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edição nº 1 | 2016

DIRETRIZES E PANORAMA
DAS COMUNIDADES
TERAPÊUTICAS NO BRASIL
CRITÉRIOS TERAPÊUTICOS,
CONTÁBEIS E JURÍDICOS
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Biblioteca da Universidade Positivo, Curitiba, PR, Brasil)

D598 Diretrizes e panorama das comunidades terapêuticas no Brasil:


critérios terapêuticos, contábeis e jurídicos [recurso
eletrônico]. / Marina Pires Alves Machado ... [et al.]. Curitiba:
Universidade Positivo, 2016.
37 p. : il. color.

Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader.


Modo de acesso: <www.up.edu.br>
Título da página da Web (acesso em 17 out. 2017).
ISBN: 978-85-8486-293-1.

1. Psicologia. 2. Comunidades terapêuticas – Brasil.


I. Machado, Marina Pires Alves.

CDU 159.9(81)
DIRETRIZES E PANORAMA DAS
COMUNIDADES TERAPÊUTICAS NO BRASIL
CRITÉRIOS TERAPÊUTICOS,
CONTÁBEIS E JURÍDICOS

Autores:
Marina Pires Alves Machado
Rafael Sfreddo
Thiago Aguilar Massolin
Pedro Guilherme Basso Machado

Volume 1 | 1ª edição

Curitiba | 2016
Créditos Expediente
Departamento de Marketing da
Universidade Positivo 2016
Autores:
Diretor do Núcleo de Ciências Marina Pires Alves Machado
Biológicas e da Saúde: Rafael Sfreddo
Flares Baratto Thiago Aguilar Massolin
Atendimento: Pedro Guilherme Basso Machado
Betina Dias Ferreira
Coautores:
Capa e projeto gráfico: Leandro Marins de Souza
Jessica Zanon Baja
Raphael Souza Luciana Franco da Rocha Palombo
Egon Schluter
Fotos e ilustrações: Rafael Aguilar Massolin
ThinkStock Photos Raphael Henrique Castanho Di Lascio
Revisão de texto:
Thais Macedo Coordenador do curso de Psicologia:
Raphael Henrique Castanho Di Lascio
Apoio:
Curso de Psicologia da Universidade Positivo
Marins de Souza Advogados
Confenact e Cruz Azul no Brasil

Direitos desta edição reservados à


COMPACTA - Federação Paranaense de Comunidades Terapêuticas Associadas
Rua Benjamin Constant, nº 67, Cj 1104,
Centro, Curitiba - Paraná, CEP: 80.060-020
e à Universidade Positivo
Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300, CEP 81.280-330,
Campo Comprido, Curitiba - Paraná. Telefone: +55 (41) 3317-3000.

D598 Diretrizes e panoramas das comunidades terapêuticas


no Brasil: critérios terapêuticos, contábeis e jurídicos /
Marina Pires Alves Machado et al. – Curitiba:
Universidade Positivo, 2016. 35 p. : il.

ISBN 978-85-8486-245-0

1. Comunidades terapêuticas. 2. Organizações não-


governamentais. 3. Abuso de substâncias - Instalações de
tratamento. I. Machado, Marina Pires Alves. II. Título.

CDU 159.9:613.83
in memorian
Ao psicólogo Flavio Lemos (in memoriam), ex-presidente
da Compacta e idealizador deste manual. Com sua garra e
coragem, lutou o bom combate, doando-se em vida por
vidas. Agradecemos pelos anos dedicados ao serviço social
e pelo legado deixado nesse país.

Com carinho e respeito,


Diretoria Compacta.
PREFÁCIO
É com muita satisfação que a Compacta (Federação
Paranaense de Comunidades Terapêuticas Associadas),
em parceria com a coordenação do curso de Psicologia
da Universidade Positivo e outros importantes apoiadores,
apresenta este material de orientação, que vem contribuir
para a qualificação e fortalecimento do modelo de
comunidade terapêutica (CT) no Paraná e no Brasil.
Este manual tem a finalidade de informar à sociedade sobre o
modelo de CT como um serviço de atenção à saúde que atua
no âmbito do tratamento e reinserção social de pessoas que
fazem uso nocivo ou que já desenvolveram a dependência
de substâncias psicoativas. Além disso, este material objetiva
contribuir para qualificação de gestores, técnicos, monitores,
voluntários e outros profissionais que atuam na modalidade
de CT, abordando aspectos históricos, terapêuticos, jurídicos
e contábeis.
As CTs estão inseridas na sociedade e realizam um
importante trabalho de atenção psicossocial das pessoas em
uma batalha vigente: a luta contra as consequências do uso
de drogas e a promoção da saúde. Isso em um panorama
em que não há métodos ou modelos únicos e com eficácia
garantida para o tratamento de pessoas que possuem a
doença da dependência química. As CTs são um importante
componente da rede de atenção, atuando no Brasil há
quase meio século, e, como tal, precisam ser reconhecidas,
fortalecidas e valorizadas.

Thiago Aguilar Massolin


Presidente da Compacta – Federação Paranaense de Comunidades
Terapêuticas Associadas
Conteúdo
O que é uma comunidade terapêutica (CT)? 9
Quando surgiram as comunidades terapêuticas? 10
As comunidades terapêuticas no Brasil 11
Quem pode ser atendido por uma comunidade terapêutica? 13
Como fazer para ser atendido em uma comunidade terapêutica? 14
O que os acolhidos e familiares podem esperar do tratamento
em uma comunidade terapêutica? 15
Quais atividades uma comunidade terapêutica pode oferecer? 17
É possível que uma pessoa que saiu volte a ser acolhida em uma
comunidade terapêutica? 18

Quais os dias de funcionamento das comunidades terapêuticas? 18

Quais outras atividades as comunidades terapêuticas podem


oferecer? 19

Todas as comunidades terapêuticas são iguais? 20

Qual a relação das comunidades terapêuticas com o poder


público? 21
Quais pessoas trabalham nas comunidades terapêuticas? 22
De que forma os familiares podem participar do tratamento nas
comunidades terapêuticas? 23
Qual é a atual legislação que regulamenta o trabalho das
comunidades terapêuticas? 23
É possível consumir álcool, tabaco ou outras drogas durante a
permanência em uma comunidade terapêutica? 23
As comunidades terapêuticas são sempre organizações não
governamentais sem fins lucrativos (ONGs) ou podem existir
comunidades terapêuticas privadas? 23
De que forma a sociedade pode auxiliar as comunidades
terapêuticas? 23
Considerações finais 23
Sites úteis 23
Referências 23
Legislação de políticas sobre drogas das comunidades
terapêuticas 24
Qual é a atual legislação que regulamenta o trabalho das
comunidades terapêuticas? 24

Qual é a natureza jurídica das comunidades terapêuticas e o


regime jurídico aplicável a ela? 25
Documentação administrativa, contábil e jurídica das
comunidades terapêuticas. 30

Documentação obrigatória 31

Documentação complementar (que poderá ser solicitada para


obter recursos e convênios) 32
o que é uma
comunidade
terapêutica (CT)?
Comunidades terapêuticas
são instituições de
acolhimento sem fins
lucrativos de caráter
privado que oferecem
atendimento em regime
residencial.

Esse acolhimento é
oferecido às pessoas que
fazem uso nocivo ou
estejam dependentes de
substâncias psicoativas.
As instituições funcionam
com caráter voluntário
de acolhimento, tendo o
acolhido a possibilidade
de abandonar o
tratamento a qualquer
tempo. Nesse local
protegido, na forma de um
ambiente residencial, os
acolhidos utilizam a mútua
ajuda (convivência entre
os pares) como forma
de auxiliar no tratamento da dependência química, acompanhados pela
equipe da CT. O tempo de acolhimento varia de instituição para instituição,
podendo ser de um mês a um ano. Nesse período, a CT deve manter
articulação com a rede de atenção psicossocial.

9
Os principais objetivos das CTs contemporâneas são: auxiliar os dependentes
químicos, que em sua maioria estão excluídos do convívio na sociedade, a se
reinserirem nela; promover a autonomia da pessoa acolhida e a restauração
dos vínculos familiares; desenvolver serviços de atendimento pós-recuperação
para quem termina a fase de acolhimento; promover a mudança de hábitos
e rotinas para o fortalecimento de fatores de proteção e redução dos fatores
de risco para evitar a recaída; desenvolver avaliações e pesquisas para a
equipe baseadas em demandas advindas da própria equipe; e padronizar
competências na formação e certificação de funcionários (DE LEON, 2000).

Quanto às atividades terapêuticas, há uma diversidade de metodologias


adotadas, onde uma parte das CTs utilizam os princípios e tradições dos
programas de doze passos, criado nos Estados Unidos em 1935 por Willian
Griffith Wilson e Robert Holbrook Smith.

As CTs precisam ser vistas como um modelo de mútua ajuda diferenciado,


tendo caráter social e psicológico, buscando a melhor forma de tratamento
para pessoas com dependência química. Entende-se como comunidade o
local onde, usando a convivência entre os pares, tem-se o norte para alcançar
uma mudança individual. Essa mudança visa a ajudar a pessoa para promoção
de sua saúde biopsicossocial, espiritual e ambiental, como preconiza a
Organização Mundial da Saúde (OMS, 1946), com foco na visão holística no
atendimento de pessoas.

Quando surgiram as comunidades terapêuticas?

As comunidades terapêuticas surgiram na década de 1950, durante


o pós-guerra, com o objetivo de auxiliar soldados ingleses que
desenvolveram neuroses depois dos conflitos. As primeiras CTs tinham
como princípio as técnicas observadas pelo psiquiatra inglês Maxwell
Jones, que eram pautadas em discussões, propostas educacionais e
encenações dramáticas, tudo dentro de um ambiente de convivência
em grupos e com foco na ajuda mútua.

Na década de 1960, as CTs começaram a ser usadas no tratamento de


pessoas com dependência química, com surgimento de dois grandes
modelos: o Minnesota e o Synanon. O modelo Minnessota é embasado
principalmente em princípios espirituais de um poder superior. Já o
modelo Synanon baseia-se principalmente na laborterapia. Os dois
modelos utilizavam conceitos oriundos de programas de doze passos
(DE LEON, 2000).

10
As comunidades
terapêuticas
no brasil
As CTs surgiram no Brasil na década de 1960, quando havia falta de opções de
atendimento do poder público, caracterizado pelo tradicional tratamento em
hospitais psiquiátricos. O tratamento era conjugado com o atendimento de
pessoas com transtornos mentais, voltado praticamente para a desintoxicação
do dependente. A procura e pedido de ajuda de pessoas dependentes e
familiares junto às igrejas e instituições religiosas incentivou a criação das
primeiras CTs.

Essas CTs não focavam somente na dependência química sob o aspecto


biológico, mas no ser humano como um todo: corpo, mente, espírito e
a interação com o meio social. Em especial, focalizavam no sentido da
existência humana, transmitindo valores e fomentando a adoção de novos
comportamentos para mudança no estilo de vida, sem o uso ou abuso de
substâncias psicoativas.

As comunidades foram, na maioria, instaladas em áreas rurais. Apenas nos


últimos anos surgiram algumas CTs no meio urbano.

A primeira CT no Brasil foi a “Movimento Jovens Livres”, fundada pela missionária


presbiteriana Ana Maria Brasil em 1968, em Goiânia, Goiás (CHAVES, 2007).

O movimento evangélico de atenção ao dependente de substâncias


psicoativas no Brasil teve grande influência do reverendo David Wilkerson,
que, no início da década de 1950, fundou nos Estados Unidos a Comunidade
“Teen Challenge”. Essa experiência ficou conhecida através do livro “A cruz e o
punhal”, de autoria do próprio Wilkerson (CHAVES, 2007).
Já o movimento católico teve seu início com os trabalhos desenvolvidos pelo
padre Haroldo J. Rham a partir de 1978, quando fundou a “Fazenda do Senhor
Jesus”. Tanto o movimento católico quanto o evangélico influenciaram na
abertura de centenas de CTs em todo território nacional (CHAVES, 2007).
11
As primeiras instituições filantrópicas que se dedicaram ao trabalho com
dependentes de substâncias psicoativas no Brasil foram:

• Movimento Jovens Livres – missionária Ana Maria Brasil – Goiânia/GO, 1968;

• S8 – pastor Geremias Fontes – Niterói/RJ, 22 de setembro de 1971;

• Esquadrão da Vida de Bauru – Edmundo Muniz Chaves – Bauru/SP, 26 de


junho de 1972;

• Desafio Jovem de Brasília – pastor Galdino Moreira Filho – Brasília/DF, 30 de


setembro de 1972;

• Desafio Jovem Peniel – pastor Reuel Feitosa – Belo Horizonte/MG, 1972;

• Desafio Jovem de Rio Claro – Sr.ª Vera Lúcia Silva, 1975;

• Molive – pastor Nilton Tuller – Maringá/PR, 1975;

• Pinel – Porto Alegre/RS – hospital psiquiátrico que, em 1975, passou a


atender dependentes de substâncias psicoativas separados de pessoas com
transtornos mentais;

• Crenvi – pastor Lori Massolin e Marlene Franco Massolin – Curitiba/PR, 3 de


outubro de 1977;

• Associação Promocional Oração e Trabalho (Apot) – Fazenda do Senhor


Jesus – padre Haroldo J. Rahm – Campinas/SP, 28 de maio de 1978;

• Centro de Tratamento Bezerra de Menezes – fundado em 1968 como


hospital psiquiátrico, em 1979 passou a atender dependentes de substâncias
psicoativas separados de pessoas com transtornos mentais;
• Cruz Azul no Brasil – Panambi/RS, agosto de 1983.

O modelo aplicado no Brasil é variável. Algumas CTs têm como base princípios
espirituais, enquanto outras mantêm os aspectos voltados ao trabalho. Há,
ainda, modelos que tendem à abordagem médica/farmacológica, e os que
têm uma forte tendência psicológica nas mais diversas abordagens teóricas.
As CTs são, muitas vezes, divididas em grupos específicos, sejam eles de
gênero ou de tendências religiosas. Algumas possuem mais de um modelo
simultaneamente, conciliando aspectos psicológicos, espirituais e voltados ao
trabalho.

12
quem
pode ser
atendido por
uma comunidade
terapêutica?
As CTs são instituições voltadas ao acolhimento de pessoas com problemas
associados ao uso nocivo ou dependência de substâncias psicoativas, que
alterem seu estado psíquico, emocional, cognitivo, comportamental, familiar
e social.

Segundo a resolução do Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas (Conad)


nº 01/2015, as comunidades devem acolher apenas pessoas que façam uso
nocivo de substâncias psicoativas ou delas estejam dependentes, sendo
necessária uma prévia avaliação diagnóstica emitida pela rede de saúde ou
profissional habilitado. O acolhimento deve ser necessariamente de caráter
voluntário.
13
Uma das principais características de pessoas que podem ser atendidas em
CTs é a incapacidade de lidar com aspectos básicos de sua vida cotidiana,
tendo necessidade de uma fuga da realidade. Dessa forma, buscam nas
drogas um alívio para seu sofrimento, tentando achar uma resposta para
suas questões pessoais.

A dependência de substâncias psicoativas (chamadas popularmente de


drogas) é reconhecida como doença pela OMS. Assim, a dependência
química foi incluída em um catálogo oficial e mundial de doenças, onde
recebe a classificação e posição de F10 a F19 no Código Internacional de
Doenças - CID-10 (2008).

A dependência química manifesta-se de várias maneiras, o que dificulta


muito seu diagnóstico e tratamento. Algumas pessoas tornam-se hostis,
isolam-se do convívio social, têm ressentimentos sobre vários aspectos de
sua vida ou tornam-se egoístas e egocêntricas. Por todos esses aspectos,
a dependência química torna-se uma doença de difícil diagnóstico e
percepção pessoal e social.

Como fazer para ser atendido em uma comunidade terapêutica?

Pessoas com problemas associados ao uso nocivo ou dependência


de substâncias psicoativas devem buscar as entidades cadastradas
junto aos órgãos gestores de políticas sobre drogas no âmbito
federal, estadual e municipal, garantindo um atendimento seguro
e de qualidade. Para ser atendido, basta dirigir-se a uma instituição
de acolhimento, onde o dependente deverá passar por exames
avaliativos. Ele não pode ter problemas médicos que necessitem de
atendimento hospitalar ou de emergência médica. Normalmente,
o acolhido precisa passar por uma entrevista antes de iniciar o
tratamento.

14
O que os
acolhidos e
familiares podem
esperar do
tratamento em
uma comunidade
terapêutica?
As comunidades devem elaborar um Plano de Acolhimento Singular (PAS),
observando o programa de acolhimento da entidade. Devem estar claros os
critérios de admissão, permanência e desligamento, e a participação familiar
deve ser incentivada desde os primeiros momentos.

Além disso, as comunidades devem oferecer espaços comunitários e de


atendimento individual, acompanhado de suporte de equipe profissional da
entidade. Deve incentivar desde o início o vínculo familiar, buscando a família
do acolhido, se necessário, e fazendo a mediação de possíveis conflitos. A
visitação dos familiares deve ser permitida, assim como o acesso a meios de
comunicação, conforme a rotina da entidade e o plano individual de cada
acolhido. Dessa forma, deve haver incentivo para que a família esteja presente
e acompanhe o tratamento.

As CTs devem nortear seus serviços buscando a qualidade nos atendimentos


com base nos direitos humanos e na humanização dos cuidados, não
permitindo qualquer ação de contenção física, psíquica ou moral nem a
utilização de expressões estigmatizantes com os acolhidos. Deverão ainda
manter ambientes livres de trancas, chaves ou grades, permitindo apenas
travamento simples.
15
As entidades deverão informar imediatamente intercorrências clínicas graves
ou falecimento de pessoas acolhidas aos familiares ou responsáveis. Nessas
situações, a comunidade tem um prazo máximo de vinte e quatro horas para
informar as unidades de referência de saúde ou de assistência social.
As normas de segurança sanitárias deverão manter-se atualizadas, devendo
obrigatoriamente ser emitidas por autoridades competentes. O fornecimento
de alimentação e condições de higiene adequadas dos alojamentos devem
ser providas pela entidade, bem como a articulação junto às unidades de
saúde e de assistência social de referência.
O preparo para o processo de reinserção social deve ocorrer em conjunto
com as unidades de referência em assistência social, para potencialização e
manutenção das conquistas desenvolvidas nas CTs, buscando ainda dar todo
o apoio quando houver necessidade de auxílio para emissão de quaisquer
documentos.

Por fim, deve-se promover não apenas medidas que visem à prevenção ao uso
de drogas, mas a promoção da saúde integral do acolhido no que diz respeito
a doenças transmissíveis como HIV, hepatite e tuberculose, entre outros
problemas que podem estar associados ao uso de drogas. Assim sendo, deve-
se buscar sempre a capacitação de profissionais, colaboradores e voluntários.

16
quais atividades
uma comunidade
terapêutica pode
oferecer?
Segundo a resolução Conad nº 01/2015, as CTs podem oferecer atividades
terapêuticas, sendo elas: recreativas; atividades de desenvolvimento de
espiritualidade; promoção do autocuidado e da sociabilidade; de capacitação;
promoção de aprendizagem; formação; e atividades práticas que busquem a
inclusão do acolhido.

As atividades recreativas são aquelas que estimulam o lazer por meio da


prática de atividades esportivas, culturais e outras, promovendo sensações de
bem-estar sem associação ao uso de substâncias.

Atividades de desenvolvimento de espiritualidade são aquelas que buscam


o autoconhecimento e o desenvolvimento interior a partir da visão holística
do ser humano, podendo ser parte do método de recuperação, objetivando
o fortalecimento de valores fundamentais para a vida social e pessoal,
assegurado nos incisos VI e VII do art. 5º da Constituição Federal.

Visando à promoção do auto-cuidado e da sociabilidade, tem-se a prática


de atos da vida diária, tais como: higiene pessoal; arrumação e limpeza de
pertences, acomodações de repouso e banheiros; participação na preparação
de refeições e limpeza da cozinha e refeitórios de uso coletivos; e manutenção,
limpeza e organização de espaços coletivos. O objetivo é que esse senso de
organização e saúde ambiental se generalize para o lar, tais como salas de
recreação, jardins, hortas, quadras esportivas e outros espaços semelhantes
dentro das entidades. Essas atividades deverão ser supervisionadas por
membros da equipe da CT, a quem caberá motivar os acolhidos.

As atividades de capacitação têm por objetivo a promoção da aprendizagem


e a formação de práticas inclusivas que busquem a reinserção social, o resgate
e a formação de novas habilidades profissionais e pessoais e o aprendizado
de novos conhecimentos, de modo a promover empoderamento e
desenvolvimento das habilidades sociais do acolhido.
17
Artigo 16 Conad 01/2015, parágrafos 1 e 2:

Art. 16. Atividades de capacitação, de promoção da aprendizagem,


formação e as práticas inclusivas são aquelas que buscam a inserção
e a reinserção social, o resgate ou a formação de novas habilidades
profissionais, práticas ou para a vida, e o aprendizado de novos
conhecimentos, de modo a promover o empoderamento e o
desenvolvimento das habilidades sociais do acolhido.

§ 1º As atividades a que se refere o caput deste artigo deverão


ser desenvolvidas em ambiente ético e protegido, não podendo
ser realizadas em locais que exponham o acolhido à situação de
constrangimento ou de vulnerabilidade, como ações em vias públicas
de vendas de produtos ou de arrecadação de recursos, ou outras
atividades congêneres.

§ 2º As atividades práticas inclusivas a que se refere o caput poderão


ser regidas pela Lei 9.608/98, que trata do voluntariado, exceto quando
houver a formação de vínculo empregatício, hipótese em que será
aplicada a legislação trabalhista.

É possível que uma pessoa que saiu volte a ser acolhida em uma
comunidade terapêutica?

Sim, é possível, mas há critérios. A resolução Conad nº 01/2015, em


seu artigo 6º, que trata das obrigações das CTs, fala claramente desses
critérios nos parágrafos 1º, 2º e 3º. O acolhimento não poderá exceder
o limite de 12 meses em um período de 24 meses, com o intuito de
evitar a institucionalização no período de até seis meses subsequente
ao último desligamento. O novo acolhimento deverá ocorrer mediante
justificativa fundamentada da equipe em parceria com a rede de
cuidados, devendo essa decisão ser inserida no PAS.

Quais os dias de funcionamento das comunidades terapêuticas?

Essas entidades funcionam diariamente, ficando a cargo de cada


entidade definir a forma de recepção dos acolhidos, que pode ocorrer
a qualquer dia, incluindo fins de semana e feriados. Normalmente, as
CTs funcionam 24 horas por dia, mas o acolhimento e triagem tendem
a funcionar de segunda a sexta-feira, em horário comercial.
18
Quais outras atividades as comunidades terapêuticas podem oferecer?

As CTs podem oferecer programas de prevenção ao uso de drogas


e promoção de ações educativas, esportivas e espirituais junto à
comunidade, buscando alertar para o problema das substâncias
psicoativas antes que ele seja instaurado, interagindo com a sociedade
para uma melhor convivência. Podem ainda oferecer espaço para
grupos de mútua ajuda não apenas para os acolhidos, mas também
para seus familiares.

todas as
comunidades
terapêuticas são
iguais?
A resolução 01/2015 do Conad elenca as principais
características do modelo de acolhimento de CT,
que são:

• Ambiente residencial, familiar, saudável e protegido


técnica e eticamente, livre de drogas e violência;

• Convivência entre os pares;

• Desenvolvimento da espiritualidade;
• Acolhimento voluntário;

• Critérios de admissão e saída definidos;

19
• Conhecimento antecipado, a ceitação e
participação ativa no programa de acolhimento
pelos dependentes e seus familiares;

• O valor terapêutico e educativo das atividades


práticas.

Saiba mais sobre o modelo de CTs: DE LEON, G.


A comunidade terapêutica: teoria, modelo e
método. São Paulo: Loyola, 2003.

As principais atividades
terapêuticas, comuns à todas as
instituições, são:

• Atividades recreativas;

• Atividades de desenvolvimento
da espiritualidade;

• Atividades de promoção do
autocuidado e da sociabilidade;

• Atividades de capacitação,
promoção da aprendizagem,
formação e atividades práticas
inclusivas.

Apesar das características


principais em comum, cada
comunidade adota sua própria
metodologia de acolhimento,
definida pelo PAS e estabelecida
pela equipe e pelo gestor da
instituição. Fica a cargo de cada comunidade
estabelecer a linha teórica e filosófica usada para a
análise dos casos. é importante ressaltar que cada
CT deve ter seu PAS, mas todas devem executar
ações voltadas a promoção da qualidade de vida
física, psicológica, social, ambiental e espiritual de
pessoas com problemas associados ao abuso ou
dependência de substancias psicoativas.

20
qual a relação
das comunidades
terapêuticas
com o poder
público?
Segundo o artigo 5º da resolução Conad 01/2015, a comunidade deverá atuar
de forma integrada desde o início com a rede de serviços situada em seu
território de atenção, cuidado, tratamento, proteção, promoção, reinserção
social, educação e trabalho, além dos órgãos que atuem direta ou indiretamente
com tais políticas sociais. Deve comunicar o início e o encerramento de suas
atividades aos seguintes órgãos da administração pública: Secretaria Nacional
de Políticas sobre Drogas (Senad); órgãos gestores de políticas sobre drogas
estadual e municipal (se houver); Conselho Estadual de Políticas sobre
Drogas; Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas (se houver); Secretaria
e Conselho Estadual de Saúde; Secretaria e Conselho Municipal de Saúde;
Secretaria e Conselho Estadual de Assistência Social; Secretaria e Conselho
Municipal de Assistência Social.

Conforme o artigo 22º da resolução Conad 01/2015, em caso de vagas


financiadas com recursos públicos federais, caberá ao órgão responsável pelo
financiamento promover a articulação com a rede municipal e estadual para
regular o ingresso do acolhido na entidade, respeitando os mecanismos de
acolhimento de cada entidade, apoiados pelo Conselho Nacional de Políticas
sobre Drogas.

21
Quais pessoas trabalham nas comunidades terapêuticas?

Segundo a legislação que regulamenta as CTs (RDC-029/2011 da


Anvisa e resolução 01/2015 do Conad), as entidades precisam manter
equipe multidisciplinar com formação condizente com as atividades
oferecidas no PAS para o pleno funcionamento da entidade. A
equipe deve estar sob responsabilidade de um profissional de nível
superior legalmente habilitado, bem como substituto com a mesma
qualificação, atuando como responsável técnico da entidade. O
responsável técnico de nível superior poderá ser de várias áreas de
conhecimento: Saúde, Psicologia, Assistência Social, Teologia ou
Educação, por exemplo.

As instituições devem proporcionar ações de capacitação na área


da dependência química à equipe, mantendo o registro dessas
capacitações.

De que forma os familiares podem participar do tratamento nas


comunidades terapêuticas?

Os familiares podem e devem auxiliar no tratamento desde o


acolhimento até o processo de reinserção social, sendo muito
importante a sua participação. O homem é um ser social, logo, a família
é um fator que interfere no tratamento do dependente químico,
positiva ou negativamente.

Qual é a atual legislação que regulamenta o trabalho das comunidades


terapêuticas?

• Resolução 01/2015 do Conad de 27/08/2015: regulamenta e descreve


a modalidade de CT;

• RDC-029/2011 de 30/06/2011 – Anvisa: regulamenta os aspectos


sanitários;

• Legislações estaduais, que podem complementar a Legislação


Federal.

22
É possível consumir álcool, tabaco ou outras drogas durante a
permanência em uma comunidade terapêutica?

As CTs adotam a estratégia da abstinência no acolhimento, oferecendo


um ambiente de tratamento livre de drogas, excetuando-se os
medicamentos com prescrição médica. Algumas entidades toleram o
uso do tabaco.

As comunidades terapêuticas são sempre organizações não


governamentais sem fins lucrativos (ONGs) ou podem existir
comunidades terapêuticas privadas?

As CTs são, em sua maioria, entidades sem fins lucrativos. A resolução


01/2015 do Conad aplica-se somente às entidades sem fins lucrativos.
Ainda assim, existem CTs constituídas juridicamente com fins
lucrativos, sendo minoria. Também existem algumas CTs constituídas
por órgãos públicos.

De que forma a sociedade pode auxiliar as comunidades terapêuticas?

Por meio de parcerias com universidades nos cursos de Enfermagem,


Psicologia, Medicina, Teologia e Assistência Social, sempre tendo
como supervisor um professor habilitado para a função, quer seja com
serviços terapêuticos ou administrativos.

A sociedade pode auxiliar ainda com ações preventivas primárias, que


consistem em programas de educação e prevenção ao uso abusivo de
substâncias psicoativas. Outra ajuda importante é a reinserção social
do acolhido por meio de parcerias com a iniciativa privada, o que
agrega conhecimento à sociedade sobre o tema e facilita o retorno do
acolhido à sociedade.

As CTs também podem ser ajudadas por meio de trabalhos voluntários


ou doações, que podem ser feitas diretamente às entidades.

23
Legislação de políticas sobre drogas
das comunidades terapêuticas
Dr. Leandro Marins de Souza

Qual é a atual legislação que regulamenta o trabalho das comunidades


terapêuticas?

Além das disposições da Constituição Federal de 1988 e do Código Civil


(especialmente os artigos 40 e seguintes, que disciplinam as instituições
sem fins lucrativos), as comunidades terapêuticas são regulamentadas pelos
seguintes atos normativos, especificamente aplicáveis às suas atividades.

Todas as CTs, independentemente da característica de sua atividade, devem


se submeter às normas de Vigilância Sanitária para obtenção de autorização
de funcionamento. Essas normas estão veiculadas na RDC nº 029/2011 da
Anvisa de 30/06/2011 (dispõe sobre os requisitos de segurança sanitária para
o funcionamento de instituições que prestem serviços de atenção a pessoas
com transtornos decorrentes do uso, abuso ou dependência de substâncias
psicoativas), sem prejuízo de normas locais que complementem as exigências
sanitárias.

As CTs recentemente foram objeto de regulamentação específica no âmbito


do Sisnad (Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas), por meio da
resolução nº 01/2015 do Conad de 27/08/2015 (regulamenta, no âmbito do
Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas, as entidades que realizam
o acolhimento de pessoas, em caráter voluntário, com problemas associados
ao uso nocivo ou dependência de substância psicoativa, caracterizadas como
comunidades terapêuticas).

Os requisitos previstos nessa resolução servem para que a CT possa ser


considerada como participante do Sisnad, instituído pela Lei nº 11.343 de
23/08/2006 (institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas
– Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e
reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas
para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define
crimes). A referida lei é regulamentada pelo decreto nº 5.912 de 27/09/2006
(Regulamenta a Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, que trata das políticas
públicas sobre drogas e da instituição do Sistema Nacional de Políticas
Públicas sobre Drogas – Sisnad). O Sisnad prevê hipóteses de relacionamento
entre o poder público e as CTs no âmbito da Política Pública sobre Drogas,
inclusive para fins de repasses de recursos públicos para a manutenção de
suas atividades.

24
Além dessa legislação específica, a depender da característica de cada CT
deverá ser observada legislação complementar, por exemplo:

• Lei nº 8.069 de 13/07/1990 (ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente);

• Lei nº 8.742 de 07/12/1993 (Lei Orgânica da Assistência Social –Loas);

• RDC nº 216 da Anvisa de 15/09/2004 (dispõe sobre regulamento técnico de


boas práticas para serviços de alimentação);

• Portaria nº 3.088 de 23/12/2011 (institui a Rede de Atenção Psicossocial


para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades
decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema
Único de Saúde);

• Lei nº 13.019 de 31/07/2014 (MROSC – Marco Regulatório das Organizações


da Sociedade Civil, que estabelece o regime jurídico das parcerias entre a
administração pública e as organizações da sociedade civil, em regime de
mútua cooperação, para a consecução de finalidades de interesse público
e recíproco, mediante a execução de atividades ou de projetos previamente
estabelecidos em planos de trabalho inseridos em termos de colaboração, em
termos de fomento ou em acordos de cooperação; define diretrizes para a
política de fomento, de colaboração e de cooperação com organizações da
sociedade civil).

Os estados também podem editar atos normativos, visando a regulamentar


o funcionamento das comunidades terapêuticas, de forma complementar
à Legislação Federal. Além disso, cada CT pode estar sujeita à legislação da
política pública em que atua, que deverá ser observada complementarmente.

Qual é a natureza jurídica das comunidades terapêuticas e o regime


jurídico aplicável a ela?

Embora existam comunidades terapêuticas públicas e criadas sob a forma


de empresa, a maioria delas é criada como pessoa jurídica de direito privado
sem fins lucrativos, com natureza jurídica de associação civil ou de fundação
privada, nos termos do artigo 44 do Código Civil.

O que caracteriza uma instituição como “sem fins lucrativos” é, em linhas gerais,
o fato de não distribuir qualquer parcela das suas rendas ou do seu patrimônio,
a qualquer título e a quem quer que seja. Assim, o eventual superávit das suas
atividades deve ser reinvestido em prol da sua causa social, não podendo ser
distribuído para associados, dirigentes, benfeitores, mantenedores e demais
envolvidos.
25
As associações civis são criadas pelo interesse comum de um grupo de pessoas
na solução de uma questão social, e não necessitam de capital para a sua
constituição. Os associados devem ter iguais direitos. Entretanto, o estatuto
poderá instituir categorias com vantagens especiais, conforme preceitua o
artigo 53, 55 e 56 do Código Civil.

Já as fundações privadas são criadas por um instituidor – pessoa física ou jurídica


– que destina patrimônio para uma causa social. Portanto, há necessidade de
destinar-se um capital inicial para instituir uma fundação privada. Distinta da
associação, a fundação privada é velada pelo Ministério Público, nos termos
dos artigos 62 a 66 do Código Civil.

Ambas as figuras jurídicas (associação e fundação privada) são regidas por um


estatuto, que deve cumprir itens obrigatórios para sua validade.

O estatuto de uma associação, na forma do artigo 54 do Código Civil, deve


conter:

• A denominação, os fins e a sede da associação;

• Os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;

• Os direitos e deveres dos associados;

• As fontes de recursos para sua manutenção;

• O modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos;

• As condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução;

• A forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.

O estatuto de uma fundação deve compreender as determinações do


instituidor ou instituidores. Além disso, deve conter os requisitos previstos no
artigo 120 da Lei nº 6.015 de 31 de dezembro de 1973, sendo:

• A denominação, os fins e a sede da fundação, bem como o tempo de duração,


se houver;

• O modo por que se administra e se representa a fundação, ativa e


passivamente, judicial e extrajudicialmente;

• A possibilidade e o modo de o estatuto ser reformado no tocante à


administração;

26
• A responsabilidade dos membros pelas obrigações sociais;

• As condições de extinção da fundação e o destino de seu patrimônio, nesse


caso;

• A qualificação dos instituidores da fundação e dos membros da diretoria.

O estatuto é lei para a instituição, devendo ser seguido sob pena, inclusive, de
responsabilização solidária dos dirigentes. As regras para a redação do estatuto
estão previstas no Código Civil e na lei de Registros Públicos, conforme visto
anteriormente. A legislação própria das comunidades terapêuticas também
deve ser consultada.

Na Lei nº 11.343 de 23/08/2006, encontram-se previsões de que a União,


os estados, o Distrito Federal e os municípios poderão conceder benefícios
às instituições privadas que desenvolverem programas de reinserção no
mercado de trabalho (art. 24), e que as instituições da sociedade civil, sem
fins lucrativos, com atuação nas áreas da saúde e da assistência social e que
atendam usuários ou dependentes de drogas poderão receber recursos do
Funad (art. 25).

De acordo com a resolução nº 01/2015 do Conad de 27/08/2015, que


regulamenta a Lei nº 11.343/2006 acima citada, as CTs são pessoas jurídicas de
direito privado com as seguintes características:

I – Adesão e permanência voluntárias, formalizadas por escrito, entendidas


como uma etapa transitória para a reinserção sócio-familiar e econômica do
acolhido;

II – Ambiente residencial, de caráter transitório, propício à formação de vínculos


com a convivência entre os pares;
III – Programa de acolhimento;

IV – Oferta de atividades previstas no programa de acolhimento da entidade;

V – Promoção do desenvolvimento pessoal, focado no acolhimento de


pessoas em situação de vulnerabilidade com problemas associados ao abuso
ou dependência de substância psicoativa.

Para preencher os requisitos da referida resolução, além das demais exigências


nela contidas, as CTs deverão comunicar previamente os órgãos competentes

27
(Senad; órgãos gestores de políticas sobre drogas estadual e municipal, se
houver; Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas; Conselho Municipal de
Políticas sobre Drogas, se houver; Secretaria e Conselho Estadual de Saúde;
Secretaria e Conselho Municipal de Saúde; Secretaria e Conselho Estadual de
Assistência Social; Secretaria e Conselho Municipal de Assistência Social) quanto
ao início e fim das suas atividades (art. 5), bem como encaminhar ao Conad,
anualmente, as informações atualizadas sobre o seu funcionamento, número
de vagas e perfil das pessoas acolhidas (art. 25).

O acolhimento não poderá exceder o limite de 12 meses no período de 24


meses (art. 6, §1º), e não poderão acolher crianças de até 12 anos (art. 10).

A RDC nº 029/2011 da Anvisa de 30/06/2011, por sua vez, regulamenta


os requisitos sanitários a serem observados pelas CTs para autorização de
funcionamento. Determina que obtenham licença atualizada de acordo com
a legislação sanitária local, afixada em local visível ao público (art. 3), bem
como documento atualizado que descreva suas finalidades e atividades
administrativas, técnicas e assistenciais (art. 4). Impõe, ainda, exigências nas
áreas de condições organizacionais, gestão de pessoal, gestão de infraestrutura
e processos operacionais assistenciais. Prevê, por exemplo, o dever de manter
um profissional que responda pelas questões operacionais durante o seu
período de funcionamento (art. 6), e veda o estoque de medicamentos sem
prescrição médica (art. 17).

Quando a CT acolher crianças ou adolescentes, é necessário atender também


às disposições do ECA (Lei nº 8.069 de 13/07/1990). Conforme preceitua a
resolução nº 01/2015 do Conad, em seus artigos 10 e 17, é vedado às CTs o
acolhimento de crianças até doze anos de idade incompletos (art. 2º do ECA).

Admite-se, contudo, que seja realizado o acolhimento de uma mãe


acompanhada de seu filho, sendo que, nesse caso, a comunidade deve garantir
os direitos da criança nos termos da Lei nº 8.069 de 13/07/1990.

Por fim, quanto ao regime jurídico das parcerias entre a administração pública
e as organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, deve-se
atentar às recentes inovações implementadas pela Lei nº 13.019 de 31/07/2014
– MROSC, especialmente por ocasião da realização de termos de colaboração,
termos de fomento ou acordos de cooperação.

Vale mencionar também a aplicação da Lei nº 12.101 de 27/11/2009, que trata


da concessão do Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social
(Cebas) às instituições sem fins lucrativos que atuem nas áreas de educação,
saúde ou assistência social. As CTs estão expressamente previstas na referida
lei como destinatárias do Cebas na área da saúde, mediante o preenchimento

28
dos requisitos legais, dentre os quais destaca-se a necessidade de prestação
de serviços no âmbito do SUS, como a comprovação de pelo menos 20% de
aplicação de suas receitas em gratuidade e pactuar via convênio, contrato ou
outro instrumento vagas sociais com o gestor do SUS. Caso o gestor municipal
do SUS não tiver interesse, deve oferecer uma demonstração expressa de
ausência de interesse do SUS na contratação.

Esses requisitos têm gerado muitas dificuldades para a obtenção do Cebas


pelas CTs, motivo pelo qual tem-se discutido a alteração da legislação sobre
os requisitos da área da Saúde para reconhecer as CTs. Também discute-se as
instituições de assistência social nos termos da Política Nacional da Assistência
Social.

Enquanto instituições intersetoriais, cada CT pode estar sujeita à legislação


da política pública em que atua junto ao seu município. Assim, por exemplo,
uma comunidade terapêutica que seja considerada entidade de saúde deverá
observar a legislação sanitária aplicável, inclusive em relação ao Cebas, onde,
pela legislação atual, somente poderá ser requerido mediante registro e
inscrição da CT junto à Saúde.

O Ministério da Saúde editou a portaria 834 de 27/04/2016, que regulamenta


o processo de renovação e obtenção do Cebas das comunidades terapêuticas.
Um dos pontos importantes foi a definição de regras de transição, pensando
nas CTs que já tem Cebas e estão em processo de renovação, bem como novos
requerimentos. Abaixo, seguem os artigos que tratam desta transição para o
segmento de CTs:

Art. 75. As entidades de que tratam os art. 8 e 10 que protocolarem o


requerimento entre a data da publicação da Lei nº 12.868, de 2013, até o dia 31
de dezembro de 2016 serão excepcionalmente certificadas (...).

Art. 76. As entidades de que trata o art. 75, que protocolaram os requerimentos
de concessão e renovação antes da publicação da Lei nº 12.868, de 2013, e cujos
processos foram redistribuídos ao Ministério da Saúde, serão, excepcionalmente,
certificadas desde que comprovem o cumprimento da aplicação de 20% (vinte
por cento) de sua receita bruta em ações de gratuidade.

29
Documentação administrativa,
contábil e jurídica das comunidades
terapêuticas
Luciana Franco da Rocha Palombo
Rafael Aguilar Massolin
Egon Schlüter

O objetivo geral desse anexo é apresentar duas listagens dos principais


documentos que normalmente são encontrados nas CTs e que poderão
servir de base para a implantação ou readequação de novas ou já existentes
CTs. São tratadas principalmente as documentações que são atribuições
para essas organizações no âmbito da legislação federal, estadual, municipal,
previdenciária, trabalhista, cartoriais e certidões, entre outras documentações
necessárias, que possam justificar sua atuação legal e auxiliar a comunidade
com suas práticas gerenciais ou na justificativa para requisitar recursos
financeiros.
O objetivo específico desse anexo é identificar os principais documentos que
a CT deve ter em seus arquivos.

Recomenda-se que a CT já em funcionamento faça, inicialmente, um


levantamento de toda a documentação existente em seus arquivos,
organizando os documentos encontrados por títulos, ordem alfabética ou
ordem de importância e por data ou prazo de validade. Em um segundo
momento, realize o arquivamento em um local adequado. Sugere-se uma
pasta de capa dura com envelopes plásticos, que facilitam a visualização
do documento frente e verso, pastas suspensas ou outro método que a
administração achar adequado. O importante é manter a documentação em
local seguro e livre de umidade, que possa ficar esticado e sem dobras. No
terceiro momento, verifique quais documentos obrigatórios estão ausentes
ou desatualizados.

No caso do alvará de funcionamento e do alvará sanitário, documentos que


ficam expostos ao público, recomenda-se que seja mantida uma cópia na
pasta com os demais documentos, para ser manuseado com facilidade e sem
o risco de danificar o original.

A seguir, apresentam-se duas listagens de documentos. A primeira trata dos


documentos obrigatórios, e, a segunda, de complementares.

30
A apresentação da relação dos documentos em lista foi escolhida para auxiliar
o gestor da comunidade. Assim, ele pode fazer uma “check list” do que ele
deve organizar, além de ter um formato que facilite o controle administrativo,
jurídico e contábil da CT.

Documentação obrigatória

• Ata da fundação com registro no cartório de registro de pessoas físicas e


jurídicas;

• Estatuto social com registro no cartório de registro de pessoas físicas e


jurídicas;

• Ata de eleição da diretoria;

• CNPJ – Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica;

• Alvará de funcionamento;

• Licença sanitária;

• Certidão de vistoria dos bombeiros;

• Documentação relativa ao imóvel-sede e filial da comunidade (registro de


imóvel, contrato de aluguel, contrato de comodato – aluguel gratuito, caso
houver – arrendamento, IPTU, ITR etc.);

• Demonstrações contábeis atualizadas:

- Balancete de verificação;

- DRE – Demonstração do Resultado do Exercício;

- Balanço patrimonial;

- Livro diário;

- Livro razão;

• Contas bancárias conciliadas (saldo anterior + entradas - saídas = saldo final).


Deve ser idêntica à movimentação do extrato bancário, com documentação
comprobatória;

• Controle de contas em aplicações financeiras conciliadas (idem item anterior);

31
• Controle de estoques de mercadorias e controle de itens recebidos e
destinados de doações;

• Controle de contas a receber (conciliado), individualizado por cliente;

• Controle de contas a pagar (conciliado), individualizado por cliente;

• Controle de ativo fixo (imobilizado), com a documentação comprobatória


(NF de aquisição ou documento de doação).

Observações:

• Todas as movimentações patrimoniais (bens, direitos e obrigações) deverão


ser registradas e comprovadas por meio de de documentação comprobatória
e controles internos;
• Para fins de transparência das ações e movimentações realizadas pela
comunidade terapêutica, recomenda-se que seja realizada a movimentação
contábil comprovando toda a movimentação patrimonial;

• Recomenda-se o acompanhamento de um profissional contábil nessa


etapa, para evitar a falta de algum documento obrigatório, visto que a
legislação pode sofrer alterações com frequência.

Documentação complementar (que poderá ser solicitada para obter


recursos e convênios)

• Declaração de registro de entidade social executora;

• Pede-se na Seds (Secretaria da Família e Desenvolvimento Social), para


solicitar benefício de cerca de 30% de desconto das tarifas da Copel e
Sanepar;

• Certidão de falência, concordata, recuperação judicial e extrajudicial;

• Qualificação econômica financeira (Sicaf – sistema unificado de


fornecedores), para atender ao contrato da Senad;

• Certidão negativa da previdência social (tributos federais – certidão única);

• Certidão negativa de tributos estaduais;

• Certidão negativa de tributos municipais;

32
• Certidão negativa do tribunal de contas;

• Certidão negativa de débitos trabalhistas;

• Certidão de registro de profissional inscrito no Conselho Regional de


Psicologia (caso houver);

• Certidão de registro de profissional inscrito no Conselho Regional de


Fisioterapia e Terapia Ocupacional (caso houver);

• Ata de comissão UGT (Unidade Gestora de Transferência), em caso de


convênios;

• Certidão de utilidade pública municipal e estadual;

• Certidão de utilidade pública federal;

• Atestado de registro no Conselho Municipal de Saúde e Secretaria


Municipal de Saúde, para requerer o Cebas;

• Atestado de registro no Conselho Municipal de Assistência Social e


Secretaria de Ação Social – a certificação dos serviços prestados pela CT
poderá ser solicitada através da comprovação dos serviços tipificados pela
assistência social;

• Certidão conjunta da receita federal;

• Certidão liberatória da prefeitura municipal;

• Certidão liberatória do Tribunal de Contas;

• Certidão para prestação de contas para Cadastro Nacional de


Estabelecimento de Saúde;

• Certidão ou declaração de filiação na Compacta ou outras federações;

• Declaração de isenção do imposto de renda;

• Registro na Secretaria da Saúde.

Em caso de dúvidas, consulte a assessoria da Compacta.


compactaparana.org.br
contato@compactaparana.org.br

33
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Segundo mapeamento realizado em 2012 pela Senad
e pela UFRGS, em parceria com as federações de CTs
(Cruz Azul no Brasil, Febract, Feteb e Fennoct), há no
Brasil mais de 1 800 CTs e mais de 64 000 vagas, sendo
quatro mil no Paraná.

A dependência química deve ser tratada como um


problema de saúde pública. É importante ter foco na
integração de profissionais interdisciplinares e buscar
sempre distintas formas de tratamento e assistência à
pessoa com problemas decorrentes do uso abusivo e
dependência de substâncias psicoativas, para que os
avanços conquistados durante o acolhimento sejam
generalizados na sociedade.

O uso de drogas gera um interminável ciclo de


consequências para o usuário, sua família e a
sociedade. Sendo assim, o tratamento é importante
para uma melhoria não apenas individual, mas social.

34
referências
DE LEON, G. A Comunidade Terapêutica – Teoria, Modelo e Método, março 2012 4ª edição,
Editora Loyola Jesuitas/SP.

CHAVES, E. M. S.; CHAVES, E. M. Descortinando a realidade das comunidades terapêuticas


como serviços de atenção ao dependente de substâncias psicoativas: dos amparos
legais aos amparos reais. 2007. 89 f. Monografia (Pós 151 Graduação Latu Sensu em Serviço
Social) – Instituição Toledo de Ensino de Bauru, Bauru, 2007.

SECRETARIA NACIONAL – SENAD. Mapeamento das instituições governamentais e não


governamentais de atenção às questões relacionadas ao consumo do álcool e outras
drogas no Brasil – 2006/2007. Brasília: SENAD; 2007.

Sites úteis
Compacta – Federação Paranaense de Comunidades Terapêuticas Associadas:
compactaparana.org.br | facebook.com/CompactaFederacaoParanaense
Confenact - Confederação Nacional das Comunidades Terapêuticas:
confenact.org.br
Cruz Azul no Brasil:
cruzazul.org.br
Universidade Positivo – Graduação em Psicologia:
up.edu.br/graduacao/psicologia
Marins de Souza Advogados – especializado no Terceiro Setor:
marinsdesouza.com.br
Cape/Denarc-PR – Centro Antitóxicos de Prevenção e Educação:
denarc.pr.gov.br
Governo Federal - Observatório crack, é possível vencer:
brasil.gov.br/observatoriocrack
Ministério da Saúde - Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Resolução – RDC Nº 29,
de 30 de junho de 2011:
bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2011/res0029_30_06_2011.html
Sesa – Secretaria Estadual de Saúde – roteiro de inspeção para rede de comunidades
terapêuticas do Paraná:
saude.pr.gov.br/arquivos/File/ROTEIRODEINSPECAOCOMUNIDADESTERAPEUTICAS.pdf

35
Informações
compactaparana.org.br
contato@compactaparana.org.br
COMPACTA - Federação Paranaense de
Comunidades Terapêuticas Associadas
Rua Benjamin Constant, 67, Cj 1104, Centro, Curitiba - PR. CEP:
80.060-020.

up.edu.br
up.edu.br/graduacao/psicologia
centrodepsicologia@universidadepositivo.com.br
Tel: (41) 3317-3169 | Bloco Amarelo | Universidade Positivo
R. Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300, Campo Comprido,
Curitiba - PR

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