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RESUMO
Este trabalho discute técnicas edilícias que favoreçam a permeabilidade da ventilação, destacando aspectos da
circulação das massas de ar pela cidade, utilizando demonstrações conceituais instrumentalizadas por Computer Fluid
Dynamics (CFD). Na parametrização computacional, mensurou-se microclimas e registros através de imageamento
infravermelho (no solo e sobrevoo). Descrevem-se, por análise de causa-efeito as tendências ao adensamento na
cidade de Belém, principalmente localizada na Zona Sul (Primeira Légua Patrimonial), focando o aumento da massa
edificada e o ciclo absorção-dissipação de carga térmica para a atmosfera urbana. Detectou-se que o adensamento e
consequente obstrução da circulação das massas de ar reduzem, significativamente, a eficiência com que o calor se
dispersa, principalmente pelas práticas edificantes junto ao solo urbano e não, necessariamente, pela ação de edifícios
altos. Acentuar a descentralização de serviços, soluções de acessibilidade com melhorias nas modalidades de
transporte, ações nos códigos de obras e posturas de edificações, há tempos, são apontadas por arquitetos e
urbanistas como alternativa para a questão.
Palavras chave: ventilação natural, planejamento urbano, qualidade ambiental, IFR, CFD.
ABSTRACT
This paper discusses techniques that encourage permeability of ventilation, highlighting aspects of the movement of air
masses in the city, using conceptual statements instrumentalized by Computer Fluid Dynamics (CFD). In computational
parameterization, were measured microclimates and records by infrared imaging (land and overflight). Describes, by
analysis of cause-effect trends to crowding in the city of Belém, located primarily in its South Zone (The First Patrimonial
League), focusing the increasing of the building mass the cycle of absorption - dissipation of thermal charge to the urban
atmosphere. Was found out that the crowding and consequent obstruction of the circulation of air masses, significantly,
reduces the efficiency with which the heat is dissipated, mainly by edifying practices along the urban land, and not
necessarily by the action of tall buildings. Accentuate the decentralization of services, accessibility solutions with
improved transporting modes, actions in building codes and standers, long, are appointed by architects and urban
planners as an alternative to the issue.
Keywords: natural ventilation, urban planning, environmental quality, infrared survey, computer fluid dynamics.
1. INTRODUÇÂO
Atualmente, é possível verificar a intensificação de ações que transformaram a paisagem
de modo irreversível a curto e médio prazo. Identificar a extensão da transformação da paisagem
e seus múltiplos desdobramentos perpassa pela avaliação da porção de céu e paisagem
obstruída, fluxo de veículos, qualidade do ar e alteração dos padrões de ventilação e conforto
térmico, entre outros aspectos da qualidade ambiental urbana. Uma parcela da população e
gestores públicos atentam para a necessidade da mobilização para além do desenvolvimento
quantitativo, ponderando quanto ao desenvolvimento qualitativo e degradação da qualidade
ambiental.
O adensamento e a verticalidade gerados pela aderência à disponibilidade de moradia,
junto às áreas centralizadoras das ofertas de serviço e pela baixa qualidade das modalidades de
transporte, podem ser um dos reflexos da busca de soluções à pendularidade, promovida pelo
deslocamento entre bairros dormitórios e pontos de atração. O consenso entre verticalidade e
adensamento está longe de seu ponto de equilíbrio, ora inflexionado com ênfase a favor das
ações de “desenvolvimento” voltado à cidade tecnomaterial e seus processo de acumulação de
capital, ora voltado à condição da qualidade de vida sob o aspecto simbólico de sua paisagem e
da qualidade de vida (ASCEREALD, 1999).
Brasília, em seu plano piloto, concebida com sua descentralidade, seu ordenamento, já
apontava soluções que devem ser resgatadas e reinterpretadas dentro do contexto urbano da
cidade de Belém, principalmente no que tange à concepção da adoção da planta livre junto ao
térreo, seus desdobramentos na circulação da ventilação, influenciando, diretamente, o conforto
térmico e a dispersão de poluentes junto ao solo urbano (Figuras 1, 2 e 3).
Figura 01 e 02 (esquerda e ao centro): Edifícios com pilotis em Brasília (Fonte: BITTENCOURT, 2008).
Figura 03 (direita): Efeito da ventilação nos pilotis (Fonte: ROMERO, 2011).
Figuras 04 e 05: Demonstração de fenômenos que ocorrem nos cânions urbanos (Fonte: ROMERO, 2011).
Figuras 06 e 07: Demonstração de fenômenos que ocorrem nos cânions urbanos (Fonte: ROMERO, 2011).
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Rugosidade: espaçamentos (entre edifícios e/ou entre arranjos morfológicos) e alturas relativas ( entre edifícios e demais superfícies urbanas
horizontais), são relações morfológicas concernentes à rugosidades da estrutura urbana. (CABRAL, 1995)
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Os Nomogramas de Temperatura Efetiva por Koenigsberger e Webb - Índice de Conforto
Equatorial2 - foram utilizados a título de demonstração para reforçar a ideia da relação direta entre
a incidência de ventilação quanto à sensação térmica, através da temperatura efetiva, ao
correlacionar os valores de TBS, TBU, umidade e velocidade do ar, definindo uma possível zona
de conforto térmico para o ser humano que deve ser analisada para condições específicas do
clima local (FROTA e SCHIFFER, 2003).
Estes instrumentos de análise, além de pressuporem uma zona de conforto térmico
subjetiva, possibilitam gerar parâmetros quantitativos às sensações humanas em relação ao
microclima, o que nos leva à associação com os demais dados para possibilitar uma
demonstração palpável da relevância da ventilação natural neste contexto.
Devido à necessidade de conhecer a distribuição do fluxo de ar ao longo da malha
urbana, foram introduzidos neste trabalho alguns estudos realizados no software CFD (Ansys)
para avaliar o comportamento da ventilação. Os modelos em CFD são capazes de simular a
dinâmica da maioria dos fluxos de ar e processos de transferência de calor (ASHRAE,
1974/1984), bem como, computar trocas térmicas entre o fluxo e seus arredores, podendo ser
uma boa forma de avaliação qualitativa da distribuição do fluxo de ar (BITTENCOURT, 2008).
A aplicação da técnica do IFR – imageamento infravermelho – permite a demonstração
do aquecimento superficial das massas edificadas que, através das trocas térmicas, aquecem a
camada de ar elevando a temperatura local e no conjunto da cidade. Através da leitura das
imagens, foram identificadas as superfícies resfriadas e aquecidas indicando tendências ao maior
ou menor aquecimento do ar, uma vez que a circulação dos ventos desloca o ar aquecido sobre
estas superfícies.
Ao mensurar a temperaturas do ar sua velocidade e direção, temperaturas superficiais
das edificações e arruamentos, obtiveram-se os parâmetros de microclimas característicos para o
estudo da primeira légua patrimonial de Belém, permitindo esclarecer e reduzir os impactos
gerados por edifícios no padrão de ventilação natural urbana.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir das discussões sobre a rugosidade da malha urbana, principalmente o acesso à
ventilação junto ao solo, pode-se perceber que a verticalização somente não é a grande barreira à
circulação do ar, uma vez que a localização apropriada de edifícios altos, entre edifícios baixos, irá
ventilar os espaços urbanos mais especificamente do que quando tem a mesma altura, resultando
em melhores condições de conforto térmico (CABRAL, 1995). Logo, é necessário que haja
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Modelos biometeorológicos, ou índices de conforto, tem sido desenvolvidos, combinando em equações e diagramas, dados biológicos do homem
e dados metrológicos, buscando definir que variáveis do clima agem sobre o organismo humano e afetam sua sensação de conforto térmico, bem-
estar e saúde (Universidade de Brasília, 1986)
porosidade3 na estruturação das edificações urbanas, sendo este fator já observado por Cabral
(1995), quando recomenda que haja uma “ocupação porosa (espaçamento entre as massas
construídas) mediante exigência de índices de ocupação do lote e da quadra compatíveis com
uma adequada ventilação do tecido urbano”.
Ao se analisar os nomogramas de Temperatura Efetiva Corrigida (KOENIGSBERGER,
1977) e/ou Índice de Conforto Equatorial (WEBB apud FROTA E SCHIFFER, 2003), verifica-se
que, em ambos os casos, a Temperatura Efetiva é corrigida pela ação da velocidade do vento.
Tais ações são necessárias para demonstrar a eficiência do vento em gerar sensações térmicas
diferenciadas. Em ambos os casos, numa análise dimensional, é possível verificar um significativo
incremento da temperatura efetiva quando da estagnação da velocidade do vento (Figuras 8 e 9).
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Representada pela maior ou menor permeabilidade de uma estrutura urbana a passagem dos ventos expressa
através da relação entre espaços abertos e espaços confinados (CABRAL, 1995)
°C, numa situação de 80% de Umidade Relativa (UR%), obteve-se via carta psicrométrica para o
nível do mar (Belém situa-se entre 3,5 e 15 metros de altitude) uma temperatura de bulbo úmido
de TBU=25,6°C. Em tais condições uma vez inseridas nos nomogramas acima e analisadas as
velocidades do vento entre 0 a 1 m/s, obtiveram-se as respectivas amplitudes para os
nomogramas: para Webb (Fig. 09), de ∆TE = 2,1 °C e para Koenigsberger ∆TE = 1,5 °C (Fig.
08). É necessário indicar que ao se impor a condição de 80% de UR junto à carta psicrométrica
(Fig. 10), ambas as situações podem representar condições extremas, sendo no caso de Belém
uma condição constante em clima equatorial úmido,não sendo, portanto, suficiente para descrever
o pior cenário, enquanto que, para o nomograma de Koenigsberger, pode estar
instrumentalizando o efeito de “margem de segurança” nos procedimentos descritos por Frota e
Schiffer (2003), através do método adaptado do CSTB à condição brasileira.
Para definir o pior cenário no clima quente-úmido tropical (equatorial), forçosamente tem-
se que abordar a condição de temperatura ar-sombra e ar-sol, sendo esta última mais crítica
quando da ausência de ventilação, em outras palavras, para o clima quente-úmido equatorial nos
aproximar-se-á das condições de conforto mais amenas quando se estiver à sombra e com vento
disponível, e isto, no nomograma de Webb, apresenta uma amplitude maior em termos do efeito
de temperatura efetiva (2,1 °C).
Existe ainda a necessidade da incorporação do conceito de exposição ao calor radiante,
que pode ser concomitante ou não com a presença de insolação direta, pois estar à sombra pode
necessariamente, não levar à condição de estar abrigado do calor radiante, que pode ser de
origem solar ou irradiado das superfícies aquecidas, edificadas no meio urbano.
Na avaliação dos efeitos da massa construída e da geometria urbana no deslocamento
das massas de ar, foram criados modelos esquemáticos de edificações para simulação em
ambiente virtual do programa CFD - Computer Fluid Dinamics, dispostos de modo que a
simulação pudesse demonstrar e evidenciar os pontos que permitiriam uma maior fluidez e um
provável efeito de estratificação das camadas de ar. Bittencourt (2008) já dissertou sobre esta
necessidade: “Para a questão da ventilação geralmente obtêm-se apenas as taxas de ventilação,
ou renovação do ar, mas existe a necessidade também de conhecer a distribuição do fluxo de ar
ao longo da malha urbana, por exemplo, o que pode ser obtido através das simulações em CFD
(Computer Fluid Dynamics), único capaz de examinar alternativas de desenho e sua influência
nos padrões de ventilação natural”.
Foi verificada, através dos estudos modelados em CFD, que a adoção de pilotis pode ser
de grande importância na permeabilidade do vento para o interior da malha urbana, hipótese que
pôde ser confirmada na comparação dos resultados de velocidade e temperatura dos dois
modelos propostos para simulação, conforme a figura 09. Quando inserido o modelo com pilotis, a
imagem apresenta um acréscimo de ventilação na região inferior da edificação de maior altura na
área do vão livre, junto ao térreo, que conduz parte do fluxo que se avoluma de forma que este
atravesse a edificação pelo vão livre.
Figuras 11 e 12: Simulação da distribuição do fluxo das massas de ar através de edificações (acima) com e
(abaixo) sem pilotis (Fonte: Irving Franco e Adry Lima, 2012).
4. CONCLUSÕES
Através de uma leitura atenta dos instrumentos propostos, evidencia-se a clara
necessidade de propiciar acesso à ventilação, de forma regulamenta nos códigos de posturas do
município, onde apenas recuos, índices de ocupação e aproveitamento não são suficientes para
garantir os a diluição da poluição e a dissipação do calor inerente ao meio urbano adensado.
A adoção de uma política de arborização mais intensa e responsável pode reverter a
árida paisagem verificada em inúmeras ruas e avenidas da cidade de Belém. Para os edifícios
altos, a adoção de estacionamentos elevados devido a suas características e exigências de
ventilação cruzada e junto ao térreo pilotis associado a planta livre, pode favorecer a
permeabilidade, reduzindo o impacto sobre a vizinhança.
A utilização de imageamento IFR e de técnicas de CFD demonstraram-se
complementares, pois fornecem dados e permitem simular, respectivamente, situações
específicas de posturas de uso e ocupação do solo.
AGRADECIMENTOS
Aos alunos do PPGAU, colaboradores da FAU, aos pós-graduandos da Embrapa,
graduandos da UFRA, em especial a Pesquisadora Dra. Lucietta Martorano (Embrapa Oriental),
ao LIA-laboratório de Informática da Arquitetura/FAU através da Diretora Vanessa Watrin, ao
LACAN/FAU, através do Profs Drs. José Júlio Ferreira Lima e Juliano Pamplona Ximenes pelo
incentivo e apoio financeiro, as Professoras Dras. Ana Claúdia Cardoso e Elcione Lobato de
Moraes, que permitiram diretamente consolidar nosso grupo de pesquisa. A Eletrobrás Procel
Edifica, por fomentar os recursos necessários para implementação do LADEC/FAU.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS