações econôm icas habitu ais travam -se sob as form as ju ríd i-
cas qu e, p or su a frequência, ad qu irem tip icid ad e. As esp écies m ais
com u ns são objeto d e regu lam entação legal, conę gu rand o-se p or
traços inconfu nd íveis e ind ivid u alizand o-se p or d enom inação p ri-
vativa. É com p reensível qu e a cad a form a d e estru tu ra econôm ica
d a socied ad e corresp ond am esp écies contratu ais qu e satisfaçam às
necessid ad es m ais instantes d a vid a social. Em razão d essa corres-
p ond ência, d eterm inad os tip os d e contrato p rep ond eram em cad a
fase d a evolu ção econôm ica, m as ou tros se im p õem em qu alqu er
regim e, em bora sem a m esm a im p ortância. Esses tip os esqu em ati-
zad os pela lei cham am -se contratos nom inad os ou típ icos. Os qu e
se form am à m argem d os parad igm as estabelecid os – com o fru to d a
liberd ad e d e obrigar-se – d enom inam -se inom inad os ou atíp icos.”
Os contratos atíp icos form am -se a p artir d e elem entos originais, d ecor-
rentes d a d inâm ica econ ôm ica, d os interesses esp ecíę cos, d a necessid ad e d e
otim ização d e p ráticas, ou resu ltam d a com binação d e elem entos obrigacionais
d e p actos já tip ię cad os.57 N o p rimeiro caso, classię cam -se com o contratos atíp icos
“p rop riam ente d itos” ou “singu lares”.58 N o segu nd o caso, classię cam -se com o
contratos atíp icos “m istos”.
N os contratos atíp icos singu lares, d ep ara-se com silên cio qu ase total d a
legislação, p ois a p rescrição legal oferece ap enas norm as gerais e p ou cas norm as
esp ecíę cas acerca d os p actos atíp icos, sem se ap rofu nd ar na tem ática d e seu
conteú d o, a exemp lo d o art. 425 d o Cód igo Civil.59 Em vista d esta d eę ciência
norm ativa, aconselha a d ou trina qu e as p artes sejam m eticu losas ao estabelecer
A form ação d os contratos atíp icos justię ca-se pela ap licação d os p rincípios
d a “liberd ad e d e obrigar-se” e d o “consensu alism o”,63 d ecorrend o d a necessid ad e
d a expressão contratual hu m ana m od ię car-se e ad ap tar-se aos m old es que surgem
com o avanço d o p rogresso econôm ico.
Sem receber d a norm a conceitu ação exata, p assou a ser reconhecid a com o
cláu su la geral d e observância obrigatória.68 Cáio Mário d a Silva Pereira, ao ana-
lisar o institu to ju ríd ico, p ond era e exp licita seu caráter ind eterm inad o, carente
d e concretização senão d a su a ap licabilid ad e ao caso concreto. A boa-fé consiste,
segu nd o o au tor, em u m p ad rão d e cond u ta variável d e acord o com as p ecu liari-
d ad es d e cad a relação ju ríd ica.69
Em bora ju ríd ica, a boa-fé objetiva ap arenta transcend er a p róp ria lei,70
m encionad a ap enas com o esp écie d e m ed id a d e segu rança com p ortam ental qu e
se m od ię ca com o d ecorrer d a p róp ria evolu ção social.
O institu to d a boa-fé objetiva ergu e-se, aind a, com o trad u ção d o interesse
social na segu rança d as relações ju ríd icas, exigind o d as p artes, recip rocam ente,
leald ad e e conę ança em tod o ciclo d a vid a d os p actos.72 Entre cred or e d eved or,
im p rescind ível m ú tuo ap oio na execu ção d o contrato, su bord inand o-se regras qu e
visem à colaboração d e u m a p arte com a ou tra.
66 EPEDINO, Gu stavo.; BARBOZA, Heloísa H elena.; BODIN DE MORAES, Maria Celina. Cód igo
Civil in terp retad o con form e a Con stitu ição da Rep ú b lica. Rio de Janeiro: Renovar, v. I, 2004.
67 BRASIL. Lei nº 10.406 d e 2002. Institu i o Cód igo Civil. Disp onível em : hĴ p ://ww w.p lanalto.gov.
br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm . Acesso em : 08 ju n. 2013.
68 PEREIRA, Caio Mário d a Silva. In stitu ições d e direito civil. 14ª ed ição. ed . Rio de Janeiro: Editora
Forense, v. III, 2010.
69 Ibid.
70 CORDEIRO, Antonio Man u el d a Roch a e Menezes. D a b oa fé n o d ireito civil - (Teses d e
d ou toram en to). 4ª. ed. Lisboa: Alm ed ina, 2011.
71 GOMES, O. Con tratos. 26ª. ed . Rio d e Janeiro: Forense, 2008.
72 Ibid.
Faz-se u m breve p arêntese p ara elu cid ar a p osição qu e vem tom and o a
boa-fé em tod o Direito Civil com o fonte gerad ora d a tu tela d a conę ança.
Prossegu ind o, ou tro asp ecto a ser consid erad o é o entend im ento em p re-
end id o p or Antônio Manu el d a Rocha e Menezes Cord eiro qu e entend e a boa-fé
objetiva com o ę gu ra ju ríd ica ju risp ru d encial, estabelecid a na d ogm atização e
p ad ronização d as d ecisões d os Magistrad os.74 A investigação d a boa-fé objetiva
ocorre qu ase sem p re em terreno d e interesses conĚitantes, ond e su a ap licação e
extensão serão d eterm inad as p ela ju risd ição.
73 SCH REIBER, And erson. A p roib ição d e com p ortam en to con trad itório: tu tela d a conę ança e
venire contra factum prop riu m . Rio d e Janeiro: Renovar, 2005,p .88.
74 CORDEIRO, Antonio Manu el d a Rocha e. Da b oa fé n o d ireito civil - (Teses d e d ou toram en to).
4ª. ed . Lisboa: Alm ed ina, 2011.
75 MARTINS-COSTA, Jud ith. A boa fé no d ireito p rivad o: sistema d e tópica no p rocesso obrigacional.
São Pau lo: Revista d os Tribu nais, 1999,p . 411.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Tal constru ção rem ete a u m p ad rão d e cond u ta comp ortam ental, d esp er-
tand o d ever p ositivo inerente à p róp ria essência d os negócios ju ríd icos, exigind o
d as p artes coop eração p ara qu e o contrato seja cu m p rid o.
A obrigatoried ad e, trad u zid a nos d izeres latinos pacta sunt servanda, está
vincu lad a a necessária p rod u ção d e efeitos acord ad os, p ara a m anu tenção d a
segu rança ju ríd ica.
76 TEPEDIN O, Gu stavo.; BARBOZA, H eloísa H elena; BODIN DE MORAES, Maria Celina. Cód igo
Civil in terp retad o con form e a Con stitu ição da Rep ú b lica. Rio d e Janeiro: Renovar, v. I, 2004.
Solid ię cou -se na ju risp ru d ência e d ou trina qu e a boa-fé objetiva serve
a três fu nções no d ireito contratu al: a) integrativa-interp retativa; b) criativa ou
su p letiva; c) corretiva ou lim itativa.
Assim exp lica Ju d ith Martins-Costa:78 “[...] atu a aí a boa-fé [objetiva] com o
u m kanon hábil ao p reenchim ento d e lacu nas, u m a vez qu e a relação contratu al
consta d e eventos e situ ações, fenom ênicos e ju ríd icos, nem sem p re p revistos ou
p revisíveis p elos contratantes.”
77 BRASIL. Lei nº 10.406 d e 2002. Institu i o Código Civil. Disp onível em : hĴ p ://ww w.p lanalto.gov.
br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm . Acesso em : 08 ju n. 2013.
78 MARTINS-COSTA, Jud ith. A boa fé no d ireito p rivad o: sistema d e tópica no p rocesso obrigacional.
São Pau lo: Revista d os Tribu nais, 1999,p . 428.
79 GOMES, Orland o. Con tratos. 26ª. ed . Rio d e Janeiro: Forense, 2008.
80 PEREIRA, Caio Mário d a Silva. In stitu ições d e d ireito civil. 14ª ed ição. ed . Rio d e Janeiro: Ed itora
Forense, v. III, 2010.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
“Im óvel. Perm u ta, com torna em dinheiro. Bens ad qu irid os p ara
incorp oração. Irregu larid ad e, p orém , d a aqu isição d a p erm u tante,
p or conta d e d ébito previd enciário d e qu em lhe transm itira os bens.
Artigo 48 d a Lei 8.212/91. Contam inação d os atos su bsequ entes.
Falta, ad em ais, d e cu m p rim ento d o d ever d e inform ação, corolário
d a boa-fé objetiva em su a fu nção su p letiva, levand o à fru stração d o
ę m d o negócio. Teoria d a p ressu p osição. Ind enização arbitrad a em
fu nção d a p rivação d o u so d os im óveis p erm u tad os, entregu es à ré.
Sentença m antid a. Recu rso d esp rovid o.” 86
83 PEREIRA, Caio Mário d a Silva. In stitu ições d e direito civil. 14ª ed ição. ed . Rio d e Janeiro: Editora
Forense, v. III, 2010.
84 MARTINS-COSTA, Jud ith. A boa fé no d ireito p rivad o: sistema d e tópica no p rocesso obrigacional.
São Pau lo: Revista d os Tribu nais, 1999,p . 448.
85 BRASIL. Lei nº 10.406 d e 2002. Institu i o Cód igo Civil. Disp onível em : hĴ p ://ww w.p lanalto.gov.
br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm . Acesso em : 08 ju n. 2013.
86 BRASIL. Tribunal d e Ju stiça d e São Pau lo. Ap elação Cível nº 994031129192, d a 2ª Tu rm a Cível,
2010.
87 PEREIRA, Caio Mário d a Silva. In stitu ições d e d ireito civil. 14ª ed ição. ed . Rio d e Janeiro: Ed itora
Forense, v. III, 2010.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Esta terceira fu ncionalid ad e, ap licad os os institu tos d e ved ação aos com -
p ortam entos nocivos, visa, conclu sivam ente, controlar a abu sivid ad e contratu al
e estabelecer p arâm etros com p ortam entais sau d áveis e necessários ao d esenvol-
vim ento, cu m p rim ento e execu ção d os p actos ju ríd icos.
O Cód igo Civil d e 2002 traz a fu nção corretiva d a boa-fé objetiva em seu
art. 187, ao erigi-la com o critério d e d eterm inação ao abu so d e d ireito.
90
88 SCH REIBER, And erson. A p roib ição d e com p ortam en to con trad itório: tu tela d a conę ança e
venire con tra factum prop riu m . Rio d e Janeiro: Renovar, 2005,p .88.
89 MARTINS-COSTA, Jud ith. A boa fé no d ireito p rivad o: sistema d e tópica no processo obrigacional.
São Pau lo: Revista d os Tribu nais, 1999, p . 457.
90 BRASIL. Lei nº 10.406 d e 2002. Institu i o Cód igo Civil. Disp onível em : hĴ p ://ww w.p lanalto.gov.
br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm . Acesso em : 08 ju n. 2013.
91 TEPEDIN O, G.; BARBOZA, H . H .; BODIN DE MORAES, M. C. Cód igo Civil in terp retad o
con form e a Con stitu ição d a Rep ú b lica. Rio d e Janeiro: Renovar, v. I, 2004.
Ante tod o o exp osto, servirá a boa-fé objetiva à fu nção genérica d e conso-
lid ar d ogm ática ju ríd ica voltad a ao equ ilíbrio, eivad a na convicção ju ríd ica ju ris-
p ru d encial insp irad a na cu ltu ra social d e seu tem p o e resistente às im p erfeições
hu m anas e ao p róp rio ord enam ento ju ríd ico.
Talvez não tão intu itivo nu m a p rim eira análise, os contratos atíp icos, p or
m ais qu e tentem se trad u zir na libertação d os grilh ões d o engessam ento legal,
p rovocam certa p orção d e instabilid ad e, m elhor d eę nid a, no caso concreto, com o
u m a latente d ię cu ld ad e d e d eę nir exp ectativas nos d e conĚitos d e exp ectativa.
Entretanto, conform e já exp osto, os contratos atíp icos fogem à tip ię cação
legal, ę cand o ap enas ad stritos à su a au torização p ara su a valid ad e, no lim ite d a
licitud e, tornand o-se d ifícil su a p lena com p reensão e a d eę nição d a gam a d e expec-
Neste ponto, ind aga-se: não send o su ę ciente o contrato, d e ond e se extrairá
os recu rsos normativos necessários a sanar tais conĚitos? Antes qu e se resp ond a
a lei, necessária esm iu çar a qu estão.
93 GOMES, Orland o. Traços d o Perę l Ju ríd ico d e u m “Shop p in g Cen ter”. São Pau lo: Revista d os
Tribu nais, n. 576, 1983, p . 13.
94 GOMES, O. Con tratos. 26ª. ed . Rio d e Janeiro: Forense, 2008.
N ão se p retend e aę rm ar, arriscand o-se com eter grave equ ívoco, qu e a
Legislação se cale quanto à resolu ção d os conĚitos contratuais atíp icos. Ocorre qu e
esta não enfrenta os conĚitos d iretam ente; tod avia, ind ica “fonte” d iversa p ara a
extração d as inform ações necessárias a ę nd á-los.
O Cód igo Civil d e 2002,95 em seu s artigos, faz referência a essas fontes, às
qu ais se d eve recorrer, referind o-se aos “Princíp ios Gerais d e Direito” e a “boa-fé”.
O p resente p rojeto não d ebru çará investigação qu anto ao p rim eiro, d etend o-se à
análise d a segu nd a em su a vertente objetiva e su as interações com o contrato em
análise.
95 BRASIL. Lei nº 10.406 d e 2002. Institu i o Cód igo Civil. Disp onível em : hĴ p ://ww w.p lanalto.gov.
br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm . Acesso em : 08 ju n. 2013.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Ora, vista a com p lexa engenharia ju ríd ica necessária à aglom eração d e
elem entos tão d iferentes, é coerente im aginar qu e d evam criar certas exp ectativas
e d everes seu s p ares.
Neste ponto, m erece d estaque o d ever d e inform ação. Se d iante d e com p le-
xa interação d e elementos qu e, p ara satisfazer os interesses contratad os, d ep end em
d e consenso entre os contratantes, nad a m ais razoável qu e estes inform em entre si
qu aisqu er variações qu e tenham o cond ão d e alterar, m esm o qu e m inim am ente,
a p ossibilid ad e d e alcançar tais interesses.
N isto, atu a tam bém ou tra obrigação acessória qu e se refere ao resp eito
d o d ever d e leald ad e entre os contratantes, qu e, u ma vez qu e d ela d ep end em
p ara qu e o contrato alcance o interesse sinalagm ático, d evem ofertar inform ações
e com p ortam entos verd ad eiros.
96 BRASIL. Tribu nal d e Ju stiça d e Santa Catarina. Ap elação Cível, d a Prim eira Câm ara d e Direito
Civil. Relator: Carlos Prud êncio, 2011.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Por ę m , im p ortante d iscorrer sobre a terceira fu nção, aqu ela d enom inad a
lim itativa, e su as p ossíveis relações com os contratos atíp icos.
97 BRASIL. Tribu nal d e Ju stiça do Paraná. Ap elação Cível nº 3.653.852, d a 12ª Câm ara Cível Recu rso
Esp ecial n º 152.497, d a 4ª Tu rma, 2002.
Ou tro exem p lo interessante, coincid entem ente tam bém versand o sobre
relações locatícias atíp icas, o Tribu nal d e Ju stiça d o Rio d e Janeiro enfrentou qu es-
tão referente à abu sivid ad e d o em p reend im ento com ercial em relação ao lojista:
98 BRASIL. Tribu nal d e Ju stiça d o Rio d e Janeiro. Ap elação Cível nº 98382120088290021, d a Oitava
Câm ara Cível, 2010.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
O Recu rso Esp ecial nº 1.259.210, d e Relatoria (p ara acórd ão) d a Exm a.
Ministra N ancy And righi, se ap resenta com o esp écim e interessante d a conju nção
d as fu ncion alid ad es d o institu to.
Analisand o-se os trechos grifad os, id entię car-se-ão ind ivid u almente as
fu nções d a boa-fé objetiva.
99 BRASIL. Su p erior Tribu nal d e Justiça. Recu rso Esp ecial nº 1259210, d a Terceira Tu rm a, 2011.
100 Loc. cit.
d e alerta 101 com o se observa: “[...] se tal p rom essa assu m ir a cond ição d e cau sa
d eterm inante d o contrato e se não estiver com p rovad a a p lena com u nicação [...]”
Resu m id am ente, a ação p rop osta 102 p retend eu ind enização e rescisão d o
contrato p ela não concretização d e su p osta p rom essa, d e se estabelecerem no em-
p reend im ento “lojas-âncora”, feita p elo em p reend ed or (shopping center) ao lojista.
Op ortu no, d iante d a constru ção acim a em p reend id a, tecer p ond erações
sobre a atu ação d a tu tela d a conę ança nas etap as p ré-contratu ais, conę gu rand o
u m a p rim eira m anifestação d a boa-fé objetiva a atu ar no contrato.104
101 MARTINS-COSTA, Jud ith. A boa fé no direito p rivado: sistema d e tópica no processo obrigacional.
São Pau lo: Revista d os Tribu nais, 1999.
102 BRASIL. Sup erior Tribu nal d e Ju stiça. Recu rso Especial nº 1259210, d a Terceira Tu rm a, 2011.
103 BRASIL. Sup erior Tribu nal d e Ju stiça. Recu rso Especial nº 1259210, d a Terceira Tu rm a, 2011.
104 MARTINS-COSTA, Jud ith. A boa fé no d ireito p rivad o: sistema d e tópica no p rocesso obrigacional.
São Pau lo: Revista d os Tribu nais, 1999.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Com o bem elu cid a Lin o Diam vu tu ,106 im p ortan d o a fala d e Menezes
Cord eiro:
pod e haver violação que, não justię cand o a anu lação d o contrato p or
d olo, constitu a, no entanto, violação cu lp osa d o cu id ad o exigível e,
p or isso, obrigu e a ind em nizar p or cu lp a in con trahend o.”
105 GOMES, O. Con tratos. 26ª. ed . Rio d e Janeiro: Forense, 2008, p . 55.
106 DIAMVUTU, Lino. A tu tela d a con ę an ça n as n egociações p ré-con tratu ais. Disponivel em : <hĴ p://
w w w .fd .u l.p t/LinkClik.aspx?ę leticket=a DZEi3AE0TQ%#D&tabid =331>. Acesso em : 20 Ju lh o
2013, p .10.
N o ju lgad o em com ento, observa-se qu e, com base nos ensinam entos
acim a exp ostos, d esd e a origem d a avença, ocorreu qu ebra d a conę ança negocial.
Su p erou -se, contu d o, a etap a negocial e ad entrou -se o negócio ju ríd ico
d evid am ente celebrad o, sobre o qu al requ ereu , o au tor d a d em and a, a rescisão
d o contrato.
107 BRASIL. Su p erior Tribu nal d e Justiça. Recu rso Especial nº 1259210, d a Terceira Tu rm a, 2011.
108 Loc. cit.
109 MARTINS-COSTA, Jud ith. A boa fé no d ireito p rivad o: sistema d e tópica no p rocesso obrigacional.
São Pau lo: Revista d os Tribu nais, 1999.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Em vista d esta conju ntu ra, atu a a boa-fé objetiva, p erm eand o o p acto e
fazend o d ele su rgir aqu elas obrigações não exp ressas, p orém , im p rescind íveis à
concretização, execu ção ou p reservação d os d ireitos d os contratantes.
Com o exposto no segu nd o trecho d o fragm ento retirad o d o voto d a ilu stre
relatora (“a crença na instalação d essas lojas d e grand e p orte, p ortanto, tratad a na
inicial com o u m a p rom essa d e fato d e terceiro”),110 a instalação d as “lojas-âncora”
rep resentou cond ição, p or p arte d o locatário, p ara a celebração d o contrato.
110 BRASIL. Su p erior Tribu nal d e Justiça. Recu rso Esp ecial nº 1259210, d a Terceira Tu rm a, 2011.
111 BRASIL. Tribunal d e Ju stiça d e São Pau lo. Ap elação cível nº 9102256582006826, d a 34ª Câm ara
d e Direito Privado, 2011.
E p rossegu e:112 “A qu estão foi solu cionad a p elo TJ/RJ m ed iante reconhe-
cim ento d e qu e referid a cláu su la, inserid a em contrato d e ad esão, seria abu siva
p orqu an to retiraria d o lojista o d ireito à ju sta ind enização p ela fru stração d e u m a
p rom essa efetivam ente feita p elo locad or”.
Atu a então a boa-fé objetiva d iretam ente no tecid o contratu al, ap erfeiço-
and o-o e bu scand o garantir o ap roveitam ento com u tativo d a avença.
112 Ibid.
113 Ibid.
114 CORDEIRO, Antonio Man u el d a Roch a e Menezes. D a b oa fé n o d ireito civil - (Teses d e
d ou toram en to). 4ª. ed. Lisboa: Alm ed ina, 2011.
115 BRASIL. Sup erior Tribu nal d e Ju stiça. Recu rso Especial nº 1259210, d a Terceira Tu rm a, 2011.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Con form e já d iscorrid o, a boa-fé objetiva, p ela com p osição m eta-ju ríd ica
qu e ap resenta, se d iz incorru p tível aos interesses ind ivid u ais e cap az d e p roezas,
com o o enfrentam ento d a p róp ria incoerência e inju stiça p resentes na Lei,116 e
nu nca p od eria ser su stentácu lo ou escora d e p osições absolu tas e anti-contratu ais.
Lam entavelm ente, p or inú m eras vezes, ju lgam entos au toritários e inter-
p retações u nilaterais são perpetrad as, baseand o-se em u m d iscurso fund amentad o
p ela aplicação errônea ou m aqu iavélica d e teses m orais travestid as em argum entos
acerca d a boa-fé objetiva e su a fu ncionalid ad e.
Qu anto a estas situ ações esp ecię cam ente, não se p retend e, com o já enu n-
ciad o, su bstitu ir ou afastar ap licabilid ad e d a legislação genérica e esp ecíę ca com o
esta for ad equ ad a.
Em ou tras p alavras, a atu ação d a boa-fé objetiva no con trato ocorre tod o
tem p o; esta o p erm eia d esd e su a origem.
116 Ibid.
Diante d a conclu são d o p resente p rojeto, necessário reconstru ir, resu m i-
d am ente, o trajeto p ercorrid o até o m om ento p ara qu e, sem p reju ízos, p ossa-se
em p reend er resolu ção d a hip ótese ap resentad a.
Qu anto à Lei, lato sensu, su a insu ę ciência típ ica encontra cau sa na p róp ria
au torização, ou até p erm issivid ad e, exp ressão d a liberd ad e contratu al.
Em vista d essa conju ntu ra, não seria razoável esp erar esforços no in tu ito
d e tip ię car “qu antas m ais” situ ações qu e p u d essem ocorrer em relação ju ríd ica
tão ú nica e tão d ep end ente d a p róp ria liberd ad e d e obrigar-se.
A insu ę ciência d o p róp rio contrato se exp lica p ela incap acid ad e d as p ar-
tes em vislu m brar tod as as hip óteses e eventos qu e p ossam ocorrer d u rante su a
execu ção, d evid a à com p lexid ad e d a relação ju ríd ica estabelecid a.
117 SCH REIBER, And erson. A p roib ição de com p ortam en to con traditório: tu tela d a conę ança e
venire con tra factum prop riu m . Rio d e Janeiro: Renovar, 2005.
118 MARTINS-COSTA, Jud ith. A boa fé no d ireito p rivad o: sistema d e tópica no processo obrigacional.
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por Fa brício de Souza Lopes Pereira 119
N este artigo p retend e-se analisar a notória exp ansão d o Pod er Ju d iciário
no contexto institu cional no Brasil e no Mu nd o, p rotagonizad o p elo m od elo d e
constitu cionalism o norte-am ericano, o qu al criou, d e certa form a, um novo cenário
p ú blico cad a vez m ais d istante d as trad icionais institu ições p olítico-rep rentativas,
colocand o em chequ e, a p rincíp io, o p rincíp io d a sep aração d os p od eres, criad a
p or Aristóteles e ap erfeiçoad a p or Charles d e S. d e Montesqu ieu 120 e, aind a, a
neu tralid ad e d o Pod er Ju d iciário, assim com o a legitim id ad e d e su as d ecisões
ju d iciais. Assim é qu e, em socied ad es d em ocráticas, com p revalência ao Estad o
Dem ocrático d e Direito, estas d ecisões d evem ad qu irir legitim id ad e a p artir d e
u m p rocesso d eliberativo, com o ę m d e viabilizar o d iálogo entre as institu ições e
119 Ad vogad o atu ante d esd e 2001. Pós-grad u ad o em Direito e Processo d o Trabalho e Processo
Civil. Mestre em Direito Pú blico p ela Universid ad e Estácio d e Sá (con ceito 5 CAPES). Professor
Universitário d o Curso d e Direito d esd e o ano d e 2003. Professor de d iversos Cu rsos Preparatórios
p ara a OAB e concu rsos d a área. Coord enad or d o Cu rso d e Direito d a Facu ld ad e Estácio d e Sá
d esd e o ano d e 2010.
120 O m od elo norte-americano d o Checks and balances, p roposto p elos fed eralistas, é um a evolução
d essa teoria.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
p erante a p róp ria socied ad e, através d e m ecanism os d e exercício d ireto ou rep re-
sentativo. E este é o p ap el d os d iálogos institu cionais e sociais, im p ed ir, d e certa
form a, a d issem inação d o fenôm eno d a “ju d icialização d a p olítica”, m od erand o
a atu ação d o Ju d iciário (m inim alism o ju d icial) e restau rand o su a neu tralid ad e,
com esteio na Teoria d as Institu ições.
This article aim s to exam ine th e notable exp ansion of th e Ju d iciary in the
institutional context in Brazil and w orld w id e, played by the US constitutional m od -
el, w hich in a way created a new p u blic scene increasingly d istan t from trad itional
rep resentative institu tions, thu s p u Ĵ ing into qu estion the p rin cip le of sep arate
p owers (created by Aristotle and im proved by Montesqu ieu ), and also the neu tral-
ity of the ju d iciary as well as the legitim acy of its ju d gem ents. In societies w here
a d em ocratic state based on the ru le of law p revails, those ju d gem ents m u st gain
legitimacy from a d ecision-m aking process, m aking p ossible the d ialogu e between
institutions and to society itself, throu gh d irect or rep resentative participation. And
that is the role of institu tional and social d ialogu es: to somehow p revent the sp read
of “p olitical ju d icialization”, m od erating ju d iciary actions (ju d iciary m inim alism)
and restoring its neu trality, relying on the Theory of Institu tions.
A p rop ósito e nesses term os, novam ente p ond era Fábio Corrêa Sou za d e
Oliveira, qu e:
121 Juris Poiesis, ano 14, n. 14, jan-d ez. 2011 ISSN 1516-6635. hĴ p ://p ortal.estacio.br/m ed ia/3463493/
ju ris-p oiesis-14-11-m aio1.pd f
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
N ão obstante o fato d e o Su p rem o Tribu nal Fed eral d esem p enhar hoje,
u m p ap el ativo na cond u ção d as com p lexas d iscu ssões p ostas à socied ad e, inclu -
sive em ações ind ivid u ais, com p rep ond erância a u m ativism o ju d icial crescente,
p erfazend o em algu ns casos verd ad eiras alterações constitu cionais, com su p osto
su p orte no institu to d a m u tação constitu cional, há d e se reconhecer, p or ou tro
lad o, qu e o STF não é necessariam ente “o ú ltim o player nas su cessivas rod ad as d e
interp retação d a Constitu ição p elos d iversos integrantes d e u m a socied ad e aberta
d e intérp retes”.
122 Além d o controle de constitu cionalid ad e ju risd icional existe o cham ad o controle p olítico que é
realizad o “por órgãos especiais [...], d istintos d os d em ais p od eres”.(ALMEIDA, 2005, p .14)
inserta n o art. 52, X d a CRFB/88 (qu e d eterm ina ser d e com p etência p rivativa d o
Senad o Fed eral à su sp ensão d a execu ção, no tod o ou em p arte, d e lei d eclarad a
inconstitu cional p or d ecisão d eę nitiva d o Su p rem o Tribu nal Fed eral).
Por ou tro lad o, não obstante o fato d e o ord enam ento ju ríd ico p átrio,
conced er ao STF a gu ard a d a Constitu ição, m u itas vozes soam no sentid o d e qu e
p or força d e seu caráter contram ajoritário (p roteção d as m in orias contra o abu so
d as m aiorias), certa d ú vid a p od eria su rgir com relação a su a legitim id ad e, sobre-
tu d o p elo fato d e qu e a corte é com p osta p or ju ízes não eleitos, ond e a solu ção
p ara as m ais altas e com p lexas d iscu ssões (não ap enas ju ríd icas, m as tam bém d e
cu nho p olítico-social), restariam nas m ãos d e u m gru p o seleto d e ju ízes. Esta é a
“d ię cu ld ad e m ajoritária”.123
São m u itos os exem p los atu alm ente qu e retratam u m avanço consid erável
d o ativism o ju d icial no Brasil. Em m u itos d eles, o fenôm eno é estim u lad o p ela p ró-
p ria legislação, qu e confere ao Su p rem o Tribu nal Fed eral a atribu ição d e gu ard ar
a Constitu ição. Em ou tros, encontram os as m ais variad as form as d e interp retação
d a Constitu ição com o form a d e se im p or ę m aos conĚitos, in clu sive, os d e índ ole
p olítica. N esta esteira, tem os a mu tação constitu cional com o verd ad eiro cam inho
p ara a d ecisão. Contu d o, em algu m as situ ações, o institu to d a m u tação, d e origem
d ou trinária, é d etu rp ad o e ap licad o d e form a antagônica ao qu e p rop riam ente já
se estabelecera no p róp rio Su p rem o Tribu nal Fed eral.
123 BICKEL, Alexand er. The least dangerous branch: the Su prem e Court at the bar of p olitics. 2. ed.
New H aven: Yale University Press, 1986
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
O ju lgam ento d a Reclam ação 4335-5/AC trou xe grand e d iscu ssão sobre a
p ossibilid ad e d e concessão d e efeitos vincu lantes em sed e d e controle d ifu so.
Contu d o, no mesmo ano, o STF ad m itiu a Reclam ação n.º 4335-5/AC, ond e
a Defensoria Pú blica d a União qu estionava a d ecisão d o ju iz d e d ireito d a Vara d e
Execu ções Penais d e Rio Branco, no caso concreto, em qu e negou a p rogressão d e
regim e p risional nos term os d o qu e d isp õe a Lei d e Crim es H ed iond os.
A Reclam ação em com ento foi conhecid a e ju lgad a p roced ente em 2014.
Acrescente-se qu e, não obstante a ed ição d a Sú m u la Vincu lante n.º 26 (qu e m and a
o ju ízo d a execu ção observar a inconstitu cionalid ad e d o art. 2º, d a Lei n.º 8.072/90)
no transcu rso d a ação, algu ns votos foram p roferid os antes m esm o d e su a ed ição,
com o os d os Ministros Gilm ar Mend es e Eros Grau .
Cu rioso, tod avia, qu e o institu to d a m u tação constitu cional foi com p le-
tam ente transm u tad o, p ara ę ns d iversos qu e não aqu ele d e se conceber nova
norm a ao texto, m as sim a criação d e novo texto constitu cional, ond e nas p alavras
d o p róp rio Ministro Eros Grau , em consonância com o Ministro Relator Gilm ar
Mend es, o sentid o norm ativo d o art. 52, X d a CRFB/88 seria este:
“p assam os em verd ad e d e u m texto [p elo qu al] compete privativa-
mente ao Senado Federal suspender a execução, no todo ou em parte, de
lei declarada inconstitucional por decisão deęnitiva do Supremo Tribunal
Federal, a ou tro texto: “com p ete p rivativam ente ao Senad o Fed eral
d ar p ublicid ad e à su sp ensão d a execu ção, op erad a p elo Su p rem o
Tribu nal Fed eral, d e lei d eclarad a inconstitu cional, no tod o ou em
p arte, p or d ecisão d eę nitiva d o Su p rem o”.
Isso p erm ite qu e o STF seja não som ente ativo, m as lhe confere m aiores
p rerrogativas qu e os d em ais p od eres. Atu alm ente o STF p od e d eterm inar u m a
form a d e interp retação d e norm a constitu cional e imp ô-la a tod os m ed iante u m a
d ecisão tom ad a p or m aioria absolu ta (seis m inistros), qu óru m m enos elevad o qu e
p ara a criação d e u m a sú m u la vincu lante (oito votos).
A p rop ósito e nesses term os, merece relevo a recente d ecisão d o STF,
p roferid a em novem bro d e 2014, ond e ao ju lgar o Recu rso Extraord inário com
Agravo (ARE) 709212/DF,124 conced eu -lhe repercu ssão geral, d eclarand o a incons-
titu cionalid ad e d o art. 23, § 5º d a lei d o FGTS e art. 55 d o Regu lam ento d o FGTS
ap rovad o p elo Decreto 99.684/1990, na p arte em qu e ressalvam o “p rivilégio d o
FGTS à p rescrição trintenária”, haja vista violarem o d isp osto no art. 7º, XXIX, d a
Carta d e 1988, entend end o, d oravante, ser d e cinco anos o p razo d e p rescrição
ap licável à cobrança d e valores não d ep ositad os no Fu nd o d e Garantia d o Tem p o
d e Serviço (FGTS), nos term os d o art. 7º, XXIX d a CRFB/88.
124 Dem onstra-se com o p od e o STF d erru bar u m entend im ento tid o por d écadas (Sú m u la n.º 362 do
TST) e, através d e um a ação ind ivid ual, lhe atribu ir efeitos vincu lantes, nos term os d o art. 543-B
d o CPC.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
O m od elo trad icional d e d ivisão d e pod eres foi alimentad o pela Revolução
francesa e voltou a ser im p lem entad a ap ós a qu ed a d o Estad o absolu tista.
Essa lim itação d o p od er, então, ad vind a d o p róp rio p od er, se d enom inou
d e m ecanism o d e freios e contrap esos (checks and ballances), qu e p osteriorm ente à
crise d o Estad o Liberal foi read ap tad a à eę ciência d o sistem a p olítico. Com isso,
a sep aração d os p od eres teve d e ser alterad a, a ę m d e se am old ar a u m a nova
realid ad e qu e não m ais ansiava u m a sep aração fervorosa d os p od eres, m as sim
u m a harm onização entre eles. N esse sentid o, José Afonso d a Silva:126
125 MON TESQUIEU. Do esp írito d as leis. São Pau lo: Nova Cu ltural, 2000. V1.
126 SILVA, José Afonso d a. Cu rso d e d ireito constitu cional p ositivo. 23. ed . São Paulo: Malheiros,
2004.
a d eclarar a inconstitu cionalid ad e d as leis, não as ap licand o neste
caso. O Presid ente d a República não interfere na fu nção jurisd icional,
em comp ensação os m inistros d os tribu nais su p eriores são p or ele
nom ead os, sob controle d o Senad o Fed eral, a qu e cabe ap rovar o
nom e escolhid o (...) Tu d o isso d em onstra qu e os trabalhos d o Legis-
lativo e d o Execu tivo, esp ecialm ente, m as tam bém d o Ju d iciário, só
se d esenvolverão a bom term o, se esses órgãos se su bord inarem ao
p rincíp io d a harm onia, qu e não signię ca nem o d om ínio d e u m pelo
ou tro nem a usu rp ação d e atribuições, mas a verię cação d e qu e, entre
eles, há d e haver consciente colaboração e controle recíp roco (qu e,
aliás, integra o m ecanism o), p ara evitar d istorções e d esm and os.
Paulo Bonavides 127 conę rma estes novos contornos de mod elo d e separação
d os p od eres, ilu strand o os freios e contrap esos existentes hoje, ao ad u zir qu e:
127 BON AVIDES, Paulo. Curso d e d ireito constitucional. 23. ed . São Pau lo: Malheiros, 2008.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
128 Não obstante o fato d e qu e ju ízes qu e exerceram tal controle sofreram p rocessos crim inais.
Ju nto a isto, p ercebem os qu e as fu nções d o ju d iciário se am p liaram , tom and o
conta d o qu e antes era conferid o ap enas ao legislativo, p assand o-se a u m contexto
ligad o a concep ção d e d ecisões m axim alistas (ond e os ju ízes d eę nem qu estões
com p lexas sobre p olítica, m oral, ę losoę a, biologia e econom ia), em contrap artid a
d o m inim alism o constitu cional.
Com o au m ento d este “ativism o ju d icial”, su rgem tam bém algu m as p on-
d erações e qu estionam entos sobre a legitim id ad e d o ju d iciário, qu e p or força d o
avanço d a ju risd ição constitu cional ad qu ire cad a vez m ais a id eia d e ser o d etentor
d a ú ltim a p alavra.
Por ou tro lad o, ou tro argu m ento torna valioso o ju lgam ento p or hom ens
d istantes d a inĚu ência p olítica, ao p asso qu e d a m esm a form a, se d istanciariam d e
acord os inid ôneos e negociatas, conced end o-lhes certa im p arcialid ad e em fu nção
d isto.
129 BICKEL, Alexander. The least dangerous branch: the Supreme Court at the bar of politics. 2. ed. New
Haven: Yale University Press, 1986.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Tem os, então, qu e a d iscu ssão sobre qu estões d e alta com p lexid ad e qu e
envolvem p rincíp ios d e alta carga m oral em d etrim ento d e regras ju ríd icas, d eve
ę car a cargo d o p od er qu e, p or su a natu reza, tem a vocação d e fazer valer a von-
tad e d o cid ad ão, p or conta d e su a legitim id ad e rep resentativa (Pod er Legislati-
vo). Traz-se à baila, p or op ortu no, o art. 68 d a Constitu ição d e 1934 e o art. 94 d a
Constitu ição d e 1937 qu e ved avam a análise d e qu estões exclu sivam ente p olíticas
p elo Pod er Ju d iciário.
132 RAWLS, John. O liberalismo político. 2. ed . São Pau lo: Ática, 2000.
133 RAWLS, Justiça e democracia. São Pau lo: Martins Fontes, 2000b
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
134 HABERMAS, Jürgen. Between facts and norms: contribu tions to a d iscou rse Theory of Law and
Dem ocracy. Translated by W. Regh. Cam brid ge: MIT Press, 1996.
135 GARAPON , Antoine. O juiz e a democracia: o guard ião d as p rom essas. Trad . Maria Lu iza d e
Carvalho, Rio de Janeiro: Revan, 1999.
136 DWORKIN , Ronald . O império do direito. Trad u ção d e: Jeě erson Lu iz Camargo. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.
137 Voto do Min. Gilmar Ferreira Mend es no ju lgam ento da ADI nº 3.510 – Plenário d o STF sessão
d e julgam ento em 29/05/2008. Disp onível em: <hĴ p://ww w.conju r.com.br/2008-m ai-31/leia_voto_
gilm ar_m end es_p esquisas_celu las-tronco?pagina=2>. Acesso em 12/11/2014.
d o p ovo reu nid os no p arlam ento, mas p elos Tribu nais Constitu cio-
nais. (...) Mu ito se com entou a resp eito d o equ ívoco d e u m m od elo
qu e p erm ite qu e ju ízes, inĚu enciad os p or su as p róp rias convicções
m orais e religiosas, d eem a ú ltim a p alavra a resp eito d e grand es
qu estões ę losóę cas, com o a d e qu and o com eça a vid a. Lem bro, em
contra-argu m ento, as p alavras d e Ronald Dworkin qu e, na reali-
d ad e norte-am ericana, ressaltou o fato d e qu e “os Estad os Unid os
são u m a socied ad e m ais ju sta d o qu e teriam sid o se seu s d ireitos
constitu cionais tivessem sid o conę ad os à con sciência d e instituições
m ajoritárias”. (...) O Su p rem o Tribu nal Fed eral d em onstra, com este
ju lgamento, qu e p od e, sim , ser u m a Casa d o p ovo, tal qu al o p ar-
lam ento. Um lu gar ond e os d iversos anseios sociais e o p lu ralism o
p olítico, ético e religioso encontram gu arid a nos debates p roced i-
m ental e argu mentativamente organizad os em norm as p reviam ente
estabelecid as. As aud iências p ú blicas, nas qu ais são ou vid os os
exp ertos sobre a m atéria em d ebate, a intervenção d os am ici cu riae,
com suas contribu ições juríd ica e socialmente relevantes, assim como
a intervenção d o Ministério Pú blico, com o rep resentante d e tod a a
socied ad e p erante o Tribu nal, e d as ad vocacias p ú blica e p rivad a,
na d efesa d e seu s interesses, fazem d esta Corte tam bém u m esp aço
d em ocrático. Um espaço aberto à reĚexão e à argu mentação ju ríd ica
e m oral, com am p la rep ercu ssão na coletivid ad e e nas institu ições
d em ocráticas. Ressalto, neste ponto, qu e, tal com o nos ensina Robert
Alexy, “o p arlam ento rep resenta o cid ad ão p oliticam ente, o tribu nal
constitu cional argu m entativam ente (...)”
Enqu anto Ronald Dw orkin d á ênfase ao Pod er Ju d iciário com o ator p rin-
cip al na concretização d as norm as constitu cionais, através d e ilim itad a judicial
review, Jerew y Wald ron 138 su gere a releitu ra d as fu nções d o Pod er legislativo,
reverenciand o às fu nções p roclam ad as na Constitu ição.
138 WALDRON, Jerem y. A d ignid ad e da Legislação. Trad u ção Lu ís Carlos Borges. São Pau lo: Martins
Fontes, 2003.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Jerew y Wald ron acred ita qu e a d ecisão p roferid a no seio d as assem bleias
legislativas, ap esar d e, d a m esm a form a qu e àqu elas p roferid as p elo Pod er Ju d i-
ciário, p od erem não ser u nânim es (e qu ase nu nca serão), terão estas m aior teor
d em ocrático, p rivilegiad as p elo d ebate d emocrático, estabelecid o em razão d e su a
rep resentativid ad e.
139 Ao com p arar o ju iz ao sem ideu s H ércu les, p retend e o autor conferir às d ecisões os ad jetivos d e
certeza, segurança, justiça e m oralid ad e, p rolatad a com o “resp ostas certas”, mesmo nos casos d e
d ifícil resolu ção.
140 DWORKIN, Ronald (1999). O império do direito. Tradu ção d e Jeě erson Lu iz Cam argo. São Pau lo:
Martins Fontes.
141 WALDRON, Jeremy. A dignidade da Legislação. Tradu ção Lu ís Carlos Borges. São Paulo: Martins
Fontes, p. 1, 2003.
142 WALDRON, Jeremy. A dignidade da Legislação. Tradu ção Lu ís Carlos Borges. São Paulo: Martins
Fontes, p. 3, 2003.
d e u m a m aneira qu e reconheça abertam ente e resp eite (em vez d e
ocu ltar ) as inevitáveis d iferenças d e op inião e p rincíp io entre eles.
Esse é o tip o d e com p reensão d a legislação qu e eu gostaria d e cu l-
tivar. E p enso qu e, se cap tu rássem os isso com o a nossa im agem d e
legislação, haveria, por su a vez, u m a sau d ável d iferença no nosso
conceito geral d o d ireito.
Waldron critica o ativismo jud icial, nortead o pelo sistema norte-am ericano,
em três facetas, a saber: 1 – os lim ites à regra d a m aioria; 2 – a hip ertroę a d e p ráti-
cas contram ajoritárias; e 3 – a ę xação d o centro d as atenções nos tribu nais, o qu al
p assa a escolher d eterm inad os p rincíp ios, em fu nção d e u m p rovável fu nd am ento
d e ord em m oral, qu e o torna, neste sentid o, arbitrário.
N esta linha d e raciocínio, Wand ron,143 Cond orcet e Maqu iavel d efend em
qu e qu anto m aior o nú m ero d e cid ad ãos p resentes na elaboração d a lei, nas casas
legislativas, m ais serão estas d em ocráticas. N esse sentid o:
143 WALDRON, Jerem y. A dignidade da Legislação. Tradu ção Luís Carlos Borges. São Pau lo: Martins
Fontes, p . 41, 2003.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
N esta esteira, são os argu m entos d e Cass R. Su nstein e Ad rian Verm eu le,
no sentid o d e haver u m a “red e d e recip rocid ad e”, p rojetad a a p artir a elaboração
d em ocrática d e d ecisão coletiva convergente com as d istintas noções d e ju stiça d e
u m a socied ad e p lu ralista, d e m od o a u ltrap assarm os u m m onólogo ju d icial em
u m legítim o d iálogo interinstitu cional.
144 BATEUP, Christine. The dialogic promise: assessing the normative potential of theories of constitucional
dialogue. In: Brooklyn Law Review , v 71, 2006.
além d ele. Seja p ela via institu cional ou p ela via social. A voz d o STF
é u m a voz, certam ente com d ecibéis m ais altos qu e ou tras, m as não
invariavelm ente com ressonância. N o d iálogo, o eco é im p ortante,
u m a m eta”.
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WALDRON , Jerem y. A d ign id ad e d a Legislação. Trad u ção Lu ís Carlos Borges. São Pau lo:
Martins Fontes, 2003.
por Conceiçã o Cá ssia de O liveira 146
N esses ú ltim os anos, m u ito se evolu iu na teoria d a p rova, p articu larm ente
no qu e tange à nova visão d os p od eres d o ju iz na iniciativa p robatória d iante d a
crescente valorização d o p rincíp io d a verd ad e real. A d ou trina mod erna bu sca
amp liar os p od eres d o ju iz na instru ção d a cau sa, sob a tese d e qu e o p rocesso
é instru m ento p ú blico e qu e d eve bu scar a verd ad e. N ão é p ossível fazer ju stiça
sem entend er, com segu rança, o qu ad ro fático trazid o à consid eração d o órgão
ju d icante, na m ed id a em qu e a ju stiça d a p restação ju risd icional se vincu la ao
com p rom isso d o p rocesso com a verd ad e real.
In recent years, m u ch has evolved in the theory of p roof, p articu larly w ith
regard to th e new vision of the p owers of the ju d ge in the p robative initiative
in the face of increasing ap p reciation of the p rincip le of real tru th. The m od ern
d octrine seeks to extend th e p owers of the ju d ge in the investigation of the cau se,
u nd er the th esis that the p rocess is a p u blic in stru m ent that shou ld seek the tru th.
It is not p ossible to d o ju stice w ithou t u nd erstand ing, w ith certainty, the factu al
fram ew ork brou ght to the consid eration of th e ju d icial bod y, in sofar as the ju stice
of the ju risd ictional p rovision is linked to the com m itm ent of th e p rocess w ith the
real tru th.
Além d a bu sca d a verd ad e real são p rincíp ios con stitu cionais inerentes
ao d ireito p robatório no p rocesso civil: d evid o processo legal, contrad itório, ampla
d efesa, p roibição d a p rova ilícita, p u blicid ad e e m otivação d as d ecisões ju d iciais.
A instru ção p robatória d esem p enha p ap el p rim ord ial na form ação d o
convencim ento d o ju lgad or, não p od end o ser entend id a com o d e p roveito exclu -
sivo d a p arte, cabend o ao ju lgad or, d irigente d o p rocesso e d estinatário d a p rova,
a aferição qu anto à relevância e à p ertinência d e su a p rod u ção, à vista d os fatos
controvertid os constantes d os au tos.
147 THEODORO JÚN IOR, Hu mberto. Cu rso d e Direito Processual Civil. v.1. 55. ed . Rio d e Janeiro:
Forense, 2014, p . 55.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
150 MARINONI, Luiz Gu ilherm e; ARENHART, Sérgio Cru z. Curso d e p rocesso civil: p rocesso d e
conhecim ento. v. 2. 8. ed . São Paulo: Revista d os Tribu nais, 2010, p. 254-255.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
152 HARTMAN N, Rod olfo Kronem berg. Cu rso Com p leto de Processo Civil. N iterói: Im p etus, 2014,
p . 311.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Por esse sistem a o juiz não ę ca vinculad o às p rovas prod uzid as, pod end o
p roferir su a d ecisão, até m esm o, com base em im p ressões p essoais e fatos d e qu e
tom ou conhecim ento extraju d icialm ente.154
153 GRECO FILHO, Vicente. Direito p rocessu al civil brasileiro. v.2. 22. ed . São Pau lo: Saraiva, 2013.
p . 243.
154 AMARAL SANTOS, Moacyr. Prim eiras linhas d e d ireito p rocessu al civil. v.2. 27. ed . São Pau lo:
Saraiva, 2011. p . 380.
155 PINHO, H um berto Dalla Bernad ina d e. Direito processu al civil contem p orâneo, v.1. 4. ed . São
Pau lo: Saraiva, 2012, p . 106
A ę gu ra d o ju iz p assivo, esp ectad or d istante, ind iferente à controvérsia
qu e lhe foi p osta, não m ais se ad equ a às exigências d o p rocesso m od erno. “O ju iz
d irigirá o p rocesso”, d iz o art. 125 d o Cód igo, o qu e em n ad a com p rom ete su a
ind ep end ência e im p arcialid ad e. Obviam ente qu e esse controle não é ilim itad o,
há qu e se su bm eter também às d em ais regras qu e tratam d os ônu s p rocessu ais.
N o entanto, esta concep ção está u ltrap assad a, e h oje não restam d ú vi-
d as d e qu e o ju iz n ão p od e ser u m m ero esp ectad or, p ois não é u m fantoche qu e
p ossa ser m anejad o e cond u zid o com o as p artes assim o d esejarem , p ois a ju stiça
d a p restação ju risd icional se vincu la ao com p rom isso d o p rocesso com a verd ad e
real, e som ente se chegará a essa m ed iante a instru ção p robatória.
Assim , o ord enam ento juríd ico brasileiro consagra a iniciativa p robatória
d o ju iz com o cond ição d a ju stiça no p rocesso.
Tem alcançad o p restígio cad a vez m aior, u m a vez qu e con ced e m ais
cred ibilid ad e ao Ju d iciário, orientand o o m agistrad o a tom ar u m a p osição d e
agente-colaborad or d o p rocesso, d e p articip ante ativo d o contrad itório e não m ais
a d e u m m ero ę scal d e regras.
156 CÂMARA, Alexan d re Freitas. Lições d e d ireito p rocessu al civil. Rio d e Jan eiro: Lu m en Ju ris,
1999, p . 51.
157 DIDIER JR. Fred ie. Cu rso de d ireito processu al civil. v.1. 16. ed . Rio d e Janeiro: Forense, 2014. p. 90
m esm o qu e o ju iz tenha anteriorm ente ind eferid o o requ erim ento d a p arte; não
ocorre p ara ele, p reclu são.158
Ante ao qu e foi m encionad o, conclu i-se qu e a fu nção d o ju iz, sem anu lar
a d os litigantes, é cad a vez m ais valorizad a p elo p rincíp io inqu isitivo, m orm ente
no cam p o d a investigação p robatória e na p ersecu ção d a verd ad e real p ara a
resolu ção d a d em and a.
158 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O N ovo p rocesso civil brasileiro. 21. ed . Rio d e Janeiro: Fo-
rense, 2001.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
AMARAL SAN TOS, Moacyr. Prim eiras Lin h as d e D ireito Processu al Civil. 27. ed . São
Pau lo: Saraiva, 2011.
AREN H ART, Sérgio Cru z. A verd ad e e p rova n o p rocesso civil. Disp onível em : hĴ p ://
w w w .abd p c.org.br/abd p
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. N ovo Processo Civil Brasileiro. 21. ed . Rio d e Janeiro:
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por Ga briela Gra sel BiĴ encourt 159
vem ocorrend o nesses qu atorze anos d e seções eleitorais esp eciais. É chegad o o
m om ento d a inclu são d o p reso cond enad o no p rocesso eleitoral, p ara qu e este
tenha voz e assim não tenha m ais seu s d ireitos ignorad os, só assim se alcançara
a ę nalid ad e p rim ord ial d a p ena, qu e é a ressocialização.
Universal su ě rage exercised by vote, is the way that the voter exp resses their
w ill by voting for cand id ates w ho best rep resents you . Althou gh by “u niversal
su ě rage” is m eant that all ind ivid u als involved in the choice of cand id ates and
p arties more in line w ith their id eals, there is a p ortion of the d eleted u niversal
su ě rage p op u lation p revented from selecting rep resentatives and have lead ers
w ho m ake im p rovem ent p rop osals d irected to it. This layer of the p op u lation
is m ad e u p of p risoners. Su ch exclu sion is su p p orted by item III of art. 15 of the
Fed eral Constitution, w hich requ ires that it be d one. Thus, convicted prisoners can
not exp ress their op inions in elections, can not choose cand id ates w ho rep resent
them, how obvious consequ ence, are forgoĴ en in overcrow d ed p risons in inhum an
cond itions. Elections occu r in prisons since 2010, as the p re-trial d etainees, becau se
the p rincip le of the p resu m p tion of innocence p rovid ed for in art. 5, LVII of the
Magna Carta. Calls to point ou t that no d iscred itable incid ent has occu rred in these
fou rteen years of sp ecial p olling stations. It is tim e to inclu d e the inm ate in the
electoral p rocess so that it has a voice and so no longer have their rights ignored ,
only then reached the primary p u rp ose of p u nishm ent, w hich is the resocialization
O p ov o exerce refer id o p od er p or
interm éd io d os Direitos Políticos, qu e estão
exp ressos no art. 14 d a Carta Magna. Trata-se
d e d ireito d estinad o a concretizar a soberania
p op u lar, qu e se su bd ivid e em qu atro instru -
m entos: p lebiscito, referend o, iniciativa p op u lar e d ireito d e su frágio.
Tod avia, no art. 15, III d a Constitu ição Fed eral, está p revisto, a su sp ensão
d os d ireitos p olíticos d aqu eles qu e têm cond enação crim inal transitad a em ju gad o
enqu anto d u rarem seu s efeitos. Diz-se qu e transitou em ju lgad o qu and o, contra
u m acórd ão/d ecisão, não é p ossível interp or recu rso, qu er p elo d ecu rso d o p razo,
qu e p or esgotad os tod os os recu rsos cabíveis.
Im p rescind ível se faz, exp lanar os obstácu los op eracion ais e bu rocráticos
p ara realização d e eleições nos p resíd ios e a im p ortância d a in clu são d o p reso
cond enad o no p rocesso eleitoral. Soa estranho, no tão aclam ad o Estad o Dem o-
crático d e Direito atu al, qu e u m nú m ero tão grand e d e p essoas seja exclu íd o d o
su frágio Un iversal. Destaca-se qu e na citad a p op u lação carcerária, existem os
p resos p rovisórios, qu e em bora p resos, aind a não tiveram su as sentenças cond e-
natórias transitad as em ju lgad o, gozand o assim d e Direitos Políticos, no entanto,
aind a p ara estes, qu e tem o d ireito ao voto assegu rad o p ela Constitu ição, o m esm o
vem send o garantid o tim id am ente, em algu ns estad os brasileiros ap enas, d esd e
as eleições d e 2000.
A Ju stiça Eleitoral foi criad a em com a institu ição d o Cód igo Eleitoral. To-
d avia, d u rante o Estad o N ovo, no governo Getú lio Vargas, su as ativid ad es foram
interrom p id as d e 1937 até 1945. Passad os algu ns anos d a d itad u ra d e Vargas, o
Cód igo Eleitoral foi sancionad o por H um berto d e Alencar Castello Branco, p rim ei-
ro p resid ente d o regim e m ilitar, u m ano ap ós o golp e d e estad o qu e su bm eteu o
País a u m a d itad u ra m ilitar, e su sp end eu a p revalência d o p rincip io d emocrático,
p rivand o o p ovo, p or d écad as, d o d ireito d e votar d iretam ente p ara os cargos
m ais relevantes d a estru tu ra p olítica d o p aís – p resid ente e vice-p resid ente eram
eleitos ind iretam ente.
161 Art. 2º Tod o p od er em ana d o p ovo e será exercid o em seu nom e, por m and atários escolhid os,
d ireta e secretam ente, d entre cand id atos indicad os p or p artid os políticos nacionais, ressalvada a
eleição indireta nos casos previstos na Constitu ição e leis esp ecíę cas.
162 CON SELH O FEDERAL, Ord em dos ad vogad os d o Brasil. OAB p resente em sessão d e 70 anos
d e reinstalação da Ju stiça Eleitoral. OAB, 2015.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
O cód igo eleitoral d e 1965 em seu art. 5º, cita os qu e não p od em se alistar
com o eleitores, entre eles os analfabetos e os qu e não sabem se exp rim ir em língu a
nacional.163
O in ciso II, d o referid o d ip lom a, tam bém é visto com reservas, d iante d os
ind ígenas, qu e p or isolam ento ou op ção, não tem conhecim ento d a língu a p ortu -
gu esa, u m a vez qu e o art. 231 d a Constitu ição Fed eral afasta p ara os ind ígenas, a
su bm issão a língu a p ortu gu esa.164
III - con den ação crim in al tran sitad a em ju lgad o, enq u an to d u rarem
seu s efeitos;
163 O inciso I d o art. 5 d o Cód igo eleitoral foi revogad o pelo art.14, § 1º, II, “a”, d a Constitu ição/88.
164 Art. 231. São reconhecidos aos índ ios su a organização social, costu m es, língu as, crenças e tradições,
e os d ireitos originários sobre as terras que trad icionalm ente ocu p am , com p etind o à União d em arcá-
las, p roteger e fazer resp eitar tod os os seus bens.
É notória a evolu ção d os d ireitos p olíticos brasileiro, fazend o u m a breve
retrosp ectiva algu ns p ontos m erecem d estaqu e:
- A Constitu ição d e 1824: era necessário com p rovar rend im entos anu ais d e-
terminad os, send o que quem auferisse rend a m enor não pod ia particip ar d o p leito;
- Cód igo Eleitoral p rovisório d e 1932: inclu são d o d ireito d o voto d a m u lher;
Para festejar essa evolu ção, em 07 d e m aio d e 2015, foi sancionad a a Lei nº
13.120, qu e institu iu o d ia 26 d e ju nho com o o d ia N acional d a Consciência d o 1º
voto, o objetivo é qu e nesta d ata sejam realizad as ativid ad es e cam p anhas d e es-
clarecim ento sobre a im p ortância d a p articipação no p rocesso eleitoral brasileiro e
d o voto consciente. A d ata escolhid a, é referente à Passeata d os Cem Mil, ocorrid a
no d ia 26 d e ju nho d e 1968 no centro d o Rio d e Janeiro, qu e foi a m anifestação
p op u lar con tra a d itad u ra m ilitar e em d efesa d a d em ocracia.
O d ireito d e su frágio d eve ser visto sob d ois asp ectos: cap acid ad e eleitoral
ativa e cap acid ad e eleitoral passiva. A capacid ad e eleitoral ativa consiste no d ireito
d e votar, alistar-se eleitor. Por su a vez, a cap acid ad e eleitoral p assiva rep resenta o
d ireito d e ser votad o, ou seja, o d ireito d e eleger-se p ara u m cargo p ú blico.
O cód igo eleitoral Brasileiro d e 1965 d ispõe no art. 82: O sufrágio é universal
e diret o; o voto, obriga t ório e secret o.
extensão d o su frágio, ou seja, o d ireito d e voto, a tod os os ind ivíd u os consid erad os
intelectu alm ente ao exercício d esse d ireito essencial.
- O voto é ob rigatório: trad ição iniciad a com o Cód igo eleitoral d e 1932,
e p revista exp ressam ente no art. 14 d a Constitu ição Fed eral. Aind a qu e exp resse
u m d ireito p ú blico, o voto é u m d ever cívico, assim tod o brasileiro m aior d e d e-
zoito anos d eve se alistar e p artir d e então votar, ou ju stię car seu voto, em tod as
as eleições. O não com p arecim ento d o eleitor à seção eleitoral a qu e p ertence,
no d ia d as eleições, d eve ser ju stię cad o no m esm o d ia, em qu alqu er ou tra seção
d o p aís, ou em até 60 (sessenta) d ias, sob p ena d e sanção e m u lta. O eleitor qu e
estiver no exterior no d ia d a eleição, d everá ju stię car-se no p razo d e 30 d ias, con-
tad os a p artir d o retorno ao p aís. O eleitor qu e se abstiver d e votar p or três vezes
consecu tivas, nem ju stię car su a au sência, nem recolher a m u lta im p osta, terá su a
inscrição eleitoral cancelad a e, em consequ ência, p erd erá a cond ição d e cid ad ão.
165 Não haviam aind a u rnas eletrônicos qu and o foi feita a red ação d o Art. 103, observa-se qu e seu s
incisos fazem referência às céd u las d e p apel: O sigilo do voto é assegu rad o med iante as segu intes
p rovid ências: o uso d e céd ulas oę ciais em tod as as eleições, d e acord o com m od elo ap rovad o p elo
Tribu nal Su p erior; isolam ento d o eleitor em cabine ind evassável p ara o só efeito d e assinalar na
céd u la o cand id ato d e su a escolha e, em segu id a, fechá-la;verię cação d a au tenticid ad e d a céd u la
oę cial à vista d as ru bricas;em prego d e u rna que assegure a inviolabilid ad e do sufrágio e seja
suę cientem ente am p la p ara qu e não se acu m ulem as cédu las na ord em qu e forem introd uzid as.
O art. 14 d a Carta Magna trata sobre o tem a tam bém , e d isp õe qu e
o voto é d ireto e secreto, com o m esm o valor p ara tod os.166
Acrescentand o m ais u m a característica, o valor igu al para tod os
d o voto, o qu e signię ca qu e ind ep end e a cond ição ę nanceira, cor, raça,
sexo ou crença religiosa d o eleitor, o voto d e cad a u m tem o m esm o valor.
Para a m aterialização d o id eal d em ocrático, d o exercício d o d ireito
d o voto, conforme o art. 117 Cód igo Eleitoral, as seções eleitorais d evem ser
organizad as à m ed id a qu e forem send o d eferid os os p ed id os d e inscrição,
e via d e regra não terão m ais d e qu atrocentos eleitores nas cap itais, e d e
trezentos nas ou tras cid ad es, nem m enos d e cinquenta eleitores. Porém
p ara facilitar o exercício d o voto esses núm eros p od em ser alterad os.167
A lim itação d o núm ero d e eleitores p or seção ter p or ę nalid ad e
a facilitação d a execu ção d as eleições, no entanto é com um o Tribu nal
Regional Eleitoral au toriza a presença d e eleitores, em nú m ero m aior d o
qu e o in d icad o. Ou tro asp ecto, é qu e o eleitor d eve ser m antid o p róxim o
d e sua resid ência, p ara sim p lię car o encam inham ento ao local d e votação,
inclu ind o, id osos e d eę cientes que tem d ię cu ld ad e na locom oção.
Um a característica im p ortante na ap licação d o Direito Eleitoral é
a exped ição d as cham ad as Resolu ções p elo Tribu nal Sup erior Eleitoral.
Essas resolu ções são atos que d iscip linam d eterm inad os asp ectos d as leis
e têm ap licabilid ad e obrigatória, ou seja, têm força d e lei. A cad a eleição o
TSE ed ita novas resoluções o qu e valia na eleição anterior p od e ser m od i-
ę cad o, por exem p lo, a Resolu ção 23.219/2010 p revia u m núm ero m ínim o
d e vinte p resos aptos a votar para instalação d e seção eleitoral esp ecial, já
a Resolu ção 23.399/2014 previa u m nú mero m ínimo d e cinquenta p resos
ap tos p ara votar.
O cód igo eleitoral p receitu a qu e é im p rescind ível que as seções se-
jam instalad as nos locais em que estejam concentrad os os eleitores, e no art.
166 Art. 14. A soberania pop ular será exercid a p elo su frágio u niversal e p elo voto d ireto e secreto, com
valor igual para tod os, e, nos termos da lei, m ed iante:
167 O art. 117 d o Cód igo Eleitoral: § 1º Em casos excep cionais, d evid am ente ju stię cad os, o Tribunal
Regional p od erá autorizar qu e sejam ultrap assad os os índ ices previstos neste artigo d esd e qu e
essa p rovid ência venha facilitar o exercício d o voto, ap roxim and o o eleitor d o local d esignad o
p ara a votação. § 2º Se em seção d estinad a aos cegos, o nú m ero de eleitores não alcançar o mínim o
exigid o este se com pletará com ou tros, aind a qu e não sejam cegos.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Estabelecim ento d e internação coletiva são os locais em que, norm alm ente
d e caráter com p u lsório, o qu e p od e d ecorrer d e circu nstâncias fáticas (cegos qu e
não p ossam fam iliares ou m eios d e su bsistência ou d e exigência legal (p resos), cer-
tas p essoas d evem p erm anecer, term inand o p or serem privad os d o convívio social.
H á aind a os eleitores no exterior, o Cód igo Eleitoral tratou d eles tam bém,
em seu art. 226, e p revê com o cond ição d e criação d e m esas d e votação no exterior
u m nú m ero m ínim o d e 30 (trinta) eleitores. A Resolu ção TSE nº 23.207/10 regu la-
m entou qu e s rep artições consu lares ou m issões d ip lom áticas d evem com u nicar
aos eleitores votantes no exterior o horário e o local d a votação, atend end o a
sim u ltaneid ad e e p ecu liarid ad es regionais.
Para tornar as eleições n acion ais, estad u ais e m u nicip ais p ossíveis, o
Tribu nal Su p erior Eleitoral fornece ao Tribu nal Regional Eleitoral verbas, com o
tam bém os bens e equ ip am entos necessários. N os term os d o art. 369 d o Cód igo
Eleitoral, inclu ind o tod o o m aterial d estinad o ao alistam ento eleitoral.
168 “Art. 136. Deverão ser instalad as seções nas vilas e povoad os, assim com o n os estab elecim en tos
d e in tern ação coletiva, inclusive para cegos e nos leprosários ond e haja, p elo m enos, 50 (cin-
qu enta) eleitores.”
169 Art. 297. Impedir ou embaraçar o exercício d o sufrágio: Pena - Detenção até seis meses e pagamento
d e 60 a 100 d ias-m u lta.
H á algu m as classes d a p op u lação são p rivad as d e exercer os d ireitos
p olíticos, seja d e form a d eę nitiva (p erd a) ou d e form a tem p orária (su sp ensão), e
estão exp ressas nos art. 15 d a Constitu ição Fed eral.
(...)
III - cond enação crim inal transitad a em ju lgad o, enqu anto d u rarem
seu s efeitos;
Cond enação crim inal transitad a em ju lgad o signię ca qu e não cabe m ais
recu rso contra a d ecisão ju d icial, p orqu e as p artes não ap resentaram o recu rso no
p razo em qu e a lei estabeleceu , ou p orqu e a hip ótese ju ríd ica não ad m ite m ais
interp osição d o p ed id o d e reexam e d a m atéria. O trânsito em ju lgad o d eve ser
certię cad o nos au tos d o p rocesso, então d iz-se qu e a d ecisão ju d icial é d eę nitiva,
e irretratável.
170 A su sp en são d os d ireitos p olíticos é consequ ên cia irretorqu ível d o trânsito em ju lgad o d e
condenação crim inal. A espécie d o d elito ou a natureza d a p ena são irrelevantes p ara a incid ência
d a restrição. (TRE/RS – MS 103-62.2013.6.21.0000 – Rel. MARCO AURÉLIO HEIN Z – DJE d e
12/09/2013)
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
A Constitu ição p receitu a no art. 5º, XLIX: “é assegu rad o aos p resos o res-
p eito à integrid ad e física e m oral;”. Com red ação sem elhante o art. 40 d a Lei d e
Execu ções Penais tam bém assegu ra: “Im p õe-se a tod as as au torid ad es o resp eito
à integrid ad e física e m oral d os cond enad os e d os p resos p rovisórios.”
Insta citar Michel Fou cau lt, qu e em ao falar sobre as m u d anças d e atitu d e
ao longo d o tem p o d as institu ições e d a socied ad e na p rática d e p u nir, aę rm ou
qu e “Se a ju stiça aind a tiver qu e m anip u lar e tocar o corp o d os ju stiçáveis, tal se
fará a d istância, p rop riam ente, segu ind o regras rígid as e visand o u m objetivo
bem m ais “elevad o””.
Com seu s d ireitos su p rim id os, sem voz p ara d ialogar com Pod er Pú blico,
o cond enad o vai alim entand o d entro d e si raiva contra a socied ad e qu e o inĚigiu
tanto sofrim ento, e já não acha, se algu m d ia chegou a achar, qu e a cond u ta p ra-
ticad a qu e o levou ao encarceram ento seja rep rovável.
Sem d ú vid as, m elhor seria, se pu d essem ser ouvid os nas u rnas d e votação,
e não m ais p or cartazes p end u rad os em telhad os d e p resíd ios em frente a corp os
m u tilad os.
O Cód igo Eleitoral, ap rovad o nos tem p os som brios d a Ditad u ra Militar,
já estabelecia ser d ever d o Estad o instalar “seções nos estabelecim entos d e inter-
nação coletiva, ond e haja, p elo m enos, 50 eleitores”. Contu d o, ap enas a p artir d e
2000 qu e seções eleitorais com eçaram a ser instalad as tim id am ente nos p resíd ios
d e algu m as cid ad es brasileiras.
Alu sivo ao quad ro d e m esários convocad os para com p or as m esas recep to-
ras nas seções eleitorais esp eciais, a Resolu ção nº 23.219/2010 também se manifestou
e em seu art. 4º e elu cid ou qu e os m em bros d as m esas recep toras serão nom ead os
p elo Ju iz Eleitoral, p referencialm ente, d entre servid ores d os Dep artam entos Peni-
tenciários d os Estad os e d o Distrito Fed eral, d as Secretarias d e Ju stiça, Cid ad ania
e Direitos H u m anos, d e Defesa Social, d e Assistência Social, d o Ministério Pú blico
Fed eral, Estad u al e d o Distrito Fed eral, d as Defensorias Pú blicas d os Estad os, d o
Distrito Fed eral e d a União, d a Ord em d os ad vogad os d o Brasil ou d entre ou tros
cid ad ãos ind icad os p elos órgãos citad os, qu e enviarão listagem ao Ju ízo Eleitoral
d o local d e votação.
Em relação ao alistam ento eleitoral, m u itos p resid iários não p ossu em ne-
nhu m d ocu m ento, e ap enas ap ós essa regu larização se faz p ossível o alistam ento.
Qu anto aos qu e já p ossu em inscrições eleitorais, estas serão transferid as às seções
esp eciais e ap ós o p leito d everão ser au tom aticam ente revertid as às seções d e ori-
gem , com o p revê o art. 17 d a Resolu ção nº 23.219 d o TSE. N o caso, d os d etentos
qu e ę zerem a transferência d o títu lo p ara as seções p enitenciarias e ganharem
d ireito à liberd ad e antes d o d ia d a eleição, eles p od em retornar ao presíd io e votar,
este retorno vem acontecend o d esd e as eleições d e 2010, conform e a Procu rad oria
Regional Eleitoral d o Rio Grand e d o Su l.
Qu ase trinta anos já se p assaram d esd e a red ação d o in ciso III d o art. 15
d a Constitu ição Fed eral, qu e não encontra m ais esp aço nos d ias atu ais e d eve ser
revogad o. A ú nica form a d a m anu tenção d o referid o inciso, é a interp retação d e
form a restritiva, p or se tratar d e su sp ensão d e u m d ireito fu nd am ental. Assim , ao
falar d a su sp ensão d os d ireitos p olíticos p or cond enação transitad o em ju lgad o,
seja ap enas d os d ireitos p olíticos p assivos su sp ensos, e m antid os os d ireitos p o-
líticos ativos, send o regu lam entad o qu ais cond u tas p revistas na legislação p enal
su sp end eriam am bas as m od alid ad es d os d ireitos p olíticos d a p essoa cond enad a.
É u tóp ico falar em ressocialização, enqu anto m antêm -se p essoas em con-
d ições d esu m anas sob a tu tela Estatal em p resíd ios su p erlotad os.
Os p resid iários clam am p or m elhorias, e são rid icu larizad os p ela m íd ia,
ignorad os p elo Estad o e p ela socied ad e. As rebeliões são a ú nica form a qu e os
ap enad os têm d e serem ou vid os, d e qu e o Brasil com o u m tod o lem bre qu e eles
estão ali, qu e eles são seres hu m anos. Sim , os p resos são seres hu m anos, p recisam
d e méd icos, águ a, luz, cond ições de higiene, alim entos e não querem seus fam iliares
send o d estratad os em d ias d e visitação.
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sid io-central-p rep ara-p ara-eleicao/96519/>. Acessad o em 23 d e m aio d e 2015.
por Alexa ndra Ba rbosa de Godoy Corrêa 171
171 Dou torand a e mestre em Direito pela Universid ad e Estácio d e Sá. Professora d e Prop ried ad e
Intelectu al na Facu ld ad e Presbiteriana Mackenzie Rio e na Pós-Grad uação em Gestão Em presarial
d a Un iversid ad e d o Estad o d o Rio de Janeiro. Bolsista CAPES. Ad vogad a e farmacêu tica
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
172 STRECK, Lenio Lu iz. Jurisdição Constitucional e Decisão Jurídica, 3ªed . São Paulo: Revista d os
Tribu nais, 2013, p .43
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Dw orkin entend e qu e am bas as visões estão equ ivocad as, p ois este d ebate
negligencia u m a d istinção im p ortante entre d ois tip os d e argu m entos p olíticos
d os qu ais os ju ízes p od em se u tilizar ao tom ar su as d ecisões. É a d istinção entre
argu m entos d e p rincíp io p olítico, qu e recorrem aos d ireitos p olíticos d e cid a-
d ãos ind ivid u ais, e argu m entos d e p roced im ento p olítico, qu e exigem qu e u m a
d ecisão p articu lar p rom ova algu m a concep ção d o bem -estar geral. Segu nd o ele
a visão correta é a d e qu e os ju ízes d evem basear os seu s ju lgam entos d e casos
controvertid os em argu m entos d e p rincíp ios p olíticos, m as não em argu m entos
d e p roced im ento p olítico.175
173 DWORKIN , Ronald. Uma Questão de Princípio. Trad ução Luís Carlos Borges. São Paulo: Ed itora
Martins Fontes, 2005, p.3
174 Idem, p.4
175 Idem, p.6
cep ção d enom inad a d e “centrad a nos d ireitos”, p ressu p õe qu e os cid ad ãos têm
d ireitos e d everes m orais entre si e d ireitos p olíticos p erante o Estad o com o u m
tod o, sem d eixar d e reconhecer o texto legal com o fonte d e d ireitos, m as nega o
texto legal com o fonte exclu siva d e d ireitos.
A concep ção centrad a nos d ireitos é m ais com p lexa qu e a concep ção cen-
trad a no texto legal, p or bu scar com o resp ostas aos qu estionam entos p olíticos, a
m oral – o qu e não signię ca qu e o d ireito seja tom ad o p or m oralism os p essoais -
sem d eixar d e reconhecer o texto legal com o fonte d e d ireitos. Segu nd o Dw orkin
a concep ção centrad a nos d ireitos insistirá em qu e p elo m enos u m tip o d e qu estão
p olítica consiste ju stam ente nas qu estões qu e ju ízes confron tad os com casos con-
troversos d evem p ergu ntar. A qu estão ę nal é a d e d eterm inar se o qu eixoso tem o
d ireito m oral d e receber no tribu nal aqu ilo qu e exige. O texto ju ríd ico é relevante
p ara essa qu estão ę nal.176
A concep ção centrad a no texto ju ríd ico p arece ser necessária a u m a so-
cied ad e ju sta, p orém isso não qu er d izer qu e a aqu iescência às leis seja su ę ciente
p ara a ju stiça, p ois su as regras p od em ser inju stas.177 Por ou tro lad o, a concep ção
centrad a nos d ireitos é, qu ase qu e certam ente, u m a socied ad e ju sta, u m a vez qu e
os cid ad ãos não p recisam exigir a im p osição d os seu s d ireitos com o ind ivíd u os,
já qu e os fu ncionários, sábios e ju stos, p rotegerão tais d ireitos p or su a p róp ria
iniciativa, em bora p ossa ser m al ad m inistrad a ou carecer d e ou tras qu alid ad es d e
u m a socied ad e d esejável, com o, p or exem p lo, d o d evid o p rocesso legal.
As d u as concep ções aind a d iferem com relação à neu tralid ad e ę losóę ca.
A concep ção centrad a nos d ireitos su p õe qu e os cid ad ãos têm d ireitos m orais, ou
seja, ou tros d ireitos não d eclarad os p elo d ireito p ositivo. Este entend im ento é con-
trovertid o e, p ortanto, criticad o com relação à quais d ireitos m orais as p essoas têm .
A in terp retação d e u m texto ju ríd ico jam ais será aleatória. Trata-se d e
com p reend er qu e lid am os com sin taxe e qu e não p od em os isolá-la d a sem ântica,
tam p ou co entend er a p ragmática com o “reserva técnico-herm enêu tica” p ara re-
solver insu ę ciências lógico-sem ânticas. Cabe d estacar, qu e Dw orkin, ao com binar
p rincíp ios ju ríd icos com objetivos p olíticos, coloca à d isp osição d os ju ristas/intér-
p retes u m m anancial d e p ossibilid ad es p ara a con stru ção d e resp ostas coerentes
Por qu e é errad o ju ízes tom arem d ecisões p olíticas segu nd o a concep ção
centrad a nos d ireitos? O argu m ento, basead o na d em ocracia, é o d e qu e a d ecisão
d e u m legislativo eleito p ela m aioria d o p ú blico é, em ú ltima análise, a m elhor
m aneira d e d ecid ir qu estões sobre d ireitos qu e têm os cid ad ãos ind ivid u ais. A
legislação p od e ser u m p rocesso m ais p reciso qu e ou tros p ara d ecid ir o qu e são
os d ireitos, além d isso, em algu ns casos, o p ú blico qu e elege legislad ores irá, com
efeito, p articip ar d a d iscu ssão sobre se algu ém tem ou não d ireito a algo. É im -
p rovável qu e o legislativo tom e d ecisões qu e ofend am a ord em p ú blica. Se isso
acontecer, o governo cairá, send o su bstitu íd a a legislatu ra p or ou tra. Mas se os
ju ízes tom arem u m a d ecisão u ltrajante, o p úblico não p od erá su bstitu í-lo e acabará
p erd end o o resp eito não só p or eles, m as p elas institu ições e p rocessos d o p róp rio
181 DWORKIN , Ronald . O Império dos Direitos. Trad ução: Jeě erson Lu iz Camargo. São Pau lo: Ed itora
Martins Fontes, 2003, p ,264
182 DWORKIN, Ronald. Op Cit (2005), p.16
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Direito, e a com u nid ad e, com o consequ ência, será m enos estável e coesa. Esse
argu m ento insiste qu e os ju ízes não d evem fazer ju lgam entos p olíticos p ois isto
levará à d im inuição d o resp eito à lei.183 Dw orkin d iscord a e refuta tal entend im ento.
183 Idem, p. 17 a 28
184 Idem, p.30 a 32
185 Idem, p.101 a 113
evitad a a d iscricionaried ad e e resp eitad a a coerência e a integrid ad e d o d ireito,
a p artir d e u m a d etalhad a fu nd am entação. A resp osta ad equ ad a à Constitu ição
d eve ser d e p rincíp ios e não d e p olítica, isto é, não se p od e criar u m grau zero d e
sentid o a p artir d e argu m entos d e p olítica, qu e ju stię cariam atitu d es m eram ente
basead as em estratégias econôm icas, sociais e m orais.186
186 STRECK, Lenio. Verdade e Consenso. 5ªed . São Paulo: Ed itora Saraiva, 2014, p .624
187 DWORKIN, Ronald . Op Cit (2003), p. 305
188 Existem d u as concep ções clássicas: Interpretativism e Noninterpretativism. Segu nd o Dworkin as
teorias geralm ente classię cad as com o não interp retativas, as qu e nos parecem mais ativistas ou
liberad as d o texto efetivo d a Constitu ição, não d esconsid eram nem o texto d a Constituição nem
os m otivos d os qu e a ę zeram ; antes procuram colocá-los no contexto ad equ ad o. Os Teóricos
não interp retativistas aę rm am qu e o com p rom isso d e nossa com u nid ad e ju ríd ica com esse
d ocu m ento p articu lar, com esses d ispositivos estabelecid os p or pessoas com esses m otivos,
p ressup õe u m com p romisso p révio com certos p rincíp ios d e ju stiça p olítica qu e, se d evem os agir
com resp onsabilid ad e, d evem, p or consegu inte, ser reĚetid os pela m aneira com o a Constituição
é lid a e ap licad a. DWORKIN, Ronald . op cit (2005), p. 45
189 OLIVEIRA, Fábio Corrêa d e Souza. Morte e Vida da Constituição Dirigente. Rio d e Janeiro: Ed itora
Lu m en Ju ris, 2010, p .130
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
190 OLIVEIRA, Rafael Tom az. Judicialização não é Sinônimo de Ativismo Judicial. 1º d e d ezem bro d e
2010. Disp onível em : <hĴ p //w ww .conjur.com .br> Acesso em : 09/09/2013
191 STRECK, Lenio Lu iz. Seminário Internacional Direitos Fundamentais no Estado Socioambiental, 16 d e
setem bro d e 2013. Disponível em : <hĴ p //am p -rs.jusbrasil.com .br/notícias> Acesso em 16/09/2013
192 EISENBERG, José apud VALLE, Vanice Regina Lírio d o. Ativismo Jurisdicional e o Supremo Tribunal
Federal. Curitiba: Ju ruá Ed itora, 2009, p .33
Segu nd o Vanice Lirio d o Valle, a ju d icialização d a p olítica a p artir d a
constitu ição d e 1988 se m anifesta com o u m fenôm eno caracterizad o p ela p resen-
ça exp an siva d os d ireitos fu nd am entais, su as garantias e as institu ições p ostas a
seu serviço. É com p reensível o entu siasm o com qu e a cid ad ania tenha se lançad o
na p ersecu ção ju risd icional d os d ireitos assegu rad os p elo N ovo Texto Fu nd ante,
su p ostam ente não garantid os no tod o ou em p arte, no entanto, p or ou tro lad o,
p revisíveis são os riscos d e um a tend ência a u m ativism o d e p arte d e u m Ju d iciário
qu e, ap ontad o com o garantid or d esses m esm os d ireitos, vê-se tentand o am p liar
o seu esp aço d e atu ação, em nom e d o valor m aior d e p roteção à d ignid ad e d a
p essoa.193
193 VALLE, Vanice Regina Lírio d o. Políticas Públicas, Direitos Fundamentais e Controle Judicial. Belo
Horizonte: Ed itora Fóru m , 2009, p .97
194 BARROSO, Lu ís Roberto. Jud icialização, Ativism o Jud icial e Legitim id ad e Dem ocrática. Revista
Eletrônica de Direito do Estado. Bahia, nº18, abr/m ai/jun 2009, p .5. Disp onível em: hĴ p://w w w.
d ireitod oestad o.com .br/artigo/lu is-roberto-barroso Acesso em : 13/08/2014
195 VIAN NA, L.J.W; BURGOS, Marcelo Bau m ann; MELO, Manu el Palacios Cu nha; CARVALH O,
Maria Alice Resend e d e. A Judicialização da Política e das Relações Sociais no Brasil. Rio d e Janeiro:
Revan,1999, p .53
196 OLIVEIRA, Rafael Tomaz. op cit
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Já o ativism o p ossu i u m a raiz comp letam ente d iversa. Este sim, liga-se a
u m d esejo d o órgão ju d icante com relação à p ossibilid ad e d e alteração d os con-
textos p olítico-sociais. Pod e ser conservad or ou p rogressista. N o ę nal, o resu ltad o
é o m esm o: o ju d iciário agind o p or m otivos d e convicção e crença p essoal d o
m agistrad o, e não em face d a m oralid ad e institu id ora d a com u nid ad e p olítica.197
A exp ansão d o ativismo am p lia o esp aço p ú blico d e d ebate sobre qu estões
m orais e p olíticas na socied ad e, qu e ganha u m a nova arena, o Pod er Ju d iciário,
o qu al assu m e p ap el p rotagonista na concretização d os d ireitos fu nd am entais
p revistos na Constitu ição.199
197 Ibidem
198 BARROSO, Luís Roberto. op cit, p .5
199 BARBOZA, Estefânia Maria d e Qu eiroz; KOZICKI, Katya apud OLIVEIRA, H eletícia Leão.
ReĚexões sobre a Ju d icialização d o Direito Fu nd am ental à Saú d e a p artir d o Ativism o Ju d icial.
Revista Juris Poiesis, ano 16, nº16, 2013, v .p .429, p .407
200 STRECK, Lenio Lu iz. Op cit (sem inário 2013)
d e pod eres (qu e se m ovim entam d o Legislativo p ara o Jud iciário), sonegand o u m a
série d e tem as controversos d o d ebate p ú blico.201
201 STRECK, Lenio Lu iz. Jurisdição Constitucional e Decisão Jurídica. 3ª ed . São Paulo: Revista d os
Tribu nais, 2013, p .47
202 Idem, p .121
203 Idem, p .122
204 STRECK, Lenio Luiz. Op cit (sem inário 2013)
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Se for feita u m a análise d o p roblem a, ou seja, d entro d e qu ais lim ites d eve
ocorrer a d ecisão ju d icial, ę cará evid ente qu e as teorias qu e ap ostam na von tad e
d o intérp rete acabam p ossibilitand o d iscricionaried ad es e arbitraried ad es. Em
regim es e sistem as ju ríd icos d em ocráticos, não há esp aço p ara qu e “a convicção
p essoal d o ju iz” seja o critério p ara resolver as ind eterm inações d a lei, enę m , os
casos consid erad os d ifíceis.205
Segu nd o Streck,
N a esp ecię cid ad e d o d ireito brasileiro, a grand e conqu ista foi a consti-
tu ição, sem d ú vid a a m ais d em ocrática d o m u nd o. Esse é o vetor qu e d eve con-
form ar a ativid ad e d o ju rista.207 Vivem os em u m Estad o Constitu cional no qu al
a lei contin u a ocu p and o u m lu gar relevante enqu anto exp ressão d o p rincíp io
d em ocrático, e a qu estão qu e se coloca é a d e saber se essa atu ação d os tribu nais
p od e ser consid erad a constitu cionalm ente legítim a.
205 STRECK, Lenio Lu iz. O Que é Isto - Decido Conforme Minha Consciência? 4ªed . Porto Alegre: Livraria
d o Ad vogad o, 2013, p .50 e 58
206 Idem, p.117
207 Idem, p.114
A p reocu p ação d e Dw orkin está voltad a p ara os casos d ifíceis, im bu íd os
d e graves controvérsias, em qu e concorrem várias norm as qu e levam a ju lgad os
d istintos ou contrad itórios, bem com o qu and o não há norm a ap licável, e é nestes
casos qu e os p rincíp ios aę gu ram ter u m a im p ortância d estacad a.
Para este au tor o gênero norm a ju ríd ica se d ivid e em d u as esp écies: regras
e p rincíp ios. Em termos su cintos, segu nd o a su a lição am p lam ente acolhid a, as
regras estão no p lano d a valid ad e, o qu e signię ca qu e, qu and o há conĚito entre
d u as (ou m ais) regras, som ente u m a irá reger, com p letam en te, a situ ação, com a
exclu são d a (s) restante (s); ao invés, os p rincíp ios ostentam u ma d im ensão d es-
conhecid a d as regras, não exigem regu lação integral ou exclu d ente, ou seja, d ois
ou m ais p rincíp ios p od em , sim u ltaneam ente, regu lar a m esm a qu estão, já qu e
a colisão entre p rincíp ios é resolvid a p ela p ond eração, a qu al d eterm ina o p eso
relativo d e cad a u m em fu nção d a concretu d e d o caso.208
Dw orkin ap resenta, então, a tão d ebatid a tese d a ú nica resp osta certa, ou
seja, não existe resp osta certa p ara cad a hip ótese, m as, sim , u m a ú nica resp osta
208 DWORKIN , Ronald . Levando os Direitos à Sério. Trad u ção: N elson Boeira. São Pau lo: Ed itora
Martins Fontes, 2002, p .42 a 44
209 OLIVEIRA, Fábio Corrêa.Sou za d e. Op cit, p .123
210 Idem, p . 131
211 Idem, p .121
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
correta para cad a p roblem a, não existind o possibilid ad e de escolhas entre respostas
certas. Isto qu er d izer qu e não existe d iscricionaried ad e. O ju iz é o encarregad o
d e p rocu rar e d eclarar esta resp osta, é o qu e ele d enom ina d e ju iz H ércu les212,
qu e é u m tip o id eal e m etafórico criad o p or Dw orkin p ara d em onstrar a tese d a
resp osta certa.
O Direito e a Moral fornecem ap enas u m a solu ção p ara cad a situ ação,
m as se não existir nenhu m a resp osta certa, em u m caso controverso, isso d eve
acontecer em virtu d e d e algu m tip o m ais p roblem ático d e ind eterm inação ou
incom ensu rabilid ad e na teoria m oral.213
A resp osta correta será a constitu cionalm ente ad equ ad a, segu nd o Streck.
Um a norm a qu e é sem p re o p rod u to d a interp retação d e u m texto som ente será
válid a se estiver d e acord o com a Constitu ição. O intérp rete d eve, antes d e tu d o,
com p atibilizar a norm a com a Constitu ição, conferind o-lhe a totalid ad e eę cacial,
através d a u tilização d os d iversos recu rsos herm enêu ticos qu e a trad ição nos
legou (interp retação conform e, nu lid ad e p arcial sem red u ção d e texto, ap elo ao
legislad or ).
N as p alavras d e Streck,
Tod o ato interp retativo é ato d e ju risd ição con stitu cional. Mesm o
qu and o o p roblem a p arece estar resolvid o m ed iante ap licação d a
regra, d eve, o intérp rete verię car se o p rincíp io qu e su bjaz à regra
não ap onta em ou tra d ireção.214
Para H aberm as a resp osta correta se d á n a ad equ ação d o d iscu rso p re-
viam ente fu nd am entad o com a situ ação concreta, isto p orqu e, em H aberm as,
ocorre u m d eslocam ento d a fu nd am entação, ou seja, não se trata d e fu nd am entar
cad a norm a concreta, m as, sim , as bases d o sistem a ju ríd ico, qu e p ara ele, ocorre
em u m ato p révio, a p artir d e u m a série d e requ isitos; u m a norm a a ser ap licad a
d eve ter su a valid ad e fu nd am entad a e, p ortanto, d eve estar ap ta a m ostrar a su a
aceitabilid ad e.215
212 O Ju iz H ércu les é u m ju rista d otad o d e habilid ad e, erud ição, paciência e p erspicácia sobre-
hu m anas.
213 DWORKIN , Ronald. Op cit (2005), p .213 a 215
214 STRECK, Lenio LUIZ. Crítica Hermenêutica do Direito. 2ª ed . Porto Alegre: Livraria do Ad vogad o,
2016, p .91
215 HABERMAS, Ju rgen. Direito e Democracia: entre facticidade e validade, Volum e I, 2ª ed ição. Tradu ção
d e Flávio Beno Siebeneichler. Rio d e Janeiro: Editora Tem po Brasileiro, 2003, p .272
Em síntese, a tese fu nd am entad a na h erm enêu tica, p orqu e lastread a na
incind ibilid ad e entre texto e norm a e entre fund am entação e ap licação, ad m ite qu e
se encontre sem p re a resp osta: nem ú nica nem entre várias p ossíveis. Trata-se d e
aę rm ar qu e a resp osta correta trad u z u m a resp osta verd ad eira.216
Seja com o for, qu anto m ais d em ocrático o p rocesso, m aiores são as chan-
ces d e u m a boa/ju sta d ecisão. N ão teria sentid o, nesta qu ad ra d a história em qu e
alcançam os u m elevad o p atam ar d e d iscu ssão d em ocrática d o d ireito, viéssem os
a d ep en d er d a d iscricionaried ad e d os ju ízes na d iscu ssão d os d enom inad os hard
cases, p ois signię caria su bstitu ir a d em ocracia p ela vontad e d os ju ízes.
Lenio Streck faz u m a crítica às sú m u las, segu nd o ele “As sú m u las são
u m a esp écie d e ad iantam ento d e sentid o ou u m a cau telar h erm enêu tica com
efeito satisfativo. Elas são ap licad as ind ep end entem ente d as p ecu liarid ad es d o
caso concreto”.223
218 SARLET. Ingo. A Eęcácia dos Direitos Fundamentais: Uma Teoria Geral dos Direitos Fundamentais na
Perspectiva Constitucional. 11ª ed . Porto Alegre: livraria d o Ad vogad o, 2012, p .195
219 GUISE, Mônica Steě en. Comércio Internacional, Patentes e Saúde Pública. Cu ritiba: Ju ru á Ed itora,
2007, p .66
220 OLIVEIRA, Heletícia Leão. ReĚexões sobre a Ju dicialização d o Direito Fund am ental à Saú d e a
p artir do Ativismo Ju d icial. Revista Juris Poiesis, ano 16, nº 16, v. p 401 – 429, 2003, p .418
221 NUNES, Antonio Jose Avelâs. Os Tribunais e o Direito à Saú d e. Revista Juris Poiesis, Rio d e Janeiro,
ano 14, nº14, v. p . 473-490, jan-d ez 2011, p .474
222 STRECK, Lenio Lu iz. Op cit (2013), p .45
223 STRECK, Lenio Lu iz. Op cit (sem inário 2013)
É certo, qu e cabe ao Pod er Ju d iciário, a m issão d e garantir o cu m p ri-
m ento d as leis vigentes e a efetivação d o d ireito à saú d e e à vid a d os cid ad ãos,
d evend o este p revalecer sobre qu alqu er ou tra norm a d o ord enamento ju ríd ico,
inclu sive sobre critérios d e conveniência e op ortu nid ad e d a ad m inistração p ú blica
e d a teoria d a reserva d o p ossível.224 A intervenção ju d icial d ecorre d o p ap el d o
ju d iciário enqu anto gu ard ião d a Constitu ição e d os d ireitos fu nd am entais, sem
levar, no entanto, a u m a violação ao p rincíp io d a sep aração d os p od eres.
Para Vanice Lírio d o Valle, o d ireito à saú d e d eve ser assegu rad o em
benefício d e tod os, não p od end o ser p rotegid o tão-som ente na esfera ind ivid u al
d e u m cid ad ão,
De acord o com Vanice Lirio d o Valle, no STF assim com o no STJ a d iscu s-
são d o tem a d as p olíticas p ú blicas no segm ento d e saú d e se vem sed im entand o,
com a incorp oração d a d im ensão coletiva – seja p elo enu nciad o d as d ecisões m ais
recentes, seja p ela abertu ra a u m a m aior p articip ação d a socied ad e em tem a qu e
lhe d iz d e p erto.240
Segu ind o o entend im ento d o Ministro Gilm ar Mend es, d ecisões ju d iciais
qu e atend em aos interesses ind ivid u ais na entrega d e m ed icamentos e tratam entos
extrem am ente caros, e qu e não se encontram no d ever d e agir d o Estad o, a u m a
p arte d a p op u lação qu e p ossu i m elhores cond ições socioecon ôm icas e acesso à
inform ação, e, portanto, p ossu em m aior facilid ad e d e acesso ao ju d iciário, acabam
p or inviabilizar p olíticas p ú blicas eę cazes, além d e ferir os d itam es constitu cionais
d o acesso u niversal e igu alitário.
A qu estão é bem m ais com p lexa d o qu e p arece ser. A com p reensão ju ris-
p ru d encial e acad êm ica, no Brasil, acerca d a intervenção d o p od er ju d iciário nas
p olíticas p ú blicas aind a é tím id a e encontra resistências.
BARBOZA, Estefânia Maria d e Qu eiroz; JUNG, Thais Michele Winkler. Ativismo Ju d icial
e Ju d icial Self Restrain t n as D ecisões d o Su p remo Trib u n al Fed eral sob re Reserva d o
Possível. Revista Juris Poiesis, ano 15, nº 15, v. p .143 – 166, 2012
BARCELLOS, Ana Pau la d e. A Eę cácia Ju ríd ica d os Prin cíp ios Con stitu cion ais. O Prin -
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por P riscila Ra ngel Ba rros 241
241 Ad vogad a OAB nº 202.080/RJ atu an d o n as segu intes áreas: cível, im obiliária, tribu tária e
p revid enciária; Atu a como Delegada OAB na d efesa d as p rerrogativas d os ad vogad os; Bacharel
em Direito p ela Universidade Estácio de Sá em 2015; Estágio no Ministério Pú blico - 29ª Prom otoria
d e Investigação Penal em 2012; Pós-gradu ad a em Gestão d e N egócios p elo Ibm ec em 2010; Inglês
Ěu ente. E-m ail: p rirangelbarros@yahoo.com
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This articles p rop oses a legal analysis of Law 13,259 of March 16, 2016, m ore
sp ecię cally art. 4º’s analysis that regu lates the cond itions for p aym ent in kind
Brazilian tax law . As w ill be p ractice the u se of real estate for the liqu id ation of
the tax d ebt accord ing to the original text of Law 13,259 / 16 an d the criticism s of
the changes p rom oted by the Provisional Measu re N o. 719, converted into Law
13.313 of Ju ly 14, 2016.
K E YW O R D : Law 13,259 / 2016, Law 13,313 / 2016, Paym ent In Kind , Extinction
Of The Tax Cred it, Use Of Real Estate, Tax Cred it Registered In Debt Active.
A Lei Ord in ária n º 13.259 d e 16 d e
m arço d e 2016 veio regu lam entar o institu to
d a d ação em p agam ento no d ireito tribu tário
brasileiro 15 anos ap ós o ad vento d a Lei Com -
p lem entar 104/2001, resp onsável pelo acréscim o
d e tal in stitu to no rol d o art. 156 d o Cód igo
Tribu tário N acional, o qu al elenca as cau sas d e
extinção d e créd ito tribu tário.
Ponto relevante é o fato d e o artigo 146, III, b d a Constitu ição d a Rep ú blica
Fed erativa d o Brasil exigir lei com p lem entar p ara m atéria tribu tária e em send o a
Lei 13.259/2016 ordinária, há qu em levante a hipótese d e um a inconstitu cionalid ad e
form al. N o entanto, há qu em entend a qu e esta lei é ap licável ap enas a tribu tos
d a União, vez qu e o artigo 156, XI d o CTN exige lei esp ecíę ca d e cad a ente d a
fed eração. E se os ou tros entes d a fed eração u tilizarem o in stitu to d a d ação em
p agam ento? Seria p ossível o u so d esta Lei em análise com o regra geral?
Para se chagar a essas resp ostas será necessária u m a análise ju ríd ica
d esta Lei. Este tem a é d e extrem a im p ortância d iante d a crise em qu e se encontra
o p aís, visto qu e ele p ossibilita a entrega d e im óveis em p agam ento d e d ívid as
tribu tárias, au m entand o assim as hip óteses d e extinção d e créd ito tribu tário p ara
o contribu in te brasileiro.
A d ação em p agam ento su rgiu no d ireito rom ano, send o p ossível ap enas
com a anu ência d o cred or. N o entanto, Ju stiniano ad m itiu a hip ótese d e im p or ao
cred or bem d iverso, caso o d eved or já acionad o, não tivesse consegu id o vend er
os seu s bens, seria a datio in solutum necessária, com o m u ito bem exp lica Diniz
(2011, p . 309):
O Cód igo Civil d e 2002, em seu art. 356, acolhe a d ação em p agam ento
com o form a d e extinção d as obrigações, ou seja, o recebim ento d e coisa d iversa
d a qu e é d evid a d esd e qu e haja o consentim ento d o cred or. É u m a form a ind ireta
d e p agam ento, vez qu e o objetivo ę nal é a extinção d a obrigação m ed iante coisa
d iversa d a res debita.
[...] o d eved or, com a anu ência d o cred or, p od erá d ar u m a coisa p or
ou tra; coisa p or fato; fato p or coisa; fato p or fato etc. Isto é assim
p orqu e se for d inheiro a coisa d ad a em p agam ento, ou se, não sendo
d inheiro, se lhe taxar o p reço, a d ação em pagamento regular-se-á por
norm as d a com p ra e vend a p or haver equ ivalência entre os bens.
Qu anto a natu reza ju ríd ica d a d ação em p agam ento, a d ou trina é contro-
vertid a, seria u m a troca, u m a com p ra e vend a, u m a novação ou com p ensação?
Ou tros veem com o u m contrato, no entanto Maria H elena Diniz rebate, alegand o
qu e o contrato cria obrigações e a d ação em p agam ento é u m a m od alid ad e d e
extinção d e obrigação, d efend end o, conform e já d ito acim a, ser u m a form a d e
p agam ento ind ireto, por ser u m acord o liberatório, visand o extingu ir u m a relação
obrigacional, tend o este institu to a m esm a índ ole d e p agam ento.
Ord inariam ente, o tribu to d eve ser p ago em d inheiro, no entanto d iante
d a exp ressão “ou cu jo valor nela se p ossa exp rim ir” p od e-se entend er ser p ossível
a d ação em p agam ento no Direito Tribu tário Brasileiro tend o p or base som ente a
interp retação literária d o artigo 3º d o CTN ?
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Algu ns au tores interp retam esse trecho “ou cu jo valor nela se p ossa ex-
p rim ir” com o u m a au torização genérica p ara qu e os entes p olíticos estabeleçam ,
no âm bito d e seu s territórios, essa m od alid ad e d e extinção d e créd ito, coincid em ,
p ortanto, o su rgim ento d a d ação em p agam ento no d ireito tribu tário com o ad -
vento d o p róp rio CTN .
Essa p rim eira corrente não faz d istinção entre bens m óveis e im óveis,
p erm itind o a d ação em p agam ento p ara am bos os casos, vez qu e o CTN não traz
exp ressam ente essa d iferenciação. É nesse sentid o qu e Carneiro (2014, p . 257)
aę rm a:
Esta segu nd a corrente tam bém exige lei esp ecíę ca p ara a concretização
d esta form a d e extinção d o créd ito. N o entanto, não se enxergava qu alquer p erm is-
são p ara a d ação em p agam ento no art. 3º d o CTN , p osto qu e a p revisão d everia
vir exp ressa no art. 156 d o CTN , inserção realizad a p osteriorm ente ao ad vento
d o CTN . Ad em ais, inicialmente, não se entend ia p ela p ossibilid ad e d a d ação em
p agam ento em razão d o qu e d isp õe o artigo 141 d o CTN :
Art. 141 O créd ito tribu tário regu larm ente constitu íd o som ente se
m od ię ca ou extingu e, ou tem su a exigibilid ad e su sp ensa ou exclu -
íd a, nos casos p revistos nesta Lei, fora d os qu ais não p od em ser
d isp ensad as, sob p ena d e resp onsabilid ad e fu ncional na form a d a
lei, a su a efetivação ou as resp ectivas garan tias.
Dessa form a, não havia tal p revisão até 2001, qu and o a LC 104 introd u ziu
expressam ente no art. 156 d o CTN o inciso XI prevend o a d ação em pagam ento em
bens im óveis com o m od alid ad e d e extinção d e créd ito tribu tário. N esse sentid o,
Leite (2013, p . 344):
A d ação em p agam ento foi incorp orad a ao d ireito tribu tário brasi-
leiro através d a Lei Com p lem entar nº 104/2001. Ela foi inserid a no
art. 156, XI, d o Cód igo Tribu tário N acional com o esp écie extintiva
d o créd ito tribu tário, [...]
Em sed e lim inar, o STF vislu m brou afronta ao p roced im ento licitatório em
razão d a aqu isição d e m aterial d e constru ção sem p révia licitação e, além d isso, à
ép oca d esta d ecisão não havia a p revisão no artigo 156 d o CTN a d ação em p aga-
m ento com o form a d e extinção d e créd ito tribu tário, essa d ecisão foi conę rm ad a
ap ós a Lei Com p lem entar 104/2001, senão vejam os:
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Em enta
I - Lei ord inária d istrital - p agam ento d e d ébitos tribu tários por m eio
d e d ação em p agam ento.
Decisão
Referências Legislativas
Observações
Mas esp ecię cam ente o artigo 4º d a Lei estabelece as regras d e com o se
d ará d ação, senão vejam os, o texto original:
Art. 4º A extinção d o créd ito tribu tário p ela d ação em p agam ento
em im óveis, na form a d o inciso XI d o art. 156 d a Lei no 5.172, d e
25 d e ou tu bro d e 1966 - Cód igo Tribu tário N acional, atend erá às
segu intes cond ições:
§ 1º O d isp osto no cap u t não se ap lica aos créd itos tribu tários re-
ferentes ao Regim e Esp ecial Unię cad o d e Arrecad ação d e Tribu tos
e Contribu ições d evid os p elas Microem p resas e Em p resas d e Pe-
qu eno Porte - Sim p les N acional. (Red ação d ad a p ela Lei nº 13.313,
d e 2016)
A exp ressão “a critério d o cred or” inexistia na red ação original d a Lei,
veio a ser inserid a p or m eio d a MP nº 719. Segu nd o o p arecer d o senad or Bened ito
Lira é razoável qu e a União d eva se interessar p or receber d eterm inad o bem im ó-
vel em p agam ento d a d ívid a tribu tária p ara qu e a d ação em p agam ento p ossa se
concretizar. Do contrário, argu m enta o Senad or qu e seria necessário ad m itir qu e o
contribu inte teria o p od er d e d ecid ir se o p od er p ú blico receberá obrigatoriam ente
d eterm inad o bem em p agam ento d a d ívid a p ecu niária.
[...] essa expressão d eve ser mod ię cad a, pois pod eria ser interpretad a
com o ap ta a conferir p od eres à União d e n egar arbitrariam ente o
recebim ento d e im óveis em p agam ento d e d ívid as tribu tárias p or
ser tratar d e critério su bjetivo e qu e inviabiliza o institu to d e grand e
im p ortância p ara os contribu intes no cenário atu al, além d e ser u m a
relevante m ed id a p ara recebim entos d e créd itos tribu tários p ela
União, com a red u ção ind ireta d e litígios tribu tários, contribu inte
p ara a m elhoria d o ju d iciário. Portanto, caso seja atribu íd o esse
p od er ao cred or, a d ação em p agamento p od erá ser transform ar em
institu to form alm ente ad m itid o p ela legislação, m as sem ap licação
p rática, o qu e é im p ortante evitarm os.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
O tribu tarista Leand ro Lu con, em entrevista ao Consu ltor Ju ríd ico sobre
o assu nto, op ina, com o segu e:
N o entanto, o texto ę nal p erm aneceu com a avaliação (sem a exp ressão
‘ju d icial’) nos term os d e ato d o Ministério d a Fazend a, d eixand o o contribu inte,
m ais u m a vez, vu lnerável. Texto ę nal d o inciso I d o art. 4º:
Art. 4º O créd ito tribu tário inscrito em d ívid a ativa d a União p od erá
ser extinto, nos term os d o inciso XI d o cap u t d o art. 156 d a Lei nº
5.172, d e 25 d e ou tubro d e 1966 - Cód igo Tribu tário N acional, me-
d iante d ação em p agam ento d e bens im óveis, a critério d o cred or,
na form a d esta Lei, d esd e qu e atend id as as seguintes cond ições:
(Red ação d ad a p ela Lei nº 13.313, d e 2016)
H á u m com and o no art. 170, inciso IX, d a Constitu ição d a Rep ú blica
Fed erativa d o Brasil qu e d iz qu e haverá tratam ento favorecid o p ara as em p resas
d e p equ eno p orte constitu íd as sob as leis brasileiras e qu e tenham su a sed e e
ad m inistração no p aís. Trata-se d e u m p rincíp io qu e d eve ser consid erad o p elo
legislad or, m as qu e p arece não ter sid o observad o, ante o texto d o §1º d o art. 4º
d a Lei 13.259/2016:
§1º O d isp osto no cap u t não se ap lica aos créd itos tribu tários refe-
rentes ao Regim e Esp ecial Unię cad o d e Arrecad ação d e Tribu tos e
Contribuições d evid os pelas Microem presas e Em presas d e Pequeno
Porte – Sim p les N acional.
Para o d ou trinad or Ed u ard o Sabbag, essa lei seria inconstitu cional, vez
qu e a d ação em p agam ento d everia ser regid a p or lei com p lem entar ap licável a
tod os os entes, d e acord o com o artigo 146, III, b, d a Constitu ição d a Rep ú blica
Fed erativa d o Brasil, in verbis:
Deę nição d e tribu tos e su as esp écies, bem com o, em relação aos
im p ostos d iscrim inad os nesta Constitu ição, a d os resp ectivos fatos
gerad ores, bases d e cálcu lo e contribu intes;
Com o aind a não hou ve análise acerca d e su a valid ad e p elos Tribu nais
Su p eriores, eis qu e a lei é d este ano corrente (2016), p revalece a p resu nção d e
constitu cionalid ad e.
57ª Sub se çã o – Ba rra d a Tijuca - RJ
Caso algum outro ente d a fed eração necessite se valer d este instituto d everá
ed itar a su a p róp ria lei. O p arecer nº SF/16866.21689-01 d o Sen ad o Fed eral, nº a
p ágina 4 d iz qu e a Lei 13.259 d e 2016, em seu art. 4º, tratou d as norm as ap licáveis
à d ação em p agam ento d e bens im óveis p ara qu itação d e d ívid as tribu tárias na
esfera fed eral, não restand o d ú vid as qu anto à su a abrangência.
Diante d e tod a a análise d a Lei qu e regu lam enta a d ação em p agam ento
no d ireito tribu tário brasileiro, conclu ímos qu e, p or ser u ma lei ord inária, som ente
p od e ser ap licad a p ara extingu ir créd itos tribu tários fed erais, não p od end o ser
aplicad a p ara extingu ir créd ito d e ou tros entres d a fed eração, d evend o estes ed itar
as su as p róp rias leis sobre a m atéria.
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