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Currículo escolar: uma discussão necessária

Por: Adriano Nascimento e Leonardo Chacal, professores da rede estadual


paulista

In: https://esquerdaonline.com.br/2020/03/30/curriculo-escolar-uma-discussao-necessaria/

Publicado em: 30/03/2020 10h10

Há uma forte tendência, nos dias que se seguem, de contínuo esvaziamento


do conteúdo (científico, filosófico e artístico) nos currículos da escola
pública. Do Banco Mundial aos cursos de pedagogia, passando por alguns
“novos” movimentos sociais,chegando até o Estado, é dito que as crianças e
os adolescentes do mundo contemporâneo não precisam ter mais acesso, na
escola, ao conhecimento erudito e sistematizado que a humanidade
produziu historicamente, no lugar advogam o ensino, por exemplo, de
competências socioemocionais, seja lá o que isso possa significar.

Da África do Sul ao Canadá, após uma campanha de décadas financiada pelo


Banco Mundial, construíram um consenso de que uma educação de
qualidade (ou seja, uma educação baseada nos valores do mundo ocidental)
possa resolver, senão todos, pelo menos, boa parte dos nossos problemas
sociais, éticos, políticos, ambientais etc. Em suma: esperam que a escola
salve o mundo de uma catástrofe.

Nesse contexto, o governo brasileiro, desde os anos 1990, elabora diversas


políticas públicas que visam incentivar o desenvolvimento da educação nos
moldes acima mencionados. A própria LDB (Lei de diretrizes e bases) de
1996 é uma amostra disso. A partir da década de 1990, finalmente, inicia-se
um processo de universalização do ensino, o Brasil figurava entre
os nove países com as maiores taxas de analfabetismo.
Movidos pela onda liberal que correu o mundo, desde o fim da URSS, o
governo brasileiro atuou em parceria com instituições e organismos
internacionais que tinham por objetivo contribuir financeiramente com
aqueles países considerados em “desenvolvimento”. No entanto, atrelada
à ajuda financeira estaria também algumas orientações técnicas sobre
como tal investimento deveria ser aplicado, ou seja, junto ao dinheiro
também veio uma proposta de ensino para os jovens brasileiros. Em poucas
palavras, o ensino deveria – como sempre aconteceu – preparar os nossos
jovens para o chamado “mundo do trabalho” e também para a cidadania. O
papel da educação é adequar alunos e alunas às novas tecnologias e aos
avanços da ciência, além de trazer algum grau de civilização.

O maior parceiro do Brasil foi e continua sendo o Banco Mundial. Uma


instituição criada a princípio para ajudar os países europeus que sofriam as
consequências da segunda guerra mundial (1939 – 1945), mas que logo
passou a investir também nas principais economias em desenvolvimento,
como a brasileira.

Orientado pelo Banco Mundial, o Brasil, desde os anos 1990, como já


sabemos, passando pela Lei de Diretrizes e Bases de 1996, elabora políticas
públicas que pressupõe parcerias público-privadas, ou seja, o Estado
brasileiro repassa fundos públicos para empresas privadas atuarem no
setor educacional. Isso ocorre nas três esferas de governo (municipal,
estadual e federal). Tais repasses assumem diversas formas: desde verbas
públicas ou incentivos fiscais para escolas filantrópicas, por exemplo, ou
pela contratação de empresas privadas que prestam algum tipo de serviço:
construção de salas de aula, livros didáticos, apostilas, sistemas de
computadores, laboratórios de informática etc.
De uma maneira ou de outra, o cenário acima nos revela que o setor
educacional passava enfim a despertar o interesse do capital privado.
Começaram a surgir no Brasil diversas instituições educacionais, todas elas
ligadas ao capital financeiro (Fundação Lemann; Instituto Ayrton Senna
etc.). A educação tornava-se uma mercadoria. Quando a educação se torna
mercadoria, investidores financeiros, orientados por consultores de
mercado, migram das áreas tradicionais de investimento para o campo
educacional em busca de lucros. A educação deixa de ser um bem ou um
direito público e transforma-se num negócio.

O cerne de todo o debate em torno das reformas educacionais é a


possibilidade de investimentos privados na esfera pública: o lucro! Seja este
direto, com a participação cada vez maior de instituições na elaboração,
distribuição e aplicação de sistemas de ensino ou indireto, com a formação
em todos os níveis e formas de força de trabalho (nas classes dominadas) e
quadros dirigentes (nas classes dominantes) capazes de gerir os negócios
em prol da manutenção do status quo.

Luta de classes e currículo

Ora, é justamente aí que entramos no objetivo deste texto, qual seja, o de


mostrar que a luta de classes na escola pública gira em torno do tipo de
conhecimento que se quer socializar: o que aprender, como aprender e com
qual objetivo. Segue-se que, a partir disto, é organizado o currículo, a
formação dos professores, as apostilas, os livros didáticos e as políticas de
educação em geral. Portanto, partindo principalmente das necessidades do
capital em dado contexto histórico, determina-se o que deve ser ensinado,
como e com quais objetivos.
Pois bem. Para não cairmos no idealismo pedagógico, que pensa a escola
como o lugar privilegiado na luta pela conquista de “consciências” críticas e
revolucionárias, é preciso frisar que estamos falando da escola pública nesta
sociedade dividida em duas classes estruturalmente antagônicas, ou seja,
a burguesia e o proletariado. Nesse sentido, qual seria, então, o papel
desta escola para os interesses da classe trabalhadora? Ou seja, o que fazer
com a educação pública, partindo desta realidade contraditória, para que ela
possa atender as necessidades imediatas e a longo prazo dos explorados e
oprimidos?

A resposta, para um tema tão complexo, é simples e bem sabida por muitos:
socializar o que de melhor a humanidade produziu de conhecimento
científico, artístico e filosófico. Ou seja, os alunos e alunas precisam
aprender a ler e escrever, entender as operações básicas e intermediárias
da matemática, noções introdutórias das ciências da natureza (biologia,
química, física) e das ciências da sociedade (sociologia, geografia, história),
como também filosofia e arte. Mediar, portanto, o conhecimento sistemático
com aquilo que os alunos já sabem, que em geral, é ao nível do senso
comum.

Dirão, os mais apressados, que isto é óbvio! Mas vejam que este “simples”
objetivo encontra duras barreiras para ser realizado; por exemplo, a
precária formação dos professores e sua jornada de trabalho abusiva, seus
baixos salários e a inexistência de um plano de carreira atrativo. Junte-se a
tudo isto a péssima estrutura física das escolas públicas no Brasil que, de
acordo com o Censo Escolar de 2017, não oferece, para maioria delas,
laboratórios de ciências e informática, bibliotecas, internet e saneamento
básico!
O saber científico transformado em saber escolar serve, na luta de classes,
para instrumentalizar os trabalhadores à organização de sua força enquanto
classe revolucionária. Vejam bem: não é da escola que eles podem chegar à
famigerada “consciência de classe”. Isto é um delírio! A consciência
socialista surge na luta, no embate contra a burguesia; é, portanto, resultado
da prática revolucionária e não do puro conhecimento teórico. Como já foi
dito, é preciso saber qual o papel específico que a escola cumpre numa
sociedade dividida em classes. E para os trabalhadores, o que de melhor ela
pode oferecer é o conhecimento erudito e sistematizado, produzido por toda
a humanidade, mas que é apropriado pelas classes dominantes e usado para
reprimir e explorar as classes dominadas.

E é preciso frisar que uma educação emancipada só é possível numa


sociedade emancipada. Ou seja, na sociedade das mercadorias, podemos
realizar algumas atividades, tarefas e experiências (sobretudo socializando
o conhecimento) que contribuam com o movimento de derrubada do capital
à construção da emancipação humana. Entendendo, sempre, que a educação
não pode ser a vanguarda deste movimento. Enfim, uma educação
sistematicamente emancipada, que leve em conta as reais necessidades
humanas, é impossível de ser feita sob a égide do Estado.

Portanto, os desafios são grandes. Pois temos todas essas dificuldades, como
a formação dos professores, os baixos salários, escolas sem estrutura e nada
interessantes para os alunos e alunas etc. Mas é a partir desta realidade
concreta que devem ser pensadas as táticas e estratégias das possibilidades
de socialização do conhecimento científico aos filhos e filhas da classe
trabalhadora nesta sociedade de classes.

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