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ISSN 1981-8289

V O L U M E 3 • N Ú M E R O 4 • ou t / nov / d e z 2 0 0 9

Órgão Oficial de publicação científica da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

editorial .........................................................................................................................................151

artigos originais

Nível de atividade física e condicionamento cardiorrespiratório entre idosos caidores


e não caidores.. ...................................................................................................................................152
Cíntia Malaquias Rodrigues, Ludmilla Almeida Fernandes Ribeiro, Taciana Ramos Luz, Raquel Rodrigues Britto, Rosângela Corrêa Dias

Correlação entre acuidade visual e desempenho funcional em idosos com catarata...............................158


Barbara Gazolla de Macedo, Leani de Souza Máximo Pereira, Aldemar N. Brandão Vilela de Castro, Jucilene Camelo,
Paula Carolina Duarte Sales

Atividade física em idosos: percepção dos coordenadores de instituições de longa permanência...........164


Danielle Fonte Boa Rachid, Regina Coeli Cançado Peixoto Pires

Enfoque dos temas atividade física, envelhecimento e saúde mental nos programas
de pós-graduação no Brasil . ...............................................................................................................169
Larissa Pires de Andrade, Grace Angélica de Oliveira Gomes, José Alexandre Curiacos de Almeida Leme, Raquel Gonçalves,
Cláudia Teixeira-Arroyo, Gustavo Gomes de Araújo, Carla Ribeiro, Florindo Stella, Sebastião Gobbi

Aspectos simbólicos da alimentação na velhice.. ..................................................................................175


Valcilene Pinheiro da Silva, Carmen Jansen de Cárdenas

Percepção dos idosos perante o sexo na idade avançada......................................................................182


Katrin da Silva Ferreira, Mariana Gaspar Silva, Tássia M. D. Almada Cherem, Cláudia Lysia de O. Araújo

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INSTRUÇÕES AOS AUTORES

Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia
ISSN 1981-8289
VOLUME 3 • NUMBER 4 • OUT/NOV/DEZ 2009

brazilian

Official Journal of the Brazilian Society of Geriatrics and Gerontology

editorial........................................................................................................................................................................... 151

original articles

Level of physical activity and cardiorespiratory conditioning between of falling and non falling elders.......................... 152
Cíntia Malaquias Rodrigues, Ludmilla Almeida Fernandes Ribeiro, Taciana Ramos Luz, Raquel Rodrigues Britto, Rosângela Corrêa Dias

Correlation between visual acuity and functional performance in aged with cataract...................................................... 158
Barbara Gazolla de Macedo, Leani de Souza Máximo Pereira, Aldemar N. Brandão Vilela de Castro, Jucilene Camelo,
Paula Carolina Duarte Sales

Physical activity in an elderly population: the perception of the long-term care facility managers.................................. 164
Danielle Fonte Boa Rachid, Regina Coeli Cançado Peixoto Pires

Focus on themes of physical activity, aging and mental health in Brazilian graduate programs....................................... 169
Larissa Pires de Andrade, Grace Angélica de Oliveira Gomes, José Alexandre Curiacos de Almeida Leme, Raquel Gonçalves,
Cláudia Teixeira-Arroyo, Gustavo Gomes de Araújo, Carla Ribeiro, Florindo Stella, Sebastião Gobbi

Symbolic aspects of the feeding in old age........................................................................................................................ 175


Valcilene Pinheiro da Silva, Carmen Jansen de Cárdenas

Perception of the elderly towards sex in old age................................................................................................................ 182


Katrin da Silva Ferreira, Mariana Gaspar Silva, Tássia M. D. Almada Cherem, Cláudia Lysia de O. Araújo

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Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia
editorial

Os benefícios da atividade física em pessoas idosas têm sido amplamente relatados na literatura cien-
tífica. O nível de atividade física é inversamente correlacionado ao risco de mortalidade e apresenta-se
como fator determinante da longevidade humana. Ressalte-se ainda seu papel na redução do risco de
condições patológicas comuns na idade avançada, incluindo diabetes, hipertensão, osteoporose, depres-
são, ansiedade e neoplasias como câncer de cólon e de mama.
Apesar desses benefícios, programas de promoção de atividade física na população idosa não são
amplamente disponíveis nem tomados como prioritários pelas políticas públicas. Mesmo em países
desenvolvidos, observa-se que menos da metade dos idosos tem nível de atividade física considerado
satisfatório para a prevenção de doenças.
Os resultados de dois estudos publicados na presente edição ilustram aspectos da promoção de ati-
vidade física na população de idosos brasileiros. Em instituições de longa permanência de um centro
urbano do país, verificou-se a inexistência do profissional de educação física e de serviços estruturados
para a promoção de atividade física para os idosos. Por sua vez, a inclusão de linhas de pesquisa e disci-
plinas diretamente relacionadas à atividade física, ao envelhecimento e à saúde mental nos programas
de pós-graduação do Brasil mostrou-se ainda incipiente.
Ainda que a atividade física seja fundamental para a saúde do idoso, vários outros fatores parecem
participar da linha de causalidade de condições frequentes na idade avançada, como as quedas. O estu-
do realizado por Rodrigues et al. mostrou que entre os idosos caidores há uma porcentagem menor de
idosos ativos do que nos idosos não caidores. Entretanto, não se verificou diferença significante no nível
de atividade física e no desempenho cardiorrespiratório entre os dois grupos. Por sua vez, o estudo de
Gazolla de Macedo et al. chama a atenção para a necessidade de avaliação mais ampla da função visual,
indo além da acuidade visual, para melhor se estabelecer sua correlação com a mobilidade do idoso.
A edição atual de Geriatria & Gerontologia compõe-se ainda de dois estudos de natureza qualitativa,
demonstrando o escopo variado de pesquisa no campo da geriatria e gerontologia.

Os Editores
ARTIGO ORIGINAL

Nível de atividade física e


condicionamento cardiorrespiratório
entre idosos caidores e não caidores
Level of physical activity and cardiorespiratory conditioning
between of falling and non falling elders

Cíntia Malaquias Rodrigues1, Ludmilla Almeida Fernandes Ribeiro1,


Taciana Ramos Luz1, Raquel Rodrigues Britto1, Rosângela Corrêa Dias1

RESUMO Recebido em 30/11/2009


Aceito em 27/2/2010
Estudos indicam a maior propensão de idosos às quedas, sendo o conhecimento das variáveis relacionadas à
capacidade funcional importante na detecção e na prevenção desses eventos. Objetivo: Comparar e associar as
variáveis capacidade cardiorrespiratória e nível de atividade física entre idosos caidores e não caidores da comuni-
dade. Métodos: Pesquisa descritiva transversal. Amostra com 56 idosos da comunidade, com média de idade de
74,34 ± 6,87 anos. Foram utilizados: Inquérito de Quedas para discriminação dos idosos em caidores ou não caido-
res, Perfil de Atividade Humana para identificar o nível de atividade física e Teste de Esforço Máximo para avaliar
condicionamento cardiorrespiratório. Análise estatística realizada por teste não paramétrico, adotando-se um nível
de significância de 5%. Resultados: Foi identificada uma frequência de quedas elevada em idosos comunitários
e, entre os que relataram queda, a maioria caiu duas vezes ou mais, critério utilizado para discriminar os idosos em
caidores ou não. Não houve diferença no Perfil de Atividade Humana e no desempenho cardiorrespiratório entre os
grupos de idosos caidores e não caidores. Observou-se uma relação entre idade, nível de atividade física e desem-
penho cardiorrespiratório. Conclusão: Entre os idosos caidores, há uma porcentagem menor de idosos ativos do
que nos idosos não caidores. Apesar disso, não foi identificada diferença significativa no nível de atividade física
e no desempenho cardiorrespiratório entre esses grupos, o que indica que outros componentes da capacidade
funcional do idoso possam estar relacionados com a frequência de quedas.
Palavras-chave: Idosos, quedas, capacidade cardiorrespiratória, capacidade aeróbica, nível de atividade física.

ABSTRACT
Studies indicate a greater propensity of elderly to falls and the knowledge of the variables related to functional ca-
pabilities important in detecting and preventing these events. Objective: To compare and to associate the variables
cardiorespiratory capacity and level of physical activity among falling and non falling elders in the community. Methods:
Transversal descriptive study. Sample of 56 elders of the community, with age average 7,34 years. Were used: Falls
Inquiry to discriminate against the elderly in fallers or non-fallers, Human Activity Profile (HAP) to identify the level of
physical activity and maximal exercise test to assess cardiorespiratory fitness. Statistical analysis performed by non-
parametric test, adopting a level of significance of 5%. Results: A frequency of community-dwelling falling elders,
amongst that they had told fall, the majority was identified fell two times or more, used criterion to discriminate
against the aged in fallers or non-fallers. It did not have difference in the Human Activity Profile being and in the
cardiorespiratory performance it enters the groups of aged fallers and non fallers. There was a relationship between
age, physical activity level and cardiorespiratory capacity. Conclusion: Between the falling elders it has a lesser
percentage of aged assets of what in non falling elders. Although there, were not identified significant difference
in the level of physical activity and the cardiorespiratory performance between these groups what it indicates that
other components of the functional capacity of the aged one can be related with the frequency of falls.
Keywords: Elder people, falls, cardiorespiratory capacity, aerobic capacity, physical activity level. 1
Universidade
Endereço para correspondência: Cíntia Malaquias Rodrigues • Rua Horácio Terena Guimarães, 136, Céu Azul − Federal de Minas
31585-000 − Belo Horizonte, MG • Tels.: (31) 3496-1545/9156-5581 • E-mail: cintiamalaquias@ig.com.br Gerais (UFMG).
Quedas em idosos, VO2 e PAH 153

INTRODUÇÃO de dados do Laboratório de Avaliação e Pesquisa em


Desempenho Cardiorrespiratório (LabCare) do De-
O processo de transição demográfica e a modificação partamento de Fisioterapia, da Escola de Educação
do perfil epidemiológico predispõem a população ao Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Univer-
desenvolvimento de incapacidades, perda de autono- sidade Federal de Minas Gerais (EEFFTO/UFMG),
mia e da qualidade de vida, provocando uma gran- no qual foi realizado o teste de esforço cardiopulmo-
de preocupação referente às quedas em idosos, que é nar ou ergoespirometria e a aplicação do Perfil de Ati-
comumente uma das grandes responsáveis por esses vidade Humana.
desfechos1-3. No Brasil, cerca de 31% dos idosos com Neste estudo, a capacidade cardiorrespiratória do
mais de 65 anos sofrem quedas pelo menos uma vez indivíduo foi determinada pelo consumo de oxigênio
ao ano e 11% sofrem quedas recorrentes1. (VO2) médio, representado pela média dos últimos 30
A queda pode ser definida como um evento não segundos de exercício e pelo VO2 pico, representado
intencional que resulta na mudança da posição do pelo valor máximo alcançado durante o teste, ambos
indivíduo para um nível mais baixo em relação à obtidos pela ergoespirometria, no qual foram utiliza-
sua posição inicial. Quedas associadas com perda da dos o sistema metabólico de análise de gases Medi-
consciência, evento cerebrovascular agudo, infecções cal Graphics® (CPX Ultima®, Miami, FL, USA) e a
agudas, atividade recreativa vigorosa ou violência, en- esteira ergométrica (Millenium Classic CI Inbramed/
tre outros, não são incluídas na definição de quedas Inbrasport®, Porto Alegre, RS). Já o nível de ativida-
em idosos4-6. de física foi avaliado por meio do Perfil de Atividade
A etiologia das quedas é multifatorial, sendo re- Humana (PAH)19, no qual os escores primários são
lacionada a perturbações intrínsecas e a fatores que calculados com base nas respostas e geram o escore
dependem de circunstâncias sociais, ambientais, máximo de atividade (EMA) e o escore ajustado de
comportamentais e relativos a atividades1,7-11. atividade (EAA), possibilitando a classificação dos
indivíduos, de acordo com a pontuação, em inativos
Assim, a maior propensão de quedas em idosos (EAA menores que 53), moderadamente ativos (EAA
também está relacionada a prejuízos na capacidade entre 53 e 74) e ativos (EAA maiores que 74). O PAH
funcional12, sendo um dos seus componentes a capa- avalia o desempenho por intermédio do autorrelato
cidade cardiorrespiratória ou aeróbica, que identifica e é um instrumento validado e confiável, traduzido e
a habilidade do sistema cardiopulmonar em disponi- adaptado culturalmente para a população brasileira19.
bilizar substratos energéticos e oxigênio para o pro-
cesso de respiração celular13. Os participantes do projeto foram contatados e
submetidos ao inquérito de quedas a fim de classifi-
Um modo confiável e representativo de avaliação cá-los como caidores e não caidores. Aqueles idosos
da capacidade funcional cardiorrespiratória é por meio que não foram encontrados, ou negaram participação
da mensuração do consumo de oxigênio (VO2)14. neste processo, foram excluídos da amostra inicial
A literatura tem demonstrado um declínio do VO2 fornecida (n = 63).
em cerca de 1% ao ano, ou da ordem de 0,4 a 0,5 ml/
kg/min/ano, além de estabelecer relações desse declí- O inquérito de quedas utilizado aborda o número
nio com o estilo de vida do indivíduo3,15-18. Assim, o de quedas dos idosos nos últimos seis meses e inves-
presente estudo teve como objetivo comparar e asso- tiga diferentes circunstâncias em que o evento acon-
ciar as variáveis capacidade cardiorrespiratória e nível teceu. De acordo com a resposta do idoso quanto à
de atividade física entre idosos caidores e não caidores ocorrência de queda, a entrevista prossegue para a
da comunidade. coleta de informações quanto à classificação da que-
da como acidental e não acidental, a presença de sin-
tomas premonitórios, a necessidade de ajuda para o
MÉTODOS idoso se levantar e o tempo em que ficou no chão.
Foram considerados caidores os que responderam ter
Trata-se de um estudo observacional transversal des- sofrido duas quedas ou mais, à semelhança do estudo
critivo com amostra de conveniência de 56 idosos de de Morris et al.20, porém em investigação realizada em
65 anos ou mais advindos da comunidade, a partir um período de 12 meses. A aplicação do inquérito
de demanda voluntária, sendo utilizadas informa- ocorreu nas dependências da universidade no mesmo
ções relacionadas à capacidade cardiorrespiratória e dia da realização do teste de esforço ou posteriormen-
ao nível de atividade física destes, presentes no banco te no domicílio do idoso após marcação via telefone.
154 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(4):152-157

Foram considerados idosos jovens aqueles na faixa menos uma queda ao dia. Entre os caidores, 31,6%
etária de 65 a 72 anos e idosos velhos aqueles com 73 foram classificados como idosos jovens, 68,4% como
anos ou mais21. idosos velhos, 52,6% como ativos e 47,4% como mo-
deradamente ativos pelo PAH; 63,2% eram do sexo
A análise estatística foi realizada por meio do pro-
feminino. No grupo de não caidores, 59,5% foram
grama Statistical Package for Social Sciences (SPSS
classificados como idosos jovens, 40,5% como idosos
15.0, Chicago, IL, USA). Tendo em vista a distri-
velhos, 73% como ativos, 27% como moderadamen-
buição não normal dos dados, foram utilizados tes-
te ativos pelo PAH; 40,5% eram do sexo feminino.
tes não paramétricos para comparação das variáveis
de interesse: Mann-Whitney para comparação entre Conforme indicado na tabela 2, os grupos cai-
os grupos de caidores e não caidores e correlação de dores e não caidores foram semelhantes do ponto de
Spear­man para verificar a associação entre as diferen- vista estatístico quanto à idade, ao nível de atividade
tes variáveis. Foi adotado um nível de significância de física e ao consumo de oxigênio. Em termos absolu-
5% ou α = 0,05. tos, apesar de os valores de VO2 médio e VO2 pico
encontrados no grupo de caidores (18,84 ± 3,39 e
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
20,38 ± 5,01 ml.kg-1.min-1, respectivamente) serem
Pesquisa da instituição (Parecer 291/07) assim como o
inferiores ao dos não caidores (20,1 ± 4,61 e 21,18 ±
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
5,44 ml.kg-1.min-1, respectivamente), não foi obser-
Os participantes do estudo foram informados e instruí­
vada diferença estatisticamente significante.
dos quanto aos procedimentos, sendo esses realizados
somente após leitura e assinatura do TCLE.
Tabela 2. Dados descritivos e comparativos das variáveis
entre idosos caidores e não caidores
RESULTADOS
Variáveis Caidores Não caidores Valor
(n = 19) (n = 27) de P*
A média de idade dos idosos avaliados (n = 56) foi de
Idade 75,68 ± 6,63 73,64 ± 6,98 0,263
74,34 ± 6,87 anos. Na tabela 1, são apresentados os
EMA 86,05 ± 7,52 90,22 ± 5,24 0,095
dados descritivos da amostra considerando todos os EAA 75,52 ± 14,46 82,14 ± 10,12 0,148
indivíduos. VO2 médio (ml/kg/min) 18,84 ± 3,39 20,12 ± 4,61 0,197
VO2 pico (ml/kg/min) 20,38 ± 5,00 21,18 ± 5,44 0,303
Tabela 1. Dados descritivos das variáveis da amostra Média ± DP: desvio-padrão; * p < 0,05; EMA: escore máximo de atividade; EAA:
total de idosos (n = 56) escore ajustado de atividade; VO2 médio: consumo médio de oxigênio; VO2
pico: valor pico do consumo de oxigênio; ml/kg/min: milímetros/Quilogramas/
Variáveis Média Mínimo Máximo minutos.
Idade 74,34 ± 6,87 65 93
EMA 88,8 ± 6,36 75 94
A partir da análise de correlação entre as variáveis
estudadas (Tabela 3), observa-se que a idade tem rela-
EAA 79,89 ± 12,06 54 94
ção inversa e significativa com o nível de atividade físi-
VO2 médio (ml/kg/min) 19,69 ± 4,25 8,3 31,4 ca e com a capacidade cardiorrespiratória. Além disso,
VO2 pico (ml/kg/min) 20,91 ± 5,26 10,2 36,6 os dados indicam que há relação direta entre o nível de
Média ± DP: desvio-padrão; EMA: escore máximo de atividade; EAA: escore atividade física e a capacidade cardiorrespiratória.
ajustado de atividade; VO2 médio: consumo médio de oxigênio; VO2 pico: valor
pico do consumo de oxigênio; ml/kg/min: milímetros/Quilogramas/minutos.
Tabela 3. Dados do coeficiente de correlação de Spearman
entre as variáveis EMA, EAA, VO2 médio, VO2 pico
A ocorrência de quedas no período de seis meses
na população estudada, independente do número de Variáveis Valores EAA VO2 médio VO2 pico
quedas, foi de 46,4% (n = 7, indivíduos que caíram (ml/kg/min) (ml/kg/min)
uma única vez e n = 19, indivíduos que caíram duas Idade Valor r -0,340 -0,592 -0,448
ou mais vezes). Em resposta ao inquérito de quedas, Valor p 0,01 < 0,01 < 0,01
33,9% (n = 19) afirmaram ter sofrido duas quedas ou EMA Valor r 0,876 0,443 0,350
mais no período de seis meses, sendo, portanto, classi- Valor p <0,01 0,001 0,008
ficados como caidores. Neste grupo, 68,4% sofreram EAA Valor r 0,518 0,525
quedas acidentais, 4 tiveram algum tipo de sintoma Valor p < 0,01 < 0,01
premonitório, somente uma idosa permaneceu no EMA: escore máximo de atividade; EAA: escore ajustado de atividade; VO2 médio:
chão por mais de 1 minuto e três idosas relataram ao consumo médio de oxigênio; VO2 pico: valor pico do consumo de oxigênio.
Quedas em idosos, VO2 e PAH 155

Ao dividir a amostra e comparar as variáveis em ficante nos índices EMA e EAA. Mazo et al.24 encon-
relação ao sexo, verificou-se diferença entre o nível traram uma relação estatisticamente significante entre
de atividade física (EMA, homens = 91,00 ± 5,12 o nível de atividade física em idosos pouco ativos,
e mulheres = 86,44 ± 6,80, p = 0,003 e EAA, ho- quedas e a condição de saúde atual (p = 0,011), sendo
mens = 83,03 ± 10,77 e mulheres = 76,52 ± 12,65, que 50% dos idosos pouco ativos que tiveram quedas
p = 0,054) e os valores médios de VO2 (homens = relataram que sua saúde atual era ruim. Ao contrário,
21,36 ± 3,89 e mulheres = 17,90 ± 3,94, p = 0,002). Laessoe et al.26 demonstraram que idosos mais ativos
seriam mais propensos a quedas, pois estariam mais
expostos a situações de risco. A prática de atividade fí-
DISCUSSÃO sica tem sido associada à redução das taxas de quedas
em estudos recentes25,27. Barnett et al.25 compararam
Os principais achados deste estudo foram: a identifica- dois grupos de idosos da comunidade com risco de
ção de uma ocorrência de quedas elevada em idosos co- quedas: o grupo controle recebeu orientações sobre
munitários e, entre os que relataram queda, a maioria prevenção de quedas e o grupo de treinamento, além
caiu duas vezes ou mais. Não foi identificada diferença das mesmas orientações, realizou atividades físicas em
no PAH e no desempenho cardiorrespiratório entre os grupo, verificando-se que os idosos do grupo de trei-
grupos de idosos caidores e não caidores. Conforme namento tiveram 40% menos chances de quedas.
esperado, observou-se relação entre idade e nível de
atividade física e desempenho cardiorrespiratório. Em estudo de observação de seguimento de dois
anos, Perracini e Ramos1 demonstraram ser uma das
Na literatura científica, a incidência de quedas na variáveis que levou a um aumento da chance de que-
população idosa ocidental é cerca de 31% (idosos que das ser do sexo feminino. Viu-se um resultado seme-
caem ao menos uma vez ano) e 11% caem de forma lhante, apesar dos delineamentos diferenciados de
recorrente1,20. investigação, no presente estudo, pois a ocorrência de
No presente estudo, observou-se uma ocorrência quedas foi maior entre as mulheres. As possíveis cau-
de quedas de 46,4%. Essa diferença pode ter sido sas que explicam esse fato ainda permanecem pouco
consequência dos diferentes conceitos de quedas esclarecidas. Sugerem-se como causas a maior fragi-
utilizados nos estudos, já que alguns consideram as lidade das mulheres em relação aos homens, assim
quedas eventos em que o corpo é projetado a um ní- como maior prevalência de doenças crônicas, maior
vel mais baixo, tendo necessariamente o contato com exposição a atividades domésticas e a um comporta-
o solo ou ainda o contato com área de suporte, pa- mento de maior risco1. No entanto, essa tendência
rede ou objetos22,23; além do fato de outros autores aumentada entre as mulheres mostra-se controversa
não apresentarem a definição de quedas utilizada na na literatura, visto que no estudo de Benedetti et al.28
investigação realizada, como acontece no estudo de houve maior ocorrência de quedas entre os homens.
Perracini e Ramos1 e Morris et al.20. A forma como No presente estudo, os valores de VO2 médio
os eventos de quedas foram investigados na amostra foram maiores em homens do que em mulheres, o
também pode influenciar, principalmente se a avalia- que também foi verificado por Stathokostas et al.21,
ção é feita em relação a um período anterior ao estu- que realizaram uma análise longitudinal em 10 anos,
do (retrospectiva)1,20 como no presente estudo, ou a encontrando valores mais altos de VO2 médio para
partir de uma informação sobre o conceito de queda homens tanto no início do estudo (baseline, homens
considerado e um levantamento posterior (prospecti- = 26,3 ± 5,4 versus 22,1 ± 4,6 nas mulheres) quanto
va), como discutido por Hauber et al.22. no final (follow-up, homens = 22,0 ± 5,3 versus 20,6 ±
Entre os resultados encontrados, a maioria dos 3,7 nas mulheres). Os valores absolutos de VO2 apre-
caidores era mais velha (68,4%), diferentemente do sentados por Stathokostas et al.21 foram superiores aos
grupo de não caidores em que a maioria era mais jo- encontrados no presente estudo.
vem (59,5%), reafirmando a influência do envelheci- Não se observou neste estudo diferença estatistica-
mento no aumento do risco de quedas8. mente significante entre os valores de VO2 de idosos
Também foi encontrado que a maior parte dos caidores e não caidores, sugerindo, assim, a não asso-
não caidores foi composta por idosos considerados ciação entre a capacidade cardiorrespiratória e quedas.
ativos (73%), o que também se observou em outros A investigação dessa associação não foi encontrada nas
estudos24,25. Por outro lado, a comparação entre os bases de dados consultadas, o que pode estar relacio-
grupos não indicou diferença estatisticamente signi- nado ao fato de não existir ainda um instrumento que
156 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(4):152-157

possa classificar com diferentes escores os idosos caido- 5. Hindmarsh JJ, Estes EH Jr. Falls in older persons. Arch Intern
res dos não caidores, a exemplo do que o PAH permite Med. 1989;149(10): 2217-22.
em termos de classificação do nível de atividade física. 6. Pereira SRM, Buksman S, Perracini M, Py L, Barreto KML, Leite
VMM. Projeto Diretrizes: Quedas em idosos. São Paulo: AMB
As limitações deste estudo foram a utilização de CFM/SBGG; 2001. p. 1-9.
uma amostra comunitária de conveniência, pois, 7. Heitterachi E, Lord SR, Meyerkort P, McCloskey IM, Fitzpatrick R.
possivelmente, os indivíduos com menor nível de Blood pressure changes on upright tilting predict falls in older
people. Age Ageing. 2002;31:182-6.
atividade física são menos suscetíveis a participar de
8. Rubeinstein LZ. Falls in older people: epidemiology, risk factors
estudos com amostras de voluntários. Outra ques- and strategies for prevention. Age Ageing. 2006;35-S2:ii37-ii41.
tão a ser considerada é o fato de os dados referen- 9. Chisthopher AE, Watkins CL, Gould C, Rowe J. Risk-factor asses-
tes aos eventos de quedas terem sido coletados pelo sment for falls: from a written checklist to the penless clinic. Age
autorrelato dos participantes, pois pode ter ocorrido Ageing. 1998;27:569-72.
algum viés de memória. Além disso, alguns idosos 10. Guimarães JMN, Farinatti PVT. Análise descritiva de variáveis
teo­ricamente associadas ao risco de quedas em mulheres idosas.
podem subestimar esses eventos com o intuito de Rev Bras Med Esporte. 2005;11(5):299-305.
negar, mesmo que inconscientemente, seu declínio 11. Fabrício SCC, Rodrigues RAP, Costa Junior ML. Causas e conse-
funcional. qüências de quedas de idosos atendidos em hospital público. Rev
Saude Publica. 2004;38(1):93-9.
Como forma de otimizar as informações obtidas
12. Speechley M, Tinetti M. Falls and injuries in frail and vigorous
referente a quedas, sugere-se que o inquérito seja apli- elderly persons. Am Geriatr Soc. 1991;39:46-52.
cado de forma prospectiva, isto é, seis meses após ex- 13. Barros Neto TL, Tebexreni AS, Tambeiro VL. Aplicações práticas
plicação dos objetivos deste ao idoso, de maneira que da ergoespirometria no atleta. Rev  Soc  Cardiol Estado de São
este fique atento aos eventos e as respostas relatadas Paulo. 2001;11(3):695-703.
tenham maior veracidade. 14. Yazbek Jr P, Tuda CR, Sabrag LMS, Zarzana AL, Battistella LR.
Ergoespirometria: tipos de equipamentos, aspectos metodoló-
Em conclusão, este estudo demonstra que há, en- gicos e variáveis úteis. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo.
tre os idosos caidores, uma porcentagem menor de 2001;11(3):682-92.
idosos ativos. Apesar disso, não foi identificada dife- 15. Jackson AS, Earl SB, Larry TW, Robert MR, Joseph ES, Spevem
NB. Changes in aerobic power of men, ages 25-70 yr. Med Sci
rença estatisticamente significante no nível de ativi- Sports Exerc. 1995;27(1):113-20.
dade física e no desempenho cardiorrespiratório entre 16. Colleen GW, Gledhill N, Gledhill VK, Ferguson S. Exercise cardiac
os grupos de idosos caidores e não caidores. Esses function in young though elderly endurance trained women. Med
resultados sugerem que outros componentes da capa- Sci Sports Exerc. 1999;31(5):684-91.
cidade funcional do idoso possam estar relacionados 17. Matsudo SM, Matsudo Barros Neto TL. Impacto do envelheci-
mento nas variáveis antropométricas, neuromotoras e metabóli-
com a frequência de quedas. cas da aptidão física. Rev Bras Ciên Mov. 2000;8(4):21-32.
18. Macedo IF, Duarte CR, Matsudo VKR. Avaliação da potência aeró-
bica em adultos de diferentes idades. Rev Bras Cien Mov. 1987;
AGRADECIMENTOS 1(1):7-13.
19. Souza AC, Magalhães LC, Salmela LFT. Adaptação transcultural e
Agradecemos às fisioterapeutas Camila Camargos análise das propriedades psicométricas da versão Brasileira do Per-
fil de Atividade Humana. Cad Saude Publica. 2006;22(12):2623-36.
Zampa e Patrícia Azevedo Garcia pela contribuição
20. Morris M, Osborne D, Hill K, Kendig H, Lundgren-Lindquist B, Bro-
na realização deste estudo. wning C, et al. Predisposing factors for occasional and multiple
falls in older Australians who live at home. Aust J Physiother.
2004;50:153-9.
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2002;36(6):709-16. review of definition and methods of measure fall in randomized
2. Chaimowicz F. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do sé- controlled prevention trials. Age Ageing. 2006;35:5-10.
culo XXI: problemas, projeções e alternativas. Rev Saude Publica. 23. Ishizuka MA, Mutarelli EG, Yamaguchi AM, Jacob Filho W. Falls
1997;31(2):184-200. by elderly with moderate level of movement functionality. Clinics.
3. Nóbrega ACL, Freitas EV, Oliveira MAB, Leitão MB, Lazzoli JK, 2005;60(1):41-6.
Nahas RM, et al. Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira 24. Mazo GZ, Liposcki DB, Ananda C, Prevê D. Condições de saúde,
de Medicina do Esporte e da Sociedade Brasileira de Geriatria e incidência de quedas e nível de atividade física dos idosos. Rev
Gerontologia: Atividade Física e Saúde no Idoso. Rev Bras Med Bras Fisioter. 2007;11(6):437-42.
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4. Colledge N. Falls. Rev Clin Gerontol. 2002;12:221-32. based group exercise improves balance and reduce falls at risk
Quedas em idosos, VO2 e PAH 157

older people: a randomized controlled trial. Age and Ageing. 27. Mazzeo RS, et al. Exercise and physical activity for older adults.
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26. Laessoe U, Hoeck HC, Simonsen O, Sinkjaer T, Voigt M. Fall risk in 28. Benedetti TRB, Binotto MA, Petroski EL, Gonçalves LHT. Ativida-
activity elderly population. Can it be assessed? J Negat Results de física e prevalência de quedas em idosos residentes no sul do
Biomed. 2007;6(2):1-11. Brasil. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2008;11(2):145-54.
ARTIGO ORIGINAL

Correlação entre acuidade


visual e desempenho funcional
em idosos com catarata
Correlation between visual acuity and functional
performance in aged with cataract

Barbara Gazolla de Macedo1, Leani de Souza Máximo Pereira2, Aldemar N. Brandão


Vilela de Castro3, Jucilene Camelo4, Paula Carolina Duarte Sales4

RESUMO Recebido em 30/11/2009


Aceito em 25/1/2010
Objetivos: O déficit visual está associado a morbidade e mortalidade em idosos, presença de quedas, incapacidade
física, dificuldade para as atividades de vida diária e depressão. O objetivo do estudo foi correlacionar a idade, a
medida da acuidade visual dos idosos com catarata e o desempenho funcional no teste Timed Up and Go (TUG).
Métodos: Trata-se de um estudo transversal observacional. Foram avaliados 99 idosos de ambos os sexos, com
média de idade 71 anos (± 6,69). Resultados: Embora o tempo para realização do TUG tenha aumentado com a
idade, não houve correlação entre o grau de acometimento da acuidade visual e o desempenho funcional (olho
direito, p = 0,212; olho esquerdo p = 0,066). Conclusão: Sabe-se que uma boa função visual é representada não só
pela acuidade, mas também pela nitidez e contraste adequados, boa percepção de profundidade, de discriminação
de cores e de ampla visão periférica. Portanto, somente a avaliação da acuidade visual pode não ser suficiente para
indicar uma correlação entre visão e mobilidade.
Palavras-chave: Idoso, desempenho funcional, equilíbrio, mobilidade, acuidade visual.

Abstract
Objectives: Visual deficit is often associated to morbidity and mortality in older adults, leading to falls, physical in-
capacity, difficulty in activities of daily living and depression. The aim of this study was to investigate the correlation
between age, visual acuity measurement in older adults with cataract and functional performance obtained from
Timed Up and Go (TUG) Test. Methods: A transversal observational study was carried out. There were evaluated
99 older adults of both genders, with mean-age of 71 years (± 6,69). Results: Even though the TUG time increased
with increasing age, there was not observed a correlation between the level of visual acuity and the functional 1
Instituto de
performance (right eye, p = 0,212; left eye, p = 0,066). Conclusion: It is already known that a good visual function Previdência dos
is represented not only by the visual acuity, but also by adequate contrast sensitivity and visual clarity, satisfactory Servidores do Estado
depth perception and color discrimination and wide peripheral visual field. Therefore, the measurement of visual de Minas Gerais
acuity alone could not be suitable to indicate a correlation between vision and mobility. (IPSEMG). Centro
Keywords: Elderly, functional performance, balance, mobility, visual acuity. Universitário de Belo
Horizonte (UNI-BH).
2
Universidade
Federal de Minas
Gerais (UFMG).
3
Instituto de
Previdência dos
Servidores do Estado de
Minas Gerais (IPSEMG).
4
Centro Universitário
Endereço para correspondência: Barbara Gazolla de Macedo • Rua Matipó, 340/102, Santo Antônio − de Belo Horizonte
30350-210 − Belo Horizonte, MG • Tel.: (31) 9109-2032 • E-mail: barbaragazolla@terra.com.br (UNI-BH).
159
Acuidade visual e desempenho funcional

INTRODUÇÃO três vezes maior (OR = 3,1; IC 2,3-4,3, p < 0.001) de


dependência funcional e pior desempenho nos testes
A população brasileira vem envelhecendo rapidamen- como postura Tandem, sentar-se e levantar-se de uma
te desde a década de 1960, alcançando a sexta posição cadeira e velocidade de marcha do que aqueles com
mundial em termos de número absoluto de indiví­ boa visão (acuidade de 20/40)5.
duos com 60 anos ou mais. Com o envelhecimento Ivers et al.7 investigaram também a associação en-
da população, ocorre o aumento das doenças crônico- tre déficit visual e quedas em 3.654 indivíduos idosos
degenerativas, entre elas: doenças pulmonares obstru- da comunidade. Trata-se de uma coorte do estudo
tivas, doenças osteoarticulares, demências, e déficits The Blue Mountains Eye Study. Os resultados indi-
sensoriais, como os auditivos e visuais1. caram que uma baixa função visual (ofuscamento,
Um dos primeiros sistemas a sofrer o impacto do contraste, acuidade e campo visual) está relacionada
processo de envelhecimento fisiológico é o sensorial e, estatisticamente com duas ou mais quedas. Idosos
particularmente, o visual. São frequentes as alterações com leve, moderada e grave diminuição na acuidade
visuais funcionais, tais como: diminuição da acuidade visual apresentaram, respectivamente, 1,4 (95% IC
visual, do campo visual periférico, da sensibilidade ao 1,1-2,0); 1,0 (95% IC 0,4-2,2); e 2,2 (1,1-4,3) vezes
contraste, da discriminação das cores, da capacidade mais a chance de caírem duas ou mais vezes; idosos
de recuperação da exposição à luz ofuscante, da adap- com diminuição na sensibilidade ao contraste têm
tação ao escuro e da noção de profundidade2. mais chance de experimentar queda, bem como os
idosos com anormalidades no campo visual7.
A acuidade visual é determinada como a função
que exprime a capacidade discriminativa de formas, Com relação ao sistema visual, a catarata é uma
ou como o método com que se mede o reconheci- das doenças que mais acometem os idosos, sendo
mento da separação angular entre dois pontos no definida como qualquer opacidade do cristalino que
espaço. Um trabalho realizado pela Sociedade Ame- difrate a luz, acarretando um efeito negativo na vi-
ricana de Geriatria apontou o déficit visual como um são8. De acordo com a Organização Mundial da
dos fatores de risco intrínsecos para quedas em idosos. Saúde (1982), a catarata é a desvantagem visual mais
A baixa acuidade visual pode ser um fator relacionado frequente no mundo. É considerada a principal cau-
à perda de equilíbrio, levando às quedas, pela dimi- sa de cegueira, sendo responsável por cerca de 50%
nuição da estabilidade postural ou, indiretamente, dos 50 milhões de casos9. As queixas mais frequentes
por reduzir a mobilidade e a função física3,4. são: diminuição da acuidade visual, sensação de visão
“nublada ou enevoada”, sensibilidade maior à luz, al-
A perda visual é um fator importante correlacio-
teração da visão de cores, diminuição da percepção
nado com a morbidade e a mortalidade no idoso de-
de profundidade e mudança frequente da refração10.
vido ao aumento do risco de quedas, à incapacidade
A catarata, por sua vez, pode afetar a mobilidade do
física, à depressão, à dificuldade para as atividades de
idoso, contribuir para a ocorrência de quedas e, as-
vida diária (AVDs) e atividades instrumentais de vida
sim, limitar suas atividades funcionais10.
diária (AIVDs)5.
O presente estudo teve como objetivo analisar a
Aproximadamente 18,4% dos idosos residentes
relação entre o nível de déficit da acuidade visual (sem
na comunidade, entre 65 e 74 anos, que apresentam
déficit, leve, moderada e grave) e o desempenho fun-
déficit visual, relatam dificuldades em realizar tarefas
cional dos idosos avaliado pelo teste Timed Up and
e atividades fora de casa (compras e finanças) e apenas
Go (TUG), de acordo com a faixa etária (60-69 anos,
4,4% dos idosos sem problemas visuais relatam tais
70-79 anos, 80 e mais), em idosos com diagnóstico
dificuldades funcionais. Idosos institucionalizados
de catarata atendidos em ambulatório de oftalmolo-
com déficit visual requerem mais assistência nas ativi-
gia de um hospital público.
dades básicas de vida diária, quando comparados com
aqueles que não têm tal deficiência5,6.
Salive et al.5, em um estudo baseado numa coor- MÉTODOS
te de 5.143 idosos da comunidade (Projeto EPESE),
encontraram associação entre alterações visuais para Trata-se de um estudo envolvendo 99 idosos com
longe e limitações das atividades de vida diária e do diagnóstico de catarata e indicação cirúrgica, atendi-
equilíbrio. Idosos com pior visão para longe (acuida- dos na clínica oftalmológica de um hospital público.
de de 20 por 200) apresentaram uma probabilidade Todos os idosos que compareceram ao hospital para
160 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(4):158-163

realizar a cirurgia e que preencheram os critérios de A medida da acuidade visual foi realizada pelo
inclusão, que concordaram em participar do estudo oftal­mologista e os dados foram coletados do
assinando o termo de consentimento livre e escla- prontuá­rio médico do paciente. A acuidade visual é
recido, foram incluídos na pesquisa. O trabalho foi avaliada por meio dos optótipos (letras) de Snellen
aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Institu- (1862), que consistem em um teste simples, barato e
to de Previdência dos Servidores do Estado de Minas rápido, muito utilizado pela prática clínica. Os optó-
Gerais (IPSEMG), n° 218/06, e atendeu aos princí- tipos compreendem uma série de letras de tamanho
pios éticos dispostos na Declaração de Helsinki e le- decrescente. Os resultados dos testes são expressos em
gislações nacionais pertinentes a pesquisas com seres forma de fração, cujo numerador representa a distân-
humanos. cia na qual o paciente encontra-se do optótipo e o de-
nominador, a linha que se vê nessa distância. Assim,
Os seguintes critérios de inclusão foram obede- se a sua visão for normal, ao ver a linha que deve ser
cidos: ter 60 anos ou mais, diagnóstico de catarata, lida a uma distância de seis metros (20 pés) quando
deambular de forma independente e sem auxílio de se encontra a seis metros, sua acuidade visual é 6/6 ou
órteses. Foram excluídos pacientes com deambulação 20/20, e, se quando se encontrar nessa distância só
dependente, com claudicação, presença de doenças conseguir ver a linha que o indivíduo com a visão pa-
neurológicas (acidente vascular encefálico e doença de drão (normal) veria a 24 metros, sua acuidade visual
Parkinson), labirintites, hipotensão ortostática sinto- é então de 6/24. Uma boa acuidade visual é expressa
mática, alterações cognitivas, em pós-operatórios re- pelo valor 6/6 (metros) ou 20/20 (pés) = 114.
centes, com artroplastia ou qualquer osteossíntese dos
membros inferiores, doenças reumatológicas e orto- Este estudo adotou a classificação da acuidade vi-
pédicas ativas, queixas álgicas, fraqueza dos membros sual de acordo com Lee e Scudds15: sem déficit > 0,5;
inferiores, pacientes com cirurgias oftalmológicas leve 0,5 ≥ 0,3; moderada 0,3 ≥ 0,1 e grave < 0,1.
prévias e glaucoma.
Análise estatística
Instrumentos e procedimentos para coleta Utilizou-se análise descritiva das variáveis sociodemo-
dos dados gráficas, do relato de quedas, medo de cair, atividade
física, doenças associadas e da medida da acuidade
Os testes foram aplicados na clínica oftalmológica,
visual.
por dois fisioterapeutas previamente treinados por
meio de um estudo-piloto, entre os meses de outubro Para as análises de correlação entre acuidade vi­
de 2006 a julho de 2007. Para a seleção da amostra, sual, idade e desempenho no teste TUG, utilizou-se o
quanto aos aspectos cognitivos, foi aplicado o Mini- coeficiente de correlação de Spearman. Para essa aná-
Exame do Estado Mental10. Em seguida, realizaram- lise, a idade foi estratificada da seguinte forma: 60-69,
se testes de força muscular manual para os grupos 70-79, mais que 80 anos.
musculares dos membros inferiores, a fim de excluir O nível de significância estabelecido foi de 0,05.
idosos com fraqueza muscular11. As análises foram realizadas no software estatístico
Para a caracterização da amostra, os idosos respon- SPSS, versão 13.
deram a um questionário clínico sociodemográfico
desenvolvido pelos pesquisadores.
RESULTADOS
Foi aplicado o teste TUG, que consiste em levan-
tar-se de uma cadeira (46 cm de altura do acento ao Foram avaliados 99 idosos de ambos os sexos (ho-
chão) com apoio de braço e encosto, deambular por mens 35,4% e mulheres 64,6%) com idade média de
três metros e retornar ao assento, enquanto o tempo é 71 (± 6,69) anos. Quanto à escolaridade, a maioria
cronometrado. O indivíduo adulto independente sem apresentou o ensino fundamental incompleto (n =
alterações de equilíbrio realiza o teste em 10 segundos 48,5%) (dados não mostrados em tabela). Com re-
ou menos; os que são dependentes em transferências lação ao acometimento da acuidade visual, 64,6%
básicas realizam o teste em 20 segundos ou menos, e apresentaram déficit visual leve no olho direito e
os que necessitam de mais de 20 segundos para rea- 49,5% apresentaram leve acometimento no olho es-
lizar podem ser dependentes em muitas AVDs e na querdo (Tabela 1). Após analisar a frequência de ati-
mobilidade. O TUG é um teste utilizado para avaliar vidade física, verificou-se que 64,6% não realizavam
a mobilidade funcional dos idosos12,13. atividades físicas. Quando observada a frequência de
161
Acuidade visual e desempenho funcional

doenças associadas, 82,8% apresentaram algum tipo Mesmo após a estratificação da idade, essa correlação
de doença, sendo que 69% apresentavam doença car- manteve-se ausente, 60-69 anos (olho direito p =
diovascular (dados não mostrados em tabela). 0,349; olho esquerdo p = 0,696); 70-79 anos (olho
direito p = 0,588; olho esquerdo p = 0,192); mais
de 80 anos (olho direito p = 0,635; olho esquerdo
Tabela 1. Grau de acometimento da acuidade visual do
p = 0,515) (Tabela 4).
olho direito e esquerdo em 99 idosos com diagnóstico
de catarata
Olho acometido
Tabela 3. Valores do teste Timed Up and Go (TUG) de
Acuidade visual Olho direito Olho esquerdo acordo com a faixa etária em 99 idosos com diagnóstico
N* / % N* / %
de catarata
Sem déficit (> 0,5) 15 / 15,2 31 / 31,3
TUG segundos
Leve (0,5 ≥ 0,3) 64 / 64,6 49 / 49,5 Frequência
60-69 anos 70-79 anos + de 80 anos
Moderada (0,3 ≥ 0,1) 10 / 10,1 11 / 11,1
N* 40 49 10
Grave (< 0,1) 10 / 10,1 08 / 8,1
Média 10,4 12,08 14,18
Total 99 / 100 99 / 100
Mínimo 7,03 8,02 9,72
* N = número de idosos por grupo.
Máximo 13,84 30,69 24,71
* N = número de idosos por grupo.
Verificou-se que 62,6% dos idosos não relataram
qualquer evento de queda no último ano. Quando
questionados com relação ao medo de cair, 46,5% Tabela 4. Correlação entre a idade, a acuidade visual
relataram não ter medo. Após a estratificação por ida- e o teste Timed Up and Go (TUG) em 99 idosos com
de, notou-se que os pacientes com mais de 80 anos diagnóstico de catarata
apresentaram maior relato de medo quanto às quedas Idade Acuidade visual TUG*
(Tabela 2).
60-69 anos Olho D CC** 0,152
Valor p 0,349
Tabela 2. Relato de medo de cair de acordo com a faixa Olho E CC 0,064
etária em 99 idosos com diagnóstico de catarata Valor p 0,696
Medo de cair 70-79 anos Olho D CC 0,080
Idade
Não Um pouco Moderado Muito Valor p 0,588
60-69 (N* = 40) 55,0% 17,5% 10,0% 17,5% Olho E CC 0,192
70-79 (N* = 49) 39,6% 8,3% 31,3% 20,8% Valor p 0,192
> 80 (N* = 10) 40,0% 20,0% 10,0% 30,0% + de 80 anos Olho D CC 0,172
Total (N* = 99) 46,5% 13,1% 20,2% 20,2% Valor p 0,635
* N = número de idosos por grupo. Olho E CC -0,234
Valor p 0,515
A tabela 3 mostra os valores do teste TUG de * Teste de correlação de Spearman; ** Coeficiente de correlação.
acordo com a faixa etária. O tempo médio para a re-
alização do teste TUG entre os idosos de 60-69 anos
foi de 10,4 segundos. Idosos de 70-79 anos realiza- DISCUSSÃO
ram o teste em 12,08 segundos e com aqueles com
idade superior a 80 anos o tempo médio foi de 14,18 A perda da visão é uma das causas principais de inca-
segundos. Observa-se que o tempo médio para reali- pacidade do ser humano e tem uma relação muito es-
zação do teste aumentou conforme a idade. treita com a senilidade. As estruturas oculares sofrem,
Foi realizada uma análise de correlação (Spear­ de forma cumulativa, os inúmeros danos metabólicos
man) entre a medida da acuidade visual e o teste e ambientais ao longo dos anos. Com isso, as formas
TUG. Não houve correlação entre essas duas medi- mais comuns de doenças oculares, como a catarata,
das: olho direito p = 0,212; olho esquerdo p = 0,066. são mais frequentes e mais debilitantes nos idosos16.
162 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(4):158-163

Neste estudo, a amostra foi composta, em sua como artroplastia ou osteossíntese dos membros in-
maioria, pelo sexo feminino (64,6%), mostrando o feriores, fraqueza dos membros inferiores) podem ter
processo de feminização da velhice no nosso país17. selecionado indivíduos que já apresentavam um bom
Observou-se que idosos com idade superior a 70 anos desempenho funcional. Entretanto, todas essas variá-
apresentaram maior relato de medo com relação às veis, quando presentes, podem contribuir para uma
quedas quando comparados com idosos mais jovens. alteração da funcionalidade dos participantes. Como
Entre aqueles com mais de 80 anos, a intensidade o objetivo deste estudo foi correlacionar a idade e a
desse medo foi ainda maior, o que está de acordo com acuidade visual dos idosos com catarata com o de-
o trabalho de Legters18, que mostra uma maior pre- sempenho funcional, procurou-se retirar da amostra
valência de medo de cair em mulheres e em idosos os participantes com esses acometimentos para que
longevos18. Cabe ressaltar que o medo de cair está os resultados fossem mais fidedignos com relação ao
associado ao declínio no desempenho físico e funcio- impacto da idade e acuidade visual na mobilidade.
nal, na habilidade para realizar AVDs, alterações no Por outro lado, sabe-se que uma boa função visual
equilíbrio e na marcha dos idosos19. é representada por boa acuidade, nitidez e contraste
A maioria dos idosos não apresentou relato de adequados, boa percepção de profundidade, de dis-
quedas no último ano (62,6%). Esse achado pode criminação de cores e de ampla visão periférica. Por-
ser explicado pelo rigoroso controle dos critérios de tanto, somente a avaliação da acuidade visual pode
seleção da amostra, os quais excluíram idosos com al- não ser suficiente para indicar uma correlação entre
teração da marcha, fraqueza de membros inferiores e visão e mobilidade. Deve-se considerar, também, que
qualquer doença que comprometesse o equilíbrio. a maioria desses idosos apresentou leve acometimen-
to visual, além da pequena amostra do grupo com
Bohannon20, em uma metanálise com 21 estudos, mais de 80 anos (n = 10).
propôs valores para realização do TUG de acordo
O fato de não se encontrar correlação entre visão
com a faixa etária. Idosos com idade entre 60 e 69
e mobilidade não significa que essas associações não
anos gastariam em média 9 segundos para a realização
existam, sendo necessários novos estudos nessa área.
do teste. Aqueles com idade entre 70 e 79 gastariam
Como nesta amostra os idosos apresentaram peque-
em média 10,2 segundos e, para idosos acima de 80
no acometimento visual, outros testes mais sensíveis,
anos, uma média de 12,7 segundos20. Neste estudo,
para avaliar a mobilidade e o desempenho funcional
observou-se que o aumento do tempo para realiza- motor, deveriam ser realizados.
ção do teste TUG aumentou com a idade, contudo as
médias e medianas foram superiores àquelas propos- Mobilidade, desempenho funcional, equilíbrio e
tas por Bohannon. medo de cair são variáveis que sofrem influências mul-
tifatoriais. Sendo assim, a visão nem sempre é a única
Apesar de a amostra deste estudo ser formada por ou a principal responsável por essas alterações22.
idosos independentes, é importante considerar que
eram indivíduos com diagnóstico de catarata e que
apresentavam comprometimento não só da acuidade Referências
visual, mas possivelmente de toda a função visual.
1. Chaimowicz F. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do sé-
Não houve correlação entre a medida da acuida- culo XXI: problemas, projeções e alternativas. Rev Saude Publica.
de visual, o tempo gasto para realização do TUG e 1997;31(2):184-200.
a idade. Huang et al.21 avaliaram 89 idosos durante 2. Patten C, Craik RL. Alterações sensoriomotoras e adaptação no
três testes funcionais: TUG, POMA e Reach Test. Os idoso. In: Guccione AA, editor. Fisioterapia geriátrica. 2.ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p. 73-102.
testes foram realizados utilizando uma lente especial
que simulava o processo de catarata. Os achados do 3. Rosenthal B. Alterações funcionais na visão do idoso. In: Kauff-
man TL, editor. Manual de Reabilitação Geriátrica. 1.ed. Rio de
respectivo estudo evidenciaram uma associação signi- Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. p. 243-8.
ficativa entre o acometimento visual e o desempenho 4. Bicas HEA. Acuidade visual. Medidas e notações. Arq Bras Oftal-
no TUG (p < 0,001)21. mol. 2002;65:375-84.
Apesar de a literatura relacionar o déficit visual à 5. Salive ME, Guralnik J, Glynn RJ, Christen W, Wallace RB, Ostfeld
AM. Association of visual impairment with mobility and physical
alteração na mobilidade e no desempenho funcional function. J Am Geriatr Soc. 1994;42:287-92.
dos idosos, neste estudo esse achado não foi confirma- 6. Keller BK, Morton JL, Thomas VS, Potter JF. The effect of visual
do. Cabe ressaltar que alguns dos critérios de exclusão and hearing impairments on functional status. J Am Geriatr Soc.
deste estudo (marcha independente, pós-operatórios 1999;47:1319-25.
163
Acuidade visual e desempenho funcional

7. Ivers RQ, Cumming RG, Mitchell P. Visual impairment and falls in sual impairment in an elderly population? BMC Ophthalmology.
older adults: the Blue Mountains Eyes Study. J Am Geriatr Soc. 2006;6(24):1-9.
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ARTIGO ORIGINAL

Atividade física em idosos:


percepção dos coordenadores de
instituições de longa permanência
Physical activity in an elderly population: the perception
of the long-term care facility managers

Danielle Fonte Boa Rachid1, Regina Coeli Cançado Peixoto Pires2

Resumo Recebido em 28/9/2009


Aceito em 16/1/2010
Objetivo: Verificar a percepção dos coordenadores de instituições de longa permanência de Belo Horizonte, Minas
Gerais, acerca da atividade física para idosos e sua importância. Métodos: A coleta de dados foi realizada por meio
de um questionário elaborado para o estudo e aplicado em 44 coordenadores das instituições. Para análise dos re-
sultados, utilizaram-se estatística descritiva e associação entre variáveis com o teste de qui-quadrado, adotando-se
o valor de p < 0,05. Resultados: A idade média dos coordenadores foi de 43,37 anos. Quanto ao grau de escolarida-
de, 4(9,0%) possuem o ensino fundamental, 21(47,8%) possuem o ensino médio e 19(43,2%), o ensino superior em
diferentes áreas. A atividade física é estimulada em 41(93,2%) das instituições e os responsáveis pela orientação
dessas atividades são 14(25,5%) profissionais de Educação Física, 29(52,7%) fisioterapeutas, e 12(21,8%) outros
profissionais. Observou-se que 43(97,7%) dos coordenadores consideram que essas atividades devem ser orien-
tadas por profissionais de Educação Física. Todos consideram importante a atividade física para os idosos; entre
esses, 25(56,8%) citaram atividades aeróbicas, 9(20,5%), flexibilidade, 6(13,6%), força e 4(9,1%), equilíbrio. Os
motivos são devido à melhora da saúde física 31(47,0%), saúde social 9(3,6%), saúde mental 13(19,7%) e qualidade
de vida 13(19,7%). Conclusão: Os dados deste estudo sugerem que há, em geral, estímulo à prática de atividade
física nas instituições de longa permanência, mas que essas atividades possivelmente não estão sendo realizadas
em sua plenitude, havendo necessidade de programas mais estruturados e com melhor supervisão técnica.
Palavras-chave: Idoso, instituição de longa permanência para idosos, saúde do idoso, atividade motora, geriatria,
epidemiologia.

aBSTRACT
Objective: To verify the perception of the long-term care facility managers of Belo Horizonte, Minas Gerais, regar-
ding the elderly residents’ physical activity and its importance. Methods: The data collection was made through
a questionnaire elaborated for this study and answered by 44 institutions coordinators. For analyzing the results it
was used descriptive statistics and association among variables using the chi-square test with p < 0.05. Results:
The average age of the coordinators is 43.37 years. Regarding the education level: 4 have completed middle school
(9%), 21 have completed high school (47.8%) and 19 have majored in some different areas (43.2%). The physical
activity is stimulated in 41 of the institutions (93.2%) and the ones responsible for the activities orientation are
physical educators – 14(25.5%); physical therapists – 29(52.7%) and 12 other area professionals. It was observed
that 43(97.7%) of the coordinators consider that these activities must be oriented by Physical Educators. All of them
consider that physical activity is very important for the elderly: 25(56.8%) cited aerobics activity, 9(20.5%) – flexibi-
lity – 6(13.6%) strength and 4(9.1%) chose balance. The reasons for the activity importance are the physical health 1
Universidade Vale do
improvement for 31 of the applicants (47%), social health for 9 of them (3.6%), mental health for 13(19.7%) and life Rio Verde (UninCor).
2
Universidade Vale do
Rio Verde (UninCor).
Endereço para correspondência: Danielle Fonte Boa Rachid • Rua Bom Jesus da Penha, 467/203 − Universidade de
31365-190 − Belo Horizonte, MG • Tel.: (31) 8868-0410 • E-mail: danielleunipac@yahoo.com.br Itaúna (UIT).
Atividade física: idosos em instituições 165

quality for 13(19.7%). Conclusions: The data collected suggest that the physical activity is generally stimulated
in the long-term institutions. However, it is possibly not being made in its totality, demanding, therefore, for better
programs with better technical supervision.
Keywords: Aged, long-term institutions for elderly people, elderly population health, motor activity, geriatrics,
epidemiology.

INTRODUÇÃO Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos das Pes-


soas com Deficiência e Idosos do município.
Os temas relacionados à longevidade têm ocupado O instrumento para a coleta de dados foi um
atualmente lugar de destaque, evidenciando a práti- questionário elaborado especificamente para o estu-
ca regular de atividades físicas como importante na do, sendo aprimorado após realização de teste-piloto.
preservação de saúde e manutenção da capacidade Inicialmente foi feito contato por telefone com os
funcional e independência do idoso, promovendo sua coordenadores, explicando resumidamente os pro-
saúde física, mental, emocional, social e espiritual1. pósitos da pesquisa e solicitando o agendamento de
Essa prática confere proteção contra a maioria das dia e horário para aplicação do questionário. Após a
doen­ças crônicas não transmissíveis, como aterosclero- concordância, os questionários eram entregues aos
se, diabetes tipo II, câncer de cólon e mama, melano- coordenadores.
ma, câncer avançado de próstata e provavelmente de
pulmão, coronariopatia, doença pulmonar obstrutiva Os dados foram tabulados e analisados utilizan-
crônica e obesidade. Como benefícios da atividade fí- do-se as ferramentas estatísticas do software SPSS
sica, citam-se também aumento do HDL-colesterol, for Windows® versão 11.0. Foi utilizada estatística
diminuição do LDL-colesterol e triglicérides, melhora descritiva, composta por média, desvio-padrão e dis-
da sensibilidade à insulina, redução da pressão arterial tribuição de frequência. A associação entre variáveis
e gordura visceral, melhora da autoestima e do auto- foi verificada utilizando-se o teste de qui-quadrado,
conceito, diminuindo a ansiedade e a depressão2. adotando-se o valor de p < 0,05 para identificar dife-
renças estatisticamente significantes. Para análise das
Embora ainda pequena, as tendências apontam questões abertas, foi utilizado o processo de categori-
para um aumento da proporção de idosos vivendo em zação das respostas.
instituições de longa permanência no Brasil. Os coor-
denadores dessas instituições têm um papel importan- Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
te na implementação de medidas e difusão de atitudes Pesquisa da Universidade Vale do Rio Verde (Unin-
que possam contribuir para uma velhice saudável. Cor), com CAAE nº 0006.0.380.000-08.

O objetivo deste estudo foi verificar a percepção


dos coordenadores de instituições de longa perma- RESULTADOS
nência de Belo Horizonte, MG, acerca da atividade
física para idosos. Pretendeu-se, também, verificar se Das 66 instituições de longa permanência de Belo
a percepção do conhecimento dos coordenadores des- Horizonte, 44(73,4%) aceitaram participar da pes-
sas instituições em relação à importância da atividade quisa. O número total de idosos residentes nas insti-
física poderá fornecer dados para implementação de tuições analisadas foi de 1.320.
atitudes que estimulem a prática de atividade física.
A idade média dos coordenadores foi de 43,37
anos, sendo que o grupo das instituições filantrópicas
MÉTODOS apresentou idade superior (45,80 ± 16,35) à do grupo
de instituições particulares (40,00 ± 10,59). Entre-
Este estudo foi realizado em instituições de longa tanto, não foram identificadas diferenças estatistica-
permanência para idosos, filantrópicas e particulares, mente significantes entre as idades.
situadas no município de Belo Horizonte e perten- Foi relatado que a atividade física é estimulada em
centes aos nove Distritos Sanitários, que correspon- 41(93,2%) das instituições. Em relação ao responsá-
dem às Administrações Regionais da Prefeitura de vel pela orientação dessas atividades, 14(25,5%) dos
Belo Horizonte. A localização e a identificação de locais citaram os profissionais de Educação Física,
cada coordenador foram obtidas por intermédio da 29(52,7%) citaram fisioterapeutas e 12(21,8%), ou-
166 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(4):164-168

tros profissionais, como terapeuta ocupacional, cui- foram divididas em quatro categorias, como flexibili-
dador de idosos, pessoas voluntárias, pessoas enviadas dade, atividade aeróbica, força muscular e equilíbrio.
pela prefeitura e técnico de enfermagem (Tabela 1). As atividades citadas como importantes pelos coor-
denadores foram as aeróbicas 25(56,8%), flexibilida-
Todos os coordenadores responderam que a prá-
de 9(20,5%), força 6(13,6%) e equilíbrio 4(9,1%),
tica da atividade física para os idosos é importante
conforme a tabela 1.
e 43(97,7%) consideram que esta deve ser orientada
por profissionais de Educação Física, não sendo cita- Em relação ao espaço físico destinado às atividades
do outro profissional. físicas, observou-se que, nas instituições filantrópi-
cas, 20(45,5%) possuem um espaço físico destina-
Quando perguntados, em uma questão aberta,
do para essas atividades, 5(11,4%) não possuem e
sobre o porquê consideravam importante a prática
1(2,3%) não respondeu. Nas instituições particula-
da atividade física pelos idosos, as respostas foram
res, 13(29,6%) possuem um espaço físico destinado
agrupadas em categorias, como: melhora da saúde fí-
às atividades físicas, 4(9,1%) não possuem e 1(2,3%)
sica 31(47,0%), saúde social 9(3,6%), saúde mental
não respondeu. Não foi observada nenhuma diferen-
13(19,7%) e qualidade de vida 13(19,7%), conforme
ça estatisticamente significativa (p = 0,784) entre as
a tabela 1.
instituições filantrópicas e particulares em relação à
Em relação a qual atividade física os coordena- presença do espaço físico para as atividades físicas
dores acham importante para os idosos, as respostas (Tabela 1).

Tabela 1. Distribuição das instituições de longa permanência, segundo as pessoas que orientam as atividades físicas,
a importância dessas atividades, as essenciais para os idosos e o espaço físico destinado a essas atividades nas
instituições de longa permanência. Belo Horizonte, MG, 2008
N % χ2* Sig
(2-sided)**
Orientadores das atividades físicas Outros 12 21,8
Educador físico 14 25,5
Fisioterapeuta 29 52,7
Total 55 100,0
Importância da prática de atividade física Saúde social 9 13,6
para os idosos Saúde mental 13 19,7
Qualidade de vida 13 19,7
Saúde física 31 47,0
Total 66 100,0
Atividade física considerada essencial para Equilíbrio 4 9,1
os idosos Força 6 13,6
Flexibilidade 9 20,5
Atividade aeróbica 25 56,8
Total 44 100,0
Espaço físico existente destinado às
atividades físicas
Instituições filantrópicas Não respondeu 1 2,3
Não 5 11,4
Sim 20 45,5
Total 26 59,1
0,075 0,784
Instituições particulares Não respondeu 1 2,3
Não 4 9,1
Sim 13 29,6
Total 18 40,9
* Teste Qui-quadrado.
** Significância do Teste.
Atividade física: idosos em instituições 167

DISCUSSÃO corporal, controle da pressão arterial, função pul-


monar, equilíbrio, menor dependência, melhora da
Observou-se que as atividades físicas são orientadas autoes­tima e autoconfiança, ocorrendo uma signifi-
por profissionais de diversas áreas, ainda que, de acor- cativa melhora da qualidade de vida10.
do com a regulamentação da profissão de Educação Percebe-se a importância da prática da atividade
Física, Lei Federal nº 9.696/983, caberia ao educador física na vida dos idosos, pois contribui para a manu-
físico orientar e ministrar atividades físicas e esportivas tenção da autonomia para continuar realizando suas
de acordo com a idade, os objetivos e as necessidades tarefas de vida diária, influencia positivamente no re-
de cada um. A falta de conhecimento para a prescri- lacionamento e na autoestima, e a percepção sobre a
ção de exercícios pode comprometer a segurança e os vida torna-se mais positiva, o que vai influenciar na
benefícios proporcionados pela atividade. Observou- qualidade de vida.
se um número elevado de relatos citando o fisiotera-
peuta como responsável pela orientação e prática da Supõe-se que, ao se considerar as atividades aeró-
atividade física. Percebeu-se que existiu dificuldade bicas como as mais importantes a ser praticadas pelos
em diferenciar o campo de atuação dos profissionais idosos, relacionou-se com a atividade que os coorde-
de Educação Física e Fisioterapia. O fisioterapeuta é nadores mais praticam e também são as atividades
responsável pelo tratamento de doenças por meio de mais oferecidas nas instituições. Essa modalidade de
exercícios, já o profissional de Educação Física está prática aeróbica de fato é importante para controlar
apto a orientar as atividades físicas. ou evitar algumas doenças como diabetes, hiperten-
são, câncer, colesterol e obesidade2, sendo oportuno
Quando os coordenadores responderam sobre a
lembrar que outras atividades também devem fazer
importância de os idosos praticarem atividade física,
observou-se que a percepção de saúde como um con- parte da prescrição dos exercícios, como a flexibilida-
ceito amplo constituído pela Organização Mundial de, que mantém a amplitude de movimento e, com
da Saúde como “um estado de completo bem-estar isso, a independência; a força, que pode prevenir e
físico, mental e social e não meramente a ausência tratar a osteoporose; e o equilíbrio, que também evita
de doenças ou enfermidades” não foi percebida pelos as quedas4.
coordenadores, quando não conseguiram relacionar a É fundamental respeitar a presença dos com-
importância da atividade física de maneira integral. ponentes aeróbicos, força muscular, flexibilidade e
Todas as categorias, conforme a tabela 1, rela- equilíbrio em cada atividade realizada com os idosos,
taram sofrer influência positiva com a prática da proporcionando-lhes seus respectivos benefícios10.
atividade física. A categoria de saúde social está Essa discussão torna-se pertinente com os coor-
relacionada com a convivência em grupo, a saúde denadores das instituições de longa permanência,
mental está relacionada com o estado emocional e a evidenciando a importância de trabalhar com os ido-
autoestima, a saúde física é a manutenção funcional sos as atividades aeróbicas, mas também acrescentar
dos órgãos, e a qualidade de vida do indivíduo se re- as atividades de alongamento, força e equilíbrio, que
fere ao seu grau de satisfação com a vida4,5. A capaci- são essenciais para manter a independência dos ido-
dade funcional é um indicativo da qualidade de vida sos e evitar as quedas. Talvez a falta dessas atividades
do idoso6,7 e o processo de envelhecimento diminui possa ser explicada pela ausência de um profissional
a capacidade funcional8. Assim, é interessante uma de Educação Física orientando os idosos.
proposta com ações preventivas, como a realização
de atividades físicas9. É importante observar que, Não foi observada nenhuma diferença estatistica-
quanto mais ativa uma pessoa, menos limitações fí- mente significante (p = 0,784) entre as instituições
sicas ela apresenta1. filantrópicas e particulares em relação à presença de
espaço destinado para atividades físicas.
A atividade física regular previne a perda de massa
óssea, melhora a força, a massa muscular e a flexibi- Esperava-se que nas instituições particulares, onde
lidade, diminui a incidência de quedas e o risco de são encontradas pessoas com maior nível socioeco-
fraturas, auxilia também na prevenção e no tratamen- nômico e cultural, houvesse maior preocupação em
to da osteoporose, sendo um excelente instrumento oferecer uma prática de atividades físicas aos idosos
de saúde, induzindo às várias adaptações fisiológicas com orientação de profissionais capacitados especi-
e psicológicas. Podem-se ainda citar benefícios circu- ficamente para essa finalidade, em um espaço físico
latórios, melhora do perfil lipídico, redução do peso adequado. Percebeu-se que as instituições filantrópi-
168 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(4):164-168

cas não se diferenciam das instituições particulares 4. Matsudo SM, Matsudo VKR, Barros-Neto TL. Atividade física e
nesse sentido. envelhecimento: aspectos epidemiológicos. Rev Bras Med Espor-
te. 2001;7(1).
De acordo com os resultados desse estudo, pode- 5. Verderi A. O corpo não tem idade − Educação física gerontológi-
se concluir que há, em geral, estímulo à prática de ca. Jundiaí, SP: Fontoura; 2004.
atividade física nas instituições de longa permanên- 6. Araujo MOPH, Ceolim MF. Avaliação do grau de independência
cia, mas que essas atividades possivelmente não estão de idosos residentes em instituições de longa permanência. Rev
Esc Enferm USP. 2007;41(3):378-85.
sendo realizadas em sua plenitude, havendo necessi-
dade de programas mais estruturados e com melhor 7. Fiedler MM, Peres KG. Capacidade funcional e fatores associa-
dos em idosos do Sul do Brasil: um estudo de base populacional.
supervisão técnica. Cad Saude Publica. 2008;24(2):409-15.
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de Educação Física. Resolução nº046/2002. Med Esporte. 1999;5(6):207-11.
ARTIGO ORIGINAL

Enfoque dos temas atividade física,


envelhecimento e saúde mental nos
programas de pós-graduação no Brasil
Focus on themes of physical activity, aging and mental
health in Brazilian graduate programs

Larissa Pires de Andrade1, Grace Angélica de Oliveira Gomes1,


José Alexandre Curiacos de Almeida Leme1, Raquel Gonçalves1,
Cláudia Teixeira-Arroyo1, Gustavo Gomes de Araújo1, Carla Ribeiro1,
Florindo Stella2, Sebastião Gobbi1

Recebido em 21/12/2009 RESUMO


Aceito em 25/2/2010
Introdução: A atividade física tem contribuído para a prevenção de complicações na saúde mental de idosos. Ob-
jetivo: Investigar e quantificar os programas de pós-graduação que oferecem linhas de pesquisa e disciplinas direta-
mente relacionadas à atividade física, ao envelhecimento e à saúde mental nas áreas de Educação Física, Fisioterapia
e Terapia Ocupacional e Gerontologia. Métodos: Este é um estudo descritivo exploratório que tem como indicadores
a inclusão de disciplinas e linhas de pesquisa em programas de pós-graduação em Educação Física, Fisioterapia e Te-
rapia Ocupacional e Gerontologia. Foram analisados 30 cursos de pós-graduação (stricto sensu) no Brasil, reconheci-
dos e recomendados pelo Ministério da Educação. As disciplinas e linhas de pesquisa, bem como as publicações que
continham em sua descrição “saúde mental”, “atividade física” e “envelhecimento”, foram registradas. Resultados:
As disciplinas com os temas atividades físicas e envelhecimento foram encontradas em universidades dos seguintes
estados: cinco do Estado de São Paulo, uma disciplina no Estado de Minas Gerais e uma no Distrito Federal. Apenas
duas disciplinas integravam “saúde mental”, “atividade física” e “envelhecimento”, uma no Estado de São Paulo e
outra no Estado do Rio de Janeiro. Conclusão: Com o envelhecimento da população brasileira e a crescente preocu-
pação de questões relativas à qualidade de vida dos idosos – entre elas a necessidade de preservação da saúde física
e mental – são escassos os programas de pós-graduação em Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional e
1
Instituto de
Gerontologia voltados para essas temáticas.
Biociências,
Universidade Estadual Palavras-chave: Exercício físico, idoso, saúde, linhas de pesquisa, geriatria.
Paulista (Unesp),
Departamento de ABSTRACT
Educação Física, Introduction: Physical activity has contributed to the prevention of complications in mental health elderly. Objec-
Laboratório de tive: To investigate graduate programs that present, as lines of research and teaching, the relationship between men-
Atividade Física e tal health and physical activity in elderly. Methods: A descriptive and exploratory study, which presents as indicators
Envelhecimento the inclusion of both disciplines and research lines in graduate programs on Physical Education, Physiotherapy and
(LAFE), Rio Claro, SP.
Occupational Therapy and Gerontology. Thirty graduate courses (stricto sensu) in Brazil, all of them recognized and
2
Departamento
recommended by the Ministry of Education. The disciplines, lines of research and publications, which contained their
de Educação,
description “mental health”, “physical activity” and “aging” were selected. Results: The disciplines comprising the
Universidade Estadual
subjects physical activities and aging were found in the following states: five universities in the State of São Paulo,
Paulista (Unesp), Rio
Claro. Ambulatório de
a discipline in the State of Minas Gerais and the Federal District. Only two disciplines included “mental health”,
Psiquiatria Geriátrica, “physical activity” and “aging”. One in the State of São Paulo and another in the State of Rio de Janeiro. Conclu-
Universidade sion: Despite the Brazilian population growing older and the increased concern on issues related to quality of life in
Estadual de Campinas the elderly – including the need to preserve the physical and mental health – only few graduate programs on Physical
(Unicamp), convênio Endereço para correspondência: Larissa Pires de Andrade • Av. 24A, 1515, Bela Vista – 13560-125 – Rio Claro, SP • Tel.: (19) 3526-4312 •
CRUESP, Campinas, SP. E-mail: larissa_andrade86@hotmail.com
170 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(4):169-174

Education, Physiotherapy and Occupational Therapy are offering disciplines or comprising research/publications on
mental health, physical activity and aging.
Keywords: Exercise, elderly, health, research lines, geriatry.

alcançar os benefícios cognitivos, são desconhecidos,


INTRODUÇÃO sendo necessária ampla pesquisa nessa área8,9.

Os programas de pós-graduação do Brasil, seguindo Alterações nas funções neurológicas secundárias


tendência mundial, abriram-se às linhas de pesquisa e à prática de exercícios podem ser possíveis. Ward et
ensino interdisciplinares, que, paralelamente aos avan- al.10 observaram por meio de neuroimagem que, após
exercícios de reabilitação, indivíduos com acidente
ços fragmentados, contribuem para o progresso do
vascular cerebral apresentaram alterações na atividade
conhecimento científico, particularmente na área da
em áreas do córtex contralateral e do cerebelo.
saúde, considerada eminentemente interdisciplinar1.
Dessa forma, cerca de 4% das pesquisas epidemioló- Christofoletti et al.11 evidenciaram que sujeitos
gicas no ano 2000 investigaram linhas relacionadas à com doença de Alzheimer ou afetados por um dis-
saúde mental no idoso2. túrbio eminentemente cognitivo apresentaram maio-
res riscos de quedas quando comparados com idosos
Essa interdisciplinaridade na área da saúde apre- neurologicamente saudáveis e com pessoas com doen­
sentada pode ser observada quando se avaliam alguns ça de Parkinson. Posteriormente, Christofoletti et
cursos de pós-graduação nas áreas de Educação Físi- al.12-14, em análise de revisão de estudos randomizados
ca, Fisioterapia e Terapia Ocupacional e Gerontologia e controlados, concluíram que a intervenção motora
que vêm priorizando conjuntamente o desenvolvi- parece ser uma boa alternativa para desacelerar o de-
mento de disciplinas voltadas à saúde. clínio mental e físico.
Atualmente, o Brasil encontra-se em transição Oliani et al.15 compararam as funções cognitivas
epidemiológica, com redução das taxas de fertilidade de idosos institucionalizados com demência, cadei-
e aumento da longevidade e, com isso, vem apresen- rantes e não cadeirantes, evidenciando que os últimos
tando aumento das doenças crônico-degenerativas, apresentavam pior desempenho cognitivo. Os autores
entre as quais podem ser destacadas as condições neu- identificaram que pacientes com doença de Alzhei-
ropsiquiátricas3. mer, com maior prática de atividade física, apresenta-
Recentes estudos têm apontado a importância da vam menos distúrbios neuropsiquiátricos e causavam
atividade física no retardo dos declínios funcionais, menos desgaste mental aos cuidadores.
bem como para a prevenção de complicações na saú- Assim, observa-se que estudos que envolvam saú-
de mental de idosos, sendo demonstrado que aqueles de mental e atividade física na população idosa pa-
com estilo de vida mais ativo tendem a apresentar me- recem uma importante linha de pesquisa nas áreas
nor prevalência de distúrbios neuropsiquiátricos4-6. de saúde. No entanto, ainda existem lacunas a ser
preenchidas, o que pode ocorrer pela disseminação
Heyn et al.7, em estudo de metanálise, verificaram
de conhecimentos dessa natureza por intermédio de
efeitos benéficos da prática de atividade física signi-
diversos programas acadêmicos stricto sensu, com a
ficantes na força muscular, na aptidão física, na per-
implementação de disciplinas e linhas de pesquisas
formance funcional, no desempenho cognitivo e nos
diretamente relacionadas ao conteúdo citado.
distúrbios de comportamento em pessoas com demên-
cia e comprometimentos cognitivos relacionados. Portanto, é de extrema importância que os progra-
mas de pós-graduação da saúde tenham a preocupação
As medidas preventivas contribuem para retardar
em oferecer, aos acadêmicos e a todos os profissionais
o início do desenvolvimento das doenças cognitivas
da saúde e de gerontologia, discussões de alternativas
e reduzem a prevalência dessa doença na população.
não farmacológicas, como a atividade física, a fisiotera-
Uma das explicações para essa redução é uma significa-
pia e a terapia ocupacional, nos programas de pós-gra-
tiva diminuição no intervalo entre o início do declínio
duação, principalmente os relacionados a essas áreas.
cognitivo e a morte. Se, por um lado, a atividade física
tem sido constantemente apresentada como benéfica Com base na proposta de esclarecimento sobre
para prevenção com baixos custos e efeitos adversos, como se encontram, atualmente, a pesquisa e a nature-
a melhor intensidade, duração, periodicidade e o tipo za dos programas de pós-graduação na área de saúde no
de exercício, bem como a durabilidade do efeito para Brasil em relação aos temas abordados, o presente estu-
Saúde mental, exercício e envelhecimento 171

do teve como objetivo investigar e quantificar os pro- 34 programas de pós-graduação stricto sensu, na área de
gramas que oferecem linhas de pesquisa e disciplinas saúde, que abrangiam, de alguma maneira, as unidades
diretamente relacionadas à atividade física, ao envelhe- temáticas “saúde mental”, “atividade física” e “envelhe-
cimento e à saúde mental nas áreas de Educação Física, cimento”. Estes eram divididos em 21 programas de
Fisioterapia e Terapia Ocupacional e Gerontologia. Educação Física, nove de Fisioterapia e Terapia Ocu-
pacional e quatro na área de Medicina Gerontologia.

MÉTODOS Apenas duas disciplinas integravam “saúde men-


tal”, “atividade física” e “envelhecimento”, uma per-
tencente ao Programa de Pós-graduação do Instituto
O presente trabalho trata-se de um estudo simulta-
de Biociências, Campus de Rio Claro, da Universidade
neamente descritivo e exploratório e tem como indi-
Estadual Paulista (Unesp), e outra ao Programa de Pós-
cadores a inclusão de disciplinas e linhas de pesquisa
em áreas específicas de acordo com critérios da Coor- graduação em Psiquiatria e Saúde Mental do Institu-
denação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Su- to de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de
perior (Capes): Educação Física, Fisioterapia e Terapia Janeiro (UFRJ). A última disciplina citada foi encon-
Ocupacional e Gerontologia. O estudo foi efetuado trada in loco e recentemente criada pela Universidade.
com base nos endereços eletrônicos das universidades Essas informações constam na tabela 1 e na figura 1.
brasileiras e no relatório da Capes referente aos pro- Com relação às disciplinas de pós-graduação, várias
gramas de pós-graduação no Brasil. Para a busca das integravam, em suas atividades temáticas, “atividade
disciplinas e linhas de pesquisa, foram analisados 34 física” e “envelhecimento”: cinco em universidades do
cursos de pós-graduação (stricto sensu) no Brasil, re- Estado de São Paulo (UFSCar – Universidade Federal
conhecidos e recomendados pelo Ministério da Edu- de São Carlos; Unicamp – Universidade Estadual de
cação, em seus respectivos endereços eletrônicos ou Campinas, USJT − Universidade São Judas Tadeu;
relatório Capes. As disciplinas e linhas de pesquisa, Unicid – Universidade Cidade de São Paulo), sendo
bem como as publicações, que continham em sua des- que, na Unicamp, duas disciplinas apresentaram esse
crição “saúde mental”, “atividade física” e “envelheci- tema. Uma disciplina foi encontrada na universida-
mento”, foram selecionadas. Também foram incluídas de pública de Minas Gerais (UFMG − Universidade
no estudo disciplinas que continham em sua descri- Federal de Minas Gerais) e uma no Distrito Federal
ção as palavras-chave combinadas: “atividade física” e (UnB − Universidade Nacional de Brasília). Ainda no
“saúde mental” ou “saúde mental” e “envelhecimento” Distrito Federal (UCB − Universidade Católica de
ou então “envelhecimento” e “atividade física”. Brasília), constatou-se uma disciplina que integrava
Após essa busca nos endereços eletrônicos e no re- “atividade física” e “saúde”.
latório Capes, identificaram-se as linhas de pesquisa,
as disciplinas que integravam saúde mental, atividade
Tabela 1. Disciplinas encontradas de acordo com as
física e envelhecimento e seus respectivos docentes. A
palavras-chave nos estados de São Paulo (SP), Minas
seguir, realizou-se a busca em endereços eletrônicos de
base de dados e do Conselho Nacional de Desenvol- Gerais (MG) e Distrito Federal (DF)
vimento Científico e Tecnológico (CNPq), sobre as Unidade da Saúde Envelhe- Atividade
publicações dos professores com base na relação das Federação mental, cimento e física e
unidades temáticas “saúde mental”, “atividade física” atividade fí- atividade saúde
e “envelhecimento”. Para maior confiabilidade dos sica e enve- física mental
resultados, foram realizadas ligações telefônicas para lhecimento
as universidades, nos casos em que a informação no SP 1 (a) 5 (b) 0
endereço eletrônico não estava disponível, ou quan- MG 0 1 (c) 0
do havia dúvidas nos dados encontrados. A busca das DF 0 1 (d) 1 (e)
informações foi realizada no período de outubro a
RJ 1 (f) 0 0
novembro de 2009.
(a) Unesp: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Instituto
de Biociências, campus de Rio Claro. (b) UFSCar: Universidade Federal de São
RESULTADOS Carlos; Unicamp: Universidade Estadual de Campinas; USJT: Universidade
São Judas Tadeu; Unicid: Universidade Cidade de São Paulo. (c) UFMG:
Universidade Federal de Minas Gerais. (d) UnB: Universidade de Brasília. (e)
Por meio da busca nos endereços eletrônicos e nas in- UCB: Universidade Católica de Brasília. (f) UFRJ: Universidade Federal do Rio
formações provenientes da Capes, foram identificados de Janeiro.
172 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(4):169-174

Mazo et al.24, Mazo et al.25, Borges et al.26, ao Estado


6
de Santa Catarina; Lopes et al.27, ao Distrito Federal;
No de disciplinas

5
5
4 e Arcoverde et al.28, Moraes et al.29, Deslandes et al.30,
3
2 ao Estado do Rio de Janeiro.
2
1
1
0
Saúde Mental, Envelhecimento e Atividade Física DISCUSSÃO
Atividade Física e Atividade Física e Saúde Mental
Envelhecimento
Com base nas informações obtidas com a Capes, ape-
nas quatro universidades brasileiras oferecem, regu-
Figura 1. Quantidade de disciplinas encontradas de acordo
larmente, em seus programas de pós-graduação stricto
com as palavras-chave.
sensu, linhas de pesquisa que envolvem disciplinas
com unidades temáticas “saúde mental”, “atividade
Nos programas estudados, existem quatro linhas física” e “envelhecimento” (Unesp, UFMG, Udesc e
de pesquisa que abrangem, de certa maneira, as uni- UnB). Entre esses programas, apenas duas universida-
dades temáticas contidas em “saúde mental, atividade des (Unesp e UFRJ) oferecem a linha de pesquisa em
física e envelhecimento”. Essas linhas e o número de que consta a integração simultânea das três unidades
publicações delas oriundas constam, respectivamente, temáticas em uma mesma disciplina, com o tema de
nas tabelas 2 e 3. “saúde mental, atividade física e envelhecimento”.
Entre as publicações em periódicos dos anos de A tabela 1 indica que a concentração de discipli-
2003 a 2009, podem-se destacar algumas que fazem nas abrangendo saúde mental, atividade física e en-
menção aos três temas, atividade física, envelheci- velhecimento concentra-se em alguns programas de
mento e saúde mental concomitantemente no título pós-graduação do Sudeste e do Distrito Federal. Pro-
do artigo, sendo Pereira et al.16, Marra et al.17, Oli- gramas de outras regiões do país não contemplam essas
veira et al.18, Pereira et al.19, referentes ao Estado de disciplinas. Segundo a tabela 2, as linhas de pesquisa
Minas Gerais; Christofoletti et al.11, Christofoletti estão inseridas em programas apenas de universidades
et al.12, Christofoletti et al.13, Christofoletti et al.14, públicas – estaduais e federais. Além disso, as publica-
Stella et al.20, Stella et al.21, Oliani et al.15, Quadros ções de artigos científicos, envolvendo saúde mental,
Jr. et al.22, Tanaka et al.23, ao Estado de São Paulo; atividade física e envelhecimento, em perió­dicos bem

Tabela 2. Linhas de pesquisa de acordo com o Estado, a Universidade e o Programa

Estado Universidade Programa Linha de pesquisa


SP Unesp Ciências da Motricidade Saúde mental
Envelhecimento
MG UFMG Ciências da Reabilitação Desempenho de idosos institucionalizados com alterações
cognitivas em atividades de vida diária e mobilidade
SC Udesc Ciências do Movimento Humano Estudos biocomportamentais do movimento humano
DF UnB Educação Física Efeitos morfofuncionais da
atividade física
RJ UFRJ Instituto de Psiquiatria Envelhecimento humano: influência do exercício na saúde
física e mental
Unesp: Universidade Estadual Paulista, Rio Claro. UFMG: Universidade Federal de Minas Gerais. Udesc: Universidade do Estado de Santa Catarina. UnB: Universidade
de Brasília. UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Tabela 3. Total de publicações com o tema: “envelhecimento, atividade física e saúde mental” concomitantemente de
cada linha de pesquisa

Linhas de pesquisa
Estados MG SP SC DF RJ
Total de publicações 5 9 3 1 3
Saúde mental, exercício e envelhecimento 173

qualificados, têm origem nos programas que abran- doença de Alzheimer. Esses estudos reforçam os bene-
gem as linhas de pesquisa aqui consideradas. fícios da atividade física, atenuando complicações na
saúde mental e motoras durante o envelhecimento.
Cabe mencionar, ainda, que são poucos os progra-
mas de pós-graduação no Brasil que oferecem linhas No entanto, pesquisas que envolvam atividade
de pesquisa e disciplinas com a integração saúde men- física e seus efeitos sobre a saúde mental do idoso
tal, atividade física e envelhecimento, como relatam são escassas, principalmente quando se leva em con-
as tabelas 1, 2 e 3 e a figura 1. Isso poderia representar sideração a produção científica nacional. O presente
uma carência importante na preparação de profissio- estudo demonstrou que, nos laboratórios vinculados
nais voltados para atividades de pesquisa e ensino, a programas de pós-graduação reconhecidos pela Ca-
bem como para a prática cotidiana, que integrem os pes, existe a produção de artigos voltados para essa
três temas concomitantemente. área. Contudo, a produção é pequena diante da ne-
cessidade de aprofundamento do tema por parte da
A importância de investigar as relações entre saúde comunidade científica. Além disso, a produção cien-
mental e envelhecimento no idoso tem como suporte tífica tem sido concentrada apenas em quatro estados
o fenômeno do crescimento significativo da expecta- brasileiros, demonstrando a necessidade de promoção
tiva de vida, no Brasil, nas últimas décadas. Com o de estudos para essa linha nos demais estados.
aumento da longevidade, cresceu, também, a preva- Concluindo, a despeito do envelhecimento da
lência de doenças crônico-degenerativas, geralmente população brasileira e da crescente preocupação com
debilitantes e que acarretam dependência psíquica e questões relativas à qualidade de vida dos idosos – entre
funcional na população idosa31,32. elas a necessidade de preservação da saúde física e men-
Nesse contexto, é necessário pensar em mudanças tal – ainda são escassos os programas de pós-graduação
no estilo de vida para que os idosos tenham melhor voltados para as unidades temáticas aqui discutidas.
qualidade de vida. Uma forma de atingir esse objeti- Programas de pós-graduação, com linhas de pesquisa
vo é promover pesquisas que envolvam o tema, bem e disciplinas apoiadas nesta direção, seguramente con-
como a formação e capacitação de profissionais de tribuem para o aprofundamento da discussão sobre a
saúde preparados para intervir com essa população, relação entre saúde mental e atividade física no idoso.
entre os quais se podem incluir os profissionais de
Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional AGRADECIMENTOS
e Gerontologia.
O presente trabalho demonstra que, apesar do Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
crescimento no número de programas de pós-gradua­ Superior (Capes) e Fundação de Amparo à Pesquisa
ção no Brasil, existem poucos estudos ou linhas de do Estado de São Paulo (Fapesp).
pesquisas nas universidades brasileiras que integram
os temas envelhecimento, saúde mental e atividade
física nas áreas de Educação Física, Fisioterapia e Te- REFERÊNCIAS
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ARTIGO ORIGINAL

Aspectos simbólicos da
alimentação na velhice
Symbolic aspects of the feeding in old age

Valcilene Pinheiro da Silva1, Carmen Jansen de Cárdenas2

Recebido em 27/10/2009
RESUMO
Aceito em 19/1/2010
Objetivo: Analisar como participam os aspectos simbólicos dos alimentos para os idosos com restrição alimentar.
Método: Pesquisa qualitativa que utilizou como recurso metodológico a análise de relatos orais. Participaram do
estudo 10 pessoas de 60 anos de idade ou mais com restrições alimentares, residentes em Brasília. Foram realizadas
entrevistas semiestruturadas e analisadas com a ajuda do software ALCESTE. Resultados: No material obtido com
os idosos, foram identificados quatro eixos temáticos: a experiência da doença; o confronto antigo versus novo há-
bito alimentar; a alimentação e suas relações; as restrições alimentares. Conclusão: Este trabalho mostrou que os
aspectos simbólicos dos alimentos conectam-se com as experiências vividas − por meio da alimentação revive-se a
história, reencontrando-se com o passado. A alimentação está impregnada de afeto, prazer, alegria e sociabilidade.
Fica claro neste estudo que a alimentação é habitada de conteúdos simbólicos que devem ser conhecidos e reinter-
pretados pelos profissionais que atuam na área de Geriatria e Gerontologia.
Palavras-chave: Alimentação, restrições alimentares, idoso, simbolismo.

ABSTRACT
Objective: To analyze the participation of symbolic aspect of elder’s nutrition, who have alimentary restriction.
Method: This qualitative research applied the methodological resource the analysis of oral reports. Study carried out
with 10 people 60 years of age or older with alimentary restriction, residing en Brasília. Semi-structured interviews
were recorded, then analyzed using the ALCESTE software. Results: Four themes were identified in the material
collected from the aged: the experience of the disease; the confrontation between old and new eating habits; the
food and its relations; the feeding restrictions. Conclusion: This study has shown that symbolic aspects of food are
connected with the experiences lived by elderly persons. Through food, they revive their history and return to the
past. Food is impregnated with affection, pleasure, happiness and sociability. Through this study it becomes clear
that food has a symbolic content that must be know and interpreted by professionals acting in the area of Geriatrics
and Gerontology.
Keywords: Food, nutritional restrictions, aged, symbolism.

1
Secretaria de
Saúde do Governo
do Distrito Federal.
Universidade Católica
de Brasília (UCB).
Universidade Federal
da Bahia (UFBA). Endereço para correspondência: Valcilene Pinheiro da Silva • SQS 414, bloco S, ap. 101 − 70279190 − Brasília, DF •
2
UCB. UnB. Tel.: (61) 3345-1174 • E-mails: valcilenepinheiro@uol.com.br e ensaval@uol.com.br
176 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(4):175-181

INTRODUÇÃO tivas dos próprios sujeitos sob estudo11. Esse tipo de


pesquisa trabalha com um universo de significados,
A população mundial está envelhecendo num ritmo motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes que
muito acentuado e sem precedentes na história da hu- correspondem a um espaço mais profundo das rela-
manidade. As Nações Unidas (ONU)1 preveem que ções, dos processos e dos fenômenos12.
para 2050 o número de pessoas idosas deve triplicar, Para a coleta de dados, foi utilizada a entrevista
chegando a quase 25% da população do planeta, isto semiestruturada, individual, que consiste na com-
é, 2 bilhões de idosos. binação de um roteiro sistematizado com perguntas
No Brasil, segundo os últimos dados da Pesquisa abertas e fechadas, em que o entrevistado tem a possi-
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do bilidade de discorrer o tema proposto, sem respostas
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)2, ou condições prefixadas pelo pesquisador13.
vivem aproximadamente 16 milhões de pessoas com O estudo foi realizado com idosos residentes em
mais de 60 anos, o que representa 9,3% da popula- Brasília, que possuíam restrições alimentares por mo-
ção total. Estima-se que essa população de 60 anos e tivo de doenças, integrantes do Projeto “O idoso em
mais atinja a magnitude de aproximadamente 30,9 sua comunidade”, promovido pelo Núcleo de Estu-
milhões de pessoas no ano de 2020, vindo a consti- dos e Pesquisa da Terceira Idade (NEPTI) da Univer-
tuir 14% da população brasileira3. sidade de Brasília (UnB).
Com o aumento da população idosa, elevam-se o Foram entrevistados 10 idosos, na faixa etária de
número de patologias crônicas e degenerativas e as 60 a 86 anos, em dois encontros nas suas residências.
incapacidades por elas geradas, afetando a autonomia Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e
e a independência dos idosos4,5. No Brasil, observa-se Esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética da Uni-
também um aumento das doenças crônicas não trans- versidade Católica de Brasília (UCB). As entrevistas
missíveis entre a população idosa, tais como doenças foram gravadas com aquiescência de cada um dos en-
cardiovasculares, neoplasias, doenças respiratórias e trevistados e transcritas posteriormente. Para a aná-
doenças endócrinas nutricionais e metabólicas3. Es- lise dos dados obtidos nas entrevistas, utilizou-se o
colhas alimentares inadequadas podem aumentar o software ALCESTE (Análise Lexical por Conjunto de
risco de contrair doenças e podem agravar as já exis- Segmentos de um Texto)14.
tentes; isso adquire especial relevância na velhice, eta-
pa da vida em que tanto as alterações que ocorrem
no organismo como a frequente presença de doenças RESULTADOS E DISCUSSÃO
modificam as necessidades nutricionais do indivíduo.
Nessas circunstâncias, faz-se necessária uma mudança As falas dos sujeitos foram agrupadas em quatro gran-
de hábitos alimentares, visando a um melhor estado des eixos: a experiência da doença; o confronto: anti-
nutricional e uma vida mais saudável, pois o alimento go versus novo hábito alimentar; a alimentação e suas
promove, mantém e recupera a saúde5-8. relações; as restrições alimentares.
A mudança de hábitos alimentares se apresenta na
vida do idoso como um grande desafio. Os alimentos, A experiência da doença
celebrados como a mais importante relação humana Este eixo nos mostra o choque produzido no primei-
com a vida, ficam restritos e portanto rompem com ro encontro consciente do idoso com a doença. Essa
padrões culturais do indivíduo9,10. O objetivo do pre- experiência determina, de alguma forma, tanto o seu
sente estudo é analisar como participam os aspectos comportamento individual como social.
simbólicos dos alimentos para os idosos com restri-
ções alimentares. O trecho que segue nos mostra um verdadeiro ri-
tual da passagem entre a saúde e a doença: o encontro
com a doença é algo inesperado e produz um verda-
MÉTODO deiro choque no indivíduo.

Foi utilizada a abordagem qualitativa de pesquisa, “ [...] na chácara tinha muita coisa assim, como
com o recurso metodológico da análise de relatos manga, a gente bebia muito suco de manga, caldo
orais. No enfoque qualitativo, o pesquisador inter- de cana, suco de laranja e tanta coisa que você vai
preta o mundo real partindo das perspectivas subje- acumulando, acumulando, acumulando e chega
Restrições alimentares na velhice 177

um dia que estoura, né? [...] Um dia comecei a não é só a primeira necessidade do homem, mas um
sentir tontura, deitei no sofá lá na sala, no dia prazer.
seguinte a vista começou a atrapalhar, sabe?, Co-
meçou a embaçar […] fui na doutora e ela me “[...] quando estou comendo eu não penso nem
falou: você está com diabete, bem alto; já na hora em vida nem em morte, entendeu?, eu penso que
ela pegou uma caixa de remédio e falou: tome este é um momento de prazer. E eu sinto apetite, von-
comprimido já.” tade de comer. A comida pra mim é prazerosa. Às
vezes fico olhando o relógio pra ver se tá na hora
O choque produzido pela doença que chega de de comer.”
repente na vida do indivíduo, invadindo o corpo e
desarrumando o cotidiano, aparece de forma muito O sentido do prazer da alimentação é tão profun-
expressiva no trecho seguinte: do que, mesmo longe no espaço e no tempo da casa
materna, a pessoa sente prazer em lembrá-la. O gosto,
“[…] cheguei no hospital me sentindo muito o cheiro e o sabor dos alimentos da infância ficam
mal… parecia que eu tava carregando o mundo incrustados na memória e fazem com que o indivíduo
nas costas... as pernas doendo [..] Quando cheguei reviva sensações prazerosas.
no pronto-socorro foi feita glicemia na hora... eu
tava com quinhentos e pouco de glicemia e trigli- “[...] é um prazer lembrar da comida, né? A gente
cerídeos. Aí não voltei pra casa, já fiquei inter- parece que ainda tem vivo aquele sabor... Fica a
nada”. lembrança, fica bem ali, né? retida, você tem con-
dições de lembrar do gostinho das coisas... o cheiro,
Torna-se necessário descobrir o homem que nasce nossa senhora! [...].”
da doença. O dualismo cartesiano que legou às ciên­
cias naturais e sociais uma concepção mecanicista do Por outro lado, o prazer da alimentação vê-se afe-
corpo e de suas funções, com a conseguinte visão re- tado por importantes e significativas limitações de-
ducionista dos fenômenos saúde e doença, está sen- rivadas da presença da doença. Hipertensão arterial,
do superado por uma concepção mais abrangente13. diabetes e dislipidemia, entre outras, impõem restri-
Sabe-se hoje que noções como as de saúde e doença, ções alimentares. Isso faz nascer no idoso sentimento
aparentemente simples, referem-se, de fato, a fenô- de nostalgia e frustração.
menos complexos que conjugam fatores biológicos,
sociológicos, econômicos, ambientais e culturais15. “[…] feijoada agora com essa diabete não dá mais
A doença significa um dano à totalidade da exis- […] pra mim comer uma feijoada tem que ter
tência. Não é o joelho que dói, não é uma parte que uma caipirinha […] não posso comer pimenta…
está doente, mas é o indivíduo em sua totalidade exis- porque fica tudo irritado. Agora eu gosto é de uma
tencial que sofre, é a vida que adoece em suas várias feijoada com pimentinha!”
dimensões: em relação a si mesma, em relação à socie-
dade e em relação ao sentido global da vida16. As restrições impostas, com uma visão predomi-
nantemente biológica, sob o objetivo de prolongar a
O confronto: antigo versus novo hábito vida, se distanciam dos aspectos socioculturais da pes-
alimentar soa; vende-se a ideia de que o conceito de uma vida
mais longa implica numerosas limitações, ficando a
Os idosos deste estudo manifestam em suas falas de alimentação submetida a câmbios drásticos, por ve-
um lado o prazer da alimentação, aqueles alimentos zes desnecessários. Esse confronto afeta diretamente
considerados “bem gostosos” por eles mesmos, e do os costumes, os interesses e as preferências dos indi-
outro a dificuldade em ter de conviver com um novo víduos e pode provocar efeitos negativos no que diz
hábito alimentar, sem história e sem significado na respeito à qualidade de vida, justamente por esquecer
sua experiência de vida. que a alimentação vai além de um ato puramente ma-
A ideia da alimentação como prazer humano prin- terial ao estar relacionada com os aspectos importan-
cipal torna-se mais forte na velhice. Diane Ackerman17 tes da vida do indivíduo19.
afirma que a alimentação é grande fonte de prazer,
um mundo complexo de satisfação, tanto fisiológi- “O que eu mais gosto é a minha cultura, as co-
ca quanto emocional. Para Carneiro18, a alimentação midas dos meus tempos de criança; uma das coi-
178 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(4):175-181

sas que eu mais gosto é arroz-doce. Você caramela friturinha, né?... Faço um bife à milanesa que
o açúcar e faz o arroz, fica aquele creme assim, seja, um frango frito… que é para poder, como diz
aquela cor linda... é muito bom! Mas isso para o povo antigo, ter uma gracinha também (risos,
mim agora está proibido.” risos) [...].”

Para Goffman20, um indivíduo com doença é um O idoso com restrições alimentares consegue par-
ser estigmatizado. Podemos considerar então que um ticipar de atos sociais com normalidade e sentir prazer
idoso com restrições alimentares por causa da doen­ na medida em que vai descobrindo os benefícios da
ça é um ser duplamente estigmatizado. Goffman restrição alimentar e vai incorporando o novo hábito.
denomina os encontros entre estigmatizados e nor-
mais como “contatos mistos”. Ele considera que essas “Quando eu vou em festas, eu procuro as comidas
relações mistas provocam angústia, uma vez que as que posso comer […] se tiver um frango eu vou pro
pessoas com as quais o indivíduo doente passou a se lado do frango, porque eu posso comer […] o que
relacionar depois do estigma podem vê-lo como al- eu não posso comer não como.”
guém que tem um defeito.
Isso explica um pouco o quanto resulta difícil para O idoso com restrições vai incorporando o novo
o idoso com restrições alimentares se relacionar com hábito no seu dia a dia e inventa estratégias para su-
pessoas não submetidas a esse tipo de restrições. perar o trago amargo da restrição.

“Então eu vivo de quê? Vivo de saudades, saudades “Hoje em dia eu como é mais fruta, doce e geleia
das coisas todas que eu comia e agora não posso dietética. Tem dias que tenho muita vontade de
mais... me dá tristeza, sabe?... Quando vou numa comer doce… Virgem Maria! Aí eu fico igual for-
festa de casamento não posso comer aquelas coisas, miga, catando doce… Como não tenho em casa,
aqueles doces, aquele bolo. Nas festas eu me sinto pois não compro pra não ter, aí eu amasso banana,
um ET... um ET na vida... porque tá todo mundo boto aveia, adoçante e leite desnatado... aí como
ali comendo e bebendo, brincando e você tem que aquilo, pra mim é doce, né? [...].”
se restringir...”
Constatamos que, entre os motivos que levam o
Freitas9,10 considera que o indivíduo com restri- idoso a incorporar um novo hábito alimentar, o mais
ções alimentares, ao sentir-se excluído dos antigos forte é a saúde, e isso faz com que se esforce por es-
rituais da alimentação socialmente vivenciada, sente- quecer a dureza da restrição. Quase todos os entrevis-
se “o diferente”. No trecho seguinte, o idoso esquece tados manifestaram esse fato.
propositalmente a doença e suas restrições para parti-
cipar igual a todos em uma festa. “Minha alimentação mudou pra melhor, porque
eu me sinto melhor; sem essa alimentação acho que
“Agora, quando eu vou assim num aniversário e não estaria viva, pois fico pior quando não faço
tem pudim, vários tipos de doces, carne de porco, […] Eu gosto do sal, mas agora ponho menos sal
eu como de tudo… e no dia seguinte fico bebendo na comida… a gente vai acostumando […] Só
leite desnatado como uma criança. Às vezes tomo como o que sei que vai me fazer bem, não como
3 litros de leite […] faço uma limpeza no orga- por comer, porque a gente viver é bom, mas tem
nismo [...].” que viver com saúde!”

O idoso com restrições alimentares terá de rees- Para superar o confronto entre os hábitos é neces-
truturar seus hábitos alimentares a partir das novas sário lembrar, de acordo com Castro e Peliano21, que
necessidades provocadas pela doença e estar aberto a as mudanças de hábitos alimentares transitam pelo
novas cores, odores, sabores e texturas de alimentos, significado simbólico dos alimentos. Segundo Bour-
identificando o vínculo significativo que tem com sua ges22, não se deve esquecer que, quando se modifica
própria vida. O prazeroso é o antigo hábito. O novo um hábito, toda a maneira de viver do indivíduo fica
tem de ter algo do antigo, uma “gracinha” (do antigo) afetada. Isto é, como fenômenos fundamentalmente
para ser incorporado. culturais, os hábitos são, por sua própria natureza,
modificáveis. A educação que é a mudança de conduta
“Eu gosto muito de fritura… aí em compensação, é a estratégia. Para educar, é necessário motivar e ofe-
como não tem óleo em nada, aí eu vou e faço uma recer informação pertinente.
Restrições alimentares na velhice 179

Pensar a educação nutricional como um ato capaz realizar reuniões com amigos e familiares, sempre ce-
de mudar, transformar antigos paladares e hábitos não lebrados com muita alegria.
é de fato uma tarefa fácil. Os aspectos socioculturais
são relevantes em qualquer orientação terapêutica. “Fazia noitadas de pizza... aquele pessoal amigo
“Educar a nutrição” ou ensinar sobre a nutrição, como ia lá… fazia tudo… massa, molho, tudo. Quan-
um gesto que tenta com o discurso mudar o compor- ta pizza que a gente fazia e comia! [...] A gente
tamento alimentar do outro, requer compreender a morava em chácara... tinha fim de semana que
história e a visão do mundo dos sujeitos sociais10. juntava umas dezessete a dezoito pessoas em casa...
Mesmo que os idosos não admitam argumentações aquela sala ficava cheia de gente... até tremo
que impliquem mudanças nos seus hábitos alimen- quando lembro... […].”
tares, quando aceitam o fato de que uma alimenta-
ção adequada é essencial para manter ou recuperar a Segundo Jean-Didier Vincent26, a cozinha permi-
saúde, tornam-se ávidos em aprender5,23. Para eles, o tiu ao homem realizar seu maior descobrimento: o ou-
importante é desfrutar uma vida longa e saudável, e tro. A alimentação é uma cerimônia participativa em
ante isso aceitam novas orientações e esforçam-se em que se funda a sociedade humana. A primeira alimen-
incorporar novos hábitos alimentares. tação do bebê com sua mãe é o primeiro encontro,
o primeiro cara a cara com o outro, esse outro com
A alimentação e suas relações quem vai compartilhar prazer e sofrimento. Após esse
momento, por trás do ato de comer, a ideia do outro
A alimentação assume um significado extraordinário ficará para sempre escrita em sua memória profunda.
quando a pessoa idosa relaciona os alimentos com sua
vida passada, a vida atual e sua comunidade. Segundo Maciel24 considera como aspecto fundamental
Maciel24, a alimentação está perpassada de emoção, da alimentação humana o “com quem comemos”.
ativa e mobiliza a memória e os sentimentos. Expres- O “com quem” envolve partilha e comensalidade, o
sões como “comida da mãe” ou “comida caseira” re- que transforma o ato alimentar em um acontecimen-
metem ao familiar, ao bem próximo. O “toque da to social. A palavra companheiro provém do latim:
mãe” é uma assinatura que envolve não só o que se “cum panem” (com pão), os que compartem o pão. Por
faz como a forma como se faz e marca a alimentação isso a comensalidade, o comer juntos, é o momento
com lembranças pessoais. de reforçar a coesão de um grupo, pois, ao partilhar
o alimento, se partilham sensações, transformando o
“Minha mãe fazia muito uma sopa de feijão, ma- comer juntos numa experiência sensorial comparti-
carrão e couve... hum! como eu gostava daquela lhada.
sopa! Ficava aquele caldo grosso… era boa de-
mais... Sinto muita saudade daquela sopa! […].” “Lembro que, quando meu avô fazia aniversário,
ou natal ou páscoa, a gente sempre festejava toda
A ligação afetiva com a “comida da infância” tam- a família junta. Meu avô matava um leitão. Ele
bém aparece no seguinte trecho: e meu pai faziam o leitão assado… aah! aquele
leitão assado…! Minha mãe e minhas tias faziam
“Minha mãe fazia músculo assado pra mim […] os bolos e a comida… Nossa Senhora! era uma fes-
O músculo da minha mãe… aaah!, o nervo saía ta! […].”
da carne e ficava cozido, macio, macio, muito
gostoso. Mamãe botava o músculo na panela de Comer não significa apenas matar a fome. A ali-
pressão pra amolecer, depois temperava e botava mentação estreita os laços e faz das muitas vidas uma
pra assar. Eu ensinei tudo isso às empregadas e elas só: a vida familiar25. Para Brillat-Savarin27, o prazer da
nunca acertavam igual a minha mãe”. mesa é próprio da espécie humana; supõe cuidados
preliminares com o preparo da refeição, a escolha do
A “comida da mamãe” evoca a lembrança do pas- local e a reunião dos convidados.
sado, aflorando na memória o que está encoberto nas
profundezas do inconsciente familiar. Sempre poderá Restrições alimentares
ser avivada e revivida, por estar ligada aos gestos ori-
A presença da doença sugere, de alguma forma, a
ginários da vida25.
necessidade de adotar restrições alimentares. Cria-
Existe também uma ação de sociabilidade em tor- se assim uma dupla tensão: de um lado o indivíduo
no da mesa, uma vez que a alimentação é motivo de sente-se atraído pelo gosto e o prazer dos alimentos
180 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(4):175-181

de um “tempo bom” em que podia comer de tudo, profissionais que trabalham com idosos. A restrição
muito vivo ainda na memória, e, do outro, ante as alimentar, como algo externo ao idoso imposto pela
restrições impostas pela doença e a vontade de viver doença, e a incorporação de novos hábitos alimenta-
com saúde, deve-se confrontar com o esforço em in- res, como opção subjetiva do indivíduo, atingem na
corporar novos hábitos alimentares. prática a essência do ser humano.
A alimentação tem profundas raízes culturais. Por
“Antes eu podia comer de tudo, agora já não posso,
meio de um alimento representativo, o idoso revive
né? Antes eu chegava e fritava linguiça e mandava
sua história reencontrando-se com seu passado. Os
pra dentro... arroz, feijão e linguiça, fazia uma
farofa... eu gosto muito de farofa. Se quiser me
hábitos alimentares estão gravados na memória do
envenenar, faz uma farofa e me dá… Eu adoro
idoso. Quando o idoso tem de fazer restrições de ali-
farofa [...].”
mentos que possuem um significado especial para ele,
o sofrimento é maior. Pode-se afirmar que a alimen-
Os hábitos alimentares parecem estar gravados na tação é um elemento-chave para o gozo e o bem-estar
memória. O alimento está tão vivo na memória que o na velhice por estar impregnada de afeto, emoções,
idoso chega até sentir o cheiro e o gosto ao lembrá-lo. sociabilidade, prazer e alegria.
Existe uma ação de sociabilidade em torno da
“[…] atualmente não como carne de boi nem de mesa: a comida é motivo de realizar encontros com
porco, mas gosto muito, gosto é do cheiro da car- amigos e de estreitar laços familiares.
ne assada... lembra a casa de minha mãe. Minha
mãe fazia muito carne assada e eu também fa- O novo hábito alimentar chega invadindo e modi-
zia… Sinto saudade do cheiro e do gosto da carne ficando o antigo. O prazeroso é o antigo hábito; o novo
assada […].” deve ter algo do antigo para ser incorporado. Estudar
a alimentação com uma visão que vá além da simples
Os idosos entrevistados descrevem com muita satisfação fisiológica permitirá compreender os fatores
expressividade alguns alimentos que fazem parte de que influem nos comportamentos alimentares.
sua cultura e estão excluídos frequentemente de suas A saúde aparece como a mais forte motivação
dietas. para o idoso incorporar um novo hábito alimentar.
É importante que, na orientação nutricional visando
“A feijoada..., ai que saudade!... eu gosto muito, à mudança de hábitos alimentares do idoso, o pro-
mas já não como, nunca mais… e sinto falta […] fissional busque compreender e valorizar os aspectos
quanto tempo faz que eu não como uma feijoada!. simbólicos da alimentação.
Quando convidam alguém aqui em casa fazem
duas feijoadas: uma tradicional e outra vegetaria- O profissional conhecedor dos aspectos simbóli-
na para os que não podem comer […].” cos que permeiam a alimentação contribuirá positiva-
mente para que o homem que nasce da doença possa
conjugar de forma harmoniosa e equilibrada o antigo
“[...] eu gosto do cozido, mas não como mais. Fa- e o novo hábito alimentar e alcançar uma vida mais
zíamos uma panela grande, com couve, abóbora, longa e saudável física e emocionalmente.
mandioca, carne de sol, toucinho, linguiça, fica-
va muito gostoso! Agora não como mais. Agora eu
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ARTIGO ORIGINAL

Percepção dos idosos perante


o sexo na idade avançada
Perception of the elderly towards sex in old age

Katrin da Silva Ferreira1, Mariana Gaspar Silva1, Tássia M. D. Almada Cherem1,


Cláudia Lysia de O. Araújo1

Recebido em 12/1/2010
RESUMO Aceito em 27/2/2010

Introdução: A velhice mantém a necessidade psicológica de uma atividade sexual contínua. Devido aos precon-
ceitos, os idosos enfrentam dificuldades relacionadas à sexualidade. Pessoas dessa faixa etária são intimidadas a
afastar-se do sexo, no qual as iniciativas representam um risco de frustração. Método: Trata-se de um estudo de
natureza quali-quantitativa, descritiva, realizada em um centro de convivência do Vale do Paraíba, SP, com o objetivo
levantar o perfil socioeconômico, pensamento e preconceito sobre o sexo dos idosos que participam do programa do
Centro de Convivência do Idoso (CCI). Resultados: A maior concentração de idosos era do sexo feminino (70,45%),
acima de 69 anos, alfabetizada, com renda mensal de até um salário-mínimo, aposentada, viúva, com três ou mais
filhos. A maior parte realizava atividade física pelo menos duas vezes por semana. Em relação à atividade sexual,
70,45% declararam que não praticavam sexo, o restante disse praticar pelo menos uma vez por semana e, destes,
53,84% revelaram não ter múltiplos parceiros. Todos os idosos praticantes de sexo revelaram ser heterossexuais e
não usar nenhum tipo de medicação relacionado à impotência sexual. Conclusão: As mulheres aprenderam a ser
submissas ao homem, tendo o sexo como uma obrigação do casamento ou somente para a maternidade. Já com os
homens pode-se concluir que eles não admitem a perda da vitalidade sexual e tentam esconder que já não têm mais
o vigor físico de antigamente.
Palavras-chave: Idoso, sexualidade, centro de convivência e lazer.

ABSTRACT
Introduction: Old age keeps the psychological need for an ongoing sexual activity. Due to the prejudices, the elderly
face difficulties related to sexuality. People this age are intimidated to move away from sex, in which the initiatives
represent a risk of frustration. Method: This is a study of a qualitative and quantitative, descriptive, held in a service
area of Vale do Paraíba, SP, in order to raise the economic profile, thought and prejudice about the sex of the elderly
who participated in the Friendship Center Aging (ICC). Results: The highest concentration of elderly were female
(70.45%), over 69 years, literate, with a monthly income of up to one minimum wage, retired, widowed, with three
or more children. Most physical activity performed at least twice a week. In relation to sexual activity, 70.45% stated
that they had sex, the rest said practice at least once a week and of these, 53.84% reported not having multiple
partners. All elderly practitioners of sex proved to be heterosexual and not use any type of medication related to
impotence. Conclusion: The women learned to be submissive to men, having sex as an obligation of marriage or
just to leave. Now with men can be concluded that they do not admit the loss of sexual vitality and try to hide that no
longer have the physical stamina of old.
Keywords: Elderly, sexuality, social center and leisure. 1
Faculdades
Integradas Teresa
D’Ávila (Fatea),
Endereço para correspondência: Katrin da Silva Ferreira • Rua Capitão Raimundo Ferreira, 115 W −
12702-490 − Cruzeiro, SP • E-mail: katrinferreira@yahoo.com.br
Lorena, SP.
Percepção dos idosos perante o sexo 183

INTRODUÇÃO também deve levar em conta a psicologia e a cultura


de cada indivíduo, já que sexualidade não se reduz
O envelhecimento é hoje um fenômeno universal e apenas à prática do ato sexual e à satisfação orgástica,
os fatores responsáveis são discutidos, com especial e sim tem como objetivo uma integração harmonio-
referência ao declínio tanto das taxas de fecundidade sa dos aspectos intelectuais e sociais do ser sexuado,
como das de mortalidade. O que era no passado pri- enriquecendo sua personalidade, comunicação e o
vilégio de alguns passou a ser uma experiência de um amor. Nesse sentido, o sexo é reconhecido como um
número crescente de pessoas em todo o mundo1. aspecto importante da saúde e, se for vivido satisfa-
toriamente, é fonte de equilíbrio e harmonia para a
Envelhecimento não significa um declínio, e sim pessoa, favorecendo uma atitude positiva em relação
uma continuação da vida, com suas particularidades a si mesmo e aos outros6.
e características, mas, em algumas situações, os pró-
prios idosos, alegando a idade, se fazem de vítima e Mesmo que não seja possível explicar todas as
se excluem das atividades sociais se sentindo inúteis mudanças que ocorrem na velhice, o envelhecimen-
perante a sociedade. Essa, por sua vez, contribui para to fisiológico é um fator importante para entender a
que os idosos passem a acreditar que, pelo fato de te- diminuição da atividade sexual que se produz nessa
rem se aposentado do trabalho, também se aposen- etapa da vida. Em geral, as mulheres se preocupam
taram da vida. Esse preconceito priva os idosos de mais com a perda da estética do que com a própria
várias oportunidades, como o amor, a sexualidade e função sexual, diferentemente dos homens, que se
o lazer1,2. preocupam excessivamente com as mudanças fisioló-
gicas da sexualidade do envelhecimento, acarretando
Contradizendo tais conceitos antigos e preconcei- a aparição de ansiedade. Enquanto nos homens ido-
tuosos, alguns idosos, quando mostram que são ver- sos o interesse ou desejo sexual é maior que a própria
sáteis, perspicazes, bem-humorados, com boa forma, atividade sexual, nas mulheres já existe um declive
permitem que outros idosos mudem suas atitudes e tanto no desejo quanto no desempenho5.
pensamentos e se sintam estimulados a melhorar suas
relações interpessoais2. É possível que a mulher idosa mantenha seus pa-
drões sexuais anteriores até o final da vida, mesmo
Mesmo que algumas pessoas associem o envelheci- com as alterações fisiológicas que serão descritas a se-
mento ao isolamento social, às restrições financeiras, guir, a não ser que apareça uma doença deteriorante
à perda de papéis sociais, à perda da autonomia ou à que a impeça5.
saúde em declínio, pelo fato de esta ser uma das fases
da vida, não é um privilégio da velhice e sim, pelo São alterações do aparelho genital feminino: os
contrário, pertence a qualquer um que esteja vivo e ovários diminuem progressivamente de tamanho; as
atuante. Com isso, as pessoas que enfrentam tal medo trompas de Falópio se fazem filiformes; o útero re-
são capazes de viver a velhice como qualquer outra gride a seu tamanho pré-púbere; o endométrio e a
fase da vida2. mucosa do colo uterino se atrofiam; a vagina se faz
mais curta e menos elástica; a mucosa vaginal se faz
Apesar de ser preconizado pela Organização Mun- mais delgada e friável; diminui a capacidade de lubri-
dial da Saúde que idoso é aquele com idade igual ou ficação da vagina.
superior a 60 anos, não quer dizer que a pessoa seja
fraca, triste ou deixe de ter a motivação pela atividade É importante enfatizar que as mudanças anatômi-
sexual. Isso depende apenas de sua disposição, atitude cas e fisiológicas do envelhecimento acontecem como
e qualidade de vida. Entretanto, na nossa cultura, há um todo, mas isso não significa que terão a mesma
mitos e atitudes preconceituosas relacionados ao sexo, proporção em todas as mulheres. Existem variações
como se fosse atributo apenas dos jovens em função individuais muito importantes5.
do vigor físico e de suas descobertas, tornando-se mais Porém, no homem a deterioração das funções
difícil a manifestação dessa área na vida dos idosos. reprodutivas é muito diferente da que ocorre nas
Embora haja essa cultura, a velhice mantém a neces- mulheres, já que a fecundidade masculina não tem
sidade psicológica de uma atividade sexual contínua, término definido5.
não havendo idade correta para que acabem os pensa-
São alterações da sexualidade masculina: a ereção
mentos sobre sexo, o desejo ou a atividade sexual3-5.
pode tornar-se mais flácida; é necessário mais tempo
O sexo não pode ser entendido apenas com o co- para alcançar o orgasmo, que é de menor duração;
nhecimento da anatomia e da fisiologia sexuais, mas diminui o número de ereções noturnas involuntárias;
184 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(4):182-188

o período refratário depois da ereção aumenta mar- idosos em relação ao preconceito do sexo na idade
cantemente; a ejaculação se retarda. Isso pode ser uma avançada e determinar se há um motivo pelo desin-
vantagem aos homens que apresentam ejaculação pre- teresse ao sexo.
coce; reduz-se o líquido pré-ejaculatório; a ejaculação
é menos intensa.
MÉTODOS
Não ser consciente dessas alterações poderá levar
o idoso a apresentar sintomas de angústia sobre seu
Trata-se de um estudo de natureza quali-quantitativa,
desempenho sexual5.
descritiva, realizado CCI, situado na cidade de Vale
Conscientes de que o corpo muda no decorrer do Paraíba, SP. Possui 176 idosos cadastrados, todos
tempo, os idosos devem investir mais em carícias, bei- acima de 60 anos, sendo 132 (75%) mulheres e 44
jos e carinhos durante todo o dia e não só na hora do (25%) homens. Desses idosos, 58 (33%) são casados,
ato sexual, sendo que neste momento da vida o sexo 40 (23%), solteiros, 69 (39%), viúvos, e nove (5%),
faz com que a pessoa seja valiosa para outra, provo- divorciados. Entre eles, 171 (97%) residem na cidade
cando sensações de aconchego, afeto, amor e carinho, e somente cinco (3%) são de cidades vizinhas. Apenas
além de trazer satisfação física e reafirmar a identidade. sete (4%) idosos cadastrados são analfabetos e 169
Muitos idosos fazem com que esses sentimentos se tor- (96%) são alfabetizados.
nem conflituosos, se sentindo culpados, fazendo com
No CCI, não se fala em remédios, doenças, tra-
que eles, apesar de sentir desejos sexuais e continuar a
tamentos, o objetivo é trabalhar com a qualidade de
ter vontades, desistam de manter o sexo ativo7.
vida e a prevenção de doenças por meio de atividades
Portanto, para que se possa compreender a proble- como alongamento, aulas de ginástica, jogos de bara-
mática da sexualidade nos idosos, é preciso levar em lho, bilhar, dama, bocha, yoga, entre outras.
conta os fatores básicos que afetam o comportamento
Os idosos chegam às 8 horas, passam o dia desen-
e a resposta sexual nessa idade. Em decorrência dos
volvendo as atividades, alimentam-se e, às 16 horas,
preconceitos sociais, os idosos enfrentam dificuldades
horário em que a casa é fechada, eles retornam às suas
para preservar sua identidade e sua integridade, prin-
residências.
cipalmente no que diz respeito ao sexo, que a socieda-
de atentamente vigia e julga. Pessoas dessa faixa etária Inicialmente, a instituição foi contatada pelas au-
são intimidadas a afastar-se da atividade sexual, na toras a fim de solicitar-se autorização formal para a
qual as iniciativas representam um risco de frustração. realização do estudo. Nessa ocasião, foi apresentada
Além disso, toda manifestação de sensualidade é rapi- à instituição uma carta com as explicações necessá-
damente considerada como uma atitude repreensiva. rias acerca da pesquisa, além dos seus objetivos. Os
A situação conjugal também influencia no interesse sujeitos participantes do estudo receberam todas as
pela relação sexual e, com isso, a falta de um parcei- informações necessárias e assinaram o Termo de Con-
ro disponível explica o abandono de relações sexuais, sentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O projeto foi
mas não explica a falta de interesse para com o sexo submetido à aprovação do Comitê de Ética das Facul-
e o porquê de não apresentarem comportamentos dades Integradas Teresa D’Ávila com nº. 123/2008.
sexuais, o que ocorre mesmo entre pessoas casadas e Foi utilizado um questionário semiestruturado
satisfeitas com sua relação conjugal8. elaborado pelas autoras com dados sociodemográfi-
O sexo na velhice é visto em diferentes dimensões, cos e a opinião dos idosos em relação ao sexo na ida-
portanto, com o intuito de conhecer os preconceitos de avançada. Os resultados foram descritos de forma
sobre o ato sexual para as pessoas na idade avançada quali-quantitativa conforme descrito abaixo.
surgiu a ideia de estudar o tema em questão.

RESULTADOS
OBJETIVOS
Participaram do estudo assinando o TCLE 44 ido-
Este estudo tem o objetivo de levantar o perfil socio- sos (100%). A maior concentração de idosos era 31
econômico dos idosos que participam do programa (70,45%) do sexo feminino, 27 (61,36%) com a faixa
do Centro de Convivência do Idoso (CCI); identifi- etária acima de 69 anos de idade, 31 (70,45%) alfabe-
car qualitativamente o pensamento dos idosos sobre tizados e 23 (52,27%) com renda mensal de até um
o sexo na idade avançada; conhecer a percepção dos salário-mínimo.
Percepção dos idosos perante o sexo 185

Segundo estudos de Oliveira et al.9, Mazo et al.10, pos de convivência na prefeitura de São José, SC, a
Santos et al.11, Borges et al.12, Lazzarotto et al.13, rea­ maioria (79,13%) dos idosos era ativa.
lizados em Centros de Convivência, foram encon-
No estudo, os idosos relataram que o sexo é:
trados em sua maioria idosos do sexo feminino que
“amor; desejo; saúde; atração; prazer legal; vontade; pre-
participavam de CCI. De acordo com Santos et al.11,
cisão do ser humano porque necessita; relacionamento
em seu estudo com 18 idosos de um Centro de Con-
corpo a corpo; união de uma carne com a outra; Deus
vivência de Campina Grande, PB, com Borges et al.12
deixou o casal para acontecer o sexo e não acabar as pes-
e o IBGE14, a faixa etária prevalente era acima de 70
soas; contato de um com o outro; obrigação do casamen-
anos. Com relação à alfabetização, Borges et al.12, em
to, cumprir com o dever do casamento; melhor coisa que
seu estudo com 197 idosos, referem que a maioria
existe na vida”.
dos frequentadores de grupos de convivência em Belo
Horizonte é alfabetizada, assim como Silva15, que rea­ Segundo Almeida e Lourenço2, cujo objetivo em
lizou sua pesquisa com 36 participantes do Grupo de sua pesquisa foi realizar uma análise criteriosa de al-
Educação à Saúde (GES) da Divisão de Medicina de gumas publicações que estudam o envelhecimento, o
Reabilitação da Faculdade de Medicina da Universi- amor e a sexualidade do idoso, o sexo é uma opor-
dade de São Paulo (FMUSP) e que caracterizava os tunidade de expressar carinho, afeto, admiração por
idosos quanto à prática sexual. alguém, eleva a autoestima e melhora o humor e a
qualidade de vida.
Na literatura nacional, não foram encontrados
trabalhos com características semelhantes a esse estu- Silva15 verificou, em seu estudo, que na velhice a
do quanto aos salários recebidos, mas, pelos dados do forma de prazer vem sendo alterada. O desenvolvi-
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mento e a busca da sexualidade do idoso apresentam-
sabe-se que a renda mensal do aposentado é um salá- se na forma de sedução, ou seja, o toque, o carinho,
rio-mínimo. beijos e o diálogo. Para a autora, essas são algumas al-
ternativas que trarão de volta o erotismo que poderia
Quanto à ocupação dos idosos entrevistados, 29 ter sido apagado pelas dificuldades, rotinas, doenças
(65,91%) eram aposentados. ou perdas.
No estudo de Santos et al.16 com 128 idosos na cida- Também para Viana e Madruga19, que realizaram
de de João Pessoa, PB, que teve como objetivo avaliar a sua pesquisa com pessoas acima de 60 anos e aborda-
satisfação de idosos em relação à sua qualidade de vida ram a questão da sexualidade, da qualidade de vida e
e, de acordo com Nóbrega et al.17, que analisavam a da atividade física no envelhecimento, o sexo é uma
prevalência de aspectos da autoavaliação da capacidade demonstração de afeto, calor e sensualidade. E isso
funcional pelas atividades de vida diária (AVD’s), fo- não precisa se deteriorar com a idade, e sim pode até
ram encontrados em sua maioria idosos aposentados. aumentar. O sexo na idade avançada é emocional,
Quanto ao estado civil, a maior parte, 23 envolve tanto a parte física como a comunicação, é
(52,27%) idosos, era composta de viúvos, sendo que aprendido e menos instintivo, possibilita novas expe-
40 (90,90%) possuíam filhos e 33 (82,05%) relatam riências criativas e exige sensibilidade.
possuir três ou mais. Em relação à atividade sexual, 31 (70,45%) idosos
Outros estudos como o de Silva15 e Santos et al.16 relataram que não praticam sexo, e, do restante que
revelaram que 44% e 41,4%, respectivamente, dos diz praticar, cinco (38,46%) idosos fazem sexo pelo
indivíduos são viúvos. Na Pesquisa de Castro e Reis18, menos uma vez por semana.
que abordou mulheres com idade entre 59 e 77 anos O mesmo diz Dantas et al.7, que tiveram como ob-
de um CCI na região Metropolitana de Belo Hori- jetivo, em seu estudo com 30 idosos, investigar como
zonte, com o intuito de saber o mito da dessexualiza- estes vivenciam a sexualidade e as atividades de lazer:
ção (privado da potência sexual) e a vida afetiva das 56,66% dos idosos entrevistados não vivenciam a se-
idosas, concluiu-se que a maior parte (52,83%) das xualidade. Contradizendo esses dados, Silva15 revela
idosas possuía três filhos ou mais. que, em seu estudo, a maior parte (75%) dos idosos
Quanto à atividade física, 37 (84,09%) idosos relata- pratica sexo de zero a três vezes por semana.
ram fazer exercícios físicos, sendo que a prevalência, 14 Foram questionados 31 idosos do sexo feminino
(37,83%) idosos, foi maior em duas vezes por semana. (70,46%), dos quais 28 (90,32%) relataram que não
Segundo o estudo de Mazo et al.10, que relaciona praticavam sexo (“não, porque sou viúva; nunca tive
atividade física com a incidência de quedas em 37 gru- muito interesse; sexo não me faz falta; tenho que dar
186 Geriatria & Gerontologia. 2009;3(4):182-188

respeito para os meus filhos porque sou viúva; medo de principalmente se ele tiver uma boa saúde física e psi-
doenças e filhos que pegam no pé; eu respeito para ser cológica.
respeitada; já sofri muito e hoje não quero mais; ele não
Dos idosos que praticavam sexo, 13 (100%) rela-
me procura”).
tavam ser heterossexuais.
Gradim et al.4 realizaram sua pesquisa com 18
Dos 13 (29,54%) idosos entrevistados que dizem
idosos que participam da Universidade Aberta da
praticar sexo, sete (53,84%) relatam ter parceiros fixos.
Terceira Idade (UnATI) em Alfenas, MG, com o
objetivo de conhecer a prática sexual exercida, os fa- O estudo de Olivi et al.21, que analisa o compor-
tores que interferem no relacionamento sexual e as tamento, o conhecimento e a percepção dos riscos às
estratégias utilizadas pelos idosos para continuarem doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) em 165
sexualmente ativos. Segundo os autores, o compor- pessoas da terceira idade, também comprova que a
tamento sexual dos idosos é levado em conta devido maioria dos idosos praticantes de sexo possui parcei-
a vários princípios: a cultura, a religião e a educação. ros fixos.
Esses princípios influenciam seu comportamento em
Quando foi perguntado o motivo de praticar o
relação ao sexo pela vida toda e, às vezes, o sexo é visto
sexo, o que mais chamou atenção em algumas respos-
apenas para procriação. Em sua pesquisa, Gradim et
tas foi que o “sexo com o marido era obrigação, com o
al.4 mencionaram também que a maioria das viúvas,
outro parceiro de seu segundo casamento era prazer; sexo
após o falecimento de seus maridos, não mais mante-
é para ter filhos; só para satisfazer o marido, para sentir
ve relação sexual.
prazer; por diversão; se não praticar a pessoa fica irrita-
Borges et al.12, em sua pesquisa, encontraram que da; dar prazer e viver a vida mais à vontade; a pessoa
a maioria dos idosos nos países em desenvolvimento casa para isso; para melhorar a saúde, relaxar e acabar
vive com seus filhos. Isso significa que eles acham que com o mau humor; não tem motivo para praticar”.
devem respeito a seus filhos e por isso não se envol-
vem com ninguém. Para Almeida e Lorenço2, que realizaram um le-
vantamento bibliográfico com o objetivo de saber em
Para Santos e Carlos20, que realizaram sua pesqui- sua pesquisa sobre o amor e a sexualidade na velhice
sa com três moradores de Porto Alegre, com idade e o direito dos idosos que nem sempre é respeitado,
entre 68 e 73 anos, e tinham como objetivo investigar a educação das mulheres antes do casamento era para
a sexualidade e o amor na velhice, as mulheres idosas, desenvolver habilidades que contribuíam para ser
após a morte dos maridos, permanecem cuidando uma dona de casa prendada, com características mais
dos filhos e morando com as sogras e não voltam a apreciadas para submissão. Para as mulheres, a vida
se casar. Portanto, em sua pesquisa, revelaram que os sexual era mais um serviço, já que seus desejos e sua
valores parecem colocar a mulher em um lugar insti- realização se faziam pelo prazer daquele que o tinha
tuído dentro de uma sequência: ser mulher devota ao por direito – o marido.
marido, dona de casa e mãe.
Segundo Viana e Madruga19, as pessoas que re-
Foram entrevistados 13 (29,54%) idosos do sexo pugnavam as atividades sexuais hoje utilizam a des-
masculino e os dados mostram que 10 (76,9%) rela- culpa de estarem velhas para “poder” abandonar a
taram que fazem sexo (“sexo é bom; é a melhor coisa vida sexual ativa.
que tem, não dá para ficar sem sexo...”), e a minoria,
três idosos (23,1%), relatou que não pratica sexo (“te- Já para Castro e Reis18, a maioria das mulheres que
nho diabetes e problema de próstata; já estou velho; não relataram submissão declarou que o sexo no casamen-
tenho mais vontade”). to acaba sendo uma obrigação da esposa e que, se elas
não cumprem com a obrigação, o marido acaba bus-
Segundo Ballone 5, que realizou uma revisão da
cando essa satisfação em relações fora do casamento.
literatura para estudar a sexualidade dos idosos, as
mudanças fisiológicas normais levam a um aumen- Com relação ao preconceito sobre o sexo na idade
to da prevalência de disfunções sexuais, que provoca avançada, 27 (61,36%) idosos acreditam que existe al-
preocupação nos homens, principalmente em relação gum tipo de preconceito e, desses idosos, nove (33,33%)
à impotência, fazendo com que haja um aumento acham que isso é pensamento dos jovens e outros nove
progressivo do período entre as ereções. (33,33%) acham que é dos próprios idosos.
Para Gradim et al.4, existe a possibilidade de o Grande parte dos idosos entrevistados nesta pes-
homem apresentar ereção até os 80 anos ou mais, quisa relatou que existe sim preconceito em relação ao
Percepção dos idosos perante o sexo 187

sexo na idade avançada: “os jovens falam que os velhos se concluir que eles não admitem a perda da vitalida-
não devem fazer sexo; o ser humano é preconceituoso; só de sexual e tentam esconder que já não têm mais o
porque é velha não dá mais no couro; os próprios idosos vigor físico de antigamente.
acham que devem se recolher; o idoso não consegue; os
Pode-se identificar que, além da sociedade, os pró-
homens julgam muito as mulheres; devido à falta de hi-
prios idosos impõem uma imagem estereotipada da
giene, pois falam que os idosos não têm muita higiene;
velhice, como se, com o passar do tempo, o amor, a
muitos pensam que velho tem que descansar; exclusão da
expressão do desejo e até mesmo o sexo já não disses-
sociedade; por causa da ignorância”.
sem mais respeito à idade avançada.
Segundo Almeida e Lorenço2, a sexualidade na
Levando em consideração que, para os idosos, o
velhice é um tema comumente negligenciado por di-
sexo é como um elo matrimonial, pode-se concluir
versas áreas da saúde, pouco conhecido e tampouco
também que, ao ficarem viúvos, o sexo já não deve
compreendido pela sociedade, pelos profissionais de
mais fazer parte do seu cotidiano.
saúde e pelos próprios idosos. Mas, ao contrário do
que se possa pensar, a velhice é uma idade tão frutífe- Realizar um trabalho que aborda um tema como
ra como qualquer outra no que se refere à questão da o sexo na idade avançada leva a crer que as pessoas
prática da sexualidade e à vivência do amor. possuem pensamentos diferentes relacionados à sexua­
lidade, o que gerou algumas dificuldades durante o
Para Silva15, a obtenção de dados na população
idosa sobre a sexualidade é sabidamente um desafio, percurso da presente pesquisa. Um dos pontos dificul-
pois enfrenta a resistência de valores morais e cultu- tadores foi o constrangimento dos participantes duran-
rais, bem como a timidez e outros bloqueios das pes- te a coleta de dados quando a palavra sexo era citada.
soas entrevistadas. Apesar de ser um tema que os profissionais de-
De acordo com Castro e Reis , os padrões de
18 veriam dar mais importância, houve dificuldades em
comportamento são criados pela sociedade, que limi- encontrar estudos com objetivos semelhantes ao desta
ta a sexualidade a um período compreendido entre pesquisa.
a puberdade e o início da maturidade. Portanto, o Em contrapartida, obtiveram-se pontos facilitado-
comportamento sexual não costuma ser reforçado res quanto à adesão dos participantes, pois, dos idosos
pela sociedade na velhice e, ao contrário, é severa- abordados, nenhum recusou participar da pesquisa.
mente punido por meio do preconceito que permeia
Outros pontos favorecedores foram encontrar fa-
essas relações. Isso faz com que alguns idosos incorpo-
cilmente um local para a realização do estudo e, com-
rem e aceitem a dessexualização (privado de potência
plementarmente, a receptividade da coordenadora.
sexual) como um processo normal da idade.
A proposta do presente trabalho completa aqui o
Dos homens entrevistados que disseram manter
relações sexuais, 11 (100%) relataram não usar ne- seu percurso.
nhum tipo de medicação relacionada à impotência
sexual. REFERÊNCIAS
Não foram encontrados estudos na literatura na-
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Este estudo permitiu concluir que os idosos que ONU.
participam de grupo de convivência geralmente são
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pessoas de renda mensal mínima e que receberam a lhecimento. Cogitare Enferm. 2007;12(2):204-13.
vivência de seus antepassados. Com isso, as mulhe- 5. Ballone GJ. Sexo nos Idosos. In: PsiqWeb Psiquiatria Geral;
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sexo como uma obrigação do casamento ou somente 6. Vaz RA, Nodin N. A importância do exercício físico nos anos ma-
para a maternidade. Acredita-se que essa opinião seria duros da sexualidade. Análise Psicológica. 2005;3(XXIII):329-39.
diferente das mulheres que estão vivendo em épocas 7. Dantas JMR, Silva EM, Loures MC. Lazer e sexualidade no enve-
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AGENDA DE EVENTOS
Esta seção da revista está aberta para a divulgação de eventos nacionais e internacionais. O material pode ser enviado
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2010 I Congreso Internacional de Residencias y Servicios para


Personas Mayores
Realização: CONAGER
XIII Seminario Internacional de Atención al Anciano Data: 14 a 16 de outubro de 2010
Realização: a definir Cidade: Veracruz
Data: 4 a 7 de maio de 2010 Local: México
Cidade: Havana Informações: http://www.conager.com.mx
Local: Cuba
Informações: ileana@palco.palco.cu. XII Jornada da SBGG-RS
Realização: SBGG-RS
2º Congresso Brasileiro de Gerontologia Social
Data: 15 a 16 de outubro de 2010
Realização: Associação Nacional de Gerontologia do Brasil Cidade: Porto Alegre
Data: 13 a 14 de maio de 2010 Local: AMRIGS – Associação Médica do RGS
Cidade: Florianópolis, SC
Local: UFSC
Seminario Internacional: “Personas Mayores, ciudadanía y
Informações: http://www.angbrasil.com.br empoderamiento”
Realização: Pontificia Universidad Católica de Chile e la Red
XVII Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia
Internacional de estudios sobre la Edad, la Ciudadanía y la
Realização: SBGG integración Social – REIACTIS
Data: 28 a 31 de julho de 2010 Data: 26 a 27 de outubro de 2010
Cidade: Belo Horizonte Cidade: Santiago
Local: Expo Minas Belo Horizonte, MG Local: Chile
Informações: http://www.cbgg2010.com.br Informações: http://www.reiactis.org
Instruções aos autores

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inglês e espanhol. Seu conteúdo encontra-se disponível em versão Artigos Originais. Contribuições destinadas à divulgação de resul-
impressa, distribuída a todos os associados da SBGG, e em versão tados de pesquisas inéditas tendo em vista a relevância do tema, o
eletrônica acessada pelo site: www.sbgg.org.br. alcance e o conhecimento gerado para a área da pesquisa. Devem
ter de 2.000 a 4.000 palavras, excluindo ilustrações (tabelas, figuras
Instruções para o envio dos manuscritos [máximo de cinco]) e referências [máximo de 30].
Os trabalhos devem ser enviados por via eletrônica para o endereço: Artigos de Revisão. Avaliação crítica sistematizada da literatura so-
revista sbgg@terra.com.br; sandrasantana@segmentofarma.com.br, ou bre determinado assunto, de modo a conter uma análise comparativa
por correio, em CD ou DVD, para: Segmento Farma / Geriatria & Geron- dos trabalhos na área, que discuta os limites e alcances metodológicos,
tologia – Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. permitindo indicar perspectivas de continuidade de estudos naquela li-
O autor para correspondência receberá mensagem acusando recebi- nha de pesquisa e devendo conter conclusões. Devem ser descritos os
mento do trabalho; caso isto não aconteça até sete dias úteis do en- procedimentos adotados para a revisão, bem como as estratégias de
vio, deve-se entrar em contato. Concomitantemente, o autor deverá busca, seleção e avaliação dos artigos, esclarecendo a delimitação e
enviar, por via postal, uma declaração de que o manuscrito está sendo limites do tema. Sua extensão máxima deve ser de 5.000 palavras e o
submetido apenas à revista Geriatria & Gerontologia e a concordân- número máximo de referências bibliográficas de 50.
Comunicações Breves. São artigos resumidos destinados à divul-
cia com a cessão de direitos autorais.
gação de resultados preliminares de pesquisa; resultados de estu-
Avaliação dos manuscritos por dos que envolvam metodologia de pequena complexidade; hipóteses
pareceristas (peer review) inéditas de relevância na área de Geriatria e Gerontologia. Devem
Os manuscritos que atenderem à política editorial e às Instruções aos ter de 800 a 1.600 palavras (excluindo tabelas, figuras e referências
autores serão encaminhados aos editores, que considerarão o mérito [máximo de dez]). Deve ter a estrutura de um artigo original.
científico da contribuição. Aprovados nesta fase, os manuscritos serão Relatos de Caso. São manuscritos relatando casos clínicos inédi-
encaminhados para pelo menos dois revisores de reconhecida compe- tos e interessantes. Devem observar a estrutura de resumo com In-
tência na temática abordada. Os manuscritos aceitos poderão retornar trodução, Relato do caso (com descrição do paciente, resultados de
aos autores para aprovação de eventuais alterações no processo de exames clí­nicos, seguimento, diagnóstico), Discussão (com dados de
semelhança na literatura) e Conclusão. Devem conter a bibliografia
editoração e normalização, de acordo com o estilo da revista. Manus-
consultada e não devem ter mais de 1.500 palavras e 15 referências.
critos não aceitos não serão devolvidos, a menos que sejam solicita-
Artigos Especiais. São manuscritos entendidos pelos editores
dos pelos respectivos autores no prazo de até três meses.
como de especial relevância e que não se enquadram em nenhuma
Os manuscritos publicados são de propriedade da revista, sendo proi-
das categorias citadas. Sua revisão admite critérios próprios, não ha-
bida tanto a reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos,
vendo limite de tamanho ou exigências prévias quanto às referências
como a tradução para outro idioma.
bibliográficas.
Pesquisas envolvendo seres humanos Cartas ao Editor. Seção destinada à publicação de comentários,
Resultados de pesquisas relacionadas a seres humanos devem ser discussão ou críticas de artigos da revista. O tamanho máximo é de
acompanhados de declaração de que todos os procedimentos tenham 1.000 palavras e até cinco referências.
sido aprovados pelo comitê de ética em pesquisa da instituição de Orientações para a preparação dos manuscritos
origem a que se vinculam os autores ou, na falta deste, por um outro Os manuscritos devem ser digitados em Word for Windows [(inclu-
comitê de ética em pesquisa credenciado junto à Comissão Nacional sive tabelas); as figuras devem ser enviadas em arquivo JPG com no
de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde. Além disso, deverá mínimo 300 dpi de resolução].
constar, no último parágrafo do item Métodos, uma clara afirmação Devem ser apresentados na sequência:
do cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Hel- a) título completo do trabalho, em português e inglês, com até 90
sinki (2000), além do atendimento a legislações específicas do país no caracteres; b) título abreviado do trabalho com até 40 caracteres (in-
qual a pesquisa foi realizada. Os indivíduos incluídos em pesquisas cluindo espaços), em português e inglês; c) nome de todos os autores
devem ter assinado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. por extenso, indicando a filiação institucional de cada um; d) dados
de um dos autores para correspondência, incluindo o nome, endereço, Referências bibliográficas
telefone(s), fax e e-mail. As referências devem ser listadas ao final do artigo, numeradas
Resumo: todos os artigos submetidos deverão ter resumo em consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas
português e em inglês (abstract), entre 150 e 250 palavras. Para a primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver (consultar:
os artigos originais e comunicações breves, os resumos de- “Uniform Require­ments for Manuscripts Submitted to Biomedical
vem ser estruturados incluindo objetivos, métodos, resultados e Journals: Writing and Editing for Medical Publication” [http://www.
conclusões. Para as demais categorias, o formato dos resumos icmje.org]). Nas referências com até seis autores, citam-se todos os
pode ser o narrativo, mas preferencialmente com as mesmas in- autores; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros autores,
formações. Não devem conter citações e abreviaturas. Destacar seguido de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados
no mínimo três e no máximo seis termos de indexação, extraí- deverão estar de acordo com o MedLine. A exatidão e a adequação
dos do vocabulário “Descritores em Ciências da Saúde” (DeCS – das referências a trabalhos que tenham sido consultados e mencio-
www.bireme.br), quando acompanharem os resumos em português, nados no texto do artigo são de responsabili­dade do autor.
e do Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/
mesh/), quando acompanharem os “Abstracts”. Se não forem encon- Livros
trados descritores disponíveis para cobrirem a temática do manuscri- Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th
to, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido. ed. New York: McGraw Hill; 2004.
Texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de
Revisão os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos Capítulos de livros
científicos: Introdução. Deve conter revisão da literatura atualizada e Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do
pertinente ao tema, adequada à apresentação do problema, e que idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de
destaque sua relevância. Não deve ser extensa, definindo o problema Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8.
estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do Artigos de periódicos
conhecimento (estado da arte) que serão abordadas no artigo. Mé- Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med.
todos. Devem conter descrição clara e sucinta dos procedimentos 1981;135 (2):482-91.
adotados; universo e amostra; fonte de dados e critérios de seleção;
Dissertações e teses
instrumentos de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Resul-
Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacien-
tados. Devem se limitar a des­crever os resultados encontrados sem
tes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São
incluir interpretações e comparações. Sempre que possível, os resul-
Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003.
tados devem ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de
forma a serem autoexplicativas e com análise estatística. Discussão. Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encon-
Deve explorar, adequada e objetivamente, os resultados, discutidos tros, seminários e outros
à luz de outras observações já registradas na literatura. É importante Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E
assinalar limitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões, as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the
indicando caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prá- 9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related
tica profissional. Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract
Agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, em pará- O1-05-05.
grafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou indivíduos
que prestaram efetiva colaboração para o trabalho. Artigos em periódicos eletrônicos
Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para cur-
Conflito de interesses so de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em
Deve incluir relações com: a) conflitos financeiros, como empregos, 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn
vínculos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade, par-
ticipação em lucros ou patentes relacionados a empresas, produtos co- Textos em formato eletrônico
merciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos pessoais: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde:
relação de parentesco próximo com proprietários e empregadores de assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado
empresas relacionadas a produtos comerciais ou tecnologias envol- em 05/Fev/2004).
vidas no manuscrito; c) potenciais conflitos: situações ou circunstân- Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available
cias que poderiam ser consideradas como capazes de influenciar a from URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em:
interpretação dos resultados. Jun 5 1996.
Instructions for authors

Background research results considering the theme relevance, its range and the
Geriatria & Gerontologia (Brazilian Geriatrics & Gerontology) – knowl­edge generated for research purposes. Original articles should
G&G is a quarterly scientific publication by Sociedade Brasileira de contain 2,000 to 4,000 words, excluding illustrations (tables, figures
Geriatria e Gerontologia (SBGG) (Brazilian Geriatrics and Gerontology [not exceed­ing 5]) and references [not exceeding 30].
Society) aim­ing the publication of articles on Geriatrics and Gerontol- Review Articles. Critical and systematic evaluation of literature on
ogy, including their several subareas and interfaces. G&G accepts a certain subject containing a comparative review of papers in that
article submissions in Portuguese, English, and Spanish. The print area, discussing methodological limitations and ranges, indicating
content is available for SBGG members, and the online content can be further study needs for that research area, and containing conclu-
accessed at: www.sbgg.org.br. sions. The proceedings adopted for the review, as well as search,
selection, and article evaluation strategies should be described, in-
Instructions for Manuscript Sending forming the limits of the theme. They should not exceed 5,000 words
Papers should be sent either by e-mail to: revistasbbg@terra.com.br; and 50 references.
sandrasantana@segmentofarma.com.br or by mail in CD or DVD to: Brief communications. These manuscripts are short articles aiming
Segmento Farma / Geriatria & Gerontologia – Rua Anseriz, 27, Campo at release of preliminary results of research; study results involving
Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. The corresponding author will re- low complexity methodology; relevant unpublished hypotheses in Ge-
ceive message acknowledging the paper receipt; should this do not
riatrics and Gerontology. They should not exceed 800 to 1,600 words
occur up to seven working days from the sending, the author should
(tables, figures and references [not exceeding 10] excluded). The
get in touch with the journal. Concurrently, the author should send
structure should follow what is requested in an original article.
by mail a declaration stat­ing that the manuscript is being submitted
Case Reports. These manuscripts report unpublished and interesting
only to Geriatria & Gerontologia and that he(she) agrees with the
clinical cases. They should follow an abstract structure with Introduc-
cession of copyright.
tion, Case Report (describing the patient, clinical examination results,
Manuscript Evaluation by Peer Review follow-up, diagnosis), Discussion (showing similar data in literature),
Manuscripts that regard the editorial policy and the instructions for and Conclusion. They should contain the bibliography consulted and
authors will be referred to editors who will evaluate the their scien- should not exceed 1,500 words and 15 references.
tific merit. Manuscripts will be submitted to at least two reviewers Letters to the Editor. Section designed for publication of comments,
with expertise in the addressed theme. Accepted manuscripts might discussion or any article reviews. They should not exceed 1,000 words
return for authors’ approval of in case of changes made for editorial and 5 references.
and standardization purposes, according to the journal style. Manu-
Instructions for Manuscript Preparation
scripts not accepted will not be returned, unless they are requested
Manuscripts should be typed in Word for Windows [(including tables);
by the respective authors within three months.
fig­ures should be supplied as JPG file and a minimum of 300 dpi
Published manuscripts are journal ownership, so either reproduction,
resolution].
even partial, in other journals or translation into another language is
Manuscripts should be prepared according to the sequence below:
unauthorized.
a) paper full title in Portuguese and English not exceeding 90 characters;
Research Involving Human Subjects b) paper short title not exceeding 40 characters (spaces included) in Por-
Articles related to research involving human subjects should indicate tuguese and English; c) authors’ and coauthors’ complete name, indicat-
whether the procedures followed were in accordance with the ethical ing institutional affiliations for each one of them; d) corresponding author
standards of the responsible committee on human experimentation data, including name, address, telephone and fax numbers, and e-mail.
(in­stitutional or regional) accredited by the Comissão Nacional de Abstract: all manuscripts should be submitted with an abstract in
Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde (Health Ministry National Portuguese and in English having no more than 150 to 250 words.
Research Ethics Committee). In addition, a clear statement of compli- For original articles and brief communications, abstracts should
ance with ethical principles outlined in Helsinki Declaration (2000) be structured to include objective, methods, results, and conclusions.
shall appear in the last paragraph of Methods section, as well as For other man­uscript categories, abstract models could be narrative,
fulfillment of specific law requirements of the nation the research but rather carrying the same information. Abstracts should not contain
was performed in. The subjects included in the research should have quotations and abbreviations. At least three and at most six key words
signed a Free and Informed Consent Term. should accompany the Abstracts, being extracted from the vocabulary
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS – www.bireme.br) when ac-
Categories of Manuscripts companying abstracts in Portuguese and from Medical Subject Head-
G&G accepts the following submissions:
ings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/) when accompanying
Original Articles. Contributions aiming at release of unpublished
abstracts in English. If no descriptor is available to cover the manu-
script theme, words or expressions of known use might be indicated. Examples of reference style:
Text: except for Review Articles, papers should assume formal structure
of a scientific text: Introduction. The introduction should contain updated Books
literature review, being appropriate to the theme, suitable to the prob- Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th
lem introduced, and enhancing the theme relevance. The introduction ed. New York: McGraw Hill; 2004.
should not be extensive, but define the problem studied, synthesizing its
importance and stressing the knowledge gaps addressed in the article. Book chapters
Methods. This section should have clear and brief description of proceed- Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do
ings adopted; sampling; data source and selection criteria; measurement idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de
instruments; statistical analysis, among other features. Results. This sec- Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8.
tion should be limited to describing the results found without including
interpretation and comparison. Whenever possible, results should be Journal articles
displayed in tables or figures designed to be self-explanatory and hav- Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med.
ing statistical analysis. Discussion. The discussion should properly and 1981;135 (2):482-91.
objectively explore the results, discussed in the light of further observa-
tion already registered in literature. It is important to point out the study Essays and Theses
limitations. The discussion should culminate by conclusions indicating Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes
avenues for new research or implications for professional practice. idosos portadores de doença de Chagas [dissertação]. São Paulo:
Acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no Universidade Federal da SBGG; 2003.
more than 3-line paragraph towards institutes or individuals that ef-
fectively contributed to the paper. Papers introduced in congresses, symposiums, meetings,
seminars etc.
Conflict of Interest Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E
Conflict of interest includes: a) financial conflict, such as employment, as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the
professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit or patent
9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related
shar­ing related to marketed products or technology involved in the manu­
Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract
script; b) personal conflict: close relatedness to owners and employers
O1-05-05.
in companies connected to marketed products or technology involved
in the manuscript; c) potential conflict: situations or circumstances that
Articles from electronic journals
could be considered capable of influencing the result interpretation.
Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para
References curso de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado
Should be listed at the end of the manuscript and numbered in the order em 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn
they are first mentioned in the text, following Vancouver style (v. Uni-
form Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedic­al Journals. Texts in electronic format
Writing and Editing for Medical Publication [http://www.icmje.org]). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde:
List all authors up to 6; if more than six, list the first 6 followed by et al. assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado
The titles of journals should be abbreviated according to style used in em 05/Fev/2004).
MedLine. Authors are responsible for the accuracy and completeness Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from
of references consulted and cited in the text. URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: Jun 5 1996.

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