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COLEMAN, Max. Anomie: Concept, Theory, Research Promise. Senior Honors Thesis.

Oberlin
College, April 2014;

Apresentação: Tese defendida para títulode PhD por Max Coleman na faculdade de Oberlin, em
Ohio nos EUA. A centralidade da discussão e as aproximações teóricas com a escola de Chicago o a
escola francesa são desconhecidas.

Coleman atravessa as problemáticas pertinentes ao conceito de anomia, desde a sua


apresentação/debute por Durkheim até questões contemporâneas em pertinência ao tema. Ao
longo da discussão, ele perpassa críticas aplicadas à definida teoria da anomia.

Considerações superficiais sobre a anomia: Aparentemente duas escolas perpassaram o debate


acadêmico sobre anomia, a escola de Chicago e a escola francesa. Goffman e Foucault,
presumidamente, aproximaram-se dos cânones presentes para construir seus debates particulares
acerca das instituições e da saúde mental. [Posso estar muito enganado]

Resumo:

ANOMIA SOCIAL =/ DESVIO SOCIAL

Desde Durkheim, anomia tem sido rediscutida como desvio social. O trabalho de Coleman
pretende resgatar a noção durkheimniana de anomia, e o debate por Merton e Parson. Assim
como fazer a crítica do termo. Levanta o declínio da anomia frente ao interacionismo simbólico e
sua não apropriação frente a escolhas políticas dentro da sociologia.

“Finally, we argue that the United States is a highly anomic nation, with its focus on freedom,
eternal striving, and self-advancement. We apply a Durkheimian perspective to contemporary
issues like mental illness, exploring rising rates of depression, anxiety, and suicide as a
consequence of these anomic conditions.” From the abstract.

I. What is Anomie?

Introduction

A aplicação do conceito de Anomia remete à produção teórica do fundador do campo sociológico,


Émile Durkheim, e é intrinsicamente relacionado/pertinente à própria Sociologia. Da mesma
maneira, os termos implicados sobre a sociologia durkheimniana recaem sobre a teoria da
anomia. (pg. 6)

Phillipe Besnard, principal expoente da discussão sobre o termo, alega em fins da década de 1980
o momento de esquecimento/apagamento da anomia. [Besnard publica um livro francês –
L’anomie, ses usages et ses foncions dans la discipline sociologique depuis Durkheim).

“After a period of disuse, the term resurfaced in the 1930s in the works of Elton Mayo, Talcott
Parsons, and Robert Merton. The 1950s saw a heavy backlash against anomie theory, since it was
associated with functionalism and therefore seen as conservative. But the term revived itself,
again, in the work of criminologists and psychologists who used anomie to explain deviance and
“disaffection”, respectively (Borgatta & Montgomery 2000: 165).”

É parte da tese de Coleman que, apesar da discussão sobre anomia ter decaído, aquilo que
determina como campo científico de análise tem se expandido de modo alarmante nos Estados
Unidos. Da perspectiva da saúde tem disparado taxas de depressão e ansiedade nas últimas
décadas, em comparação ao século anterior; Do lado comportamental (behaviour), suicídios de
soldados e homícidios em massa (mass shootings). (Pg. 7-8)

“It is my contention that anomie theory is declining at the precise moment it is most needed. Put
another way, the term is losing its place in the literature just when its explanatory power is
greatest.” (pg. 8)

Anomie in The Division of Labor

Na dissertação acadêmica de Durkheim, a Divisão do Trabalho, é apresentada uma primeira


compreensão do conceito de anomia em sua perspectiva econômica.

A seguir, compreeensão de Coleman de divisão anômica do trabalho, densidade dinâmica e


solidariedade orgânica:

Divisão anômica do trabalho – “As society progresses, jobs become specialized, and individuals
rely on each other for specific social functions. (…). Without consistent interaction, individuals
become atomized, performing distinct social functions but not acquiring a sense of mutual need.”
Densidade Dinâmica – “Normally, the division of labor requires what Durkheim calls ‘dynamic
density’, which is not only density of population (an inevitable result of urbanization), but a high
frequency of interaction.”

Solidariedade orgânica – “This mutual dependence creates a sense of shared destiny around which
individuals can coalesce.”

Partindo de Ritzer e Goodman, a divisão anômica do trabalho corresponde a uma falta de


dependência mútua e propósito que deveria abarcar a sociedade e impulsionar seus indivíduos a
agir e pensar coletivamente. Ela é uma maneira de coagir e impulsionar o indivíduo, algo que
remete ao fato social de Durkheim. Segundo o barbudinho, ainda que seja fruto da modernização,
a divisão de trabalho e a modernização são processos desejáveis que não necessariamente
produzem a fragmentação dos individuos na sociedade, mas podem ser mantidos em equilíbrio.

“I say constraint, and not guidance, because anomie is above all a moral concern. It is not that
society should tell us what to do, but rather, that it should tell us what we must not do: it
constrain our desires.”(pg. 11)

Anomie in Suicide

Apresenta uma transição entre um debate econômico sobre a noção de anomia e um debate
filosófico. Tem importância equivalente ao segundo prefácio da Divisão Social do Trabalho.

Sob a influência do discurso progressista, o intelecto humano é sua maior conquista


(accomplishment) e também sua desgraça (downfall), porque o ser humano não se satisfaz com
suas necessidades corpóreas.

Apresenta um discurso sobre imaginação. E também um debate que diverge ao pensamento


freudiano. “it is not our “drives” that produce desire, but our capacity for imagination: ‘Beyond the
pleasures that we have experienced, we imagine and yearn for others, and if one should happen
to have more or less exhausted the realm of the possible, one dreams of the impossible – one
thirsts for what is not.”

Individuos não se regulam por conta própria. É necessário uma disciplina de uma autoridade
respeitada pelo indivíduo e frente a qual ele se submete – autoridade compreendida na forma de
sociedade. “Society is the only moral power superior to the individual whose superiority the
individual accepts. It alone has the necessary authority to state the law and to set the point
beyond which the passions may not go (1897/2006:272).” Sociedade é uma força reguladora do
indivíduo. Pg. 14

“When social facts [Num disse!?] do not properly constrain desire, society has failed to perform its
essential function. It was not by accident that Durkheim used ‘social’ and ‘moral’ interchangeably:
he felt that only through shared moral constraints (the conscience collective) could individuals live
together in a stable society. If morality is the set of constraints governing society, then society is
the set of constraints governing morality; they are one and the same.” Pg. 15

“So the pain of anomie is not merely that of unmet desire. It also comes from the profound
confusion—Durkheim says dérèglement or “madness”—of living in a society without proper
ethical rules (Meštrović 1987). When the rate of change in a society occurs faster than new
constraints can form (“acute anomie”) or when those constraints simply do not exist (“chronic
anomie”), the individual is literally unable to be moral. One’s moral character is no longer secure;
suddenly all venues are open to pursuit, and desire and madness emerge in equal measure.”

Diferencia fato social de norma e valores sociais. O fato social compele e age coercitivamente pela
inclusão do indivíduo na sociedade, enquanto os valores derivados de uma tradição podem infligir
sobre a moral individual. Ele utiliza, por exemplo, a noção de liberdade individual e escolha
presente no imaginário das sociedades ocidentais. Essas normas seriam capazes de gerar condição
anômica, inves de remedia-la.

“If there is any simple definition of anomie, this is it: the suffering caused by unrestrained desire.
Everything else follows from this principle. All the symptoms of anomie – anxiety, weariness,
disenchantment, unease, agitation, discontent, and groping, as Durkheim variously wrote – are
linked to ‘frustrations of desire’. (...) It is desire that is painful – specifically, the overflow of desire
that social facts have not properly constrained. When this desire becomes overwhelming, it leads
us to take our own lives.” Pg. 16

O suicídio anômico é portanto a forma mais drástica da condição anômica. Coleman aponta nesse
caso uma crítica a Durkheim, a anomia não seria revelada somente pelo suicídio – este é somente
um ponto no spectrum da anomia, um ponto estrategicamente irrevogável proposto pelo francês.
Argumento conhecido. Base para a discussão sobre o suicídio na sociedade frances, Durkheim
estabelece a influência da mudança econômica sobre a psique do indivíduo – distúrbios na ordem
coletiva – resultantes em sofrimento individual. Analisa, portanto, que tanto em períodos de
crescimento como de crise econômicas, há aumento na taxa de suicídios.

“In the event of an economic disaster, there is something like a ‘declassification’ which suddenly
casts certain individuals into a situation below that which they previously occupied. They
consequently have to lower their demands, to restrict their needs and learn to restrain themselves
more. As far as they are concerned, all the fruits of social action are lost and their moral education
has to be redone. But it is not possible for society to subject them to this new life instantaneously,
and teach them to exercise this additional restraint on themselves when they are not accustomed
to it. The outcome is that they are not adjusted to the condition that they occupy and the very
prospect of it is intolerable to them. Hence the sufferings that detach them from a diminished
form of life even before they have experienced it (1897/2006: 276)” pg. 18 – apud. Durkheim

Anômia econômica aguda – a mudança econômica repentina rompe com a impulsão/constrição


social e produz anomia.

Anômia crônica – o aumento de riqueza produz anomia a partir da satisfação do indivíduo com sua
condição e incapacidade de lidar com o aumento do desejo e a imaginação irrefreada.

Debate: The Causes of Desire (pg. 23)

Necessidade de compreender de onde vem o desejo na obra durkheimniana, no Suicídio, é claro.


Para tal, deve-se buscar a concepção de natureza humana em Durkheim. Ao que Coleman afirma
que tanto o aspecto biológico (psicológico) e o social são subjacentes ao desejo, em contraste a
crença de Mestrovic sobre o caráter inteiramente biológico. Essa é uma questão interessante,
aproximando o desejo humano de noções particulares do convívio social e biológico, retirando
dessa forma o livre arbítrio da nossa psíquica (?) de desejo.
Coleman afirma que é a imaginação que nos separa da condição de animais, não nossas
capacidades sociais como argumenta Besnard. Iniciando o debate, ele traz a tona a opinião de
Merton – Durkheim vê a sociedade como uma força constritora, não considerando (como Merton
o faz) as características culturais do desejo.
Descontrói Merton, ao afirmar que a noção de cultura como geradora de anomia já foi
precedida por Durkheim. Parte para noções descritas no artigo de Merton – desejo a partir do
individuo e santificado pela sociedade, encorajado como marca de distinção social; ganância
(egoísmo) estimulado por forças sociais.
“Later in the book Durkheim generalizes this insight and puts forward the view that the leading
common moral sentiment of our society is an ethical valuation of individual personality as such.
This is the more general phenomenon of which the Protestant version of religious freedom and
responsibility is a special case. . . . The fundamentals of the system of normative rules governing
contract and exchange by virtue of which ‘organic solidarity’ is possible, are, in certain respects at
least, an expression of the cult of individual personality. This is not a matter simply of freeing the
individual from ethical restraints imposed by society, it is a matter of the imposition of a different
kind of ethical restraint. Individuality is a product of a certain social state, of the conscience
collective (Parsons 1937: 333–34)” p. 26
Analisa a partir desse excerto um culto na modernidade de personalidade individual e a
produção de desejos que não conseguem se satisfazer – autodeterminação, etc. Para concluir,
retoma a ideia sobre biologia e psicologia, criticando Bernard ao ver Durkheim como uma
construção social do desejo. Para ele Durkheim advoga pelo cerceamento social do desejo, mas
reconhece a cultura como geradora de desejo.
ATENTAR AO DEBATE – INTEGRAÇÃO E REGULAÇÃO (Cap. 4 do Suicídio)

“Indeed, this is probably why he distinguished between integration and regulation, a contrast
many theorists have claimed not to understand. The latter refers only to social facts— moral
constraints on individual will—but not all norms and values are constraining. Some, as
Protestantism shows us, actually demand the exercise of the will. “ p. 27
A meu ver são dois fatores presentes no cerceamento social do individuo. Não podem ser
pensamentos individualmente, ambos se referem ao fato social.

Merton Vs Durkheim : ou o desejo é biológico ou não é?

Mental Health (pg. 120)


Nesse capítulo, Coleman aponta o tópico de saúde mental e a necessidade do debate sobre teoria
da anomia tendo por justificava o aumento de ocorrências anômicas na sociedade americana,
listadas da seguinte forma: depressão, assassinatos escolares em massa (school shootings),
ansiedade e ansiedade crônica.

Ainda assim, a depressão não é um problema inquestionavelmente americano. Coleman faltou nas
aulas sobre modernidade e globalização, ao que parece. É um problema em crescente disparada
desde a década de 80 por razões econômicas e sócioculturais. Uma falácia similar seria afirmar
que a violência nos manicômios e a negligência de responsabilidade é um problema
exclusivamente brasileiro.

“This is a crisis, and it is shocking that sociologists have not been more vocal. Psychologists have
certainly had their say, but since psychology is (primarily) a study of the human brain, how could it
possibly explain the rise in depression and anxiety, excepet to say that American brains are
suddenly prone (as never before) to a whole host of mental illnesses?” pp. 121-122

Referência: Liah Greenfeld. Mind, Madness, Modernity.

Para Coleman, a sociedade Americana gera como fato social um ciclo contínuo de depressão. O
estímulo recebido pelo indíviduo para “nunca desistir de seus sonhos” (“we are told never to give
up on our goals!”) produz frustrações repetidas. Se a depressão permitiria proteger o indivíduo de
objetivos inatingíveis, o desejo não é frustrado e continua a levá-lo a decepções. O resultado é
uma situação profunda de melancolia. Isso parece muito livro de auto-ajuda.

“Depression, as I have hoped to show, is merely a keen form of the anomie Durkheim described. It
is the painful gap between desires and the ability to fulfill them. In other cultures (especially those
influenced by Buddhism), depression is less of a problem—tremendous value is placed on
“detachment,” accepting that what we want may never come to fruition.” P. 126

Citações úteis do Coleman sobre Durkheim, enfatizando “social constraint”:


“A regulatory force must play the same role for non-physical needs as the organism does for
physical ones; which means that this force can only be moral. It was the awakening of conscience
that disrupted the state of equilibrium in which the animal slumbered, so only conscience can
supply the means to re-establish it. Material constraints would be ineffective here: it is not with
physico-chemical forces that one can change the heart of man. To the extent that appetites are
not automatically contained by physiological mechanisms, they can only be halted by a boundary
that they recognize as just (1897/2006: 272, emphasis added).”

“This relative limitation and the moderation that results are what make men content with their lot,
while at the same time giving them moderate encouragement to improve it; and it is this average
contentment that gives rise to feelings of calm, active happiness, to the pleasure at being and
living which, for societies as for individuals, is a sign of health (1897/2006: 274, emphasis added).”
[Tirar conclusões pós-almoço!]

Ainda assim, os excertos parecem mais ricos do que Coleman tira proveito. Não é somente uma
noção de felicidade ou satisfação individual, a noção tem de ser revertida por aspecto social.

Conclusions:
Além da depressão e ansiedade como características da crise anômica, há também esquizofrenia e
transtorno bipolar, histeria em massa. Depressão e ansiedade são os termos mencionados por
Durkheim que se relacionam com anomia.

“As Ethan Watters explains in his brilliant work Crazy Like Us, societies typically draw from
a “symptom pool” of recognized illnesses. This radical claim deserves some elaboration: Watters
writes that individual disorders are often manifestations of a larger social ill. The vague social
unease we feel during, say, the modernization process (Stearns 2012: 24) expresses itself in
different forms depending on particular social circumstances. [...]What I am getting at is that
depression and anxiety may serve the same purpose today. Certainly, the two are more
complicated—there is much evidence for biological as well as environmental causes—but the
prevalence of these phenomena indicates that they are part of the symptom pool. Indeed, there is
no stronger evidence that this is the case than the fact that both are over-diagnosed. Nearly
everyone who seeks out a therapist will be diagnosed with an anxiety or mood disorder, if they so
desire. Diagnosis is the cultural means by which we validate one another’s pain; not to diagnose
would be to deny one’s lived experience.
As I have illustrated, anomie is a social problem whose individual expression varies.
The anomic condition produces symptoms as diverse as anxiety, weariness,
disenchantment, unease, agitation, discontent, and groping. We have already shown how anomie
causes depression and anxiety; I would like to go further and suggest that anomie could cause
many other symptoms, depending on cultural factors. Indeed, anomie could probably cause any
symptom—restless limbs, uncontrollable screaming, haunting by one’s ancestors—as long as
these are part of the symptom pool.
While Durkheim explicitly tied anomie to mental health, he surely recognized the potential
for cultural variation. Depression and anxiety may be good measures of anomie in the United
States, but not in other countries. But because they are so prevalent here, and serve as legitimate
expressions of social unease, they may help us to track changes in the anomic current.” Pp. 130-
131 [Tirar conclusões pós-almoço!]

III. LOOKING FORWARD: THE SOLUTION TO ANOMIE (p. 142)

The Decline of Anomie Theory (pg. 79)


Phillipe Besnard: anomia é popular precisamente porque é vaga, pode ser tradicionalista ou
transformadora, conservadora ou progressiva, etc.
Segundo Coleman, teoria anômica é criticada por acadêmicos como obsoleta, e rejeitada por seu
estrutural funcionalismo.
Razões, segundo Coleman para o declínio do estudo da teoria da anomia foram embasadas em
acusações de fraca metodologia, sexismo e autoritarismo, pouca profundidade, dentre outras. Ele
utiliza da análise de Agnew e Passas (da criminologia) para embasar o argumento:
“The popularity of strain/anomie theory declined in the late 1960’s due to the lack of
empirical evidence put forth by researchers and the political climate of the decade. The lack of
supporting data can be attributed to several flaws in the original research methods employed by
the researchers. Inappropriate methodology, oversimplification of theory, and a neglect of the
previous revisions resulted in a body of work that misrepresented the original purpose of
anomie/strain theory. (Agnew and Passas, 1997: 5-7).”
O que coleman considera na verdade, é a resistência tomada ao funcionalismo entre as
décadas de 1960 e 1970, enquanto adquiria hegemonia. Em Durkheim, segundo Coleman, há uma
base de pensamento funcionalista, mas este foi teoricamente explorado por Talcott Parsons e
Robert Merton. Para esses dois intelectuais, a teoria da anomia absorveria o conceito
funcionalista. Com a crítica dura às estruturas estáticas e sua alegada incapacidade de analisar o
conflito social – devido ao crescimento teórico do marximo -, ela foi esquecida.
“Indeed, the New Left may have been largely responsible for the rejection of anomie
theory. The movement, which challenged patriarchy, imperialism, and heterosexism, sought
freedom from all constraints and the collapse of traditional authority structures. Naturally, a
theory like anomie, which preached the merits of constraint, could not remain popular.” P. 82
Coleman passa então, a dicotomizar a teoria durkheimniana e a marxiana:
“In large measure, Durkheim sides with Hobbes and Freud where Marx sides with
Rousseau and the Utopians. For the former, man is a bundle of desires, which needs to be
regulated, tamed, repressed, manipulated and given direction for the sake of social order,
whereas, for the latter, man is still an angel, rational and good, who requires a rational and good
society in which to develop his essential nature – a ‘form of association in which each, while
uniting himself with all, may still obey himself alone.’ For the former, coercion, external authority
and restraint are necessary and desirable for social order and individual happiness; for the latter,
they are an offense against reason and an attack upon freedom (Lukes 1977: 84, emphasis
added).”
Sendo assim, ele contrapõe o controle comunitário durkheimniano a liberdade
individualista marxista, o que nos faz crer que Coleman (na verdade ele afirma expor o
pensamento de Ritzer & Goodman) vive no mundo das fadas. Empregar teoria anômica dentro da
pesquisa marxista? Ok, isso não presta, mas não quer dizer que as correntes são tão facilmente
compreendidas – é uma falácia extremamente simplista. Coleman sai pela tangente, diz que a
teoria da anomia foi suprimida pelo pensamento marxista emergente porque este seria mais
conveniente ao período político. NÃO é tão fácil assim. Ele passa então, a apresentar outras
teorias emergentes no período, como teoria das trocas (?), de Homans, embasada no
comportamento individual e na interação. Desse individualismo surge a sociologia fenomenológica
de Schütz, a análise dramatúrgica de Goffman, a etnometodologia de Garfinkel e o interacionismo
simbólico de Mead. Isso está um tanto quanto desvirtuado, essas teorias tem correspondências
entre si, como a relação do pensamento de Mead com aquele de Goffman, por exemplo. Eles
representavam períodos diferentes da Escola de Chicago, afinal.
A parte realmente relevante da discussão vem através de Stjepan Mestrovic, que não vai
entrar pro projeto mas pode entrar pra dissertação, que é dono da seguinte fala,
interessantíssima:
“First, most of Durkheim’s graduate students, colleagues, and followers were killed in
World Wars I and II. Really, only Marcel Mauss was left to carry the Durkheim cause, and Mauss
was assimilated by anthropologists more than by sociologists. Second, Durkheim is still regarded
today as one of the several founding fathers of anthropology… But anthropologists are most
interested in Durkheim’s ethnographic approach in The Elementary Forms, and not in anomie,
which applies more to modern societies. Third, it was Parsons and Merton who really injected
Durkheim into American sociology, and they did so with the wrong interpretation of
‘normlessness’. When functionalism was pretty much jettisoned in the 1960s, anomie was thrown
out with the bathwater of Parsonian functionalism.”
Para Coleman, Mestrovic afirma que a real compreensão de Durkheim sobre anomia
nunca realmente entrou no discurso americano, e que em 1920 (Mead?) a Escola de Chicago se
aproximou do pensamento verdadeiro (!?) de durkheim, mas foi desvirtuado pelo interacionismo
simbólico. Sinceramente, eu não sei o que Coleman quer tanto em resgatar SOMENTE a anomia –
como uma ideia de anomia pura.
Após as décadas de 1960 e 1970, esse debate –mas não durkheim per se – se restringiriam
aos campos da criminologia e da psicologia, de modo extremamente especializado. Se formos
procurar pela ressurreição da anomia, não vamos encontrar, mas encontraremos um debate
reapropriado através da teoria do desvio e da delinquência, perpassando Durkheim e
ressignificando Merton (confere?). “
Há portanto uma transição entre anomia como teoria sociológica a compreender a
pressão e força social para um efeito desviante sobre o indivíduo – uma estigmatização. Essa
transição ocorre entre a teoria da anomia per se e a teoria do desvio social.
“Nonetheless, anomie has largely survived because of its contemporary use in criminology.
For those of us who prefer Durkheim’s original definition, that observation is bittersweet. We may
be grateful to Merton for keeping anomie theory alive, but also frustrated that the term has
become so distorted over time. The word “anomie” is now applied to individuals rather than
societies, describing the “anomic” pathology that leads one to, say, rob a bank or cheat on tests.
Here anomie has little to do with frustrations of desire, and everything to do with loneliness,
emptiness, and other terms that are irrelevant for Durkheim.
In an ironic twist that not even Durkheim could have predicted, anomie is now used to stigmatize
the individual rather than diagnose social problems. It has been divested of its grounding in social
realism, ascribed to the very psychological forces Durkheim wished to debunk. What a tragic fate
for the “sociological concept par excellence”. “ p.86 – Isso aparentemente está presente em
Besnard.
Aparentemente, anomia foi desenvolvida por Jean Marie Guyau, cujo trabalho foi revisto
por Durkheim e instituída sua própria noção, mais elaborada, de anomia.
Coleman conclui o debate sobre teoria anômica distanciando esta do conceito de anomia,
propriamente dito. Citando Lukes, ele ilustra:
“I would draw a distinction between ‘anomie theory’ and the concept of anomie. I think
that the latter (not always accompanied by the term) has entered the bloodstream of sociological
thinking and more generally social and political discourse. Thus a Durkheimian diagnosis of the ills
of capitalism citing multiplying, insatiable wants and the absence of restraining normative
expectations has surely become something of a commonplace.” Steven Lukes, apud Coleman p.
88.
E, por fim, conclui:
“Anomie is above all (pace Srole) a social condition, caused by the failure of society to
constrain desire. When our children experience unreasonable desires, we can remind ourselves
that they are victims of a social problem rather than their own greed (or our failed parenting). By
focusing on society, we can disburden the individual of blame and stigma [que vai ser o tema do
capítulo sobre mental health, devido a seu carater individual]. Second, using the word itself gives
us a more nuanced understanding of the problem: by reading The Division of Labor, for example,
we can understand that the problem is not unique to our own society, but grounded in the
historical shift from feudalism to capitalism.93 Finally—and this is no small victory—using the term
“anomie” may help to legitimize the sociological perspective among academics. By linking well-
being with social regulation, it may even change American attitudes toward constraint.”p. 89

TEXTOS NA SEQUÊNCIA: Do Desvio às Diferenças, Richar Miskolci. Asylums.... Goffman.

Retirado da Wikipedia, mas útil:


“The medicalization of deviance, the transformation of moral and legal deviance into a medical
condition, is an important shift that has transformed the way society views deviance. The
labelling theory helps to explain this shift, as behaviour that used to be judged morally are now
being transformed into an objective clinical diagnosis. For example, people with drug
addictions are considered "sick" instead of "bad". Em Deviance (Sociology), na discussão
sobre symbolically interactionist e labelling theory

ARTIGOS

LIMA, Rita de Cássia Pereira. Sociologia do desvio e interacionismo.

Resumo: Artigo teórico procura trazer a análise histórica da sociologia do desvio, em particular as
teorias interacionistas. Foco em escola de Chicago, Goffman e Becker e comenta tendências nas
causas do desvio: funcionalismo, anomia e culturalismo.

Aparição e evolução da sociologia do desvio

Parte inicialmente da definição de Downes & Rock: “a sociologia do desvio não é uma
disciplina coerente em seu conjunto, mas uma coelção de versões relativamente independentes
dentro da sociologia.” [Condiz com a minha afirmação sobre o pensamento de durkheim e
goffman não propriamente concatenado]
“No final do século XIX o departamento de sociologia da Universidade de Chicago assume
um papel decisivo na ordenação dos textos, às vezes especulativos, sobre o crime na sociedade
americana.”
Reforça o argumento de que a sociologia de Chicago volta seus olhares na virada do século
para a própria cidade de Chicago, onde são notadas séries de questões sociológicas. A partir dos
bairros são mapeadas as relações de imigrantes e o aumento da população, ao mesmo tempo que
são percebidas identidades em emergência entre suas regiões. Ao que Rita afirma: “Para alguns
grupos sociais o ‘desvio’ tornou-se um modo alternativo de sobrevivência que substituía o modelo
tradicional das instituições americanas.”
É a partir desse momento o aprofundamento das pesquisas sobre crime e delinquência na
Escola de Chicago. Rita também aponta o enfoque ‘ecológico’ sobre o desvio nesse momento,
“apoiando-se em modelos de relações sociais num meio geográfico.” Park & Burgess privelegiam
esse estudo ao analisar os fenômenos de imigração e desintegração social.
“A origem da Escola de Chicago é marcada por essas abordagens espaço-temporais. Em
seu conjunto, as análises sociológicas propostas pela Universidade de Chicago se inspiravam no
pragmatismo, no sentido em que tanto as idéias científicas quanto as idéias a respeito do
cotidiano repousavam na experiência. Tais análises incluíam o modo de vida de alguns grupos
sociais, suas relações sociais, a censura de que eram objeto e a punição que eventualmente lhes
era infligida por outros grupos sociais.”p. 187
O estudo do fenômeno do desvio baseia-se no aprofundamento de “princípios ligados às
definições de normas de vida em sociedade.” Algo que, querendo ou não, a anomia também já
compreende. Utilizando Faugeron, o desvio é associado à diferença, sendo o desviante o referente
diferente no grupo social.
George Mead fornecerá a base fundamental e teória sobre a teoria interacionista do
desvio a partir da década de 1920. Ao tempo dessa construção, o interacionismo estabelece o
rompimento com demais correntes teóricas sobre o desvio. O aspecto central dessa dinâmica,
segundo Durand & Well é a construção da sociedade através da”dinâmica dos atos sociais, ou
troca entre as pessoas ou interações.” Rita aponta, com razão, que isso serve para construir as
origens desse fenômeno na sociedade através das interações sociais. Isso também se aproxima de
nosso intuito, não justificar as causas do desvio voltada à saúde mental em indíviduos sociais, mas
compreendê-lo histórico e sociologicamente.
O funcionalismo, a anomia e o culturalismo estão intimamente relacionados, segundo Rita,
para a compreensão do desvio na sociedade. Este último não interessa tanto a nós no momento.
Ela passa, portanto, a construir historicamente o debate principalemte a partir de Durkheim, e
depois desse da antropologia, para compreender como a teoria funcionalista próxima ao francês e
a construção do conceito de anomia são importante à teoria do desvio.
Visualizando Durkheim, ela resgata a relação do funcionalismo com o corpo orgânico e a
construção do organismo social. Porém, seguindo cegamente Downes & Rock, ela afirma
erroneamente que as funções correspondidas entre o organismo para com os fenômenos sociais
tendem a lógica evolucionista. Durkheim não está pensando no evolucionismo, mas no progresso
social – elas detém valores distintos. Merton, em seu texto clássico, Social Structure and Anomie,
demonstra um equilíbrio da estrutura social. Em disassociação a Durkheim, o comportamento
desviante não é derivado das condições biológicas, mas da situação social. Distanciando dessa
forma, a função biológica dentro do desvio e aproximando-o de fatores psicológicos ou
psicossociais. Algo que Rita irá polarizar frente a antropologia funcionalista de Malinowsky e
Mauss, mas que muito bem poderia incluir Radcliffe-Brown.
“No seu conjunto, as teorias funcionalistas tentam estabelcer uma constituição bio-
antropológica ou sócio-patológica da sociedade. Essa corrente é geralmente criticada no que diz
respeito à aceitação não-crítica das estatísticas oficiais, à permeabilidade a um sistema de valor
uniforme na sociedade e a uma concepção do ‘desvio’mais patológica que problemática. (cf.
Downes & Rock, 1988).”
Esta visão funcionalista é algo aproximado de Durkheim, no qual o desvio assume a
imagem de patologia da sociedade. (?)
Durkheim e anomia: “Outro enfoque para analisar o desvio é a teoria da ‘anomia’
durkheimniana, associada aos associada aos aspectos da desorganização estrutural e funcional da
sociedade. Para Durkheim, o desregramento de uma sociedade corresponde à inadaptação social
de seus membros. Boudon & Bourricaud (1982) constatam que o conceito de anomia não tem
exatamente o mesmo significado em O Suicídio e em Da divisão do trabalho social. No que diz
respeito ao segundo, os autores analisam o que Durkheim denomina ‘as rupturas parciais da
solidariedade orgânica’. Eles observam a descrição de certos fenômenos que aparecem como
incompatíveis com a imagem da ‘sociedade-organismo’ inerente a essa noção de ‘solidariedade
orgânica’ (por exemplo, as falências, o antagonismo entre trabalho e capital). Quanto a O Suicídio,
Boudon & Bourricaud apontam o raciocíni de Durkheim:
O mundo da indústria e do comércio é por essência anômico no sentido em que as normas
às quais estão sujeitos os atores sociais lhes deixam uma margem de autonomia. Essa autonomia
conduz, no plano coletivo, aos efeitos de ‘ruptura de solidariedade orgânica’ (crises) e, no plano
individual, à exposição ao risco, à incerteza, eventualmente ao fracasso e à confusão (B&B, 1982, p.
21)
Segundo o Downes & Rock (1988), Durkheim faz dois usos distintos do conceito de
anomia. Em “Da divisão do trabalho social”, o autor caracteriza o estado patológico da economia.
Em “O suicídio”, o conceito designa o estado mental patológico dos indivíduos insuficientemente
regulados pela sociedade.”
Boudon & Bourricaud, analisando os argumentos finais em Da divisão social do trabalho,
alegam/afirmam se tratar de uma sociedade cujos indivíduos são guiados (eu diria constraint) por
uma moral - compreendida em valores e normas – a participarem ativa e solidariamente da divisão
do trabalho em sua compreensão sistêmica. Para os autores: “a noção de anomia evoca, no vazio,
o apego de Durkheim ao modelo simplificador e contestável assimilando sociedade e organização,
ou seja, sociedade e organismo.” (B&B, 82, p.21 apud Rita) Sendo assim, a anomia seria um
conceito esvaziado e simplista, única carcaça a manter o sentido de organismo dentro de uma
lógica sistêmica e estrutural. (Existem, e como! Opiniões contrárias a esta)

Durkheim e desvio (crime): O crime é previsto socialmente, ele é um “fenômeno social


normal” e pertinente a sociedade no qual é produzido. E para Durkheim, falar de crime (desvio)
remete a falar de anomia. Ela reflete aqui a ideia rejeitada logo no parágrafo anterior, sobre a
anomia em Divisão Social do Trabalho. “Quando o equilíbrio de uma sociedade é comprometido
em consequencia de uma crise econômica ou moral, certos comportamentos qualidficados de
desviantes podem resultar do estado de desregramento moral ou econômico dessa sociedade.”
Segundo a análise bibliográfica realizada por Rita Lima, a relação estabelecida entre
anomia e desvio fica extremamente clara na seguinte passagem: “A ‘anomia’ designa, portanto a
derrota das solidariedades coletivas e caracteriza o enfraquecimento da coesão do sistema social.
Nesse contexto, o desvio é encarado como uma consequência da repercussão dos conflitos sociais
sobre as consciências individuais, podendo engendrar a perda do sentido dos valores coletivos.” P.
190.
Tal reflexão é condizente ao pensamento que apresenta de Selosse, a anomia não
somente revelam a desorganização social (em relação ao desequilíbrio) - ou como uma
ferramenta sistêmica de visualização dessa desorganização – mas como o sistema normativo não é
correspondido em totalidade e os desejos/aspirações dos indivíduos se relacionam com os
obstáculos sociais.
Aparentemente a última corrente tratada, o culturalismo, vai tratar a cultura e o crime
dentro do desvio, resgatando outros autores da escola de chicago, em especial Sutherland. Talvez
seja primordial para nós compreender o Goffman como um estudante do desvio mas aplicado à
saúde mental, um desvio particular. Importante em sua interpretação e localização, mas
particular.
E é aqui que ela acerta: “Os três enfoques sobre o desvio citados nesse ítem (o
“funcionalismo”, a “anomia” e o “culturalismo”) privilegiam a análise de suas causas. Os autores
têm como objeto de estudo a organização ou a desorganização social para compreender e explicar
as causas dos comportamentos desviantes. Dentro de um paradigma normativo, o desvio é
encarado mais como uma disfunção da sociedade do que como um problema social complexo
envolvendo as interações entre grupos sociais distintos”
Dessa forma, Poe e Lovecraft consideram o primeiro exemplo. Para durkheim ela é uma
disfunção quando apresenta risco. Mas e se falássemos das questões institucionais brasileiras?
Elas se mascaram na primeira forma, mas na verdade devem ser tratadas como a segunda.
Indíviduos desviantes por diversas formas – que não necessariamente riscos, ou crimes, da visão
psicológica -, mas que eram tratados violentamente.
Rita considera, a partir desse ponto, a preferência pela análise do problema social
complexo, deixando de lado a perspectiva da patologia social. Mas oras, a patologia social ainda é
utilizada e circula no meio – ser negada na academia não significa que ainda não prevaleça
preponderantemente na instituição! As teorias interacionistas são a solução da autora para o viés
da desorganização social, do caráter patológico social e indivíduos desviantes – “privilegiando o
estudo do desvio como um fenômeno que supõe interações em várias redes de relações sociais”.
As Teorias Interacionistas do desvio
Difusão lenta do interacionismo simbólico de Mead na escola de Chicago. Divisão dentro
da sociologia do desvio: positivistas x interacionistas.
Pensamento crucial: “Com esses princípios [moralidade é socialmente construída,
contexto social e labelling theory] as teorias interacionistas do desvio rompem com as concepções
mencionadas no item anterior. O desvio e seu controle são agora encarados de maneira dialética,
através de um processo de interação dinâmico e variável entre as duas partes. (...) A mais
conhecida [corrente interacionista] é a da ‘rotulação social’ (labelling theory), proposta por Becker
nos anos 60.”
Sendo assim, o desvio segundo Becker seria um rótulo suposto a um desviante por um
grupo social próximo a ele. Ele considera dessa forma o papel de uma agência social, uma ação
coletiva, capaz de determinar certos comportamentos como problemáticos. “O autor considera o
desvio ‘como o produto de uma transação efetuada entre um grupo social e um indivíduo que, aos
olhos do grupo, transgrediu uma norma’, interessando-se ‘menos pelas características pessoais e
sociais dos desviantes do que pelo processo através do qual estes são considerados estranhos ao
grupo, assim como por suas reações a esse julgamento’.”(Becker, p. 33 apud rita, p. 192)
Dessa maneira a caracterização do desvio é uma ação dependente de um grupo social
frente ao desviante, e haveria um processo tipológico sobre os indivíduos desviantes – de
identificação e caracterização. Essa identificação como desviante, e a caracterização podem
assumir aspectos negativos. Ele pode portanto agir segundo as previsões da ação que o rotulou, e
segundo os efeitos da estigmatização. “Dessa forma, comportamento não-conforme pode tender
para um status social que integra o desvio (cf. Selosse, 1981).
Mas isso daqui é do balacobaco e central pra mim: “Um aspecto essencial enfatizado por
Becker é que o processo social em que certos indivíduos são definidos coletivamente como
desviantes engendra uma nova categoria de problema social. Como consequência, métodos de
controle são colocados em prática e a institucionalização do ‘tratamento’ das pessoas rotuladas é
estabelecida.”p. 193
Essa é uma questão interessantíssima, você pode considerar portanto que um grupo de
indivíduos é considerado numa mesma categoria de desvio. E ainda nesse caso eles são vistos
como alheios à lógica social e tratados institucionalmente. Pequenos campos de refugiado surgem
a mente, pessoas com comportamento esquizofrênico também.
Existem dois tipos de “empreendedores da moral”: os criadores das normas, que
estabelecem a reforma dos costumes dos desviantes; os aplicadores da norma criada sobre os
desviantes, esses são agentes das instituições que fazem respeitar as leis dos primeiros. Na
perspectica do campo de refugiados, seriam as pessoas que criam o campo e aquelas que guardam
este e fazem com que as leis dos dirigentes sejam seguidas. A partir desse momento, o
fundamental para o Becker se torna não a origem e o tratamento das formas de desvio, mas a
agência sobre esse desvio – que o identifica, categoriza, normatiza e institucionaliza. O relevante
para Becker seria a definição deste desvio pelas partes que o definem. Dessa forma, os agentes
detém um certo poder ao determinar um grupo de desviantes como alheios/exteriores ao coletivo
social, sendo ele tanto político quanto econômico:
“Na medida em que um grupo tenta impor suas normas a outros grupos da sociedade,
encontra-se uma segunda-questão: quais categorias são capazes, na prática, de obrigar outras a
aceitar suas normas, e quais são as causas do sucesso de um tal empreendimento? Evidentemente
é uma questão de poder político e econômico.” (Becker, p.40 apud Rita, p 193)
Nesse momento entram os especialistas e profissionais, eles que embasam a lei e o poder,
legitimando o desvio. “é de maneira seletiva que os representantes da lei, respondendo às
pressões da própria situação de trabalho, aplicam a lei e criam as categorias de pessoas estranhas
à coletividade.” (Becker, p. 185 apud Rita, 194)
Rita passa portanto a definir as críticas à teoria da rotulação.
1) Interacionismo como doutrina puramente teórica, não empírica em sua totalidade
(fragmentada). O que levaria a algo não operatório, constituindo uma falha metodológica.
2) Interacionistas privilegiam conhecimento indutivo – visando construir categorias de
análise -, em comparação ao procedimento dedutivo – visando analisar dados sociais para
então categorizá-los – cujo exemplo marcante na sociologia clássica é Durkheim.
3) Downes & Rock falam de uma corrente interacionista “ambígua” e “evasiva”, analisando
um sistema fechado que foge à análise científica.
4) Interacionistas clássicos ignoram revisões de suas próprias concepções da sociedade. Eles
se concentram em grupos menores, o que é insuficiente para o estudo dos delinquentes
de maneira geral.
5) Nas palavras de Becker, a teoria da rotulação “não fornece uma explicação etiológica [da
origem das coisas] do desvio (...) e não explica como aqueles que cometem os atos
desviantes chegam a isso, nem porque alguns os cometem enquanto outros, em volta
deles, se abstêm.” (Becker, 1985, p. 202 apud Rita, p.195)
6) Faugeron afirma que o desvio primário não é considerado pelos interacionistas, eles
problematizam o desvio secundário, quando os agentes sociais rotulam os desviantes.
Dessa forma não se sabe a origem do desvio, ele é atribuído quando já está em curso.
Becker responde em publicação 10 anos posterior a Outsiders, afirmando que isso deve
ser estabelecido caso a caso, por um procedimento empírico, não decreto teórico. A sua
preocupação durante a teoria interacionista foi chamar a atenção sobre as consequências
sociais da rotulação.
a. “...não importa qual seja a importância da operação de rotulação executada pelos
empreendedores de moral, não se pode absolutamente considerá-la como a única
explicação do que fazem de fato os desviantes. Seria absurdo sugerir que os ladrões à mão
armada atacam as pessoas simplesmente porque alguém os rotulou com ladrões à mão
armada, ou que tudo que faz um homossexual é decorrente do fato que alguém o rotulou
como tal. Entretanto, uma das mais importantes contribuições desse enfoque foi chamar a
aten- ção sobre as conseqüências que implicam, para um indivíduo, o fato de ser rotulado
como desviante: torna-se mais difícil para ele prosseguir as atividades habituais de sua
vida cotidiana, e essas dificuldades o incitam às ações ‘anormais’(...) O grau em que o fato
de ser qualificado de desviante conduz a essa conseqüência deve ser estabelecido em cada
caso, por um procedimento empírico e não por um decreto teórico (Becker, 1985, p. 203).”
Apud. Rita, 195.
Isso leva interacionistas, especialmente Becker, a utilizar a observação in situ (no local) de
maneira mais rigorosa. Uma ênfase deve ser dada ao controle rigoroso do trabalho
empírico durante a pesquisa de campo. “Segundo o autor, as categorias de análise
construída por procedimento indutivo permitem o recolhimento mais rigoroso de dados e
a apresentação de descrições precisas e sistemáticas. Cf. Becker, 1985.”
Chapoulie complementa, que o interacionismo não se baseia numa grande teoria
de análise, mas sobre o procedimento empírico no trabalho de campo, e na abordagem
original pela observação direta a constituir uma interpretação do conjunto de ações
coletivas. Ele também argumenta que essa originalidade na abordagem é o que diferencia
de outras tradição ‘positivistas’, ao que define Durkheim.
Para completar: “Apesar das críticas suscitadas, o interacionismo traz uma contribuição
original quanto ao papel dos ‘construtores’ e/ou ‘legitimadores’ do desvio. Como diz
Becker, os fenômenos do desvio podem unir de forma estreita ‘a pessoa que emite o
julgamento do desvio, o processo que chega a esse julgamento e a situação dentro da qual
ele é produzido’.” (Becker, 1985, p, 203 apud Rita, 196).
Correntes relacionadas ao interacionismo
Ela passa a analisar uma série de teorias, principalmente da criminologia, que tangem o
interacionismo. Elas, com exceção de uma, não nos interessam – a teoria de Goffman. E
ela começa da seguinte forma, no debate sobre fenomenologia e etnometodologia:
“Outras orientações compatíveis com o interacionismo clássico foram
desenvolvidas. Dois exemplos significativos são a fenomenologia e a etnometodologia.
Apesar de algumas nuances, essas duas correntes apresentam vários pontos comuns. Um
deles é que os rótulos são socialmente construídos através das interações, sendo a
linguagem um modo fundamental de construção da realidade. Tais análises chamam
atenção para o fato que, nas construções sociais baseadas na linguagem, da mesma
maneira que os rótulos são construídos e/ou legitimados pelos atores sociais, eles podem
ser modificados pelos mesmos (cf. Conrad & Schneider, 1980).” Rita, p. 196-197;
A fenomenologia tem seu principal interlocutor em Schutz. Ele trabalha a noção de
inter-subjetividade, situada entre o objetivismo e o subjetivismo, como um “fato
constitutivo do mundo social” e, a partir daí, como princípio para examinar os atores na
vida cotidiana. “Seu objetivo é compreender o ator em suas ações, seus sentimentos e o
estado de espírito que incitou-o a adotar atitudes específicas em seu meio social.” Ele
explicar as experiências/perspectiva do observador, pondo em análise a significação que
este atribui ao mundo social e ao ator – da forma que se pode observar, e se deixa
perceber. (Rita, p. 197)
A etnometodologia tem duas inspirações teóricas: a própria fenomenologia,
através da observação participativa no meio, e a análise da linguagem cotidiana. Garfinkel
(1967) e Cicourel (1972, publ. No brasil) são seus principais expoentes, mas as obras finais
(do intermédio ao final) de Goffman - Frame Analysis, Relation in Public e Forms of Talk -,
são importantíssimas para a análise da conversação e a proposição de seus modelo teatral.
Como afirma:
“Vou então afirmar que a vida social é uma cena, não numa grande proclamação
literária, mas de forna simplesmente técnica: a saber que, profundamente
incorporadas à natureza da palavra, encontram-se as necessidade fundamentais
da teatralidade. (Goffman, 1987, p.10) ” apud rita, p 197
Um mundo social construído através da linguagem, no qual as interações sociais fornecem
significados das experiências individuais e em relação a sociedade.
Bourdieu, em crítica à Garfinkel e à etnometodologia: “Uma das principais críticas
suscitadas pelos trabalhos de Garfinkel relaciona-se aos riscos que comporta uma análise
restrita à área da linguagem. Nesse sentido, o procedimento etnometodológico pode ser
colocado em questão visto que a ação é encarada prioritariamente como o resultado de
regras interpretativas próprias à comunicação. Como observa Bourdieu, a
etnometodologia tende a tornar-se “uma semiologia idealista que, dando-se por objeto
fazer um ‘relatório’ dos ‘relatórios’”, acaba “registrando os registros de um mundo social
que, no limite, seria o produto de estruturas mentais, ou seja, lingüísticas” (Bourdieu,
1979, p. 562 apud Durand & Weil, 1990, p. 182).
[...]
As críticas dirigidas aos etnometodologistas dizem respeito essencialmente à redução a
uma análise das ações individuais observadas nas interações cotidianas. Os seguidores
dessa corrente negligenciam a influência da imposição do poder assegurado pela
mediação das instituições. Bourdieu, por exemplo, afirma que com os etnometodologistas
pode-se encontrar aspectos essencialmente subjetivistas.” Pp. 197-198
Bourdieu sendo sensacional:
“por um lado, as estruturas objetivas que o sociólogo constrói no momento
objetivista, afastando as representações subjetivas dos agentes, são o fundamento das
representações subjetivas e elas constituem as obrigações estruturais que pesam sobre as
interações; mas por outro lado, essas representações devem também ser retidas, se
quisermos tomar conhecimento das lutas cotidianas, individuais ou coletivas, que visam
transformar ou conservar essas estruturas. Isso significa que os dois momentos, objetivista
e subjetivista, estão numa rela- ção dialética e que, mesmo se, por exemplo, o momento
subjetivista parece muito próximo quando o pegamos separadamente, nas análises
interacionistas ou etnometodológicas, ele está separado por uma diferença radical: os
pontos de vista são apreendidos como tais e relacionados às posições na estrutura dos
agentes correspondentes.”
Para concluir, tomamos o parágrafo final de Rita: “Para finalizar, enfatiza-se a contribuição
das teorias interacionistas do desvio, particularmente a “teoria da rotulação” (labelling theory),
que propuseram um rompimento com outras correntes que privilegiam as causas do fenômeno e
não o processo social através do qual ele ocorre na sociedade. Porém, é fundamental considerar
que as interações entre atores ou grupos sociais relacionam-se à ordem moral, política,
socioeconômica da sociedade. O desvio e a rotulação de indivíduos ou grupos sociais dependem
da maneira que o fenô- meno é vivido em cada sociedade, num dado momento histórico e social.
Na realidade, é um conjunto de operações materiais e simbólicas que dá sentido às práticas e
governa as ações dos atores, no plano individual e social.” P.198

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