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A compreensão deste fenômeno histórico tão peculiar requer uma análise da conjuntura política e
econômica vivenciada pelo continente europeu. Então vejamos...
Napoleão Bonaparte, feito Imperador da França em 1804, inspirado pelos ideais democráticos da
Revolução Francesa, avançava sobre o continente Europeu a fim de estender o seu domínio. Dentre as
várias inimizades criadas no velho continente, estava a Inglaterra, que resistia às investidas francesas
como a maior potência industrial do continente, dotada de uma posição geográfica privilegiada e de
uma poderosa marinha. Em 1806, Napoleão decreta o Bloqueio Continental, que proibia o comércio
dos outros países da Europa com a Inglaterra, no intuito de sufocá-la economicamente.
No meio de toda esta confusão, estava Portugal, fiel aliado economicamente subordinado à Inglaterra,
sendo pressionado por Bonaparte, sem ter forças para lhe opor resistência. Diante da ameaça sobre a
sua própria soberania, a metrópole lusitana se via diante de restritas opções: ceder ao domínio
napoleônico ou partir para o Brasil. O grupo mais influente de políticos e burocratas, que eram
partidários da Inglaterra, desde 1801 sugeria a mudança provisória da Corte para o Brasil, o que se
coadunava com os interesses britânicos no mercado brasileiro.
Com o perigo da invasão francesa cada vez mais próximo, a tomada da decisão tornou-se inevitável.
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Em novembro de 1807, partiam cerca de 12 mil pessoas entre nobres, magistrados, comerciantes,
oficiais, padres e os membros e serviçais da família real, com destino ao Rio de Janeiro.
Após a longa travessia, a frota lusitana aportava em Salvador em janeiro de 1808, transferindo-se
posteriormente para o Rio de Janeiro. Mesmo fazendo parte do império português, a colônia brasileira
encontrava-se, à época da chegada da família Real, imensamente atrasada com relação à sua
metrópole. O Brasil era constituído por diversas capitanias dotadas de certa autonomia, entre as quais
quase inexistiam relações comerciais, ao passo que sobravam rivalidades. Essa desagregação
territorial provocava a total ausência de identidade nacional na colônia.
A população somava cerca de 3,5 milhões de habitantes (cerca 2% da população atual), dos quais
apenas 1/3 eram brancos. A ocupação, predominantemente agrária, era mais concentrada na região
litorânea com poucas cidades no interior.
A transferência da sede do governo português para o Brasil, fato inédito na história das colonizações
européias, em que os governos metropolitanos mantinham distância do território colonial, trouxe
inúmeras transformações na cultura e nas estruturas econômicas e políticas do Brasil.
Para obter os recursos financeiros necessários à implantação de um centro administrativo, foi preciso
tomar uma série de medidas que eliminaram as regras impostas pelo pacto colonial à produção e ao
comércio de mercadorias. No arriar das malas, o regente Dom João (que só assumiria o reinado como
D João VI em 1818, após a morte da rainha Dona Maria I) decretou a abertura dos portos às nações
não aliadas da França fixando tarifas de importação em 24% para os produtos estrangeiros e em 16%
para os portugueses. Esta alteração representava o rompimento do monopólio comercial entre a
colônia e a metrópole. Dona Maria I revogou a proibição anterior de instalação de fábricas e
manufaturas na região, o que abriu espaço para o florescimento das práticas industriais no território.
Uma das principais conseqüências de todo este processo foi a exposição da economia brasileira ao
domínio britânico. Acordos como o Tratado de Comércio e Navegação (1810), que estabelecia a
cobrança de taxa de 15% na importação de mercadorias inglesas (taxa inferior à cobrada sobre os
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A dinâmica da vida urbana e cultural da colônia foi radicalmente transformada. Foram implantadas
escolas de medicina, a Impressão Régia, origem da imprensa oficial do Brasil, que veiculava as
impressões do governo, a Biblioteca Real, O Jardim Botânico, além de museus, teatros e escolas, que
promoveram o desenvolvimento de estudos científicos sobre a região. Para o desenvolvimento das
artes, o governo português convidou um grupo de artistas, arquitetos e professores franceses, que
viriam a influenciar o ambiente cultural brasileiro com a introdução do neoclassicismo nas artes
plásticas em substituição ao Barroco.
Os treze anos que a Corte portuguesa permaneceu no Brasil implicaram profundas mudanças, pois
ocorreu uma aceleração no câmbio dos elementos culturais da Europa para a colônia. A compreensão
deste fenômeno é essencial ao entendimento da formação da identidade nacional, já que interferiu
decisivamente na composição do nosso amálgama cultural junto com os elementos das culturas
africanas e indígenas.
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