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Cada um dos seus discos tem uma história. O que há por trás deste terceiro?

Por detrás desse terceiro está o de sempre, o amor, o sexo, o filho, o nascimento, a
morte, alguns sentimentos profundos; junto a isso, uma percepção das coisas ao redor
em conflito comigo no mundo. Ultimamente tenho tido a impressão de que tenho que
me blindar para poder existir, mas sempre sou afetado e tenho mesmo que ser afetado,
e fico então me movendo nesse caos, nessa massa informe que sou eu entre as
coisas, as pessoas e o mundo, os medos, tudo enfim. Tá uma desordem total.

Apesar de narrativas diferentes, os seus álbuns parecem ter um ponto que os


une. O “Amarelo” é marcado pelo amor romântico, “Babies” pelo carnal e em
“Corpos são feitos pra encaixar e depois morrer” o amor parece também estar
presente. De que forma ele aparece nesse novo disco? Essa ligação foi
proposital?

Todos os meus discos são e serão sempre um disco só. É claro que muda a
sonoridade, a tônica de cada um, o gesto, mas são todos discos de amor. Me coloco
assim na vida e tudo que vejo é a partir desse equilíbrio tenso entre meu prazer egoísta
e a minha relação com as pessoas que amo. O “Amarelo”, ele é mais íntimo e mais
sereno. Mas é sempre um amor realista, no fundo não sou nada romântico, sou bem
realista e objetivo. Gosto do amor realizado.

As capas refletem isso também, né?

Sim, as capas, não sei tanto falar sobre elas. Sei que desde que com a minha banda
Isadora, com quem lancei meu primeiro disco, “A eletrônica e musical figuração das
coisas”, e que tinha uma capa com imagens abstratas; e que quando resolvi fazer um
disco solo, o “Amarelo”, foi um exercício de perder a vergonha, porque eu tinha banda
antes porque não queria colocar meu nome na frente; e então, terapeuticamente,
resolvi também me colocar de corpo inteiro nu na capa. Me coloco como personagem
de mim mesmo, na verdade sou tímido e reservado. É por isso que nas capas me
exponho mais, posso fazer o que eu quiser, porque ali é tudo mentira ou verdade
inventada, é, como disse meu filho, meu outro eu.

A faixa-título tem um toque político, mas romanceado. Foi uma forma leve de
falar sobre o tema? Em tempos de crise o amor é uma das tábuas de salvação?

Eu odeio a macropolítica institucional. Gosto de política e me sinto um homem político


na acepção grega e da Hannah Arendt; sou atuante e me sinto impelido politicamente
no nível da micropolítica, no meio musical, no meu bairro, por exemplo, tenho o impulso
gregário de me juntar aos meus pares para mudar as coisas através do conflito de
ideias etc. Na verdade não acho que a canção seja leve, ela é lírica, fala daquela
tensão de que eu falava antes, de que às vezes eu me sinto em completo
descompasso com o mundo, mas preciso sair na rua, eu gosto de sair na rua, preciso
dançar para me harmonizar com o cosmos, preciso dançar mais na verdade, vai ser
bom pra mim, porque me sinto em descompasso e às vezes com medo, não sei bem
porquê, mas também não me encolho, enfrento meus medos, mas o mundo reacionário
tá uma merda. Eu nem tenho muito saco para discutir isso, porque a lógica da política
institucional é completamente cínica; não acredito nela e não perco meu tempo com
isso; a gente não viu na semana passada esse cretino do nosso presidente não eleito
fazendo aquele discurso escroto? Eu gosto da argumentação, por isso sou grego, eu
gosto da contraposição de ideias e acredito em consensos, mesmo que precários e
parciais, mas a lógica do cinismo não, é estéril. Por isso “o riso que não reconcilia” —
isso é o cinismo — essa frase se não me engano é do Adorno. Então foi uma forma de
falar sobre o tema, me colocando dentro dele em radical oposição de ser e estar no
mundo. O amor, o sexo, como um monumento, um momento de suspensão do tempo,
a anti-história, uma fala pelo viés do que me interessa, de onde estou e me vejo,
expondo a fratura entre mim e o que estou vendo e não estou gostando. Entre o amor e
a política parece que têm alguma interseção, mas a política é uma luta contra nossos
rivais, com aqueles com os quais discordamos, e é um lance coletivo, nos juntamos
com os nossos contra outros grupos ou ideais; o amor, pelo menos o amor do núcleo
mínimo, a dois ou a três, a quantos se queira — embora para mim eu só consiga
pensar a dois — não há rivalidade, mas sim uma tensão fundamental na qual
decidimos colocar em cheque nossa liberdade individual por causa da ou das outras
pessoas. Mas a política em algum ponto tem a ver com aquele outro amor, fraternal,
pela humanidade, alguma coisa.

Poderia falar um pouco sobre cada faixa (letras, sonoridades...)?

Caramba, cada faixa é um mundo. Poderia ficar falando horas sobre cada uma. Eu não
sei. Todas giram em torno de uma circularidade que vai desde o nascimento passa
pelo sexo e a morte retorna ao nascimento. Esse ciclo é um sem fim difícil de entender.
Envolve nossa mãe, nossos filhos, nossos amantes, envolve o profano do sexo com o
sagrado da família, o que temos de animal ao que temos de social, tudo num todo
indistinto que compõe pra mim a desrazão que é a nossa vida, ao mesmo tempo nada
e tudo parecem fazer sentido, fico desorientado e gosto. A sonoridade é obra do Chico
Neves, esse super produtor, um homem muito especial, com quem passamos uma
semana gravando; para além de uma experiência profissional, de gravação de disco,
foi uma experiência afetiva e de aprendizado intensa. Toda a família do Chico, a
Marcia, o Theo, a Andrea, tudo, os almoços, jantares, os vinhos, a canjica, os chás,
tudo compõe o disco pra mim, estão lá quando ouço as canções. Eu disse a ele que só
queria as sujeiras. Eu disse o que queria para o Chico — que queria os sons do
ambiente, os ruídos, as respirações, o não HD, tudo que pudesse trazer as impurezas,
porque tenho pavor da assepsia da alta definição — , porque a vida é áspera, arranha.
Porque o que há de mais vital é sujo, o nascimento, o sexo; como disse Santo
Agostinho, nascemos entre fezes e urina. Eu queria isso. O amor também é áspero se
vivido plenamente. Se for assim, precisamos de mais amor, não do amor fofo do “mais
amor por favor”, isso é coxice, recuso; disse isso tudo ao chico, mas disse também
para ele fazer o que quisesse o mais experimental que fosse. E eu amei o som.
Acontece com ele uma coisa que aconteceu também na master do “Babies”, que foi ele
quem fez, que quando chega o som eu nem sei o que dizer, se gostei ou se não,
porque aquilo não estava dentro das possibilidades que poderia esperar, aí fico sem
saber, mas vou ouvindo e preciso de um tempo para assimilar; se torna algo
surpreendente, porque ele contribui para o seu trabalho com algo que você sequer
supunha que poderia ser e que vem da sensibilidade dele e da maneira como ele ouviu
o seu som. Esse disco foi também um trabalho de desapego meu em relação a isso.
Não tive controle nenhum da gravação, edição, mix e master e normalmente tenho;
dessa vez, com exceção dos arranjos, que fizemos eu e o Exército de Bebês (e os de
orquestra o maestro Mário Ferraro), ficou tudo com o Chico. Eu amei a sonoridade, me
sinto um sortudo por ter um disco produzido pelo Chico, pelo som e por tudo mais que
disse.

Os vídeos dos bastidores trazem uma atmosfera intimista, que segue a linha das
suas canções, né?! Como foi o processo de gravação do álbum?

Então, foi isso que eu falava. Ficamos uma semana na casa do Chico, perto de Belo
Horizonte. O estúdio é na casa dele no meio do mato. A família dele é muito
acolhedora. Ele também. Trabalhamos muito. Fomos eu, os músicos do Exército,
Pedro Fonte, Guilherme Lirio, Iuri Brito e Thomás Jagodá, o Mário Ferraro, que ia reger
o quarteto de cordas, a Ana Rovati para fazer as fotografias e filmar e o Felippe César
Marins, da Lala Filmes, que registrou em vídeo o processo de gravação. Gravamos as
bases em três dias, as cordas e sopros em dois. E na tarde de sexta eu gravei todas as
vozes, ficando rouco no final. Ficávamos de manhã até meia noite no estúdio.
Ouvíamos umas gravações que o chico colocava antes de ir embora. Voltávamos para
a pousada do Renato, ali pertinho, no breu da estrada de terra. Foi super astral. Melhor
impossível. Graças a essas pessoas das quais me cerquei, tudo gente boa e fodões
naquilo que fazem. Foi uma delícia.

Assim como em “Babies” você repete a parceria com o Exército de Bebês.


Poderia falar dessa colaboração? Além desta, o disco traz outras participações?

A banda é a mesma do meu disco anterior. (Aliás, o Pedro Carneiro, produtor do


“Babies”, foi ele quem fez essa ponte com o Chico. Ele ia com a gente pra BH, mas de
última hora ficou com dor de ouvido e não pôde ir). O Exército de bebês faz o tipo de
som que eu gosto, groovado no rápido e no lento; o Pedro Fonte é incrível, amo o som
da bateria que ele tira e a estética dele, que é essa, sequinha, pouco prato (tenho
pavor de prato estourando). E todos são muito talentosos, têm muito bom gosto e
conhecem muito da linguagem da canção. Então nunca tenho que ficar resguardando o
lugar da palavra. Eles pintam toda a cena pra ela. E mais, tocam juntos, o
entrosamento é total, pessoal e de som. Fica muito fácil. Alguns arranjos saem de
primeira. Pra te responder sobre as participações, no início percebi que algumas
canções eu cantava no eu lírico feminino; pensei em chamar cantoras (porque adoro
fazer dueto) para dividir comigo as vozes e criarmos um timbre híbrido e ficar aquela
dúvida se era mulher ou homem e tal, pra realçar a confusão. Mas aí, contei minha
ideia para a Pérola Mathias, crítica musical que admiro muito, e ela foi tão enfática, me
disse “não, grava tudo só você”, que eu fui totalmente convencido sem nem precisar
perguntar por quê. No fim, acho que o que ela quis dizer é que minha voz já está num
registro tão “entre”, que chamar mulheres para criar esse timbre andrógino era
desnecessário se eu já podia fazer isso sozinho. E assim foi. Tem uma participação, da
banda Boreal, formada pela Luiza Brina, Aline Gonçalves, Karina Neves e Vovô Bebê.
Quem canta comigo é o Vovô Bebê. Lembrei agora que tem outras participações, não
como solista, mas de solistas maravilhosos, que são um escândalo, a Juliana Linhares,
do Pietá, o Caio Prado e a Michelle Leal, fazendo o backing luxuoso do disco comigo.
Essa foi minha cota de ostentação.

Uma ultima questão. Você vai liberar algum single antes? Iria aproveitar pra
incluir na matéria!

Já liberei “Fui fiel”, regravação do Pablo. E também já liberei “Eu quero ser sua mãe”,
com o clipe da Letícia Pires. Mas o single do lançamento do disco vai ser “É claro que
eu queria”, que também vai ganhar um clipe filmado pela Ana Rovati, com o bailarino
Uátila Coutinho. Eu te libero o disco todo!

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