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Jussara Dias1
José Moura Gonçalves Filho2
O Racismo e o Preconceito Racial nos fazem operar no engano, pois ditam ideias a
respeito dos diferentes grupos populacionais que não são factíveis. Por exemplo, a
ideia secularmente propagada de que negros são “inferiores” e brancos são
“superiores”.
Segundo o IBGE, dados da PNAD6, em 2011, no Brasil, 61% das mulheres ocupadas nos
serviços domésticos eram negras.
1 Psicóloga do Instituto AMMA Psique e Negritude, organização não-governamental que tem por missão a
identificação, elaboração e desconstrução do racismo e seus efeitos psicossociais - www.ammapsique.org.br
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Conselheiro Consultivo do Instituto AMMA Psique e Negritude e Professor, pesquisador e psicanalista no
Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de São Paulo (USP).
3 F.SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados.
4 DIEESE – Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos.
5 SISTEMA PED –Pesquisa Emprego e Desemprego.
6 PNAD- Pesquisa Nacional de Amostra a Domicílio
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pelo racismo se torna causa do racismo, e o racismo que produziu a realidade se torna
efeito da realidade.
O cabelo crespo que tem o seu jeito próprio de ficar bonito ou de ficar feio, é
percebido quase sempre como feio, ruim. O cabelo liso é o cabelo bom, bonito.
Práticas culturais, como a religião de matriz africana, por exemplo, são tidas como
manifestações de segunda categoria.
Apesar disso tudo, de nos fazer operar no engano, de ser inevitável na ordem da
dominação, o preconceito racial é um equívoco ressignificável, ou seja, pode ser
desconstruído, desaprendido.
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Por isso, o enfrentamento do racismo e do preconceito racial se faz necessariamente
por duas vias: politicamente e psicologicamente. Não são vias equivalentes, são
diferentes e complementares: tem coisas que a luta política não faz por nós, e tem
coisas que a cura psicológica não nos garante.
No que se refere ao enfrentamento político, não vamos tratar aqui, pois desejamos
enfatizar a dimensão psíquica do racismo. Mas, reconhecemos que todo esforço para a
organização social democrática, onde as relações não obedeçam uma lógica onde haja
comandantes e comandados, superiores e inferiores, mas relações com igualdade de
participação e cooperação, contribui para o enfrentamento da dominação, e portanto
do preconceito, que é também um ingrediente da dominação.
Para promover a superação desses efeitos nos indivíduos que foram golpeados pelo
racismo, o preconceito racial precisa ser percebido por quem o pratica e por quem o
sofre. Ele precisa ser admitido como algo que age em nós - em nós que o praticamos,
e em nós que o sofremos – age diferentemente nos que praticam e nos que sofrem,
mas age em ambos.
Quem pratica o preconceito provoca uma ruptura com o pacto social, destitui o outro
do seu lugar na comunidade humana, vai na contramão da humanização.