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UM OUTRO OLHAR:

Sobre a análise gramsciana


das organizações
inter nacionais

Sebastião C. Velasco e Cruz

Houve época em que o estudo das relações devemos associar também E.H. Carr, grande pre-
internacionais era atividade privativa de uma co- cursor do realismo moderno.
munidade muito especial, que se organizava, É verdade. Não obstante a qualidade de sua
como as aldeias antigas, em “metades” definidas produção e o reconhecimento que tenham podido
segundo princípios simples de oposição. “Idealis- alcançar, com exceção de Carr esses autores man-
tas” versus “realistas”, “liberais” versus “neo-realis- tiveram-se sempre em posição mais ou menos
tas” — termos denotativos de uma dualidade bási- marginal, completamente ofuscados que foram
ca que se manifesta ao longo do tempo sob pela supremacia americana na área, que chegou a
diferentes figuras mas se repõe reiteradamente, ser grande o bastante para permitir a um observa-
índice que é de uma tensão cujo fundamento dor-participante de trajetória eminentemente cos-
reside em outro lugar. Este o antagonismo em mopolita referir-se às Relações Internacionais
torno do qual se constituíram as Relações Interna- como uma disciplina nacional (cf. Hoffman, 1977).
cionais como campo diferenciado de atividade Contudo, mesmo no espaço acadêmico ame-
acadêmica, que se consolida no entreguerras e ricano o quadro é muito mais complexo do que o
desde então vem se reproduzindo nas ilhargas dos esquematismo da caracterização acima parece in-
departamentos de Ciência Política e em múltiplos dicar. Para início de conversa, as rotulações acima
think-tanks, em conexão estreita com os órgãos referidas não são neutras. Elas surgem como meios
encarregados da formulação e implementação da e resultados do jogo de rivalidades que se trava no
política internacional do Estado norte-americano. interior da comunidade. Nesse sentido, o que
Não é bem assim. Fora dos Estados Unidos, ocultam é muitas vezes mais importante do que
indivíduos e grupos também trabalharam sistema- aquilo que revelam. Parece ser este o caso da
ticamente na área e se afirmaram pela importância noção de “idealismo”. Cunhada nos anos 30 para
da contribuição que legaram. Bastaria citar, na caracterizar um conjunto de autores — publicistas,
França, o nome de Raymond Aron e, do outro lado a maioria deles — que respondia aos horrores da
do canal da Mancha, os de Martin Wight e Hedley Primeira Guerra Munidal denunciando a velha
Bull, luminares da “escola inglesa”, à qual, aliás, “política de poder” e urgindo a mobilização dos

RBCS Vol. 15 no 42 fevereiro/2000


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recursos da razão esclarecida na busca de soluções das ciências sociais, a área das Relações Internaci-
institucionais capazes de garantir um futuro de paz onais constituía um campo relativamente fechado,
sustentável, a expressão teve, desde o primeiro pouco permeável, no qual se encontravam em
instante, uma função primordialmente polêmica. permanente confronto representantes distintos de
Com efeito, no ambiente de consternação e ceticis- duas grandes tradições.
mo que se seguiu à crise de 1930, ela permitia Nas duas últimas décadas, porém, esse qua-
marcar como ingênuos incorrigíveis os autores dro vem sendo profundamente alterado. A tensão
intelectuais das experiências organizacionais fra- original continua existindo, mas os termos do
cassadas — dentre elas, a Liga das Nações — e debate na área não são mais ditados por ela. As
apontar razões plausíveis para os desastres que barreiras que cercavam o campo dos estudos
eles teriam preparado. Como se sabe, essa opera- internacionais foram aos poucos caindo, e ele
ção foi realizada com extraoridnário sucesso. Por passou a abrir-se para uma pluralidade de novas
mais de 50 anos o termo “idealismo” funcionou no perspectivas, as quais, mantendo uma interlocução
campo das Relações Internacionais como sinal de densa com o trabalho desenvolvido em outros
um interdito, apagando inteiramente da memória domínios das ciências sociais, redefinem a agenda
institucional os personagens reais que ele aludia — da disciplina, introduzindo outros critérios de rele-
estes homens precisos, suas idéias, as razões aludi- vância e novos blocos temáticos.
das para sustentá-las. Apenas recentemente o es- Vários fatores contribuíram para tal desloca-
quecimento a que esta geração de “reformadores mento. Não caberia examiná-los aqui, mas convém
internacionais” foi relegada começa a ser quebra- dizer uma palavra sobre dois deles, que no meu
do. E quando olhados de perto eles revelam, em entender devem ter desempenhado papel de des-
muitos aspectos, uma desconcertante atualidade taque.
(cf. Oslander, 1998; Schmidt, 1998). O primeiro diz respeito às mudanças que se
De outra parte, entre as diversas “figuras” vêm processando desde o final dos anos 60 no
assumidas por cada um dos lados daquela dualida- universo da Ciência Política norte-americana, com
de — “idealismo”/“liberalismo” versus “realismo o declínio da hegemonia behavioralista, à qual
clássico”/“neo-realismo”, ou “realismo estrutural” estão associados nomes tão eminentes como os de
— as diferenças não são puramente formais. A David Easton e Robert Dahl. Sem que jamais tenha
oposição constitutiva repõe-se continuamente, sido exercida completamente (nos departamentos
mas nesse processo cada elemento do par transfor- de Ciência Política das melhores universidades
ma-se internamente. A passagem de um momento americanas prevalecia uma espécie de armistício
para o outro — do realismo clássico ao neo- entre os estudiosos da “teoria política” — no
realismo, por exemplo — é marcada por mudanças sentido tradicional do termo, como cultivo da
significativas que afetam o estilo intelectual, a tradição multissecular do pensamento político oci-
linguagem teórica, as ferramentas analíticas privile- dental — e os praticantes da investigação empírica,
giadas e a própria definição do interesse cognitivo. estes, sim, atraídos pelo projeto “revolucionário”
Enquanto o velho realismo fundava-se em uma de transformar a Política em uma “ciência fática”,
antropologia pessimista, fazia apelo sistemático à nos moldes oferecidos pela reconstrução neoposi-
história e almejava indicar caminhos para a resolu- tivista das ciências naturais), na atmosfera política
ção de problemas prático-políticos, o neo-realismo e ideologicamente saturada da época a ascendên-
dispensa considerações definidas sobre a natureza cia behavioralista passou a ser cada vez mais
humana, mimetiza a economia neoclássica e, em contestada. No ideal de ciência que propunha —
nome da dignidade acadêmica, aceita o sacrifício valorativamente neutra; autônoma em relação aos
da irrelevância política (cf. Donnelly, 1995). imperativos da razão prática — e no modelo de
Com essas ressalvas em mente, creio seja explicação que consagrava — nomológico-deduti-
possível reter a caracterização proposta no início vo, fechado às exigências interpretativas inerentes
deste artigo. Até algum tempo atrás, no conjunto à análise do social.1
UM OUTRO OLHAR 41

O tema da Ciência Política nos Estados Uni- sem uma boa explicação para esse fenômeno
dos — suas origens, sua trajetória, sua vocação — histórico. 3
vem despertando crescente interesse.2 Não pode- Seja como for, na década de 90 assistimos
ria me estender na matéria. Para os propósitos ao surgimento de um sem-número de discursos e
deste artigo basta dizer que no decurso do proces- propostas teóricas novas, que nem sempre se
so de mudança a que me referi a unidade da comunicam facilmente entre si e com os ocupan-
disciplina ficou comprometida, a tal ponto que um tes mais antigos da área, mas que convivem lado
observador privilegiado — ele mesmo figura em- a lado com estes sem enfrentar problemas mais
blemática nessa história — pôde recorrer à imagem graves de legitimidade. “Construcionismo”, “teo-
de um conjunto de seitas sentadas em mesas ria crítica”, “abordagens interpretativistas”, “teori-
separadas para caracterizá-la (cf. Almond, 1990). as normativas”, “feminismo”, “marxismos vários”
Como subárea da Ciência Política, o campo das — esses e outros “ismos” passam a habitar o
Relações Internacionais não poderia deixar de ser campo. Para retomar a metáfora empregada no
afetado por tal resultado. início deste artigo, mais do que a uma pequena
O segundo fator vem de fora do espaço aldeia voltada sobre si mesma e cerrada aos es-
acadêmico: refiro-me ao violento impacto teórico tranhos pela barreira de sua expressão dialetal, o
causado pelo fim da Guerra Fria e a derrocada do campo de estudos internacionais assemelha-se
bloco soviético. A perplexidade provocada por hoje a uma zona franca, um cruzamento, um
esses fatos está bem expressa no comentário de lugar onde se encontram viajantes de variegada
Robert Tucker (1990, p. 95), importante autor procedência, falando idiomas os mais diferentes
realista e elo de ligação entre duas gerações dessa e produzindo um burburinho que lembra a feira
escola. medieval. 4
A obra que a partir de agora passo a consi-
O final súbito do conflito [...] produziu uma situa- derar é uma boa ilustração do pluralismo caracte-
ção para a qual é difícil encontrar um precedente rísitico da situação presente na área. Internatio-
verdadeiro. Em que pesem os argumentos em nal organization and industrial change, de Craig
contrário, não parece haver nenhum paralelo ins- N. Murphy (1994), inscreve-se no projeto formu-
trutivo na história moderna de conflito hegemôni- lado originalmente por Robert W. Cox de redefi-
co que tenha terminado simplesmente pela ausên- nir o conjunto da problemática das Relações In-
cia de um dos lados em tempos de paz. Contudo, ternacionais mobilizando sistematicamente as ca-
foi isto que aconteceu nesse caso [...] a União tegorias centrais do pensamento de Antonio
Soviética retirou-se do conflito que chegara a ser Gramsci. Antes de comentar o livro, talvez con-
visto como interminável. Ao fazê-lo, ela tornou venha dizer uma breve palavra sobre este pro-
quase irreconhecível o panorama da política mun- grama de trabalho.
dial, transformando os crentes nas verdades polí- Como se sabe, na multiplicidade das anota-
ticas do mundo do pós-guerra em céticos que, ções registradas em seus cadernos, Gramsci reser-
mesmo pouco dispostos a reconhecê-lo, perce- vou algumas ao tema da política internacional. Não
bem que perderam seus portos seguros. é este, porém, o ponto de partida adotado pelos
neogramscianos que trabalham no campo das
Donnelly (1995, p. 104) tem razão quando Relações Internacionais. Embora algumas dessas
observa que o choque maior foi recebido pelos notas sejam luminosas, o seu volume é reduzido e
neo-realistas, os quais, desde então, perderam a elas parecem ter ocupado uma posição secundária
supremacia alcançada nos anos 70 com base nas na agenda de seu autor. Salvo melhor juízo, o
inovações teóricas introduzidas por Kenneth pensamento político de Gramsci tinha por referên-
Waltz. Mas isto não elimina o fato de que nenhu- cia básica as formações sociais capitalistas em sua
ma teoria concorrente foi capaz de prever o fim dimensão nacional. Este é o marco de referência
da Guerra Fria, e de que ainda permanecemos no interior do qual ganham significado seus con-
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ceitos básicos: “sociedade civil” e “sociedade polí- ensaio de aplicação dos velhos conceitos a esta
tica”; “hegemonia”; “bloco histórico”; “crise orgâni- matéria nova produz e qual a sua qualidade.
ca” etc. — todos eles produzidos com a finalidade International organization and industrial
de fazer avançar a reflexão sobre os problemas change. Global governance since 1850. Como su-
históricos da unidade nacional italiana, da transi- gerido no subtítulo, a questão mais geral suscitada
ção incompleta e conservadora do capitalismo pela obra de Murphy diz respeito à “governança
neste país, da derrota da revolução e da vitória do global” — conjunto de princípios, normas e práti-
fascismo como solução para a grande crise vivida cas mais ou menos institucionalizadas que assegu-
no imediato pós-guerra. ram a reprodução relativamente pacífica da ordem
Mesmo assim, o que sobretudo interessa capitalista mundial. Mas neste livro ela é considera-
aos neogramscianos são essas noções básicas. As da de um ângulo muito preciso: o das organizações
quais eles acreditam poder empregar legitima- intergovernamentais.
mente em suas análises sobre as transformações O mundo contemporâneo está povoado de
recentes do capitalismo e o peso crescente dos tais organismos. Alguns têm alcance muito geral e
processos e forças transnacionais. O que Robert são bem conhecidos do público: o FMI, o Banco
Cox, Stephen Gill e o próprio Craig Murphy, Mundial e o GATT, por exemplo; outros são mais
entre outros, se propõem a fazer é ajustar seman- especializados, suas siglas pouco significando para
ticamente as categorias de Gramsci de forma a o comum dos mortais. Mas — a pergunta ocorre ao
torná-las operativas no contexto das Relações In- leitor mais cético — será que o estudo dessas
ternacionais.5 Extraída de uma nota do trabalho entidades constitui uma boa porta de entrada para
que dá a partida para esse exercício, a passagem a discussão daquele problema geral?
a seguir apresenta de forma límpida o argumento Por razões diferentes, realistas radicais e libe-
que justifica este passo: rais fundamentalistas diriam que não. Assim, do
ponto de vista lógico, o primeiro cuidado de
O termo “hegemonia” no trabalho de Gramsci Murphy deve ser o de responder a questões desta
prende-se aos debates no movimento comunista natureza: a que se propõem esses organismos? Eles
internacional [...] e, neste sentido, aplica-se especi- são efetivos? Eles são necessários?
ficamente a classes. Em sua forma, porém, o Murphy responde positivamente a cada uma
conceito inspira-se na leitura de Maquiavel, e não dessas interrogações, e em dois lugares do livro
se restringe a relações de classe: ele tem uma dedica-se à tarefa de refutar argumentos contrári-
aplicabilidade potencial mais ampla. A adaptação os. Eis aqui uma pequena amostra das objeções
das idéias de Maquiavel às realidades do mundo consideradas: “os capitalistas poderiam ter forma-
que o autor conhecia foi um exercício de dialética. do o mercado europeu por si mesmos”; “acordos
Perceber a aplicabilidade do conceito às estruturas bilaterais poderiam ter bastado”; “as grandes po-
da ordem mundial, como se sugere aqui, é uma tências poderiam tê-lo feito elas próprias” (Mur-
extensão adequada de seu método. (Cox, 1986, p. phy, 1994, pp. 130 e ss.) — todas reportadas à
250) discussão sobre o papel das Public Unions na
constituição da infra-estrutura do capitalismo euro-
Não vou apresentar aqui as reformulações peu no final do século XIX. Ou ainda: “os Estados
conceituais que resultam de tal postulado. Nem Unidos fizeram sozinhos”; “era tudo uma questão
vou discutir se a apropriação que Robert Cox e de mercado e de política interna nos países da
seus pares fazem da obra de Gramsci é mais ou OCDE” (idem, pp. 237 e ss.). Ambas referidas ao
menos legítima. Esta questão nos levaria ao debate sistema institucional montado sob a regência dos
sem fim sobre a correta interpretação do pensa- Estados Unidos no imediato pós-guerra, a segun-
mento desse autor notavelmente criativo e tão da, mais sofisticada, sendo endereçada apenas às
pouco sistemático. O problema da fidelidade às “instituições de governança global” concebidas
fontes não interessa. Importa é saber o que o para atenuar conflitos sociais.
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A escassez de tempo e espaço me impede de Internacional (UTI), a primeira grande União Pú-
seguir o autor em sua réplica. Mas não é grave. Para blica Internacional. Em 1906 foi a União Radiote-
efeitos da exposição que se faz aqui, importante é legráfica (URT), chamada a regular as ondas de
a proposição geral que os contra-argumentos rádio. Em 1964 foi a Intelsat, a Organização Inter-
avançados apóiam. Nas palavras de Murphy (1994, nacional de Telecomunicações por Satélites, um
pp. 2-3): novo tipo de organização internacional, fora do
sistema da ONU, que supre parte da infra-estrutura
A escala do capitalismo mudou a cada novo das comunicações mundiais, ao invés de simples-
conjunto de indústrias líderes. As empresas cresce- mente regular os serviços fornecidos por outros.
ram. Seus mercados aumentaram. E o mundo (Murphy, 1994, p. 8)
industrial expandiu-se. As organizações mundiais
facilitaram essas mudanças de escala [...] Ao mes- O argumento é claramente funcional. E isto
mo tempo, as organizações mundiais, e os outros fica bem visível no início e no fim do livro, quando
sistemas de governança para os quais elas aponta- o autor discute diferentes explicações para a rela-
vam, ajudaram a mitigar os conflitos que acompa- tiva estabilidade do ordenamento internacional do
nham a expansão do sistema industrial: eles privi- pós-guerra, criticando realistas e marxistas por não
legiaram alguns trabalhadores nos países indus- reconhecerem a “eficácia” das instituições interna-
trializados, asseguraram investimentos em países cionais. Estas teriam suprido “déficits”, suplemen-
menos desesenvolvidos [...] As agências ajudaram tado os Estados e as forças do mercado no desem-
também a aperfeiçoar o próprio sistema de Esta- penho de três “tarefas” básicas: (1) “promover a
dos estendendo-o a todas as partes do globo. [...] indústria através da expansão dos mercados inter-
Ao fortalecer o Estado-nação e o sistema de nacionais”; (2) “satisfazer/compensar potenciais
Estados, as organizações intergovernamentais glo- oponentes das novas indústrias”, e (3) “manter um
bais (OIG) da era da ONU também ajudaram a equilíbrio estável do poder militar” (Murphy, 1994,
conter os maiores desafios ao capitalismo indus- p. 42).
trial, os sistemas comunistas soviético e chinês, Tais funções comporiam a primeira dimen-
por mais de uma geração. Hoje, algumas das são a se ter em conta no estudo dos mecanismos
mesmas agências receberam o encargo de ajudar à regulatórios do “bloco histórico internacional libe-
reincorporação dos Estados pós-comunistas na ral”. As duas outras dimensões correspondem aos
ordem capitalista mundial. meios mobilizados para desempenhar aquelas fun-
ções, devendo ser analiticamente distinguidos uns
Mas o argumento de Murphy não se atém a dos outros de acordo com a sua natureza —
esse nível de generalidade. Especificando a indica- predominantemente coercitiva ou consesual —, e
ção já avançada que relaciona organizações inter- à esfera em que a ação regulatória se exerce: (a)
nacionais, mudança tecnológica e expansão de nível global (caso das associações transnacionais,
mercados, o autor vai enunciar explicitamente a por exemplo); (b) grupo menor de Estados (exem-
versão mais forte de sua tese: plo: ajuda externa); (c) âmbito de uma única
soberania (governos coloniais); (d) esfera de uma
Ao invés de tratar as Uniões Públicas Internacio- região, de setores, famílias etc. dentro de cada país
nais do século dezenove, o sistema da Liga das (Murphy, 1994, p. 42).
Nações e o sistema das Nações Unidas do pós- Em consonância com esse esquema de análi-
guerra como três gerações sucessivas de organiza- se, Murphy produz sucessivos quadros classificató-
ções mundiais, devemos relacionar sua história rios de organizações internacionais em diferentes
àquela da indústria, observando que cada geração períodos históricos. Menciono alguns cabeçalhos
nova começa quando surge uma agência para para que se tenha idéia da amplitude do material
regular uma tecnologia revolucionária de comuni- organizado sob esses critérios e de seu grau de
cação. Em 1865 a agência foi a União Telegráfica interesse. Assim: Tabela 2: “World organizations in
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1914 (by main area of responsability and date of explicação de E. Haas (1989) para as mudanças
founding”) (p. 47); Tabela 4: “World organizations induzidas pelo conhecimento nas instituições in-
abolished before 1920 (with dispostion of activiti- ternacionais e com a tese de Keohane (1984) sobre
es)” (p. 83); Quadro 2: “Task being carried out by as conseqüências, para os Estados poderosos, das
Public International Unions in 1914” (p. 84); Tabela instituições internacionais.
6: “New world organizations of the League and UN
era” (p. 154); “A comparison of the tasks being A teoria proposta por Keohane identifica atri-
carried out by world organizations in 1914 and butos básicos do processo seletivo que dita quais
1970” (p. 190). inovações institucionais irão sobreviver. Este resul-
A análise é de corte funcional, repito, mas tado verifica-se quando uma coalizão suficiente-
não inteiramente. A reprodução em escala amplia- mente poderosa de governos nacionais reconhece
da da economia capitalista mundial “requer” a que tem a ganhar com a cooperação interestatal
intervenção de organismos intergovernamentais. propiciada pela instituição.6 Murphy aceita o argu-
Mas nada assegura de antemão que tais entidades mento, mas introduz uma qualificação importante:
venham a surgir, consolidem-se e atendam efetiva-
mente àquela exigência. As instituições internacio- O trabalho de Keohane sobre as instituições inter-
nais — e as organizações em especial — não vêm nacionais concentra-se somente nos últimos vinte
à luz como emanações espontâneas da operação anos. A história mais longa das organizações
dos mercados e dos dinamismos sociais que estes mundiais demonstra que elas não devem benefici-
implicam. Elas resultam de ações de alcance estra- ar apenas os governos nacionais, mas também [...]
tégico informadas por visões de longo prazo sus- uma coalizão suficientemente poderosa de forças
tentadas por certa classe de agentes. Aqui se situa sociais no interior e através das sociedades nacio-
a problemática gramsciana dos intelectuais. nais. Desde os dias de Kant e por todo o século
Antes de abordar esse aspecto fundamental XIX o auditório foi quase sempre a aristocracia
da obra de Murphy convém recuperar o contexto européia e também a burguesia cosmopolita, cu-
em que ele se introduz. Com efeito, o problema jos interesses seriam atendidos pelas instituições
dos agentes surge em conexão com o problema de internacionais propostas. Depois da virada do
explicar o padrão de emergência, desaparecimen- século, Hobson e Woolf interpelaram os empresá-
to e/ou persistência das organizações internacio- rios esclarecidos e a burocracia tradicional, além
nais. Elas não existiram sempre, nem se distribuem dos partidos sociais-democratas recentemente for-
no tempo, segundo a data de nascimento, de forma talecidos e da classe mais nova de funcionários de
retilínea. Ao contrário, o movimento que descre- Estado responsáveis pela incorporação das massas
vem é ondular. Como entendê-lo? no novo Estado industrial. Mary Parker Follet
Murphy encontra no discurso de parte dos voltou-se para outra nova classe: os executivos
atores que estuda (representantes da versão crítica profissionais que operavam nas empresas industri-
do liberalismo internacionalista) elementos de uma ais gigantes.
explicação aceitável: Coalizões de Estados e forças sociais poderosas
“selecionam” as instituições internacionais desti-
Se acompanharmos a história da tradição crítica, nadas a sobreviver, sustentando acordos e conti-
poderemos ver um processo através do qual al- nuando a financiar as OIGs. As instituições que
guns liberais aprenderam cada vez mais sobre não sobrevivem são aquelas que os Estados-
conflitos que a visão internacionalista liberal mais membros mais importantes abandonam, deixam
ampla pode obscurecer [...] O conteúdo cambiante de financiar, simplesmente ignoram, ou não con-
dessas teorias críticas sugere uma explicação am- seguem renovar. (Murphy, 1994, pp. 24-26)
pla, evolucionária, tanto do internacionalismo li-
beral quanto das organizações que se basearam Como se vê, o caminho que leva da mudan-
nele. Trata-se de uma teoria compatível com a ça tecnológica à constituição do quadro institu-
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cional “adequado” a ela não é direto. Até mesmo Os líderes intelectuais não se limitam a avançar
porque a integração internacional resultante cau- idéias sobre as instituições da nova ordem mundi-
sa deslocamentos e desequilíbrios econômicos e al. Para voltar à imagem do bloco histórico como
sociais nos países envolvidos, induzindo reações um quebra-cabeça [...] aqueles que estão tentando
que muitas vezes se expressam em demandas de reconstruir um bloco histórico precisam trabalhar
proteção e discursos isolacionistas. O surgimento em todas as faces do jogo ao mesmo tempo,
e a persistência das organizações internacionas combinando a ideologia da nova ordem com suas
representam a somatória de vitórias das forças instituições políticas, definindo-lhe as bases eco-
cosmopolitas numa seqüência de embates em nômicas e, naturalmente, a coalizão de forças
que, muitas vezes, foram obrigadas a amargar sociais que constitui o bloco histórico qua aliança.
derrotas dolorosas. (Murphy, 1994, p. 33)
Um dos aspectos mais sugestivos do livro
de Murphy são as indicações fenomenológicas Como em Gramsci, o universo dos intelectu-
que ele fornece sobre essas forças... e seus opo- ais é constitutivamente dividido, fragmentado. No
sitores. É preciosa, por exemplo, a informação caso, a oposição entre os agentes que se batem em
sobre o papel desempenhado por aliança de es- torno do desenho institucional da ordem interna-
critores de fama mundial, encabeçada por Victor cional é aquela que divide, de um lado, os “liberais
Hugo, na defesa de normas mais estritas de co- internacionalistas” e, de outro, os “fundamentalis-
pyright — fato que tem contrapartida na impor- tas liberais” que, como os seus pares hodiernos,
tância das indústrias de cinema e música popular apostam tudo nas “soluções de mercado”. Na
no lobby pela redefinição do regime de proprie- narrativa de Murphy, naturalmente, aos primeiros
dade intelectual no presente. Ou esta outra, a cabe o papel principal:
respeito das práticas monopolistas de Marconi,
que “impedia os operadores de seus rádios de se Inicialmente os internacionalistas liberais mais exi-
comunicarem com redes que usassem tecnologi- tosos como arquitetos de organizações mundiais
as rivais” — qualquer semelhança com Bill Gates dedicaram-se à mobilização de dirigentes de go-
não é mera coincidência — e com isso motivou a vernos nacionais e de filantropos poderosos que
criação da Radiotelegraph Union (Murphy, 1994, se dispusessem a agir como financiadores e ben-
p. 73). feitores das novas instituições internacionais. Os
Inovações nas técnicas de produção e nos líderes intelectuais trabalharam quase sempre no
meios de comunicação e transporte criam interes- espaço político das instituições da sociedade civil
ses na remoção dos obstáculos que impedem sua internacional estabelecidas sob a ordem mundial
extensão ou — como no caso citado acima — que precedente a fim de pressionar pela ampliação de
permitem a apropriação monopolizada dos ganhos seus objetivos, de modo a torná-las um mecanis-
que elas proporcionam. Mas as organizações inter- mo efetivo na regulação da economia mundial na
nacionais não são forjadas por essas forças. Elas era industrial do futuro.
são obras conscientes de uma classe especial de Em cada crise da ordem mundial, os internaciona-
agentes: os intelectuais, no sentdo gramsciano do listas liberais lideraram coalizões transnacionais
termo. que pressionaram os governos para convocar
Este é um dos temas centrais na análise de conferências, estabelecer acordos internacionais,
Murphy. Em todo o processo, os intelectuais de- e criar OIGs experimentais para levar a cabo duas
sempenham papel protagônico, articulando inicia- tarefas básicas, essenciais à realização do projeto
tivas dispersas, concebendo planos grandiosos, liberal.
soldando as alianças sociais necessárias ao encami- A primeira tem sido a de fomentar a indústria
nhamento destes e, nesse sentido, operando como através da criação e da garantia de mercados
“arquitetos” de novos “blocos históricos” — outra internacionais para seus produtos. Os acordos
noção gramsciana que lhe é muito cara. internacionais visando à interligação da infra-
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estrutura de transporte e comunicação requerida Nesse contexto, convém dizer uma palavra
pelos mercados internacionais, como sua base sobre o tratamento dado ao problema das orienta-
física, ajudavam a completar essa tarefa. O mesmo ções político-ideológicas nesse processo. Como já
se dava com os acordos que definiam os bens indiquei, elas são agrupadas em torno de duas
comercializáveis através de padrões industriais, grandes tendências: “liberais internacionalistas” e
regras de proteção à propriedade intelectual, e “fundamentalistas liberais” — os primeiros com-
regras regulando diretamente o mercado interna- portando ainda uma vertente crítica. Importaria
cional. agregar agora que, com o passar do tempo e com
A segunda tem consistido em administrar potenci- as mudanças já mencionadas no status das organi-
ais conflitos com forças sociais organizadas capa- zações (grupos de trabalho, num dos extremos;
zes de se opor à extensão do sistema industrial. [...] instituições intergovernamentais consolidadas, em
Grupos ligados a indústrias mais antigas, trabalha- outro), a natureza dos agentes que expressam as
dores [...] diferentes tendências se altera igualmente.
Depois de convencer os líderes políticos a estabe- Para ficar no campo de onde saem os prota-
lecer instituições votadas a tais tarefas, os interna- gonistas dessa história (o liberalismo internaciona-
cionalistas liberais contaram com as mesmas para lista), no início do processo a iniciativa é assumida
desenvolver poderosas bases de apoio. (Murphy, por personalidades isoladas — intelectuais, técni-
1994, p. 34) cos, freqüentemente funcionários — imaginativas
que, percebendo antes e/ou mais agudamente que
A consideração dos agentes e das relações os demais a emergência de problemas novos em
que mantêm entre si permite qualificar a afirmação dada área da vida econômica e social, dedicavam-
feita anteriormente sobre a natureza lógica do se a formular planos, muitas vezes quiméricos,
argumento de Murphy. Na realidade, ele combina para resolvê-los e a angariar apoio para as soluções
explicação histórica e explicação funcional. que advogavam. Murphy refere-se a elas como
É a conjugação sistemática desses dois ele- “constutoras de sistemas públicos” (“public system
mentos que organiza a parte mais rica de sua builders”), tomando de empréstimo a noção cu-
pesquisa, a saber: a reconstituição do processo nhada por David Chandler Jr. (1977) em seu estudo
histórico de formação dos organismos internacio- sobre a montagem da malha ferroviária nos Esta-
nais. Nesta reconstituição Murphy identifica algu- dos Unidos. Bentham é um exemplo notório. Mas
mas fases claramente diferenciadas: (a) conferênci- outros nomes menos conhecidos também repre-
as internacionais, convocadas tipicamente por reis, sentam dignamente a espécie. Como John Wright,
príncipes ou aristocratas poderosos — das quais engenheiro anglo-irlandês que trabalhou na cons-
resultavam, comumente, a constituição de grupos trução da rede ferroviária em Illinois, EUA, e
ad hoc para tratar dos temas agendados; (b) orga- depois disso passou a defender a criação de um
nizações estáveis, mas de natureza privada; (c) sistema ferroviário integrado em escala mundial
organizações intergovernamentais. como infra-estrutura para um mercado global de
Digo que esta parte é a mais rica porque é bens e receita certa para a edificação da paz
nela que se expõe o essencial do material da universal em bases definitivas.7 Ou James Lubin,
pesquisa. Rica e sugestiva. Com efeito, Murphy empresário e filantropo americano que defendia a
mostra muito bem como iniciativas motivadas pe- introdução de um sistema de tarifa única para
las preocupações privadas dos representantes mai- aumentar o volume de bens transportados por
ores da “velha ordem” — prestígio, busca de trens ou navios a vapor. Ou ainda este alto funci-
reconhecimento etc. — dão origem a organizações onário do governo suíco, Emile Frey, que é um dos
que, por atenderem a necessidades da ordem grandes precursores da Organização Internacional
emergente, consolidam-se, institucionalizam-se, do Trabalho.
burocratizam-se e acabam sendo encampadas pelo Na outra ponta da série histórica vamos
poder estatal. reencontrar os intelectuais e suas eternas rivalida-
UM OUTRO OLHAR 47

des. Mas agora eles não serão tipicamente repre- No entanto, não me estenderei sobre ne-
sentados por personalidades individuais, agindo nhum desses assuntos. Ao invés disso, usarei estas
por conta própria. Eles se profissionalizaram e se últimas páginas para um comentário que me repor-
converteram em agentes de organizações públicas tará ao tema aflorado no início deste artigo.
ou privadas que se interligam numa rede complexa Como ocorre em outros momentos, ao discu-
cujo centro é ocupado pela Organização das Na- tir as perspectivas de reordenamento internacio-
ções Unidas. nal, no final do livro, Murphy põe em confronto os
dois campos ideológicos já referidos: o liberalismo
Na administração de programas a ONU conta com internacionalista e o fundamentalismo liberal. Para
o suporte de agências privadas, e mantém relações o leitor mais cuidadoso, esta polaridade pode
similares com as comunidades intelectuais que afigurar-se demasiadamente esquemática. Para fi-
forneceram a maior parte das idéias para a expan- car em um único exemplo, ele estranharia a ausên-
são ou a reforma das organizações mundiais no cia de intelectuais mais diretamente ligados às
século XX. A relação do FMI com a economia “comunidades de segurança” de distintos países —
ortodoxa anglo-saxã, o papel de Richard Stone na embora Murphy chame a atenção para o fato de
criação da estatística das contas nacionais, e as que a indigência do pensamento liberal-internacio-
conexões de Raul Prebish com as tradições críticas nalista sobre esta dimensão, hoje como no passa-
da economia com foco no Terceiro Mundo estão do, talvez seja o seu ponto mais vulnerável.
longe de serem únicas. O silêncio sobre questões de segurança e as
O apoio do sistema da ONU a tais comunidades, organizações para elas voltadas, porém, não é
combinado com a sua própria capacidade de casual. Com efeito, ao desenhar a pesquisa Murphy
prover a liderança política necessária à reforma [...] concentrou-se propositalmente nas atividades civis
explica muitas das gritantes diferenças entre o das agências intergovernamentais, entre outros
trabalho das OIGs globais depois das guerras motivos por serem estas muito menos estudadas
mundiais e suas atividades no pré-guerra. (Mur- do que as suas congêneres de caráter militar.
phy, 1994, pp. 223-224) Quanto a este aspecto, não há muito a dizer. Não
se pode falar de tudo, e o autor está plenamente
Como se pode depreender da leitura destas justificado em sua decisão de limitar dessa forma o
passagens, o livro de Murphy reserva amplo espaço âmbito de seu estudo. Ainda assim, ele trabalha
ao tema da incorporação das regiões periféricas — com um universo de 184 entidades, o que é, em si
muitas das quais já lançadas, no final da Segunda mesmo, um feito temerário.
Guerra, em lutas de libertação nacional — salien- O problema não está aí. O que me parece
tando o papel das organizações internacionais no discutível na obra de Murphy é a maneira como ele
fomento econômico e na assistência social ao Ter- emprega a noção de “sociedade civil internacio-
ceiro Mundo e o significado estratégico mais amplo nal”, restringindo-a quase que exclusivamente à
dessas atividades na luta contra o comunismo. rede de organizações oficiais ou oficiosas. É verda-
Na confluência desses dois temas — as orien- de, aqui e ali surgem referências a organizações e
tações ideológicas que atravessam o campo das movimentos menos enquadrados na órbita dos
organizações internacionais e as relações “Norte/ Estados. Isto se dá, por exemplo, quando Murphy
Sul” — surge, por fim, a parte mais atual, mais discute o “keynesianismo ecológico global”, com
“vibrante” do livro, a saber: alguns tópicos do sua bandeira de “desenvolvimento sustentado”,
sétimo capítulo (“Prosperidade e desapontamen- que se apóia no trabalho rotineiro e nas mobiliza-
to”) e o último capítulo (“Em direção à nova ordem ções promovidas por atores tão pouco ortodoxos
mundial”), no qual a questão do conflito de orien- quanto a Greenpeace e o Interface Center on
tações reaparece em toda sua centralidade, e onde Responsability, este ligado ao Conselho Mundial
as “simpatias” do autor se revelam com maior de Igrejas. Verifica-se também nas passagens sobre
nitidez. as primeiras propostas de regulação internacional
48 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 15 No 42

das relações de trabalho e os antecedentes da problema da “sociedade civil internacional” e nos


organização que viria a ser criada para cuidar dessa interrogamos sobre a importância relativa das or-
questão, a OIT. Já aventado por socialistas utópi- ganizações não-governamentais nesse universo,
cos como Owen e conservadores “humanitários” especialmente das organizações “anti-sistêmicas”,
como Benjamin Disraeli, o tema da “legislação o fato de tomar o Estado como uma constante
internacional do trabalho” só toma vulto quando é constitui uma barreira que nos impede de reconhe-
apropriado pelo movimento de trabalhadores. O cer fenômenos e possibilidades históricas que não
relato de Murphy destaca a introdução desse item mais existem, mas que tiveram vigência em passa-
no programa aprovado pelo Congresso de Erfurt do não muito remoto. É o que sugere a passagem
— que unificou a social-democracia alemã, em de Giddens (1985, pp. 234-235) transcrita a seguir:
1891 — e a elevada prioridade que imediatamente
ele ganharia na agenda da Segunda Internacional [...] Muitos autores ainda tendem a supor [...] que
(Murphy, 1994, pp. 74-75). [...] a Primeira Guerra Mundial apenas acelerou
Mas não há muito mais. A reconstrução é tendências fadadas a emergir de qualquer maneira
toda ela comandada pela decisão metodológica no longo prazo. Mas esta visão é de todo implau-
inicial de concentrar a análise nas organizações sível e dificilmente poderia ser sustentada, não
intergovernamentais.8 Vale dizer, não há no estu- fosse a poderosa influência que as concepções
do de Murphy nenhuma tentativa de abordar endógenas e evolucionárias da mudança tiveram
sistematicamente a questão das “organizações não- nas ciências sociais. [...]
governamentais”. Nem sequer em termos abstra- Se o curso dos acontecimentos na Grande Guerra
tos, na construção do argumento geral, como [...] não tivesse tomado o rumo que tomou, o
acontece no trabalho clássico de Keohane e Nye Estado-nação em sua forma presente poderia não
(1989). Esta decisão não parece muito congruente se ter tornado a entidade política dominante no
com a declarada inspiração gramsciana de seu sistema mundial [...] não é, de maneira alguma,
trabalho, mas não me deterei neste aspecto. O que claro que na ausência da guerra as organizações
desejo salientar é que, em conseqüência dela, o socialistas internacionais preexistentes estariam
espaço internacional analisado por Murphy afigu- impedidas de emergir como atores-chave na polí-
ra-se muito mais disciplinado do que ele é hoje e tica mundial. A guerra desenvolveu a soberania
foi no passado, a dimensão de luta e conflito sendo dos Estados, associando-a de maneira tão profun-
reconhecida quase exclusivamente sob o prisma da à cidadania e ao nacionalismo que quaisquer
dos Estados e dos interesses ligados ao capital. outros cenários passaram a se afigurar como pou-
Estado e capital: aí a raiz do problema. Como co mais que fantasia ociosa.
já pudemos ver, o argumento central de Murphy
associa ondas de inovação tecnológicas, a impossi- Em relação ao argumento de Giddens, há
bilidade de os Estados atenderem aos requisitos de que distinguir três elementos: o enunciado meto-
ampliação dos mercados agindo isoladamente, e as dológico sobre a indeterminação relativa das gran-
organizações intergovernamentais. Seu estudo co- des mudanças históricas; a proposição sobre a
bre um amplo período histórico, mas ao longo de importância decisiva da Primeira Guerra Mundial
todo o percurso o mecanismo operante permanece na constituição dos Estados nacionais europeus; e
o mesmo. Nesse esquema, Estado e mercado são a hipótese contrafactual que vem apoiá-la, qual
tidos como dados. Suas respectivas configurações seja: “na ausência da guerra, as organizações inter-
por certo variam ao longo do tempo, mas o papel nacionais do movimento socialista poderiam surgir
de um e de outro na explicação se mantém cons- como protagonistas da política internacional”. Im-
tante. plícita nesta hipótese está uma resposta positiva à
Aplicado à questão da origem das organiza- pergunta sobre a importância do internacionalismo
ções intergovernamentais, esse esquema funciona no movimento socialista na virada do século, em
bastante bem. Contudo, quando introduzimos o suas duas frentes de luta principais: a campanha
UM OUTRO OLHAR 49

pela regulamentação das relações de trabalho e a ansiosos com sua reação em caso de guerra. O
mobilização contra o militarismo, o esforço para ministro do Interior francês havia redigido uma
evitar a eclosão de uma guerra global na Europa. lista — o famoso Carnet B — de militantes sindi-
No centro da discussão, os programas, a ação e o calistas e socialistas a serem presos imediatamente
significado político da Segunda Internacional. na eventualidade da guerra. Os alemães estavam,
Trata-se, evidentemente, de questão contro- igualmente, preocupados com a força crescente
versa. Os historiadores divergem quanto ao impac- dos socialistas, e o governo já mantinha contatos
to do movimento internacional pelos direitos do com personalidades da Social-Democracia que
trabalho. G.D.H. Cole (1986), por exemplo, consi- julgava sensíveis a apelos patrióticos [...] (Joll,
dera “impressionante” o efeito produzido pelo 1966, p. 150)
simbolismo que envolvia o Primeiro de Maio dos
Trabalhadores, criado em 1889 como data de Não importa. A despeito das diferenças de
comemorações e lutas simultâneas em todos os juízo sobre o peso relativo do componente inter-
cantos do mundo. Para ele existe uma conexão nacionalista no socialismo europeu na virada do
direta entre a rápida difusão de demandas de século, os dados gerais do problema são bastante
legislação social (jornada de oito horas, proibição claros. Centradas em valores eminentemente uni-
de trabalho em condições insalubres e perigosas, versalistas, as ideologias socialistas irradiam-se
por exemplo) e dois eventos que marcaram a em meados do século XIX a partir de uma rede
entrada do tema do trabalho na agenda internaci- cosmopolita de intelectuais e exilados que se
onal: a conferência convocada pelo kaiser William espalhavam pelas metrópoles liberais da Europa
II, em 1890, para estudar o problema da “legislação e se mantinham em permanente contato através
internacional operária” e a encíclica papal Rerum de circuitos de cafés, clubes e jornais, e de inten-
novarum, de maio de 1891 (Cole, 1986, p. 25). sa troca epistolar. A existência dessa “infra-estru-
A versão apresentada por um historiador tura de comunicação” e da comunidade transna-
importante como James Joll é menos sanguínea: cional por ela vertebrada conferia realidade social
reconhecendo a grandiosidade da idéia do Primei- ao internacionalismo do movimento socialista em
ro de Maio, ele enfatiza as dificuldades de coorde- seus primórdios.9 A partir do momento em que o
nação internacional das lutas (“depois de 1892 ela socialismo, em suas diversas vertentes, logra im-
deixa de ser uma manifestação internacional coor- plantar-se em movimentos organizados de traba-
denada de larga escala” — Joll, 1966, p. 54) e lhadores em diferentes países, forçando os Esta-
atribui a convocação da Conferência Internacional dos a atender às suas demandas, seja mediante a
de Berlim a fatores domésticos (a greve dos minei- promulgação de leis de proteção ao trabalho, seja
ros do Ruhr, no verão de 1889, e o crescimento através da ampliação do sufrágio, ele, por assim
eleitoral da social-democracia alemã). No tocante à dizer, nacionaliza-se. Em 1889, quando da funda-
campanha antibelicista do socialismo internacio- ção da Segunda Internacional, em vários países
nal, as divergências talvez sejam menores. O episó- esse processo já havia avançado consideravel-
dio é reconstituído, em toda sua dramaticidade, na mente. Na Inglaterra, o terceiro quartel do século
obra de Haupt (1973) sobre a Grande Guerra e o XIX assiste à produção de inúmeras leis sociais e
colapso da Segunda Internacional. Mas mesmo no à reforma eleitoral de 1867, que estende o direito
livro de Joll podemos encontrar indicações elo- de voto a amplas camadas das classes populares.
qüentes como esta, sobre o impacto da articulação Na Alemanha, tendo sido vítima de uma estraté-
entre o socialismo francês e a social-democracia gia que combinava programas inovadores de pro-
alemã em seu esforço conjunto para bloquear o teção social e uma legislação política altamente
caminho que levaria à catástrofe em 1914: repressiva (as “leis anti-socialistas” de Bismark), o
Partido Social-Democrata podia agir desembara-
[...] ambos os governos estavam preocupados com çadamente, crescendo continuamente em elei-
o tamanho e as atividades dos dois partidos, e ções que se travavam agora sob a regra do sufrá-
50 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 15 No 42

gio universal.10 No que se refere ao reconheci- Ora, se Giddens tem razão, podemos voltar
mento de direitos trabalhistas, a França fica atrás ao tema de que falávamos e dirigir a Craig Murphy
de seus grandes rivais, mas a presença dos socia- a crítica que se segue: talvez seja legítimo tomar a
listas se fazia pesadamente sentir na cena política: rede das organizações intergovernamentais como
depois do affair Dreiffus, o socialista-indepen- o tecido da “sociedade civil internacional”, mas
dente Alexandre Millerand abre um precedente apenas quando tratamos de um período histórico
histórico ao aceitar o convite para assumir o pos- localizado, a saber, aquele compreendido entre o
to de ministro do Comércio no gabinete de Wal- fim da Segunda Guerra e o fim da Guerra Fria. Não
deck-Rousseau.11 Nesse contexto, a generalização sei que uso fazer dessa categoria no tocante ao
formulada por Mann (1993, p. 784) parece-me de entreguerras. E se quisermos adotá-la para pensar
todo justificada: a política internacional na época do capitalismo
liberal e nos dias de hoje devemos ampliar-lhe o
Mutualistas, sociais-democratas e marxistas dirigi- alcance para incluir em seu universo movimentos
am suas demandas ao Estado nacional e, dessa anti-sistêmicos e organizações não (ou não inteira-
forma, fortaleciam-no. Todo êxito que obtinham mente) governamentais.
reforçava o vínculo nacional. O Estado nacional Disse anteriormente que este comentário me
era o único contexto realista no qual os direitos remeteria ao começo do artigo. Parece que é hora
civis coletivos ou a redistribruição de poder, rique- de verificar se eu estava certo.
za e segurança poderiam se concretizar. A classe Como vimos, Murphy descreve o debate de
trabalhadora nacionalizou-se porque a sociedade propostas sobre a ordem internacional em termos
civil passou a ser regulada pela autoridade do de um confronto entre liberais fundamentalistas e
Estado nacional. internacionalistas liberais. Creio existir certa ho-
mologia entre essa caracterização e aquela que
Esse fato reflete-se na própria estrutura da fiz da disciplina das Relações Internacionais. À
Segunda Internacional, que nasce como uma fe- primeira vista, esta afirmativa esbarra em duas
deração frouxa de partidos e grupamentos de dificuldades, que podem ser facilmente contorna-
base nacional, e que nunca consegiu superar das.
esse estado, embora, desde 1896, conte com um 1) Por um lado, o realismo clássico, com sua
comitê executivo e secretaria fixos, sediados em ênfase típica na anarquia, na ação egoística e na
Londres. insegurança constitutivas do sistema internacional
Tudo isso é sabido. Mas nada disso invalida parece não ter lugar no quadro montado por
o argumento de Giddens. O qual demanda ape- Murphy. Isto se explica pelo fato de o autor ter
nas dois pontos de apoio para se sustentar: (1) na voluntariamente restringido seu estudo às ativida-
idéia da existência, limitada que fosse, de um des civis das organizações internacionais, deixan-
componente internacionalista importante no soci- do de fora as questões relativas à segurança e,
alismo do pré-guerra (o que ninguém nega) e (2) conseqüentemente, às “comunidades epistêmicas”
na tese de que a extraordinária mobilização de que se estruturam em torno delas.
recursos materiais e simbólicos requerida pela 2) Por outro, o ponto de vista que informa
Grande Guerra consagrou definitivamente o Esta- o liberalismo fundamentalista parece estar ausen-
do nacional como ente regulador da vida econô- te no “campo” das Relações Internacionais. Este
mica e social e como referência básica no proces- traço também é facilmente compreensível. O libe-
so de formação de identidades sociais, mesmo no ralismo econômico funda-se na utopia do merca-
caso das classes populares. Neste ponto Giddens do auto-regulado Nesse discurso, como sugere
tem a companhia de alguns expoentes da Socio- Rosanvalon (1979), o papel do Estado permanece
logia Histórica, bastando mencionar, além do ci- indeterminado. Como nas famosas “exceções” de
tado Michael Mann, Charles Tilly (1994) e Martin Adam Smith, sua presença é admitida para preen-
Shaw (1994, especialmente cap. 6). cher condições necessárias mas não asseguradas
UM OUTRO OLHAR 51

pelo funcionamento espontâneo dos mecanismos NOTAS


de mercado. Mas esse reconhecimento é pura-
mente negativo. O liberalismo econômico carece 1 Testemunho autorizado das transformações em curso
de uma teoria positiva do Estado. De seu ponto no campo da Ciência Política norte-americana pode ser
encontrado em Easton (1969).
de vista próprio, isto não chega a ser um incon-
2 Além da obra editada por James Farr et al., cumpre
veniente. Afirmando, por princípio, a excelência mencionar, dentre outros trabalhos recentes, Ricci
do mercado idealizado, carente de — ou des- (1984), Easton, Gunnell e Graziano (1991), Farr e Seidel-
comprometido com — qualquer definição positi- man (1993), Berndtson (1987) e Dryzek e Leonard
(1988).
va sobre o papel e os limites da ação estatal, o
liberalismo econômico forjou para si um podero- 3 Discussões em torno do tema de um ponto de vista
crítico ao neo-realismo podem ser encontradas em
so dispositivo retórico que lhe permite, em qual- Lebow e Risse-Kappen (1995).
quer momento e em quaisquer circunstâncias, 4 Uma caracterização mais detalhada desse processo, e
denunciar como excessiva e despótica a interven- compatível com a que se faz aqui, aparece no artigo de
ção do Estado. É assim que, ao criticar o welfare Ole Waever (1996).
state, no final do século XX, Hayek, Friedman e 5 O texto inaugural de Robert Cox, “Social forces, states,
and world orders: beyond international relations the-
cia. repetem argumentos formulados por Spencer
ory”, foi publicado em 1981 e posteriormente incluído,
(1969) contra os tímidos ensaios de assistência em edição revista, no livro editado por R.O. Keohane
social da Inglaterra vitoriana. (1986), Neorealists and its critics. Outros textos do autor
Mas os liberais fundamentalistas não habitam relevantes no quadro da presente discussão são Cox
(1983 e 1987).
um mundo de sonhos. No terra a terra em que
6 O argumento está desenvolvido em Keohane (1984).
operam, os Estados existem e prestam serviços
7 Suas idéias foram expostas em panfleto publicado em
valiosos. Gramsci e Polany, entre outros, enfatiza-
1851, com este título delicioso: “Chritianity and com-
ram as dimensões políticas do liberalismo econô- merce, the natural results of the geographical progress-
mico; é desnecessário insistir neste ponto. Mas, ao ion of the railroad, or a treatise on the advantage of the
fazê-lo, tinham em vista, predominantemente, a universal extension of railways in our colonies and
other countries, and the probability of increased natio-
política interna. Quando consideramos a questão nal intercommunication leading to the early resptorat-
sob o prisma das Relações Internacionais, o libera- ion of the land of promise to the jews.”
lismo econômico aparece em posição ambivalente. 8 O autor começa assim a descrição da metodologia utili-
Em capitalismos periféricos ele estará associado a zada em sua investigação: “O método que escolhi para o
meu estudo assemelha-se àquele da última geração de
orientações e tendências que favoreçam sistemati-
medievalistas. Coletando e categorizando sistematica-
camente a busca de acomodação e de soluções de mente muito da informação sobre as atividades regulares
compromisso com os Estados capitalistas centrais. e contínuas das organizações mundiais encontrável nos
Nas potências hegemônicas, por sua vez, ele apa- vários estudos sobre agências globais, eu estaria em con-
dições de oferecer uma base ainda mais forte para gene-
recerá em aliança com falcões e realistas, denunci- ralizações acerca de organizações mundiais [...] Concen-
ando em conjunto o “idealismo” do “internaciona- trei-me em suas atividades ‘civis’, não-militares. Comecei
lismo liberal”. por elaborar uma lista abrangente de ‘agências intergo-
vernamentais potencialmente universais — isto é, orga-
Com isso quero sugerir que existem relações nizações intergovernamentais a que qualquer Estado pu-
de afinidade entre as orientações normativas em desse aderir [...]”. Murphy, 1994, pp. 286-287.
confronto no âmbito da “sociedade civil internaci- 9 Nesta parte, acompanho de perto a análise desenvolvida
onal” e as vertentes principais do debate que se por Michael Mann (1993, pp. 783 e ss.).
trava no interior do “campo” das Relações Interna- 10 Sobre a trajetória da social-democracia alemã nesse
cionais. Sendo assim, é razoável supor que a período, veja, além dos textos já mencionados, Rovan
(1978) e Roth (1978).
abertura daquela, com a incorporação crescente de
11 A participação de líderes socialistas, à frente do quais se
movimentos e organizações menos controlados
postava Jaurès, na campanha em prol de Dreiffus e o
pelos Estados nacionais, tenha algo a ver com a episódio Millerand desatariam forte celeuma nas hostes
superação da dualidade “realismo” versus “libera- do socialismo francês e no seio da própria Internacional
lismo” que marca a disciplina na atualidade. Socialista.
52 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 15 No 42

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