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Top Breeders

Brasil
Histórias da Cinofilia Brasileira

Daniel Pinto C. M. de Oliveira


Daniel Pinto C. M. de Oliveira

Top Breeders
Brasil

Histórias da Cinofilia Brasileira

Belo Horizonte - 2018


Ficha Técnica
Copyright© 2018
Todos os direitos reservados.

Autor
Daniel Pinto C. M. de Oliveira

Projeto gráfico e diagramação


Rodrigo Cabido

Revisão ortográfica
Simone Santos

Produção e impressão
RONA Editora

Ficha catalográfica

Oliveira, Daniel Pinto Coelho Martins de


O48t Top Breeders Brasil: histórias da cinofilia brasileira / Daniel Pinto Coelho
Martins de Oliveira. – Belo Horizonte, 2018.
196 p. il.

ISBN: 978-85-62805-89-9

1.Cinofilia-História. 2.Cães-criação. 3.Boxer. I.Título.

CDU 636.08
Dedicatória

Dedico este livro aos meus pais,


Levindo Coelho Martins de Oliveira (in memoriam)
e Tereza Cristina Pinto Coelho Martins de Oliveira.
Gratidão.
Agradecimentos

Gostaria de expressar minha gratidão a todos que colaboraram com este livro.
A Confederação Brasileira de Cinofilia por acreditar neste projeto. Aos criado-
res que aceitaram o meu convite para participar desta obra e compartilhar seus
conhecimentos, aos handlers, ajudantes, árbitros, veterinários e adestradores.
Sem vocês a cinofilia não existiria! Aos amigos José Luiz Cunha de Vasconcelos
e Fernando Antonio Bretas Viana. Aos meus filhos que cresceram dividindo o
tempo que eu tinha para eles com os cães. À minha esposa, minha alma gêmea,
minha companheira Aléxia Lage que sempre me incentivou e acreditou em
todos os meus projetos. E aos cães que são tudo na minha vida!
sumário

9 Prefácio

11 Introdução

13 Sérgio Meira Lopes de Castro


Presidente da CBKC

17 Canil Sunland Boxers


Roberto Bezerra

41 Canil Par D’Ellas


Regina Lúcia Perrone

51 Canil Black Champion


Germano Soths 

61 Canil Griffin Bulldogs


Alessandro Prado Rodrigues de Oliveira

75 Canil Thunghat
Antonio José Garcia de Noronha

85 Canil Pan Clan


Bianca Sampaio Teixeira
sumário

Double M Kennel
Roberta Zeppelini
95

Hunter Jô
Anderson Quaresma
105
Canil Flutter’s
Mauro Anselmo Alves
117

Torquay Kennel
Marco Flávio Botelho
127
Canil Chaputepek Mastiffs
Carlos Flaquer
139

Canil Di Graziano
Enrique Graziano
149
Charleston Dobermanns
Luiz Fernando Ribas Silva
159

Canil Tibiquary
Pedro Armando Ramos Lang
175
Canil Sumatra
Mauro Atalla
187
8 Top Breeders brasil
PREFÁCIO

Recebi do meu amigo Daniel Oliveira a honrosa e difícil missão de, em pou-
cas palavras, apresentar essa obra tão importante para todos os amantes dos
cães, TOP BREEDERS BRASIL – Histórias da Cinofilia Brasileira.

Escrito sob a forma de entrevistas com os principais nomes da cinofilia, o


livro apresenta a história pessoal de cada um deles e seus conceitos sobre
criação, manutenção e exposição de cães de raça pura, além de oferecer ao
leitor diferentes visões sobre o tema. É uma obra para iniciantes, que po-
derão conhecer características específicas de várias raças e aprender sobre
inúmeros assuntos referentes à criação de cães, mas também importante
aos mais experientes, pelas novas ideias e conceitos citados pelos experts
entrevistados.

O livro nasce chancelado pela experiência de seu autor na criação, ex-


posição e julgamento de cães, sendo um dos mais vencedores cinófilos
brasileiros, inclusive com reconhecimento internacional. Ricamente ilus-
trado, TOP BREEDERS BRASIL – Histórias da Cinofilia Brasileira vem para
preencher a absoluta falta de literatura cinófila especializada. Além do inedi-
tismo deste belo projeto, a obra é importante na preservação da história e das
estórias da nossa cinofilia, especialmente em um país de tão carente memória.

Boa leitura!

Fernando A. Bretas Viana


Apenas um cinófilo...

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Introdução

Em 1980, quando decidi que queria criar cães, fui à procura de livros nas
livrarias de BH. Tive muita dificuldade em encontrar algum livro sobre cães.
Encontrei um livro sobre Pointers e o comprei. Não me recordo de quantas
vezes li e reli este livro; revi as fotos. Este foi meu livro de cabeceira por mui-
to tempo! Desde então, quando vou às livrarias tenho o hábito de procurar
por livros sobre cães. Infelizmente não temos muitas publicações sobre este
assunto. São poucos autores brasileiros e alguns livros traduzidos.

Há muito tempo venho amadurecendo o projeto de escrever um livro sobre


cães. Um dia, vendo as postagens no Facebook, vi um post da Sra. Kendall
Herr recomendando o livro “Keys to Top Breeding” de Pekka Hannula e Mário
Nygård. Fiquei interessado e comprei o livro. Uma leitura fascinante! Decidi
escrever o meu livro. Entrei em contato com o Sr. Pekka Hannula, contei que
ele tinha me inspirado a escrever um livro e que iria me basear no dele para
criar o Top Breeders Brasil. Ele ficou feliz em saber que serviu de inspiração
para mim!

Começo este livro com uma entrevista com o dr. Sérgio Meira Lopes de
Castro, presidente da CBKC, entidade que coordena a quinta maior cinofilia
mundial. Na sequência, reúno os principais criadores de cães do Brasil, de
diversas raças e com experiências diferentes, que através dos seus relatos
vão nos presentear com seus conhecimentos e experiências sobre a arte de
criar cães.

A criação de cães não é uma tarefa fácil! Exige muita dedicação, investimen-
to, tempo e é um aprendizado constante. Tem o lado difícil que é lidar com
as perdas e frustrações, mas temos as conquistas, realizações, vitórias e o
aprendizado que nos levam a prosseguir neste caminho da criação buscando
a melhoria genética, o temperamento correto e principalmente saúde dos
nossos cães.

Neste livro vocês vão conhecer diversos criadores, de diversas regiões do


país, suas histórias e como eles trabalham suas criações. Vocês terão a opor-

11
tunidade de aprender sobre a criação de cães com os melhores. Verão que
apesar das diferenças de métodos de criação todos se tornaram relevantes
criadores na raça escolhida. Aqui está um pouco da história da criação de
cães no Brasil, aproveitem ao máximo as experiências aqui relatadas! Tenho
certeza que elas serão relevantes para qualquer criador. Seja ele experiente
ou novato.

Nós, criadores, temos a oportunidade de conviver com estas criaturas in-


críveis. Eles nos ensinam o que é o amor incondicional, que a alegria está
em cada encontro, em cada momento que compartilhamos, e até nas horas
difíceis conseguem expressar o amor e valorizar cada momento da vida. É
gratificante a sensação de realização ao olharmos nos olhos deles e sentir
toda a importância que temos na vida deles. Como somos afortunados de
poder conviver com eles. De receber seu amor. De poder compartilhar nossas
vidas durante sua breve estadia aqui conosco!

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Top Breeders brasil

Sérgio Meira Lopes de Castro


Presidente da CBKC

Sérgio Meira Lopes de Castro 13


Conte um pouco da sua história com os cães
e sua entrada na cinofilia.

Comecei nos anos 1950, em Brasília criando cães Cocker Spaniel Inglês no
canil Cockers Hill e Dobermann no canil Dobermann Berg. Naquela época
era permitido ter dois canis. Além dessas raças, minha esposa criava Das-
chund, tivemos também Fila Brasileiro, Setter Inglês e Gordon. Atualmente,
não criamos mais estas raças.

Minha primeira exposição de cães aconteceu quando fui convidado para par-
ticipar de um evento no Rio de Janeiro, na Federação Cinológica Brasileira. Já
meu envolvimento com o BKC foi quando eu passei a ser sócio proprietário.
Desde então me envolvi na cinofilia. Comecei a ser dirigente meio que por
acaso. O Kennel Clube de Brasília estava largado e eu resolvi assumi-lo. De-
pois, concorri a eleições na CBKC onde estou presidente eleito hoje.

Com relação a me tornar árbitro, uma vez fui criticado por uma pessoa por
dar minha opinião sobre os cães. A pessoa me disse que eu não poderia opi-
nar já que não era árbitro. Aí, resolvi ser árbitro.

Comente a história da CBKC, sua evolução até os dias atuais,


suas realizações durante suas gestões como presidente.

Resumidamente, a CBKC, antes denominada Confederação do Brasil Kennel


Clube, é a sucessora dos convênios nacionais e internacionais e dos direitos
adquiridos do Brasil Kennel Clube. É uma Associação Civil sem fins lucrativos,
constituída pelas Federações Estaduais e Entidades Ecléticas Assemelhadas.

Durante este período realizamos grandes eventos como a Exposição dos 500
Anos do Descobrimento do Brasil, a Exposição Mundial de 2004, além de
algumas Exposições das Américas e Caribe, sem prejuízo de todas as outras
exposições pelo Brasil.

Também não posso deixar de ressaltar que, sob o meu comando, fomos ten-
do cada vez mais importância na cinofilia mundial. Como todos sabem, so-
mos membros da FCI há mais de 90 anos. O Brasil, através da CBKC, tem
sido seguidamente um dos cinco países que mais registram cães em todo o
sistema FCI. No ano passado registramos 150 mil cães.

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O que é CBKC, sua formação, sua função e atuação?

A CBKC é a entidade mater da cinofilia brasileira. Somos responsáveis pelos


registros de cães de raça pura, além da promoção anual de centenas de ex-
posições de cães em todo o território nacional.

Realçamos o papel do cão na sociedade através de programas sociais que


apoiamos como o treinamento de cão guia e suporte a cinoterapia.

A CBKC é formada por uma diretoria de quatro membros, além de diversos


conselhos que auxiliam a sua atuação.

Qual a importância da CBKC para a cinofilia nacional?

Estamos presentes em 100% dos Estados brasileiros, o que nos dá um gran-


de orgulho e demostra a importância e pujança da CBKC em nosso país.

Faça um panorama da cinofilia atual.

A criação nacional evoluiu bastante e hoje temos vários criadores reconhe-


cidos internacionalmente. Nossos árbitros estão cada vez mais julgando ex-
posições em todos os continentes e sendo reconhecidos pelo bom trabalho
que executam. Nossa cinofilia vem, a passos largos, ganhando espaço no
panorama internacional e o Brasil segue se destacando na criação de cães.

Que conselhos o senhor daria a um iniciante


na criação e exposição de cães?

Ao começar uma criação escolha bem suas matrizes, adquira seus cães de
canis que tenham boa reputação e, se não for possível, importe. Na hora de
escolher o padreador, escolha o melhor possível. Isso vai acrescentar quali-
dade à sua criação.

Com relação a exposições, este é um caminho difícil para o iniciante. Ele


terá que aprender as regras, como funciona uma exposição, como preparar e
apresentar corretamente seu cão, mas tenha certeza que todo o esforço será
recompensado.

Sérgio Meira Lopes de Castro 15


Comente sobre os planos da CBKC.

Estamos nos modernizando cada dia mais dentro de um planejamneto es-


tabelecido. Destaco a mudança de nossa sede, agora bem localizada e fun-
cional, nossa atuação nas redes sociais e o inicio de emissão de títulos por
e-mail. Em breve teremos ainda mais novidades. Ainda sobre o futuro, gos-
taria de ressaltar nossa vitória na escolha do Brasil para sediar a exposição
mundial de cães de 2022. A eleição na Alemanha, no ano passado, foi emo-
cionante. Faremos um grande evento em São Paulo para celebrar os 100
anos de nossa cinofilia.

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Top Breeders brasil

Roberto Bezerra, Prisco, Roberto Cláudio e Gerardo Bezerra


Canil Sunland Boxers

Canil Sunland Boxers 17


INTRODUÇÃO

Para começar a contar esta pequena história sobre o canil Sunland Boxers,
algumas considerações de ordem cinológica geral serão feitas aqui, mos-
trando o nosso trajeto e a nossa visão sobre a cinofilia, como atividade or-
ganizada dentro do mundo dos animais de estimação (pets). O nosso envol-
vimento com cães, foi iniciado dentro de nossa casa junto à família, com
minha mulher Maria das Graças e meus filhos Prisco, Beto, Gerardo e Elisa,
possuindo de início dois Dálmatas doados. Eram mãe e filho, com pedigree,
e uma pequena cadela mestiça, que pelo seu aspecto fenotípico, deveria ter
vestígios das raças Papillon e Shih Tzu. Esse envolvimento durou cerca de 5
anos. Éramos distantes, à época, do mundo dos cães de raça pura, com seus
aspectos esportivos, os desafios da criação, as suas entidades nacionais e
internacionais, a sistemática de registro de cães, a associação ao Kennel Club
e o universo das exposições. O glamouroso universo das exposições com os
juízes, os apresentadores (handlers), a preparação dos cães, as premiações,
as filmagens, as fotos de pódio, os certificados de aptidão de campeonato
(CAC), os títulos, as disputas e os rankings atraem os neófitos envolvidos com
a criação de cães. Então, conversando com os filhos, senti a cobrança: “Pai,
por quê, ao invés de somente assistirmos as exposições, não participarmos
também?” Após a concordância com a cobrança, veio como consequência o
desafio: que raça devemos escolher? Após um pequeno levantamento em
publicações do próprio Kennel Club do Estado do Ceará (KCEC), com leitu-
ra de algumas matérias e em conversas com alguns criadores, nos fixamos
sobre a raça Boxer. Algumas características desta raça, nos trouxeram uma
simpatia incondicional, pois, apesar de ser considerado um cão de guarda,
era uma raça amistosa e confiável na convivência com crianças, além de
apresentar um belo porte atlético, com substância, mas sem perder a ele-
gância. Após a definição da nossa raça, adquirimos de forma apressada uma
filhota Boxer, com pedigree, aqui mesmo no Ceará, que não apresentava ca-
racterísticas positivas de temperamento, tampouco “conformação” e beleza
para exposições.

Iniciamos registrando o nosso canil junto à FCI, em 1990, com o nome de


Sunland BR (Terra do Sol) em referência à nossa cidade de Fortaleza, marca-
da pela presença constante e bela do sol durante a maior parte do ano. Aqui,

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DALLAS. São Paulo, 2008. Foto: Edmilson Reis

um comentário: o primeiro nome que enviamos à FCI foi Canil Terra do Sol,
mas como no Brasil já havia esse canil, por coincidência, em Fortaleza, da
raça Fila Brasileiro, a segunda opção foi aceita pela FCI, que era Sunland. Os

Canil Sunland Boxers 19


atuais titulares do canil são Roberto Cláudio, pai, e os filhos Prisco, Roberto
Cláudio e Gerardo.

Nós, passaremos a relatar a oito mãos, a trajetória da nossa criação e a ma-


ravilhosa convivência com a raça Boxer.

O início
O canil começou com a chegada da nossa primeira Boxer, em 1990, chamada
Kupe do Maracaçune. “Kupita” era uma cadela sem atributos físicos que per-
mitissem sua utilização em um programa de criação mais criterioso, entre-
tanto, ela foi fundamental em nos ensinar a admirar essa raça maravilhosa e
despertar o desejo de começar um programa de criação.

O próximo passo foi a chegada, no final de 1990, do saudoso Haggler, com


nome de pedigree Haggler Manhattan King, Campeão e Grande Campeão,
trazido do canil Manhattan King em São Paulo, com pouco mais de 60 dias.
Haggler foi um cão com personalidade marcante que consolidou o nosso
desejo de realmente levar o hobby da criação mais a sério. Tinha tempera-
mento impressionante; uma ótima companhia, um grande cão de guarda e,
sobretudo, um cão que adorava participar de exposições. Fiel, carinhoso e
muito confiável... Esse era Haggler. Ele foi um marco no nosso canil, pois nos
permitiu desenvolver relações com outros criadores, ler e aprender cada vez
mais sobre o padrão da raça e conhecer o mundo do dog show. Quem nos
apoiou no início das nossas participações em exposições foi a família Uchoa
(com os pais, Eduardo e Doris e os filhos, Walderi, Wladyr, Wagner e o peque-
no Wander) que, apesar de não serem boxeristas (criavam Husky Siberiano),
nos mostraram que o envolvimento da família torna o esporte cinófilo ainda
mais agradável e agregador.

Em virtude da nova rede de contatos desenvolvida, tivemos a oportunida-


de de conhecer a tradicional criadora Ruth Carvalhedo Leite, proprietária
do Canil Quo Vadis. Em uma visita ao seu canil, conhecemos Cheirosa (Quo
Vadis Xangrila) e acabamos trazendo-a para o nosso canil onde, nas pistas,
conquistou os títulos de Campeã e Grande Campeã Brasileira e Campeã In-
ternacional. Nessa época, conhecemos os boxeristas Agnes Buchwald e seu
filho Daniel Buchwald, que funcionaram como mentores nesta fase inicial da

20 Top Breeders brasil


nossa criação. Com a ajuda dos Buchwalds, cruzamos a nossa Cheirosa com
o Campeão Americano Jacquet’s Teno Fortune. Desse cruzamento nasceu
a fêmea Sunland’s Bouquet, que foi Campeã Brasileira e se tornou matriz
do nosso canil. Nesta mesma fase de orientação dos Buchwalds, importa-
mos em copropriedade com a criadora cearense Nádia Gadelha Ponte, do
canil Constelation Boxer, o nosso primeiro boxer de nível internacional, o
Jacquet’s Mago el Encanto (Mago), se tornando o Boxer número 1 da região
Norte e Nordeste e boxer número 2 do Brasil. Seu handler, foi o nosso amigo
e veterinário Ricardo Garcia. Além disso, Mago teve papel relevante no bo-
xerismo do Nordeste, produzindo diversos filhos campeões e marcando um
estilo muito próprio: Boxers elegantes, com boas cabeças, belos pescoços
e linhas superior e inferior muito corretas. Um de seus filhos se tornou um
grande vencedor da raça no Brasil, que foi o boxer Gaiga’s Urko, sendo no
ranking, o boxer número 1 do país. Na época, obteve 22 BIS. Outro destaque
do nosso canil, foi Jenny, com nome de pedigree Jovilea’s Ima Wildthing.
Ela foi Campeã e Grande Campeã Brasileira e Grande Vencedora Nacional.
Era uma cadela oriunda dos EUA, com um temperamento maravilhoso, que
residia nos cômodos da nossa casa. Nas exposições, foi o nosso animal mais
vencedor dessa primeira fase do canil Sunland Boxers, vencendo vários BIS
em diferentes Estados do Norte e Nordeste e encantando criadores pelo seu
temperamento. Foi apresentada por nosso amigo, Wladyr, da família Uchoa.

Nesta fase do nosso canil dois machos também foram importados, Rico,
com nome de pedigree Elharlen’s Hot Topic e Dylan, com nome de pedigree
Avalon’s Venetian Valentino. Rico foi uns dos primeiros cães da criação de
Eleanor Foley a chegar no Brasil, melhor dizendo, o segundo cão Elharlen,
já que o primeiro foi da criadora paranaense Ana Maria Belanni. Ele foi um
grande vencedor da raça na região, ganhando por diversas vezes melhor do
grupo e BIS. Tornou-se também um padreador muito relevante, transmitindo
ossatura e boas cabeças aos seus filhos. Dylan, foi importado do canil Avalon
Boxers, que tinha Norra Hansen e Daniel Buchwald como proprietários.

Em 1998, época em que todos nós (eu e meus filhos) assumimos compro-
missos profissionais que nos impediam de conduzir a criação com a mesma
disponibilidade de antes, decidimos interromper a criação e sermos simples-
mente proprietários de cães dessa raça maravilhosa, sem infelizmente, criar
e expor nossos cães até o ano de 2004.

Canil Sunland Boxers 21


O recomeço

Nos últimos meses de 2004, meu filho Prisco me lança o seguinte desafio:
“Pai, o senhor não quer dar continuidade ao canil Sunland, já que o Beto nes-
ses últimos quatro anos de estudos pós-graduados realizados na costa oeste
americana, aproveitando suas folgas de finais de semana, assistiu a algumas
exposições e manteve contatos com handlers e criadores da raça boxer? Nós
(Prisco e Gerardo, meu terceiro filho) podemos dar suporte material para a
nossa retomada. Com as condições expostas, a minha resposta efusiva e
imediata foi um sonoro SIM.

De início, fizemos um apanhado do boxerismo no Brasil no final de 2004. A


primeira constatação foi a de que, quase exclusivamente, o plantel boxerista

ARETHA. Juazeiro do Norte, 2006, Foto: Bruno Santana

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brasileiro era baseado na linha canadense Elharlen, o mesmo acontecen-
do com o nosso vizinho Uruguai e com alguns bolsões na Argentina. Nada
contra a linhagem Elharlen, já que da criação brasileira dois exemplares, as
fêmeas Am. Ch. Gama Grass Kool Blackout e Am. Ch. Gaiga’s Kennel Futu-
rian Lady Di, vinham se destacando como Top Boxers nas pistas americanas,
além daqueles, descendentes de Elharlen apresentavam excelentes resul-
tados nas exposições brasileiras. Adicione-se a isso, a amizade com Eleanor
Foley, titular do canil canadense Elharlen Boxers, nossa conhecida desde a
Nacional de 1997, época em que adquirimos o nosso Rico (Can. Ch. Elharlen’s
Hot Topic), da primeira fase do Sunland Boxers – comprovação de que não
tínhamos porque ser contra a linha Elharlen. O que observamos no final de
2004 era a necessidade de abertura genética da raça no Brasil, trazendo ou-
tras boas linhagens do boxerismo americano para o nosso país.

Depois de estudarmos o estado da arte do nosso boxerismo e as condições


objetivas do funcionamento da cinofilia brasileira, sem arrogância, apenas
com um juízo de valor feito por nós, e sob responsabilidades conjuntas, algu-
mas decisões foram tomadas, sujeitas, obviamente, a erros e acertos, apren-
dizado com outros criadores e correções de rumo ao longo do nosso desafio
de criar Boxers:

1. Com base na nossa união familiar, ampliamos a propriedade do ca-


nil Sunland para além do pai Roberto Bezerra, incorporando os filhos
Prisco, Roberto Cláudio e Gerardo;

2. Decidimos importar cinco cadelas americanas e canadenses: Aretha,


Zalika, Zarina, Lua e Sol;

3. Trazer da costa oeste americana o macho Franky em regime de leasing


por um período de quase dois anos;

4. Contratar o nosso amigo e colega de colégio do Prisco, Wladyr Uchoa,


para ser nosso handler e gerente do canil;

5. Considerar as exposições como vitrine dos esforços desenvolvidos pelo


canil Sunland no que se refere às suas importações e resultados de
sua criação;

Canil Sunland Boxers 23


6. Conhecer melhor o boxerismo americano e, se possível, assistir Expo-
sições Nacionais do ABC (American Boxer Club) e algumas regionais,
já a partir de 2006. Nesta fase de reinício algumas aquisições foram
feitas.

Franky (Int. Am. Can. Br. Ch. Denevi’s Ketel One Ticket2Fun) veio para o Bra-
sil em regime de leasing com a nossa amiga Catherine Denevi-Burris (canil
Denevi Boxers), de San Diego, na Califórnia. Este exemplar disputou o ran-
king de 2007, ano em que obteve, de acordo com o Ranking Dog Show: Boxer
número 1 do país, Cão número 1 das regiões Norte/Nordeste, Cão número
10 de todas as raças no país. Obteve, também no ano de 2007, 21 BIS. Nos
deixou alguns filhos campeões, destacando-se, Don e Diva, filhos da Zarina
e Jah, filho da Sol;

Aretha (Am. Br. Ch. Backwoods What U Want Baby I Got It), adquirida do canil
Backwood Boxers do sul dos EUA, já campeã e filha de pai de mérito ame-
ricano (Am. Ch. Highrivers Taylor Made of Backwoods) e filha da fêmea do
renomado canil Rosend Boxers da California (Am. Ch. Rosend N Backwoods
Material Girl). Apesar de ter entrado em pista em poucas ocasiões, Aretha
fechou campeonato, grande campeonato e campeonato pan-americano. Ga-
nhou diversas raças, grupos e final de exposição e nos deu alguns filhos
campeões;

Zalika (Can. Br. Ch. Bayridge’s Live Wire), adqurida do canil Bayridge Boxers,
situado na costa oeste do Canadá, mas de pedigree fortemente baseado na
linhagem Berlanes, boxers que de origem, tinham no seus pedigrees cães da
Califórnia;

Zarina (Br. Ch. Denevi’s Dark Eyes Czarina), adquirida ainda filhote da nossa
amiga Cathy, titular do canil Denevi Boxers. Seu pai era um grande padrea-
dor canadense (Can. Ch. Emberstouch’s Ring O’Fire ), SOM e LOM no Canadá
e nascido na costa oeste canadense e sua mãe era da linha Telstar, também
um renomado canil da Califórnia;

Lua (Can. Br. Ch. Elharlen’s Quixotic) e Sol (Can. Br. Ch. Elharlen’s Real Mo-
ment). Ambas foram adquiridas da criadora Eleanor Foley, nossa amiga (in-
felizmente já falecida), criadora de Boxers referenciada e reverenciada. Em

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1. ZALIKA. Canadá, 2004. Foto: http://bayridgeboxersndanes.tripod.com/zalika.html


2. PARIS. Fortaleza, 2012, Foto: Edmilson Reis

todas as Nacionais de Boxers em que estivemos presentes, o “papo” com a


Eleanor sobre o boxerismo e seus personagens era prazeroso e obrigatório.
Foi na Nacional de 2006 que adquirimos essas duas cadelas. As nossas aqui-
sições tiveram por base a nova fase do Elharlen com cruzamentos baseados
no Houston (Am. Can. Ch. Elharlen’s Your Choice) Boxer destacado no Canadá
e nos EUA.

O esforço de introdução de novas linhas de sangue no boxerismo nacio-


nal e o reconhecimento a curto prazo, desse nosso trabalho passava, obri-
gatoriamente, pela fase de apresentação em exposições. Isso levou muitos
criadores, em julgamentos apressados, acharem que valorizávamos mais as
exposições do que a nossa criação.

No final desta fase percebemos que, para termos um Boxer com destaque
nacional nas exposições, era necessário maior participação na cinofilia con-
centrada no sudeste do Brasil.

A participação no sudeste brasileiro

Uma nova fase na trajetória do nosso canil Sunland Boxers começou a ser
projetada a partir de maio de 2007. Nessa época, fomos com os filhos e só-
cios do canil (Prisco, Beto e Gerardo), acompanhados do nosso amigo, handler

Canil Sunland Boxers 25


e parceiro na nossa criação Wladyr A. Uchoa, para a pequena cidade de Fort
Mitchael, no Estado de Kentucky (EUA), assistir a famosa Nacional de Boxer,
“2007 ABC National Specialty Show”.

O nosso objetivo era, basicamente, o de participarmos de todos os cinco dias


de show, compreendendo a festa do Top20, a Futurity, as Classes Especiais
(desde cães de 6 meses até 18 meses, Aberta, Criação Americana, Veteranos)
e Final da Raça com os campeões americanos. Como objetivo complementar,
tencionávamos trazer um Boxer de qualidade superior para o Brasil, quer por
aquisição ou por leasing.

Durante a Nacional, mantivemos contatos variados sobre a raça Boxer e fo-


mos apresentados àqueles que não nos conheciam. Durante as manhãs e
parte das tardes assistíamos de forma detalhada às diversas classes e, no
início de cada noite, descíamos até ao bar do hotel para novos contatos e
conversas sobre Boxers, com criadores e handlers americanos e canadenses
e, mais alguns mexicanos, argentinos, colombianos, venezuelanos e nós, bra-
sileiros.

Entre várias conversas na Nacional, tomou forma mais definitiva, a do meu fi-
lho Beto com a dra. Christa Cook (editora da revista Boxers Ring e handler de
vários Boxers destacados). Ele e Christa tinham em comum, além dos Boxers,
o fato de ambos terem obtidos seus PHD na mesma época e nos EUA, ela em
Genética Animal e ele em Saúde Pública e Epidemiologia.

A partir dessas convergências, ela confessou ao Beto a possibilidade de vir


para o Brasil, em forma de leasing, por um período de 18 meses o Dallas (Am.
Can.Mex.CH Burlwood’s Drive’m Wild Dreamweaver), na época, apresentado
pela Christa e, campeão americano, canadense e mexicano. Ele era o tercei-
ro Boxer e primeiro macho na raça nos EUA. Vimos a apresentação dele no
Top20 e ficamos bastante impressionados com sua performance em pista,
tanto em stay como em movimentação. Depois de uma longa conversa co-
nosco, a proprietária dele (Rhonda Nickels, titular do canil Burlwood Boxers)
concordou em cedê-lo no final de 2007.

Em finais de outubro de 2007, trouxemos o Dallas para o Brasil e o entrega-


mos em São Paulo, diretamente nas mãos do grande handler Divonei Rasera.

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1. TIGER. São Paulo, 2009, Foto: Edmilson Reis


2. VINNY. São Paulo, 2016, Edmilson Reis

A partir dessa época, construímos uma relação próxima, profissional e de


amizade pessoal com o casal Rasera e Paolinha. Iniciamos, a partir de no-
vembro de 2007, a nossa participação nos grandes shows da nossa cinofilia,
centrados nas regiões sul e sudeste do Brasil.

Os resultados do Dallas, no circuito brasileiro de exposições, foram muito


encorajadores para o Sunland, que passou a ser visto também como um ca-
nil de destaque na raça. Durante o ano de 2008, obteve no “Ranking CBKC”:
Boxer número 1, Melhor Cão do Grupo de Trabalho e Cão número 3 do país,
entre todas as raças. Obteve ainda os campeonatos e grande campeonatos
Brasileiro e Pan-Americano, além do título de Campeão Internacional.

Ficou marcado por todos nós o BIS na Exposição do KCSP em 2008, tendo
como juízes os presidentes do AKC (American Kennel Club, Ronald Menaker)
e da FCI (Fédération Cynologique Internationale, Hans Müller) com Dallas
tendo vencido o Grupo com o juiz R. Menaker e o BIS com o juíz H. Müller,
na nossa presença.

Canil Sunland Boxers 27


MONET. Fortaleza, 2012, Foto: Nilton Novais

A disputa da raça entre os exemplares Flecha (Flecha Gama Grass do Rancho


do Bola) e Dallas foi muito acirrada, com a maioria dos boxeristas nacionais
torcendo por Flecha, já que o mesmo era de criação nacional. Nessa época
conheci o engenheiro José Antônio Marchi dos Santos, titular do canil Ran-
cho do Bola e criador e proprietário do Flecha. Aqui, quero destacar o espírito

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esportivo e o comportamento ético e elegante do “Zé Antônio” durante toda
a disputa. Desde então, foi construída uma amizade das famílias Sunland e
Rancho do Bola, calcada na divulgação e crescimento da raça Boxer, que só
tem aumentado nos últimos anos.

Dallas foi usado em algumas fêmeas de nosso canil. Destacamos: Dallas


com Aretha, nos dando dois campeões, Taylor (Grand Taylor Sunland BR) e
Golda (Golda Sunland BR); Dallas com Lua, nos dando a campeã Fama (Fama
Sunland BR) e Logan (Fortal Sunland BR). Ainda cruzamos o Dallas com a
fêmea Arabella (Arabella Colt da Grande Lagoa), neta do campeão america-
no Adams (Am. CH. Dreamweaver Rochil Status Symbol), de propriedade do
boxerista e engenheiro José Valdo Bispo, cão com destaque na cinófila brasi-
leira que foi primeiro do ranking da raça Boxer em 1996 e 1997. O resultado
desse cruzamento nos deu as campeãs Musa (Musa Sunland BR) e Melina
(Melina Sunland BR). O Dallas também foi cruzado com a Flor (Flor Renny Li-
madoth), de propriedade do dr. Lima, médico, e dr. Daniel Uchoa, veterinário,
boxerista de destaque no Estado do Ceará, nos dando a campeã Naja (Naja
Canafistula Sunland BR). Os exemplares Logan, Melina e Taylor foram adqui-
ridos pelo o prof. Romero, titular do canil Filipéia Boxers, grande apreciador
do Boxer europeu, boxerista muito respeitado por nós, pelos conhecimentos
da raça e pela preocupação em documentar um pouco da história recente da
raça em nosso país.

No próximo capítulo mostraremos a importância de Don Mario (Mario Quiroz


Fuentes), boxerista mexicano, com fortes influências e amizades na cinofilia
americana, pelos seus ensinamentos, mas principalmente, por sua generosi-
dade e desprendimento na cessão de importantes cães de sua propriedade
para o canil Sunland Boxers.

A contribuição de um boxerista mexicano

Um ponto de inflexão aconteceu na nossa atividade de criação quando o


boxerista mexicano Don Mario Quiroz Fuentes, possuidor de relações e ami-
zades no boxerismo americano, durante a exposição nacional do American
Boxer Club (ABC) de 2008, em consequência de conversas sobre a raça du-

Canil Sunland Boxers 29


rante a mostra do ano anterior, veio até nós e de forma muito simpática e
generosa, falou da possibilidade de nos ceder por alguns meses o Campeão
Americano Suncrest’s High Flyer (Tiger). Tiger era filho do campeão america-
no Seaside’s Ewo Surf Breaker, SOM (Pai de Mérito) e neto do grande Boxer
americano, o famoso Heldenbrand’s Jet Breaker, Lom (Legião de Mérito). O
nosso sonho se concretizou quando, Don Mario e Dona Iolanda, aqui aporta-
ram junto com Tiger. As poucas vezes em que foi às exposições, teve desta-
que, sendo inclusive, na sua estreia, numa exposição da Região Nordeste, BIS
na cidade de João Pessoa, estado da Paraíba. Na nossa criação, o destaque da
presença do Tiger foi o Bruce (Sunland’s Bruce Wills), que teve por mãe, uma
filha do Tiger de nome Rani Quiroz Sunland BR, que foi cruzada com Danny
(R and G’S Mystical Dancer). Posteriormente, falaremos de Danny. Bruce, que
foi um destacado Boxer brasileiro, ganhador da Nacional de Boxer do Brasil
de 2014, que tinha a cabeça à imagem e semelhança da belíssima cabeça
do Tiger. Como dizia o nosso amigo Don Mario, esta característica era con-
sequência do efecto del abuelo materno. Em pouco tempo, Tiger retornou ao
México e Don Mario, dentro de suas características altruístas e de amante
da raça, nos trouxe o Campeão Mexicano, Monet (Claude Monet), filho do
Tiger. Monet, que desempenhou um papel muito importante para o boxe-
rismo nacional, quando por meio de uma parceria com os boxeristas, Márcio
Faria e Elizabeth Faria, do canil Airaf, aproveitando o excelente padrão das
fêmeas do citado canil, obteve descendentes com a marca Quiroz e Sunland
nos pedigrees dos filhos e filhas do Monet com fêmeas Airaf. Dos filhos de
Monet, destaca-se Messi (MD Lionel Messi Airaf Quiroz Sunland BR), Cam-
peão Brasileiro e Campeão Americano, que deu uma grande contribuição na
criação do canil Airaf. Hoje, Messi está na Índia, onde obteve destaque nas
pistas e no boxerismo indiano. Uma fêmea, filha de Monet e neta do Tiger,
que ficou no nosso canil e nos deu filhos campeões, é a Paris (I. Airaf Quiroz
Sunland BR), de propriedade conjunta com Fernando Bevilaqua, um boxeris-
ta cearense, que vem desenvolvendo um belo trabalho pela raça em parceria
com o canil Airaf e conosco. A influência dos cães de Don Mário no Sunland,
existe até hoje, já que boa parte das matrizes selecionadas em nossa criação,
da parceria com o Airaf Boxers, tem Monet e seu pai Tiger em sua terceira
ou quarta geração.

30 Top Breeders brasil


À guisa de esclarecimento no que se refere à titulação de cães e cadelas
utilizadas na reprodução, a cinofilia americana, utiliza as siglas: SOM, DOM e
LOM. A sigla SOM (Sire of Merit), cão que possui pelo menos sete filhos cam-
peões, em português, Pai de Mérito. DOM (Dam of Merit), cadela que possui
pelo menos quatro filhos campeões, em português, Mãe de Mérito. A sigla
LOM (Legion of Merit), em português, Legião de Mérito, cão que possui pelo
menos quatro filhos que são SOM ou DOM.

A entrada nas pistas da cinofilia americana

Em nossa ida para a Nacional Americana de Boxers (2009) junto com os


filhos Prisco, Beto e Gerardo e nosso handler Wladyr, tivemos oportunidade
de ver o Danny em pista, que com apenas 14 meses foi o primeiro Award of
Merit da Nacional. Tivemos um impacto nunca sentido com nenhum Boxer.
Após algumas conversações com família Steele (Gary & Michelle e sua filha,
handler, Kimberly Steele, criadora e proprietária do Danny, juntamente com

SOL e LUA. Fortaleza, 2006, Foto: Roberto Bezerra

a titular do canil R and G, Gayann Jones), resolvemos ser os principais finan-


ciadores do Danny nas pistas americanas no restante de 2009, 2010 e até
o Top20 de 2011. Em contrapartida teríamos o direito de usar o Danny com
nossas cadelas quando assim o desejássemos, sempre com monta natural,

Canil Sunland Boxers 31


nunca por inseminação artificial. Tivemos com Danny, nos EUA, dez cruza-
mentos bem-sucedidos com nossas cadelas.

No final de 2010, Danny já era, nos EUA, o Boxer macho número 1, Top 10
no grupo de trabalho, tendo obtido 37 BISS em exposições gerais. Em 2011,
ele foi o Boxer número 1, Top 10 no grupo de trabalho e Top 10 em todas as
raças. Vencedor do Top 20 do ABC (American Boxer Club), alcançou o título
de Pai de Mérito (SOM). Foi, ainda, o primeiro cão na história a obter o nível
“Platinum” entre os Grandes Campeões, o Boxer que venceu o maior número
de vezes a raça, o Boxer que ganhou mais vezes BISS em especializadas e o
pai da raça Boxer que produziu mais campeões. Em 2012, foi o número 1 em
todos os sistemas, o número 3 no grupo de trabalho e Top 10 considerando
todas as raças.

A criadora Gayann Jones, titular do R and G Boxers, coproprietária e cocria-


dora de Danny, escreveu no site “R & G Boxers” na aba dos Boxers machos
campeões, na página do Danny, identificado como: MBIS, MBISS, PGCH, CH R
And G’s Mystical Dancer, SOM, o seguinte: “We want to give a huge thanks and
congratulations to Sunland Boxers for a very successful campaign... and thank
you to all who supported and invested in Danny!!” Que em português, traduzi-
do de forma livre, significaria: “Queremos agradecer muitíssimo e parabeni-
zar o Sunland Boxers por uma campanha de muito sucesso... e agradecer a
todos que deram suporte e investiram em Danny!!

Na nossa criação, Danny nos deixou alguns filhos que se destacaram: Bruce
(Bruce Wills Sunland BR), campeão americano, campeão e grande campeão
brasileiro, vencedor de alguns BIS no Brasil e vencedor da Nacional de Bo-
xers de 2014, NICO (Quasar Sunland BR), campeão americano, campeão bra-
sileiro e vencedor de alguns BIS. Com destaque ainda para os seus filhos
campeões: Cher Denevi Sunland BR, Gigi Airaf Sunland BR, Golda Sunland
BR, Vegas Sunland BR, Zorro Sunland BR, entre outros.

Rick e o Sunland Boxers

Era dezembro de 2012, meu filho Prisco vai até Orlando com a família visi-
tar meu neto primogênito Davi, então com 16 anos, que cursava na época

32 Top Breeders brasil


RICK. Juiz de Fora, 2013, Desirée Fagundes

o segundo ano na Preparatory School de Windermere, na Grande Orlando,


estado da Flórida (EUA). Aproveita a oportunidade, e no fim de semana, vai
assistir à raça Boxer, na grande Exposição da Copa Eukanuba, no Cento de
Convenções de Orlando, juntamente com seus filhos Davi e Pedro (então
com 13 anos). Estavam presentes o nosso Danny, Macy (irmã de ninhada da
Scarlet, a fêmea maior ganhadora da raça na história do boxerismo ameri-
cano), além do King (meio irmão do Danny e ganhador de duas nacionais
americanas), e também outros ganhadores de vários raças e classificações
de Grupo. A juíza era irlandesa e criadora e filha de criadores da raça Boxer.

O ganhador da raça foi o cão Draco’s Bonfire, então com três anos, para tris-
teza dos torcedores do Danny (Prisco, Davi e Pedro). Nesse momento, Prisco
já reconhecia algumas qualidades no Rick, apelido dado por ele e aprovado
por todos nós. Segundo Prisco, que o observou ao vivo e nós apenas no vídeo
existente no site “Draco Boxers”, Rick apresentava temperamento, bela mo-
vimentação, estrutura, postura no stay e era muito flash. Nós todos acháva-

Canil Sunland Boxers 33


mos que o mesmo seria muito apreciado pelos juízes brasileiros. Entregamos
ao nosso filho Gerardo, o nosso “hispânico”, por haver estudado por um ano
na Universidade de Salamanca, na Espanha, a responsabilidade de entabular
conversações com o criador e titular do canil Draco Boxers, Jorge Pinzon,
mexicano com residência na Carolina do Norte (EUA). Vale lembrar que Rick
apresentava em seu pedigree Boxers destacados da cinofilia americana, o
que permitiria que ele também fosse usado em nossa criação como um dos
nossos padreadores. Além do mais, o Rick era Campeão Mexicano e Cam-
peão e Grande Campeão Americano. Insistentes argumentações do Gerardo
relatando nossa trajetória, enquanto boxeristas, com um certo destaque no
Brasil, e com o desejo de adquiri-lo em definitivo e não por leasing, encontra-
ram, como era esperado, uma certa resistência do seu proprietário e criador.

Após reiteradas investidas, no início de 2013, houve a concordância do Jorge


na vinda do Rick para o Brasil com propriedade definitiva para nós. Na Na-
cional Americana de Boxer de 2013 com nosso handler e amigo Wladyr, o
trouxemos para o Brasil e o entregamos diretamente para o Rasera. Até hoje
somos gratos a Jorge Pinzon. Adquirimos posteriormente as fêmeas Nicole
(Mex. Am. GCH. Dracos’s Nicole), e Christina (Draco N Sandy Hill’s Bound To
You). A carreira do Rick, em pistas no Brasil, foi muito exitosa. Na sua es-
treia, em maio de 2013, na maior exposição do Brasil (da CBKC), ele obteve
BIS com o juiz Miguel Martinez, então presidente da Federação Argentina.
Nesse mesmo ano, ganhou as duas Pré-Nacionais e a Nacional da Raça Boxer,
e apesar de ter estreado apenas em junho, obteve a primeira colocação do
ranking da raça e o quarto lugar de todas as raças.

Em 2014, foi o primeiro e único Boxer a conseguir ser o cão número 1 entre
todas as raças do Ranking CBKC. A partir de 2015, em grandes shows nos paí-
ses da América Latina, Costa Rica, Uruguai, Argentina e Peru obteve BIS em
todos. Em 2017, já com 8 anos, por apresentar uma saúde e um estado atléti-
co invejável resolvemos colocá-lo na Nacional Brasileira, e o mesmo venceu
a Pré-Nacional e a Nacional. Pelo seu estado geral, resolvemos colocá-lo
em algumas exposições seletivas até o final do ano e, como consequência,
ele foi o vencedor do Ranking da CBKC da Raça Boxer, encerrando de forma
brilhante a sua carreira nas pistas, sendo o Boxer maior vencedor de todos
os tempos no Brasil, com 90 BIS e 5 BISS, com juízes de 22 nacionalida-

34 Top Breeders brasil


des diferentes, conforme a base de dados do Ranking CBKC. Aqui, cabe um
agradecimento especial ao Rasera e à Paolinha pelo sucesso alcançado pelo
Rick. O outro lado do Rick foi a sua contribuição na nossa criação, que vem
sendo dada mais recentemente resultando em jovens cães que apresentam
características promissoras levando-se em conta o padrão da raça. Alguns
deles aparecerão no atual plantel do Sunland Boxers e serão devidamente
destacados, posteriormente, neste pequeno livro.

Uma pequena incursão no Reino Unido

A cinofilia brasileira, nos últimos cinco anos, vem apresentando algumas im-
portações de Boxers do continente europeu por alguns criadores que vêm
tentando introduzir características desses cães no nosso boxerismo. A in-
fluência, por nós recebida, está fortemente calcada no boxerismo americano,
haja vista os cães que introduzimos na nossa criação, quer por processo de
leasing ou por compra direta. Cães obtidos diretamente da cinofilia ameri-
cana por nosso canil ao longo do tempo são: Mago, Aretha, Zalika, Franky,
Zarina, Sol, Lua, Dallas, Danny, Rick, Nicole, Christina, entre outros.

Apesar de existirem grandes criadores de Boxer na Europa e a raça ter sua


origem na Alemanha, na nossa visão, os Boxers da Ilha, isto é, do Reino Uni-
do, são mais equilibrados sob o ponto de vista da conformação física, do que
os demais animais da raça oriundos do continente Europeu. Nesta direção,
recebemos informações empolgadas do nosso amigo e handler Rasera, sobre
um boxer Berwynfa’s Veni Vedi Vici, com o apelido de Vinny, extremamente
elogiado por um juiz grego de nome Yiannis Vlachos. Este exemplar tinha
como criadora e proprietária Fear Pinegar, da Inglaterra. Visando mostrá-lo
no Brasil e usá-lo de forma selecionada e experimental no nosso plantel,
bem como por outros criadores brasileiros que assim o desejassem, entra-
mos em contato com a Fear, que de pronto nos cedeu o Vinny, em forma de
leasing, na condição de enviá-lo do Brasil até Moscou para participar da ex-
posição canina mundial na Rússia em 2016. Para entusiasmo e alegria nossa
e da criadora, Vinny foi o vencedor da raça na mundial, sob as vistas dos
meus filhos e representantes do Sunland na mundial, Prisco e Gerardo, com
o meu neto primogênito, Davi, também presente em Moscou.

Canil Sunland Boxers 35


1 2

1. DALLAS. São Paulo 2008, Edmilson Reis


2. MESSI. Niterói, 2015, Foto: Ronald Rufino

No Brasil, participou de algumas exposições selecionadas, obtendo algumas


classificações de Grupo e alguns BIS. Por pouco tempo foi utilizado na nossa
criação e algumas vezes por criadores da Bahia, de São Paulo, inclusive do
Uruguai, produzindo alguns filhotes promissores.

O Sunland hoje

Visando aperfeiçoar a qualidade do nosso programa de criação, em mea-


dos de 2017 decidimos fazer uma ampla reestruturação no Sunland Boxers
envolvendo uma nova sede bem equipada para o canil, com construções e
adaptações em uma área de 7.000 m2, bem como uma seleção e ampliação
do plantel de padreadores e matrizes alinhados a um novo modelo de gestão
do canil.

O canil conta com três grandes ambientes climatizados de repouso e dormi-


da para os cães, contendo grandes caixas para transporte; sala de banho e
tosa; sala de clínica e pequenas cirurgias de atendimento veterinário; mater-
nidade; sala para exercícios dos cães com duas esteiras; piscina própria para
cães; sala de troféus; escritório para recepção de visitantes, doze corredeiras
com piso em grama artificial. Adicionalmente, contém uma ampla residência
para o gerente do canil e sua família.

O novo modelo de gestão segue as melhores práticas de criação de cães de


raça pura, para um canil do porte do Sunland. Para isto, o canil conta com

36 Top Breeders brasil


Fortaleza, 2018. Foto: Edimilson Reis.

um gerente com dedicação exclusiva, handler e criador de Boxer há vários


anos e que reside no próprio canil, desde janeiro de 2018, o conhecido e
conceituado handler e criador Marcos Carreiro dos Santos. Como veterinária,
também com dedicação exclusiva ao canil, temos a esposa do Marcos San-
tos, que é a também conhecida Meire Santos. Para nosso gáudio, tivemos
a ventura de contarmos com as competências e as habilidades necessárias
em uma mesma família de boxeristas. Este modelo possibilita melhora de
preparação física e treinamento dos cães, assim como melhores cuidados
com a saúde canina.

As reuniões familiares com os proprietários do canil (Roberto, Prisco, Beto e


Gerardo) desde o acompanhamento das obras, tornaram-se mais amiudadas
depois da vinda do Marcos e da Meire, com um melhor acompanhamento
da nossa parte no desenvolvimento dos nossos animais, o que possibilitou
melhor planejamento dos próximos passos na nossa criação.

Outra mudança importante na gestão foi a abertura dos novos canais de


comunicação com outros criadores, por meio da atualização no nosso site e
criação de uma página informativa no Facebook, com inclusão de novos con-
teúdos, diariamente, contendo novidades sobre o canil, comentários sobre o
padrão da raça e informações gerais e curiosidades sobre a raça. Atualmen-
te, mantemos em nosso canil diversos cães de criação nacional com linha de
sangue baseada no canil Sunland e em parceria com o canil Airaf, de proprie-
dade de Márcio e Beth Faria.

Canil Sunland Boxers 37


Na fase atual temos: Machos - Rick (Am.Br.GCH. Grande Vencedor Nacional
Draco’s Bonfire), Zico (Br.GCH. Zico Airaf Sunland BR), Inca (Br.CH. Inca Sun-
land BR), Dante (Mister Dante Gaiga’s Sunland BR) e Nemo (Nemo Dracos
Sunland BR); Fêmeas – Christina (Br. GCH. Draco N Sandyhills Bound To
You), Vogue (Vogue FB Sunland BR), Yaya (Yaya Sunland BR), Katrina (Ka-
trina Gaigas Bellaboxer), Valeria (Airaf’s MZ Brenda Lee), Blackout (Airaf’s E
Sunland’s BR MV Blackout), Dakota (Airaf’s E Sunland’s Dakota Too), Scarlet
(Scarlet Sunland do Rancho do Bola), Yala (Airaf’s E Sunland BR BD Yala),
Lady (Lady Sunland BR), Cora (Madame Cora Gaigas Sunland BR), Eve (Airaf’s
BL Eve Hewson), Nina (Nina Draco Sunland BR). E, mais recentemente, a
fêmea americana Jivago (Encore’s Jivago). Seguem algumas fotos do canil e
dos nossos cães atuais.

Fortaleza, 2018. Foto: Edimilson Reis.

Alguns comentários

A raça Boxer no Brasil vem apresentando uma queda sistemática em nú-


mero de registros, haja vista que no ano 2000, era a nona raça em número
de registros e, em 2017, foi a 40ª raça em registros. Eu diria, então, que não
está melhor em termos de preferência entre os cinófilos. Na criação do Bo-
xer, a trilogia (Temperamento, Conformação e Saúde) deve ser a base entre
todos os boxeristas. Na nossa criação, dependente dos padreadores e matri-
zes possíveis usamos por ordem, linebreeding, inbreeding e outcross sempre

38 Top Breeders brasil


buscando aproveitar e melhorar a nossa base a partir de 2005, sem, contudo,
abandonarmos completamente a nossa linha inicial de criação, e sim, melho-
rando-a. Isso tudo usando um pouco de intuição (que se mistura com o nosso
conhecimento sobre a raça) e muito de planejamento.

Aos iniciantes, de forma humilde, eu passaria os seguintes conselhos: a) Só


comece se tiver amor e conhecimento do Boxer como a raça ideal para você;
b) Escolha de preferência fêmeas, de canis conhecidos e respeitados; c) Tra-
balhe na criação dentro da trilogia (Temperamento, Conformação e Saúde);
d) Use as exposições como forma de aprendizagem e interaja com outros
boxeristas; e) Trabalhe a criação de forma planejada dentro dos recursos que
você possui ou pode adquirir.

Canil Sunland Boxers 39


40 Top Breeders brasil
Top Breeders brasil

Regina Lúcia Perrone


Canil Par D’Ellas, desde 1973

Canil Par D’Ellas 41


Gostaria de dizer que nada seria possível sem a ajuda e a belíssima apre-
sentação de meus cães pela minha filha, handler, e co-proprietária do canil,
Fabiana Perrone.

Fale um pouco sobre como começou sua história com os cães.


A minha primeira raça foi Yorkshire. Em 1989 comecei a criar Shih Tzus.

Como e quando começou a criar?


Meu primeiro cão foi um cooker spaniel inglês que ganhei do meu primo José
Raja Gabaglia, um grande criador da raça, e quem era o handler dele na época
é o hoje grande Juiz Jaime Martinelli.

Por que escolheu a raça Shih Tzu?


Quando me casei tive mais liberdade de ter mais cães e comprei meu primei-
ro Yorkshire, que coloquei em exposições. A partir daí, não parei mais. Já ti-
nha meus Yorkshires desde 1973 e, em 1989, fui assistir às especializadas da
raça em Nova York e também em Westminster. Quando a raça Shih Tzu, que
eu não conhecia pessoalmente, entrou em pista, me apaixonei de imediato.
E nesse mesmo ano comprei meu primeiro Shih Tzu, o Campeão Americano
Cooper Penny Saint He Ain’t (Christopher), que foi o segundo melhor cão de
todas as raças no Brasil e o primeiro Award of Merith da Nacional de Shih
tzu na Califórnia.

Quais faltas você aceita e quais não aceita na sua criação?


Posso falar das que não aceito: boca extremamente prognata ou ágnata;
cauda de Pug; olhos estrábicos; Shih Tzus agressivos, pequenos e abaixo do
padrão, com crânio pequeno e maxilar estreito. Por outro lado, posso relevar,
mas não aceitar, o aparecimento – mesmo que ligeiramente – do branco
dos olhos; boca com os dentes ligeiramente irregulares, mas tem que ter
prognatismo leve.

42 Top Breeders brasil


Ch, grdch. Ch. int. ch, panamericano Gr. Ch. panamericano
e Am.ch. Par D”Ellas Bartholommeo

Canil Par D’Ellas 43


O que é importante na raça que você escolheu?
As cabeças de meus Shih Tzus. Gosto de crânio e maxilar largos, com a linda
expressão suave que o Shih Tzu tem que ter.

Você acha que a raça está melhor hoje?

Não. Antigamente haviam criadores que selecionavam muito mais a criação.


Hoje, com raras exceções, criam somente para venda, não visando a melho-
ria da raça. Vejo exemplares com faltas gravíssimas, mas como se tornou
popular por ter um maravilhoso temperamento, cada vez mais os péssimos
criadores diminuem o tamanho, criam cães despigmentados, cabeças míni-
mas etc.

Ch Par D’Ellas Sasha. Par D’Ellas Khaleesi of the Great Sea.

Qual a importância do temperamento da raça


e como você trabalha para mantê-lo?

É muito importante, pois um cão sem temperamento passa geneticamente


isso para os filhotes e também se torna um cão tímido. Essa timidez e esse
medo das pessoas podem fazer o animal ficar agressivo para se defender.
Procuro sociabilizar o filhote com as pessoas da casa, treiná-los na guia e
levá-los para a rua para não terem medo de nada.

44 Top Breeders brasil


Ch Par D ‘Ellas Sasha.

Qual a importância do controle de doenças genéticas na


raça e o que é feito para manter este controle?

Se em um acasalamento aparecer algum problema genético nos filhotes,


esse acasalamento não deve ser repetido. Se um dos dois cães vier a ter
algum problema genético com seus filhotes com outro padreador ou matriz,
esse cão deve ser castrado e excluído do programa de criação.

Por que é difícil manter uma boa criação?

A boa criação deve ser estudada e planejada. É importante estudar os pedi-


grees e programar os acasalamentos. Tem que haver um estudo para se ter
uma boa criação. Sem isso, a pessoa vai se tornar mais um péssimo criador.

Como você utiliza o pedigree?

Eu utilizo sempre buscando através desse estudo um bom tamanho, lindas


cabeças e que meus cães sejam sempre reconhecidos pela sua tipicidade.

Canil Par D’Ellas 45


Como e quando você planeja um cruzamento
e quais critérios utiliza para escolher um padreador?

Planejo com o estudo dos pedigrees e os meus padreadores têm que ser
grandes campeões. Não uso padreadores que não tenham passado por ava-
liações de juízes renomados.

Ch Gr Ch. ch. inter Ch panamericano Am. ch. Smoking.

46 Top Breeders brasil


Você consegue bons padreadores no Brasil?
Quando usa padreadores do estrangeiro, como faz a busca?

Sim, eu uso os meus. No Brasil existem padreadores excelentes, dos raros


criadores que considero idôneos. Quando escolho um padreador no estran-
geiro estudo o pedigree e também a tipicidade que gosto. Geralmente com-
pro no exterior, faço um leasing de um ano.

Você usaria um padreador que ninguém tenha utilizado?

Se gostasse da tipicidade, do temperamento e do pedigree usaria.

O que você usa: inbreeding, linebreeding ou outcross?

Geralmente linebreeding e poucas vezes o outcross. Acredito que às vezes é


necessário para não fechar demasiado a linha de sangue.

Ch Gr Ch Ch panAm. ch Inter. Par D’Ellas Pharaoh.


Ch Gr. Ch. ch. panam. ch. internacional e Am. ch. Par D’Ellas Bartholommeo.

Existe uma hora em que é necessário abandonar uma linha


de criação? Isto já aconteceu com você?

Sim, Já trouxe um padreador do exterior que geneticamente não me deu


bons frutos. Então abandonei essa linha e não fiquei com nenhum exemplar
de sua descendência.

Canil Par D’Ellas 47


Nas ninhadas sempre temos surpresas.
Como você avalia e lida com as boas e as ruins?

As boas são sempre bem-vindas, motivo de muita satisfação para qualquer


criador. As ruins me dão uma tristeza muito grande, pois por vezes coloca-
mos grandes expectativas e nos dá um sentimento de frustração.

Ch. Gr Ch. ch. panam. Ch. internacional. Grande vencedora nacional


Par D’Ellas Fergie (Maya).

Como você cuida das ninhadas? O que é mais importante?

Por sorte tenho dois filhos veterinários que acompanham praticamente to-
dos os dias minhas ninhadas. Meus bebês são pesados semanalmente para
acompanhar seu desenvolvimento, tomam três doses de vermífugo e depois
começam o ciclo de vacinas. São feitos também exames de fezes. Sempre o
mais importante é a saúde dos filhotes.

48 Top Breeders brasil


A que se deve o sucesso na criação?

Juntos, planejamento e instinto quando bem usados podem ser um grande


sucesso.

Que conselhos você daria a um iniciante?

É preferível ter poucos e bons cães do que pensar em ter muitos para ter lu-
cro em vendas. Firmar-se numa raça leva tempo e tem que ter muita paciên-
cia e perseverança. Compre bons cães de pessoas idôneas, não saia mistu-
rando várias linhas de sangue de uma vez só e lembre-se que ofertas baratas
só trazem problemas. Participe de exposições, assim você terá as avaliações
necessárias para seus cães.

Ch.gr,ch.ch.e Gr.ch.panam.e Am.ch.Par D’Ellas Batholommeo

Canil Par D’Ellas 49


Qual o ponto alto da sua criação? Quando você olha para
ela, o que acredita ter aprendido ao longo destes anos?

Tipicidade. Meus cães têm um tipo, cabeça, tamanho e expressão que são
típicos do meu canil.

O que você espera alcançar com a sua criação?

Sempre o mais perto possível da perfeição, embora saibamos que a perfei-


ção completa não existe, uma vez que lidamos com seres vivos (e nada é
completamente perfeito).

Você vê algum benefício em criar mais de uma raça?

Sim. Crio Yorkshire por amor à raça, pois foi a minha primeira e nunca vou
deixar de tê-la, mesmo tendo em grande maioria os Shih Tzus.

50 Top Breeders brasil


Top Breeders brasil

Germano Soths 
Canil Black Champion, fundado em 1990.

Curiosidade: ser filho de alemão com linda mulata brasileira


e criar uma raça alemã no Brasil.

Canil Black Champion 51


Fale um pouco sobre como começou sua história com os cães.

Desde criança aprendi com meu pai que amava cães, o Sr. Antônio Soths –
que era um cinófilo –, a respeitar e amar os cães. Sempre tenho os cães como
parceiros.

Como e quando começou a criar?

Desde criança crio cães. Começamos com Pastor Alemão, Dobermann, Fila,
Buldogue Inglês e Pug. Mas quando conheci o Rottweiler, foi paixão à pri-
meira vista.

Por que escolheu a raça Rottweiler?

Escolhi a raça Rottweiler por ser um cão completo e imponente, ou seja, é


um cão de companhia, de guarda, muito leal, que posso confiar plenamente
e com temperamento ímpar.

Quais faltas você aceita e quais não aceita na sua criação?

Aceito faltas leves, que não irão me comprometer na criação. Não aceito
falta desqualificante.

O que é importante na raça que você escolheu?

Em primeiro lugar saúde; em segundo, o temperamento; e em terceiro, o


padrão da ração.

Você acha que a raça está melhor hoje?

Antigamente era melhor porque tínhamos muitos criadores. Hoje vejo mais
compradores e imitadores. 

52 Top Breeders brasil


Qual a importância do temperamento da raça
e como você trabalha para mantê-lo?

Temperamento é tudo. Trabalhamos para manter estas características fa-


zendo treinamentos específicos, sempre para o melhor desempenho do cão.

Qual a importância do controle de doenças genéticas na


raça e o que é feito para manter este controle?

Saúde em primeiro lugar, sempre no controle de displasia coxofemoral e


cotovelo; bem como doenças hereditárias; e JLPP.

Canil Black Champion 53


Qual o ponto alto da sua criação? Quando você olha para
ela, o que acredita ter aprendido ao longo destes anos?

Ganhar uma Nacional, um Rottminas, APRO, Rottrio, Nordestão com cães de mi-
nha criação, ver mais de 12 gerações do meu canil em pista: isso não tem preço!

O que você espera alcançar com a sua criação?

Tenho em mente aquilo que busco, um cão completo em tudo! Vamos buscar.

Você vê algum benefício em criar mais de uma raça?

Vejo muitas pessoas que criam muitas raças, mas eu não consigo focar em
outra raça a não ser o Rottweiler. Assim, procuro executar meu trabalho com
excelência.

Local, ano, nomes e crédito do fotógrafo

54 Top Breeders brasil


Canil Black Champion 55
Por que é difícil manter uma boa criação?

Porque a criação não é ciência exata. Criar é ter bons olhos para buscar os
cruzamentos certos, sempre visando às melhorias na raça, ter sensibilidade e
paciência, sabendo que o resultado nem sempre vem nas primeiras gerações.

Como você utiliza o pedigree?

Gosto do pedigree alemão por ser eficiente, tem mais informações, tem uma
mini súmula com todos os cães do pedigree. Isso facilita para não somarmos
características indesejáveis. No Brasil não temos esse tipo de mecanismo,
infelizmente, mas cabe a nós corrermos atrás das informações, e o pedigree
facilita muito nesse quesito.

56 Top Breeders brasil


Como e quando você planeja um cruzamento
e quais critérios utiliza para escolher um padreador?

Meus cruzamentos são baseados naqueles que já deram certo com as linhas
de sangue, também não somando defeitos de estrutura e temperamento.
Sempre estudo as linhas e tenho um livro de meus cães que me falam o que
eles passam de qualidades e defeitos.

Você consegue bons padreadores no Brasil?


Quando usa padreadores do estrangeiro, como faz a busca?

Temos dois cães importados da Alemanha, Yavier von der Burg Weibertreu e
Bax von Den Grindweisen, ambos com Ztp e IPO prova de trabalho, além de
nossos padreadores nascidos no canil. Buscamos sempre padreadores que
tragam as melhorias que buscamos nas nossas fêmeas.

Canil Black Champion 57


Você usaria um padreador que ninguém tenha utilizado?

Usaria, desde que esse padreador tenha todos os laudos de exames e tenha
aquilo que eu busque no momento.

O que você usa: inbreeding, linebreeding ou outcross?

Gosto muito de linebreeding e outcross. Inbreeding nunca deu certo no meu Canil.

Existe uma hora em que é necessário abandonar uma linha


de criação? Isto já aconteceu com você?

Nunca abandonei uma linha de sangue, pois sempre busquei correção da mesma.

Nas ninhadas sempre temos surpresas.


Como você avalia e lida com as boas e as ruins?

As boas mantemos e buscamos melhorar mais ainda, as ruins tiramos da criação.

Como você cuida das ninhadas? O que é mais importante?

Há muitos anos não manipulo as ninhadas. Vejo que o ser humano vem sem-
pre manipulando, e, assim, quebrando uma cadeia da natureza.

A que se deve o sucesso na criação?

Instinto, planejamento, aplicação e persistência. Muitas coisas vão acontecer,


ruins e boas, e ambas situações servem para amadurecimento e aprendizado.

Que conselhos você daria a um iniciante?

Independente das dificuldades, jamais desista de seus sonhos.

58 Top Breeders brasil


Canil Black Champion 59
Algum comentário que gostaria de acrescentar?

Seria um agradecimento. Primeiramente a Deus e à minha família, espo-


sa Aliandra Soths e minhas filhas Luiza Soths e Rafaela Soths por estarem
sempre ao meu lado, compreendendo minhas ausências pela entrega e dis-
ciplina ao meu trabalho. Entendendo que o tempo dedicado à minha função
visa galgar os nossos objetivos, que é ter o reconhecimento da criação pelas
qualidades e excelência em vários lugares, do Brasil e do mundo! Agradeço
também a oportunidade por poder participar desse projeto, que ė um incen-
tivo a mais para os criadores.

60 Top Breeders brasil


Top Breeders brasil

Alessandro Prado Rodrigues de Oliveira


Canil Griffin Bulldogs, desde 1980

CANIL GRIFFIN BULLDOGS 61


O Canil Griffin Bulldogs teve início quando o meu pai, o saudoso Herculano
Alfredo Rodrigues de Oliveira, motivado por uma paixão incomensurável. e
desenfreada pela raça Bulldog Inglês. Ele adquiriu seu primeiro Bulldog de
nome Grey Griffin em 1980, que deu nome ao canil. Assim, o Griffin Bulldogs
existe há 38 anos, sempre criando exclusivamente a raça Bulldog Inglês,
sendo um dos responsáveis pela introdução da raça no Brasil e um dos mais
conceituados canis na sua criação no país. Inicialmente chamado de Real
Griffin Kennels, por motivos de ordem particular, no ano de 1997, o canil
mudou para o atual nome.

No início da criação, por causa do nosso clima tropical, diziam que não seria
possível criar Bulldog Inglês no Brasil. De fato, o calor intenso é um dos
maiores vilões para este animal, mas o amor do Sr. Herculano pela raça foi
mais forte que as opiniões contrárias e viu-se que o Bulldog se adaptava
perfeitamente ao nosso clima.

Assim, entusiasmado com a raça, em 1984, o Sr. Herculano dirigiu-se aos


Estados Unidos a fim de assistir a Exposição Nacional Especializada da Raça
no “Bulldog Club of América”. Nesta ocasião, ele adquiriu seu primeiro pa-
dreador importado, Chelseas Sweet Cherokee Kid, do conceituado e famoso
criador americano Cody T. Sikle, proprietário do canil Cherokee.

A partir daí e ainda mais empolgado, em suas várias outras viagens para os Es-
tados Unidos, Inglaterra, Canadá e Argentina, adquiriu inúmeros outros Bull-
dogs machos e fêmeas para seu plantel, dos quais posso destacar os seguintes
exemplares: Br. Gr. Ch. Chelseas Sweet Cherokee Kid (Estados Unidos); Am. Ch.
Beauties Cherokee Good Girl (Estados Unidos); Am. Ch. Vin Rose’s of Bottoms
Up (Estados Unidos); Dayse Delta of Kelly Road (Estados Unidos); Melega of
Afrika’ans White Star (Argentina); Ronald Cherokee (Estados Unidos); Shack-
N-Lo Miskelly Candy (Estados Unidos); Jou Jou Shackleford (Estados Unidos);
Thunder Bay’s Irish Mist (Estados Unidos); Thunder Bay’s In The Buff (Estados
Unidos); Royal Gift of Imperious (Estados Unidos); Exotic Gift of Imperious (Es-
tados Unidos); Am. e Br. Ch. Shack-N-Lo Gorgeous George (Estados Unidos);
Am. e Can. Ch Tonbrays Highland Laddie (Canadá); Downcounty Lucky Strike
of Foresquare (Inglaterra); Seabourne Golden Girl of Foresquare (Inglaterra); e
Am. e Br. Ch. Tiffany’s Noble as Hell (Estados Unidos).

62 Top Breeders brasil


Por tudo isso, sem falsa modéstia, acredito ter sido meu pai, Sr. Herculano
– a quem nesta oportunidade rendo minhas homenagens, por uma vida de
tamanha dedicação e amor pela raça Bulldog Inglês – o criador que mais im-
portou exemplares desta raça, não só dos principais centros cinófilos, como
dos principais canis da época, contribuindo assim, sobremaneira, para o seu
aprimoramento e divulgação em nosso país.

Cabe contar que a primeira vez em que vi pessoalmente um Bulldog Inglês


foi em companhia do meu pai, quando da aquisição de Grey Griffin. Lembro
de ter rido ao vê-lo caminhando em nossa direção, com aquela movimen-
tação peculiar e características próprias da raça, e que apesar da cara de
poucos amigos, o Bulldog é definido por Fiorenzo Fiorini como “belíssimo
não obstante sua aparente feiura”. Dessa forma, confesso, foi amor à primei-
ra vista, não me dando conta que num determinado momento modificaria a
minha vida.

Herculano com Am.Ch. Shack-n-Lo Gorgeus George, no escritório do canil.

Esse momento chegou de uma forma triste, com o falecimento do meu pai,
em maio de 2004. O confortante, de certa forma, veio com os próprios Bull-
dogs. Assim, eu que já acompanhava a criação da raça, com o falecimento

CANIL GRIFFIN BULLDOGS 63


dele, assumi a responsabilidade do canil e estou dando continuidade ao tra-
balho de meu pai, fazendo com que meu amor, carinho e admiração pelos
animais só cresça a cada dia. Gosto de falar que minha criação de Bulldogs
é um hobby que me dá extremo prazer e me faz relaxar e esquecer a minha
profissão de advogado e corretor de imóveis.

Logo após o falecimento do Sr. Herculano, contando com a ajuda da minha


namorada, hoje esposa, Fátima Oliveira, que sempre me acompanhou nessa
jornada, comecei a levar às exposições um Bulldog da minha criação e pro-
priedade, Showtime Fabulous Griffin Bulldogs. Ele obteve todos os títulos de
beleza, consagrando-se Campeão, Grande Campeão, Campeão Pan-america-
no, Grande Campeão Pan-americano e Campeão Internacional. Como resul-
tado da sua campanha, no ano de 2004, foi considerado o Bulldog número 2
do Brasil do ranking CBKC; Dogshow e Abrabull (este último, clube especia-
lizado da raça no Brasil). O sucesso dele só fez aumentar meu entusiasmo.

E assim, como meu falecido pai, desde 2006, praticamente todos os anos te-
nho ido às Exposições Nacionais Especializadas da Raça no “Bulldog Club of
America”, bem como a algumas Exposições Nacionais Especializadas da Raça
patrocinadas pelo Club Canófilo Mexicano, além de algumas Exposições Es-
pecializadas da Raça na Inglaterra e na Exposição Mundial de 2005, ocorrida
na Argentina, a fim de manter-me sempre informado e atualizado visando
aprimorar a qualidade da raça no Brasil e da minha criação. Vale ressaltar
que todas essas viagens e exposições ajudaram-me a diferenciar o ruim do
médio, o médio do bom e o bom do ótimo exemplar. Enfim, adquire-se muita
experiência e ensinam muitas sutilezas da criação.

Novos animais

Fato é que, nessas viagens, acabei por importar mais alguns Bulldogs (ma-
chos e fêmeas) e sêmen de padreadores americanos para o aprimoramento
do meu plantel, dentre os quais posso destacar: sêmen do Multi Biss, Bis, Am.
Ch. Cerokee Legend Rock (Estados Unidos); sêmen do Multi Biss Am. Ch.; Am.
Gr. Ch. Newcomb’s Konner J (Estados Unidos); Mex. Ch. Alca’s Sabu (México);
Rocso Tequila (México); Mex. Ch. e Br. Ch.; Br. Gr. Ch. Ramstein Camarillo

64 Top Breeders brasil


(México); Br. Ch., Gr.Ch.Br. e Ch.Pan Reyna Âmbar Hernández (México); e,
mais recentemente, Camelot’s Garnet of Open Skyes (Estados Unidos).

O Canil Griffin Bulldogs está localizado na cidade de Jundiaí (SP) e a criação


se dá em uma chácara com área de 36.000 m2, toda arborizada e cercada,
possuindo um clima ameno e próprio para a criação da raça.

Alessandro com os inúmeros prêmios recebidos ao longo da criação.

Entre os títulos mais importantes conquistados pelos animais do nosso ca-


nil estão: 1985/1986, de nossa propriedade o Bulldog número 1 do Brasil
(ranking CBKC) – Chelseas Sweet Cherokee Kid; 1992/1993/1994/1995, de
nossa propriedade, o Bulldog número 1 do Brasil (ranking ACB) – Shack-N-Lo
Gorgeous George; 1997/1998 – Melhor Canil Criador da Raça (ranking CBKC);
1999, de nossa propriedade, o Bulldog número 2 do Brasil (ranking Dogshow)
– Tiffany´s Noble as Hell; 2001/2002/2003, de nossa criação, o Bulldog nú-
mero 1 do Brasil (ranking CBKC e Dogshow) – Willbert of Griffin Bulldogs;
2003, de nossa criação, o Bulldog número 4 do Brasil (ranking Dogshow) -
Brittania of Griffin Bulldogs; 2004 - Melhor Canil Criador da Raça (ranking
Dogshow) e 2° Melhor Canil Criador da Raça (ranking CBKC); 2004,  de nossa
criação e de nossa propriedade, o Bulldog número 2 do Brasil (ranking CBKC;
Dogshow e Abrabull) - Showtime Fabulous Griffin Bulldogs; 2004, de nossa

CANIL GRIFFIN BULLDOGS 65


criação, os Bulldogs números 3 e 4 do Brasil (ranking Dogshow) - Gladia-
tor Griffin Bulldogs e Sissi Arrogant Griffin Bulldogs; 2005, de nossa criação
e de nossa propriedade, o Bulldog número 2 do Brasil (ranking Dogshow
e Abrabull) e 3° (ranking CBKC-Nacional), 2° do Estado de São Paulo e 1°
do Estado das Minas Gerais (CBKC) - Showtime Fabulous Griffin Bulldogs;
2006, de nossa criação e de nossa propriedade, o Bulldog número 1 do Brasil
(ranking Abrabull), 1° (ranking Osso de Ouro), 1° (ranking Kennel Clube ABC),
2° (ranking Dogshow) e 4° (ranking CBKC) - Showtime Fabulous Griffin Bull-
dogs; 2007, de nossa propriedade, a 2ª melhor fêmea jovem do Brasil (em
apenas 3 meses frequentando exposições), (ranking CBKC e Dogshow), 4°
melhor Bulldog jovem (entre machos e fêmeas ranking CBKC) e 5° melhor
Bulldog jovem (entre machos e fêmeas ranking Dogshow) – Reyna Ambar
Hernandez; 2008, de nossa propriedade, a fêmea vencedora da classe aber-
ta da 5ª Exposição Nacional Brasileira da Raça Bulldog Inglês, ocorrida em
01.06.2008, julgada pela juíza e criadora da raça Sra. Elizabeth Hugo (EUA),
proprietária do canil Hug-O-Bull – Reyna Ambar Hernandez; 2008, de nossa
criação e propriedade, o vencedor do 3° Match Internacional ocorrido em
31.05.2008, junto a 5ª Exposição Nacional Brasileira da Raça Bulldog Inglês,
julgado pelo árbitro/criador da raça Jack Milan (EUA) – Griffin Bulldogs King
Alfred; 2008, de nossa criação, o filhote número 1 do Brasil (ranking Do-
gshow) – Griffin Bulldogs Moe (apelidado de Willy Jr.); 2009, de nossa cria-
ção e de nossa propriedade, o Bulldog número 1 absoluto do Brasil (ranking
CBKC e Dogshow – criação nacional e importada); número 3 do Brasil sobre
todas as raças (ranking Dogshow) e número 4 do Brasil sobre todas as raças
(ranking CBKC) – classe filhote – Griffin Bulldogs Pumpkin Head; 2010, de
nossa criação e propriedade, o vencedor do 5° Match Internacional ocorrido
em 11.04.2010, junto a 7ª Exposição Nacional Brasileira da Raça Bulldog In-
glês, julgado pela juíza e criadora da raça Rhonda Cavett (EUA) – Griffin Bull-
dogs Pumpkin Head; 2010, de nossa criação e propriedade, a melhor fêmea
da raça Bulldog Inglês de Criação Nacional (ranking CBKC e Dogshow); me-
lhor Bulldog da raça (entre machos e fêmeas) de Criação Nacional (ranking
Abrabull) – Griffin Bulldogs Melbourne; 2010, Melhor Canil Criador da Raça
(rankings CBKC, Dogshow e Abrabull); 2011, de nossa criação e propriedade,
o melhor Bulldog da Exposição de Criação Nacional da Raça, ocorrida em
10.04.2011, junto a 8ª Exposição Nacional da Raça Bulldog, julgada pelo ár-

66 Top Breeders brasil


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Multi BISS, BIS, Int. Ch. Showtime Fabulous Griffin Bulldogs
Foto: Johnny. CANIL GRIFFIN BULLDOGS
bitro e criador inglês Kevin Davis (canil Mystyle/Ocobo – Inglaterra) – Griffin
Bulldogs Melbourne.

• Ranking CBKC – Estado de São Paulo: 2005 = 2° melhor exemplar da


raça bulldog;

• Ranking CBKC – Estado de Minas Gerais: 2005 = 1° melhor exemplar


da raça Bulldog;

• Ranking Dogshow – Estado de São Paulo: 2004 = 1° melhor criador


da raça e 2° melhor exemplar de Bulldog; 2005 = 1° melhor criador
e 2° melhor exemplar da raça Bulldog; 2006 = 2° melhor criador e 1°
melhor exemplar da raça Bulldog;

• Ranking Dogshow – região dos Estados do Espírito Santo, Minas Gerais,


Distrito Federal e Centro-Oeste: 2004 = 3° melhor criador da raça; 2005
= 5° melhor criador da raça e 2° melhor exemplar da raça Bulldog.

Cabe salientar, ainda, que foi concedido ao saudoso Herculano Alfredo Ro-
drigues de Oliveira o título de mestre de criação da raça Bulldog Inglês, pela
Associação Cinológica Brasileira (A.C.B.), através do seu então presidente, o
conceituado Sr. Jaime Martinelli.

Se tal não bastasse, em homenagem ao Sr. Herculano, o troféu dado pela


Abrabull, Clube Oficial da Raça Bulldog Inglês no Brasil, ao melhor criador da
raça, já levou o nome dele: Troféu Herculano Alfredo Rodrigues de Oliveira.

Cuidados com o plantel

Os cuidados dispensados aos meus cães são constantes na busca de um


aprimoramento criterioso do plantel, a fim de se alcançar cães de estrutura
correta, excelente saúde e temperamento, de acordo com o padrão oficial da
raça, o que na minha opinião são os pontos mais importantes a serem segui-
dos para uma boa e consciente criação. Por essa razão, meus funcionários
são rigorosamente orientados quanto aos cuidados físicos, médicos e ali-
mentares do plantel, regra essa que o Griffin Bulldogs não abre mão. O canil
conta com a atenção de um médico veterinário de confiança, que sempre que
há necessidade, nos orienta e trata os cães.

68 Top Breeders brasil


Ressalto que não gosto, mas tolero, determinadas faltas leves estéticas e de
estrutura, mas somente as faltas que eu tenha certeza que possam ser corrigi-
das em cruzamentos posteriores com outros exemplares. Por esta razão, pro-
curo verificar quais são os exemplares que mais e melhor transmitem aquela
característica desejada para referida correção. Procuro evitar, ao máximo, cães
com determinadas faltas, especialmente aquelas que afetam a área da saúde
do animal, como por exemplo, exemplares com má respiração devido a narinas
estreitas (apesar do Bulldog Inglês ser um animal braquicéfalo). Deixo claro,
ainda, que não são toleráveis na minha criação animais com doenças genéticas
e hereditárias, tais como displasia coxofemoral, sarna demodécica, entre outras.

Am.& Br. Ch. Shack-n-Lo Gorgeous George e Am. & Br. Ch. Tiffany’s Noble as Hell

Então, mesmo selecionando cuidadosa e criteriosamente os padreadores e


matrizes adquiridos em outros canis, se por uma infelicidade eu descobrir
que algum exemplar possui alguma doença genética ou hereditária, eu retiro
da reprodução, pois entendo ser extremamente necessário tal controle a fim
de que não acometam outros exemplares com suas respectivas doenças e as
mesmas sejam ainda mais disseminadas. Acredito que a raça Bulldog Inglês,
hoje em dia, está melhor do que antigamente, pois atualmente existem mais
criadores interessados, dedicados e dispostos a sempre estarem melhorando
a raça como um todo, na saúde, temperamento e preservando suas carac-

CANIL GRIFFIN BULLDOGS 69


terísticas estruturais. Contudo, é necessário ter muito cuidado com várias
pessoas que se dizem criadoras, já que existem aqueles que só visam ao di-
nheiro, fazendo de suas criações verdadeiras “fábricas de filhotes”, pouco se
importando com o bem-estar dos animais e aprimoramento da raça. Porém,
há também aqueles que por desconhecimento ou má-fé, até se importam
com o bem-estar do animal, mas não se dedicam ao seu aprimoramento.

Camelot’s Garnet of Open Skyes. Buddy-n-PT Griffin Bulldogs.

Sendo assim, o conselho que eu poderia dar aos iniciantes e interessados


na aquisição de um exemplar da raça Bulldog Inglês e até mesmo de outras
raças, é que antes de adquirir seu animalzinho são necessários alguns cuida-
dos. O primeiro é conter o ímpeto e procurar conhecer não só a raça, como
também o criador e o canil, a fim de averiguar as condições de higiene e
saúde com que são tratados os cães. E, como já dito anteriormente, se é ver-
dade que há bons criadores, também é verdade que há um número cada vez
maior de pessoas que se dizem criadoras, mas na realidade são oportunistas,
já que têm o lucro como o seu principal objetivo. São pessoas que prestam
grande desserviço a cinofilia, já que colocam a venda cães que embora com
pedigree, não se enquadram às características do padrão oficial da raça e
muitas vezes com a própria saúde prejudicada, com doenças genéticas e
hereditárias.

70 Top Breeders brasil


Enquanto filhotes, o “bom” Bulldog assemelha-se ao “mal” Bulldog, mas com
o decorrer dos meses as diferenças acentuam-se exponencialmente. Vale
deixar claro que não estou falando de criadores profissionais, que se susten-
tam com a venda de filhotes, mesmo que criem mais de uma raça. Até porque
existem bons criadores nesse sentido e visar lucro não é demérito. Estou
falando daqueles irresponsáveis, que realmente visam somente ao lucro em
detrimento da saúde e bem-estar do animal.

O futuro proprietário precisa conscientizar-se que não existe um bom exem-


plar de Bulldog barato. Uma ninhada criada corretamente exige despesa
elevada. O que dizer quando se trata de filhote com uma ótima linhagem de
cães importados e campeões?

Certo é que, exceto os gastos com a aquisição do filhote, as outras des-


pesas com alimentação, veterinário, medicamentos, vacinas etc., serão os
mesmos, quer se trate de um Bulldog com uma boa e reconhecida linha-
gem de sangue, quer se trate de um Bulldog com uma linhagem de sangue
desconhecida.

Primeiramente, uma boa criação sempre esbarra nas despesas a serem ex-
pendidas para tanto. Segundo, é a dificuldade de acesso a bons cães padrea-
dores, apesar de já existirem alguns bons no Brasil. Da mesma forma, é a
dificuldade em adquirir uma boa matriz, já que os criadores quando as têm,
dificilmente as vendem e, portanto, você por si só, deve criar uma no seu
próprio canil.

As vezes em que usei padreadores estrangeiros para o acasalamento das


minhas matrizes, selecionei-os procurando as melhores características que
entendia necessárias para acrescentar no meu plantel. As buscas desses pa-
dreadores se deram criteriosamente estudando-os através dos meios digi-
tais, redes sociais, etc. e após isso, indo vê-los pessoalmente, quando das
minhas viagens ao exterior para assistir as Exposições Especializadas da
Raça. Assim, quando planejo um cruzamento, verifico quais as característi-
cas aquela fêmea específica necessita, para tentar que o padreador as trans-
mita e melhore a ninhada ou, ainda, verifico alguma característica nele que
meu plantel necessita e que ele possa vir transmitir, independentemente ser
aquela fêmea a que será acasalada.

CANIL GRIFFIN BULLDOGS 71


Acrescento, ainda, que dentro das características por mim procuradas em um
padreador ou matriz, também vale o temperamento dos meus cães, o que
entendo ser muito importante, já que a agressividade ou excesso de timidez
na raça Bulldog são faltas desqualificantes. Como é sabido, muito do tempe-
ramento de um animal é composto por características genéticas e por com-
portamentos adquiridos nas experiências da vida de cada cão. Diz o padrão
da raça: “Comportamento/Temperamento: o Bulldog dá uma impressão de
determinação, de força e atividade. Alerta, valente, leal, confiável, corajoso, de
aparência feroz, mas dotado de uma índole afetuosa” (Fonte: Padrão FCI-Fede-
ração Cinológica Internacional n° 149, de 10/01/2011, divulgado pela Confe-
deração Brasileira de Cinofilia). Assim, procuro selecionar de forma adequada
os cruzamentos com Bulldogs com essas características, para obter cães com
temperamento equilibrado.

Entrada do Canil Griffin Bulldogs. Baias de alojamento do canil.

Cabe salientar que não procuro selecionar cães para cruzamentos somente em
função do seu pedigree, pesquisando seu mapa genealógico a fim de prever
suas características. Fato sim, que é importante para planejar acasalamentos
com intuito de selecionar, aprimorar a raça, estudar a genética de cada linha
de sangue para aprimorar sua própria criação e, ainda, prevenir possíveis doen-
ças de cruzamento de duas linhas de sangue. Mas acredito não ser suficiente,
pois podem haver casos em que os pedigrees são iguais e os cães da ninhada
diferentes. Exemplifico: um cão com aprumos com defeito pode ser irmão de
ninhada de um grande vencedor nacional, quase perfeito.

Em relação a usar um padreador que ninguém usou ainda, acredito que eu não
o faria sem ter pelo menos um pouco de conhecimento sobre ele, se transmi-

72 Top Breeders brasil


tiria as características que eu entenda serem úteis para o aprimoramento do
meu plantel.

Na minha criação, tenho uma certa restrição quanto ao cruzamento ser inbree-
ding, mas não tenho restrição em o cruzamento ser linebreeding, outcrossing,
ou até mesmo outbreeding, desde que eu entenda não seja prejudicial à saúde
dos cães e que será o melhor para o aprimoramento do plantel. Contudo, te-
nho preferência por linebreeding ou outcrossing. O importante é o criador ter
consciência em não permitir que prevaleça o interesse na estética do cão em
detrimento da sua funcionalidade e bem-estar.

Da mesma forma não tenho restrição em utilizar em um cruzamento na minha


criação uma linha diferente da minha. Atualmente, utilizo a linha americana da
qual tenho preferência. Igualmente, desde que eu entenda não seja prejudicial
à saúde dos cães e que será o melhor para o aprimoramento do plantel, não
vejo problema em utilizar outra linha, até porque o padrão da raça é o mesmo
para todas as linhas, quer seja americana ou inglesa.

Já nas ninhadas nascidas no meu canil, o que tenho como mais importante é
o desenvolvimento com muita saúde e bem-estar tanto para a ninhada como
para a matriz, razão pela qual os cuidados sempre são muito especiais, tendo
funcionário 24 horas por dia ao lado dos filhotes e matriz, sob a minha orienta-
ção, para tratá-los e acompanhá-los nos respectivos desenvolvimentos.

Por certo que surpresas boas e ruins acontecem numa ninhada, com as quais
lido com muita tranquilidade, pois a criação é composta por seres vivos e não
dominamos a natureza, apenas podemos ajudá-la. Por mais que selecionemos
criteriosamente padreadores e matrizes, não há garantia de sucesso na ninhada.

Aprendi em todos esses anos de criação que, para ter uma criação de sucesso,
há necessidade de muito estudo sobre a raça, estar sempre atualizado, muita
dedicação, planejamento, ética, amor, persistência e humildade, combinados
com um pouco de instinto e sorte. E, com isso, espero ainda sempre estar me-
lhorando no que diz respeito à própria raça e ao meu plantel, pois faço o que
faço, com muito amor e carinho.

CANIL GRIFFIN BULLDOGS 73


74 Top Breeders brasil
Top Breeders brasil

Antonio José Garcia de Noronha (Tony Noronha)


Sócios: Mirian Helena Ribeiro de Noronha (esposa)
e o árbitro all-rounder José Luiz Cunha de Vasconcelos.
Canil TUNghat, em 1988.
Curiosidade: o nome TUNghat significa Deus no dialeto dos esquimós.

Canil Thunghat 75
Fale um pouco sobre como começou sua história com os cães.

Minha história como criação começou como um hobby familiar. Um sonho


antigo que realizei quando me casei. Uma influência total nas nossas vidas
determinando muitos dos caminhos e estilo de vida que seguimos até agora.

Como e quando começou a criar?

Em 1988, quando adquirimos nossas primeiras matrizes ainda filhotes.

Por que escolheu a raça Husky Siberian?

Escolhemos os Huskies Siberianos por sua beleza inigualável, resistência e


temperamento independente e extremamente dócil.

Quais faltas você aceita e quais não aceita na sua criação?

Por ser uma raça de trabalho e de companhia aceitaria uma falta dentária,
pois não impediria nenhum cão de puxar um trenó ou de ser um bom amigo.
Não aceitaria um problema estrutural que comprometesse suas habilidades
locomotoras.

O que é importante na raça que você escolheu?

Estrutura com excelente conformação para que tenha movimentação em


single tracking para o desempenho de seu trabalho.

Você acha que a raça está melhor hoje?

Hoje a maior parte dos criadores está buscando mais a parte genética.
Estão mais maduros e a parte comercial fica em segundo plano, o que é
ótimo para raça.

76 Top Breeders brasil


TUNghats Siberians. Cão: Ch.Gr.Ch. Pan CH.
Vencedora do Ranking 2009 TUNghats Pepa. 2009.
Foto: Arthur Franco TH - Project

Canil Thunghat 77
Qual a importância do temperamento da raça
e como você trabalha para mantê-lo?

O temperamento sociável e amistoso, mesmo com estranhos, é a essência


da raça. Preservo isso não incorporando à minha criação cães com desvio de
temperamento, que possam ser agressivos ou medrosos, já que os Siberianos
são cães destemidos.

World Dog Show/Moscow. 2016. Cão: WDS Best Puppy TUNghats Brazilian Storm
Foto: Marina Akopova

78 Top Breeders brasil


Qual a importância do controle de doenças genéticas
na raça e o que é feito para manter este controle?

Criadores conscientes devem fazer exames periódicos em seus reprodutores


para evitar a disseminação de doenças geneticamente transmissíveis. A im-
portância deste controle deve existir em todas as raças.

Por que é difícil manter uma boa criação?

A falta de união entre os criadores brasileiros é uma barreira para o desen-


volvimento pleno da raça. Os cães deveriam ser o foco central dentro do
objetivo da criação. Há aquele que não usaria para reprodução um cão exce-
lente simplesmente por este “pertencer” a outro criador.

Como você utiliza o pedigree?

Uso o pedigree para marcar certas características que estão em consonância


com o padrão da raça. Sempre busco um belo tipo com o cuidado de não
trazer para minha criação atributos não desejáveis genéticos ou fenotípicos.

Como e quando você planeja um cruzamento


e quais critérios utiliza para escolher um padreador?

Quando tenho uma fêmea geralmente com três cios completos sempre pro-
curo um padreador que agregue atributos da sua linhagem à linhagem desta
fêmea, levando em consideração características marcantes para a raça.

Você consegue bons padreadores no Brasil? Quando usa


padreadores do estrangeiro, como faz a busca?

Sim. Temos relações com diversos criadores em vários países, que nos trazem
uma infinidade de boas oportunidades. Já trouxemos machos para o Brasil
em sistema de leasing. Já mandamos fêmeas para acasalar em outro país ou
estado brasileiro e já lançamos mão de sêmen congelado. Todos estes recur-
sos valem na hora de escolher aquele acasalamento que viemos estudando.

Canil Thunghat 79
Você usaria um padreador que ninguém tenha utilizado?

Sem dúvida, desde que este macho tenha suas checagens para doenças ge-
neticamente transmissíveis em dia e que venha de uma linhagem que agre-
gue qualidade à minha criação.

O que você usa: inbreeding, linebreeding ou outcross?

Uso como base o linebreeding, mas também faço uso do inbreeding quando
tenho uma cadela muito bem formada, quando há chances de marcarmos
mais tais características trazidas pelo pedigree semelhante do macho; ou
outcrossing quando tenho fêmeas muito bem marcadas pelo linebreeding
durante gerações e se faz necessário “refrescar” o sangue introduzindo um
novo genótipo com o mesmo tipo característico.

Existe uma hora em que é necessário abandonar uma linha


de criação? Isto já aconteceu com você?

Sim, quando trazemos para a nossa criação um macho ou fêmea que, ape-
sar das checagens para doenças geneticamente transmissíveis em dia, passe
tais problemas sempre muito indesejáveis para seus filhotes comprometen-
do toda uma nova geração. Aí paramos, castramos tais cães portadores de
doenças ou características indesejáveis e voltamos para o trabalho que já
estava seguro e certo.

Nas ninhadas sempre temos surpresas. Como você avalia e


lida com as boas e as ruins?

Em uma criação de médio ou longo prazo as surpresas aparecem com mui-


to menos frequência. Quando os resultados são muito bons, repetimos os
cruzamentos e fazemos outros similares. Quando as surpresas não são bem-
vindas não repetimos tal cruzamento.

80 Top Breeders brasil


Como você cuida das ninhadas? O que é mais importante?

Participava efetivamente de cada nascimento além de acompanhar todo


processo do pré-natal. Dormia com as cadelas na maternidade, ajudava a
limpar e amarrar o umbigo dos filhotes, colocava para mamar, enfim, interfe-
ria diretamente em todo o processo. Com o passar do tempo, elas (as mães)
me mostraram que ficam muito menos ansiosas quando somente fiscalizo
os partos. Aprendi que as fêmeas de Siberiano são hábeis, limpas e muito
eficientes, talvez por serem de uma das mais rústicas raças que temos co-
nhecimento.

A que se deve o sucesso na criação?

Muito estudo, instinto, planejamento e uma pitada de um ingrediente funda-


mental chamado sorte!

Que conselhos você daria a um iniciante?

Visite o maior número de criadores, mesmo aquele que tenha uma visão
que seja diferente da sua; nunca adquira um exemplar por impulso; e nunca
pense em começar uma criação de qualquer que seja a raça visando lucro e
comércio.

USA. 2015. Cão: Am CH pan CH BR CH TUNghats Red Gold. Foto: Karen Street

Canil Thunghat 81
82 Top Breeders brasil
Sede do TUNghats Siberians. 2017
Cão: TUNghats Puppies
Foto: Arthur Franco TH - Project

Canil Thunghat 83
Qual o ponto alto da sua criação? Quando você olha para
ela, o que acredita ter aprendido ao longo destes anos?

O ponto alto da minha criação é o tipo que consegui através de trabalho


genético. É quando criadores de outros países me procuram desejando um
cão de nossa criação no seu plantel ou quando um cão de nossa criação é
reconhecido como um belo exemplar vencendo em exposições mais concor-
ridas do mundo. Aprendi que temos que trabalhar com muito afinco e nunca
desistir mesmo que tudo pareça perdido.

O que você espera alcançar com a sua criação?

Cães geneticamente saudáveis com um tipo bem marcado e temperamento


equilibrado. Também desejo muito que, independentemente de serem pet,
padreador, matriz ou show dog, sejam amados e respeitados.

Você vê algum benefício em criar mais de uma raça?

Crio exclusivamente Huskies Siberianos. Acredito que é muito difícil criar


mais de uma raça, pois além de requerer um certo gasto financeiro, ainda
há muito estudo envolvendo tempo e dedicação. Para criarmos bem uma
determinada raça temos que seguir um padrão pré-estabelecido fenotipica-
mente e geneticamente que somam tantos detalhes, acertos e erros, e nos
absorvem de tal modo que não sobraria espaço para o mesmo empenho a
outra raça.

Algum comentário que gostaria de acrescentar?

Amem profundamente a raça escolhida, sejam determinados, focados e bons


estrategistas. Nunca desistam de seus objetivos mesmo que por vezes te-
nham que se desviar dele para alcançá-los mais à frente.

84 Top Breeders brasil


Top Breeders brasil

Bianca Sampaio Teixeira


Presidente do Clube Baiano de Cinofilia (CBC)
Árbitra FCI/CBKC dos grupos 2,3,6,8 e 9
Canil Pan Clan, fundado em 2000

Canil Pan Clan 85


Fale um pouco sobre como começou sua história com os cães.

Desde criança pedia um cachorro de presente para meus pais, mas só con-
segui ganhar um no meu aniversário de 10 anos. Era uma filhota dourada
de Cocker Inglês, chamada Biluca. Após um ano, quando meu irmão estava
para nascer, meus pais decidiram doar minha cadela sob alegação de que ele
poderia nascer com problemas respiratórios, uma vez que eu e alguns paren-
tes já sofríamos de asma. Esta foi mais uma desculpa para a doação. Após
terminar a faculdade no Rio de Janeiro e retornar para Salvador fui a uma
exposição de cães na minha cidade e fiquei encantada, decidindo, então, ter
um Beagle para expor. Na verdade, a ideia era ter um Basset Hound (raça
dos meus sonhos), mas por motivos facilitadores na época, fiquei satisfeita
com uma Beagle, de nome Lua. Mas, a ideia de ter um Basset não morreu, e
então ganhei uma fêmea bicolor, filha de um casal de criação do Canil Zuo’s
e a partir dela iniciei minha criação. No ano de 2002, importei um macho de
Portugal do Canil Sete Moinhos, do criador José Homem de Mello. Dois anos
após chegar, ele já era Campeão Mundial. Desde então, sempre trabalhei
com a linha de sangue do Sete Moinhos. Basset Hound sempre foi minha pai-
xão, mas como todo amante de cães, durante todos os anos de criação tive a
oportunidade de ter as raças Afghan Hound e American Staffordshire Terrier.
Foram pouquíssimas ninhadas dessas duas outras raças, mas não menos im-
portante! No ano de 2014 importei da Eslováquia um cão de Crista Chinês,
Powder Puff, que, ao longo desses quatro anos conquistou meu coração, e
que me proporcionou um novo sentimento, já que ele dorme, literalmente,
em meu pescoço! 

Por que escolheu a raça Basset Hound?

Na verdade, a raça Basset Hound apareceu na minha vida de forma muito


curiosa. Com apenas 13 anos, em viagem com meus pais a Cabo Frio, tive a
oportunidade de conhecer um casal de garotos que estavam hospedados no
mesmo hotel que nós e que tinham um cão Basset Hound. Nessa oportuni-
dade me apaixonei pela raça e jurei para mim mesmo que no futuro teria um.
Na verdade, foi um pouco diferente: passei a criar não um, mas tive 30, 40
Bassets, iniciando assim minha criação.

86 Top Breeders brasil


Quais faltas você aceita e quais não aceita na sua criação?

Falta é sempre uma falta e nunca deve ser aceita por um criador responsável,
e nenhuma delas para mim é aceitável. Faltas graves atualmente na raça e
que devem ser levadas em consideração são frentes atípicas, sem o formato
em taça; costelas com deformações; excesso de pele; e cães com patas muito
curtas, deixando a parte inferior do tórax arrastando no chão. Apesar de ser
bastante criteriosa e não aceitar faltas, registre-se que o cão perfeito não
existe, ou, como nós criadores dizemos, o cão perfeito nasceu morto. Tendo
isso em mente, precisamos hierarquizar as faltas, assim existem faltas mais
leves e mais fáceis de serem corrigidas em um plantel, e por tanto mais
aceitáveis; enquanto existem outras, como as elencadas acima, de caráter
grave, que comprometem a própria funcionalidade da raça ou mesmo a sua
tipicidade. Essas últimas não merecem nenhuma permissibilidade do criador
responsável!

O que é importante na raça


que você escolheu?

O Basset Hound é um cão de caça


que deve ser capaz de trabalhar
durante todo o dia em vários tipos
de terreno, onde ele deve “vencer”
a caça pelo cansaço. Para que um
exemplar cumpra corretamente
sua função, ele precisa ser um cão
forte, saudável, sem excessos de
pele (que pesa e atrapalha o de-
sempenho, além de causar proble-
mas de saúde como entrópio, der-
matites, etc.), com altura de patas
suficiente para que ele possa ser
capaz de se movimentar de forma
adequada e com olfato apurado.

Canil Pan Clan 87


Você acha que a raça está melhor hoje?

A raça atualmente passa por um momento de transição, onde os criadores


estão se adequando às alterações realizadas no padrão há pouco tempo.
Mas, sem nenhuma dúvida, posso dizer que hoje a raça está muito mais fun-
cional e saudável do que antigamente, pelo que, posso dizer que sim, a raça
está melhor hoje que antes.

Qual a importância do temperamento da raça


e como você trabalha para mantê-lo?

O Basset Hound, como um cão de caça, deve ser ativo, sem timidez e seguro.
Por isso procuro sempre fazer cruzamentos entre cães sem problemas de
temperamento e sempre eleger os exemplares com bom temperamento para
que possa ser desenvolvida sua função.

88 Top Breeders brasil


Qual a importância do controle de doenças genéticas na
raça e o que é feito para manter este controle?

O controle de doenças genéticas deve ser algo prioritário dentro de um pro-


grama de criação. Atualmente, a própria FCI possui regras básicas.

Por que é difícil manter uma boa criação?

Porque a criação não é uma conta matemática. Muitas vezes, uma caracte-
rística que não está presente em dois exemplares pode aparecer em filhotes
nascidos do cruzamento entre eles, por estar na sua genética. Uma frente
correta, por exemplo, não se corrige em uma ou duas gerações, é preciso um
trabalho de anos para se corrigir uma característica indesejável.

Como você utiliza o pedigree?

Sempre utilizo o pedigree na orientação da manifestação de características


desejáveis em determinados exemplares, servindo de guia para o que cada
exemplar pode vir a produzir de acordo com sua árvore genealógica.

Canil Pan Clan 89


90 Top Breeders brasil
Como e quando você planeja um cruzamento
e quais critérios utiliza para escolher um padreador?

Sempre faço um cruzamento por ano, fruto de estudo acerca da fêmea e do


macho que serão utilizados para o acasalamento.

Você consegue bons padreadores no Brasil? Quando usa


padreadores do estrangeiro, como faz a busca?

Normalmente utilizo cães criados por mim e de minha propriedade ou cria-


dos por José Homem de Mello, de Portugal. Para essa segunda opção ou o
cão é de minha propriedade, e portanto mora comigo, ou envio minha fêmea
para cruzar na casa dele em Portugal.

Você usaria um padreador que ninguém tenha utilizado?

Se for um cão criado pelo Sete Moinhos, criação do José Homem de Mello,
sim, usaria sem problemas, pois conheço a linha e tenho confiança no que
ela produz.

O que você usa: inbreeding,


linebreeding ou outcross?

O critério que utilizo é o imbreeding, de


forma mais constante, ou o linebreeding.

Existe uma hora em que é neces-


sário abandonar uma linha de
criação? Isto já aconteceu com
você?

Iniciei minha criação com uma linha de


sangue e, dois anos após, decidi seguir
outra linha de sangue completamente
diferente, que uso até hoje.

Canil Pan Clan 91


Nas ninhadas sempre temos surpresas.
Como você avalia e lida com as boas e as ruins?

Boas surpresas são sempre bem-vindas e passam a ser objeto de observação


para que possamos constatar se foi um acaso ou se é uma característica que
se firma. As surpresas ruins também são motivo de atenção e estudo para
tentarmos identificar a razão daquele aparecimento.

Como você cuida das ninhadas? O que é mais importante?

Normalmente, durante os primeiros 30 dias as ninhadas são acompanhadas


pessoalmente, durante 24 horas, já que as Bassets não são boas mães. O
mais importante é o manejo e a limpeza na maternidade, devendo ser utili-
zados produtos específicos para tanto.

92 Top Breeders brasil


A que se deve o sucesso na criação?

O sucesso na criação se deve a uma série de fatores reunidos, tais como uma
boa linha de sangue, uma boa alimentação, local adequado etc.

Que conselhos você daria a um iniciante?

Procure sempre fazer cruzamentos responsáveis, estudados e com objetivo


de corrigir e melhorar seus exemplares, sempre utilizando como base o pa-
drão da raça que você cria.

Qual o ponto alto da sua criação? Quando você olha para


ela, o que acredita ter aprendido ao longo destes anos?

O ponto alto da minha criação é a homogeneidade quanto às cabeças, fren-


tes e posteriores. O aprendizado é eterno e quando olhamos para nossa cria-
ção devemos sempre ter como objetivo melhorar a cada dia, melhorar a cada
ninhada.

Canil Pan Clan 93


O que você espera alcançar com a sua criação?

Cães cada vez mais próximos ao padrão da raça, funcionais e saudáveis.

Você vê algum benefício em criar mais de uma raça?

Crio apenas Basset Hound.

94 Top Breeders brasil


Top Breeders brasil

Roberta Zeppelini
Double M Kennel, fundado em 1996.
Inicialmente, o canil chamava-se Magia do Retiro, fundado em
1993. O nome foi trocado, na mudança para Pernambuco, em
homenagem ao marido.

Double M Kennel 95
Fale um pouco sobre como começou sua história com os cães.

Sempre gostei de cães e aprendi a andar pendurada em Pastores Alemães.


Meu pai foi criador de Fila Brasileiro e eu sempre li e colecionei tudo que fos-
se ligado aos cães. Me apaixonei pela raça Dogue Alemão aproximadamente
em 1980, quando eu ainda pensava que o nome da raça era Dinamarquês.
O meu primeiro Dogue Alemão foi um macho preto chamado Igor. Em 1993,
fundei meu primeiro canil, o Magia do Retiro, alguns anos depois, com minha
mudança de domicilio para o Nordeste, fundei o Double M Kennel, em 1996,
prefixo que mantenho até hoje.

Como e quando começou a criar?

Em 1993, eu conheci o médico veterinário Duperron Alencar que me pre-


senteou com uma fêmea mantada – Aebre´s Antara of Wind Magic. Com
ela fundei meu primeiro canil. Registrei minha primeira ninhada de Dogues,
na variedade arlequim, em 1994. Após isso, investi na variedade dourada
através das mão de Rivail Luiz Cerqueira, do canil The Bamel, que foi meu
mentor e é meu amigo até hoje.

Por que escolheu a raça Dogue Alemão?

Por paixão. Amor à primeira vista. Tudo nesse cão me encanta, um exemplar
bonito é como diz o padrão da raça, um Apolo. Você pode não querer ter um
cão dessa raça, mas não tem como negar sua beleza.

Quais faltas você aceita e quais não aceita na sua criação?

Para mim, estrutura é absolutamente tudo em um cão. Aceito falhas na colo-


ração, problemas de falta dentária, pequenos desvios do limite de tamanho,
mas faltas estruturais são inadmissíveis, além, é claro, da tipicidade, que vem
espelhada na cabeça do cão. Eu tenho que olhar para um Dogue e saber sem
pestanejar que se trata de um Dogue. Se ele é um bom exemplar da raça é ou-
tro momento, mas ele tem que ser um dogue alemão sem sombras de dúvida.

96 Top Breeders brasil


O que é importante na raça que você escolheu?

Tamanho, saúde e tipicidade. Atualmente, os Dogues estão muito heterogê-


neos. Encontramos cabeças de todos os tipos, algumas que sequer lembram
um Dogue Alemão. Extremos tanto para muito quanto para pouco. Devemos
nos preocupar com a tipicidade da raça.

Foto: Karina Berenguer

Você acha que a raça está melhor hoje?

O Dogue no Brasil já teve momentos melhores. Antes da separação da raça em


três variedades, o plantel nacional era mais homogêneo. Hoje, vemos muitos
problemas na variedade azul, que está quase desaparecida. Na variedade arle-

Double M Kennel 97
quim tem uma miríade de tipos diferentes e poucos desses tipos ficam dentro
do que considero um bom Dogue Alemão. Mas, mesmo assim, temos exempla-
res nas três variedade capazes de representar a raça em nível mundial.

Qual a importância do temperamento da raça


e como você trabalha para mantê-lo?

É de suma importância. Estamos falando de um cão gigante, que se não for


controlado pode se tornar um imenso problema. A raça pede cães seguros e
com alto limiar de excitabilidade. Não se trata de cães mansos ou abobalha-
dos como muitos pensam, mas por se tratar de um cão gigante, é essencial
que seja equilibrado. No meu plantel o temperamento é observado com mui-
to cuidado. Não uso cães covardes, apáticos ou violentos. Não me interessa o
quanto seja bonitos, não uso.

Qual a importância do controle de doenças genéticas


na raça e o que é feito para manter este controle?

O Dogue é um cão saudável. Geneticamente tem pouca ou nenhuma doença,


entretanto, eu destacaria a displasia coxofemoral e o osteosarcoma. Infe-
lizmente, no Brasil, são mínimos os criadores que se preocupam com esses
problemas.

Por que é difícil manter uma boa criação?

Porque para uma boa criação é necessário muito estudo e muito investi-
mento. Poucas são as pessoas que estão dispostas a isso. Ou não estudam,
ou não investem, ou não fazem nem uma coisa nem outra. A maioria dos
criadores acha que investimento é comprar cachorro porque achou bonito ou
porque é filho de um vencedor. Mas a criação não se faz assim. É necessário
saber qual tipo lhe agrada mais. Depois de escolhido o tipo e de conhecer
o padrão da raça de cabo-a-rabo, é necessário estudar desde as diversas
linhagens mundiais até o que predomina em um acasalamento. Qual cara-
terística é predominante. O que você quer de seus cães, qual característica

98 Top Breeders brasil


você quer fixar na sua criação; o que transmitem a seus descendentes os cães
(matrizes e padreadores) que você está usando. Tem que conhecer a árvore
genealógica do cão e saber se esse casal é compatível e se as características
dessa árvore genealógica vão levar a um cão melhor ou pior. Enfim, tem que
estudar, investir e perseverar.

Foto: Bruno Santana

Double M Kennel 99
Como você utiliza o pedigree?

O pedigree é para mim uma ferramenta. Partindo do princípio que aquele


documento é confiável, busco saber como são ou foram os cães que com-
põem aquele pedigree. De preferência buscar o heredograma de cada um
deles. Depois tentar aportar características desejáveis, suprimir as indese-
jáveis e buscar a fixação de uma linha de sangue. Eu trabalho, via de regra,
em linebreeding.

Foto: Nilton Novaes

Como e quando você planeja um cruzamento


e quais critérios utiliza para escolher um padreador?

Eu tenho poucas ninhadas anuais, às vezes nenhuma. Meu canil não é co-
mercial, embora eu venda os filhotes que eu não queira ficar. Sempre que

100 Top Breeders brasil


planejo um acasalamento é visando à correção ou à manutenção de uma
característica. Assim, busco.

Você consegue bons padreadores no Brasil?


Quando usa padreadores do estrangeiro, como faz a busca?

Sim, no Brasil temos bons padreadores, não muitos, mas temos. Nosso maior
problema é nossa distância territorial. Quando busco um macho fora do país,
busco um refresco no sangue, algo que não tenho conseguido por aqui. Re-
centemente comprei um macho fora do país e à primeira vista ele é total-
mente outcross se comparado com minhas cadelas, mas estudando o pedi-
gree mais a fundo ele tem algum parentesco com meus cães, o que é ótimo,
pois refresco a linhagem sem me afastar do tipo.

Você usaria um padreador que ninguém tenha utilizado?

Se estiver dentro do que eu busco na minha criação, usaria sem sombra de


dúvida.

O que você usa: inbreeding, linebreeding ou outcross?

Basicamente linebreeding, mas não descarto de forma terminal as outras


duas formas de acasalamento. Quando decido utilizar um outcross, por exem-
plo, busco fazê-lo utilizando um cão que seja outcross em relação à minha
cadela, mas que ele próprio seja fruto de um line ou inbreeding. O inbreeding
é o que eu menos utilizo.

Existe uma hora em que é necessário abandonar


uma linha de criação? Isto já aconteceu com você?

Verdade! É triste, mas acontece. Às vezes nos deparamos com anos de tra-
balho e convicção jogados fora. Estive muito perto de fazer isso, consegui
resgatar um pouco da minha dignidade fixando o trabalho em um determina-

Double M Kennel 101


do cão que era presente em todas as minhas cadelas e indo buscar descen-
dentes desse animal que fosse diferente do que eu tinha, mas mantivesse o
tipo que eu gosto.

Nas ninhadas sempre temos surpresas.


Como você avalia e lida com as boas e as ruins?

Todas ninhadas são uma surpresa, por mais que calculemos o resultado, nem
sempre dá certo. Eu procuro sempre manter por perto os melhores exem-
plares, ou os mais promissores, e os demais vendo como pet. Mas já tive
surpresas de ambos os lados. O filhote pet ficou top de linha e aquele em
que depositei todas as minhas fichas não decolou. Mas trato todas as minhas
ninhadas de forma igual, até porque sempre aposto na genética, mesmo que
o cão não seja top, ele tem sangue para produzir algo ótimo.

Como você cuida das ninhadas? O que é mais importante?

Quando nascem filhotes na minha casa, mãe e filho vão imediatamente para
dentro do meu escritório. Lá eles ficam assistidos dia e noite. Meus funcio-
nários de casa sabem como fazer e a quem recorrer em caso de necessidade.
Procuro manter os filhotes sempre bem aquecidos e eles só vão para o canil
depois de abrir os olhos e começar o desmame, que inicio com 20 dias. No
caso de Dogue Alemão, a vigilância é muito importante, pois os filhotes são
demasiadamente pequenos em relação à mãe, assim a mortandade por cau-
sa de esmagamento é muito alta.

A que se deve o sucesso na criação?

Trabalho! Entenda-se por trabalho, investimento correto, planejamento e


feeling.

102 Top Breeders brasil


Que conselhos você daria a um iniciante?

Procure saber o que você espera da sua raça, que tipo você gosta, busque
adquirir boas fêmeas e eleja um orientador experiente. Isso é fundamental.

Qual o ponto alto da sua criação? Quando você olha para


ela, o que acredita ter aprendido ao longo destes anos?

Homogeneidade. Meus cães são homogêneos em qualidades e defeitos, e


isso me agrada muito. Aprendi que inbreending não é brincadeira e não deve
ser feito exceto se você dominar totalmente a técnica e conhecer o heredo-
grama dos cães envolvidos.

Foto: Bruno Santana

Double M Kennel 103


O que você espera alcançar com a sua criação?

Eu quero fixar um tipo que seja reconhecido facilmente pelas suas qualidades.
Quero que olhem um Dogue e digam: “Esse cão é da linhagem Double M”.

Você vê algum benefício em criar mais de uma raça?

Eu crio apenas Dogue Alemão.

Algum comentário que gostaria de acrescentar?

Eu gostaria que os criadores de um modo geral, primeiro entendessem que


independente da linhagem que usam (americano ou europeu) o Dogue é o
mesmo com sutis diferenças. Se ele está muito diferente é porque está fora
do padrão; e, segundo, que amem a raça, por mais que detestem esse ou
aquele criador, nunca deixem de usar um padreador ou comprar um filhote
ou reconhecer as qualidades de um cão só por causa disso. A raça deve sem-
pre estar acima de tudo.

104 Top Breeders brasil


Top Breeders brasil

Anderson Quaresma e Raquel Oliveira


Cães Zanac, Tootsie e Dodô. Hunter Jô, novembro de 1991.

Curiosidade: A criação de pelo longo nasceu no acaso dos


cruzamentos onde cães recessivos começaram a nascer de grande
qualidade e passaram a ser selecionados por Raquel, assim
desenvolvendo a criação de pelo longo.

canil Hunter Jô 105


Sobre a fundação do canil

Fundado por Maria Jorgete Quaresma, minha mãe e tem como coproprietá-
rio Anderson Einstenn Quaresma Pires dos Reis, desde os 16 anos, quando
o canil foi fundado. Desde de 2009, a titularidade do canil é de Anderson
Quaresma e a copropriedade de Raquel Oliveira dos Santos, sendo a criação
dividida com os pelo curto com Anderson e pelo longo com Raquel. Jô Qua-
resma continua sócia do canil, mas não mais participa ativamente na criação.

Fale um pouco sobre como começou sua história com os cães.

De fato, criar começou quando tive que substituir minha mãe em uma ex-
posição de beleza, pois ela tinha um outro compromisso. Na hora dos cães
entrarem na pista, o handler estava com seu cão principal em outra pista e
tive que entrar no improviso. Ganhei o prêmio de Melhor Fêmea e Melhor
Macho e entrei com os dois para disputar a raça. O juiz deixou eu apresentar
e, no final, explicou que não era permitido, mas que viu que eu levava jeito e
que poderia ser um bom criador e expositor.

Como e quando começou a criar?

A partir desta exposição, comecei a estudar como as coisas funcionavam:


criação, exposições, regulamentos e rankings. Era maio de 1993. No fim do
mesmo ano, já conquistava o título de melhor criador do Brasil da raça e
terceiro geral. Conquistei consecutivamente até 2001 o título de criador nú-
mero 1 da raça e três vezes o número 1 do Brasil entre todas as raças!

Por que escolheu a raça Dachshund?

O destino fez a raça chegar em minha vida aos 5 anos, novamente aos 15 e
creio que a raça me escolheu. Sem dúvida, é para mim a raça ideal, todas as
características me agradam. Até a que é considerada defeito, para mim é a
maior qualidade: teimosia e perseverança!

106 Top Breeders brasil


Quais faltas você aceita e quais não aceita na sua criação?

Sinceramente, eu não aceito defeitos. Porém, dentro de uma escala de gravi-


dade, uma cauda com inserção alta é tolerável desde que o cão tenha muitas
qualidades. Uma linha superior ruim, um cão sem movimentação ou sem
temperamento são intoleráveis.

Cão: HJ Zanac. Três vezes melhor da raça da nacional. Foto: Edmilson Reis

O que é importante na raça que você escolheu?

Uma boa movimentação está no primeiro parágrafo do padrão, porque ape-


sar de corpo comprido e patas curtas, jamais deve parecer uma má-forma-
ção. É deslumbrante ver um Dachshund com boa movimentação, cobertura
de solo e com andar leve. Temperamento é fundamental, pois o tipo de caça
que a raça exerce, subterrânea e em tocas apertadas, sem iluminação e pre-
sas nem um pouco amigáveis exigem um cão valente e destemido.

canil Hunter Jô 107


Você acha que a raça está melhor hoje?

Com o tempo nós aumentamos a nossa percepção e senso crítico na criação e


na cinofilia. Aparentemente creio que existem várias óticas de enxergar a raça.
Mundialmente ela está forte e melhor em vários países, em especial na Rússia.
Nos EUA, parece ter se perdido a mão comparando com a década de 1990,
mas vale ressaltar que onde a raça cresceu e melhorou tem muito sangue

HJ Yauyn. Dachs n°1 do Brasil de 1995. Foto: André Mendes.

americano. No Brasil, o número de criadores dispostos a investir na raça e criar


decentemente caiu sensivelmente acompanhando infelizmente as tendências
de mercado, o que é uma lástima para a cinofilia brasileira. Para a raça, este
fato traz a certeza de que não é preciso que ela seja tão popular, pois todas
aquelas que se tornaram populares no Brasil tiveram sérios problemas com
doenças hereditárias e desvios de temperamento. No aspecto rua piorou. É

108 Top Breeders brasil


triste ver o que as fábricas de filhotes andam reproduzindo. Creio que 95% dos
que nascem de Dachshunds no Brasil sejam oriundos de fábricas de filhotes,
produzindo cães atípicos, agressivos, desequilibrados e com sérios problemas
de saúde com cruzas para produzir “exóticos” duplo arlequim.

Qual a importância do temperamento da raça


e como você trabalha para mantê-lo?

Temperamento é essencial tanto para exercer função como para ser um ani-
mal de companhia. Nós não caçamos no Brasil, pelo menos não legalmente,
mas o instinto se mantém com o uso de cães equilibrados e com característi-
cas comportamentais desejáveis. Quase todos os cães criados são destinados
para serem de companhia. A convivência de 14-16 anos com um cão de bom
temperamento é mais do que necessário, é primordial, e se essa característi-
ca não é trabalhada pelo criador, a raça perde espaço para aqueles de luxo e
companhia. Nenhum criador quer isso para sua raça, nós humanos nos adap-
tamos aos novos tempos nossas criações também. Espera-se um Dachshund
com um grau de atividade mediano, que lata pouco, seja mais obediente para
uma melhor adaptação ao espaço urbano cada vez menor e mais sedentário.
Se o criador quiser produzir cães aptos para serem exímios caçadores é fácil
imaginar a difícil adaptação da raça e consequentemente abandonos e má
fama. Nós trabalhamos para ter cães sociáveis, fazendo cruzamentos que
evitem os extremos: cães letárgicos sem motivação ou cães agitados demais.
Se temos uma fêmea de grande estrutura, mas apática, compensamos com
um padreador mais ativo, por exemplo.

Qual a importância do controle de doenças genéticas na


raça e o que é feito para manter este controle?

Na boa criação, praticamente não se vê doenças hereditárias. Importei cães


de vários países (Malásia, EUA, Rússia, Itália, Argentina) e nunca houve ma-
nifestação de doenças hereditárias. A melhor forma de manter controle é
ter cães de boas linhagens, reconhecidas pela tríade da criação (saúde, tem-
peramento e estética funcional da raça). Nos EUA e Inglaterra é praxe fazer
exame para controle da doença de retina, mas o que tenho apurado é que

canil Hunter Jô 109


os exames nas boas criações estão sendo altamente positivos. A questão
de coluna vertebral, também é muito incomum na boa criação. A raça leva
a fama, mas os casos são oriundos das fábricas de filhote, sendo que com o
avanço da qualidade de vida dos pets tem-se visto muito problema adquirido
por excesso alimentar, consequentemente ganho de peso e sedentarismo, ou
seja, cães gordos e sedentários sendo o maior número de casos ocorre em
cães acima de 5 anos e nos meses mais frios.

Por que é difícil manter uma boa criação?

É difícil? Não creio. É fácil. A questão é: quem se dispõe a fazer direito? O


grande desafio é criar, bem ou mal, dependendo da referência. As dificulda-
des são imensas. Sempre digo criar bem ou mal o trabalho é o mesmo, criar
mal dá mais trabalho. Se o mal criador e/ou o iniciante soubesse ou tivesse
esta percepção, com certeza teríamos muito mais criadores. A boa criação
é difícil por inúmeros motivos, mas o pior de tudo é a falta de base! Como
pode-se adquirir um carro e não saber dirigir e/ou ter uma permissão (carta
de motorista) é o que acontece na cinofilia. A pessoa compra uma cadela,
a reproduz e depois abre um canil para registrar, ou seja, ela pratica sem
orientação o exercício da criação. Não é exigido nada, não há provas, cursos,
pré-requisitos. Qualquer cadela ou macho que tem pedigree pode reprodu-
zir, o que é um contrassenso pois dentro do pensamento mundial cinófilo
um cão “pet” não serve para criação... logo uma pessoa pode comprar um
“pet” e reproduzi-lo. Este cão pode ser portador de doença hereditária, ter
um péssimo temperamento ou ter faltas graves, mas ele pode reproduzir e
seus filhos serem registrados. Quais parâmetros um criador tem para fazer
uma boa criação, que escola, que preparo, que curso, como ser avaliado ou
testado? Apenas exposições de cães?

Como você utiliza o pedigree?

Fui orientado, quando entrei nas competições, a estudar os pedigrees, as


linhas, que eram a coisa mais importante. Mas, ao longo dos anos, tive a
percepção de que é muito mais lógico e sadio trabalhar com o que está em
frente nossos olhos, o fenótipo, do que tentar tirar do papel aquilo que não

110 Top Breeders brasil


vê no cão que se está trabalhando. Não considero preguiça, mas uma sanida-
de procurar trabalhar com que se tem do que tentar trazer do passado ou do
“pedigree” algo do seu interesse, alguma característica ou qualidade perdida,
pois pode-se abrir um portal para trazer outras coisas indesejáveis que tam-
bém podem estar ocultas lá. Com o advento da internet e da globalização, é
fácil encontrar as qualidades que se deseja. O que se perdeu foi porque, ao
meu ver, os cães utilizados não eram capazes de transmitir as determinadas
qualidades. Finalizo com uma piada verídica, de uma pessoa que era aficio-
nada por uma cadela que nos seus pedigrees apareciam cinco, sete vezes,
mas não se manifestava visualmente em seus cães!

3 campeões argentinos e 2 Sicalam HJ Zanac, HJ Tootsie e HJ Salvador.


SICALAM 2016. Foto: M. Pazos

Como e quando você planeja um cruzamento


e quais critérios utiliza para escolher um padreador?

Meus cruzamentos são planejados sob diversos aspectos, mas sempre visan-
do manter o trabalho de criação. Hoje busco trabalhar o que praticamente
não se faz no mundo, que são os arlequins de grande qualidade. Planejo
minha criação em várias frentes, não busco um tipo Hunter Jô pois utilizo

canil Hunter Jô 111


linhagens variadas, porém muitas vezes escuto que em todos os tamanhos
e pelagens (longo e curto) meus cães estão muito uniformes de desenho
(aparência geral) mesmo com pedigrees totalmente diferentes. Acredito que
por trás de um padreador deva existir uma bela matriz!

Você consegue bons padreadores no Brasil?


Quando usa padreadores do estrangeiro, como faz a busca?

Como pouco se investe e pouco se cria, praticamente tenho que importar


cães, fora a cultura cinófila brasileira de fechar as portas! Sempre importei,
nunca utilizei um padreador de fora, o que importo sempre tem como critério
que agrade meus olhos e não meus ouvidos.

Você usaria um padreador que ninguém tenha utilizado?

Quase tudo que importei veio de canis pouco visados e desconhecidos ini-
cialmente. Não crio moda, apenas sou antenado e não tenho medo de adqui-
rir um cão de um canil que não tenha “nome”, pois como já disse, eu trabalho
e acredito no que vejo, papel (pedigree) é importante secundariamente. Não
utilizo um cão porque venceu um ranking, ou porque tem um pedigree mara-
vilhoso, utilizo aqueles em que vejo as qualidades que procuro e que sejam
de grande qualidade estrutural.

O que você usa: inbreeding, linebreeding ou outcross?

Os três, mas ultimamente acredito que outcross seja o caminho futuro das
grandes criações. Hoje utilizo mais linebreeding, mas pretendo futuramente
olhar minha criação e ver mais outcross. Inbreeding nos Dachshunds tem pe-
riculosidade baixa por conta do baixo índice de doenças, porém podem fixar
defeitos se o criador não tiver senso crítico.

Existe uma hora em que é necessário abandonar uma linha


de criação? Isto já aconteceu com você?

O que mais me entristece é ver trabalhos interrompidos. Você não deve apa-
gar sua história, cada importação, cada aquisição, cada cruzamento, tem seu

112 Top Breeders brasil


trabalho ali, tem seu erro, seu acerto. A perfeição não existe, logo um cruza-
mento que não deu certo, uma aquisição “equivocada” deve estar na história
do seu canil. Se houve um desvio, volte, avance para outra direção mas leve
consigo o seu trabalho e sua história. Tudo o que fiz, tudo o que adquiri está
em meus cães. Às vezes, um cão te traz uma frente maravilhosa e um tem-
peramento apagado. O próximo ato é continuar com essa frente e melhorar
o temperamento. Se jogar fora o que se tem corre o risco de perder tudo...
O criador é um artista, nem sempre o artista faz uma grande obra, mas o
que faz um grande artista é seu longo trabalho, é toda sua trajetória, suas
obras, cada cruzamento, cada geração. O grande criador é aquele que não
repete cruzamentos pois achou a fórmula correta, mas aquele que ousa, que
avança, que sempre está insatisfeito, sempre buscando algo novo em sua
criação. Nos dias de hoje praticamente não criamos. Criar é você pegar os
Dachshunds da década de 1930 e 1940, que vieram da Alemanha, e ver o que
os americanos fizeram na década de 1950, transformaram cães grosseiros,
sem desenho, altos, tortos, em algo tão maravilhoso como é hoje! Comprar

1°nacional da raça no Brasil. Melhor da raça e sexo oposto.


HJ Choice e HJ Aimlessly. Foto: Paulo Lang.

canil Hunter Jô 113


dois cães de qualidade e colocar para acasalar é trabalhar com o óbvio; criar
e fixar qualidades anatômicas que estavam apenas no papel e colocá-las em
prática é indescritível.

Nas ninhadas sempre temos surpresas.


Como você avalia e lida com as boas e as ruins?

As surpresas estão nas cruzas que fogem do óbvio, as ruins são onde a ex-
pectativa era maior que a realidade. Gosto de avaliar no dia de mau humor:
é melhor, o senso crítico é maior e avaliação mais real, o pensamento é sem-
pre exigir de si mais resultado. Aqui os cães depois de passarem pelos meus
olhos críticos enfrentam os olhos da minha esposa que são bem “treinados”
para serem críticos e exigentes, afinal quatro olhos enxergam melhor que

1 2

3 4

1. BIS Nacional de 2016. Aleli A.G. von Nordor. Foto: Edmilson Reis
2. BIS 1° AO 4°. Aleli, HJ Top Model, HJ Zanac e HJ Ziraldo. Acervo pessoal.
3. HJ Hasty Fine Dachs n°1 de 1993. 6° melhor cão do Brasil. Foto: Pavel
4. HJ Black Pepper. Dachs n°1 de 1996. Foto: André Mendes.

114 Top Breeders brasil


dois! A mãe natureza às vezes mostra que nem sempre você tem o poder
da criação, quando você espera selecionar uma fêmea chocolate e nascem
machos somente! Fazer o quê? Fica para a próxima...

Como você cuida das ninhadas? O que é mais importante?

A ninhada é a ponta do iceberg, que começa com o pensamento de que a


seleção é induzida, mas o restante é natural. A cruza deve ser natural, o
parto natural, a mãe deve ser boa mãe, o desmame natural, a natureza deve
agir. O belo, o sadio e o equilibrado é função nossa como criador! É segurar
a ansiedade e expectativa para avaliar estruturas. Aqui, os filhotes começam
a aprender stay com 35 dias; com 60 dias estão “craques”! Aos 60 é hora
colocar para andar e ver estrutura, movimentação e atitude de cada filhote!
Aí vem o grande desafio: achar o filhote que é o mais bonito, o mais correto
e de melhor temperamento!

A que se deve o sucesso na criação?

Amor pelo que se faz. Todos os dias eu admiro meus cães, coloco filhotes em
stay, me perco no avaliar, no planejar. Aqui tem uma frase: o filhote que vai
nascer ano que vem, já é avô, mas seu pai ainda não nasceu! Perseverança
e teimosia pois biologia não é matemática, nem sempre as coisas dão certo!
Senso crítico, pois a cegueira de canil é a junção do egocentrismo com a
preguiça mental.

Que conselhos você daria a um iniciante?

Primeiro, acreditar mais no fenótipo que no genótipo; segundo, que a beleza


é subjetiva, a estrutura anatômica não; terceiro, você cria para o mundo e
não para você; quarto, senso crítico; e quinto, não tome para você o pensa-
mento dos outros.

canil Hunter Jô 115


Qual o ponto alto da sua criação? Quando você olha para
ela, o que acredita ter aprendido ao longo destes anos?

Estruturas anatômicas corretas e os arlequins. Que a raça não deve ter um


tipo, um fenótipo, uma linhagem... é a diversidade de linhas, o tipo, que são
a chave para uma raça saudável!

O que você espera alcançar com a sua criação?

Quebrar o paradigma das cores, pois muitos enxergam as cores “dominantes”


como Dachshunds de qualidade... os arlequins, tigrados e chocolates eram e
ainda são mal vistos. Tenho criado cães excepcionais nestas cores, vencendo
grandes eventos em cima de pretos e vermelhos, mas ainda há o preconceito
até por parte de juízes! Chegar ao ponto de avaliar ninhadas inteiras como
cães aptos para exposição. Muitos esperam ter homogeneidade de tipo, eu
busco ter homogeneidade de estruturas, muito mais difícil de se conseguir.

Você vê algum benefício em criar mais de uma raça?

Já criei e foi um aprendizado importante, mas acho que para fazer um bom
trabalho não atrapalha, mas para fazer um grande trabalho sim!

Algum comentário que gostaria de acrescentar?

Sim. O grande desafio da raça é acabar com esta história de padrão america-
no e padrão europeu. Está mais do que na hora dos criadores se organizarem
para adequar os padrões à realidade mundial. O Dachshund mudou, é triste
ver que um animal da raça que se torna vencedor em solo americano pode
ser desclassificado em uma expo FCI, ou é ininteligível ver um cão fora dos
padrões FCI ganhar Best in Show. Se for discutido o padrão unificando as
“escolas cinófilas”, praticamente se resolve a questão dos tamanhos que está
praticamente obsoleta.

116 Top Breeders brasil


Top Breeders brasil

Mauro Anselmo Alves


Canil Flutter’s, fundado em 6/11/1998
Após parceria de 15 anos com a criadora
Patricia Ann Parsloe, fundou o próprio canil.

Canil Flutter’s 117


Fale um pouco sobre como começou sua história com os cães.

Eu já queria ser veterinário (como sou), desde os 8 anos de idade. Em torno


dos 15 anos de idade, iniciei um curso de adestramento para obediência,
quando trabalhei com diversas raças. Levei essa profissão até terminar o
curso de Veterinária, na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da
Universidade de São Paulo. Já entre 2007 e 2012, me tornei árbitro de todas
as raças pelo sistema CBKC–FCI.

Como e quando começou a criar?

Eu comecei a criar em parceria, no canil Nosey’s Club, por volta de 1980, em


na cidade de São Paulo.

Por que escolheu a raça Cocker Spaniel Inglês? 

Afinidade de temperamento e aparência geral.

Quais faltas você aceita e quais não aceita na sua criação?

Aceitáveis: limites de altura um pouco além de uma polegada. Não aceitá-


veis: temperamento agressivo ou tímido é imperdoável, nem uso para repro-
dução; prognatismo; cães sem testes genéticos.

O que é importante na raça que você escolheu?

Para mim, o aspecto compacto de cada exemplar, com temperamento espor-


tivo e alegre o tempo todo, demostrar aptidão para a caça independente de
caçar ou não, além de força e correção de movimento.

Você acha que a raça está melhor hoje?

Bem pior, devido ao fato de ter 4 ou 5 tipos diferentes; e a seleção aleatória.

118 Top Breeders brasil


Qual a importância do temperamento da raça
e como você trabalha para mantê-lo?

Um padrão que começa dando a ideia do temperamento do cão tem que ter
nesse item algo de importância: para mim, cães tímidos demais ou agressi-
vos são atípicos e, portanto, não devem se reproduzir.

Qual a importância do controle de doenças genéticas na


raça e o que é feito para manter este controle?

A raça possui muitos problemas genéticos e alguns são passiveis de controle.


Procuro manter em reprodução somente cães livres e no máximo carreado-
res (sempre cruzados com livres).

Canil Flutter’s 119


120 Top Breeders brasil
Por que é difícil manter uma boa criação?

Além da falta de cultura cinófila dos brasileiros, a criação aqui se baseia em


modismos e a competição é desigual entre criadores de fato e cachorreiros,
que só buscam lucro a qualquer custo. Os custos de uma criação de qualida-
de são muito altos e como os patrocínios hoje são raros, dificulta bem.

Como você utiliza o pedigree?

Uso o pedigree como fonte de orientação.

Canil Flutter’s 121


Como e quando você planeja um cruzamento
e quais critérios utiliza para escolher um padreador?

Sempre que pretendo guardar um novo exemplar, planejo um ou mais cru-


zamentos buscando um determinado objetivo. Os critérios de seleção de pa-
dreadores se baseiam em uma tabela de pontos de qualidades: machos com
nota abaixo de sete não são usados e fêmeas abaixo de seis também não.

122 Top Breeders brasil


Canil Flutter’s 123
124 Top Breeders brasil
Você consegue bons padreadores no Brasil?
Quando usa padreadores do estrangeiro, como faz a busca?

Atualmente, meu plantel usa os padreadores que crio ou eventualmente tra-


go um macho de mesma linha do estrangeiro para complementar.

Você usaria um padreador que ninguém tenha utilizado?

Sim, usaria, se ele estivesse dentro do que busco na raça.

O que você usa: inbreeding, linebreeding ou outcross?

Sempre linebreeding.

Existe uma hora em que é necessário abandonar uma linha


de criação? Isto já aconteceu com você?

Sim, existe, e já passei por isso devido a faltas que essas linhas fixavam na prole.

Nas ninhadas sempre temos surpresas.


Como você avalia e lida com as boas e as ruins?

As boas notícias sempre são bem-vindas. Com as más, costumo ponderar o


tamanho da repercussão dela dentro do plantel.

Como você cuida das ninhadas? O que é mais importante?

Acompanho a gestação de perto e os partos são assistidos, mas sem inter-


ferência, já que seleciono habilidades maternais das matrizes. Tenho como
critério que fêmeas que tiverem partos por cesárea serão castradas assim
como suas filhas e filhos.

A que se deve o sucesso na criação?

Estudo, aprendizado com os mais velhos, experiência de anos de criação e


planejamento.

Canil Flutter’s 125


Que conselhos você daria a um iniciante?

Não se encha de cães no começo e lembre que a base do canil são as fêmeas.

Qual o ponto alto da sua criação? Quando você olha para


ela, o que acredita ter aprendido ao longo destes anos?

Frentes e temperamentos. Aprendi que criar é para os fortes.

O que você espera alcançar com a sua criação?

Encontrar o tipo que entendo correto, em quantidade, nas exposições.

Você vê algum benefício em criar mais de uma raça?

Não, não vejo nenhum benefício.

126 Top Breeders brasil


Top Breeders brasil

Marco Flávio Botelho


Torquay Kennel

Torquay Beagles.
Alessandra Botelho, Marcelo Chagas e Marco Flávio Botelho.
Unidos pela amizade e pelo amor a raça Beagle desde 1993.

Torquay Kennel 127


Nasci e cresci em Belo Horizonte (MG), em uma família, tanto por parte de
pai como por parte de mãe, que nunca teve cão de estimação. Em 1977, a ci-
dade ainda era muito pacata e as crianças brincavam na rua com os vizinhos.
Um dos meus amigos de infância adquiriu um Cocker Spaniel Inglês, raça da
moda no Brasil, na época. Talvez, pela carência de nunca ter tido animal do-
méstico, frequentava sua casa diariamente para brincar com este cão. Após
muita insistência, pedi aos meus pais para também ter um cão e escolhi a
raça Cocker Inglês. Foram muito resistentes a isso.

A aquisição deste animal não foi fácil, pois Belo Horizonte, apesar de ter ex-
celentes exposições de cães, nesta época (todas ocorriam no Parque Bolivar
de Andrade, no bairro Gameleira) ainda era muito difícil para adquirir cães
de raças diferentes. Até então, o Cocker Inglês ainda era uma raça pouco
difundida em Minas Gerais. Procurava os filhotes e, quando estava a ponto
de adquirir, já estavam reservados para outras pessoas.

Até que um dia, meu pai, lendo um jornal do Rio de Janeiro, o “Jornal do
Brasil”, viu um anúncio de uma ninhada sendo vendida e resolveu entrar em
contato com a criadora. Foi quando comprou o meu tão esperado filhote.
Ele foi adquirido de uma grande criadora na época, chamada Diva Ribeiro.
Como se não bastasse meu primeiro vizinho, outro, chamado José Eid Farah,
era um grande criador de Collie Pelo Longo, coproprietário de vários animais
da raça juntamente com meu amigo atual, Alexandre Carvalho. Além disso,
frequentava diversas exposições, me incentivando neste sentido.

Todos os sábados, meu pai me levava para passear e, como um de seus há-
bitos era a leitura, me levava semanalmente em bancas e agências de livros
e revistas, adquirindo diversas literaturas sobre cães de raça e, uma delas,
foi um livro da raça Cocker Spaniel Inglês, que ensinava os princípios básicos
de uma exposição canina. Além disso, sobre treinamento dos animais. Sem
saber direito como era o método mais correto, fui para a rua, nas imediações
da minha casa e eu mesmo comecei a treiná-lo.

Em 1978, participei da primeira exposição em Belo Horizonte. A título de


curiosidade, o juiz da ocasião era meu grande amigo Jayme Martinelli e tam-
bém a Sra. Carla Molinari, de Portugal. Esta primeira exposição foi muito

128 Top Breeders brasil


importante, bastante disputada. Nessa década, uma exposição normal tinha
em média 1000 cães inscritos. Ganhei Melhor da Classe com meu cão que se
chamava Gatsby of Royal Street. Aquela satisfação da vitória me incentivou
a participar de exposições caninas e apresentar meu cão em outros estados
e também no interior de Minas Gerais. Conheci muitos criadores de outras
raças e também diversos cães maravilhosos. Daí por diante não parei mais
até os dias de hoje.

MULTI.BIS.MULTI.CH. TORQUAY MIDNIGHT CONFESSION.

MULTI.BIS.MULTI.CH. TORQUAY MIDNIGHT VICTORY.

Torquay Kennel 129


MULTI.BIS.MULTI.CH TORQUAY SHREK.

Visto que o “vírus” da cinofilia estava introduzido no sangue, comecei a


participar de exposições. Elas não só serviram para eu adquirir experiên-
cia profissional na área, como também na vida em geral. Era muito novo e
praticamente só convivia com adultos. Pouco tempo depois, já tinha feito
muitas amizades. Minha casa era palco de várias conversas com renomados
cinófilos que, hoje, estão em atividade e alguns já falecidos, como Flávio
Werneck, Leonardo Soares, Dino Miraglia, Daniel Beloff, Pedro Henriques,
Mauro e Shirley Atalla, Leda Miranda, Rodrigo Ratton, Flávio Pinto Coelho,
Flávio Neves, além de diversas outras amizades, inclusive com o autor deste
livro – Daniel Pinto Coelho.

A base da minha carreira cinófila foi constituída, em partes, por aprendiza-


dos compartilhados por estes nomes citados anteriormente. Nesta época,

130 Top Breeders brasil


o esporte possuía caráter amador. O profissionalismo da cinofilia no Brasil
apenas começou cerca de dez anos depois.

Participando de uma palestra promovida pelo Kennel Club de Minas Gerais,


como era chamado na época (hoje Kennel Club da Grande BH), conheci o
palestrante Gilson Tavares de Morais e Castro, na época, um dos maiores
criadores de Cocker Americano do país, sob o prefixo de Moonlight Bay Ken-
nel e proprietário de uma pequena empresa de nutrição canina que se cha-
mava “King Pet”. Estava com um problema de saúde com meu cão. Gilson se
ofereceu para ir até minha casa me ajudar, onde existia um pequeno canil no
quintal. Ele encontrou com meu pai, que na época trabalhava com aquisição
de empresas para Minas Gerais. Gilson foi convencido a trazer sua empresa
para o Estado.

Devido à convivência com Gilson em Minas Gerais, além de Flávio Neves e


ainda a grande criadora e amiga Sônia Santiago, parei a criação de Cocker In-
glês para me dedicar somente aos Cockers Americanos. Importei vários cães,
venci muitas exposições e criei Cockers Americanos até minha entrada na
faculdade, quando não consegui unir as duas tarefas, abandonando a raça.

Logo após minha graduação, queria um projeto maior que um simples canil
de fundo de quintal. O sítio dos meus familiares, após um longo período sem
uso, foi o começo do meu canil, em Betim, registrado como Torquay Kennel.
Iniciei, neste espaço, com Dobermans, mas em pouco tempo decidi mudar
pelas inúmeras dificuldades encontradas na raça. Nesta época, um criador
local de Beagles mantinha seus cães em meu canil e, num certo período, o
seu trabalho o levou para fora do país por mais ou menos três anos. Estes
cães ficaram aos meus cuidados. Então, percebi que era a raça ideal.

Nesta época, comecei a namorar Alessandra Lamarca, minha esposa e, em


comum acordo, pelo gosto pela raça, fundamos o Torquay Beagles, adqui-
rindo nosso primeiro exemplar fêmea chamada Husher Hunt Summer Time
– Dee-Dee, criação de Gabriel Mangualdi. Poucos meses depois, os handlers
Daniel Beloff, Flávio Werneck e Marcelo Chagas levaram esta cadela a gran-
des vitórias. Posteriormente adquiri cães de renomados criadores da época,
como Marcelo Schneider e Patrícia e Alberto Bonfiglioli Neto. Estes últimos,

Torquay Kennel 131


por motivos pessoais, deixaram de criar Beagles, passando uma parte do
valioso plantel para nós. Jamais esquecerei esta iniciativa.

Com muito estudo, dedicação e também sorte, entrelacei os cães de Alber-


to Bonfiglioli com alguns de Marcelo Schneider, resultando na origem do
plantel do Torquay Beagles. Não há como relatar, neste artigo, pormenores
da criação, pois são diversos acontecimentos, cães nascidos, exposições que
participei e inúmeras vitórias.

Nesta ocasião, o handler Marcelo Chagas se mudou de São Paulo para os


Estados Unidos. Nesta viagem, já levou consigo um exemplar de nosso canil,
para fazer um teste. Este exemplar era uma fêmea de nome Torquay Ma-
nhattan Bridge - Samantha. Ela obteve alguns resultados expressivos para o
handler recém-chegado aos EUA. Após cerca de dois anos, Marcelo retornou
ao Brasil para visitar seus parentes e organizar a documentação de moradia
americana definitiva. Ficou por várias semanas aqui. Tivemos tempo para
conversar sobre um novo cão para competir nos EUA.

Enviei para ele Torquay Central Station - Eric, se tornando o melhor Beagle
15” do país em 2006, vencendo 11 Best in Shows. Em 2003, adquiri uma fê-
mea 15”, Wishing Wels Speaking No Evil. Por dois anos foi exposta no Brasil
e depois sugeri ao Marcelo que Frost retornasse aos EUA para acasalar com
Eric. Em junho de 2007, a primeira ninhada do Torquay Beagles nos EUA
nasceu. Dela resultou uma fantástica cadela, Torquay Midnight Confession
- Lola, que viria a ser tornar o Beagle mais bem-sucedido da história do Ame-
rican Kennel Club. Outro filhote desta ninhada também estava destinado a
deixar sua marca: Torquay Be Nice To Me - Jr. Foi o #1 Hound do Canadá em
2009, apresentado no país por Will Alexander. Mais tarde, no mesmo ano,
enviei outro cão aos EUA, Torquay Over The Top - Austin, que se sagrou Best
of Opposite Sex na nacional do Beagle Club of America, em sua primeira
apresentação.

Depois destes, vieram diversos outros Beagles de nossa criação que se tor-
naram campeões americanos e se mostraram de grande valia. Pelos tantos
anos de criação e pela grande quantidade de campeões americanos na his-
tória do canil, mais de 20, não há condições de explicar um por um. Sendo

132 Top Breeders brasil


MULTI.BIS.MULTI.CH. TORQUAY BE NICE TO ME

assim, citarei alguns nomes: Torquay Virginia Is For Lovers, Torquay Hough
Culture, Torquay Southern Belly, Torquay Midnight Misstress, Torquay Mid-
night Hendesvous, Torquay Rumba, Torquay Winner Takes It All. Não poderia
deixar de destacar também, Torquay Midnight Interlude, vencedora Top20
nos EUA e se tornou Beagle 13” #1 em 2015. De 2014 a 2016 competimos
com Torquay Midnight Victory, tornando-a a Beagle #1 dos EUA por três anos
consecutivos, uma das maiores vencedoras do nosso canil desde o início,
perdendo apenas em número de vitórias para Lola.

Assim como nos EUA, expunha concomitantemente no Brasil e gostaria de


destacar alguns exemplares de importância de exposição e criação: Torquay
Shrek, recorde de Best in Shows na raça de todos os tempos no Brasil, Elvis
Von Wilhelm (importado do Chile), Santo Alberto’s True Story, Santo Alber-
to’s Biscany, Santo Alberto’s Joie De Vivre, Santo Alberto’s Barbizon Gambo,
Torquay McMelt, Santo Alberto’s Yellow Pages, Torquay Unbreak My Heart,
Torquay Times Square, Lanbur Bourbon Supreme, Batuco Von Wilhelm (me-

Torquay Kennel 133


lhor da raça – Mundial Brasil 2004), McBacc Alfa, Torquay Up to No Good,
Torquay Magnum, K – Run’s The Truth Be Told,

Também gostaria de registrar que há uma quantidade de cães que se tornaram


os melhores do Brasil, entre outros vencedores de exposições importantes na
América do Sul e centenas de Best in Show conquistados com nosso plantel
brasileiro. Pelo mesmo motivo, não há condições de citar cada um particular-
mente, mas é de suma importância que esta trajetória seja lembrada.

Fox Terrier Pelo Liso

Apesar dos muitos anos criando a raça Beagle, sempre tive paixão por Ter-
riers. Um dia, no escritório da Revista Cães de Fato, especializada em cães de
exposição, ainda hoje em atividade, meu antigo sócio Saulo Biscoto Jr. con-

MULTI.BIS.MULTI CH. TORQUAY CENTRAL STATION

134 Top Breeders brasil


tou que tinha uma grande amiga americana de nome Debbie Butt, criadora
da raça Whippet e Fox Terrier Pelo liso. Ela entregou a Biscoto, em uma de
suas viagens, a foto de uma fêmea Fox Terrier Pelo Liso, de nome Sporting
Field Road Runner – “Beep Beep”, dizendo que a cadela estava à venda.
Perguntou se havia algum interesse no Brasil em sua aquisição. Conversei
com minha esposa, Alessandra Botelho, e resolvemos criar a raça também.
Quando vi sua foto, comprei a cadela imediatamente. Fiquei impressionado
com a maravilha do animal e já adorava cães provenientes do grupo Terrier.

A partir deste ponto, adquiri outros animais importados de outros países


como Argentina (Tambien De La Gran Aldea, Irina De La Gran Aldea), EUA
(Gatsby’s Take Charger N’ Sportingfield, Gatsby’s Bagel N’ Sportingfld, Cha-
seland’s Buck Woodberry), Uruguai (Coming Back Bart Del Retorno, Coming
Back Boris Del Retorno), montando um plantel com uma das melhores linhas
mundiais de sangue da época.

Foram diversos Best in Shows, sendo que Gatsby’s Take N’ Charger Sportin-
gfield, além de Reserva de Best in Show na Sicalam – Argentina 2003 e três
anos consecutivos entre os dez melhores cães do Brasil, se tornou em 2002
o melhor cão do Brasil de todas as raças. Após este grande feito, comecei
a expor Coming Back Boris Del Retorno, levando-o ao título de Bicampeão
Mundial – Argentina em 2005 e Brasil em 2004. Depois destes cães, ex-
pus muitos outros de minha criação, com destaque merecido para Torquay
S Demetrio, em uma exposição em Belo Horizonte, promovida pelo KCGBH
e julgada pelo renomado handler e expert em Terriers Clay Cloud, que me
pediu para levar o cão para competir nos EUA, sendo ele coproprietário do
mesmo. Duas semanas após, o cão já era exposto nos EUA e a ascensão foi
meteórica. Este cão ganhou 71 Best in Shows, mais de 500 Group Firsts,
três Nacionais da Raça – Montgomery County Kennel Club, três Melhor da
Raça com classificações no grupo no Westminster Kennel Club Dog Show e
Best in Show nos mais importantes clubs especializados de Terrier dos EUA,
além das mais famosas exposições do país, se tornando o maior vencedor da
história da raça de todos os tempos no mundo. Recentemente perdeu este
recorde para um cão americano.

Torquay Kennel 135


Multi.bis.multi.ch. Torquay S R avel.
#1 Fox Terrier pelo liso Brasil 2017.

Multi.bis.multi.ch. Torquay S Rocky Balboa.

136 Top Breeders brasil


Expus também, Torquay S Rocky Balboa, em copropriedade com meus ami-
gos Sílvio Neves Baptista Filho e Marcos Loureiro, tornando-se um dos me-
lhores cães do Brasil em 2010.

Após este feito, já criamos mais de 10 campeões brasileiros e exportamos


vários animais para diversos lugares do mundo. Recentemente, um cão tem
nos dado muita alegria. Torquay S Ravel, exposto no Brasil e nos EUA, ga-
nhou o Best in Show em ambos.

Em ambas as raças de nossa criação não há como citar todas as conquistas


nestes 39 anos de carreira, devido à quantidade das mesmas.

Revista Cães de Fato

Em 1994, criei esta revista com o objetivo de ocupar um nicho de mercado


percebido por mim como uma lacuna no Brasil. Assim como na cinofilia de
países importantes, Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, precisávamos
de uma representante do cenário brasileiro e latino-americano no que diz
respeito a publicações cinófilas. A Revista Cães de Fato continua, até hoje,
a ser distribuída em toda a América Latina e, eventualmente, no exterior do
continente, se firmando como um dos mais importantes periódicos da Amé-
rica do Sul especializados na cinofilia.

Torquay Kennel 137


138 Top Breeders brasil
Top Breeders brasil

Carlos Flaquer
Canil Chaputepek Mastiffs
(originalmente fundado como Chaputepeque), em 1975.

Canil Chaputepek Mastiffs 139


Fale um pouco sobre como começou sua história com os cães.

Meu pai importou as primeiras fêmeas em 1975 e a primeira ninhada nasceu


em janeiro de 1978. Nós já criávamos o Fila Brasileiro, pois nosso pai foi co-
fundador do Clube do Fila, mas vimos que o Mastiff consegue ser maior que
os Filas e é uma raça bem mais amorosa. Foi paixão total!

Como e quando começou a criar?

Em 1987, meu pai ficou doente e não pôde dar mais dar continuidade à criação.
Eu sou o filho mais velho e, com 17 anos de idade, comecei a cuidar de fato do
canil. Foi em 1988 que assumi de fato a criação e mudei o nome de Chapute-
peque para Chaputepek, para dar um tom mais inglês ao nome do canil.

Por que escolheu a raça Mastiff?

Bem, eu sempre gostei de gigantes, mas o que mais me encanta na raça é a


fidelidade ao dono. O Mastiff, mesmo na dor, nunca ataca o dono. Eles não
escolhem pessoas, ele consegue amar a todos da família com a qual convive
e adora crianças.

Quais faltas você aceita e quais não aceita na sua criação?

Faltas, na verdade, por eu ser meio perfeccionista, não aceito nenhuma. Po-
rém, tem coisas como um posterior um pouco mais fraco, uma linha de dorso
às vezes não tão reta acontecem no plantel, sem que este animal perca as
características e a beleza. Mas o que eu não tolero é falta de temperamento.

O que é importante na raça que você escolheu?

Temperamento, porte, ossatura, cabeças potentes, mas sempre com equilí-


brio e boa movimentação.

140 Top Breeders brasil


Você acha que a raça está melhor hoje?

Três itens melhoram muito desde o início da raça no Brasil, entre eles tempe-
ramento, pois os primeiros que vieram eram cães fracos nessa característica,
e tinham alguns até covardes mesmo. Os posteriores, pois graças a muitos
criadores sérios hoje, a displasia da raça chega a ser menor que em outras,
de menor tamanho. Antes, você via Mastiff sendo sacrificado aos três anos,

Canil Chaputepek Mastiffs 141


por não andar mais. E pigmentação e porte: antigamente e inclusive com as
mestiçagens de alguns, víamos muitos Mastiffs sem máscara, olhos claros e
manchas brancas excessivas, com tamanho ínfimo, com machos abaixo de
76cm e fêmeas abaixo de 65cm. Hoje, a média de machos fica entre 78-82cm
e fêmeas entre 72-78cm. Mas temos os extremos também, de machos com
90cm e 130kg e fêmeas de 85cm com 100kg.

Qual a importância do temperamento da raça


e como você trabalha para mantê-lo?

Para mim, o temperamento é crucial. Venho aprimorando isso, introduzindo


animais importados com linhas de temperamento bem firme. Na seleção de
matrizes e reprodutores eu sou muito rigoroso, pois não admito extremos,
nem medroso e nem agressivo.

Qual a importância do controle de doenças genéticas na


raça e o que é feito para manter este controle?

É muito importante, pois como gigantes que são, os problemas articulares


são fato na raça. Então, faço há mais de 15 anos o controle de displasia de
coxofemoral e de cotovelo. Através de laboratórios americanos temos alguns
cães já importados com controle de cistinúria, epilepsia, cardiopatias, entre
outras doenças já mapeadas, onde apenas com um swab de bochecha se
detecta se o cão é portador ou não do gen da doença.

Por que é difícil manter uma boa criação?

No meu caso, hoje o problema de genética aumentou, pois as companhias


aéreas não transportam mais a raça por vários motivos, entre eles o tamanho,
o tipo de cabeça, uma vez que algumas empresas os qualificam como braqui-
céfalos extremados, o que é um erro de classificação. Também os classificam
como agressivos, no que o Mastiff Inglês também não se enquadra. Dessa
forma, só nos resta o transporte via cargo. Assim, para trazer o cão de fora ou
levar a sua fêmea para acasalar, os preços pulam de 300 dólares para 3000
dólares, já que o Brasil não permite importação de sêmen congelado de cães.

142 Top Breeders brasil


Como você utiliza o pedigree?

O pedigree quando de origem confiável e de criador idôneo é toda a base


para produção de excelentes linhagens, pois é a união das características
genéticas e fenotípicas que fazem a construção dos grandes exemplares que
as raças conhecem e usam.

Como e quando você planeja um cruzamento


e quais critérios utiliza para escolher um padreador?

Quase sempre uso cruzamento em linebreeding e eventualmente inbreeding.


Mas, para isso, tem que conhecer toda a árvore genealógica de cada lado,
para que conhecendo os potenciais itens estruturais e de comportamento
que eles carregam, possam passar estas características para a progênie. Po-
rém, a cada 4 a 5 gerações de fechamento de sangue, eu sempre me obrigo
a fazer um refrescamento trazendo um exemplar de fora da minha linhagem,
mas sempre oriundo de uma linhagem fechada. O objetivo é que ele intro-
duza na minha linha de sangue os 50% que preciso e busco na linhagem de
fora, complementando a minha.

Canil Chaputepek Mastiffs 143


Você consegue bons padreadores no Brasil?
Quando usa padreadores do estrangeiro, como faz a busca?

Eu construo meus padreadores, porém sempre que preciso faço troca de san-
gue mandando meus animais a canis dos EUA e da Europa. Em troca, eles me
mandam cães para eu usar aqui no meu plantel. Desta forma, nos ajudamos
mutuamente.

Você usaria um padreador que ninguém tenha utilizado?

Sim, uso, se eu conhecer a linha de sangue.

O que você usa: inbreeding, linebreeding ou outcross?

Como disse, uso as três opções, pois é através delas que conseguimos a me-
lhor construção de cães com características genéticas e, o melhor, teremos
uma identidade de um tipo quase fixa no seu plantel.

Existe uma hora em que é necessário


abandonar uma linha de criação? Isto
já aconteceu com você?

Sim, já. Tive um exemplar que era o último de sua


linhagem, pois a criadora – inglesa – não abria
o sangue para ninguém. Passado um tempo, de-
pois que ele morreu, eu até consegui mantê-lo
na linha de sangue da minha criação, porém vai
se diluir, uma vez que não existem mais exem-
plares para se fazer a manutenção da linhagem.
Em casos em que uma linhagem apresentou al-
gum problema genético, eu me obrigo a descar-
tá-la da minha linha de sangue.

144 Top Breeders brasil


Nas ninhadas sempre temos surpresas.
Como você avalia e lida com as boas e as ruins?

Ninhada não é receita de bolo. Então, às vezes, tudo vai bem, mas também
temos problemas como mães sem habilidade materna, ninhadas muito nu-
merosas. Mas, também, ocorre a falta de habilidade dos funcionários que
cuidam. Por isso, o sucesso de um canil é o manejo.

Como você cuida das ninhadas? O que é mais importante?

Meus filhotes nascem e eu, como veterinário, retiro sangue da mãe no mes-
mo dia, centrifugo, e o soro obtido deste sangue inoculo de 0,5 a 1ml via
intraperitoneal nos bebês, provocando uma iniciação imunológica neles. O
manejo para a mãe não deitar em cima dos filhotes é crucial. E, claro, con-
trolar e até suplementar as mamadas, pois, se não, alguém mama demais e
outro passará fome e morrerá em ninhadas acima de oito filhotes.

Canil Chaputepek Mastiffs 145


A que se deve o sucesso na criação?

Planejamento com certeza, porém muitas vezes o feeling pra escolha de um


filhote na ninhada ou acasalamento já foram a chave do meu sucesso.

Que conselhos você daria a um iniciante?

Buscar bons mentores, criadores sólidos na raça que vem obtendo sucesso
há mais de cinco anos (pelo menos), pois neles você irá encontrar suporte
genético e técnico para iniciar. E claro, nunca iniciar com machos, pois toda
base de um canil de sucesso inicial são as matrizes.

146 Top Breeders brasil


Qual o ponto alto da sua criação? Quando você olha para
ela, o que acredita ter aprendido ao longo destes anos?

Nos últimos 25 anos atingi um patamar mundial de referência na raça. Hoje,


creio estar entre os 10 melhores do mundo, pois tenho e tive cães consagra-
dos em todos os continentes. Aprendi que nunca cheguei ao topo e continuo
buscando melhoras: não paro no tempo e nem na criação.

O que você espera alcançar com a sua criação?

Ter um cão ganhador na Crufts e na nacional americana. Claro que também


ser lembrado na história da raça quando esta for citada após minha morte.

Você vê algum benefício em criar mais de uma raça?

Eu tenho uma raça de pequeno porte, a Terrier Brasileiro, e, em 15 anos, já


me coloquei entre os 5 melhores do país. Nela eu consigo quase que a per-
feição na guarda familiar, pois a união do Mastiff e do Terrier aprimora muito
a eficácia de proteger a sua residência.

Algum comentário que gostaria de acrescentar?

Sim. Diminuiu muito o número de criadores da raça, talvez pelo custo alto
ou pela falta de espaço nas grandes metrópoles, mas até prefiro assim, pois
toda raça que tem modismo tende a se perder na qualidade.

Canil Chaputepek Mastiffs 147


148 Top Breeders brasil
Top Breeders brasil

Enrique Graziano
Canil Di Graziano

Canil Di Graziano 149


Fale um pouco sobre como começou sua história com os cães.

Sempre tivemos cães na família de meus pais. A função era para a guarda
da casa, mas com o tempo começou a nascer um interesse maior por eles e,
assim, pela criação.

Por que escolheu a raça Mastino Napoletano?

A origem da raça que crio é italiana, mais precisamente da região de Nápo-


les, que é de onde tem a origem minha família. Meus tios criavam essa raça
quando ela mesma ainda não tinha o reconhecimento da FCI. Cresci ouvindo
historia de coragem, fidelidade destes cães e me apaixonei antes mesmo de
ver o primeiro exemplar na minha frente.

Quais faltas você aceita e quais não aceita na sua criação?

Aceito pequenas faltas de estrutura, falta de um temperamento forte, mas


jamais falta de tipicidade rácica, que no caso deste molosso é muito relacio-
nado com a cabeça dos cães.

O que é importante na raça que você escolheu?

Tudo é importante para uma raça, mas a cada período as necessidades mu-
dam e, como consequência, as prioridades de criação. O que nunca pode
mudar é a constante busca e fixação pelo tipo correto, funcional e saudável.

Você acha que a raça está melhor hoje?

Em relação à estrutura estamos infinitamente melhores, mas perdemos em


relação à saúde e funcionalidade.

Qual a importância do temperamento da raça


e como você trabalha para mantê-lo?

Infelizmente, o quesito temperamento vem perdendo muito a importância.

150 Top Breeders brasil


Canil Di Graziano 151
Hoje temos cães que fazem parte da família e a função foi deixada para
segundo plano.

Qual a importância do controle de doenças genéticas


na raça e o que é feito para manter este controle?

Não existe nenhum tipo de controle genético para a raça que crio.

Por que é difícil manter uma boa criação?

A maior dificuldade está em se conseguir um bom plantel. Conseguimos tirar


boas ninhadas com poucos cães, mas uma verdadeira seleção exige um núme-
ro maior de cães compatíveis para cruza e todos de excelente tipo/saúde/
funcionalidade. Essa é a grande dificuldade para se ter uma boa criação.

152 Top Breeders brasil


Como você utiliza o pedigree?

Minha raça, infelizmente, tem um número muito pequeno de nascimentos/


ano e isso faz com que não exista um pool genético muito grande. O pedi-
gree serve para estudarmos possíveis índices de inbreeding.

Como e quando você planeja um cruzamento


e quais critérios utiliza para escolher um padreador?

Os cruzamentos são sempre planejados buscando na raça o meu maior obje-


tivo que são tipo/saúde/funcionalidade.

Canil Di Graziano 153


Você consegue bons padreadores no Brasil?
Quando usa padreadores do estrangeiro, como faz a busca?

São bem poucos os bons reprodutores no Brasil de minha raça, uma vez que
é pequeno o número de cães existentes. Quando pretendo utilizar algum re-
produtor de fora não busco somente um bom reprodutor e sim um padreador.

Você usaria um padreador que ninguém tenha utilizado?

Com certeza usaria, desde que o mesmo tenha o tipo e a genética que busco.

O que você usa: inbreeding, linebreeding ou outcross?

Como a raça tem um pequeno número de cães no mundo todo, o inbreeding


e o linebreeding são os mais utilizados por todos.

154 Top Breeders brasil


Existe uma hora em que é necessário abandonar
uma linha de criação? Isto já aconteceu com você?

Existe uma hora que você precisa não abandonar uma linha de criação, mas
um outcross total com as novas realidades da raça e introdução deste san-
gue novo (qualidades novas). Este momento é muito perigoso, pois pode-se
perder seu tipo.

Nas ninhadas sempre temos surpresas.


Como você avalia e lida com as boas e as ruins?

Com as surpresas ruins, mudamos a escolha das linhas de sangue utilizadas; e


nas surpresas boas, continuamos na linha de pensamento das outras cruzas.

Canil Di Graziano 155


Como você cuida das ninhadas? O que é mais importante?

As ninhadas precisam ser bem tratadas, com muita atenção, higiene e boa
alimentação.

A que se deve o sucesso na criação?

O sucesso na criação se deve a muito empenho, dedicação, amor e SORTE.

Que conselhos você daria a um iniciante?

Estudar, estudar, estudar, estudar a raça e a cinofilia. Conversar com todos os


criadores mais antigos e formar sua própria opinião, com os conhecimentos
obtidos através dos estudos da raça e da cinofilia.

156 Top Breeders brasil


Qual o ponto alto da sua criação? Quando você olha para
ela, o que acredita ter aprendido ao longo destes anos?

Aprendi a ter calma, focar num objetivo e tentar não sofrer influências de
modismos.

O que você espera alcançar com a sua criação?

Espero alcançar ninhadas homogêneas, típicas, saudáveis e funcionais.

Você vê algum benefício em criar mais de uma raça?

O benefício em se criar mais raças é trazer sucessos e experiências de uma


raça para outras.

Algum comentário que gostaria de acrescentar?

Criação é dedicação e se abster de uma vida própria em favor dos cães. Quem
cria visando somente ganhos financeiros esta fadado ao fracasso. A criação
está sempre evoluindo, e está sempre girando. Uma hora temos os melhores
cães e somos referências, e em outros momentos, não temos nada que pres-
ta nas mãos. Por isso, humildade é uma palavra-chave para quem pretende
ser um bom criador.

Canil Di Graziano 157


158 Top Breeders brasil
Top Breeders brasil

Luiz Fernando Ribas Silva


Charleston Dobermanns, maio de 1974

canil Charleston Dobermanns 159


Fale um pouco sobre como começou sua história com os cães.

Desde muito pequeno tinha paixão por cães, mesmo não tendo ainda ne-
nhum em casa. E acho que ainda bebê, quando comecei a falar, pedia sem-
pre para os meus pais comprarem um filhotinho. E aos 3 anos de idade, ga-
nhei uma filhota de Pinscher Miniatura. Depois tivemos outros dessa mesma
raça e quando tinha 8 anos de idade, comecei a colecionar e ler os fascículos
mensais (durante dois anos, em dois volumes com mais de mil páginas) da
Enciclopédia Canina, de autoria do italiano Fiorenzo Fiorone, editado em
1970. Li todos os padrões oficiais e histórias das mais de 300 raças caninas
existentes na época e decidi que a raça que queria criar era o Dobermann!

Como e quando começou a criar?

Depois de ter decidido a raça que queria iniciar a minha criação, comecei a
pedir e tentar convencer meus pais – porque havia e ainda há preconceitos
e mitos contra a raça – para comprar uma filhota de Dobermann. Então,
finalmente adquirimos uma filhota de um criador daqui de Curitiba, chama-
da Tula do Airerê. Na primeira exposição que a levei e apresentei, venceu
Melhor Filhote da Raça e Melhor Filhote da Exposição! Que incentivo seria
melhor para uma criança do que vencer um Best in Show na sua primeira
exposição?! Depois participei de várias exposições com ela como filhote e
jovem, mas os resultados nunca mais foram tão bons como na estreia! Foi
quando comecei a estudar de forma mais técnica e especializada o padrão
oficial da raça. Queria saber as qualidades e faltas da minha cachorra. Então
decidi retirá-la das pistas e acasalá-la, depois de pesquisar o futuro “marido”
dela por quase dois anos, participando de todas as exposições possíveis,
além de estudar os pedigrees e literaturas especializadas. E, aos 11 anos de
idade, iniciei a criação especializada da raça Dobermann, registrando o Canil
com o nome Charleston junto ao BKC (Entidade Nacional da época) e FCI.

Quais faltas você aceita e quais não aceita na sua criação?

Bem, incialmente, é preciso dizer que todo e qualquer cão de raça possui
faltas de acordo com seus padrões oficiais. Claro que alguns possuem faltas

160 Top Breeders brasil


mais graves e outras mais leves, mas é fundamental que o criador as reco-
nheça para tentar melhorá-las; bem como reconhecer as qualidades para
tentar mantê-las nas próximas gerações. Não aceitamos faltas graves e des-
qualificantes de acordo com o padrão oficial. Se um filhote da nossa criação
tiver tal falta ou uma enfermidade grave genética, será castrado e nunca
será usado na reprodução.

MultiBIS.&MultiCh. CHARLESTON ORPHEU V. PARSIFAL


Foto: Evelyne Ribas

canil Charleston Dobermanns 161


A raça que criamos possui muitas faltas desqualificantes de acordo com o
padrão FCI, que são mais rigorosas do que a maioria das outras raças. Uma
simples falta de dente ou mordedura diferente da em “tesoura”, por exemplo,
é desqualificante na raça Dobermann pelo padrão FCI, mas não é em ne-
nhum dos outros padrões da raça como AKC (EUA), CKC (Canadá), TKC (Ingla-
terra), entre outros. Mas, mesmo assim, somos seletivos e acreditamos que
um filhote que não tenha um nível de qualidade para exposição não deverá
ser usado para a reprodução. Diferentemente de alguns outros criadores,
nunca usamos recursos artificiais como próteses ou aparelhos dentários ou
até correções cirúrgicas, para vender depois tais cães por altos valores para o
exterior. Por princípios e caráter, acreditamos que tais atitudes são antiéticas
e até desonestas não só para os futuros proprietário desses exemplares, bem
como para outros criadores interessados em usar um desses padreadores e,
até mesmo juízes, mas principalmente, porque tais criadores estão, na ver-
dade, enganando a si próprios!

MultiBIS.BISS.Gr.Venc.Nac.MultiCh. CHARLESTON MAVERICK V. PARSIFAL

162 Top Breeders brasil


O que é importante na raça que você escolheu?

Na raça Dobermann, o equilíbrio de suas características é fundamental, tan-


to as físicas (estrutura) como mentais (temperamento), além de saúde, que é
essencial tentar melhorá-la em toda criação séria e bem-sucedida. A cabeça
e a expressão são características fundamentais e de tipicidade da maioria
das raças.

Você acha que a raça está melhor hoje?

Difícil afirmar, mas acredito que de um modo geral, a raça Dobermann hoje
está em um nível inferior se comparado há 10, 20 ou até 30 anos, infelizmen-
te, principalmente quanto à saúde, mesmo tendo hoje muito mais recursos
de exames genéticos (através de DNA) do que antigamente. Mas a longevi-
dade era superior de um modo geral.

Qual a importância do temperamento da raça


e como você trabalha para mantê-lo?

O temperamento é fundamental nos Dobermanns, pois é uma raça que foi


criada e desenvolvida em função única e exclusiva de seu temperamento,
como um cão de escolta e guarda. Para tanto, ele deve possuir equilíbrio e
discernimento para ser, ao mesmo tempo, um cão de companhia, de família
e de defesa tanto pessoal como territorial, quando necessário. Para manter
isso, bem como todas as outras características positivas de uma linhagem de
criação, a base é o selecionamento e felizmente o temperamento é uma das
“marcas registradas” da nossa criação.

Qual a importância do controle de doenças genéticas na


raça e o que é feito para manter este controle?

Também é fundamental em qualquer criação, pois antes de serem cães de


exposição, são cães de companhia de lares e famílias e a saúde é um ponto
essencial. Infelizmente, a raça Dobermann possui várias doenças genéticas.
A seleção e a realização de exames básicos e genéticos disponíveis (DNA

canil Charleston Dobermanns 163


VWD, cardio, displasia, tireoide, entre outros) nos pais, avós e tios dos futu-
ros filhotes são essenciais para a tentativa da melhora da saúde genética da
nossa criação e da raça em geral. Mas só isso não basta, pois os outros cria-
dores da mesma raça devem também ser honestos e não omitir problemas
de saúde das suas linhagens para que o intercruzamento de linhagens ocorra
sem maiores surpresas. Infelizmente, a realidade não é bem assim. Atitudes
irresponsáveis de alguns criadores acabam prejudicando a raça em geral, em
vez de aprimorá-la, que é ou deveria ser o objetivo de todo criador.

MultiBIS&MBISS.Gr.Venc.Nac.&MultiCh. ORNELLA CHARLESTON

Por que é difícil manter uma boa criação?

É realmente difícil fazer e manter uma criação de alto nível, pois esta é uma
atividade muito complexa, que envolve vários fatores como um bom plantel,
principalmente de matrizes de qualidade, excelentes linhagens, estudos e

164 Top Breeders brasil


conhecimento profundo sobre a raça, pedigrees, criação, manejo e experiên-
cia. É importante também ter recursos financeiros para não depender exclusi-
vamente da comercialização dos filhotes para manter a qualidade da criação,
inclusive para os cães idosos, que além de atenção e carinho, necessitam da
melhor assistência veterinária possível quando adoecem. O êxito de todo fi-
lhote que você cria com muito amor e dedicação, depende muito da colocação
dele em novos lares e proprietários. Além de tudo, a criação é uma grande
responsabilidade, porque todos nós, criadores, somos responsáveis por todo
ser vivo que diretamente estamos colocando no mundo, até seu último dia de
vida. Então, entre todas as dificuldades, acredito que essa seja a nossa maior,
porque apesar de toda a seleção e experiência que temos, algumas vezes nos
equivocamos na escolha de um novo lar para os nossos filhotes.

Como você utiliza o pedigree?

O estudo e os conhecimentos dos pedigrees e linhagens da raça são funda-


mentais para reconhecer as características positivas e negativas das linha-
gens de seus cães, bem como os pedigrees de seus futuros acasalamentos,
até como um importante item de escolha do reprodutor.

Como e quando você planeja um cruzamento


e quais critérios utiliza para escolher um padreador?

Eu e minha esposa Evelyne planejamos os acasalamentos de nossos cães de


acordo com nossas atividades profissionais, para que tenhamos disponibilida-
de para nos dedicarmos quase integralmente à futura ninhada e filhotes. Em
média, tínhamos uma ninhada por ano, mas devido à situação atual de nosso
país, viagens para julgamentos e outras prioridades familiares e profissionais,
atualmente temos tido em média apenas uma ninhada a cada 3 ou 4 anos.

A escolha do padreador da nossa futura ninhada é estudada e programada


com bastante antecedência, na maioria das vezes. O cão deve possuir carac-
terísticas que sejam compatíveis à sua matriz, tanto no seu fenótipo como
no genótipo, além de exames de saúde, que infelizmente a maioria dos re-
produtores do Brasil e América do Sul não fazem, e quando os fazem, e se o

canil Charleston Dobermanns 165


resultado é ruim, algumas vezes tentam omiti-los em vez de informá-lo para
o proprietário da fêmea que pretende usar aquele reprodutor. Esse é um
outro grande problema de criar em nosso continente.

MultiBIS&MultiBISS.Gr.Venc.Nac.MultiCh. CHARLESTON OLGA V. PARSIFAL


Foto: Evelyne Ribas

Nunca repetimos nenhum acasalamento com o mesmo pai e mesma mãe,


pois quando temos uma ninhada bem-sucedida e seguramos uma fêmea
para continuar as gerações das nossas linhagens, já ficamos satisfeitos com

166 Top Breeders brasil


esse cruzamento. E como sempre tentamos melhorar a cada geração e tentar
novas experiências, então acredito que a repetição de uma ninhada bem-su-
cedida (nas pistas e criação) teria um objetivo mais comercial ou apenas ten-
tar somar um maior número de campeões e vencedores para a sua galeria.
E se a ninhada não for bem-sucedida, seria mais uma razão para não repetir.

MultiBIS.BISS.MultiCh. CHARLESTON ROXANNE LE SUEUR

Como a nossa criação é baseada em matrizes, a escolha do padreador ideal


é algo fundamental e em muitas ocasiões, quando não o encontramos para
uma determinada matriz, seja no Brasil ou exterior, simplesmente não temos
ninhada naquele ano. Muitas das nossas top vencedoras nas pistas, mesmo
sendo excelentes matrizes, costumam ter apenas uma ou duas ninhadas du-
rante toda a sua vida. Entre os principais motivos está o fato de não encon-
tramos “aquele” reprodutor ideal para nossas matrizes especiais.

canil Charleston Dobermanns 167


Você consegue bons padreadores no Brasil?
Quando usa padreadores do estrangeiro, como faz a busca?

Já encontramos e tivemos excelentes ninhadas com reprodutores no Brasil,


mas também já usamos em diversas oportunidades padreadores nos EUA, Ar-
gentina e Uruguai. Como jamais adquirimos um macho reprodutor de um outro
criador e tivemos apenas três matrizes de diferentes criadores e linhagens
em mais de 40 anos de criação, sempre buscamos o melhor reprodutor exis-
tente no mundo, mesmo que isso exija riscos, muito trabalho e altos custos.
Ultimamente, como a criação não é mais a nossa prioridade e em função das
dificuldades relatadas anteriormente, buscamos um bom reprodutor no Brasil
ou simplesmente não temos ninhada naquele ano, caso não o encontramos.

Você usaria um padreador que ninguém tenha utilizado?

Sim, já usamos várias vezes, principalmente entre os criadores do Brasil. Ti-


vemos a primeira ninhada e única (durante 20 anos) do Cryptonite (o Dobe
mais premiado dos EUA em todos os tempos). Também fomos os primeiros
criadores brasileiros a criar a primeira e a segunda ninhada no Brasil padrea-
da pelo Nello’s Lex Luthor (top reprodutor e o mais premiado da América do
Sul em todos os tempos). E, menos de uma década depois, éramos os únicos
criadores e expositores em eventos das Nacionais da raça entre mais de 100
exemplares em pista, que apresentaram cães sem serem descendentes diretos
do Lex, porque conseguimos – apesar do limitadíssimo pool genético atual
da raça – manter duas linhagens diferentes paralelas, principalmente quando
adicionamos uma nova matriz de uma linhagem diferente ao nosso plantel.

O que você usa: inbreeding, linebreeding ou outcross?

Usamos a melhor forma de consanguinidade (ou não) de acordo com a possi-


bilidade do pool genético disponível entre os melhores reprodutores da épo-
ca, levando muito em consideração os exames genéticos de saúde, quando
existentes.

Fizemos pouquíssimos in-breedings ao longo da nossa criação como um


acasalamento de meio-irmãos (filhos de uma mesma mãe) e evitamos fazer

168 Top Breeders brasil


MultiBIS.BISS.Gr.Venc.Nac.MultiCh. CHARLESTON YANKEE
canil Charleston Dobermanns 169
acasalamentos tão consanguíneos como entre pai e filha, sobrinha e tio in-
teiros, neta e avô, etc. Acasalamento entre irmãos de ninhada nem pensar
e acredito que não seja nem permitido registrar filhotes oriundos de uma
consanguinidade tão fechada.

Já fizemos vários line-breedings, como a inseminação da nossa matriz “Char-


lie” (uma das Top matrizes de nosso continente, em todos os tempos) com o
seu bisavô Cryptonite (um dos Top reprodutores da raça nos EUA, em todos
os tempos). Também fizemos vários line-breedings com pais com um mes-
mo avô ou avó ou bisavós, entre outras combinações compatíveis tanto de
estrutura (fenótipo) como genótipo (pedigree) e, principalmente, tentando
marcar as qualidades daquele cão e/ou linhagem em comum e que compro-
vadamente já as transmitiram para seus descendentes.

Mas para mim, o acasalamento ideal é um outcross com cães compatíveis


entre si e “fechados e com pedigrees bem trabalhados” em suas respectivas
linhas, desde que as duas linhas sejam saudáveis, mesmo sendo linhagens
distintas. Se o resultado for bem-sucedido, os produtos desse acasalamento
poderão voltar a ser usados através de um line-breeding da linhagem que
seja mais compatível (do pai ou da mãe), para então conseguir marcar as qua-
lidades e atenuar as faltas daquelas linhas. Para isso demora-se pelo menos
5 gerações de uma criação séria para que seja bem-sucedida. E daí sim, pode-
se ter uma linhagem própria, que é quando os cães da sua criação são vistos
por outros são lembrados como cães da sua criação, mesmo desconhecendo
seus pedigrees ou filiação, como se fosse uma espécie de “marca registrada”.

Existe uma hora em que é necessário abandonar uma linha


de criação? Isto já aconteceu com você?

Acredito que o criador em uma certa hora deve ter a clareza e a autocríti-
ca para abandonar uma linha de criação se os problemas aumentam, sejam
de estrutura, temperamento e, principalmente, de saúde genética em vez
de melhorar, que é o principal objetivo da criação – o aprimoramento da
raça. Nunca abandonei diretamente uma linha de criação, mas, como disse
anteriormente, nossa criação é baseada em matrizes porque acredito que
as fêmeas possuem o shape (a fôrma) e podemos, assim, ter a liberdade de

170 Top Breeders brasil


usar os melhores reprodutores disponíveis no mundo ou até um reprodutor
próprio, se considerá-lo como o melhor para ela. Então quando renovamos,
adicionamos às nossas linhagens, novas fêmeas ao nosso plantel em vez de
machos, para não ficarmos limitados aos nossos próprios reprodutores.

Nas ninhadas sempre temos surpresas.


Como você avalia e lida com as boas e as ruins?

Verdade, sempre temos surpresas em cada ninhada, mesmo possuindo uma


vasta experiência. Se vangloriar pelas surpresas positivas é fácil – e até
justo na maioria das vezes – mas se responsabilizar e assumir as surpresas
inesperadas e ruins, é obrigação de todo criador sério, ou seja, de todo cria-
dor de verdade. Caso o criador não as enxergue ou não as assuma ou queira
ocultá-las de si próprio e dos outros, é o típico caso de “cegueira de canil”
(kennel blind).

Como você cuida das ninhadas? O que é mais importante?

As nossas ninhadas são criadas em uma caixa grande e especial para ninhada
(que podemos entrar nela) que fica ao lado da nossa cama em nosso quarto,
e com nossa atenção e assistência integral aos filhotes e à mãe nas três
primeiras semanas de vida – pelo menos. Depois, eles vão para um espaço
grande que chamamos de jardim de infância e contamos com a assistência
de nosso funcionário, mas sempre sob nossa supervisão, logicamente.

O mais importante é manter os filhotes em seus primeiros meses de vida


100% e tentar colocar todos os filhotes nos melhores lares e famílias possí-
veis, exceto aquele ou aquela filhota que queira segurar para observar seu
desenvolvimento e dar continuidade às próximas gerações. Se for possível
dar continuidade ao nome do nosso canil nas pistas de exposições, melhor,
mas o ideal é que qualquer filhote nosso, independente de exposições, seja
feliz, muito amado e perfeitamente cuidado durante toda a sua vida em seu
novo lar e nova família.

canil Charleston Dobermanns 171


A que se deve o sucesso na criação?

O sucesso na criação ou de qualquer atividade depende do caráter, integrida-


de e honestidade de seu titular, que com determinação, paixão pelo que faz,
bom planejamento, estudos, conhecimento, humildade, arrojo em algumas
situações, responsabilidade, instinto ( feeling/olho) e sorte. Quem tem um
belo programa de criação será automaticamente bem-sucedido e pode até
se sentir realizado nessa atividade, pois ser um criador de sucesso não se
limita a criar apenas algumas dezenas de campeões e alguns vencedores de
Best in Shows e Rankings.

Que conselhos você daria a um iniciante?

Ter um objetivo e seguir um planejamento para concretizar esse objetivo


com muita determinação, paciência, estudos, critérios, autocrítica, paixão,
honestidade, seriedade, humildade, aprendizado, inclusive com criadores
bem-sucedidos, que estão dispostos a ensinar ou aconselhar de forma neu-
tra e imparcial.

Qual o ponto alto da sua criação? Quando você olha para


ela, o que acredita ter aprendido ao longo destes anos?

Hoje acredito que a marca registrada da nossa criação é o temperamento de


nossos cães, bem como a estrutura, belas cabeças e expressões, cães fortes,
com boa ossatura e substância, excelente profundidade de peito e antepeito
corretamente pronunciado, angulações corretas e balanceadas, quadrados,
compactos, nobres e equilibrados em todos os sentidos! Além de todo o
equilíbrio das suas características, que toda raça deve ter, a cabeça e expres-
são são características determinantes da tipicidade da maioria das raças e
é importante para o criador quando olhar nos olhos daquele cão na convi-
vência do dia-a-dia, se orgulhar por ter criado um verdadeiro Dobermann ou
exemplar da sua raça, independentemente de seus êxitos nas pistas, que é
uma consequência.

Eu aprendi muito com a criação, manejo, apresentação nas pistas, que me


ajudaram a apurar o meu olhar e a minha formação como árbitro especializa-

172 Top Breeders brasil


do da raça para também avaliar melhor todas as outras raças durante os jul-
gamentos. Muitas coisas boas e ruins que aconteceram nos longos anos de
criação, que envolvem a maior parte da minha vida, me ensinaram muito, in-
clusive verdadeiras lições pessoais de vida, contribuindo para o meu próprio
amadurecimento! Como criador e árbitro de exposições, tenho a consciência
que os estudos e aprendizados fazem parte da minha vida e nunca terão fim.

O que você espera alcançar com a sua criação?

O que eu esperava alcançar na criação, acredito já ter alcançado e me sinto


realizado quanto a isso. O mais difícil ou talvez impossível, atualmente, é

MultiBIS.MultiCh. CHARLESTON LOUIS DOBERMANN “LUIGI”


foto: Evelyne Ribas

canil Charleston Dobermanns 173


mantê-la, principalmente no nível de qualidade que alcançamos. É um outro
estágio e novo desafio, que pelas dificuldades atuais já relatadas aqui, acre-
dito que não vamos encarar.

Você vê algum benefício em criar mais de uma raça?

Como sempre criei exclusivamente uma raça, acho difícil ser realmente bem-
sucedido na criação de mais de uma. À propósito, não conheço ou não lem-
bro no momento, um criador que tenha tido verdadeiro sucesso na criação
de mais de uma raça.

Algum comentário que gostaria de acrescentar?

Gostaria de agradecer a minha mãe Regina (In Memoriam) por sempre me


ajudar e incentivar na criação desde o início quando era criança e especial-
mente a minha esposa e companheira Evelyne de mais de 30 anos, que sem
elas, certamente todo o êxito da nossa criação não teria existido. E tam-
bém agradeço ao convite de Daniel Oliveira para participar desse livro ainda
inexistente em nossa cinofilia. Certamente é uma honra fazer parte desse
projeto e poder compartilhar nossas experiências entre os top criadores de
todas raças no Brasil.

174 Top Breeders brasil


Top Breeders brasil

Pedro Armando Ramos Lang


Canil Tibiquary, criado em fevereiro de 1993.

Canil Tibiquary 175


Fale um pouco sobre como começou sua história com os cães.

Meu primeiro contato com Akitas foi em 1991, por influência do então meu
sogro que, por ser natural do Japão, sempre teve Akitas em casa. Naquele
ano, havia comprado um terreno, onde hoje resido. Pretendia construir uma
casa e comentei com meu sogro que precisaria de um cão de guarda. Daí a
sugestão dele de ter um Akita. Argumentei que não conhecia a raça, quando
ele ressaltou: “Você vai morar em um bairro residencial, precisa de um cão
que seja guardião e, ao mesmo tempo, silencioso”. Perguntando como fazer
para adquirir um filhote ele mencionou que deveria procurar nos classifica-
dos de jornais. Pronto. No final de semana seguinte comprei o jornal e, pelo
único anúncio que havia de Akitas, me dirigi a um canil e lá vi a primeira
ninhada da raça de minha vida. Os filhotes estavam com idade em torno de
60 dias. Escolhi uma fêmea tigrada, que se chamava Kansai. A única máscara
preta da ninhada. Levei-a para o sítio de meu sogro, onde lá já estava sendo
construído um canil. Quando a mostramos ele disse: “Isso não é Akita”! E, eu,
indignado disse: “Como? Se tem documento e tudo?”. Para estreante que era
naquela época, “documento e tudo” significava pedigree. Depois de alguns
anos, conhecemos Victor Hugo Fernandes, um criador de Akitas, que nos
incentivou a participar das exposições e, também, a desistir da Kansai, como
cão de exposição.

Como e quando começou a criar?

Como disse, minha iniciação com a raça foi puramente por indicação. Toda-
via, desde o primeiro exemplar, minha paixão pela raça intensificou-se, o que
me levou a importar, expor e, sobretudo, criar, o que faço há 24 anos.

Quando foi a primeira ninhada


e como fez a escolha do macho e da fêmea?

Foi em 1993 ou 1994. Comprei uma fêmea de São Paulo e, logo depois, um
macho. Utilizei o casal, mas fui alertado por Victor Fernandes, quando fui
transferir no Kennel, que a máscara preta era uma falta.

176 Top Breeders brasil


Por que escolheu a raça Akita?

Escolhi a raça Akita por indicação e, efetivamente, preencheu os requisitos


que à época desejava. Depois de tantos anos, a raça não frustrou minhas ex-
pectativas. Sou suspeito ao falar da raça devido à minha paixão. Entretanto,
posso dizer que desconheço cão tão fiel, leal, higiênico, silencioso e um guar-
dião que defende seu dono e seu território, sem no entanto ser agressivo e
atacar sem que seja ameaçado.

Quais faltas você aceita e quais não aceita na sua criação?

A raça Akita, via de regra, apresenta alguns cães com problemas de aprumos,
sobretudo no trem posterior, assim como o temperamento inseguro, que se
observa em alguns cães. São dois itens que me incomoda demais: tempe-
ramento e movimentação. Prefiro um cão que não tenha a tipicidade tão
desejada do que um cão que movimente mal ou tenha mau temperamento.

O que é mais fácil corrigir nos cruzamentos?

Corrigir a tipicidade é muito mais fácil; o temperamento é genético; o pro-


blema de posterior pode-se corrigir em duas gerações.

Canil Tibiquary 177


O que é importante na raça que você escolheu?

A raça Akita tem como item mais importante a sua expressão, notadamente
pela inserção correta dos olhos, a inserção e porte das orelhas, ou seja, a ca-
beça. Existe uma competição no Japão, em Akiho, que julga apenas a cabeça
e a tipicidade, não valorizando a movimentação. Devido a isto, a raça vem
perdendo em movimentação e estrutura (no Japão). Este tipo de exposição é
mais valorizado do que as da FCI e com as importações acabamos trazendo
para o Brasil estes problemas.

Você acha que a raça está melhor hoje?

Posso dizer que me chama a atenção a intenção de alguns criadores na me-


lhoria de tipicidade ao longo dos anos e a tendência de alguns poucos cria-
dores seguirem linhagens atuais do Japão. Entretanto, em que pese a busca
de melhorar, observo que alguns criadores estão perdidos com seus plantéis.

Perdidos? Você pode explicar?

Falta de homogeneidade no plantel. Errado ou certo, o criador deveria seguir


um tipo. Sendo extremamente sincero, acredito que a raça Akita não está em
um bom momento. Não há um plantel homogêneo no Brasil, o que até se
admite, mas não há uma homogeneidade no plantel de algum criador espe-

178 Top Breeders brasil


cífico. Assim, o ideal para qualquer raça é o fato de as pessoas olharem de-
terminado cão e chegar à conclusão, pelo seu tipo, que é originário de deter-
minado criador. Não é o que se observa na raça Akita. Infelizmente, em um
mesmo plantel deste ou daquele criador, se constata a imensa diversidade
de tipicidade nos cães. O que mais me preocupa é que está sendo “fixado” em
algumas linhagens diversos defeitos e pouquíssimas qualidades. Posso refe-
rir, como exemplo, a características extremamente indesejáveis que estão
se disseminando em grande parte dos Akitas: olhos redondos; orelhas muito
próximas uma da outra ou muito no topo do crânio; orelhas com o pavilhão
auricular direcionadas para os lado de fora; garupa alta, dorso ascendente
em direção à garupa; perda exagerada de angulações do trem posterior; om-
bros com angulação muito aberta; frente estreita, metacarpos muito cedidos
e via de regra, jogando para os lados (“remando”); linha inferior muito esgal-
gada, ossatura leve demais, além de temperamento muito fraco.

Qual a importância do temperamento da raça


e como você trabalha para mantê-lo?

O Akita ideal tem que ter temperamento equilibrado, que não seja “furioso”,
que na guia possa ser tocado por qualquer pessoa. Não vejo Akitas agressi-
vos, o que acredito seja um bom trabalho dos criadores na seleção genética.
Entretanto, se observa com frequência Akitas com temperamento “fraco”,
medrosos, assustados. Particularmente, esse item me desagrada muito. Cães
covardes, assustados, medrosos, por mais típicos que sejam, eu entendo que
devem ser descartados da criação, pois estes defeitos são altamente trans-
missíveis nos acasalamentos.

Qual a importância do controle de doenças genéticas na


raça e o que é feito para manter este controle?

A raça Akita não tem histórico de muitas doenças e, as que ocorrem, são
em níveis não preocupantes, face a sua eventualidade. Dentre as doenças
que podem ocorrer, está a displasia coxofemoral e a chamada “síndrome do
Akita”. Tanto uma quanto outra, a recomendação é a castração do cão, a fim
de evitar incidência de filhotes com o problema. Relativamente à displasia

Canil Tibiquary 179


coxofemoral, por ser um problema comum a muita raças, já tornou-se tema
de conhecimento e entendimento público. Quanto à síndrome do Akita, esta
é uma doença que afeta algumas raças específicas de cães, levando a pro-
blemas oculares e dermatológicos, semelhante a Vogt-Koyanagi-Harada em
humanos, que acomete cães da raça Akita, Samoieda e Husky Siberiano, en-
tre outras. É uma doença autoimune que causa uveíte (inflamação dos olhos)
e dermatite despigmentante. A uveíte tem início súbito, causando muita dor
e podendo evoluir para glaucoma e perda de visão. Concomitantemente, ob-
servamos lesões despigmentadas (perdem a cor normal) em lábios, nariz e
pálpebras. Nos casos mais graves vemos relatos de meningoencefalite (in-
flamação da meninge). Cães com a doença, fatalmente devem ser castrados,
evitando assim que produza descendentes que futuramente poderão ter o
problema. Acomete cães com menos de um ano, mas o mais comum é a par-
tir de 2/3 anos. Acomete um percentual baixo na raça.

Por que é difícil manter uma boa criação?

Não entendo que seja difícil fazer uma boa criação. Primeiramente, penso
que o criador deve ter visão, “olho para cachorro”. Deve ter em mente a tipi-
cidade que lhe agrada e sair em busca de exemplares que possam produzir
o tipo almejado. Se a pergunta refere-se ao tempo que isso pode ocorrer, ou
seja atingir o tipo sonhado, efetivamente, nesse aspecto, é difícil fazer uma
boa criação. Como criador de Akitas, penso que temos que ter uma “paciência
nipônica”. O criador que ficar pulando de linhas de sangue, não fixará sua
tipicidade e, para ele, a criação efetivamente tornar-se-á mais difícil e demo-
rada, no que se refere aos objetivos que imaginava buscar.

Como você utiliza o pedigree?

O estudo de pedigrees e linhas de sangue é fundamental para qualquer cria-


dor. Particularmente, busco nas linhas de sangue aquilo que desejo melhorar
na criação. Todo criador, seja de que raça for, deverá ter em mente o que quer
buscar. Assim, o iniciante, deverá buscar conhecimentos com outros criadores,
orientar-se sobre os canis existentes e os resultados obtidos. Especificamente
na raça Akita, a qual podemos falar pelos longos anos de criação, acredito que

180 Top Breeders brasil


o criador deve ser cauteloso, criterioso na montagem de uma linha de sangue,
estudar pedigrees, observar atentamente seu plantel, padreadores de colegas
criadores e ver que casais podem ser formados para buscar o tipo que está na
sua mente e, não se frustrar ao observar que a genética às vezes é inexplicá-
vel. Dois cães excelentes nem sempre geraram cães de boa qualidade. Aí, é
baixar a cabeça, estudar e começar tudo novamente.

Como e quando você planeja um cruzamento


e quais critérios utiliza para escolher um padreador?

Planejo as coberturas quando tenho fêmeas no cio que penso serem boas
para determinado padreador. Vejo o que ambos ancestrais deles ou eles pró-
prios já produziram e, vislumbrando o tipo, estrutura e temperamento que
gosto, os utilizo na criação.

Você consegue bons padreadores no Brasil?


Quando usa padreadores do estrangeiro, como faz a busca?

Um fato que imagino influenciar no desenvolvimento da raça no Brasil, são


as importações ocorridas ao longo dos anos, primeiro da Itália e ultimamen-
te do Japão. Isso sem dúvidas melhorou significativamente a criação, além
do fato de os criadores trocarem coberturas utilizando cães importados. Na
verdade, quando iniciamos nossa criação, São Paulo era o berço da raça.
Haviam grandes expoentes brasileiros e muitos japoneses criando a raça. Ao
que parece, ao longo dos anos, desestimularam-se e desistiram da criação,
enquanto outros teimaram em permanecer com tipicidades de épocas passa-
das, sem evoluírem nas tendências atualizadas do Japão. Em relação às im-
portações, vejo que alguns desses cães são bons, mas, sinceramente, outros
penso que são inferiores aos nacionais. Temos excelentes cães “brasileiros”
e alguns importados são dignos de desenvolver e melhorar a criação. Uso
padreadores tanto importados como nacionais meus de colegas.

Canil Tibiquary 181


Você usaria um padreador que ninguém tenha utilizado?

Usaria, depois de conhecer o retrospecto dele ou de seus ancestrais. Na cria-


ção é recomendável fazer “experiências”, de forma responsável.

O que você usa: inbreeding, linebreeding ou outcross?

Todo criador relativamente antigo usou todas essas técnicas. Eu uso e reco-
mendo, mas é preciso ter cuidado com fechamentos excessivos de linhas de
sangue e saber o momento certo de “abrir” esta linha para dar uma “limpada”
de sangue de determinado(s) exemplar(es) que aparece(m) com frequência
no pedigree.

182 Top Breeders brasil


Existe uma hora em que é necessário abandonar uma linha
de criação? Isto já aconteceu com você?

Sem a menor dúvida que isso ocorre. Nesse caso, deve-se abandonar esse
ou aquele cão como reprodutor. Nem sempre dois cães lindos e excelentes
tecnicamente produzirão descendentes maravilhosos. Já ocorreu de usarmos
um cão lindo com várias fêmeas e jamais produzir algo parecido com ele,
como também já ocorreu de usarmos uma fêmea com vários cães e ela
produzir todas as características do padreador. É o que chamo de uma fêmea
que tem somente “ventre” e quem “manda” na qualidade é o macho.

Você acha que o pedigree influi nisso?

Um pedigree com linhagem e um pedigree sem linhagem (genótipo desco-


nhecido mas fenótipo lindo), sem dúvida, é um caso de sorte pode acontecer.

Nas ninhadas sempre temos surpresas.


Como você avalia e lida com as boas e as ruins?

Uso outros machos, mas costumo repetir cruzamentos que tiveram bons re-
sultados. Jamais tentaria repetir um cruzamento que desse problemas. Tive
um Akita que trouxe para tentar uma melhoria no plantel, mas ele nunca
produziu nada. Afastei-o de vez da reprodução depois de utilizá-lo em algu-
mas fêmeas sem resultados.

Como você cuida das ninhadas? O que é mais importante?

Acredito que os bons resultados se devem à qualidade do plantel que o Canil


Tibiquary passou a ter ao longo dos anos. Efetivamente, existe muito a ser
buscado em termo de qualidade, mas penso que a criação vai bem. Acredito,
também, que os resultados obtidos têm muito a ver com os aprumos dos
Akitas, item que mais nos chama a atenção, pois o criador pode cometer al-
gumas falhas, mas é obrigatório o conhecimento de anatomia, o que é extre-
mamente fácil, além, de ter “olho” e admitir que tem cães com determinadas
faltas em seu plantel.

Canil Tibiquary 183


Por fim, a movimentação do Akita é um item extremamente importante,
além da tipicidade em cães com olhos triangulares e jamais redondos ou
arredondados, acreditando assim, que esses itens de certa forma têm contri-
buído para os resultados obtidos.

Que conselhos você daria a um iniciante?

Acredito que o maior erro é a “afobação”. Me assusta aquela pessoa que de


um dia para outro decide criar Akita e saí por aí comprando cães de diversos
criadores. Esse comportamento é totalmente equivocado, pois jamais o cria-
dor conseguirá fazer uma linha de sangue e fixar um “tipo” de Akita, já que
começa com cães de tipicidade diversas. Deixo um recado aos novos criado-
res no sentido de que tenham muita cautela na criação e, se observarem que
o resultado de determinado acasalamento não deu certo, busquem novas
alternativas, bem como não “segurem” em seu canil cães que não imprimem
qualidade, pois chegará um momento em que o plantel se tornará numeroso
de cães sem objetivo de criação.

Qual o ponto alto da sua criação? Quando você olha para


ela, o que acredita ter aprendido ao longo destes anos?

Acredito que a tipicidade está a cada dia melhorando, mas o ponto alto são
os aprumos. Cães que movimentam mal, me causam “desespero”. Honesta-
mente, estão fora da criação cães mal de aprumos. Acredito que alcançamos
cães equilibrados, com estrutura e ossatura desejáveis e com temperamento
seguro e confiante.

O que você espera alcançar com a sua criação?

O objetivo de todo criador é alcançar o cão perfeito, para que dê continuida-


de e produza outros cães perfeitos.

Acredita que criar mais de uma raça traz algum benefício?

Não há relação.

184 Top Breeders brasil


Você é hoje o presidente do Kennel do Rio Grande do Sul.
Como avalia a criação de cães na atualidade?

De modo geral no Brasil, o nível está muito fraco. No Rio Grande do Sul não
é diferente. São poucas raças se despontando com qualidade. Diminuíram a
quantidade e a qualidade. Digo, na experiência de presidente do Kennel, que
as pessoas vão registrar as ninhadas e alguns são até criadores antigos, não
estudam o padrão da raça que criam cães e têm apenas o objetivo comercial.

O que pode ser feito para melhorar essa situação?

Difundir a cultura cinófila. Estamos fazendo desfiles de cães em praça públi-


ca para que se conheça as raças e a qualidade delas.

Canil Tibiquary 185


186 Top Breeders brasil
Top Breeders brasil

Mauro Atalla
Canil Sumatra, dezembro de 1969
Titular oficial do canil: Shirley Atalla

Canil Sumatra 187


Fale um pouco sobre como começou sua história com os cães.

Sempre tivemos cães em casa, tanto na casa de meus pais como na casa da
Shirley, em São Paulo. Quando ainda recém-casados, transferido profissio-
nalmente para Belo Horizonte, nos habituamos a frequentar nos finais de
semana o Mercado Central, da Praça Raul Soares. Um mercado que tinha de
tudo: doces, pertences de feijoadas... e cães entre outros animais à venda.
Com muito aperto no coração acompanhamos uma ninhada de cães por vá-
rias semanas, até que, em 1º de maio de 1968, compramos a última fêmea
que restou, com todas as doenças possíveis. A ideia foi levá-la ao veterinário
e encontrar um novo lar para ela. Parte disso foi feito. A levamos ao veteri-
nário, cuidamos, ficamos sabendo que era uma cadela da raça Poodle, que
passou a ter o pomposo nome de Boneca!! O novo lar ficou sendo o nosso
mesmo e dela, até os 16 anos!

Como e quando começou a criar?

Por indicação do Dr. Hamilton veterinário, conhecemos a criadora Sra. Maria


Lúcia Mascarenhas, tradicional criadora de Poodle em Belo Horizonte. Ela con-
duziu todo o processo. Levamos para avaliação de R.I., registramos, aguardou-
se pelo cio e foi realizado o primeiro acasalamento. Quando do registro, surgiu
o nome Canil Sumatra. Adoramos os Poodles e até hoje os temos em casa. Mas
nossa preferência sempre foram os Setters. No início de 1970 importamos
nossa primeira fêmea de Setter Inglês, da Inglaterra, e posteriormente ingres-
samos com o Irlandês e o Gordon. Nosso inesquecível amigo Flávio Werneck,
hoje falecido, foi de grande valor para nossa criação com indicações e acom-
panhamentos. Marcelo Chagas, Flávio Pinto Coelho, Leonardo Soares, entre
outros, também foram de extrema importância para nós.

Por que escolheu a raça Setter?

A inclinação pelos Setters sempre se deveu à Shirley, que desde pequena


sempre adorou a raça. Na dúvida entre os três Setters, acabamos ficando
com todos!

188 Top Breeders brasil


Quais faltas você aceita e quais não aceita na sua criação?

Sempre levamos nossos cães para avaliação em exposições. Os Poodles com


várias faltas, porque para nós era tudo novidade. Por exemplo, nosso primei-
ro cão para exposições foi um Poodle branco com lindíssimos olhos verdes/
azulados e eu não entendia porque não ganhava. Com os Setters, sempre
mantivemos uma criação muito boa. Faltas ocorrem, já que não existem cães
perfeitos. Incomodavam-me muito as angulações tanto de frente como tra-
seiras embora nada grave.

Primeira exposição do Colégio Militar de Belo Horizonte.

O que é importante na raça que você escolheu?

Como todas as raças, sempre nos importou muito o Tipo. Como cães de caça
e de pelagem exuberante, que por si é atrativa, não se podia descuidar da
manutenção do Tipo para perpetuar a criação.

Canil Sumatra 189


Você acha que a raça está melhor hoje?

Infelizmente não. Perdemos muitos criadores. Nota-se hoje um esforço bem


positivo nos “novos” criadores com resultados expressivos nos animais e em
exposições.

Sra. Shirley Atalla recebendo o diploma de árbitra das mãos de Oscar Miranda Filho,
na década de 1970.

Qual a importância do temperamento da raça


e como você trabalha para mantê-lo?

Como cães de caça que são, não se pode imaginar um Setter sem o tempe-
ramento adequado. Oferecemos muita liberdade, disciplina, treinamento ar
livre, inclusive no campo.

Qual a importância do controle de doenças genéticas na


raça e o que é feito para manter este controle?

Felizmente, nunca tivemos qualquer doença em nossas criações mais ativas.


Qualquer problema genético você só pode superar com rigoroso controle na
criação, algumas vezes até dando outro rumo a ela.

190 Top Breeders brasil


Por que é difícil manter uma boa criação?

Digamos que não é tão difícil se tivermos nossa mente aberta, encontrar e
fazer parcerias com criadores que tenham o mesmo propósito. Ninguém con-
segue fazer uma criação, principalmente uma boa criação, se estiver sozinho.
Impossível querer imaginar conhecer tudo sobre sua raça, linhas de sangue,
resultados de experiências não tão bem-sucedidas. Há que se compartilhar
experiências, estudar detalhes, partilhar seus conhecimentos e se abrir para
receber novos ensinamentos.

Como você utiliza o pedigree?

Em casa não compartilhamos com a ideia de que pedigree “é só um papel”!


Criadores sérios trazem na sua criação pedigrees sérios. Se utilizamos o pe-
digree? Sim, a principal base, destacadamente entre os ingleses, foi o estudo
de pedigrees de cães americanos e ingleses que admiramos, mas que não tí-
nhamos condição de comprar um de seus descendentes. Nesse ponto de nos-
sa criação, nosso amigo Marcelo Chagas foi peça fundamental. Na época, ele
residia nos Estados Unidos (como agora novamente e há anos!) e nos indicou,
só para conversar, a proprietária e criadora de um cão campeão americano
de nome Spirit, que para nós era a descrição exata do que pretendíamos. Nos
primeiros contatos percebemos que nada seria possível diante dos valores
envolvidos. Fiz uma proposta, sempre pelo Chagas. Venderia meu carro e
compraria um filhote. Em resposta, jocosamente recebi a resposta de que
“por esse valor” lhe mando uma foto e uma cópia do pedigree até a quarta
geração. Não era bem o que queríamos, mas por meio desse pedigree chega-
mos até onde nossas pretensões poderiam alcançar. Felizmente!

Como e quando você planeja um cruzamento


e quais critérios utiliza para escolher um padreador?

Além do estudo do pedigree, uma boa e criteriosa análise do que já teria


sido produzido por esse padreador, sem deixar de levar em consideração as
matrizes utilizadas.

Canil Sumatra 191


Você consegue bons padreadores no Brasil?
Quando usa padreadores do estrangeiro, como faz a busca?

Depois das primeiras importações, tanto as nossas como de outros criadores,


só nos utilizamos de padreadores “nacionalizados”. O nível sempre foi acima
da média.

Você usaria um padreador que ninguém tenha utilizado?

Provavelmente sim, após análise do pedigree e conhecimento adequado do


criador.

192 Top Breeders brasil


O que você usa: inbreeding, linebreeding ou outcross?

Cada acasalamento é uma história. Já usamos todos, sempre levando em


consideração as características dos cães envolvidos. Tivemos acertos e erros.
Ainda não é uma ciência exata!

Existe uma hora em que é necessário abandonar uma linha


de criação? Isto já aconteceu com você?

Com certeza. Recebemos uma cadela americana como pagamento de cruza


pela cessão de nosso padreador, muito bonita e harmoniosa. Linha totalmen-
te aberta com relação aos nossos cães. Não era filha desse nosso padreador.
Mas, a primeira e única ninhada foi suficiente para a posterior castração. Ela
continuou conosco, carinhosamente, dentro de casa.

Canil Sumatra 193


Nas ninhadas sempre temos surpresas.
Como você avalia e lida com as boas e as ruins?

Com alegria e tristeza, sempre atento ao que esses resultados podem nos
ensinar.

Como você cuida das ninhadas? O que é mais importante?

Todo cuidado com a saúde dos bebês e da “mamãe”. Não é exatamente o mo-
mento de se fazer economias. Tudo tem que ser feito pelo bem-estar de todos.

194 Top Breeders brasil


A que se deve o sucesso na criação?

Estudos, dedicação, instinto e planejamento. Gostar do que está fazendo,


sabendo que há sempre muito trabalho pela frente.

Que conselhos você daria a um iniciante?

Para que antes de qualquer iniciativa, procure estudar, conversar, assistir pa-
lestras, saber aonde quer chegar. Escolher a raça certa para seu gosto e suas
possibilidades. Frequentar exposições, visitar canis. Enfim, esgotar todas as
suas possibilidades de conhecimentos.

Qual o ponto alto da sua criação? Quando você olha para


ela, o que acredita ter aprendido ao longo destes anos?

A maior virtude foi o reconhecimento internacional de nossa criação. Foram


cerca de dez ou mais Grandes Vencedores Nacionais nascidos no Canil Suma-

Canil Sumatra 195


tra. Fora nossas importações, que igualmente atingiram o topo das premia-
ções, inclusive Campeã Mundial.

O que você espera alcançar com a sua criação?

Basicamente em função da idade, minha e da Shirley, nossa criação agora


está muito devagar, quase parada. Só o objetivo não se altera: qualidade!

Você vê algum benefício em criar mais de uma raça?

Como só criamos os três Setters, fora os primeiros Poodles, fica difícil res-
ponder.

Algum comentário que gostaria de acrescentar?

Apenas pedir aos criadores muita seriedade com a criação, em todos os sen-
tidos. E um pedido especial quanto aos cães idosos ou fora do programa de
criação. Não os abandone sob qualquer pretexto. Eles foram os pilares que
sustentaram nosso ego, nosso desejo, nossas emoções!

196 Top Breeders brasil


Você quer conhecer o mundo da criação de cães?
A história por trás dos grandes criadores do Brasil?
O que eles têm para nos ensinar?

Neste livro estão reunidos alguns dos principais criadores


de cães do Brasil, de diversas raças, com experiências
diferentes, que através dos seus relatos vão compartilhar
sua experiência na arte da criação.

Tudo isso você vai conhecer nesse livro.

Top Breeders Brasil:


o livro para os amantes de cães!

ISBN 978-85-62805-89-9

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