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RESUMO
INTRODUÇÃO
Muitos foram os efeitos nefastos gerados pela escravidão, pelo colonialismo e pela
propagação de teorias racialistas no Brasil, onde o significado social atribuído às diferenças
de cor de pele, por exemplo, correspondeu a uma hierarquização dos sujeitos. Se fazia
necessário refletir sobre esse problema social e a busca de sua superação em termos de
políticas de reconhecimento da diferença e promoção da igualdade material – bandeira esta
defendida e reivindicada pelo movimento negro durante o século XX.
Entretanto, ainda que leis tenham sido promulgadas e políticas públicas estejam
sendo implementadas neste início do século XXI, observa-se que o preconceito e o racismo
constituem uma tônica ainda presente nas relações sociais, dadas as condições histórico-
sociais que até hoje reverberam em nossa sociedade. Nesse contexto, se verifica ainda uma
subordinação cada vez maior da ciência técnica às forças produtivas e às relações de
produção, gerando processos formativos e educacionais aligeirados, de repressão do
diferenciado em prol da uniformização da sociedade administrada, travando o indivíduo à
experiência, o que é denominado por Adorno (2010) como “semiformação”, uma vez que não
possibilita que esse processo seja reflexivo, dialético, esclarecedor e emancipatório.
Para Adorno (2010), somente a experiência, a partir de um processo de abertura e
contato com o objeto, valorizando tanto o processo quanto seus resultados a partir de um
aprendizado que rompa as limitações auto estabelecidas, é capaz de possibilitar o
esclarecimento como consciência de si e consequente emancipação em relação à situação
vigente. Nesse sentido, Crochík (2011) afirma que a discussão sobre preconceito, tema deste
trabalho, requer de cada um de nós, inclusive docentes, uma autorreflexão sobre os nossos
sentimentos, pensamentos e atos cotidianos. Defendendo a tese de que não somos imunes ao
preconceito, o autor considera que somente nos é possível obter uma compreensão deste tema
quando, nesse processo de autorreflexão, formos capazes de reconhecer em nós mesmos a
violência que criticamos no outro.
Partindo dessa concepção, visualiza-se a importância da formação docente voltada
para uma educação que possibilite – por meio da experiência e da autorreflexão contínua – a
resistência dos indivíduos ao preconceito e à discriminação, como propõe a teoria crítica da
sociedade, considerando os efeitos que a dinâmica social capitalista exerce sobre a cultura.
OBJETIVO
PROBLEMA
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para este professor, a questão central era a baixa estima do negro, considerada em si
mesma, como sendo causa e consequência das desigualdades apontadas pelos institutos de
pesquisa. Mesmo após uma interlocução com os membros do NEAB/UFMA, este continuou
sendo um aspecto central para ele. Em outro momento, ao ouvir o discurso dos membros do
NEAB/UFMA acerca do grau de desigualdade sócio-racial presente no Maranhão, o professor
também realizou o seguinte comentário: “mas aí isso se dá por uma questão de inferioridade
intelectual?!”. Dessa forma, em sua concepção, estabelecer reserva de vagas para negros
numa universidade pública seria o mesmo que estabelecer privilégios para um grupo de
pessoas que não têm acesso à universidade por serem menos capazes.
Relacionando-se as categorias trabalhadas na pesquisa com as contribuições da teoria
crítica, podemos dizer que o racismo – apoiado em teorias raciais que se mantêm sob a forma
de preconceitos e de estereótipos que o constituem, como atribuição de inferioridade psíquica,
biológica e intelectual do negro em relação ao branco – expressa uma forma de alienação da
realidade social decorrente de uma base objetiva: a exploração do trabalho escravo durante a
acumulação primitiva do capital, que impôs limites ao desenvolvimento dos indivíduos negros
enquanto integrantes do gênero humano e que gerou a separação entre grupos humanos não só
em classes, mas também em raças. Entretanto, isso tem sido tratado de forma a-histórica,
desconsiderando que diferenças entre brancos e negros, além de históricas, foram cultural e
politicamente construídas.
Observando as atuais condições em que o negro, dentro de um novo contexto
civilizatório, começou a ocupar determinados espaços antes demarcados a aqueles que se
enquadravam nos padrões culturais, verifica-se uma disputa por espaços de poder, nos quais
os indivíduos que se sentem em situação de ameaça diante da necessidade de sobrevivência
em meio à dinâmica do capitalismo tardio, manifestam o preconceito enquanto mecanismo
psíquico, que surge como resposta aos conflitos presentes nessa luta.
Nesse sentido, mencionamos uma terceira situação observada na pesquisa e que se
referiu a uma professora integrante do conselho do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas
(CCET/UFMA). Imbuída da compreensão de que no Brasil não existem raças puras e de que
haveria, portanto, uma só raça – a brasileira –, a professora chegou a realizar a seguinte
afirmação para o coordenador do NEAB/UFMA na época: “Mas Carlão, nós nunca tínhamos
notado que você era negro!”.
Relativizando a cor do professor, em razão da profissão exercida pelo mesmo e pela
sua notoriedade no ambiente universitário, a professora acabou por assim manifestar a
percepção de que lidar com o diferente significa conflito, o que corresponde à manifestação
do preconceito na medida em que olha com estranheza tudo aquilo que não é espelho, ou seja,
tudo aquilo que é diferente e que, portanto, lhe causa medo e aversão.
Na visão da professora, melhor seria integrar o colega professor, mas a partir de uma
assimilação cultural que prefere vê-lo a partir da ideologia branca dominante. Ou seja, é
preferível que ele não seja visto a partir de sua especificidade, das diferenças que o
constituem, pois isto significaria conflitos e, principalmente, disputa de poder e de espaço
com quem não está entre seus pares, com quem lhe é estranho. Assim, reconhecendo que
admitir a diferença é lidar com disputa de poder, a professora teceu ainda o seguinte
comentário: “Eu quero olhar para as pessoas com os mesmos olhos que eu olho hoje e não
como negros e brancos que brigam por espaços de poder”.
Esse raciocínio demonstra o anseio em se manter o poder sobre mais fraco, como
meio de garantir espaço em uma sociedade que gira em torno de poder. Entretanto, conforme
menção feita anteriormente a Crochík (2011), trata-se de uma busca fadada ao fracasso, visto
que não elimina o mal-estar gerado ao indivíduo cada vez mais fragilizado pela pressão
exercida pelo processo civilizatório.
Os posicionamentos observados nas duas últimas situações demonstram como os
indivíduos se mostram suscetíveis à manifestação do preconceito, o que advém desde seus
processos formativos mais tenros, como a primeira infância, nos quais a cultura acaba por
exercer significativa predominância, impedindo-os de, por meio da experiência, se abrirem ao
conhecimento e interação com o que consideram estranho, diferente, e ao mesmo tempo
familiar, passando a refletirem sobre o objeto e sobre si, e assim conquistando um pensamento
autônomo e esclarecido a partir da elaboração de conhecimentos acumulados anteriormente e
que foram resultados dos processos anteriores. A teoria crítica evidencia o papel decisivo que
a educação pode desempenhar nesse processo, constituindo assim um importante instrumento
para que o indivíduo se torne mais resistente ao preconceito.
CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
DEUS, Zélia Amador de. A Questão Racial no Brasil. [S. l.: s. n.]. 2000.