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GARANTIAS AO DIREITO DE ACESSO À VENTILAÇÃO NATURAL:

UM REFERENCIAL PARA QUALIDADE AMBIENTAL URBANA

Irving Montanar Franco¹


Prof. Dr.FAU e PPGAU/UFPA
Marcelle Vilar da Silva²
Mestranda do PPGAU/UFPA
Isabela Cristina Marçal Avertano Rocha³
Mestranda do PPGAU/UFPA
Dorival Freitas Pinheiro4
Mestrando do PPGAU/UFPA
Adry Kleber Ferreira de Lima5
Mestrando do PPGAU/UFPA

(1)irvingmf@gmail.com (2)cellevilar86@yahoo.com.br (3)isabela.avertano@gmail.com


(4)dorfpinheiro@yahoo.com.br (5)eng.adry@hotmail.com

RESUMO
Este trabalho discute técnicas edilícias que favoreçam a permeabilidade da ventilação, destacando aspectos da
circulação das massas de ar pela cidade, utilizando demonstrações conceituais instrumentalizadas por Computer Fluid
Dynamics (CFD). Na parametrização computacional, mensurou-se microclimas e registros através de imageamento
infravermelho (no solo e sobrevoo). Descrevem-se, por análise de causa-efeito as tendências ao adensamento na
cidade de Belém, principalmente localizada na Zona Sul (Primeira Légua Patrimonial), focando o aumento da massa
edificada e o ciclo absorção-dissipação de carga térmica para a atmosfera urbana. Detectou-se que o adensamento e
consequente obstrução da circulação das massas de ar reduzem, significativamente, a eficiência com que o calor se
dispersa, principalmente pelas práticas edificantes junto ao solo urbano e não, necessariamente, pela ação de edifícios
altos. Acentuar a descentralização de serviços, soluções de acessibilidade com melhorias nas modalidades de
transporte, ações nos códigos de obras e posturas de edificações, há tempos, são apontadas por arquitetos e
urbanistas como alternativa para a questão.

Palavras chave: ventilação natural, planejamento urbano, qualidade ambiental, IFR, CFD.

ABSTRACT
This paper discusses techniques that encourage permeability of ventilation, highlighting aspects of the movement of air
masses in the city, using conceptual statements instrumentalized by Computer Fluid Dynamics (CFD). In computational
parameterization, were measured microclimates and records by infrared imaging (land and overflight). Describes, by
analysis of cause-effect trends to crowding in the city of Belém, located primarily in its South Zone (The First Patrimonial
League), focusing the increasing of the building mass the cycle of absorption - dissipation of thermal charge to the urban
atmosphere. Was found out that the crowding and consequent obstruction of the circulation of air masses, significantly,
reduces the efficiency with which the heat is dissipated, mainly by edifying practices along the urban land, and not
necessarily by the action of tall buildings. Accentuate the decentralization of services, accessibility solutions with
improved transporting modes, actions in building codes and standers, long, are appointed by architects and urban
planners as an alternative to the issue.

Keywords: natural ventilation, urban planning, environmental quality, infrared survey, computer fluid dynamics.
1. INTRODUÇÂO
Atualmente, é possível verificar a intensificação de ações que transformaram a paisagem
de modo irreversível a curto e médio prazo. Identificar a extensão da transformação da paisagem
e seus múltiplos desdobramentos perpassa pela avaliação da porção de céu e paisagem
obstruída, fluxo de veículos, qualidade do ar e alteração dos padrões de ventilação e conforto
térmico, entre outros aspectos da qualidade ambiental urbana. Uma parcela da população e
gestores públicos atentam para a necessidade da mobilização para além do desenvolvimento
quantitativo, ponderando quanto ao desenvolvimento qualitativo e degradação da qualidade
ambiental.
O adensamento e a verticalidade gerados pela aderência à disponibilidade de moradia,
junto às áreas centralizadoras das ofertas de serviço e pela baixa qualidade das modalidades de
transporte, podem ser um dos reflexos da busca de soluções à pendularidade, promovida pelo
deslocamento entre bairros dormitórios e pontos de atração. O consenso entre verticalidade e
adensamento está longe de seu ponto de equilíbrio, ora inflexionado com ênfase a favor das
ações de “desenvolvimento” voltado à cidade tecnomaterial e seus processo de acumulação de
capital, ora voltado à condição da qualidade de vida sob o aspecto simbólico de sua paisagem e
da qualidade de vida (ASCEREALD, 1999).
Brasília, em seu plano piloto, concebida com sua descentralidade, seu ordenamento, já
apontava soluções que devem ser resgatadas e reinterpretadas dentro do contexto urbano da
cidade de Belém, principalmente no que tange à concepção da adoção da planta livre junto ao
térreo, seus desdobramentos na circulação da ventilação, influenciando, diretamente, o conforto
térmico e a dispersão de poluentes junto ao solo urbano (Figuras 1, 2 e 3).

Figura 01 e 02 (esquerda e ao centro): Edifícios com pilotis em Brasília (Fonte: BITTENCOURT, 2008).
Figura 03 (direita): Efeito da ventilação nos pilotis (Fonte: ROMERO, 2011).

1.1 Percepção Subjetiva do Conforto Ambiental


Os fatores de adaptação do ser humano às condições ambientais são peças chave para
a determinação da tolerância da população e do ambiente local às intervenções em seu território.
Vale salientar que é natural que em uma análise superficial e pouco atenta, o aspecto da
tolerância seja descrito como resposta da sensibilidade individual e, portanto, seja subjetivo e
relevado ao território do incomensurável, e, assim, irrelevante e pouco significativo, passível de
manipulação por interesses de primeira ordem. É fato que fatores subjetivos estejam diretamente
vinculados a uma concepção abrangente da percepção do biorritmo entre outros aspectos
vinculados a descrição do estado físico e mental do indivíduo e do seu contexto histórico cultural.
A percepção do aspecto de conforto térmico, descrito anteriormente como subjetivo e
diretamente relacionado às condicionantes termo-higrométricas da qualidade ambiental é
inquestionável quando se transporta à análise para a zona equatorial quente e úmida, a exemplo
cidade de Belém (latitude: -1,48°).
Tradicionalmente, a organização da produção científica identifica claramente a
necessidade de valorar, através de atributos de mensuração física do território, o grau de impacto
em questão, assim objetivando a coleta de evidência física como evidência de primeira ordem e
suficiente. Moraes (2004) vai adiante ao incorporar a investigação de valoração subjetiva através
de questionários.

1.2 Dos impactos ambientais no meio urbano


Como análise dos fatores de caracterização de desempenho ambiental, têm-se os
fenômenos termo-higrométricos, seja no desempenho da edificação (como na escala urbana) ou
na identificação dos fenômenos de ilhas de calor. Tanto o edifício como seu entorno imediato
estão imbricados pelo efeito unitário do edifício e pelo efeito de sua relação com as edificações da
malha urbana, desenvolvida pela aglomeração e adensamento de edificações térreas e/ou
associadas a modalidades verticalizadas (Figuras 04, 05, 06 e 07).

Figuras 04 e 05: Demonstração de fenômenos que ocorrem nos cânions urbanos (Fonte: ROMERO, 2011).
Figuras 06 e 07: Demonstração de fenômenos que ocorrem nos cânions urbanos (Fonte: ROMERO, 2011).

Dentre outros impactos ambientais, esta análise voltou-se à aglomeração urbana,


portanto tem-se o ruído urbano, a poluição atmosférica e o desconforto térmicos oriundos das
emissões de veículos automotores ou de sua localização geográfica, amplificados pela
configuração urbana. A ação do vento tem papel decisivo na dispersão de poluentes atmosféricos
e no conforto térmico, sendo determinante na qualidade do ar. Se não houver acesso a um índice
de diluição adequado, a população evitará as técnicas de ventilação cruzada para
condicionamento de seus domicílios quando mais próximos ao solo.
Estudos de quantificação de impacto ambiental, na cidade de Belém, têm como destaque
ações de identificação de ilhas de calor como apresentado por Cabral (1995). Lola (1998)
descreve, além do comportamento térmico urbano, o fenômeno urbano de ventilação para a
cidade de Belém. Os fenômenos relatados pelos pesquisadores evidenciam ambientes sob
aspectos específicos da qualidade ambiental, que descrevem as particularidades da
fenomenologia que ocorre, simultaneamente, como elemento indissociável da paisagem urbana.

1.3 Concepção do território edificado


Para o estudo de caso de Belém do Pará, a implementação técnica do adensamento e/ou
verticalização, através de taxas de ocupação e de aproveitamento, é um fenômeno já apropriado,
“ordenado”. Trata-se de uma realidade relativamente recente que já produziu uma vasta gama de
análises para os urbanistas, gestores e agentes da promoção e gestão do espaço urbano. O
processo de verticalização gerou uma percepção particular entre a população tradicional,
principalmente quanto aos efeitos nocivos da intensa verticalidade, verificada pelo aproveitamento
máximo do lote, eliminando recuos e ocupando quase a totalidade do térreo. Existe o receio da
degradação acentuada do conforto térmico traduzido na redução da velocidade do vento e
consequente restrição da ventilação natural, enfim, resultando no “abafamento da cidade”.
Diante da velocidade com que se modifica cotidianamente a escala da vizinhança, é
possível verificar a tensão polarizada entre os personagens da gestão da cidade material e a
cidade dos aspectos qualitativos, como descrito anteriormente por Ascereald (1999). As duas
tendências buscam uma forma para viabilizar e garantir a implementação das suas prioridades,
focando suas assertivas na relação custo-benefício, enviesados por suas objetividades
específicas.
As inter-relações entre o edifício, o lote e o meio urbano que definem um padrão de
rugosidade1, as interações de microclima que se desenvolvem numa relação de interdependência,
segundo alguns autores, descritos pela concentração da massa edificada, da verticalidade, das
taxas de ocupação e aproveitamento do lote, estão, portanto, diretamente relacionados à
densidade e à verticalidade (Figuras. 04 a 07).
Um fator importante na concepção do território é a orientação da malha urbana onde
estão inseridas as edificações. A exemplo do que descreve Rivero (1985), não são importantes,
somente, dados quantitativos ou direcionais sobre o fluxo de ar, pois “numa quadra urbana, as
ruas são corredores e o ar não tem outra possibilidade senão a de canalizar por esses espaços. A
direção do ar está então determinada pelas ruas, ao mesmo tempo em que se geram turbulências
de toda ordem, entre as quais se incluem correntes ascendentes e descendentes que fazem
inoperante qualquer esquema de ventilação baseado em dados proporcionados pelos serviços
meteorológicos. Assim, ao se avaliar o desempenho de um edifício e de um conjunto de
edificações, deve-se assumir a condição da função temporal, pois, durante a sua vida útil, haverá
uma transição do entorno ao qual está inserido.

1.4 Percepção ambiental e EIV-Estudo de Impacto de Vizinhança.


O efeito do impacto de vizinhança, seja acentuado por deslocamentos e de pressões
oriundos do adensamento populacional e concentração de serviços, estabelece a relação de
“causa e efeito” inerentes à solução da verticalidade. Verifica-se que somente os recuos das
edificações em relação às calhas das vias podem não ser suficientes para garantir o acesso à
ventilação e à insolação.
Atualmente, é explicito através do Ministério das Cidades (MC), por meio de
regulamentação federal acerca dos instrumentos dos planos diretores, que sejam desenvolvidos
processos de avaliação do impacto ambiental citados como EIV - Estudo de Impacto de
Vizinhança, voltado ao diagnóstico do desempenho ambiental na escala urbana, mais
precisamente, a analisar a extensão dos reflexos no entorno imediato.
As análises de EIV-Estudos de Impacto de Vizinhança e sua regulamentação se
transformaram em um ponto de inflexão na concepção do espaço urbano. Assim, a quantificação
de impactos, dos custos ambientais e da necessidade de mediar custos-benefícios entre a cidade
tecnomaterial e a qualitativa é o desafio que deverá ser objeto da “costura de compromissos”,
atualmente, retalhados e afastados quanto aos diálogos.

1
Rugosidade: espaçamentos (entre edifícios e/ou entre arranjos morfológicos) e alturas relativas ( entre edifícios e demais superfícies urbanas
horizontais), são relações morfológicas concernentes à rugosidades da estrutura urbana. (CABRAL, 1995)
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Os Nomogramas de Temperatura Efetiva por Koenigsberger e Webb - Índice de Conforto
Equatorial2 - foram utilizados a título de demonstração para reforçar a ideia da relação direta entre
a incidência de ventilação quanto à sensação térmica, através da temperatura efetiva, ao
correlacionar os valores de TBS, TBU, umidade e velocidade do ar, definindo uma possível zona
de conforto térmico para o ser humano que deve ser analisada para condições específicas do
clima local (FROTA e SCHIFFER, 2003).
Estes instrumentos de análise, além de pressuporem uma zona de conforto térmico
subjetiva, possibilitam gerar parâmetros quantitativos às sensações humanas em relação ao
microclima, o que nos leva à associação com os demais dados para possibilitar uma
demonstração palpável da relevância da ventilação natural neste contexto.
Devido à necessidade de conhecer a distribuição do fluxo de ar ao longo da malha
urbana, foram introduzidos neste trabalho alguns estudos realizados no software CFD (Ansys)
para avaliar o comportamento da ventilação. Os modelos em CFD são capazes de simular a
dinâmica da maioria dos fluxos de ar e processos de transferência de calor (ASHRAE,
1974/1984), bem como, computar trocas térmicas entre o fluxo e seus arredores, podendo ser
uma boa forma de avaliação qualitativa da distribuição do fluxo de ar (BITTENCOURT, 2008).
A aplicação da técnica do IFR – imageamento infravermelho – permite a demonstração
do aquecimento superficial das massas edificadas que, através das trocas térmicas, aquecem a
camada de ar elevando a temperatura local e no conjunto da cidade. Através da leitura das
imagens, foram identificadas as superfícies resfriadas e aquecidas indicando tendências ao maior
ou menor aquecimento do ar, uma vez que a circulação dos ventos desloca o ar aquecido sobre
estas superfícies.
Ao mensurar a temperaturas do ar sua velocidade e direção, temperaturas superficiais
das edificações e arruamentos, obtiveram-se os parâmetros de microclimas característicos para o
estudo da primeira légua patrimonial de Belém, permitindo esclarecer e reduzir os impactos
gerados por edifícios no padrão de ventilação natural urbana.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir das discussões sobre a rugosidade da malha urbana, principalmente o acesso à
ventilação junto ao solo, pode-se perceber que a verticalização somente não é a grande barreira à
circulação do ar, uma vez que a localização apropriada de edifícios altos, entre edifícios baixos, irá
ventilar os espaços urbanos mais especificamente do que quando tem a mesma altura, resultando
em melhores condições de conforto térmico (CABRAL, 1995). Logo, é necessário que haja

2
Modelos biometeorológicos, ou índices de conforto, tem sido desenvolvidos, combinando em equações e diagramas, dados biológicos do homem
e dados metrológicos, buscando definir que variáveis do clima agem sobre o organismo humano e afetam sua sensação de conforto térmico, bem-
estar e saúde (Universidade de Brasília, 1986)
porosidade3 na estruturação das edificações urbanas, sendo este fator já observado por Cabral
(1995), quando recomenda que haja uma “ocupação porosa (espaçamento entre as massas
construídas) mediante exigência de índices de ocupação do lote e da quadra compatíveis com
uma adequada ventilação do tecido urbano”.
Ao se analisar os nomogramas de Temperatura Efetiva Corrigida (KOENIGSBERGER,
1977) e/ou Índice de Conforto Equatorial (WEBB apud FROTA E SCHIFFER, 2003), verifica-se
que, em ambos os casos, a Temperatura Efetiva é corrigida pela ação da velocidade do vento.
Tais ações são necessárias para demonstrar a eficiência do vento em gerar sensações térmicas
diferenciadas. Em ambos os casos, numa análise dimensional, é possível verificar um significativo
incremento da temperatura efetiva quando da estagnação da velocidade do vento (Figuras 8 e 9).

Figura 08 (esquerda): Nomograma de Temperatura Efetiva Corrigido. Figura 09 (direita): Nomograma de


Índice de Conforto Equatorial (Fonte: FROTA E SCHIFFER, 2003).

A análise em questão demonstra as diferentes amplitudes (∆TE) obtidas pelos autores


Koenigsberger e Webb quando adotam-se constantes para análise de temperatura efetiva
corrigida. Avaliando uma determinada condição para uma temperatura de bulbo seco de TBS = 27

3
Representada pela maior ou menor permeabilidade de uma estrutura urbana a passagem dos ventos expressa
através da relação entre espaços abertos e espaços confinados (CABRAL, 1995)
°C, numa situação de 80% de Umidade Relativa (UR%), obteve-se via carta psicrométrica para o
nível do mar (Belém situa-se entre 3,5 e 15 metros de altitude) uma temperatura de bulbo úmido
de TBU=25,6°C. Em tais condições uma vez inseridas nos nomogramas acima e analisadas as
velocidades do vento entre 0 a 1 m/s, obtiveram-se as respectivas amplitudes para os
nomogramas: para Webb (Fig. 09), de ∆TE = 2,1 °C e para Koenigsberger ∆TE = 1,5 °C (Fig.
08). É necessário indicar que ao se impor a condição de 80% de UR junto à carta psicrométrica
(Fig. 10), ambas as situações podem representar condições extremas, sendo no caso de Belém
uma condição constante em clima equatorial úmido,não sendo, portanto, suficiente para descrever
o pior cenário, enquanto que, para o nomograma de Koenigsberger, pode estar
instrumentalizando o efeito de “margem de segurança” nos procedimentos descritos por Frota e
Schiffer (2003), através do método adaptado do CSTB à condição brasileira.

Figura 10: Carta Bioclimática Belém (Fonte: LAMBERTS et al., 1997).

Para definir o pior cenário no clima quente-úmido tropical (equatorial), forçosamente tem-
se que abordar a condição de temperatura ar-sombra e ar-sol, sendo esta última mais crítica
quando da ausência de ventilação, em outras palavras, para o clima quente-úmido equatorial nos
aproximar-se-á das condições de conforto mais amenas quando se estiver à sombra e com vento
disponível, e isto, no nomograma de Webb, apresenta uma amplitude maior em termos do efeito
de temperatura efetiva (2,1 °C).
Existe ainda a necessidade da incorporação do conceito de exposição ao calor radiante,
que pode ser concomitante ou não com a presença de insolação direta, pois estar à sombra pode
necessariamente, não levar à condição de estar abrigado do calor radiante, que pode ser de
origem solar ou irradiado das superfícies aquecidas, edificadas no meio urbano.
Na avaliação dos efeitos da massa construída e da geometria urbana no deslocamento
das massas de ar, foram criados modelos esquemáticos de edificações para simulação em
ambiente virtual do programa CFD - Computer Fluid Dinamics, dispostos de modo que a
simulação pudesse demonstrar e evidenciar os pontos que permitiriam uma maior fluidez e um
provável efeito de estratificação das camadas de ar. Bittencourt (2008) já dissertou sobre esta
necessidade: “Para a questão da ventilação geralmente obtêm-se apenas as taxas de ventilação,
ou renovação do ar, mas existe a necessidade também de conhecer a distribuição do fluxo de ar
ao longo da malha urbana, por exemplo, o que pode ser obtido através das simulações em CFD
(Computer Fluid Dynamics), único capaz de examinar alternativas de desenho e sua influência
nos padrões de ventilação natural”.
Foi verificada, através dos estudos modelados em CFD, que a adoção de pilotis pode ser
de grande importância na permeabilidade do vento para o interior da malha urbana, hipótese que
pôde ser confirmada na comparação dos resultados de velocidade e temperatura dos dois
modelos propostos para simulação, conforme a figura 09. Quando inserido o modelo com pilotis, a
imagem apresenta um acréscimo de ventilação na região inferior da edificação de maior altura na
área do vão livre, junto ao térreo, que conduz parte do fluxo que se avoluma de forma que este
atravesse a edificação pelo vão livre.

Figuras 11 e 12: Simulação da distribuição do fluxo das massas de ar através de edificações (acima) com e
(abaixo) sem pilotis (Fonte: Irving Franco e Adry Lima, 2012).

Outro fenômeno observado é o afastamento e descolamento em relação ao solo da


esteira de turbilhonamento, que pode ser verificado na edificação de maior altura na cor azul claro
(baixa velocidade), já nas edificações mais baixas, o maior comprimento da esteira de
turbilhonamento pode ser observado de forma mais concentrada próxima ao solo.
No estudo acima figura 09, é possível notar que, mesmo entre edificações térreas
afastadas nas mesmas proporções de suas ocupações (uma taxa de aproveitamento de 50%)
ainda existe uma grande redução da velocidade do vento, conforme indicado no campo em azul,
indicando haver baixas velocidades entre edificações térreas com significativos afastamentos. Tal
condição é indicativa de que não seriam apenas o número de gabaritos, as taxas de
aproveitamento, a determinação de recuos, mas ações na implementação de códigos de posturas
de edificações voltadas à permeabilidade liberando o térreo para ventilação uma ferramenta
significativa na buscar de mitigar e potencializar a ventilação junto ao solo da cidade.
Vale notar que a estira de baixa velocidade em azul após os edifícios térreos permanece
colada junto ao solo por uma extensão maior quando comparada com a esteira de
turbilhonamento do edifício vertical junto ao térreo, onde verificamos um descolamento mais
precoce, exemplificando o efeito citado previamente por Cabral (1995).
Imagens termográficas, registradas das 11:30 às 12:30 horas do dia 21 de setembro de
2012, buscam propiciar um “recorte metodológico voltado ao isolamento dos ganhos de calor por
incidência solar sobre superfícies verticais, devido a altitude solar registrada no equinócio,
quando a altitude é máxima e não há, praticamente, direção angular para incidência solar. Diante
dos registros de aquecimento superficial - nas diferentes formas e topologias de assentamentos –
destacam-se, principalmente, as superfícies horizontalizadas, fato constante em todas as ações
de sobrevoos desenvolvidos para a completude do recorte metodológico voltado à análise
anualizada.
Os edifícios verticais apresentam maior resfriamento de suas superfícies verticais, o
mesmo ocorrendo em outros períodos de análise, seja no equinócio de março ou nos solstícios de
junho e dezembro. Ao observarmos, a nível do solo e em sobrevoo, a importância da dimensão da
calha da rua para obter a proteção solar seja da vegetação como por sombreamentos propiciados
pelos próprios edifícios.
A influência da ventilação, em estratos mais elevados de edifícios de múltiplos andares,
permite uma troca de calor muito mais intensa, além de favorecer a renovação do ar de forma
mais abundante e com temperaturas inferiores as verificadas nos estratos próximos as coberturas
das edificações térreas. Assim, nestes estratos mais elevados, há ocorrência de ventilação
abundante com velocidade elevada – camada limite, onde a temperatura do ar não está alterada
pelo calor radiante e pelo contato com as superfícies da cidade junto ao térreo, o que permite, em
muitos, casos obter conforto térmico aos moradores sem o uso de sistemas de condicionamento
de ar. Tal efeito deve-se ao descolamento dos apartamentos verificados em posições mais
elevadas do gradiente de ventilação que define a borda de conforto do canopy térmico urbano
(WENG, 2009).
Nem sempre, a ventilação abundante em estratos mais elevados implica perdas
significativas de calor através da estrutura (temperatura radiante superficial), conforme observado
em imageamento no infravermelho praticado na análise anual, mas alteram decisivamente os
Bairro do Reduto Bairro do Marco

Bairros Guamá e Montese Bairro da Cidade Velha

Figuras 12 a 16 – Imagens infravermelhas em diferentes bairros de Belém: Bairro do Reduto (acima a


esquerda), Bairro do Marco (acima a direita), Bairro do Guamá e Montese (abaixo a esquerda), Bairro da
Cidade Velha (abaixo a direita), (Fonte: Irving Franco, 2012).

índices de temperaturas efetivas corrigidas de modo favorável ao conforto térmico, quando da


disponibilidade de velocidades mais elevadas do ar.

4. CONCLUSÕES
Através de uma leitura atenta dos instrumentos propostos, evidencia-se a clara
necessidade de propiciar acesso à ventilação, de forma regulamenta nos códigos de posturas do
município, onde apenas recuos, índices de ocupação e aproveitamento não são suficientes para
garantir os a diluição da poluição e a dissipação do calor inerente ao meio urbano adensado.
A adoção de uma política de arborização mais intensa e responsável pode reverter a
árida paisagem verificada em inúmeras ruas e avenidas da cidade de Belém. Para os edifícios
altos, a adoção de estacionamentos elevados devido a suas características e exigências de
ventilação cruzada e junto ao térreo pilotis associado a planta livre, pode favorecer a
permeabilidade, reduzindo o impacto sobre a vizinhança.
A utilização de imageamento IFR e de técnicas de CFD demonstraram-se
complementares, pois fornecem dados e permitem simular, respectivamente, situações
específicas de posturas de uso e ocupação do solo.
AGRADECIMENTOS
Aos alunos do PPGAU, colaboradores da FAU, aos pós-graduandos da Embrapa,
graduandos da UFRA, em especial a Pesquisadora Dra. Lucietta Martorano (Embrapa Oriental),
ao LIA-laboratório de Informática da Arquitetura/FAU através da Diretora Vanessa Watrin, ao
LACAN/FAU, através do Profs Drs. José Júlio Ferreira Lima e Juliano Pamplona Ximenes pelo
incentivo e apoio financeiro, as Professoras Dras. Ana Claúdia Cardoso e Elcione Lobato de
Moraes, que permitiram diretamente consolidar nosso grupo de pesquisa. A Eletrobrás Procel
Edifica, por fomentar os recursos necessários para implementação do LADEC/FAU.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Disponível em: <http//:www.elsevier.com/locate/isprsjprs>. Acessado em: 29/09/2012.

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