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VITÓRIA - ES
2019
MIRELLE SIMÕES DE AGUIAR
VITÓRIA - ES
2019
MIRELLE SIMÕES DE AGUIAR
BANCA EXAMINADORA
Em primeiro lugar, à Deus, por iluminar o meu caminho e ter me dado forças
para não desanimar.
À minha grande amiga, Juliana, cujo apoio foi de vital importância para a
conclusão do Mestrado e deste trabalho.
À minha grande amiga, Bethânia, cuja amizade retoma à nossa infância, nas
salas de aula em Minas Gerais, e perdura até hoje, nas salas de aula do
Mestrado.
(Continuação)
Em termos teóricos a pesquisa foi amparada nas Teorias sobre Minorias,
Responsabilidade Social e Tecnologias Sociais como elementos de inclusão. Quanto aos
métodos e procedimentos, foi utilizada a abordagem qualitativa, diagnóstica, configurando-
se a pesquisa como descritiva. A coleta de dados foi realizada por meio da observação in
loco nas tribos e no local de venda dos produtos. Também foram realizadas entrevistas com
índios de ambas as tribos (18) e com representantes municipais e governamentais (4),
totalizando 22 participantes. O conteúdo observacional, anotado em caderneta de campo,
formou um texto descritivo. As entrevistas, gravadas e transcritas, passaram pela análise de
conteúdo. Os resultados mostraram que poucos índios ainda mantêm parte de seu
conhecimento sobre o uso de ervas medicinais e que medicamentos produzidos em
laboratórios já foram introduzidos em seus hábitos. Por outro lado, seus produtos para venda
estão limitados a poucos tipos de vegetais e a produtos artesanais para turistas, que já não
são atrativos. A partir dos resultados, como produto tecnológico, foram elaborados dois
projetos, sendo um com sugestões para o cultivo de ervas medicinais e orientações para seu
uso, incluindo atividades de assistência social e psicológico por meio de projetos de
extensão da universidade. O segundo projeto foi uma proposta de construção coletiva de
novos produtos que fugissem à produção de arcos, flechas e adornos, para incluir a cestaria
e a produção de artefatos em argila, com cozimento em forno. (489 palavras)
ABSTRACT
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS..........................................................................18
1.1 TEMPORALIDADES.....................................................................................18
1.2 INTRODUÇÃO..............................................................................................19
1.3 O CONTEXTO E O PROBLEMA..................................................................21
1.4 OBJETIVOS..................................................................................................23
1.5 DELIMITAÇÃO.............................................................................................24
1.6 JUSTIFICATIVA............................................................................................24
2 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS..................................................................26
2.1 ABORDAGEM E TIPOS DE PESQUISA.....................................................26
2.2 FONTES DE DADOS...................................................................................28
2.3 PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS...........28
2.4 FORMAS DE TRATADO DOS DADOS.......................................................28
3 DISCUSSÕES PRELIMINARES.....................................................................30
3.1 O DARK SIDE DAS ORGANIZAÇÕES RURAIS.........................................30
3.1.2.1 Acesso e implantação da violência........................................................38
3.1.2.2 Gestão da dívida.....................................................................................39
3.1.2.3 Opacidade contábil.................................................................................40
3.1.2.4 Gerenciamento da cadeia de suprimentos de mão-de-obra..................40
3.1.3 Sustentação e formação de capacitações............................................41
3.1.3.1 Legitimação Moral..................................................................................41
3.1.3.2 Manutenção de domínio.........................................................................42
3.2 A CONSTRUÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL DO DIREITO DO TRABALHO
NO BRASIL E O TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO.......................43
3.3 ASPECTOS ESTRUTURAIS E CONJECTURAIS DA ESCRAVIDÃO
CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA....................................................................48
3.3.1 Atores sociais envolvidos no trabalho escravo rural contemporâneo
............................................................................................................................49
3.3.2 Categorização do trabalho escravo rural contemporâneo.................50
3.4 TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO COMO UM PROBLEMA DE
SAÚDE PÚBLICA...............................................................................................53
3.5 EFEITOS DA ESCRAVIDÃO NA SAÚDE DO TRABALHADOR.................57
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS........................................................59
4.1 ALICIAMENTO E TRANSPORTE................................................................63
4.2 REGISTRO E CTPS.....................................................................................65
4.3 SALÁRIO......................................................................................................68
4.4 JORNADA DE TRABALHO..........................................................................71
4.5 INSTALAÇÕES SANITÁRIAS......................................................................74
4.6 ÁGUA POTÁVEL E FRESCA.......................................................................75
4.7 SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO...................................................77
4.8 ALOJAMENTOS E ÁREAS DE VIVÊNCIA..................................................80
4.9 TRABALHO FORÇADO E RESTRIÇÃO DE LOCOMOÇÃO.......................85
4.10 ASSÉDIO MORAL......................................................................................87
4.11 CASOS EXCEPCIONAIS...........................................................................89
4.11.1 Crianças e adolescentes.......................................................................89
4.11.2 Idosos.....................................................................................................90
4.11.3 Trabalhadoras mulheres.......................................................................91
4.11.4 Estrangeiros...........................................................................................93
4.11.5 Religião...................................................................................................94
4.12 DEMAIS ENTES ESTATAIS QUE ATUAM NO COMBATE ÀS
CONDIÇÕES DE TRABALHO ANÁLOGAS À DE ESCRAVO..........................98
5. CONCLUSÃO...............................................................................................101
REFERÊNCIAS................................................................................................104
REFAZER O SUMÁRIO
19
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1.1 TEMPORALIDADES
1
Evolução das denominações oficiais do Ministério do Trabalho: Ministério do Trabalho, Indústria e
Comércio, em 26 de novembro de 1930; Ministério do Trabalho e Previdência Social, em 22 de
julho de 1960; Ministério do Trabalho, em 1 de maio de 1974; Ministério do Trabalho e da Previdência
Social, em 11 de janeiro de 1990; Ministério do Trabalho e da Administração Federal, em 13 de
maio de 1992; Ministério do Trabalho e Emprego, em 1 de janeiro de 1999; Ministério do Trabalho e
Previdência Social, em 2 de outubro de 2015; Ministério do Trabalho, em 12 de maio de 2016.
20
1.2 INTRODUÇÃO
2
A expressão Dark Side tem sua origem no primeiro episódio da saga Star Wars idealizada por George
Lucas, cujo significado literal é – o lado negro ou lado sombrio -, que vem sendo utilizado como metáfora
para representar os aspectos negativos e até perversos que ocorrem nas organizações, não só em relação
ao mercado e à legislação como também nas relações interpessoais e trabalhistas.
25
-------
28
1.4 OBJETIVOS
1.5 DELIMITAÇÃO
1.6 JUSTIFICATIVA
2 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS
1. Aliciamento e Transporte;
2. Registro e CTPS;
3. Salário;
4. Jornada de Trabalho;
5. Instalações Sanitárias;
6. Água Potável e Fresca;
7. Saúde e Segurança no Trabalho;
8. Alojamentos e Áreas de Vivência;
9. Trabalho Forçado e Restrição de Locomoção;
10. Assédio Moral.
Este capítulo apresenta uma revisão da literatura acerca do Dark Side das
organizações, da Teoria da Escravidão Moderna proposta por Crane (2013), da
“escravidão contemporânea” como prática de gestão no setor rural brasileiro, da
proteção jurídica aos direitos dos trabalhadores e, por conseguinte, a inserção desta
temática dentro das políticas públicas do Estado.
Esse mundo, ainda que imaginário, ainda permeia o adulto no decorrer de sua
vida. A diferença é que eles são repaginados, encarnando os assaltos, assassinatos,
os acidentes trágicos, tsunamis, vulcões em erupção, doenças, dentre outros,
incluindo a morte.
Essas referências vieram também do próprio ambiente de trabalho, podendo
ser lembradas as minas de carvão, os ambientes insalubres, os acidentes no setor
de produção, as atividades perigosas que colocavam o homem em risco. Na
atualidade, além desse tipo de risco no espaço laboral, o trabalhador está sujeito a
outros tipos de medo, como a assimetria de poder, sentindo-se dentro de uma
engrenagem denominada por Ferraz (2017, p. 37) ao analisar o conto de Kafka,
como “A construção de medo-segurança-risco”. Neste caso, esses conceitos são
tomados por empréstimo, ainda que tenham sido utilizados para a compreensão de
uma obra literária.
Segundo a autora, “A engrenagem medo-segurança-risco se atualiza no conto
em uma espiral sufocante, gerando um discurso que poderíamos caracterizar como
paranoide” (FERRAZ, 2017, p. 37).
Essa espiral encontra-se também no ambiente organizacional e as relações
de trabalho que hoje assemelham-se a um campo minado por novos medos e
sobressaltos, gerando sofrimento físico e mental, levando as pessoas a estados de
ansiedade, estresse, depressão e desestímulo em relação à vida.
O agravante é que ter conhecimento sobre esse conjunto de fatores não
elimina suas consequências, pois o ciclo da espiral não é rompido, não se vê,
portanto, uma saída.
Por conseguinte, nesse ambiente,
Introduz-se, desde o início, um amálgama de afetos inextricáveis, em que
estão presentes: desamparo, inquietação, desejo de segurança,
39
Com relação ao tema, até o final de década de 1990, eram estudados como
elementos da organização, sem uma denominação específica e de forma mais
abrangente. Aliás, os primeiros estudos sobre o Dark Side, nem receberam essa
nomenclatura (VAUGHAN, 1999, p. 72), cujo conteúdo foi melhor caracterizado a
partir do final dos anos 1990.
Para Linstead, Maréchal e Griffin (2014, p. 165)
Nas últimas duas décadas, houve um reconhecimento crescente de que o
lado sombrio não é o lado de fora, ou seja, um fenômeno externo que afeta
a ação organizacional, mas sim um interior sombrio que pode ser
encontrado dentro dos limites e práticas organizacionais. (Tradução livre).
Sentimentos Vivência
Sofriam com a distância física de seus familiares e com a
Solidão e desamparo
impossibilidade de comunicação (p. 55)
Insegurança e fragilidade Distanciamento de suas raízes (díade, filhos, família) (p. 55)
43
A partir dessas considerações, pode-se dizer que evolução das relações laborais, ao
longo da história, culminou na necessidade de reformulação do modo como as
organizações realizam a gestão das pessoas que dispõem suas habilidades e
competências a seu serviço. No entanto, apesar da vasta literatura na área de
gestão dos recursos humanos, ainda são escassas as abordagens teóricas que
tratam dos comportamentos abusivos cometidos pelas pessoas organizações em
face aos seus trabalhadores, em especial, naquelas situadas no meio rural. Dessa
44
Outros países que têm um número significante de escravos em sua população são:
Rússia, Nigéria, República Democrática do Congo, Indonésia, Egito, Myanmar, Iran,
Turquia e Sudão. (WORLD POPULATION REVIEW, 2019).
47
A Figura 14, configura-se como uma espécie de mapa mental elaborado para
sua melhor compreensão.
4
Em função da quantidade de informações necessárias para a elaboração da figura, foi preciso
utilizar um tamanho de letra pequeno. Dessa forma, a mesma figura encontra-se no Anexo …….
49
Problemas de
Aumenta a interdependência e
compartilha risco
Categorias de Variável
Contexto Descrição Proposições geradas
analise moderadora
naturaliza relações de
trabalho coercitivas
sociais. incentivara a adoção do
trabalho escravo pelos
empreendimentos.
Proposição 5. A
existência e eficiência
Proposição
Governo e iniciativa do contexto regulatório
5a.Esse efeito
privada demonstram impõe sanções a
pode ser
Contexto fraca governança e exploração de mão de
moderado pelo
regulatório pouca atenção em obra em condições
desenvolvimento
relação as questões da análogas à escravidão;
de regulação
escravidão. incentivarão a adoção
privada e pública.
do trabalho escravo
pelos empreendimentos.
Rotinas de trabalho
com emprego de
violência física e
psicológica. Escravidão
por dívida. Distorções Proposição 6. A
na contabilidade. capacidade e habilidade
Capacidade e Cadeia de suprimentos para exploração e
habilidade para compreende diferentes isolamento mediam a
exploração e estágios em relação entre as
isolamento multiníveis, alguns fora condições externas e a
do mercado formal. adoção de práticas de
Construção de rede de escravidão.
intermediários que atua
na clandestinidade de
maneira coordenada,
cooperada e confiável.
Legitimação moral:
Microcontexto aceitação mínima do
de habilidades campo institucional em
de gestão para torno da organização,
a escravidão incluindo empregados
não escravos,
trabalhadores
escravizados, clientes Proposição 7. A
e comunidade local, capacidade para
por meio de sustentar e compartilhar
Capacidade comunicação a cultura organizacional
para sustentar e persuasiva que para a escravidão media
compartilhar legitime, socialize essa a relação entre as
cultura organizacional condições externas e a
Manutenção do adoção de práticas de
domínio: operadores escravidão.
da escravidão
empregam métodos
ilegais para legitimar
suas atividades e
dividir os riscos com
atores fora do
mercado.
Fonte: Mascarenhas, Dias e Baptista (2015, p. 178)
52
A partir deste ponto será apresentada a proposta de Crane (2013) em seus aspectos
operacionais, juntamente com outros autores que trataram do assunto.
Por fim, Crane (2013, p. 57, tradução livre) apresenta o contexto regulatório,
como a última condição que influencia o desenvolvimento e permanência da
escravidão nos dias atuais. Este é composto por elementos institucionais formais,
como leis e acordos internacionais sobre os direitos humanos e escravidão. Assim, a
força da governança desempenha papel fundamental, na medida em aplica sanções
coercivas eficazes para o controle da escravidão contemporânea.
Infelizmente, isso tem sido reforçado pela falta de capacidade dos governos
estaduais para o combate ao trabalho escravo. De acordo com Ângelo (2017, §2º) o
então Ministério Público do Trabalho encontrava-se sem recursos para seu pleno
funcionamento no combate à escravidão. Isso pode ser visto na queda do número
de equipes do Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM). No ano 2000 o
56
Nesse sentido Crane (2013, tradução livre) destaca que, a estratégia para
explorar as condições favoráveis à escravidão seja a capacidade de acessar e, pelo
menos potencialmente, implantar a violência física ou psicológica.
Pode-se dizer então que, por trás desses procedimentos, há uma assimetria
de poder e de informação que coloca o trabalho em dupla desvantagem.
Assim, relações de trabalho precárias com pessoas socialmente vulneráveis
torna-se um elemento favorável ao abuso por parte daqueles que detêm o poder
(MIRAGLIA, 2015, p. 328).
Isso porque o lucro exacerbado consiste na força motriz que leva à adoção do
trabalho escravo (COUTINHO; PAULETTI; TOALDO, 2018, p. 321).
Nos dias de hoje, o Estado brasileiro também vem tentando impedir, por meio de fiscalização,
punição, tratados, ações administrativas dentre outros, que um in- divíduo explore o outro e,
consequentemente, cause um mal a toda a coletividade.
Como medida de combate, temos, ainda, a atuação do Ministério Público, como órgão legítimo, com a
impetração de medidas coatoras, como a Ação Civil Pública. – p. 12
MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. Trabalho Escravo Contemporâneo: conceituação à luz do princípio da
dignidade da pessoa humana. 2. ed. São Paulo: LTr, 2015.
Assim, a identidade do escravo contemporâneo, nas palavras de Figueira 14 “não era a cor ou raça, como
no século XIX, mas a pobreza, a exclusão social a partir do econômico”.
Com tanta mão-de-obra à disposição, não há lógica de se utilizar da desculpa da falta dela na região
sudeste do Brasil.
Colocar o TCC
as suas formas, no mais curto prazo possível. Assim, esta convenção estabeleceu a
expressão “trabalho forçado ou obrigatório” para designar “[...] todo trabalho ou
serviço exigido de um indivíduo sob ameaça de qualquer penalidade e para o qual
ele não se ofereceu de espontânea vontade”.
Além disso, a Convenção nº 105 da OIT, aprovada em Genebra em 1957 e
ratificada no território nacional pelo Decreto nº 58.563, de 1º de junho de 1966,
intensifica o compromisso dos países signatários em suprimir o trabalho forçado ou
obrigatório, não devendo recorrer ao mesmo sob forma alguma.
Destaca-se ainda a Convenção das Nações Unidas sobre Escravatura de
1926, emendada pelo Protocolo de 1953, que entrou para o ordenamento jurídico
brasileiro 40 anos após a sua publicação, por meio do Decreto nº 58.563, de 1º de
junho de 1966. Adicionalmente, a Convenção Suplementar sobre a Abolição da
Escravatura de 1956, ratificadas pelo Brasil em 1966, demonstra o compromisso de
seus signatários de abolir completamente a escravidão em todas as suas formas.
Por fim, ressalta-se a Convenção Americana sobre Direitos Humanos,
também conhecida como Pacto de San Jose da Costa Rica, que ingressou na esfera
nacional com o Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992, por meio da qual os
signatários firmaram um compromisso de repressão à servidão e à escravidão em
todas as suas formas.
Não obstante todo o arcabouço normativo internacional de combater ao
trabalho escravo contemporâneo, a legislação pátria também buscou assegurar
direitos mínimos aos trabalhadores.
No cenário nacional, o Código Penal de 1940, Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940, já criminalizava a redução de alguém à condição análoga à de
escravo, prevendo como pena a reclusão de 2 a 8 anos. Como de atender às
demandas do Ministério da Justiça, Ministério Público Federal, Ministério Público do
Trabalho, Associação dos Juízes Federais, do então Ministério do Trabalho e
Emprego e de representantes da OIT, este dispositivo é atualizado em 2003,
ampliando do entendimento do que é o trabalho análogo ao de escravo (GOMES;
GUIMARÃES NETO, 2018).
A Constituição Federal de 1988 também buscou positivar a proteção jurídica
aos direitos dos trabalhadores, os quais são assegurados ao longo de boa parte do
texto constitucional. Assim, esta elenca, em seu artigo 1º, como fundamentos do
68
negros não eram mais do que 15% da população, ao passo que os mestiços tinham
passodo de 21%, em 1830, para 41% em 1890 [...]” (DORIGNY, GAINOT; 2017, p.
53), influenciado por “[...] uma forte imigração europeia [...]” (DORIGNY, GAINOT;
2017, p. 53) que modificou a demografia brasileira.
Assim, Palo Neto (2008, p. 42) destaca que “[...] a condição de imigrante é
uma característica comum identificada no trabalho escravo [...]”, podendo ser
observada “[...] tanto na situação de trabalhadores nacionais como estrangeiros [...]”
(PALO NETO, 2008, p. 42). Este status é sustentado pelas condições de pobreza e
ausência de oportunidades no local de origem, bem como, pelas promessas
enganosas dos aliciadores.
Palo Neto (2008, p. 46) salienta que “[...] normalmente, o custo da viagem sai
por conta do próprio trabalhador [...]”, sendo que aqueles que não dispõem de
dinheiro, acabam pedindo emprestado para familiares ou amigos ou, então, recebem
um adiantamento do gato, o que poderá iniciar um processo de escravidão por
dívida.
Deste modo, como “[...] esses trabalhadores que já receberam o
adiantamento da passagem ou algum abono já saem com uma dívida [...]”, com o
prosseguimento da relação labora, essa só vai aumentando uma vez que o
74
6
O câncer de pleura decorre da exposição ao amianto, uma fibra mineral utilizada em vários produtos
comerciais, cuja inalação prolongada pode provocar doenças graves.
7
O burnout é um distúrbio psíquico de caráter depressivo, decorrente do esgotamento físico e mental
associado a uma vida profissional intensa.
79
na diminuição da vida laboral desta parcela populacional, uma vez que a maioria é
acometida por doenças físicas e emocionais (ROCHA, 2012).
Nos dias de hoje, o Estado brasileiro também vem tentando impedir, por meio de fiscalização,
punição, tratados, ações administrativas dentre outros, que um in- divíduo explore o outro e,
consequentemente, cause um mal a toda a coletividade.
Como medida de combate, temos, ainda, a atuação do Ministério Público, como órgão legítimo, com a
impetração de medidas coatoras, como a Ação Civil Pública. – p. 12
Assim, a identidade do escravo contemporâneo, nas palavras de Figueira 14 “não era a cor ou raça, como
no século XIX, mas a pobreza, a exclusão social a partir do econômico”.
Com tanta mão-de-obra à disposição, não há lógica de se utilizar da desculpa da falta dela na região
sudeste do Brasil.
Colocar o TCC
80
Ceará 5
Espírito Santo 4
Goiás 12
Maranhão 1
Mato Grosso 4
Minas Gerais 23
Pará 11
Paraíba 2
Paraná 2
Piauí 4
Rio de Janeiro 1
Rio Grande do Norte 5
Roraima 5
São Paulo 12
Tocantins 1
Total 105
Fonte: Elaboração própria (2019).
Seu objetivo foi explicar “como essas organizações conseguem (1) explorar
condições competitivas e institucionais específicas que podem dar origem à
escravidão, (2) isolar-se das pressões institucionais contra a escravidão e (3)
sustentar ou moldar as condições que permitem a escravidão florescer ou
impedir que floresça” (CRANE, 2013 – tradução livre).
Convém destacar, que legislação brasileira tipifica, no art. 149 do Código
Penal, a escravidão moderna como o ato de reduzir alguém a condição
análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados, jornada
exaustiva, condições degradantes de trabalho ou, ainda, restringindo, por
qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida.
Apesar do conceito aberto, em especial quando se analisa a expressão
“condições degradantes”, a jurisprudência nacional é clara ao entender que não
é qualquer descumprimento de legislação trabalhista que possui o condão de
caracterizar a redução às condições análogas ao escravo, conforme observado
no julgado da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal – STF, de outubro de
2017.
4.3 SALÁRIO
Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento
particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do
devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento,
com a assinatura do credor, ou do seu representante.
4.11.2 Idosos
4.11.4 Estrangeiros
atos praticados como tráfico de pessoas para fins econômicos, uma vez que
restou claro o aproveitamento da situação de vulnerabilidade dos mesmos.
Agrava-se o fato o baixo salário ajustado, R$ 400,00 (quatrocentos reais)
mensais, valor referente a uma jornada de cerca de 10 (dez) horas diárias, de
segunda a segunda, sem descanso semanal, bem como o isolamento
geográfico, tornando involuntário um trabalho aparentemente voluntário.
Convém destacar que, os imigrantes venezuelanos enxergam no Brasil
uma oportunidade para sobrevivem e recomeçarem suas vidas. O Direito
Internacional reconhece a imigração e o refúgio como importantes questões de
Direitos Humanos, uma vez que os imigrantes e os refugiados estão, devido a
sua condição, mais vulneráveis à discriminação e à opressão (LOPES, 2017).
Assim, “[...] os migrantes e refugiados carregam o estigma da condição
de estrangeiro e, por isso, são os primeiros a serem perseguidos quando as
condições sociais e econômicas produzem percepção de escassez [...]”
(LOPES, 2017, p. 228), especialmente quando se observa o mercado de
trabalho no setor rural brasileiro.
4.11.5 Religião
"QUE vendeu uma moto velha antes de ir para Minas; QUE na época
vendeu por aproximadamente R$2.000,00; QUE não se lembra se o
valor destinado como ‘investimento’ foi o total da venda da moto; QUE
o valor era para a produção de milho, feijão (...)".
que 151 (cento e cinquenta e um) deles já haviam sido caracterizados nesta
condição em ação fiscal empreendida em 2013.
Ademais, constatou-se que a autuada não possuía oficialmente nenhum
empregado formalmente registrado, exercendo as funções de organização e
controle do conjunto dos empreendimentos por meio de fictícios contratos de
prestação de serviços e ainda pelo comando direto sobre os empreendimentos
comerciais que são comandados ou por pessoas subordinadas a autuada ou
que simplesmente figuram como "laranjas".
Como já se apontou anteriormente, o alojamento das vítimas em casas
comunitárias consistia em uma importante estratégia aliciamento. Deste modo,
o auto de infração destaca que “[...] desde a entrada na primeira casa
comunitária fica evidente que os trabalhadores já devem iniciar atividades
laborais para sustentar suas despesas, a manutenção da casa comunitária,
bem como da ‘comunidade’ da qual passam a pertencer [..]”.
A equipe de fiscalização que atuou em São Paulo, ao inspecionar um
dos alojamentos no Bairro da Lapa, e que à época abrigava o maior número de
vítimas daquela cidade, observou que alguns dos trabalhadores lá alojados já
estavam exercendo funções laborais. Do mesmo modo, nas demais casas
comunitárias espelhadas por cidades de Minas Gerais e Bahia, foi possível
identificar um número significativo de trabalhadores que estavam atuando
como autônomos, vendendo em logradouros públicos os produtos dos
empreendimentos do grupo econômico.
Importante ressaltar que ninguém se mantém alojado e se alimentando
se não contribuir com recursos econômicos ou com a força de seu trabalho.
Trabalhadores residentes, trabalhadores autônomos e trabalhadores que
prestam serviços nos empreendimentos do grupo necessariamente contribuem
para o pagamento mensal das despesas das casas comunitárias em valores de
aproximadamente de R$ 400,00 (quatrocentos reais).
Deste modo, observou-se q submissão de 565 trabalhadores à condição
análoga à de escravo, por meio da exposição à condições degradantes de
trabalho. Evidenciou-se que a autuada, por si e pelas empresas do grupo
econômico que dirige, suprimiu direitos laborais garantidos pela Constituição
Federal da República, seja em sua totalidade ou parcialmente, impondo
condições aviltantes e degradantes às vítimas.
119
5. CONCLUSÃO
- O que você acha que poderia ser feito além do trabalho que você fez.
Sugestões para pesquisas futuras.
Produto técnico.
125
REFERÊNCIAS
Miguel de Souza Rezende. Relator (a): Min. Marco Aurélio. Julgamento em: 02
out. 2007. Publicado em: 01 fev. 2008. Disponivel ... Onde foi publicado?????
BRASIL. Supremo Tribunal Federal – STF (Tribunal Pleno). Inquérito- Inq 3412
/ AL – Alagoas. Autor: Ministério Público Federal. Investigado: João José
Pereira de Lyra e Antônio José Pereira de Lyra. Relator (a): Min. Marco
Aurélio. Julgamento em: 29 mar. 2012. Publicado em: 12 nov. 2012. Onde foi
publicado????? Se não tiver um veículo de publicação, tem que colocar o site.
LAGO, Luiz Aranha Corrêa do. Da escravidão ao trabalho livre: Brasil, 1550-
1900. Editora Companhia das Letras, 2014.
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FURNHAM, Adrian; HYDE, Gillian; TRICKEY, Geoff. Do your dark side traits
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136
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de investigar uma. 2017. Disponível em: <http://amazonia.inesc.org.br/de-cada-10-
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trabalho-escravo-mpt-so-tem-condicoes-de-investigar-uma/>. Acesso em 25 de
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ANEXO A