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Brasil
Histórias da Cinofilia Brasileira
Top Breeders
Brasil
Autor
Daniel Pinto C. M. de Oliveira
Revisão ortográfica
Simone Santos
Produção e impressão
RONA Editora
Ficha catalográfica
ISBN: 978-85-62805-89-9
CDU 636.08
Dedicatória
Gostaria de expressar minha gratidão a todos que colaboraram com este livro.
A Confederação Brasileira de Cinofilia por acreditar neste projeto. Aos criado-
res que aceitaram o meu convite para participar desta obra e compartilhar seus
conhecimentos, aos handlers, ajudantes, árbitros, veterinários e adestradores.
Sem vocês a cinofilia não existiria! Aos amigos José Luiz Cunha de Vasconcelos
e Fernando Antonio Bretas Viana. Aos meus filhos que cresceram dividindo o
tempo que eu tinha para eles com os cães. À minha esposa, minha alma gêmea,
minha companheira Aléxia Lage que sempre me incentivou e acreditou em
todos os meus projetos. E aos cães que são tudo na minha vida!
sumário
9 Prefácio
11 Introdução
75 Canil Thunghat
Antonio José Garcia de Noronha
Double M Kennel
Roberta Zeppelini
95
Hunter Jô
Anderson Quaresma
105
Canil Flutter’s
Mauro Anselmo Alves
117
Torquay Kennel
Marco Flávio Botelho
127
Canil Chaputepek Mastiffs
Carlos Flaquer
139
Canil Di Graziano
Enrique Graziano
149
Charleston Dobermanns
Luiz Fernando Ribas Silva
159
Canil Tibiquary
Pedro Armando Ramos Lang
175
Canil Sumatra
Mauro Atalla
187
8 Top Breeders brasil
PREFÁCIO
Recebi do meu amigo Daniel Oliveira a honrosa e difícil missão de, em pou-
cas palavras, apresentar essa obra tão importante para todos os amantes dos
cães, TOP BREEDERS BRASIL – Histórias da Cinofilia Brasileira.
Boa leitura!
9
10 Top Breeders brasil
Introdução
Em 1980, quando decidi que queria criar cães, fui à procura de livros nas
livrarias de BH. Tive muita dificuldade em encontrar algum livro sobre cães.
Encontrei um livro sobre Pointers e o comprei. Não me recordo de quantas
vezes li e reli este livro; revi as fotos. Este foi meu livro de cabeceira por mui-
to tempo! Desde então, quando vou às livrarias tenho o hábito de procurar
por livros sobre cães. Infelizmente não temos muitas publicações sobre este
assunto. São poucos autores brasileiros e alguns livros traduzidos.
Começo este livro com uma entrevista com o dr. Sérgio Meira Lopes de
Castro, presidente da CBKC, entidade que coordena a quinta maior cinofilia
mundial. Na sequência, reúno os principais criadores de cães do Brasil, de
diversas raças e com experiências diferentes, que através dos seus relatos
vão nos presentear com seus conhecimentos e experiências sobre a arte de
criar cães.
A criação de cães não é uma tarefa fácil! Exige muita dedicação, investimen-
to, tempo e é um aprendizado constante. Tem o lado difícil que é lidar com
as perdas e frustrações, mas temos as conquistas, realizações, vitórias e o
aprendizado que nos levam a prosseguir neste caminho da criação buscando
a melhoria genética, o temperamento correto e principalmente saúde dos
nossos cães.
11
tunidade de aprender sobre a criação de cães com os melhores. Verão que
apesar das diferenças de métodos de criação todos se tornaram relevantes
criadores na raça escolhida. Aqui está um pouco da história da criação de
cães no Brasil, aproveitem ao máximo as experiências aqui relatadas! Tenho
certeza que elas serão relevantes para qualquer criador. Seja ele experiente
ou novato.
Comecei nos anos 1950, em Brasília criando cães Cocker Spaniel Inglês no
canil Cockers Hill e Dobermann no canil Dobermann Berg. Naquela época
era permitido ter dois canis. Além dessas raças, minha esposa criava Das-
chund, tivemos também Fila Brasileiro, Setter Inglês e Gordon. Atualmente,
não criamos mais estas raças.
Minha primeira exposição de cães aconteceu quando fui convidado para par-
ticipar de um evento no Rio de Janeiro, na Federação Cinológica Brasileira. Já
meu envolvimento com o BKC foi quando eu passei a ser sócio proprietário.
Desde então me envolvi na cinofilia. Comecei a ser dirigente meio que por
acaso. O Kennel Clube de Brasília estava largado e eu resolvi assumi-lo. De-
pois, concorri a eleições na CBKC onde estou presidente eleito hoje.
Com relação a me tornar árbitro, uma vez fui criticado por uma pessoa por
dar minha opinião sobre os cães. A pessoa me disse que eu não poderia opi-
nar já que não era árbitro. Aí, resolvi ser árbitro.
Durante este período realizamos grandes eventos como a Exposição dos 500
Anos do Descobrimento do Brasil, a Exposição Mundial de 2004, além de
algumas Exposições das Américas e Caribe, sem prejuízo de todas as outras
exposições pelo Brasil.
Também não posso deixar de ressaltar que, sob o meu comando, fomos ten-
do cada vez mais importância na cinofilia mundial. Como todos sabem, so-
mos membros da FCI há mais de 90 anos. O Brasil, através da CBKC, tem
sido seguidamente um dos cinco países que mais registram cães em todo o
sistema FCI. No ano passado registramos 150 mil cães.
Ao começar uma criação escolha bem suas matrizes, adquira seus cães de
canis que tenham boa reputação e, se não for possível, importe. Na hora de
escolher o padreador, escolha o melhor possível. Isso vai acrescentar quali-
dade à sua criação.
Para começar a contar esta pequena história sobre o canil Sunland Boxers,
algumas considerações de ordem cinológica geral serão feitas aqui, mos-
trando o nosso trajeto e a nossa visão sobre a cinofilia, como atividade or-
ganizada dentro do mundo dos animais de estimação (pets). O nosso envol-
vimento com cães, foi iniciado dentro de nossa casa junto à família, com
minha mulher Maria das Graças e meus filhos Prisco, Beto, Gerardo e Elisa,
possuindo de início dois Dálmatas doados. Eram mãe e filho, com pedigree,
e uma pequena cadela mestiça, que pelo seu aspecto fenotípico, deveria ter
vestígios das raças Papillon e Shih Tzu. Esse envolvimento durou cerca de 5
anos. Éramos distantes, à época, do mundo dos cães de raça pura, com seus
aspectos esportivos, os desafios da criação, as suas entidades nacionais e
internacionais, a sistemática de registro de cães, a associação ao Kennel Club
e o universo das exposições. O glamouroso universo das exposições com os
juízes, os apresentadores (handlers), a preparação dos cães, as premiações,
as filmagens, as fotos de pódio, os certificados de aptidão de campeonato
(CAC), os títulos, as disputas e os rankings atraem os neófitos envolvidos com
a criação de cães. Então, conversando com os filhos, senti a cobrança: “Pai,
por quê, ao invés de somente assistirmos as exposições, não participarmos
também?” Após a concordância com a cobrança, veio como consequência o
desafio: que raça devemos escolher? Após um pequeno levantamento em
publicações do próprio Kennel Club do Estado do Ceará (KCEC), com leitu-
ra de algumas matérias e em conversas com alguns criadores, nos fixamos
sobre a raça Boxer. Algumas características desta raça, nos trouxeram uma
simpatia incondicional, pois, apesar de ser considerado um cão de guarda,
era uma raça amistosa e confiável na convivência com crianças, além de
apresentar um belo porte atlético, com substância, mas sem perder a ele-
gância. Após a definição da nossa raça, adquirimos de forma apressada uma
filhota Boxer, com pedigree, aqui mesmo no Ceará, que não apresentava ca-
racterísticas positivas de temperamento, tampouco “conformação” e beleza
para exposições.
um comentário: o primeiro nome que enviamos à FCI foi Canil Terra do Sol,
mas como no Brasil já havia esse canil, por coincidência, em Fortaleza, da
raça Fila Brasileiro, a segunda opção foi aceita pela FCI, que era Sunland. Os
O início
O canil começou com a chegada da nossa primeira Boxer, em 1990, chamada
Kupe do Maracaçune. “Kupita” era uma cadela sem atributos físicos que per-
mitissem sua utilização em um programa de criação mais criterioso, entre-
tanto, ela foi fundamental em nos ensinar a admirar essa raça maravilhosa e
despertar o desejo de começar um programa de criação.
Nesta fase do nosso canil dois machos também foram importados, Rico,
com nome de pedigree Elharlen’s Hot Topic e Dylan, com nome de pedigree
Avalon’s Venetian Valentino. Rico foi uns dos primeiros cães da criação de
Eleanor Foley a chegar no Brasil, melhor dizendo, o segundo cão Elharlen,
já que o primeiro foi da criadora paranaense Ana Maria Belanni. Ele foi um
grande vencedor da raça na região, ganhando por diversas vezes melhor do
grupo e BIS. Tornou-se também um padreador muito relevante, transmitindo
ossatura e boas cabeças aos seus filhos. Dylan, foi importado do canil Avalon
Boxers, que tinha Norra Hansen e Daniel Buchwald como proprietários.
Em 1998, época em que todos nós (eu e meus filhos) assumimos compro-
missos profissionais que nos impediam de conduzir a criação com a mesma
disponibilidade de antes, decidimos interromper a criação e sermos simples-
mente proprietários de cães dessa raça maravilhosa, sem infelizmente, criar
e expor nossos cães até o ano de 2004.
Nos últimos meses de 2004, meu filho Prisco me lança o seguinte desafio:
“Pai, o senhor não quer dar continuidade ao canil Sunland, já que o Beto nes-
ses últimos quatro anos de estudos pós-graduados realizados na costa oeste
americana, aproveitando suas folgas de finais de semana, assistiu a algumas
exposições e manteve contatos com handlers e criadores da raça boxer? Nós
(Prisco e Gerardo, meu terceiro filho) podemos dar suporte material para a
nossa retomada. Com as condições expostas, a minha resposta efusiva e
imediata foi um sonoro SIM.
Franky (Int. Am. Can. Br. Ch. Denevi’s Ketel One Ticket2Fun) veio para o Bra-
sil em regime de leasing com a nossa amiga Catherine Denevi-Burris (canil
Denevi Boxers), de San Diego, na Califórnia. Este exemplar disputou o ran-
king de 2007, ano em que obteve, de acordo com o Ranking Dog Show: Boxer
número 1 do país, Cão número 1 das regiões Norte/Nordeste, Cão número
10 de todas as raças no país. Obteve, também no ano de 2007, 21 BIS. Nos
deixou alguns filhos campeões, destacando-se, Don e Diva, filhos da Zarina
e Jah, filho da Sol;
Aretha (Am. Br. Ch. Backwoods What U Want Baby I Got It), adquirida do canil
Backwood Boxers do sul dos EUA, já campeã e filha de pai de mérito ame-
ricano (Am. Ch. Highrivers Taylor Made of Backwoods) e filha da fêmea do
renomado canil Rosend Boxers da California (Am. Ch. Rosend N Backwoods
Material Girl). Apesar de ter entrado em pista em poucas ocasiões, Aretha
fechou campeonato, grande campeonato e campeonato pan-americano. Ga-
nhou diversas raças, grupos e final de exposição e nos deu alguns filhos
campeões;
Zalika (Can. Br. Ch. Bayridge’s Live Wire), adqurida do canil Bayridge Boxers,
situado na costa oeste do Canadá, mas de pedigree fortemente baseado na
linhagem Berlanes, boxers que de origem, tinham no seus pedigrees cães da
Califórnia;
Zarina (Br. Ch. Denevi’s Dark Eyes Czarina), adquirida ainda filhote da nossa
amiga Cathy, titular do canil Denevi Boxers. Seu pai era um grande padrea-
dor canadense (Can. Ch. Emberstouch’s Ring O’Fire ), SOM e LOM no Canadá
e nascido na costa oeste canadense e sua mãe era da linha Telstar, também
um renomado canil da Califórnia;
Lua (Can. Br. Ch. Elharlen’s Quixotic) e Sol (Can. Br. Ch. Elharlen’s Real Mo-
ment). Ambas foram adquiridas da criadora Eleanor Foley, nossa amiga (in-
felizmente já falecida), criadora de Boxers referenciada e reverenciada. Em
No final desta fase percebemos que, para termos um Boxer com destaque
nacional nas exposições, era necessário maior participação na cinofilia con-
centrada no sudeste do Brasil.
Uma nova fase na trajetória do nosso canil Sunland Boxers começou a ser
projetada a partir de maio de 2007. Nessa época, fomos com os filhos e só-
cios do canil (Prisco, Beto e Gerardo), acompanhados do nosso amigo, handler
Entre várias conversas na Nacional, tomou forma mais definitiva, a do meu fi-
lho Beto com a dra. Christa Cook (editora da revista Boxers Ring e handler de
vários Boxers destacados). Ele e Christa tinham em comum, além dos Boxers,
o fato de ambos terem obtidos seus PHD na mesma época e nos EUA, ela em
Genética Animal e ele em Saúde Pública e Epidemiologia.
Ficou marcado por todos nós o BIS na Exposição do KCSP em 2008, tendo
como juízes os presidentes do AKC (American Kennel Club, Ronald Menaker)
e da FCI (Fédération Cynologique Internationale, Hans Müller) com Dallas
tendo vencido o Grupo com o juiz R. Menaker e o BIS com o juíz H. Müller,
na nossa presença.
No final de 2010, Danny já era, nos EUA, o Boxer macho número 1, Top 10
no grupo de trabalho, tendo obtido 37 BISS em exposições gerais. Em 2011,
ele foi o Boxer número 1, Top 10 no grupo de trabalho e Top 10 em todas as
raças. Vencedor do Top 20 do ABC (American Boxer Club), alcançou o título
de Pai de Mérito (SOM). Foi, ainda, o primeiro cão na história a obter o nível
“Platinum” entre os Grandes Campeões, o Boxer que venceu o maior número
de vezes a raça, o Boxer que ganhou mais vezes BISS em especializadas e o
pai da raça Boxer que produziu mais campeões. Em 2012, foi o número 1 em
todos os sistemas, o número 3 no grupo de trabalho e Top 10 considerando
todas as raças.
Na nossa criação, Danny nos deixou alguns filhos que se destacaram: Bruce
(Bruce Wills Sunland BR), campeão americano, campeão e grande campeão
brasileiro, vencedor de alguns BIS no Brasil e vencedor da Nacional de Bo-
xers de 2014, NICO (Quasar Sunland BR), campeão americano, campeão bra-
sileiro e vencedor de alguns BIS. Com destaque ainda para os seus filhos
campeões: Cher Denevi Sunland BR, Gigi Airaf Sunland BR, Golda Sunland
BR, Vegas Sunland BR, Zorro Sunland BR, entre outros.
Era dezembro de 2012, meu filho Prisco vai até Orlando com a família visi-
tar meu neto primogênito Davi, então com 16 anos, que cursava na época
O ganhador da raça foi o cão Draco’s Bonfire, então com três anos, para tris-
teza dos torcedores do Danny (Prisco, Davi e Pedro). Nesse momento, Prisco
já reconhecia algumas qualidades no Rick, apelido dado por ele e aprovado
por todos nós. Segundo Prisco, que o observou ao vivo e nós apenas no vídeo
existente no site “Draco Boxers”, Rick apresentava temperamento, bela mo-
vimentação, estrutura, postura no stay e era muito flash. Nós todos acháva-
Em 2014, foi o primeiro e único Boxer a conseguir ser o cão número 1 entre
todas as raças do Ranking CBKC. A partir de 2015, em grandes shows nos paí-
ses da América Latina, Costa Rica, Uruguai, Argentina e Peru obteve BIS em
todos. Em 2017, já com 8 anos, por apresentar uma saúde e um estado atléti-
co invejável resolvemos colocá-lo na Nacional Brasileira, e o mesmo venceu
a Pré-Nacional e a Nacional. Pelo seu estado geral, resolvemos colocá-lo
em algumas exposições seletivas até o final do ano e, como consequência,
ele foi o vencedor do Ranking da CBKC da Raça Boxer, encerrando de forma
brilhante a sua carreira nas pistas, sendo o Boxer maior vencedor de todos
os tempos no Brasil, com 90 BIS e 5 BISS, com juízes de 22 nacionalida-
A cinofilia brasileira, nos últimos cinco anos, vem apresentando algumas im-
portações de Boxers do continente europeu por alguns criadores que vêm
tentando introduzir características desses cães no nosso boxerismo. A in-
fluência, por nós recebida, está fortemente calcada no boxerismo americano,
haja vista os cães que introduzimos na nossa criação, quer por processo de
leasing ou por compra direta. Cães obtidos diretamente da cinofilia ameri-
cana por nosso canil ao longo do tempo são: Mago, Aretha, Zalika, Franky,
Zarina, Sol, Lua, Dallas, Danny, Rick, Nicole, Christina, entre outros.
O Sunland hoje
Alguns comentários
Planejo com o estudo dos pedigrees e os meus padreadores têm que ser
grandes campeões. Não uso padreadores que não tenham passado por ava-
liações de juízes renomados.
Por sorte tenho dois filhos veterinários que acompanham praticamente to-
dos os dias minhas ninhadas. Meus bebês são pesados semanalmente para
acompanhar seu desenvolvimento, tomam três doses de vermífugo e depois
começam o ciclo de vacinas. São feitos também exames de fezes. Sempre o
mais importante é a saúde dos filhotes.
É preferível ter poucos e bons cães do que pensar em ter muitos para ter lu-
cro em vendas. Firmar-se numa raça leva tempo e tem que ter muita paciên-
cia e perseverança. Compre bons cães de pessoas idôneas, não saia mistu-
rando várias linhas de sangue de uma vez só e lembre-se que ofertas baratas
só trazem problemas. Participe de exposições, assim você terá as avaliações
necessárias para seus cães.
Tipicidade. Meus cães têm um tipo, cabeça, tamanho e expressão que são
típicos do meu canil.
Sim. Crio Yorkshire por amor à raça, pois foi a minha primeira e nunca vou
deixar de tê-la, mesmo tendo em grande maioria os Shih Tzus.
Germano Soths
Canil Black Champion, fundado em 1990.
Desde criança aprendi com meu pai que amava cães, o Sr. Antônio Soths –
que era um cinófilo –, a respeitar e amar os cães. Sempre tenho os cães como
parceiros.
Desde criança crio cães. Começamos com Pastor Alemão, Dobermann, Fila,
Buldogue Inglês e Pug. Mas quando conheci o Rottweiler, foi paixão à pri-
meira vista.
Aceito faltas leves, que não irão me comprometer na criação. Não aceito
falta desqualificante.
Antigamente era melhor porque tínhamos muitos criadores. Hoje vejo mais
compradores e imitadores.
Ganhar uma Nacional, um Rottminas, APRO, Rottrio, Nordestão com cães de mi-
nha criação, ver mais de 12 gerações do meu canil em pista: isso não tem preço!
Tenho em mente aquilo que busco, um cão completo em tudo! Vamos buscar.
Vejo muitas pessoas que criam muitas raças, mas eu não consigo focar em
outra raça a não ser o Rottweiler. Assim, procuro executar meu trabalho com
excelência.
Porque a criação não é ciência exata. Criar é ter bons olhos para buscar os
cruzamentos certos, sempre visando às melhorias na raça, ter sensibilidade e
paciência, sabendo que o resultado nem sempre vem nas primeiras gerações.
Gosto do pedigree alemão por ser eficiente, tem mais informações, tem uma
mini súmula com todos os cães do pedigree. Isso facilita para não somarmos
características indesejáveis. No Brasil não temos esse tipo de mecanismo,
infelizmente, mas cabe a nós corrermos atrás das informações, e o pedigree
facilita muito nesse quesito.
Meus cruzamentos são baseados naqueles que já deram certo com as linhas
de sangue, também não somando defeitos de estrutura e temperamento.
Sempre estudo as linhas e tenho um livro de meus cães que me falam o que
eles passam de qualidades e defeitos.
Temos dois cães importados da Alemanha, Yavier von der Burg Weibertreu e
Bax von Den Grindweisen, ambos com Ztp e IPO prova de trabalho, além de
nossos padreadores nascidos no canil. Buscamos sempre padreadores que
tragam as melhorias que buscamos nas nossas fêmeas.
Usaria, desde que esse padreador tenha todos os laudos de exames e tenha
aquilo que eu busque no momento.
Gosto muito de linebreeding e outcross. Inbreeding nunca deu certo no meu Canil.
Nunca abandonei uma linha de sangue, pois sempre busquei correção da mesma.
Há muitos anos não manipulo as ninhadas. Vejo que o ser humano vem sem-
pre manipulando, e, assim, quebrando uma cadeia da natureza.
No início da criação, por causa do nosso clima tropical, diziam que não seria
possível criar Bulldog Inglês no Brasil. De fato, o calor intenso é um dos
maiores vilões para este animal, mas o amor do Sr. Herculano pela raça foi
mais forte que as opiniões contrárias e viu-se que o Bulldog se adaptava
perfeitamente ao nosso clima.
A partir daí e ainda mais empolgado, em suas várias outras viagens para os Es-
tados Unidos, Inglaterra, Canadá e Argentina, adquiriu inúmeros outros Bull-
dogs machos e fêmeas para seu plantel, dos quais posso destacar os seguintes
exemplares: Br. Gr. Ch. Chelseas Sweet Cherokee Kid (Estados Unidos); Am. Ch.
Beauties Cherokee Good Girl (Estados Unidos); Am. Ch. Vin Rose’s of Bottoms
Up (Estados Unidos); Dayse Delta of Kelly Road (Estados Unidos); Melega of
Afrika’ans White Star (Argentina); Ronald Cherokee (Estados Unidos); Shack-
N-Lo Miskelly Candy (Estados Unidos); Jou Jou Shackleford (Estados Unidos);
Thunder Bay’s Irish Mist (Estados Unidos); Thunder Bay’s In The Buff (Estados
Unidos); Royal Gift of Imperious (Estados Unidos); Exotic Gift of Imperious (Es-
tados Unidos); Am. e Br. Ch. Shack-N-Lo Gorgeous George (Estados Unidos);
Am. e Can. Ch Tonbrays Highland Laddie (Canadá); Downcounty Lucky Strike
of Foresquare (Inglaterra); Seabourne Golden Girl of Foresquare (Inglaterra); e
Am. e Br. Ch. Tiffany’s Noble as Hell (Estados Unidos).
Esse momento chegou de uma forma triste, com o falecimento do meu pai,
em maio de 2004. O confortante, de certa forma, veio com os próprios Bull-
dogs. Assim, eu que já acompanhava a criação da raça, com o falecimento
E assim, como meu falecido pai, desde 2006, praticamente todos os anos te-
nho ido às Exposições Nacionais Especializadas da Raça no “Bulldog Club of
America”, bem como a algumas Exposições Nacionais Especializadas da Raça
patrocinadas pelo Club Canófilo Mexicano, além de algumas Exposições Es-
pecializadas da Raça na Inglaterra e na Exposição Mundial de 2005, ocorrida
na Argentina, a fim de manter-me sempre informado e atualizado visando
aprimorar a qualidade da raça no Brasil e da minha criação. Vale ressaltar
que todas essas viagens e exposições ajudaram-me a diferenciar o ruim do
médio, o médio do bom e o bom do ótimo exemplar. Enfim, adquire-se muita
experiência e ensinam muitas sutilezas da criação.
Novos animais
Fato é que, nessas viagens, acabei por importar mais alguns Bulldogs (ma-
chos e fêmeas) e sêmen de padreadores americanos para o aprimoramento
do meu plantel, dentre os quais posso destacar: sêmen do Multi Biss, Bis, Am.
Ch. Cerokee Legend Rock (Estados Unidos); sêmen do Multi Biss Am. Ch.; Am.
Gr. Ch. Newcomb’s Konner J (Estados Unidos); Mex. Ch. Alca’s Sabu (México);
Rocso Tequila (México); Mex. Ch. e Br. Ch.; Br. Gr. Ch. Ramstein Camarillo
Cabe salientar, ainda, que foi concedido ao saudoso Herculano Alfredo Ro-
drigues de Oliveira o título de mestre de criação da raça Bulldog Inglês, pela
Associação Cinológica Brasileira (A.C.B.), através do seu então presidente, o
conceituado Sr. Jaime Martinelli.
Am.& Br. Ch. Shack-n-Lo Gorgeous George e Am. & Br. Ch. Tiffany’s Noble as Hell
Primeiramente, uma boa criação sempre esbarra nas despesas a serem ex-
pendidas para tanto. Segundo, é a dificuldade de acesso a bons cães padrea-
dores, apesar de já existirem alguns bons no Brasil. Da mesma forma, é a
dificuldade em adquirir uma boa matriz, já que os criadores quando as têm,
dificilmente as vendem e, portanto, você por si só, deve criar uma no seu
próprio canil.
Cabe salientar que não procuro selecionar cães para cruzamentos somente em
função do seu pedigree, pesquisando seu mapa genealógico a fim de prever
suas características. Fato sim, que é importante para planejar acasalamentos
com intuito de selecionar, aprimorar a raça, estudar a genética de cada linha
de sangue para aprimorar sua própria criação e, ainda, prevenir possíveis doen-
ças de cruzamento de duas linhas de sangue. Mas acredito não ser suficiente,
pois podem haver casos em que os pedigrees são iguais e os cães da ninhada
diferentes. Exemplifico: um cão com aprumos com defeito pode ser irmão de
ninhada de um grande vencedor nacional, quase perfeito.
Em relação a usar um padreador que ninguém usou ainda, acredito que eu não
o faria sem ter pelo menos um pouco de conhecimento sobre ele, se transmi-
Na minha criação, tenho uma certa restrição quanto ao cruzamento ser inbree-
ding, mas não tenho restrição em o cruzamento ser linebreeding, outcrossing,
ou até mesmo outbreeding, desde que eu entenda não seja prejudicial à saúde
dos cães e que será o melhor para o aprimoramento do plantel. Contudo, te-
nho preferência por linebreeding ou outcrossing. O importante é o criador ter
consciência em não permitir que prevaleça o interesse na estética do cão em
detrimento da sua funcionalidade e bem-estar.
Já nas ninhadas nascidas no meu canil, o que tenho como mais importante é
o desenvolvimento com muita saúde e bem-estar tanto para a ninhada como
para a matriz, razão pela qual os cuidados sempre são muito especiais, tendo
funcionário 24 horas por dia ao lado dos filhotes e matriz, sob a minha orienta-
ção, para tratá-los e acompanhá-los nos respectivos desenvolvimentos.
Por certo que surpresas boas e ruins acontecem numa ninhada, com as quais
lido com muita tranquilidade, pois a criação é composta por seres vivos e não
dominamos a natureza, apenas podemos ajudá-la. Por mais que selecionemos
criteriosamente padreadores e matrizes, não há garantia de sucesso na ninhada.
Aprendi em todos esses anos de criação que, para ter uma criação de sucesso,
há necessidade de muito estudo sobre a raça, estar sempre atualizado, muita
dedicação, planejamento, ética, amor, persistência e humildade, combinados
com um pouco de instinto e sorte. E, com isso, espero ainda sempre estar me-
lhorando no que diz respeito à própria raça e ao meu plantel, pois faço o que
faço, com muito amor e carinho.
Canil Thunghat 75
Fale um pouco sobre como começou sua história com os cães.
Por ser uma raça de trabalho e de companhia aceitaria uma falta dentária,
pois não impediria nenhum cão de puxar um trenó ou de ser um bom amigo.
Não aceitaria um problema estrutural que comprometesse suas habilidades
locomotoras.
Hoje a maior parte dos criadores está buscando mais a parte genética.
Estão mais maduros e a parte comercial fica em segundo plano, o que é
ótimo para raça.
Canil Thunghat 77
Qual a importância do temperamento da raça
e como você trabalha para mantê-lo?
World Dog Show/Moscow. 2016. Cão: WDS Best Puppy TUNghats Brazilian Storm
Foto: Marina Akopova
Quando tenho uma fêmea geralmente com três cios completos sempre pro-
curo um padreador que agregue atributos da sua linhagem à linhagem desta
fêmea, levando em consideração características marcantes para a raça.
Sim. Temos relações com diversos criadores em vários países, que nos trazem
uma infinidade de boas oportunidades. Já trouxemos machos para o Brasil
em sistema de leasing. Já mandamos fêmeas para acasalar em outro país ou
estado brasileiro e já lançamos mão de sêmen congelado. Todos estes recur-
sos valem na hora de escolher aquele acasalamento que viemos estudando.
Canil Thunghat 79
Você usaria um padreador que ninguém tenha utilizado?
Sem dúvida, desde que este macho tenha suas checagens para doenças ge-
neticamente transmissíveis em dia e que venha de uma linhagem que agre-
gue qualidade à minha criação.
Uso como base o linebreeding, mas também faço uso do inbreeding quando
tenho uma cadela muito bem formada, quando há chances de marcarmos
mais tais características trazidas pelo pedigree semelhante do macho; ou
outcrossing quando tenho fêmeas muito bem marcadas pelo linebreeding
durante gerações e se faz necessário “refrescar” o sangue introduzindo um
novo genótipo com o mesmo tipo característico.
Sim, quando trazemos para a nossa criação um macho ou fêmea que, ape-
sar das checagens para doenças geneticamente transmissíveis em dia, passe
tais problemas sempre muito indesejáveis para seus filhotes comprometen-
do toda uma nova geração. Aí paramos, castramos tais cães portadores de
doenças ou características indesejáveis e voltamos para o trabalho que já
estava seguro e certo.
Visite o maior número de criadores, mesmo aquele que tenha uma visão
que seja diferente da sua; nunca adquira um exemplar por impulso; e nunca
pense em começar uma criação de qualquer que seja a raça visando lucro e
comércio.
USA. 2015. Cão: Am CH pan CH BR CH TUNghats Red Gold. Foto: Karen Street
Canil Thunghat 81
82 Top Breeders brasil
Sede do TUNghats Siberians. 2017
Cão: TUNghats Puppies
Foto: Arthur Franco TH - Project
Canil Thunghat 83
Qual o ponto alto da sua criação? Quando você olha para
ela, o que acredita ter aprendido ao longo destes anos?
Desde criança pedia um cachorro de presente para meus pais, mas só con-
segui ganhar um no meu aniversário de 10 anos. Era uma filhota dourada
de Cocker Inglês, chamada Biluca. Após um ano, quando meu irmão estava
para nascer, meus pais decidiram doar minha cadela sob alegação de que ele
poderia nascer com problemas respiratórios, uma vez que eu e alguns paren-
tes já sofríamos de asma. Esta foi mais uma desculpa para a doação. Após
terminar a faculdade no Rio de Janeiro e retornar para Salvador fui a uma
exposição de cães na minha cidade e fiquei encantada, decidindo, então, ter
um Beagle para expor. Na verdade, a ideia era ter um Basset Hound (raça
dos meus sonhos), mas por motivos facilitadores na época, fiquei satisfeita
com uma Beagle, de nome Lua. Mas, a ideia de ter um Basset não morreu, e
então ganhei uma fêmea bicolor, filha de um casal de criação do Canil Zuo’s
e a partir dela iniciei minha criação. No ano de 2002, importei um macho de
Portugal do Canil Sete Moinhos, do criador José Homem de Mello. Dois anos
após chegar, ele já era Campeão Mundial. Desde então, sempre trabalhei
com a linha de sangue do Sete Moinhos. Basset Hound sempre foi minha pai-
xão, mas como todo amante de cães, durante todos os anos de criação tive a
oportunidade de ter as raças Afghan Hound e American Staffordshire Terrier.
Foram pouquíssimas ninhadas dessas duas outras raças, mas não menos im-
portante! No ano de 2014 importei da Eslováquia um cão de Crista Chinês,
Powder Puff, que, ao longo desses quatro anos conquistou meu coração, e
que me proporcionou um novo sentimento, já que ele dorme, literalmente,
em meu pescoço!
Falta é sempre uma falta e nunca deve ser aceita por um criador responsável,
e nenhuma delas para mim é aceitável. Faltas graves atualmente na raça e
que devem ser levadas em consideração são frentes atípicas, sem o formato
em taça; costelas com deformações; excesso de pele; e cães com patas muito
curtas, deixando a parte inferior do tórax arrastando no chão. Apesar de ser
bastante criteriosa e não aceitar faltas, registre-se que o cão perfeito não
existe, ou, como nós criadores dizemos, o cão perfeito nasceu morto. Tendo
isso em mente, precisamos hierarquizar as faltas, assim existem faltas mais
leves e mais fáceis de serem corrigidas em um plantel, e por tanto mais
aceitáveis; enquanto existem outras, como as elencadas acima, de caráter
grave, que comprometem a própria funcionalidade da raça ou mesmo a sua
tipicidade. Essas últimas não merecem nenhuma permissibilidade do criador
responsável!
O Basset Hound, como um cão de caça, deve ser ativo, sem timidez e seguro.
Por isso procuro sempre fazer cruzamentos entre cães sem problemas de
temperamento e sempre eleger os exemplares com bom temperamento para
que possa ser desenvolvida sua função.
Porque a criação não é uma conta matemática. Muitas vezes, uma caracte-
rística que não está presente em dois exemplares pode aparecer em filhotes
nascidos do cruzamento entre eles, por estar na sua genética. Uma frente
correta, por exemplo, não se corrige em uma ou duas gerações, é preciso um
trabalho de anos para se corrigir uma característica indesejável.
Se for um cão criado pelo Sete Moinhos, criação do José Homem de Mello,
sim, usaria sem problemas, pois conheço a linha e tenho confiança no que
ela produz.
O sucesso na criação se deve a uma série de fatores reunidos, tais como uma
boa linha de sangue, uma boa alimentação, local adequado etc.
Roberta Zeppelini
Double M Kennel, fundado em 1996.
Inicialmente, o canil chamava-se Magia do Retiro, fundado em
1993. O nome foi trocado, na mudança para Pernambuco, em
homenagem ao marido.
Double M Kennel 95
Fale um pouco sobre como começou sua história com os cães.
Por paixão. Amor à primeira vista. Tudo nesse cão me encanta, um exemplar
bonito é como diz o padrão da raça, um Apolo. Você pode não querer ter um
cão dessa raça, mas não tem como negar sua beleza.
Double M Kennel 97
quim tem uma miríade de tipos diferentes e poucos desses tipos ficam dentro
do que considero um bom Dogue Alemão. Mas, mesmo assim, temos exempla-
res nas três variedade capazes de representar a raça em nível mundial.
Porque para uma boa criação é necessário muito estudo e muito investi-
mento. Poucas são as pessoas que estão dispostas a isso. Ou não estudam,
ou não investem, ou não fazem nem uma coisa nem outra. A maioria dos
criadores acha que investimento é comprar cachorro porque achou bonito ou
porque é filho de um vencedor. Mas a criação não se faz assim. É necessário
saber qual tipo lhe agrada mais. Depois de escolhido o tipo e de conhecer
o padrão da raça de cabo-a-rabo, é necessário estudar desde as diversas
linhagens mundiais até o que predomina em um acasalamento. Qual cara-
terística é predominante. O que você quer de seus cães, qual característica
Double M Kennel 99
Como você utiliza o pedigree?
Eu tenho poucas ninhadas anuais, às vezes nenhuma. Meu canil não é co-
mercial, embora eu venda os filhotes que eu não queira ficar. Sempre que
Sim, no Brasil temos bons padreadores, não muitos, mas temos. Nosso maior
problema é nossa distância territorial. Quando busco um macho fora do país,
busco um refresco no sangue, algo que não tenho conseguido por aqui. Re-
centemente comprei um macho fora do país e à primeira vista ele é total-
mente outcross se comparado com minhas cadelas, mas estudando o pedi-
gree mais a fundo ele tem algum parentesco com meus cães, o que é ótimo,
pois refresco a linhagem sem me afastar do tipo.
Verdade! É triste, mas acontece. Às vezes nos deparamos com anos de tra-
balho e convicção jogados fora. Estive muito perto de fazer isso, consegui
resgatar um pouco da minha dignidade fixando o trabalho em um determina-
Todas ninhadas são uma surpresa, por mais que calculemos o resultado, nem
sempre dá certo. Eu procuro sempre manter por perto os melhores exem-
plares, ou os mais promissores, e os demais vendo como pet. Mas já tive
surpresas de ambos os lados. O filhote pet ficou top de linha e aquele em
que depositei todas as minhas fichas não decolou. Mas trato todas as minhas
ninhadas de forma igual, até porque sempre aposto na genética, mesmo que
o cão não seja top, ele tem sangue para produzir algo ótimo.
Quando nascem filhotes na minha casa, mãe e filho vão imediatamente para
dentro do meu escritório. Lá eles ficam assistidos dia e noite. Meus funcio-
nários de casa sabem como fazer e a quem recorrer em caso de necessidade.
Procuro manter os filhotes sempre bem aquecidos e eles só vão para o canil
depois de abrir os olhos e começar o desmame, que inicio com 20 dias. No
caso de Dogue Alemão, a vigilância é muito importante, pois os filhotes são
demasiadamente pequenos em relação à mãe, assim a mortandade por cau-
sa de esmagamento é muito alta.
Procure saber o que você espera da sua raça, que tipo você gosta, busque
adquirir boas fêmeas e eleja um orientador experiente. Isso é fundamental.
Eu quero fixar um tipo que seja reconhecido facilmente pelas suas qualidades.
Quero que olhem um Dogue e digam: “Esse cão é da linhagem Double M”.
Fundado por Maria Jorgete Quaresma, minha mãe e tem como coproprietá-
rio Anderson Einstenn Quaresma Pires dos Reis, desde os 16 anos, quando
o canil foi fundado. Desde de 2009, a titularidade do canil é de Anderson
Quaresma e a copropriedade de Raquel Oliveira dos Santos, sendo a criação
dividida com os pelo curto com Anderson e pelo longo com Raquel. Jô Qua-
resma continua sócia do canil, mas não mais participa ativamente na criação.
De fato, criar começou quando tive que substituir minha mãe em uma ex-
posição de beleza, pois ela tinha um outro compromisso. Na hora dos cães
entrarem na pista, o handler estava com seu cão principal em outra pista e
tive que entrar no improviso. Ganhei o prêmio de Melhor Fêmea e Melhor
Macho e entrei com os dois para disputar a raça. O juiz deixou eu apresentar
e, no final, explicou que não era permitido, mas que viu que eu levava jeito e
que poderia ser um bom criador e expositor.
O destino fez a raça chegar em minha vida aos 5 anos, novamente aos 15 e
creio que a raça me escolheu. Sem dúvida, é para mim a raça ideal, todas as
características me agradam. Até a que é considerada defeito, para mim é a
maior qualidade: teimosia e perseverança!
Cão: HJ Zanac. Três vezes melhor da raça da nacional. Foto: Edmilson Reis
Temperamento é essencial tanto para exercer função como para ser um ani-
mal de companhia. Nós não caçamos no Brasil, pelo menos não legalmente,
mas o instinto se mantém com o uso de cães equilibrados e com característi-
cas comportamentais desejáveis. Quase todos os cães criados são destinados
para serem de companhia. A convivência de 14-16 anos com um cão de bom
temperamento é mais do que necessário, é primordial, e se essa característi-
ca não é trabalhada pelo criador, a raça perde espaço para aqueles de luxo e
companhia. Nenhum criador quer isso para sua raça, nós humanos nos adap-
tamos aos novos tempos nossas criações também. Espera-se um Dachshund
com um grau de atividade mediano, que lata pouco, seja mais obediente para
uma melhor adaptação ao espaço urbano cada vez menor e mais sedentário.
Se o criador quiser produzir cães aptos para serem exímios caçadores é fácil
imaginar a difícil adaptação da raça e consequentemente abandonos e má
fama. Nós trabalhamos para ter cães sociáveis, fazendo cruzamentos que
evitem os extremos: cães letárgicos sem motivação ou cães agitados demais.
Se temos uma fêmea de grande estrutura, mas apática, compensamos com
um padreador mais ativo, por exemplo.
Meus cruzamentos são planejados sob diversos aspectos, mas sempre visan-
do manter o trabalho de criação. Hoje busco trabalhar o que praticamente
não se faz no mundo, que são os arlequins de grande qualidade. Planejo
minha criação em várias frentes, não busco um tipo Hunter Jô pois utilizo
Quase tudo que importei veio de canis pouco visados e desconhecidos ini-
cialmente. Não crio moda, apenas sou antenado e não tenho medo de adqui-
rir um cão de um canil que não tenha “nome”, pois como já disse, eu trabalho
e acredito no que vejo, papel (pedigree) é importante secundariamente. Não
utilizo um cão porque venceu um ranking, ou porque tem um pedigree mara-
vilhoso, utilizo aqueles em que vejo as qualidades que procuro e que sejam
de grande qualidade estrutural.
Os três, mas ultimamente acredito que outcross seja o caminho futuro das
grandes criações. Hoje utilizo mais linebreeding, mas pretendo futuramente
olhar minha criação e ver mais outcross. Inbreeding nos Dachshunds tem pe-
riculosidade baixa por conta do baixo índice de doenças, porém podem fixar
defeitos se o criador não tiver senso crítico.
O que mais me entristece é ver trabalhos interrompidos. Você não deve apa-
gar sua história, cada importação, cada aquisição, cada cruzamento, tem seu
As surpresas estão nas cruzas que fogem do óbvio, as ruins são onde a ex-
pectativa era maior que a realidade. Gosto de avaliar no dia de mau humor:
é melhor, o senso crítico é maior e avaliação mais real, o pensamento é sem-
pre exigir de si mais resultado. Aqui os cães depois de passarem pelos meus
olhos críticos enfrentam os olhos da minha esposa que são bem “treinados”
para serem críticos e exigentes, afinal quatro olhos enxergam melhor que
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1. BIS Nacional de 2016. Aleli A.G. von Nordor. Foto: Edmilson Reis
2. BIS 1° AO 4°. Aleli, HJ Top Model, HJ Zanac e HJ Ziraldo. Acervo pessoal.
3. HJ Hasty Fine Dachs n°1 de 1993. 6° melhor cão do Brasil. Foto: Pavel
4. HJ Black Pepper. Dachs n°1 de 1996. Foto: André Mendes.
Amor pelo que se faz. Todos os dias eu admiro meus cães, coloco filhotes em
stay, me perco no avaliar, no planejar. Aqui tem uma frase: o filhote que vai
nascer ano que vem, já é avô, mas seu pai ainda não nasceu! Perseverança
e teimosia pois biologia não é matemática, nem sempre as coisas dão certo!
Senso crítico, pois a cegueira de canil é a junção do egocentrismo com a
preguiça mental.
Já criei e foi um aprendizado importante, mas acho que para fazer um bom
trabalho não atrapalha, mas para fazer um grande trabalho sim!
Sim. O grande desafio da raça é acabar com esta história de padrão america-
no e padrão europeu. Está mais do que na hora dos criadores se organizarem
para adequar os padrões à realidade mundial. O Dachshund mudou, é triste
ver que um animal da raça que se torna vencedor em solo americano pode
ser desclassificado em uma expo FCI, ou é ininteligível ver um cão fora dos
padrões FCI ganhar Best in Show. Se for discutido o padrão unificando as
“escolas cinófilas”, praticamente se resolve a questão dos tamanhos que está
praticamente obsoleta.
Um padrão que começa dando a ideia do temperamento do cão tem que ter
nesse item algo de importância: para mim, cães tímidos demais ou agressi-
vos são atípicos e, portanto, não devem se reproduzir.
Sempre linebreeding.
Sim, existe, e já passei por isso devido a faltas que essas linhas fixavam na prole.
Não se encha de cães no começo e lembre que a base do canil são as fêmeas.
Torquay Beagles.
Alessandra Botelho, Marcelo Chagas e Marco Flávio Botelho.
Unidos pela amizade e pelo amor a raça Beagle desde 1993.
A aquisição deste animal não foi fácil, pois Belo Horizonte, apesar de ter ex-
celentes exposições de cães, nesta época (todas ocorriam no Parque Bolivar
de Andrade, no bairro Gameleira) ainda era muito difícil para adquirir cães
de raças diferentes. Até então, o Cocker Inglês ainda era uma raça pouco
difundida em Minas Gerais. Procurava os filhotes e, quando estava a ponto
de adquirir, já estavam reservados para outras pessoas.
Até que um dia, meu pai, lendo um jornal do Rio de Janeiro, o “Jornal do
Brasil”, viu um anúncio de uma ninhada sendo vendida e resolveu entrar em
contato com a criadora. Foi quando comprou o meu tão esperado filhote.
Ele foi adquirido de uma grande criadora na época, chamada Diva Ribeiro.
Como se não bastasse meu primeiro vizinho, outro, chamado José Eid Farah,
era um grande criador de Collie Pelo Longo, coproprietário de vários animais
da raça juntamente com meu amigo atual, Alexandre Carvalho. Além disso,
frequentava diversas exposições, me incentivando neste sentido.
Todos os sábados, meu pai me levava para passear e, como um de seus há-
bitos era a leitura, me levava semanalmente em bancas e agências de livros
e revistas, adquirindo diversas literaturas sobre cães de raça e, uma delas,
foi um livro da raça Cocker Spaniel Inglês, que ensinava os princípios básicos
de uma exposição canina. Além disso, sobre treinamento dos animais. Sem
saber direito como era o método mais correto, fui para a rua, nas imediações
da minha casa e eu mesmo comecei a treiná-lo.
Logo após minha graduação, queria um projeto maior que um simples canil
de fundo de quintal. O sítio dos meus familiares, após um longo período sem
uso, foi o começo do meu canil, em Betim, registrado como Torquay Kennel.
Iniciei, neste espaço, com Dobermans, mas em pouco tempo decidi mudar
pelas inúmeras dificuldades encontradas na raça. Nesta época, um criador
local de Beagles mantinha seus cães em meu canil e, num certo período, o
seu trabalho o levou para fora do país por mais ou menos três anos. Estes
cães ficaram aos meus cuidados. Então, percebi que era a raça ideal.
Enviei para ele Torquay Central Station - Eric, se tornando o melhor Beagle
15” do país em 2006, vencendo 11 Best in Shows. Em 2003, adquiri uma fê-
mea 15”, Wishing Wels Speaking No Evil. Por dois anos foi exposta no Brasil
e depois sugeri ao Marcelo que Frost retornasse aos EUA para acasalar com
Eric. Em junho de 2007, a primeira ninhada do Torquay Beagles nos EUA
nasceu. Dela resultou uma fantástica cadela, Torquay Midnight Confession
- Lola, que viria a ser tornar o Beagle mais bem-sucedido da história do Ame-
rican Kennel Club. Outro filhote desta ninhada também estava destinado a
deixar sua marca: Torquay Be Nice To Me - Jr. Foi o #1 Hound do Canadá em
2009, apresentado no país por Will Alexander. Mais tarde, no mesmo ano,
enviei outro cão aos EUA, Torquay Over The Top - Austin, que se sagrou Best
of Opposite Sex na nacional do Beagle Club of America, em sua primeira
apresentação.
Depois destes, vieram diversos outros Beagles de nossa criação que se tor-
naram campeões americanos e se mostraram de grande valia. Pelos tantos
anos de criação e pela grande quantidade de campeões americanos na his-
tória do canil, mais de 20, não há condições de explicar um por um. Sendo
assim, citarei alguns nomes: Torquay Virginia Is For Lovers, Torquay Hough
Culture, Torquay Southern Belly, Torquay Midnight Misstress, Torquay Mid-
night Hendesvous, Torquay Rumba, Torquay Winner Takes It All. Não poderia
deixar de destacar também, Torquay Midnight Interlude, vencedora Top20
nos EUA e se tornou Beagle 13” #1 em 2015. De 2014 a 2016 competimos
com Torquay Midnight Victory, tornando-a a Beagle #1 dos EUA por três anos
consecutivos, uma das maiores vencedoras do nosso canil desde o início,
perdendo apenas em número de vitórias para Lola.
Apesar dos muitos anos criando a raça Beagle, sempre tive paixão por Ter-
riers. Um dia, no escritório da Revista Cães de Fato, especializada em cães de
exposição, ainda hoje em atividade, meu antigo sócio Saulo Biscoto Jr. con-
Foram diversos Best in Shows, sendo que Gatsby’s Take N’ Charger Sportin-
gfield, além de Reserva de Best in Show na Sicalam – Argentina 2003 e três
anos consecutivos entre os dez melhores cães do Brasil, se tornou em 2002
o melhor cão do Brasil de todas as raças. Após este grande feito, comecei
a expor Coming Back Boris Del Retorno, levando-o ao título de Bicampeão
Mundial – Argentina em 2005 e Brasil em 2004. Depois destes cães, ex-
pus muitos outros de minha criação, com destaque merecido para Torquay
S Demetrio, em uma exposição em Belo Horizonte, promovida pelo KCGBH
e julgada pelo renomado handler e expert em Terriers Clay Cloud, que me
pediu para levar o cão para competir nos EUA, sendo ele coproprietário do
mesmo. Duas semanas após, o cão já era exposto nos EUA e a ascensão foi
meteórica. Este cão ganhou 71 Best in Shows, mais de 500 Group Firsts,
três Nacionais da Raça – Montgomery County Kennel Club, três Melhor da
Raça com classificações no grupo no Westminster Kennel Club Dog Show e
Best in Show nos mais importantes clubs especializados de Terrier dos EUA,
além das mais famosas exposições do país, se tornando o maior vencedor da
história da raça de todos os tempos no mundo. Recentemente perdeu este
recorde para um cão americano.
Carlos Flaquer
Canil Chaputepek Mastiffs
(originalmente fundado como Chaputepeque), em 1975.
Em 1987, meu pai ficou doente e não pôde dar mais dar continuidade à criação.
Eu sou o filho mais velho e, com 17 anos de idade, comecei a cuidar de fato do
canil. Foi em 1988 que assumi de fato a criação e mudei o nome de Chapute-
peque para Chaputepek, para dar um tom mais inglês ao nome do canil.
Faltas, na verdade, por eu ser meio perfeccionista, não aceito nenhuma. Po-
rém, tem coisas como um posterior um pouco mais fraco, uma linha de dorso
às vezes não tão reta acontecem no plantel, sem que este animal perca as
características e a beleza. Mas o que eu não tolero é falta de temperamento.
Três itens melhoram muito desde o início da raça no Brasil, entre eles tempe-
ramento, pois os primeiros que vieram eram cães fracos nessa característica,
e tinham alguns até covardes mesmo. Os posteriores, pois graças a muitos
criadores sérios hoje, a displasia da raça chega a ser menor que em outras,
de menor tamanho. Antes, você via Mastiff sendo sacrificado aos três anos,
Eu construo meus padreadores, porém sempre que preciso faço troca de san-
gue mandando meus animais a canis dos EUA e da Europa. Em troca, eles me
mandam cães para eu usar aqui no meu plantel. Desta forma, nos ajudamos
mutuamente.
Como disse, uso as três opções, pois é através delas que conseguimos a me-
lhor construção de cães com características genéticas e, o melhor, teremos
uma identidade de um tipo quase fixa no seu plantel.
Ninhada não é receita de bolo. Então, às vezes, tudo vai bem, mas também
temos problemas como mães sem habilidade materna, ninhadas muito nu-
merosas. Mas, também, ocorre a falta de habilidade dos funcionários que
cuidam. Por isso, o sucesso de um canil é o manejo.
Meus filhotes nascem e eu, como veterinário, retiro sangue da mãe no mes-
mo dia, centrifugo, e o soro obtido deste sangue inoculo de 0,5 a 1ml via
intraperitoneal nos bebês, provocando uma iniciação imunológica neles. O
manejo para a mãe não deitar em cima dos filhotes é crucial. E, claro, con-
trolar e até suplementar as mamadas, pois, se não, alguém mama demais e
outro passará fome e morrerá em ninhadas acima de oito filhotes.
Buscar bons mentores, criadores sólidos na raça que vem obtendo sucesso
há mais de cinco anos (pelo menos), pois neles você irá encontrar suporte
genético e técnico para iniciar. E claro, nunca iniciar com machos, pois toda
base de um canil de sucesso inicial são as matrizes.
Sim. Diminuiu muito o número de criadores da raça, talvez pelo custo alto
ou pela falta de espaço nas grandes metrópoles, mas até prefiro assim, pois
toda raça que tem modismo tende a se perder na qualidade.
Enrique Graziano
Canil Di Graziano
Sempre tivemos cães na família de meus pais. A função era para a guarda
da casa, mas com o tempo começou a nascer um interesse maior por eles e,
assim, pela criação.
Tudo é importante para uma raça, mas a cada período as necessidades mu-
dam e, como consequência, as prioridades de criação. O que nunca pode
mudar é a constante busca e fixação pelo tipo correto, funcional e saudável.
Não existe nenhum tipo de controle genético para a raça que crio.
São bem poucos os bons reprodutores no Brasil de minha raça, uma vez que
é pequeno o número de cães existentes. Quando pretendo utilizar algum re-
produtor de fora não busco somente um bom reprodutor e sim um padreador.
Com certeza usaria, desde que o mesmo tenha o tipo e a genética que busco.
Existe uma hora que você precisa não abandonar uma linha de criação, mas
um outcross total com as novas realidades da raça e introdução deste san-
gue novo (qualidades novas). Este momento é muito perigoso, pois pode-se
perder seu tipo.
As ninhadas precisam ser bem tratadas, com muita atenção, higiene e boa
alimentação.
Aprendi a ter calma, focar num objetivo e tentar não sofrer influências de
modismos.
Criação é dedicação e se abster de uma vida própria em favor dos cães. Quem
cria visando somente ganhos financeiros esta fadado ao fracasso. A criação
está sempre evoluindo, e está sempre girando. Uma hora temos os melhores
cães e somos referências, e em outros momentos, não temos nada que pres-
ta nas mãos. Por isso, humildade é uma palavra-chave para quem pretende
ser um bom criador.
Desde muito pequeno tinha paixão por cães, mesmo não tendo ainda ne-
nhum em casa. E acho que ainda bebê, quando comecei a falar, pedia sem-
pre para os meus pais comprarem um filhotinho. E aos 3 anos de idade, ga-
nhei uma filhota de Pinscher Miniatura. Depois tivemos outros dessa mesma
raça e quando tinha 8 anos de idade, comecei a colecionar e ler os fascículos
mensais (durante dois anos, em dois volumes com mais de mil páginas) da
Enciclopédia Canina, de autoria do italiano Fiorenzo Fiorone, editado em
1970. Li todos os padrões oficiais e histórias das mais de 300 raças caninas
existentes na época e decidi que a raça que queria criar era o Dobermann!
Depois de ter decidido a raça que queria iniciar a minha criação, comecei a
pedir e tentar convencer meus pais – porque havia e ainda há preconceitos
e mitos contra a raça – para comprar uma filhota de Dobermann. Então,
finalmente adquirimos uma filhota de um criador daqui de Curitiba, chama-
da Tula do Airerê. Na primeira exposição que a levei e apresentei, venceu
Melhor Filhote da Raça e Melhor Filhote da Exposição! Que incentivo seria
melhor para uma criança do que vencer um Best in Show na sua primeira
exposição?! Depois participei de várias exposições com ela como filhote e
jovem, mas os resultados nunca mais foram tão bons como na estreia! Foi
quando comecei a estudar de forma mais técnica e especializada o padrão
oficial da raça. Queria saber as qualidades e faltas da minha cachorra. Então
decidi retirá-la das pistas e acasalá-la, depois de pesquisar o futuro “marido”
dela por quase dois anos, participando de todas as exposições possíveis,
além de estudar os pedigrees e literaturas especializadas. E, aos 11 anos de
idade, iniciei a criação especializada da raça Dobermann, registrando o Canil
com o nome Charleston junto ao BKC (Entidade Nacional da época) e FCI.
Bem, incialmente, é preciso dizer que todo e qualquer cão de raça possui
faltas de acordo com seus padrões oficiais. Claro que alguns possuem faltas
Difícil afirmar, mas acredito que de um modo geral, a raça Dobermann hoje
está em um nível inferior se comparado há 10, 20 ou até 30 anos, infelizmen-
te, principalmente quanto à saúde, mesmo tendo hoje muito mais recursos
de exames genéticos (através de DNA) do que antigamente. Mas a longevi-
dade era superior de um modo geral.
É realmente difícil fazer e manter uma criação de alto nível, pois esta é uma
atividade muito complexa, que envolve vários fatores como um bom plantel,
principalmente de matrizes de qualidade, excelentes linhagens, estudos e
Acredito que o criador em uma certa hora deve ter a clareza e a autocríti-
ca para abandonar uma linha de criação se os problemas aumentam, sejam
de estrutura, temperamento e, principalmente, de saúde genética em vez
de melhorar, que é o principal objetivo da criação – o aprimoramento da
raça. Nunca abandonei diretamente uma linha de criação, mas, como disse
anteriormente, nossa criação é baseada em matrizes porque acredito que
as fêmeas possuem o shape (a fôrma) e podemos, assim, ter a liberdade de
As nossas ninhadas são criadas em uma caixa grande e especial para ninhada
(que podemos entrar nela) que fica ao lado da nossa cama em nosso quarto,
e com nossa atenção e assistência integral aos filhotes e à mãe nas três
primeiras semanas de vida – pelo menos. Depois, eles vão para um espaço
grande que chamamos de jardim de infância e contamos com a assistência
de nosso funcionário, mas sempre sob nossa supervisão, logicamente.
Como sempre criei exclusivamente uma raça, acho difícil ser realmente bem-
sucedido na criação de mais de uma. À propósito, não conheço ou não lem-
bro no momento, um criador que tenha tido verdadeiro sucesso na criação
de mais de uma raça.
Meu primeiro contato com Akitas foi em 1991, por influência do então meu
sogro que, por ser natural do Japão, sempre teve Akitas em casa. Naquele
ano, havia comprado um terreno, onde hoje resido. Pretendia construir uma
casa e comentei com meu sogro que precisaria de um cão de guarda. Daí a
sugestão dele de ter um Akita. Argumentei que não conhecia a raça, quando
ele ressaltou: “Você vai morar em um bairro residencial, precisa de um cão
que seja guardião e, ao mesmo tempo, silencioso”. Perguntando como fazer
para adquirir um filhote ele mencionou que deveria procurar nos classifica-
dos de jornais. Pronto. No final de semana seguinte comprei o jornal e, pelo
único anúncio que havia de Akitas, me dirigi a um canil e lá vi a primeira
ninhada da raça de minha vida. Os filhotes estavam com idade em torno de
60 dias. Escolhi uma fêmea tigrada, que se chamava Kansai. A única máscara
preta da ninhada. Levei-a para o sítio de meu sogro, onde lá já estava sendo
construído um canil. Quando a mostramos ele disse: “Isso não é Akita”! E, eu,
indignado disse: “Como? Se tem documento e tudo?”. Para estreante que era
naquela época, “documento e tudo” significava pedigree. Depois de alguns
anos, conhecemos Victor Hugo Fernandes, um criador de Akitas, que nos
incentivou a participar das exposições e, também, a desistir da Kansai, como
cão de exposição.
Como disse, minha iniciação com a raça foi puramente por indicação. Toda-
via, desde o primeiro exemplar, minha paixão pela raça intensificou-se, o que
me levou a importar, expor e, sobretudo, criar, o que faço há 24 anos.
Foi em 1993 ou 1994. Comprei uma fêmea de São Paulo e, logo depois, um
macho. Utilizei o casal, mas fui alertado por Victor Fernandes, quando fui
transferir no Kennel, que a máscara preta era uma falta.
A raça Akita, via de regra, apresenta alguns cães com problemas de aprumos,
sobretudo no trem posterior, assim como o temperamento inseguro, que se
observa em alguns cães. São dois itens que me incomoda demais: tempe-
ramento e movimentação. Prefiro um cão que não tenha a tipicidade tão
desejada do que um cão que movimente mal ou tenha mau temperamento.
A raça Akita tem como item mais importante a sua expressão, notadamente
pela inserção correta dos olhos, a inserção e porte das orelhas, ou seja, a ca-
beça. Existe uma competição no Japão, em Akiho, que julga apenas a cabeça
e a tipicidade, não valorizando a movimentação. Devido a isto, a raça vem
perdendo em movimentação e estrutura (no Japão). Este tipo de exposição é
mais valorizado do que as da FCI e com as importações acabamos trazendo
para o Brasil estes problemas.
O Akita ideal tem que ter temperamento equilibrado, que não seja “furioso”,
que na guia possa ser tocado por qualquer pessoa. Não vejo Akitas agressi-
vos, o que acredito seja um bom trabalho dos criadores na seleção genética.
Entretanto, se observa com frequência Akitas com temperamento “fraco”,
medrosos, assustados. Particularmente, esse item me desagrada muito. Cães
covardes, assustados, medrosos, por mais típicos que sejam, eu entendo que
devem ser descartados da criação, pois estes defeitos são altamente trans-
missíveis nos acasalamentos.
A raça Akita não tem histórico de muitas doenças e, as que ocorrem, são
em níveis não preocupantes, face a sua eventualidade. Dentre as doenças
que podem ocorrer, está a displasia coxofemoral e a chamada “síndrome do
Akita”. Tanto uma quanto outra, a recomendação é a castração do cão, a fim
de evitar incidência de filhotes com o problema. Relativamente à displasia
Não entendo que seja difícil fazer uma boa criação. Primeiramente, penso
que o criador deve ter visão, “olho para cachorro”. Deve ter em mente a tipi-
cidade que lhe agrada e sair em busca de exemplares que possam produzir
o tipo almejado. Se a pergunta refere-se ao tempo que isso pode ocorrer, ou
seja atingir o tipo sonhado, efetivamente, nesse aspecto, é difícil fazer uma
boa criação. Como criador de Akitas, penso que temos que ter uma “paciência
nipônica”. O criador que ficar pulando de linhas de sangue, não fixará sua
tipicidade e, para ele, a criação efetivamente tornar-se-á mais difícil e demo-
rada, no que se refere aos objetivos que imaginava buscar.
Planejo as coberturas quando tenho fêmeas no cio que penso serem boas
para determinado padreador. Vejo o que ambos ancestrais deles ou eles pró-
prios já produziram e, vislumbrando o tipo, estrutura e temperamento que
gosto, os utilizo na criação.
Todo criador relativamente antigo usou todas essas técnicas. Eu uso e reco-
mendo, mas é preciso ter cuidado com fechamentos excessivos de linhas de
sangue e saber o momento certo de “abrir” esta linha para dar uma “limpada”
de sangue de determinado(s) exemplar(es) que aparece(m) com frequência
no pedigree.
Sem a menor dúvida que isso ocorre. Nesse caso, deve-se abandonar esse
ou aquele cão como reprodutor. Nem sempre dois cães lindos e excelentes
tecnicamente produzirão descendentes maravilhosos. Já ocorreu de usarmos
um cão lindo com várias fêmeas e jamais produzir algo parecido com ele,
como também já ocorreu de usarmos uma fêmea com vários cães e ela
produzir todas as características do padreador. É o que chamo de uma fêmea
que tem somente “ventre” e quem “manda” na qualidade é o macho.
Uso outros machos, mas costumo repetir cruzamentos que tiveram bons re-
sultados. Jamais tentaria repetir um cruzamento que desse problemas. Tive
um Akita que trouxe para tentar uma melhoria no plantel, mas ele nunca
produziu nada. Afastei-o de vez da reprodução depois de utilizá-lo em algu-
mas fêmeas sem resultados.
Acredito que a tipicidade está a cada dia melhorando, mas o ponto alto são
os aprumos. Cães que movimentam mal, me causam “desespero”. Honesta-
mente, estão fora da criação cães mal de aprumos. Acredito que alcançamos
cães equilibrados, com estrutura e ossatura desejáveis e com temperamento
seguro e confiante.
Não há relação.
De modo geral no Brasil, o nível está muito fraco. No Rio Grande do Sul não
é diferente. São poucas raças se despontando com qualidade. Diminuíram a
quantidade e a qualidade. Digo, na experiência de presidente do Kennel, que
as pessoas vão registrar as ninhadas e alguns são até criadores antigos, não
estudam o padrão da raça que criam cães e têm apenas o objetivo comercial.
Mauro Atalla
Canil Sumatra, dezembro de 1969
Titular oficial do canil: Shirley Atalla
Sempre tivemos cães em casa, tanto na casa de meus pais como na casa da
Shirley, em São Paulo. Quando ainda recém-casados, transferido profissio-
nalmente para Belo Horizonte, nos habituamos a frequentar nos finais de
semana o Mercado Central, da Praça Raul Soares. Um mercado que tinha de
tudo: doces, pertences de feijoadas... e cães entre outros animais à venda.
Com muito aperto no coração acompanhamos uma ninhada de cães por vá-
rias semanas, até que, em 1º de maio de 1968, compramos a última fêmea
que restou, com todas as doenças possíveis. A ideia foi levá-la ao veterinário
e encontrar um novo lar para ela. Parte disso foi feito. A levamos ao veteri-
nário, cuidamos, ficamos sabendo que era uma cadela da raça Poodle, que
passou a ter o pomposo nome de Boneca!! O novo lar ficou sendo o nosso
mesmo e dela, até os 16 anos!
Como todas as raças, sempre nos importou muito o Tipo. Como cães de caça
e de pelagem exuberante, que por si é atrativa, não se podia descuidar da
manutenção do Tipo para perpetuar a criação.
Sra. Shirley Atalla recebendo o diploma de árbitra das mãos de Oscar Miranda Filho,
na década de 1970.
Como cães de caça que são, não se pode imaginar um Setter sem o tempe-
ramento adequado. Oferecemos muita liberdade, disciplina, treinamento ar
livre, inclusive no campo.
Digamos que não é tão difícil se tivermos nossa mente aberta, encontrar e
fazer parcerias com criadores que tenham o mesmo propósito. Ninguém con-
segue fazer uma criação, principalmente uma boa criação, se estiver sozinho.
Impossível querer imaginar conhecer tudo sobre sua raça, linhas de sangue,
resultados de experiências não tão bem-sucedidas. Há que se compartilhar
experiências, estudar detalhes, partilhar seus conhecimentos e se abrir para
receber novos ensinamentos.
Com alegria e tristeza, sempre atento ao que esses resultados podem nos
ensinar.
Todo cuidado com a saúde dos bebês e da “mamãe”. Não é exatamente o mo-
mento de se fazer economias. Tudo tem que ser feito pelo bem-estar de todos.
Para que antes de qualquer iniciativa, procure estudar, conversar, assistir pa-
lestras, saber aonde quer chegar. Escolher a raça certa para seu gosto e suas
possibilidades. Frequentar exposições, visitar canis. Enfim, esgotar todas as
suas possibilidades de conhecimentos.
Como só criamos os três Setters, fora os primeiros Poodles, fica difícil res-
ponder.
Apenas pedir aos criadores muita seriedade com a criação, em todos os sen-
tidos. E um pedido especial quanto aos cães idosos ou fora do programa de
criação. Não os abandone sob qualquer pretexto. Eles foram os pilares que
sustentaram nosso ego, nosso desejo, nossas emoções!
ISBN 978-85-62805-89-9
ISBN 978-85-62805-89-9
9 788562 805899