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Jornalismo do Interior: Características, estigmas e seu papel na

sociedade1

SANTOS, Darlan Roberto dos (Doutor em Literatura Comparada)2


Faculdade Santa Rita/Minas Gerais

CASTRO, Juliana Monteiro de (Graduada em Comunicação Social)


Faculdade Presidente Antônio Carlos/Minas Gerais

Resumo: Propõe-se, no presente trabalho, o debate acerca do jornalismo praticado em cidades de


pequeno e médio portes. Convencionalmente chamada de “Jornalismo do Interior”, tal vertente, sob a
ótica aqui adotada, constitui-se de aproximações e distanciamentos com a “grande mídia”, além de
particularidades, entre elas, a do exercício de funções sociais atreladas ao (pequeno) universo em que está
inserida. Discutir as características da imprensa interiorana, suas atribuições, desafios e contribuições
para a sociedade são objetivos deste estudo – o qual não pretende encerrar o assunto, mas, problematizá-
lo, fomentando o debate. Para isso, serão mobilizadas considerações de pesquisadores da seara da
Comunicação Social, como José Marques de Melo, Beatriz Dornelles e Cecília Peruzzo, além da análise
do jornalismo do interior sob a égide de alguns dos valores-notícia propostos por Nilson Lage –
especificamente: atualidade, identificação, proximidade, ineditismo, intensidade e oportunidade.

Palavras-chave: História do Jornalismo; Estudos do Jornalismo; Jornalismo do Interior; Valores-notícia.

Introdução
Restringir o jornalismo a tão somente uma atividade desenvolvida a partir do
emprego de técnicas específicas pode nos conduzir a uma pesquisa que parta do
pressuposto de que sua prática obedecerá sempre ao mesmo padrão, independente do
local onde se dá a comunicação. Assim, é preciso pensar o jornalismo como uma
ciência social, desenvolvida dentro de uma/e para uma sociedade.
O debate a respeito do assunto, ainda incipiente no universo acadêmico, já foi
levantado por estudiosos como José Marques de Melo (2005), Beatriz Dornelles (2004),
Isabelle de Anchieta Melo (2007) e Cecília Peruzzo (2003). Confrontando a teoria
repassada na Academia e a observação da prática em cidades de pequeno e médio
portes, os pesquisadores observaram que o jornalismo no interior guarda algumas

1
Trabalho apresentado no GT de História do Jornalismo, integrante do 9º Encontro Nacional de História
da Mídia, 2013.
2
Pós-Doutorando realizando pesquisa na Pontifícia Universidade Católica (PUC/MG), com o tema: “Na
rua, na mídia: o lixo em evidência e a desestabilização do discurso crítico”. Doutor em Literatura
Comparada pela UFMG. Jornalista e Professor Universitário.
Graduada em Comunicação Social pela Fundação Presidente Antônio Carlos de Conselheiro Lafaiete
(Fupac/CL). Jornalista e assessora de imprensa.
particularidades, influenciadas, principalmente, pela dinâmica temporal e a proximidade
espacial entre moradores e os profissionais da comunicação:
Assim, ao escrever, o jornalista, ao contrário do profissional da capital,
conhece “algo a mais” sobre as pessoas que descreve. E, esse “algo a mais”
refere-se à personalidade dos moradores da cidade, seus casos de família, os
aspectos polêmicos e banais que constituem a história particular de cada um,
sua rotina na cidade, as roupas que costuma usar etc. Ou seja, tem uma
informação em que a compreensão do que os contatos superficiais ditados
pelo tempo acelerado do amplo espaço dos grandes centros urbanos
inviabilizam: conhecer a complexidade que envolve esse ser humano, fonte
de suas matérias. (DORNELLES, 2004)

No entanto, ainda não há pressupostos teóricos específicos para analisar


esta vertente do jornalismo que se desenvolve fora dos grandes centros. Aqueles que se
aventuram neste novo campo dispõem de um instrumental já cristalizado, construído
para entender os efeitos de uma mídia massiva, que apresenta intercessões e
discrepâncias com o jornalismo interiorano.
Diante deste constructo, pretende-se, neste trabalho, fomentar o debate acerca
da pragmática do jornalismo no interior – impregnada da cultura e costumes locais, que
a particularizam, que a tornam singular. Para isso, serão mobilizadas considerações de
diversos pesquisadores acerca do tema – muitas delas, contrastantes. Os critérios que
caracterizam e definem a imprensa interiorana, bem como, os valores-notícia adotados
por tal parcela do jornalismo, também farão parte do estudo.

O interior e seus estigmas


Apesar de representar um campo promissor para os novos profissionais,
formados nas 534 instituições superiores de ensino registradas no Ministério da
Educação (MEC), que oferecem cursos de Jornalismo e Comunicação Social3, o interior
ainda é visto, muitas vezes, com preconceito; como uma espécie de coadjuvante no
cenário da comunicação. A verdade é que, para muitos, ainda permanecem os estigmas
de ‘artesanal’ e “dependente do faturamento das prefeituras”, levantados por Wilson
Bueno em sua dissertação de mestrado, defendida há 30 anos, em 1979. Em seu
trabalho, o jornalista afirma que estes dois fatores provocam um efeito nefasto sobre o
papel de fiscalizador da coisa pública, que deveria ser exercido por estes periódicos.

3
Dados de 2010, extraídos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep)
A posição de Bueno é debatida por Fernando Ortet. Em seu artigo A realidade
do jornalismo no interior é desconhecida, o jornalista cabo-verdiano transcreve pontos
que suscitam a discussão:
Bueno defende que a imprensa do interior se caracterizava por ser “uma
imprensa mais opinativa do que informativa, que discute todos os problemas,
intromete-se nos bastidores da política, provoca adversários, denuncia e,
principalmente, fofoca. Diz ainda este pesquisador que a participação da
imprensa do interior na vida do município “é compromissada e
comprometida e, comumente, reflete as tensões, a disputa, a liderança e as
paixões políticas presentes no grupo social em que se insere (ORTET, 1998,
p. 123) .

Ainda segundo relato de Ortet (1998, p. 123-125), Bueno não pouca críticas
relacionadas ao estilo dos periódicos, afirmando que esse “não admite eufemismos ou
metáforas, nem é formal e educado, mas sim agressivo, sem meias-palavras, polêmico e
desrespeitoso”. Os aspectos técnicos também passam pelo crivo do pesquisador:

Tinha títulos vagos, editorializantes, com reduzida taxa de afirmação. Em


termos de gênero, “a reportagem está ausente, enquanto predominam as
notinhas sociais. Uma análise mais cuidadosa revela, ainda, que este tipo de
imprensa tinha como maiores fontes de notícias os press-releases e as notas
de imprensa. Essa imprensa ignorava a diferenciação entre a primeira página
e as demais, considerando-a, geralmente, apenas como mais uma página, cujo
espaço poderia ser destinado, inclusive, à publicação de pequenos anúncios e
classificados (ORTET, 1998, p. 123).

A opinião de Bueno encontra apoio nas palavras de Gastão Tomaz de Almeida,


citado por Ortet no mesmo artigo. No trecho retirado do livro A imprensa do Interior:
um estudo preliminar,, Gastão destaca que “às vezes, (os jornais) deixam de apresentar
a numeração de suas páginas, não apresentam seus expedientes – e não são poucas
vezes que nem chegam a indicar o número de anos da sua existência”.
Décadas mais tarde, o eco das afirmações de Bueno ainda ressoa nas palavras
da jornalista e assessora de imprensa Regiane Santos, conforme pode ser avaliado no
artigo Mídia e & Sociedade, publicado no portal Observatório da Imprensa em abril de
2009:
Infelizmente, uma considerável parcela dos "jornais de interior" limita suas
notícias ao bom e velho trinômio: política, sociedade e polícia. Editores
estampam freqüentemente nas páginas de seus periódicos notícias de crimes
ilustradas com grandes imagens sensacionalistas; notas sobre os bastidores da
política sem a devida checagem e fotos posadas de cidadãos que pertencem à
classe econômica privilegiada daquela cidade (SANTOS, 2009).
Regiane Santos acredita que a profissão é vista pela grande maioria dos
jornalistas que atuam no interior como um modo de ascensão social. Também faz alusão
a uma ‘relação de troca’ entre a imprensa e o poder local, visando resultados em
eleições municipais. Em outro ponto, reduz o conteúdo dos jornais a coberturas de
eventos e badalações, que seriam estampadas em colunas sociais em fotos posadas e
legendas repletas de adjetivos.
Através deste círculo vicioso, a população local permanece "amputada" de
boas informações sobre sua comunidade. (...) Sem concisas informações em
mãos, o jornalista povoa as páginas do jornal local com notícias factuais
baseadas em declarações inócuas provenientes de fontismos que não
contribuem para a consolidação de um olhar crítico sobre os problemas da
comunidade. (SANTOS, 2009)

Entretanto, a opinião desses autores é contestada por pesquisadores como


Juliana Colussi Ribeiro, que vê na mídia interiorana o cumprimento de uma função
comunitária, ligada ao cotidiano do local onde se insere. Para a jornalista, que realizou
uma aprofundada análise sobre o jornal Folha da Região de Araçatuba (SP) em sua
dissertação de Mestrado (2005), é a imprensa local que se debruça sobre os
acontecimentos e problemáticas cotidianas de uma determinada região:
Privilegiado por sua proximidade com o público e os problemas locais, o
jornal regional permite a polifonia ao abrir espaço para a dona de casa
reivindicar melhoras na infra-estruturas em seu bairro, ao mostrar a cultura
dos municípios da redondeza e também ao questionar as irregularidades na
administração da prefeitura (RIBEIRO, 2005, p. 47).

Posicionamento semelhante é adotado por Beatriz Dornelles. Em seu livro


Jornalismo “Comunitário” em cidades do Interior - uma radiografia das empresas
jornalísticas: administração, comercialização, edição e opinião dos leitores, publicado
originalmente em 2004, a jornalista gaúcha ressalta a evolução dos periódicos de
cidades do interior, forçada pelas exigências do mercado.
Conforme situa Dornelles, após a década de 80, no século passado, houve uma
drástica queda no faturamento advindo das prefeituras. O apoio financeiro,
condicionado às intervenções na linha editorial, foi rechaçado pelos leitores, o que,
consequentemente, gerou perda na arrecadação publicitária. Percebeu-se, então, que,
para garantir a perenidade de suas publicações, as empresas deveriam adotar uma linha
de trabalho que priorizasse o local, que gerasse uma identidade com a comunidade na
qual o veículo se encontrava inserido. Daí descortinou-se a postura de direcionar o foco
das publicações para acontecimentos locais ou próximos à comunidade, oferecendo um
espaço onde o leitor pudesse manifestar suas reivindicações e realizar denúncias, o que,
de um modo geral, não possui o respaldo da imprensa de grande porte:
Então, para conquistar esse público e sua credibilidade, e, em conseqüência,
o anunciante, que garante a existência da empresa, os proprietários de jornais
interessados em se manterem neste ramo de negócio passaram a utilizar seus
veículos como instrumento de luta das comunidades, através de um trabalho
associativo, que visa o bem comum. Para tanto, aqueles que tinham
posicionamento político partidário tiveram que abrir mão de seus
comprometimentos e adotar uma postura imparcial e neutra, mais engajada
nas lutas da comunidade, buscando, assim, atender a todos os segmentos da
sociedade. (DORNELLES, 2004, p. 154)

Ainda, segundo a autora, alguns periódicos mantiveram uma postura político-


partidária, especialmente em municípios de pequeno setor econômico, portanto,
insuficiente para garantir a independência econômica do veículo. Esses, porém, não
conquistaram credibilidade junto ao público e acabaram por encerrar suas atividades.
Observa-se nitidamente que ainda surgem, no interior, veículos com claras orientações
políticas, com fins eleitoreiros. Estes, no entanto, têm, entre suas características, a baixa
longevidade.
A postura imparcial e neutra de alguns jornais e a divulgação ampla de fatos
que ocorrem em diversos segmentos da sociedade acabou por revelar-se diametralmente
oposta à omissão da grande mídia em assuntos de interesse local, posição também
sustentada por José Marques de Melo:
Estamos vivenciando novos tempos, marcados pela emergência de um forte
sentimento de cidadania, que tem revitalizado a nossa vida comunitária. É
plausível que a imprensa dos grotões brasileiros (ou daquelas cidades
situadas nos espaços metropolitanos construídos pelo agro-negócio),
desafiada pela vigilância comunitária, acerte o passo com o interesse público.
E, desta maneira, desate o cordão umbilical que a atrelava economicamente
ao poder local, passando a orientar sua política editorial em consonância com
as legítimas aspirações dos respectivos leitores. (MELO, 2004).

Quem também sai em defesa dos periódicos de cidades do interior é o ex-


presidente da Associação de Jornais do Interior do Estado de São Paulo, o jornalista
Evaldo Vicente. Com relação à acusação de “dependência das prefeituras”, Evaldo
enfatiza que o mesmo pode acontecer com os periódicos de grande porte, em relação
aos governos estadual e federal. Segundo afirma, a ligação com as prefeituras,
decorrente da venda de espaço nos jornais, significa contar com elas como uma fonte de
rendimento – o que não resulta, necessariamente, em dependência e atrelamento de
linha editorial: “Hoje em dia, são muito poucos os periódicos que se encontram nesta
situação”, completa. (VICENTE apud Ortet, 1998, p. 129)
O jornalista afirma, ainda, que a ausência de profissionais capacitados na
imprensa interiorana, duramente criticada por Wilson Bueno, vem sendo suprida
gradativamente:
(...) o surgimento de faculdades de Comunicação e Jornalismo no interior,
aliado ao fato de muitos proprietários terem entendido que a sobrevivência
depende da qualidade do produto posto à venda, tem permitido o ingresso
progressivo de jornalistas com formação superior na imprensa interiorana.
(ORTET, 1998, 126).

Atualmente, conforme Dornelles (2004), o interior tem se apresentando como


um campo promissor para o profissional de comunicação. No entanto, o
desconhecimento acerca da realidade em cidades de pequeno e médio portes ainda é
responsável pelo preconceito que parte, inclusive, de recém-formados. Muitos ainda
acreditam que não há qualidade no jornalismo praticado no interior, restringindo sua
busca por uma colocação profissional aos grandes centros.

O que caracteriza a imprensa em cidades de pequeno e médio portes

Se não há um consenso quanto à qualidade da produção jornalística em cidades


do interior, em outro ponto, grande parte dos pesquisadores concorda: o jornalismo no
interior tem características que o particularizam. Neste sentido, mobilizamos a definição
dada por Beatriz Dornelles:
Entende-se por “jornal interiorano” o produto impresso de uma empresa ou
microempresa jornalística, constituída juridicamente na Junta Comercial de seu
município, regida pelo ativo e passivo, tendo por objetivo o lucro, através da
comercialização publicitária, venda de assinaturas e venda avulsa. O jornal
deve, obrigatoriamente, ser registrado no Cartório de Registro Especial e
manter uma estrutura administrativa mínima, que inclui um diretor, um
contador, um responsável pela distribuição do jornal, um vendedor de anúncios
e um jornalista.
O número de páginas deve ser de, no mínimo, oito, não havendo imposições
para o máximo. A periodicidade deve ser constante, desde que diária,
trissemanária, bissemanária ou semanária. A filosofia editorial do jornal deve
ser voltada para comunidade como um todo, ou seja, as matérias produzidas
para o jornal devem atender aos anseios e reivindicações da comunidade que,
dentro do possível, determinará quais as notícias que devem ser divulgadas
pelo jornal, desde que não atendam nenhum interesse partidário. O diretor e/ou
o jornalista do periódico devem, também, participar ativamente de todas as
atividades promovidas pela comunidade, ajudando a buscar soluções da forma
como se fizer necessária (DORNELLES, 2004, p.131)
Conforme destaca Beatriz Dornelles, a dinâmica da produção difere daquela
observada nos grandes centros urbanos, bem como o foco de interesse do leitor:
Nas grandes cidades os interesses são múltiplos, diversos e inúmeros. Nas
pequenas, há maior homogeneidade. Assim, nas grandes cidades a divulgação
de temas diversos e amplos é uma necessidade. Nas pequenas, os leitores
querem saber o que está acontecendo em sua cidade, e, em segundo lugar na
região, havendo interesse mínimo por questões de âmbito estadual e nacional
e internacional. Essas são acompanhadas através do noticiário das televisões
e rádios. Portanto, os jornais do interior são produzidos a partir do noticiário
local e regional, abordando temas de diversas naturezas. (DORNELLES,
2004, p. 133).

Isabelle Anchieta, que compartilha a opinião de Dornelles, destaca diferenças


na forma de abordagem. Ela afirma que, nos grandes centros, o jornal cria a coesão
social através da amplitude dos assuntos. Já o jornal local trilha o caminho inverso:
retratando a diversidade e singularidade locais:
Se a estratégia discursiva dos grandes veículos é criar um espaço de amplo
compartilhamento simbólico, o interior usa exatamente das finas categorias
simbólicas e sua interpretação restrita ao seu ambiente de difusão para criar a
identidade e familiaridade com o público. Portanto, são veículos que não
concorrem entre si, pois têm habilidades e capacidades diferentes de
representação da realidade. Assim como um grande jornal tem recursos,
capacitação, e acesso a fontes oficiais, o jornal do interior tem uma
proximidade com o mundo vivido da cidade e um conhecimento das
expectativas do público que seriam inviáveis para um de veículo. (MELO,
2006, p. 65)

Conforme menciona Isabelle de Anchieta, até mesmo a função do jornal é


diferente no interior. Em razão da proximidade com os fatos e outras fontes de
informação, muitas vezes, os leitores possuem a informação antes mesmo de que seja
publicada no jornal. Então, se nos grandes centros urbanos o jornal apresenta os fatos
pela primeira vez, no interior o jornal vem detalhar uma informação que já circula em
forma de boato. Sua função passa a ser legitimar; precisar: “Acontecimento e a mídia
confundem-se em um ponto em que a fala da mídia torna-se performativa, e não mais
descritiva” (MOUILLAUD, p.66, apud Anchieta). O ‘rumor social’ vem a exigir do
jornalismo no interior um caráter mais investigativo e interpretativo, que, em geral,
ainda não é realidade em cidades de pequeno e médio portes. Esta afirmação é
endossada por Peruzzo:
A possibilidade da comunicação interpessoal e da vivência dos
acontecimentos contribuem para a formação de cidadãos críticos em relação
aos conteúdos veiculados pelos meios de comunicação. Quando se conhece
os atores em cena, seus vínculos políticos e intenções; quando se toma parte
dos acontecimentos e se conhece suas causas e desdobramentos; quando se
discute os assuntos com outras pessoas, torna-se muito mais fácil perceber a
omissão ou a manipulação de informações. Está aí um bom motivo para que
o meio de comunicação local atue de maneira responsável e ética se pretende
desfrutar da credibilidade local (PERUZZO, 2003, p.82).

Com características diversas, impressos do interior e da capital atendem a


demandas também diversas, coexistindo em campos distintos, mas com um ponto de
interseção: notícias locais podem ganhar relevância nacional e temas nacionais podem
repercutir no espaço local, conservando suas particularidades.
Os grandes meios impressos não eliminam os pequenos jornais porque não
têm condições de atender algumas de suas funções, principalmente a
divulgação das reivindicações da comunidade, além de expressar seus valores
numa autêntica demonstração de veículos comunitários. Ao contrário do
jornal da capital, o jornal local faz parte da vida comunitária da cidade
(LOPES, 1998, p.106).

O interesse local passa então a ser trabalhado pela mídia em função do


conhecimento de que o que está mais próximo recebe mais atenção do leitor, uma vez
que os fatos locais interferem no seu cotidiano.
Na teoria, a imprensa local tem características capitalistas. Está inserida em um
contexto local, abordando fatos que se dão dentro de sua área de cobertura, mas como
qualquer outra empresa que visa ao lucro, é organizada de forma a expandir seu
tamanho sempre que possível.

Valores-notícia e sua relação com o local


Visando compreender melhor o processo e facilitar o trabalho de seleção
realizado dentro das redações, vários pesquisadores direcionaram sua atenção ao estudo
dos valores-notícia. Pioneiros na empreitada, Galtung e Ruge, ainda em 1965,
observaram a existência de 12 fatores que norteavam a transformação de alguns fatos,
entre a imensidão de acontecimentos em toda área de abrangência dos veículos, em
notícia. Foram citados a frequência, amplitude, clareza ou falta de ambiguidade,
significância, consonância, inesperado, continuidade, referência a nações de elite,
referência a pessoa de elite, personalização e negatividade.
Anos mais tarde, Mário Erbolato (1981, p. 52), revisa e amplia a lista de
Galtung e Ruge, listando 24 valores-notícia: proximidade; marco geográfico; impacto;
proeminência (ou celebridade); aventura e conflito; consequências; o humor; raridade;
progresso; sexo e idade; interesse pessoal; interesse humano; importância; rivalidade;
utilidade; política editorial do jornal; oportunidade; dinheiro; expectativa ou suspense;
originalidade; culto de heróis; descobertas e invenções; repercussão e confidências.
Outro pesquisador que se debruça sobre o assunto é Nilson Lage. Fazendo o
caminho inverso ao percorrido por Erbolato, Lage enumera seis valores-notícia:
proximidade, atualidade, identificação, intensidade, ineditismo, oportunidade. Passamos
à relação entre tais valores-notícia e o jornalismo do interior:
1. Atualidade – O homem se interessa principalmente pelos fatos mais
próximos no tempo. No entanto, o novo às vezes se confunde com o ainda não
conhecido, embora de ocorrência remota (LAGE, 1979, p. 68).
Se para a grande mídia, que adota a periodicidade diária, são apontados como
atuais os fatos mais recentes, no interior, o conceito pode receber uma nova conotação.
É preciso considerar que, ao voltar suas lentes para o local, o jornalista acaba por
excluir ocorrências mais distantes geograficamente, salvo os casos onde o fato impacta
de forma direta na comunidade. Limitar a área de cobertura implica em reduzir,
também, o universo de fatos que podem se tornar notícias. Este fator, aliado a uma
periodicidade mais espaçada, passa a exigir do jornalista uma sensibilidade mais
apurada. É preciso saber fazer com que o fato ocorrido no domingo esteja atual para a
próxima edição, mesmo que ela só esteja nas bancas no sábado seguinte. Tal desafio
demanda, do profissional, criatividade e capacidade de explorar aspectos da notícia que
possam ter passado despercebidos pela mídia em geral.
2. Identificação social (Identidade social e identidade humana) processa-se
de baixo para cima da pirâmide que costuma representar uma sociedade dividida em
classes. Os novos produtos são introduzidos geralmente no segmento mais próximo do
ápice e cumprem um ciclo de popularização que os leva ao maior número de pessoas
(LAGE, 1979, p. 69).
Jornais de grandes centros costumam incluir, em suas matérias, personagens,
com objetivo de humanizar discussões. No interior, é comum também o caminho
inverso: o quadro de saúde de um morador de uma comunidade carente pode ser o
motivo para se discutir as condições de tratamento oferecidas pelo sistema público de
saúde, resultados expressivos no Índice de Desenvolvimento na Educação Básica (Ideb)
justificam uma entrevista com educadores e direção da escola sobre a metodologia
aplicada pelo educandário ou um caso de estupro pode desencadear em uma discussão
acerca das condições de segurança em um bairro da periferia. O foco na comunidade
gera, muitas vezes, um fortalecimento do vínculo entre o periódico e a comunidade, ou
seja, solidifica a identificação social.
3. Proximidade – o homem interessa-se principalmente pelo que lhe está
próximo. Sistemas de comunicação muito amplos, como jornais nacionais ou redes de
televisão, podem ser enfrentados por sistemas infinitamente menos poderosos, porém de
mensagem mais próxima, como os jornais locais ou de bairro, os shows de clube e as
estações de programação regional (LAGE, 1979, p. 67).
Ainda segundo a proximidade – um dos fatores mais importantes dentro de
nossa análise –, reforça Erbolato: "A grande arma dos jornais do interior e dos
semanários comunitários (que se publicam nos bairros das cidades médias e grandes) é a
divulgação dos fatos que ocorrem perto do leitor e a ele ligados" (1981, p. 55).
O jornal local vem para suprir a falta de informações acerca da região ou
cidade onde se insere, apresentando, muitas vezes, uma realidade bem distinta, uma vez
que interior e capital não compartilham os mesmos números, opções de lazer, ou
mesmos serviços. É através da imprensa interiorana que o leitor se informa acerca da
programação do cinema, teatro ou clubes da região. É o periódico local que divulga as
fotos do campeonato amador, o cronograma de vacinação ou os resultados de avaliações
feitas pelo governo em educandários da cidade. Daí a possibilidade de se afirmar que as
duas imprensas se completam.
Mas a influência da proximidade não restringe a escolha das pautas: ela é
presença marcante na angulação das notícias. Assim, temas nacionais podem e devem
ser transportados para o interior, recebendo um tratamento local. Se o país discute o
aumento de cadeiras nas Câmaras Municipais, cabe à imprensa saber de que forma a
nova emenda constitucional irá impactar os cofres da cidade, divulgando valores,
mensurando os cortes que serão necessários para que a egrégia possa arcar com seus
compromissos, verificando se, de alguma forma, haverá ônus para a comunidade. Se a
pauta é sobre a proibição da venda de alimentos de baixo valor nutricional em escolas
do ensino fundamental e médio, o jornalista pode realizar entrevistas com nutricionistas
da cidade, divulgando os ganhos em termos de saúde que a adoção da nova medida
pode proporcionar, ouvindo pais e alunos a respeito e mesmo propondo que lei seja
implementada também dentro da cidade.
4. Intensidade – Como medir a intensidade de um fato? Talvez, pelo
potencial impacto que este tem, em relação à realidade no qual está inserido. Em uma
cidade de pequeno ou médio porte, a potencialidade é ampliada, graças aos arranjos
sociais, mais estreitos do que em coletividades mais grandiosas. Assim, a notícia sobre
um novo caso de dengue ou a fuga de um detento da cadeia local adquire grande
intensidade para a população de determinado município – justificando seu destaque no
jornal local.
5. Ineditismo – Quanto ao ineditismo, há que se ressaltar o grande
“manancial” representado por cidades de pequeno e médio portes, para o jornalismo, de
um modo geral. Comumente, notícias que repercutem em nível estadual e nacional são
construídas a partir de fatos registrados em localidades. Graças às tecnologias da
informação, tais fatos – em princípio, de interesse apenas local – irrompem as cercanias
do interior e chegam ao grande público. Tal constatação, exemplificada em casos
envolvendo crimes passionais, fatos curiosos e até personagens do cotidiano, ajuda a
derrubar o estigma de que as mídias locais sobrevivem apenas graças à repercussão de
notícias “importadas” dos grandes centros. Na verdade, o que há é o intercâmbio de
notícias, estando, o ineditismo, presente em ambos: jornalismo do interior e grande
imprensa.
6. Oportunidade – É, talvez, o valor-notícia mais explícito no jornalismo do
interior. Dada a proximidade entre jornalistas e o contexto em que realiza seu trabalho,
incluindo suas fontes (no âmbito geográfico e, muitas vezes, até mesmo, das relações
pessoais), a oportunidade para a produção de notícias pode ser otimizada na imprensa
interiorana. “Pode”, reiteramos, embora também haja elementos complicadores nesse
cenário. O acesso a um político envolvido em denúncias ou a uma fonte que tenha
testemunhado um crime, evidentemente, dá, ao jornalista, a oportunidade de realizar
uma reportagem mais completa. Entretanto, tal elemento facilitador deve ser utilizado
com cautela. A oportunidade estimulada pelos laços sociais estreitos que a vida em uma
pequena cidade propiciam não pode ser usada deliberadamente, sob pena de se
subverter a imparcialidade e um certo distanciamento entre repórter e os fatos por ele
reportados – preceitos do jornalismo que precisam ser buscados, em nome de um
jornalismo mais profissional e ético.
Considerações finais
Se as notícias são, também, resultado de uma rotina de produção, torna-se
necessário trazer esta discussão para o interior, onde a realidade é diversa daquela
observada nos grandes centros urbanos. Contando com um número reduzido de
profissionais, muitos moldados pela prática e não pelas discussões acadêmicas, o jornal
interiorano assume para si a responsabilidade de dar conta de tudo aquilo que acontece
dentro dos seus domínios e que, salvo parcas oportunidades, não será alvo de holofotes
da grande mídia.
Na dura realidade interiorana, o repórter, na maioria das vezes, acumula
funções: faz a pauta, escolhe as fontes, entrevista, transcreve, redige, revisa, edita e, não
raras vezes, diagrama todo o material produzido pelo periódico. Ao lado de releases e
anúncios publicitários, esse recorte irá compor o pedaço da realidade local selecionado
para ser registrado nas páginas do periódico e se somar às outras fontes de informação
disponíveis para a comunidade.
Nos periódicos de menor estrutura, este acúmulo de funções, somado a poucos
recursos em termos de logística, muitas vezes, acaba por restringir a prática de gêneros
mais investigativos, como a grande reportagem, abrindo espaço para a publicação de
releases. No entanto, o avanço tecnológico e as facilidades proporcionadas pelas novas
tecnologias da comunicação, somados à profissionalização (através dos cursos de
Comunicação Social e Jornalismo), têm contribuído sobremaneira para que seja
preenchida esta lacuna.
Portanto, diante do breve estudo apresentado (que não encerra o debate e, sim,
configura-se como matéria de estímulo e fomento para outras pesquisas), observa-se a
importância do jornalismo praticado no interior e suas diversas qualidades, além do
papel desempenhado nas comunidades, como fonte de informação e instrumento de
exercício da cidadania, por proporcionar aos leitores um melhor entendimento sobre a
realidade local. Há que se ressaltar, ainda, a aplicação de valores-notícia fundamentais,
tais como: atualidade, identificação social, proximidade, intensidade, ineditismo e
oportunidade. Assim, o jornalismo praticado em cidades de pequeno e médio portes
torna-se apto a partilhar espaço, junto aos leitores, com a grande mídia – não como
“concorrente”, mas, como complemento, na evidenciação de fatos e questões que fazem
parte dos microcosmos sociais.
Referências
DORNELLES, Beatriz. Jornalismo "comunitário" em cidades do interior – uma
radiografia das empresas jornalísticas: administração, comercialização, edição e
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