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Este guia foi escrito como introdução a uma nova maneira de se pensar sobre a
experiência de ouvir vozes. O ouvir de vozes pode se tornar algo a trazer
preocupações, tanto para a pessoa que as ouve quanto para seus familiares e
amigos. É importante conscientizar as pessoas a esse respeito.
Ao longo dos anos, muito pouco foi escrito sobre esta experiência e seu
significado, algo que normalmente e infelizmente é considerado apenas como
sintoma de um transtorno mental, sem debates ou troca de ideias em decorrência
de todo o estigma que ainda cerceia o tema.
Porém, neste guia vamos pensar juntos sobre qual a sensação de ouvir vozes,
sobre os porquês de começar a ouvi-las e sobre como as pessoas podem
aprender a lidar bem com elas para viverem tranquilas.
Este guia é destinado aos ouvintes de vozes, seus familiares, seus amigos e
profissionais interessados em conhecer mais sobre a temática e/ou trabalhar
com ouvidores de vozes.
Agradecimentos
Este guia foi baseado na publicação “Ouvindo Vozes”, escrita por Sarah Sino da
Oxford, e inclui informações que podem ser encontradas no livro “Living with
Voices” (1993) escrito pelos professores holandeses, Marius Romme e Sandra
Escher.
As reuniões dessa experiência foram muito bem aceitas pelos ouvintes, seus
familiares e profissionais interessados. A organização e a comunhão entre os
participantes tiveram êxitos e frutos excepcionais.
Historicamente, ouvir vozes tem sido considerada pela psiquiatria clínica uma
experiência relacionada a alucinações auditivas ou algo vinculado a um sintoma
de condições correlatas as enfrentadas em quadros de transtornos
esquizofrênicos, de depressão aguda e/ou de psicose maníaca.
"O que esta pesquisa mostra é que temos de aceitar que as vozes existem.
Temos também de aceitar que não podemos mudar as vozes. Elas não são
curáveis, assim como você não pode curar canhotos. Variações normais
humanas não são curáveis - apenas enfrentáveis.
Portanto, para ajudar as pessoas a lidar com as suas vozes, não se deve dar-
lhes terapias não funcionais. Devemos deixar que as pessoas decidam por si
mesmas o que as ajuda ou não. Leva tempo para que as pessoas aceitem que
ouvir vozes é algo que pertence a elas." (Marius Romme).
2) O que significa ouvir vozes?
Em algumas palavras
As vozes, diferente daquilo que se escuta por meio dos ouvidos, apenas não
surgem por causas físicas, e sim por causas psicológicas. Mas como os sons
naturais, existem diferenças entre cada experiência ouvindo vozes e entre cada
voz ouvida.
Quantas vezes você já pensou ter ouvido alguém chamar seu nome para depois
descobrir que não havia ninguém lá, por exemplo?
Bem como ouvir os sons através dos ouvidos, as pessoas também ouvem vozes
como se elas fossem pensamentos internos a elas. No entanto, existem diversas
diferenças entre uma ideia vinda de si mesmo e algo intrusivo como podem ser
as vozes.
Existem muitas maneiras diferentes de se ouvir vozes. Você pode ouvi-las dentro
da própria mente ou fora dela. Pode ser uma só voz ou muitas vozes. A voz pode
falar com você ou sobre você. Podem ser vozes representando figuras com
idades diferentes, ou mesmo vozes com conteúdos diferentes.
Vozes podem ser como sonhos. Quando sonhamos todos os tipos de coisas
estranhas podem acontecer, mas nós ainda acreditamos que elas realmente
estejam acontecendo conosco. Ouvir vozes pode ser assim, como um sonho
acordado, mas experimentado na realidade.
Outra pesquisa, realizada na mesma época, revelou que muitos dos casos de
pessoas que ouvem vozes não satisfaziam os critérios específicos de um
diagnóstico psiquiátrico (Eaton, 1991).
Sócrates, Mohammed Ali, Joana d´Arc, Carl Jung, Anthony Hopkins, Zoe
Wannamaker, Zinedine Zidane e Mahatma Gandhi..
Para muitos ouvidores, as vozes podem se fazer presentes durante o dia todo,
tendo a capacidade de impedi-los a realizar vontades e necessidades de suas
vidas, dando o exemplo de uma voz negativa nesse caso.
As vozes também podem punir o ouvinte caso ele não faça aquilo que elas
querem, aumentando a perturbação e os conteúdos negativos exibidos ao
indivíduo.
Algumas vozes são mais agradáveis que outras. As vozes menos agradáveis
podem ferir as pessoas ouvindo-as, dizendo-as xingamentos e ofensas, por
exemplo. São episódios que podem acontecer tanto momentaneamente quanto
em certa continuidade.
Frases como “isso não é uma boa ideia”, “isso não vai funcionar”, “você não vai
conseguir”, “você é incapaz”, entre outras coisas mais degradantes e violentas,
são constatadas nas experiências relatadas por ouvidores.
Por outro lado, pode haver também um lado agradável em ouvir vozes. Por
vezes, as vozes - que são vozes positivas - surgem como conselheiras e/ou
amigas das pessoas ouvintes; dão suporte e as apoiam em seus momentos.
Para algumas pessoas, entende-se esta experiência como um dom, algo como
uma percepção valiosa ou mesmo extra-sensorial. Sob esse prisma, as vozes
podem ser confiáveis.
1) Descobrindo as vozes
• A maioria dos ouvintes descreve o início da experiência como algo bastante
súbito e surpreendente, podendo facilmente lembrar o momento exato em que
foi ouvida a primeira voz.
• O impacto das vozes se divide em dois tipos como foi dito acima: podem ser
vozes positivas, de apoio, ou vozes negativas, de menosprezo. Uma mesma
pessoa pode lidar com vozes de tipos diferentes.
• A estratégia mais útil descrita por ouvintes seria o ato de selecionar as vozes
positivas, ouvi-las e responder somente a elas, tentando compreendê-las.
A primeira coisa a entender nesses casos é que, embora a voz possa estar
surgindo de maneira intrusiva em sua consciência, isso não significa que você
deve cegamente fazer aquilo que ela diz.
Se encontra-las não te faz bem, você deve então dizer isso a elas, apontando
que não existe nenhuma razão para tolerar essa forma de comportamento.
Estabelecer esse relacionamento com as vozes, criar o seu tipo de
relacionamento com elas, pode ser extremamente proveitoso.
E quanto às vozes malévolas, que podem causar danos graves as pessoas, por
exemplo, pedindo-lhes para fazer coisas como se matar, uma solução pode ser
remover o máximo de estresse da sua vida, um dos principais gatilhos desse tipo
de vivência ruim.
Ignorar as vozes não ajuda, assim como ignorar alguém que não para de se
comportar hostilmente com você. Conversar, tomar uma atitude imperativa e
arrumar meios produtivos de acabar com a situação pode ajudar tanto em
relação as pessoas quanto em relação as próprias vozes.
5) Um pouco sobre a história do Movimento Internacional de
Ouvidores de Vozes (HVM e a INTERVOICE)
Esse teria sido o fator inicial de uma abordagem que vem dando resultados até
hoje, a saber, a de se ouvir o que o indivíduo tem a dizer sobre suas vozes, e
percebe-las como uma experiência a ser entendida pelo médico e o próprio
indivíduo, ao invés de taxa-la diretamente como parte de um distúrbio grave
como é a esquizofrenia.
“Foi Patsy Hage quem deixou claro para mim que a abordagem psiquiátrica não
tinha sido muito útil. Porque, como um clínico tradicionalmente treinado, eu só
estava interessado em sua experiência de audição de voz, na medida em que
diz respeito às características de uma alucinação, a fim de construir um
diagnóstico em combinação com outros sintomas. Mas ela estava interessada
nas vozes e no poder que exerciam sobre ela; no estresse que ela
experimentava; naquilo que lhe diziam”.
Foi então que, a fim de romper as barreiras sociais existentes entre os próprios
ouvidores, Marius resolveu organizar reuniões entre os ouvidores de vozes
frequentadores de seu consultório, com o objetivo de deixar com que eles
trocassem experiências sobre ouvir vozes, como lidavam com elas, dentre outras
coisas. Marius conta que todos ficaram extremamente entusiasmados.
Paul, em texto de sua autoria, ressalta a trajetória do movimento até aqui e sua
importância para o reconhecimento da autonomia dos indivíduos ouvidores
diante de sua própria experiência:
O tratamento para pessoas que ouvem vozes, de acordo com essa vertente, tem
sido indicar medicamentos neurolépticos que podem, em alguns casos, reduzir
a ansiedade causada pelas vozes, mas por outro, fazer com que as pessoas
tratadas se sintam fracas ou dependentes mentalmente, como se nunca fossem
sair desse ciclo.
Dentre diferentes teorias definidas pela psiquiatria sobre o que são de fato as
vozes, muitas presumem que façam parte apenas de algum tipo de psicose ou
que são causadas por algum tipo de falha genética.
Como se percebeu ao longo dos anos, esta não é uma abordagem útil. Informa-
se ao ouvinte que as vozes são apenas sintomas de uma patologia, quando as
vozes são tão reais para ouvinte quanto qualquer elemento incapacitante do
mundo físico.
Um exemplo
George ouve vozes continuamente. Suas vozes são, por vezes, agradáveis, mas
em outras, nem tanto. Dizem para ele coisas desagradáveis e o interrompem
quando ele precisa se concentrar em algo, como uma reunião importante.
Diversas são as vezes em que ele tenta discutir sobre essas vozes com seu
médico. Ele quer discutir o que as vozes dizem e seus significados, mas seu
médico diz para ele que as vozes são apenas sintomas de sua doença, que
ignora-las é a melhor solução.
A razão para isto seria a de que Marius teria desenvolvido sua compreensão da
experiência de ouvir vozes dialogando com os próprios ouvidores, pedindo-lhes
que respondessem perguntas básicas, tais como: Quando as vozes
começaram? Quantas vozes você ouve? Quantas vezes você ouve? O que você
acha que a voz representa? O que elas dizem? O que te ajuda? etc.
Nesse contexto, Marius apontou que o real problema não estava no fato de se
ouvir vozes, mas sim na maneira como se lida com elas e com aquilo que elas
estão dizendo.
Seria extremamente útil para pessoas que trabalham na área da saúde mental e
do serviço social analisarem em maior detalhe novos quadros de estratégias de
enfrentamento em relação a experiência de ouvir vozes.
Este movimento parece ser o mais útil para usuários da rede que ouvem vozes;
poderíamos ser muito mais capazes de apoiar e ajudar os ouvintes se isso fosse
levado a sério.
• Diversas pessoas encontram formas de lidar com suas vozes fora do modelo
psiquiátrico. O conhecimento adquirido por elas pode beneficia-las nesse
processo
• As pessoas ouvidoras de vozes possuem apoio, como por exemplo, por meio
da participação em grupos de autoajuda compartilhando experiências,
explicações e métodos de enfrentamento e apoio mútuo.
Construindo a mudança
As pessoas que ouvem vozes, suas famílias e amigos podem ter grandes
benefícios ao não estigmatizar essa experiência. Isto pode levar a uma maior
tolerância e compreensão em relação as vozes.
Dar apoio às pessoas que ouvem vozes para que construam uma melhor
compreensão de suas experiências ao lado de profissionais, familiares e
amigos.
Fornecer ajuda terapêutica e informações que irão ajudar as pessoas a
lidarem mais eficazmente com suas vozes.
Estabelecer grupos de autoajuda entre ouvintes para que possam
compartilhar experiências e discutir estratégias sobre como lidar com
vozes.
Mostrar que o verdadeiro problema não é tanto o ouvir de vozes, mas sim
a incapacidade em lidar com essas experiências da melhor maneira
Educar a sociedade sobre o significado das vozes e reduzir o estigma
Demonstrar a vasta variedade de experiências e suas origens, assim
como possíveis abordagens de enfrentamento.
Reunir ouvintes que não tenham estado em contato com serviços
psiquiátricos com aqueles tenham para a troca de ideias.
Como resultado, a potência da razão pode ser virtualmente extinta, pelo menos
inicialmente, o que torna praticamente impossível para estas pessoas falarem
sobre suas vivências diárias sem serem afetadas após isso.
2. Reconhecer padrões
As pessoas que ouvem vozes normalmente dizem que suas vozes seguem
padrões de conteúdo ou fala.
3. Aliviar a ansiedade
A maioria das pessoas que ouvem vozes se encontram sozinhas inicialmente.
Isso pode fazer da experiência um criador de ansiedade, além de produzir
sentimentos de vergonha ou medo de enlouquecer.
5. Aceitar as vozes
Cumprir esse objetivo dá margem para interpretações acerca dos porquês das
vozes, tornando mais fácil a compreensão delas para o ouvinte.
Tanto conteúdos ruins quanto conteúdos bons podem ter significados
específicos e podem, de alguma maneira, ajudar quem as ouve com questões
vividas no dia-a-dia ou em momentos mais antigos da vida.
Realizar isso pode ser extremamente valioso para ajudar pessoas a verem que
elas também podem estabelecer seus próprios limites e conter a intromissão de
determinadas vozes por meio dessa relação.
9. A compreensão familiar
Comunicar para outras pessoas sobre as vozes que ouve pode ter suas
desvantagens, como por exemplo, expor a si mesmo. Algumas pessoas, por
conta disso, sente-se acuadas e indispostas a dar esse passo. Em particular, os
ouvintes pacientes psiquiátricos.
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CENATPLAY:
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