Sei sulla pagina 1di 12

Terceira Civilização - Edição 445 - 01/09/2005 - pág.

9 - Especial

Terceira Civilização - Especial

Nam Myoho Rengue Kyo

NAM sabedoria que atua de acordo com nossas


condições instáveis. Esta última é a
Nam é a transliteração da palavra sânscrita sabedoria por meio da qual nós, seres
namas. Na carta “O presente de arroz”, humanos, podemos experimentar infinita
Daishonin esclarece o significado de nam: alegria e liberdade apesar de todas as
“A palavra namu ... significa ‘devotar a incertezas da vida diária.
própria vida’. ‘Devotar a própria vida’
corresponde a oferecer a vida ao Buda.”6 E Como um aparte, podemos notar que,
no Ongui Kuden (Registro dos Ensinos enquanto a palavra nam deriva do
Orais) ele explica que nam significa sânscrito, Myoho-rengue-kyo vem do
devotar tanto o corpo como a mente — ou chinês. A junção de uma língua
seja, os aspectos físico e espiritual da vida. indo-européia e uma língua oriental na
Uma questão imediata surge: A quê frase Nam-myoho-rengue-kyo nos dá uma
devemos nos devotar? No Budismo de idéia da universalidade do ensinamento de
Nitiren Daishonin há dois modos de Nitiren Daishonin.
descrever o objeto de devoção: como Lei,
ou a verdade absoluta, que é o MYOHO
Myoho-rengue-kyo, e a Pessoa, ou o Buda
que manifestou a Lei em sua vida. Em A palavra myoho significa literalmente “Lei
outras palavras, a Pessoa e a Lei são Mística”. A Lei, ou realidade fundamental, é
fundamentalmente unas: a unicidade de descrita como myo (místico) porque é
Pessoa — o próprio Daishonin — e a Lei — infinitamente profunda e transcende todos
o Nam-myohorengue- kyo — está os conceitos ou formulações da mente
incorporada no mandala que Nitiren humana. No escrito “Sobre atingir o estado
Daishonin inscreveu, o objeto de devoção de Buda nesta existência”, Nitiren
chamado Gohonzon (Honzon, em japonês, Daishonin esclarece sobre esse ponto:
significa “objeto de devoção”, e go é um “Qual é então o significado de myo? Myo é
prefixo honorífico). simplesmente a misteriosa natureza de
nossa vida a cada instante, que a mente
No Budismo de Nitiren Daishonin, o termo não consegue compreender e que não
nam indica nossa devoção ao Gohonzon. pode ser expressa em palavras. Quando
Portanto, nam tem dois sentidos: um deles observamos nossa própria mente em
é que devotamos nossa vida ou a qualquer momento, não percebemos a cor
fundimos com a realidade fundamental, nem a forma para comprovar sua
imutável, e outro é que, por meio dessa existência. No entanto, não podemos dizer
fusão, somos simultaneamente que ela não existe pelo fato de incessantes
capacitados a evidenciar uma infinita pensamentos nos ocorrer. A mente não

Frank Choite Ikuno (56662-4) / pág. 1.


Terceira Civilização - Edição 445 - 01/09/2005 - pág. 9 - Especial

pode ser considerada como algo existente Mística.”9


nem inexistente. A vida é de fato uma
realidade que transcende tanto as palavras Talvez o significado do termo “unicidade
como os conceitos de existência e da ilusão e da iluminação” possa ser
inexistência. Ela não é nem existência nem ilustrado por analogia a vários fenômenos
inexistência. No entanto, mostra do mundo físico. Por exemplo, os glóbulos
características de ambas. É uma entidade brancos que destróem os germes e
mística do Caminho do Meio, ou seja, a desempenham um papel fundamental na
realidade fundamental. Myo é o nome cicatrização de ferimentos, sendo,
dado à natureza mística da vida, e ho, a portanto, indispensável para a
suas manifestações.”7 sobrevivência do indivíduo. No entanto, o
aumento anormal desses glóbulos pode
Nesse trecho, Nitiren Daishonin interpreta causar doenças fatais como a leucemia.
myo como a realidade fundamental que Talvez possamos expressar essa dicotomia
transcende nossa capacidade de perceber na natureza essencial dos glóbulos
e ho, como o mundo dos fenômenos em brancos como a unicidade do “aspecto
constante mutação. A união desses dois iluminado” e o “aspecto ilusório” dos
conceitos, conforme apresentados pela glóbulos. Este é um único exemplo do
única palavra myoho, reflete a unicidade modo como todos os fenômenos têm
da realidade fundamental e do mundo tanto aspectos positivos como negativos.
manifesto. Em outras palavras, de acordo “A unicidade de ilusão e iluminação”
com o budismo não há nenhuma distinção significa que, como potenciais, a ilusão —
entre a realidade fundamental e a os nove primeiros dos Dez Mundos — e a
cotidiana. Se compreendemos isso, somos iluminação — o estado de Buda —
iluminados; se não, estamos vivendo na coexistem não apenas na vida individual,
ilusão. De acordo com Nitiren Daishonin: mas também no Universo. Portanto,
“Quando uma pessoa é dominada pela conforme a realidade se manifesta, um
ilusão, é chamada de mortal comum, mas mais do que outro será expresso,
quando iluminada, é chamada de Buda.”8 dependendo se é ou não despertado para
Neste contexto, “ilusão” significa todos os a realidade fundamental.
nove estados dos Dez Mundos, do Inferno
ao de Bodhisattva, ao passo que Na escritura “O Daimoku do Sutra de
“iluminação” descreve o mundo do estado Lótus”, Nitiren Daishonin explica que o
de Buda. Dessa forma, os nove mundos e o caractere myo de Nam-myohorengue- kyo
estado de Buda, juntos, estão contidos em tem três significados distintos: abrir, ser
um único momento. No Ongui Kuden, perfeitamente dotado e reviver. Por “abrir”
Nitiren Daishonin discorre um pouco mais a ele quis dizer libertar ou dissipar a
respeito: “Myo indica a natureza iluminada escuridão da ilusão ao revelar a natureza
(estado de Buda), ao passo que ho indica a de Buda: a vida de uma pessoa que
escuridão ou ilusão (dos nove primeiros desperta para sua própria natureza de
dos Dez Mundos). A unicidade da ilusão e Buda se “abre” para tornarse coextensiva
da iluminação é chamada myoho, ou Lei com o Universo. A frase “ser perfeitamente

Frank Choite Ikuno (56662-4) / pág. 2.


Terceira Civilização - Edição 445 - 01/09/2005 - pág. 9 - Especial

dotado” implica que a Lei Mística incorpora escritura “A herança da suprema Lei da
todos os fenômenos e está inerente em vida”: “Myo representa a morte, e ho, a
tudo. A Lei Mística compreende todos os vida.” 10 Não podemos compreender
Dez Mundos e todos os três mil domínios, nossa vida intelectualmente na condição
permeando e integrando a realidade de da morte, e muito menos oferecer
todos os fenômenos. Portanto, a expressão respostas para as questões: para onde vai
“ser perfeitamente dotado” pode também a vida após a morte e como é essa vida?
significar que a Lei Mística contém todas as Mesmo que acreditemos que a vida
verdades e benefícios. A terceira definição, retorne à vida cósmica, isto é algo difícil de
“reviver”, significa fundamentalmente compreender. Portanto, a morte
possibilitar um indivíduo a atingir o estado correponde a myo, significando “místico”
de Buda. Por exemplo, todos — mesmo o ou “inconcebível”. A vida, em contraste,
pior dos malfeitores e todas as outras expressa-se em várias formas visíveis,
pessoas, cujo potencial para o estado de conforme exemplos claros, manifestando
Buda foi negado nos ensinos pré-Sutra de um ou outro dos Dez Mundos por meio da
Lótus — podem atingir a suprema influência dos dez fatores. Por exemplo, se
iluminação por meio da Lei Mística do não temos nada para comer durante um
Myoho-renguekyo. Se analisarmos o termo longo tempo ficamos famintos e caímos no
“reviver” em um sentido mais amplo, mundo da Fome; de forma semelhante, se
podemos dizer que significa criar valor. Um alguém nos ridiculariza tendemos a perder
tipo de revivescência é realizado quando a razão, revelando o estado de Ira. É assim
matérias insensíveis como madeira e pedra que a vida humana opera.
são transformadas para construir um
prédio. Uma outra forma de revivescência A vida, então, corresponde a ho ou Lei. A
está no ato de reformar nossa vida para vida e a morte são duas manifestações
que possamos atingir a iluminação e contrastantes da realidade fundamental,
contribuir para a felicidade de outras ou Lei Mística. Podemos dizer que a
pessoas. “Reviver” também significa que realidade fundamental manifesta-se
todas as leis e ensinamentos embasados simplesmente na realidade diária da vida e
na Lei Mística assumem sua correta da morte.
perspectiva e revelam aspectos
importantes da verdade fundamental. RENGUE
Similarmente, quando embasamos nossa
fé na Lei Mística, todas as nossas O significado literal de rengue é “flor de
habilidades, traços característicos e outras lótus”. O lótus é uma planta muito antiga,
qualidades pessoais ganham vida, admirada em muitas culturas e tradições.
expressando-se de um modo a contribuir Os fósseis de lótus mais antigos datam do
não apenas para o próprio crescimento, período Cretáceo, era geológica que durou
mas também em benefício dos outros. de 135 milhões a 65 milhões de anos.
Estima-se que um fóssil de lótus
Uma interpretação conclusiva de myoho descoberto na região de Quioto, no Japão,
feita por Nitiren Daishonin consta na em 1933, idêntico ao que conhecemos

Frank Choite Ikuno (56662-4) / pág. 3.


Terceira Civilização - Edição 445 - 01/09/2005 - pág. 9 - Especial

hoje, tenha de dez mil a vinte mil anos. seca enquanto flutua na superfície da
água, o que simboliza a virtude de
Em Moenjodaro, no vale do rio Indo, manter-se imperturbável em meio às
Paquistão, há antigas ruínas do que foi atribulações da vida. Quinto, era prática nas
outrora uma grande cidade. No meio escrituras sânscritas que se alguém
dessas ruínas, arqueólogos encontraram quisesse louvar a beleza dos olhos de uma
um artefato conhecido como “Grande mulher, comparava-os com as flores de
Banheira”, que se acredita, era usada em lótus. Sexto e último, as flores de lótus
rituais de purificação. Uma estátua fecham-se à noite e abrem ao amanhecer,
encontrada ali — e atualmente à mostra no uma metáfora do modo como nossa
Museu de Belas-Artes de Boston — revela mente pode abrir-se para uma filosofia
uma mulher com os cabelos adornados sublime.
com flores de lótus, um claro sinal de que
a civilização do vale do rio Indo tinha A flor de lótus é mencionada no Rigveda, a
grande respeito pelo lótus. mais antiga escritura indiana, e acredito
que as várias interpretações do Dr. Singh
Em 1985, quando me encontrei com o Dr. têm suas origens no antigo
Karan Singh, famoso acadêmico indiano, comportamento indiano com relação à
nosso diálogo girou em torno dessa planta. planta. Na Índia antiga, o lótus era
Ele supunha que o lótus fosse encontrado apreciado de duas formas: era considerado
em toda a Índia. Como muitos, achava que, uma planta que representava um ideal de
pelo fato de o budismo ter-se propagado beleza e, ao mesmo tempo, valorizado por
por toda a Índia antiga, a flor de lótus suas propriedades medicinais. No segundo
deveria ser igualmente encontrada em caso, seu rizoma era uma fonte de
todas as partes. Fiquei surpreso quando o alimento e de energia e usado no preparo
Dr. Singh disse-me que o lótus cresce de vários medicamentos — afirma-se que
somente na região do Himalaia, uma área Sharihotsu, um dos discípulos do Buda
muito percorrida por Sakyamuni ao Sakyamuni, foi curado de uma doença
propagar a doutrina. O Dr. Singh comentou crônica com o rizoma do lótus. A flor era
ainda sobre os vários significados do usada como remédio para distúrbios renais
símbolo do lótus em toda a longa história e estomacais, enquanto suas folhas eram
da Índia. utilizadas para estancar hemorragias.

Primeiro, ele disse, a flor representa a Tem-se conhecimento também da


fertilidade, a prosperidade e a longevidade. existência do lótus ao longo do rio Amarelo
Segundo, de acordo com a mitologia e em outras regiões da China desde os
indiana, acredita-se que o criador do tempos antigos. Versos de exaltação à
Universo, Brahma, tenha surgido de um planta aparecem no Shih Ching (Livro de
lótus. Terceiro, a planta floresce na lama, Poesias), uma antologia de
mostrando que a beleza pode revelar-se aproximadamente trezentos poemas que
mesmo das coisas que não são belas ou datam do início da dinastia Chou, cerca de
puras. Quarto, a flor de lótus permanece três mil anos atrás. A flor de lótus, devido à

Frank Choite Ikuno (56662-4) / pág. 4.


Terceira Civilização - Edição 445 - 01/09/2005 - pág. 9 - Especial

sua aparência majestosa, foi por muito com figuras de flores de lótus.
tempo considerada pelos chineses como
um símbolo de virtude humana, como A expedição de Alexandre, o Grande, à
consta, por exemplo, no ensaio “Sobre o Índia, por volta de 326 a.C., iniciou a síntese
amor e o lótus” de autoria de Chou Tun-i da cultura budista e a civilização helênica
(1017–1073), que viveu durante a dinastia que gerou as ricas artes da região de
Sung. Presentear alguém com uma Gandhara, onde hoje é o norte do
semente de lótus equivalia, portanto, a Paquistão e o leste do Afeganistão.
reconhecer a bondade dessa pessoa e
expressava o desejo de mantê-la em sua A influência artística gandhariana
companhia. A flor de lótus foi por muito percorreu o leste pelo Caminho da Seda, e
tempo usada na China em ocasiões então, pela China e a Península Coreana
auspiciosas para simbolizar a felicidade — chegou ao Japão, onde, do século VI ao
por exemplo, sua imagem adornava VIII (os períodos Asuka, Hakuho e Tempyo),
freqüentemente implementos usados em contribuiu grandemente para o
cerimônias de casamento. A metáfora da desenvolvimento da arte nipônica. Em
flor também era usada para representar diversas obras de arte antigas de
belas mulheres. Gandhara, China e Japão a figura de
pétalas de lótus aparece freqüentemente.
No Egito, hieróglifos retratando o lótus Há alguns anos fui presenteado pelo
aparecem em murais e papiros Instituto de Dunhuang da China com uma
encontrados nas pirâmides. Parte dos reprodução de uma pintura do teto da
textos hieroglíficos empregam a planta famosa Gruta de Mogao, em Dunhuang, no
como um símbolo da divindade que oeste da província de Gansu, norte do
concede o dom da imortalidade. Nas Tibet. Fiquei maravilhado ao observar que
ruínas de templos egípcios foram aquelas pinturas também representavam
encontrados colunas de pedra com uma bela flor de lótus.
capitéis decorados com flores de lótus, e
essa flor embelezou muitas outras obras A flor de lótus é mencionada no famoso
de arte e de arquitetura egípcias. É assim texto budista “Questões do Rei Milinda” (ou
que o lótus, que floresceu em profusão ao Menander), um diálogo entre o rei
longo do Nilo, era visto pelos antigos greco-indiano Menander e o monge
egípcios, quando abria suas flores ao budista Nagasena — supostamente
alvorecer, como um símbolo de renovação ocorrido tempos depois da expedição de
da vida. Alexandre, o Grande, à Índia. Nesse
diálogo, a flor de lótus aparece como uma
Na Grécia antiga, o símbolo do lótus era metáfora aos ensinamentos budistas, ou à
usado para adornar santuários de templos. grandiosidade da Lei. O Tratado sobre o
Escavações de templos antigos situados Sutra da Grande Perfeição da Sabedoria,
no monte Olimpo, nordeste da Grécia, uma extensa obra Mahayana atribuída a
revelaram decorações arquitetônicas Nagarjuna, diz que a razão de as imagens
compostas por arabescos intercalados do Buda serem adornadas com pedestais

Frank Choite Ikuno (56662-4) / pág. 5.


Terceira Civilização - Edição 445 - 01/09/2005 - pág. 9 - Especial

de lótus é que a planta dignifica o local da conotação de pureza e eternidade que fez
propagação da Lei Mística. com que a planta se tornasse símbolo da
Lei ou dos ensinamentos de Sakyamuni.
A flor de lótus também é exaltada na Em sua obra Hokke Guengui (Profundo
literatura japonesa, em obras como Significado do Sutra de Lótus), Tient’ai
Registro das Antigas Questões e na explica que a palavra “lótus” no título do
antologia de poesias conhecida como sutra deve ser compreendida não apenas
Coletânea de Dez Mil Folhas, do século como uma metáfora à Lei Mística, mas
VIII. Sei Shonagon refere-se à flor de lótus também como a própria Lei: “O nome
em seu Livro de Cabeceira, do século XI, ‘lótus’ não é utilizado para simbolizar algo
como sendo superior a todas as outras qualquer. É o próprio ensino exposto no
flores. Posteriormente, no período Edo Sutra de Lótus. Esse ensino é puro e revela
(1600–1867), o estilo poético conhecido a profunda relação de causa e efeito. Por
como haiku tornou-se popular, e esses isso é chamado lótus. O nome designa a
poemas contêm freqüentemente essência da meditação sobre a Lei do
referências elogiosas às belas flores e às Sutra de Lótus, e não é uma metáfora ou
largas folhas do lótus. De fato, para os termo figurativo. (...) Mas, pelo fato de o
japoneses, a flor dessa planta difere das lótus da Lei ser de difícil compreensão, a
flores da ameixeira e cerejeira, que metáfora da planta é apresentada. (...)
crescem na terra: ela representa a pureza e Assim, uma metáfora facilmente
o princípio universal que fundamenta a compreensível de um lótus real é usada
totalidade da existência. O monte Fuji é para esclarecer o lótus de difícil
comumente comparado ao lótus de oito compreensão que é a essência do Sutra de
pétalas, devido ao formato de sua cratera Lótus.”11
vista do alto.
Nitiren Daishonin elucida sobre o profundo
As sementes do lótus são famosas por princípio indicado pelo sutra:
resistir por longos anos. Estima-se que as “Myoho-rengue-kyo é comparado ao lótus.
sementes descobertas em uma jazida de (...) De todas as flores, ele [o Buda]
turfa na província de Tiba, no Japão, pelo selecionou a flor de lótus para simbolizar o
falecido Dr. Itiro Oga, da Universidade de Sutra de Lótus. Há uma razão para isso.
Tóquio, tenham aproximadamente dois mil Algumas plantas florescem primeiro e
anos, e algumas delas germinaram com depois dão frutos, ao passo que em outras
sucesso e suas mudas foram cultivadas os frutos aparecem antes das flores.
em muitas partes do país. É como se as Algumas geram apenas uma flor, mas
sementes de lótus oferecessem algum muitos frutos, outras dão frutos sem florir.
tipo de testamento da eternidade da vida. Desse modo, há várias espécies de
Podemos então dizer que as qualidades de plantas, mas o lótus é o único que produz
pureza e eternidade implícitas na imagem flores e frutos simultaneamente. O
da flor de lótus têm atraído a atenção das benefício de todos os outros sutras é
pessoas do mundo inteiro desde os incerto, pois eles ensinam que a pessoa
tempos antigos. Talvez tenha sido essa deve primeiro fazer boas causas e, só

Frank Choite Ikuno (56662-4) / pág. 6.


Terceira Civilização - Edição 445 - 01/09/2005 - pág. 9 - Especial

então, poderá tornar-se um buda em interior. É por essa razão que ele diz:
algum tempo depois. Com relação ao “Qualquer um que pratique esta Lei obterá
Sutra de Lótus, a mão que o segura atinge simultaneamente a causa e o efeito do
imediatamente a iluminação, e a boca que estado de Buda.”
o recita instantaneamente entra no estado
de Buda, assim como a Lua reflete-se na Sustentando tudo o que existe, seres
água no momento em que se eleva por sensíveis ou não, está a Lei da
detrás das montanhas do leste, ou como o simultaneidade de causa e efeito: o tema
som e seu eco surgem central do budismo e analogias a ele
concomitantemente.”12 também são encontradas em teorias
científicas modernas. Como um exemplo,
Em outra escritura ele declara: “Antes, o podemos usar um enigma do mundo da
supremo princípio não tinha nome. Quando física. O que deu origem ao Universo de
o sábio observava os princípios e atribuía centenas de bilhões de galáxias, cada uma
nomes a todas as coisas, ele percebeu a delas contendo dezenas ou centenas de
existência desta Lei maravilhosa e única bilhões de estrelas e planetas? É
que possui simultaneamente a causa e o genericamente aceito que o Universo físico
efeito, e a denominou Myohorengue, o teve origem com o Big Bang, uma
lótus da Lei Mística. Esta Lei única, explosão inimaginável que se acredita ter
Myoho-rengue, incorpora todas as leis ou ocorrido há bilhões de anos, e como
fenômenos incluindo os Dez Mundos e os resultado dessa explosão o Universo ainda
três mil domínios, e está presente em está se expandindo. Pelo fato de o
todos eles. Qualquer um que pratique esta Universo ter começado a se expandir no
Lei obterá simultaneamente a causa e o momento exato em que veio a existir,
efeito do estado de Buda.”13 podemos dizer que este é um instante no
domínio físico que serve para ilustrar a
O lótus produz flores e sementes ao causa e o efeito ocorrendo
mesmo tempo, portanto, representa “a Lei simultaneamente.
maravilhosa e única que possui
simultaneamente a causa e o efeito”. Este Chamo a atenção para uma outra
princípio, a simultaneidade de causa e maravilha. Podemos observar no zigoto
efeito, significa que os nove mundos humano o produto da fusão dos gametas
(causa) e o mundo do estado de Buda feminino e masculino. Não mede mais que
(efeito) existem simultaneamente em cada um décimo de milímetro. No entanto,
momento da vida, não havendo, portanto, contém toda a informação genética
nenhuma diferença fundamental entre um necessária para seu desenvolvimento em
buda e uma pessoa comum. Em termos de um ser humano adulto completo. No
prática, Daishonin ensinou que, quando momento da concepção, o óvulo pode ser
uma pessoa recita visto como a incorporação simultânea
Nam-myoho-rengue-kyo com fé (causa) tanto do “efeito” como da “causa” de uma
no Gohonzon, o estado de Buda (efeito) nova existência humana. De forma
manifesta-se instantaneamente de seu semelhante, a semente de uma planta

Frank Choite Ikuno (56662-4) / pág. 7.


Terceira Civilização - Edição 445 - 01/09/2005 - pág. 9 - Especial

exemplifica a unicidade de causa e efeito. apropriada, a causa e o efeito latentes que


As sementes são normalmente plantadas coexistem com ela permanecerão
na primavera e frutificam no outono. dormentes para sempre. Além disso,
Porém, de uma perspectiva bem diferente dependendo da natureza da causa externa
da puramente temporal, podemos dizer — por exemplo, a nossa interação com o
que na semente já existe inerentemente meio ambiente —, a forma como os efeitos
tanto a causa (semeadura) como o efeito latentes tornam-se manifestos pode variar
(colheita). Uma profunda contemplação da grandemente. Conforme evidenciamos a
lei causal que opera na vida nos leva suprema condição do estado de Buda do
inevitavelmente a aceitar a unicidade ou nosso interior, toda a rede de causas e
simultaneidade da causa e do efeito. efeitos que forma o nosso carma pessoal é
transformada radicalmente, tendo como
No entanto, devemos ter em mente que os base a iluminação em vez da ilusão e
exemplos citados anteriormente tratam da atuando para o nosso desenvolvimento
questão de causalidade no mundo dos como um ser humano.
fenômenos, o domínio acessível à
investigação e confirmação científica. O Outro atributo do lótus associado ao
princípio budista de causalidade, no simbolismo budista, conforme vimos, é
entanto, sonda mais a fundo, penetrando que a planta cresce e floresce na água
os recônditos mais profundos da vida. Lida lodosa e, no entanto, suas flores são puras
com um domínio que transcende o tempo e belas. Isso nos leva a pensar na
e o espaço. Por esta razão, não há sentido manifestação da pura natureza de Buda na
em falar de causa que antecede o efeito: vida de uma pessoa comum, apesar de
ambos existem simultaneamente. suas ilusões e desejos mundanos. O 15º
capítulo do Sutra de Lótus, “Emergindo da
Alguns tendem a associar causalidade — Terra”, descreve aqueles que abraçam a
tanto o conceito científico como o cármico Lei Mística como pessoas “nãocorrompidas
— com determinismo, devido à idéia de pelas questões mundanas, como uma flor
que uma certa causa deve inevitavelmente de lótus na água”.
produzir um efeito, e que não há muito o
que fazer a respeito. No entanto, esse Esse conceito é digno de nota, pois
julgamento não leva em conta nosso envolve uma das questões fundamentais
potencial para mudar os efeitos de nossas do budismo.
ações passadas por meio de causas ou
ações que iniciamos a partir de agora. O A existência humana é comumente vista
budismo nos ensina que há um elemento como um turbilhão de desejos e impulsos
indispensável para trazermos à tona a que dão surgimento a vícios e sofrimentos.
causalidade que está dormente nas Uma pessoa dominada unicamente por
profundezas de nosso ser. Esse elemento seus desejos e impulsos não pode
é uma causa externa que, quando se une a desfrutar identidade própria nem
uma causa latente, produz um efeito liberdade. Em vez disso, está sempre à
manifesto. Sem uma causa externa mercê das condições mutáveis em sua

Frank Choite Ikuno (56662-4) / pág. 8.


Terceira Civilização - Edição 445 - 01/09/2005 - pág. 9 - Especial

vida. Exatamente por esta razão, alguns A chave para escapar da areia movediça é
ensinamentos religiosos têm enfatizado manifestar o supremo potencial humano
que a erradicação dos desejos pessoais é que existe em cada um de nós. Temos de
o único caminho para a salvação. Contudo, lutar para atingir um estado de espírito
o desejo é uma função inerente à vida e, mais elevado e para encontrar um
em análise final, não se pode extingui-lo significado mais profundo em nossa vida,
sem extinguir a própria vida. O desejo, tendo ao mesmo tempo de lidar com
como uma função inata da nossa vida, várias dificuldades diárias. Entretanto,
pode ser visto não como algo quando nossa vida estiver firmemente
necessariamente prejudicial, mas sim enraizada na natureza de Buda,
neutro, que tem tanto o potencial para poderemos direcionar todos os nossos
prejudicar como para beneficiar a problemas e sofrimentos de forma que
existência humana. A questão não é a realmente venham a contribuir para o
supressão de nossos desejos, mas sim nosso desenvolvimento espiritual. Os
como controlá-los e direcioná- los de desejos mundanos, então, podem ser
forma que atuem para desenvolver as canalizados devidamente para
virtudes humanas. Esse é o propósito do desenvolvermo-nos espiritualmente; só
budismo. De acordo com os ensinamentos quando são canalizados indevidamente é
budistas, uma vez que ativamos o supremo que se tornam prejudiciais.
estado de Buda inerente em cada um de
nós, ele eleva e redireciona nossos desejos É comum nas escrituras budistas a
para o crescimento pessoal e a iluminação. menção do lótus de “oito pétalas”, embora
Se, ao contrário, deixamos nossos desejos na verdade tenha de vinte a vinte e cinco
“soltos”, sem antes orientá-los para um pétalas — e até mais de cem, se a planta
estado de vida mais elevado, eles irão tiver pétalas duplas ou múltiplas. Quando o
operar somente de uma forma destrutiva, número oito é empregado nesse contexto
gerando angústia e, talvez, até mesmo nas escrituras budistas, significa que a flor
ameaçando nossa existência. de lótus tem muitas pétalas, e não o
contrário ou que tenha um número exato.
O significado do budismo reside na O número oito também tem um significado
revelação da natureza de Buda em todos tradicional de “plenitude” ou “totalidade”,
os seres e no estabelecimento de um que é reconhecido quando as escrituras
método prático pelo qual pode-se falam do lótus de oito pétalas.
manifestá-la, de forma que os seres
humanos possam extrair o máximo Dessa forma, qual o significado da flor de
significado possível de sua existência oito pétalas? Nitikan Shonin, o 26º sumo
individual. Essas duas características são prelado, argumenta em seu comentário
de especial relevância para a civilização sobre “A Entidade da Lei Mística” de
moderna, que se encontra presa num tipo Daishonin que o lótus de oito pétalas existe
de areia movediça espiritual. em cada um de nós. Ele salienta a
semelhança entre a aparência e a forma
como estão dispostos os pulmões, o

Frank Choite Ikuno (56662-4) / pág. 9.


Terceira Civilização - Edição 445 - 01/09/2005 - pág. 9 - Especial

coração e outros órgãos da caixa torácica e objeto de devoção em seu ensinamento.


as pétalas do lótus, e descreve a primeira
como uma expressão física dentro do Uma explanação do significado das
nosso corpo do lótus da Lei Mística que palavras “flor de lótus da Lei Mística”, que
temos inerente. Esses dois conceitos da compreende o título original do Sutra de
entidade do lótus — sua expressão em Lótus em sânscrito, pode até certo ponto
nosso corpo e o lótus da Lei Mística — ter sido compilada de uma interpretação
foram, na realidade, apresentados primeiro do próprio texto, mas em nenhuma parte
por Tient’ai. E foi como seguidor de Tient’ai do sutra encontramos uma declaração
que Dengyo, sacerdote japonês, aprendeu definitiva da Lei referida no título. Nesse
os conceitos e, em 805 d.C., levouos para ponto se encontra a importância do
seu país. Nitikan Shonin empregava essas Budismo de Nitiren Daishonin: ele deu à Lei
metáforas para ajudar seus a expressão concreta
contemporâneos a compreender que a Nam-myoho-rengue- kyo. Alguns dos
vida é una com a entidade da Lei Mística. sacerdotes chineses que tiveram acesso
ao Sutra de Lótus por meio da tradução de
Em uma de suas escrituras, Nitiren Kumarajiva reconheceram sua
Daishonin diz: “No que diz respeito à profundidade espiritual. Por exemplo, Chu
maravilhosa entidade de Myoho-rengue- Tao-sheng, discípulo de Kumarajiva,
kyo, quando indagamos sobre que tipo de escreveu em seu comentário sobre o sutra
entidade é, veremos que é o lótus branco que ele abrangia todos os princípios e
de oito pétalas inerente em nossa vida.”14 todos os benefícios. Mais tarde, Tient’ai
Em outras palavras, o lótus branco de oito expôs os ensinamentos detalhados e
pétalas representa a entidade de sistematizados com base no sutra. No
Myoho-rengue- kyo. Aqui, a idéia da flor de entanto, apesar de toda a atenção que o
lótus é usada não como uma metáfora, Sutra de Lótus atraiu, está claro que, ao
mas indica a “Lei maravilhosa e única que examinarmos o texto, algumas verdades
possui simultaneamente a causa e o efeito” ainda permanecem ocultas. Foi somente
— ou Myoho-rengue-kyo. Sobre esse após ter tomado fé e estudado o Budismo
ponto Nitikan Shonin acrescenta: “Ocorre, de Nitiren Daishonin que vim a
portanto, que a vida e seu ambiente, como compreender isso. Daishonin interpreta os
também a causa e o efeito, tudo constitui o vinte e oito capítulos do Sutra de Lótus
lótus branco de oito pétalas inerente em como uma elucidação da Lei Mística,
nós, ou seja, o objeto de devoção oculto expressa por ele como
nas profundezas do ensino essencial do Nam-myoho-rengue-kyo, e da iluminação
Sutra de Lótus.”15 do Buda Sakyamuni, que despertou para
esta Lei por si só. Contudo, devido a essa
A Lei Mística, ou a realidade fundamental Lei estar além da compreensão comum,
de tudo, expressa nesse trecho como o Daishonin a incorporou na forma de um
“lótus branco de oito pétalas inerente em mandala. Ele ensinou que, recitando
nós”, foi incorporada por Nitiren Daishonin Nam-myoho-rengue-kyo e tendo fé neste
na forma de um mandala, o Gohonzon — o mandala, todos podem atingir a

Frank Choite Ikuno (56662-4) / pág. 10.


Terceira Civilização - Edição 445 - 01/09/2005 - pág. 9 - Especial

iluminação. KYO

Para ilustrar resumidamente, a relação Kyo é a tradução japonesa da palavra


entre o lótus e a realidade fundamental “sutra”, ou seja, o ensinamento do Buda
faz-me lembrar de um fato ocorrido com o Sakyamuni. Pelo fato de Sakyamuni ter
impressionista francês Claude Monet. Foi ensinado por meio da pregação — ou seja,
René Huyghe, historiador e crítico de arte ele usou a própria voz — a palavra kyo é
francês, quem me contou. Em 1890, Monet algumas vezes interpretada como “som”.
adquiriu um terreno pantanoso que Por exemplo, Tient’ai escreveu em sua
atravessava a trilha que conduzia à sua obra Hokke Guengui que “a voz executa o
casa e lá fez um jardim. Nessa área corria o trabalho do Buda. Portanto, é chamada
rio Epte, afluente do Sena. Monet desviou kyo”. Nitiren Daishonin também declarou
o seu curso e construiu um lago de no Ongui Kuden: “Kyo corresponde às
nenúfares e uma ponte em estilo japonês palavras e ao discurso, ao som e à voz de
sobre ele. Essa era a exótica “terra do todos os seres.”16 Ele, portanto, revelou
lótus”, na qual, durante seus últimos anos, que a Lei fundamental por meio da qual o
ele meditou e pintou. Monet costumava Buda atingiu a iluminação está inerente em
sentar-se à margem do lago, inclinando-se todos os seres vivos.
para fitar a superfície da água que, assim
como um espelho, refletia o céu — mas, O caractere chinês usado para designar
para os olhos de Monet, o lago tornou-se o kyo significa o ensino que deve ser
céu: ele via um aglomerado de nuvens preservado e transmitido para a
movendo-se e as plantas aquáticas posteridade. Esse caractere era
ondulando-se. Seus olhos viam tufos de empregado na China com o significado de
nenúfares e flores brotando da superfície “livros” ou “clássicos”, como no caso do
da água — que para ele, naquele confucionismo e do taoísmo. Quando as
momento, haviam emergido com tudo o escrituras budistas foram introduzidas da
mais ao seu redor. Conforme os ”olhos” de Índia, o caractere era usado com o
sua mente, aquilo era um todo unificado: significado de “sutra”. É nesse sentido que
não havia mais nenhuma distinção entre a Nitiren Daishonin interpreta a palavra
água e a terra ou entre a água e o céu. quando diz: “Aquilo que é eterno, que se
Somos afortunados por poder ver os frutos propaga pelas três existências, é chamado
de suas especulações em suas pinturas kyo.”17
dos nenúfares. Huyghe observou que, se
compararmos essas pinturas de Monet A iluminação do Buda, expressa na voz de
com os desenhos feitos por artistas sua pregação, é kyo, e a verdade com a
chineses nos séculos VIII e IX, odemos qual ele se iluminou é eterna,
notar que Monet, embora fosse ocidental propagando-se pelo passado, presente e
tanto em termos de nacionalidade como futuro. Quando despertamos para esta
de tradição, prezava a visão de mundo verdade, compreendemos o aspecto
unificada que caracterizava a arte chinesa. eterno de nossa própria vida, um aspecto
que transcende as mudanças do mundo

Frank Choite Ikuno (56662-4) / pág. 11.


Terceira Civilização - Edição 445 - 01/09/2005 - pág. 9 - Especial

físico e o ciclo de nascimento e morte.

Notas:

5. Os Escritos de Nitiren Daishonin [END], vol. I, pág. 1.

6. WND, pág. 1125.

7. END, vol. I, pág. 4.

8. Ibidem.

9. Gosho Zenshu, pág. 708.

10. END, vol. III, pág. 173.

11. Gosho Zenshu, págs. 512–513.

12. WND, pág. 1099.

13. Gosho Zenshu, pág. 513.

14. Ibidem, pág. 441.

15. Nitikan Shonin Mondanshu, pág. 666.

16. Gosho Zenshu, pág. 708.

17. Ibidem.

Frank Choite Ikuno (56662-4) / pág. 12.

Potrebbero piacerti anche