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EM FORMAÇÃO∗
Introdução
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determinadas estratégias textual-discursivas e recursos lingüísticos são ou não
adequados a um projeto de dizer, aí implicados os diferentes fatores que compõem e
determinam as atividades discursivas em que se engaja.
Sob esse ponto de vista, considera-se que, nas práticas de ensino e de
aprendizagem que visam ao processo de inserção do sujeito nas práticas discursivas
acadêmico-científicas – campo de interesse deste trabalho – o texto deve ser abordado
em termos de sua emergência e funcionamento na prática discursiva à qual se prende, o
que implica promover situações em que os textos sejam estudados não somente do
ponto de vista da configuração formal dos gêneros textuais que atualizam, mas também
em função de suas condições de produção, recepção e circulação.
À luz de Bakhtin (2003) e Schneuwly (2004 e 1988), que retoma Vygotsky
(1991), faz-se a defesa de que é pela prática, ou seja, no interior da atividade social, que
se torna próprio o que antes era alheio, estranho. Nessa medida, a aprendizagem supõe
ações de elaboração próprias, estímulo à autonomia, reflexão sobre a atividade em que o
sujeito se engaja, o que também implica a adoção de princípios e procedimentos de
correção de textos orientados por uma concepção de avaliação mediadora (cf. Hoffman,
1994 e 2003), educadora, comprometida com o aprender. É nesse quadro, portanto, que
se articulam escrita, correção e reescrita, uma vez que a correção se destina
fundamentalmente a permitir que o aluno possa refletir sobre sua produção de
conhecimento, recebendo estímulo e orientação para reorganizar seus saberes.
No contexto da avaliação mediadora, as práticas de correção de textos (turno do
professor) e de escrita/reescrita (turno do aluno) podem ser tomadas como turnos de
uma interação construída no solo dialógico das ações de ensino e de aprendizagem.
Recorrendo-se à imagem de Bakhtin (2003), a correção é a manifestação da
compreensão responsiva ativa do professor ao projeto de dizer do aluno, consideradas as
estratégias por ele escolhidas, assim como o texto que o aluno escreve/reescreve
responde a uma proposta pedagógica em curso. Tanto a atividade de escrita do aluno
quanto a atividade de correção do professor são sempre, nessa ordem, um exercício de
leitura e de produção de texto (Geraldi, 1996), num diálogo que pressupõe ações
cooperativas desses dois sujeitos. Esse mesmo ponto de vista orienta as reflexões de
Tomazoni (2005; p. 41), às quais aqui se alinha:
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em curso bem como nossa compreensão sobre a relação entre sujeito e objeto de
conhecimento (cf. Arnold et alii, 2005). Mais especificamente, a forma como o
professor corrige os textos produzidos por seus alunos informa sobre o modo como ele
entende seu papel no processo de letramento do aluno e, ainda, sobre como concebe a
constituição desse próprio processo. Assim, ao professor cabe pensar nos efeitos das
marcas de sua leitura no processo de ensino e aprendizagem em curso.
Para encerrar esta seção, resta assinalar que o processo de apropriação da escrita
acadêmica (e de qualquer outra escrita) pressupõe o desenvolvimento da capacidade do
sujeito de avaliar, ao longo do processo de produção do texto e ao cabo dele, em que
medida a ações de textualização empreendidas levam a que se concretize o seu projeto
de dizer. Nesse caso, parece importante considerar como positivas as ações do
professor, na atividade de avaliação, que promovem condições para essa postura de
auto-avaliação. Afinal, o texto é do aluno.
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textos), a correção classificatória (em que a natureza dos problemas detectados é
apontada, através de metalinguagem codificada específica) e a correção textual-
interativa (na qual, através de recados, o professor estabelece interlocução não
codificada com o aluno, discutindo problemas de diferentes níveis do texto e, por vezes,
apresentando solução ou sugestão para a tarefa de reescrita do mesmo).
Conforme assinala Ruiz (op. cit.) e confirmam estudos exploratórios
desenvolvidos no âmbito do ensino de graduação (Assis, 2004 e 2005; Diniz, 2005), a
correção resolutiva parece ser aquela que menos contribui para o amadurecimento das
habilidades de escrita do aluno, na medida em que, obtendo soluções prontas para os
problemas de seu texto, este deve apenas incorporá-las na forma de cópia. Os demais
tipos de correção, ao contrário, demandam ao aluno uma atitude analítica de seu texto,
não necessariamente realizando as alterações solicitadas nas correções. Esses resultados
autorizam postular que determinados padrões de correção, sobretudo se vinculados à
tarefa de reescrita, são extremamente significativos para a reflexão sobre a atividade de
produção de textos realizada e, portanto, cumprem relevante papel no curso do processo
de inserção do aluno nas práticas discursivas acadêmicas.
No caso das correções dos textos aqui analisados, registre-se que se manifesta
expressiva preferência pela intervenção textual-interativa, associada à indicativa. Há
raras correções classificatórias e resolutivas. Uma das explicações para esse resultado é
a própria forma como se concebe a tarefa de escrita no âmbito das oficinas, isto é, tanto
a correção como o seu efeito mais imediato, a reescrita, são naturalmente ações
incorporadas à atividade de produção do texto, no pressuposto de que interessa aos
sujeitos envolvidos – estagiários-professores e alunos – o processo em curso, e não tão-
somente o seu produto.
No que concerne aos objetos das correções, os dados analisados insinuam um
grande número de representações conflitantes sobre a aprendizagem em andamento e,
conseqüentemente, sobre a própria tarefa de correção.
Assim, persistem intervenções em que se manifesta o privilegiamento de
indicações do corretor guiadas pela convencionalidade mais estável da língua e
orientadas pela crença em um ideal de escrita, independentemente da situação
interlocutiva em que se constitui o texto corrigido. Nesse caso, os dados revelaram que
as intervenções assumem, com freqüência, um tom de advertência, pouco orientador e
que, geralmente, supõe uma série de conhecimentos já sabidos pelo produtor do texto,
conforme se exemplifica a seguir:
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classe dominante sempre dominará a classe mais baixa. E o que fazer? Como
mudar? Bom, ao passo de tartaruga que o desenvolvimento da educação
caminha, daqui [2] há um século ou mais algo terá mudado. É sentar ou esperar
ou levantar e agir, só depende do nosso posicionamento.
[1. Não faça afirmações genéricas.]
[2. Atenção para o emprego de há (passado) e a (futuro).]
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construção de conhecimentos e valores caros à inserção do futuro professor nas práticas
discursivas acadêmicas.
Referências bibliográficas
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