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Cultura Brasileira

Material Teórico
Cultura e Culturas no Brasil

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. João Elias Nery

Revisão Técnica
Profa. Dra. Vivian Fiori

Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Cultura e Culturas no Brasil

• Introdução
• Cultura(s) Brasileira(s);
• Culturas: resistência e submissão.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Discutir algumas concepções sobre a(s) cultura(s) brasileira(s).
· Tratar de algumas teorias sobre sociedade e cultura. Definir cultura
de massa.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Cultura e Culturas no Brasil

Introdução
Nesta unidade, trataremos da cultura brasileira, já extensamente estudada por
antropólogos, sociólogos, geógrafos e pesquisadores de áreas afins. Para nós, é
importante ressaltar o vínculo entre cultura e comunicação, algo já explorado por
praticamente todas as correntes teóricas do campo da comunicação, com destaque
para os chamados Estudos Culturais de origem britânica e com fortes influências
em diversas regiões e países, inclusive o Brasil.

Dessa forma, daremos ênfase à relação entre cultura de massa, política e meios
de comunicação.

Introdução à Cultura
Olhe à sua volta: objetos, pessoas, representações, imagens e sons; olhe para
você e para as pessoas: roupas, adereços, formas e cores. Procure na sua história
de vida e na das pessoas que têm alguma importância para você. Em todas essas
situações, a cultura se fará presente, como objeto, valores e memória.

O mundo trata melhor quem se veste bem, diz a propaganda. Trata? E o que é
estar bem vestido? O que define isto? Os valores, a cultura, diríamos nós.

Pensando no ambiente no qual esta disciplina ocorre, é importante verificarmos


o quanto as novas tecnologias da comunicação e da informação interferem em
nossa percepção da realidade, criando novos significados para o campo da cultura.

Se escrevêssemos a palavra cultura em sites de busca, poderíamos ficar a vida


inteira lendo/vendo coisas que tratam dos mais diferentes aspectos do que seria
cultura. Se acrescentássemos brasileira, restringiríamos um pouco mais o campo;
porém, ele continuaria suficientemente amplo para ocupar o tempo que não temos.

O tempo não para e a cultura vai se alterando ao longo do tempo, influenciada


pela família, escola, religião, pelos amigos e meios de comunicação e informação
etc., que, ao mesmo tempo, influenciam e são influenciados pela cultura.

O Brasil é um país onde existem muitas raças e culturas, no qual houve também
grande processo de miscigenação, ou seja, os diversos grupos que vieram para o
Brasil, em menor ou maior grau, foram se mesclando num processo de relações
inter-raciais e culturais entre homens e mulheres, que ocasionaram diferentes
características físicas e culturais ao povo brasileiro.

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Figura 1 - Raças e Culturas Brasileiras
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

A cultura brasileira foi sendo produzida ao longo da história, mas vamos dar
ênfase ao período mais recente, a partir do século XX.

Cultura(s) Brasileira(s)
Comecemos pelo termo cultura brasileira – aliás, esta já é uma característica do
que estamos tratando: é preciso dar nome às coisas, aos objetos, às ideias e às pessoas.

Temos a junção de dois campos – o da cultura e o do Brasil –, podemos então


definir cultura como hábitos, obras, objetos e, posteriormente, reduzir isso ao que
é brasileiro.

Haveria, portanto, a cultura, algo que diferencia os humanos das demais espécies.
Em seguida, essa definição aplicar-se-ia ao povo brasileiro, com cultura específica
que, além de diferenciá-lo de outras espécies, também o diferenciaria em relação
a outros povos.

Assim, aparentemente estamos em condições de iniciar nosso percurso: a cultura


é expressão humana em valores e objetos que ligam uma geração a outra pela
presença de elementos do passado nas relações do presente. A cultura brasileira, a
partir desse viés, é composta pelos valores e objetos que a sociedade produziu ao
longo dos séculos de existência do país.

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UNIDADE Cultura e Culturas no Brasil

Observamos sem dificuldades que a definição no item anterior é insuficiente para


tratar do tema. Podemos levantar uma série de questões não respondidas por ela:

»» Existe apenas uma cultura no Brasil?;

»» Há alguma distinção entre as culturas regionais e a nacional?;

»» Outros fatores devem ser considerados para que a cultura brasileira congregue
todas as representações materiais e simbólicas do povo brasileiro?

Seguindo a formulação do pesquisador brasileiro Bosi (1992), consideremos


algumas possibilidades e façamos nossa opção metodológica.

Procurando estabelecer outros elos para o nosso tema, podemos afirmar que a
cultura brasileira expressa a necessidade de identificar particularidades na cultura
de um país, diferenciando-a da de outros países.

A cultura é o que une um determinado povo e o diferencia de outros povos.


A língua, nesse aspecto, é o primeiro elemento de identificação e por isso há o
esforço em homogeneizar a língua culta, com regras rígidas seguidas em toda parte.

Figura 2 - A Língua Portuguesa


Fonte: conexaolusofona.org

A liberdade fica por conta dos modos de expressão locais e regionais, que
tornam o país um ambiente feito de oralidades calcadas nas histórias desses lugares,
formados em diferentes épocas, por diferentes raças e etnias.

A partir dessas análises, verificamos a possibilidade de considerar, pela extensão


territorial e diferenças regionais, a existência de culturas brasileiras marcadas pela
diversidade nos modos de ser e de viver dos habitantes de tais regiões.

Como explica Bosi, não dá para pensar em uma só cultura brasileira, tampouco
devemos usar generalizações do tipo cultura branca, cultura negra, como explica o autor :
A tradição da nossa Antropologia Cultural já fazia uma repartição do
Brasil em culturas aplicando-lhes um critério racial: cultura indígena,
cultura negra, cultura branca, culturas mestiças. Uma obra excelente, e
ainda hoje útil como informação e método, a Introdução à antropologia
brasileira, de Arthur Ramos, terminada em 1943, divide-se em capítulos

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sistemáticos sobre as culturas não europeias (culturas indígenas, culturas
negras, tudo no plural) e culturas europeias (culturas portuguesa, italiana,
alemã...), fechando-se pelo exame dos contatos raciais e culturais. Os
critérios podem e devem mudar. Pode-se passar da raça para nação, e
da nação para a classe social (cultura do rico, cultura do pobre, cultura
burguesa, cultura operária), mas, de qualquer modo, o reconhecimento do
plural é essencial (BOSI, 1992, p. 308).

Essa é uma opção que encontra respaldo na realidade que vemos e vivemos.
Não há como não perceber diferentes ritmos na música e na dança; percebemos
também grande diversidade de hábitos alimentares, modos de falar e de se relacionar
dos brasileiros espalhados por um território tão grande quanto heterogêneo no que
se refere a clima e condições para a organização social.

E nem é preciso ir muito longe, pois dentro de um mesmo estado há grandes


diferenças, principalmente entre os cidadãos da capital e os do interior do país.
Muitas vezes há mais semelhanças entre habitantes de grandes cidades de diferentes
regiões que entre esses e os interioranos, que mantêm hábitos e modos de viver
tradicionais, abandonados por aqueles que vivem nas metrópoles, que cada vez
mais assimilam valores globais.

A cultura de massa cria alguns estereótipos e inventa características “brasileiras”


ao apresentar determinados produtos e manifestações como “nacionais”, o que
pode criar falsas identidades “nacionais”.

Nessas construções, o Carnaval, o futebol e o samba, entre outras manifestações,


seriam nacionais.

Figura 3 - O Carnaval Brasileiro


Fonte: conexaolusofona.org

Seriam nacionais ou são?

O que vemos/vivemos não é bem isso, pois, se é verdade que tais manifestações
são importantes para os meios de comunicação de massa e têm relevância, além
de cultural, política e econômica, não há homogeneidade em suas representações e

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UNIDADE Cultura e Culturas no Brasil

presença na vida das pessoas. O que vemos na televisão não resume as expressões
locais e regionais, apresentando apenas as manifestações de maior apelo de
público, capazes de atrair a audiência.
O Carnaval, por exemplo, veiculado em redes nacionais de TV como grande
espetáculo revela diferenças significativas. Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e
Recife, os mais explorados, mostram ritmos, organizações e formas de participação
do público bastante diversos.
Isso se presta a diversos usos, entre os quais destacamos o viés ideológico de tais
construções acerca da cultura e sua relação com o conceito de nação.
Em um país marcado por desigualdades étnicas, raciais, linguísticas e sociais,
desde a colonização, procuramos elementos de brasilidade, aspectos que nos unam
e que, frente ao espelho, afirmem-nos brasileiros.
Da possibilidade de identificarmos culturas regionais, passamos às considerações
sobre a diversidade étnica e racial e o processo de miscigenação que, para muitos,
é a característica mais significativa na formação do nosso povo.
Aqui também é possível observar práticas culturais identificadas com raças e
etnias, que remeteriam às origens africanas, europeias e asiáticas, que se somariam
às dos indígenas que habitavam a terra brasilis.
Deveríamos, então, observar a existência de culturas indígenas, africanas,
europeias, asiáticas e suas derivações no contexto brasileiro e também das mesclas
que ocorreram entre essas ao longo da história brasileira.
Essa proposição também teve ampla aceitação entre nós, pois reconhece a
formação do país a partir da origem de seus habitantes, indicando a relevância
dessa na formação cultural dos brasileiros. Tal formulação, porém, recebeu muitas
críticas por definir padrões culturais a partir de concepções racistas ou elitistas. A
partir do critério raça ou etnia, tendeu-se a considerar as culturas europeias padrão
sofisticado, que atendiam aos anseios das elites brancas e, em contraposição,
o universo cultural indígena e africano como as referências para o povo pobre,
caracterizado pela miscigenação.

Etnia: Trata-se de um termo que deriva de ethos, palavra grega, e pode ser definido
Explor

como um grupo biológico e culturalmente mais homogêneo, que tem o mesmo ethos,
ou seja, costumes, religião, crenças, língua, hábitos, entre outras características comuns.,
partilhando alguns costumes, tradições, técnicas, comportamentos em comum.
Tal termo não é sinônimo de raça, já que raça é relacionada exclusivamente ao sentido
biológico, da cor da pele, dos traços físicos (do cabelo, do nariz, das formas físicas etc.),
sendo um componente do biótipo humano.

A oposição entre raças e etnias revelaria preconceitos embutidos em certa


admiração pela capacidade criativa da população pobre, fruto da miscigenação
e, ao mesmo tempo, certo repúdio por suas formas de expressão populares,
identificadas com ausência de cultura.

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Como veremos, tal formulação permanece como entrave à compreensão das
culturas brasileiras ao reforçar estereótipos e contribuir para visões distorcidas de
nossa realidade cotidiana.

Temos de considerar, ainda, as diferenças socioeconômicas e das classes sociais.


Seguindo essa linha de pensamento, seria possível identificar a cultura do rico e
a cultura do pobre, sendo o status socioeconômico que definiria cultura. Para os
ricos, a cultura erudita, alta cultura; para os pobres, a cultura popular.

Mesmo a tradição marxista de brasileiros que estudaram a realidade do país a


partir do conceito de sociedade de classes – burguesia e proletariado – acabou por
reconhecer a impossibilidade de uma separação tão rígida no campo da cultura,
vez que nele há manifestações de tal maneira heterogêneas que se torna necessário
incluir nos estudos outros fatores, para além da classe social.

Isso ocorre, principalmente, a partir do século XX, com a formação de metrópoles


nas quais padrões culturais e de relacionamento social foram substancialmente
alterados e manifestações de uma classe apropriadas por outra e culturas estrangeiras
adaptadas às realidades locais, caracterizando o que Oswald de Andrade definiria
como antropofagia.

Figura 4 - Abaporu, de Tarsila do Amaral


Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Cultura e Culturas no Brasil

Você Sabia? Importante!

O que é Antropofagia na Arte?


No dia 11 de janeiro de 1928, a pintora Tarsila do Amaral oferece a Oswald de Andrade
(1890-1954), como presente de aniversário, uma de suas recentes pinturas, sem sab-
er que ela viria a ser a propulsora de uma das mais originais formulações teóricas
sobre a natureza específica da arte moderna brasileira. [...] Oswald de Andrade foi
indagado por seu amigo e escritor Raul Bopp (1898-1984), que o acompanhava na
observação: “Vamos fazer um movimento em torno desse quadro?”. Abaporu, de
1928, que em tupi-guarani significa “antropófago”, foi o nome escolhido para aquela
figura selvagem e solitária.
Funda-se em seguida o Clube de Antropofagia, juntamente com a Revista de
Antropofagia, em que é publicado o Manifesto Antropófago [...] Com frases de
impacto, o texto reelabora o conceito eurocêntrico e negativo de antropofagia como
metáfora de um processo crítico de formação da cultura brasileira. Se para o europeu
civilizado o homem americano era selvagem, ou seja, inferior, porque praticava o
canibalismo, na visão positiva e inovadora de Andrade, exatamente nossa índole canibal
permitira, na esfera da cultura, a assimilação crítica das ideias e modelos europeus.
Como antropófagos, somos capazes de deglutir as formas importadas para produzir algo
genuinamente nacional, sem cair na antiga relação modelo/cópia, que dominou uma
parcela da arte do período colonial e a arte brasileira acadêmica do século XIX e XX [...].
Fonte: Texto literal extraído de Itaú Cultural.
Fonte: https://goo.gl/V70Wym

Nossa argumentação indica a existência de diferentes critérios, sem definir um


como correto. Na verdade, existe sim a necessidade de reconhecermos a plura-
lidade como critério para a compreensão da diversidade das expressões culturais
do povo brasileiro.

Culturas: Resistência e Submissão


Bem, até aqui expusemos algumas possibilidades para a definição da cultura bra-
sileira, seus aspectos positivos e negativos. Entendemos que estamos em condições
de fazer nossa opção.

Seguindo a definição de Bosi (1992, p. 356), reconhecemos a existência no


Brasil de duas culturas “fundadoras”: a erudita e a popular. São resultantes da ação
de brasileiros ricos e pobres, de diversas etnias e raças, considerando, ainda, a
heterogeneidade que caracteriza as regiões que formam o país.

Nessa concepção, é essencial reconhecer a pluralidade de expressões e, ao


mesmo tempo, verificar a existência de processos que possibilitariam termos,
valores e objetos criados e mantidos ao longo de nossa história, responsáveis por
garantir a formação de identidades culturais suficientemente estabelecidas e capazes
de manter os laços sociais.

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Para usar expressões do autor citado anteriormente, as culturas brasileiras
conformam uma situação em que vivemos o “plural, mas não caótico”.

Para o observador crítico, é preciso não confundir diversidade com desorga-


nização. Ao longo de sua curta trajetória, o Brasil construiu significativas formas
de organização, valores e objetos que o projetam como referência na constituição
de um país a partir das diferentes culturas trazidas por aqueles que vieram de ou-
tros continentes e os que aqui estavam, em meio às enormes dificuldades típicas
de uma nação construída pela força utilizada para subjugar ou eliminar culturas e
expressões originais.

O intenso convívio entre pessoas com histórias tão diversas, em situações sociais,
culturais e políticas determinadas, possibilitou a formação dessas culturas iniciais.
Não há como apagar as marcas da imposição de modelos, como, por exemplo,
no campo da religiosidade; porém, é possível observar a resistência de amplos
segmentos e a permanência de objetos e valores alheios ao que foi imposto pelas
classes dominantes.

Além disso, é intensa a convivência entre cultura erudita e cultura popular, na


medida em que temas, práticas e valores migram de uma para a outra na dinâmica da
sociedade de classes. Isso acaba por produzir movimentos de aceitação e de recusa,
levando a situações novas que, dialeticamente, alimentam tanto uma quanto outra.

Mais uma vez é preciso manter a capacidade crítica para não compactuar com
posições racistas ou elitistas de um lado, ou ingênuas, de outro.

Entendemos a cultura como um campo de disputas e de produção simbólica de


grande significado para um país e, como tal, marcado pela presença de projetos e
análises conflitantes.

O Século XX, caracterizado, entre outros aspectos, por seu extraordinário de-
senvolvimento tecnológico, faria surgir no campo cultural uma inovação significa-
tiva: a cultura de massas. Saudada pelos “integrados” e veementemente recusada
pelos “apocalípticos” – conforme Umberto Eco (1972) –, tal cultura viria a alterar
as relações culturais no Brasil e no mundo.

Essa “nova” cultura produziria acirrados debates no âmbito acadêmico, incluindo


os estudos sobre comunicação e cultura. Nele destacam-se alguns posicionamentos
hoje consolidados: a interpretação elitista, para a qual cultura é apenas a arte
produzida nos padrões estéticos estabelecidos pelas classes dominantes, o que leva
à conclusão de que o povo não teria cultura. Tal concepção alimenta confusões
entre cultura e escolaridade, por exemplo.

No campo da comunicação, os estudos norte-americanos, com destaque para


o Funcionalismo, inclinam-se a conceber a cultura dessa forma, o que tende a
levar os trabalhos realizados a enaltecer a cultura de massas, que seria a primeira
possibilidade na História de uma cultura verdadeiramente democrática. Para as
maiorias “sem cultura”, a cultura de massas significaria a oportunidade de acesso
aos bens culturais antes restritos às elites.

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UNIDADE Cultura e Culturas no Brasil

Importante ressaltar que não existe ninguém que não tenha cultura, mas, para
alguns, a cultura é só da elite, sendo que os demais são considerados “sem cultura”.

No campo oposto, há a Escola de Frankfurt, corrente teórica desenvolvida


na Europa nas primeiras décadas do Século XX, que vê a cultura de massas como
fim das culturas erudita e popular, em função da transformação da cultura em
mercadoria. Observando a ascensão do totalitarismo na Europa, os autores ligados
a essa corrente concluíram que a cultura de massa seria um instrumento ideológico
sem precedentes e que seu uso pelas classes dominantes consolidaria um sistema
capaz de manipular as massas. Daí criaram o termo de indústria cultural.

Figura 5 - Indústria Cultural (TV e Cinema)


Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

A Escola de Frankfurt era formada por um grupo de pensadores sociais alemães,


que no início do século XX criaram uma teoria crítica da sociedade. O grupo era
formado principalmente por Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse
e Walter Benjamim.

Para esses autores, a ciência não era neutra e havia uma massificação, realizada
principalmente pela indústria cultural, que ampliava a alienação do homem,
influenciando a sociedade e a cultura.

O que é indústria cultural?


Explor

A indústria cultural é um termo cunhado em 1947 por Adorno e Horkheimer para designar
a transformação em mercadoria de bens culturais da sociedade contemporânea – caso
do cinema, das artes, da fotografia, da televisão, das mídias, dos valores culturais –, que
passaram a ser mercadorias e existem como parte do processo de uso cultural mercadológico.

Também na Europa e, posteriormente, em diversos países de outros continentes,


os estudos culturais desenvolvem análises nas quais reconhecem as culturas erudita
e popular, como os Frankfurtianos, porém, contrariamente a esses, não aceita
que o surgimento da cultura de massas signifique o fim das outras culturas – pelo

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contrário, estabeleceria uma relação de exploração dessas, que continuariam sua
trajetória tendo a cultura de massa como um novo elemento da realidade.

No Brasil, tais correntes teóricas do campo das comunicações tiveram e têm


grande repercussão. Sem desconsiderar as demais, verificamos que os Estudos
Culturais têm proporcionado amplas possibilidades de análise das culturas brasileiras
ao examinar as relações tensas entre erudita, popular e de massas. Dois conceitos
discutidos por Bosi (1992) são bastante ilustrativos de tais contribuições: o Mundo
do Receituário e o Duplo Vampirismo.

A transformação da cultura crítica em fórmula pronta a ser assimilada pelo


sistema é o que caracteriza o Mundo do Receituário apresentado pelo autor. Seria
a passagem, na cultura erudita, do conhecimento obtido na educação formal para
as práticas de mercado.

Em toda parte, fórmulas prontas substituiriam a busca criativa e crítica aos


desafios apresentados nas diversas carreiras para as quais o ensino superior prepara
jovens privilegiados.

A todos restaria reproduzir o sistema existente, sem questionamentos. Como


aponta o autor e também podemos verificar, tal situação ocorre nos diversos
campos de atuação; porém, a passagem da cultura crítica para a aceitação dos
valores dominantes não ocorre de maneira tranquila, mas sim produz tensões que
podem levar a rupturas, mesmo que parciais.

Já a ideia de Duplo Vampirismo procura definir a cultura de massas como


segmento sem vida própria, que precisaria alimentar-se, vampirescamente, das
culturas erudita e popular.

O duplo movimento ocorre pelo uso das formas e criações dessas culturas e
pela devolução da “nova” cultura como mercadoria a ser comprada e usufruída
por todos, de maneira segmentada, levando em conta as diferenças de gosto,
capacidades econômicas e de decodificação.

Finalizando esta Unidade acerca das culturas brasileiras, apresentamos alguns


aspectos fundamentais delas:

1. É preciso reconhecer a existências de culturas, no plural, como parte


do processo de constituição de uma sociedade heterogênea. Para essa
caracterização, podem-se utilizar critérios socioeconômicos, raciais, étnicos;

2. A opção metodológica aqui adotada segue parcialmente a formulação de


Alfredo Bosi (1992), identificando duas culturas brasileiras – erudita e popular
– como expressões de brasileiros ricos e pobres ao longo da formação e vida
nacional. A partir do Século XX, principalmente da segunda metade, uma
terceira cultura viria a se somar às demais: a cultura de massa;

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UNIDADE Cultura e Culturas no Brasil

3. Cultura e Comunicação são campos que se inter-relacionam desde sempre;


porém, isso ganhou importância com o surgimento dos meios de comunicação
de massa e da cultura de massa;

4. Diferentes teorizações buscam explicar as relações entre cultura e


comunicação, sem haver uma verdade estabelecida, o que gera diferentes
interpretações – que incluem otimismo e total aderência à cultura disseminada
pelos meios de comunicação de massa e, em situação oposta, total recusa a
essa cultura, que teria transformado a cultura em mercadoria.

O tema cultura brasileira tem atraído o interesse de pesquisadores de áreas


diversas. Para estudiosos e profissionais da comunicação, é fundamental participar
dos debates e contribuir para melhor compreendermos o papel da cultura na
sociedade brasileira.

Ressalta-se que não existe uma única cultura brasileira, sendo essa multicultural,
multifacetada, diversa.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Cultura Brasileira: Temas e Situações
BOSI, A. Cultura brasileira: temas e situações. 4. ed. São Paulo: Ática, 2008.

Cultura e Diversidade
CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira. Cultura e diversidade. Curitiba: Intersaberes, 2012.

Vídeos
Parque Nacional do Xingu - Documentário
SALDANHA, Paula. Parque do Xingu. Documentário. Série Expedições. Produção RW Cine, 25min28.
https://goo.gl/ZLR91U

Leitura
Brasil: 500 Anos de Povoamento
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Brasil: 500 anos de povoamen-
to. IBGE, Centro de Documentação e Disseminação de Informações. Rio de Janeiro: IBGE, 2007
https://goo.gl/cy5ZVH

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UNIDADE Cultura e Culturas no Brasil

Referências
BOSI, A. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

ECO, U. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Pioneira, 1972.

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