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1. Introdução
Com o título original Colloquios y Doctrina Christiana con que los Doze frayles de
San Francisco enviados por el Papa Adriano Sesto y por el Emperador Carlos Quinto
convertieron a los indios de la Nueva Espanya en lengua mexicana y española, esse
documento recolhe o resultado de entrevistas realizadas por ocasião do encontro entre os
franciscanos e as lideranças astecas, assim que a cidade de México-Tenochtitlan capitulou,
sob o comando de Hernán Cortés (1485-1547). Assim que chegaram ao México, em junho de
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1524, a pedido de Cortés, os religiosos, antes de intensificar as atividades pelas quais foram
enviados, mantiveram contato com os astecas, reunindo subsídios para conhecer as tradições
que, a rigor, deveriam combater. Segundo informações de Mendieta (1870), foi o próprio
Cortés quem mandou reunir os principais representantes do México e dos povoados em torno,
para que recebessem os religiosos que iriam conduzir o que o capitão havia, em seus escritos,
requisitado à Corte espanhola. Os religiosos franciscanos foram apresentados aos nativos por
Cortés que, de acordo com Mendieta (1870), se referiu a eles como ministros de Deus,
enviados para ensinar sua lei e guiá-los no caminho da salvação.
O texto, que registra esse encontro e contém os diálogos entre os religiosos, foi
compilado, segundo consta, por Bernardino de Sahagún (1499- 1590), com o auxílio de seus
alunos, em Tlatelolco, colégio fundado em seis de janeiro de 1536, situado na cidade de
Tlatelolco. Em sua Historia General de las cosas de Nueva España, Sahagún (1988)
menciona o contato que teve com a doutrina cristã utilizada pelos Doze Franciscanos 1 para
evangelizar e que a coligiu, em língua mexicana. Ao que tudo indica, o conteúdo das
conversações foi registrado a partir de anotações e memoriais deixadas pelos franciscanos,
que haviam sido escritos entre os anos de 1524 e 1525. Sahagún, que chegou cinco anos
depois dos Doze, teve contato com alguns franciscanos e posse de partes dessas anotações,
encontradas na biblioteca de um colégio e que foram levadas para Tlatelolco, onde lecionava.
De acordo com León-Portilla (1984), o propósito de Sahagún foi o de ordenar e pôr a
limpo os textos que continham as práticas e testemunhos do encontro entre os nativos e os
franciscanos. Em 1564, Sahagún fez uma apresentação do conteúdo, reproduzindo parte da
argumentação do encontro entre franciscanos e sacerdotes astecas, que defendiam sua
religiosidade e cultura. O manuscrito passou por revisões, já que Sahagún consultou os
informantes nativos e também membros dos Doze. Se foram feitas reelaborações, elas não
alteraram - ou invalidaram - o conteúdo substancial da doutrina cristã expressas e definidas no
primeiro encontro entre os conquistadores e os derrotados em 1521.
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Os Doze Apóstolos do México, como ficaram conhecidos, fazem referência explícita aos que foram escolhidos
por Cristo, segundo a tradição bíblica. São eles: Martín de Valencia, Francisco de Soto, Martín de Jesús, Juan
Juárez, Antonio de Ciudad Rodrigo, Toribio de Benavente, García de Cisneros, Luis de Fuensalida, Juan de
Ribas, Francisco Jiménez, Andrés de Córdoba e Juan de Palos (DUVERGER, 1993).
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García (1974), em sua tradução e comentários dos Colóquios a partir do que contém na Biblioteca do Vaticano,
apresentou a estrutura interna do manuscrito: começa com um prólogo escrito espanhol (fols. 26r-27v),
Advertência [al prudente lector] (fls 27v-28r), Suma dos capítulos do primeiro livro (21 capítulos) (fols. 28r e v),
Sumário dos capítulos do segundo livro (21 cap.) (fols. 28v). Catálogo dos doze freis de São Francisco (21 cap.,
fol. 29r) e Doutrina cristã (fol. 30r-41r). Em língua portuguesa, existe uma única tradução, disponibilizada por
Suess (1992), mas que não traz o prólogo, a advertência inicial e o catálogo dos Doze, feita por Sahagún.
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“Que cualquier vecino que tuviere indios de repartimiento, si hobiere señor e señores en el pueblo o puebloes
que toviere, traigan los hijos varones que el tal señor o señores tuvieren, a la cibdad o villa o lugar donde fuere
vecino; e si en ella hobiere monesterio, los dé a los frailes dél para que los instruyan en las cosas de Nuestra
Santa Fe Católica, e que allí los provea de comer y el vestuario necesario, e de todas las otras cosas necesarias a
este efecto” (CORTÉS, 1993, p. 279).
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Resulta evidente que os religiosos, nesse momento, procuraram argumentar que sua
vinda nada tinha a ver com a Conquista e com os estragos que ela provocou. Os missionários,
ao explicar os objetivos de sua presença diante das lideranças reunidas por Cortés,
posicionaram-se como mensageiros a serviço de Deus, da Majestade Imperial e do Sumo
Pontífice para lhes ensinar os princípios evangélicos, considerados a base da vida do cristão.
Por isso, os franciscanos explicaram quem era o Papa, cabeça da Igreja a quem
representavam, e explanaram sobre as Sagradas Escrituras, fonte da sabedoria e dos valores
morais dos cristãos, e sobre a Igreja e Deus.
Pues agora, amigos nuestros, aquí estamos en vuestra presencia, los que
emos sido elegidos y embiados; a nosotros doze nos a embiado el gran Señor
que tiene autoridad espiritual sobre todo el mundo, el qual habita en la gran
ciudad de Roma; diónos su poder y autoridad, y también traemos la Sagrada
Scriptura donde están escriptas las palabras del solo verdadero Dios, Señor
del cielo y de la tierra, que da vida a todas las cosas, al qual nunca abeis
conocido. Esta y ninguna outra es la causa de nuestra venida, y para esto
somos embiados, para que os aydemos a salvar y para que recibáis la
misericordia que Dios haze; el gran Señor que nos embió no quiere oro, ni
plata, ni piedras preciosas; solamente quiere y desea vuestra salvación
(SAHAGÚN, 1993, p. 64).
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nesse caso, a pedra angular da mensagem que os religiosos tentavam transmitir aos nativos.
Além dele, os cinco capítulos, vinculados a esse primeiro fundamento, reforçam não apenas
esse postulado, mas, também, a tentativa de construir o pressuposto de que os poderes que
representavam eram tidos como atemporais.
Uma das características do documento decorre do fato de que contém as “vozes”
nativas, em defesa de suas tradições. Ana de Zaballa (1987) destacou que um pequeno
capítulo intermediário está dedicado a predicar quem é Deus, complementando a natureza
espiritual dos Doze. Além disso, ela ratifica que a cada intervenção dos espanhóis, existe uma
contestação dos sacerdotes, os sátrapas, em defesa de sua tradição religiosa.
O texto, elaborado em forma de diálogo, está didaticamente distribuído para expor os
temas e argumentos pelos quais os nativos seriam compelidos a aceitar a doutrina cristã.
Sahagún (1993), ao avaliar a idolatria como o pior dos pecados, e, portanto, negar a
religiosidade asteca, no primeiro capítulo do primeiro fundamento, especifica a nova base dos
valores que a atividade catequética dos franciscanos pretendia implantar: as verdades bíblicas
seriam, pois, aquelas que formariam o novo homem. Nessa perspectiva, constata-se que
Sahagún procurou enfatizar que os franciscanos tinham a autoridade para ensinar seus
conteúdos, ao alegar que todos os demais habitantes do mundo conhecido já estavam quase
cristianizados, por terem escutado as palavras de Deus. O recurso expresso por Sahagún
intencionava demonstrar que os astecas, historicamente, seriam os últimos evangelizados e,
por isso, não caberia defender a tradição religiosa que tinham.
Portanto, se os nativos cultuavam deuses que exigiam sacrifícios humanos era porque
não conheciam a fé cristã, o que justificaria a presença dos franciscanos no México. Depois de
procurar demonstrar que os nativos seguiam deuses falsos, o discurso de convencimento dos
Doze se orientou em apresentá-los como representantes de seu chefe, o Papa, e este, por sua
vez, do que considerava ser o verdadeiro Deus, que revelou aos seus discípulos a verdade
cristã.
Imbuídos por essas autoridades, o discurso procura demonstrar que existe apenas um
Deus, senhor de todas as coisas desde as origens e que havia comunicado seus princípios por
meio dos profetas, apóstolos e evangelistas, tal qual afirmou: “El solo verdadero Dios y Señor
de todas las cosas muchos tiempos a que apareció y habló a sus amigos y leales siervos los
patriarcas prophetas y los apóstoles y evangelistas” (SAHAGÚN, 1993, p.66). Ao se
colocarem como representantes do que consideravam o verdadeiro Deus, cujos princípios
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estariam nas chamadas Sagradas Escrituras, os franciscanos afirmam que estavam a mando de
seu representante para ensinar os preceitos contidos na Bíblia.
[…] Esta Sagrada Escriptura, estas palabras divinas nos mandó el gran
Sacerdote que os prediquemos y enseñemos y de su mandado las emos traído
con nosotros; estas divinas palabras y Sagradas Escriptura sobrepuja a toda
la doctrina y escriptura que hay en el mundo, porque es cosa divina y no
humana, dada a los hombres del hacedor de todas las coisas y redemptor del
humanal linaje, solo verdadero Dios y Señor. […] lo contenido en este libro
divino os venimos a enseñar y predicar a vosotros los habitantes destas
partes, por que nunca ló aveis oydo” (SAHAGÚN, 1993, p.66).
Dessa maneira, entende-se que, para conseguir a adesão dos nativos, os franciscanos
se colocaram como enviados de seus superiores e portadores de valores espirituais e, por isso,
mostraram desprendimento aos bens materiais e também políticos, o que nos leva ao segundo
fundamento da ação pedagógica. Este fundamento ou prática, apresentada pelo Colóquio,
procurava convencer os nativos que o Monarca, ao enviar os Doze, não pretendia ter nenhum
interesse temporal, apenas espiritual.
Essa segunda prática dá ênfase ao que Christian Duverger (1993) entendeu como
dupla dimensão, a espiritual e a temporal, da divindade cristã. Esse argumento expresso nos
Colóquios pode auxiliar na compreensão de que os franciscanos pretendiam separar o poder
temporal do espiritual. Nesse sentido, assim como Cristo era apresentado com as dimensões
humana e divina, a Igreja teria o poder secular e religioso. A atitude de Cortés em se prostrar
para Martín de Valencia foi um excelente símbolo dessa relação, porque indicava que toda
autoridade vinha de Deus e que estava representada pelos franciscanos. Portanto, ao indicar
outro nível de autoridade, a religiosa, o esforço de Cortés em reunir o máximo de sacerdotes
era para que observassem o respeito que deviam prestar aos recém-chegados. Em outros
termos, transferia-se para as mãos dos franciscanos a responsabilidade de estabelecer os
modos necessários para convertê-los (KLOR DE ALVA, 1990).
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pertencia a este mundo, por isso, associaram-na aos céus ou ao início dos tempos. Entretanto,
a exposição dos argumentos que sustentam a superioridade do Deus cristão e as verdades que
os franciscanos estavam destinados a ensinar não chegou até nós. O texto é interrompido no
capítulo quatorze e, dos demais, restaram apenas os títulos. Neles, é possível, contudo,
compreender que os assuntos dos Colóquios se desenvolvem na demonstração de quem é
Jesus Cristo, do papel da Igreja e sobre o poder, a justiça e a bondade de Deus (ZABALLA,
1987).
El tercero fundamento fue darlos a entender que la doctrina que les avían de
enseñar non era doctrina humana ni por ingenio humano compuesta ni
inventada, sino venida del cielo, dada del Todopoderoso Señor que habita en
los cielos (la qual se llama Sagrada Escriptura) y este mandamiento truxeron
del Summo Monarcha que los embió: conviene a saber, que los declarasen la
sagrada escriptura (SAHAGÚN, 1993, p. 58).
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“cap. Quinze, en que les dan a entender qué dioses eran los que adoravan. Cap. Diziseyes, de la altercación que
uvo entre los principales y los sátrapas de los ydolos tomada ocasión de lo que se dixo en el capítulo precedente:
conviene a saber que sus dioses no fueron poderosos para los librar de las manos de los españoles” (SAHAGÚN,
1993, p. 85).
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no homem todo gênero de pecados. Por isso, para evitá-los, explicaram como “Lúcifer” agia
para fazer mal ao homem. Sendo assim, os franciscanos procuraram identificar como causa do
pecado da gula o que entendiam como demônio. A embriaguez também seria concebida como
um dos sete pecados capitais e, por isso, os franciscanos buscavam ensinar aos astecas os
meios para evitá-los (CORCUERA DE MANCERA, 1991).
Deve-se ter em conta que, dada a complexidade dos conceitos do cristianismo e as
dificuldades da língua e cultura, o diálogo entre os religiosos de dois mundos distintos tinha
suas limitações: os conceitos cristãos expostos para converter os astecas não eram familiares
ao vocabulário e às referências religiosas dos nativos. Apesar disso, a refutação dos sacerdotes
astecas, ainda que em dado momento tenham aparentado concordância com os visitantes,
mostra compreensão da ação dos franciscanos e também que não estavam dispostos a
abandonar seus costumes e tradições.
A negativa dos sacerdotes se evidencia quando defendem sua tradição ao afirmar, no
entendimento de Sahagún (1993), que seus líderes religiosos, considerados sábios hábeis,
ofereciam as normas que regulamentavam suas condutas. Além do mais, a existência de
mecanismos de controle e de proibições dos cultos nativos reforça o entendimento de que
realizavam seus antigos ritos, ainda que tivessem recebido instrução cristã. A preferência por
catequizar crianças e mantê-las longe da convivência familiar aponta para o entendimento de
que os franciscanos elaboraram meios que pretendiam eliminar influências do passado nativo
para, a longo prazo, incorporá-las à sociedade colonial, papel atribuído à educação.
Os Colóquios, todavia, indicam que os religiosos estavam convencidos de que
poderiam cristianizá-los, à medida que também orientassem suas práticas formativas aos que
fossem mais sábios. A reunião das lideranças astecas, promovida por Cortés para a
apresentação dos “Doze Apóstolos”, evidencia que o capitão tinha clareza do que pretendia: o
encontro entre os conquistadores e o grupo de astecas intencionava promover a pacificação
por meio da conversão de um grupo seleto de sacerdotes. A partir deles, acreditava-se que
poderia atingir níveis mais complexos de formação cristã, para que, supostamente,
inspirassem a comunidade. Os conceitos teológicos e os aspectos doutrinais sugerem que o
manuscrito foi elaborado para um público que, a princípio, teria uma formação mais
complexa do que o homem comum, os macehualtin.
Além do mais, o aspecto mais importante dos Colóquios reside no fato de oferecerem
informações que permitem compreender quais os fundamentos que colaboraram para a
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docilização dos conquistados e, por sua vez, da formação de um novo modelo de homem que
correspondesse às necessidades estabelecidas pela Conquista, três anos antes. Eles expressam
não apenas o confronto com uma religiosidade distinta, como também, constituem um
programa, com seus temas fundamentais, que orientou a prática educativa. Neste caso, os
Colóquios, depositários das ações catequéticas, contribuem para entender que a conquista
encaminhada por Cortés não se limitava aos aspectos militares, pois sustentou a necessidade
de pacificação para permitir a exploração dos territórios astecas.
4. Conclusão
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Referências
CORTÉS, Hernán. Ordenanzas de un buen gobierno dadas por Hernán Cortés para los
vecinos y moradores dela Nueva España. In: MARTÍNEZ, José Luiz. Documentos
Cortesianos: 1518-1528: secciones I a III. México: Fondo de Cultura Económica, 1993, p.
277-283.
DUVERGER, C. La conversion de los indios de Nueva España: con el texto de los Coloquios
de los Doce de Bernardino de Sahagún (1564). México: Fondo de Cultura Económica, 1993
SAHAGÚN, B. Historia general de las cosas de Nueva España. Madrid: Alianza Editorial,
1988.
______ . Colloquios y doctrina christiana con que los Doze frayles de San Francisco enbiados
por el Papa Adriano Sesto y por el Emperador Carlos Quinto convertieron a los índios de la
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ZABALLA, Ana de. Sobre los capítulos perdidos de los “colóquios” sahaguntianos: una
hipóstesis de reconstrucción crítica. Scripta Theologica, Navarra, v. 19, p. 771-793, 1987.
Disponível em: <http://dspace.unav.es/dspace/handle/10171/12109>. Acesso em: 22 jan.
2013.
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