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Xilogravuras de Mestre Dila: memória, identidade e educação através da cultura

material. OLIVEIRA, Jéssica Elaine.

RESUMO

A xilogravura chegou ao Brasil junto com os europeus e chegou ao nordeste junto com
as máquinas de tipografia descartadas pelo Sul do país. Essas afirmações já fazem uma
previsão da importância da xilogravura, inclusive como documento, para a história (e pro
presente, pra poder pensar no futuro) do povo nordestino. Mestre Dila, nordestino
arretado nascido em Pernambuco, fez da xilogravura e da literatura de cordel sua
profissão e sua paixão, foi um dos pioneiros desse ofício no agreste pernambucano e
professor de figuras ilustres do ramo. O texto a seguir tem como objetivo propor a
reflexão acerca de como a xilogravura de Mestre Dila se relaciona com a representação
da identidade local, a cultura material da região e o seu potencial para ser elemento de
preservação da memória da sociedade na qual está inserida, sendo assim possível
ferramenta útil para o ensino que preza pela cultura local e metodologias de criação.

PALAVRAS-CHAVE

Mestre Dila, Cultura, Identidade, Memória, Educação.


Abstract

The woodcut arrived in Brazil with the Europeans and arrived in the northeast with the
typewriters discarded by the south of the country. These statements already foresee the
importance of woodcutting, even as a document, for the history (and pro present, to be
able to think about the future) of the Northeastern people. Mestre Dila, a northeastern
man from Pernambuco, made woodcutting and cordel literature his profession and his
passion, he was one of the pioneers of this craft in the Pernambuco forest and a teacher
of distinguished figures in the field. The following text aims to propose a reflection on
how Mestre Dila's woodcut relates to the representation of local identity, the material
culture of the region and its potential to be an element of preservation of the memory of
the society in which it is inserted, thus being a useful tool for teaching the values local
culture and creative methodologies.

Keywords

Mestre Dila, Culture, Identity, Memory, Education


Mestre Dila e sua obra

O xilógrafo Mestre Dila, nome artístico para José Soares da Silva, nasceu em 17 de
setembro de 1937 na cidade de Cumaru, no Agreste Pernambucano, mudando-se
posteriormente para Caruaru. Dila é aclamado como um dos maiores xilógrafos
nordestinos, sendo expoente da técnica da xilogravura até os dias atuais. Utilizando
suportes variados na confecção de suas matrizes, desde madeira de topo, ou madeira de
fio, até borracha vulcanizada; o xilógrafo dava imagem e vida a linhas escritas não só por
ele mesmo, mas também por outros poetas populares.

Considerado Patrimônio Vivo de Pernambuco, atualmente Dila reside na cidade de


Caruaru - PE, com uma de suas filhas, após o falecimento de sua esposa. Devido à sua
saúde fragilizada pela idade, atualmente sua produção é cada vez mais espaçada,
respeitando seu tempo e seus anos de atividade, muito mais como um passatempo do que
uma obrigação. Seu filho Valdez é o responsável por tratar de assuntos relacionados à
obra de seu pai. Em 2017, inaugurou na Estação Ferroviária, em Caruaru, o Memorial
Mestre Dila, que conta com um acervo dos cordéis do xilógrafo, além de abrigar também
a Casa Museu do Cordel.

No acervo de suas produções, o xilógrafo aborda diversas temáticas, com destaque para
a utilização do universo do cangaço, e, por diversas vezes, se auto retrata como parte da
história, sendo ele próprio um cangaceiro com uma história de vida mítica. Como relata
o próprio Dila , “Eu, Dila José Ferreira da Silva, na vida do cangaço, levei vários cercos,
levei 2 tiros do Tenente Valentão, fui procurado no enterro de meu pai; em 1952 me livrei
do último cerco pelo Tenente Abdias Patriota. No ano de 1940 fiz meu campo de trabalho
em cima da história do cangaço, tenho de minha autoria 70 cordel de cangaço.”. A obra
e vida de Dila é uma mistura mágica de ficção e realidade, que aguça os sentidos e
despertam a vontade de uma melhor compreensão de sua narrativa onírica e singular.

Mestre Dila veio a falecer durante a produção desse texto, em 18/12/2019, na cidade de
Caruaru/PE, em decorrência de uma pneumonia.
Memória, Cultura e Identidade.

O ato de folhear um cordel é quase que como um ritual, uma experiência, algo que possui
diversas camadas de sensações e significados. Primeiramente, o título vem como uma
mensagem simples e direta, mas que faz o leitor esperar, com razão, uma criativa
reviravolta - que muito provavelmente virá. A xilogravura que o acompanha na capa
exerce um fascínio especial e tem a função de “sinopse” da obra que virá a seguir. O texto,
que virá na sequência, é composto de versos e prosas que povoam e descrevem, em tom
satírico, o imaginário popular. Ao descrever esse processo é possível perceber uma
especificidade simbólica presente nesse artefato, e parafraseando Ulpiano (1998, p.89)
“Que tipo de informação intrínseca podem os artefatos conter, especialmente de conteúdo
histórico?”, ou seja, o que mais os artefatos querem contar? E mais, por que é tão
importante escutar? Sobre isso, Santana e Simões (2015) pontuam:

“... a memória das referências simbólicas “procura salvar o passado para servir
o presente e o futuro” (le goff, 1996, p. 423); e ainda avigora as tradições, repete
códigos comportamentais, cria novos códigos e contribui para afirmação das
identidades culturais. Nesse entendimento, a memória é elemento fundamental
da construção identitária. Para Pollak (1992), as identidades se constroem a partir
de visões do passado, que funcionam como pontos de referência para
determinados grupos e fornecem coerência, no tempo, a seus quadros de
representação simbólica. Desse modo, a memória é um processo de
ordenamento, de produção de sentido, que pressupõe enquadramentos,
esquecimentos e silêncios.” SANTANA e SIMÕES (2015, p.90)

Em paralelo Pickler (2012) assegura a ligação entre identidade e cultura, fazendo assim
um eixo-base que interliga memória e identidade. Pichler (2012) fala que:

“A cultura está diretamente ligada à noção de identidade, já que, através de


símbolos e representações, identifica, singulariza e congrega o que é interno e
único, do que é externo. “A identidade nasce da cultura e vice-versa” (VILLAS-
BOAS, 2002, p. 55). Segundo Ono (2004), as culturas, que são conjuntos de
significados e interconexões que desde o nascimento fazem parte do indivíduo
sem que este precise pensar sobre essas relações, são o que moldam as
identidades” (PICHLER, 2012, p.2)
Sendo memória o pilar central de todo um arcabouço imagético e simbólico que constrói
a identidade fica respondida a questão levantada a pouco: É importante “escutar” o que
os artefatos então querendo nos “falar”, porque eles estão nos contando a história
marcante de uma sociedade, estão nos dizendo como foi para que possamos entender
como é, e vislumbrar como pode vir a ser. Como Pichler (2012) ressalta, “a identidade
cultural, assim, é o que mantém o indivíduo pertencente a determinado lugar” (p.3), é o
agrupa as pessoas por suas vivências em comum, o que dá ao ser social acolhimento.

“Acontecimentos e aspectos do passado são lembrados e sublinhados a partir de


sua relevância para os indivíduos, que recordam por sua contribuição na
construção da identidade e das relações pessoais. Assim sendo, a memória
contribui para coesão social, definindo seu lugar, suas conexões, bem como seus
conflitos.” (SANTANA e SIMÕES, 2015, p.91)

Sobre definir lugar, Pichler ressalta que:

“Uma identidade, porém, não representa apenas um indivíduo. Um grupo


de pessoas que vivem em um mesmo local e dividem experiências e
conhecimentos passam a produzir símbolos e representações que os
unificam, tornando-os uma associação, um bairro, um estado, uma nação,
constituindo assim uma identidade local. É importante ressaltar que o local
não deve ser interpretado como um espaço ou pedaço de terra onde vive
um grupo de pessoas, mas também as relações existentes entre este local
e os indivíduos que vivem no mesmo, suas construções físicas e materiais
desenvolvidas através dos tempos e que representam o seu cotidiano, a sua
história e as suas relações.” (PICHLER, 2012, p.3)

Esse sentimento de pertencimento que valida o ser social é um dos pontos apontados nas
teorias acerca de identidade por ser (um dos) ponto chave da história de um indivíduo,
mas não se restringe apenas ao espaço físico, mas a esse conjunto de experiências e o que
elas simbolizam.

“No que diz respeito ao sentimento de pertença, esse não se pauta apenas na
questão espacial; vincula-se também ao conceito de patrimônio cultural, o qual
constitui, por meio da transmissão de saberes e fazeres da comunidade, elos de
continuidade espaço-temporal, além de mecanismos de afirmação de identidade.
O sentimento de pertencimento e permanência é o pressuposto básico para a
construção da identidade.” (SANTANA e SIMÕES, 2015, p.91)

A obra de Mestre Dila como elemento da cultural de Caruaru e do


Agreste Pernambucano.

Como apresentado, o acervo de Mestre Dila é vasto e passeia por diversas temáticas da
vivência do sertanejo nordestino. Afim de ilustrar e materializar esse acervo poderá se
observar exemplos dessa produção, para melhor visualizar as explicações posteriores.

Figura 1- A Rainho do Céu, 1998. (Fonte: Acervo Maria Alice Amorim)


Figura 2 - Dila, O Ex-Cangaceiro (1981) e Lampião e Maria Bonita (Ano desconhecido). Fonte: Acervo Maria Alice
Amorim.

Figura 3- O Sonho de um Romeiro com Padre Ciço Romão (Ano Desconhecido) e Trovoada e Seus Cangaceiros
(Ano Desconhecido). Fonte: Acervo Maria Alice Amorim.
Figura 4- Caruaru no Presente (Ano Desconhecido) e O homem que virou bode (Ano Desconhecido). Fonte: Acervo
Pessoa.
Figura 5- Zelação e Lourensinho (Ano desconhecido) e Bagagem do Nordeste (Ano Desconhecido). Fonte: Acervo
Maria Alice Amorim.

Figura 6 - Antônio Trovão (Ano Desconhecido) e Corisco (Ano Desconhecido). Fonte: Acervo Maria Alice Amorim.
Figura 7 - Amália (Ano desconhecido) e Antônio Rufino e Maria da Pavirada (Ano Desconhecido). Fonte: Acervo
Maria Alice Amorim.
Figura 8 - Colchete e Jararaca (Ano desconhecido) / O Cangaceiro e o Lobisomem (Ano desconhecido). Fonte:
Acervo Maria Alice Amorim.

Figura 9 - Féliz Imitou Lampião (Ano desconhecido) / Coruja (Ano desconhecido). Fonte: Acervo Maria Alice
Amorim.
Figura 10 - Antônio Ferreira (Ano desconhecido) e o Cego Romeiro (Ano desconhecido) - Fonte: Acervo Maria Alice
Amorim

Figura 11- Os Lampiões e Os Sertões e Cangaço. Fonte: Acervo Maria Alice Amorim.
É possível observar na obra de Dila a presença de elementos peculiares que são abordados
de forma enfática, exemplo disso é o tema Cangaço, que figura de forma recorrente no
acervo do mestre. A utilização das paisagens de Caruaru denota uma intenção de
homenagear, implicitamente confere uma importância a aquele lugar. A exaltação da
religiosidade e dos temas religiosos retratam os dogmas sagrados e os profanos do
costumeiro popular. Percebe-se, portanto, que a xilogravura nesse aspecto não se resume
apenas a ilustração de uma capa de uma literatura de cordel, a xilogravura se apropria de
costumes, da rotina, e em suma, vira espelho da sociedade na qual está inserida: a
retroalimentação cultura x identidade.

Essa estrutura cultura x identidade vem não só pra materializar, mas também para
documentar, para tornar fonte de pesquisa, material teórico. É importante que sejam dados
o devido valor e o posicionamento correto desse tipo de artefato, dessa produção.

A identidade cultura, a memória, e a Educação.

Com o passar os anos as formas de se construir saberes e de passá-los adiante se modifica


e se fluidifica, a fim de melhorar essa dinâmica do ensinar e aprender. Silva (2006) pontua
que:

O estudo da História Regional e Local no Brasil, nem sempre teve importância


no mundo acadêmico, apenas a partir do final da década de 1980, surgem
trabalhos mais sistematizados relacionados ao tema. Isso só foi possível graças
à uma nova concepção metodológica que surgiu na França em 1929, denominada
de Nova História. A partir dessa nova abordagem historiográfica, passou a existir
uma diversificação no conceito de fonte histórica, bem como uma dinamização
no objeto de estudo do pesquisador. (SILVA, 2006, p.96)

Portanto, nota-se nessa movimentação uma valorização da individualização, de


compreensão de que a história local deve ser mais presente e mais utilizada, não só por
seu valor cultural (para o hoje) mas por sua importância história, para a compreensão de
algo global é preciso ter propriedade do local. E sobre isso Silva (2006) apresenta que:
Por essa ótica, nota-se a importância do estudo da História Regional e Local no
universo historiográfico brasileiro uma vez que ela aproxima o historiador do
seu objeto de estudo. A narrativa deixa de ser fundamentada em temas distantes
para se incorporar aos fenômenos históricos da região, consequentemente do
município. Passa a existir a construção de uma história plural, sem qualquer tipo
de preconceito e os excluídos passam a ter voz.” (SILVA, 2006, p. 96)

E que isso não se limite apenas a construção de um saber ligado apenas à história.
Poderíamos nos utilizar das rimas e sextetos do cordel para, além de literatura, aprender
gramática, morfologia e semântica das palavras. Aprenderíamos artes com a xilogravura.
Música com os repentistas, e até matemática com os feirantes, por que não? Pois é preciso
estar atento e vibrante para que se aperceba das possibilidades que o conhecimento da
História Local, da Identidade cultural local, pode oferecer.

Silva (2006) finaliza, portanto, ao fazer a seguinte reflexão:

“Portanto, devemos chamar atenção para a importância do papel do professor na


aplicação desta nova metodologia. O fundamental é tornar as aulas mais
prazerosas, levando os alunos a perceberem que sua vida já é uma grande história
e que o conhecimento histórico pode ser elaborado por todos, independente de
qualquer aspecto social, político, econômico e cultural.” (SILVA, 2006, p. 99)

As possibilidades são inúmeras e explorá-las é imperativo em uma sociedade que busca


ser valorizada e ter voz, perante uma globalização vigente. Terreno intelectual fértil
existe, precisamos dar espaço, procurar alternativas de inserção dessa metodologia no
ensino escolar e no mundo acadêmico.

Conclusões Finais

Pela observação dos aspectos apresentados pode-se perceber que ainda existe muito
diálogo para acontecer, mas que o campo da identidade, cultura e memória tem se
mostrado muito rico e fértil para a didática e o ensino poder criar raízes. Resta aos
profissionais abraçarem esse viés e permitirem esse fluxo com o que já existe, com o que
o popular perpetuou.
Em virtude dos fatos mencionados pode-se crer que a obra de Mestre Dila é uma fonte
inesgotável de memória e identidade cultural e sua relação com a cultura local é bem
estreita, a ponto de não ser seguro afirmar onde começa uma e termina a outra, e talvez
essa seja uma das partes mais sublimes.

Por fim, ressalta-se a importância (e agora a memória) desse grande artista que foi Mestre
Dila, para que seu legado seja sempre saudosamente lembrado, celebrado e protegido.

REFERÊNCIAS

SCHNEIDER, Beat. Design uma introdução: O design no contexto social,


cultural e econômico. São Paulo: Blücher, 2010

DOURADO, Patrícia H.C.B.; SOUSA, Larissa N. de, BRAGA, Moema M.S.


Xilogravura: método de impressão ou expressão cultural?. Anais Intercom Sociedade
Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Natal/RN. 2015

PICHLER, R. F.; IUVA DE MELLO, C. O design e a valorização da identidade


local. Design e Tecnologia, v. 2, n. 04, p. 1-9, 31 dez. 2012.

SOUZA, Rosangêla V. A Xilogravura Popular nos projetos de Design: um estudo


sobre a compreensão e a utilização de imagens da xilogravura pelos designers.
Recife, 2007.

ONO, Maristela Misuko; Design, cultura e identidade, no contexto da globalização.


Revista Design em Foco, v. I, n° 1, Jul/Dez2004.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um conceito antropológico. 14ed. Rio de Janeiro:


Jorge Zahar Ed, 2001.
SANTANA, Gisane Souza; SIMÕES, Maria de Lourdes Netto. Identidade, memória e
patrimônio: a festa de Sant’Ana do Rio do Engenho, Ilhéus (BA). Textos escolhidos
de cultura e arte populares, Rio de Janeiro, v.12, n.1, p. 87-102, mai. 2015.

SILVA, Luis Carlos Borges da; A importância do Estudo da História Regional e Local
no Ensino Fundamental. Textura, Cruz das Almas – BA, v.01, n° 1, p. 95-100, janeiro,
2006.

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