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1. Introdução
Marinho et al. (2011) afirmam que apesar da importância do professor para a sociedade, há
incoerência entre as inúmeras atribuições deste profissional e suas reais condições de trabalho,
como salários incoerentes com suas atribuições, falta de infraestrutura mínima nas escolas,
falta de material didático e tecnológico, precariedade das salas de aula, e instabilidade
profissional no caso dos professores não efetivos, o que incorre em sérios prejuízos ao ensino
e ao trabalhador como exaustão, desmotivação e esgotamento emocional. Este cenário se
torna mais complexo em função da carência de pesquisas que avaliam as repercussões do
trabalho docente na saúde física e mental do profissional, principalmente no Brasil. (REIS et
al., 2005)
A atividade docente tem sido apontada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT)
como uma profissão que expõe seu trabalhador a riscos tanto físicos quanto mentais,
suscetíveis a sofrimento psicológico, depressão, doenças musculoesqueléticas e distúrbios
vocais, em função das condições de trabalho, da violência nas instituições e da sobrecarga
sobre o profissional. (CASTELO-BRANCO, 2014; ESTEVE, 1999; GRAZZOTI; COCO,
2002; LAPO; REIS et al., 2005; PEREIRA et al., 2002).
Segundo Reis et al. (2005, p.1481) “no Brasil, pouco se tem feito para avaliar as repercussões
do trabalho sobre a saúde do professor, cujos riscos são menos visíveis quando comparados a
outros trabalhadores como metalúrgicos, petroquímicos etc”.
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a permanecer por mais tempo na atividade, expondo-o a riscos mais elevados devido a
diminuição de sua capacidade para o trabalho com a idade.
Para Moura et al. (2013), a diminuição da capacidade para o trabalho, apresenta efeitos
nocivos a saúde e a capacidade do trabalhador, apresentando alterações de natureza
fisiológica, psicológica e comportamentais, com o agravante de estar afetando trabalhadores
em plena vida ativa e ainda longe da aposentadoria.
Para Andrade e Monteiro (2007) a manutenção da capacidade para o trabalho está relacionada
a boas condições de trabalho e de saúde do profissional, com reflexos na produtividade do
profissional, em sua perspectiva para a aposentadoria e consequentemente na redução dos
custos previdenciários.
Neste contexto, o objetivo deste estudo é calcular o índice de capacidade para o trabalho de
professores do ensino infantil e fundamental tomando como referência quatro escolas
municipais de uma cidade do interior do estado de São Paulo. Outro objetivo desta pesquisa é
levantar as possíveis associações entre o Índice de Capacidade para o Trabalho e as
características sócio demográficas da população trabalhadora.
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A capacidade para o trabalho representa de uma maneira geral a capacidade que o trabalhador
tem de realizar suas atividades laborais, considerando suas condições físicas e mentais; esta
característica é influenciada em grande parte por aspectos como idade, estado de saúde e
condições de trabalho. (MARINHO et al., 2011; POHJONEN, 2001; SEITSAMO; TUOMI;
MARTIKAINEN, 2007; TUOMI et al., 2001).
Esta capacidade é influenciada também por outros fatores, além daqueles associados ao
trabalho, como a situação familiar e a prática de atividades esportivas, de lazer e de recreação.
O envelhecimento para o trabalho também influencia a capacidade laboral do indivíduo, cujo
declínio se acentua após os 50 anos, e pode afetar sua produtividade no emprego; esta
capacidade está associada em maior grau as atividades com elevada exigência física em
comparação aquelas com exigência mental, fato que vem despertando interesse por parte do
poder público, tanto no Brasil quanto de diversos outros países, para a prevenção ou mesmo
manutenção da capacidade produtiva do trabalhador. (COSTA et al.,2012; PADULA et al.,
2013; RENOSTO et al., 2009).
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Item Nº de Pontuação
questões
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4. Metodologia
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O instrumento utilizado para a coleta dos dados foi o Índice de Capacidade para o Trabalho
(ICT). O instrumento foi acrescido de questões de cunho sócio demográfico e ocupacional
com 23 variáveis como: situação de moradia, número de pessoas com quem mora, raça, tempo
total de trabalho, prática de atividade física, presença de hábitos não saudáveis, frequência ao
médico e sua especialidade, expectativa de trabalho após os 60 anos, e expectativa de
emprego após os 60 anos e o respectivo setor, gênero, idade, estado civil, escolaridade, turno,
tempo na função, dias afastados devido acidente nos últimos 12 meses, condição de
desconforto no ambiente de trabalho, região do corpo que mais sente dor após o expediente,
atividade no exercício da profissão, acidente durante o percurso e dias afastados devido
acidente durante toda carreira.
5. Resultados
A análise foi realizada em quatro etapas: a análise descritiva dos dados com a avaliação
baseada nas evidências qualitativas das informações; a análise estatística com a avaliação dos
dados através das sistemáticas tradicionais de regressão linear simples envolvendo os valores
do ICT e as variáveis individualmente; a regressão ANOVA, como complemento da anterior,
e a análise de regressão múltipla, envolvendo todas as variáveis sobre o valor resposta (ICT).
Feminino 85 90,43
Gênero
Masculino 9 9,57
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22 a 35 46 48,94
≥45 19 20,21
Manhã 36 38,30
Tarde 38 40,42
Turno
Manha e Tarde 19 20,21
0|-10 54 57,45
30 |-40 4 4,25
Total 94 100
A maioria dos professores é do gênero feminino (90,43%), com faixa etária entre 22 a 35 anos
(48,94%), casados (62,77%) e nível de escolaridade predominante superior completo
(73,40%), trabalhando no turno da tarde (40,42%) com tempo de experiência na atividade
inferior a dez anos (57,45%). Quanto ao Índice de capacidade para o trabalho (ICT) da
amostra de professores, pode ser na tabela 1 a distribuição percentual por capacidade, sendo N
o número de respondentes em cada categoria.
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7 - 27 Baixa 0 0,00
28 - 36 Moderada 7 7,45
37 - 43 Boa 8 8,51
44 - 49 Ótima 79 84,04
Total 94 100,00
Fonte: O próprio autor
Como pode ser observado, a maioria dos indivíduos avaliados (84,04%) dispõem de ótima
capacidade para o trabalho.
A análise estatística foi precedida do teste de normalidade dos dados, o que indicou a
necessidade de transformação (logito) para efeito de adequação a distribuição normal e
posterior tratamento.
A análise de regressão uni variável dos dados referentes as 23 variáveis analisadas concluiu
que apenas quatro (especialidade médica, setor de emprego após os 60 anos, idade e região do
corpo que mais sente dor ao final do expediente) apresentaram diferença significativa entre as
médias de ICT (índice de capacidade para o trabalho). Indivíduos que procuram a
especialidade médica ortopedia apresentaram menores índices de capacidade quando
comparados aos que procuram as demais especialidades como urologia, ginecologia, clinico
geral e pneumologia, indicando que limitações físicas limitam mais os profissionais, que
outras enfermidades; já quanto a expectativa de emprego futura, indivíduos que indicaram o
setor público como sendo o de maior probabilidade de empregar após os 60 anos,
apresentaram maior ICT, quando comparados aos demais que responderam não saber,
autônomo, empacotador, serviços domésticos ou nenhum, indicando que aqueles dispõem de
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melhores condições atuais e futuras para o trabalho. De maneira oposta, os indivíduos que
responderam que os serviços domésticos serão os de maiores chances de emprego após os 60
anos, apresentaram as menores capacidade para o trabalho, demostrando a percepção
pessimista destes trabalhadores para com suas capacidades futuras de trabalho. Quanto a
influência da idade na capacidade para o trabalho dos docentes, a análise indicou que os
indivíduos com idades mais elevadas tendem a apresentar ICT menores quando comparados
aqueles com idades menores, fortalecendo outras constatações científicas semelhantes como
as de Martinez e Latorre (2009), Monteiro, Ilmarinen e Gomes (2005) e Reis et al. (2005).
Com relação a presença de dores no corpo, indivíduos que sentem dores no pescoço
apresentaram um ICT maior que os indivíduos que sentem dores de cabeça, no braço, nas
costas, nas pernas, no pé e no tornozelo, podendo indicar que este sintoma é característico de
menor limitação que os demais apresentados.
Os dados das variáveis foram submetidos a análise de variância (ANOVA) para se determinar
quais destas apresentam ou não influência nos valores de ICT. Adotou-se como padrão, os p-
valores menores ou iguais a 0,05 como sendo significativos em um nível de confiabilidade de
95%. O Quadro 4 a seguir mostra as variáveis analisadas e seus valores de p correspondentes.
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Dentre as variáveis avaliadas, três delas se mostraram associadas aos valores do índice de
capacidade para o trabalho, apresentando p-valor ≤ 0,05, a um nível de 95% de significância
(especialidade médica, setor para conseguir emprego após os 60 anos e turno de trabalho).
O Quadro 5 a seguir mostra que os indivíduos que apresentaram os menores índices foram os
que responderam ter procurado a especialidade médica “Ortopedista”. Isto pode ser explicado
pelo fato de os indivíduos que foram diagnosticados com problemas ortopédicos, passaram a
apresentar menor capacidade para o trabalho, implicando na redução final de seu ICT, fato
que comprova a análise anterior que apontou a mesma evidência.
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O Quadro 6 a seguir confirma a análise anterior mostrando que os respondentes que indicaram
o setor de emprego após os 60 anos “Serviços Domésticos” apresentaram valor médio de ICT
transformado menor, no entanto vale destacar que apenas um indivíduo respondeu esta opção.
Por outro lado, 31 dos 94 indivíduos entrevistados responderam o setor de emprego após os
60 anos como sendo “Nenhum”, evidenciando a falta de expectativa e crenças em um futuro
melhor; curiosamente estes indivíduos foram os que tiveram os mais altos valores de ICT
denotando boas capacidades atuais para o trabalho.
Quadro 6 - ANOVA dos dados de ICT transformado por setor de emprego após os 60 anos.
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O Quadro 7 aponta para uma questão não evidenciada na análise anterior quando mostra que
trabalhadores com dupla jornada (diurno e noturno) apresentam valores médios de capacidade
menores quando comparados aos demais (manhã, tarde, manhã e tarde), no entanto deve ser
ressalvado que apenas um dentre os respondentes apresentou tal situação. Porém nota-se que
os professores que trabalham em um único turno apresentaram valor de ICT maior, se
comparado aos indivíduos que trabalham em mais de um turno, destacando que os
trabalhadores matutinos apresentarem as melhores condições.
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Variáveis p-valores
Idade 0,099
Especialidade Médica
0,094
(Cardiovascular)
Fonte: dados da pesquisa.
6. Conclusões
Apesar da classe trabalhadora ter apresentado boa capacidade para o trabalho, não
apresentou uma visão positiva a respeito do futuro, fato que deveria ser melhor considerado
pelas políticas públicas na proposição de medidas de manutenção das boas condições físicas e
mentais dos profissionais.
A pesquisa aponta para o uso mais frequente do instrumento (ICT) desde o ingresso do
trabalhador na carreira como forma de identificar precocemente alterações no estado físico e
psicológico, e consequentemente agir na promoção da saúde e bem-estar do docente,
implicando em melhores condições de trabalho. Esta medida poderá implicar na redução dos
afastamentos, no aumento da produtividade, e minimização dos custos previdenciários por
parte do estado.
REFERÊNCIAS
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