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Ler os sermões de Wesley a partir da realidade brasileira

À procura de um novo método de interpretação


José Carlos de Souza
Olhando para trás...
Não faz muito tempo, a América Latina e o Brasil, em particular, estavam excluídos do mapa
da reflexão teológica, senão da própria história da Igreja. Com efeito, em diversos manuais de
história do cristianismo prevalecia uma sutil distinção. Quando se falava, por exemplo, em
história eclesiástica, para fazer uso da expressão consagrada por Eusébio de Cesaréia, a
atenção se voltava quase imediatamente para as origens cristãs e, a partir daí, para a sua
implantação e difusão na Europa e, por extensão, no hemisfério norte. A menção à presença
cristã nos países do assim denominado Terceiro Mundo ficava restrita às seções ou obras
especificamente dedicadas à história das missões. Mais do que simples insinuação, aceitava-se
como natural que, acima da linha do Equador, estavam os verdadeiros sujeitos da vida
eclesial. O que se passava abaixo desse limite, era encarado como mero reflexo do que ocorria
nos supostos centros de decisão. A diferenciação entre Igreja e missão, portanto, nada mais
era do que a expressão acabada de uma grosseira postura colonialista.
Lamentavelmente, essa visão era reproduzida, com freqüência indesejável, também nos
trópicos. Era como se a rica diversidade cultural que nos envolve fosse desprovida de
qualquer significação. No fundo, tal atitude deixava transparecer um certo sentimento de
inferioridade. Por isso, a pressa em traduzir a teologia elaborada alhures ou o hábito
persistente em seguir modelos estrangeiros. Nossa voz era apenas emprestada para repetir a
palavra de outrem, puro mimetismo!
Não é necessário, em vista do tema proposto, descrevermos todo o processo de mudança que
pôs fim a esse trágico círculo na América Latina. Basta afirmar que hoje a realidade é bem
diferente do que há cinqüenta anos atrás. As comunidades eclesiais de base, os movimentos
de juventude, a renovação da espiritualidade e prática cristãs, o engajamento nos processos de
transformação social, o diálogo ecumênico, entre outros fatores, desafiaram a teologia, em
nossa terra, a pronunciar a sua própria palavra. Não se trata, evidentemente, de rejeitar de
forma intempestiva a contribuição teológica elaborada em outros contextos, e sim de, em
diálogo com toda a Igreja espalhada pelo mundo, respondermos aos desafios que o tempo e
lugar em que vivemos nos colocam. Ainda que críticas à teologia da libertação possam ser
formuladas, olhando retrospectivamente, ninguém pode ignorar que o saldo, legado por ela, é
francamente favorável. Uma nova hermenêutica foi introduzida na leitura do texto sagrado
bem como na apropriação desse patrimônio inestimável compreendido pela tradição cristã. O
povo desfez a infeliz separação que mantinha a experiência da fé e a experiência da vida
distantes uma da outra. Não apenas novas questões e perspectivas foram levantadas como um
horizonte inédito iluminou antigos problemas. Aos poucos, reaprendemos que a piedade cristã
não poderia ser singelamente identificada com a adoção de fórmulas dogmáticas, mas que
seria mais bem avaliada na práxis que promove a vida, a justiça, a comunhão, a solidariedade
e a paz.
Os metodistas latino-americanos não permaneceram indiferentes a essa reviravolta. Passado o
impacto inicial, ocuparam-se em reler os elementos fundamentais de sua identidade
confessional a partir de sua realidade, agora, compreendida com maior profundidade, graças à
mediação das ciências sociais. As conferências do teólogo metodista argentino, Dr. José
Míguez Bonino, na Semana Wesleyana de 1982, foram um passo importante nessa direção.
Por sua vez, o Plano para a Vida e a Missão da Igreja, aprovado no Concílio Geral de 1982,
revelou que era possível a assimilação da herança wesleyana no Brasil sem menosprezar as
exigências suscitadas pela contraditória conjuntura nacional. Dois encontros de teólogos
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metodistas, realizados em San José (1983) e em Piracicaba (1984), dariam consistência às


reflexões iniciadas e ainda servem, na atualidade, como fonte de inspiração em nossa busca.
Olhando para frente...
Por essa razão, ao nos interrogamos hoje sobre como podemos ler os Sermões de Wesley a
partir da realidade brasileira não devemos esquecer as conquistas desse passado recente.
Muito menos, é óbvio, podemos passar por cima dos desafios da hora presente e da
responsabilidade perante o futuro.
Nossa tarefa, em parte, é facilitada pela própria natureza da teologia wesleyana. John Wesley
evitou trilhar pelos caminhos tortuosos da especulação. Ao revés, a sua reflexão estava
arraigada no cotidiano do povo, na experiência e na fé das sociedades metodistas. Não tenho
dúvida alguma de que ele concordaria plenamente a afirmação de Gustavo Gutiérrez de que a
teologia é ato segundo. Em primeiríssimo lugar, vem o compromisso da solidariedade, do
amor e do serviço. A teologia é, antes, um instrumento para a transformação e renovação da
vida, tanto pessoal como comunitária, ou para empregar o jargão do próprio Wesley, para
espelhar a santidade de coração e vida. Logo, não é casual que os sermões tenham sido
escolhidos, pelos primeiros metodistas, como o meio privilegiado de comunicação da
mensagem cristã. Afinal, eles se dirigem diretamente ao interlocutor e requerem uma resposta
quase imediata. Os temas dos cento e cinqüenta sermões de Wesley, que foram publicados,
dizem respeito ao caminho da salvação, à renovação da imagem de Deus, à obra da nova
criação, à vivência da fé no mundo e às dificuldades inerentes ao discipulado cristão. Às
vezes, nos surpreendemos com assuntos bem corriqueiros como o uso do dinheiro, o perigo
das riquezas ou a educação dos filhos.
Não obstante a dimensão prática e sem rodeios da teologia homilética de John Wesley, a
distância geográfica e temporal é um sério obstáculo para a sua simples transposição para o
nosso contexto. Nem é viável suprimir a trama histórica que a envolve, nem tampouco
podemos renunciar à nossa condição de intérpretes. Em nossas pesquisas na Faculdade de
Teologia, estabelecemos, um roteiro, um método que, se ainda não desenvolveu todas as suas
potencialidades, ao menos, mostrou-se útil para estabelecer a correlação entre a experiência
atual e a teologia wesleyana.
Três aspectos são cuidadosamente considerados. Primeiro, a vida antes do texto. Importa
aqui analisar não apenas a ocasião, as circunstâncias concretas, os destinatários imediatos e as
perguntas que Wesley procura responder no sermão analisado, mas igualmente como o nosso
tempo e lugar se confrontam com tópico abordado, como por exemplo, o sectarismo (cf.
sermão 38) ou as pretensões da razão humana (cf. sermão 69). Segundo, a vida do texto.
Trata-se, nesse ponto, de dissecar o sermão propriamente dito: sua estrutura, fontes,
proposições, idéias centrais, conceitos chaves e relação com o pensamento total de Wesley.
Terceiro, o texto na vida. Este último procedimento potencializa o que já estava implícito
anteriormente: a fusão dos horizontes do texto com os nossos próprios horizontes. Pergunta-se
criticamente sobre o que tem sido incorporado à prática histórica do metodismo, o que a
corrige ou amplia, mas também sobre o que necessita ser revisto ou fortalecido em termos da
perspectiva contemporânea e da nossa realidade social. Deste modo, nos incorporamos à
tradição viva do metodismo, com respeito ao legado de Wesley e responsabilidade para com o
nosso tempo e as gerações futuras.

Texto publicado em In: Mosaico – Apoio Pastoral. São Bernardo do Campo: Faculdade de
Teologia da Igreja Metodista – Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), Ano XIII, no
33, Janeiro /Junho de 2005, p. 7-8 [ISSN 1676-1170-2005-33].

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